terça-feira, 11 de maio de 2010

32401 até 32450

32401

Procurando encontrar a solução
De tantas heresias pude crer
Ainda num momento em desprazer
Na incrível e mais temida sedução
Ao vê-la transparente em plena sala
Cenário em absoluta fantasia
O quanto deste sonho moldaria
Uma alma que esta luz rara avassala,
Adentro cada fato do meu eu
E bebo do vazio em que soubera
A vida noutra face, esta quimera
Que há tanto cada passo concebeu,
E agora ao perceber tanta beleza,
Domina o pensamento uma incerteza..


32402


Do vazio que estava todo aqui,
Durante todo o tempo em minha vida
O quanto se prepara e já duvida
Quem sabe a solidão em que vivi,
Resulto deste nada em que criara
Um mero pesadelo e nada mais,
Ainda vejo ao longe estes cristais
Imagem transbordante, porém rara,
Vencer os meus momentos mais cruéis
E crer nesta impossível luz é fato
Que a cada novo tempo em paz reato
Bebendo da esperança em fartos méis.
Risonho meu futuro? Nada disso,
O passo continua movediço...


32403


Na quimera feroz, a solidão
Aonde perfilara o dia a dia
E tendo do meu sonho a companhia
Percebo quanto a vida fora em vão,
Resisto, mas não posso mais lutar
E assim que sinto o sonho noutra face
Porquanto cada passo já desgrace
Deixando para trás o meu sonhar,
E quando uma alma bruta enfim reluta
Sabendo ser mais fútil outro sonho,
No todo que deveras me proponho,
Imagem mais nefasta, mesmo astuta.
Fortuita luz decerto me abandona,
E todo sofrimento vem à tona...

32404

Anseio seus mistérios, me perdi
No imenso turbilhão, redemoinho,
E sinto que se ainda vou sozinho
Do todo imaginado, agora e aqui
Não tenho mais sequer qualquer vestígio,
A vida não passara de mentira,
E quando se acendera a frágil pira
Mantendo o dia a dia em vão litígio,
Resisto, muito embora saiba o quanto
É necessário mesmo algum alento
Jamais bebera a sorte e sem provento
Restando ao sonhador, dor e quebranto,
Não vejo mais a dita em luz imersa
E o mundo para o ocaso agora versa.


32405


À procura do afago, seu perdão,
Não pude controlar meu sentimento
E mesmo quando alguma luz invento
Apenas trevas, dores mostrarão
O quanto do passado representa
A quem se fez do todo, mero e vago,
E quando da esperança inda me alago,
A sensação que sobra é de tormenta,
Vencido sem sequer ter um sorriso
E morto em vida, apenas a mortalha
Selando cada noite agora espalha
No andar em temporais sempre impreciso,
Vasculho cada canto do meu ego
E assim em meio ao nada, inda navego.


32406

És pura, teus caminhos sem deslizes,
Mas quando se aproxima a noite intensa
Embora solitária, a recompensa
Deixando para trás constantes crises,
E ainda que desnuda em lua clara
A brônzea maravilha se mostrando,
O corpo todo em glória enluarando
A doce sensação agora ampara
E amarras teus desejos, cordoalhas
E nelas entre tantos cavaleiros,
Bebendo dos momentos lisonjeiros
Retiras do teu corpo tais cangalhas,
E alçando a liberdade em pleno gozo,
Caminho em luz insano e majestoso...


32407

Sem marcas, que enlodassem teu passado
Vagando pelas trevas noite afora,
O quanto em santidade te devora
Num fogo nunca em vida saciado,
Refém desta fatal hipocrisia
A sorte não se fez amiga quando
O corpo na menina emoldurando
A bela maravilha em que se via
Os seios entre fogos, fúria e sonho
Um cálice sublime, um brinde à Deus
Desejos em delírios, sei que meus,
O quanto do viver logo proponho,
Mas sei desta distância entre o querer
E o tanto que pudesse acontecer...

