domingo, 9 de maio de 2010

32201 até 32250

32201

Queimando-me venais expulsam sorte
Os dias entre tantas dores quando
O quadro em terror se afunilando
Não vendo outro caminho e sem suporte
Aonde poderia ter aporte
Nem mesmo a fantasia ma ajudando,
Percebo cada tempo demonstrando
A vida sem ter nada que comporte
A paz longínqua teima em não mostrar
Nem solução consigo adivinhar
Em meio às mais difíceis caminhadas,
Quisera a mansidão, mas nada disto
Apenas no vazio ainda insisto
São impossíveis mesmo, tais estradas...

32202

As pétalas tomando o manso sonho,
Perfume imaginário em fim de linha,
Saudade de outra etapa toda minha
Momento mais feliz eu recomponho,
E sei deste terror quase bisonho
Aonde a minha estada já se aninha
E quando a morte chega e se avizinha
Ao menos ao que fora eu me proponho.
São ledos os instantes terminais,
Refaço os meus caminhos germinais
E tento num instante inutilmente
Sentir o doce aroma de um jardim
Que há tanto vejo morto dentro em mim,
A vida me abandona lentamente...


32203

As vísceras expostas, minha morte
Não tendo outra saída, vejo a face
Da dor que mesmo quando inda não grasse
Momento mais atroz sempre transporte
Levando para sempre qualquer norte,
Ainda que pudesse, mas não trace
Qualquer momento em luz, um mero impasse
Disfarce que talvez inda conforte.
Mas sei da invalidez de cada sonho,
E tanto quanto posso inda reponho
As cenas que vivi tanta incerteza,
Porém cada segundo desta vida
Nesta iminente luz em despedida
Eu vejo neste instante com clareza...

32204

O passo que pensei descompassado
Buscando algum aprumo poderia
Trazer a quem caminha a garantia
De um tempo mais feliz, novo legado,
Mas sei que na verdade a cada enfado
Ainda mais distante a alegoria
Jogando sobre as pedras fantasia
O quanto deste amor já destroçado.
E assim ao me entregar sem ter certeza
De ainda perceber qualquer beleza
Eu sinto que deveras inda resta
Da imensa escuridão que ora me cerca,
Uma esperança vem enquanto esterca
Deixando algum clarão, estreita fresta...


32205

No que me sobrar: podre mar, mangue,
As ânsias traduzindo a realidade
E quanto mais a vida me degrade
Ainda sinto em mim sabor do sangue
E peço a cada instante outra saída
Que possa renovar a minha história
E ainda sinto viva na memória
A cena mais terrível: despedida.
Pudesse acreditar no renovar
Após as tantas perdas, mas não creio,
E quando do vazio adentro o veio
Distante dos meus olhos céu e mar.
Apenas a bisonha inconseqüência
Causando a cada engano mais demência.


32206

Vinícola dos sonhos entre tantas
Vazia sem poder gerar na adega
O sonho onde amor tenta e navega
Enquanto pouco a pouco desencantas,
As horas mais doridas, a alma nega
E penso quanto mais medos levantas
No quanto a cada passo te adiantas
E deixas minha estrada fria e cega,
Renego cada engano, isso é comum,
Porém de todos sonhos, sem nenhum,
Em desacerto sigo até o fim.
Pudesse renovar cada esperança,
Mas quando mais atroz a vida avança
Maior a enorme seca em meu jardim...


32207

O meu desesperado passo inválido
Pudesse ter apenas um momento
Aonde com ternura se me assento
Percebo algum instante bem mais cálido,
Mas nada do que tento pode ser
Além deste vazio em que me adentro
E quando noutro tanto me concentro
Perdendo pouco a pouco o meu querer,
Vencido pelas fúrias, nada vejo
E sendo sempre assim desde o começo,
O amor jamais passou de um adereço
A marca mais cruel de algum desejo.
Resisto até que chegue o fim de tudo,
Porém velho e cansado eu não me iludo.


32208


A morte sanguinária dos meus sonhos
Assisto sem saber como agiria
Se a vida não matasse a fantasia
Deixando renascer tempos risonhos,
Os olhos seguem vagos no horizonte
Brumoso de minha alma entorpecida,
Assim até chegar o fim da vida,
E a cada nova ausência desaponte.
Mergulho neste vago em que anseio
Ao menos ter a paz que nunca vi,
E tudo ainda estando mesmo aqui
Percorro cada mágoa em devaneio,
E sinto toda a inútil solidão
Na tétrica e dorida exposição.


