quarta-feira, 12 de maio de 2010

32451 até 32500

32451


Trago-te meu delírio e já remendo
As peças mais puídas de minha alma
O quanto do viver emerge em trauma,
Caminho que decerto ora desvendo,
Descrendo nos momentos mais felizes
Falíveis esperanças; mortos sonhos
E quando se mostrassem enfadonhos
Em pleno temporal perco marquises
E sinto que talvez ainda seja
Comum a quem deseja outra alegria,
E quando a solução se fantasia
Não adianta prece, altar e igreja,
Esqueço dos meus dias mais atrozes
E bebo da esperança em ricas fozes.

32452

Minha alma se esgotou sem teus pendores
E tanto poderia acreditar
Ainda que restasse algum lugar
Exposto às maravilhas dos albores,
Notícias de um momento mais feliz
Em meio aos desencantos, posso ver
E sendo mais comum o apodrecer
Em vida muito além do que se quis
Eu tento num instante conceber
Saudáveis emoções embora eu creia
E a lua se derrama imensa e cheia
Promessa de um mais belo amanhecer
Depois de navegar por tanta ausência
A vida desenhando esta clemência...


32453

As ondas que navego em mar bravio
São feitas das procelas corriqueiras
E quando dos terrores tu te esgueiras
Um novo patamar eu desafio,
O porto imaginário não havia
E nem sei quando posso revivê-lo,
Tocando em minha pele o pesadelo
Tornando a minha vida antes sombria
Num último momento em luz e glória
Assenta-se a poeira e vejo enfim
O todo que eu sonhara ter em mim,
Mudando com ternura a minha história
Legado de outros dias, mais cruéis
Pressinto se inverter estes papéis.


32454

São lumes que jamais, de novo, acendo
As velhas esperanças desbotadas
As horas entre dores consagradas
Aos poucos novamente revivendo
Quem tanto se fez luz e agora opaco
Não sabe discernir mais o caminho,
E quando me percebo tão sozinho,
O passo rumo ao nada, torpe caco,
Restando deste ser em mutação,
Vestígio de um alento que não veio,
Olhando de soslaio e com receio
Percebo o tempo em nova dimensão,
E assisto ao que pudesse ser manhã
Embora se perceba em luz malsã.

32455

Carinhos tão chagásicos tivera
Quem tanto se procura e nada vê
O mundo desabando sem por que,
A sorte noutro tempo mata a espera,
E o fardo se avoluma a cada instante
Pudesse acreditar noutro momento,
Por vezes um alívio até invento
E sei do meu caminho desgastante
Rescindo com passados o contrato
E nada mais teria senão isto.
A cada nova ausência eu já desisto
O mundo não se fez amigo e grato,
Além do mar talvez exista aonde
Felicidade enfim, em paz se esconde...


32456


Palpitam no meu sol, meus estertores
Traçando algum encanto ao fim da tarde
Porquanto a realidade se retarde
Ainda neste outono colho flores,
E vejo ser possível pós o nada
A sorte renovando em brilho intenso
E quando nos teus braços quero e penso,
A vida novamente demonstrada
Em luzes e se tanto pude crer
No fato desta eterna vida em Deus,
O quanto se pensara num adeus
Renova a cada belo amanhecer
E assim almas iguais, unos caminhos
Eternamente juntos, nossos ninhos.

32457

Martírios deste mundo sem amores,
Refletem a distância mais atroz
E quando ninguém ouve a minha voz
Os sonhos são deveras desertores
E tento acreditar em novo aprumo,
Vasculho dentro em mim, velhos porões
E neles as mesmices recompões
Enquanto solitário nego o rumo,
E teimo contra a fúria que se tece
Momento terminal de vida dura
A morte a cada instante se afigura,
Porém o coração nunca obedece
E teima acreditar em novo mundo,
E assim nos ermos vagos me aprofundo.

32458


O corte do desejo traz o vago
E mostra a realidade em que ora vivo,
Aonde se pensara no motivo
O pensamento em dor, ainda trago
E arisca poesia se faz nova
E tenta sobretudo desvendar
O quanto poderia caminhar
Enquanto a fantasia, dores, prova
Cevar inutilmente em aridez,
E ter a sensação desta colheita
A vida não seria satisfeita
Ainda que deveras nela crês
Rescindo com terror velhos dilemas
E teimo em destruir tolas algemas...


