terça-feira, 11 de maio de 2010

32301 até 32350

32301

A vida não traria mais respostas,
E tudo quanto fosse sonho agora
A própria negativa corrobora
Deixando realidades decompostas,
E quando as heresias são expostas
Uma alma mais sensível cede e chora,
Nem mesmo a fantasia ali ancora
Lanhadas com vergastas finas costas,
Assim ao fim do jogo nada levo,
E quando até buscara não me atrevo
E sigo solitário rumo ao túmulo,
O quanto se pensara outrora em cúmulo,
Da vida no seu máximo, apogeu,
Percebo: totalmente se perdeu.

32302

Aguardo calmamente este final
Sabendo que não vale mais a luta,
E quando ainda uma alma se faz bruta
Pressente este momento desigual,
Hermético caminho em modo e grau
Silêncio é o que decerto já se escuta,
Aonde se fez clara tal permuta
O fardo que pensasse ser banal
Demonstra-se, por certo insustentável,
E o quando do viver fora potável
Já não concebe mais outra esperança,
Inútil prosseguir, mas quero e busco
Em meio ao mais terrível lusco fusco
O olhar noutro horizonte já se lança...


32303

Vergastas entre tantas, vil chicote
Cortando a minha pele: escaras, chagas.
E quando com sorrisos tu me afagas
Expressa ansiedade de um coiote,
Porquanto a fantasia já se esgote
E em dores e tormentas sempre alagas,
O mar em tempestades, fartas vagas,
A vida consumindo espreita e bote.
Não pude caminhar entre tais pedras,
E mesmo quando ainda teimas, medras
Eu sinto sendo exposta a realidade,
E apenas no final do açoitamento
Em meio ao farto medo, eu não lamento
E a paz em redenção, enfim me invade...

32304

Na luz do meu olhar velhos amores
Refazem cada estrada em luz sombria,
E todo canto quanto ainda havia
Perdendo lentamente suas cores,
Ao menos ouço ainda vãos rumores
E a estrela dos meus sonhos, inda guia
Perdido caminheiro em ventania,
Seguira sem destino aonde fores.
Mas tudo fora apenas ilusão
E quando novos tempos mostrarão
Novo horizonte, embora mais brumoso,
A vida se refaz ainda em trevas,
Porém já com certeza não me levas
Ao rumo mais atroz, pois caprichoso...


32305

Quem dera se pudesse em minha sorte
Traçar novo momento invés do medo,
E quando uma ilusão mera eu concedo
Porquanto ao novo tempo me transporte
Ainda o vendaval decerto forte
E o quadro se moldando noutro enredo,
Alheio ao caminhar atroz e ledo,
Encontro quem por certo me conforte;
Na fonte incontestável, luminosa,
O olhar indiferente tudo glosa
E o vândalo sonhar se torna opaco,
Mas quando outro cenário se apresenta
A tez que inda percebo desatenta
Inventa um mar aonde em paz atraco...

32306

Pudesse ter noção do meu destino
Errático cometa ao qual me entrego
Percorro como fosse surdo e cego
E quando me percebo, eu me alucino,
Do tanto que lutara e ora extermino
No muito ainda em chagas que eu carrego,
O todo diluído no meu ego
Restando pouca coisa e não domino
Sequer esta vontade libertária
E a sorte da ilusão velha corsária
Jamais impediria a atracação
Em trânsito minha alma evoluindo
Ou quando no vazio diluindo,
Perdendo qualquer rumo ou direção.

32307

Não me queixo do peso desta vida
Vergando o meu costado e já pressinto
No quanto outrora vira quase extinto
A sorte transformando outra saída,
No todo quanto posso não duvida
Uma alma tenebrosa, ou mero instinto,
Ainda se pudesse crer, mas minto
E bebo deste vão no qual se acida
Seara inestimável, mas sombria
Aonde se permite a poesia
Sedenta de ilusões que não virão.
O ocaso dentro em mim espalha o medo,
Quando intuitivamente teimo e procedo
Recebo por resposta o mesmo não.


