domingo, 10 de outubro de 2010

21242 até 21780

21242


Amigos das palavras temos sido;
Senhores de nós mesmos e dos versos.
O dom que praticamos tem movido
Milhares de espíritos dispersos

A despertarem desse combalido
Estado lamentável que, ora imersos,
Sufoca cada anseio que era tido
Como uma solução pros mais diversos

Dilemas da existência em vil dormência,
Estado em que se encontra a maioria
Sem virtudes, sem justa paciência;

Sem gana pra viver em harmonia
C’o bem comum, com ordem, com decência;
Consigo mesmo e com a fantasia.

Ronaldo Rhusso


Possamos espalhar aos quatro ventos
O som da poesia que nos toca,
O rio que em tal mar se desemboca
Carrega junto a si, os sentimentos,

Poeta faz das dores, seus alentos,
O amor em fantasia ali se aloca,
Agigantando sempre cada roca
Tornada continente, pensamentos...

Que possa ser assim durante a vida,
Eternos companheiros da alegria,
E imersos em fantasmas que criamos,

E quando chegar nossa despedida,
Vivemos o que o sonho nos pedia,
Que a liberdade nega escravos e amos...


21243


Com o amor não se brinca, disso eu sei,
Ele é senhor das almas e destinos,
Os sonhos mais audazes, cristalinos
Um dia, lado a lado, inda terei.

Fazendo da alegria a nossa lei.
Deixando para trás os desatinos,
Os corações vorazes de meninos
Serás minha rainha, e nessa grei

Aonde a fantasia reina em paz,
Somente o amor perfeito satisfaz,
Trazendo para nós a claridade

Que é feita nos ditames da paixão,
Embora muitas vezes, turbilhão,
No fim só mostrará tranqüilidade...


21244


A vida traz as suas barricadas,
Vencê-las é poder sonhar, seguir,
E quanto mais distante do porvir
Maiores as estrelas arrancadas.

As horas que procuro, apascentadas,
Não deixam meu caminho, prosseguir,
Não tendo nem mais nada o que pedir,
Consolam-me as tristezas desfraldadas,

Usando a poesia qual bandeira
Não tendo mais sequer um armamento,
Aberto o peito, teimo com roseira,

Porém só nos espinhos, as respostas
Queria ter ao fim, discernimento,
Bem antes de lanhadas, minhas costas...


21245


Pelos versos se cantem emoções
Que tanto nos maltratam e bendizem,
Por mais que estas palavras não condizem
Espalhem pelos céus, magas poções,

E tragam aos sofridos corações,
Alentos que os desejos já predizem,
E mesmo quando em falso, eles deslizem,
Sirvam-nos de imensas proteções.

Pelos versos se cante uma alegria
Que possa transformar o ser humano,
Após a vida inteira, intenso dano,

Venha com mais juízo o novo dia,
Respeito à natureza, ao nosso lar
E ao Pai que nos criou por muito amar...


21246


E as emoções que não consigo ter
Senão numa efeméride, um segundo,
Tentara descobrir onde saber
Vasculho desde então, inteiro o mundo,

E nada posso ver nem mesmo crer,
Seguindo sem destino, vagabundo,
E quando as imagino em meu poder,
Eu vejo o meu engodo e me aprofundo

Nos ermos de mim mesmo, e sigo só,
Alçando cada parte inatingível,
O amor não pode ser sempre tangível

Tampouco reduzido a simples pó,
Por isso, as emoções já se afastaram,
Somente as ilusões edificaram...


21247

Cáusticas castidades enganosas,
Poluem a cidade vez em quando,
E o tempo sem remendos vai passando
Cravando no peito estas ventosas.

Assim almas sutis e caridosas,
Num tempo às vezes morno, ou mesmo brando,
Nas mãos oferecendo falsas rosas,
Enquanto o verso vem ludibriando.

Não quero o teu sorriso de donzela,
Tampouco as ironias que tu fazes,
Não sei dos curativos, queimo as gazes

Realidade crua se revela,
E quando nos motéis marcas presença,
Papai na sua santa, em casa, pensa...


21248


Fulgindo neste céu estrelas falsas
Fugindo de meus olhos a verdade,
Embarco o coração em tuas balsas
Sabendo do naufrágio; ansiedade...

E quando a realidade; finges e alças
A sensação do vago que me invade
Rompendo esta bagagem, perdendo alças
Realças teu sorriso, amarga grade.

E agrade ou não agrade quem vier,
Versão que tu inventas venta lá,
Jurando por Jeová, ou mesmo Alá

Alados os desejos da mulher
Que quando me diz não é por que quer
E quando me diz sim, o que virá?


21249



Usando de uma estrofe como base
Perturbo o teu silêncio e te incomodo,
Não sei mais de que forma ou mesmo modo,
Até que a solução enfim se atrase,

Aposto nem um til, tampouco crase,
Não sou dragão nem venho de Komodo,
Apenas não suporto mais engodo,
E o rolo que arrumaste? Se der, vaze.

No ponto de partida ou de chegada
Não vejo mais sinal, termino o jogo,
Apago com mais brasas o teu fogo,

E a cara fica toda chamuscada,
Numa enroscada assim, valei-me Deus
Só me resta dizer, então: ADEUS!!!


21250


Diafaneidades tolas; diz amor
Que quando contradiz faz mais sucesso,
Se fosse pelo menos pelo ingresso,
O circo terminou. Restou o ator.

Atormentadamente; volta dor,
E quanto mais intensa, meu progresso,
Embora com certeza; amor, confesso
Congressos de ilusões? Não vou compor.

Propor a solução de teus problemas
Usando estas correntes e as algemas,
Semanas e semanas, não consigo.

E teimo em te dizer que vás embora,
Se a vida for melhor, por que lá fora?
Se o tempo em que ainda tenho, eu não prossigo?


21251


Do sonho; as mais incríveis asas; alço
E busco sem qualquer rebuscamento
O tempo em que melhore o firmamento
Senão terei que andar milhas descalço;

Se o termo que assinei foi fátuo e falso,
Fadiga não me diz falecimento,
Farsante por instantes, num momento,
Aguardo o julgamento e o cadafalso.

Aperto mais a corda no pescoço
Engulo qualquer coisa com caroço
E o moço que já fui alvoroçado

Não sabe mais se quer seguir em frente
Só sei que não sabendo vou urgente
Que o tempo, meu amor, anda nublado...


21252


O amor se conquistando dia a dia
Adia as decisões ou precipita,
E quando encontro a mais bela pepita
Se precipita toda a fantasia,

Só posso te dizer que a fantasia
Mais rica; mais possante e mais bonita
Aquela que no peito forte grita
Conforme tanto tempo eu perseguia.

Guiando cada passo, o grande amor,
Compondo com total fascinação
Um mundo muito além do que sonhara,

Demonstra quanto vale ao sonhador
Um gole de razão, farta emoção
Tornando a nossa vida bem mais rara..


21253


Com a chama ideal, o fogaréu
Espalha-se, sem rumo pela mata,
E o amor que na verdade me arrebata
Levanta esta poeira, e traz o céu

Que tanto desejei; calor e mel,
Não quero mais a vida tão sensata
Apenas o que amor manda e relata,
Tomando desde agora o seu papel;

Se acaso algum ocaso acontecer
Não deixe que esta luz se apague inteira,
Reacendendo a brasa, na fogueira

Das tuas ânsias loucas, vou me arder
Até não conseguir mais respirar,
Morrendo de prazer, mas devagar...

21254


De todos os mistérios que enfrentei,
A noite se tornando uma armadilha
Que ao mesmo tempo atrai, mata e engatilha
Austera e sem juízo, a negra grei.

Não tendo e respeitando qualquer lei,
A própria madrugada, na matilha
Espalha sangue e morte em cada trilha
E brilha nestes olhos que encontrei

Felinos e ferinas gargalhadas,
Dispersas as estrelas, vagos astros,
Alastram-se terrores, matam lastros

E fomentando o medo, mascaradas
As velhas rapineiras aves voam,
E apenas os ladrares; longe, ecoam...


21255


Fecundando o mistério da existência
Com sonhos e parábolas distantes,
Religião travando com ciência
As lutas mais estúpidas, farsantes...

Não vale a pena tanta persistência
Na busca de verdades escaldantes,
Também sem cabimento esta inocência
De crer que a vida veio por instantes...

Do carbono catorze aos velhos fósseis,
Teóricos singelos ou indóceis
Fazendo da verdade, imensa farsa.

Não posso me calar perante Deus,
Nem posso sonegar os olhos meus,
Da mística parábola, um comparsa?



21256


Alvissareira noite se aproxima
E nela entorno as minhas fantasias,
Do jeito e da maneira que querias,
O amor além de tudo, em farta estima

Fazendo da emoção imenso clima,
Mergulho nestas águas, alegrias,
Na tépida nudez; tu propicias
Beleza bem maior que qualquer rima.

E sem saber jamais se existe nexo,
Brindemos ao amor, beleza e sexo,
Façamos desta noite lua e mel.

Assim, feito os arcanjos, querubins,
Os meios justificam doces fins,
Na cama a chama clama fogaréu...


21257


Nestes versos; expresso essa vontade
Que tanto me seduz e sentencia,
O quanto fala em mim a poesia
É mais do que suporto, na verdade,

Queria desbravar felicidade,
Vagando sem noção, se é noite ou dia,
Sem pena, mergulhar na fantasia
Que enquanto mais invade, se faz Sade.

Eu sei quão dolorosa a voz antiga
Abrigaria a vida noutro abrigo,
Comigo? Tudo bem, mas não consigo

Vestir a alegoria que prossiga
Tomando este cenário furta cor,
Fortalecendo assim o mal do amor...


21258


Inefáveis por vezes os meus versos
Que quanto mais maltratam; mais dominam
Palavras que do peito, quando minam
Entregam-se a sentidos mais diversos,

Não quero crer que sejam maus; perversos,
Aqueles que com versos te fascinam,
Os beijos sonegados exterminam
Os sentimentos tolos e dispersos,

Invés de ser assim aço e ferrugem,
Aonde há poesia sempre rugem
As vozes mais audazes e ferozes,

Seria sordidez falar do encanto,
Sem ter senão talvez escudo e espanto
Calcando em meu viver, bases atrozes...


21259


Num templo feito a ti, deusa desnuda,
O verso se deitando imenso gozo,
Serpenteando em mim, louca e miúda,
O cheiro do delírio, fabuloso,

A boca já se ocupa e quieta, muda,
Promete um paladar maravilhoso,
E quando a pele em pele gruda,
O corpo num fremir fantasioso.

Assim entre imersões e várias doses,
Até que estonteada, tanto gozes
Lavando com prazer, intenso fogo,

Acordo de manhã e te procuro,
A clava sempre erguida; e só me curo,
Nas ânsias e delícias do teu jogo...


21260


Edênicas loucuras, Paraísos
Que tanto desfrutamos e queremos,
Sabendo desvendar o que nós temos,
Deixamos para trás falsos juízos,

E em toques mais audazes e precisos,
Vagamos pelos mares, barcos, remos,
Sangramos nossos portos, envolvemos
As pernas entre as pernas, loucos risos...

E tanto quanto encanto; desejamos
Que nada mais fazemos senão isso,
Não quero nem saber de compromisso,

Por águas sempre límpidas nadamos
E temos o futuro em nossas mãos,
Netuno em teus espaços, busca os vãos...


21261


Em ti bebo da fonte auspiciosa
Mais caprichosa e intensa que já vi,
Bebendo cada gota preciosa
Que roubo em cada gozo e chego a ti

Ansiosamente nua e fabulosa,
Acaso se vieres, eis aqui
O amor que tu querias, rima e prosa,
Gostosa deusa, aonde eu me perdi,

Salgando a tua boca. Tu me tomas
Em fartos goles, golpe do destino
E quando mais te adoro, eu me fascino,

Encontro em tuas fúrias, tantas somas,
Do quase não havia à perfeição,
Amor gerando amor, duplicação...


21262


Aéreo caminhante em noite escura
Perpetuamente busco uma resposta
Que mostre quando a lua nua e exposta
Arranca o coração desta clausura

Aonde mergulhara e na procura
Sem ter qualquer desvio nem aposta,
O beijo tão mordaz já nem desgosta,
Minha alma antes frágil, hoje impura.

Mefisto, o companheiro inseparável,
Satânica figura, assaz amiga,
Até por vezes creio ser amável,

A cósmica e temível serpente,
Que enquanto me domina, desabriga
Gargalha em ironia qual demente...


21263


Espíritos dispersos vagam tontos
Perdendo sempre o guia, seguem sós,
E quanto mais se apertam os seus nós,
Parecem, na verdade quase prontos,

E quando se tocarem vários pontos
Depois de desmembrados, sou atroz,
Queria pelo menos cada voz,
Pagando para ver e sem descontos.

Arcar com os meus erros? Não mais faço,
É fácil se fazer de troglodita
Enquanto a noite chega e se embeleza,

A ponta do punhal se fazendo aço,
Não deixa que este crime se repita,
Porém a mão na seta, já se entesa...


21264


Na dolência das rosas, violetas,
Belezas cultivadas no jardim
Que guardo mansamente dentro em mim,
Vagando por satélites, planetas,

E enquanto mais amores vãos cometas
Distanciando os sonhos, sigo assim,
Teimando em retornar; mas sei que vim
Buscar as doces luas que prometas,

Ocasos são acasos, nada mais?
Não posso creditar tal heresia
A quem há tanto tempo me dizia

Do sonho de ter manso, o belo cais,
Aonde ancoradouro fosse além
Do porto que degreda, sem ninguém...


21265


Das músicas supremas do passado
Aonde se podia viajar,
Talvez ainda encontre algum lugar
Que não seja somente mal cuidado,

Jardim há tanto tempo abandonado,
Quimeras se espalhando, ganham o ar
E o medo de sorrir, cantar e amar,
No mundo a cada dia me degrado,

E carcomidas, velhas fantasias
Esqueço em algum canto da gaveta,
Quem sabe isso virá como um comete

E renascendo aos poucos, outros dias
Eu possa desfilar em paz estrelas,
Difícil segurá-las e contê-las...


21266


Indefiníveis, novas melodias
Arfando sentimentos mais diversos,
Os dias que virão, serão perversos,
Apenas matarão as poesias,

Os sonhos de prazer; bem sei que adias,
Vasculhas entre estrelas e universos,
Escutas arremedos feitos versos
E sabes discernir o que querias.

Nas tribos e nos troncos arcos ânsias,
As falsas maravilhas e elegâncias
E as velhas truculências permanecem,

Enquanto o nada chega aos meus ouvidos,
Os dias em que sonho estão perdidos,
E os medos mais sinceros já se tecem...


21267


Sentir toda a beleza do perfume
Que invade a nossa casa, raras flores,
Misturam-se no céu, diversas cores,
E o sol servindo ao fundo, claro lume,

Além do quanto eu quero, de costume,
Seguindo cada passo aonde fores,
Deixando na gaveta vãos rancores,
Vivendo até que a sorte nos aprume.

Apenas deste encanto um serviçal,
Num terno e repetido ritual
Eu venho te acordar, mas nada dizes,

Do amor que se origina no passado,
O curso tantas vezes desviado,
Atropelando sempre eternas crises...


21268


Harmonias de cores, bela tela
Que esboças nesta tarde incandescente,
O amor que tantas vezes foi urgente
Apenas num mormaço se revela

Quem canta e por tanto encanto zela
Já sabe se; feliz ou docemente
O quanto de ternura se pressente,
Matizes de uma frágil aquarela...

Naufrágios do passado nos condenam,
As mesmas esperanças já se encenam
E encerra-se depressa o sofrimento

Por vezes imagino que te quero,
Porém amor sincero, turvo ou fero
É tudo que na vida ainda tento...

21269


Extremamente trêmula; chegaste
Após o entardecer, não dizes
Quais foram teus tropeços e deslizes,
Só sei que num segundo tu tombaste,

A vida se permite a tal contraste,
Momentos que pensamos ser felizes
Depois de certo tempo, as cicatrizes
Demonstram quão enorme este desgaste,

Sem haste que sustente, é certa a queda,
E quando a fantasia nos enreda
Com suas teias fortes possantes,

Trazemos a certeza em nossas mãos,
Porém se os sonhos foram todos vãos,
Apenas tão somente alguns instantes...


21270


Se nas horas do ocaso não te vejo,
A noite será triste com certeza,
Ausente de meu corpo esta beleza
Que há tanto e sem defesas eu desejo,

Não quero mais o gosto do vazio
Que velho camarada não me larga,
A vida se tornando tão amarga
E o medo a cada dia fantasio,

Chegar de manhã cedo e não te ver
É como me perder sem ter destino,
Talvez o sentimento que domino

Afaste-me das sendas do prazer,
Queimando pouco a pouco uma esperança,
A morte sutilmente, sempre avança...


21271


A dor que a luz resume na alvorada
Após a noite escura e sem paragem,
Vencida pelo medo esta engrenagem
Depois de tanto tempo não diz nada,

Acerca das mentiras mal contadas,
Esqueço qualquer plano de viagem,
Olhando com mais calma esta paisagem
As curvas com certeza são fechadas...

Mereço talvez mesmo este destino,
Durante a minha vida, um peregrino,
Morrendo a cada novo desengano,

A boca que me beija amortalhando
O dia que sem tréguas, batalhando,
A luz de um sol intenso, desumano...


21272


Réquiem das emoções ouço à tardinha
Enquanto tu não vens; falsa promessa?
A vida em minha vida recomeça,
Desde este instante belo em que amor vinha

Desígnio precioso eu sei que tinha
Quem tanto quis o sonho, mas sem pressa,
A própria melodia já se engessa,
E a sorte desprezada, toda minha.

Quem vê o meu espectro pelas ruas,
Perambulando à toa e sem destino,
Não sabe deste amor tão cristalino

Roubado do clarão de várias luas,
E agora adormecido, nada diz,
Somente alguma marca, ou cicatriz...


21273


Talvez eu procurando a liberdade
Às vezes pise em falso, até tropece,
E quanto maior seja a claridade,
O peito enamorado se entorpece,

O vento com total tranqüilidade,
Aos versos sonhadores obedece,
E enquanto houver amor, fraternidade
Futuro mais tranqüilo então se tece.

Na vastidão dos sonhos, eu te vejo,
E beijo tua boca com ternura,
Nas ânsias mais audazes do desejo,

A paz que tanto quero se procura
Sem medo e sem tortura, ternamente,
Tomando já de assalto a nossa mente...



21274


Dos cânticos serenos, serenatas,
Arcando com arcanjos e demônios,
Não posso me entranhar em densas matas
Tampouco conheci tantos campônios,

Obedecendo os sonhos mais idôneos
Não posso me calar quando tu matas,
Jamais eu herdarei tais patrimônios
Que vândalo, dos pobres arrebatas,

Servir ao capital como tu serves,
Usando da mentira, raras verves
Tu vertes podridão em tuas veias.

Prefiro a mansidão dos inocentes,
E tenho em minhas mãos, armas potentes,
O amor feito perdão que tu anseias...


21275



Visões de velhos tempos onde o forte
Valia mais que toda a inteligência,
Na ponta de uma espada o fundo corte,
Nos olhos de uma vítima inocência,

Não posso me calar perante a sorte
Que impede com certeza uma indulgência
Tampouco me farei até a morte
Sem ter do Pai Eterno, esta clemência.

Vivendo com decência e limpidez,
Não posso permitir tanta mentira,
A boca que beijando o mal me fez

Talvez tenha partilha com Satã,
Mas quanto mais feroz a Besta atira,
A mira se perdendo segue vã...



21276




Amada eu te proponho mais que um sonho,
Viver cada momento sem temor,
E enquanto nos domina o sacro amor,
Um verso mais sublime até componho,

E quando nos teus braços eu me enfronho,
Qual fora neste mar, mergulhador,
Percebo quão magnífico o calor,
Jamais será o amor mal enfadonho.

Aceite os meus propósitos mais loucos,
Os ritos mesmo que pareçam poucos
Podendo nos trazer completa luz,

O corpo que desnudo vejo agora,
Promete a fantasia sem demora,
E teso de vontade, me seduz...


21277


Senhor livrai-nos todos das Igrejas
Que em dogmas dominando humanidade
Esquecem da mais pura cristandade,
Distante deste amor que Tu desejas.

Riquezas e riquezas “benfazejas”,
Ocultam das ovelhas a verdade,
Na pútrida visão, felicidade
É feita em “caridades” e cervejas.

Mas veja Meu Senhor, a tua ovelha
Seguindo a falsa cruz, velha centelha
Usada pelos crápulas; canalhas.

Enquanto o Teu Amor for esquecido,
E apenas o dinheiro for ouvido,
Meus versos serão fios de navalhas...


21278



Usando para tal toscas surdinas
Não queres alertar, cobra em tocaia,
Se a gente na verdade busca a raia,
As horas que me trazes são ladinas,

Os versos estampados em latrinas,
A moça levantando a curta saia,
E quando a poesia toma vaia,
O peito das estrelas femininas

Aberto aos preconceitos e as mentiras
Que atiras sobre nós velho farsante,
Não quero mais a Roma que me atiras

Excomungando a mente de quem pensa,
O medo no teu rosto, radiante,
Servindo como minha recompensa...


21279


Flébeis órgãos são frágeis as aragens
Que fazes se não festas? Fossas frisas
E firmas os teus olhos por paragens
Aonde se perdendo mais concisas

Palavras vão mudando tais imagens,
Andando por estrelas, organizas
As fugas prometidas, vãs miragens,
Enquanto ventania; serves brisas

E avisas se precisas ou descartas,
O sonho que já deu todas as cartas
Agora não passando de amuleto

Vencido vai seguindo por aí,
Se a farsa que frisaste, eu descobri,
Não posso conceder. Amor; prometo?


21280


Venenos me causando tais dormências
Enquanto seduziram no passado,
Servindo ao servidor, farsas, demências
O peixe com certeza bem fisgado.

Não quero e nem preparo penitências
Tampouco mergulhar no lago errado,
As vésperas do caos, nego clemências
E o beijo que me deste, está trocado.

Esfarrapando o resto dos meus sonhos,
Mascando os meus engodos que, medonhos
São tudo para mim, após a guerra

Que a gente não travou nem mentiria,
Não tendo mais o aval da poesia
A história mal começa e já se encerra...


21281


Ficando ao deus dará por tanta vida,
Depois de tempestades e bonanças,
Vencido por arquétipos; perdida,
Uma alma busca em ti as alianças

Que tragam ao amor mais sobrevida,
E quando preparamos as festanças,
Mentores dos horrores noutra lida
Apertam velhos cintos das lembranças;

Acaso se este caso fosse ao fim
Terias, meu amor, pena de mim?
Não deixe que termine como inferno

O que nós começamos, mansamente,
E incendiando tudo, de repente,
Transforma num verão qualquer inverno...



21282


Mórbidas radiantes ironias
Sarcásticos sorrisos; nada além
Do quanto desejas e querias
Fingindo, com certeza muito bem,

Aplaudo sempre as raras maestrias
E sei que no final vou sem ninguém,
Se os gozos são sutis mercadorias
Não compro e nem alugo mais de outrem.

Arcar com tantas falhas? Pois eu arco,
Se o tempo fez do amor algo tão parco
Partilho deste nada que me deste,

Mas tudo tem seu preço? Pago caro,
Às vésperas do beijo, não te escarro,
Apenas mudo o solo assaz agreste...




21283


São sutis e suaves os desejos
Que tento disfarçar, sem ter sucesso,
Mereço pelo menos ter acesso
Aos teus delírios tantos, mil ensejos,

E sendo o que mais quero; tais lampejos
Prometem para o caso um bom sucesso,
E quando me falares do progresso,
Ingresso no teu corpo com meus beijos.

E o vento que ventava vendaval
Aval terá pra ser somente brisa,
Agora sem demora amor avisa

Que o rito se tornando triunfal,
Com gritos, com sussurros e gemidos,
Decerto nossos sonhos são ouvidos...


21284



Perfumes demoníacos – enxofre,
Tomando a minha vida, antes bela,
O vento vem num salto e assim de chofre
O quanto nada valho, ele revela.

Calvário em plena vida? Por que tanto?
Se o espanto não vier conforme a sorte,
Por mais que vasculhasse cada canto,
Não posso declinar a minha morte

Que chegando de súbito trará
A cena em termina a velha peça,
O medo num segundo sangrará
O amor que tempo mata e não confessa,

Girando feito fosse um carrossel,
Ausente de esperança, perco o céu...


21285


As horas em silêncio, medo ou pânico,
O quadro se repete e não consigo,
O olhar paralisado, até tetânico
Às vésperas da morte, um vão perigo.

E quando vejo espectro demoníaco,
A sombra se aproxima e me perturba,
Quem sabe pode ser algum maníaco
Um lobo solitário ou numa turba,

Somente a turbulência desta noite,
Não mais a resistência, morto embora,
O vento destruindo, amargo açoite,
A vida com certeza não demora.

E o salto, o bote, a fera, garras dentes...
Insanas confissões? Decerto mentes...


21286



Estou já neste beco sem saída
Tentando melhor sorte, mas quem dera,
Se tudo não passou de longa espera,
A história mesmo mal, tá resolvida.

Enquanto uma saudade a gente olvida,
O beijo mais gostoso é o da pantera,
Arranha, delicada a doce fera
Depois, a festa é toda garantida...

Tirando a tua roupa, a lingerie
Garanto, a mais bonita que já vi,
Perfume de mulher tomando o quarto,

Depois vem a festança costumeira,
Banquete delicado e de primeira,
Até ficares farta, aí eu parto...


21287


Barrados? Nós já fomos nesta festa,
Disfarça e vamos nessa de fininho,
A gente vai levando o que nos resta,
Ficando quase sempre pianinho.

Não deu para comprar? Alguém empresta,
Se o jeito não for dado, quebro o ninho,
A calça na verdade, até que presta,
Ninguém vai reparar neste furinho...

Sem grana pra botar a gasolina,
Ponto de ônibus? Sei... Ali na esquina,
Na volta é que complica, mas tá bom,

Presente? Vê se embrulha com cuidado,
Comprei com o dinheiro do cunhado,
Uma caixa repleta de bombom...



21288


Se às vezes eu te ofendo é por amor,
Não quando desabando vens ao chão,
E bebo da maior ingratidão
Vivendo esta esperança com fervor.

Se eu tenho ou se não tenho o teu calor,
Não quero ser somente escravo não,
Odeio qualquer tosca escravidão,
Tampouco serei mestre ou teu senhor.

O prazo se acabando, é muito cedo,
Guardando com denodo este segredo,
Eu volto para casa ou fico aqui?

Senão errar o rumo, eu não me espanto,
Deitando feito um cão em algum canto,
Lambendo as tuas mãos, perto de ti.




21289


Perigo é te encontrar depois da festa,
Perigo é te encontrar depois da festa,
Chegando num carrão de madrugada,
A cara maquiada está borrada,
Da dama que saiu, já nada resta,

Às quatro bem chumbada inda se presta
A vir com esta história mal contada,
Vontade de te dar uma porrada,
Aumenta este sinal na minha testa...

E atestas com palavras mais audazes
Do que jamais pensei seres capazes
E trazes um presente duvidoso,

Depois da chuveirada? Vem meu bem,
Estou tão a perigo e sei que tem
Promessa do mais forte e belo gozo...



21290

Talvez fosse melhor eu ir embora
Não adianta muito estar aqui
Fazendo assim de conta que não vi,
Minha alma determina e até te implora,

Que quando houver certeza na demora,
Teimando se não vejo mais em ti
O que busquei na estrela em que bebi
Sem medo, sem juízo e até senhora.

Cercado de ironia, com sarcasmo,
No quase consegui mais um orgasmo,
A gente vai levando, e sem ter fé

Não tem mais solução, meu camarada,
Servindo de bueiro, na calçada,
Eu vou sempre de trem, mas nunca a pé...



22291

Servindo esta cabeça na bandeja
Servindo esta cabeça na bandeja
Seria da madame ou da menina?
Só sei que quando chega determina
Que eu beba mais um gole de cerveja.

Às sete, por favor, em casa esteja
Senão a coisa ferve e me alucina,
Não posso ter a sorte cristalina
Então que tudo mais conforme seja.

Tardando pra pagar este carnê
Eu quero procurar onde e cadê
Escondeste o danado do talão,

Não sou, até garanto, mais moleque,
Empreste meu amor, folha de cheque,
Eu pago com suave prestação...


22292


Vereda tropical, brasiliana
Queimando minha pele, bronzeada,
A moça mais bonita da enseada,
Será um travesti? Minha alma engana.

E a parte que me cabe é mais insana,
Não diz e na verdade quero nada,
Somente o visual da mulherada
Andando pela praia, isso é bacana.

Facilidades; tenho até no crédito,
Garanto até um soneto, mas inédito
Que fale desta crise mundial,

Comprando um automóvel destes flex,
Colando cada livro com durex
No fundo, brasileiro é sempre o tal...


22293

Comprei um telefone celular,
É coisa que se deve comentar?
Não posso me calar perante a plebe
Que tudo e nada sabe, e tudo bebe,

Vontade de chegar e de mostrar,
Danado pode até fotografar,
Mensagens todo dia ele recebe,
Enquanto a tribo inteira noutra sebe

Estou bem moderninho, com certeza
Só falta, meu amor uma surpresa,
Não falo de um espectro nem fantasma,

Agora vou pro mundo digital,
Meu verso com certeza, original,
Trará televisão, mas da de plasma...


22294


Vivendo deste mesmo pó de serra
Aonde meu avô, infância bela,
Sertão que das Gerais, ainda encerra
O quanto a vida trama em rara tela,

A estrela mais bonita é sempre dela,
Realce vai tomando toda a Terra,
E quando o amor sincero se revela,
Cabrito pra ser bom? Dizem, não berra...

Só sei que nada sei e não seria
Sem o pó desta velha serraria
Que entranha-se numa alma de menino.

Perdoe se eu encerro deste jeito,
Só sinto que talvez tenha o direito
De ter sorte melhor no meu destino...


21295

Cultura nacional é desdentada
Pior é que quebrou a dentadura,
Precisa-se, quem sabe de atadura,
Senão a vaca fica estropiada,

A velha poesia, uma piada,
Ainda sem lugar, teima e perdura,
Quem sabe se fazendo tanajura,
A boca da mulata arreganhada.

Não quero ser panaca e crer que um dia
A coisa vai mudar, deixa de papo,
Vivendo numa casa de sopapo,

Assim caminha a nossa poesia,
Velhusca esta banguela sem vergonha,
Já nem suporta o cheiro da maconha...



21296


Pegando os cacarecos que são meus,
Os versos escondidos na lixeira,
A boca escancarada e cuspideira
Os olhos sendo opacos são ateus,

Não quero direção, quem dera Zeus,
Pudesse ter a vida companheira,
Carinho escorregando da ladeira,
Dizendo simplesmente a mim, adeus..

No parto dolorido da partida
Aborto se pressente e se deseja,
E mesmo quando o bem pede cerveja

A morte está nas pedras escondida,
Herética poesia que disfarça
Teria essa elegância de uma garça...


21297


Sabia muito bem onde meter
O meu bedelho velho e tão sisudo,
Se ainda peço paz, se ainda ajudo,
Não posso mais, contudo, prometer.

E quero desde sempre o teu saber,
Embora eu acredite ser miúdo,
Nas tramas desta teia se eu me grudo
O pouco que já sei fará valer

No peso e na medida quase exato,
Exausta bailarina anda exaurida
Tomando fartos goles desta vida,

Não deixo sobrar nada no meu prato,
E quando vejo teu retrato assim,
Saudade faz a festa dentro em mim..


21298


No Constelar e puro coração
Se diz que não teimando sonha sim,
Seria este princípio quase o fim,
E enfim não tenho chance ou solução,

Aprazo qualquer rumo e direção,
Rasgando a poesia tão chinfrim,
Não posso ser nem quero querubim,
O ocaso em minha casa faz serão.

Plantei uma esperança, tolo fui,
E quando o desafio não influi
O tempo é de viver sem preconceitos.

Não tendo nem conceitos, por que pré,
Se volto ou se revolto, resta a fé
Conquistarei de novo meus direitos?


21299


Formas do amor? Deformam meus sonetos
Que embora sejam simples, sem futuro,
Olhando aquela casa sobre o muro,
Não tem qualquer refúgio, nem nos guetos.

Atalhos percorridos, brancos, pretos,
Ao fundo desta imagem que procuro,
O beijo salafrário, ainda juro
Matando o que restara: poemetos.

Serões e madrugadas, serenatas,
As atas impedindo esta heresia,
E quanto mais lutava, mais fazia

As moças do futuro são ingratas,
O corte sem juízo diz bom senso,
Eu ando na verdade, meio tenso...


21300


De virgens e de santas vivem cheios
Antigos cabarés que ainda existem
Na beira das estradas, toscos seios
Caídos, despencados, não desistem,

Enquanto tais fantasmas inda insistem,
Meninas mais audazes, com recheios,
Investem sem cuidado, até persistem,
Rapazes vão distantes, tão alheios...

Pensando numa moto ou cocaína,
Na tribo dos iguais a diferença,
E a gente no passado ainda pensa

E o verso sem ter rumo se destina
Ao velho disparate que pertence...
Tampouco ao que inda penso; ele convence.


21301


Imagens vaporosas do passado
Calçando os velhos passos de um poeta,
Remete ao temporal abandonado
Que um dia foi meu mundo e minha meta,

Palavra sem sentido e predileta
O amor por tanto e sempre maltratado,
Se no vazio apenas se completa,
Talvez ainda esteja bem ao lado

De quem não tendo alguém caminha só,
E bebe nesta estrada arcaico pó,
Sonetos em verdade são defuntos

E quero reviver falsas promessas,
E quando a realidade; recomeças,
Os erros se amontoam, todos juntos...



21302


No alvor de um novo tempo que começa
As cores e matizes; mais complexas,
Não passam de uma vã e tosca peça
Aonde; cores mortas, tu indexas.

As velhas poesias vão anexas
Ao termo de esperança em que se expressa,
Se as almas ficarão ou não perplexas
O tempo não pergunta e sempre estressa...

Agindo ou não agindo, ágil resto,
E quando frágil sonho; ainda empresto,
Talvez seja por crer que algum desvio

Permita que este rio desça à foz
Que guardamos – segredos- dentro em nós,
Um cofre com certeza mais vazio...


21303


Brilhos errantes passam pelos céus
E deixam como rastros, esperanças
E quando as noites trazem belas danças
Promessas no meu peito, fogaréus.

Arranco das estrelas claros véus
E embalo-me nos ritos das festanças
Enquanto mais distante sempre avanças
Cometas vagam cegos falsos léus.

Nas tramas das empíricas vontades,
Arcando com meus falhos sentimentos,
Espúrios com certeza tais momentos,

E quando meus planetas tu invades,
Vencendo as resistências mais ferozes,
Ouvindo das estrelas, suas vozes...



21304


Fui dar uma saída de noitinha
Mulher ameaçou cortar meu saco,
Não durmo há mais de mês, fiquei tão fraco,
Tá bom, pena quem tem é a galinha.

Mas se eu juntar a fome que já tinha
Com a que agora estou eu como um naco,
Sinuca não se joga sem ter taco,
Macaco sem cumbuca, não se alinha.

Termino desmembrando este soneto
Petrarca vai dar pulos no seu túmulo,
Também cortar as partes é o cúmulo,

Eu juro que não saio mais, prometo,
Mas mesmo assim peixeira está brilhando,
Batata do meu saco? Eu sei... Assando...


21305


A vida passa nesta parabólica,
Mentiras e verdades que se fundem,
Por mais que tantas coisas já me inundem,
Televisão demais causando cólica.

A fonte de energia sendo eólica
O vento com o fogo se confundem,
Por mais que ventanias sempre abundem,
A fé não será só crente ou católica.

Eu tento disfarçar usando rimas
E teimo com as pernas primorosas,
Das moças que não foram minhas primas

Tampouco freqüentaram minha casa,
As horas se passando vaporosas,
Relógio desgraçado não se atrasa...


21306


Andando pelas praias nordestinas
Olhando mais de perto, Fortaleza,
Promessas de delícias, tu me ensinas
Aonde se encontrar tanta beleza?

A praia do Futuro, com certeza,
Enquanto faroleira me fascinas,
Vislumbro com perícia e com destreza,
Sotaque caprichoso das meninas...

Comendo uma lagosta à beira mar,
Visão maravilhosa; adivinhar,
Sonhando com areias fabulosas,

Porém o telefone me acordando,
Calor aqui está já sufocando,
As fantasias sempre caprichosas...


21307

Queria estar na Barra da Tijuca,
Tomar uma batida lá do Osvaldo,
E quando o sonho; assim inda desfraldo,
A sorte vai ficando mais maluca,

E quando a fantasia me cutuca,
Não tendo na verdade mais respaldo,
Bebendo guaraná, tomando um caldo,
Leitão quando mineiro, à pururuca...

Seria uma mistura muito boa,
A vida aqui na roça e na Lagoa,
Um tempo pra sonhar outro é trabalho,

Vivendo deste jeito, galho em galho,
Um pássaro liberto não quer grade
Conhece muito bem felicidade...

21308


Saudoso de teus lábios; fiz dos versos
Um meio pra chegar perto de ti,
E quando percebi estava aqui,
A deusa dos milhares de universos,

Porém os sonhos foram tão dispersos,
Que após esta ilusão, eu me perdi,
Bem sei o quanto tudo mereci,
Por atos sem juízo e tão perversos.

Não creio, mas não custa isto tentar,
Embora possa haver sob o luar
Romântica paisagem, cristalina,

A chance de encontrar quem já se foi,
Saudade, ruminando feito um boi,
Sem ter qualquer defesa, me domina...


21309


É duro perceber que a poesia
Definha-se morrendo devagar
E tome no lugar tal porcaria
Funkeiros pelas noites a bailar...

Quem dera se eu fizesse melodia
Falando para a bunda arrebitar,
Dinheiro e mais dinheiro ganharia
Emeci tá com tudo e vai lucrar.

Só sei fazer soneto, grande bosta,
Eu sei existe gente que inda gosta
Meia dúzia de três ou quatro ou cinco.

Mas vou tentar mudar, isso eu garanto,
Fazer aula de dança e até de canto,
Prometo para o caso, muito afinco..



21310


O amor quando se faz com ironia
E doses cavalares de sarcasmo,
Deixando um cidadão decerto pasmo,
Matando em nascedouro a fantasia,

Aborto da esperança e da magia,
Não vale com certeza algum orgasmo,
E passa em simples tédio, este marasmo
É tudo o que em verdade eu não queria;

Até que era bonita a desgraçada
Que um dia se fez Musa e noutro peste,
Um solo que pensara fértil, deste;

A terra com carinhos adubada,
Depois de semeada, é que se fez
Numa invernada plena essa aridez...


31311


Preparo uma viola sertaneja
Ponteio uma saudade, sob a lua,
E tudo o que minha alma mais deseja
A dona destes olhos, toda nua.

Esquina dos pecados, já lateja
E a vida sem juízo continua,
A boca se assanhando quando beija,
A gente levitando em paz flutua...

Fazendo serenatas, vez em quando,
Assim a minha vida eu vou levando,
Quarando uma esperança na janela

Da moça que não abre nem por raio,
Depois vem simulando algum desmaio,
Pensando que com jeito me engabela...


21312


Alvíssaras ao sonho que se deu
E foi realizado não sei como,
Apenas vou vivendo cada tomo
E o livro se fechou, ou já morreu.

A base disso tudo, amor tão meu,
Aos poucos gole a gole, bebo e como,
As doses da aguardente que ora tomo
São poucas pra quem tanto já bebeu.

À parte do que ainda faço ou fiz,
Deslizes são comuns. Mas sou feliz
Vivendo o que me resta desta forma,

Sem nada procurar ou mesmo crer,
No tudo que não tenho, vou perder
O resto; pra seguir eterna norma...



21313


No quadro que pintaste minha face
Disfarces; inventaste, ainda bem,
Por mais que esta feiúra ainda embace,
No fundo, a realidade não convém,

Tomando da entidade mais um passe,
Não perco a minha linha nem de outrem,
Se o vento pela porta não entrasse
Calor tão sufocante; à tarde vem.

Menina a minha sina é ser assim,
Um torto que se entorta e não tem fim,
Torturas de um amor; eu reconheço

Que a culpa sendo feita de omissão,
O termo deste sonho é solidão,
Que por enquanto errou meu endereço...


21314


Bicudo com bicudo não dá certo,
Se o jeito é cair fora, me dei bem,
Sujeito na verdade sabe quem
No fundo não bancando mais o esperto,

A praia; desde já, vazo e deserto,
Enquanto o quanto tento o tempo tem
Mineiro de verdade, segue o trem,
Olhando nem de longe e nem de perto.

No aperto vou seguindo novo rumo,
Aos poucos se der certo, já me aprumo
E pago as minhas contas com Meu Deus,

Mas se morrer depressa, por favor,
Enterro de primeira é sem valor,
Já basta para mim, simples adeus...


21315


A moça xexelenta não sabia
Levanta no começo, depois cai,
Nem mesmo se pedir ao Grande Pai,
O que resolve, amada é cirurgia.

A porta em que se adentra já se abria,
Depois que entrou se ferra e nunca sai,
Vassoura sem cuidado se distrai
A bruxa preparando uma magia

Que possa melhorar o acabamento,
Mas tudo nesta vida tem limite,
É bom saber de fato este momento

Senão cai no ridículo, querida,
Okay já não aceitas meu palpite,
Que eu vá cuidar então da minha vida...



21316


A praia tão distante, fina areia,
Aqui calor imenso que me escalda,
Enquanto a fantasia se desfralda
Apenas solidão inda incendeia,

Tomando a vida inteira pela veia,
A cada novo sonho, nova lauda,
Nos braços de uma Musa, alma esbalda
E o tempo, fogaréu imenso ateia...

