sábado, 16 de outubro de 2010

23501


Não quero mais falar da dura morte
Bem sei; a companheira derradeira
De todas as agruras, a parceira
À qual qualquer momento diz aporte.
Não quero uma esperança que se aborte
Tampouco a dor, etérea mensageira
Do fim que se aproxima, e corriqueira
Traçando muitas vezes nosso Norte.
Não quero ter nos olhos o pavor
Daquele que se entrega ao desamor,
E traz sempre a discórdia; e amarga a vida.
Só quero a luz que possa me alertar,
Mas mostre sob os raios do luar
O Amor, mantendo a dor entorpecida...

2



Não sei se vale tanto a noite escura
Que possa me impedir de ver que o sol,
Ainda se escondendo no arrebol
Trará no amanhecer paz e ternura.

Por mais que uma alma entranhe esta amargura
A Sorte sem reveses, um farol,
Tramando maravilhas que de escol
É tudo o que se quer e se procura.

No Amor encontro a paz e as oferendas
Por mais que noutras sendas já desvendas
Momentos tão mordazes e infelizes,

Verás que quando entregue à sedução
Do imensurável deus, a embarcação
Superará com calma estes deslizes...


3



Viver esta tristeza é necessário
O dia se fará depois das trevas,
E quando o amanhecer em sonhos cevas,
Decerto; tu verás outro cenário.

A Sorte se moldando no Fadário
Por mais que as dores sejam tão longevas
E dentro de tua alma, em frio nevas,
Enfrentarás; no Amor, tal adversário.

Jamais se esconda e creia ser possível
Uma alegria enorme, pois cabível
Mesmo que a porta seja tão estreita.

Quem teima e tem a glória de saber,
Somente num Amor pleno poder,
Tem a alma apascentada quando deita...



4


Por campos mais alegres, mansos prados
Desfila-se esta sílfide divina
E o andar da bela Diva me fascina
Matando os dias frios, degradados,

Fazendo ao meu olhar doces agrados
Imagem que se molda diamantina,
Expressa num momento o que alucina
Um velho trovador entregue aos Fados.

Quisera ter nas mãos rara beleza
Entregue aos teus encantos, Natureza
Moldando uma escultura em que o cinzel

Nas mãos de um grande artista se fez mago,
Enquanto a divindade em sonho afago,
Vislumbro nos seus olhos, Deus e Céu...


5


Nas águas em que banhas, de cristal
A fonte inestimável de um desejo,
Ao vê-la num instante já prevejo
O dia em que seja triunfal
O Amor cedo nos guia, e sem igual
Maior do que somente algum lampejo,
Na tenra sensação de um manso ensejo
Fazendo do prazer um ritual
Espalha-se deveras pelos campos,
Estrelas são apenas pirilampos
Reluzem sob o impacto deste encanto.
Falena que procura a clara luz,
O Amor em suas teias me seduz
Por ele e só por ele, agora eu canto...


6


Expressa-se a Natura, em teus caminhos
Moldando com denodo cada rota,
E o Amor quando se entrega a paz se nota
Jamais caminharemos mais sozinhos.

Dos sonhos e das glórias, mansos ninhos,
Amor além da vida, não tem cota,
Tampouco com o tempo se desbota,
Não vejo em seu jardim; seres daninhos.

O quanto amor se mostra em plenitude,
Permite que este caminho enfim se mude
E o riso se tornando um ritual,

Aguarda tão somente outros momentos
Aonde apascentando estes lamentos,
Supere com ternura todo o mal...



7



Qual fora, da palavra um operário
Usando destes versos, forma e cor,
Falando muitas vezes de um Amor,
Que sei quanto é deveras necessário.

Por vezes noutro canto temerário
Procuro demonstrar que o sonhador
Não foge nem desdenha a própria dor,
Abrindo dos sentidos, seu armário.

Não quero ser apenas relembrado
Como se fosse um tolo e de bom grado
Espero que me aceites, mas se não

Jamais irei mudar sequer um til
Somente para ser manso e gentil,
Pois neles ponho inteiro o coração...


8


O mar ao se entregar aos vãos penedos
Encontra a resistência e não prossegue,
Assim a nossa vida não consegue
Vencer os desafios e os segredos,
Na força imensurável dos rochedos,
A sorte desairosa já nos segue
Sem ter sequer a paz que mansa regue
As flores condenadas aos degredos.
Não pude conservar este canteiro
Aonde Amor se fez mais verdadeiro
Não tive nos teus braços, este alento,
Por isso é que deveras sigo triste,
O amor que tanto quis já não resiste
Trazendo invés de paz, dor, sofrimento...


9

A tarde se desfaz nesta saudade
Que tanto me maltrata e me redime,
Na sensação dileta gozo e crime,
Procuro ter enfim, tranqüilidade.
Pergunto aonde encontro, mas quem há de
Dizer além do quanto amor estime
Prazer que na verdade não suprime
Mostrando noutra cor, a realidade.
Vencido pelos medos e temores,
Aonde imaginara belas cores,
Apenas grises tardes, nada mais.
O tempo se mostrando um inimigo
Embora solitário, enfim, prossigo
Saveiro que à deriva, busca um cais...


23510


Ao te ver partir, sonhos fugiram
Levados pelas mãos de quem eu amo.
E quando em noite fria; amor reclamo,
Sem ter as emoções que inda interfiram
Por mais que outros caminhos se prefiram,
Não tendo solução; somente um ramo
Deste arvoredo imenso, cedo e chamo
E as horas solitárias, rodam, giram...
Mergulho no passado e te resgato,
O quanto foi difícil cada fato
Depois de ter nas mãos felicidade.
Morrendo na distância sigo vão
Escravo dos anseios da paixão,
Queria ter nas mãos a chave e a grade...


11

Minha alma transparente e apaixonada
Seguindo sem destino, bebe o pó
Ainda que tu tenhas pena e dó
Do todo que pensara, resta o nada.
Vencido pelas dores, madrugada
Retrata esta amargura de quem só
Buscara em sua vida, a pedra e a mó,
Mas sente esta ilusão dilacerada.
Voltando os meus olhares para a sala
Ausência deste alguém ora me cala
Não pude ser deveras mais feliz.
Enquanto a fantasia trouxe o riso,
Vivendo tão somente um Paraíso,
A dura realidade isso desdiz...

12



Pudesse de uma flor saber perfumes
E crer no amor que um dia me falaste
A vida sem ninguém leva ao desgaste
É noite eternamente sem seus lumes,

Não quero que deveras me acostumes
A crer numa existência do contraste
Do amor em plena dor, preferindo a haste
À fria insensatez que logo esfumes.

Se há tanto cultivara num canteiro
Verbenas entre rosas e jasmins,
O amor como um divino mensageiro

Mudara o meu destino se pudesse
Saber que os meios negam sempre os fins
No Amor a santidade feita em prece...


13



Qual fora do jardim alma e desejo,
Ao florescer os sonhos; vivo Amor
Trouxesse tão somente um beija flor
Imagem deste encanto em que me vejo.
Porém o coração, cruel andejo
Deveras um eterno sonhador,
Buscando a maravilha em cada cor
Traduz a imensa luta em que pelejo.
Vestindo uma esperança tão fugaz,
Aonde poderia crer na paz
A solidão se expõe inteira e nua.
Minha alma cadencia cada passo,
E quando outro caminho em vão eu traço,
A história se repete ou continua.


14


Por ti palpita etéreo coração
Corsário da ilusão, vago entre os mares,
Aonde tu prossegues; meus altares,
Encontram toda a minha devoção.
O Amor sendo cruel embarcação
Enquanto com carinho provocares
E contra as ondas todas tu remares
Jamais em paz terei a atracação.
Quem dera Capitão, mas timoneiro
Enfrenta com vigor tal nevoeiro
E sabe aonde aporte o seu navio.
Assim também no encanto que me trazes
Vivendo a poesia em firmes bases
As ondas e os fantasmas desafio...

15



Uma alma nívea e pura se desnuda
E mostra o quanto a vida se faz bela,
Desenha com ternura a rara tela,
Porém a sorte amarga cedo muda,
E quando vejo a dor, procuro a ajuda
Que em tuas mãos macias se revela,
A vida que seria toda dela
Aos poucos noutro rumo se transmuda.
Esfuma-se dos olhos a presença
De quem o coração ainda pensa,
Mas sabe ser distante, um mero sonho.
E quando me aproximo; amor, de ti,
Percebo que deveras conheci
A perfeição à qual eu me proponho...


16

Perfume que encontrando; estonteante,
Nas sendas em que passas, deusa e diva.
Minha alma se mostrando ainda viva
Buscando este caminho deslumbrante
Permita-me querida que eu me encante
E molde em versos frágeis esta altiva
Imagem que de luzes fartas criva
O coração tão tolo de um amante.
No diamante exposto em teu olhar,
Viver tal fantasia sem pensar
Sequer se existirá um amanhã.
Assim permanecendo extasiado,
A poesia encontro do teu lado,
E faço da esperança o meu afã.


17


Quando o tempo chegar e neste espelho
Tu vires tantas rugas; lembrarás
Do amor que desprezaste anos atrás,
Por isso meu Amor, eu te aconselho

A crer que na existência somos frágeis
E a vida não traduz eternidade,
Escute no meu verso esta verdade
Por mais que te pareçam bem mais ágeis

Os dedos no futuro serão lentos
Os olhos embaçados, e o sorriso
Que outrora se mostrara mais preciso
Agora sem os dentes, busca alentos.

Não queres meu amor? Termina o embate.
Só peço, por favor, não me maltrate...


18

Relembre da paixão que um dia fora
A dona dos meus olhos e segredos,
Aonde desenvolvo meus enredos
E a sorte se mostrando sonhadora,
Enquanto a solidão dita os degredos
Uma alma dentre tantas sofredora,
Buscando alguma imagem redentora,
Percebe que se escapa entre seus dedos
A Sorte num momento mais atroz,
Calando da esperança qualquer voz,
Na foz desta emoção, um mar sombrio.
Aonde se mostrara uma alegria,
Agora tão somente se irradia
No olhar enamorado; um desafio...


19

Por mais que em águas turva a alma nade
Buscando a placidez que não se vê,
A sorte em que deveras amor não crê
Determinando sempre esta saudade.

E enquanto se desmancha a realidade
Procuro os teus sinais, porém cadê?
No livro da esperança ninguém lê
E sabe decifrar toda a verdade.

Outrora um sonhador. Hoje um farsante,
Enquanto me dizias deste instante
Pensava tão somente em meu prazer.

Agora que se finda a nossa história,
Resgato novamente da memória
O mundo que esperava em ti viver...

23520


O amor nos aquecendo em brandas luzes
Deixando para trás medos e dores,
Colhendo nos teus olhos raras cores
Matando ervas daninhas, tantas urzes,
Vencendo os dissabores, já conduzes
Meus passos sempre etéreos, sonhadores
Por entre este canteiro, belas flores,
Que sei com tanto afeto tu produzes.
Mesclando esta alegria com a crença
Do amor que a cada dia nos convença
Ser ele tão somente a solução.
Vivenciando a glória de poder
Dizer que em ti somente o meu prazer,
Envolto nestas teias da paixão...