32308

Queria tão somente ainda crer
No tanto prometido e nunca dado,
O resto do caminho desolado
Mostrando a incompetência do querer,
Resumo tudo quanto possa ter
No vandalismo exposto e sempre ao lado
Refém deste tormento, o meu legado
Demonstra tão somente o já não ser.
Exterminando o sonho não pudera
Conter a solidão, vaga quimera
Nem mesmo refazer velhos caminhos,
E tento vez por outra soluções
E quando novos templos tu me expões
Eu abandono os ritos, mitos, ninhos.

32309

Buscando neste tanto a panacéia
Que possa redimir erros nefastos,
Aonde se pensara serem castos
Os tempos se mostrando pra platéia
Mudando totalmente cada idéia
Os dias entre sombras foram gastos,
Dos tempos mais felizes, os repastos
Gerando sem sentir uma alma atéia.
Mas quando se percebe a iniqüidade
Na dor atroz que volve e nos degrade
O gládio se transforma em calmaria,
Logrando cada engodo como fato,
No tanto que adivinhe; eu me retrato
Diverso do que outrora concebia...


32310

Não creio em sentimento que persista
Após tempestuoso dia a dia,
E assim ao se mostrar o que sentia
Do todo não deixando qualquer pista
Apenas o vazio já se avista
E nele nada além o tempo cria,
Enquanto sobrevive a fantasia
O amor decerto sei que inda resista,
Mas tudo tem seu claro e imenso preço,
Viver cada segundo em que mereço
O quadro decomposto em teias turvas
Rastejo como a serpe em vago chão,
E tento convencer a solidão
Enquanto outro caminho giras, curvas...

32311

Enfrento os vendavais desta saudade
E tento disfarçar, mas não consigo
Aonde propusera algum abrigo
Inundação terrível já degrade
E assim ao se perder a qualidade
A vida noutro tanto inda prossigo,
Mas sei que nada vale o sonho antigo
Amordaçado sonho não invade
E tento, persistindo contra o nada,
Amor já não seria desta alçada
Cansada alma se vendo solitária,
E sendo assim decerto em contrapasso
O nada a cada dia ocupa o espaço
Saudade: turva e torpe luminária...

32312

Aonde a claridade não existe
E resta tão somente a turbulência
A vida que perdera esta inocência
Agora noutro tanto segue triste,
O amor quando em ternura se consiste
Recebe dos anseios a clemência
E cada novo passo em providência
Gerando outro caminho em que persiste.
Assim ao renovar-se dia a dia
No todo que se perde e se recria
Eternidade molda este horizonte.
Mas quando nada vejo além do fim,
O pouco que soçobra dentro em mim
Esgota a todo instante qualquer fonte...


32313


Encontro em teu olhar a redenção
Dos sonhos e desejos abortados,
Os dias mais terríveis, desolados
Aonde não se via a direção
Perpetuando em mim a negação
Olhares entre trevas e vendados,
Caminhos ilusórios ou vedados
Não tendo mais sequer qualquer verão,
Refaço mesmo inúteis caminhares
E ainda se decerto tu notares
Verás o que restou de um mero sonho,
O fardo do viver nada sustenta,
E quando a solidão persiste atenta,
O quanto, quando e como inda proponho?

32314

Noite retornando e a solidão
Jamais se afastaria mais de mim,
Percebo assim chegando aos poucos fim
E tento noutro tanto a solução,
Apenas me entregando à podridão
Renego cada passo de onde eu vim
E mato o que restara, sendo assim
Meus olhos novos dias não verão.
Augusta fantasia? Mero sonho.
O tanto do viver ledo e medonho
Tecendo em dura teia a realidade,
E nada do que possa acreditar
Mudando as coisas todas de lugar
Ainda me trará felicidade...