Na boca desta sorte, falso riso,
A morte não se deu por descuidada,
E vendo que afinal não terei nada,

Arcando com o velho prejuízo,
As contas, afinal, não acertando,
O tempo se escorrendo e me matando...


21317


Passando pela rua, rebolando
A Musa dos meus sonhos se fez quenga,
Ano que vem, talvez não saiba quando,
Acabo resolvendo esta pendenga;

Beleza sem igual, se transformando,
Já não suporto mais tal lenga-lenga,
O beiço sem cansaço balangando,
Assim terminarei quase capenga.

A peste da danada não tem jeito,
Empina na calçada a bunda e o peito
E adora quando chamam de gostosa,

Mulher toma juízo, e então se manca,
Não vai ficar aí botando banca,
Que a fama é coisa muito perigosa...


21318


HORAS RUBRAS

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...

Oiço as olaias rindo desgrenhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p’las estradas...

Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...

Sou chama e neve branca e misteriosa...
e sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

Florbela Espanca

Tu és a alva manhã pós noite escura,
Teus beijos os meus sonhos, meus ardis,
Se em ti completamente sou feliz,
Termina desde já ânsia e procura.

A chama tão profusa já perdura,
Em meio a temporais, nada desdiz
O quanto em ti me entrego, e peço bis,
Voluptuosamente, esta loucura.

Senhora dos meus sonhos, lábios quentes
Os meus desejos sendo mais ardentes
Expressam tal amor quase demente,

A sorte tecelã nos conduzindo
Ao plácido remanso, imenso e lindo:
Os beijos que me deste, de repente...


21319


Descrevo o pensamento como uma ave
Que segue pelos ares, seu destino,
E enquanto o coração tolo menino,
Buscando um grande amor, sensível nave,

Não tendo mais sequer o que me trave,
O medo já distante eu me fascino,
E singro este oceano, determino
Futuro que me espera, nada agrave

Tampouco esta discórdia que se dá,
Nas águas deste rio, bebo o mar
Salgando lacrimejo desde já

O bem que se transforma em vago anseio,
Querendo a cada tempo desfrutar
O quanto te desejo, sem receio...



21320


Procuro pelos campos e coxilhas
Aquela a quem a vida determina
Que seja dos meus sonhos fonte e mina,
Enfrento as mais difíceis armadilhas,

E enquanto vejo à noite maravilhas,
O belo céu pampeiro me fascina,
Se trago na guaiaca esta menina,
Seguindo passo a passo tuas trilhas,

Chegando num segundo ao teu Guaíba,
O pensamento em glória já se arriba
E a sorte se desnuda totalmente,

Estrela fascinante que me guia,
Trazendo farto amor em poesia,
Nem mesmo o tempo amargo, amor desmente...



21321


Xícaras de antiga porcelana
Pintadas pelas mãos da maga artista,
Jogadas pelo chão, você se engana,
Não vou mais reclamar nem dar na pista.

Se tudo não termina, veja e assista
A morte desta luta tão insana,
Não sou e nem serei um pugilista,
Também não bancarei algum banana,

Você sabe o que quer? Eu também sei,
Por isso minha amada, eu me mandei,
Não deixo nem recados, nem conversas.

As horas que passamos? Foi tão bom,
Porém amar é mais que um simples tom,
O dom de unir metades tão dispersas...



21322


Ainda sob o efeito deste gim
Que nada poderia ser diverso
Do verso que talvez tivesse o fim
De unir um mundo ao outro, no universo.

Se tudo o que mais temo, segue assim,
Apenas sobre um sonho ainda verso,
Sem aversão nenhuma, sem clarim,
Atando curativo, o tão disperso.

Perene é a solidão de um marinheiro,
O quanto quis metade ou mesmo inteiro
E nada tendo morro assim, vou só.

E quando não houver nem mais o riso,
Sarcásticos momentos, eu preciso,
A vida, esta tratante, não tem dó...



21323


Fizesse uma oração a Ti, Senhor
Aonde eu poderia me expor mais,
Sem ter qualquer vergonha, e sem pudor,
Mostrar os meus defeitos; são demais...

Um tolo e repetido pecador,
Que bebe da esperança sem jamais
Calar o que transforma amor em dor,
Imerso nos imensos carnavais.

Nos festivais de cores e de sexo,
A vida com certeza perde o nexo,
Aprisionado sigo, e tais grilhões,

Amaldiçoam toda a minha vida,
Há tempos, sem limites e perdida,
Entorna-se em diversas direções...

21324


Acaso se vieres não se esqueça
Que a morte não demora e chega aqui,
Lembrando meu amor, sempre de ti,
Não sai a tua imagem da cabeça.

Por isso, por favor, belezas; teça
E faça deste mundo que perdi
Aquele que em detalhes eu pedi,
Venha o que vier e me aconteça.

Sabendo que este tempo é muito curto,
Expulso os meus demônios, sonhos curto
E vivo por somente fantasias...

Não quero a realidade tão venal,
A morte se aproxima, triunfal,
Que ela me deixe aqui por mais uns dias...


21325


Quisera no Natal velhos presépios,
Aonde via o pobre do bebê
E agora só comércio é que se vê
Nas ruas multidões de tolos ébrios.

Num épico que passa na tevê,
Os métodos cruéis; em tons mais sépios
Por séculos e séculos, intrépidos
Pastores, com ovelhas, mas cadê

O espírito do Deus perdão e amor,
Modernos vendilhões com um palhaço,
Barbudo e velhusco vendedor,

Com saco atrás das costas e veados,
Do menino não sobra sequer traço,
Vendidos pelas ruas e mercados,


21326


A vida determina cada passo
Na busca interminável pelo dia
Em que felicidade num compasso
Domine com certeza a fantasia,

E sendo sempre assim, procuro espaço
E viva a libertária poesia,
Usando o dom divino cada traço
Trará ao peito amigo, uma alegria.

Ousando ser feliz, mergulho em ti,
E bebo do universo que me deste,
Ao tempo de sonhar, calor empreste

E viva tanto amor, querida aqui,
O verso traduzindo o quanto é bom
Do amor; nascer, crescer, viver o dom...



21327


Mandaste este recado que recebo
Através desta tela ou monitor,
Falando com carinho deste amor
Que também com certeza quero e bebo,

O quanto de beleza em ti concebo
Raríssima presença de uma flor,
Voando libertário, este condor
Com a alma com a qual mundo eu percebo,

E vejo com olhares da paixão
O quanto é necessário sem senão
Viver intensamente este momento,

Assim vou velejando, peito aberto,
Distâncias gigantescas; não deserto
Apenas liberando o pensamento...



21328


Espírito que levo dentro da alma
Moleque tão safado e sem paragem,
Levando a vida numa sacanagem,
Somente algum sorriso me traz calma,

A vida é conhecida em cada palma,
O resto, diz cigano; uma bobagem
Se a gente fosse agente, molecagem,
Garanto não teria nenhum trauma.

Perdendo antigas rédeas, carruagem,
O resto que aprendi foi traquinagem,
Seria muito bom, desde menino

Se esse espírito fosse diferente,
Porém o que fazer; fala-me gente,
Se o que levo comigo é tão suíno...



21329


Perplexo; perfaço o meu caminho
Deixando qualquer pista que me valha,
O corte mais profundo da navalha
Esqueço no começo, perco o ninho.

O beijo que ganhei, larguei sozinho,
Tolice é qualquer coisa que atrapalha,
Cigarro pra ser bom tem boa palha,
Deixa cantar em paz o passarinho

Sem grade e sem gaiola, meu amigo,
Queria era saber, fosse contigo,
As asas não servindo para nada,

Também não botar sequer um freio,
Eu ando sem ter pressa e sem receio,
Até que a perna fique mais cansada...



21330


Plantando bananeira vida afora
Vivendo no equilíbrio que dá pé,
Depois vê se me faz um cafuné,
Que teu benzinho, amada, sempre adora...

Quem sabe e quer fazer? Nunca faz hora,
A gente vai levando, é muita fé,
Às vezes sem manteiga e sem café,
Qualquer prazer diverte. Sim, senhora.

No quadro dos enganos tenho vários,
Alguns eu escondi nos meus armários
Os outros tão na cara. É fácil ver.

Cumbuca está vazia? Tanto faz,
Não sou nenhum boçal, nem tão audaz,
Não entro neste jogo pra perder...



21331


Beócios energúmenos, panacas
Pernósticos terríveis idiotas,
Enquanto desfilando velhas rotas
Parecem num navio, toscas cracas,

Carrego a minha cruz, mas sem inhacas
Nem mesmo vou abrir estas compotas,
Senão arrisco ter estes marmotas
Usando das palavras como facas.

Só sei que nada sei dizia o sábio,
E o tolo sem usar seu astrolábio
Perdendo a direção causa naufrágio.

A besta que se diz mal arriada,
No fundo meu amor não diz é nada,
Pagando pra viver terrível ágio...



21332


Se eu fosse visão clara e transparente
De alguém que tu quisesses ou que queres,
A festa se servindo em tais talheres
Seria até um banquete, de repente.

Mas quando o sonho mostra-se cadente,
E o verso não traduz o que quiseres
Ainda no talvez se tu vieres
O mundo sonegando enquanto mente.

Não encontrei sinais de vida aonde
Pensara que existisse algum propósito,
E a cada novo passo outro compósito

Perdendo na saudade, o velho bonde
Que outrora se fez tanto e nada veio,
Senão do amor o medo e o vil receio...


21333


Alguém que veio mundo há tantos anos
Devia já saber das armadilhas,
As almas mais simplórias, seus enganos
Comuns, mas não viveste só em ilhas

Os erros com certeza são humanos,
Mas não se entregam sonhos às matilhas,
Se fossem tão pequenos os teus danos...
Erraste de caminho em toscas trilhas

Quebraste a tua cara em mil pedaços,
De ti já não sobraram sequer traços,
E ainda agradeceste, ó imbecil,

O amor, uma arapuca sem tamanho,
O jogo imaginário jamais ganho,
Sobrando para o otário, sempre o grill...



21334


Cultura brasileira? Um piriri,
A culpa, companheira eu sei que é nossa,
Cavalo é que carrega uma carroça
O dono ganha a ganha e nem taí.

De tudo que hoje eu vejo, percebi,
Ninguém bota moral, só segue a joça,
Melhor é capinar em outra roça,
Futuro igual ao dessa, eu nunca vi.

Fazer soneto então; uma heresia,
Quem dera fosse assim um bóia fria
Talvez fizesse letra de pagode,

Melhor ficar calado e dar no pé,
Lugar de forrozeiro: arrasta-pé,
Senão isso complica e vai dar bode...


21335

Fogosa maravilha feita em paz,
Serena fantasia que me acalma,
Do quanto amor se mostra mais capaz
Domina com certeza um corpo, uma alma...

Sacias as vontades e eu as tuas,
Numa cumplicidade estonteante,
Na rara claridade de mil luas,
Estou sempre contigo, a cada instante,

Viver é poder ter esta certeza
Do amor que não termina e nos conduz,
Cercando com carinho e com presteza,
Trazendo nos seus olhos, farta luz,

Deixando para trás os espinheiros,
Carinhos que trocamos, verdadeiros...


21336


Eu sei quanto és pacífica querida,
Mas nunca acreditei fosses passiva,
Uma alma delicada e sempre viva,
Jamais se encontrará, assim perdida,

Alçar o paraíso, uma avenida
Que passa por teus braços, doce e altiva,
Do amor que se deu tanto não se priva,
Sendo ele a base sólida da vida...

Eu quero estar contigo a cada instante,
Vibrando com prazer tão delirante
Ao qual o ter acesso é primazia,

Estrela que em sereia se transforma,
Divina e maviosa, em plena forma,
Na ardência que este sol belo irradia...



21337



Do sonho que vivemos; lindo e claro,
Eu bebo uma esperança a cada dia
E sempre que puder, amor declaro
Em forma de canção, ou poesia,

Tu és a minha estrela e meu amparo,
O teu caminho manso, já me guia,
Levando ao Paraíso calmo e raro,
Aonde encontro a paz e a fantasia.

Mas sei que deveis ir, não vou contê-la,
O céu sendo o destino de uma estrela,
Ao acordar, jamais irei te ver,

Eu agradeço ao Pai por ter me dado
Este prazer imenso de estar ao lado,
Da deusa que em amor eu pude ter...



21338


No mundo, ando perdido sem um porto
Aonde possa ao menos descansar
O corpo já cansado e quase morto,
Na luta contra o céu, e contra o mar,

O velho marinheiro segue torto
Bebendo das angústias, por amar
Além do que devia, jaz absorto
Pensando numa forma de encontrar

Sereia que se fez em nua areia,
E agora se afastou do antigo ilhéu,
Vagando por estrelas, vai ao céu

E incendiando o sonho, em tudo ateia
Imenso fogaréu, virando estrela,
Aonde conseguir segui-la e vê-la?


21339


No quanto depender da poesia
Não vejo mais motivos pra sorrir,
A coisa complicando dia a dia,
Ninguém conseguirá mais impedir

Assim se morre aos poucos, fantasia,
Contaminando todo o meu porvir,
Não sei como este mundo mau seria
Se o sonho inda existisse, e há de vir...

Porém quando chegar, decerto o fim
Meus olhos já terão presenciado;
Profético fantasma anunciado,

Quem sabe o derradeiro querubim,
Rompendo estas correntes e as algemas,
Trará em suas mãos, belos poemas...


21340


Sem luvas de pelica e sem frescuras,
Eu vou seguindo a vida mal e mal,
Qualquer motivo; eu faço um carnaval,
Prometo qualquer coisa até loucuras,

Entendo as tuas duras desventuras,
Porém se não levanto o meu astral,
O que dirá do teu? Subo o degrau
E morro sem remédio; busco curas.

Quem sabe numa reza ou talvez passe,
Acabe com certeza triste impasse
E passo a poder ter por sobremesa

Manjares que comi, faz tanto tempo,
Supero com terror tal contratempo,
A morte sempre agindo com destreza...




21341


Oferecendo a face espero quieto,
Não pude confessar, mas hoje posso,
E enquanto em fantasia velho inseto
Não passo na verdade deste troço.

Andando pelas ruas, peito ereto,
No fundo sei que sou simples destroço,
Impávido bufão; já nem me aquieto,
Se for preciso, em público eu engrosso.

Vivendo assim do avesso, sou o fim
Na espera do começo que há em mim,
Espero que dê tempo, mas não há,

Decerto o meu caminho revertido,
Iniciando sempre com o olvido,
A estrela que me guia, morrerá...


21342


Eu conheci o bonde das ousadas,
E aí eu me dei bem, até que enfim,
O mar está pra peixe e para mim,
Gostei das piriguetes mais safadas;

As bundas para cima, arrebitadas,
Baixando até o chão, acho que assim
Eu vou poder fazer bem ou ruim,
Seguindo com firmeza tais estradas...

A turma das novinhas faz sucesso,
Do batidão eu gosto e te confesso
Que no princípio tive preconceito,

Depois que vi a moça melancia,
Gostei da brincadeira, isso vicia,
Na vida desde agora dei um jeito...


21343

Capaz de cair neve no sertão
Galinha criar dente, com certeza,
O Botafogo ser o campeão
Jaburu ganhar pela beleza,

Atropelar a moça, um avião,
Eu escrever com fé, pura destreza,
Maria Antonieta comer pão
Brioche pra quem vive na pobreza.

A moça disse sim, topou sair,
Alívio e até milagre, reconheço,
Mudando a minha crença no porvir,

Acendo cem velas se preciso,
Permita que não erre este endereço;
É o que estava faltando... prejuízo...


21344


Em sonhos, cavaleiro; também fui
Usando das ciganas montarias,
Vagando por estrelas, sóis e dias,
O tempo na verdade nada influi,

E quando a poesia, mansa flui,
Fomenta as mais sublimes fantasias,
E tanto quanto os beijos que querias
Castelos do passado, a história pui.

Não resta sequer vento ou mera brisa,
Agora a realidade toca e avisa
Um fardo a carregar; a solidão...

Pudesse ter um terno mais moderno,
O mundo talvez fosse bem mais terno,
Cavalo galopando na amplidão...


21345


Numa tarde de maio quase junho
O vento balançando este arvoredo,
Do amor ao decifrar simples segredo,
Apenas do vazio, o testemunho,

E quando uma esperança em vão eu cunho
O tolo coração treme de medo,
E novamente, estúpido, concedo
O olhar sem horizonte corta o punho

E sangra todo o sonho que viria,
Cruel e sem motivo hemorragia
Secando a velha fonte onde buscara

Algum momento apenas em que a vida
Não se mostrara feita em despedida,
Saída que a verdade desabara...


21346


Dos anjos, proteção é o que desejo,
O passo vacilante diz tropeço,
Se tanto quanto amor eu não mereço
Ao menos de um carinho algum lampejo.

O nada no futuro enfim prevejo,
Não tendo mais paragem e endereço,
O todo de minha alma eu te ofereço,
E a paz tão cristalina, até almejo;

Mas sei quanto é difícil abrir a porta,
Se a minha sina cada vez mais torta
Apertando o meu cinto, a queda é certa.

No arcaico quadradismo de um soneto,
Um novo amanhecer busco e prometo,
Mantendo esta janela sempre aberta...


21347


No quase fiz o tanto necessário
Pra que não fosse o tempo já perdido,
Por todos os insetos; demolido,
Fugindo para dentro deste armário,

Não posso ser poeta ou mercenário
Apenas o que quero é teu ouvido,
E se possível ter tua libido
Num jeito fabuloso, forte e vário.

Mulher que deusa e dama, quenga e puta,
A santa mais safada e tão audaz,
Além do imaginário sei que faz,

Pra tanto se mostrando mais astuta,
O verso te tocando te cutuca,
E o coração poeta já batuca...


21348


O tempo diz de todo temporal
Que embora ventania, quer bonança,
E quando o ser imenso, uma criança
O verso faz da brisa vendaval,

Querendo para amor simples aval,
No quadro é necessária a confiança
E quando a sorte chega e me afiança
Ao menos garanti meu carnaval.

Cavalgo sobre estrelas, se preciso,
Não tenho e não terei paz e juízo,
Cadenciado passo? Sou galope...

Por isso não trotando sou tratante,
Salvando o que inda resta; delirante
Bastando ao belo sonho que amor tope...


21349



Se mal sei quem eu sou como tu queres
Que eu saiba das andanças e dos ganhos,
Os dias que passaram são tamanhos,
Os versos são da forma que vieres,

Não pude ser tenente nem alferes,
Meganhas e mercados, alcoóis, banhos,
Nas costas e nos olhos, velhos lanhos
A sorte dividida entre mulheres.

Um estradeiro e tonto coração,
Batendo sem juízo no meu peito
Se eu perco ou se não perco, uma razão

É feita com bom senso e claridade,
O que jamais eu fiz está desfeito,
Distante da lembrança, a realidade...


21350


Tu foste para mim quase um enigma
Indecifrável até, loucura e riso,
Um passo em direção ao impreciso,
O corte em minha pele, velho estigma,

Vai de alfa chegando a Omega, beta e sigma,
Universo infinito, paraíso,
Queria ter talvez razão e siso,
Sem compressão direta de um esfigma,

E o magma toma conta dos meus versos,
Relevos tão diversos, vales, montes,
Olhar impenetrável, horizontes,

Momentos variados e dispersos,
Apenas um segundo e volta à cena
A antiga cicatriz que ainda apena...


21351

Sobre o meu peito intacto o brilho raro
De um astro que revela esta pureza,
Bebendo da alegria e da tristeza,
Fazendo do meu verso, desamparo,

Ardência de ilusões, fartura e mesa,
O medo sem propósito, no faro,
Faroleiro buscando um ponto claro
Da vida tanta dádiva e defesa.

O quanto se fez tanto e nada sobra,
A vida no futuro sempre cobra
Os juros e as mentiras, velhos riscos,

E a estrela que me guia, segue ao Sul,
Num brilho extasiante, em pleno azul,
E a lua prateando os meus hibiscos...



21352


Cavalgando cigano coração
Chegando num segundo ao azul céu
Galope sem destino ou direção,
Montando a vida inteira este corcel

Que tantas vezes chamo de ilusão,
Vagando paraísos, sempre ao léu,
Estrelas e galáxias, amplidão,
Apenas o infinito, extenso véu

Limita o cavalgar; e o peito aberto,
No etéreo transformado num deserto,
Oásis de esperanças; sonho cria,

Selando este rocim; alço o impossível,
O mundo que desvendo é sempre incrível,
Montado no cavalo fantasia...


21353


Um dia imaginei poder voar,
As asas fornecidas pelos sonhos,
Às vezes insensatos ou medonhos,
Mas sempre libertários, céu e mar,

Limites que eu queria desvendar,
Caminhos tão diversos e bisonhos,
Quem dera fossem todos mais risonhos,
Tristeza não teria algum lugar.

A dor dos espinheiros, pedregulhos,
O som das ventanias e marulhos,
A boca que num beijo se fez minha.

Assim, a poesia se fez asa,
Enquanto ardia feita intensa brasa,
A dura realidade me continha...

21354



Talvez percebas Deus, o Criador
Que não é criatura, o ser supremo,
Não sei se existirá pecado ou Demo,
Prefiro me entregar ao puro amor.

Se há vida em outra esfera, riso ou dor,
Para ser bem sincero, isso eu não temo,
Efêmero viver, mas jamais tremo
A morte nos renova grão e flor.

Apenas que Ele existe, isso eu garanto,
Do nada não surgimos, com certeza,
Tampouco por acaso, causa espanto

Tamanha coincidência, vida e morte;
Assim reinando sobre a natureza,
E nela Se fez fim, princípio e aporte...


21355

Distante de meus braços, mas te sinto
Tocando tua pele em pensamento,
Por vezes imagino algum momento
Apenas devaneios ou instinto.

Embriaguês de gim, vinho ou absinto,
Demência ou quem sabe o sentimento
Num misto de tortura feito alento
Num quadro tão diverso, amor eu pinto.

E sei que não estás, mas hei de tê-la
Fugaz ou permanente, uma estrela
Ou simplesmente algum cometa; ao menos...

Que parte e voltará, mas sei que vem,
Olhando em minha volta, só ninguém,
Inebriado bebo teus venenos...



21356


O jogo vai chegando ao seu final
E dele poucas coisas vou levar,
O beijo que roubei num ritual,
A noite maviosa de luar,

Um sabiá cantando, triunfal,
O rosto da mulher que quis amar,
Talvez algum momento em carnaval,
Ou mesmo uma cerveja em algum bar,

Mas; sobretudo, levo esta impressão
De que já vou tarde; embora creia
Que ainda possa ver a lua cheia

Quem sabe alguma luz nesta amplidão
E o circo desarmou sem espetáculos.
A morte se aproxima em mil tentáculos...


21357


Não quero mais saber dos falsos risos
Que às vezes reproduzo em ironia,
Tampouco irei falar da valentia
Se os movimentos são tão imprecisos;

Abismos vou cavando sem avisos,
Morrendo pouco a pouco, mas valia
A vida de um poeta em poesia
É um erro tão absurdo, faltam sisos.

Escavo com meu pé preso a grilhões
Açoita-me a vontade de poder
Ainda resistir; Mal posso ver

Entrando nestes loucos turbilhões,
Marasmos e sarcasmos, pasmos medos,
A terra cobrirá os meus segredos...


21358


O tempo se esgotando e o coração
De tanto que se deu, resolveu ir,
Não tenho mais vontade de impedir
Mudando simplesmente a direção.

Ao pó retornarei, levo a lição
De quem amou demais e sem porvir
Distante de algum cais, não posso vir,
Atrás ficou a minha embarcação;

Uma alegria ao menos, eu carrego,
O vento no meu rosto, o sal e o sol,
No olhar da minha amada este farol,

E teimo, na verdade não sossego,
Correndo atrás do tempo que não tenho,
Fazendo da poesia o meu empenho...


21359


O fim se aproximando a cada dia,
Não levarei sequer uma lembrança
Não resta para mim esta esperança
Que às vezes o final decerto adia

Só deixo alguma arcaica poesia,
O tempo sem se ver correndo avança
O amor, eternamente em aliança
Jamais deixou a noite amarga e fria.

Meus filhos quase nada sabem sobre
Aquele que se deu e que se cobre
Usando esta mortalha enegrecida

Tomada pelo tempo, no abandono,
Apenas do meu corpo, ledo dono,
Deixando para trás sinais de vida...



21360


Guerreiro se cansando das batalhas,
Pior é conhecer o seu destino,
A culpa sendo minha. Em erros, falhas,
Completo e sem limites desatino.

Carrego o imenso peso das cangalhas,
O que virá se mostra cristalino,
Enredo-me sem dó em frias malhas,
Porém, a simples pena eu abomino,

Vencer a guerra como se não tenho
Sequer a força toda para o empenho
E o coração claudica, os pés inchados.

O corpo que eu conheço e me conhece
Aos seus próprios caminhos obedece.
Os dias com certeza estão contados...



21361


Adeus e nunca mais verás meu nome,
Imagem do passado, simplesmente
Que aos poucos da memória, inteira some,
Não resta nem resíduo em tua mente,

O quanto fui feliz, já não importa,
Agora a minha vez é de partir,
Não deixe mais aberta a velha porta,
Trancada desde agora até o porvir

Separe os meus guardados na gaveta,
E bote fogo em tudo, nada vale,
Partindo como fora algum cometa
Que morre atrás o monte sobre o vale,

Apenas um momento e nada mais,
A voz não se escutando, pois jamais...


21362


Se quando tu me vires na partida,
Não pense que estarei em sofrimento,
A vida não é mais que um vão momento,
Importa se em verdade é bem vivida,

Na vívida expressão tão dolorida,
O amor se fez a base de um ungüento
E a tempestade ao fim; amada, agüento
Levando a minha sorte de vencida.

Não salgue mais as águas deste rio,
Permita que eu escorra até a foz,
Não faça da alegria um desafio,

Pavio vai aos poucos consumido,
E enquanto for mais forte a tua voz,
O amor não será triste ou esquecido...


21363


Há tanto que retrato o sonho vão,
Agora que o final já se aproxima
Usando com vigor a minha rima,
Eu peço se ofendi, o teu perdão,

O quanto diz de tudo o coração,
Abençoada vida belo clima,
E quando ela se vai, minha auto-estima
Despenca de uma vez, e vai ao chão.

Dizendo o que pensava muitas vezes,
Eu pude ser feliz, jamais quis reses,
Um dia após a velha tempestade

Talvez alguém se lembre do meu nome,
Não quero ser lembrado com renome,
Apenas sonhador; vã liberdade...


21364


E tudo em nome dela, a poesia,
Que sabe conquistar como ninguém,
Trazendo com cuidado a fantasia
Que aos poucos nunca falha e sempre vem,

Deixando para trás melancolia,
Cantá-la se preciso for, também,
Nas mãos de quem escreve; esta magia
A qual eu já contenho e me contém,

Refém do vício sacro e fabuloso,
Não vejo outra saída. O labirinto
Deveras tantas vezes caprichoso

Professa a maravilha mais dileta,
Que em glória, companheiro, eu quero e sinto,
Gritando à plena voz: Eu sou poeta!




21365


Meus olhos são campônios que, cansados
Após uma colheita sem sucesso
Tentando uma alegria que, confesso,
Não vejo nestes campos mal cevados,

Vencido sem poder usar arados,
A carne se apodrece e recomeço,
Palavras sem cuidado nunca meço,
Os dias que busquei, seguem nublados...

Talvez bebesse um gole e aliviasse,
Mas sigo desta forma neste impasse
Vestígios que encontrei, sonegam fatos.

Respiro a podridão, vapor e lava,
Minha alma em cativeiro segue escrava,
E a morte se servindo em finos pratos...


21366


Quando ao entardecer canta a cigarra,
Espalha no quintal um som intenso,
A sorte nos espinhos já se agarra
No amor que nunca veio, ainda penso,

A boca não me beija em vão escarra
E o verso que inda teimo, segue tenso,
Na dura realidade o sonho esbarra,
Do quanto fui vazio, eu me convenço.

Ao longe esta cigarra anunciando
A voz da primavera e num momento,
A noite se aproxima em ar mais brando,

Mas sei ser ilusória tal figura,
A lua me trazendo este tormento,
Borrasca se disfarça em vã brandura...



21367


Ditosa fantasia; quem soubera
Dizer e decifrar frágil oráculo,
A sorte me prendendo em seu tentáculo,
Expressa o meu quinhão de primavera;

Mas quando se demonstra dura e fera,
Refaz desde o princípio este espetáculo,
Buscando aonde houvesse um tabernáculo
Renovada esperança enfim se gera.

Mas sei que desditoso nada levo,
E mesmo sobre a pedra ainda cevo,
Atrevo-me a buscar felicidade,

Na vasta imensidão deste vazio,
O verso se transforma em desafio,
E apenas solidão, tomando invade...


21368


Espadas invisíveis penetrando
A pele, a estraçalhar os meus quereres,
Num misto de sofrer e de prazeres
O fogo nos queimando mesmo brando,

O mundo em fantasias desabando,
Na festa as iguarias sem talheres,
No doce olhar profano, estas mulheres
Os olhos de um poeta decifrando.

A pele adocicada diz venenos
E neles me inebrio, sonho amenos,
Mas são terríveis sempre que inoculas

Osculas minha boca escancarada,
E quando vem surgindo a madrugada
Com risos, gargalhadas, tu maculas...


21369


Meu coração é tola borboleta
Que há tempos da crisálida se fez,
Numa esperança tosca este cometa
Partindo pro infinito de uma vez,

Mordaz, à realidade não prometa
Assim já se completa a estupidez
Secando todo o leite desta teta,
Não restará ao peito, a cupidez...

Verdades escondidas sob as mesas,
Não creia nos fantasmas nem nos santos,
Momentos de alegria não são tantos,

Assim como são raras as belezas,
Apenas desenganos são freqüentes,
E os braços mesmo fortes, impotentes...


21370

O tempo em sua teia nos prendendo,
Não deixa que respire livremente,
Por mais que ainda creia na semente,
A vida pouco a pouco se perdendo.

Em minhas mãos vazias nada tendo,
A história se repete e sempre mente,
Por mais que a poesia inda freqüente
Segredos; não concebo e nem desvendo.

Ouvir a voz do vento, ter a paz
Na imensa limpidez de um lago manso,
Aonde poderia ser remanso

Apenas tempestade, a vida traz,
E vejo que após tudo, nada resta
Assim como o final da grande festa...




21371


Saber do desengano é ter certeza
Do quanto nada vale um verso meu,
O vale já florira e em tal beleza
O sonho simplesmente amanheceu.

Mas quando vejo a foto sobre a mesa,
Aonde a poesia se escondeu,
Minha alma vai se expondo a tal limpeza
E o quanto imaginara já morreu.

Fenece a cada ausência e não renasce
Medonha criatura mostra a face
E o beijo traiçoeiro, um simples bote.

A farsa se desmonta neste instante,
O quanto do meu sonho foi brilhante
Jamais seria além de um mero mote...



21372


Com o pólen fatal do nada ter;
Os dias seguem termos dolorosos,
E quando se aproximam prazerosos
Momentos de alegria eu posso ver

Após a festa a dor do renascer
Salgando com seus ritos caprichosos,
E os cantos se fazendo estertorosos,
Perguntam onde a sorte irá conter

Os passos que comprei qual solução
E tramam no final a solidão
Mudar a direção? Pois, quem me dera...

Saudoso do talvez fosse feliz,
Revivo cada instante e por um triz,
Ainda vejo viva a primavera...



21373


Cantava como fosse uma criança
Nas ondas da alegria mesmo falsas,
Os pés acorrentados buscam balsas
Somente a solidão inda se alcança,

E o tempo inexorável, sempre trança
Caminhos que me levam, enquanto alças
Diversos espetáculos; realças
A dor que ao mesmo tempo mata e amansa.

O quarto de dormir, a sala, a mesa,
Sofá entre poltronas, cais e porto,
Agora o mar que teimo, segue morto,

Negando qualquer fonte e correnteza,
Apenas sei da foz distante e ausente,
E queres o sorriso mais contente?


21374


Dos prados que imagino; fonte e lago,
A doce placidez que não havia,
Escassa e quase opaca fantasia,
Negando com firmeza algum afago,

O quanto necessário for eu pago,
Embora não suporte a mordomia,
Arcando com a dor e a poesia,
O coração se mostra amargo e mago

Alquímica mistura; panacéias
As auras se confundem, pois atéias
E ateias teus incêndios noutra esfera.

Matando o que sobrou do quase nada,
A boca desdentada escancarada
Aguarda a morte em triste e vã espera...



21375


Com as terríveis asas das fantásticas
Soturnas expressões crepusculares,
Arsênico domina meus altares,
E as pernas não respondem, vão espásticas,

Por mais que tente em vão vagas elásticas,
Os medos sempre são particulares,
E o quadro que em verdade não pintares
Escuras estas formas, quase plásticas...

No pouco que me resta, sei da sacra
Fartura feita em pão e feita em vinho,
Esperança guardada, vida lacra

E trama o desafeto e a solidão,
A noite me encontrando aqui sozinho,
Imerso na completa escuridão...


21376


Cavalo vai sem freios pelos céus,
Galopes entre estrelas e cometas,
A vida acende intensos fogaréus,
Por mais que insanidades tu cometas
Usando das estrelas como véus
Adentras paraísos, frestas, gretas,

A ponto de saber aonde existe
A dura realidade e a fantasia,
O quadro que pintaste inda persiste
Embora vá nublado e frio o dia,
A carga que carrego, mesmo triste,
Contigo se revela em alegria

E o verso sem morada, este cigano,
Entoa o grito livre e soberano...



21377


Espero que essa tal de despedida
demore a Eternidade para vir
e que tenhamos sempre e sem medida
muita alegria antes do partir.

Enquanto isso vou gozar a vida
a fim de me esquivar do despedir;
compor, honrar essa'rte sem a brida
a qual me tolhe e esforço-me a delir.

Viver os sonhos traz a paz que é dom,
é dádiva importante e eu quero é mais!
Sorver da liberdade satisfaz.

Eu posso até do encanto ouvir o som!
Mas quem da poesia dá o tom
sou eu, és tu que és mestre, és mui capaz!

RONALDO RHUSSO.

Respirando este ar puro em que respiras
Os sonhos que trazemos; parceria,
A dádiva divina é maestria,
E acende da esperança tantas piras,

Enquanto poesia tu transpiras,
O velho trovador, pouco queria,
Somente algum resíduo de alegria,
Mudando pra melhor terríveis miras,

Almejo estar contigo nesta glória
Aonde a gente escreve nossa história
Marcada com a dor, com esperança

Arejas com teu riso o sofrimento,
E tendo Nosso Deus, alívio e alento,
Um claro amanhecer, a vida alcança.


21378


Minha alma sonhadora não desiste
E teima na emboscada da ilusão,
Poeta quando amargo se faz triste,
Bebendo cada gota, amaro chão,

Enquanto a dor ainda em vão persiste,
Eu vejo o teu reflexo na amplidão,
Talvez o amor que busco ainda existe,
No rastro que deixaste; a proteção

Que tantas vezes quis e não sabia,
Apenas sugerindo fantasia,
Versando sobre o trágico final.

Arcar com a alegria é quase um dom,
Se eu tenho destoado, busco o tom
No verso que me trazes; belo aval...


21379


Felinas unhas rasgam minha pele,
Ferinas emoções; guardo comigo,
E enquanto a realidade me repele
A fuga pra Pasárgada, consigo.

Sem ter com quem converse nem apele,
A cada passo em falso, outro perigo,
O corpo que se vai que não se vele,
Deixando ao deus-dará, no desabrigo.

Ferrenhas expressões, farsas e franjas
Das monjas ilusões, manchas e sangue,
O quanto não tiveste, mas esbanjas

O preço a se pagar é muito caro,
Bebendo deste poço feito em mangue,
A morte este sabujo; apura o faro...


21380


Passei pelos jardins dos velhos sonhos
Aonde poderia ser feliz,
Mas vendo meus reflexos tão medonhos,
Realidade logo me desdiz,

Buscando alguma coisa que não sei,
Vasculho os meus escombros e não tendo,
O verso em que tão mal eu me expressei
Moldando este jardim que não desvendo,

Servil sem ser escravo; odeio a sorte
De antigos marinheiros, cadê mar?
A noite se desnuda em frio e morte,
Perpetuando a dor deste lugar,

Aonde a poesia se disfarça
E a vida em cadafalsos já se esgarça...



21381


Canteiro onde florindo esta verbena
Que tantas vezes quis e não sabia
Beleza em realidade e fantasia,
Moldando a raridade desta cena.

O laço feito amor, prendendo apena,
E causa no andarilho esta sangria,
Cigano coração, não poderia
Viver uma emoção completa e plena.

Montando na ilusão, seguindo errante,
Vagando por estrelas, o que faço?
Se tenho por limites este espaço

E forjo dos meus passos, caminhante
O etéreo vasculhando sem paragem,
Ao infinito sigo esta viagem...


21382


Passando pelo rio imaginário
Um velho cavaleiro volta ao lar,
Rincão além de tudo necessário,
Aonde poderia descansar

Um velho coração que solitário
Procura por estrelas, ganha o mar,
O vento vai cortando; um adversário
Deixado no caminho; irá chegar

E o sangue coagulado das feridas,
Olhando fixamente a sua aldeia,
A lua se derrama imensa e cheia,

Ao dar as boas vindas merecidas,
Cabelos já grisalhos, arreio e sela
Medalha no seu peito, a bala sela...


21383


Destino feito sorte já perdido,
Nas buscas e nos ritos insondáveis
O passo tanta vez se fez olvido,
Nos mares e nos céus imagináveis.

Percorro solidões inconsoláveis
O vento guia o passo, mas duvido
Que tenha nos meus olhos dons amáveis
Se o corte já se fez, tão decidido.

As farpas; acumulo em minhas costas
Verdades sendo claras são impostas
E o medo se perdeu pelo caminho.

Não posso retornar ao que deixei,
A morte sendo aporte, o corte é lei
E marcho pro final, sempre sozinho...


21384


O velho salteador; este tormento
Que tomando de assalto o sonhador,
Não deixa que se creia num alento
E espalha em seu caminho, espinho e dor,

Vencer com alegria, o pensamento,
Tramando com doçura algum louvor,
Eu peço que me escutes um momento,
Do amor e do perdão, pleno Senhor,

Não quero esta catástrofe que agora
Domina estes domínios mais vorazes,
Os de boa vontade; raridade,

Enquanto a turba imunda o pão devora
O vinho feito em sangue os mais audazes
Vomitam com total voracidade...


21385


O rosto umedecido de Jesus,
Salgado pela lágrima que escorre
Dos olhos de quem tendo a Sua cruz,
Aos mais humildes sempre em paz socorre,

Ao ver tal heresia, monstros nus,
Que exploram Seu cadáver, triste porre,
Exposto à fome intensa de urubus
Cambada que na seca sempre acorre

Bebendo destas águas mal benzidas
Vendendo qualquer coisa, basta o lucro,
Enquanto o povo pobre, tolo e xucro

Tomando fartos goles das bebidas
Engarrafadas pelos tais demônios
Que engordam sempre vastos patrimônios...


21386


Nos olhos da mulher vulgaridade
Que antigos vendilhões queriam tanto,
O solo que pisaram; quase santo
Antigo lupanar, eis a verdade.

Agora vai mudando a realidade,
Mas nada que me cause mais espanto,
Invés da ladainha; vendem canto
Gerando ao seu pastor, prosperidade...

Não posso suportar a iniqüidade
Tampouco me calar frente à vergonha,
“Quem vai querer Bíblia ou pamonha

Liquidação comigo é de verdade”...
Assim no caminhar da humanidade
O Cristo Salvador, ainda sonha?


21387


Antigos claustros trazem em seus muros
Histórias que jamais se contarão,
Demônio se disfarça e sem apuros
Devora o que sobrara de um cristão,

Os dias podem ser áridos, duros,
Mas mesmo assim expõem o negro chão,
Onde pisaram porcos tão impuros,
Os pais da sacrossanta inquisição.

Ainda se percebe tais esgotos
Nas vozes e nos rostos destes rotos
Fantasmas que em Teu nome vendem tudo,

A pútrida canalha, velho bando,
Aos poucos todo o mundo dominando,
Porém eu não me calo e nem me iludo...


21388

Uma verdade santa se escondendo
Debaixo dos lençóis das sacristias,
As mãos mais delicadas das vadias
Os corpos mais sedentos, percorrendo,

Pecado é com certeza algum adendo,
Que mísero fantoche, tu adias
Amores vagos são mercadorias,
Pastores as ovelhas vão vendendo,

Imenso este bazar, inesgotável
Enquanto houver poder, dinheiro e sexo,
O mundo eclesiástico é complexo,

Decerto que por Deus jamais tragável,
Assim, assina a sina de um plebeu
Distante do que ensina o Bom Judeu...


21389


Por mais que piedosas, as entranhas
Dos sonhos são talvez faca e sorriso,
Descubro entre mil vales e montanhas
O quanto é necessário e mais preciso

Patifarias toscas, velhas manhas,
Não tendo direção, perdendo o siso,
Partidas no passado sempre ganhas
Agora representam prejuízo.

Versando sobre o fim que se aproxima,
O tema que este tempo em templo faz
Queria uma palavra mais mordaz

Usando uma paixão além de rima,
Primando pelo medo do vazio
Que segue sendo enorme desafio...

21390


Sentindo a frialdade desta ausência,
A noite vai passando sempre em claro,
Do quanto te desejo e não declaro
Aos poucos vou bebendo da demência

Querendo talvez clero ou inocência,
Do farto que buscara, nem o faro,
Invés de companhia desamparo,
Nas vagas encontrei farta inclemência.

Rastejo sobre as pedras e os espinhos,
Os versos que inda faço são daninhos
As urzes espalhadas, mil abrolhos.