32459


Meu mundo não precisa fantasia,
E tanto pode ser imaginário
Conquanto novo tempo é necessário
Enquanto nada além inda se cria
Arcando com enganos, levo a vida
Entregue aos mais terríveis abandonos
Minha alma se mostrando em tais profanos
Caminhos onde a glória é dividida,
Percebo após a chuva o rebrotar
Das flores e das folhas no quintal,
Assim num ar deveras eternal
Percebo o novo tempo a clarear
Revogo estas mortalhas por enquanto
Um renovado ser, em glórias canto.

32460

Fanáticos momentos são inglórios
E sei deste vazio que virá
E tanto poderia desde já
Mudar tormentos duros, merencórios
E arrisco o pensamento em luzes fartas
Vagando pela mesma claridade
Enquanto a poesia ainda invade
Os sonhos na verdade tu descartas
E assim se refletindo a nossa vida
Em dúvidas e medos o abandono
E dele se deveras eu me adono,
A sorte mostra apenas despedida.
Riscando cada página da agenda
Espero que este fato o amor entenda...

32461

A morte dos meus sonhos, sem velórios,
Enquanto inda respiro e até procuro
Vencer o mesmo etéreo vago e escuro
Trancafiado enfim nos escritórios
Momentos muitas vezes mais inglórios
Aonde no talvez tento e perduro
Vestindo o mesmo terno me amarguro
E bebo dos vazios merencórios.
Arcando com enganos, prisioneiro
Da morte em vida sigo em espinheiro
Deixando para além o que pudesse
Traçar outro caminho em vida feito,
E finjo até viver quando me deito
E imaginário sonho então se tece...

32462

O canto da saudade é garantia
De quem pudesse crer noutra ilusão
Além da que deveras diz do vão
Mergulho aonde a sorte desafia,
E tento contornar em poesia
Sabendo dos momentos que virão
Singrando sem sentido e direção
Porteira que jamais assim se abria
Lavrando com cuidado em solo agreste
O quanto poderia e não se ateste
Tramar nova esperança a quem não sabe
Do vento mais atroz que ainda invade
Deixando para trás tranqüilidade
Enquanto a fantasia já desabe...

32463

Meu astro se desfaz na falsa imagem
Gestada pela inútil fantasia
E tendo a realidade dia a dia
Ao menos se pretende uma miragem,
Porquanto novo tempo em mesma aragem
Resume assim total desarmonia
E procurando aonde não havia
Jamais se conteria em tal barragem
O pensamento segue em luz ou treva
E quando o mundo ainda não se atreva
A crer num só segundo em paz, persiste
Quem tanto se mostrara mais audaz
A fonte vai secando e nada traz
Somente o meu olhar distante e triste.


32464

Renasce nos teus braços luz da qual
Eu tento me absorver e crer possível
Um tempo mais dourado e até mais crível
Embora seja o mesmo ritual,
E nele nada diz da desigual
Imagem transformada em implausível
Caminho que julgara perceptível
Galático momento sideral,
Não tendo qualquer luz adentro o veio
Aonde se pudesse e mesmo creio
Singrar mares diversos, pensamento,
Mas tanto quis e nunca pude ver
Aquém do que pudera conhecer
Um horizonte em paz, ainda invento...


32465

Tu vais tranquilamente e sigo os passos
De quem se fez estrela e agora guia
Tomando sem perguntas fantasia
Ocupa sem saber tantos espaços
Aonde se pensasse nos cansaços
Vestindo a mesma sorte, alegoria
Adentro com ternura esta alegria
Atando com firmeza claros laços,
Embaço-me em teus olhos, refletores
E sendo costumeiras em ti flores
Eu cevo este perfume a cada verso,
Pudesse ser assim a vida inteira,
Ainda que se mostre a derradeira
Paisagem soberana do universo.


32466

Procuro tuas cores, belo outono
E tento desvendar como seria
Ainda mais possível poesia
Enquanto de ilusões eu bebo e adono.
Acordo em mim o quanto adormecera
Em outros tempos frios e doridos,
O amor ao realçar os meus sentidos
Acende este pavio e entorna a cera
Deixando-se decerto que consuma
A fonte da emoção em que inda insisto
Os erros do passado agora eu listo,
E a luz neste horizonte já se apruma,
Num primoroso canto tu me trazes
A vida renovando suas fases.

