terça-feira, 11 de maio de 2010

32351 até 32400

32351

As cores boreais, as poesias
Os sonhos mais felizes que eu tiver
Aonde noutro encanto se puder
Sentir as mais profundas alegrias,
E tanto quanto ainda poderias
Na face desdenhosa da mulher
A sorte mesmo quando não vier
Deixando para trás as heresias
Escrevo como quem ainda busca
Em noite tenebrosa, dura e fusca
Clarões que na verdade não virão,
Assim amor se mostra em face nua,
E tendo mais distante alheia a lua
Somente se percebe a ingratidão...

32352

Por quantas vezes alma levo bélica,
E sendo assim procuro a mansidão
E sei que na verdade não verão
Meus olhos a esperança mais angélica
Homérica emoção? Tola esperança
E tanto quero apenas caminhar
Vencendo os dissabores e encontrar
O olhar aonde a sorte seja mansa,
Não vejo outro caminho e sendo assim
Mergulho no passado e tento crer
Ainda que pudesse amanhecer
Cevando com ternura o meu jardim.
Alheio ao caminhar de quem pudera
Traçar sob meus olhos a nova era...

32353

Mas os teus braços, mansos, calmos, anjos
Não dizem da verdade que ora vejo,
E quando mais atroz o meu desejo,
Difíceis com certeza bons arranjos,
Escancarado o peito, busco apenas
Momentos mais felizes e não vendo
Apenas o passado, mero adendo
E nele vez em quando me envenenas
Resisto por saber quão ilusório
O mundo feito em trevas, mesmo em luz
E quando à realidade então me opus
O tempo se mostrara mais inglório.
Farsante condição aonde eu tento
Conter com mansidão um forte vento.

32354

Sossegam meus tormentos, ilusões
E tanto poderia ser diverso,
Mas quando no passado sigo imerso
E assim não tendo mais as direções
Por onde poderia caminhar
Vencendo as mais difíceis ventanias
E quando novamente me dizias
Do imenso e tão terrível navegar
Entre tempestas tantas, vis procelas
Borrascas onde o barco não resiste,
O coração amante agora triste
No qual todos espectros vãos atrelas,
Esgarça-se e percebe ser tão frágil
O mundo aonde outrora eu quis ser ágil.

32355

A luz que tanto quis pensar trouxesse
Cenário em que vislumbre este horizonte
Aonde toda a sorte já desponte
Traçando com ternura esta benesse,
Mas nada serviria ao sonhador
Senão novo momento em plena fresta,
Agora o dia a dia em vão atesta
O quanto se percebe a decompor,
Acena-me com vaga fantasia
Aonde se pensara em fanatismo,
Deveras solitário ainda cismo,
E a sorte nunca mais renovaria
Repasto da esperança em luz sobeja,
Jamais meu caminhar ora verdeja.

32356


Não trouxe nem sequer um vago lume
A noite do viver em trevas feita,
E quando esta ilusão ao longe deita
Nem mesmo do passado algum perfume,
Espreito da janela, e me acostume
Somente com a fúria onde deleita
Uma alma plenamente insatisfeita
Que ao vago da emoção deveras rume.
Perpetuando a dor do nada ter
E sendo costumeiro o desprazer,
Jogando sobre as pedras e penhascos
Os barcos em que tanto navegar,
Medonha face exposta do luar
Gerando dentro em mim terríveis ascos.

32357


Saudade que senti, ressuscitou
Cadáver insepulto: tolo amor
E aonde se pensara com rancor
O mundo novamente transbordou
Cenário tão diverso da verdade
E sendo costumeira a dor que adentra
E nela todo o medo se concentra
Traçando com vileza esta saudade,
Restando do passado tão somente
A face distorcida em que me espelho,
O tanto do viver nega o conselho
E gera com ternura a vã semente,
Percorro este cenário e me iludindo,
Percebo o que era horrível e agora é lindo.