A faca desferida, em alvo certo,
O que restou apenas o deserto
E o latejar contínuo de meus olhos...


21391


Brotando estas sementes da esperança
Que um dia o bom judeu aqui plantou,
Por tanto e sem medidas nos amou,
É forte, com certeza esta lembrança,

A vida quando é feita em aliança
Demonstra a maravilha aonde vou,
O quanto o carpinteiro cultivou
Trazendo para tantos a mudança;

A história nos explica e se comprova
Na voz deste cordeiro a boa nova,
Trazendo o benefício do perdão

A quem se arrepender dos seus enganos,
Os dias em que estamos; soberanos
No amor eis a saída, a solução...


21392


Quisera fazer dança desta vida
Que tantas vezes marca e até sorri,
Bendita esta alegria, vem de ti,
Deixando uma tristeza já perdida,

Não vivo e nem suporto tal ermida,
Mas venho do caminho que escolhi,
Às vezes festejando; agora aqui,
A mente muitas vezes exaurida.

Batuca um velho samba de Noel,
O amor que conheceu Vila Isabel,
No Boulevard passeia sob a lua.

Depois a madrugada, de mansinho,
Ouvindo no Sovaco um bom chorinho...
E quando a manhã surge, continua...

21393


Tomada em campo santo qual medalha
A sorte de servir e não ser vil,
Desaba num instante em que servil
O peito sem limites se atrapalha,

Enquanto a embarcação, em vão se encalha
Tentando ser ao menos mais gentil,
A história velha história repetiu
Na boca e no sorriso da canalha.

E a súcia de cretinos navegantes,
Rasgando esta bandeira em mil pedaços,
Não deixam sequer pistas, nem os traços

Sorrisos de sarcasmo, triunfantes,
Não vêem quanto esta flâmula dizia
Da vida que sem tréguas, se perdia...


21394


À morte glorifico em cada verso
Com tal simplicidade que me espanto,
Caminho se mostrara tão disperso,
Não posso sufocar lamento e pranto,

Não que este mundo seja vão, perverso,
Tampouco me provoca desencanto,
Só sei é que procuro no universo
Talvez algum remanso, noutro canto.

Nas tramas e segredos desta vida,
Perdendo a direção só resta o frio,
Na fresta que se abriu, adentra o fio

Travando o que seria uma saída,
E tendo por segredo a mão vazia,
A morte se aproxima dia a dia...



21395


Pudesse perfazer mesmo caminho
Sem ter que preocupar-me com desníveis,
Os tempos que se foram; invencíveis
Encontram-me mais velho e já sem ninho,

Há quanto avinagrou-se o doce vinho...
Não tendo soluções bem mais cabíveis,
Os dias que virão, serão incríveis,
Porém nada terão se vou sozinho.

Aguardo esta chegada prometida
Que possa transformar a sina, a vida,
Moldando um novo ser que desde agora

Percebe ser possível caminhar
Sem ter que em quentes lavas mergulhar,
Na senda em que a meiguice ainda aflora...


21396


Minha alma tumular féretros sonha
Escória das escórias, podridão,
Figura que asquerosa, vã, medonha
Hemoptóica, servil, procura o chão,

Rasteja sobre os restos, e tristonha,
Naufraga nesta imensa solidão,
Sem nada que inda pense ou que proponha,
Expõe a cada verso, esta aversão.

E fétida desmembra-se em pedaços,
Um réptil tão somente e nada além,
Crepusculares luzes, embaraços,

Nos traços mais grosseiros, garatuja,
Esvai-se desta vida sem ninguém,
Singular criatura, imunda e suja...


21397


Desde esta eternidade que ora toco,
A morte desmembrando o que restara
Da vida desde o início mais amara,
O quanto que me sobra não estoco;

A sorte se transmuda em novo foco,
Somente a solidão inda me ampara,
A lua que busquei, precisa e rara,
Desnuda o mar vazio, e desemboco

Nas braças deste rio que me leve,
O mais depressa, amigo, seja breve,
Que a dor da punhalada é tão medonha

Mesquinho tal desejo, uma tolice
Lembrando das histórias que me disse
A mão que me tortura, também sonha...


21398


Não há beleza alguma na masmorra
Em que ora adormecido já descanso,
O beijo que escarrando não alcanço,
Nem vejo uma viva alma que socorra,

Por mais que aos poucos; sonho diz que morra
Encontro finalmente algum remanso,
E teimo em escutar suave e manso,
O rio que tão próximo, me escorra

E leve para a sorte e liberdade,
Rompendo estes grilhões, toscas correntes,
A porta se entreabrindo, a claridade

Emerge como fosse algum punhal,
Rangendo, louca fera, os parcos dentes,
Expresso o meu sorriso habitual...


21399


Um monge se disfarça em faca e bala,
Apedrejada uma alma não se cala,
Na ponta do punhal, a minha fala,
E a poesia ao longe ainda estala,

Preparo com cuidado a podre vala,
Etéreo pensamento, o tempo escala,
A noite será feita em plena gala,
Esquartejado corpo, velha mala...

E o tempo assiste tudo; silencia
A sombra do passado propicia
O vento interminável que te empala,

Dos cravos e de lírios, a mortalha,
No corte mais profundo da navalha,
O corpo decorando a minha sala...


21400


Vivendo esta miséria que cultivo,
Arcando com falácias e mentiras,
O bêbado caminha, ainda vivo,
E a pele se arrancando em podres tiras,

Do resto de esperança já me privo,
Enquanto pedregulhos tu me atiras,
Calado; finjo ser calmo e passivo,
Olhares apurando finas miras.

A morte te encontrando após a curva
Atocaiada sorte, a vista turva
E o corpo que se estende, ensangüentado,

As aves de rapina se deleitam,
Estrelas fugidias já se deitam,
O dia amanhecendo ensolarado...


21401



A morte em minhas mãos, amor no olhar
Nesta dicotomia noite e mesa
A ronda se fazendo bar e bar
A cada nova curva outra surpresa

A fera se encantando com a presa,
O medo de sair e de voltar,
E vejo por incrível, tal leveza
Que me permite em sonhos levitar.

Prostíbulos, antigos lupanares
Artigos de primeira, belas damas,
Histórias do passado, antigos dramas

Que trazem estas santas aos altares
E o gozo se espalhando nos lençóis
Noctívago delírio gira sóis...


21402


Meu sangue sobre o campo derramado,
Depois da árdua batalha, já perdida,
O quanto de ternura, amor olvida
E o resto vai pesando aqui do lado,

O verso que compunha enamorado,
Dizendo ou maldizendo a própria vida,
Enquanto há realidade se duvida
Permanecendo então, triste e calado.

Suspenso pelos ares, asas abro,
A vela ainda acesa, o candelabro,
O abril já vai distante, ledo outono,

Arcaica melodia inda se escuta
E a mão que acaricia agora bruta,
Não deixa uma esperança como abono...



21403


Cravando no teu corpo as unhas, dentes,
Riscando a tua pele, tatuagem,
O amor se transformando em tal viagem
Prazeres que procuras são urgentes,

E loucos dois partícipes dementes,
Encaixam, perfeição, esta engrenagem,
A lua dominando esta paisagem,
Alabastrinos olhos, já descrentes.

E enquanto delirantes passageiros
Vagando por estradas sem fronteiras,
Momentos que antes foram corriqueiros

Agora numa insânia incontrolável
Transbordam alegrias feiticeiras,
Além do que seria imaginável...




21404

Entoas ao que crê falsas promessas,
Milagres entre dízimos e farsas,
Olhar apodrecido; mal disfarças
E as velhas ladainhas; recomeças

Preparas pros fiéis nojentas peças,
Os sonhos do Cordeiro; cedo esgarças
Vendendo as de rapina como garças,
Pior: os teus pecados, não confessas,

E segues aviltando toda a Igreja
E seja da maneira que quiseres,
Altares? Prostituis. Uma alma andeja

Versando sobre amor, nega o perdão,
Banquete que tu serves? Vis talheres,
Tu és mais um canalha vendilhão...


21405


Para ganhar o pão de cada dia
Bastando o teu suor e nada mais,
Porém o ser humano em tal orgia
Explora seu irmão. Nunca é demais.

Assim se mata a sorte e a fantasia,
Gerando tão somente os animais,
A bala tem certeira pontaria
Perdida? Com certeza isso jamais.

Reflexo desta podre sociedade
Roubando o bem mais fraco e se fartando,
Depois vem a vingança. É crueldade?

Não quero perdoar o bandoleiro,
Porém a sua imagem retratando
o olhar dos pobres donos do dinheiro...


21406


"Eu já havia desligado o computador, mas vc conseguiu acabar com meu humor neste domingo e resolvi voltar aqui pra te dizer que procure um tratamento, a vida das pessoas não é brinquedinho para vc descarregar seus traumas.VocÊ não pode desconfiar de Deus e o mundo. Grande coisa que fiz saindo desse orkut nojento, lugar de adultos doentes e jovens sadios vítimas de badalheiros.
Sobre o Gustavo e o Edu eu já imaginava serem fakes e depois liguei os fatos que só poderia ser vc. Não invada a vida das pessoas desse jeito. Tudo tem limite, não sou seu brinquedinho e a minha paciÊncia se esgotou pra estas idiotices, portanto cuidado ao fazer brincadeirinhas comigo, poderá ganhar o direito de se tornar um estranho para mim."

obviamente: Anônimo

Pior do que a Loucura que hoje em dia
Espalha-se por entre os infantis
É ter que suportar uma heresia
De mentes que em verdade são tão vis.

Recebo este recado do não sei
Agredindo sei lá por que também,
Motivos para tal eu procurei,
Razão? Não há nenhuma que convém.

Apenas um poeta/seresteiro
Que gosta de escrever e nada mais
Difícil responder ao baderneiro
Sem nome, telefone e coisas tais.

Só peço que se interne e não agrida
Quem nunca se meteu em tua vida...

21407

Guardando o seu tesouro em cofres vários,
Fortunas escondidas da Receita,
Depois tranquilamente vê se deita,
Assiste qual fiel, noticiários,

Um bando de pilantras salafrários
Roubando o banco, morte por colheita
Pra isso é que a Polícia aqui foi feita,
Proteger dos ladrões e adversários,

Matando se preciso esta cambada,
Turma de vagabundos; meliantes,
Salvaguardando uma alma tão honrada

É caso de terrível penitência,
Doutor com seus olhares radiantes,
Vibrando com o fim da concorrência..


21408

Não deixo mais perguntas sem respostas
É dado esse direito a quem se vai,
E quando eu estiver junto a Meu Pai,
As coisas com certeza tão expostas,

Não levo qualquer culpa em minhas costas,
Jamais eu aprendi fazer haicai,
E quando a noite imensa vem e cai,
Encontra um velho imerso em suas crostas,

Carcaça perambula e no teclado,
Fazendo do seu verso um desabafo,
Dos medos e das manhas, ando safo,

Não posso me conter, tomar cuidado,
O tempo que me resta é muito pouco,
Eu berro até ficar maluco ou rouco...


21409


São tantos os caminhos de quem ama,
Apenas tropeçou, alguém levanta,
Mas quando o grande amor extingue a chama
Vazio resta o prato, e assim sem janta

A boca esfomeada não reclama,
Também sei que jamais isso adianta,
Se todo o meu desejo muda a trama,
A moça por direito já me espanta.

E quando ouvir a voz do pensamento,
Pensando bem baixinho, isto incomoda,
Um velho desdentado esquece a moda,

E morre num segundo e num momento,
Durante a tenebrosa viuvez
Donzela, namorando uma outra vez...


21410


Produtos de uma história mal contada,
As horas que não somos nunca vêm
Se este erro não te diz de quase nada,
No quarto dos meus sonhos, outro bem.

Desfere sobre o corpo uma facada,
Ferrenha desventura; eu sei também,
Descendo pelo vão da velha escada
Na queda e no tropeço vivo aquém.

Levado por enganos, falso brilho,
Esqueço uma cantiga, no estribilho
Falava de um desejo realizado.

Carrego a minha cruz e não reclamo,
Um arvoredo é feito em cada ramo,
Assim sigo meu passo, amarrotado...


21411


Batizo-me no fogo das paixões
E tento soluções que não virão,
A cor que me decora o coração,
Não sabe mais das duras coerções,

Coleto as diversas direções,
E como com fartura, o velho pão,
Na vida, do princípio à eclosão,
O medo transfigura as emoções.

Ah! Se inda tivesse alguma chance.
Quem sabia poderia ser feliz,
Porém a própria vida me desdiz,

Fugindo quase sempre ao meu alcance,
Cansado desta lida inútil e vaga,
A morte com cuidado, já me afaga...


21412


Um gole de café, outro cigarro,
A morte vai fazendo a sua festa,
Aproveitando o pouco que me resta
Descrevo o parco mundo em que me agarro,

Às vezes da verdade tiro um sarro,
Aproveitando o fogo na floresta,
Adentro qualquer corte, simples fresta,
Pois voltarei a ser o velho barro.

E quando isto chegar; irei tranqüilo
Se a cada poesia assim desfilo
Estrelas e fantasmas que inda vejo,

A porta se fechando, outra se abrindo
Das trevas penso ver um mundo lindo,
Sacio desta forma o meu desejo...


21413


Já tive muitas coisas e as perdi,
Agora um solitário caminhante
De todas as estradas qual errante
O quanto desejei estava ali,

Ausente de meus olhos. Percebi
Que a vida não se dá por um instante,
Conquista que se faz sempre constante,
Meu erro em pouco tempo, concebi.

E levo este vazio de onde eu vim,
Aguardo o resultado, mas enfim,
Apenas tão somente o falso grão,

Que um dia em solo triste quis plantar,
Estéril aridez deste pomar,
Negando qualquer vida ou brotação...


21414


Eu aproveito o tempo que inda tenho
Fazendo do soneto, terapia,
O fim já se aproxima dia a dia,
Mas luto contra o luto com empenho,

A sanha de quem sonha, não convenho
Dizer que é simplesmente fantasia,
Porém algum resquício de magia
Ainda guardo em mim. Farto; eu contenho.

Pés edemaciados, e o cansaço,
O coração prepara uma falência,
Porém se em minha vida houve decência

Que venha a morte fria com seu aço
Jamais a temerei, nem tento a fuga,
Vivi com plenitude cada ruga...


21415


Meu bálsamo se chama poesia,
Garante algum sorriso pelo menos,
A vida que fornece seus venenos,
Também por outro lado me alivia,

Os dias se tornaram tão pequenos,
Quem dera novamente cantoria,
Sonhando com refúgios mais serenos,
Maré que encontro agora, é tão bravia

O mar me desafia, timoneiro,
Que tanto desejou e não cumpriu,
O vento que adernou o meu saveiro

O mesmo que levou quem tanto eu quis,
A porta nunca mais, eu sei, se abriu,
Não posso nem dizer que sou feliz...

21416

Astuto caminheiro não sabia
Das velhas armadilhas desta estrada
Enquanto aqui durar a minha estada,
Pretendo ter um resto de alegria,

A noite mesmo vaga, amarga e fria,
Não diz ao sonhador mais quase nada,
A força foi inútil; uma alvorada
Jamais para os meus olhos raiaria.

Caindo pelas ruas e sarjetas,
Os olhos procurando por cometas
Que possam me levar e me trazer,

Não vejo outra saída, é fim de festa,
Aproveitando o pouco que me resta,
Sonetos sem ter paz, passo a escrever...

21417


Não deixo nem sinal por sobre a terra,
Vagando muito tempo sem paragem,
A pedra que sem limo, agora encerra
Apenas o vazio, uma miragem,

O olhar que a fantasia teima e cerra,
Revendo no silêncio esta paisagem,
Montanhas desfilando em bela serra,
Tramando após a chuva, mansa aragem...

Quem sabe mais uns dias, ou talvez
Eu possa aqui ficar por mais um mês,
Teimando em declarar amor à vida,

Embora saiba esteja de partida,
O mundo se desnuda à minha frente,
E a sorte sela um rumo diferente...



21418


Adeus, pra nunca mais, querida amiga
O tempo tem limites, determina
O fim do meu destino, vaga sina,
E a vida nos meus braços já periga,

Os erros cometidos, dor castiga,
Errática esta fonte, amarga mina,
O quando for embora, me fascina,
Quem sabe enfim a morte a paz abriga,

A culpa é toda minha, eu reconheço,
Não venho te pedir qualquer desculpa,
Por mais que a realidade ainda esculpa

O medo não sufoca o meu tropeço,
E sendo assim, querida, não lamente,
O término desnuda-se latente...


21419



A fronte de um poeta demarcada
Por dores e ternuras indizíveis,
Arcando com meus medos invisíveis
A pele pelas rugas bem marcada,

Não restam sequer dentes nesta arcada
As velhas garatujas são risíveis,
Lembranças de momentos impossíveis
E os impassíveis olhos; dura farda...

A mão que se estendera diz do nada
Que em troca a vida deu, resta em frangalhos,
Os atos que cometo; sei que falhos,

A sorte há tantos anos, arrancada,
E o que sobra então senão o fim,
Aos poucos vai secando este jardim...


21420


Quisera primavera. Estupidez.
A boca se prepara para o bote,
Não tendo mais sequer quem inda note
O passo se demora, em altivez.

Do quanto imaginara, numa vez,
O beijo que não veio; o amor que brote,
A mulher que me escute. Corto a glote,
E todo o emaranhado se desfez...

As mãos buscam carícias, as amputo,
O coração no eterno e tosco luto,
Lutando contra tantos desvarios...

Apenas o sorriso da criança
Que ainda trago vivo na lembrança
Supera os meus terríveis desafios...


21421

Quisera algum amor que completasse
A vida de um andante cavaleiro,
Mergulho minha sina num celeiro,
E a sorte vai criando um longo impasse.

Por mais que outro caminho, o sonho trace,
Apenas o cruel é verdadeiro,
Recebo deste mar, marulho e cheiro,
Aguardo qualquer sorte ou desenlace.

Medonhas artimanhas de uma vida,
Cortante qual navalha, tão sofrida,
Num álgido caminho leva ao nada,

Pertenço tão somente ao velho não,
Olhando fixamente pra amplidão,
A lua se escondeu, envergonhada...

21422


Navego pelos ares desta noite
Nos seios desta deusa que domina,
A madrugada fria, puro açoite
Que enquanto corta; cada sonho mina.

Jamais buscando abrigo que me acoite,
A fantasia me moldando a sina
Tornando fabuloso este pernoite
Ao lado de quem amo: esta menina

Que um dia se fez louca e me tomando
Nos braços, num repente se entregando
Tornou-se esta mulher maravilhosa.

Poder ter a meu lado esta certeza
Do amor que a ilusão nunca represa
Correnteza sem par, tão caudalosa...


21423

Resvalando em caminhos preguiçosos
Bebendo a fantasia de ser teu,
Os dias que julguei tão caprichosos,
O mundo neste instante me acolheu,

Momentos no passado, se jocosos,
A estrela desvendou e recebeu
Do brilho de teus olhos fabulosos
O amor que em nuvens claras se fez meu...

Ouvindo a cantoria em madrigal
De pássaros canoros, divinais,
Um tempo com certeza, sem igual,

Apenas a beleza se estendendo
Tomando com firmeza tais locais
Que em sonhos mais audazes, eu desvendo...


21424


Quando, de joelhos eu te imploro
Que fiques mais um pouco aqui comigo,
O mundo em fantasias eu decoro,
E busco tão somente um calmo abrigo.

Se às vezes solitário, ainda choro,
É por saber dos males, o perigo,
Prazer que tu me trazes, comemoro,
E vivo o amor maior sempre contigo.

Pudesse ter ao menos a certeza
Do amor que imaginei e tanto quis,
Quem sabe poderia ser feliz,

E assim a minha vida em tal beleza,
Sem dúvidas, amada se completa,
Bebendo desta fonte, a predileta...


21425

No olhar inebriante da pantera,
O amor qual mensageiro traz recados,
Mostrando os mais diversos, belos, prados,
Moldando a cada dia, a primavera.

Depois de tanto tempo em vaga espera,
Distante dos desejos e pecados,
Sonhando velhos sonhos já sonhados,
Matando a solidão tola quimera

Encontro-te e percebo que inda tenho
Por mais que ande cerrando o tosco cenho,
A chance de viver felicidade.

E beijo tua boca calmamente,
A poesia, agora anda contente,
Enquanto a fantasia enfim me invade...


21426


Divino mensageiro abrindo as asas
Trazendo novidades de quem amo,
Por vezes; solidão que inda reclamo
Ardendo feito fogo em árduas brasas.

Sabendo desde já que nunca atrasas,
Nos versos mais audazes; o amor chamo
Vasculho no arvoredo, em cada ramo,
Os ninhos mais bonitos, belas casas,

E pássaros percebem esta busca
Que embora solitária, um tanto brusca,
Termino te encontrando numa estrada

Longínqua onde meus sonhos não alcançam,
E para os doces braços, mãos avançam,
Minha alma se acolhendo em paz; alada...


21427


À noite na janela do meu quarto
Vislumbro uma figura tão patética
A veia que julgara ser poética,
No fundo um claro aborto em triste parto.

Às vezes paciente, porém farto,
Já não suporto mais a falsa estética,
Minha alma adocicada e diabética;
Por isso meu amigo, eu te descarto.

Odeio estas pessoas que, pernósticas,
São em verdade meros trogloditas,
São estas criaturas vãs, malditas

Com visões que imaginam ser diagnósticas,
E toscos, com certeza seus conceitos,
Os pais das injustiças, preconceitos...


21428


Qual fora uma pepita em bruto estado,
O verso se aprimora com o amor,
Quem nunca nesta vida foi amado,
Não tem da poesia, o seu sabor,

Alçando a fantasia, vou calado,
E teimo em ser eterno sonhador,
O beijo nos teus lábios, quando é dado
Traduz o que precisa o trovador...

Um laço sendo forte e resistente,
Atando as esperanças nos conduz
A um mundo todo feito em plena luz,

E sendo nosso amor, real e urgente,
Eu creio neste dom miraculoso
Eternizando um sonho fabuloso...


21429


Vislumbro da janela em noite imensa
O amor que se disfarça; leve brisa,
E quando se aproxima a recompensa
Da bela fantasia, o sonho avisa,

E tendo em minhas mãos, quem me convença
Da doce maravilha tão precisa,
Uma emoção que forte se faz densa
Tornando esta palavra mais concisa.

Versando sobre tantos sentimentos,
Poeta se faz trágico ou sereno,
Na boca da mulher, mel ou veneno,

Mudando a direção, vários momentos,
Atento às variações desta maré,
Trazendo a liberdade ou vã galé...


21430


Anjo de luz sublime e glorioso,
Falando suavemente em meus ouvidos,
Segredos tantas vezes esquecidos,
Promessa de um futuro fabuloso.

O amor um dote raro e prazeroso,
Acende vez em quando estas libidos,
Nos ermos de minha alma, doloridos
Os dias sob um tempo nebuloso.

Acordo e vislumbrando um belo sol,
No olhar de quem desejo, este farol,
Guiando a minha vida a cada passo.

Certeza de saber onde ancorar,
Depois de tanto tempo navegar,
Vagando solitário pelo espaço...


21431


Espero por você a cada dia,
Pensando nos momentos mais felizes,
E os céus que agora vejo, negros, grises,
Não dizem desta rara melodia

Que há tanto em nossa casa já se ouvia,
Depois, a tempestade e seus deslizes,
O céu mudando as cores e matizes,
E em pouco tempo, à noite enfim chovia...

Saudade de quem sabe quanto eu quero,
O amor que na verdade, ainda espero,
Sincero a mitigar meus sofrimentos,

Jamais sonhei com simples lenitivo,
Desejo o seu desejo, e bem mais vivo,
Já não suporto mais simples alentos...



21432


Só peço que jamais morras, querida,
Se tudo o que mais quero encontro em ti,
O amor que insanamente agora eu vi,
Não pode suportar a despedida...

Não vejo para o caso, outra saída
Senão a que me traz; amada, aqui,
Nos beijos mais vorazes que bebi,
A sorte há tanto tempo decidida...

Seguindo os teus caminhos, chego às locas
Aonde teus prazeres; desembocas,
Dos gozos mais audazes, bela foz,

Gemidos e sussurros costumeiros,
Amores e prazeres corriqueiros,
Ninguém mais calará de nós, a voz..

21433


Dormindo assim desnuda, sedutora,
Que queres deste louco apaixonado?
Mergulho neste mundo que encantado
A fome de prazer já se assenhora,

E quero a plenitude que devora,
O resto vai ficando assim de lado,
O dia redentor, anunciado,
Decerto quem conhece faz agora.

Revejo cada cena, noites, bares,
Delírios entre lábios e motéis,
Misturam-se rocios, doces méis

Na cama descobrimos os altares,
Aonde santa e pura, a musa nua,
Levita e num momento já flutua...


Extra




Dormência...

É esse amortecer que é tão sentido
e evoca um fim pra cada dor que é fato
o arauto, o sinal claro: estou perdido!
E eis que percebo a falta até do tato...

Aninho em mim mesmo o que era tido
aquém do ouvir sereno e assaz recato
e não escuto o som há muito ouvido!
É certo que na boca o antes regato

achou de ficar seco e eu vi-me junto
ao ponto cego do existir oculto
e o cheiro já nem sinto, é dissipado,

é fato consumado, é fim de assunto;
agora me procuro e nem qual vulto
encontro a mim mesmo, estou velado.

Ronaldo Rhusso

Nos ermos de meu ser busco encontrar
Em meio a meus escombros a verdade,
Percorro descaminhos, realidade,
E nada está de fato em seu lugar...

Na sôfrega batalha para achar
Algum sinal com tal sinceridade
Afastando afinal a obscuridade
Aonde eu possa enfim me desnudar,

Percebo neste espelho que me trazes,
Os olhos embaçados, mas audazes
Da fera envelhecida e já sem dentes.

Mas que inda crê na força de outras eras,
No inverno vou buscando primaveras,
Velando a minha imagem entrementes...

Marcos Loures

A distorção é fato consumado
e o beijo da mortífera, conforta
a minha sede por uma outra porta
a qual me leve calmo pr'outro lado

em companhia alegre do esperado
aluvião ao qual meu ser comporta
e em me delir, sereno, então reporta
o ser que fui há tempos, e olvidado,

ao que compôe o resto em mim contido
a fim de dar vazão à vil dormência
e me apagar aos poucos co'a anuência

herdada um dia pelo que hei vivido
em troca dessa vã maledicência
em forma estranha e triste da existência...


Ronaldo Rhusso


Perceba quantas vezes vou errante
Escravo dos meus medos, meus anseios,
E faço de ilusões, doridos meios
Na busca mais freqüente, até constante.

A morte, sobretudo me garante,
Antiga sabedora destes veios,
Que jamais valeriam tais receios,
O mundo segue sempre para adiante.

Portanto, distorções são usuais,
Motivos pra viver; os quero mais,
Já que depois de tudo, findará

O tempo se esgotando tão depressa,
Será que nova etapa recomeça
Após o meu final? Responda já!

Marcos Loures


Essa louca dormência nos sentidos
vem, e desperta a dúvida latente!
Vem tornando o viver tão mais plangente...
Pensamentos comuns são invadidos

e me lembram das dores de outros idos
que tornaram-me a vida diferente...
Hei me dado ao sofrer e é permanente
lamentar e ter medos combatidos.

A vida é prima-irmã da Dona morte.
Uma pára e outra leva, toca em frente!
De repente entendi que continua

e atua esperando o Rei que é forte
é suporte pro ente, felizmente,
e virá reluzente mais que a lua!

Ronaldo Rhusso

A Morte nos desnuda por inteiro
Inevitável ponto de partida,
Quem sabe, de chegada, companheiro,
Haverá decerto nova vida?

Só sei que sempre mostra a dolorida
Face do viver, que é tão ligeiro,
Porém como uma meta a ser cumprida,
Momento da existência, o derradeiro.

Aprendo a cada novo amanhecer
A crer que esta alegria de viver,
É tudo o que desejo e que me resta,

As dores ensinando, dia a dia,
Maturidade sempre propicia,
Ensinando a encarar a hora funesta...

Marcos Loures


Santa hora da morte eu já rejeito
adornando a doença que corrói
com a força latente que em meu peito
ganha pulso e a tristeza, então, destrói.

A dormência me segue e não tem jeito
hei de um dia aquecer corpo que mói
ao poeta e não tem sequer respeito,
pois castelos bonitos, eis, constrói!

Nova vida é um fato que o espelho
me fez ver nos milagres contundentes;
é que eu tenho meu próprio Mar Vermelho

e navego em mim mesmo, entrementes
não sou desses que pode dar conselho
eu sou puro milagre em meio a entes.

Ronaldo Rhusso


O quanto em desafios traz a vida,
Misteriosamente faz milagres,
Porquanto tanto amor; deveras sagres,
Encontras com louvor uma saída.

A sorte do viver jamais se olvida,
Mesmo quando há acidez, velhos vinagres
No amor que a cada dia mais consagres
Adiarás decerto as despedidas...

Poeta tendo uma alma imorredoura,
Em plena tempestade, ele se doura,
Erguendo o seu olhar, vê sempre além.

A morte leve o corpo, deixa a fama,
Mantendo na palavra a imensa chama,
Que eterna, vez em quando sempre vem...

Marcos Loures


Eu acredito que essa é a nova vida:
Permanecer em cada verso lindo!
Eternizar-se em obras, nessa lida,
aproveitando o Dom, pois que é infindo!

Posteridade tem quem solta a brida
anunciando a dor, porém sorrindo
enquanto o Mal não ache uma acolhida;
enquanto o amor entenda que é bem vindo!

O corpo morre e fica em vil dormência;
os Cromossomos juntam-se à terra;
memória não tem mais, nem recompensa...

Um dia alguém que sofre de demência
descobre textos... Pronto! A morte encerra!
Outro imortal renasce... Mas compensa?

Ronaldo Rhusso

Talvez seja melhor ficar calado,
O tempo remedia, mas não cura,
Se o pensamento voa, sendo alado,
Algum belo remanso ele procura,

Da luta, eu te garanto, estou cansado,
Porém nossa batalha inda perdura,
Viver a poesia, amargo Fado,
Às vezes com espinhos, a ternura...

Morrer e depois disso ser alguém?
Um velho paradoxo se repete,
Melhor seria ter outro caminho,

Mas quando a tarde cai e a noite vem,
O dedo no teclado pinta o sete,
E volta sem pensar ao mesmo ninho...

Marcos Loures

Razão tu tens, irmão, poeta e amigo!
Então deslizo e falo de outra vida
Em céu, em Terra Nova prometida!
A mim costuma ser o que eu persigo...

Viver, morrer, aqui é um perigo!
E eu sei, também a ti, ELE convida
A ir pr’esse lugar que é sem medida.
Ah! Creias, tou falando de um abrigo!

Eu sei que ELE virá porque já veio.
Repare no comer da multidão!
Tilintam sinos dessa falsa fé,

Mas Cristo, eu sei, te quer doar um seio
Além do que o pulsar do coração.
Ta bom! Sou sonhador, mas isso é fé!

Ronaldo Rhusso


Nós temos a esperança feita em fé
De um tempo bem mais calmo e mais suave,
Após nossa viagem, noutra nave
Que faça este percurso; aonde? Até?

Mas quando a noite chega e traz vazios,
Mergulho num abismo sem respostas,
E mesmo que ainda crie, firmes crostas,
Às vezes dolorosos arrepios...

Eu creio, nunca nego, em Cristo Deus,
E faço desta crença uma bandeira,
Dizer sempre até logo e nunca adeus,

Marcando desde sempre pela dor,
Amiga tão voraz e costumeira,
Parceira de oração e de louvor...

Marcos Loures

Eu conheço um segredo pra dormência;
pras horas onde as sombras atormentam...
É fácil! Só há perda aos que não tentam.
Cuidar de alguém melhora a permanência

ao lado do Senhor e a paciência
se torna gotas que aos poucos sustentam
e cobrem densas noites, alimentam...
O enfado passa a vir sem a frequência

de modo que outras cores enxergamos.
Cuidar dos que estão próximos é fácil;
Missão é carregar gente que está

melhor que nós e assim fortificamos
a mente que costuma ser retrátil,
mas será transformada: Ele virá!

Ronaldo Rhusso

Carregando este amor que fortalece
E traz uma esperança interminável,
Por mais que o solo seja farto, arável,
Uma alma sem destino, em vão fenece;

Fazendo de um soneto, quase prece,
Um mundo que imagino mais amável
Humanidade sendo palatável,
Às normas do Divino, alma obedece

Fraternidade sólida esperança,
A fera mais voraz, o amor amansa
Quem vive esta certeza sabe bem,

Somente esta alegria tem valor,
Um novo amanhecer, a se propor,
Perpassa este horizonte e segue além...

Marcos Loures


Falaste do amor com maestria
e eu sinto que é o segredo da vitória!
Consegues perceber toda essa glória
que banha todo o amante da poesia?

É ela que me leva a noite e dia
sorver cada momento dessa história
que em versos escrevemos e a memória
há de ficar marcada em alegria!

É com amor que temos derramado
os nossos corações para os leitores
nesse minimizar de dissabores

com nosso versejar que é de bom grado
a fim de ter também colaborado
com o renovar da vida em lindas cores!

Ronaldo Rhusso

A poesia é nossa mola; mestre
Que faz com que possamos ter nas mãos
Sementes do futuro, fartos grãos;
Tomara que este amor, o povo adestre,

Aragem em que vivo hoje, campestre,
Não deixa que eu conceba serem vãos,
Lutemos companheiro, pois irmãos
Não deixam que o vazio já fenestre

E invada sobre nós desesperança,
Nos versos com carinho esta aliança
Permite que se creia no amanhã.

E temos o poder da poesia
Que é feita de magia e fantasia,
Divino, com certeza, nosso afã...

Marcos Loures

Divino e prazeroso, ó mestre amigo!
Às vezes té me esqueço dos terrores
que assaltam-me em forma de vis dores
e roubam-me essa paz, é o que eu lhe digo!

Então me zango e escrevo o que eu consigo
em forma fixa ou como os amadores.
O fato é que me vêm, em multicores,
palavras que me são perfeito abrigo!

A graça é que podemos recriar
um mundo diferente qual encarte
e o feio com firmeza por de parte.

Não é maravilhoso e até sem par
o dom que possuímos de rimar
a dor co'ardor e o amor co'a cor da arte?

Ronaldo Rhusso


O dom de ser poeta, uma magia
Que jamais desprezei e que sustenta
Durante a tempestade; uma alma assenta
E bebe do prazer e da agonia.

Vencer o dissabor do dia a dia,
Por mais que a vida seja violenta,
A noite em poesia nos alenta,
Como se fosse então uma alquimia.

Pedra filosofal que lapidamos,
Escravos das palavras? Somos amos,
E ramos destes velhos arvoredos

Que escassos, mas garanto valiosos,
Os versos que fazemos; orgulhosos,
Desvendam da existência seus segredos...

Marcos Loures


Amigos das palavras temos sido;
Senhores de nós mesmos e dos versos.
O dom que praticamos tem movido
Milhares de espíritos dispersos

A despertarem desse combalido
Estado lamentável que, ora imersos,
Sufoca cada anseio que era tido
Como uma solução pros mais diversos

Dilemas da existência em vil dormência,
Estado em que se encontra a maioria
Sem virtudes, sem justa paciência;

Sem gana pra viver em harmonia
C’o bem comum, com ordem, com decência;
Consigo mesmo e com a fantasia.

Ronaldo Rhusso


Possamos espalhar aos quatro ventos
O som da poesia que nos toca,
O rio que em tal mar se desemboca
Carrega junto a si, os sentimentos,

Poeta faz das dores, seus alentos,
O amor em fantasia ali se aloca,
Agigantando sempre cada roca
Tornada continente, pensamentos...

Que possa ser assim durante a vida,
Eternos companheiros da alegria,
E imersos em fantasmas que criamos,

E quando chegar nossa despedida,
Vivemos o que o sonho nos pedia,
Que a liberdade nega escravos e amos...

Marcos Loures


Espero que esssa tal de despedida
demore a Eternidade para vir
e que tenhamos sempre e sem medida
muita alegria antes do partir.

Enquanto isso vou gozar a vida
a fim de me esquivar do despedir;
compor, honrar essa'rte sem a brida
a qual me tolhe e esforço-me a delir.

Viver os sonhos traz a paz que é dom,
é dádiva importante e eu quero é mais!
Sorver da liberdade satisfaz.

Eu posso até do encanto ouvir o som!
Mas quem da poesia dá o tom
sou eu, és tu que és mestre, és mui capaz!


Ronaldo Rhusso


Respirando este ar puro em que respiras
Os sonhos que trazemos; parceria,
A dádiva divina é maestria,
E acende da esperança tantas piras,

Enquanto poesia tu transpiras,
O velho trovador, pouco queria,
Somente algum resíduo de alegria,
Mudando pra melhor terríveis miras,

Almejo estar contigo nesta glória
Aonde a gente escreve nossa história
Marcada com a dor, com esperança

Arejas com teu riso o sofrimento,
E tendo Nosso Deus, alívio e alento,
Um claro amanhecer, a vida alcança.

Marcos Loures


Que bom pode dizer do teu valor!
Compartilhar de versos que enriquecem
e que aos corações, decerto, aquecem
tornando espinhos maus em bela flor!

Sofrer faz parte e até vejo na dor
algum motivo além e os que padecem
aos poucos se apercebem, então crescem
e dão valor à vida e ao dom do amor!

Talvez a privação do paladar
prepare o ser humano pra deixar
aquilo que não vai ter lá no céu.

Eu vejo a privação da liberdade
motivo pra buscar sobriedade
e ver na Eternidade doce mel!

Ronaldo Rhusso

Assim como ao poeta se permite
O ter em suas mãos, clareza rara,
O verso que também apóia e ampara,
Esconde das tristezas, seu limite,

Por mais que na verdade eu acredite,
A bela fantasia me é tão cara,
E quando a voz da vida em vão dispara,
Retorno o meu olhar, busco Afrodite.

Não deixaremos nunca que se apague
O brilho que somente a Musa traz,
Vivendo a plenitude e sendo audaz,

Não vejo quem polua ou mesmo estrague
As mãos do que burila tal argila,
E o sonho entre seus versos já desfila...

21434


Nas águas deste mar forte e bravio,
Insana embarcação procura um cais,
Ancoradouro é mais que desafio,
Da vida não terei nada, jamais.

As horas vão passando, e neste fio
Alçando as esperanças, quero mais
Que apenas desaguar em algum rio,
Eu sonho com estrelas magistrais...

Nas ondas, nas borrascas e procelas,
Luas de porcelana; já revelas,
Na falsa sensação de segurança,

Enquanto este pavio segue aceso,
O mundo que percebo; amaro e teso,
Não mostra no futuro uma mudança...


21435


Num céu sem nuvens timoneiro busca
Estrelas que me guiem; um farol,
Somente esta saudade ainda ofusca
Matando o que pensara ser um sol.
A porta se fechando assim tão brusca,
Sequer um porto ao menos no arrebol,

Vagando sem destino em pleno mar
Bebendo da esperança, o marinheiro,
Querendo algum carinho desvendar,
O tempo das mentiras, mensageiro,
Quem dera num amor, o seu altar,
O barco segue insano e vai ligeiro,

Atrás do maior bem, raro tesouro...
Porém aonde achar o ancoradouro?



21436


Brilhando em véu tão límpido, esta lua
Que há tempos nos conquista, seresteiros,
Caminho sob a força dos luzeiros
Enquanto uma alma à solta em paz flutua.

A sina do poeta continua
Supera com cuidado os espinheiros,
Usando no cenário seus tinteiros,
Flagrando a Musa inteira, clara e nua...

Esplêndida visagem; não esqueço,
A vida com certeza tem seu preço
E o apreço com que vivo não desfaz

O fogo que incendeia; o da paixão,
Paisagem divinal, a perdição,
Roubando do andarilho, toda a paz...


21437


Imagem que nas águas deste mar
Reflete a maravilha de um amor
Que tanto desejei poder achar,
Deveras fora outrora um sonhador,
E agora que permito te encontrar,
Eu canto um verso em forma de louvor.

As sombras do passado me rondando,
A morte caprichosa e traiçoeira
O vento que desejo sendo brando
Fazendo da esperança uma bandeira,
Não deixa que eu prossiga maltratando
A rosa nem tampouco esta roseira.

Assim vivendo a força do jardim,
O mundo renasceu e só pra mim..



21438


Tem pena de mim, louco e insensato
Que vago sem destino pela vida,
Teimando ser feliz, bebo o regato,
Na sorte muitas vezes dividida,
Comendo da esperança o raro prato,
A porta dos desejos sem saída...

Seria do poeta destino e sina?
Sonhar com impossíveis caminhares,
A mão que acaricia e que fascina
Destrói já sonegando os meus altares,
Por onde começar se o fim destina
As luzes que sonhei de teus luares?

Acordo e nada tendo, não discuto,
Eterna sensação de amargo luto...


21439


Querida, aonde vais que não me levas?
Não vejo mais motivos para tal,
Enquanto aqui existem medos, trevas,
A luz em tua vida, triunfal,
Portanto se em verdade, ainda nevas,
Preciso deste mar tão tropical.

E o vento te levou qual fosse areia
Deixando-te nas praias cariocas,
O amor que não sossega e me incendeia
Vasculha velhas furnas, grutas, tocas,
Agora disfarçada em tal sereia
Por sob as águas claras te deslocas.

E aqui entre as montanhas das Gerais,
O corvo me responde: nunca mais...

21440


Não durmas assim; tenho mil propostas
E sei que gostarás até de ouvi-las,
Do quanto dos desejos sei que gostas,
O coração percorre velhas vilas,
E tendo as minhas mãos agora postas,
A glória de vencer-me ora desfilas.