32408


Por mais que sempre foram infelizes
Os dias solitários de quem ama
E tenta no momento após a chama
Cevar com claridade chafarizes,
E tanto poderia, mas não creio
Se ainda fosse viva esta promessa
E o todo quando em muito se tropeça
Deixando o caminhar bem mais alheio,
Resgata o que já fora noutro tempo
E bebe desta senda enlouquecida
E vendo transcorrer assim a vida,
O sonho se tornando contratempo.
Atemporal loucura dessedenta,
A sorte noutra cena já se ausenta.


32409

Os dias que passaste; mas, dulcíssima
Reinando sobre todos os anseios
E assim ao se mostrar em belos seios
A pele em claridade sendo alvíssima,
Resisto? Não consigo e nem mais quero
Mergulho sem defesas, sou escravo
E quando nos teus sonhos eu me lavo,
O gozo se aproxima e mesmo fero
Explode divindades nos lençóis
E acetinadas fronhas, noite adentro,
No quando deste jogo me concentro
Alheio aos mais diversos arrebóis,
E assim ao ser deveras teu e inteiro,
Qual fora um principesco cavaleiro.


32410

Perdoa coração apaixonado
Que tanto quis viver e não soubera
Da vida como amarga e fria fera
Querendo acompanhar-te lado a lado,
Alado sentimento alçando em céus
Dispersos andarilhos, novo tempo?
Ao menos não percebo contratempo
Decifro tua pele e tiro os véus.
Delírios e desejos, ânsias, sonho...
Mergulho no teu mar e já naufrago
Cada momento audaz, sobejo afago
E nele sem defesas me proponho,
Assim a noite sabe de nós dois,
Mesmo que nada venha no depois.

32411


Num vestido de chita um corpo belo
Vagando pelas ruas, no infinito
De um sonho se mostrando quase um grito
Traslado aonde o quanto já revelo
E toda a sensação de estar contigo
Embora tão ausente dos teus braços,
Assim ao estreitarmos nossos laços
Eu quero e busco enfim sublime abrigo,
Depois de tantos anos, vida afora
A sorte novamente revigora
No olhar enamorado, doce cena,
Minha alma se traduz em fantasia
E bebe toda sorte que se cria
Tornando a minha vida mais serena...


32412

Caminha esta princesa e me domina
Não deixo de seguir a cada passo
O quanto de desejo ainda traço
E tento revogar a amarga sina,
Imagem tão risonha se compondo
E todo o meu passado se dilui
No quanto em poesia a vida flui,
E assim todo o futuro se repondo
No mesmo instante tento outro caminho
Diverso do que tanto imaginara,
A vida se fizera em dor e escara
E agora dos delírios me avizinho,
Martírios vou legando ao mero nada
É quando se percebe nova estrada...


32413


No tempo que sofri e não soubera
Da vida renovando a cada instante
E quando mais ausente se adiante
O tempo novamente em mansa espera
Reside em mim agora esta esperança
E dela me alimento, pois seria
A vida sem amor uma ironia
E quanto mais audaz a sorte avança
Gestando esta divina maravilha
E nela se refaz todo este alento
Do qual e pelo qual se me apascento
Ainda em luz superna a sorte trilha
Resgate de outro tempo em solidão,
Refaz a cada dia a imensidão...


32414

Procurando, nas matas, rica mina
Por onde poderia saciar
A sede de talvez sonhar e amar,
Uma esperança doce que fascina
Quem tanto não soubera de outro instante
Medonha e caricata noite escura,
Agora a solidão já não perdura
Enquanto noutro canto amor levante
E trace novamente um dia manso
E dele refazendo a minha história
Aonde se pensara merencória
A sorte que se ausenta, agora alcanço
E tento perceber serenidade
Na imensa turbulência que me invade...