32467

Imagens de mulheres lindas, nuas
Povoam juventude, mas agora
Aonde a realidade já se aflora
Diversas maravilhas onde atuas
E vendo as concepções modificadas
Encontro a mais real felicidade
Não faço da ilusão somente grade
No quanto me desejas ou me agradas
Assim ao se mostrar novo momento
A vida aperfeiçoa a cada instante
O que pensara outrora deslumbrante
Talvez já represente o desalento,
Mutáveis emoções traduzem formas
Que a cada novo dia tu transformas.


32468

Meu mundo se resume em abandono
E sei que tanta luta se fez vã
Enquanto a realidade é tão malsã
Nem mesmo do futuro já me adono,
Resíduos de uma vida em dores tantas
E nelas não consigo ver sequer
A sombra do prazer que mais se quer
Assim a cada ausência desencantas,
Pedir num só instante o bem maior
E ser além do nada, um pouco mais
De tanto navegar em temporais
Caminho para a morte sei de cor,
E tento acreditar noutra seara,
Porém realidade desampara.

32469

As bocas que eu sonhei, já nem mais vejo
E tudo se perdera com o tempo.
Agora qualquer sonho é passatempo
Ou mesmo uma armadilha do desejo.
Preparo o meu final a cada ausência
E sei do quanto pude ser feliz,
Mas quando a realidade contradiz
Retorna o coração com inocência
E tenta imaginar. Leda figura
Jazigo é o que inda resta e nada além,
O sonho ao fim da tarde não convém
Traduzirá depois tanta amargura;
Da escuridão que ainda reconheço
Já não comporta mais tal adereço.


32470

Agora não freqüentam o meu sono
Imagens variadas de outros dias,
E quando ainda ao longe tu me erguias
Com tal felicidade um raro trono
Altares do passado no presente
São meras e cruéis caricaturas
Ainda que do amor tu me asseguras
O nada a cada verso se apresente
Moldando a realidade, mesmo crua
E tento retornar ao que já fora,
Imagem feminina tentadora,
É como renovasse a plena lua.
Porém já não consigo conceber
Um último momento de prazer...

32471

Mulheres se passaram, foram luas.
E o tempo que é senhor destas razões
Enquanto noutro tempo recompões
Histórias entre noites claras, nuas,
Mergulho no meu ser e me adivinho
Mordaz e mesmo atroz, um sonhador,
E tanto poderia recompor
Bebendo da emoção incrível vinho,
E tendo esta certeza nada mais
Do quanto desejei se faz presente,
O amor aonde quer que se apresente
Transforma qualquer vento em temporais
Escravo? Não; somente estar servil
Do encanto em que me sonho ora se viu.

32472

Do destino cruel, eu sou o dono
E nada venceria o descaminho,
E quando da ilusão eu me avizinho
Aos poucos o meu sonho eu abandono,
Resido no passado e quero crer
Que ainda possa ao menos ver o dia
Nascendo noutra cena, em fantasia
E assim pudesse etéreo alvorecer,
Mas sei quanto é venal a realidade,
Num outonal cenário nada resta
Somente esta figura vã funesta
Que aos poucos sem defesa já me invade;
E tudo desfiando em morte apenas
Enquanto com futuro tu me acenas...


32473


Mas eis que minha sorte se revela,
Na fonte inesgotável juventude
E tanto quanto posso mesmo mude
Sabendo sem juízo a imensa vela
E quando ao improvável já se atrela
Porquanto esta magia nos ilude
Vivendo muito além do que mais pude
Realça cada cor da antiga tela,
E o féretro dos sonhos? Nada disso,
Ainda mesmo morto eu já cobiço
Um sol que me redime, mesmo em vão,
Enquanto houver o sonho, bebo a vida
E estando preparando a despedida
Revoluciono em mim, novo verão.

32474

Na curva desta estrada, se avizinha
Minha última esperança, mas não quero
Seguir o sentimento doce e fero
E tento contornar a tênue linha
Na qual a primavera já se alinha
E sei que meu inverno é mais sincero,
Além deste caminho, ainda espero
Resíduo do que fora outrora minha.
Mas nada se fazendo desde quando
O tempo noutro tanto desabando,
Moldando uma verdade inconsistente,
E assim ao me mostrar inteiramente
Desnudo do que possa ter enfim,
Alento apaziguando o ledo fim.