Outrora fui um tolo ao te perder
Por entre turbilhões de sentimentos,
Dominas com certeza todo o ser,
Eu quero estar contigo nos momentos
Aonde a vida ensina que vencer
É poder se entregar, tocar tormentos

Sobreviver após a tempestade,
Raiando um claro sol, felicidade...


21441


Nestas vagas sonhando com o cais
Que embora tão distante, se aproxima,
Eu desconheço o termo: nunca mais,
A vida se mostrando em alta estima,
Permite que se teime sem jamais
Perder esta esperança que ora prima.

E quando perceber tua chegada,
Após as velhas, duras, discussões,
A sorte novamente transformada,
Calcando as mais sublimes tentações,
Veremos ao raiar duma alvorada
O sol brilhando em várias direções...

E assim na aurora plena, mar e praia,
A vida em farto brilho enfim se espraia...


21442


Nestas roupas de neve o forte inverno,
Noturnas criaturas metem medo,
E vivo novamente o mesmo inferno,
Que a vida me ensinou e desde cedo,
Aonde se fizera manso e terno,
Jamais descobrirei cada segredo,

Degredos de minha alma, tão soturna,
Entornam frias trevas aos meus pés,
Visão de uma loucura que, noturna,
Não deixa nem sequer algum viés,
E quando o pensamento em vão se enfurna,
Revejo atado a mim, toscas galés.

E a morte se aproxima; em nada creio,
Porém abro os meus braços sem receio...


21443


Cabelos soltos; corre em plena noite
Fantástica figura quase humana,
Nos olhos sensação de fino açoite,
Imagem cristalina e soberana.
Sem ter qualquer espaço em que me acoite,
A sorte já se perde e enfim se dana.

Melífluas ventanias, arquejante
A triste criatura permanece,
A boca ensangüentada, num instante,
Um beijo mais atroz, ela oferece,
E como se pudesse; delirante,
A minha mansamente, a obedece...

E um ósculo mais gélido se fez,
Numa expressão de amor e lividez...


21444


Nas águas vi boiando o que era outrora
O corpo de uma bela criatura,
Bem antes do nascer da clara aurora,
A madrugada amarga e tão escura,
Buscando uma imagem, vejo agora,
A sorte desabada, escassa e dura

A pútrida paisagem, seu odor,
A noite desfigura uma ilusão
Aonde quis um dia tanto amor,
Eu vejo o corpo inerte, solidão,
E a ausência de ternura e de calor,
Traz a carcaça em decomposição...

Mergulho insanamente neste rio,
Beijando este cadáver que ora crio...


21445


Quando eu vi-a suave criatura,
Legando a minha sorte em alto cume,
Singrando uma esperança feita em cura,
O gozo de um prazer, doce costume,
Nas mãos depois de intensa e vã procura,
Delicadeza enorme deste lume...

Tomado por amor, carinho e apreço,
Vivendo a cada instante, o fogaréu,
Bem mais do que sonhara, eu não mereço
Vislumbro deste chão tão belo céu,
E o bem que aos deuses todos agradeço,
Mudando minha história e meu papel

Fazendo-me da sorte até senhor,
Nos braços deste insano e santo amor...



21446




Cândidas formas tomam o cenário,
Farturas entre seios, coxas, pernas,
O amor jamais seria temerário
Entre as loucuras doces, mansas, ternas.
Prazer desconhecendo algum horário,
As lúbricas vontades são eternas.

Desnudo-te e mergulho, claros lagos,
Arfando e delirando sou teu par,
E em meio a tantos risos, mil afagos,
Sabendo nos teus mares mergulhar
Bebendo desta sorte em goles magos,
A noite não tem hora pra acabar...

Semeio neste campo umedecido
Fecundo o nosso gozo repartido...


21447


Movendo levemente os teus quadris
Convidas para a festa audaciosa,
O quanto desejei; tanto te quis,
Fantástica mulher maravilhosa,
Bebendo cada gota, eu peço bis,
Sorris e com fartura, a deusa goza.

Num quarto de motel, em nossa casa,
Por onde nós andamos; sempre assim,
A chama inapagável, fúria e brasa,
Beleza se entornando dentro em mim,
Espasmos; frenesi. Tórrida, abrasa
Incêndio fabuloso não tem fim...

E quando saciados, nós dormimos,
Em sonhos cada passo; repetimos...



21448



Banhando assim teu corpo com carícias,
Tornando a nossa noite inesquecível,
Em meio a turbilhões, raras delícias,
O amor se faz intenso, quase incrível,
Entregue às tuas mãos que com perícias
Prometes um prazer em alto nível...

Assim ao desfrutarmos dos encantos
Que apenas os desejos sabem dar,
Porejas teu rocio pelos cantos,
Vontade tresloucada de ficar;
Deitando sob os mesmos raros mantos
Formados pelos raios do luar,

Estrelas vigiando cada orgasmo,
O mundo silencia; inerte e pasmo...


21449

Tem pena de mim; amo-te deveras,
Desejo cada toque em minha pele,
E mesmo além do encanto que inda esperas
Ao teu doce delírio, amor compele,
Que as nossas belas, claras, primaveras,
Delírio feito em gozo sempre sele.

Argutas madrugadas, mãos vadias,
Percorrem sem temores as fronteiras,
Além do que talvez; amor, querias,
Espero desde agora que mais queiras
Viver as nossas noites quentes, frias,
Vencendo o que restara das barreiras.

Servindo ao deus bacante, dionísico,
Amor além de etéreo, imenso e físico...


21450

Uma estátua sem vida no passado,
Agora numa intensa maravilha
Descendo minha boca em manso prado,
Desvendo em tua pele, mares e ilha.
Sorriso delicado e tão safado,
No olhar enamorado que ora brilha

O encanto desbravado e conhecido,
Sentindo o teu suor já se escorrendo,
Ouvindo com delírio teu gemido,
O beijo sem fronteiras, percorrendo,
Um mundo até então desconhecido,
Que agora sob a lua, vou vivendo

Até que num arfar tão fabuloso,
Perceba-te fremir no intenso gozo...

21451

Quando dormes assim nua fantasia
Eu imagino vôos para infinitos
E quando me entorpeça a poesia,
Entrego-se à loucura destes ritos,
Tua nudez há tanto me dizia
De mundos mais vorazes e bonitos.

E assim percorro em ti, vales, montanhas,
Na imensa maravilha do relevo,
E mesmo conhecendo tuas manhas,
Ao toque mais sutil eu não me atrevo,
As costas que desnudas quando lanhas
Respondem-me deveras que isto eu devo.

E acordas com a sôfrega vontade
E o vento que me toca rompe a grade...


21452

A história se complica novamente,
Embora esta vontade me domine,
Quem dera estar sozinho, de repente,
Sem nada que em verdade desatine,
Por mais que a gente lute, e sempre tente,
Aguardo o bem que a sorte determine...

Não vejo como agora poder ir
Sentindo tão distante este frescor.
Não posso acreditar no meu porvir
Se ainda tenho em mim, tão grande amor,
O quanto é necessário está por vir,
O peso que carrego; estivador

O porto sem sequer ancoradouro,
Como poder saber deste tesouro?


21453


Turvas eras, passado nega a sorte,
E quem imaginou poder sonhar,
Ao ver-se sem, ao menos, um suporte,
Não sabe mais os ventos enfrentar,
Preparo a cada dia um novo corte
Que sei não deixará de penetrar

Qual lança em minha carne, aprofundada,
Terríveis madrugadas, noites vãs,
Depois do tanto quis, sobrando o nada,
Sequer terei de novo outras manhãs,
Matando desde já uma alvorada,
As dores velhas chagas, cortesãs,

Soturno caminheiro sem destino,
A cada dia entregue ao desatino...


21454

Brilhantes, os emblemas desta glória
Que há tanto persegui e não sabia,
Nos louros, os troféus dizem vitória
Apenas retrataram fantasia,
Olhar embevecido, leda história,
Que a mente desvairada ainda cria...

Pudesse ter nas mãos o corpo belo
Daquela que se fez amada e amante,
Porém ao lavrador falta o rastelo,
E nada cultivando neste instante,
Ruindo desde sempre o meu castelo,
Resumo de uma vida delirante...

Arfante; busco em vão uma saída,
A estrada dos prazeres, tão comprida...


21455


De sangue, borrifada esta parede
Aonde imaginara um belo quadro,
A vida tem da sorte imensa sede,
Porém perdi meu rumo e sem esquadro,
Não tenho mais descanso, busco a rede,
E como cão sem rumo; mordo e ladro.

Quisera a paz de quem sabe o que quer,
Vencer os dissabores tão constantes,
Nos braços delicados da mulher,
Momentos com certeza triunfantes,
Mas seja da maneira que vier,
Os dias serão sempre destoantes;

Navego este oceano: solidão,
Apenas a esperança em minha mão...


21456


Quem não conhece o drama/desamor
Não pode condenar quem não se entrega,
Por mais que pesa a cruz, levo este andor,
Uma alma transparente me carrega
E leva para onde um sonhador
Encontra a velha sorte, sempre cega.

Queria pelo menos que me ouvisses,
Sentisse o que ora sinto e te declaro,
Talvez, até quem sabe inda me visses,
Num céu bem menos tenso e até mais claro,
O amor não é formado por crendices
Tampouco pode ser assim tão raro,

Queimando cada etapa desta vida,
A sina de quem sonha está cumprida...




21457


Jamais serei um mártir nem pretendo
Que os louros da vitória; inda conheça,
Se às vezes descaminhos eu desvendo,
Só peço: meu amor; desapareça
Apenas sofrimento, vou contendo,
Por isso cada canto meu, esqueça.

Não pude te trazer a imensa paz
Que tanto necessitas e querias,
Agora sei do quanto um incapaz
Destrói em pouco tempo as alegrias,
E quando a noite vem e o frio traz,
Prometo tão somente estas sangrias...

Não martirizarei tampouco o amor,
E o fim desta jornada é redentor...


21458


Zelando pela sacra e rara chama,
Mantendo esta esperança sempre viva,
O coração dorido de quem ama,
Tramando a solução jamais se priva
De ter em suas mãos, a mesma rama
Que leve ao caminhar da bela diva;

Servindo a quem talvez nem o perceba,
Jamais me escutarás, eis a verdade,
Por mais que a fantasia ainda beba,
Tu vives só a tua realidade,
Porém a poesia gera a gleba
Aonde não irás. Fatalidade...

Termômetro da vida, o riso e a dor,
À lágrima que escorre; o meu louvor...


21459


Beijando a fria estátua, feita amor,
Almejo algum descanso e nada tendo,
O céu mudando o brilho; perde a cor,
Matizes todos gris, inda contendo,
Na púmblea solidão, amarga dor,
Meus olhos, o vazio percorrendo...

Ao menos poderia ter a sorte
De crer numa mudança, no futuro,
Cicatrizar em paz, o antigo corte,
Saltando suavemente sobre o muro,
E tendo a fantasia por suporte,
Nos sonhos mais felizes; eu perduro

Teimoso coração, jamais descansa,
Vivendo de ilusão, tola esperança...


21460


Liberdade acendera no meu peito,
Fogueira da ilusão que ainda queima,
E quando o velho sonho for desfeito,
Sobrevivendo em mim a tola teima,

Searas em que cevo a fantasia,
Distantes dos meus olhos, minhas mãos,
A boca que beijara, não queria,
Momentos foram toscos, até vãos,

E quando não puder olhar pra ti,
Só peço que te vás e não regresses,
O amor que ainda guardo, esteve aqui,
Porém jamais ouviu as vagas preces

Desde poeta; às vezes agridoce,
Como se na verdade, nada fosse...


21461

A néscia e fátua luz que me perturba
Trazendo à madrugada um falso brilho,
Enquanto a poesia se conturba
Eu perco a direção, errôneo trilho
Caminho que conduz à velha turba,
Estilhaçando o sonho; assim me pilho.

Um velho que inda busca a fantasia,
Amenos caminhares pela vida,
Que há tanto dos meus olhos se escondia,
Julgara com certeza já perdida,
Mas quando ouço distante melodia,
Uma esperança volta, decidida...

Quem sabe no amanhã, raio solar,
Possa o caminho, enfim, modificar...



21462


Há de esmagar-me, um dia a solidão cruel,
Exangue fantasia já se vai,
Por isso, ora Te peço, amado Pai,
O manto da esperança, raro véu

Erguendo-se divino sobre o céu,
Enquanto a tempestade ainda cai,
E o tempo em minhas mãos, correndo, esvai,
Minha alma sem destino e rumo. Ao léu...

Perdoe-me Senhor os meus pecados,
Ajude-me saber das soluções,
Que eu saiba penetrar pelos portões

Embora com meus erros tatuados
Na pele desta ovelha que Te busca,
Enquanto o dia a dia, tanto ofusca...


21463


Não era mais tão frio o doce leito
Aonde pude outrora desfrutar
Do amor que tanto tem me satisfeito
E que jamais me esqueço de lembrar,
Eu creio que ilusão seja um direito
E dele posso até, saber usar

Quem sabe de outra forma não virias,
Mudando de paisagem, tens aqui,
Em meio às mais diversas galerias
O quadro que sonhaste, eu insisti,
Sabendo, meu amor que as alegrias
Existem e persistem sempre em ti.

Cadenciando a vida, não permita
Que a sorte desvirtue esta pepita...



21464

Quem dera se ouvisse ressonar
Aquela a quem me dei e não me quis,
Ouvindo a tua voz, pude sonhar
E ser, mesmo em momentos, mais feliz,
O velho coração enfrenta o mar,
Trazendo tatuada a cicatriz

Da intensa maravilha feita em luz,
Dos beijos que pensei e nunca tive,
Não posso carregar pesada cruz,
Nem só das ilusões, a gente vive,
Por isso, minha amada, em corpos nus,
O mundo delirante em que eu estive

Bebendo desta fonte cristalina
Que enquanto me inebria, em paz fascina...


21465


Pálida e fria, doce criatura
Que há tanto desejei e não sabia,
Guardando teu retrato em tal moldura
A vida vibra em pura poesia,
E a sorte a cada dia se depura
Encantas com teu riso, uma magia.

Metáforas que usei para tentar
Abrir teu coração, mas nada tendo,
Apenas aprendendo mais te amar,
Espaços siderais; vou percorrendo,
Nas asas onde aprendo que voar
É ter o amor marcando e nos prendendo.

Não quero a liberdade sem poder
Do sonha mais feliz, te convencer...


21466


Deitando no meu peito, sonhadora,
Os teus cabelos negros, minhas mãos,
A boca tão voraz exploradora,
Procura no teu corpo, belos vãos,
A fonte dos desejos, já se aflora,
Semeio em tuas furnas, vários grãos

E assim nossos caminhos vão se unindo
E cada vez mais loucos, determinas,
Um templo onde divino, claro e lindo,
Escorrem prazerosas raras minas,
E quando o gozo imenso já vem vindo,
Ao mesmo tempo grito e desatinas...

Assim a percorrer belas veredas,
No quarto intensas, claras, labaredas...


21467


Suspiros deste insano coração
Que teima em procurar uma estalagem,
Crateras divinais deste vulcão
Suprema e maviosa paisagem,
Invado cada ponto e a precisão,
Demonstra o fogaréu, tenra voragem.

Cercado destas lavas, rara chama,
Nos gêiseres que emana, preciosa,
No gozo que me dá também reclama
E não sossega até que também goza,
É dela o meu desejo quando inflama,
Mulher tão delicada e caprichosa,

Delícias desfrutadas entre nós,
Gemidos sufocando nossa voz...


21468


Meus lábios em teus seios aquentando,
Deitado sobre ti, calmo remanso,
Deveras o prazer imenso e brando,
Aos poucos, descobrindo, logo alcanço,
E desde que me queiras, quanto e quando,
O velho coração, outrora manso,

Batuca sem juízo no meu peito,
Risonhas aventuras descobrindo,
E tudo o que quiseres, eu aceito,
O amor tão sensual deveras lindo,
Enquanto em tal loucura me deleito,
Eu sinto o corpo inteiro se explodindo

Na lava que derramo sobre ti,
Rocio que me deste, enfim, bebi...


21469


A mão sendo assim tépida e voraz
Impede alguma gélida distância,
E quando a minha voz se torna audaz
Deixando para trás, a discrepância
Da vida em que procuro amor e paz,
Usando com fineza da elegância

De um verso que desnudo e cristalino,
Entrega-se a libido sem; contudo,
Ferir o doce e meigo feminino
Calor no qual mergulho e não me iludo,
Fazendo deste encanto um desatino
Aonde amor, declaro; mesmo mudo.

E tendo por bandeira esta paixão,
Entrego à fantasia, o coração...


21470

Tua face em meu colo descansando,
Clamando por um beijo e nada mais,
O tempo mesmo quente, ameno ou brando
Escreve nossos nomes nos jornais,
E os versos que te fiz, já desbravando
Delírios de montanhas, matagais,

Não deixe que o poeta cale a voz,
A fúria dos anseios o domina,
E quanto mais audaz, menos atroz,
A vida se resume nesta sina,
De ter na poesia um albatroz,
O tom da liberdade me fascina.

Menina, quando ninas o meu sono,
Impedes, desta vida o abandono...


21471

Dormindo em pleno mar de ondas bravias,
Deitando sobre os braços da sereia,
Enquanto maravilhas, propicias,
A noite sem limites, incendeia,
E bebo das diversas alegrias
Tomando já de assalto cada veia,

Na intensa claridade da fornalha
Aonde tanta lava se produz,
Vulcânica loucura acende a palha,
E o fogo em fogaréu se reproduz,
A chama que entre nós, delírio espalha,
Trazendo em noite escura, imensa luz...

Querendo cada vez mais te querer,
Imerso neste mar feito em prazer...


21472


Eu quero o teu sorriso de mulher
Que tanto me apascenta em noite vã,
No amor teremos tudo o que quiser
Lutando pela glória, nosso afã,
Quem sabe quando a morte, enfim vier,
Adie esta vontade pra amanhã...

Não quero e não consigo sufocar
O grito que extravaso; na garganta,
Vivendo neste amor, como um altar,
Imagem feminina quase santa
Que vem em noite clara me domar,
Desnuda maravilha que me encanta...

Sedento de teus lábios eu me entrego,
Sem rumo, ou direção, num passo cego..


21473


Jamais quis o sepulcro deste amor,
O fulcro que nos move, permanece,
E envolto neste manto, redentor,
Escuto a tua voz, delírio e prece,
Por mais que o meu caminho trague a dor,
A gente num momento tudo esquece

E faz da poesia nosso enredo,
Bebendo desta fonte em água clara,
Não tendo na verdade algum segredo,
A vida tendo a vida se declara,
E quantas vezes luto, mais concedo
A sorte está lançada, é jóia rara...

Talvez não merecesse estar aqui,
Porém medo de amar, enfim venci...



21474


Não quero ter no rosto o antigo siso
Que tanto prejudica e me faz mal
Quem dera pelo menos um sorriso,
Mudando desde já meu ritual,
A vida; num momento mais preciso,
Seria com certeza um carnaval.

Viver cada prazer por sua vez,
Sem ter que guardar dramas nem rancores,
E tendo no meu peito esta altivez
Canteiro da esperança pleno em flores,
O amor selando o quanto já se fez,
Irei atrás de ti por onde fores...

Estrela que me guia e me serena,
Não façamos do sonho triste arena...


21475


Num giro tão insípido, esta vida
Rondando pelos bares da cidade,
Ainda que não veja uma saída,
Talvez possa beber a claridade
Que emanas, quando estás mais distraída
E nela me inundando de verdade.

E quando serpenteia; languescente
Deitando sobre mim os teus prazeres,
O amor que necessito, mais ardente,
Servido com fartura, se quiseres,
O quanto tanto quero, a gente sente,
Da forma mais audaz quando vieres...

Numa explosão de gozos misturados,
Caminhos delicados desvendados...


21476


Seguindo sempre a esmo, sem paragem
Estúpido poeta nada diz,
Senão buscando a velha e antiga aragem
Distante do que aurora, agora quis,
No peito deste andante esta engrenagem
Jamais terá final calmo e feliz.

Errando os meus caminhos, toscamente,
Pedindo à solidão, um pouco mais
De calma, pois senão a morte sente
E vem bater seu barco no meu cais,
Por mais que fantasia ainda tente,
Respostas; não terei. E amor? Jamais...

Ouvindo este marulho nada sei,
Sereia se escondeu em outra grei...


21477


Procuro alguma paz neste retiro
Aonde esconderia minha dor,
Distante de qualquer balaço ou tiro,
Nas garras da alegria, este louvor
Que faço como verso; agora atiro
Nos braços de quem tanto quis amor.

Herético passado de quem teve
O medo se estampando em sua face,
O frio transformado em plena neve,
Sem ter aonde e como ainda passe
A mão que em poesias já se atreve,
Não pode superar o velho impasse.

Se eu sou o que tu queres, não pretendo,
Apenas prosseguir, em paz, vivendo...



21478


Saudades dos luares do sertão,
Viola traduzindo esta beleza,
Enquanto bebo à sorte, a solução
Das dores se demonstra com clareza
E vejo mais distante a solidão,
Descendo com ternura a correnteza

Que leva o pensamento à mansa foz
Nos braços da morena benfazeja,
Realça com prazer a mesma voz
E o velho coração quer e lateja
Rompendo emaranhado, falsos nós,
Bebendo a claridade que deseja.

Nascidos sob a lua plena e rara,
O amor já se afigura e nos ampara...


21479


O poeta a cantar belos momentos,
Felizes onde fomos mais que humanos,
Os olhos com firmeza sempre atentos,
Encontram tais momentos soberanos,
Toando a maravilha em pensamentos,
Matando desde sempre os desenganos.

Suaves poesias, beijos quentes,
História de paixão, vitória e luz,
Os lábios delicados, sorridentes,
A sorte que nos doma e nos conduz,
Jamais permitiremos penitentes
Amores que bebemos; doce cruz.

Encontro em teu amor este respaldo
Que busco enquanto os sonhos eu desfraldo...



21480

Jamais suportarei a vassalagem
Que insistes conotando a nossa história,
Não sou o principal desta engrenagem
Nem mesmo o que restou, simples escória,
Se eu quero prosseguir nossa viagem,
Talvez ainda creia na vitória...

Perdendo qualquer rumo, muitas vezes,
O antigo marinheiro sabe o mar,
Escuto estas desculpas, tantos meses,
E nada de fazer, ou de mudar,
Supero a cada dia outros reveses,
E a sorte com certeza hei de encontrar...

O dia nascerá maravilhoso
E o tempo enfim risonho e glorioso...




21481


Não quero neste amor o servilismo
Tampouco ser escravo deste alguém,
O beijo que desejo, cause sismo,
Não tendo outro caminho, nada vem
Senão a solidão, se à noite cismo
Buscando quem me queira muito bem

Não tendo uma resposta que me agrade,
Eu bebo deste amargo vinho/vida,
Morrendo sem matar esta saudade,
Procuro e não encontro, outra saída,
Tentando arrebentar a velha grade,
Escuto a tua voz em despedida...

Quisera ter alguém à minha espera,
Quem dera fosse eterna primavera...



21482

Imagem da esperança se negreja
Em nada posso crer, somente em dor,
O amor que tantas vezes se deseja,
Perdido, me transforma em sonhador,
Enquanto esta saudade aqui lateja,
Meu pinho chora as mágoas deste amor...

Acaso se outro dia renascesse
Trazendo alguma forma de esperança,
Não resta nem sequer alguma prece,
A vida sem destino ou rumo, avança,
A velha fantasia enfim fenece,
E o tempo nada diz; mera lembrança

De dias que se foram pra não mais,
Pereço sem saber de porto ou cais...


21483

Consagro ao despotismo deste amor
Um verso que talvez ainda escutes,
Que seja feito em paz, libertador,
Por mais que ainda distante tu relutes,
Eu quero este canteiro pleno em flor,
E a sorte noutras águas sei que embutes.

Embustes que criaste num propósito
Venal, eu não suporto a falsidade,
E faço da alegria meu compósito,
Distante da fatal sinceridade,
Não quero ser das dores o depósito,
Tampouco me esconder da claridade,

Viver o bem supremo em que se dá
O amor que esta aridez não secará...


21484

Em torno destes sonhos, agrupados
Medonhos disparates que profiro,
Os dias em verdade embalsamados,
Assim, sem ter ninguém, bem os prefiro,
Os olhos entre estrelas, desarmados,
Bebendo do silêncio cada tiro.

Retiro os meus espectros da calçada,
Nas ruas, serenatas que eu queria,
O verso sem sentido não diz nada,
Tampouco quero a luz da poesia,
Uma alma que vagando abandonada,
Distante do cenário, inda colhia

Os frutos desta lavra em que me dei,
Da natureza esqueço regra e lei...


21485


Na nossa insanidade esta vergonha
De ter o que talvez jamais contasse,
A sorte se aproxima e mais bisonha
Provoca a cada passo um novo impasse,
Sem nada nem saída que proponha,
Permito que esta dor ainda grasse.

Mudar o meu destino, ser feliz,
Austeridade em forma de ilusão,
O parto que sonhei e já desfiz
Sonega qualquer modo ou direção,
A vida, na verdade pobre atriz,
Encontra no vazio a solução.

E o palco iluminado não esconde
O quanto procurei sem saber onde...


21486


Destes vultos sentados sob a lua
Deitando meus olhares, penso logo
No fardo que nas costas continua,
E em lágrimas, sorrisos, já me afogo,
E bebo a fantasia, quase nua,
Por vezes teu carinho ainda rogo,

E os vultos permanecem nas cadeiras,
Metade do que fui se perdem neles,
As horas tão vorazes, corriqueiras,
Arrancam dos meus sonhos, rumos, peles,
E enquanto as moscam pousam, já te esgueiras
Carinhos que procuro; inda repeles.

E o quase ser talvez; não poderia
Mostrar outro cenário, um novo dia...


21487


Filhos da liberdade vão sem rumo,
Bebendo e se drogando em cada esquina,
A culpa é toda nossa; aqui assumo
A porta que se abriu; não se domina,
Bons tempos em que apenas álcool e fumo
Tocavam os sentidos da menina

Que agora noutras plagas busca a paz,
Aprisionada está e não percebe,
Da nova ventania apenas traz
O que a mente vazia inda concebe,
Sorriso escravagista; quer audaz,
E o cárcere profano, a tola bebe.

O sexo nunca foi bem libertário,
Não diz libertação. Muito ao contrário...



21488

O povo se curvando ao longe passa
E segue este cadáver insepulto,
Exposto quase nu em plena praça,
Apenas a carcaça, um triste vulto,

As moscas se aproximam do repasto
Que decomposto, estranha e fria pasta,
Enquanto desta cena enfim me afasto,
O peito sufocado diz que basta,

Porém no sibilar de um novo tiro,
A multidão desfeita, ali só resta
Carniça que aos abutres, triste giro,
Virará um banquete, imensa festa...

E assim já recomeça a nossa sina,
O dia repetindo esta rotina...


21489


Não vês no meu sorriso uma ironia,
Sarcástico jamais. Apenas triste,
Aonde houvera um rastro de alegria,
Apenas solidão inda persiste,
Mergulho neste reino, fantasia,
Sequer uma esperança ainda existe...

Durante a vida inteira procurei
Fazer do dia a dia, uma festança,
Depois que nos teus braços naufraguei,
Morreu dentro de mim esta criança
Que sonha ser um dia, noutra grei
O paladino louco da esperança...

Mataste o que melhor havia em mim,
Pra onde caminhar? Não sei, enfim...

21490


Encerra-se na brônzea maravilha
Toda a beleza rara que procuro,
Minha alma se embebeda desta trilha
E o tempo se tornando bem mais puro,
Olhando da janela, a moça brilha,
Tal sílfide fascina atrás do muro.

E vejo deste sol, os argumentos
Que formam paraísos tropicais,
Tocando a minha pele, mansos ventos,
Momentos com certeza geniais,
Os olhos locupletam pensamentos
E quero com certeza sempre mais...

E a sereia bela e seminua
Alheia sob o sol, deusa, flutua...


21491

Indigno desta luz que te incendeia,
Buscando a solução, sou vagalume
Que enquanto vivo sob a lua cheia
Vagando sempre atrás deste perfume
Tu andas tão distante, vais alheia,
Conforme sempre fazes, teu costume....

Não quero ter nas mãos discernimentos
Tampouco adivinhar cada caminho
Por onde seguirão teus pensamentos,
Na ausência de prazeres eu me aninho,
E bebo desta sorte, sem proventos,
Fazendo da esperança amargo ninho.

Sozinho, não me canso desta luta,
Porém a sorte é sempre mais astuta...



21492


Indigno desta luz que te incendeia,
Buscando a solução, sou vagalume
Que enquanto vivo sob a lua cheia
Vagando sempre atrás deste perfume
Tu andas tão distante, vais alheia,
Conforme sempre fazes, teu costume....

Não quero ter nas mãos discernimentos
Tampouco adivinhar cada caminho
Por onde seguirão teus pensamentos,
Na ausência de prazeres eu me aninho,
E bebo desta sorte, sem proventos,
Fazendo da esperança amargo ninho.

Sozinho, não me canso desta luta,
Porém a sorte é sempre mais astuta...


21493

O céu que imaginara tão risonho
Nesta amplidão reflete tua imagem,
Além do que imagino; simples sonho,
Mudando com certeza esta paisagem,
O canto mais audaz eu te proponho,
Sem medo do futuro, dono ou pajem.

Roupagens tão diversas destas que
Outrora revestiam a emoção,
A cada novo passo mais se vê
Maior e bem forte este clarão,
Procuro pelas trevas, mas cadê?
Encontro nos teus olhos, salvação,

E agora um destemido marinheiro,
Entrega-se ao amor, mais verdadeiro...


21494


Alegro-me revendo a forte luz
Que um dia foi farol, meu holofote,
A sorte que me leva e te conduz
Não deixa a dor amarga dar seu bote,
Olhar tão carinhoso reproduz
A fonte inesgotável, velho mote

Que faz da poesia, sentimento,
E molda esta escultura, meu buril,
O amor que tanto quis por um momento
Aproximando o sonho mais gentil,
Não serve tão somente como alento,
Não quero ser da morte mais servil,

Viver cada segundo, se possível,
Entregue ao sentimento mais incrível...


21495

No flóreo caminhar por bela senda,
Espero te encontrar, perfeita rosa,
Mulher que muitas vezes me desvenda
Sabendo ser fiel e caprichosa,
O amor que imaginara tosca lenda
Encontra a tua mão maravilhosa

E em cada novo afago, esta certeza
De ter a sorte imensa do meu lado,
E os olhos embebidos na beleza,
O velho coração enamorado,
Agora caminhando com destreza,
Buscando este destino perfumado...

E cada vez mais perto do infinito,
O amor repete sempre o mesmo rito...


21496

Minha alma que se enfada pela ausência
De quem tanto deseja e nunca vem,
Querendo tão somente esta anuência,
Mergulha no vazio, e sem ninguém
A vida me parece penitência
Apenas raro escombro inda contém.

Embarco as ilusões neste saveiro,
A nau que tantas vezes foi saída,
Agora sem sequer ser timoneiro
Naufrago a cada instante mais a vida,
E teimo em me dar, e por inteiro,
Por mais que o dia a dia sempre agrida

A velha poesia, como um porto,
Deixando o meu passado, amargo. Morto...


21497


Olhando a praia, o mar, a branca espuma,
Revejo cada instante que tivemos,
Enquanto esta saudade já se esfuma,
Mergulho no passado em que vivemos
O amor que nos tomando, me acostuma
Aos sonhos que decerto inda queremos.

Viver cada momento sem perguntas,
Saber que também quero estar contigo,
As almas que caminham sempre juntas,
Enfrentam tempestades, vão perigo,
E quando sobre a vida vens e assuntas
Encontra a realidade que persigo.

Estar a tua altura e ser feliz,
Sanando qualquer dor ou cicatriz...



21498


A vida dos amores, enfadonha,
Não deixa que se pense em outro foco,
E quando com saudade a gente sonha,
O velho paraíso; ainda toco
Edênica paixão, cruel, medonha,
Aonde sem sentidos desemboco.

Naufrago em suas teias, doce amor,
E queimo-me em seus braços faiscantes,
Quisera ter somente seu calor,
Porém em seus delírios abrasantes,
Maltrata me causando imensa dor,
Matando esta alegria por instantes.

Eu quero amor que acalme e me permita
Viver esta esperança tão bonita...


21499


Outrora a mais antiga quadra em trovas
Dizia de amizade feita amor,
E quando do passado ainda provas
Percebes o carinho desta flor,
Realidade fria tu comprovas
Vivendo tão somente o desamor.

Quisera trovador saber aonde
Estrela que me guia se perdeu,
O tempo esta resposta já me esconde,
Meu mundo fora um dia todo teu,
Agora a fantasia me responde
Que tudo o que eu buscara já morreu.

Restando tão somente este cascalho,
Que lacrimando embebo em sal e orvalho...


21500

Falavam deste amor os pergaminhos
Que um dia decifraste e não disseste,
Aonde mergulhar meus descaminhos,
Se tudo o que em verdade não quiseste
Decerto é construir comigo os ninhos,
Fazendo do prazer um mero teste.

Queria ser feliz, mas não podia,
Deixar abrir as portas deste sonho,
Matando aos poucos velha fantasia
Tornando o dia a dia mais tristonho,
Amar será somente uma heresia?
Será que sou horrendo e tão medonho?

Não deixe sem respostas quem adora
Mesmo que diga agora: vou embora...


21501

Cantando esta cantiga tão sutil,
Falando dos jardins, da primavera,
O coração que um dia foi gentil
Agora se transforma em vã quimera,
Olhando para trás, quem dividiu
A sorte na verdade, não me espera

E segue sem pensar no que causara
Ao coração de um tolo sonhador,
A morte me sorrindo é fonte rara
Suprema fantasia, um bom calor,
E quando a melodia não mais sara,
Ouvir o canto triste, diz amor.

Que tarda, mas não falta, vai embora,
E apenas a ilusão não se demora...


21502


Na floresta dos sonhos, passarinhos
Voando em liberdade, plena e farta,
Enquanto vão fazendo belos ninhos,
A sorte de meus olhos já se aparta,
Na busca por desejos e carinhos,
Felicidade aos poucos se descarta,

E tudo o que me resta é o nada ter,
Ninguém perceberia o sofrimento
De quem está cansado de viver,
E sempre procurando por alento,
Um lenitivo; apenas, pude ver,
Na mão de quem conduz meu pensamento.

Acaso, se vieres, por favor,
Esqueça que inda tenho tanto amor...



21503


Procuro nas campinas a verdura
Que tanto inebriou quem desejara
A vida com certeza menos dura,
E a realidade fria desampara,
Por mais que a noite siga sempre escura,
Vontade de sonhar ainda aclara,

Mas nada mais me acalma, nem fascina,
Queimada destruindo cada ponto
Deixando assim desnuda esta campina,
O amor que imaginei; nem mesmo conto,
A sorte desabando, desatina,
Apenas para morte, inda me apronto.

E restam poucas horas, nada além,
Depois da tempestade ela já vem...



21504

Tu tens o doce aroma destas flores
Que trago em meu canteiro, em meu jardim,
Vivenda dos divinos, bons amores,
Que guardo a vida inteira dentro em mim,
Distando dos erráticos pudores,
Eu chego aonde quis, para onde vim

Buscar este cometa/fantasia
Que há tanto imaginei e outrora vi,
Tomado pela fonte da alegria
Resumo a minha inteira a ti,
E quando teu amor também queria,
Estavas desde sempre por aí.

Vagando estrelas raras, bela diva,
Minha alma te deseja sempre-viva...


21505


A brisa vem trazendo seus rumores
Clamando esta presença que não veio,
Olhando de soslaio os corredores,
Estampam tão somente o meu receio
Da perda dos meus sonhos, perdedores,
Que faço sem ter base nem esteio.

Celeiros que pensara mais completos,
Vazios como as almas de quem morre,
Momentos que julgara mais diletos,
Tampouco a poesia me socorre,
Houvesse pelo menos teus afetos,
Porém a noite chega e nada ocorre...

Seria alguma chance de viver
O que pensara em paz, glória e prazer...



21506


Ainda sobre mim fortes neblinas,
O dia não se mostra; morto o sol,
As horas se passando e ainda dominas
Tomando já de assalto este arrebol,
Outrora a rara luz com que fascinas,
Espelhas em teu rosto este farol,

Mas como a vida passa e tudo muda,
Cambiam-se delírios e vontades
Não tendo mais alguém que ainda acuda,
Apenas trago as minhas realidades,
A sorte que me cabe é tão miúda
E nela com freqüência, frias grades.

Quem dera; um passarinho, asas abertas,
Mas quando me aproximo, tu desertas...


21507


Teria o velho sol, as mesmas luzes
Que outrora me guiaram e aqueceram,
Porém no meu canteiro tantas urzes,
Após uma colheita em vão nasceram,
Restando ao sonhador pesadas cruzes,
Aonde os meus delírios se esqueceram.

Pergunto ao Criador, qual a justiça
Que existe nestes atos tão cruéis,
A mão que me desanca, também viça
E entorna em minha boca vários féis,
Olhar para o amanhã, triste cobiça.
Estranhos meus destinos, seus papéis.

Apesar de viver tal inconstância,
Procuro inutilmente alguma estância...


21508


O mar ainda mostra as mesmas vagas
Aonde naufraguei minha esperança,
Distante dos meus olhos, belas plagas,
Nem mesmo a fantasia, ainda alcança
Enquanto o meu passado, fria, dragas,
Encontro em tuas mãos a velha lança.

Perpetuando assim a dor imensa
Que tanto me maltrata e não sossega,
Enquanto em poesia uma alma pensa,
Caminha entre falésias; vaga cega,
Teria na alegria a recompensa,
Porém somente em medo a vida emprega

E as trevas dominando este cenário,
O amor que desejei ledo e lendário...


21509


Enfrento este deserto e suas urzes,
Um andarilho perde-se entre espinhos,
Carrego em minhas costas estas cruzes,
Tristezas em meu peito fazem ninhos,
Nas mãos dos inimigos, mil obuses,
Avinagrada sorte, azedos vinhos...

Pudesse ainda crer que a poesia
Trouxesse algum alento pra minha alma,
Porém a noite escura e tão vazia,
Somente o vento manso inda me acalma,
Saber o que deveras não sabia,
Distante de meu corpo a amada calma,

Medonhas tempestades tomam céu,
A vida cumpre mal o seu papel...


21510


Enfrento esta dureza feita em fragas,
Vasculho pelos cantos, bebo a morte,
E enquanto os teus silêncios são adagas,
A vida proporciona um fundo corte,
Caminho pelas pedras, tu afagas
O fim me sonegando algum suporte.

Mas nada me impedindo, sigo em frente,
Não temo a solidão, dela até gosto,
O amor quando termina se pressente,
Nos sóis das dores fartas eu me tosto,
Humana cicatriz, não cravo os dentes,
Pois na sobrevivência sempre aposto.

Queria ter ao menos uma chance,
Porém não quero nada que me alcance...



21511

Antigos, tolos, velhos pensamentos
Os mesmos que carrego no meu mundo,
Vivendo sem temer os maus momentos,
Da força da esperança até me inundo
E quando sinto vindo novos ventos,
Nas sendas do prazer eu me aprofundo.

Coragem pra lutar? Nunca faltou,
O medo não conheço, e nem pretendo,
O quanto de mistério desnudou
No sonho que temível, já desvendo,
Buscando o que me resta, o que sobrou,
Não tendo qualquer lucro ou dividendo,

Apenas vou seguindo o meu caminho,
Embora tantas vezes vá sozinho...



21512


Buscando teu olhar na vastidão
Em meio a constelares maravilhas,
Encontro tão somente; imenso vão
Ausente deste olhar divinas trilhas,

Bem sei que estás perdida na amplidão,
E mais que mil estrelas, sei que brilhas,
Tocado pelos raios da ilusão,
Minha alma sem destino, uma andarilha

Vasculha toda noite e não te vendo,
Aos poucos desvalida, vai morrendo
Tentando a bela fonte que me traga

O amor que um dia foi pra não voltar,
Exposto a cada toque do luar,
Que ao longe, piedoso, então me afaga...


21513


Invés do imenso sol que procurava
Apenas neve e gelo, tão somente,
Minha alma sem saber não se encontrava
Teimando na aridez com a semente

Que um dia se fez sonho, mas agora,
Morrendo em minhas mãos, nada adianta,
Enquanto a natureza, triste chora,
A morte prematura desta planta

Eu vejo em teu olhar a mesma cor,
Do grão que em minhas mãos, virou aborto,
Que faço se não posso mais, amor,
Trazer a minha barca para o porto

Aonde quis a sorte e não vieste,
Tornando a minha vida, então agreste...

21514


Eu feito um louco pulo nesta lava
Que queimando minha alma, já me alenta,
Por mais que a noite seja violenta,
E esta maré se mostre mesmo brava,

Rompendo com passado, uma alma lava
Cessando desde já qualquer tormenta,
Um novo amanhecer, risonho tenta,
Arrebentando então a antiga trava

Liberta, sem ter mais o que temer,
Decerto que afinal irá vencer
Desditas que encontrar em seu caminho,

Assim em novo amor, invisto a vida,
Que embora maltratada e dolorida,
Arranca a cada dia um novo espinho...


21515


Medonha imagem triste de um vulcão
Soltando sua lava sobre todos,
Assim também entrego o coração
Jogado sobre imensidão de lodos,

Queria ser feliz, mas nunca pude,
A morte vem rondando minha cama,
Quisera ter ao menos mais saúde
Porém eu sei o que o fim, deveras chama,

E quando me encontrar será bem vinda
Por mais que eu creia ser feliz ainda
A sorte me despreza e me abandona,

O medo não faz parte dos meus versos,
Os dias que virão; duros, perversos,
Mas vivo a poesia, minha dona...