32315


Os raios deste sol já se perderam
E nada do que tanto acreditara
Mudando este cenário, vã seara
Os olhos nem as fontes perceberam,
Restando ao sonhador o que beberam
Momentos de alegria, sorte rara,
E ainda este restolho é o que me ampara
Vazios onde os dias se verteram.
Assisto tão passivo quanto posso
E nada do passado teu e nosso
Revive algum momento de euforia,
Nefasta luz esboça insensatez
E o todo pouco a pouco se desfez
Enquanto tão somente o nada havia.


32316

Retorno ao velho pó e nada fiz,
Aonde se pudera crer na luz
Apenas ao vazio não me opus
E volverei qual fora um aprendiz,
O quanto se renova este matiz
E o peso do sonhar gerando o pus,
Mergulho dentro da alma e se produz
Efeito mais contrário ao que já quis.
Lacaio e tão servil u’a mera sombra
O quanto do não ser domando assombra
E não permite além do quanto possa,
Vestígios de um demônio neste imundo
Caminho pelo qual eu me aprofundo
Servindo de alimária, torpe troça...

32317

Aonde os grandes sonhos não existem
E o vento leva ao longe uma esperança
Porquanto no vazio já se lança
Momentos entre luzes não persistem,
Apenas em não ser tantos consistem
E quando se propõe a temperança
Não resta nem a sombra na lembrança
E os velhos andarilhos não insistem.
Olhando neste espelho a face exposta
Do medo se mostrando em cada ruga,
Uma alma quando ao pânico se aluga
Vergando com o peso do viver,
Não tendo outro caminho se dilui,
E tudo o que restara ainda rui
Assim eu pude apenas me perder...

32318

Gerara o meu destino em tez cruel
E tanto procurara algum momento,
Somente do passado eu me alimento
E sei deste sabor eterno fel,
O quanto do viver renega o véu
E sinto que me resta este excremento
E dele se perfaz todo o provento
Residual alento leva ao léu.
Estirpes tão diversas de demônios
Assim ao perceber tais pandemônios
Os dias resgatados entre chamas
Não deixam qualquer forma de esperança
E quando ao mais profundo já se avança
Perpétuas heresias inda tramas.


32319

Quisera ter das rodas da fortuna
A sorte abençoada e nada veio,
Apenas meu olhar dita o receio
Nem mesmo o dia a dia coaduna,
E quando se percebe em vaga escuna
O olhar bebe o horizonte e vai alheio,
Redunda noutro tanto quando anseio
Diverso deste vão que ora me puna.
Acordos entre cortes e senzalas
Ainda inutilmente tentas, falas
E vês que ao se perder já nada resta
Somente a face amarga e nela sou
O pendular caminho que restou
E a vida a cada não renova e atesta.

32320

Quisera desta vida ao menos festa
E ter felicidade, mas mereço?
Aonde fiz do sonho um adereço
A porta não permite qualquer fresta,
E assim ao se mostrar em tão funesta
Face, o amor perdendo este endereço
Não tenta e nem permite o recomeço
E quando se percebe a morte gesta.
Lacunas do meu peito, sempre abertas
E quando do passado tu despertas
Vontades sem sentido adormecidas
Refém desta figura em face espúria
Minha alma se revela em torpe incúria
E veda o que julgara ser saídas...


32321

As alvoradas? Nunca mais verás
Enquanto em plena treva alma prossiga
E tanto se pudera ser amiga
E ver ainda viva a imensa paz,
No quanto se mostrasse mais audaz
E sendo assim a vida ali se abriga
O tanto que ao amor se desobriga
Quem tem a face escusa e até mordaz.
Não posso acreditar nesta palavra
Que negue ou já transforme fútil lavra
Sementes abortadas da esperança,
Assim ao me entregar ao raro sonho,
Um dia mais tranqüilo eu me proponho
E o olhar ao sol imenso em luz alcança;


32322

Não quero me perder sem despedida
Da sorte benfazeja que encontrara
Depois de tanta dor em vida amara,
Enquanto da esperança se duvida
Porquanto noutra senda já provida
Do amor aonde a vida ora se ampara
O mote desejado se declara
Moldando esta alegria onde era ermida.
À parte dos enganos, descaminhos,
Fazendo da alegria novos ninhos
Mergulho nesta clara imensidão,
Das trevas do passado, nada vejo,
E quando neste instante relampejo
Aberto sem perguntas, coração.