32415

Meu mundo parecia desgraçado
Sem ter sequer um cais em ventania
Apenas o meu medo se fazia
Notar num tempo duro e desolado,
Restara tão somente algum segundo
De sonho em noite rara estrelas guias
E agora vejo vivas fantasias
E delas com prazer ora me inundo,
Riscando o céu deveras bela luz
E quando este delírio me conduz
Ao farto conhecer de amor sincero,
Não temo mais a mera solidão
E tendo em minhas mãos, o meu timão
Ancoro neste cais tudo o que eu quero…


32416

A lua no meu céu já não domina
Cenário em trevas feito, desumano,
E quando se mostrando apenas dano,
A morte se apresenta cristalina,
Nefasta vida afasta o caminheiro
Da luz que tanto quis e nunca vira,
Porquanto a própria terra tanto gira
O mundo não se mostra por inteiro,
Mas tendo este nuance posso ver
Mesquinha realidade que desfruto,
Minha alma se tomando em pleno luto
O quanto do meu mundo é desprazer,
E assim sem ter sequer um lenitivo,
Apenas tão somente eu sobrevivo...



32417

Embalde vasculhei o povoado,
E casa a cada fui me aproximando
Da doce fantasia e me tocando
A sombra de um momento do passado,
Vencido pelo amor e nada vendo
Senão este cenário em que mergulho
Afasto dos meus pés o pedregulho
E cada novo passo mais desvendo
Revigorando o sonho, mas no fim,
Apenas a insolente solidão,
Aonde imaginara a direção
A seca destroçando este jardim,
E nada vezes nada eu encontrei
Vazia dentro em mim a amada grei.


32418

Queria te encontrar, bela menina
E a vida poderia ser diversa,
Porém realidade desconversa
E apenas mal vislumbro ainda a mina
Aonde no passado fui feliz
E agora em trevas vejo o dia a dia
O bem querer decerto não queria
E tudo o que desejo contradiz,
Amor como se fosse enfim um cardo,
E dele nada resta nem a sombra
Espectro do passado ainda assombra
Difícil carregar imenso fardo,
E quando me percebo em enfadonho
Caminho, vejo o quanto sou bisonho...


32419


Olhando para o chão, onde buscava
As marcas do que fora um sentimento
E agora ao me compor em pleno vento
Do mar uma onda imensa, densa e brava
Assíduo companheiro da ilusão
Não tendo outro caminho senão este
O todo noutro instante se reveste
E mostra a mais completa solidão,
Assim sem nada ter e em nada crer
Perpetuando a dor invés da luz
Porquanto a cada ausência em que me opus
Rendido sem o amor reconhecer,
Vivendo a solidão e dela tramo
O quanto ser escravo e não ser amo.


32420

Não pude discernir tua beleza
Nem mesmo perceber um movimento
No qual ao me entregar tivera o alento
Além de transformar toda incerteza
Em área mais feliz ou mesmo quando
Erguendo o meu olhar, belo horizonte
Aonde novo tempo já desponte
E nele meu sonhar se emoldurando,
Mortalhas do que tive no passado
Agora são cerzidas pelo não
E pude perceber a ingratidão
No quarto há tanto tempo abandonado,
Vestindo esta diversa fantasia
Ao ver em teu olhar a hipocrisia...

32431


A luz do sol já não iluminava,
Quem tanto procurara algum abrigo
E assim ao me tornar um teu amigo
A vida noutra face se mostrava,
Aonde a solidão, imensa lava
Tomava meu caminho, hoje eu consigo
Viver além da incúria e do perigo
Neste oceano aonde o sol singrava
Sangrara muito tempo, solitário
Somente o medo, ausência, este corsário
Traçando num vazio uma existência
Agora em liberdade sou capaz
De ter entre meus olhos rara paz
Liberto da tenaz, vil penitência...