21516

Da vida que estraguei por ti querida,
Somente algum sinal inda persiste,
Olhando para trás, tão distraída
Percebo-te deveras sempre triste,
Por mais que a gente busca uma saída,
Sem ter amor, jamais ela resiste,

Medonhas madrugadas solitárias
Sonhando com alguém que não está
As horas são terríveis adversárias,
Somente a dor intensa brilhará,
As forças com que lutas, são contrárias,
Mas sei que no final as vencerá.

Usando da emoção, arma invencível,
Pra ti nada será mais impossível...


21517

Das quadras que compomos; as risonhas
Jamais permitiriam tal tristeza,
Da forma com que falas, sei que sonhas,
Buscando a poesia com destreza,
Não quero me esconder por sob as fronhas
Tampouco irei vencer a correnteza,

Apenas me deixando então levar,
Até que o rio encontre a sua foz,
Quem dera uma alegria navegar,
Ouvindo da esperança a mansa voz,
E poder dentro tantas te encontrar
Dizendo deste amor que existe em nós,

Sem ser somente mera pedraria,
Da forma que convém, pura alegria...



21518


Não solte sobre mim sua peçonha,
A vida não faz mágicas querida,
Enquanto o teu olhar já se envergonha
Preparo desde agora uma saída,
O medo de viver para quem sonha,
É como ter a casa destruída

Entregue desde cedo a tais loucuras,
Na base um grande imenso formigueiro,
Além da fantasia que procuras,
Tu queres que mergulhe por inteiro,
Nas ânsias sem domínio, busca curas
E quebras a aquarela e teu tinteiro,

Não posso me calar, mas me permita
A vida deve ser clara e bendita...



21519


Querida, nos teus lábios eu bebi
Do doce de um veneno inestimável,
E quando te revejo bem aqui,
O amor se torna então interminável,
Alçando a fantasia que há em ti,
Vivendo um sonho bom, inalcançável,

Cansado de lutar e não ter nada,
Vencido pela angústia e pelo medo,
A noite não aguarda uma alvorada,
E enquanto nada vem, temo e concedo,
Palavra de ilusão mal disfarçada,
Guardando dentro da alma este segredo

Virei beber da sorte que sonegas,
Andando pelas trevas sempre às cegas...



21520


Quisera pelo menos mocidade
Procuro a juventude que não tenho,
Aonde encontrarei tranqüilidade
Distante do lugar de onde venho,
Bebendo cada rua da cidade,
Ausência de esperança é o que contenho.

Recebo o frio vento em minha face
Sem nada por dize, fico calado,
O medo se tornando um vão impasse,
Carrego a fantasia aqui do lado,
E logo a poesia quer que eu passe,
Mas sigo o meu destino, sina e fado

Morrer de tanto amar e nada ter
Senão uma ilusão a me tolher...

21521


Carrego dentro da alma esta saudade
Lembrando de quem foi e não me quis,
Quem dera se encontrasse a claridade,
Seria novamente tão feliz,
Mas guardo em meu olhar insanidade,
O bem que procurava se desdiz

Deixando tão somente amarga senda
Por onde caminhando nada vejo,
Nem mesmo uma alegria se desvenda,
Morrendo em nascedouro este desejo,
Desabrigado sonho busca a tenda
Que ainda tão distante ora prevejo,

Lampejo de ilusão, morte me açoda,
E a vida repetindo a imensa roda...


21522


Na fronte apenas gelo e nada mais,
Eterna sensação de frio e medo,
Olhando e disfarçando sem jamais
Poder te revelar cada segredo,
Os olhos no vazio, anormais,
Estampa o coração apenas medo

E teima em ter a sorte que buscara,
Conforme a solidão do nada ter,
Amor se transformando em perla rara,
O beijo da mulher a se esconder,
Enquanto a fantasia se declara
Sem nada em minhas mãos, melhor morrer...

E tudo leva ao dia que virá
E ausência de alegria tomará...


21523


A morte nas artérias vai pulsando
Tomando do meu corpo cada espaço
E o dia entre mil nuvens terminando
Somente me restando este cansaço,
Não sei e nem pergunto quanto e quando
Eu poderei sonhar com novo passo

Se tudo que desfaço jamais volta,
Apenas o meu medo se repete,
E tendo nos meus olhos a revolta,
Não quero carnaval, queimo o confete,
A mão da dor imensa não me solta,
Apenas o vazio me compete,

E tudo o que busquei deságua em vão,
Deixando em seu lugar a escuridão...




21524


Medindo a cada dia tais misérias
Que carrego comigo, pesando a alma,
As dores se tornando bem mais sérias
Seria muito bom houvesse calma,
No corpo exposta aos vírus e bactérias
Somente uma ilusão inda me acalma,

Calando uma esperança, a dor imensa,
Jamais encontra o fim, inevitável,
E quando a gente busca a recompensa,
O amor se torna, às vezes intragável,
Trazendo em seu olhar a desavença
A solidão se torna até quem sabe amável,

E o dia se transforma em noite escura,
Ausente da esperança e da brandura...

21525


De ser mortal carrego grande orgulho
Por ter em minha vida dor e gozo,
Supero com vontade o pedregulho,
E o campo que prefiro, o tenebroso,
Se tudo fossem flores, num mergulho,
Vencer jamais seria saboroso.

Temer as desventuras? Pois virão,
Arcar com velhas dívidas humanas,
E ter completa em mim esta visão,
Das coisas que se mostrem soberanas,
Vivendo pleno amor, viver perdão,
Detendo as forças tolas, quase insanas

Que fazem da alegria, um desperdício,
Da nossa caminhada, um precipício...


21526


Enquanto a noite morre e nasce a aurora
Relembro dos olhos de quem amo,
Inutilmente a vida se demora,
Ninguém responde ao grito quando clamo,
Pedindo à solidão que vá-se embora,
Um novo amanhecer; por vezes tramo,

Mas sei que sendo engodo, nada resta
Senão olhar pra trás e ver teu rosto,
O amor que à fantasia já se empresta,
Mostrando esta nudez, estando exposto,
Adentra sem limites a floresta,
Querendo da alegria um simples gosto.

Marcado com os ferros da ilusão,
Entrego-te querida, o coração....


21527

A mata despertando seus cantores,
E as flores colorindo este cenário,
Expressa com soberba tais primores,
Enquanto em liberdade ouço o canário,
Vencer os turbilhões; saber sabores,
E ter no seu caminho um lampadário.

O verso mais audaz se diz amor,
E trama com certeza medo e riso,
Não posso me calar, em seu louvor
Eu faço desta estrofe o que é preciso,
E embora tantas vezes sofredor,
Jamais terei enfim qualquer juízo

E mergulhando às cegas, nada temo,
Nas tramas deste encanto eu já me algemo...


21528


O vento roça as flores mansamente,
Num ar primaveril, pássaros cantam,
Enquanto me dominam; alma e mente,
Divinas criaturas que me encantam,
Pudesse ser comum e até freqüente,
Porém as armadilhas as espantam...

Assim também no amor, as artimanhas,
Maltratam quem se dá sem as defesas,
E vivem armadilhas, tantas manhas,
Que impedem ao amor suas clarezas,
Tornar estas partidas todas ganhas,
Vencer com calma e paz as correntezas.

E nosso amor conhece muito bem
Por isso algum temor jamais contém...



21529

A névoa que se estende esta manhã,
Impede que eu vislumbre o imenso sol,
A luta pelo amor, um grande afã,
Precisa de uma luz, fonte ou farol,
Senão a caminhada fica vã,
A bruma toma conta do arrebol...

Mas tendo nos teus olhos o meu guia,
Não posso me perder; acerto o passo,
E quanto mais desejo mais queria
Seguindo esta vontade traço a traço,
Viver em plena paz, na noite ou dia,
Ocupando brilhante, cada espaço,

Assim é minha sina, ser só teu,
No amor que em paz a vida já nos deu...



21530



As pombas lamentando dissabores
De amores que se foram pra não mais,
Mas trago em minhas mãos, diversas cores,
Bebendo em tua pele, raros sais,
Manhã traz nos matizes, seus albores,
Momentos que bem sei; são magistrais

Arcando com o peso da saudade,
Levando o coração para ofertar,
Com toda e mais completa liberdade,
Somando nossas vidas a vagar,
O amor quando se diz tranqüilidade,
Não tem porque temer, nem duvidar.

As pombas solitárias, tristes voam,
As almas num amor, em paz revoam...


21531


Orvalho se escorrendo em cada flor,
Trazendo para os olhos brilho raro,
Assim também querida, é nosso amor,
Uma haste sem igual, meu grande amparo,
Viver tal alegria sem pudor,
Tramando um novo tempo bem mais claro;

Beber da fonte cara e preciosa
Dos lábios carmesins desta menina,
Nas mãos estendo a ti divina rosa,
Que umedecida em lágrimas fascina,
E quando te percebo tão vaidosa,
Minha alma com certeza se ilumina

E rouba de teus olhos, claridade,
Aprende a traduzir felicidade...



21532


Seguindo pela estrada feita em vícios,
Os ócios e os estios abandono,
Cavando com meus pés os precipícios,
A sorte repetindo, às vezes clono,
Criando e recriando os artifícios
Buscando descansar, mas falta sono...

Pereço a cada dia um pouco ou tanto,
E o canto se espalhando ninguém sabe,
Apenas se dissesse dor e pranto,
Bem antes que o amor enfim desabe,
Não posso te negar meu grande espanto,
A vida com certeza não me cabe...

Arranho os meus poemas, peço trégua,
Distante da alegria, quase légua...



21533


Caminhos que formaram tolos párias,
Antigos decaídos, vida afora,
As horas em que sonho, sendo várias,
O tempo de viver não se demora,
Matando as fantasias temerárias,
A morte pouco a pouco se assenhora.

Dominando meus versos, pensamentos,
Libertação longínqua e quase opaca,
Talvez inda tivesse bons momentos,
Caminho sem saída, a vida empaca,
E quando bebo o amor, são raros ventos,
Cravando no meu peito a mesma estaca

Ser vil e não servir, não serviria
Quem sabe a sorte volte em outro dia...


21534


Funestos artifícios, não mais uso
Embora ainda sinta a imensa dor,
Talvez um caminheiro errando o fuso
Perdido neste mundo, sem valor,
Também, eis a verdade, não me escuso,
Se o tempo me fez mau; há desamor.

Marcado com terrível tatuagem
As costas, carne viva, vergastadas,
Levando ao pensamento a tua imagem,
Figuras do passado, desgastadas,
Não posso prosseguir minha viagem,
As velhas montarias destroçadas...

Agora o que me resta é tentar crer
Que o mundo um dia meu, inda irá ser...


21535


Iludido, em loucuras me arrojei
Bebendo o amargo fel da ingratidão,
Castelos que criara; eu derrubei,
A sorte se lançando em duro chão,
E o solo que com calma eu já lavrei,
Matando em plena seca qualquer grão...

Não posso te pedir perdão, ao menos.
Meus erros foram tantos; doloridos...
Quisera respirar ares amenos,
Porém meus dias seguem mais sofridos,
Usando com cuidado, cortes, drenos,
Problemas não seriam resolvidos...

Se a vida cobra o preço; sim, eu pago,
E as mãos já estendidas, sempre trago...



21536


Quem sabe se ainda fosse mais sereno,
Talvez pudesse até ter a esperança
Distante dos teus braços me apequeno
Penetra dentro da alma a fina lança,
E enquanto busco um dia mais ameno,
O brilho se perdendo, não se alcança.

Vencido pela dor de um desafeto,
Ninguém consolará este infeliz,
Pudesse pelo menos ser discreto,
A vida mostraria outro matiz,
Porém se em desespero me arremeto,
Bem sei que não terei o que mais quis,

O beijo caloroso, a mão macia
Daquela a quem meu mundo entregaria...


21537



Quem sabe se ainda fosse mais sereno,
Talvez pudesse até ter a esperança
Distante dos teus braços me apequeno
Penetra dentro da alma a fina lança,
E enquanto busco um dia mais ameno,
O brilho se perdendo, não se alcança.

Vencido pela dor de um desafeto,
Ninguém consolará este infeliz,
Pudesse pelo menos ser discreto,
A vida mostraria outro matiz,
Porém se em desespero me arremeto,
Bem sei que não terei o que mais quis,

O beijo caloroso, a mão macia
Daquela a quem meu mundo entregaria...



21538

Sem ter no meu olhar tua presença
Pudesse pelo menos te tocar,
Distante desta noite, vaga e imensa,
Procuro algum lugar para encostar
O corpo tão cansado, a recompensa
Mostrada nas esquinas, neste bar

Aonde encontro os pares do abandono,
No copo da aguardente, a redenção,
Quando vem madrugada, chega o sono,
O travesseiro está em qualquer chão,
Vestido de ilusão, não desabono
Aquele que se fez em solidão

Deitando sob a luz da lua cheia,
Mais forte que a esperança, ela clareia...


21539

Contemplando esta estrela, vejo enfim
No céu esta esperança que sonhara,
O mundo desabara sobre mim,
Somente a fantasia inda aclara
A vida acende aos poucos o estopim,
E a sorte se perdendo, desampara.

Queria ter comigo quem partiu
E não deixou sequer um leve rastro,
Pudera ser ao menos mais gentil,
Encontraria assim âncora e lastro,
O brilho desta estrela permitiu
Pensar que ainda existes; um belo astro

Que toda noite surge a transbordar
Luzindo bem mais forte que o luar...


21540


No teu álbum

Delicada, gentil e graciosa,
tu me lembras das flores a bonina
e a lirial ternura da menina-
moça e mulher, complexa, formosa.

Tu me fazes pensar na esplendorosa
aurora azul da graça feminina,
que contrasta com a noite tenebrosa
que vem da besta-fera masculina.

Dado me fora ser do verso esteta
e não tal como sou, simples poeta
rabiscador de versos moribundos...

Em vez de pobres rimas deserdadas
eu tê-las feitas de alvoradas
e meigas sinfonias de outros mundos

Chaplin

Tu tens esta meiguice ímpar, querida,
E trazes nos teus braços o calor
Mantendo o que há de bom em nossa vida,
Cultivas com carinho, o nosso amor.

A minha caminhada, distraída,
Às vezes gera espinho e mata a flor,
Porém na tua estrada enternecida
Encontro farta paz. Merecedor?

Demônios me acompanham vez em quando,
O dia pouco a pouco se nublando,
Mas trazes este sol que me redime,

Tu és meu contraponto; com certeza,
Guiada nossa história em tal destreza
Fazendo com que mais e mais te estime...


21541


A vida tem razões que desconheço
E faço destas formas de oração,
Além do que talvez mesmo, mereço,
Eu busco este caminho na amplidão,
Não quero mais saber de algum tropeço
Mergulho sem temor, sem direção

Nos mares em que deitas teus prazeres,
Olhares te perseguem qual sereia,
Milhares de fantásticos quereres,
Trafegam no oceano, em plena areia,
Sabendo desde quando tu vieres
Que a lua se derrama clara e cheia

Eu bebo desta fonte sem parar,
Deitando sob os raios do luar...



21542


Guardando bem no fundo do meu peito
Tua presença amiga e tão suave,
Não quero mais a vida, contrafeito,
Tampouco uma tristeza que inda entrave
O caminhar de um tolo, sendo feito
Nas asas da esperança, antiga nave

Decola nesta busca que não cessa
Por ter alguma chance, ser feliz,
Além de tão somente uma promessa
É tudo o que desejo, o que mais quis,
E toda a minha história recomeça,
Almejo mais depressa um novo bis.

E quero que tu venhas para mim,
Meu anjo, minha deusa e querubim...


21543



Dos vícios que carrego; o preferido
É ter o teu olhar junto de mim,
Enquanto houver a luz, jamais duvido
Haverá florir eterno em meu jardim,
Não deixe que este amor morra no olvido,
Preciso mergulhar até o fim...

Sentir a tua pele junto à minha,
Roçar os teus cabelos com meus dedos,
O corpo que em meu corpo já se aninha
Conhece muito bem os meus segredos,
E quando a poesia nos convinha
Sabias já de cor doces enredos...

Serpenteias em mim, delírio e fogo,
Desejo tanto arder neste teu jogo...



21544


Pertenço aos desvalidos e vazios,
Terrível confraria dolorosa,
Aonde mergulhara antigos cios,
A noite se entregando vaporosa,
Rompendo com certeza os finos fios,
A sorte se debanda, caprichosa

E deixa no lugar a solidão
Quimera há tanto tempo conhecida,
Fechando para sempre este portão
Recolho-me deveras a uma ermida,
E tudo o que eu tentei, me disse não,
De que valeu lutar por minha vida?

Eu quero algum descanso pelo menos,
Em dias mais suaves, mais amenos...


21545



Artifícios funestos? Não mais quero,
Apenas a verdade e nada mais,
Se ausente de meus braços o vão espero,
Procuro pelo menos que haja um cais,
O amor que se mostrou brilhante e fero
Responde que não voltará jamais.

E sinto em minhas mãos, a febre e o frio,
Pertenço à solidão e sei bem disso,
Viver é desumano desafio,
Não quero mais saber do compromisso
E fico te escrevendo horas a fio,
Até que o coração reponha o viço

Embora nunca mais volte a ser como
Já fora, este maldito que não domo...



21546


Iludido; caminho pelas ruas,
Tentando descobrir uma resposta,
Verdades que conheço nuas, cruas,
A porta se entreabrindo, uma alma exposta,
Enquanto estrelas vagam, belas, nuas
Eu perco com a sorte a velha aposta,

Morrendo devagar, sem ter abrigo,
Somente a luz da lua me conforta,
Queria pelo menos um amigo,
Que abrisse de seu peito, a imensa porta,
Não vejo, mas confesso que o perigo,
A cada novo dia mais aporta.

E chega de mansinho, sem segredo,
E sei que ela virá, e bem mais cedo...



21547


Beijando nesta terra o verme infame
Que um dia a de comer cada pedaço,
Não vejo mais motivo que me chame
A sorte já desfez o antigo laço,
Também desnecessário que inda clame
Tentando resistir, somente embaço

O passo que talvez não queira dar,
Porém é necessário que se dê
Na morte o derradeiro e manso lar,
A vida não tem menos nem por que,
Apenas é preciso se entregar,
E ter no que sonhar. No amor se crê

E é dele esta esperança que inda porto,
Por isso a dor maior inda suporto...


21548


Amor que em tanto amor, amores paga,
Não deixa qualquer dúvida, diz tudo.
E nele com certeza não me iludo,
A velha decepção, decerto apaga.

E quanto mais audaz, incrível plaga
Invado com meus lábios, quieto e mudo,
E quando no teu corpo o meu eu grudo
A sorte sorridente já me afaga.

E em movimentos loucos, os quadris
Convidam para a noite mais feliz,
Orquestrando delírios envolventes.

Assim beijando nuvens; anjos, vejo
Escravos da paixão feita em desejo,
Bebendo destas fúrias mais ardentes...



21549


Quando vejo teu corpo em minha frente,
E mostra em transparência formas belas,
É como se eu pintasse raras telas,
Gerando um Paraíso, onde contente

Mergulhe meu prazer incontinente,
Vagando por estrelas, aquarelas,
Descendo mansamente, me revelas
Vulcânico desejo, ardentemente.

Sentir teus arrepios, maciez
Na gula insaciável, nossa vez
De sermos mais felizes neste mundo,

Até que em carrosséis, louco delírio,
Deixando para traz medo e martírio
Do gozo que me emanas, já me inundo...



21550


Encaixas tuas coxas entre as minhas,
Balé delicioso noite afora,
E enquanto a fantasia nos devora,
Em meio às tempestades tu te aninhas

E sabes que as tristezas são daninhas,
A luz desta paixão já te decora,
E a boca que me beija, sonho ancora
Delírios sem igual que tu continhas

E sempre com pudores sonegava,
O amor incendiando, como lava,
Vulcânica explosão em gozo pleno,

E cada vez mais juntos, somos mais,
A força deste sonho que é demais,
Não deixa que este encanto seja ameno...



21551


Amar e me perder em tanto amor,
Enamorado a cada novo dia
Prazer que em teu prazer se resumia,
Imensurável fogo, o bom calor,

Sem medos, numa entrega sem pudor,
O corpo que em teu corpo se sacia,
Num pélago profano, maresia,
Bebendo cada gota. Destemor...

Assim a nossa noite não tem pressa,
E segue sem limites à exaustão,
Enquanto se confessa esta paixão,

O coração deveras já se apressa
E presa desta louca maravilha,
Como um farol, â noite, também brilha...


21552


Um brilho tão falaz da bela estrela
Sinistra fantasia traz agora,
Audaz a poesia tempo afora,
O quanto de beleza só por vê-la

A mão que se revela, pode crê-la,
E a sombra do que fomos inda aflora
O gozo interminável; indo embora,
Jamais eu poderei/devo retê-la.

Sentindo este bafio; penso a fera,
Que um dia se mostrando em claros dentes
Fazendo dos meus sonhos penitentes,

Causando tanta dor, tão longa espera,
O corte é desafio, a fio e faca,
Afio a fantasia, mas se empaca...


21553


Procela com sinistra e negra luz,
Naufrágio da esperança com certeza,
E ao vago que a tempesta me conduz,
No fim do entardecer, rara destreza

De quem se fez outrora, peso e cruz,
E agora sobrevive com leveza,
Na mão direita trago o velho obus,
Enquanto uma alma segue sem defesa...

Arcaicas melodias, dissonâncias
Metáforas que um dia quis usar,
Vergonha de um distante caminhar,

Passado traz ainda ressonâncias
Negando ao meu futuro a claridade,
Procela se repete: realidade...


21554


Nas mãos carrego ainda o velho círio
Pensando nesta ausência, em preces, oro,
E quando mais distante é tal martírio
Que em meio a mil torturas me demoro,

Se em plena cicatriz, derramo em lírio
Canteiro quase mórbido; decoro,
Pensando no passado, num delírio
Que há muito já se foi; tenaz, imploro.

Mas sei que nada vem sem luta e guerra
E a senda insustentável já se encerra
Fazenda que sonhei, mero quintal,

E o tempo nos deforma e nos destrói,
Enquanto a realidade, os sonhos, mói,
Procuro na esperança algum aval...

21555


Seguindo-te por tantos desenganos
Fiel aos meus princípios, nada levo,
Sequer à fantasia inda me atrevo,
Mudando desde o início, rotas, planos,

Sangrando pelos poros, desumanos
Caminhos com certeza; estes que cevo,
Um servo da ilusão, tolo, eu me enlevo
E beijo lábios frágeis/ soberanos...

Arcar com dor e gozo, riso e medo,
Se às vezes de antemão perco e concedo,
Condeno-me ao desgaste da derrota,

Mas sei que assim fazendo tu virás
E quando retornares, vida em paz,
A cada poro nasce e forte brota...


21556


Em meio a pesadelos, turba insana
Vagando sem destino, céus e mares,
Por mais que conheçamos os lugares,
Uma alma sem juízo; vai cigana

E quando a sorte nega e assim me engana,
Eu bebo da ilusão, faço os altares
Nas mesas destes velhos, toscos bares,
A noite sem limites é profana.

E o gozo permanece na lembrança,
Enquanto a madrugada já me alcança
Trançando pelas ruas, os meus pés,

A boca escancarada da alegria,
Após a farta noite em rara orgia,
Quebrando estas algemas, vis galés...


21557


O amor em plenitude, diz da vida
Que nada poderá modificar
Se aprendo a cada dia mais amar,
Encontro a qualquer hora uma saída

E sem falar da ausente despedida,
Vontade dominando faz ficar,
Orgástica bacante, o lupanar
Loucura sem limites, desmedida.

Na soma deste tanto após a chuva
O amor nos encaixando como luva,
Fertilidade é certa, a vida brota.

Seguindo esta corrente, encontro o cais,
E bebo até fartar, nunca é demais,
Amor/embarcação, suprema frota.


21558


A sombra deste arcanjo decaído
Espalha-se por toda a humanidade,
Nos olhos tão venais, a crueldade,
O gozo incendiando esta libido,

O amor morrendo ao longe, em triste olvido,
Não deixa nem sequer sobrar saudade,
A sorte se desfaz; felicidade,
Um bem há muitos anos esquecido.

Satânica, gargalha esta quimera,
Eu sei foi prolongada a sua espera,
Porém farta peçonha ganha o jogo,

Aos pobres só restando frio e fome,
O medo de viver mata e consome,
A terra vai se ardendo em gelo e fogo...


21559


O busto incendiado em tal fulgor,
Desnuda a bela fera tão audaz,
Agora em tal volúpia mais voraz,
Expressa com ternura, amor e dor.

Num quadro sem limites, sedutor,
O medo mata a Angústia e se desfaz,
Olhar tempestuoso agora traz,
Numa explosão suprema, este esplendor.

E a fome se sacia novamente,
Bebendo cada gota do suor,
O amor se mostra assim sempre melhor,

O gozo repetido não desmente,
Jamais deixamos qualquer mal entrar,
Fazendo deste quarto nosso altar.


21560


Marcado pelos beijos do demônio,
Imagem de Mefisto tatuada,
A sorte se fazendo em pandemônio,
Depois da terra imersa e devastada,

No olhar descrente e vago de um campônio
A vida num momento, vale nada,
O fogo consumindo o patrimônio,
Não sobra qualquer vida após queimada.

Assim num beijo amargo de Satã
Cansado deste mesmo e longo afã,
O velho lavrador, ao sonho? Adeus...

Assim também em plena eternidade,
Ao ver como caminha humanidade
Em lágrimas sanguíneas, chora Deus...



21561


A fronte de uma tez amorenada
Textura de açucena, belo olhar,
Por sobre os meus lençóis está deitada
Convite sensual pra tanto amar,

Deslumbro do teu lado uma alvorada
E o brilho que nos toma, luz solar,
Depois da noite inteira enluarada,
Vontade simplesmente é de ficar,

Mas tendo pela frente um novo dia,
Distante da emoção, da poesia,
Num árduo ofício. Após o meu trabalho

Retorno ao Paraíso e num segundo,
De novo deste brilho, uma alma inundo,
Sabendo já de cor, qualquer atalho...



21562


Tivera um farto brilho sedutor,
Talvez jamais enfim me abandonasses,
E quando se entregando ao raro amor,
Deixando para trás tolos impasses,

Por mais que a gente sonhe, tanta dor,
Somente pediria não falasses
Do quanto fui feliz; só em propor
Nas nossas vidas, claros, bons enlaces...

Mas tudo tem seu fim e reconheço
Os erros que cometo sem sentir,
Matando em nascedouro este porvir,

A queda vem após cada tropeço,
Se eu atropelo o tempo e sou assim,
Que caia este granizo em meu jardim...


21563


Eu creio que a esperança determine
O rumo dos meus dias que virão,
E mesmo quando às vezes se extermine
Os sonhos, os refaça na amplidão,

Não tendo quem na vida desatine
Eu sigo sempre em paz a direção;
Sem ter visto sequer em algum cine
Roteiro diz tão bem quando é paixão...

Vestígios do passado? Nem talvez,
História que por si já se desfez
Não levo mais em conta, pois morreu,

Receba então as flores que ofereço,
O amor sabe de cor este endereço,
De um mundo todo meu e todo teu...


21564


Tu eras qual a flor, perfume e espinho,
Crisálida dos sonhos, liberdade,
Vivera antigamente tão sozinho,
Tua presença trouxe a claridade,

Vagando sem destino na cidade,
Na busca de algum canto, casa ou ninho,
Falando com total sinceridade,
Nos mansos de teu colo, eu quero e aninho

Deixando para trás dores terríveis,
E os monstros solitários e temíveis,
Carcaças de outras eras, podridão.

Viver para o futuro sem saber
Do que virá ou não acontecer,
Guiado pelos olhos da paixão...


21565


É nesse refazer com paciência
que temos o antídoto ansiado
pra desfazer o estado da dormência
algoz que contra nós tem festejado.

Talvez temos mostrado a complacência
com cada inimigo e não amado
aquele que se esconde em vil dolência
atrás de cada verso elaborado.

Perdão tem dupla mão e é tão bonito!
E torna essa viagem mais segura.
Mas reconheço que só alma pura

deixa a realidade e vira mito.
Por mim se a morte vem eu solto um grito
e digo: vá de retro, ô bicha escura!

Ronaldo Rhusso

Cantemos, pois à vida, companheiro,
E mesmo que sofrida, é tudo o que
Existe de concreto e o tempo inteiro
Navego em suas ondas, sem cadê?

Não posso sonegar o verdadeiro
Caminho pelo qual em Deus se crê,
Do parto até a partida, mensageiro
Da paz que sabe bem o que se vê.

Não creio nos demônios, nem os temo,
Distante de meus sonhos, vejo o Demo
Mefisto não passando de ilusão,

Porém no amor divino, num mergulho,
Eu bebo destas águas e me orgulho,
De ser a cada dia mais cristão...


21566


Nos olhos tão brilhantes da mulher,
Que é deusa, diva, dama, minha dona,
O bem que nesta vida mais se quer,
Neste ar de quem deseja e me abandona,

E seja da maneira que quiser,
Deixando a poesia vir à tona,
No encanto feminino, o que vier
A sorte desta vida sempre abona...

Permita-me exaltar com os meus versos
A ti que a caminhada agora ancora,
Em todos os sentidos, mais diversos,

O que seria então do amargo mundo,
Não fosse uma mulher dele senhora,
Provavelmente um charco, parco e imundo...


21567


Reflexos deste sol sobre o teu rosto,
Cambiam de matizes, belas cores,
O amor entre nós dois; enfim exposto,
Permite que se vejam tantas flores

Mudando este caminho, outrora imposto,
Não beijo mais a dor, querendo ardores,
Deitando num remanso, manso encosto
Aonde desfrutar nossos amores...

Vencer a madrugada, ver a aurora,
Nascendo iridescente, maviosa,
No olhar de quem deseja e se demora

O tempo não tem hora, vira eterno,
Espinho permitindo que uma rosa
Perfuma com seu hálito, tão terno...


21568


Quisera esta beleza feito aurora
Num dia de verão, de primavera,
Sabendo desde sempre o quanto agora,
O amor quando demais, amores gera,

O bem que nos tocando, nos ancora,
A sorte sabe bem e não espera,
O beijo da mulher; a alma que chora,
O rito sensual da imensa fera...

Quisera ter nas mãos, a poesia
Que tanto me faz bem e me maltrata,
E enquanto a solidão, espaços cria,

Eu vejo o teu retrato na parede,
Um sonho tão feliz de amor nos ata,
Matando a cada instante a intensa sede...

21569

Apenas podridão e impura lama
Aquilo que me espera após a vida,
E quanto mais a morte inda me chama,
A sorte se encontrando mais perdida,
Ausência de esperança se reclama,
Que faço se a verdade é dolorida?

Seguir os desenganos e aplacar
Quem sabe então sorrir e num momento,
Apenas a verdade disfarçar,
Talvez diminuísse o sofrimento,
Mas quero sem ter dúvidas falar
O que transborda agora em pensamento.

Não resta muito tempo, disso eu sei,
Mas finge; minha amada... Voltarei...


21570

Guardavas tanto amor no coração,
Porém precipitaste a dura ausência
De quem não sabe ao menos que o perdão,
Se faz tão necessário, e sem clemência,
A vida se transforma em turbilhão,
Levando a tal transtorno, uma demência...

Voltar e consertar os meus enganos,
Quem dera se pudesse ser assim,
Talvez não te causasse tantos danos,
Distante eu te veria deste fim,
Mudasse; no caminho, nossos planos,
O sol inda viria junto a mim

E assim sob um caminho ensolarado,
No rosto um bom sorriso desenhado...


21571


Amar-te foi perder meu rumo e prumo,
Escoro minha vida em outra base,
Não pude degustar sequer o sumo
Da fruta que se deu. Amor me arrase
E leve para sempre o doce insumo,
Embora eu inda creia em nova fase

Aonde eu poderia ter a paz
Que tanto procurei e não sabia
Que um dia me traria a mais audaz
E bela criatura que existia,
Mas quando tu partiste, tanto faz,
A noite invade; escura, o claro dia...

E o sol; jamais verei. Outra manhã?
Inútil esperança, torpe e vã...





21572


Tu tens plena razão, pois constelar
É o mundo que desfilas sobre mim,
Pudesse no horizonte contemplar
Beleza que sem par, jamais tem fim,

No quanto desejei poder amar,
E o tempo se mostrou sempre ruim,
Não posso; timoneiro, navegar,
Tampouco me calar, eu sou assim

Um quando que não teve mais espera
O quase que jamais se fez inteiro,
Percorro o velho tempo, mensageiro

Daquela que já fora primavera
E morre pouco a pouco: inanição,
Medonha e sem defesa inspiração...



21573


Vergando-me este açoite em minhas costas
Vergastas, mais de mil; a carne exposta,
O quanto do prazer ainda posta
Quem sabe mergulhar em finas crostas,

E quando em sol terrível inda tostas
Fornalha feita em sonhos; perco a aposta,
A mão da solidão, por ser imposta,
Decerto a solução que queres, gostas.

E assim sem definir nossa verdade,
Mordaz e alucinante, fogo e gelo,
Não posso resistir a cada apelo,

Sabendo discernir dor de saudade,
E o medo aprisionando esta quimera,
Na doce sensação, felina fera...


21574


Quisera ter nas mãos o fado e a fada
Mudança prometida, calma e luz,
Porém à sensação vaga conduz
Quem tanto se desnuda, e ainda brada,

Serenando a canção; faca empunhada,
A pedra no caminho? Nunca pus,
Cobrindo a tua face este capuz
Não diz do quanto serve a alma lavada,

Levado pelos erros do passado,
Ardendo a solidão que me legaste,
A sorte se moldando em tal contraste,

O peso de um desejo aliviado,
O beijo; sonegaste, mas agora,
Desejo sem ter freios, te devora...



21575


Jamais fui cobra; amada, sou minhoca
E mesmo que inda fosse jararaca
Da sogra não suporto nem inhaca,
Prefiro me esconder na minha toca,

E quando o pau quebrou, casa de Noca,
O samba perigando, se destaca
Não vou quebrar também pé da barraca
Senão só vai sobrar do todo, broca...

O baque do batuque diz cuíca,
Estou, diz o mineiro, já no bico,
Se agora a coisa toda se complica,

Não sei como fugir, pois sou cardíaco,
Se já não mais explico nem complico,
Só quero algum amor: afrodisíaco...



21576


Eu não pressinto a dor, nem mesmo quero,
Apenas libertário companheiro
Que saiba decifrar o que inda espero
Do mundo muitas vezes traiçoeiro,

Se o bem da poesia inda venero,
Talvez das ilusões, um mensageiro,
O quanto me procuro e desespero,
Não sei se cabe meio ou vou inteiro.

Apenas na amizade ainda creio,
Por ser sempre sincera e sem malícia,
Não quero o dissabor desta notícia,

Tampouco usufruir tolo receio,
Viver sem ter sequer, veneno e tédio,
Decerto para a dor, santo remédio...


21577


Suspiro por quem tanto suspirara
Na velha adolescência e mocidade,
O quadro na parede, peça rara
Traduz o que sobrou, simples saudade,

Vivendo o grande amor que desampara,
É dura pra quem sonha, a realidade,
A faca que me corta, doce e amara,
A Boca que me escarra, falsidade.

Levando assim a sério o que seria
Da vida se não fosse a fantasia
Audaz e mesmo tola, é o que segura

Minha alma tão cativa e mais liberta,
A mão da poesia sempre acerta
Por mais que a mira venha em noite escura...


21578


Imagem que eu buscara refletida
No especular caminho que me resta,
Numa espetacular, bela floresta,
Perdi o que sobrara de vã vida,

Devido ao velho caso a mão duvida
Se o verso à fantasia inda se empresta,
Tirando do total o que não presta,
A sorte deve ser bem repartida,

Partilhas, testamentos? Mentirosos.
Os risos são meus ritos favoritos,
Deixando a frialdade dos granitos

Prefiro então tais gêiseres, pois posso
Dizer que são soberbos, vaporosos,
E a sombra do passado, não endosso...


21579


Vinicius de Moraes era machista,
Porém ninguém no mundo conheceu
Uma alma feminina, o especialista
Que em versos delicados, concebeu,

Se eu nunca fui um porco-chauvinista;
Mas sei que há diferenças entre ela e eu
Não vou ficar bancando o populista
Dizer que é tudo igual? Se emburreceu?

Quisera ter das fêmeas, a malícia,
Delícia sedutora; seis sentidos!
Do charme feminino, uma carícia,

Notícias estampadas nos jornais,
Mostrando os homens tolos, desvalidos,
Mulheres no poder: sensacionais!


21580


Desejo que em desejo se deseja
E faz da tempestade algo normal,
Mordendo levemente e sensual,
A boca se aproxima, alma lateja,

Formigamentos tantos; relampeja
E o gozo como um louco ritual,
Amor quando demais, nunca faz mal,
Uma alma sem juízo e tão andeja

Caminha entre as veredas e as esquinas,
As formas delicadas, femininas
São fontes de prazer: pura fornalha...

Alçando nestes termos, paraíso,
Pra que terei qualquer rumo ou juízo?
Garanto que, demais, sempre atrapalha...



21581


Embora muito tarde; sei quem és,
A faca tem dois gumes, isto é certo,
Atando estas correntes, num deserto,
Não vejo mais a sorte de viés,

E quando transtornada atira aos pés
Portão dos dissabores, sempre aberto,
Ao lado desta fera, hoje desperto,
Às vezes acordando quase às dez.

E o quadro se pintando em sangue e fogo,
Preciso me mandar, difícil jogo,
A sorte não tem dados; sobra lança,

E a gente se derrama por aí,
O quanto desejei e nunca vi,
Difícil um edifício, se balança...


21582


Tem gente que confunde; não confunda,
Nariz é pra cheirar, tenha certeza
Função bem diferente tem a bunda,
Não quer dizer contudo, sem nobreza,

Se quando a poesia não te inunda,
Esqueça se ela existe ou tem beleza,
A pobre já se encontra moribunda,
Na briga então, pra que certa leveza?

Jogar conversa fora é muito bom,
Fazendo deste lar um botequim,
Melhor que baixar nível, baixar tom.

Deveras eu prefiro me calar,
Mostrando o que melhor reside em mim,
Eu bebo sempre à farta, este luar...



21583


Uma alma que do mal inda se ufana
Não deve se entregar; siga sozinha,
E quando noutro canto ela se aninha
Mudando toda história, pois profana.

E veja quando uma alma é desumana,
Não perde e nem percebe qualquer linha,
Da fome e da tristeza se avizinha,
Macabra sensação; cruel engana,

Vasculho dentro da alma procurando
Algum espaço tosco; e dele saio,
Não posso; da agonia, ser lacaio,

Eu quero a brisa calma e o vento brando,
Meu verso não tem dono, nem juiz,
Minha alma nunca foi vã meretriz...



21584


- É tarde
É tarde… não porque é noite
É tarde porque passou da hora do almoço
Passou o cheiro de feijão fresco na minha panela
E já acabou a sensação de arroz quente estalando

É tarde porque sinto os dias mais preguiçosos
Colher a bater na chávena gelada
Sorvete de abacaxi
Doce sabor de tardes quentes de verão

É tarde... mas não o suficiente para ouvir Enigma
Mas aqui estou
Com sabor de sorvete
Com aroma de comida fresca
Com aparência de preguiça
Com som enigmático tocando


Nisa Benthon

A tarde se faz tarde, tardia mente
Que mente sempre e traz sonhos tardios,
O som que se repete diz da mente
E toca os sentimentos, entes, fios.

E cabe ser cruel? Infelizmente
Derrama a poesia em desafios,
De tantos desafetos, tola, a mente,
Acende fogaréus, queima pavios...

New age, coração busca respostas
Enigmas decifrados, novas eras,
Enquanto em poesias tu temperas

Vagando pelo espaço, vão expostas
As velhas e profícuas primaveras,
A fonte dos verões que ainda esperas...



21585


Poeta, uma Pessoa fingidora
Que mente tanto quanto diz verdade,
Vertente destes sonhos, digo agora,
O quanto da distante realidade

A dor que sem demora se decora
Da mais divina e tosca claridade,
Porém a poesia, esta senhora
De eterna e prevalente mocidade...

Jogado pelos mares e marés,
Enfrentando oceanos e riachos,
A soma do que embarco, diz galés

Porém como poeta, um libertário,
Não digo fogaréus, tampouco fachos,
Somente sou apenas carbonário...


21586


Quando me vires quieto, talvez curvo,
Não pense que vencido ou vencedor,
O mundo se fazendo quase turvo,
Traduz a solidão, mas diz amor.
E quando nas esquinas, também curvo,
Impeço a capotagem; nego a dor,

Havendo quem discorde; risco zero,
E teimo se na voz inda houver medo,
O beijo que desfiro; sonho e quero,
O quase se tornando muito cedo,
No ventre da ilusão, me destempero,
E busco inutilmente algum segredo.

Servir a quem não serve; uma falácia,
A sorte se estampando sem audácia...


21587


Razão tão soberana, nunca nego,
Vencido pelo quando, nada faço
E ultraje dentro da alma mostra o traço,
Semente do vazio, não sossego,

E quando noutro vão, enfim me apego,
O quase sem sentido toma o braço,
Soneto como forma, sempre abraço,
Sou látego, vergasta e me carrego,

Astuta a sorte queima e diz que não,
Não vejo mais se vem, rosna gratuita,
Pertuitos descobrindo, a direção,

Cevando a poesia, como norma,
Embora muitas vezes tão fortuita,
A mão que faz o bem também deforma...


21588



Nos olhos, o perdão ainda tinha
Quem tantas mágoas; traz e tão somente.
No corpo se alastrando feito tinha,
Esporo renovando, vil semente.