32323

Ainda trago viva esta saudade
De um tempo imaginário, juventude
E quanto mais mergulho em negro açude
Mais forte a imensidão do sonho invade.
Gerando proteção em frágil grade,
Vivendo muito além do que mais pude
Porquanto a realidade sempre mude
Encontro neste vão: felicidade.
Esgoto os meus enganos, mas persisto,
E sendo a solidão imenso cisto
Deflagra-se outro incêndio dentro em mim,
E tanto sou medonho quanto opaco,
Porém um ser mutante, não me estaco
E vivo etereamente até meu fim.

32324

Tecendo a sua amara e torpe norma
A vida semeando a morte em mim,
Já sabe do final deste jardim,
Aonde todo o ser muda e deforma,
A face do demônio toma a forma
E quando me percebo já no fim,
A solidão tomando traça enfim
O corte que no vão tudo transforma.
Na renovável luz, apenas resto
E o sonho se demonstra ora funesto
Gestado pela incúria em vã tolice,
Perfaço o meu caminho, mesmo roto,
Preparo o corpo apenas ao esgoto
E nele todo o sonho se desdisse...


32325

Pudesse crer ainda em liberdade
E ver a luz ao fim da velha estrada,
Mas sei que no final não tendo nada,
Apenas este corpo se degrade,
De mim não haverá sequer saudade,
O peso do viver em renovada
Espécie bem mais frágil transformada
Perfaz sempre a venal realidade.
Esta alma em turbulência de um poeta
Enquanto na esperança se completa
Não vê a claridade do vazio,
Sensivelmente amarga a vida exposta
Na carne sob a terra decomposta
Aonde em verme e inseto eu me recrio.

32326

O peito nega assim o leme e a vela
E ainda se pudesse ter um porto
O olhar de um ser apenas semimorto
Não tendo outro delírio, nada sela,
E assisto à derrocada em que se vela
Cadáver da esperança, mero aborto
E quando um vago sonho ainda exorto
No pândego sonhar, a alma se atrela.
Escassa fonte nega este holofote
Porquanto uma ilusão caminho esgote
Resisto tão somente por tentar
Saber de outra existência que não esta,
E tendo a fantasia, ainda resta
A réstia do que fora algum luar.

32327

Um anjo se revela em cada sonho
Diverso da figura costumeira,
As asas tão podadas a alma esgueira
E vaga no horizonte mais medonho,
Atrocidade molda este bisonho
Caminho aonde creio na bandeira
Exposta em luz soberba e corriqueira
E deste vago ser eu me componho.
Pudesse libertário, mas não tenho
Sequer do quanto pude em louco empenho
Vencer as minhas dores, mas buscava
Apenas solução para os problemas,
E quando me percebo em tais algemas,
As asas já cortadas ditam trava...


32328

Estrela que diurna se mostrava
Além do próprio sol, predominando
Gerando no arrebol outrora brando
Imagem fervilhante, fúria e lava,
Minha alma se tornara quase escrava
E tendo esta visão me dominando
Pudesse caminhar aonde e quando
Tormento com ternura se encontrava.
Desnuda a realidade em falso tom,
O amor não se mostrara sempre bom
E o dom de ser feliz não me comporta,
Arrisco vez em quando algum alento,
E quando me percebo sem provento
Trancada eternamente qualquer porta...


32329

Pudesse transformar o imenso brilho
Em vital caminhada por astrais
Aonde se emolduram em cristais
O quanto da esperança inda palmilho,
Apenas da ilusão tolo andarilho,
Cevando noites claras, magistrais
E vejo em cenas fúnebres fatais
O mundo repetindo este estribilho.
E quando vejo assim tola abordagem
E nela este corsário diz pilhagem
Dos sonhos, resta apenas solidão.
Vencido pelo tanto que pudesse
Não tendo da alegria qualquer messe,
O amor se transformando em vil visão.