32358

Nas asas deste amor eu descobri
Inúteis fantasias, mas bonitas,
E quando ainda morta ressuscitas
Traçando dentro em mim tal colibri
A vida num terrível frenesi
Gerando do vazio tais pepitas
E nelas sutilezas que reflitas
Tragando cada senda onde eu perdi
O rumo no passado em cruel face,
Mas quando novamente o sonho grasse
Moldando outro momento bem diverso,
Assim se renovando o sentimento,
Porquanto novamente me alimento
Do frágil e sofrível universo.

32359

Carrego o muito pouco que sobrou,
Do tanto que pudera e agora é morto
Ainda vejo além o cais e o porto,
Aonde esta esperança soçobrou.
Peçonha que deveras se lançou
E nela cada risco é novo aborto,
Percebo o meu caminho e sigo absorto
Bebendo cada gole que restou
Do todo aonde urdira a minha sorte,
Por mais que o pensamento me transporte
Ao mundo imaginário, não me iludo,
Deveras quem se fez de tudo um pouco,
Agora consciente me treslouco
Mergulho no vazio e vou com tudo...

32360

A dor, o medo, a ponta de ciúme,
O centro do que outrora fora vida
E toda a realidade sendo urdida
Na fonte aonde o tempo se acostume
Vencido pelo medo, nada resta
Os gumes desta faca se apontando
No olhar agora morto e até nefando
A imagem refletida é mais funesta,
E cravo com ternura este abandono
E néscio caminheiro nada bebo
O amor se fez apenas um placebo
Enquanto da verdade se me adono
Eu sinto transcender-se à realidade
O encanto que alimenta e assim degrade.

32361

A dúvida feroz, ser o que sou,
Viver cada momento após o nada
E crer noutro cenário, noutra alçada
E ver o mar aonde naufragou
O sonho onde tanto procurara
Vencer a minha enorme timidez,
E quando noutro instante tu já vês
A sorte se transforma e desampara,
Resíduos de uma vida em vagas tantas
Bravias ondas ditam o meu rumo,
E quando pouco a pouco em vão me esfumo
Procuro aonde ainda me agigantas,
Fornalha de ilusões, o pensamento
Aonde com terror eu me apascento.

32362


Não posso perseguir o teu perfume,
Também já não consigo me ausentar
E quando beijo a sorte este lugar
Diverso do que tanto se acostume
O verso procurando algum alento
A parte que me resta deste todo
Moldando a cada dia o mesmo lodo
E nele se desfralda o sofrimento,
Vencido pelos ermos do quem fora
Resíduos de uma vida em mera escória
A sorte se transforma e merencória
Deixando no passado a sonhadora
Ausência de caminho onde iludido
Pensara ter a vida algum sentido...

32363

A rosa que deixaste, não brotou,
Despetalado sonho aonde eu sinto
O quanto deste amor agora extinto
Moldara cada passo e se inda vou
Buscando cada rastro do que tanto
Pudesse sanear o sofrimento
E vejo mais distante o pensamento,
Mas quando me aproximo tento e canto
Tentando refugar a aleivosia
E sendo mais venal o meu caminho,
Ainda bebo a luz quando me aninho
Nos ermos desta amiga, a poesia.
Errôneo contumaz, nada me resta
Senão do enorme vão, pequena fresta...


32364

Perdoe se não posso estar contigo
Ainda que tentasse acreditar
Na bela maravilha de um luar
Que a cada madrugada inda persigo,
Vencer os meus terríveis dissabores
E crer ser outro dia mais feliz,
Porquanto a realidade contradiz
Percebo este perfume e teimo em flores,
Canteiro destroçado em aridez
Arbustos e daninhas, mortas rosas,
E as sendas que pensara majestosas
Agora bem diversas tu já vês
Mortalha se tecera da ilusão
Gerando novamente a negação.