32209

Entre os restos mortais, vis pavorosos
Apenas adivinho a mesma face
E nela cada engano que se trace
Permitem novos tempos caprichosos,
Os olhos muitas vezes orgulhosos,
O passo se transforma e me desgrace
Ainda que pudesse em tal impasse
Os dias não seriam prazerosos,
Ascendo às mais incríveis cordilheiras
Os rios entre fortes corredeiras
E as horas nada dizem, só do fim.
Persisto tão somente por querer
Ainda neste instante algum prazer,
Uma ilusão espúria dentro em mim...



32210

Pesadelos? A vida inda circula
E traz cada momento mais venal,
Embora seja tudo sempre igual
Outro momento em paz, a alma especula
E quando noutro tanto mal calcula
E vê se repetindo o ritual,
A sorte desejosa, mas letal
O passo rumo à glória dissimula.
Assim ao perceber a insensatez
Além da mesma cena já revês
O tumular caminho desvendado,
Aonde quis apenas um abrigo,
Encontro finalmente meu jazigo
E o sonho aos poucos vejo exterminado...32211

Cessou brasa, que incendeia
Turbilhão de pensamentos
Onde vejo os sofrimentos
Mesmo em lua plena e cheia
A saudade me rodeia
E tocando com seus ventos
Muitas vezes dá proventos
Noutras tantas se permeia
E não deixa que prossiga
Quem decerto o sonho abriga
E procura renovar-se,
Mas assim em forte liga
Quando o olhar noutro se amiga,
Preparando algum disfarce.

32212

Nem por reza ou por favor,
Nem tampouco por bondade
Ao sentir o quanto invade
No meu peito um novo amor,

Onde tanto quis louvor
Vou cevando esta ansiedade
E procuro a claridade
Neste céu em vária cor,

Adentrando no meu peito
Cantoria em lua plena
Minha vida se serena

Vivo agora satisfeito
E tampouco poderia
Ser diverso o dia a dia...

32213


Quem prendeu seu grande amor
Nas estranhas de seu peito
Mesmo quando insatisfeito
Não vê mais sequer o albor
A saudade dita a dor
E se ainda tento em pleito
Conceber cada direito
Outro tanto sofredor,
Ansiosamente vejo
As estranhas do desejo
E por fim jamais reluto,
Quem deveras tanto quer
Os anseios da mulher
Tem que ser decerto astuto.

32214

Que cantando, fez a teia,
Onde viva a poesia
E se tanto se queria
Quando a vida se recheia
De ilusão e devaneia
Deixa além do quanto o dia
Viva a rara sintonia
E se ainda a paz anseia
Não se esqueça que a paixão
Farta sempre de emoção
O que tanto seja mero,
Mas viver sem ter fronteiras
As palavras derradeiras
Na verdade, o que mais quero.


32215

Fui tragado por sereia,
Engolido pelo mar
Aprendendo quando amar
Tantas vezes nos rodeia
Vivo em plena lua cheia
E dos raios do luar
Começando a navegar
Quem tivera uma alma alheia
Não concebe outro caminho
E jamais sendo sozinho
Bebe as ondas, ganha os céus,
Entranhando nos meus dias
Riscos vários, fantasias,
Enlouqueço em fogaréus...


32216

Nadava, mas não deu pé,
Onda forte carregava
Na maré imensa e brava
Fui na força fui na fé
E buscando aonde até
O caminho me levava
Entremeio chuva e lava
A certeza do não é,
Sendo assim nada me impeça
E se tanto se tropeça
Recomeço noutro dia
A sonhar com meu corcel
Vagueando pelo céu,
Sacrossanta montaria...


32217

No meu mar, morreu a fé,
Que deveras poderia
Transformar em poesia
Esta casa de sapé,
E o que tanto quis até
Noutro tanto em heresia
Hoje sem a companhia
De quem amo, amo a galé.
E servindo de corrente
Todo encanto que apresente
Não me deixa sossegado,
Onde vejo o meu futuro
Nada além do que procuro,
Vivo à sombra do passado...


32218

Amando Mar e Marina,
Navegando sem juízo
Cada dia um prejuízo,
Mas vontade me domina,
Nada além da minha sina,
Não querendo o Paraíso
Perco o rumo mais preciso
E se tanto me fascina
A vontade libertária
De outra sorte necessária
Bem diversa da que eu trago,
Onde fiz minha esperança
Meu olhar inda se lança
Na procura de um afago...

