segunda-feira, 6 de agosto de 2012

NOS ERMOS - sobre poema de Agostinho Neto

NOS ERMOS - sobre poema de Agostinho Neto


Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.
......

Agostinho Neto


Nos ermos das favelas, guetos, vilas,
Andando pelas ruas, sem ter rumo.
Nas praças, nos botecos, ruas, filas,
Entorpecido vivo o pó e o fumo.

Escravo das misérias que destilas,
Negando e proibindo cada aprumo.
Embora queres crer iguais argilas,
Sangrando não me resta nem o sumo.

Eu vivo e coabito com o nada,
Do nada em que cheguei, nada me resta.
A fome escurraçando a liberdade

A podridão que serve como escada,
Aos poucos demonstrando: nada presta,
Senão talvez, um rito de amizade...


MARCOS LOURES

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