32365

Meu grito nunca mais te importará.
Tampouco o que me resta, nada além
Do quanto ainda tento e não convém
Sabendo que a mortalha desde já
Tecida pelas mãos que um dia em paz
Amei e se perderam noutra face
Por tanto que talvez o medo grasse
Nem mesmo a poesia o encanto traz,
Resisto tão somente por saber
Do dia noutro tanto em mansidão,
A sorte molda assim a direção
E nela sem saber dor ou prazer,
Apenas aguardando aqui meu fim,
Retorno ao mesmo não por onde eu vim...

32366

À noite, adormecido, não consigo
Saber senão de medo e pesadelo,
Aonde poderia ter com zelo
Um manso e mais suave, calmo abrigo,
Restando a quem sonhara apenas nada,
Mesquinho caminhar por entre trevas
E tanto à solidão ainda elevas
A sorte noutro rumo vislumbrada,
Esgarço este tecido e mostro a face
Nefasta do que tanto desejei,
Ausente dos meus olhos bela grei
E tanto quanto posso se desgrace
A marca da pantera entranha a pele
E ao medo e ao disparate me compele...


32367

Saber o quanto a dor traga infinita,
A sorte desejada e nunca vista,
Do amor sequer percebo qualquer pista
A vida não seria mais bendita.
Resido no passado e sem futuro
Não quero vislumbrar novo momento
E tanto quanto posso me atormento
Sabendo-me distante não procuro
Senão qualquer vestígio de uma vida
Audaciosamente em luz profana
Agora que a verdade desengana
Percebo tão somente a despedida
E ainda acreditara noutro templo,
Ao longe mera sombra inda contemplo...

32368

Estrela dos teus olhos brilhará
Tornando este horizonte abençoado
E deixo uma ilusão, tolo legado
Sabendo que o vazio não trará
Sequer a menor sombra do que eu quis
E tanto poderia ser diverso,
Mas quando para o nada teimo e verso
Gerando a cada engodo a cicatriz,
Do fardo transformado em provisão,
A morte se transcorre mansamente
E bebo até secar toda a semente
Tornando bem agreste o solo, o chão.
E quando me aproximo eu me retrato
No quanto fora ainda tolo e ingrato.


32369

No que me restará de vida eu tento
Sentir alguma paz aonde outrora
O mundo noutro encanto se decora
E perde a direção, entregue ao vento.
E gero esta emoção e me apascento
Perpetuando a vida aonde ancora
O sofrimento ainda me apavora
Bestificado o mundo, meu provento.
E tudo fosse assim o tempo inteiro,
Mas sei quanto o meu sonho é traiçoeiro
E desta sensação eu já me privo,
Do quanto eu poderia ser feliz
Apenas ilusório este aprendiz
Que permanece assim mero cativo.


32370



No mel de tua boca bebo o gozo
E dele me sacio, mas bem sei
O quanto do passado nega a grei
E traz outro momento pavoroso.
Esgoto o caminhar em leda cena
A morte não traz nada e nem podia
Apenas resistindo à revelia
Minha alma a cada não mais se envenena.
Apreço? Nada disto merecera
Quem tanto se fez morte em plena vida,
E quando se prepara a despedida
Pavio aceso toma inútil cera,
E o quadro destroçado neste espelho
Demônio em solilóquio, eu me assemelho.

32371

Nos ventos, meu orgulho de lutar.
Explica a tempestade que tu crias
E quando mais ainda em fantasias
Deixando cada coisa em seu lugar
Pudesse mesmo quando relutar
Traçar em novos sonhos novas crias
E assim decerto enquanto fantasias
Percebo renovado o meu pomar
Aonde quis a sorte ser diversa
O todo se percebe e desconversa
Complexo é caminhar em meio ao nada,
Assino com meu sangue cada verso,
E tanto poderia, mas disperso
Renego desde sempre a caminhada...