32219

Maresia mar e sina,
Mares tantos que carrego
E deveras mesmo cego
Nova fonte se ilumina
E tampouco a mesma mina
Traz o encanto em que emprego
O meu canto e não renego
A vontade se extermina
Onde pode haver fronteira
A verdade costumeira
Trama em cores bem diversas
E se ainda se iludira
Tanta sorte ainda gira
Sobre o rumo que ora versas...


32220

Vai meu mar amar maré
E se ainda busco a praia
Onde a vida não se esvaia
Eu procuro a vida em fé,
Sendo desta mesma laia,
O caminho feito à pé
Noutro tanto busco até
Lua ao longe já desmaia
Sendo assim tão sorrateiro
Mundo amargo e traiçoeiro
Não me deixa navegar,
Tento mesmo outra verdade
E se bebo da saudade,
Volto ao mesmo e velho mar...

32221

Naufragando a poesia
Onde em tantas tempestades
Outros sonhos tu degrades
Com terrível heresia
Não suporto hipocrisia
Nem tampouco as inverdades
Sinto apenas as saudades
De outros tempos, belo dia
Onde a voz mais delicada
Ou quem sabe a mão armada
Odes, trovas e sonetos,
Hoje vejo os descaminhos
E se bebo sacros vinhos
Restam disto, poucos guetos.


32222

Nunca sim, somente não,
Tróias vejo dia a dia,
E se ainda não se havia
Noutro encanto a direção
Perco a velha embarcação
Onde já naufragaria
O que tanto se queria
Morto o sonho, resta o vão.
Posso ser anacoreta
E se ainda se cometa
Heresias quando eu canto,
Nada diz o trovador
Que bebendo de um amor,
Do soneto faz seu manto.


32223

Que me trouxe solidão
Ondas tantas mares frios
E meus velhos desafios
Adentrando esta amplidão
Vou perdendo a plantação
E meus dias são sombrios,
Neles olhos mais vazios
No horizonte em perdição
Riscos tantos em brumosa
Tarde dura e caprichosa
Pavorosa realidade,
Por mais alto que inda tente
Inda mais se desalente
Mesmo quando louco eu brade.


32224


Que me fez perder Maria,
Cantoria em tom menor,
O meu mundo sei de cor,
Nele busco a fantasia,
Mas deveras poderia
Noutro tanto bem melhor
O que agora sem maior
Sonho dita a poesia,
Mergulhando no vazio
Mesmo quando desafio
Destoando do que sou
Resta apenas o que sonho,
Tanto assim tosco e medonho,
Onde o mundo se entranhou.

32225

Foi solitária agonia
Um momento em desalento
Bebo a sorte perco o vento
A saudade não me guia,
E se ainda poderia
Ver comigo o que inda tento
Nada mais de algum invento
Outro tanto venceria,
Sirvo apenas de alimária
A saudade é procelária
Sem timão, meu barco segue
Pelos mares em procelas
E se ainda me revelas
Cada rumo se sonegue...


32226

No meu tempo, passatempo,
Noutro tanto desencanto
E se ainda teimo e canto
Superando o contratempo
Vou atento e nada faz
O meu mundo ser diverso
Sobre o sonho quando eu verso
Eu me sinto mais capaz
E restando dentro em mim
Outro tanto que não sei
No mergulho que tramei
Fui depressa chego ao fim
E restando a poesia
Todo o sonho se recria.


32227


A quem tempo e contratempo
Fez do mundo aonde acampo
Um cordel em pirilampo
Tão feroz comigo o tempo,
Risco o nome de quem tento
Vencer com palavra doce
E se amar ainda fosse
Dos meus sonhos; mor intento
Noutro invento poderia
Caminhar de peito aberto,
Mas se ainda não deserto
Neste oásis a heresia
Amortalha cada sonho
Que tão tolo inda componho...


32228

Doendo a vida, dá dó
A quem tenta novo sol,
E se ainda no arrebol
Nada vejo e sigo só,
Deste encanto mero pó
Nada serve de farol,
E teimando mesmo em prol
Cada passo é novo nó,
Resta ao velho caminheiro
Tanta pedra em espinheiro
E negando o meu futuro,
Bebo a seca que me deste
Neste sonho mais agreste,
Neste solo árido e duro.


32229


Noutro tempo fui tão só,
Mas ainda continuo
E se tanto quero e atuo,
Cada passo novo mó
Na amargura do jiló
Na senzala teimo e suo
Novo intento outro recuo,
Pedregulho é pão de ló,
Sendo assim nada pudesse
Quanto amor ditando prece
Já se esquece do final,
Eu tropeço no adereço
Este pouco que mereço
É meu rito terminal.