32330

Cantando em noite imensa, libertária
A voz de quem se fez em tom maior,
O amor se emoldurando sei de cor,
Mas sei também da falsa luminária
A sorte sempre fora procelária
Amparo que julgara bem melhor
Ao ver a realidade, sou pior
Do que talvez pudesse em cena vária.
Sem ter a luz aonde me apoiasse,
O quanto do viver expõe a face
Atormentada e tosca de quem luta,
O fardo não suporto, mas insisto,
E quando se percebe bem mais disto
Do encanto, alma recua e enfim reluta.

32331

A vida transformada pelo brilho
Da estrela que me guia em noite imensa,
O quanto deste sonho recompensa
Caminho aonde às vezes triste eu trilho,
A sorte superando este empecilho
Vivendo a solidão, atroz e tensa
Seara da ilusão porquanto extensa
Realça a fantasia em que me pilho
Sonhando vez em quando, constelar
Aonde em abissais a realidade
Traçando cada noite ainda brade
A fantasia atenta e mesmo assim,
O quanto poderia navegar
Afasta esta esperança, e trama o fim...

32332

O canto de uma noite em fantasias
Expressa docemente outro momento,
Mas quando vejo a vida e a dor lamento
Diverso do que tanto prometias,
Vencido pelas dores e sangrias
O corte se aumentando e me atormento,
Gerado pelo intenso sofrimento,
Não tendo nada além das heresias
Percalços são comuns, eu reconheço,
Mas quando cada passo outro tropeço
Degraus não levam nunca ao apogeu
Fartando-me do nada, resta apenas
As hordas entre as quais tu me envenenas
E o sonho que alimento, enfim, morreu.

32333

A lua que pensara em plenitude
Minguando dentro em mim, brumosa cena
Nem mesmo a fantasia me serena
Vivendo muito além do que mais pude,
Mudasse de caminho e de atitude
Quem sabe noutra senda seja plena
A lua que deveras não acena
Sequer com qualquer rastro e não se mude.
Gestando apenas treva invés da aurora
Aonde uma emoção não se demora,
O todo se resume em quase nada,
Sem lua, sem viola e sem ponteio,
Apenas me restando este receio
E ausência do que fora uma alvorada...

32334

Cometa que transforma em ventania
O canto onde se ampara uma emoção
Recebo a cada ausência o velho não
E nele toda a morte se recria,
Pudesse conceber a fantasia
Aonde vejo apenas o senão,
Restando todo o tempo agora em vão,
No todo se perfaz mera agonia,
Algozes os caminhos mais audazes,
E tanto quanto ainda o nada trazes
Mergulho dentro em ti e vejo o rastro
Do pântano gestado pela ausência
E tendo tão somente esta inclemência
O mundo se perdendo sem seu lastro.


32335

Minha alma num completo desalento
Não sabe discernir qualquer ternura,
E morta em vida sabe da amargura
Sonega qualquer luz, mero provento,
Do quanto em tempestade me alimento
E sigo sem sucesso na procura
A vida noutro instante não perdura,
E mesmo assim decerto ainda invento
Um prado aonde em flóreo caminhar
Perceba a sutileza de um luar
Ou mesmo a poesia em verdejante
Delírio, mas neblinas tomam tudo
E quando este passado se adiante
Qual fora um tolo infante, inda me iludo.


32336

Silêncio dos amantes em cansaço,
A sorte não pudera ser diversa
E quando sobre o nada já se versa
Mergulho noutro tanto e me desfaço
Aonde se perceba apenas traço
E sendo uma alma tétrica ou dispersa,
O amor já pressentindo desconversa
E ocupa noutro cais qualquer espaço.
Risível noite em trevas, nada mais,
Assisto aos meus momentos terminais
Umbrais das esperanças já lacrados,
Os ratos dominando este porão
Minha alma se apresenta em podridão
Os erros sempre iguais e acumulados.