21



Olhando mansamente o teu olhar
Percebo quanto a vida se faz boa
E quando navegando a voz se entoa
No mar de teus prazeres; mergulhar,
Bebendo cada raio do luar,
Dos risos e dos gozos a canoa
Que vence as correntezas, logo aproa
No cais que imaginei sempre encontrar.
Vestindo esta emoção ser teu parceiro,
Vivenciando o gozo verdadeiro
De tantas ilusões, glorificado,
Agora não pergunto mais por que
Eu sei do amor imenso em que se vê
O mundo em pirilampos, estrelado...


22


Não sei se vale tanto a noite escura
Que possa me impedir de ver que o sol,
Ainda se escondendo no arrebol
Trará no amanhecer paz e ternura.

Por mais que uma alma entranhe esta amargura
A Sorte sem reveses, um farol,
Tramando maravilhas que de escol
É tudo o que se quer e se procura.

No Amor encontro a paz e as oferendas
Por mais que noutras sendas já desvendas
Momentos tão mordazes e infelizes,

Verás que quando entregue à sedução
Do imensurável deus, a embarcação
Superará com calma estes deslizes...

23



Viver esta tristeza é necessário
O dia se fará depois das trevas,
E quando o amanhecer em sonhos cevas,
Decerto; tu verás outro cenário.

A Sorte se moldando no Fadário
Por mais que as dores sejam tão longevas
E dentro de tua alma, em frio nevas,
Enfrentarás; no Amor, tal adversário.

Jamais se esconda e creia ser possível
Uma alegria enorme, pois cabível
Mesmo que a porta seja tão estreita.

Quem teima e tem a glória de saber,
Somente num Amor pleno poder,
Tem a alma apascentada quando deita...


24

Por campos mais alegres, mansos prados
Desfila-se esta sílfide divina
E o andar da bela Diva me fascina
Matando os dias frios, degradados,

Fazendo ao meu olhar doces agrados
Imagem que se molda diamantina,
Expressa num momento o que alucina
Um velho trovador entregue aos Fados.

Quisera ter nas mãos rara beleza
Entregue aos teus encantos, Natureza
Moldando uma escultura em que o cinzel

Nas mãos de um grande artista se fez mago,
Enquanto a divindade em sonho afago,
Vislumbro nos seus olhos, Deus e Céu...


25


Nas águas em que banhas, de cristal
A fonte inestimável de um desejo,
Ao vê-la num instante já prevejo
O dia em que seja triunfal
O Amor cedo nos guia, e sem igual
Maior do que somente algum lampejo,
Na tenra sensação de um manso ensejo
Fazendo do prazer um ritual
Espalha-se deveras pelos campos,
Estrelas são apenas pirilampos
Reluzem sob o impacto deste encanto.
Falena que procura a clara luz,
O Amor em suas teias me seduz
Por ele e só por ele, agora eu canto...



26


Expressa-se a Natura, em teus caminhos
Moldando com denodo cada rota,
E o Amor quando se entrega a paz se nota
Jamais caminharemos mais sozinhos.

Dos sonhos e das glórias, mansos ninhos,
Amor além da vida, não tem cota,
Tampouco com o tempo se desbota,
Não vejo em seu jardim; seres daninhos.

O quanto amor se mostra em plenitude,
Permite que este caminho enfim se mude
E o riso se tornando um ritual,

Aguarda tão somente outros momentos
Aonde apascentando estes lamentos,
Supere com ternura todo o mal...


27



Qual fora, da palavra um operário
Usando destes versos, forma e cor,
Falando muitas vezes de um Amor,
Que sei quanto é deveras necessário.

Por vezes noutro canto temerário
Procuro demonstrar que o sonhador
Não foge nem desdenha a própria dor,
Abrindo dos sentidos, seu armário.

Não quero ser apenas relembrado
Como se fosse um tolo e de bom grado
Espero que me aceites, mas se não

Jamais irei mudar sequer um til
Somente para ser manso e gentil,
Pois neles ponho inteiro o coração...

28

O mar ao se entregar aos vãos penedos
Encontra a resistência e não prossegue,
Assim a nossa vida não consegue
Vencer os desafios e os segredos,
Na força imensurável dos rochedos,
A sorte desairosa já nos segue
Sem ter sequer a paz que mansa regue
As flores condenadas aos degredos.
Não pude conservar este canteiro
Aonde Amor se fez mais verdadeiro
Não tive nos teus braços, este alento,
Por isso é que deveras sigo triste,
O amor que tanto quis já não resiste
Trazendo invés de paz, dor, sofrimento...

29


A tarde se desfaz nesta saudade
Que tanto me maltrata e me redime,
Na sensação dileta gozo e crime,
Procuro ter enfim, tranqüilidade.
Pergunto aonde encontro, mas quem há de
Dizer além do quanto amor estime
Prazer que na verdade não suprime
Mostrando noutra cor, a realidade.
Vencido pelos medos e temores,
Aonde imaginara belas cores,
Apenas grises tardes, nada mais.
O tempo se mostrando um inimigo
Embora solitário, enfim, prossigo
Saveiro que à deriva, busca um cais...


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Ao te ver partir, sonhos fugiram
Levados pelas mãos de quem eu amo.
E quando em noite fria; amor reclamo,
Sem ter as emoções que inda interfiram
Por mais que outros caminhos se prefiram,
Não tendo solução; somente um ramo
Deste arvoredo imenso, cedo e chamo
E as horas solitárias, rodam, giram...
Mergulho no passado e te resgato,
O quanto foi difícil cada fato
Depois de ter nas mãos felicidade.
Morrendo na distância sigo vão
Escravo dos anseios da paixão,
Queria ter nas mãos a chave e a grade...



31


Minha alma transparente e apaixonada
Seguindo sem destino, bebe o pó
Ainda que tu tenhas pena e dó
Do todo que pensara, resta o nada.
Vencido pelas dores, madrugada
Retrata esta amargura de quem só
Buscara em sua vida, a pedra e a mó,
Mas sente esta ilusão dilacerada.
Voltando os meus olhares para a sala
Ausência deste alguém ora me cala
Não pude ser deveras mais feliz.
Enquanto a fantasia trouxe o riso,
Vivendo tão somente um Paraíso,
A dura realidade isso desdiz...


32


Pudesse de uma flor saber perfumes
E crer no amor que um dia me falaste
A vida sem ninguém leva ao desgaste
É noite eternamente sem seus lumes,

Não quero que deveras me acostumes
A crer numa existência do contraste
Do amor em plena dor, preferindo a haste
À fria insensatez que logo esfumes.

Se há tanto cultivara num canteiro
Verbenas entre rosas e jasmins,
O amor como um divino mensageiro

Mudara o meu destino se pudesse
Saber que os meios negam sempre os fins
No Amor a santidade feita em prece...


33


Qual fora do jardim alma e desejo,
Ao florescer os sonhos; vivo Amor
Trouxesse tão somente um beija flor
Imagem deste encanto em que me vejo.
Porém o coração, cruel andejo
Deveras um eterno sonhador,
Buscando a maravilha em cada cor
Traduz a imensa luta em que pelejo.
Vestindo uma esperança tão fugaz,
Aonde poderia crer na paz
A solidão se expõe inteira e nua.
Minha alma cadencia cada passo,
E quando outro caminho em vão eu traço,
A história se repete ou continua.


34


Por ti palpita etéreo coração
Corsário da ilusão, vago entre os mares,
Aonde tu prossegues; meus altares,
Encontram toda a minha devoção.
O Amor sendo cruel embarcação
Enquanto com carinho provocares
E contra as ondas todas tu remares
Jamais em paz terei a atracação.
Quem dera Capitão, mas timoneiro
Enfrenta com vigor tal nevoeiro
E sabe aonde aporte o seu navio.
Assim também no encanto que me trazes
Vivendo a poesia em firmes bases
As ondas e os fantasmas desafio...


35



Uma alma nívea e pura se desnuda
E mostra o quanto a vida se faz bela,
Desenha com ternura a rara tela,
Porém a sorte amarga cedo muda,
E quando vejo a dor, procuro a ajuda
Que em tuas mãos macias se revela,
A vida que seria toda dela
Aos poucos noutro rumo se transmuda.
Esfuma-se dos olhos a presença
De quem o coração ainda pensa,
Mas sabe ser distante, um mero sonho.
E quando me aproximo; amor, de ti,
Percebo que deveras conheci
A perfeição à qual eu me proponho...


36

Perfume que encontrando; estonteante,
Nas sendas em que passas, deusa e diva.
Minha alma se mostrando ainda viva
Buscando este caminho deslumbrante
Permita-me querida que eu me encante
E molde em versos frágeis esta altiva
Imagem que de luzes fartas criva
O coração tão tolo de um amante.
No diamante exposto em teu olhar,
Viver tal fantasia sem pensar
Sequer se existirá um amanhã.
Assim permanecendo extasiado,
A poesia encontro do teu lado,
E faço da esperança o meu afã.


37



Quando o tempo chegar e neste espelho
Tu vires tantas rugas; lembrarás
Do amor que desprezaste anos atrás,
Por isso meu Amor, eu te aconselho

A crer que na existência somos frágeis
E a vida não traduz eternidade,
Escute no meu verso esta verdade
Por mais que te pareçam bem mais ágeis

Os dedos no futuro serão lentos
Os olhos embaçados, e o sorriso
Que outrora se mostrara mais preciso
Agora sem os dentes, busca alentos.

Não queres meu amor? Termina o embate.
Só peço, por favor, não me maltrate...


38


Relembre da paixão que um dia fora
A dona dos meus olhos e segredos,
Aonde desenvolvo meus enredos
E a sorte se mostrando sonhadora,
Enquanto a solidão dita os degredos
Uma alma dentre tantas sofredora,
Buscando alguma imagem redentora,
Percebe que se escapa entre seus dedos
A Sorte num momento mais atroz,
Calando da esperança qualquer voz,
Na foz desta emoção, um mar sombrio.
Aonde se mostrara uma alegria,
Agora tão somente se irradia
No olhar enamorado; um desafio...



39


Por mais que em águas turva a alma nade
Buscando a placidez que não se vê,
A sorte em que deveras amor não crê
Determinando sempre esta saudade.

E enquanto se desmancha a realidade
Procuro os teus sinais, porém cadê?
No livro da esperança ninguém lê
E sabe decifrar toda a verdade.

Outrora um sonhador. Hoje um farsante,
Enquanto me dizias deste instante
Pensava tão somente em meu prazer.

Agora que se finda a nossa história,
Resgato novamente da memória
O mundo que esperava em ti viver...

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O amor nos aquecendo em brandas luzes
Deixando para trás medos e dores,
Colhendo nos teus olhos raras cores
Matando ervas daninhas, tantas urzes,
Vencendo os dissabores, já conduzes
Meus passos sempre etéreos, sonhadores
Por entre este canteiro, belas flores,
Que sei com tanto afeto tu produzes.
Mesclando esta alegria com a crença
Do amor que a cada dia nos convença
Ser ele tão somente a solução.
Vivenciando a glória de poder
Dizer que em ti somente o meu prazer,
Envolto nestas teias da paixão...