32372


Por vezes, meu caminho é andrajoso,
Em meio às tantas pedras, mil espinhos
E quando se pudessem mais sozinhos
Olhares não teriam pleno gozo,
O amor quando demais não permitira
A sorte desenhada desde quando
O tempo noutro tanto transbordando
Ainda sem detalhes perde a mira
E o corpo extenuado de quem tanto
Buscara alguma luz em meio ao nada,
A lua debruçada na calçada
Gerando a cada ausência desencanto,
Forrando com a sorte derradeira
A história desta cena corriqueira.

33373

Distantes esperanças, céu e mar
Longínqua caminhada rumo ao farto
E quando dia a dia mais descarto
Mergulho nesta insânia e vou mudar
O passo noutro passo até chegar
O porto aonde tanto quanto parto
Deveras meu destino enfim reparto
Traçando com meus sonhos, o lugar
Aonde enfim descanse após o tanto
Da vida feita em dor e tão somente
Negando da esperança esta semente
Germina dentro em mim o imenso pranto
Assim cevando o pão de podre trigo
Apenas o vazio ora consigo.

33374

Vitórias sempre deixam orgulhoso
Quem tanto porfiara em noite escura,
E quando a solidão teima e perdura
Deixando este caminho pedregoso
Não posso desvendar qualquer mistério
E tanto poderia quando ainda
A sorte noutro tanto se deslinda,
Porém a vida nunca tem critério
E arisco este andarilho cerca o medo
Com tênue paisagem solitária
Aonde se queria solidária
Enquanto de outra forma inda procedo,
Revolvo com terror cada polvilho
Do mundo em desvario que ora trilho.

32375

Quem sempre se perdeu por não amar
Jamais conseguiria ter nas mãos
Além dos derradeiros toscos nãos
E assim a vida mata algum luar,
Espreito atocaiada fera quando
O medo noutro tanto se transborda
Arrebentando a fina e tensa corda
O mundo pouco a pouco desabando,
Nefasta realidade em tal consenso
Gestada pela inútil fantasia
Aonde a solidão ainda ardia,
O vendaval agora sinto imenso
E imerso dentro em mim o nada além
Do quanto ainda o medo me contém.

32376

Chama queimará tal ardiloso
Caminho em meio aos vagos pensamentos,
E sei das variedades dos ungüentos
E neles cada dia é caprichoso,
Mercadoria nobre a vida traz
Apenas a mortalha como certa,
E quando o dia a dia se deserta
Descanso finalmente em plena paz;
Prefiro caminhar? Não sei se tanto
Martirizando a sorte costumeira,
Quem tenta deste vale a cordilheira
Encontra no final somente o espanto,
E cerzi com terríveis ansiedades
As sortes onde quis felicidades.

32377


Ao largo das estrelas, ao luar
Vagando o pensamento sem descanso,
E ainda quando tento ou mesmo alcanço
Mergulho inutilmente a se mostrar
Desdém após desdém e tudo segue
Porquanto seja sempre mais complexo
O mundo em que o canto quero e anexo
Ainda que a verdade já sonegue,
Riscando deste mapa a sensação
Que um dia poderia libertar-me
Apenas resta enfim tolo desarme
E nele novamente a solidão,
Ferrenha tempestade em mim se dá
Tramando o suicídio desde já.

32378

Travando mil batalhas contra a sorte
Vencendo ou muito mais sendo vencido,
Assim o meu caminho pressentido
Vagando tão somente para a morte,
Bisonha realidade, poesia
Fantásticas vertentes, sempre à toa
Ainda dentro em mim clama e ressoa
O quanto novo tempo não traria,
E erguendo em paz ao mundo um novo brinde
Em taças de cristal, raro momento
Aonde com ternura até me alento
Enquanto esta emoção já se deslinde.
No quadro costumeiro em turbulência
Ao menos num momento, esta clemência...

32379


Espero preservar a minha vida
Mesmo que seja apenas este resto
Do todo aonde aos poucos eu me empresto
Já antegozando enfim a despedida,
Não pude ser feliz, mas quem o pode?
A porta já cerrada, nem se vê
Do quanto imaginei mero por que
Apenas o momento em vão eclode
E gera novamente em ciclo vário
O renascer em cinzas da ilusão,
Jamais reconhecendo outro verão
O inverno se mostrando necessário,
E dele nada mais, somente o fim,
Princípio dita o fim deste jardim...