32230

Um dia a mais, noutro tempo
Noutra sorte poderia
Onde tanto se queria,
Mas é mero passatempo,
E se ainda não contemplo
O que resta de nós dois
Deixo a vida pra depois
Onde amor se fez um templo,
E reservo-me ao direito
De tentar nova emoção
Mesmo quando sei que não
Possa estar mais satisfeito,
Bebo assim esta aguardente
Onde o mundo em paz se invente.

32231


Nossa vida no arrebol
Nas campinas e nos prados
Dias mortos sem recados
Onde havia ainda um sol,
Hoje moro neste atol
Busco as sombras e os legados
São deveras destroçados
Nem sequer resta o farol,
Bebo a fonte do que fora
Alma pura e sonhadora
E não vejo nem sinais,
Sempre ao longe uma resposta
Desta face decomposta
Sendo exposta aos vis chacais.

32232

Dos meus olhos és cativa,
E portanto quando penso
Neste amor não me convenço
Alma morta, sobreviva?
Resta apenas o que priva
Do caminho outrora imenso
Meu olhar seguindo tenso
Noutra senda agora esquiva.
Risco o nome de quem tanto
Poderia ainda em canto
Traduzir o que não resta,
A certeza se formando
Neste tempo tão nefando
Numa face mais funesta.

32233

Da felicidade ativa,
Nem tampouco resta a voz
E se a vida é tão atroz
Onde mesmo se cativa
Ilusão não sobreviva,
E o que resta enfim de nós
Na verdade nada após
Sonhador perdendo a diva.
Alvejando no meu peito
Um balaço, este punhal
O momento germinal
Nunca mais teve seu pleito
E se ainda aqui resisto,
O que resta é tão malvisto.

32234

Tudo vai agindo em prol
Deste tempo que pensara
Noutra luz nova seara,
Mas a vida cega o sol,
E sedento do que tento
Nada resta na verdade
Por mais alto que se brade
Outra vez do amor detento
Liberdade não se vê
E tampouco se veria
Sem o tom da fantasia
Meu cantar perde o porquê
Sigo aquém do que pudera
Se inda houvesse primavera.

32235


Fazendo brilhar a lua
Onde tanta treva havia
Eu encontro a poesia
E com ela se flutua
Noite clara sempre atua
E transborda em fantasia
Mesmo quanto se queria
Alma segue exposta e nua,
Ao vencer cada tormenta
A certeza se aparenta
Bem maior em claridade,
Desta forma sigo em frente
Sem ter nada que se ausente
Mundo em paz agora invade.


32236

Trazendo a lua vermelha
Tarde em raro anoitecer
A beleza a se tecer
Nos meus olhos a centelha
Que deveras se assemelha
Ao que tanto quis prazer,
E sem nada a desdizer
O luar adentra a telha
Forra o chão neste polvilho
E se ainda teimo e trilho
Cada rastro que se vê,
Minha vida após a guerra
Toda a paz agora encerra
E traduz ora um por que.

32237

Amor traz forte centelha
Do que fora intensamente
E hoje o quanto inda se sente
Trama o mel, sublime abelha
E realça esta beleza
Feita em luas e sertões
Onde tanto ainda expões
Rio manso em correnteza,
Leve como pluma uma alma
Ergue acima dos caminhos
E transforma novos ninhos
Neste vinho que me acalma
Bebo a sorte e em cada gole
O luar minha alma engole.

32238

Roupa quara no varal,
E deveras do passado
Cada voz dita o legado
Neste velho ritual,
A certeza sem igual
Outro dia vislumbrado
Meu amor tão deslumbrado
Desta sorte viva nau
Percorrendo a cada instante
Mar diverso se adiante
E transcorra em plenitude,
Vivo apenas por saber
Toda a glória do prazer,
Neste tanto que não mude...


32239

Rede posta no quintal,
Vida alheia aos temporais
Em momentos magistrais
Outro tempo sem igual,
Caminhando em dias frios
Entre medos e pavores
Outros tempos velhas cores
Novos ritos, desafios
Sigo sempre peito aberto
Nada cala a minha voz
Mesmo quando for atroz
Minha estrada não deserto
E persisto sempre assim,
Com o amor dentro de mim...