E quando em madrugada, às vezes vinha,
Desejo se mostrando assim latente,
Transborda a produção da bela vinha,
E o beijo se desnuda, mais ardente,

Convinha ser feliz a quem outrora,
Perpetuando o pranto, mata o riso,
Plantando a poesia; se decora

Dourando a sua mágica ilusão,
O vago, porém sempre tão preciso,
Devasta fogo audaz, sem coação...


21589


Vislumbro enorme raio quando vejo
A dona dos meus olhos, minha mente,
E sei que na verdade inda prevejo
Felicidade embora vá descrente,

No rastro de teus passos, um lampejo,
Mudando o meu caminho, felizmente,
Não tendo mais pudor, temor ou pejo,
Entrego-me ao anseio, feramente...

E tanto te procuro quanto quero
Viver a fantasia. Sou sincero
E quase desatino tom e fio.

Apego-me aos delírios e desfio
Os gozos que ofereces e me tomas,
Incríveis desafios, fartas somas...


21590


Sagrando o coração a quem se fez
A dona de meus olhos, fantasia,
A vida não pergunta algum talvez
E a cada novo tempo se recria,

Vivendo com perfeita lucidez,
Esbanjas no sorriso, poesia,
E quando te percebo, insensatez
A noite se transforma, em louca orgia.

Metade tão sensata; outra diz fera,
Outono se encontrando em primavera,
Mergulho neste vão e sou inteiro,

O verso traduzindo este querer,
Quem dera cada gota recolher,
Fartura se desnuda e traz teu cheiro...


21591


Amor, figura clássica e tormenta
Que invade todo o cais, num maremoto,
Paixão sem ter limites, violenta,
Trazendo para perto o que é remoto,

Açoda-me a vontade; em sonhos loto
O antigo pensamento, não se assenta,
E a cada novo dia, em vida broto,
E a sorte de sonhar se reinventa

Assim dizendo o quanto tanto quis
Cevando este jardim, serei feliz,
E não pressinto a dor que sei, virá,

O quase; a se tornar obrigação,
O medo sonegando embarcação
A glória se exigindo desde já...


21592


Teus olhos são ingênuos? Nada disso,
A vida te ensinou tanta esperteza,
E sigo se possível, correnteza,
Fugindo do teu tolo compromisso,

Não tendo na verdade, não me atiço,
Apago os sentimentos, com destreza
Aonde se fizer delicadeza,
A mão pesada rompe sorte e viço,

Vasculho cada canto desta casa,
O quase com o tanto se defasa;
A dívida não pago, nem por raio.

Se cada vez mais forte, a ingratidão,
A morte não seria a solução,
Nas ondas deste mundo, já não caio....


21593


Os gozos transparecem? Sim ou não.
Enredo para histórias sem sentido,
Aumenta com certeza esta libido,
Mas rasga qualquer fronha e sem colchão

Melhor deitar direto neste chão,
Calor vai sufocante, estou perdido,
Aonde imaginei, logo iludido,
Não quero mais saber do teu perdão,

Pendão que eu arranquei, rasguei bandeira,
Falando sem parar, qualquer zoeira
Ajuda quem pretende caminhar,

Por tanto sem ter causa nem espanto,
Jamais alguém ouviu meu sonho ou canto,
Apenas segredei para o luar...


21594

Se o verso não saiu imaculado
O beco é sem saída e não tem preço,
No quando tanto eu quis, sequer apreço,
Vencido é bem melhor ser carregado,

Aonde imaginara senda e prado,
Apenas a mentira em recomeço,
E o vasto deste céu sem adereço,
Jamais seria belo e iluminado.

O quarto de dormir não tem banheiro,
Suíte é pra quem pode? Deu no saco.
Não mando pentear qualquer macaco

Nem jogo fora as cartas, mensageiro
Do quase e do talvez, do nem será,
Poeta está mentindo desde já...


21595


Não vou me estremecer, pode falar
Qualquer desfaçatez; engulo e pronto,
Quem conta, com certeza aumenta um ponto,
E a gente leva a vida devagar.

Filtrando cada luz do bem solar,
Castelo sendo meu; queimo e desmonto,
Não quero e nem pedi nenhum desconto,
A vida com seus juros vai cobrar.

E o rastro do cometa, onde é que fica?
Se tolo nada falo, nem discordo,
Trazendo a fantasia sempre a bordo,

Abordo quem não sabe qualquer dica,
Comprando no varejo. Faz fiado?
Então é bem melhor ficar calado...

21596


Pensando muito além dos velhos mundos
Aonde a poesia desfrutava
Da sorte que deveras comandava
Antigos pensamentos mais profundos,

Poetas são decerto vagabundos,
Visão que a realidade deturpava,
Nas mãos o fogo, o frio, gelo e lava,
Arcaicos sentimentos moribundos,

E os bares que não bebo; ainda digo,
E vago quase gago sem amigo,
Afago qualquer cão que se apresente.

No fato de querer ser um poeta,
A boca desdentada se completa
Enquanto sonha simples, busca um dente...



21597


Abaixas tuas pálpebras e pensas
Nos vagos destes mares que criamos,
Enfrento esta vereda, em vários ramos,
Florestas de ilusão, são sempre densas.

Negando o já sabias, recompensas
Distantes destes ermos que vagamos,
Destroços dos desejos; desejamos,
Por mais que as fantasias; vãs e imensas.

Aceito qualquer forma, desde que
No amor ilimitado, é de sapê
A nossa moradia; nosso lar,

Quimeras; enfrentei, mas nada disso
Mudou do meu desejo, antigo viço,
Aprendo a cada dia, mais te amar...


21598


Se entre os sonhos divinos eu te vi
A deusa feita fêmea, mar e vida,
Celeste fantasia desprovida
Do medo que inda existe dentro em ti.

Razão para sonhar, eu percebi,
Quem sabe com certeza não duvida,
Por mais que a dor maior seja sentida,
O bom deste viver é por aqui.

Entrelaçando os braços, pernas, fontes
Deslizo pelos vales, belos montes,
Chegando ao descaminho preferido,

E assim noites em branco? Nunca mais,
Se o barco reconhece o mesmo cais,
A solidão perdendo algum sentido...



21599



Sentindo entre estas nuvens, doce incenso,
Porejas alegria e insensatez,
No quanto a fantasia já se fez,
O mar se agigantando, quase imenso,

E se deveras sempre ainda penso,
O beijo quando é dado em limpidez
Supera com denodo a timidez,
Por mais que já me encontre, amargo ou tenso.

Revivo a velha história, mal contada,
Do verso que se deu em noite fria,
Matando desde então, a poesia,

Nas mãos feitas condão, a maga, a fada,
Arfante delicada, preciosa,
Numa explosão suprema, também goza...



21600


Das turbas e das súcias, o segredo
Expondo esta carcaça decomposta,
E quando a sorte muda o meu enredo,
A dor se demonstrando em carne exposta,

O peso do viver tornado ledo,
Num sôfrego sufoco cai a encosta
E à força desta chuva, calo e cedo,
A vida é com certeza, enorme bosta...

Praguejo contra a sorte desvairada,
Vagando por caminhos mais diversos,
Bandeira da esperança, destroçada,

O rosto feito em rugas; neste espelho,
Sonega a fantasia dos meus versos,
Rasgando a poesia, a seu conselho...


21601


Nas aras santas vejo a tua imagem
Entre diversas coisas, velharias,
E quando permitiste esta viagem
Decerto do vazio já sabias,

Usando a poesia por linguagem,
Merecedor de falsas pedrarias,
No encanto deposito esta hospedagem,
Subindo para os céus, escadarias...

La vie c’est une mèrde, um sonhador
Falando desta tosca realidade,
Percebe no final que imensa é dor

De quem já se entregou e se perdeu,
Aonde encontrarei felicidade ?
Nao sabes a resposta ; exposta ao breu...


21602



Beijando as tuas mãos, carinho e brilho,
Fantástica emoção nos dominando,
Amor se repetindo, um estribilho,
Distante, novamente retumbando,

Colhendo a poesia, um empecilho
Por mais que se agigante, torno brando,
A vida diz coronha e diz gatilho,
Prefiro, com leveza ir caminhando

Na flórea senda rara que se ceva
E escuda um andarilho, quase errante,
Abandonando assim a dor e a treva

Atrevo-me a sonhar com tuas mãos,
E o verso sem destino, caminhante,
Afirma que estes sonhos não são vãos...


21603


Fartura se desnuda e traz teu cheiro..
E o teu perfume de mim se apodera.
Nem preciso narrar todo o roteiro
dessa endorfina que em mim se libera.

Mas, te confessar eu vou, bem baixinho...
O que mais me enlouquece e desespera,
escutando o teu canto passarinho,
é pensar que não vês quem te venera.

Sei que teu coração é aventureiro
e isso machuca o meu e dilacera,
formando temporal, com aguaceiro!

Sinto medo que seja só quimera,
que não me tenhas de fato carinho.
Pois, quero ser teu amor, não a megera...

Tânia Regina Voigt

O amor desfila em várias, fartas cores
E doma corações, fiel errante,
Que embora muitas vezes, delirante,
Permite que eu prossiga aonde fores,

Espalhas com teus versos, belas flores,
E nelas um perfeito diamante,
Raríssimo momento, cativante,
Aonde se sonegam medos, dores...

Alvíssima manhã já se anuncia
Trazendo o teu perfume, primavera,
Sinônimo de paz feita alegria

Silenciando assim, diversa gente,
Quem esta vida nega e nada espera,
Perdeu a rara aurora, iridescente...


21604


Olhar quase contrito e já sem fala,
A gente não podia ser assim,
O amor que não pensei tivesse fim,
Derrama gasolina em nossa sala,

Enquanto, no começo, rara gala,
Dourava em esperança este jardim,
Agora desfiando, morre enfim,
E a velha poesia então se cala...

Petrarca mal sabia, sequer Safo,
Que tudo terminasse deste jeito,
Poeta é sonhador, mesmo imperfeito,

Verdade em sua vida? Mero bafo.
Um vendedor de tolas ilusões,
Abrindo da esperança, seus portões..


21605


Tu pedes que o poeta então se cale,
Matando uma emoção, o que fazer?
Se apenas for olhar se puder ver
Melhor então que nada mais se fale.

Não quero que meu verso, em paz te embale,
Tampouco eu te permito desdizer
O quanto a fantasia traz prazer
Enquanto o ser real, maltrate e rale.

Fotografar a vida simplesmente?
Noticiários fazem bem melhor,
Fazer da poesia um dom menor,

Acaso deixará um ser contente?
Perdoe, mas sonhar é necessário,
Melhor que se trancar em falso armário..


21606



Ouvindo a tua voz, quente e macia,
Uma aguardente doce e fabulosa,
Que aos poucos me domina e me inebria,
Na noite em fantasia, mais fogosa,

Já basta de sofrer, se a vida é fria,
Permita que ela seja glamourosa,
Vivendo francamente esta alegria,
Esquecendo os espinhos, viva a rosa!

Deixando assim de lado, alma macabra
Que não pode sentir prazer algum,
Não quer que este botão tão belo se abra,

Vivamos nossa vida, é o que interessa,
Fazendo de dois corpos, juntos, um,
Que o resto se conquista em paz, sem pressa...


21607


Na brônzea face; belo e púmbleo tom,
A verve de um poeta pouco diz,
Quem dera se eu tivesse o raro dom
Que outrora tantas vezes, inda quis.

Fazer da poesia, leve som,
Porém um trovador, mero aprendiz,
Que embora saiba sempre o que é tão bom,
Escreve ainda a lápis, tinta ou giz.

Reservo-me o direito de sonhar
Embora não conceba ser possível
Que a minha fantasia sendo incrível

Um dia poderá se realizar,
Vivendo a expectativa, nada vem,
Acordo e te procuro; mas, ninguém...


21608


O manto que recobre as tuas costas,
Retiro lentamente, pouco a pouco,
E insânia me domina, quase louco,
Do jeito que preferes, tanto gostas...

Vontades explodindo estão expostas,
Um grito sufocado, imenso e rouco,
E quando nos teus braços me treslouco,
No gozo que se espera; mil apostas...

Adoças meu desejo; chama e mel,
Vagando sem destino, ganho o céu
E estrelas salpicadas nos lençóis...

Noctívago delírio enlanguescente
A nossa noite passa efervescente,
E traz para este quarto luas, sóis...


21609


És linda e em tua chama quero o arder
Divino que deveras saboreio,
Tocando com meus lábios cada seio,
Incêndio anunciado em tal prazer

Que nada nesta vida irá conter,
Sequer alguma forma de receio,
Se a cada instante quero e mais anseio,
Sentindo a nossa pele já ferver,

A fêmea desejada, agora plena
Delírio sem igual; promete e acena,
Invado insanamente cada ponto,

Fronteiras? Desconheço e sigo em frente,
No gozo que se entorna, corpo e mente,
Até que nos teus braços; durma. Tonto...


21610


Amor farto em delírios e vontades
Desnuda-nos e traz sonhos reais,
Aporto a fantasia, invado o cais
E nele vejo em luz, felicidades,

Momentos de fartura, triunfais
Nos gozos alcançados, liberdades,
Aonde encontraremos claridades
Iguais a que vivemos: sede e sais;

Suores escorrendo nos lençóis,
Calores indizíveis, fartos sóis
Solícitos prazeres, desfrutados...

Versando sobre a lua, nua e bela,
Teu corpo maravilhas me revela,
Momentos tais, edênicos, safados...


21611


De nítidas estrelas, raro céu
Que em plena claridade se faz belo,
O gozo da alegria, em carrossel,
Na mão de um sonhador tinta é rastelo,

O quase se transborda em claro véu,
Barraco se transforma num castelo,
Uma alma peregrina segue ao léu,
E à força de um delírio, teimo e apelo.

Buscando alguma força que me mova,
E possa me trazer a constelar
Tiara que decerto te comova

Mudando a direção do pensamento,
Deixando a poesia te tomar,
Nem que seja talvez por um momento...



21612


Tua alma, uma adorável formosura
Que límpida se esvai em manso rio,
Se um mundo mais suave, agora eu crio,
Vivendo este momento de ternura,

Que a sorte sendo nossa já perdura
E vence todo imenso desafio,
Trilhando tal beleza horas a fio,
Embevecido bebo esta candura...

E quando acontecer o fim da tarde,
Quebrando, de repente estes cristais,
Que todo o sofrimento se retarde,

Amargos dissabores que virão,
Demorem a ancorar no nosso cais,
Errando desde sempre, atracação...


21613


Como um sorriso de criança, vejo
O olhar de quem se fez mulher/menina,
E quando a poesia vem e nina,
Um raro alvorecer, suave ensejo,

Tocando em tua pele; num lampejo,
A senda: ser feliz já me alucina,
E quando desfrutando desta mina,
A cada novo sonho, mais porejo

Farturas entre belas maravilhas,
As sombras do passado vão embora,
Somente a fantasia se demora,

E entrego o meu sonhar onde mais brilhas,
No olhar divino e puro de quem amo,
A sina que eu procuro e em paz, reclamo...


21614


Morando numa aldeia capixaba,
Distante da cultura nacional,
O quanto que inda crio já desaba,
Ninguém lendo o que escrevo, é natural,

Se mesmo na distante capital
Raríssimo poeta inda se gaba
De um verso mais perfeito, bela nau,
Que aqui no interior, sozinha acaba.

Quisera alguma crítica concisa,
Não bastam elogios, nada dizem,
Poemas que farsantes já deslizem

Enquanto a poesia martiriza,
Repercussão negada, como pode?
Se ao menos fosse letra de pagode...


21615


Perdão por ter amado? Desconheço.
O amor se dá pra quem cedo o merece,
E não cabendo aqui sequer a prece,
Às ordens do desejo eu obedeço,

Não penso na alegria, um adereço
O vento a solidão já desconhece,
Quem ama na verdade nunca esquece
Cupido acerta sempre este endereço,

E faz das traquinagens maravilhas,
Exposto ao teu olhar que intenso brilha,
Percorro sem temores ricas trilhas,

Forjando um paraíso em plena vida,
O amor não se prepara em armadilha,
Pelo contrário é sempre uma saída...



21616


Não tendo mais amarras, vou liberto,
Fazendo meu libelo a cada instante,
O quanto esta nação traz de deserto
Não deixa a quem se entrega outro montante,

Por isso, meu amigo esteja certo,
A poesia é um dom tão deslumbrante,
Caminho que encontrei, deixei aberto,
Melhor que um livro solto numa estante,.

Abandonado à sorte em capa dura,
Autografado pelo que compôs,
Nas mãos das editoras, ditadura,

Aprisionando a mente libertária,
O quanto em poesia se propôs
Imagem refletida, às vezes vária...



21617


Não quero publicar um só soneto,
Cultura num país analfabeto,
Servindo como um prato predileto
É tudo o que desejo e me arremeto

Na busca do ideal, e até prometo,
Seguir neste caminho torto ou reto,
Usando a paciência e farto afeto,
Embora os erros tolos que cometo.

Gratuita deve ser, pois a cultura,
Vivas rendendo a tal pirataria,
Baixando muita música e poesia

Quem sabe outra manhã não venha escura,
Copiem cada verso sem temor,
Prazer que encontro apenas no compor...



21618


Passando de quarenta mil postagens,
Durante Estes três anos, inda creio
Que possa transformar as paisagens,
Trazendo uma esperança qual recreio,

E sigo mesmo aqui, tantas viagens,
As asas das palavras, velho meio
Pra quem não tem dinheiro pras passagens,
Usando a poesia como esteio.

Deslindo maravilhas, gentes tantas,
Fazendo do idioma um simples elo,
Encontro vez em quando algum alelo,

Terríveis tempestades, mas encantas
Queridos companheiros de recanto,
Remanso se transborda em fogo e canto...


21619




Amor não tem perdão, só te acarinho
E faço da oração verso e delicia
Não sendo tão somente por malícia
Eu bebo cada gole deste vinho,

Inebriante luz toma o caminho,
E a cada novo toque, uma carícia
Da dor jamais ouvi qualquer notícia,
O mundo se transforma, de mansinho...

E tudo me levando a tais riachos,
Arroios que deságuam no Guaíba
Passando por Flori, por Curitiba

Vislumbrando em Poa sublimes fachos,
E em Porto tão Alegre quanto aqui,
A sorte de viver, eu conheci...


21620

Lembrando do surrado sobretudo
Que um dia inspirou grande escritor
Puída fantasia, ledo estudo,
Capote seu fiel demarcador,

Na ausência de seu dono, já me iludo,
E penso ser igual freqüentador,
Do tempo em que distante não ajudo,
Contudo o medo aposta; é ganhador.

E Gogol não sabia, mas pintara
A dura realidade de hoje em dia,
Mudando na verdade a fantasia

Fantasma já não mostra mais a cara,
E o paletó demarca esta presença
Do vago, do vazio, triste ofensa...


21621


De todos os palácios que conheço
Decerto tanto encanto eu descobri
Sabendo já de cor seu endereço,
Amigo, sem defesas eis aqui

O mundo que desnudo em adereço
Transmite esta pureza que há em ti,
Explode em alegria e recomeço,
A sorte que ao teu lado, eu já bebi.

Dobrando frente à força de teu verso,
Eu agradeço a Deus a parceria
Que encanta enquanto sonhos bons; recria,

Calando o que for trágico e perverso,
Numa alegria imensa, o coração,
Aguarda este universo em formação...


21622

Sorrindo qual criança, a bela moça
Que um dia se fez diva e poesia,
Minha alma a cada verso se remoça
E um belo amanhecer, deveras cria,

O pobre lavrador em sua roça,
Com toda uma esperança já cerzia
Além deste casebre, da palhoça,
Castelo sobre a areia, fantasia...

Perpetuando o grito que contrito
Ainda não soltei nem soltarei,
Não quero mais causar qualquer conflito,

Se tudo o pretendo, consegui,
Fazendo Do soneto a minha lei,
O verso mais bonito vem de ti...


21623


Alheio aos preconceitos; faço versos,
Usando desta técnica que aprendo
Revendo estes poetas mais diversos,
E a cada novo dia, sempre lendo,

Mistérios que pululam universos,
Na arcaica poesia já desvendo,
E mesmo quando vagos ou perversos,
Chamados do passado sempre atendo,

E assim seguindo velho, ultrapassado,
Sonetos? Frios fósseis insepultos,
Revendo na parede, tantos vultos,

O coração pra sempre aprisionado,
Em cada decassílabo a sentença,
Negando a liberdade que alma pensa...


21624

A sorte se enriquece em esperanças
E bebe com fartura esta aguardente,
O dia que virá iridescente,
Promete finalmente tais mudanças,

E enquanto em raras festas inda danças,
Delírio já febril, meu corpo ardente,
Ao fim desta balada não pressente
Sequer as velhas tolas alianças...

Assegurando o dia, a noite trama,
A cada novo beijo, imensa chama
Arfando nas esquinas e bordéis,

Enquanto uma alma tola, feminina,
Diverte enquanto em vão fascina,
Deitada sobre as camas dos motéis...


21625


Bondade quase infinda nos teus braços,
E o apoio que julgara precioso,
O mundo se desnuda caprichoso,
E trama com firmeza rotos laços,

Os versos prometendo os embaraços
Os erros permanecem, negam gozo,
E o medo de viver tão desairoso,
Deixando os meus anseios todos lassos.

Afago a doce fera que rosnara,
E quando a luz do sol imensa e clara
Derrama raios fúlgidos em nós,

Escapo dos temores mais vorazes,
Na manga escondo sempre tantos ases,
Alguém escutará do sonho a voz?]


21626

Palavras de bondade, carinhosas
São velhos testemunhos que inda dás,
E quando a solidão nas mãos já traz
Espículas diversas, raras rosas,

Expressas emoções, que dadivosas,
Encontram o futuro e vão atrás
Do verso que se molde mais capaz
De condensar palavras vaporosas.

Assim na chuva rápida e bendita
A terra se fecunda e brota o grão,
Semeadura feita solução

Permite uma colheita; uma alma dita
Os ritos necessários para a glória,
Certeza que vislumbro; de vitória...


21627


Por vezes descarrila o velho trem
E apenas sobrevivo de teimoso,
A solidão que às vezes me contém
Sonega um sonho belo e fabuloso,

Bebendo a me fartar enquanto vem
O sonho que pensara melindroso,
Não quero mais sequer ouvir outrem,
O mundo se desnudo, é doloroso.

Moldura feita em ouro, rara tela,
Dispersas ilusões unes agora,
As quantas andam sortes, se revela

Num tom que ao mesmo tempo desafia,
Na porta escancarada, o bem se aflora,
E traz ao sonhador, um belo dia.


21628

Sabendo murmurar palavras claras
Mitigas sofrimento, és lenitivo
Vivendo desta forma, sobrevivo,
Verdade que esperanças vãs; aclaras,

E enquanto acaricias desamparas,
O amor se faz eterno e positivo,
Gravando no granito, aonde eu crivo
Palavras sensuais que ora declaras,

Mesquinharias matam sentimentos,
Retina congelando tais imagens,
A sorte comportando estas paragens,

Os dias determinam quão sedentos
Meus lábios de teus lábios, nossa sina,
Que tanto me conquista e me fascina...


21629

Encantos desvendados neste sonho
Que tanto desejei e em ti percebo,
Da velha fantasia, ainda bebo,
E um templo feito em luz; quero e componho,

O barco que em teus mares, hoje ponho,
Uma esperança rara que concebo,
E quando em teus suores eu me embebo,
O dia não será jamais tristonho,

Assídua maravilha; sei em ti,
Resíduos do que fora sofrimento
Legados ao total esquecimento

Desde que te encontrei; amada, aqui,
E o vento diz teu nome, abro a janela
E o sol em pleno lume se revela...


21630


Padeço desta velha engenharia
Mostrando na parede, Muriaé,
Sem Itabira, ao menos poderia
Andar e caminhar mundos até,

A velha e decomposta escadaria,
Levando esta saudade faz da fé
Imensa e solidária fantasia,
Vivenda? Uma casinha de sapé.

E o beijo que busquei não teve volta,
Sequer isto causou em ti revolta,
Soltando tuas mãos, me libertei.

Quem faz das suas próprias ilusões
Entrega-se às veredas dos sertões,
E sabe, Guimarães Rosa, foi rei...


21631



Murmuras teus segredos, mundo, mundo,
Raimundo nunca foi a solução,
Se eu beijo o rosto fico imundo,
Lavando a poesia, água e sabão,

Deveras poderia ser profundo
O verso não traria uma razão,
Metade do que falo; vagabundo,
Enceta esta completa negação.

Sonego o que puder, vou adiante,
O farto resultando num calmante,
Nas brechas entre coxas e fornalhas

Seduzes o moleque que inda sou,
Contando cada troco que sobrou,
Os fios salvadores das navalhas...


21632

O rosto que se assusta ao ver o espelho
Decerto não devia se arriscar,
Ausente deste brilho, sem luar,
Nas ondas deste mar eu me avermelho,

Não quero mais qualquer toque ou conselho,
Eu levo a minha vida devagar,
E tento pelo menos descansar,
Não vou ficar ralando o meu joelho.

Se a prata que me deste, inoxidável,
O amor se determina formidável
E a mina ainda emana água bebível.

O caso é que se ocaso está no prazo,
Do gozo que não veio; eu não me aprazo,
E o que exigiste agora é incabível...


21633


Não quero estar defronte a quem outrora
Em festas se desfez e fez das suas,
As horas mergulhadas em mil luas,
É certo que deveras fui embora,

No parto este rebento também chora
E as hóstias profanadas seguem nuas,
Enquanto em vis metáforas flutuas
O beijo que me escarras, não demora...

Cativo desta estúpida promessa,
Jamais escaparei do cativeiro,
A cela em que me prendo já começa

A ter os seus sinais de podridão,
Tomara que este tempo vá ligeiro,
Ou vento mude logo a direção...


21634

Legado que deixei para meus filhos,
A porta destrancada da esperança,
Os versos empoados; perdem brilhos,
Apenas o que resta não me alcança

A dança sem mudança, só me cansa,
A música sem nexo ou estribilho,
Se em tese ou na verdade assim me humilho,
Minha alma tão distante, já descansa.

Versando sobre temas inauditos,
Os sonhos que terei serão malditos
E os ritos esquecidos no quintal,

Fartura não pretendo nem terei,
Apenas no vazio mergulhei,
Naufrágio destruindo a arcaica nau...


21635


O mármore dos sonhos se partindo
Quebrando esta beleza quase harmônica,
Mudando de conversa em nova tônica
O que pensara outrora fosse lindo

Se pelos velhos ralos esvaindo
Não deixa que se fale; aquieta, afônica
E o beijo sem perdão: peste e bubônica,
Morrendo a poesia, estou carpindo.

Capino a velha roça improdutiva,
Tentando ver a chama ainda viva,
Mas vejo quão inútil tal jornada.

Cevar com este esterco já vencido,
É como caminhar mais distraído,
A queda inevitável, segue armada...


21636


Esplêndida harmonia procurara
Num relacionamento em paz e guerra,
O quanto de tristeza já se encerra
Matando a planta amada e sempre cara,

A jóia que pensara fosse rara,
O tempo sem juízo, pega e enterra,
Enquanto a solidão já nos desterra,
A fonte do prazer, bem sei, secara.

É karma deste insano sonhador,
A dor repete sempre a ladainha
Distante do que quero e me convinha

Ao tempo se destrói qualquer andor,
Estranhas vibrações; risco assumido,
O amor em desamor foi consumido...



21637


A música capota no meu rádio,
E mudo de estação, não adianta,
É sempre a mesma coisa, sem paládio,
Qualquer desafinado agora canta.
Outrora pra gravar, terrível gládio
Agora com mil réis, ninguém se espanta,

Sujeito vai pra estúdio e faz cd,
Talento já morreu de inanição,
Tremenda baboseira, o que se vê
Meu saco parecendo até balão,
Funkeiro e pagodeiro na tevê,
Sinfônica tocando num porão

E a gente vai levando de teimoso,
O mundo em decadência é pavoroso...


21638


Não vejo mais saída pro teu caso,
Querida vê se para de frescura.
O mundo na verdade não te atura,
Estás na tua vida em pleno ocaso;

Vencido com certeza tempo e prazo,
Outrora com beleza e com fartura,
Agora osteoporose traz fratura,
Relógio do viver eu nunca atraso,

Não quero que percebam, mas insana
A moça no princípio tão bacana
Sofrendo de terrível paranóia,

Beijando o meu retrato amarelado,
Vivendo tão somente do passado,
E pega no flagrante: lambes Goya...


21639

Usando com cuidado este cinzel
Esculpo a maravilha que buscara
Andando sem destino terra e céu,
A imagem desta sílfide tão rara,

O mundo se cobrindo em claro véu,
A sorte de viver já se escancara,
Amor irá cumprindo o seu papel,
A vida, com certeza me é tão cara.

A paz que tantas vezes procurei,
Encontra em tua face, nova grei
Aonde descansar pós a batalha,

E quando te revejo, uma escultura,
Transbordas em delírios e ternura,
Teu corpo então me abraça e me agasalha...


21640

Somente um aprendiz de feiticeiro
Que às vezes diz verdades, mas que mente
E quando a realidade ele pressente,
Vazou no capinado, sequer cheiro,

Seria da ilusão um mensageiro
Se tudo o que dissesse uma alma sente,
Porém do amor e sonho, vai ausente,
Jamais conseguirá ser verdadeiro.

Recolho o que sobrou de outros poetas
Desenhando uma colcha de retalhos,
Os atos cometidos, sempre falhos,

As frases sem sentido ou incompletas,
Mas teimo em prosseguir e mundo afora
Espero que outro alguém me mande embora...


21641


Não quero tão somente um manso colo
Aonde descansar pós a batalha,
No fio em desafio, da navalha,
Deitando a solidão, encontro o solo,

Não vejo na verdade sequer dolo,
Apenas meu amor, imensa falha,
Quem sabe a fantasia inda atrapalha
Mudando de repente, pólo a pólo.

Cadenciando o passo, não se cansa.
Mas nunca chegarás aonde quero
Enchendo desde agora a tua pança,

Roncando a noite inteira sem parar,
Querida me perdoe se, sincero,
Procuro novidades bar em bar...


21642

Julgara ser possível gozo e festa
Aonde nada planto, sem colheita,
Tirando a lingerie quando se deita,
A moça ao meu desejo já se empresta.

Olhando pela porta, simples fresta,
Minha alma com certeza se deleita
E dorme, descansando satisfeita,
História de um voyeur, decerto atesta.

Clamando pelo corpo tão distante
Embora uma parede nos divida,
Assim vou prosseguindo a minha vida,

Ausente, mas presente e em sonho, amante,
Pecado é não viver tal fantasia,
A noite se repete todo dia...


21643


Perdoe se meu canto te incomoda,
Às cinco da manhã, tá tudo bem,
É quando a poesia acorda e vem,
Eu sei que estou por fora desta moda

Que teimando em matar samba de roda,
Não deixa mais espaço pra ninguém,
A métrica morreu, vou a neném,
Como dizia alhures, isso me boda.

Percursos do passado? Sei de cor.
A melodia então era melhor,
Pior, sei lá, só sei que não me adapto,

O caso é que o descaso pouco importa,
A sorte abandonando a antiga porta,
Sequer o som de estrelas, mentecapto...


21644


Às vezes sou turrão, mesmo teimoso,
Não deixo me levar por águas mansas,
E quando vejo aqui velhas lembranças,
O dia nascerá tempestuoso,

Por mais que a fantasia trague o gozo,
Eu quero a maravilha das festanças,
Nas tramas que decerto tu avanças,
Não vejo meu andar tão andrajoso...

O fardo de viver sem ter ninguém,
Decerto muitas vezes me convém
E quando me convenço, sigo em paz.

Na parte que me cada desta vida,
Certeza desta sorte; estar cumprida,
Ao menos o sossego, enfim me traz...


21645

Neste encantado porto, meu asilo,
Descanso após a longa maratona,
E quando a fantasia vem à tona,
O amor mudando a face, noutro estilo

Acumulando a sorte em forte silo,
Tristeza sem espaços abandona,
Nas mãos da poesia, ele ressona,
Enquanto as velhas dores; quebro e pilo.

Nas tramas entre camas, chamas, lanças,
As vésperas dos gozos, esperanças
Mudanças prometidas e encetadas,

Assim vencendo os ermos da saudade,
Encontro no teu céu a claridade,
De estrelas radiantes, consteladas...


21646


Enamorado bebo dos teus dias
Sem ter os pormenores, sigo adiante,
E quero ser amado, teu amante,
Embora em vãos momentos não querias,

Aos pouco; entretanto, descobrias
Que o raio se desnuda deslumbrante,
Por mais que a gente fuja e se agigante,
Não temos que fugir das fantasias...

E ao adentrar teus cofres, os segredos
Aos poucos decifrados trazem paz,
E além do que pensara ser capaz,

Já tendo a solução entre meus dedos,
A chave que me leva ao Paraíso,
Distante do pudor, temor, juízo...


21647


Não são somente os seios que eu adoro
Embora sejam belos; quais romãs
Nem mesmo o teu sorriso nas manhãs
Nem formas sensuais que assim decoro,

Tampouco nos momentos em que eu oro,
Eu agradeço às sortes, antes vãs,
Sequer à poesia em seus afãs.
Olhando mansamente eu me demoro

E vejo que o amor, por si somente,
Entorna nos sentidos, toma a mente
E vibra por amar, sem perguntar

Se o tempo que há de vir nos trará luz,
E amor que em puro amor se reproduz
Absorve por si próprio a luz solar...


21648

Pensara nas pombinhas delicadas
Que sempre são fiéis, haja o que houver,
E procurando assim uma mulher
Em meio à multidão, tantas safadas,

Fui dando vez em quando umas mancadas.
Mas seja da maneira que vier,
O que o Nosso Senhor sempre quiser
As pedras devem ser, pois lapidadas...

A pomba que encontrei; uma rolinha,
Que no começo estava bem quietinha
Um anjo feminino em discrição,

Depois de certo tempo, bateu asas,
Não pude segurar imensas brasas
A pomba na verdade, um furacão...


21649

A gente faz do sonho churrasqueira
Pensando na picanha ou na maminha,
A dama sem valete fora minha
Até que terminei dando bandeira,

Gostosa como toda domingueira
Eu vacilei e dando muita linha,
A moça foi ficando assanhadinha
Caindo de cabeça: bebedeira.

Agora o que fazer se no final,
Ficou só de calcinha e sutiã
A minha poesia fora vã

No amor que começara: pá de cal,
Levar para o rodízio? Nem pensar,
Até a garçonete vai provar...


21650

Em teu abrigo, o repouso necessário,
Descanso em tal remanso/mansidão,
O amor quando demais, preocupação,
O vento muitas vezes, é contrário,

Sentir o teu perfume em profusão,
O canto que apascenta; solidário,
E jamais me sentir mais solitário,
O tempo desconhece viração.

Sem medo de uma ausência dolorida,
Vivendo com pacífica esperança.
E quando a fantasia nos alcança

A sorte do sonhar sendo cumprida,
Cenários multicores desvendando,
Na terna sensação de um mundo brando...

21651

Olhar tão indiscreto da saudade
Trazendo sempre à tona o que não quero,
E falo até repito, sou sincero,
Apenas desfrutar a realidade;

Não tendo mais porquês, não sei quem há de
Negar este caminho que venero,
A cada nova curva; o vento espero
Envolto em tal defesa:uma amizade.

Mas tudo tem seu preço, me dizias,
E quanto mais cobravas, mais me afasto,
O verso que eu usei embora gasto

Falando de verdades, fantasias,
Não pode se calar, querida amiga,
Que a nossa história em paz, sempre prossiga...


21652


Pensei adormecer neste regaço,
Porém a vida nega qualquer sorte,
E quem não tem do sonho algum suporte,
Perdido, navegando em frio braço,

A carga que carrego e não disfarço
Prepara o meu caminho para a morte,
E o fogo que me queima, às vezes passo,
Teimando em perceber brilhoso Norte.

Afetos, os busquei, mas foi inútil,
O amor que tanto quis, deveras fútil,
Enfados e mentiras desfiados,

Os arcos não sustentam fantasias,
E quanto mais falavas, mais fingias,
Os dias por temores, são guiados...


21653

Abrindo as minhas pálpebras, venturas
Decifro em meio a cores foscas e diversas,
Às vezes sobre estrelas quando versas
Estimulando em mim raras ternuras,

No verso que fizeste; tais procuras
Por vezes são divinas ou perversas,
Mas sempre percebendo quão dispersas
Ausente da esperança, nega curas.

E arcando com fatias generosas,
Tu pensas prosseguir em meio às rosas
Que tanto floresceram no canteiro

Aonde houvesse a sorte, eu mostraria,
Sorriso quase impune de alegria,
Desnudo; coração se dando inteiro...


21654


Reclinas aos meus pés, pedes perdão,
Mas nada do que dizes me convence,
O amor só se entregando a quem pertence,
Vagando sem destino ou solução,

Não quero ser a tua negação,
Tampouco a poesia, ainda vence
O quadro que em loucuras sempre adense
Martirizando os restos da paixão

Que um dia motivara versos meus,
E os olhos que me dizem deste adeus
Teimando em torturar, falso sorriso,

Acaso se voltares, não se esqueça
Que a vida a cada dia recomeça,
De ti, tenha certeza, não preciso...


21655


Em chamas bem mais vívidas e audazes,
As horas desfilando meus anseios,
Deixando no passado tais receios,
Os dias que virão serão falazes,

E quando modificas velhas fases,
As frases que me dizes; tons alheios,
Descendo esta ladeira perco os freios,
Trincando uma alegria em suas bases...

No par que imaginei fazer contigo,
Ausente dos meus olhos, um abrigo,
Apenas o que fica, solidão.

Escultural mulher que imaginara,
Marmórea maravilha que em Carrara
Foi feita por divina e rara mão...


21656


Coroas em espumas, belo mar
Aonde em conchas tantas, me perdi,
Não posso mais seguir, não sei nadar,
O que restou de mim, morrendo aqui,

Aprendo sem destino navegar,
Olhando tão somente o que há em ti,
Jamais aprenderei em paz amar,
O rumo desta história eu esqueci,

E quase que atropelo o meu futuro,
Embora creia ser gélido e escuro,
Ainda me restando alguma luz,

Diversa desta imensa claridade
Que um dia conheci na mocidade,
Partícipe dos sonhos, clero e cruz...


21657


O mar sob meus pés, prostrado estava,
Deitando sobre mim; águas geladas,
As pernas caminheiras tão cansadas,
O corpo ardendo em chamas, dura lava,

A areia que esperança mal pisava,
Embora movediça, diz dos nadas,
Aonde ao encontrar as emboscadas,
Minha alma sem malícia se lavava.

Pesando sobre as costas, cruz imensa,
A tarde se nublando chega densa,
E o medo se transforma em agonia.

Quisera algum saveiro que levasse
Deixando no passado, o vago impasse,
Enquanto o meu destino se cumpria...


21658


Não quero a lucidez que me sonegue
A lírica emoção, fonte suprema
Aonde resolvendo algum problema,
Encontro a poesia em que me apegue,

Não deixe que esta sorte nos renegue,
Tampouco a solidão, difícil tema,
Rompendo desde já qualquer algema,
Por mais tranqüilas ruas que eu trafegue...

Não peço tão somente a fantasia,
Porém uma pitada não faz mal,
A gente se transforma bem ou mal

Conforme o coração teimosia cria,
Em meio a tantas urzes, um jardim,
Trazendo a rara sorte para mim...



21659


Nos olhos da mulher tanto mistério
Segredos escondidos; doem mais,
E quanto mais audaz são infernais,
A vida se perdendo sem critério.

O amor em desamor, um caso sério,
Serenos que buscara, mas jamais
Encontro a solução, distante o cais,
Devastação tomando todo o império...

E farto dos temores e sofreres,
Querências, pormenores que não vivo,
Quisera ter nas mãos estes poderes

E transformar a sorte, que maldita,
Pudesse se tornar um sonho altivo,
Distante do que resta, esta desdita...


21660


A noite sendo bela nos promete
Raríssimas, diversas fantasias,
Além das que deveras sempre crias,
Ao Éden desejado me remete,

E quando a mesma história se repete
Transborda multicor em alegrias,
Assédios das mais raras harmonias,
O amor tão perspicaz, pintando o sete.

Fazendo desta noite enluarada,
Caminho para enorme precipício,
Pudesse perceber e desde o início

Teria com certeza outra jornada,
A noite se perdendo em maravilhas,
Nos olhos da pantera, as armadilhas...


21661

O brilho sempre farto que encontrara
Na ninfa feita deusa em lago manso,
Por vezes, imagino e não alcanço,
A sorte de outra forma se declara,

E quando a vida mostra a dor, amara,
Na insofismável luz, queimando avanço,
E sigo meu caminho; os pés eu tranço,
Beijando outra mulher; quem em paz me ampara.

Quisera ser da fera, simples presa,
A caça que em tocaia tu esperas,
E a vida preparando tal surpresa,

Viver demasiada fantasia,
Enfrento dissabores e quimeras,
Enquanto a realidade não sacia...


21662


Os olhos deslindando fabulosas
Imagens refletidas; bela estrela,
Que quanto mais eu vejo, vou revê-la
Por entre mil galáxias, nebulosas.

Imersa em maravilhas vaporosas,
Não sei como segui-la nem retê-la,
Apenas, pensamento a revivê-la,
Qual fora a mais bonita entre estas rosas

Vagando pela noite, busco estâncias
Aonde poder ver tais elegâncias
Desnudas neste céu bordado em prata,

E quando insanamente eu a procuro,
O céu subitamente queda escuro,
A nuvem que agrisalha me maltrata...


21663


Os homens esquecendo o raro brilho
Da estrela que nos guia, céu aberto,
Não posso me calar, nem me deserto,
Das sortes e temores, andarilho.

E quando o verso amaro, um empecilho,
O pélago; eu desvendo e, descoberto,
Mantendo o descaminho, não me alerto,
E vivo por viver; puxo o gatilho.