32380


O coração boêmio teme a morte?
Não posso acreditar, pois a alma pária
Porquanto seja sempre procelária
Não tendo qualquer luz que inda a conforte,
Sagrando em treva apenas a sarjeta
Conhece destes bares mais imundos,
E sabe contornar diversos mundos,
A vida poderia ser cometa...
Mas nada do que tenho me comporta
Na imensidão do nada que hoje existo
Por tanto ou por tão pouco inda resisto,
Mantendo sempre aberta a velha porta,
Do todo traço o risco de viver,
E assim ao menos sei como morrer...

32381

A juventude morre, má, fendida
Crivada pela angústia em drogas, medo
E tanto se proclama tal degredo
Qual fora tão somente uma saída,
Preparo assim a minha despedida
Enquanto noutro tanto eu já procedo
Vencido pelas tramas, torpe enredo,
No quanto cada passo gera a brida.
Reside em mim apenas o que fora
Restolho de uma história aterradora
Vertendo nesta imensa solidão,
E assim ao me mostrar sem mais disfarce
O dia a dia sempre mais esgarce
Gerando deste todo um mero não.

32382


Amor que representa duro corte,
Não deixa mera sombra do que tanto
Desejo e na verdade em dor e pranto
Não tendo quem se apiede nem conforte
O sangue se perdendo em cada veia
E o medo de seguir toando fundo,
E quando nos vazios me aprofundo,
A sorte com terror logo incendeia
Matando o que pudesse ser ainda
Um resto de ilusão, tola esperança
Mas quanto mais a vida em dor avança
Do todo que busquei não se prescinda,
E vejo retratado apenas isto:
O fato de sonhar, onde persisto...

32383




Renasce em teu olhar a própria vida
Que há tanto esvaecida no horizonte
Ainda quando ao longe a luz aponte,
A sorte já se dando por vencida
Não pode acreditar um só segundo
No quanto ainda havia de esperança
E quando no vazio já se lança
Do medo e da ilusão inda me inundo,
Imagem carcomida do que tanto
Pensara novamente recompor,
Assim ao se mostrar em plena dor,
O que era riso agora verte em pranto
E sangro novamente e cada vez
Enquanto mera sombra ainda vês...

32384



Noite que me trouxesse alguma luz
E dela se entendesse ser possível
Viver esta emoção agora incrível
Aonde cada fato reproduz
Cenário onde tanto eu me propus
E sei deste momento imprescindível
Arcando com meu mundo no implausível
Mergulho feito em lágrimas e cruz.
Arquétipos diversos do meu sonho
Enquanto noutro tanto ainda exponho
Em desencanto vejo a realidade,
No parto renegado, aborto insano,
O amor causando apenas dor e dano,
No quanto o dia a dia não agrade.

32385




É noite engalanada maviosa
Aquela que talvez ainda trame
E quanto mais de ti o amor reclame
Maior será deveras senda e rosa.
O pantanal que ainda vejo em mim,
Na charqueada imensa em que me perco
A dor vai aumentando assim seu cerco
Negando qualquer fonte em meu jardim,
Emana-se somente em fugaz lume
A mina entre tantas que sonhara,
E a cada tempo amarga esta seara
Vivendo tão somente este queixume
No ardume consumindo meu olhar,
Não resta nem o sonho a me tocar.


32386



Explode-se nas chamas, esplendor
E tanto quanto posso acreditar
No sol que novamente irá brilhar
Após a tempestade e recompor
Na linha do horizonte o meu caminho
Divirjo vez em quando, mas prossigo,
Aonde se pudesse algum perigo
Dos sonhos e dos ritos me avizinho.
Na parte que me cabe, mesmo pouca
Eu tento acreditar, mas sendo assim
O mundo se aproxima e tenho enfim
A dor que novamente me treslouca,
Resumo a minha vida neste fato
E assim em luz sombria eu me retrato.