41



Olhando mansamente o teu olhar
Percebo quanto a vida se faz boa
E quando navegando a voz se entoa
No mar de teus prazeres; mergulhar,
Bebendo cada raio do luar,
Dos risos e dos gozos a canoa
Que vence as correntezas, logo aproa
No cais que imaginei sempre encontrar.
Vestindo esta emoção ser teu parceiro,
Vivenciando o gozo verdadeiro
De tantas ilusões, glorificado,
Agora não pergunto mais por que
Eu sei do amor imenso em que se vê
O mundo em pirilampos, estrelado...


42

Fugisse da tristeza que é fatal
Mudando logo o curso deste rio,
As horas solitárias desafio
E sinto da esperança o ritual
Mergulho neste mar e bebo o sal
Por vezes teias; teço ou já desfio
A fantasia acende o seu pavio,
E o fim se demonstrando sempre igual.
Vazio o coração de quem procura
Ao menos um momento de ternura
E não achando nada nem ninguém,
Durante a vida inteira, um sonhador,
Agora no final, o trovador
Somente uma ilusão inda contém...



43



Pudesse ainda ter no que sonhar
Em íntimos momentos, nada vindo,
Apenas o passado; inda deslindo
E nele não mais quero mergulhar.
Tivesse esta ventura, ter no mar
Um dia inesquecível; raro e lindo
Mas sinto esta tristeza me seguindo
E tento inutilmente disfarçar.
Usando da palavra, simples versos,
Enquanto no vazio vão imersos
Os sonhos de quem tanto quis e nada.
Encontro a solidão, fiel parceira,
E a dor imensa chaga corriqueira
Negando o amanhecer, uma alvorada...


44

Pensando no luar claro e bendito
Aonde poderia ter a sorte
De ter modificado o frio Norte
Um mundo inesperado, e mais aflito,

Enquanto no futuro eu acredito,
Propões a fina adaga que me corte,
Não tendo mais sequer algum suporte,
O canto se tornando um brado, um grito.

Alvissareiros dias que virão
Moldando com carinho esta emoção,
Somente uma ilusão de um sonhador,

Que tendo em suas mãos a dor e o riso,
Num passo tão audaz quanto impreciso,
Desbrava as duras sendas deste Amor...

45


Imerso na completa depressão
A morte é solução, mas inda teimo,
E enquanto neste inferno sei que queimo
O mundo se transforma em negação.

Imagem que me ronda vampiresca,
Sanguíneos os banquetes que tu queres,
E quando nos meus dias interferes
Perfilas as angústias mais dantescas.

Entregue aos teus domínios, vão demônio,
Eu bebo esta certeza que corrói,
A vida que outra vida em vão destrói
Transforma esta ilusão num pandemônio.

Sacrílega hematófaga me expõe
Espectro, a própria sombra a decompõe...

46


Desejo tanto insano que devora
Orgásticas loucuras me consomem,
E enquanto num momento vago somem,
A morte se aproxima sem demora.

Nesta fantasmagórica figura
Imagem refletida num espelho,
Nos ermos da neblina me aconselho,
Enquanto Satanás já me procura.

Sabendo desde sempre que eu insisto
Nos pórticos das sombras, meus altares,
Até que no final ao devorares
Meus restos, a alma sendo de Mefisto,

Demônios e bacantes, gargalhadas,
Adentram numa orgia, as madrugadas...

47


Satã em duras hostes se aproxima,
Nefasta criatura que profana,
Imagem dos infernos, soberana
Gargalha enquanto espalha farta estima.

Alvíssimas mulheres se entregando
Num festival de insânia e de prazeres,
Mostrando aos vãos mortais os seus poderes
O mundo em luzes foscas desabando.

Cadáver ressurreto de um canalha
Exangue criatura, um guardião
Na boca deste Demo, a podridão
Aos poucos entre tantos já se espalha,

Num átimo a penumbra toma a cena
Sombria madrugada se faz plena...


48

Entregue aos desvarios desta corja,
Bêbedo deste sangue em profusão,
Satânicas imagens, do porão
Um tempo em palidez e dor se forja.

Do cemitério faço o meu altar,
Dos mortos os caminhos que perfaço
Espectros entre túmulos abraço
Não quero e não suporto a luz solar,

Das sombras vou erguendo o meu castelo,
Das covas e masmorras, meus andores
Nefastas com certeza as vivas cores
Das sepulturas faço o meu rastelo

E morto, muito embora inda caminho;
Vagando pelas trevas, vou sozinho...


49

Encontro estes espectros, visionário
Volvendo às priscas eras onde a sorte
Trazia em seu olhar o medo e a morte,
Um mundo muitas vezes temerário

As sombras que me seguem hoje em dia
Fantasmas dos antigos ancestrais
Envoltos em penumbras, provocais
O sonho que dantesco ora se cria.

Entregue nas masmorras do passado
Abutres devorando o que inda resta,
À noite velhas bruxas, louca festa
Orgásticas figuras, céu nublado

Nos pântanos e charcos, decompostos
Os corpos entre os ossos sendo expostos...


23550

Meus olhos entre seres mais diversos
Imaginarias formas tão complexas
Nas sádicas imagens, desconexas,
Expressam-se em penumbras universos.

Sanguíneas existências, mortos-vivos,
Esperam pelo fim, penam-se as almas
Que embora vos pareçam sempre calmas,
Mantém os seus perfis, torpes e altivos.

Mergulho nesta infame confraria,
Aonde os hematófagos se encontram,
Orgias entre insano sacrifício,
- Remetem ao passado, ao Santo Ofício, -
E as trevas tais cadáveres adentram;

Espasmos entre risos, gargalhares,
A podridão se exala em tais altares..


51

Já não resisto à torpe sedução
De corpos seminus, loucas bacantes.
Mergulho nestes corpos delirantes
E entrego-me em tosca devoção.

Na fúria demoníaca de insanos
Orgásticos incestos, ironias,
A súcia se inundando qual temias
Num hormonal delírio, rotos panos,

Assim entre fantásticas figuras
Satã com seu açoite; ri-se e orquestra
O festival profano em luz canhestra
Bailando em fogo fátuo as criaturas.

Exangues os infectos carniceiros,
Entregues aos demônios rapineiros...


52


A turba de dementes me envolvendo
Expressam em delírios os seus gozos,
Os pântanos de uma alma, desairosos
Minha alma pouco a pouco apodrecendo.

Encontro os meus espectros entre tantos
E volto-me deveras aos fantasmas
Apenas evanescem-se em miasmas
Sarcásticos demônios, risos, cantos.

Especular imagem do que sou,
Na pútrida esperança, um mero riso,
Fazendo deste Inferno um Paraíso,
Somente o que deveras me restou.

E bebo cada gota deste sangue
No imenso lamaçal, horrendo mangue...


53

Nas visões de outras eras me entranhando,
Esgoto minhas forças e me entrego,
Aonde desejara paz, não nego,
Aos poucos vou também enveredando

Caminhos que me levam aos martírios
Esgotos entre solos charqueados
Revejo no final; antepassados,
Vibrando em loucos gozos e delírios.

Convulsionados corpos em desdém,
Sarcasmos e ironias, beijos podres,
Bebendo deste vinho em toscos odres
Apenas podridão inda convém

Cadáver insepulto em tal cenário,
Somente um louco ou mero visionário?

54


Vislumbro em névoas densas este mundo
Aonde poderia ter vivido
Medonho este caráter percebido
No qual entre cadáveres me afundo.

E beijo cada boca apodrecida
Nefastas companheiras; súcia imensa
A morte sendo a nossa recompensa,
Pois nela se começa a própria vida.

Eflúvios destes pântanos, metano,
Bruxuleante imagem, fátuo fogo,
Já não basta sequer um brado ou rogo,
Em Lúcifer se vê o soberano,

Disformes criaturas; louca dança
Aonde se sepulta uma esperança...



55 até 23584


Vislumbro em névoas densas este mundo
Aonde poderia ter vivido
Medonho este caráter percebido
No qual entre cadáveres me afundo.

E beijo cada boca apodrecida
Nefastas companheiras; súcia imensa
A morte sendo a nossa recompensa,
Pois nela se começa a própria vida.

Eflúvios destes pântanos, metano,
Bruxuleante imagem, fátuo fogo,
Já não basta sequer um brado ou rogo,
Em Lúcifer se vê o soberano,

Disformes criaturas; louca dança
Aonde se sepulta uma esperança...



Nas visões de outras eras me entranhando,
Esgoto minhas forças e me entrego,
Aonde desejara paz, não nego,
Aos poucos vou também enveredando

Caminhos que me levam aos martírios
Esgotos entre solos charqueados
Revejo no final; antepassados,
Vibrando em loucos gozos e delírios.

Convulsionados corpos em desdém,
Sarcasmos e ironias, beijos podres,
Bebendo deste vinho em toscos odres
Apenas podridão inda convém

Cadáver insepulto em tal cenário,
Somente um louco ou mero visionário?



A turba de dementes me envolvendo
Expressam em delírios os seus gozos,
Os pântanos de uma alma, desairosos
Minha alma pouco a pouco apodrecendo.

Encontro os meus espectros entre tantos
E volto-me deveras aos fantasmas
Apenas evanescem-se em miasmas
Sarcásticos demônios, risos, cantos.

Especular imagem do que sou,
Na pútrida esperança, um mero riso,
Fazendo deste Inferno um Paraíso,
Somente o que deveras me restou.

E bebo cada gota deste sangue
No imenso lamaçal, horrendo mangue...



Já não resisto à torpe sedução
De corpos seminus, loucas bacantes.
Mergulho nestes corpos delirantes
E entrego-me em tosca devoção.

Na fúria demoníaca de insanos
Orgásticos incestos, ironias,
A súcia se inundando qual temias
Num hormonal delírio, rotos panos,

Assim entre fantásticas figuras
Satã com seu açoite; ri-se e orquestra
O festival profano em luz canhestra
Bailando em fogo fátuo as criaturas.

Exangues os infectos carniceiros,
Entregues aos demônios rapineiros...



Meus olhos entre seres mais diversos
Imaginarias formas tão complexas
Nas sádicas imagens, desconexas,
Expressam-se em penumbras universos.

Sanguíneas existências, mortos-vivos,
Esperam pelo fim, penam-se as almas
Que embora vos pareçam sempre calmas,
Mantém os seus perfis, torpes e altivos.

Mergulho nesta infame confraria,
Aonde os hematófagos se encontram,
Orgias entre insano sacrifício,
- Remetem ao passado, ao Santo Ofício,-
E as trevas tais cadáveres adentram;

Espasmos entre risos, gargalhares,
A podridão se exala em tais altares..