32475

A luz que bruxuleia como vela,
Traduz esta inconstância vida e morte,
E quando se desenha amargo o norte
O brilho noutra face se revela,
E tanto poderia crer na tela
E dela cada luz que me conforte,
Mas sei quando é dorido sem suporte
Mesmo na fantasia rara e bela,
Ao menos não consigo desvendar
Mistérios de uma vida em conseqüência
Do todo feito em luz e coerência
Gestando cada passo rumo ao nada,
Mas quando me percebo em teu luar
Realidade em brilhos disfarçada...


32476

Num segundo, em farol já se transforma
Quem antes fora apenas uma imagem
A vida ao permitir esta miragem
No quanto não percebe qualquer norma,
E ainda noutra forma vejo a cena
Por trás desta cortina a peça segue
No mar onde esperança já trafegue
Sorriso mais feliz decerto acena
Acentuando a força de quem crê
No amor como se fosse redenção,
E quando novos tempos moldarão
Embora sob a tenda de sapê
O fardo se divide ou se acumula
E a vida feito um mar, em luta ondula.

32477

Beleza sem igual, a noite forma,
E traz atrás do vago a imensidão,
O barco se aproxima e a direção
Mudando com ternura ainda informa
Dos ventos e das mágoas onde tanto
Perdera qualquer prumo, navegante,
Por mais que o meu caminho se adiante
No verso mais atroz, eu faço o canto
E gero com ternura o que talvez
Pudesse ser ainda novo templo
E sigo da esperança cada exemplo
Tragando o que este mundo agora fez
Efêmera ilusão, já não importa
Dos sonhos abro enfim cada comporta.

32478

Neste outono, uma rainha
Transformando o dia a dia
Gera a cada fantasia
Esperança toda minha
E se ainda já se aninha
Onde tanto poderia
Novo encanto moldaria
O que outrora não continha
Verso e canto, canto em verso
Nos teus braços quando verso
Sigo imerso em raro encanto,
E se tanto quero mais
Mesmo em plenos vendavais
De esperanças farto, canto.

32479

Pensei que conhecesse o meu caminho
E mesmo quando imerso em qualquer medo
Sabendo da esperança seu segredo
Jamais me imaginei tanto sozinho,
E ainda se pudesse acreditar
No verso quando é feito em luz diversa
A vida quantas vezes desconversa
E teima noutro tanto imaginar
Por sorte nada resta do passado
E vejo que o cenário se transforma
E assim ao mergulhar sem medo ou norma
Encontro a fantasia e sigo ao lado,
Futuro? Não pretendo, nem pergunto,
Eterno mesmo quando não mais junto.

32480

Pensei apenas soube dos meus erros
Que nada poderia ainda ter
Somente esta semente e nela ver
Enganos entre tantos vis aterros,
E sendo mais comuns as ilusões
E delas não consigo me livrar
Embora não perceba um claro altar
No quanto me mostraste em emoções
Esmiuçando a vida, vejo apenas
Que no final a sorte se aproxima
E tanto destas dores já redima
E sem tu mais notares me serenas.
A temporã e rara floração
Permite de soslaio esta visão.

32481

Ao conhecer os campos dos desterros
E ter a consciência de que a morte
Traçada a cada dia nos comporte
E dela se percebem ledos erros
Gerados pela insânia e pela gula
Arcando com medonhas heresias
E nelas quando em luto tu dizias
Da fome aonde o traço dissimula
Visão tão variada da verdade
Arejando com sonhos e esperanças
E quando neste espaço tu te lanças
Singrando com ternura e claridade
Verás outro momento aonde possa
Saber o quanto amor a vida endossa.


32482

Onde repousam, néscios, nossos sonhos
Deixados ao relento pela vida,
E quando decomposta esta ferida
Cenários se mostrassem tão medonhos
E arrisco-me a tentar novo momento
Ainda que isto seja meramente
Um quadro que decerto se apresente
O mundo aonde o canto ainda tento,
Legado de uma sorte em dores feita
Prenunciando a morte em abandono,
Percebo ser inútil e já não clono
A sorte quando em vão não se deleita
Mortalha se tecera com terrores
Agora dita dias sonhadores.


