O LÁZARO DA PÁTRIA / CRUCIFIXO.
O Lázaro da Pátria
Filho podre de antigos Goitacases,
Em qualquer parte onde a cabeça ponha,
Deixa circunferências de peçonha,
Marcas oriundas de úlceras e antrazes.
Todos os cinocéfalos vorazes
Cheiram seu corpo. À noite, quando sonha,
Sente no tórax a pressão medonha
Do bruto embate férreo das tenazes,
Mostra aos montes e aos rígidos rochedos
A hedionda elefantíasis dos dedos...
Há um cansaço no Cosmos... Anoitece,
Riem as meretrizes no Casino,
E o Lázaro caminha em seu destino
Para um fim que ele mesmo desconhece!
Augusto dos Anjos
Apodrecido herdeiro dos valentes
Vendidos como escravos por cristãos
Os dias entre dias sempre vãos
Valores são medidos pelos dentes
As mortes em vergastas; são dementes
Não servem nem tampouco como grãos,
Açoites estalando inúteis mãos
Atados por galés, férreas correntes.
As filhas e mulheres, laços nós,
O gozo jesuíta é mais atroz
E o sangue vai tingindo rios, mares.
Assim se faz a pátria, nosso chão,
Exposto à mais sublime podridão
Somente um crucifixo nos altares?
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