Encontro estes espectros, visionário
Volvendo às priscas eras onde a sorte
Trazia em seu olhar o medo e a morte,
Um mundo muitas vezes temerário

As sombras que me seguem hoje em dia
Fantasmas dos antigos ancestrais
Envoltos em penumbras, provocais
O sonho que dantesco ora se cria.

Entregue nas masmorras do passado
Abutres devorando o que inda resta,
À noite velhas bruxas, louca festa
Orgásticas figuras, céu nublado

Nos pântanos e charcos, decompostos
Os corpos entre os ossos sendo expostos...



Entregue aos desvarios desta corja,
Bêbedo deste sangue em profusão,
Satânicas imagens, do porão
Um tempo em palidez e dor se forja.

Do cemitério faço o meu altar,
Dos mortos os caminhos que perfaço
Espectros entre túmulos abraço
Não quero e não suporto a luz solar,

Das sombras vou erguendo o meu castelo,
Das covas e masmorras, meus andores
Nefastas com certeza as vivas cores
Das sepulturas faço o meu rastelo

E morto, muito embora inda caminho;
Vagando pelas trevas, vou sozinho...




Satã em duras hostes se aproxima,
Nefasta criatura que profana,
Imagem dos infernos, soberana
Gargalha enquanto espalha farta estima.

Alvíssimas mulheres se entregando
Num festival de insânia e de prazeres,
Mostrando aos vãos mortais os seus poderes
O mundo em luzes foscas desabando.

Cadáver ressurreto de um canalha
Exangue criatura, um guardião
Na boca deste Demo, a podridão
Aos poucos entre tantos já se espalha,

Num átimo a penumbra toma a cena
Sombria madrugada se faz plena...




Desejo tanto insano que devora
Orgásticas loucuras me consomem,
E enquanto num momento vago somem,
A morte se aproxima sem demora.

Nesta fantasmagórica figura
Imagem refletida num espelho,
Nos ermos da neblina me aconselho,
Enquanto Satanás já me procura.

Sabendo desde sempre que eu insisto
Nos pórticos das sombras, meus altares,
Até que no final ao devorares
Meus restos, a alma sendo de Mefisto,

Demônios e bacantes, gargalhadas,
Adentram numa orgia, as madrugadas...



Imerso na completa depressão
A morte é solução, mas inda teimo,
E enquanto neste inferno sei que queimo
O mundo se transforma em negação.

Imagem que me ronda vampiresca,
Sanguíneos os banquetes que tu queres,
E quando nos meus dias interferes
Perfilas as angústias mais dantescas.

Entregue aos teus domínios, vão demônio,
Eu bebo esta certeza que corrói,
A vida que outra vida em vão destrói
Transforma esta ilusão num pandemônio.

Sacrílega hematófaga me expõe
Espectro, a própria sombra a decompõe...




Produz numa alegria, o dividendo
Uma esperança amena, calmos dias,
Além do que talvez o que querias
O amor nos conduzindo ou envolvendo
Permite amanhecer que ora desvendo
Por mais que as noites sejam sempre frias
No gozo destas belas fantasias,
O tempo mais feliz; prossigo vendo.
Fazendo do meu verso um simples canto
Abrindo o coração a tal encanto,
Sabendo ser a sorte muito clara,
Mas quando me encontrando em solidão,
Sentindo sob os pés abrindo o chão,
Diviso com os medos que guardara



No olhar de quem desejo um diamante
Prismática beleza iridescente
O amor quando se faz assim urgente
Tomando a nossa vida num rompante,
Por mais que se prossiga sempre avante
No fundo uma esperança se pressente
Dizendo deste encanto que envolvente
Permita que se creia a cada instante

Na luz que iluminando o amanhecer
Trará com toda a glória este prazer
Do qual eu não escapo e nem pretendo,
O amor sendo sincero e mais profundo,
Trazendo esta beleza em que me inundo,
Produz numa alegria, o dividendo...




Enquanto a poesia cedo almeja
O velho coração de quem se entrega
A vida noutros rumos já navega
Além do que ilusão tola preveja,
Mergulho no passado e assim lampeja
A glória que julgara amara e cega,
Enquanto à esperança amor se apega,
Minha alma sem parada segue andeja
E vasculhando ponto sobre ponto
Estrelas que encontrei deveras conto
E bebo desta luz inebriante.
Vivendo sem temores nem rancores
Desfilam-se no céu diversas cores,
No olhar de quem desejo um diamante...



Vencendo com ternura uma quimera
No olhar uma esperança interminável,
O quanto se pensara mais amável
A sorte superando qualquer fera,
O amor dizendo tudo o que se espera
Tornando a solidão abominável,
Além do que se fez imaginável
O sonho nos domina e já tempera
A vida de um poeta enamorado,
Um mero trovador que tendo ao lado
A bela criatura que deseja,
Fazendo da viola a companheira,
Ponteia à lua cheia a noite inteira
Enquanto a poesia cedo almeja...



Razão que move toda a poesia
Nas mãos desta esperança a mensageira
De um tempo em que a razão mais costumeira
Derrama-se em loucura e fantasia.
No quanto o coração com amor cria
A sorte não se mostra passageira,
Por mais que outro caminho ainda queira
Somente num amor vejo alegria.
E quando se dourando em sol imenso,
No encanto que me trazes sempre penso
E moldo este soneto nesta espera.
Viver o grande amor sem ter perguntas,
As almas se procuram e andam juntas,
Vencendo com ternura uma quimera.



Vivendo com ternura e sem rancor
Expresso em esperanças o que sei
Virá depois de tudo o que passei
Lutando pelas cores de um amor,
Apenas um eterno beija flor
Vagando sem destino grei em grei,
Sem medo do sofrer eu me entreguei
Vencendo em alegria qualquer dor.
Agora um simples calmo jardineiro
Que cuida com carinho do canteiro
Aonde semeara a fantasia...
Depois de certo tempo eu conheci
Felicidade enorme que há em ti,
Razão que move toda a poesia...



Tramando com beleza o meu porvir
Jamais esquecerei erros antigos,
Os dias que virão serão abrigos
Deixando em calmaria prosseguir,
Quem tanto desejou só conseguir
A paz entre diversos inimigos,
Vencendo com ternura estes perigos,
Já sabe os dissabores impedir.
Naufrágios? Não pretendo nem os quero,
O amor quando se molda amargo e fero
Transforma-se em terrível desamor.
Por isso é que pretendo esta esperança
Ao qual minha alma livre já se lança
Vivendo com ternura e sem rancor...



Trazendo a fantasia do meu lado
Já não suportarei a solidão
Envolto com os braços da paixão
Seguindo um dia sempre abençoado,
Não deixo que me falem do passado,
As águas vão descendo o ribeirão
Até que em plena foz, numa explosão
Num oceano enorme, dita o Fado.
Assim uma esperança que me move,
E a cada novo dia se comprove
Permite que eu consiga prosseguir,
Olhando os descaminhos que passara,
A vida se tornando bem mais clara,
Tramando com beleza o meu porvir...



Sequer deixando alguma cicatriz
Supero os dissabores de uma vida,
Aonde uma esperança em despedida
Trouxera um sonho amargo, o que eu não quis.
E quando de ilusões a sorte diz,
Por mais que a realidade venha e acida
Não dando a caminhada por perdida,
Retorno à mesma estrada e peço bis.
Seria redentor este momento
Aonde em paz suprema já me alento
E volto a ser quem era no passado,
Amor ditando as ordens que obedeço
Não quero e nem percebo mais tropeço,
Trazendo a fantasia do meu lado...



No mundo que deveras te proponho,
A sorte se mostrando imaculada
Trazendo a nossa noite enluarada,
Moldando na existência um belo sonho.
No verso que deveras eu componho,
A vida sempre clara e iluminada,
Depois da vida inteira em quase nada,
O barco em mares calmos ora ponho,
Seguindo a direção do manso vento,
O gozo que nos ritos eu invento
Expõe um novo tempo: ser feliz,
Deixando para trás o que era dor,
Vibrando em alegrias e louvor,
Sequer deixando alguma cicatriz...



As cordas que comandam coração
Vão tesas entoando melodias,
E quando as esperanças; cedo, urgias
Tramando algum sentindo e direção.
Vivendo sob as cores da paixão
O quanto se desfila em alegrias
Fugindo das fatais melancolias
Dedilho com prazer o violão,
E faço deste sonho realidade,
O quanto de prazer agora invade
Mudando este amargor em doce sonho.
Vencer as tempestades, temporais,
Chegando mansamente ao porto e ao cais
No mundo que deveras te proponho.



O tempo dos temores eu deserto
E enfrento os dissabores com sorrisos,
Já não comportaria os prejuízos
Mantendo para tanto o peito aberto,
O rumo de quem sonha sendo incerto
E os dias serão todos imprecisos,
Porém em versos claros e concisos,
O amor que desejara enfim desperto.
Viver a fantasia tão somente?
Sabendo que ela é falsa e o quanto mente
É como um suicídio em ilusão,
Por isso um caminheiro segue em paz,
Bebendo tão somente o que lhe traz
As cordas que comandam coração...



A paz de um grande amor; mais cedo alcanço
Enquanto sonhador em mar tranqüilo,
Se a minha poesia aqui desfilo
Procuro após a guerra algum remanso.
Vibrando de emoção eu me esperanço
Mudando a cada verso meu estilo,
O mundo que imagino segue aquilo
Que em sonhos mais fecundo já me lanço.
Não posso conviver com tempestades
Tampouco mais suporto tais saudades,
Resíduos de um amor que não deu certo.
Viver para o futuro, simplesmente,
É tudo o que mais quero; o que apascente
O tempo dos temores eu deserto...


Diviso com os medos que guardara
Durante a minha vida, simplesmente,
Volvendo ao meu passado de repete
A sorte num poema se declara.
Por mais que a tarde surja bela e clara,
Uma alma não se mostra transparente
E tendo quem deveras me acalente
Jamais esta amargura desampara.
Vivendo por saber quanto é possível
Vibrar num tempo novo e perecível
Aonde o meu caminho se Fez manso.
O quadro se define e num segundo,
Nas sendas deste encanto me aprofundo,
A paz de um grande amor; mais cedo alcanço...



Sem medos enfrentando o imenso mar
Por mais que as ondas sejam tão bravias
E quando as tempestades; desafias
Aprendes os segredos de um amar
Que mesmo transtornado, faz vibrar
Gerando muitas dores e alegrias,
Verão trazendo noites sempre frias
Vontade de sair e de ficar.
Mas quando as ilusões não são verdades,
Apenas restarão meras saudades
A sorte se desnuda tão concisa.
E o quanto desejei já não mais cabe,
O sonhador deveras disto sabe:
O amor que tanto eu quis cedo agoniza



Mergulho o meu viver na fantasia
E teimo como o velho marinheiro
Que sabe quando o vento é passageiro
Embora trague sempre uma agonia
Nas cores que minha alma se vestia
As sombras embotando o meu tinteiro,
O encanto que pensara verdadeiro,
Aos poucos sem resposta se esvazia
Deixando apenas mera tatuagem
Aonde imaginara uma paisagem
Que poderia a todos encantar.
Mas nada que me impeça de seguir
Acalentando um sonho no porvir,
Sem medos enfrentando o imenso mar...



