44
A dama que querias não existe,
Apenas a mulher que me mim aflora
Desejos tão comuns e se assenhora
Do mundo aonde a sorte já persiste
E mesmo que pareça; às vezes, triste
O amor não reconhece uma demora
E bebe satisfeito a qualquer hora
E quanto mais deseja não desiste.
Uma alma feminina se desnuda
E mostra a imensidão que se transmuda
Enquanto persistirem vendavais,
Sabendo que depois vem calmaria
E nela com certeza a paz recria
O que pensara outrora nunca mais.
45
Bebesse desse cálice: paixão
Verias quantas vezes é preciso
Não ter sequer noção de algum juízo
E tendo sob os olhos a amplidão
Montanhas, cordilheiras moverão
Os sonhos onde encontro o Paraíso
Num toque sensual, certo e preciso,
Na soma que resulta imensidão.
Dois corpos sequiosos; noite clara,
O amor sendo demais já se declara
Além do que pensara eternidade,
E assim nas nossas loucas aventuras,
O todo que deveras tu procuras,
E insanamente toca e nos invade.
46
Perguntando a quem possa me dizer
Aonde se escondera a estrela guia
Por mais que uma esperança assim porfia
Na ausência de teus lábios, desprazer.
Pudesse pelo menos reviver
Momento feito em paz, doce alegria
E nele esta emoção que me inebria,
Tocada pelas fráguas do querer.
Imensas nuvens tampam este sol,
E toda a escuridão deste arrebol
Traduz a falsa luz de um tosco amor,
E nele nada além de dor e treva,
Por mais que a fantasia, uma alma ceva,
Eu sinto a tua imagem decompor.
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