32387

Perfuma meu desejo, linda rosa,
E trama com espinhos e dolência
Deixando para trás qualquer clemência
E sabe ser senhora e majestosa.
Não vejo mais saída e tento até
Na insânia deste verso desvendar
O quanto poderia noutro altar
Gerado pelo gozo, ou mesmo fé
E teimo, mas decerto esta deidade
Sabendo-se deveras mais bonita
Tomando em suas pétalas a dita
Zombando do sonhar à saciedade,
Restando a quem se fez o jardineiro,
Apenas o cuidar deste canteiro.


32388

Vestido carmesim, no olhar rubor
A face se mostrando mais audaz,
E tanto quanto pode ainda traz
Semeia dentro em mim vital amor,
E quando se pudesse recompor
A vida noutro instante, mesmo em paz,
O passo se mostrara mais mordaz,
Negando algum perfume, mata a flor.
Resisto por saber de certo tempo
Aonde tudo fora contratempo
E assim nada sobrando, sigo alheio,
Glorificada luz que inda procuro
Vagando pelo mundo tosco, escuro,
Apenas o vazio inda rodeio...


32389

Se entrega no festim, audaciosa,
Aquela que se fez em redenção
E tendo este poder de sedução
Olhando para mim maliciosa,
Gerando esta emoção que já não quero,
Afasto-me, pois sei do ritual
E quando me percebo é sempre igual,
Por isso não desejo se insincero,
Vestido com espinhos onde outrora
Pudera até tentar ser mais humano,
A pele se acostuma sempre ao dano?
E quando a fantasia se demora
O fim em palidez não cicatriza
Apenas noutra dor se mimetiza...


32390


Vulcânica, desmancha-se em calor,
E traça com tempestas o que outrora
Pensara ser momento e me apavora,
Sabendo do vazio, o seu sabor.
Sangrando desde quando percebi
Estrada costumeira e tão vulgar
Aonde poderia perpetrar
Caminho que levasse sempre a ti,
Num átimo percebo insensatez
E risco deste mapa qualquer nome,
Imagem pouco a pouco se consome,
E nada do que ainda teimas, vês
Traduz mais fielmente o que nós fomos,
Da mesma fantasia, vários gomos...




32391


Em meus braços, dilui-se, vaporosa;
Quem tanto desejei a vida inteira
E quando aos poucos some, esvai, se esgueira
Destroça este jardim matando a rosa,
E ainda resta aqui tola ilusão
Singrando inutilmente mar nefasto,
E quando da emoção eu já me afasto
O tempo se transforma em viração,
E a chuva se aproxima em temporais
E tanto quanto pude crer na vinda
De uma suprema luz, decerto linda
O mundo me responde: nunca mais!
Assisto à derrocada da esperança
Enquanto ao pesadelo a vida lança...

32392


Na noite dos desejos e carícias,
Ainda viva em mim, doce memória
A sorte se mostrara então inglória
E desta sensação sequer notícias,
Apenas os vazios em sevícias
E o corte se aprofunda e a merencória
Manhã se revivendo em vaga história
As horas de emoção meras, fictícias...
Erguendo o meu olhar, deveras tarde
Ainda que este sonho se resguarde
Não vivo mais sequer um só alento,
Não busco lenitivos, sigo o barco,
Com todo o sofrimento ainda eu arco
A vida congelou-se em tal momento...


32393



Imerso em teus delírios e delícias,
Já não consigo mais sentir sequer
O quanto do vazio fez quaisquer
Aquelas emoções, torpes carícias...
Jogado pelos cantos desta casa,
Cinzeiro guarda as marcas desta noite
E quando cada sonho em vão se acoite
A sorte não ressurge, e não se apraza
Do féretro dos sonhos, nem ao menos
Resquícios entre as colchas e os lençóis
Inúteis na verdade, tais faróis
Imersos em tormentas e venenos.
Resido no passado? Talvez nem.
Apenas tal vazio me convém...