O olhar no alvorecer em paz se lança
Carrego esta ilusão que me sustenta
A vida sendo qual grande tormenta
Sonega ao navegante a temperança.
E quando este futuro em dor me alcança
Nem mesmo a poesia me apascenta
O sonho que a verdade violenta
Talvez me prometesse uma mudança.
Mas como acreditar se sigo só,
Atado com a sorte em frágil nó,
O medo dominando o dia a dia.
Amar sem ser amado? Que me vale,
Pois antes que este brado vão se cale,
Mergulho o meu viver na fantasia...



Retrato na gaveta, amarelado
Dizendo deste tanto que te amei
E agora no passado mergulhei
Não tendo mais ninguém sempre ao meu lado,
O medo me tomando e abandonado,
Fazendo do vazio a minha grei,
Aonde imaginara ser um rei,
Apenas um vassalo desgraçado.
O rito se repete a cada verso,
E em plena solidão seguindo imerso
Ainda creio ter uma esperança
Que molde no futuro alguma luz,
Por mais que ainda pese a dura cruz,
O olhar no alvorecer em paz se lança...



Traria num encanto a solução
Quem tanto procurou amor imenso
E quando no passado ainda penso
Perdendo qualquer rumo e direção
A sorte se transforma em negação
Apenas no vazio sigo tenso,
O quanto me entreguei em fogo intenso
E o mundo disse sempre o mesmo não.
Agora um marinheiro teima em crer
No sol que há de brilhar no amanhecer
Trazendo iridescentes alvoradas.
Auroras que buscara no passado,
Um tempo onde viver trazia glória,
E agora tão somente na memória
Retrato na gaveta, amarelado...



A cada novo dia se desdiz
Quem tanto se entregou e nada além
Do medo e do vazio inda contém
Apenas do passado, a cicatriz.
A vida se transforma e por um triz
Ainda caminhando sem ninguém
E quando a noite chega e o frio vem
O olhar outrora claro queda gris.
Servindo a quem jamais me desejou,
O tempo sem prazeres se escoou,
Restando em mim somente uma ilusão.
Pudesse ter de novo quem queria
O mundo revestido em alegria,
Traria num encanto a solução...



Distante ouço um lamento em melodia
Qual fora algum murmúrio agonizante,
E tendo em meu olhar um diamante
Que a sorte do meu lado não queria,
A senda se mostrando então vazia,
Aonde se quisera deslumbrante
Um mundo por princípio fascinante
Aos poucos sem amor, a vida esfria
E traz nos seus caminhos o granizo,
Vivendo sem calor, eu agonizo
E sinto que jamais serei feliz.
Se tudo o que trouxeste foi o nada,
Uma alma desde sempre abandonada,
A cada novo dia se desdiz...



Por mais que esta ilusão já se apresente,
Deveras não terei a mesma sorte,
Perdendo desde então meu rumo e Norte,
Amor que tanto quis; agora ausente.
O mundo se transforma de repente
E aonde quis apenas um suporte
A queda; eu prenuncio e nela o corte,
Mudando o meu destino, novamente.
Percorro este universo na procura
De quem pudesse ter tanta ternura
Encontro tão somente a fantasia.
Versando sobre sonhos, desenganos,
Apenas reparando rotos panos,
Distante ouço um lamento em melodia...



Trazendo ao sonhador, o desprazer
De crer neste vazio que me deste,
O amor em solo frio, duro e agreste
Não deixa que se possa o bem colher,
Somente em poesia pude crer
No quanto claramente me quiseste,
A vida sem prazeres, fria peste,
Matando a cada dia o bem querer.
Sabia muito bem deste vazio
Porém não me acostumo à solidão,
E enquanto um novo tempo; eu fantasio,
A sorte se mostrando inconseqüente
Trazendo sempre a mesma negação,
Por mais que esta ilusão já se apresente...



A vida transformando velhos planos
Não deixa que se pense no futuro,
A sorte que deveras eu procuro,
Encontra tão somente os mesmos danos.
Momentos que pensara bons, profanos,
O céu permanecendo sempre escuro,
Encontro no caminho um alto muro
Formado pelos medos, desenganos.
Quimera que se fez em fera e gozo,
O dia se moldando caprichoso
Não deixa que se veja o amanhecer,
Quem dera se pudesse ser feliz,
A vida pela vida se desdiz
Trazendo ao sonhador, o desprazer...



Jamais colherei flores no jardim
Embora cuidadoso jardineiro,
O amor que outrora vira em meu canteiro
Agora se afastando assim de mim,
Vivendo por viver, tudo é ruim,
Apenas este canto, o derradeiro,
Dos males que devoram; mensageiro
Dizendo que esta história chega ao fim,
Mudando de estação, num duro inverno,
Quem dera se pudesse; não hiberno,
E volto aos mesmos erros, desenganos.
Ao menos trago em mim esta certeza
De ter lutado contra a correnteza
A vida transformando velhos planos...



Seguindo sem destino, em rumo cego
Apenas como guia uma esperança
Ao mar interminável já se lança
Quem tanto desejou e nunca nego,
Enquanto este vazio; inda carrego,
Buscando tão somente segurança
A solidão aos poucos, chega e avança
Nos braços deste encanto; eu já me apego.
Mas sei que nada disso mais importa,
Agora que trancaste a tua porta,
Aporto no vazio e sigo assim,
Voltando vez em quando ao meu passado,
Somente de tristezas decorado,
Jamais colherei flores no jardim...



E o gosto de um eterno nunca mais
Tomando o paladar, o que fazer?
A vida sem sequer algum prazer
Desfila os seus macabros rituais.
Pudesse ter nas mãos o porto e o cais,
Talvez não mergulhasse no querer
Que impede de sonhar e de viver
Ausente de meus olhos os cristais;
Enquanto houver a força que me impele
O amor nos transformando, toma a pele
E deixa a cicatriz que ora carrego,
Navego sem ter lastro, leme ou proa,
O pensamento às vezes, inda voa
Seguindo sem destino, em rumo cego...



O amor que tanto eu quis cedo agoniza
Deixando para trás felicidade,
Agora tão somente uma saudade,
A dura tempestade nega a brisa.
E o quanto te desejo se matiza
Nas dores, na terrível crueldade,
Aonde a solidão agora invade
E a morte num momento se divisa.
Queria ter nas mãos quem se fez dona
E o barco lentamente ela abandona
Mudando este percurso, perco o cais.
Sorvendo a solidão venal herança
Restando deste amor só a lembrança
E o gosto de um eterno nunca mais...



No dia que agoniza o meu tormento
Espreito a sorte intensa que não veio,
E aonde se fizera algum anseio,
Apenas o vazio que lamento
Não deixo de pensar um só momento
No quanto te desejo, mas receio,
Que amor ao descobrir um novo veio
Desvie para além o pensamento.
Causando tal tristeza no meu peito,
Aonde quis a paz, soberbo pleito,
Apenas a distância e nada mais;
Canteiro em framboesas e verbenas
Diverso deste mundo que me acenas,
Certeza; não virás aqui jamais...


À luz do teu olhar, doces carinhos
Envolto pelo amor que nos guiando
Permite que se molde um tempo brando
Vivendo com denodo nossos ninhos,
Enquanto dos encantos são vizinhos
Desejos que decifro desde quando
Podemos cada sonho se mostrando
Maior do que pensávamos sozinhos.
Não posso me furtar a crer que um dia
Além de tão somente poesia
Teremos o prazer de estarmos sós
Fazendo desta espera fonte e foz
Do amor que a cada tempo mais queria
Unindo nos dois corpos, mesmos nós...



Pensando no luar claro e bendito
Aonde poderia ter a sorte
De ter modificado o frio Norte
Um mundo inesperado, e mais aflito,

Enquanto no futuro eu acredito,
Propões a fina adaga que me corte,
Não tendo mais sequer algum suporte,
O canto se tornando um brado, um grito.

Alvissareiros dias que virão
Moldando com carinho esta emoção,
Somente uma ilusão de um sonhador,

Que tendo em suas mãos a dor e o riso,
Num passo tão audaz quanto impreciso,
Desbrava as duras sendas deste Amor...



Pudesse ainda ter no que sonhar
Em íntimos momentos, nada vindo,
Apenas o passado; inda deslindo
E nele não mais quero mergulhar.
Tivesse esta ventura, ter no mar
Um dia inesquecível; raro e lindo
Mas sinto esta tristeza me seguindo
E tento inutilmente disfarçar.
Usando da palavra, simples versos,
Enquanto no vazio vão imersos
Os sonhos de quem tanto quis e nada.
Encontro a solidão, fiel parceira,
E a dor imensa chaga corriqueira
Negando o amanhecer, uma alvorada...



Fugisse da tristeza que é fatal
Mudando logo o curso deste rio,
As horas solitárias desafio
E sinto da esperança o ritual
Mergulho neste mar e bebo o sal
Por vezes teias; teço ou já desfio
A fantasia acende o seu pavio,
E o fim se demonstrando sempre igual.
Vazio o coração de quem procura
Ao menos um momento de ternura
E não achando nada nem ninguém,
Durante a vida inteira, um sonhador,
Agora no final, o trovador
Somente uma ilusão inda contém...



Olhando mansamente o teu olhar
Percebo quanto a vida se faz boa
E quando navegando a voz se entoa
No mar de teus prazeres; mergulhar,
Bebendo cada raio do luar,
Dos risos e dos gozos a canoa
Que vence as correntezas, logo aproa
No cais que imaginei sempre encontrar.
Vestindo esta emoção ser teu parceiro,
Vivenciando o gozo verdadeiro
De tantas ilusões, glorificado,
Agora não pergunto mais por que
Eu sei do amor imenso em que se vê
O mundo em pirilampos, estrelado...



O amor nos aquecendo em brandas luzes
Deixando para trás medos e dores,
Colhendo nos teus olhos raras cores
Matando ervas daninhas, tantas urzes,
Vencendo os dissabores, já conduzes
Meus passos sempre etéreos, sonhadores
Por entre este canteiro, belas flores,
Que sei com tanto afeto tu produzes.
Mesclando esta alegria com a crença
Do amor que a cada dia nos convença
Ser ele tão somente a solução.
Vivenciando a glória de poder
Dizer que em ti somente o meu prazer,
Envolto nestas teias da paixão...




Por mais que em águas turva a alma nade
Buscando a placidez que não se vê,
A sorte em que deveras amor não crê
Determinando sempre esta saudade.

E enquanto se desmancha a realidade
Procuro os teus sinais, porém cadê?
No livro da esperança ninguém lê
E sabe decifrar toda a verdade.

Outrora um sonhador. Hoje um farsante,
Enquanto me dizias deste instante
Pensava tão somente em meu prazer.

Agora que se finda a nossa história,
Resgato novamente da memória
O mundo que esperava em ti viver...




