sábado, 16 de outubro de 2010

01 até 1000

1

A cada aniversário que fazemos
Olhamos mais distante para trás
O barco vai levando os mesmos remos,
Porém novo desgaste já se faz.

Desejo-te, querida que tu sejas
Feliz a cada dia que viveres,
Que as sortes te sorriam benfazejas
Do jeito e da maneira que quiseres.

Uma alegria mostre cada etapa
Vencida nesta longa caminhada,
Ninguém desta viagem, sei que escapa

Mas vale a pena sempre viajar.
Mesmo que te pareça estar cansada,
Valerá sempre a pena o caminhar...


2

A cada amanhecer quero e pelejo
Tentando ser feliz, fazer o quê?
Apenas esperando por você,
Eu sinto que se esvai este desejo.

Se um novo amanhecer; mais claro, almejo,
O meu olhar vazio nada vê.
Nem mesmo na esperança ainda crê.
O gris do céu roubou seu azulejo.

Levando de vencida a caminhada,
Eu tento inutilmente, e já me canso.
Quem dera se tivesse algum remanso

Imagem repetida: o mesmo nada.
Uma alegria, às vezes, mas fortuita
Ao menos a ilusão inda é gratuita...


3

A cada amanhecer eu já te espero
Aguardo a tua voz, ansiosamente,
Em meio a teus carinhos, simplesmente
Encontro o que sonhara e tanto quero.

O amor que às vezes cega, tolo e fero,
Nos braços desta musa, de repente
Sabendo do que anseio, o bem pressente
E nele a cada dia, eu me tempero.

Trafegas no meu peito e me dominas
Com tuas mãos suaves, mansas finas,
Diamantinos ritos que clareiam

Todos os momentos em que o sonho
Além do paraíso que componho,
Enquanto estes prazeres incendeiam...


4

A caça que se faz quando bem quer
Um dia se mostrando em outra senda,
No rosto tão bonito da mulher
Segredo que decerto não desvenda

No quanto amor se entrega sem limites,
Não vejo mais teus rastros pela casa.
Eu peço e necessito que acredites
A chama deste sonho está sem brasa

E morre tão somente em frio intenso,
Vertendo a dor em forma de ilusão.
Parece que o amor é contra-senso
Vazio aumenta a força do tufão.

Não posso te esquecer nem um segundo,
No abismo em solidão eu me aprofundo...


5


A cabeça rodando: álcool, cerveja,
Nos velhos botequins... Tantas verdades...
Mentiras deslavadas? Se deseja
Em todos os momentos, liberdades.

Se eu não vejo; eu não creio. E que assim seja!
Sorrisos escondendo falsidades
Destilando em conhaque tais saudades.
Futuro que não vem, tanto se almeja.

Apenas uma sombra desfilando
Daquilo que passei há tanto tempo...
Amores que se foram, contratempo,

Mas resta uma lembrança, vez em quando,
De toda aquela festa semanal,
Na mesa deste bar, nosso ideal...



6

A brisa matinal vem me tocar
Fazendo no meu rosto uma carícia,
Roçando minha pele devagar,
Com toques tão sutis, uma delícia.

Recebo neste vento o teu carinho
E sinto uma alegria sem igual.
Amor quanto adentrou em meu caminho
Da forma mais suave e natural

Mudou a minha história com certeza
Deixando minha vida bem mais leve
Nas águas deste amor, a natureza
Trazendo a mansidão que já me enleve

E faça de meus olhos sonhadores,
Cativos para sempre dos amores...



7

A brisa chega mansa e vem falar
Do amor que tantas vezes fora um sonho,
O encanto que me trazes e proponho
Tomando a nossa vida devagar.

Deitando sob os braços do luar,
Deixando este passado tão tristonho,
Um verso enaltecendo amor; componho,
E sinto a poesia nos tocar.

De mansinho, teus passos nesta escada,
A porta do meu quarto; sempre aberta,
Promessa de uma mágica alvorada

Um dia em raro sol, beleza pura,
A brisa me avisando num alerta
Que a noite será plena de ternura.



8

A bosta da internet caiu de novo,
Eu quero te falar, mas não consigo.
Estorvo se transforma em desabrigo.
E aqui sem ter ninguém, teimoso chovo.