32337

A noite se dispersa em luz sombria
Negando qualquer sonho a quem se dera
E o quanto do viver trama a quimera
Fatalidade e insânia mostraria
Ausente dos meus olhos primavera
Arcando com a dor se destempera
E tanto quanto posso, não teria
Sequer alguma sorte em vida rota,
Açoda-me um delírio e já se esgota
O peso acumulado dos enganos,
Nos quais ao me mostrar ora desnudo
Permito este silêncio e até me iludo,
Mas sei da estupidez dos velhos planos...

32338

Distante dos meus braços, quem me dera
Vivesse pelo menos um instante
Do tanto que deveras se adiante
Marcando cada passo em tola espera,
Aumenta a solidão e destempera
O passo noutro passo degradante
Porquanto ainda em trevas me agigante
Uma alma sem caminho desespera.
Arcando com meus trapos nada tenho
E quando ainda mesmo em tolo empenho
Procuro discernir outro cenário,
Tecido pela inútil complacência
Matando o que pudera em inocência
O amor se comportando qual corsário...

32339

Escuto ao longe a amarga melodia
Falando de momentos mais felizes,
E sei quanto terríveis cicatrizes
Geradas pelo medo em agonia,
Amar não mais seria uma utopia?
E quando sonho assim logo desdizes
E os dias entre pedras e deslizes
Renovam o terror, leda heresia.
Fertilizando em dor o pensamento,
Porquanto a cada engodo mais lamento
O errático caminho que perfaço,
Do tanto ainda morto dentro em mim,
Chegando mansamente ao vago fim,
Apenas subterrâneo o meu espaço.

32340

Teu rosto emoldurando este cenário
Atesta esta ilusão na qual mergulho,
Afasto cada dor, vão pedregulho
E tento novo sonho. É temerário...
Sangrante coração torpe estuário
De um tempo onde outrora ainda orgulho
Deixando como herança vago entulho,
Qual fora algum funesto mostruário
Cercando cada passo rumo ao quanto,
E vejo com temor e desencanto
Apenas revivida sensação
Do pendular destino vida e morte,
Enquanto mais distante tento um norte,
Reflito tão somente o etéreo não...

32341

Relembro dos meus tempos de menino
Coreto em plena praça, ouço um dobrado,
O tempo renovando este passado
E ao vê-lo neste instante me fascino,
À sombra do que fora meu destino
O canto se demonstra deslumbrado
E tanto poderia noutro fado,
Mudando com ternura o desatino.
Revejo cada fase e me encontrando
Num tempo mais atroz, duro e nefando
Renego o caminhar em pedra e chuva,
Se ao menos fosse assim a vida inteira...
A sorte noutro tempo é traiçoeira
Destroça meu canteiro qual saúva...

32342

Ao longe dos meus sonhos, bela garça
E tudo não passando de momento,
E bebo enquanto a luz não apresento
E toda a sorte aos poucos já se esgarça
Mudando a direção, ainda esparsa
Velocidade dita o desalento
O quanto a vida nega e sem provento
Nem mesmo a fantasia inda disfarça
Errático cometa, nada vejo
Somente a mera sombra de um desejo
E sigo alheio ao quanto mais pudera,
A porta se fechando atrás de mim,
O mundo renegando traz enfim
A morte esta consorte e vil quimera.


32343

Delírios de um poeta e nada mais
Aonde se fizesse em luz serena
A lua dos meus sonhos alva e plena
Diversas emoções celestiais,
Assim entre diversos castiçais
Aumenta a minha dor e nada acena
Senão esta vergasta me condena
Ao torpe caminhar entre chacais,
E ainda que de se mostre resoluta
A sorte na verdade não reluta
E traça no abandono a realidade,
Amar e ser feliz? Torpe meã
Das sendas a mais tétrica manhã
Aonde o dia a dia se degrade.