Assim quando a palavra vira lança
Num alvo preferido, vai e alcança
A mira se fazendo mais certeira.

Velhusco e não velhaco, por favor,
Eu quero me afastar do puro amor,
Não tenho para tanto a vida inteira...


21664


Da terra mais distante nem sinal,
Marinheiro perdendo a rota e o rumo,
E quando os meus enganos eu assumo,
Repito sempre o velho ritual,

Não quero simplesmente algum aval,
Eu bebo e não desprezo nem o sumo,
Porém mesmo sozinho, eu me acostumo
E faço do soneto, um carnaval.

Carpindo meus momentos de amargura,
Xingando a fantasia, a alma depura
E cortando em pedaços, mil fatias

Desmancha a antiga farsa em que me meto,
No quadro desenhado, um poemeto,
Que faço de surpresa e não cabias...



21665


Desfilo nas palavras; sentimentos,
E mesmo quando ausente da esperança,
A porta que se abriu, viva a lembrança,
Não deixo de viver dores, tormentos,

Mecânica da vida, tais momentos,
Orquestram na verdade uma mudança,
E quando a sorte muda e o corte avança
Encontro em algum canto, mais alentos.

E nesta roda viva, vou e fico,
Mesquinharias; sei, mas não pratico,
Num quebrantado ritmo, paz, discórdia,

E passo a não saber mais discernir
O que virá ou não no meu porvir,
A vida se confunde em tal mixórdia...


21666


Império que, soberbo nos domina,
A quantas andará felicidade?
Navego procurando a qualidade
De vida que virá; inútil sina...

A mão que acaricio e me assassina
Sonega desde sempre a claridade,
Aonde encontrarei tranqüilidade
Se tudo o que mais quero já termina...

À parte cada sonho; eu vou vivendo
Fazendo da alegria uma vivenda,
Embora a realidade enfim desvenda

O quadro que pensei, sem dividendo,
Não posso ser na vida algum adendo,
Atento à fantasia; pura lenda...


21667


Perpétua juventude, um sonho bom...
A mocidade passa num segundo,
E quando na saudade eu me aprofundo,
A sorte vai mudando logo o tom,

Quem dera se eu tivesse o sacro dom
De ter em minhas mãos, o imenso mundo,
E quando de ilusões, enfim me inundo,
Escuto destes deuses, vozes, som...

E calado persisto e me envelheço,
Virando a minha vida já do avesso
Não resta quase nada pra contar,

Nasci, cresci e agora aguardo a morte,
Meu derradeiro gozo em seu aporte,
A paz vou finalmente desvendar...


21668


Um canto para a vida é boa ideia!
Festejo o refestelo do meu ser
que pronto pra não ver em panaceia
resposta para não envelhecer

prefere entrar em anos pois a estreia
almeja que se possa esquecer.
Ser jovem é mexer numa colmeia
e nunca preocupar-se em correr.

Espíritos do mal até que existem;
eu trombo com alguns no dia a dia.
São eles os que ao belo resistem

e tiram desse mundo a fantasia.
Dormência têm na mente, mas persistem
até roubarem cores da alegria.

Ronaldo Rhusso

Não deixe que estes tolos, vãos bufões
Dominem esta cena, meras brisas,
Poeta feito em luz; protagonizas,
Tocando com leveza os corações...

Acaso existem forças, turbilhões
Que apenas com teus versos suavizas,
E quando noutras cores tu matizas
As nuvens buscam outras direções.

Escreves com beleza e com cadência,
E enfrentas com denodo tal dormência
Vencendo esta batalha dia a dia,

Louvando o bem maior com maestria,
E com tanto talento, a poesia
Reclama e sente logo tua ausência...


21669


Perfumes de mil flores nos canteiros
Aonde cultivara com prazer,
E quando a fantasia; eu penso ter,
Fazendo da alegria meus viveiros,

Os sonhos são deveras companheiros,
E passo neste instante mesmo a ler
Decifro tais enigmas do teu ser
Usando as várias cores dos tinteiros.

Percorro todo porto, e em belo cais
Ancoro meu saveiro e quero mais,
Até que se esgotando a rara fonte

Perpetuando em paz a nossa história,
Por mais que a vida teime, merencória,
O sol rebrilhará neste horizonte...



21670


Vislumbro festivais de fartas cores,
Matizes deslumbrantes, radiosos,
Os dias que virão, mais prazerosos,
Vivendo o que me resta em tais amores,

No quarto de dormir, velhos rancores,
Morrendo em descaminhos caprichosos,
Teus lábios sensuais, tão olorosos,
Expressam delicados, bons sabores...

E quando ao acordar vendo desnuda
Aquela a quem dedico cada verso,
Minha alma emocionada queda muda,

E a sanha recomeça num sorriso,
Nos braços da mulher; agora imerso,
Deixando para trás senso e juízo...


21671


Não quero mais as pompas do passado
Nem pampas nem repiques, sambas, som,
Apenas abaixando um pouco o tom,
O mundo não será desafinado.

Mergulho nas entranhas do mercado,
A compra que se fez; negócio bom,
Embora para tal não tenha dom,
Não fui e não serei ludibriado,

Diabos que me mordam! Vá-se embora,
Os cães ficam ladrando pelas ruas,
A noite terminando e continuas

Falando sem saber por que e agora,
Aporrinhando a vida de quem ama,
Ainda quer acesa alguma chama?


21672


Nos tempos lá do Duque de Caxias,
As velhas fofoqueiras, as beatas,
Se davam ao desfrute nestas matas,
Fazendo dos heróis as alegrias,

Agora com certeza, novos dias,
No Orkut bem novinhas com bravatas
E velhos indecentes sem gravatas
Promovem bacanais, belas orgias.

Pegando bem o espírito do fato,
Veado no Brasil já virou mato,
Quenguice se espalhou pior que praga,

Não quero discutir, ultrapassado,
Porém não sou decerto algum veado,
Velhusco; continuo a minha saga...

21673


Juruna com seu velho gravador,
Fazia tal bagunça que assustava,
Mentira deslavada, ele gravava,
Calando deputado e senador.

Agora microcâmera irei por
Guardada na cueca; mas não lava,
Senão a geringonça toda trava,
Depois se não provar pra que me expor?

A gente está vivendo tanta zorra,
É um deus quase me acuda senão corra
Que escorre mais suor, é tanto enfarte,

Diabo disfarçado em microfone,
O carro que eu comprei, bem sei tem clone,
A safazeda está em toda parte...


21674


Pixote faz pagode diz no pé,
A bunda da morena que empinada
Abaixa até tocar no rodapé
A saia de propósito elevada

Mostrando uma calcinha bem cavada,
Exalta qualquer samba, o meu até.
Mistura de funkeiro na embolada,
Ganhando a sua grana qualquer Zé.

Faculta-se à cultura nacional
A verve de um poeta ou mesmo um berne
Estando na questão, tomando o cerne,

Quem é o vencedor? Cara de pau.
Usando correntaço no pescoço,
Angu, tenho certeza, tem caroço...


21675







Não tem coisa pior do que um axé,
O tal de quebra- quebra aí galera,
Ouououououououé
A moça em microssaia diz: libera!

Chacoalha esta bundinha, vou a pé,
Bahia vai vivendo a primavera,
Eletrizado o trio dá chulé,
Segura que este bonde só tem fera...

Mas tudo se mistura, na geral,
O vento venta vendo vendaval
Aval de quem pagou seu abadá,

Bahia ia ia ia ia ia
Fingiu que foi embora e não saia
Agora terminando ratatá...


21676


Se peco ou se sapeco um beijo audaz,
Capaz de cair neve por aí,
Saí e não voltei, serei capaz
De tomar um pileque de açaí,

Não posso ver sujeito quieto e em paz.
Parece que os sentidos eu perdi,
E quanto mais mentiras ele traz,
Cutuco devagar, ali e aqui,

Até que ele despenque de uma vez,
O bonde descarrila e eu sou freguês,
Bastou este acidente que estou dentro.

A bola se escapando em lateral,
Eu sei sou o maior perna de pau,
Porém marcou bobeira, logo centro...


21677


,
Eu vou parar com tanta picuinha,
Deixar o cidadão ficar em paz,
Se enfarta no final, a culpa é minha,
Otário é quem dinheiro à peste traz.

Eu quis até ser mesmo um bom rapaz,
Andar sempre mansinho, estar na linha,
Depois que conheci a moça audaz,
Dizem, maldade pura, uma galinha,

Deixei de freqüentar igreja e missa,
Minha alma na verdade andando omissa,
Prefere cutucar o sacerdote,

Também o que fazer se ele não casa,
Mas dizem as más línguas, manda brasa,
A culpa no final, fica pro dote...





21678


Seu ciclo menstrual tá bagunçado?
A culpa é toda minha? Saia dessa,
A gente fez amor com tanta pressa,
Garanto que não deu nada de errado.

Devia ter decerto mais cuidado,
Porém a camisinha uma promessa,
E a gente sem saber logo tropeça,
Depois vem me dizer: ciclo atrasado...

Nunca dei sorte, com o bicho fêmea,
Já bastando este papo de alma gêmea,
Agora um bacurinho pra criar...

Mais outro, bobeou, aqui ou lá,
Depois deste maldito deeneá,
Só faço nesta vida é me ferrar...


21679


Fagulha quando escapa é um perigo,
Incendiando tudo por aí,
Assim também ocorre meu amigo,
Conforme o tempo todo que perdi

Teimando sob a saia ter abrigo,
A moça nunca esteve lá e aqui,
O máximo que mostra; o seu umbigo,
O nome do brinquinho? Eu me esqueci...

Ficando já no salto, a gostosona,
Que um dia trabalhou na grande zona
Bem perto desta tal de portuária.

Tirando a sua roupa por merreca,
Agora vem bancando a santa e peca
Concurso que ganhou? Miss funerária...


21680


Num beco sem saída nada tendo,
Sequer uma vontade de lutar,
O verso em ilusão foi se perdendo
Até não ter aonde se encontrar.

Não resta pra esse otário, o dividendo,
Adeus aos belos raios de luar,
O amor nunca passou de algum adendo,
Importa na verdade o que eu lucrar...

Depois de comandante e coronel,
Agora vem a tralha do senado,
O povo com certeza maltratado,

Puteiro se transforma em pleno céu,
Cobrando assim um ágio federal,
A gente novamente se deu mal...



21681


Pecúlio se pagava antigamente
Agora sendo espúrio tudo cobra,
Daquilo que ganhei migalha sobra
O bolso se esvazia de repente,

Pra todo lado vejo sempre cobra,
A jararaca agora virou crente,
O sapo vai pulando de contente,
O sino sem ninguém acaso dobra.

Focando o meu olhar na realidade,
É tanta, mas é tanta sacanagem
Que a gente sem agente tá lascado,

Dizia meu amigo, aquele gago,
Agora to fudido e bem mal pago,
Traduza por favor: estou ferrado!


21682


Celeste solução? Estou sentado,
Espero há tanto tempo e não vem nada,
Somente vejo imensa trovoada,
O tempo andando bem modificado,

Assim a natureza dá recado,
A fonte da incerteza, maculada,
Enquanto a realidade é pré-moldada,
Quem paga sempre o pato é o pecado...

Que venham mensageiros lá do além,
As almas depenadas por pastores,
Não sobra mais dinheiro pros louvores,

Quem sabe da verdade disse bem,
Melhor a companhia de Satã
Do que esta súcia imunda, velho clã...



21683


Os hinos que escutei são evangélicos?
Não sei se na verdade isso cai bem,
Cantores tão bonitos quase angélicos,
Cachê sabem cobrar como ninguém,

Usando os armamentos quase bélicos,
Enfrentam o capeta: se convém,
Chamando pra porrada, mas não vêm
Têm medo dos heróis quase quiméricos.

Nocaute no primeiro e grande assalto,
O bolso se recheia: é do empresário...
Enquanto o povaréu, se faz de otário,

Lotando desde já igreja e asfalto,
Pisemos, pois no rabo do demônio,
Garanto que isso aumenta o patrimônio...


21684


Trabuco em suas mãos, o coronel
Chamando pra conversa aqui do lado,
O moço da mocinha namorado,
Ferrado por cumprir o seu papel,

Sujeito quis bancar algum corcel
E mesmo que ela tenha provocado,
Por ter o garanhão já cavalgado,
O gosto deste beijo vira fel.

Ou casa ou casa ou casa ou casa ou casa
Também não se cutuca assim a brasa
Que o fogo se espalhando, sururu,

Melhor pagar o preço seu otário,
Cartório bem melhor que um inventário
Prefiro um jaburu que um urubu...


21685


Um véu tão azulado cor do céu,
Passando em minha frente, delicado,
O gosto deste beijo mais safado,
Ainda vai cumprindo o seu papel,

Outrora paraíso era bordel,
Agora este negócio é complicado,
A bela patricinha no motel,
Sujeito do seu lado, namorado.

E a casa que tivera luz vermelha,
Sequer acende agora uma centelha,
A bela meretriz, tanta vivência

Reclama e com razão, ouço esta voz,
O que será Meu Deus então de nós,
Ninguém superará tal concorrência...



21686

Pousando na mangueira um passarinho
Fazendo um alvoroço sem tamanho,
Relembro os velhos tempos onde, antanho,
Eu fiz de uma esperança quase um ninho.

Se eu bebo ainda o mesmo doce vinho,
Não vejo nesta história qualquer ganho,
E quando no flagrante eu já me apanho,
O verso se promete em desalinho.

Cabeça não pensando, o corpo paga,
Não posso conviver com esta praga,
Afaga pra depois cuspir na cara.

E o jeito é me mandar; sai da festa,
Não perco mais linha, é o que me resta,
Enquanto uma verdade se escancara...


21687


Os olhos seguem ávidas panteras
Argutas em tocaia, salto e bote,
Quebrando desde agora qualquer pote,
O mel se perde sempre nas esperas,

E quando em tais espectros degeneras
Não deixa que se pense num rebote,
Eu venho das antigas, toscas eras,
Por isso meu amigo, não me note,

Não sou parnasiano ou asinino,
No fundo sou ainda este menino
Brincando com a velha atiradeira,

Embora passarinho nunca mate,
Não fujo desta rinha, do combate,
Vivendo neste abismo, sempre à beira...


21688


Não leio o que eu escrevo nem reviso,
Nasceu deixo pra lá e que se vire,
Por mais que da poesia inda retire
Não deixa sobrar nada nem aviso,

Por isso muitas vezes prejuízo
Na métrica.porém mundo que gire
Sem mira ou pontaria se eu atire
No fim não restará qualquer juízo.

Açoda-me o desejo de saber
Aonde em que mundo me esconder
Depois da tempestade que virá,

A porta sempre aberta; vou mantendo,
Felicidade apenas um adendo,
Não vejo outra saída aqui ou lá...


21689


Perfumes que me tragam a alegria
Transcendem a real felicidade,
O quadro que se mostra em noite fria
Transborda a mais perfeita realidade,

E quando a mão discreta da poesia,
Tocando a minha pele, já me invade,
Não posso mais negar quanto eu queria
Aquele que se fez sinceridade

E o verso não tem meta, rumo, ou plano,
Somente traduzindo um desengano,
Distante dos teus braços; mal ressono

E logo acordo assim, num gesto aflito,
Na imensa frialdade de um granito,
Restando,solitário, em abandono...


21690


Venturas que inebriem corações
Vencer os desafetos, ir em frente,
O quadro que se mostra, mais freqüente
Promete tão somente negações,

Ações que inda farei, embarcações,
O mar que não navego; sempre ardente,
Tampouco não serei o penitente
Na busca por antigas saudações,

Saudade faz de mim o que bem quer,
Usando os artifícios, pois mulher
Convence com sorrisos e promessas...

A gente não discute e sim mergulha,
A vida à beira mar, também marulha
E como fosse uma onda, recomeças...


21691


Ungida a minha fronte se inebria
Com versos de tal verve inesgotável,
O amor pra ser real, belo e potável
Precisa ter um toque de magia,

Por mais que isto pareça uma alquimia,
O vento não se mostra mais tragável
Se tudo o que tivemos, confortável
Morresse sem carinho ou fantasia.

Na porta vou mantendo a sentinela
Que em noite enluarada se revela
A deusa que buscara em sonhos tantos,

Desnuda em minha cama, uma sereia,
A sorte que não tive me incendeia,
Derrama sobre nós raros encantos.


21692

Apenas um entulho que disforme
Vagando entre os cascalhos, pedregulhos,
Por mais que a fantasia ainda informe
De antigos sentimentos, vãos orgulhos,

O quanto ser feliz, ainda dorme,
Esqueço com certeza meus mergulhos,
A dor que me corrói por ser enorme,
Explode em fartas ondas e marulhos.

Alcanço a velha praia, moribundo,
Carcaça do que fui, mostrando os ossos,
Nas ânsias dos infernos me aprofundo,

Cavando com as unhas, ledos poços,
Aonde com certeza em novo mundo,
Eu guardarei em paz, restos, destroços...



21693


Presença que se mostra em languidez
Deitando sobre belas almofadas,
Na imensa fantasia que se fez,
Delírios de condões, magias, fadas;

Estrelas em momentos são alçadas
E o quanto ser feliz, sem ter talvez,
Alcanças em prazeres alvoradas,
Ardências desfazendo a lucidez.

Assim nós caminhos pareados,
Unidos sem pudores ou pecados
Na doce santidade que é profana,

Fartura nos teus seios, tua pele
Desejo sem limites me compele,
E a sorte sem juízo não se engana...



21694

Pareciam se unir terras e céus
Cobrindo com azul nossas cabeças,
Estende sobre nós divinos véus
Às ordens dos teus sonhos, obedeças,

Acende num segundo fogaréus
E as dores do passado, enfim, esqueças,
Os sonhos na verdade; como ilhéus
Trarão sempre bem mais do que mereças.

Assim ouvindo a voz de um trovador
Que faz da sua vida penitência,
Olhando com o olhar desta inocência

Que permite falar de um grande amor,
Sem mácula que entreve seu caminho,
Fazendo da esperança porto e ninho...




21695


Clarões que derramavas fátuos, breves,
Os dias não seriam mais iguais,
As almas se sentindo agora leves
Vagando por espaços siderais,

E até, mesmo calada sei que atreves
A ter em tuas mãos, armas fatais,
Escolha teu caminho e sei que deves
Buscar a plena paz entre animais.

Assim se permitindo humanidade
A vida te trará outra visão,
Marcada pela tola ansiedade,

Vestígios do passado desde então
A casa que vivemos, sol invade,
O medo se escondendo no porão...


21696


A vida nos trazendo paz e amor
Os bens mais desejados e queridos,
Podendo cada estrofe recompor
Com sonhos e desejos bem vividos

Espero a poesia feita em flor,
Deixando estes caminhos decididos
Fazendo do meu verso este louvor,
Tocando o coração dos desvalidos

Permita-me cantar em liberdade
A voz não se calando, sigo em frente,
Futuro mais bonito se pressente,

E nele a vida tendo a qualidade
Bastante pra sorrir e pra cantar,
A paz que desejamos tanto amar...


21697


Plantaste as ilusões ao teu redor
E não florindo nada, o que me resta,
O quanto imaginara bem melhor,
À simples solidão, amor se empresta,

As idas, vindas, todas, sei de cor,
Imagem do passado tão funesta,
Não sei ser o menor nem o maior,
Apenas conviver nesta floresta

Aonde tanta fera se procria,
Fantasmas vagueando em noite fria,
Ocasos de esperança ressurgindo,

Por mais que ainda creia na existência
De um tempo onde haverá paz e clemência,
Caminho devagar, só prosseguindo...


21698

Na cama uma princesa se faz santa
Depois numa arruaça sem tamanho,
Lembrando esta verdade ainda estranho
A fome ser demais, decerto é tanta,

Não falo que esta história ainda espanta,
O jogo na verdade não foi ganho,
E quando pro teu lado eu já me assanho,
Preparo a sobremesa e como a janta.

Matando a minha sede, louca fera,
Que finge tal pureza, uma donzela,
Na cama então a moça se revela,

Fazendo o que jamais dela se espera,
O corpo desenhado e tatuado
Um jeito tão gostoso, e mais safado...


21699


Sorrindo como fosse um garimpeiro
Que encontra um diamante valioso,
O jogo se demonstra por inteiro,
Embora muitas vezes doloroso,

A porta que trancaste; a do banheiro,
O vento conta histórias, caprichoso,
O beijo que negaste; verdadeiro,
No fundo foi até bem prazeroso.

Desfilas nas esquinas tuas luas,
E quando encontras almas continuas
No afã desesperado e sem carícia.

Não quero mais passar pela pinguela,
O vento que bateu já me congela,
Porém a tua bunda; uma delícia...


21700


A terra se desnuda e num segundo
O quanto ainda resta irá partir,
Assim revendo as cenas do porvir
Vislumbro desde agora o fim do mundo.

Planeta sufocado e moribundo,
Sem ter o que fazer, nem dividir,
A gente com vontade a destruir
Nas redes da desgraça eu me aprofundo,

Profética verdade? Uma besteira,
A culpa é toda nossa, esteja certo
Se tudo se transforma num deserto,

Não foi culpado, Deus, da brincadeira,
Visão apocalíptica? Disfarça,
Desculpa esfarrapada ou pura farsa...


21701


Surfista curioso, não se mete
Tampouco noutras bandas, vou assim,
Navego pelas ondas da internet,
E sei o quanto é bom, também ruim.

Olhando a sacanagem da chacrete
Coroa está ficando bem chinfrim,
Ainda tem aquela coisa a tal de Greti
Num filme bem escroto, isto é o fim.

Mas tenho meus amigos, peito aberto,
Irmão de coração, José Roberto,
Palácio camarada e gente fina,

Além de acompanhar velhas notícias,
As coisas mais reais ou tão fictícias,
No fundo esta desgraça me domina...


21702


Sidérea fantasia toma o rosto
Da bela que se fez mulher tão rara,
O canto em alegria se prepara
Deixando o coração pra sempre exposto,

Não posso mais calar qualquer desgosto,
E a sede que talvez; não encontrara,
A chama que nos une não separa,
O tempo não cobrando algum imposto

Permite que possamos então crer
Que a sorte permaneça, amanhecer
E ter bem junto a mim tanta beleza

Decerto é como andar de peito aberto,
Deixando no passado o vão deserto,
Vencendo mansamente a correnteza.



21703


Vertendo a poesia em cada poro,
Não deixe que este sonho ainda venha
Deixando-se perder em frágil lenha,
Se em teus raros caminhos, sonhando, oro,

E cada vez que volto, mais decoro,
Por mais que a fantasia me contenha,
Descubro os teus segredos, sei a senha,
Colado junto a ti, eu me demoro...

E não calando mais a voz, imensa
Que tomando os sentidos me entorpece,
O amor sendo perpétua e rara prece

A quem se dá inteiro, recompensa,
E molda um novo dia mais feliz,
Trazendo para nós o que o bem quis...

21704


Trouxesse sob a estrela que nos guia
Presentes ao menino que nasceu,
Mergulho no passado, esta alegria,
Compartilhando o sonho em que se deu,

Enquanto os reis chegavam, a folia
Passando casa em casa apaga o breu,
O nascer da esperança ela anuncia,
O mundo será nosso, teu e meu...

Assim há tantos anos esta história
Que vive e se revive na memória
Da Vara de Jessé, Maria e Cristo,

O canto se propaga mundo afora,
E a sorte feita em luzes nos decora,
Por ela e só por ela, é que eu existo...


21705



Realidade apenas não sacia
Quem vive em ilusão e dela gosta,
O fardo que diário pesa e encosta
Matando o que há melhor na fantasia.

Vencer dificuldades, dia a dia,
Se a vida já não vale mais aposta,
A solidão criando amarga crosta,
Estende-se deitada, e tão vazia...

Não cabe mais verdade em minha vida,
A dura realidade me condena,
É cedo pra sair então de cena,

A parte que me cabe está cumprida,
Relógio contra mim, é pouco o tempo,
Diverso e sem parada, o contratempo...


21706


Deitada sob a luz da branca lua
Estende-se no leito, enlanguescida,
O quanto mereci o bem da vida,
Espelha-se na imagem, bela e nua,

E quando a minha história continua,
Jamais terá decerto, a despedida,
Minha alma que por Deus se sente ungida,
Levita sobre todos e flutua...

Assenta-se no espaço sideral,
Rasgando o céu, divino meteorito,
Os sonhos embarcando nesta nau

Invadem todo cais, galáxia e estrela,
E o mundo se tornando mais bonito,
Apenas, simplesmente por sabê-la...


21707

Na abóboda celeste, estrela d’alva
Tomando este horizonte, bela diva,
Minha alma mal vislumbra queda salva,
Olhando teu reflexo; deusa altiva,

Belezas encontradas numa malva,
A sorte se mostrando sempre-viva,
A vida não suporta uma ressalva
Inteira, é necessária e não se priva.

Assim, assíduo sonho não se esquece,
E faço deste amor que se oferece
A prece mais fecunda e mais audaz.

Aonde perceber tamanho gozo,
Se o tempo nunca fora prazeroso,
E a sorte se mostrara uma incapaz...


21708


Saudando em alta voz quem não devia
Jamais ter se apartado dos meus braços,
A senda se moldando amarga e fria
Agora ressuscita em teus abraços,

Pertenço ao velho mundo dos devassos,
O mar em que penetro; onda bravia,
Desvios nesta rota? Eu sigo os passos
De quem se fez amada e diz sangria.

Na cálida manhã, enamorado,
Mereceria ao menos o sorriso
De quem se determina como um Fado,

Enfados; não pretendo e nem descarto,
Se corro e pelo menos agilizo,
Vivendo o falso amor, eu ando farto...



21709


Vencer os dissabores não podia
Se desde que pensara vago fosse,
O amor que sem verdades, nada trouxe,
Esquenta, mas depois depressa esfria,

A roda que se perde, mal faria,
O tempo se tornar mais agridoce,
O quanto de desejo que acabou-se
Traduz ainda a mesma ventania

Que outrora sem ter hora mal chegou
Captando meus anseios, nada sou
Se não houvesse ainda esta impressão

Do verso malfadado e mal escrito,
Cortando a fantasia vou contrito,
Dispondo bem ao longe, o coração...


21710


Biriba já não jogo nem mau-mau,
Quem sabe algum baralho por aí,
O sete e meio às vezes não faz mal,
Um four de ases ao menos nunca vi,

Não tenho nem sequer cara de pau,
Por isso jogatina? Já saí,
Não vou ficar bancando aqui o tal,
No conto do vigário eu não caí,

Não pago para ver e nem blefando,
A vida com sossego vou levando,
Deixando o carteado assim de lado,

Rolando para longe velhos dados,
Os dias andam bem movimentados,
Mineiro andando sempre com cuidado...


21711


Cacófato decerto farto caco,
Se alcanço danço frevo e fervo tanto,
Querida penteando este macaco,
Decerto conterás tristeza e pranto.

Não quero nem pretendo nem ataco,
Apenas eu te pego em algum canto,
Falando de um sujeito, o tal de Baco,
Não venha mais com ar de puro espanto.

A turma do que foi balacobaco,
Fazendo uma arruaça, hoje é barraco,
Com taco de sinuca, não se brinca,

Ferrado quis full hand e me ferrei,
No jogo e em nosso amor, eu me estrepei,
O máximo que vem é dama, em trinca...


21712

Nas glebas onde o sonho cultivara
Arcando com as feras e os receios,
Vencendo desde sempre meus anseios,
A luz incendiária se declara.

E quando a fantasia não aclara
Os medos invadindo velhos veios,
Procuro soluções, diversos meios,
Mas nada torna a vida enfim mais clara,

Mascaro com sorriso, angústia imensa,
E quando a mata espessa mais se adensa,
As trilhas se perdendo; resta o fardo

De ter em minhas mãos, simples vazio,
Do nada que recebo nada crio,
Apenas cultivando dor e cardo...



21713


Entre os múltiplos ramos do arvoredo,
Arcaicas fantasias se permitem,
E quando sons diversos já se emitem,
A vida conta mais do seu segredo,

E em meio às tais insânias, eu concedo
Extremas ilusões que ainda agitem
Enquanto turbilhões volvendo imitem
Antigas sensações, no eterno medo...

São aves e primatas, ecos, risos,
Intensos gargalhares, gritos, mortes.
Assim se repetindo velhas sortes,

Que às vezes não professam mais avisos,
Ao longe desta turba quase insana,
A fera mais audaz, suprema, humana...



21714


A multiplicidade dos anseios
Levando aos meus delírios, nada traz.
Deixando bem distante, alguma paz,
Fomenta a cada passo, vãos receios.

E sinto a gelidez dos velhos seios
Da morte que desnuda, é mais voraz
E teimo, sendo às vezes tolo e audaz,
Buscando soluções em novos veios.

Mas tudo o que imagino é sempre em vão,
Abrindo sob os pés, assim meu chão,
O rastro da ilusão; já não persigo.

No verso costumeiro, a solução,
A cada novo dia, a negação,
Tramando por final, meu desabrigo...



21715


Pelo muito que amei e nada levo
Da vida em vaga sorte percorrida,
Um passo mais audaz; ainda cevo
E deixo para trás a despedida.

Eu sei que na verdade não me atrevo
A ter em minhas mãos, já de vencida
Batalha contra a dor; por isso devo
Permanecer calado; eis minha vida.

O barco naufragado, a morte à vista,
O bote salvador jamais virá,
Por tanto que inda lute e até resista

O fim se aproximando; me desnuda,
E sei sem ter perguntas, desde já
O quanto a vida foi; leda e miúda...


21716


Meus filhos; esperanças de um futuro
Aonde talvez possam ser felizes,
Se o meu viver se fez em cicatrizes,
Um tempo mais suave- o meu, escuro-

Se ainda persistindo, vou, procuro,
Um céu que trague enfim, claras matizes,
Além da realidade, profetizes
Que possa haver a luz após o muro.

E a minha morte então será festiva,
A sorte que não tive e não conheço,
Por mais que reconheça, isto eu mereço,

Nas outras gerações; deveras viva
Trazendo finalmente a redenção,
Após esta aridez, a brotação...


21717


Após a minha morte, talvez sorte
Mudando a direção de velhos ventos,
Não trague tão somente os sofrimentos,
Mas sim, renovação em pleno aporte,

Perpetuado verso, às vezes forte,
A traduzir diversos sentimentos,
Espelho de meus vários pensamentos,
Por tanto meu apoio e meu suporte;

Quem sabe resistindo ao temporal
Futuro após o fim molde afinal
Um novo amanhecer mesmo distante.

E morto, apodrecido, em cova rasa,
Refeito este cadáver não se atrasa
Revive bem mais forte neste instante...


21718


O brilho que restara em meu olhar
A Mãe de todos nós; ofusca agora,
O tempo de viver já não demora,
Cumprindo amarga sina, devagar.

Pudesse ainda crer e até lutar,
Porém este vazio me devora,
A morte com certeza me apavora,
Incerto aonde e quando, eu ancorar...

Mas nada se compara à dor imensa,
De quem pensou na vida em recompensa,
E deixa como herança, a solidão.

Apego-me aos momentos derradeiros,
Os olhos sem os brilhos costumeiros,
A morte me tomando pela mão...


21719


Meus olhos se apagaram; nada mais
Restando senão crer que ainda exista,
Um novo amanhecer que assim resista
Mudando ancoradouro, um belo cais.

Ou mesmo este vazio onde jamais,
Por tanto que minha alma ainda insista
Não sendo sonhador nem realista,
Resposta; encontrarei? Mãos divinais

Que outrora me dariam a certeza,
Escorrem pela intensa correnteza
E o verbo se transforma num vazio?

Somente esta carcaça é realidade,
Ausência de resposta; o frio invade
Aos vermes, um festim, eu propicio...



21720


Servindo de repasto às rapineiras
Deitado sobre a terra, nua e fria,
Tivera calmas horas derradeiras,
Mas nada se compara à fantasia

Trazendo como vivas, as mangueiras,
A sorte que nas mãos já se esvaia
Moldando novamente estas ladeiras,
Aonde uma criança descobria

O tempo de sonhar e de viver.
A vida não dá chances, segue em frente,
E tudo se transforma num repente,

Ao fim, o que nos resta, pois, morrer,
Distante vai ficando a mocidade,
Num último suspiro, a vã saudade...


21721


A carne para abutres um festim
Decerto uma iguaria esta carniça
Desperta nos estúpidos; cobiça,
A minha história chega ao ledo fim;

Relembro cada estrada de onde vim,
Minha alma se liberta, até se viça,
Encontra as mãos pesadas da justiça,
Mas calma, tranqüiliza o que há de mim

Ainda neste corpo decomposto,
E cada vez mais leve. Uma ossatura,
Por mais que seja fria, pétrea, dura

Não pesa quase nada; assim exposto
Entregue a tal banquete que, asqueroso,
Provoca em tantos vermes, pleno gozo...



21722


Tentando uma resposta inutilmente,
Por que; será Meu Deus que aqui estou?
Andara até feliz, ultimamente,
Tentando organizar o que sobrou,

O nada, simples nada, o corpo sente,
A dor que me queimava se acabou,
E o quanto me percebo mais ausente
Flutuo e simplesmente, nada sou.

A vida tem decerto suas tramas,
E delas encenando velhos dramas,
Deságua com certeza num mistério;

Pergunto e ninguém ouve, mas me vê,
O que estarei fazendo, e qual por que
De estar sendo levado ao cemitério?


21723


Antes da vida, apenas negritude,
O vago sem qualquer forma ou destino,
O verbo que criado em desatino,
Aguarda do viver uma atitude.

Por mais que a fantasia ainda ilude
E o senso se esvaindo, rouba o tino,
Olhar que de soslaio, é tão ladino,
História do que fui; agora mude.

As armas que inda restam, são bem poucas,
Palavras que ora dito, quase loucas,
Escória do que fui vago entre as trevas,

E bebo desta amarga solidão,
Dormindo sobre as folhas da ilusão,
Enquanto ao longe ris, deveras nevas...


21724


Augusta madrugada não mais veio,
Servindo aos meus propósitos, o frio,
No qual revejo a sombra de um estio,
E um mundo que deveras; fez-se alheio,

Histórias tão fugazes que encadeio
Ao fim não passarão de um desafio,
O cerne da questão; em pleno seio,
Um eco se repete, mas vazio.

Eu pude pelo menos ter nos olhos
As flores que hoje morrem sem cuidado,
Canteiro se entregando aos vãos abrolhos,

A morte se aproxima e nada faço
Senão sentir seu cheiro malfadado,
Ocupa pouco a pouco, todo espaço...


21725


A dor que tanto assombra não tem fim,
Vagando pelas sendas que palmilho,
Descrevo o que inda resta dentro em mim
E a cada novo passo, mais me humilho,

Outrora a mansidão de um querubim,
Agora a solidão tomando o trilho,
Carcaça do que fui; mais nada enfim,
Minha alma se perdendo, sequer brilho.

Atávicas loucuras, caquexia,
A sorte se esvaindo em tosco dia,
Atado à podridão que já me toma,

O preço que paguei por ser poeta,
A vida sem destino, prumo e meta,
Destroça o que pensei, pudesse soma...


21726


Pudesse te querer, mas já me assustam
As dores que em passado dominaram,
Enquanto pormenores não se ajustam
Os dias de ilusão já terminaram,

E as sortes prometidas todas sustam,
As glórias que verdade; exterminaram,
Os sonhos sem porvir, ao corpo custam,
As noites que insensíveis me marcaram.

Macabra fantasia me persegue
A calma; não consigo vislumbrar,
Minha alma muitas vezes não consegue,

E segue sem destino bar em bar
Arcando com meus erros do passado,
Jamais enfim serei, de novo amado...



21727


No ardor da poesia que inda exalta
O que restou de um bravo timoneiro,
A sórdida ilusão já não faz falta,
Retrato se desnuda por inteiro,

E enquanto a fantasia ainda assalta
O corpo se desfaz nas mãos do arqueiro,
Pert4enço à podre súcia, imunda malta,
Cada ladrão se torna um companheiro,

Vasculho nos meus ermos, qualidades,
Que há tanto destruídas; nada dizem
E em meio aos becos, vilas se deslizem

Buscando algum recanto onde esconder,
Assim ao desnudar realidade,
Há tempos que eu me sinto, em paz, morrer..


21728


Encontrarás um verme sem defesas
Aonde tu pensaras fosse um homem,
As mãos dilaceradas destas presas,
Arcaicas fantasias me consomem,

As lanças permanecem sempre tesas,
Enquanto as fantasias, parcas, somem,
Permita o sofrimento, pois belezas
Percebo nestas larvas que me comem...

O parto da esperança, um vão aborto,
Ausente do caminho, cais e porto,
E morto para a vida, não seria

Sequer alguma sombra do passado,
O corpo estando enfim dilacerado,
Exposto à madrugada amarga e fria...


21729


Os edifícios torpes que eu ergui
Tentando te alcançar, eternidade,
E quando imaginara: consegui,
Distante de meus olhos, realidade,

O peso que carrego desde aqui,
Não tendo mais pudor, nem quem agrade,
Decifra tudo aquilo que perdi,
Mantendo-me cativo em fria grade.

Pudesse ter a sorte, mas cobiça
Deixando em meu lugar, podre carniça
Encarcerando os dias que inda tenho,

A boca desdentada nada almeja,
E quando o velho corpo se apedreja,
A vida mostra enfim o seu empenho...


21730


Ao ver desmoronada a minha sorte
Em meio a tanta pedra, escombros vagos,
Preparo ato final, sagrada morte,
Na imensa placidez de antigos lagos,

Quem dera fosse só pequeno corte,
A vida não faria tais afagos,
É sempre necessário ser mais forte,
Bebendo o sofrimento em largos tragos.

Mas tudo tem seu preço, e quando pago,
No quadro desenhado em morbidez,
O beijo que busquei; por vezes trago,

Nas mãos a louca insânia em que se fez
A velha poesia que inda faço,
Cortante canivete de puro aço...


21731


Meu orgulho se esvai entre desertos,
Pirâmides destroem-se com tempestas,
Os medos e os demônios vão despertos,
Orgástica loucura em plenas festas,

Os olhos; sem receio, vão abertos,
No bote da esperança, riscos, frestas,
Os dias que virão, serão incertos,
Contando as poucas luzes que me emprestas,

Restando deste ser inúteis traços,
A morte carcomendo cada parte,
Envolto em tais tentáculos, abraços,

Preparo-me afinal ao vão descarte,
E quando aproximar-se o fim da história,
No olhar apodrecido, única glória...


21732


As sombras que deveras surgirão
Durante a minha tosca caminhada,
O parto se negando, a escuridão
Tomando a cada ponto a minha estada,

O verso se perdendo na amplidão,
A noite se espalhando na calçada,
A morte devorando o mesmo pão
Que outrora se fez vida, na fornada,

Amarga realidade me conduz,
Distando-me deveras desta luz
Aonde em profusão fizeste o riso,

Durante tantos anos, trafegando
Entre tragédias tolas, naufragando,
A vida transformada em pré-juízo...


21733


Compartilhar destinos, sofrimentos,
Momentos de amargura, dor intensa,
Sem ter sequer alguma recompensa,
Seqüestros entre fogos violentos,

Não tendo na verdade nem alentos,
A morte solidária, a vida tensa,
Floresta em dissabores, tão extensa,
E os temporais freqüentes, fartos ventos.

Partilha de temores, ânsias, tédios,
Na busca interminável por remédios
Que possam mitigar karmas e ardores.

É dessa vaga e tola, vil matéria,
Que se faz a ilusão cruel e etérea,
Ingredientes para os vãos amores...



21734


Do Nada em que surgi ao Nada volto,
Num ciclo vicioso, eterno pó,
Caminho pela vida e sigo só,
As mãos das ilusões, aos poucos, solto.

Não posso te dizer que me revolto,
A cada novo passo, mais um nó
Desfeito e me entregando à tosca mó,
Nem mesmo meu cadáver, eu escolto.

Rastreio o que inda resta e o que já fiz,
Do Nada talvez reste algum resquício,
E voltando ao etéreo precipício,

Durante alguns segundos fui feliz,
Arcaicas artimanhas, armadilhas,
Raríssimas belezas, maravilhas...



21735


A terra acolhedora, meu abrigo
Que derradeiro faz um farto laço,
Num último tentáculo, um abraço,
O mais completo rito de um amigo.

Encontro finalmente o que persigo,
A paz que me redime sem um traço
Sequer deste sarcasmo; cada passo,
Deveras compartilho; e até consigo

Saber deste silêncio redentor,
Após a minha morte, ausente dor,
Somente este vazio e plena paz,

A companhia audaz; de larvas, tenho,
A terra que lavrara com empenho,
Pastosa e delicada massa; faz...



21736


Assaz comuns os sonhos, convulsões
Que navegando mares tão obscuros,
Enfrentam tempestades, ilusões,
E bebem da salmoura; saltam muros,

As sortes procelárias, negações,
Os dias não serão vagos e escuros,
A morte descerrando seus portões,
Jardins que imaginara; solos duros.

A paz que tanto apraz não se encontrando,
O vento em tempestade, jamais brando,
O corpo segue inerte o funeral;

E a boca desta terra escancarada
Devora a minha vida, descarnada,
Num lamentável, belo ritual...



21737


Volúpias entre chamas, fogo e brasa,
Ascendo ao procurado Paraíso,
E quanto mais audaz, menos juízo,
O vento me atrapalha, a sorte atrasa,

E quando a fantasia se defasa,
O beijo que me alenta é prejuízo,
Não posso mergulhar, pois impreciso,
A vaga que me arrasta; em vão abrasa.

E o verbo se refaz a cada história,
Notórias emoções, ermos caminhos,
No fim de cada noite, dor, vitória,

E o pêndulo da sorte não sossega,
Na morte com certeza, vejo os ninhos,
Porém à torpe vida, alma se apega...