32432

Meu mundo resumia-se em tristeza
E assim não conseguia prosseguir
Vencido pelas ânsias de um porvir
Ao ter somente em tanta incerteza
Gerada pelo anseio insustentável
De um sonho mais audaz, e nada havendo
O quanto poderia em estupendo
Momento se tornara inalcançável
Saudades do que fora e não voltara
Notícias de outros dias, velhas eras,
E quando com terrores tu temperas
A vida semeando em vã seara,
O quadro se mostrara em tez imunda,
Agora a paz enfim domina e inunda...


32433

Mas, quando mais eu me desesperava
Após sentir a imensa turbulência
A vida com terrível virulência
A sorte se moldando quase escrava
Do sonho mais audaz e até quem sabe
Pudesse acreditar noutro momento,
E quando o mar insano e violento
Domina e deveras já não cabe
Esparramando em mim inundações
E os elos se rompendo dia a dia
No todo que me resta mal se via
Do quanto fui feliz, recordações.
E ainda não consigo respirar,
Porém eu acredito haver um ar.


32434


Alvorada em que selo o meu anseio
Traçando imensidão em azulejo
E quando me percebo e assim prevejo
Um tempo aonde em paz eu já não creio.
Sorvendo cada gota da ilusão
Exposta num cenário em vária cor,
Prudência não combina com o amor
Tampouco esta nevasca no verão,
Assim ao me sentir desamparado,
O templo que criara já ruindo,
O todo imaginado se fluindo
Caminho da esperança abandonado,
Eu vejo ao fim do túnel claridade
De um novo alvorecer que o sonho invade...


32435

Nos braços das estrelas, adormeço
E cismo em encontrar a que transforme
A vida noutro tanto e se disforme
Caminho se mostrando sempre avesso,
Residualmente aguardo alguma chance
De ter o meu caminho constelado,
E nele se mostrando um novo lado
Aonde à fantasia eu já me lance,
Negando este vazio em que ora habito
Riscando qual cometa um céu imenso,
E quando deste encanto eu me convenço
O mundo se mostrasse mais bonito,
Liberto coração alçando estrelas
Capaz de até quem sabe ora contê-las?

32436

O canto que dedicas não escuto
Ausente dos meus olhos, meus ouvidos
E aonde se pensassem divididos
Momentos num cenário bem mais bruto,
Arcando com enganos ergo o olhar
E busco no horizonte este clarão,
Meus dias se mostrando em negação
Por onde poderia começar?
Restando esta tormenta e não me iludo,
Se nada escuto agora, e não percebes
Inúteis na verdade velhas sebes,
O coração mantenho quieto e mudo;
Roubando do silêncio o seu encanto
Mesmo não mais te ouvindo, teimo e canto.


32437

O medo de morrer adentra a sala
E tomando o meu quarto já de assalto
Aonde se mostrasse algum ressalto
Somente sem defesas avassala.
Um nauta sem saber se houvera um norte
Vazio caminhar em noite escusa,
A sorte noutra senda não abusa
E apenas vejo ao fim tormento e morte,
Não quero acreditar, mas desta forma
O mundo não permite outra alegria
O quanto inutilmente desfazia
E ao mesmo tempo tudo se deforma,
Mergulho nesta insânia e sem ninguém
Apenas o silêncio me contém.


32438

Na palidez tristonha, nada sei
E nem acreditara em solução
O mundo refletindo a alegação
Que tantas vezes quis e até ousei,
Mas sendo necessária à vida, a lei
O quanto se perdera em direção
E desta forma as noites não virão
Traçando o que deveras desejei,
Arcando com enganos sou capaz
De mergulhar na insânia e tentar paz
Servindo de alimária ou mesmo até
Singrando no vazio em tez sofrível
O canto se mostrando mais audível
Traçando este destino em rara fé.