32394


Prazeres que em loucura revesti
Já não seriam tanto quanto eu quero,
E sendo a cada passo mais sincero
Revejo toda a história e chego a ti,
Negando um mero instante de prazer
A vida adentra em veios mais diversos
E quando noutro tempos são imersos
Os dias que inda tenho por viver,
Congela-se e num vão retrovisor
A sorte não se mostra mais feliz,
O todo imaginário que já quis
Agora perde aos poucos toda a cor,
Adeus e nada mais quero e por fim,
Resquício mato aos poucos dentro em mim...

32395


É mar que, enluarado, me convida,
E chama para a festa em luzes fartas,
E quando sobre a mesa vejo as cartas
Encontro solução para esta vida,
E noutro caminhar eu poderia
Vencer qualquer promessa em falsa luz,
E tanto quanto pude não me opus
Bebendo tão somente esta alegria
Do sonho enternecido, mas já roto
Perpetuada imagem de um momento
E nele se talvez em sofrimento
Eu ronde o que se trama em lama e esgoto,
Ao menos um sorriso já me traz
E mesmo no vazio, beijo a paz.


32396

Orgástico, fecunda e se engravida,
Dos tantos mil prazeres concebidos
E sei quanto profusas as libidos
E delas se gerando nova vida,
Rescende ao mais sublime dos momentos,
Na sorte a porta abrindo rumo ao quando
E assim neste cenário se traçando
Sobejos e sublimes pensamentos,
Restando a quem se deu nova alegria
E tanto quanto posso me encantar
No plenilúnio em ti, raro luar
A vida noutra vida geraria
Crivando já de estrelas meu caminho,
Que tanto acostumara a ser sozinho.



32397



Na aurora, mãe do dia eu renasci
Depois de tantas noites solitárias
E assim entre diversas luminárias
A sorte se transforma amor, em ti.
E quando me percebo redimido
Dos erros do passado beijo a vida,
E tendo esta esperança renascida,
O passo rumo ao nada destruído,
Gestando com ternura esta esperança
Gerindo cada passo rumo ao tanto
E assim de amores farto agora eu canto
Enquanto o caminhar à luz se avança
Minha alma no passado tão pequena
Agora embriagada qual falena.


32398



Magia encantadora, noite imensa
Entranha-me esta lua e nela eu sinto
O quanto imaginara outrora extinto
E sei que a vida agora, enfim, compensa,
Percorro este infinito em que me dera
Legado de momentos mais felizes,
E após o caminhar entre deslizes
Revejo finalmente a primavera,
Espreito pela porta, aberta a fresta
E adentro mesmo assim, desconfiado,
Quem teve tanta dor no seu passado,
Agora em alegria a vida gesta
Mudando a direção num só instante,
Quem fora tão pequeno hoje é gigante...


32399



Nos frêmitos divinos, coração
Palpita a cada instante mais veloz
E ouvindo do passado a antiga voz
Aprende novamente esta lição
E nela onde houvera mais tormenta
Perpétua fantasia refaz
E quando vejo a vida agora em paz,
Aonde novo sonho se alimenta,
Porquanto ensandecido sonhador
Vivera simplesmente e nada mais,
Agora que não vejo temporais
Refaço o meu caminho em luz e cor,
Mas nada do que eu possa ainda trama
Além de momentânea e frágil chama...


32400


Por mundos tão fantásticos saí,
Bebendo toda a sorte de emoção
E quando naufragara a embarcação
Do todo que sonhara estou aqui.
Deveras nada passa de momento
E tanto se apresenta quanto esvai
Quem sabe se levanta e quando cai
Não serve de alimária ao pensamento,
Resisto, mas decerto estou cansado,
O velho marinheiro busca o porto,
E ainda mesmo assim, um semimorto
Revive cada dia do passado,
Sonhando com a lua, o mar e o céu.
Montando no seu barco, seu corcel...

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