32483


Procurei por entranhas e sentidos,
Caminhos onde um dia inda pudesse
Sentir desta alegria uma benesse,
Tocando em maciez os meus ouvidos,
Cravejo em diamantes os meus dias
E tento perceber o quanto é belo
O manto em que meu sonho em paz revelo
Deixando para trás desarmonias
Bruxuleante lua no horizonte
Reside nela o fato de tentar
Do encanto incomparável desvendar
O quanto a cada noite ela se apronte
Deidade sem igual, sobeja dama
Reinando sobre os olhos de quem ama...

32484

Os vales, cordilheiras, foram vãos
Antíteses diversas de uma vida
E quando se percebe em mim a ermida
Deixando para trás os mesmos grãos
Não posso semear em aridez
Jamais acreditei noutro cenário
E quando se fez mesmo necessário
O todo que eu quisera se desfez
Partindo do princípio do não ter
Resisto por saber de um novo encanto,
Mas quando este caminho nega o canto
Ainda tenho tanto a percorrer...
São meras ilusões, mas alimentam
E tanto quanto podem me apascentam.

32485


Pensávamos amores como irmãos,
A vida nos prepara esta surpresa
E aquilo que se fora com leveza
Agora dominando tantos vãos
Inunda o pensamento e nos domina,
Emana forte luz e nos conquista
Seara imaginária hoje benquista
Dos sonhos mais felizes rara mina,
Desato com meus versos os engodos
E tento novamente ser feliz,
Porquanto acumulara em cicatriz
Os velhos caminhares, tantos lodos
Traçados pelos medos e terrores
Agora se transformam, novas cores...


32486


No fundo, sentimentos corrompidos
Não deixam que se veja claramente
O quanto deste sol já se apresente
Tocando mansamente os meus sentidos,
Resisto aos mais diversos temporais
E tento perceber novo momento
E quando nos teus braços me alimento
Dos sonhos entre tantos magistrais,
Eu sinto ser possível ter ainda
Após a vida em mágoas, nova senda
E toda a poesia já desvenda
A sorte desenhada em tez mais linda
Percorro cada dia do teu lado
E sinto-me decerto abençoado.

32487

Agora que conheço meus defeitos,
E posso decifrar engodos tantos
Vencido pelos vários desencantos
Aonde não seriam mais aceitos
Recebo calmamente esta verdade
E dela não mais quero outro veneno
E quando no passado me sereno
O olhar deste futuro que me invade
Promessa de talvez o renascer
Embora já tardio, da esperança
Reflete o que se vê na mesma dança
E tem imensamente este poder
De renovar a face em tantas rugas,
Mas sei que no final serão só fugas.

32488

Meus lábios te procuram como um sol
Que tanto poderia em tal calor
Traçar com maravilhas este albor
Tomando com furor todo arrebol,
Arrebatado agora não mais penso
Noutro momento e teimo em conceber
Em ti o mais brilhante amanhecer
Num ato tão sobejo quanto intenso
Porquanto eu me perceba mais tenaz
E seja ainda o mesmo aventureiro,
Quando a verdade chega, não me esgueiro
E tento tão somente a vida em paz,
Assíduo companheiro da ilusão
Poeta jamais sabe a direção.

32489

Meus olhos devorando fartos peitos
Ainda vivenciam o desejo
Embora com certeza quando vejo
Os sonhos se mostrassem, pois desfeitos,
E quando permaneço vivo, embora
A vida se apresenta em tal mortalha,
Cenário se transforma e já retalha
Enquanto a realidade me devora,
Não pude crer no quanto poderia
Sentir ainda viva esta esperança
Já não concebo mais e a vida cansa
De ter somente o sonho e a fantasia.
Rescindo com a glória e me retrato
No resto de alimento sobre o prato.

32490


Na vida, esse delírio já me incrusta
E traça com terríveis faces luzes
E quando com ternura me conduzes
O quanto acreditar ainda custa,
Gestando esta emoção eu não consigo
Vencer a realidade e ter o sonho,
E sigo mesmo assim, ledo e tristonho,
Tardio na verdade o doce abrigo,
Acende-se o luzeiro, mas é vão
Escura caminhada é o que inda tenho,
E quanto mais espúrio o meu empenho
As trevas nos meus dias moldarão
Restolho, escombro, escória tão somente
Há tanto nega ao solo, esta semente...