Não posso te dizer que ainda provo
O quase que jamais se faz amigo.
No fundo desdenhoso eu já nem ligo,
Se tenho ou se não sigo quebrando ovo.

Assando esta batata feita amor,
Não posso mais dizer que enfim tou frito
Se eu quero te falar não sei se grito

Ou deixo este caminho e vou propor
Que ligues para mim, meu celular
Aguarda uma resposta. É só ligar...



9

A bossa do boçal faz lamaçal
Aonde poderia pá e cal
Fazer do meu caminho ritual
Morrendo sem tempero, busco o sal.

Enquanto viajar por outro astral,
O vento se mostrando canibal,
Realça o que eu queria bem ou mal.
Não posso permitir tolo jogral.

Abarco o pensamento e solto a nau
Subindo escadaria em vão degrau,
Degrado o que seria triunfal

Matei tua figura divinal
Escarro em teu cadáver. Meu bornal
Esconde o que seria desigual...


10

A bossa do beócio é ter um sócio
Na parte feminina que lhe cabe.
Juntando uma vontade com seu ócio
A pobre cidadã de tudo sabe

Apenas mal percebe que o beócio
Vagando quer demais antes que acabe
Nem que se der vontade, amada force-o,
Senão pobre infeliz, talvez desabe...

Versões de várias vidas diferentes
São quase repetidas como um todo.
Esgotos não se afastam mais do lodo

Nem deixam perfumar mais a cidade.
Desejos que se fazem tão prementes
Jamais retornarão felicidade...



11

A borboleta voa em liberdade
Sem ter a falsidade da andorinha.
Que migra todo tempo, tem saudade,
Mas mesmo em denso bando, vai sozinha...

Se quer a borboleta companhia
Do triste e amargurado passarinho.
Sabendo que voando todo o dia,
Distante sempre está, mesmo do ninho...

Porém essa andorinha anda tão tonta
Com marcas doloridas, cicatrizes...
Não pense borboleta que ela apronta
Apenas nunca viu tempos felizes...

Mas foge a borboleta na amplidão,
Uma andorinha nunca fez verão!


12


A boca tão voraz que te descobre
Entregue em mil lascívias, languidez.
A pele delicada que me cobre
No contato integral, nossa nudez.
Insensatez profana e divinal,
Desejos se misturam, lambuzados...
No toque mais profundo e sensual
Dois corpos por si mesmos, devorados...
A noite fascinante não termina...
Volúpias não se bastam, querem mais...
O gosto desta boca determina
Que o tempo nunca passe... amor... jamais...
Na letargia mole de nós dois,
Cigarros e carinhos do depois...



13

A boca quer a boca e se reboca
Na toca que se entoca touca e tato
Ministro quando quer a tapioca
Depois de certo tempo é caro prato.

Aparto cada porto que se importa
Na porta dos meus olhos, vagabundo.
Aguando com sabão a moura torta
No quanto em teu retrato náusea abundo.

Se a banda tem dobrado os teus joelhos
Abrandas bandalheiras usuais
Em talhos entalhados meus espelhos
Sem bossas em verdade são boçais.

Basilisco comido no jantar
Repente repentino faz pensar...

14

A boca que vomito é minha lei,
Nos pratos que apodreço, meus remédios...
Verdades que senti, não te direi.
Os olhos , os amores, plenos tédios...

Teus seios semi-expostos, meus assédios...
O monte que me estrumas, esperei.
Cuspo, escatológico, teus prédios.
Se queres, na verdade, nunca amei...

Aliás, meu temor são teus sorrisos...
Os guizos e palhaços andam, cerco.
O verso que te fiz, só serve, esterco.

Os olhos escarrados, ambrosia.
As dores que fingiste, tantos risos...
Lágrimas vão causar hemorragia!


15

A boca que se mostra exploradora
Não sabe de fronteiras quer bem mais,
Meu corpo num desejo que se aflora
Encontra estas carícias sensuais

Que sabem o que querem, sem demora
Fazendo estes carinhos magistrais
Mulher que dos sentidos se assenhora
Percebe como o amor é bom demais.

Matando a minha sede em tua língua
O amor que a gente quer não morre à míngua,
Pois vive com certeza, saciado.

Estou aqui aflito nesta espera
Aguardo pela boca da pantera
Querendo ser inteiro, enfim, beijado...