32240

Na casa antiga, de telha,
Nos escombros de minha alma
A certeza que me acalma
Deste tanto uma centelha
Outro tanto se recria
E decerto o recomeço
Impedindo algum tropeço
Adentrando a fantasia
Veste com soberba gala
Sonho novo em peito antigo
E se ainda quero e abrigo
Minha voz jamais se cala,
Procurando este caminho
Que me leve ao velho ninho...

32241

Que assim seja eternamente
Cada dia após mais forte
Todo encanto que transporte
Coração, sentido e mente
Mesmo quando se pressente
Noutro tempo novo corte
Bem mais bela a nossa sorte,
Pois decerto não se ausente
E se tanto quero ter
Ao teu lado este prazer
Posso ser um vencedor
Ao cerzir este caminho
Com ternura eu me alinho
Nos mistérios de um amor.

32242



Versos insossos, descrendo
Do que tanto poderia
Renegar a fantasia
Transformando em mero adendo
O que ainda posso vendo
Num raiar de um novo dia
E tocando a poesia
Outro mundo descrevendo,
Resto apenas no abandono
E se ainda não me adono
Do que tanto desejei
Amo apenas cada fase
E se ainda amor embase
Bem melhor será tal grei.


32243

Um gatafunho inocente
Nas entranhas do que tento
Beijo assim boca de vento
Noutro quando se apresente,
Corto a mão tiro a corrente
Algemando cada invento
E perpetuando atento
Abortando esta semente,
Vago em noite sem remédio
Bebo o tempo e sinto o tédio
De quem trama e não resiste,
Na certeza do abandono
Mesmo assim morro de sono,
Mas minha alma segue em riste.


32244

E então pacientemente
Construindo esta tapera
Onde o sonho se tempera
Na mulher que se apresente,
Bebo a boca e tão somente
Nada mais ditando a fera,
Outra sorte regenera
A que outrora foi demente,
Da saliva e do gemido
Da vontade e da libido
Saciando os dois agora,
Não se vê qualquer tormento
Nesta trégua me apascento
Quando a fúria nos devora...


32245


Que a insensatez explode
Na vontade saciada
Outro tanto na alvorada
Quer demais e se sacode,
Onde a sorte não açode
Nem impeça a caminhada,
Resta apenas a invernada
Que em tesão agora eclode,
E rondando esta nudez
Novo sonho já se fez
Concretizo com vontade,
E sagaz tu nem esperas
Demonstrando tuas feras,
Nesta fúria que te invade.


32246

Amarrando os braços na hora
E tocando com carinho,
Algemando em nosso ninho
A vontade que devora,
Sendo assim não se demora
Vem depressa que me aninho
No teu colo, pois sozinho,
Sorte nunca nos decora,
Resta ainda a madrugada
E se der amanhecer
Onde tanto diz prazer
Desprazer não fala nada
Rondo cada parte e invado
Num jeitinho tão safado...

32247

Quando o amor diz peraltice
Nada mais posso querer,
E se ainda vou beber
Toda a sorte que se disse,
Esconder, vira tolice,
Quero mais é poder ter
Noutro tanto este prazer
Renegando uma mesmice
Cada parte descoberta
Por debaixo da coberta
Brincadeiras são perversas,
Nada digo nada falas
Se em vontades avassalas
Para que tantas conversas?


32248

O pensamento rebola,
Sobre mim, galga o corcel
Lambuzando com seu mel
Onde a sorte não imola,
Tanto tempo entro de sola
Vou cumprindo o meu papel
E trazendo agora o céu,
A tristeza já se isola,
Companheira de prazeres
Tantos sonhos e quereres
Noutros dias, hoje e agora,
Amanhã repete a dose
Vou morrer é de overdose
Quanto mais quer se devora...


32249

Na palma dos meus dedinhos
Nas entranhas, grutas, cios
Onde tanto foram frios
Hoje são ardentes ninhos,
E se outrora diz sozinhos
Desde agora são vadios
Os carinhos desafios
Sobre sedas, cetins, linhos,
Ou também colchão de palha
Nada mesmo me atrapalha
Acendendo o fogareiro,
Desde quanto mato ou morro
Na verdade sem socorro
Eu me entrego por inteiro...


32250

Fazendo cosquinha aqui,
Devagar brincando vou
E deveras onde estou
Quero mais e não perdi
Um segundo quando eu vi
O que a colcha desnudou
Resultando em cada gol,
Jogo intenso descobri,
Vivo assim ao deus dará,
Mas eu quero aqui ou lá
E não canso de querer,
Venha logo que esta noite
Sem amor é frio açoite
Nos teus braços me perder...

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