Relembre da paixão que um dia fora
A dona dos meus olhos e segredos,
Aonde desenvolvo meus enredos
E a sorte se mostrando sonhadora,
Enquanto a solidão dita os degredos
Uma alma dentre tantas sofredora,
Buscando alguma imagem redentora,
Percebe que se escapa entre seus dedos
A Sorte num momento mais atroz,
Calando da esperança qualquer voz,
Na foz desta emoção, um mar sombrio.
Aonde se mostrara uma alegria,
Agora tão somente se irradia
No olhar enamorado; um desafio...



Quando o tempo chegar e neste espelho
Tu vires tantas rugas; lembrarás
Do amor que desprezaste anos atrás,
Por isso meu Amor, eu te aconselho

A crer que na existência somos frágeis
E a vida não traduz eternidade,
Escute no meu verso esta verdade
Por mais que te pareçam bem mais ágeis

Os dedos no futuro serão lentos
Os olhos embaçados, e o sorriso
Que outrora se mostrara mais preciso
Agora sem os dentes, busca alentos.

Não queres meu amor? Termina o embate.
Só peço, por favor, não me maltrate...



Perfume que encontrando; estonteante,
Nas sendas em que passas, deusa e diva.
Minha alma se mostrando ainda viva
Buscando este caminho deslumbrante
Permita-me querida que eu me encante
E molde em versos frágeis esta altiva
Imagem que de luzes fartas criva
O coração tão tolo de um amante.
No diamante exposto em teu olhar,
Viver tal fantasia sem pensar
Sequer se existirá um amanhã.
Assim permanecendo extasiado,
A poesia encontro do teu lado,
E faço da esperança o meu afã.



Uma alma nívea e pura se desnuda
E mostra o quanto a vida se faz bela,
Desenha com ternura a rara tela,
Porém a sorte amarga cedo muda,
E quando vejo a dor, procuro a ajuda
Que em tuas mãos macias se revela,
A vida que seria toda dela
Aos poucos noutro rumo se transmuda.
Esfuma-se dos olhos a presença
De quem o coração ainda pensa,
Mas sabe ser distante, um mero sonho.
E quando me aproximo; amor, de ti,
Percebo que deveras conheci
A perfeição à qual eu me proponho...



Por ti palpita etéreo coração
Corsário da ilusão, vago entre os mares,
Aonde tu prossegues; meus altares,
Encontram toda a minha devoção.
O Amor sendo cruel embarcação
Enquanto com carinho provocares
E contra as ondas todas tu remares
Jamais em paz terei a atracação.
Quem dera Capitão, mas timoneiro
Enfrenta com vigor tal nevoeiro
E sabe aonde aporte o seu navio.
Assim também no encanto que me trazes
Vivendo a poesia em firmes bases
As ondas e os fantasmas desafio...



Qual fora do jardim alma e desejo,
Ao florescer os sonhos; vivo Amor
Trouxesse tão somente um beija flor
Imagem deste encanto em que me vejo.
Porém o coração, cruel andejo
Deveras um eterno sonhador,
Buscando a maravilha em cada cor
Traduz a imensa luta em que pelejo.
Vestindo uma esperança tão fugaz,
Aonde poderia crer na paz
A solidão se expõe inteira e nua.
Minha alma cadencia cada passo,
E quando outro caminho em vão eu traço,
A história se repete ou continua.


Pudesse de uma flor saber perfumes
E crer no amor que um dia me falaste
A vida sem ninguém leva ao desgaste
É noite eternamente sem seus lumes,
Não quero que deveras me acostumes
A crer numa existência do contraste
Do amor em plena dor, preferindo a haste
À fria insensatez que logo esfumes.

Se há tanto cultivara num canteiro
Verbenas entre rosas e jasmins,
O amor como um divino mensageiro
Mudara o meu destino se pudesse
Saber que os meios negam sempre os fins
No Amor a santidade feita em prece...



Minha alma transparente e apaixonada
Seguindo sem destino, bebe o pó
Ainda que tu tenhas pena e dó
Do todo que pensara, resta o nada.
Vencido pelas dores, madrugada
Retrata esta amargura de quem só
Buscara em sua vida, a pedra e a mó,
Mas sente esta ilusão dilacerada.
Voltando os meus olhares para a sala
Ausência deste alguém ora me cala
Não pude ser deveras mais feliz.
Enquanto a fantasia trouxe o riso,
Vivendo tão somente um Paraíso,
A dura realidade isso desdiz...




Ao te ver partir, sonhos fugiram
Levados pelas mãos de quem eu amo.
E quando em noite fria; amor reclamo,
Sem ter as emoções que inda interfiram
Por mais que outros caminhos se prefiram,
Não tendo solução; somente um ramo
Deste arvoredo imenso, cedo e chamo
E as horas solitárias, rodam, giram...
Mergulho no passado e te resgato,
O quanto foi difícil cada fato
Depois de ter nas mãos felicidade.
Morrendo na distância sigo vão
Escravo dos anseios da paixão,
Queria ter nas mãos a chave e a grade...



A tarde se desfaz nesta saudade
Que tanto me maltrata e me redime,
Na sensação dileta gozo e crime,
Procuro ter enfim, tranqüilidade.
Pergunto aonde encontro, mas quem há de
Dizer além do quanto amor estime
Prazer que na verdade não suprime
Mostrando noutra cor, a realidade.
Vencido pelos medos e temores,
Aonde imaginara belas cores,
Apenas grises tardes, nada mais.
O tempo se mostrando um inimigo
Embora solitário, enfim, prossigo
Saveiro que à deriva, busca um cais...



O mar ao se entregar aos vãos penedos
Encontra a resistência e não prossegue,
Assim a nossa vida não consegue
Vencer os desafios e os segredos,
Na força imensurável dos rochedos,
A sorte desairosa já nos segue
Sem ter sequer a paz que mansa regue
As flores condenadas aos degredos.
Não pude conservar este canteiro
Aonde Amor se fez mais verdadeiro
Não tive nos teus braços, este alento,
Por isso é que deveras sigo triste,
O amor que tanto quis já não resiste
Trazendo invés de paz, dor, sofrimento...



Qual fora, da palavra um operário
Usando destes versos, forma e cor,
Falando muitas vezes de um Amor,
Que sei quanto é deveras necessário.
Por vezes noutro canto temerário
Procuro demonstrar que o sonhador
Não foge nem desdenha a própria dor,
Abrindo dos sentidos, seu armário.
Não quero ser apenas relembrado
Como se fosse um tolo e de bom grado
Espero que me aceites, mas se não
Jamais irei mudar sequer um til
Somente para ser manso e gentil,
Pois neles ponho inteiro o coração...



Expressa-se a Natura, em teus caminhos
Moldando com denodo cada rota,
E o Amor quando se entrega a paz se nota
Jamais caminharemos mais sozinhos.

Dos sonhos e das glórias, mansos ninhos,
Amor além da vida, não tem cota,
Tampouco com o tempo se desbota,
Não vejo em seu jardim; seres daninhos.

O quanto amor se mostra em plenitude,
Permite que este caminho enfim se mude
E o riso se tornando um ritual,

Aguarda tão somente outros momentos
Aonde apascentando estes lamentos,
Supere com ternura todo o mal...




Nas águas em que banhas, de cristal
A fonte inestimável de um desejo,
Ao vê-la num instante já prevejo
O dia em que seja triunfal
O Amor cedo nos guia, e sem igual
Maior do que somente algum lampejo,
Na tenra sensação de um manso ensejo
Fazendo do prazer um ritual
Espalha-se deveras pelos campos,
Estrelas são apenas pirilampos
Reluzem sob o impacto deste encanto.
Falena que procura a clara luz,
O Amor em suas teias me seduz
Por ele e só por ele, agora eu canto...



Por campos mais alegres, mansos prados
Desfila-se esta sílfide divina
E o andar da bela Diva me fascina
Matando os dias frios, degradados,
Fazendo ao meu olhar doces agrados
Imagem que se molda diamantina,
Expressa num momento o que alucina
Um velho trovador entregue aos Fados.
Quisera ter nas mãos rara beleza
Entregue aos teus encantos, Natureza
Moldando uma escultura em que o cinzel
Nas mãos de um grande artista se fez mago,
Enquanto a divindade em sonho afago,
Vislumbro nos seus olhos, Deus e Céu...



Viver esta tristeza é necessário
O dia se fará depois das trevas,
E quando o amanhecer em sonhos cevas,
Decerto; tu verás outro cenário.
A Sorte se moldando no Fadário
Por mais que as dores sejam tão longevas
E dentro de tua alma, em frio nevas,
Enfrentarás; no Amor, tal adversário.
Jamais se esconda e creia ser possível
Uma alegria enorme, pois cabível
Mesmo que a porta seja tão estreita.
Quem teima e tem a glória de saber,
Somente num Amor pleno poder,
Tem a alma apascentada quando deita...



Não sei se vale tanto a noite escura
Que possa me impedir de ver que o sol,
Ainda se escondendo no arrebol
Trará no amanhecer paz e ternura.
Por mais que uma alma entranhe esta amargura
A Sorte sem reveses, um farol,
Tramando maravilhas que de escol
É tudo o que se quer e se procura.
No Amor encontro a paz e as oferendas
Por mais que noutras sendas já desvendas
Momentos tão mordazes e infelizes,
Verás que quando entregue à sedução
Do imensurável deus, a embarcação
Superará com calma estes deslizes...



Não quero mais falar da dura morte
Bem sei; a companheira derradeira
De todas as agruras, a parceira
À qual qualquer momento diz aporte.
Não quero uma esperança que se aborte
Tampouco a dor, etérea mensageira
Do fim que se aproxima, e corriqueira
Traçando muitas vezes nosso Norte.
Não quero ter nos olhos o pavor
Daquele que se entrega ao desamor,
E traz sempre a discórdia; e amarga a vida.
Só quero a luz que possa me alertar,
Mas mostre sob os raios do luar
O Amor, mantendo a dor entorpecida...



Trazendo, o desamor, um negro manto
Aonde se escondesse a faca, a adaga,
A mão que na verdade ora te afaga
Prepara num segundo a dor e o pranto.
E quando mais mordaz o desencanto
Maior a solidão na escura plaga
Por mais que uma ilusão; o Amor nos traga;
Nestas veredas torpes; eu me espanto.
Quisera a claridade em raro sol,
Um helianto busca o seu farol
Nos olhos de quem ama e sabe bem
Cuidar com maestria deste sonho
Que em versos e sonetos eu componho
E sei que me avassala quando vem...



A Sorte se mostrando amara e escura
Mudando sempre antigas direções
Trazendo nos seus olhos, seduções
Que ao mesmo tempo dizem da tortura
Quem dera se tivesse tal ternura
Que aflorando em diversos corações
Expressa a maravilha das paixões
Aonde a eternidade não perdura.
Numa ávida e suprema fantasia
A cortesia foge e o medo cria
A dor que nos acolhe e nos conforta.
O Amor sendo um guerreiro; pacifica
Maltrata em finas luvas de pelica,
Gentil, arromba a casa, estoura a porta...