32491

Eu te amo! Te procuro, girassol,
E sei que a cada instante em flóreos prados
Os dias entre sonhos demonstrados
Preparam para mim raro farol,
Mas tudo se perdendo pouco a pouco
A solidão batendo em minha porta,
Apenas a ilusão inda conforta
E quando me percebo, quase louco
Vencido pela angústia de saber
O quanto fora inútil cada sonho,
O mundo se aproxima e já me enfronho
Nas sendas tão dispersas do sofrer,
Assim embora eu saiba a redenção
A cada ausência imensa dispersão...

32492

No quanto amor se aproxima
E domina o dia a dia
Novo tempo moldaria
Muito além do que esta estima,
O caminho ora já prima
Por saber tanta alegria,
E se ainda fantasia
Renovando em paz o clima,
Bebo as gotas deste orvalho
E se tanto inda batalho
Procurando enfim o sol
Nos teus olhos, horizonte
Onde a sorte já desponte
E me torno um girassol.


32493


Tantas vezes já quisesse
Encontrar o que perdera
A verdade concebera
E se ainda tento a messe
Nada mesmo recomece
No vazio que tempera
A saudade dura fera
Onde amor ora se tece,
Ledo sonho em abandono
Sem saber de qualquer sono
Noite clara, dia tenso,
O meu mundo se perdendo
Noutro tanto recendendo
Ao passado amargo e denso.


32494

Por maior que esta agonia
Inda mostre face escusa
A saudade tanto abusa
Quanto em mim já se recria,
Onde outrora até havia
A presença mais obtusa
Qual cometa o céu já cruza
E transforma a poesia,
Bebo cada amanhecer
E se tanto me embeber
Não transcende ao que pudera
Vivo apenas a promessa,
Mas a vida já tropeça
E avassala a primavera.


32495

Apelando contra a sorte
Entregando-me ao tormento
Quando sinto forte vento
Não encontro quem suporte
E se nada diz aporte
No vazio me alimento
E sem ter qualquer provento
Alma ao longe se transporte.
Transformando o quanto pude
Não encontro a juventude
Nem tampouco a mocidade,
O caminho percorrido
Noutro rumo pressentido
E a saudade ainda invade...


32496


Na verdade quando alcanço
O meu rumo no teu rumo,
Bebo a sorte, inteiro sumo,
E deveras não me canso,
Se eu pudesse, em tal remanso
Onde em paz eu já me aprumo
Cada sonho que consumo
Noutro sonho sempre avanço,
Esperança dita a sorte
E se tanto se conforte
Quem se fez em rebeldia,
Noutra face, este horizonte
Onde amor em paz se aponte
Traça sempre um belo dia.


32497


Ao tirar este retrato
Da parede, nua sala
A minha alma também cala
E traduz em paz tal fato,
O que tanto fora ingrato
Coração quando avassala
E se a morte fosse à bala
Não teria esse maltrato,
Vejo ali mero reflexo
Do que tanto foi sem nexo
E perplexo perdi
Desconexo caminhar
Onde quis ver o luar
E o vazio estava aqui.

32498

Quando vejo neste altar
Tua imagem, santa e bela
A verdade se revela
No que tanto pude amar,
E se ainda ao me entregar
Outro rumo a vida sela
Navegando, solta a vela,
Tão imenso vejo o mar,
Pode até ter sido engano,
Mas o sonho soberano
Não me deixa mais sentir
Novos ritos, novos dias
E contigo as alegrias
Dominando o que há de vir.


32499

Onde amor fez sepultura
Da emoção deveras clara,
Toda a sorte se declara
E transforma e se afigura
Tanto quanto já perdura
Outra vida agora aclara
E a certeza bela e rara
Nos meus olhos emoldura.
Faço assim de cada verso
Outro sonho aonde imerso
Não me canso de tentar
Perceber outro momento
E deveras pensamento
Toma em mim todo o lugar.


32500

Dominando este sentido
Venho ver felicidade
E se tanto ainda agrade
Nada resta em duro olvido,
Nos momentos, distraído
Bebo a intensa claridade
E adentrando a liberdade
Quem andara em vão perdido
Sabe agora da ventura
E distante da amargura
Beija a lua incandescente,
Turbilhões de pensamentos
Dos meus dias são proventos
Onde o encanto não se ausente.

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