32439

A vida me transmuda a cada instante
E sei do quanto posso e até não pude
Deixando no passado a juventude
Ao largo do infinito se adiante
O passo de quem tenta novamente
Um mundo aonde a paz seja fiel,
E assim girando em mim um carrossel
Invade e toma agora a minha mente,
E posso acreditar no que talvez
Ainda na inconstância já não sabes
Bem antes que em verdade tu desabes
Ou tente controlar o que não crês,
Eu sigo peito aberto rumo ao tanto
E nele com ternura envolto manto.

32440

Espero fantasias, nada além
E tudo poderia ser diverso
Do quadro mesmo quando desconverso
E ainda novo tempo ao longe vem,
Medonha face dita este abandono
E faço da mortalha um avatar
Pudesse noutro rumo mergulhar,
Porém só do vazio ora me adono
E adornam-me terríveis luas turvas
Ruborizada noite em tom sanguíneo
Procuro qualquer coisa em meu domínio
E tento contornar em paz as curvas,
Mas sei que nada existe após a estrada
E mesmo assim caminho rumo ao nada!


32431

Em meio a tempestades, peço tréguas
E sei quanto impossível aportar
Sem ter sequer nem mesmo algum lugar
Distante dos teus braços tantas léguas,
Vencido pela angústia em farto horror
Matizes são grisalhas no meu céu,
O amor jamais cumprira seu papel
E tudo se mostrando a decompor,
Facetas variadas da emoção
Ariscos dias teimam em surgir
Renegam a esperança e sem porvir
Apenas outras cenas mostrarão
O quanto que perdi da vida em sonho,
E mesmo assim a tê-lo eu me proponho.

32432

Nos campos procurando uma açucena,
Quem sabe nova cena se mostrasse
E quando a noite veio mais amena
Traçando em harmonia nova face,
A sorte que deveras me envenena
Agora noutro tanto já se trace
E vendo a lua imensa, rara e plena
O pensamento os ares logo grasse,
Gerando dentro em mim novo horizonte
Aonde meu futuro já se apronte
E traga com ternura o que não vira,
Da tez enlameada onde tivera
O duro sortilégio da quimera
A vida transmudando, roda e gira...

32433


A cor maravilhosa deste olhar
Tornando este horizonte azulejado
Transforma toda a dor do meu passado
E toma todo o espaço, devagar.
Pudesse ser assim a vida inteira
Cenário abençoado em tal matiz,
Porém o dia a dia já desdiz
A cena se demonstra, mas ligeira,
E tudo não passando de miragem
Apenas a brumosa noite vem
E nela novamente sem ninguém
Cinzenta na verdade esta paisagem,
Pudera ser diverso, ah quem me dera,
Porém inutilmente uma alma espera...

32434


Encanta meus olhares, me alucino,
Não deixe de volver ao menos tente,
E quando retornar tanto apascente
Moldando com carinho o meu destino,
Restara de um poeta mera sombra
E dela a costumeira invalidez,
O quanto do meu sonho se desfez
E assim a realidade agora assombra,
Somando o que pudera e não existe
Aumenta-se o temor do dia a dia,
E sem ter mais minha âncora a sangria
Domina o coração amargo e triste,
E quando neste espelho eu me retrato
Apenas um espectro caricato.

32435

Por quantas noites, tive tanta insônia,
Nem mesmo acreditando noutro dia
A vida sem sentido se fazia
Uma ilusão atroz e nunca idônea
A cólera encetando a minha dita
E ainda se mostrando inutilmente
A lua que deveras se apresente
E mesmo sendo enorme e até bonita
O quanto se perdera deste sonho,
Poético cantar não mais fascina,
E quando se percebe amarga a sina
O quadro se afigura ora medonho,
Resisto, mas desisto logo adiante
A vida não passara de um instante...

32436

Amor é sentimento em desatino
E nada salvaria quem procura
A luz em noite eterna e sem brandura,
O peso do viver já não domino,
Arrisco-me decerto e nada vem.
Somente o medo tanto me acompanha
A sorte se mostrara noutra sanha
E agora novamente sem ninguém,
Nefasta realidade molda a cena
E tudo se mostrando quase em vão,
Ainda poderia no perdão,
Mas nada do que tento ainda acena
E assim sem ter remédio eu sigo alheio
Satélite sombrio, astro eu rodeio.