A Ninfa desfilando sedutora
Desnuda entre os nenúfares, a vejo
Aumentando deveras o desejo
Imagem divinal e tentadora.
Minha alma tantas vezes sonhadora
Ao ver esta beleza que ora almejo
Vivendo além do Amor, louco lampejo
Teimando com tal senda promissora
Encanta-se e num átimo se faz
Além do que pensara calma e paz
Uma expressão que traz fausta ternura.
Ao mesmo tempo um ar tempestuoso
Dizendo desventura, anseio e gozo,
Porquanto me seduz; tanto tortura...



Jamais eu deixaria de querer-te,
Se tenho em ti a glória e o descaminho,
E quando nos teus braços eu me aninho
Do sonho não há quem tente ou desperte.

O Amor quando em saudade se converte
Por vezes se tornando mais daninho,
Espalha a tempestade aonde o vinho
Bebera com ternura; e a paz deserte.

Não posso me calar, por isso canto,
E vivo ainda à luz do raro encanto
Que espalhas sobre a Terra, deusa nua,

Minha alma se mostrando transparente
E tendo esta candura que apascente,
Por sobre estas procelas já flutua.



Porque deixaste aquele que querias
Além do tanto Amor; eterno amante
Nos olhos tu trouxeste o diamante
Por onde desfilavas fantasias.

Seqüelas deste encanto, noites frias,
Não vejo o sentimento qual rompante
Tampouco quero a voz que me acalante
Depois deixe deveras mãos vazias.

No Amor e só por ele inda existo,
Percorro vales, montes, cordilheiras,
As honras que ofereço; verdadeiras

Vivendo este momento e até por isto
Desnudo os meus segredos ao propor
Além da própria vida, eterno Amor...



Nas ondas que desfias em teus braços,
Tormentas entre doces ilusões
O Amor ao invadir os corações
Deixando bem marcados firmes traços,
Ocupa mansamente estes espaços
Diversas e sublimes tentações
Espalhando sensíveis furacões
Estreitando deveras fortes laços,
Embora muitas vezes lassos dias
Encontram solitárias noites frias
Vazios entre tantas maravilhas.
À sombra deste encanto mais perfeito,
Por vezes maltratado, eu me deleito,
Trazendo a escuridão, imenso, brilhas...



A dúvida acomete quem se entrega
Aos vários dissabores deste encanto,
Por mais que ainda em festa, o verso eu canto
A sorte se demonstra cedo cega,
O mar onde esperança em paz navega,
Tempestuosamente gera espanto
Quando das nuvens negras vejo o manto
Uma alma mais sensível não sossega.
Encontro num Amor, santo remédio
Que enquanto nos ungindo, gera o tédio
Dicotomia clara se apresenta.
Trazendo em si a paz que nos sacia
Ao mesmo tempo o medo e esta agonia
Amor é calmaria e vã tormenta...



Melhor seria não ter visto a cena
Aonde renegaste o sentimento,
Deixando tão somente o desalento,
Minha alma solitária se apequena.
E enquanto a poesia se diz plena
No canto em que louvei-te me atormento
Estando desde então bem mais atento,
A lua sobre as nuvens, dor acena.
Medonhas tempestades? Não queria,
Apenas uma frágil fantasia,
O Amor sendo demais, a dor é certa.
E eu sinto que deveras te perdi,
Vivendo esta ilusão, eu via em ti
A Sorte que insensata me deserta...




Houvesse desdobrado o sentimento
Aonde se moldara tal quimera
A vida não teria tanta espera
O Amor seria além deste momento.
E quando permaneço mais atento
A sorte que procuro e me tempera
Vencendo com ternura a fria fera,
Deixando no passado algum tormento.
Buscando a limpidez tão cristalina
Do encanto que deveras me domina
Terei sem ter mais dúvida o louvor
De poder caminhar, cabeça erguida
E dando enfim sentido à minha vida
Encontraria em paz, o imenso Amor...



Estando desde então sob os cuidados
Do Amor que nos encanta e nos conduz,
Vivendo a plenitude desta luz
Deixando para trás dores e enfados.
De todos os desejos procurados,
O encanto que em encanto reproduz
Amenizando o peso desta cruz
Sanando do andarilho os seus pecados,
Permite-se notar neste horizonte
O sol dos brilhos fartos, nobre fonte,
Azulejando assim, um belo dia,
Enquanto houver nos olhos tal beleza,
Terei decerto, amada, esta certeza
Que Amor em tanto Amor, Amores cria...



Pudesse descansar depois de tanto
Caminhar sem poder ver claridade
Envolto pelos mantos da saudade,
Que causa dor e traz um raro encanto.
Ao mesmo tempo atroz, molda meu canto,
Enquanto se mostrasse na verdade
A sombra do passado que me invade,
Apascentando em dor nela me espanto.
Mas quando percebendo a tua ausência
A vida se perdendo sem clemência
Volvendo ao mesmo nada de onde vim,
Acaso poderia ter a sorte
De ter sob o comando, o Fado e o Norte,
Saudade então no Amor; teria fim...



As asas das angústias nos tocando,
Na ausência deste tanto que buscaras
Apenas no lugar chagas e escaras,
O mundo se mudando desde quando.

Houvesse ainda um tempo em que plantando
Com tudo este cuidado que tens; aras
Cevando as flores belas; perlas raras
As dores arribando em louco bando

Terias a colheita que se espera;
Porém a solidão, amarga fera
Pantera que entre tantas reconheço

Diversa deste anseio que há em ti
Mostrando em claros tons o que senti;
Amor; Bem precioso, não tem preço...


Fortuna se tornando uma inimiga
Daquele que se entrega sem defesas
Bebendo da alegria estas belezas,
Nos braços de quem ama já se abriga.

Mas quando a sorte muda e a vida intriga
Apenas entre as dores e tristezas
Já não comportariam fortalezas,
E o que era fantasia desobriga

A sorte sendo assim tola e volúvel
Problema sem resposta ou insolúvel
A vida em desamor não traz descanso.

E quando tão somente em ti percebo
A cristalina fonte que concebo
O Amor em plenitude e em paz, alcanço...



Mores tristezas têm os que não sentem
A força imensurável de um Amor,
Pudesse ser somente um Trovador,
Enquanto os novos dias se pressentem;
As horas prazerosas nunca mentem,
E moldam com denodo encantador
Um tempo todo feito num louvor
Por mais que as velhas dores atormentem.
Serenando deveras a minha alma
Na paz de um sentimento que me acalma
Percebo ser possível tal herdade
Aonde desfrutando das venturas
Terás no pleno Amor o que procuras,
Verás nos braços teus, felicidade...


Amor que perpetua-se em prazeres
Trazendo a sorte imensa para quem
Vivendo a fantasia que contém
Em si toda a magia dos quereres.

Por onde e quais caminhos escolheres
Terás no Amor; intenso e grande bem,
É sendo e tendo sempre que ele vem
Descreve com doçura seus poderes.

Porém nas sendas frias e distantes
Ausência de luzeiros radiantes
Somente a escuridão; tormento e treva.

Uma alma sem Amor é quase nada,
A vida em desamor que tanto enfada,
Nas estações diversas, sempre neva...


Perdoe se talvez houvesse tido
Algum momento em que te magoei
Por vezes reconheço, tanto errei,
O Amor perdendo assim qualquer sentido.
Por tanto que eu já tenha percorrido
Às vezes noutras sendas, mergulhei,
Diversa desta rara e bela grei,
Aonde cada sonho foi vivido.
Escusas eu te peço, e mesmo imploro,
Se em pensamentos torpes me demoro,
Eu creio ser tão grande o sentimento
Que abarca do viver cada segundo
E nele tanto quanto me aprofundo,
Escravo sou de todo pensamento...



A deusa que se fez mulher e trama;
Envolta nos anseios do desejo,
O Amor no qual mergulho e assim prevejo
Eternizada em mim a rara chama
Que tantas vezes chega e assim nos chama
Por vezes na figura de um lampejo,
Ou mesmo de um delírio tão sobejo,
Mas Vênus, neste instante já nos clama.
E entregue sem defesas à loucura
Que sana e nos tortura e abençoa
Invade pela popa, adentra a proa
Ao mesmo tempo fere e assim nos cura,
Trazendo um sofrimento encantador,
Maior que o próprio Zeus, somente o Amor...



Envolto pelas tramas da Natura
Deitando em meu caminho arroio manso
A fonte dos desejos; logo alcanço
E a doce fantasia já perdura
Deixando no passado esta amargura
Que outrora fora fera; mas avanço
E tendo à minha frente este remanso
A dor enfim encontra a sua cura.
Pudesse eternizar este momento,
Estando sob as luzes de um alento
Não sendo tão somente um lenitivo,
Percebo quão o Amor se faz presente
Na imensa Natureza e em toda gente,
Por ele e só por ele, Amor, eu vivo...



Das nuvens que escondiam lua plena
As marcas indeléveis de um passado,
Aonde se quisera iluminado
Caminho mais tristonho a dor acena.
O mesmo Amor que cura e me envenena,
A Sorte se detém nas mãos do Fado
Quisera tão somente um manso prado,
Porém o desamor à dor condena.
Arando com ternura o duro solo,
O medo se desfaz; com ele o dolo
Perdido entre os brilhares da esperança.
Luzindo em noite imensa, a lua clara,
A vida noutra vida já se aclara
E o Amor entre a neblina, enfim, avança...



Recolho os meus anseios; e os cultivo
Nas sendas sempre flóreas de um Amor,
Um bardo que se mostre um sonhador,
Vivendo a fantasia segue altivo.
Portanto deste encanto sobrevivo,
Outrora um simples tolo trovador,
Deixando para trás a imensa dor,
De sonhos mais audazes; eu me crivo.
Deveras merecia ser feliz.
O verso traduzindo o que se quis
Pedira ensandecido; esta presença;
Por mais que dolorido o caminhar
Quem tem em suas mãos o dom de Amar,
Decerto não há quem, no mundo o vença...



O Sol ao se esconder entre os outeiros
Não deixa que se veja tal beleza
Daquela criatura que indefesa
Expressa os meus anseios verdadeiros.
Caminhos que te trazem, derradeiros,
Enfrento o dissabor e a correnteza
Vencida com vigor e com destreza
Revela após cascatas, o ribeiro

Aonde em mansidão imensa vejo
A Musa que deveras eu desejo
E beijo tuas mãos, divina dama.
Alvissareiros dias de ventura,
Depois de tanto tempo em vã procura
A voz do Amor imenso, enfim, me chama...



Ouvindo do oceano o seu marulho
Chamados de Sirenas maviosas,
Encontro as nossas noites mais formosas,
E desta fantasia já me orgulho,
Na doce melodia, audaz, mergulho
As ondas muitas vezes caprichosas
Enquanto num murmúrio manso gozas
Afastam do caminho pedregulho.
E sentindo-me em paz, extasiado,
Revejo os desenganos do passado
E agora me permito um sonhador.
Numa expressão divina, bela e rara,
O mar em seus segredos nos declara
A incomparável força deste Amor...