21738

Pudesse ter nas mãos este poder
De ser a criatura e o Criador,
Talvez não mais houvesse o desamor,
Eternidade e nunca mais morrer.

E a cada nova fase renascer,
Brilhando no jardim, pudesse flor,
E enquanto me entregasse ao bem do amor,
Jamais em minha vida, anoitecer...

Mas vejo ser perfeita a criação,
É necessária sim, a podridão,
Pois dela se refaz a própria vida.

Num etéreo vagar, nós somos feitos,
Gerados para sermos mais perfeitos,
Porém em nossas mãos, sorte é perdida...


21739


Se eu falo do capeta; um pandemônio
Tem Gente que se esconde atrás do armário,
Fugindo mais depressa do demônio,
Um bicho, na verdade, salafrário,

Proteja mais depressa o patrimônio
Também é ladrão, estelionatário,
Não quer saber se é Pedro; Zé, Antônio,
O paladar do Demo é sempre vário.

Responde; então amigo, sem pensar,
Como é possível mares navegar?
E falas, com certeza: - Está amarrado.

Mas para piorar, ele é chifrudo,
Tem coisa que não sei se inda me iludo,
Decerto foi traído ou é veado...


21740


Podermos no momento decisivo
Atados qual Quasimodo e Esmeralda,
A vida proporciona e já desfralda
Final deveras nobre, e mais altivo,

E quando às tempestades sobrevivo,
O tempo em dores fartas já me escalda,
A refeição; se lauta, ainda salda
As dívidas que tenho e não me privo.

Esquartejado sonho, vãos insetos,
Os dias não seriam mais completos
Não fosse o teu sorriso, companheira,

Mas nada impedirá que no final,
Num fúnebre e supremo ritual,
A sorte se desnude, carpideira...






extra


Dormência...

É esse amortecer que é tão sentido
e evoca um fim pra cada dor que é fato
o arauto, o sinal claro: estou perdido!
E eis que percebo a falta até do tato...

Aninho em mim mesmo o que era tido
aquém do ouvir sereno e assaz recato
e não escuto o som há muito ouvido!
É certo que na boca o antes regato

achou de ficar seco e eu vi-me junto
ao ponto cego do existir oculto
e o cheiro já nem sinto, é dissipado,

é fato consumado, é fim de assunto;
agora me procuro e nem qual vulto
encontro a mim mesmo, estou velado.

Ronaldo Rhusso

Nos ermos de meu ser busco encontrar
Em meio a meus escombros a verdade,
Percorro descaminhos, realidade,
E nada está de fato em seu lugar...

Na sôfrega batalha para achar
Algum sinal com tal sinceridade
Afastando afinal a obscuridade
Aonde eu possa enfim me desnudar,

Percebo neste espelho que me trazes,
Os olhos embaçados, mas audazes
Da fera envelhecida e já sem dentes.

Mas que inda crê na força de outras eras,
No inverno vou buscando primaveras,
Velando a minha imagem entrementes...

Marcos Loures

A distorção é fato consumado
e o beijo da mortífera, conforta
a minha sede por uma outra porta
a qual me leve calmo pr'outro lado

em companhia alegre do esperado
aluvião ao qual meu ser comporta
e em me delir, sereno, então reporta
o ser que fui há tempos, e olvidado,

ao que compôe o resto em mim contido
a fim de dar vazão à vil dormência
e me apagar aos poucos co'a anuência

herdada um dia pelo que hei vivido
em troca dessa vã maledicência
em forma estranha e triste da existência...


Ronaldo Rhusso


Perceba quantas vezes vou errante
Escravo dos meus medos, meus anseios,
E faço de ilusões, doridos meios
Na busca mais freqüente, até constante.

A morte, sobretudo me garante,
Antiga sabedora destes veios,
Que jamais valeriam tais receios,
O mundo segue sempre para adiante.

Portanto, distorções são usuais,
Motivos pra viver; os quero mais,
Já que depois de tudo, findará

O tempo se esgotando tão depressa,
Será que nova etapa recomeça
Após o meu final? Responda já!

Marcos Loures


Essa louca dormência nos sentidos
vem, e desperta a dúvida latente!
Vem tornando o viver tão mais plangente...
Pensamentos comuns são invadidos

e me lembram das dores de outros idos
que tornaram-me a vida diferente...
Hei me dado ao sofrer e é permanente
lamentar e ter medos combatidos.

A vida é prima-irmã da Dona morte.
Uma pára e outra leva, toca em frente!
De repente entendi que continua

e atua esperando o Rei que é forte
é suporte pro ente, felizmente,
e virá reluzente mais que a lua!

Ronaldo Rhusso

A Morte nos desnuda por inteiro
Inevitável ponto de partida,
Quem sabe, de chegada, companheiro,
Haverá decerto nova vida?

Só sei que sempre mostra a dolorida
Face do viver, que é tão ligeiro,
Porém como uma meta a ser cumprida,
Momento da existência, o derradeiro.

Aprendo a cada novo amanhecer
A crer que esta alegria de viver,
É tudo o que desejo e que me resta,

As dores ensinando, dia a dia,
Maturidade sempre propicia,
Ensinando a encarar a hora funesta...

Marcos Loures


Santa hora da morte eu já rejeito
adornando a doença que corrói
com a força latente que em meu peito
ganha pulso e a tristeza, então, destrói.

A dormência me segue e não tem jeito
hei de um dia aquecer corpo que mói
ao poeta e não tem sequer respeito,
pois castelos bonitos, eis, constrói!

Nova vida é um fato que o espelho
me fez ver nos milagres contundentes;
é que eu tenho meu próprio Mar Vermelho

e navego em mim mesmo, entrementes
não sou desses que pode dar conselho
eu sou puro milagre em meio a entes.

Ronaldo Rhusso


O quanto em desafios traz a vida,
Misteriosamente faz milagres,
Porquanto tanto amor; deveras sagres,
Encontras com louvor uma saída.

A sorte do viver jamais se olvida,
Mesmo quando há acidez, velhos vinagres
No amor que a cada dia mais consagres
Adiarás decerto as despedidas...

Poeta tendo uma alma imorredoura,
Em plena tempestade, ele se doura,
Erguendo o seu olhar, vê sempre além.

A morte leve o corpo, deixa a fama,
Mantendo na palavra a imensa chama,
Que eterna, vez em quando sempre vem...

Marcos Loures


Eu acredito que essa é a nova vida:
Permanecer em cada verso lindo!
Eternizar-se em obras, nessa lida,
aproveitando o Dom, pois que é infindo!

Posteridade tem quem solta a brida
anunciando a dor, porém sorrindo
enquanto o Mal não ache uma acolhida;
enquanto o amor entenda que é bem vindo!

O corpo morre e fica em vil dormência;
os Cromossomos juntam-se à terra;
memória não tem mais, nem recompensa...

Um dia alguém que sofre de demência
descobre textos... Pronto! A morte encerra!
Outro imortal renasce... Mas compensa?

Ronaldo Rhusso

Talvez seja melhor ficar calado,
O tempo remedia, mas não cura,
Se o pensamento voa, sendo alado,
Algum belo remanso ele procura,

Da luta, eu te garanto, estou cansado,
Porém nossa batalha inda perdura,
Viver a poesia, amargo Fado,
Às vezes com espinhos, a ternura...

Morrer e depois disso ser alguém?
Um velho paradoxo se repete,
Melhor seria ter outro caminho,

Mas quando a tarde cai e a noite vem,
O dedo no teclado pinta o sete,
E volta sem pensar ao mesmo ninho...

Marcos Loures

Razão tu tens, irmão, poeta e amigo!
Então deslizo e falo de outra vida
Em céu, em Terra Nova prometida!
A mim costuma ser o que eu persigo...

Viver, morrer, aqui é um perigo!
E eu sei, também a ti, ELE convida
A ir pr’esse lugar que é sem medida.
Ah! Creias, tou falando de um abrigo!

Eu sei que ELE virá porque já veio.
Repare no comer da multidão!
Tilintam sinos dessa falsa fé,

Mas Cristo, eu sei, te quer doar um seio
Além do que o pulsar do coração.
Ta bom! Sou sonhador, mas isso é fé!

Ronaldo Rhusso


Nós temos a esperança feita em fé
De um tempo bem mais calmo e mais suave,
Após nossa viagem, noutra nave
Que faça este percurso; aonde? Até?

Mas quando a noite chega e traz vazios,
Mergulho num abismo sem respostas,
E mesmo que ainda crie, firmes crostas,
Às vezes dolorosos arrepios...

Eu creio, nunca nego, em Cristo Deus,
E faço desta crença uma bandeira,
Dizer sempre até logo e nunca adeus,

Marcando desde sempre pela dor,
Amiga tão voraz e costumeira,
Parceira de oração e de louvor...

Marcos Loures

Eu conheço um segredo pra dormência;
pras horas onde as sombras atormentam...
É fácil! Só há perda aos que não tentam.
Cuidar de alguém melhora a permanência

ao lado do Senhor e a paciência
se torna gotas que aos poucos sustentam
e cobrem densas noites, alimentam...
O enfado passa a vir sem a frequência

de modo que outras cores enxergamos.
Cuidar dos que estão próximos é fácil;
Missão é carregar gente que está

melhor que nós e assim fortificamos
a mente que costuma ser retrátil,
mas será transformada: Ele virá!

Ronaldo Rhusso

Carregando este amor que fortalece
E traz uma esperança interminável,
Por mais que o solo seja farto, arável,
Uma alma sem destino, em vão fenece;

Fazendo de um soneto, quase prece,
Um mundo que imagino mais amável
Humanidade sendo palatável,
Às normas do Divino, alma obedece

Fraternidade sólida esperança,
A fera mais voraz, o amor amansa
Quem vive esta certeza sabe bem,

Somente esta alegria tem valor,
Um novo amanhecer, a se propor,
Perpassa este horizonte e segue além...

Marcos Loures


Falaste do amor com maestria
e eu sinto que é o segredo da vitória!
Consegues perceber toda essa glória
que banha todo o amante da poesia?

É ela que me leva a noite e dia
sorver cada momento dessa história
que em versos escrevemos e a memória
há de ficar marcada em alegria!

É com amor que temos derramado
os nossos corações para os leitores
nesse minimizar de dissabores

com nosso versejar que é de bom grado
a fim de ter também colaborado
com o renovar da vida em lindas cores!

Ronaldo Rhusso

A poesia é nossa mola; mestre
Que faz com que possamos ter nas mãos
Sementes do futuro, fartos grãos;
Tomara que este amor, o povo adestre,

Aragem em que vivo hoje, campestre,
Não deixa que eu conceba serem vãos,
Lutemos companheiro, pois irmãos
Não deixam que o vazio já fenestre

E invada sobre nós desesperança,
Nos versos com carinho esta aliança
Permite que se creia no amanhã.

E temos o poder da poesia
Que é feita de magia e fantasia,
Divino, com certeza, nosso afã...

Marcos Loures

Divino e prazeroso, ó mestre amigo!
Às vezes té me esqueço dos terrores
que assaltam-me em forma de vis dores
e roubam-me essa paz, é o que eu lhe digo!

Então me zango e escrevo o que eu consigo
em forma fixa ou como os amadores.
O fato é que me vêm, em multicores,
palavras que me são perfeito abrigo!

A graça é que podemos recriar
um mundo diferente qual encarte
e o feio com firmeza por de parte.

Não é maravilhoso e até sem par
o dom que possuímos de rimar
a dor co'ardor e o amor co'a cor da arte?

Ronaldo Rhusso


O dom de ser poeta, uma magia
Que jamais desprezei e que sustenta
Durante a tempestade; uma alma assenta
E bebe do prazer e da agonia.

Vencer o dissabor do dia a dia,
Por mais que a vida seja violenta,
A noite em poesia nos alenta,
Como se fosse então uma alquimia.

Pedra filosofal que lapidamos,
Escravos das palavras? Somos amos,
E ramos destes velhos arvoredos

Que escassos, mas garanto valiosos,
Os versos que fazemos; orgulhosos,
Desvendam da existência seus segredos...

Marcos Loures


Amigos das palavras temos sido;
Senhores de nós mesmos e dos versos.
O dom que praticamos tem movido
Milhares de espíritos dispersos

A despertarem desse combalido
Estado lamentável que, ora imersos,
Sufoca cada anseio que era tido
Como uma solução pros mais diversos

Dilemas da existência em vil dormência,
Estado em que se encontra a maioria
Sem virtudes, sem justa paciência;

Sem gana pra viver em harmonia
C’o bem comum, com ordem, com decência;
Consigo mesmo e com a fantasia.

Ronaldo Rhusso


Possamos espalhar aos quatro ventos
O som da poesia que nos toca,
O rio que em tal mar se desemboca
Carrega junto a si, os sentimentos,

Poeta faz das dores, seus alentos,
O amor em fantasia ali se aloca,
Agigantando sempre cada roca
Tornada continente, pensamentos...

Que possa ser assim durante a vida,
Eternos companheiros da alegria,
E imersos em fantasmas que criamos,

E quando chegar nossa despedida,
Vivemos o que o sonho nos pedia,
Que a liberdade nega escravos e amos...

Marcos Loures


Espero que esssa tal de despedida
demore a Eternidade para vir
e que tenhamos sempre e sem medida
muita alegria antes do partir.

Enquanto isso vou gozar a vida
a fim de me esquivar do despedir;
compor, honrar essa'rte sem a brida
a qual me tolhe e esforço-me a delir.

Viver os sonhos traz a paz que é dom,
é dádiva importante e eu quero é mais!
Sorver da liberdade satisfaz.

Eu posso até do encanto ouvir o som!
Mas quem da poesia dá o tom
sou eu, és tu que és mestre, és mui capaz!


Ronaldo Rhusso


Respirando este ar puro em que respiras
Os sonhos que trazemos; parceria,
A dádiva divina é maestria,
E acende da esperança tantas piras,

Enquanto poesia tu transpiras,
O velho trovador, pouco queria,
Somente algum resíduo de alegria,
Mudando pra melhor terríveis miras,

Almejo estar contigo nesta glória
Aonde a gente escreve nossa história
Marcada com a dor, com esperança

Arejas com teu riso o sofrimento,
E tendo Nosso Deus, alívio e alento,
Um claro amanhecer, a vida alcança.

Marcos Loures


Que bom pode dizer do teu valor!
Compartilhar de versos que enriquecem
e que aos corações, decerto, aquecem
tornando espinhos maus em bela flor!

Sofrer faz parte e até vejo na dor
algum motivo além e os que padecem
aos poucos se apercebem, então crescem
e dão valor à vida e ao dom do amor!

Talvez a privação do paladar
prepare o ser humano pra deixar
aquilo que não vai ter lá no céu.

Eu vejo a privação da liberdade
motivo pra buscar sobriedade
e ver na Eternidade doce mel!

Ronaldo Rhusso

Assim como ao poeta se permite
O ter em suas mãos, clareza rara,
O verso que também apóia e ampara,
Esconde das tristezas, seu limite,

Por mais que na verdade eu acredite,
A bela fantasia me é tão cara,
E quando a voz da vida em vão dispara,
Retorno o meu olhar, busco Afrodite.

Não deixaremos nunca que se apague
O brilho que somente a Musa traz,
Vivendo a plenitude e sendo audaz,

Não vejo quem polua ou mesmo estrague
As mãos do que burila tal argila,
E o sonho entre seus versos já desfila...

Marcos Loures


A Musa inspira, é fato, isso eu não nego.
Carrego essa certeza e busco a minha...
Eu tinha o privilégio, mas fui pego
qual cego até perder minha rainha...

Definha em mim a alma e não sossego;
entrego-me à jornada e sigo a linha
que é vinha a ser cuidada e a ela eu rego.
Sonego a calma e vem-me um frio na espinha...

Sozinha a fantasia é pouca monta.
Desmonta até vontade de viver.
Meu ser nem teme mais o vil sofrer.

Dizer que a vida é bela e não dar conta
afronta claramente o sonho antigo?
Persigo uma resposta. A tens, amigo?


Ronaldo Rhusso


Só sei que não sabendo quase nada,
Além do que me toca o coração,
Instinto bem maior que a razão,
A vida em loteria transformada,

Um'alma, muitas vezes malfadada,
Que encontra nos seus ermos, solução,
Sabendo que somente amor, perdão,
Garantem a viagem sossegada,

Espero pela chuva com o olhar
De quem sabe: ela irá fertilizar
Crisálidas da terra: grãos, sementes

E assim se refazendo a cada dia,
A vida nos permite a poesia,
Tramando a realidade que ora mentes...

Marcos Loures

É nesse refazer com paciência
que temos o antídoto ansiado
pra desfazer o estado da dormência
algoz que contra nós tem festejado.

Talvez temos mostrado a complacência
com cada inimigo e não amado
aquele que se esconde em vil dolência
atrás de cada verso elaborado.

Perdão tem dupla mão e é tão bonito!
E torna essa viagem mais segura.
Mas reconheço que só alma pura

deixa a realidade e vira mito.
Por mim se a morte vem eu solto um grito
e digo: vá de retro, ô bicha escura!

Ronaldo Rhusso


Cantemos, pois à vida, companheiro,
E mesmo que sofrida, é tudo o que
Existe de concreto e o tempo inteiro
Navego em suas ondas, sem cadê?

Não posso sonegar o verdadeiro
Caminho pelo qual em Deus se crê,
Do parto até a partida, mensageiro
Da paz que sabe bem o que se vê.

Não creio nos demônios, nem os temo,
Distante de meus sonhos, vejo o Demo
Mefisto não passando de ilusão,

Porém no amor divino, num mergulho,
Eu bebo destas águas e me orgulho,
De ser a cada dia mais cristão...

Marcos Loures

Um canto para a vida é boa ideia!
Festejo o refestelo do meu ser
que pronto pra não ver em panaceia
resposta para não envelhecer

prefere entrar em anos pois a estreia
almeja que se possa esquecer.
Ser jovem é mexer numa colmeia
e nunca preocupar-se em correr.

Espíritos do mal até que existem;
eu trombo com alguns no dia a dia.
São eles os que ao belo resistem

e tiram desse mundo a fantasia.
Dormência têm na mente, mas persistem
até roubarem cores da alegria.

Ronaldo Rhusso


Não deixe que estes tolos, vãos bufões
Dominem esta cena, meras brisas,
Poeta feito em luz; protagonizas,
Tocando com leveza os corações...

Acaso existem forças, turbilhões
Que apenas com teus versos suavizas,
E quando noutras cores tu matizas
As nuvens buscam outras direções.

Escreves com beleza e com cadência,
E enfrentas com denodo tal dormência
Vencendo esta batalha dia a dia,

Louvando o bem maior com maestria,
E com tanto talento, a poesia
Reclama e sente logo tua ausência...

Marcos Loures


A poesia age com brandura;
ela é mulher gentil e nos quer bem.
A vejo como um bálsamo, uma cura,
alívio mui mais rápido que um trem

do tipo que é expresso e da lonjura
faz estreito caminho e faz tão bem!
Ela é parceira hábil e assegura
a nós que lemos tudo o que convém

direito de sorver em teus sonetos
a mensagem mais pura e confortante;
abrir de alma explêndida e tonante!

Contigo é fácil crer em bons duetos
andar em letras por Jardins e Guetos,
pois teu talento é fato assaz marcante!

Ronaldo Rhusso


Amigo, com certeza tu me dás
Esta oportunidade rara e benfazeja
De ter em cada verso, o que deseja
Quem vive uma esperança feita em paz.

Às vezes delicado ou mesmo audaz,
Um trágico poema que lateja,
Sorriso de criança, alma almeja,
Mas nada se compara e satisfaz

A quem faz do soneto, grito e voz,
Do que esta companhia que me fazes
Em versos muitas vezes mais vorazes,

Sabendo ser comum a nossa foz,
Descendo as corredeiras com bravura,
No canto em que espalhamos a cultura...


21741

Ainda guardo viva a desventura
Que fez com que sonhasse inutilmente,
Uma alma delicada, ainda mente,
Buscando vagamente por ternura,

A noite se moldando sempre escura,
A treva nos tomando plenamente,
O fogo da saudade, penitente,
Apenas o temor inda perdura.

Apago as velhas chamas do passado,
Farturas que buscara, só de dores,
Aonde desejara claras cores,

O céu amanheceu gris e nublado.
O fim preconizado me entorpece,
À morte redentora, última prece...


21742


Nevrálgica tortura, em fios, feita
A face sorridente de Satã,
Enquanto a vida fora amarga e vã,
A história prosseguindo contrafeita,

Nem mesmo a solidão inda respeita
E toma com firmeza o velho afã,
Seguindo como herança etéreo clã
Minha alma frente ao fim, já se deleita.

Carpir tal desventura? Não há como,
Os erros? Acumulo e quando os somo
Percebo minha dívida; e, sagaz,

Prefiro à terminal vaga escultura,
Remanso desfrutado em sepultura,
Aonde encontrarei, enfim, a paz...



21743

No envelhecer do corpo, rugas, trago,
E os olhos já sem brilho, a frágil pele,
Enquanto à morte o sonho me compele,
Não tendo da esperança algum afago,

Eu bebo a solidão e em cada trago,
A vida pouco a pouco me repele,
Destino que em vazio vão se sele
Jazigo como herança; um calmo lago.

Remanso finalmente após batalhas,
Entre vários demônios, ritos, falhas,
As falsas alegrias mentirosas,

E ao ver a decomposta criatura
Que um dia se fez pálida tortura,
Incrível sentimento; ainda gozas...



21744


Satânica esta noite, a dos perdidos
Que em busca de um sorriso, nada têm
Senão os mesmos ermos desvalidos,
A sorte se renega e jamais vem,

Sortidas ilusões, medos erguidos,
Muralhas não protegem mais ninguém,
Demônios meus antigos conhecidos,
Escarnam o que resta. Ledo alguém...

Outrora um sonhador, hoje um esgoto,
Confronto com sarcasmo, ontem e agora,
A morte redentora não demora,

Final de uma existência, um mundo escroto,
Apenas um retrato amarelado,
Do que fora esperança, no passado...



21745



Acena em vago riso, a podridão,
Escárnios que acumulo, num sarcasmo,
O corpo quase inerte, em vão espasmo,
Aguarda algum final ou solução.

A porta se entreabrindo, vejo o não,
E dele com certeza este marasmo,
Ultimando o prazer, um ledo orgasmo,
Expondo o corpo em decomposição.

Nefastas companhias, asquerosas,
Incrível que pareça; prazerosas,
Assim vis criaturas me lambendo,

E o tempo sem domínio se escorrendo,
Levando para o fim, a sepultura,
Uma alma feita outrora em vã ternura...


21746


Minha ossatura exposta caquexia,
Às ordens do final que se aproxima,
Durante tanto tempo, alguma estima,
O tempo vai passando e se esvazia,

A morte desde sempre eu já sabia,
Mudando com certeza o velho clima,
Ninguém se aproximando que redima
A sorte feita em lástima, tão fria...

Poeira toma assento e na verdade,
Ausente do que outrora em amizade
Ferrenhas discussões, vagos senões.

Ascendo suavemente ao nada ser,
E aos poucos percebendo que morrer,
É do ostracismo; abrir, férreos portões...


21747


Achando-me ao vazio, reduzido,
Somenos importante foi a vida.
O meu destino sendo ora cumprido,
Apenas uma ausência construída

Na latejante dor de um torpe olvido,
Talvez esta mortalha, merecida,
É tudo o que resta; estou vencido,
A morte na tocaia, uma saída...

Quisera ter ao menos lenitivos,
Olhares infantis, sonhos altivos
Numa álgida ilusão, torpe cenário,

E o vento derrubando a velha casa,
O tempo em contratempo se defasa,
O pouco que inda sobra é temerário...


21748


Sementes do que fomos, morrerão
Por falta de cultivo e de carinho,
Apenas no lugar, a escuridão,
Eterna embriaguez, amargo vinho,

Aonde imaginara cais e pão,
Percorro o meu destino em vão, sozinho,
E cada vez distante da emoção,
Da morte em plena vida me avizinho.

Percorro as noites frias, vagamente,
Rondando os teus umbrais, mas não percebes,
Guardando nos recônditos da mente

O quadro que pintara em tempos bons,
Ao ver frente aos meus olhos, secas sebes,
A tarde se escurece em grises tons...


21749


Em diferentes pontos, portos, mares,
Alguma chance ao menos, poderia
Se a sorte jamais fosse fugidia,
Perpetuando a dor, nestes vagares.

Horrendas garatujas, sujos bares,
A noite em ronda amarga, tensa e fria,
Perdido não encontro a poesia
Que um dia coloquei em meus altares.

Só restando a sarjeta, a embriaguez,
Mantendo ainda acesa a lucidez,
Num tumular desejo, o meu jazigo;

Quimeras que cultivo em ânsias vagas,
Visito em pensamento glebas, plagas,
E apenas tenho a morte como abrigo...


21750


Procuro ter nas mãos a solução
Que possa permitir ao meu futuro,
Além da escuridão, um ar mais puro,
Embora saiba sempre solidão,

Vasculho pelos ermos, cada chão,
E encontro tão somente um solo duro,
E mesmo quando a sorte, enfim apuro,
O vento me traduz em negação.

O campo que desejo; não mais tendo,
Contento-me talvez com meu fadário,
O quanto procurara solidário,

Não vendo mais saída, então desvendo,
Funérea madrugada, meu descanso,
Que aos poucos, sem remédio, vou e alcanço...


21751


Amante da ilusão, pai da ventura
Que tantas vezes muda a direção,
O tempo em tempestade não perdura,
Apenas uma chuva de verão...

A mão que se aproxima com ternura,
Os olhos se perdendo na amplidão,
O medo se afastando sem tortura,
E a sombra do passado, rente ao chão.

Ouvir a voz macia do futuro,
Negando a dura treva que inda assisto,
Por isso e tão somente é que eu existo,

E enfrento um solo agreste, seco e duro.
Na crença de uma luz que inda virá,
O amor que tão somente brilhará...



21752


A vida, quem me dera fosse assim,
Interminável gozo, em festa feita,
Porém quando a ventura está desfeita,
Encerra-se a emoção dentro de mim,

Bebendo da esperança de onde vim,
Minha alma com prazeres se deleita,
Mas quando a solidão comigo deita,
O tempo em viração; fica ruim...

E antigas tempestades ressurgindo
No céu que outrora fora claro e lindo,
Espalham-se mil nuvens e a neblina

Tomando já de assalto o azul celeste,
Não tendo uma alegria que me reste,
O medo pouco a pouco me domina...



21753

O amor que dure pouco ou mesmo nada
Ainda é bem melhor que o desencanto,
Por isso é que desejo tanto, tanto,
A cada novo dia, uma alvorada.

É longa e acidentada a velha estrada,
Perigos; oferece em cada canto,
Porém quando em amor, já não me espanto,
Minha alma sem temor, revigorada...

Alcanço os mais distantes paraísos,
E mesmo que acumule prejuízos,
A vida vale a pena por si só.

Não deixo que este mal vença o desejo,
Um tempo bem melhor quero e prevejo,
Deixando à solidão, o frio e o pó...


21754

Adentra suavemente um novo mês,
Aonde desfazer velhos enganos,
Os dias se passaram, correm anos,
Distante da verdade que não vês,

E mesmo que em loucuras inda crês
Perceba quantas vezes os ciganos
Mentindo com seus ares soberanos,
Não sabem decifrar o que não lês.

Aparto dos meus olhos, o passado,
E volvo meu cantar para o amanhã,
É frágil sempre a linha e nesse afã,

O céu já não se mostra constelado,
Augúrios e falácias, farsas e ânsias...
Procuro algum descanso em vãs estâncias...


21755


Adentra neste Abril, força outonal,
Mudando a direção de ventos, sonhos,
Outrora; num verão, bem mais risonhos,
Agora com aspecto sensual

Expressa do desejo, o ritual,
Embora muitas vezes mais tristonhos,
Os dias não serão frios, medonhos,
Tampouco uma explosão, tão triunfal.

A vida em estações se dividindo,
O inverno se aproxima e me traindo,
O outono se desfez em tempestades...

Percebo quão inútil foi sonhar,
Ainda bebo o raio do luar,
Porém; opalescentes, claridades...


21756


Alegras com teus risos a cidade
E mostras entre as trevas, teus clarões,
Envolto nos teus braços, seduções
Traduzem o que for felicidade,

Espalha-se por toda humanidade
E vaga nas incríveis explosões,
Fomentando delírios, turbilhões,
Total e mais completa insanidade...

A pele acetinada qual pelúcia,
Sorriso traduzindo farta argúcia
Angústias olvidadas noutros cantos,

E eu, sendo um simplório trovador,
Envolto pelas ânsias deste amor,
Já me submeto, enfim, aos teus encantos...

21757



O céu já se aproxima e bebe a luz
Que emanas de teu corpo, iridescências,
Encontros não são meras coincidências,
Ciência da beleza; reproduz

O céu em seus fulgores; bebe os nus
Caminhos que permites com dolências
Tocada por diversas incidências,
A maga que conquista o céu; seduz.

E embasbacado e quieto, nada falo,
Somente te desejo loucamente,
Por mais que um novo tempo alma pressente

Do amor eternamente, seu vassalo,
Tivesse em minhas mãos, este cinzel
Que ao te esculpir inveja causa ao céu...


21758


Aproximam-se da Terra, estas estrelas
Sequiosas nesta busca interminável,
E quando num segundo passo a vê-las,
O tempo se tornando mais amável,

Percebo que em teus olhos, ao contê-las
O brilho de um frescor quase incontável
Espalha sobre nós; e ao revivê-las,
O templo feito em ti, inalcançável...

Assédios destes astros? Mal percebes
Viajas por planetas, reinos, sebes
E reinas sobre todos; impassível.

E tendo em minhas mãos tal raridade
Numa expressão de intensa claridade,
Eu bebo deste sonho em paz, incrível...


21759


Os astros alumbrando a noite escura
Aonde trafegavas no passado,
A fantasia toma e continua
Reinando neste mundo que, encantado,

Explode em multicor, rara ternura,
O céu em mil fulgores dominado,
Tocado pelos raios da candura,
O velho coração apaixonado,

Ao ver que a poesia já se espalha
Dominando este palco, bela atriz,
Pensando novamente em ser feliz,

Afasta de seus olhos a navalha,
Entorpecido em mágico esplendor,
Entrega-se aos caprichos deste amor...


21760


Os astros alumbrando a noite escura
Aonde trafegavas no passado,
A fantasia toma e continua
Reinando neste mundo que, encantado,

Explode em multicor, rara ternura,
O céu em mil fulgores dominado,
Tocado pelos raios da candura,
O velho coração apaixonado,

Ao ver que a poesia já se espalha
Dominando este palco, bela atriz,
Pensando novamente em ser feliz,

Afasta de seus olhos a navalha,
Entorpecido em mágico esplendor,
Entrega-se aos caprichos deste amor...



21761


Pudores esquecidos, nuas peles,
Tenazes os desejos mais profanos,
Delírios encantados, sobre-humanos
Ao fogo dos prazeres me compeles,

E quando em carrosséis anseio atreles,
Navegas por longínquos oceanos,
Matando estas quimeras, desenganos,
Destinos que em delírios ora seles,

Acendes a fornalha e o fogaréu
Entorna mil luzeiros pelo céu,
Estrelas radiantes e invejosas,

Ao ver a deusa entregue e sem pudores,
Mudando de matizes, roubam cores,
E teimam em brotar, jardins e rosas...


21762


Deitada sobre plumas, diva insana
Esgota-me deveras, esfaimada,
Do quanto que quisera, sobra o nada,
A santa se entornando, mais profana,

A sorte na verdade não se engana,
Após a bela noite, uma alvorada
Em solar maravilha, iluminada,
Dourando a terra inteira, já se ufana,

Dosséis se transformando em tais altares,
Vislumbro esta fartura em tais belezas,
Vencendo as mais terríveis correntezas,

Onipresença invade mil lugares
E deles retirando fartos méis,
IAdentram pensamentos, meus corcéis...


21763


Deitando sobre sedas, cedes nua,
Sedenta; já concedes mil prazeres,
A sede dos amores e quereres
Uma alma transparente, que é a tua,

E quando em tal cenário a deusa atua
Vislumbro na parede belos seres,
Além do que desejas mais obteres
A vida em maravilhas; continua...

Erguendo um raro brinde à nossa sorte
Champanhas, espumando nos cristais,
Vontade de querer, e muito mais,

Na fonte inesgotável farto aporte
Do gozo que incendeia nossas vidas,
Em tramas fabulosas, concebidas...


21764


Derramas sobre mim, teu mel sublime,
Bebendo cada gota do rocio
No qual se transformou teu louco cio,
Minha alma sem pudor, tanto te estime,

Ausência se transforma quase em crime,
Porém o teu prazer, meu desafio,
E quanto mais em sonhos; eu desfio,
Fecundas emoções meu peito imprime,

Acordas violinos, querubins,
Alvíssaras tomando estes jardins,
Das cordas que nos atam, força plena...

Anseios que tivera e não terei,
O amor normatizado em clara lei,
Decerto amanhecer tão belo acena...


21765


Tão tímida presença feminina
Que toma já de assalto o meu olhar,
Aos poucos tal imagem me domina,
Aprendo num segundo o bem de amar,

Ao longe sob os raios do luar
Deitando sua prata na campina,
Vontade de partir e de ficar,
Reflexo divino que fascina

Dormências e dolências, luzes fartas,
Dos olhos, num momento vão, te apartas
E deixas como rastro, um raro brilho

Persigo cada passo, enamorado,
E sinto o meu destino transformado,
Perpetuando a estrada aonde eu trilho...



21766


Aurora vem raiando, maviosa,
Trazendo farto brilho, iridescente
Na frágil criatura, a bela rosa
Expressando a ternura que, envolvente

Tomando o coração, esplendorosa,
Seduz a quem a vê, pois toda gente
Sabendo da beleza caprichosa
Expressa em raridade; mais ardente...

Escrevo cada verso em ti pensando,
As aves migratórias, ledo bando
Se afastam dos meus olhos, vão distantes,

Restando tão somente a tua imagem
Dourando na manhã, esta paisagem,
Delírios de dois corpos, dois amantes...



21767


Não posso me negar a ver teu rosto
Exposto aos doloridos preconceitos,
Amores em amores quando feitos,
Preciso paladar, incrível gosto.

O mundo então querida, sendo posto
Em pratos mais limpos e perfeitos,
Deveras os teus sonhos são aceitos,
O amor jamais será feliz, se imposto.

Acórdãos entre corpos que buscam,
Enquanto as falsas luzes inda ofuscam
O caminho supremo feito em brilho

Aonde poderia ter a glória
De ver modificada a minha história,
Sem ter sequer fronteira ou empecilho...


21768


Invejo o timoneiro em liberdade,
Vagando pelos mares, sem fronteiras,
As horas que vivemos; corriqueiras,
Gerando esta fatal ansiedade,

O amor que se transborda em claridade,
Navega entre oceanos, e as bandeiras
Dos mastros, velas soltas, traiçoeiras,
Jamais respeitarão celas e grade.

Assim, pudesse ao menos naufragar
Nos braços de quem tanto quis amar,
E agora na distância se perdeu;

Fizesse ancoradouro em teu regaço,
E após chegar já morto de cansaço,
Fazer o mundo inteiro, todo teu...


21769

Das sortes, os presságios, as tormentas,
Os mares que enfrentei, loucas paixões,
O barco segue em novas direções,
E os velhos preconceitos violentas,

Palavras proferidas, vão atentas
Buscando a cada porto, seduções,
No cais adormecidas nos porões,
As dores se transformam, morrem lentas.

Acode-me o delírio feito em versos,
Unindo corpos nus, antes dispersos,
Num gozo que ultrapassa tais fronteiras,

E o rito se repete, noite e dia,
Por mais que a solidão dite a sangria,
Entre os lençóis de seda, nua, esgueiras...


21770


Através deste corpo enlanguescente
Da musa que, desnuda me conquista,
A noite que se faz tão friamente,
Depois desta presença, tendo em vista

Beleza que transborda; faz-se ardente,
E quando o mar ao longe, o gozo avista,
Penetro nestes lagos; de repente
O quanto foi cruel, a sorte assista

E volte a ser imenso fogaréu
Que ao abrasar a vida, entorna o senso,
E o fardo que levara, outrora, imenso,

Tornado mais suave, verte mel
Da boca desta deusa em que poreja
O amor que a cada instante se deseja.



21771


Um louco se traveste de poeta
E teima em beber luzes, feras, fontes,
O quanto do vazio se completa
Olhando pra longínquos horizontes,

A porta sempre aberta, a predileta,
Destrói com a verdade antigas pontes,
E tendo a poesia como meta,
Alçando mesmo em solo, vários montes...

Assim caminho sendo este lunático,
Jamais serei discreto ou mesmo prático,
Apenas tão somente um sonhador.

Que vaga aonde estrelas não resistem,
Cotidianas dores inda insistem,
Mas vivo noutra fase: espinho e flor...


21772


O ser humano, fera incontrolável,
Um verme irracional, tudo destrói,
E quando a realidade adentra e dói,
Demonstra-se bem mais insuportável,

A besta a se mostrar quase indomável,
Aos poucos, seu planeta ela corrói,
Inseto tresloucado, tudo mói,
Até tornar seu mundo inabitável...

Assim a nossa tosca humanidade,
Dizendo ser imagem/semelhança
Matando o que restar de uma esperança

Não tendo nem amor, nem dignidade,
Vestida de cordeiro, esta matilha,
Prepara pra si própria, uma armadilha...



21773


Nem sei para onde vou só sei que sigo
O rastro desta estrela que me guia
Em torno deste céu, buscando o abrigo
Que apenas encontrei na poesia;

Se sei no meu caminho de um amigo,
Uma alma transparente propicia
Um tempo sem rancor, onde o perigo
Aos poucos, sem remorsos já morria.

E o vento me tramando um sonho bom,
Marcante melodia, raro dom,
A fantasia doura minha mente.

Mas tudo segue em vão se não estás,
De que vale meu mundo sem a paz
De um sonho transbordante e iridescente...



21774


Eu não sei de onde venho; e sequer quero
Buscar explicações contraditórias,
Às vezes entendendo tais histórias
Antigas fantasias? Sou sincero

E teimo em poesia, pois venero
Além de simples farsas, falsas glórias,
Redutos onde encontro esta memórias
De um tempo onde o senhor era do Clero,

Aguardo mais notícias do futuro
E sei que não verei o que hoje escuto,
A vida se mostrando em claro luto,

O céu amanhecendo turvo, escuro,
Num átimo mergulho no passado,
E o vinho que hoje bebo, avinagrado...



21775

Por tanto que custou amor imenso,
Nascendo em voz macia, fim de caso.
O tempo não desfila além do prazo,
Acendo da esperança seu incenso,

Falando muito além do que ora penso,
O beijo satisfaz, porém o ocaso
Exposto a cada dia em que me atraso,
Tornando o céu mais claro; escuro e denso.

Ao menos poderia me dizer
Aonde se escondeu a nossa estrela,
Vivendo nossa vida por viver,

Pudesse enfim, saber por onde andara
E assim, talvez num átimo revê-la,
A jóia preferida, imensa e rara...


21776


Não quero mais sequer o que sobrou
Dos dias, nossos meses, anos, vidas,
As asas sem função caem partidas
Juntando o que inda resta, nada sou.

E o quanto no vazio mergulhou
Um coração cansado; as despedidas
São feitas entre estradas e avenidas,
O medo, sem defesas, nos tomou...

E agora o que fazer senão sonhar,
Ausente desta noite, o meu luar
Derrama-se em neblina, em treva e breu.

O quanto iluminaste meu passado,
Agora, sem caminhos, malfadado,
Futuro que sonhara, já morreu...


21777


Do que jamais espero, nada vem
Senão os meus fantasmas, e os dirijo,
Enquanto outros destinos; não exijo,
O pouco que me resta não contém

Sequer uma presença abençoada
De quem amei demais e não me quis,
Um dia, no futuro, ser feliz,
Talvez não represente ainda nada...

O quanto sou apenas uma imagem
Jogada em qualquer canto desta sala,
Uma alma transparente não se cala,
Ainda busca em paz uma hospedagem,

Aonde descansar pós a batalha,
Que a vida a cada instante trama e espalha...


21778


Eu quero no teu colo este repouso
Que possa permitira a caminhada,
Depois de termos tanto ou quase nada,
Apenas no teu colo, um manso pouso,

E sendo sempre assim, fonte de luz
A calmaria; eu bebo em tua pele,
O amor que nos atrai e nos repele,
Fornalha quando imensa é fado e cruz,

Alvissareiro encanto que me toca,
Embora muitas vezes maltratando,
O peso nos meus ombros desabando,
Paragem necessária em cada roca

Após qualquer procela, esta bonança
Que a lúdica paixão, buscando, alcança...


21779

Aquilo que eu mais ouso; um passo audaz
Que possa me trazer luz e calor,
Aonde se escondera o nosso amor,
Apenas a saudade diz e traz,

Ainda busco um canto feito em paz,
Aonde houvesse o sol transformador,
E pelo menos sonho em que o louvor
Mostrasse este poder, fosse capaz

De mudar o destino de quem tenta,
Vencer esta procela violenta
Ao menos com sorriso e com carinho,

Mas nada conseguindo, sigo só,
Deixando como herança medo e dó,
Jardim que cultivei pleno de espinho...


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Um gato morto sobe a velha escada
Aonde se fizesse solidão
Talvez procure alguma imagem, vão
O passo do felino dando em nada,

À beira deste abismo, que degrada
A farsa se desnuda; invade o chão,
E o gato ainda pede explicação,
Da sorte que desnuda; malfadada;

Houvesse algum momento ainda que
Pudesse na verdade, mas não crê
E sabe muito bem que um gato morto

Jamais teria às mãos a luz vadia.
Quem sabe noutra senda viveria,
Mudando a direção, porém absorto...

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