32437

A minha salvação já não mais vejo
E audaciosamente um suicida
Prepara cada cena da partida
E tanto quanto posso em cada ensejo
Mergulho neste abismo que criara
E arranco estas raízes mais profundas,
E quando com ternura tu me inundas
A sorte vai sedando cada escara,
Mas nada cicatriza a imensa chaga
A morte se tornara uma obsessão
E mesmo se aos meus olhos se darão
Estrelas onde o sonho em paz se afaga,
O sortilégio dita a minha sina
E o luto prematuro me fascina...


32438


Amor que recomeça e novamente
Adentra sem perguntas, por saber
O quanto é merecido este prazer
E assim se molda em paz e traz à mente
Recordações diversas e felizes
Vencendo os desacertos de costume
Ainda que deveras inda rume
Já não comportaria mais deslizes,
E sendo sempre etéreo navegante
Restando cada passo rumo ao falso
E tanto me entranhara o cadafalso
Masmorra onde ilusão já se agigante
Usando da esperança qual tecido,
Futuro em negação e sem sentido.


32439

Se faz destas terríveis emoções
O engano dia a dia sem caminho
E quando me percebo e estou sozinho
Das sendas outras tantas divisões
Herdades e veredas, alamedas
Restingas, áreas nobres e agrovilas
E quando por destinos vãos desfilas
Ainda que um sorriso me concedas,
Eu sinto quão espúrio o ser assim
Vagando sem destino ou calmaria
A morte noutro tanto teceria
Angústia que eu conheço e sei sem fim,
Redoma protegera e agora em nada
A vida finalmente transformada.


32440

É fonte do desejo, minha mina,
O encanto destes olhos sedutores
E sei que te seguindo aonde fores
Qual fosse algum farol logo domina
A cena e não me deixa nem pensar.
Mergulho sem defesas em teus braços
E quando me percebo em meus cansaços
Deveras lá pretendo descansar.
Vencer estas batalhas costumeiras
Deixando-me levar por correnteza
E mansamente ser a tua presa
Estrelas que me trazes mensageiras
De deuses e de sonhos, alegrias,
Que a cada nova noite tu recrias.

32441

Embalde procurando corações
Aonde poderia ter um porto
E quando a sensação de atroz aborto
Tomando com terror os meus timões
Não vejo mais sequer embarcações
O mar de uma ilusão agora é morto,
E tanto se fizesse quando exorto
Ao passo mais dorido em que me expões
Vencido e sem saber se tenho ainda
A sorte de talvez sobreviver
No quanto pude mesmo apodrecer
Verdade se apressando já deslinda
Um horizonte turvo e nada mais,
Expondo-me decerto aos temporais.


32442

Escuto tua voz; sempre distante
E quando me pensara aproximando
As ilusões formando ledo bando
No quanto cada passo se adiante
Mordaça dominando minha luta
E quanto mais audaz já não consigo
Tentara futilmente algum abrigo
E a sorte se mostrara mais astuta
Restando-me somente a farsa feita
Tentáculos diversos da emoção
E nada se mostrara desde então
A morte a cada ausência se deleita
Mesquinhos dias mostram o que sou,
Somente este não ser, hoje restou.

32443


A vida vai passando em mais diversos
Caminhos entre pedras e tormentas
E quando noutra farsa te apresentas
Inúteis com certeza são meus versos
E sei dos meus enganos, mas prossigo
E novamente em falso agora eu piso,
Aonde se pensara mais preciso,
O templo sonegara algum abrigo
E vejo esta seara aonde outrora
Pudesse imaginar quase um templário
Agora o sofrimento é necessário
E a fúria do não ser já me devora,
Quem fora no passado resoluto,
A cada novo dia mais reluto.