32344

Do quanto em ilusão amor composto
Tramando sorte vária e até desdita
Porquanto o coração ao longe fita
E sendo assim decerto decomposto
O que jamais teria sido imposto
Cenário anunciando esta maldita
Manhã atropelando aonde escrita
A sorte noutro tanto já reposto,
Esgoto de minha alma encarcerada
Nos cadafalsos tantos que conheço
O vago caminhar leva ao tropeço
E tudo se traduz somente em nada
Sementes que pudesse ter nas mãos
Entorpecidos dias cevam chãos.

32345

Não tenho no caminho nova meta
Ainda que pudesse em pandemônio
Preparo a solidão em manicômio
Resisto tolamente, alma incompleta,
Quem teve a poesia e traz na seta
O amor como se fosse um nosocômio
Ascende ao que não fora mais mecônio
E bebe do vazio e se deleta,
A sorte prefacia um suicídio
E tento novamente outro dissídio
E creio ser possível renovar-se
Mesmo que mostre apenas o bufão
Ascendo à mais completa solidão
Usando a realidade qual disfarce.

32346

O vento libertário tão amado
Transcende à própria vida em cordilheiras
E quando as esperanças são bandeiras
O amor ditando as sobras do passado,
Resisto e neste tom abençoado
Porquanto as ilusões são corriqueiras
Nos restos entranhados, traiçoeiras
Manhãs bebendo assim de um manso prado,
Augúrios mais diversos se apresentam
E quando as sortes torpes amamentam
Os sonhos de um poético caminho,
As flóreas emoções se perdem quando
O mundo noutro tanto deformando
Deixando este cenário enfim sozinho.

32347

O quanto poderia ser um arco
E tentar direções em voz suave,
Porém a liberdade é como uma ave
E o sonho se transforma em ledo barco,
Com todos os meus erros logo eu arco
E sei de cada engodo em que se agrave
O pendular desejo vira entrave
Tramando este delírio, mesmo parco.
Opaco caminhar de quem pudera
Tentar se renovar em primavera
E a espera não transforma em nova senda
E quando se mostrasse sem disfarce
No quanto a realidade não disfarce
Nem mesmo outro cenário já se atenda...

32348

Deflagra-se em terror o sentimento
De quem pudesse ser bem mais tranquilo,
E quando este vazio em mim destilo
Aos poucos sem saber eu me atormento,
Bebendo esta lufada, forte vento,
No todo que não sou teimo e desfilo,
As esperanças guardo em torpe silo
E asilo-me no vão, tolo excremento,
Encarniçada luta dita o quanto
Do pouco que me resta, e se agiganto
Mortalha não permite esta ilusão,
Cenário se mostrando em turva face,
O quanto da verdade se desgrace
Traçando novamente o mesmo não...


32349

Dos celestes anseios, fantasias
Fantásticos momentos, mero sonho.
O tanto quanto pude e decomponho
Enquanto noutro tanto geras, crias,
Vencido pelo tempo, em agonias
Ao mesmo vago enquanto me proponho,
Restando do que fora mais medonho
Apenas ilusões, tolas, sombrias,
Erguendo a minha voz, ninguém me escuta
A sorte a cada passo nega a luta
E astuta a madrugada se esvaindo,
Aonde quis manhã bebo da morte,
Assim é tão mesquinha a nossa sorte
Neste templo adorável, mesmo findo.

32350

Pintaste com ternura em aquarelas
Diversos os matizes dos teus sonhos,
Mas quando se mostrassem enfadonhos
Dispersas emoções singrando em velas,
E assim ao quanto podes sempre atrelas
Momentos que julgaste mais risonhos,
Notáveis ilusões, torpes, bisonhos
Andares entre tantos não revelas,
Este edifício feito em azulejo
Negando cada parte de um desejo
No anseio renegado esta vileza,
Assim se mostra a vida e nada traz
Porquanto mesmo sendo mais audaz,
O prato destruído sobre a mesa...

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