Aonde uma tristeza se desterra
O tolo desencontro se escondia.
Ardente e tão sobeja fantasia
O Amor bendito trama; e a porta cerra.
O Sol dourando agora toda a Terra
Reflete a luz intensa em que se via
O encanto da divina poesia,
Que olhar de quem desejo em paz descerra.
Quem tem a imensa sorte de saber
E ter nas mãos a fonte do prazer
Percebe quão se faz belo e luzente
Os passos se perfeitos sob a saga
Do encanto tão sublime em que se afaga
O Amor no qual o Eterno se pressente...



Num manso caminhar encontro em ti
A paz que é necessária para vida,
A dor, outrora viva hoje esquecida
Traduz os dissabores que vivi.
Permito-me sonhar e estou aqui,
Refaço prazerosa a minha lida,
E a sorte que julgara já perdida
Renasce desde quando a descobri;
Em águas cristalinas, fontes belas,
As raras maravilhas tu revelas
Trazendo então alento ao andarilho
Que outrora se perdendo em noite escura
Enquanto a solidão não mais perdura
Encontro em plenilúnio a luz que trilho...


À sombra destes verdes arvoredos,
Adentro por caminhos mais felizes,
Não posso me conter frente aos deslizes
E o quanto te desejo sem segredos,
Deixando no passado velhos medos,
Mudando deste céu os seus matizes,
Tu sabes e porquanto sempre dizes
Do Amor que ora nos dita seus enredos.
Atravessando em paz mansos ribeiros,
Desejos que sabeis tão corriqueiros
Expressam os anseios de quem ama.
Perfaço sem temores; de bom grado,
E entrego-me deveras ao teu Fado,
Mantendo deste Amor a eterna chama...



Relembro a rara e mansa formosura
De quem se fez a dona dos meus dias.
Peço-vos tão somente que alegrias
Que me dais, permaneça co’a ternura
Diversa de uma dor que nos tortura
E envolva com carinhos, fantasias
Jamais deixando as noites vagas, fias,
No Amor que nos guiando se procura.
Vós tendes, pois, nas mãos o meu futuro
E quando estais distante eu me torturo
Porquanto solitário, nada sou.
Ouvir-vos é saber o quão feliz
Quem tem; junto consigo o bem que quis
E em mares tão tranqüilos navegou...


23585

Emanações diversas e sombrias
Espectros de um passado sob trevas
Disformes multidões, podres catervas
Tal qual antes do fim tu percebias.

Medonhas criaturas, noite eterna,
O látego explodindo nos costados
Demônios entre corpos destroçados,
luz se afasta da pálida caverna.

E vândalos destroem tal cenário,
Satânicas bacantes, loucos vermes
Ossadas espalhadas já inermes
Insano passageiro, visionário

Em meio às podridões, carnificinas
E louca entre fantasmas te alucinas...


86


Perdida no passado a mera lenda
Da sorte que talvez trague a esperança
Apenas um resíduo na lembrança
A morte cada farsa já desvenda.

Encontro após o túmulo a verdade
Em formas mais diversas, podridão,
Minha ama na fatal putrefação
Das dores e temores tem saudades.

Efêmeros prazeres; aproveites
Que tudo se deforma totalmente,
Quem pensa eterna paz, não sabe e mente
Apenas nos vazios, os deleites;

O Céu inalcançável, mera imagem,
Caótica e terrível paisagem...



87


Entranho neste estranho labirinto
Aonde sem saída nada vejo
Senão este abortar de um vão desejo,
O quão inda sonhara agora extinto.

Farsantes e dementes criaturas,
Espasmos entre risos, palavrões,
O sangue se escorrendo aos borbotões
A sede insaciável nele curas,

Esperança esquecida nos portais,
As lavas consumindo o que inda resta
Sombrias garatujas, louca festa,
Numa expansão de ritos hormonais,

Satã com seus demônios, nada fala;
Observa este ir e vir na horrenda sala...


88

O olhar mortiço e frio desta fera
Que aguarda tão somente algum descuido,
Bebendo todo o sangue e qualquer fluido
Na insânia destemida se tempera.

Cadáveres se espalham pelos cantos
Desnudas podridões, saques diversos,
Demônios sobre os ossos vão dispersos,
Entoam ladainhas, velhos cantos.

E enquanto se preparam para o fim,
Nas mãos o frio açoite vergastando
As semi-vidas toscas molestando,
Estupros entre incestos no festim.

A turba se confunde em formas várias,
Eternidade em lavas temerárias...


89


Minha alma aniquilada encontra a morte
E nela a solução dos meus anseios
Aonde ainda houvera algum receio
O fim das esperanças mata a sorte.

E em meio às vãs neblinas, podridão,
Açoites explodindo em minhas mãos,
Os dias foram toscos, tolos vãos,
Encontro tão somente a escuridão.

Das cores e alegrias já me afasto,
Perpetuando o escárnio; intensa dor,
Incrível que pareça, este torpor
Tornando o mundo amargo e tão nefasto.

As trevas dominando o que restara
Da vida que pensara calma e clara.


23590


Hirto ao perceber farsas inglórias
Escarro sobre os corpos; sigo a sina
Da mão que se mostrara uma assassina
Envolta nestes gáudios das vanglórias;

Envolto pelas névoas, vou soturno
Erguendo cada morto qual troféu
E sanguinário abutre em seu papel,
Revezam-se rapinas turno a turno,

E quando enfim retorno das profundas
Esbarro nestas farsas dos mortais,
Disfarces entranhando tais chacais
Mundo em podre eflúvio; logo inundas

Bebendo cada gota liquefeita
Da carne apodrecida, já desfeita...



91


As normas que criaste; agora vãs,
Numa esterilidade se desfazem
E quando esta verdade enfim te trazem
Desenhas falsos quadros e amanhãs.

Orquestras em mentiras o futuro,
Não sabes dos espectros que virão,
No sangue que espalhamos pelo chão,
Esterco produtivo que procuro,

Cadáveres que agora tu empilhas,
Mesclados com escusas esperanças,
Provocam nos demônios festas, danças,
A Terra se inundando em maravilha

Do esgoto se refaz a vida e a sorte,
Negando com firmeza a própria morte...


92


Uma engrenagem vil e sem proveito,
Mesquinhos os anseios deste ser
Que tendo em suas mãos algum poder
Pensando ter na morte, o seu direito,

Insânia que nos toma, não aceito,
E vejo todo dia apodrecer
Imagem que desvenda o anoitecer
Eterno em que deveras me deleito.

Desonra que polui esta Natura
A deusa se mostrara bela e pura,
Porém ao ter gerado a raça humana,

Mal percebia o quanto estava errada,
E agora a cada dia mutilada,
O verme sem pensar, tudo profana...



93

Qual fora um mensageiro destas flores
O gozo da esperança se perdendo,
A sorte não passando de um adendo,
Aonde poderia ver as cores

Embalde mergulhei em vãos amores,
E o dia pouco a pouco anoitecendo,
Mistério em desencanto; não desvendo,
Tampouco caminhando aonde fores

Sabendo que em teus rastros e pegadas,
Somente a imensidão que não aguardas
Negada a cada dia. É sempre assim.

Das doces violetas e verbenas
A morte se moldando enquanto acenas
Matando sem pensar o meu jardim..


94

Minha alma entregue aos gozos da peçonha
Que molda o meu futuro, e me incandesce,
A sorte não se crendo nunca tece
Além do que esperança ainda sonha.

Nos olhos a mortalha me envergonha
E o quadro feito em dor, ternura e prece,
Já não me ouvindo mais, agora esquece
E um tempo em desventura se componha.

Erguido sobre os restos, as carcaças
Dos homens que pensaram liberdade,
Ao fim da leda história, esta inverdade

Mostrada quando em risos esfumaças
E tramas num intenso gargalhar
A morte neste imenso lupanar...


95


Mansão aonde espíritos vagueiam,
Celebram em sanguíneos sacrifícios,
A morte enaltecendo tais ofícios
Os restos que ficaram se rastreiam

Num brinde feito em pútridos fluídos
Os rastros se espalhando pelos quartos,
Esquartejados corpos, novos partos,
Banquetes por demônios divididos.

Diviso em névoa densa os meus escombros,
Escórias do que outrora se fez gente
E tudo numa orgástica vertente
Os erros inda pesam sobre os ombros.

E as sombras me revelam o que fomos,
Da fruta proibida, simples gomos...


96

Espalhando-se ao vento a cabeleira
De um ébano; formada, em raro brilho
Ao ver tanta beleza, maravilho
Minha alma se entregando não se esgueira.

Tu tens em teu olhar a derradeira
Vontade de seguir em manso trilho,
Do amor não mais encontro um empecilho,
Augusta fantasia traz cegueira.

Não posso me furtar a tal desejo
Que enveredando os sonhos, dizem luzes,
Não tendo em meu caminho pedras, urzes,

A vida em plena paz ora prevejo,
E espalhas pela casa o teu perfume,
Falena entorpecida segue o lume...


97


Os vermes me devoram pouco a pouco,
Adentram o intestino e meus pulmões,
Vagando por diversas direções
Matando em própria vida um pobre louco.

A podridão se faz a cada instante,
Meus pés denotam cedo a turva cena,
Nos dedos avançando-se a gangrena
A amputação prevista e debridante.

O quinto pododáctilo direito
Mumificado expõe a realidade,
A morte se aproxima e quando invade,
Sobrevivência é um rumo bem estreito.

Acordo e mal percebo o odor intenso,
E, tosco, num futuro ainda penso...

98

Saudade descorada pela vida,
Na fátua sensação do nada ter,
Aonde pude após evanescer
Sentir a mão deveras já perdida.

Enquanto nos seduz, cruel acida,
E mata a cada instante o teu prazer,
Não vejo nela como amanhecer
Se traz toda a verdade destruída.

Destroços ambulantes; podre e inerme
Sensação que eterniza cada verme
Moldando eternidade do vazio.

Neblina amortalhada que nos segue,
Saudade tendo quem sempre a carregue
Eternizando o inverno amargo e frio...



99

Numa harpa desenhavas melodias
Aonde imaginara em cada acorde,
Um mundo aonde o gozo nos aborde
Diverso que em versos tu dizias.

Magérrima e dantesca criatura
Que em meio aos temporais, se fez profana,
Enlanguescida e tosca soberana
Mortalha te servindo de moldura.

Visões que demoníacas nos tomam,
Caminhos que procuras, espectrais
Na abóboda dos sonhos, seus vitrais,
Mosaicos e arabescos que se assomam.

Quasímodos estúpidos servis,
Reinando sobre a corja; mas gentis...


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Vislumbro em teu olhar a castidade
Na alvíssima beleza em que se expõe
O mundo nos teus braços recompõe
O que perdera outrora em qualidade,

E tendo esta visão que tanto agrade
A sorte num segundo me propõe
O verso que esperança em paz compõe
Negando desde já qualquer saudade.

Ausentes deste olhar, os dissabores,
Espalhas nos canteiros, belas flores
Fulgores deste sol enamorado.

E em ti depois de tanto, eu pude ver
Que a vida guarda em si farto prazer,
Prossigo o meu caminho do teu lado...

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