32444

Gorjeio da saudade me alucina,
E teimo contra tudo e contra todos
Os dias acumulam seus engodos
A sorte se prepara pra chacina,
O pendular caminho em turbulência
A vida não prepara este andarilho
E quando no vazio ainda eu trilho
O olhar se toma intenso em vã clemência
Pudesse caminhar em liberdade
Alçar corcéis em céus maravilhosos
Meu Pégaso em destinos pedregosos
A solidão decerto ainda invade
E quantas vezes busco alguma luz
Aonde a incoerência se produz.


32445

As pálpebras fechadas, livre sonho
Alçando os horizontes mais diversos
E tanto neste mundo vão imersos
Caminhos onde mesmo eu me proponho
Vencer as mais cruéis dificuldades
E em todas as vitais vicissitudes
Porquanto ainda mesmo agora mudes
No todo a realidade ora degrades
E resta apenas isso e nada mais
Afigurada a sorte em dissonância
Semeias no vazio a discrepância
Em tons profanos, sons quase venais
E tento ainda ver solucionado
O mundo que ora trago do passado.

32446


Os olhos baços, tristes nada dizem
E quando mais audazes os meus passos,
Caminhos que procuro agora lassos,
Realçam e deveras contradizem
O quanto pude crer em libertárias
Manhãs somente em treva e nada além,
Semente desairosa não convém
Nem mesmo quando sonhas sendas várias
Corriges os meus erros, mas persisto
E tanto quanto posso ainda creio
Ao mundo prosseguindo sempre alheio
No olhar já refletido este Mefisto
Que tanto me açodara no passado
E agora de meus dias apossado.

32447

Num átimo te encontram luzes fartas
E teimo contra toda a virulência
Aonde se bancando em inocência
Os sonhos mais profícuos tu descartas,
Reajo contra a fúria que alimento
E tento novamente ser feliz
O encanto se desvia e por um triz
Renega da esperança algum provento
Morrendo dia a dia, pouco a pouco
Não tendo outra saída, embora tente
Por mais que a sorte mude ou novamente
Deixando o meu viver audaz e louco,
Eu quero e não consigo libertar-me
A vida me condena ao vão desarme.

32448

As dores que provocas sem remédio
Os dias refletindo o nada ter
E ainda se pudesse bem querer
O quanto se perdendo em tosco tédio,
Adentro as fantasias e não vejo
Além deste cenário decomposto,
O amor se mostra agora em vão desgosto
E tudo o que pretendo em vil desejo
Açoita-me decerto em noite vã
O látego cortando minhas costas
Entranhas viscerais estando expostas
Jamais conhecerei outra manhã
Assim a vida segue em ódio e fúria
Não resta-me senão dor e lamúria.


32449


A morte se aproxima e não se engana
Domando cada passo que inda tento
E o céu em turbulência e violento
Seara se mostrando desumana,
Mordaz a face escusa de quem teima
Vencer com calmaria esta borrasca
Do todo não restando sequer casca
Minha alma se apresenta em dura queima,
O céu em diademas constelares,
Agora em tom brumoso morta a lua
Enquanto ao léu o sonho em vão flutua
Disperso do que tanto mais sonhares
Não posso e nem pretendo ter mais vida,
O quanto me restara atroz agrida

32450

Noutro momento, lúbrica deidade
Em lânguido cenário; já desnuda
E quando mergulhando embora iluda
Delírio contumaz audaz invade
Erguendo o meu olhar a vejo e tento
Num átimo outro tanto mais veloz,
E quando me percebe a vil algoz
Esquiva se transforma em pensamento,
Aonde te encontrar? Somente em sonho?
Não posso ter a vida em tal loucura
A dor além da dor assim perdura
E todo este viver se faz medonho,
Arisca criatura se esvaindo,
E o tempo se mostrando em dores, findo...

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