16

A boca que reboca não me toca
Carrega suas manhas para o fim...
A vida que embrenhei no breu da toca,
Nas noites que mataste dentro em mim...

Recebo as sensações da dura roca,
Quem dera não tivesse tudo assim,
Amor que não me leva, me reboca...
De distantes estrelas donde vim...

Não voltarei jamais de minha senda.
No caminho, lembranças que se aplique
Amor que não me leva, uma moenda...

Não quero nem te peço, jamais fique...
Amor que não me leva, traz a venda...
Quem sabe então fazer um piquenique...


17

A boca que queria micareta
Perneta se fez alho e quer beijar.
Botando toda coisa no lugar
Apenas o luar não me repleta.

Quem dera se eu pudesse ser poeta
Ao menos poderia me entranhar
Sem nada que viesse me estragar,
Comida entre tais coxas, predileta.

Se é tarde o que não veio não retardo
Apenas no verso qual petardo
Um tapa no pescoço da ilusão.

Capacho na verdade nunca fui,
Macaco dentro em mim quando evolui
Mineiramente mata de tesão...


18

A boca que me cospe? A que assim seja
Nas horas que procuro, sempre escapa...
A mão que acaricia dá um tapa,
Quem me maldiz também, louca, deseja...


Quantas vezes, carícia que corteja
Quem me segura, empurra e cai, derrapa
Quando Copacabana finge Lapa.
Se não arranha céu, sempre rasteja...

A rainha se faz de camponesa,
Mal me devora, espera a sobremesa...
Nunca se faz presente, mera ausência

Quando ajoelho pede por clemência...
Mas quando peco, nega o seu perdão
Diz mente desmentindo o coração...


19

A boca que queria micareta
Perneta se fez alho e quer beijar.
Botando toda coisa no lugar
Apenas o luar não me repleta.

Quem dera se eu pudesse ser poeta
Ao menos poderia me entranhar
Sem nada que viesse me estragar,
Comida entre tais coxas, predileta.

Se é tarde o que não veio não retardo
Apenas no verso qual petardo
Um tapa no pescoço da ilusão.

Capacho na verdade nunca fui,
Macaco dentro em mim quando evolui
Mineiramente mata de tesão...
Marcos Loures


20


A boca que reboca não me toca
Carrega suas manhas para o fim...
A vida que embrenhei no breu da toca,
Nas noites que mataste dentro em mim...

Recebo as sensações da dura roca,
Quem dera não tivesse tudo assim,
Amor que não me leva, me reboca...
De distantes estrelas donde vim...

Não voltarei jamais de minha senda.
No caminho, lembranças que se aplique
Amor que não me leva, uma moenda...

Não quero nem te peço, jamais fique...
Amor que não me leva, traz a venda...
Quem sabe então fazer um piquenique...
Marcos Loures


21

A boca que se mostra exploradora
Não sabe de fronteiras quer bem mais,
Meu corpo num desejo que se aflora
Encontra estas carícias sensuais

Que sabem o que querem, sem demora
Fazendo estes carinhos magistrais
Mulher que dos sentidos se assenhora
Percebe como o amor é bom demais.

Matando a minha sede em tua língua
O amor que a gente quer não morre à míngua,
Pois vive com certeza, saciado.

Estou aqui aflito nesta espera
Aguardo pela boca da pantera
Querendo ser inteiro, enfim, beijado...
Marcos Loures



22

A boca que vomito é minha lei,
Nos pratos que apodreço, meus remédios...
Verdades que senti, não te direi.
Os olhos , os amores, plenos tédios...

Teus seios semi-expostos, meus assédios...
O monte que me estrumas, esperei.
Cuspo, escatológico, teus prédios.
Se queres, na verdade, nunca amei...

Aliás, meu temor são teus sorrisos...
Os guizos e palhaços andam, cerco.
O verso que te fiz, só serve, esterco.

Os olhos escarrados, ambrosia.
As dores que fingiste, tantos risos...
Lágrimas vão causar hemorragia!
Marcos Loures


23


A boca quer a boca e se reboca
Na toca que se entoca touca e tato
Ministro quando quer a tapioca
Depois de certo tempo é caro prato.

Aparto cada porto que se importa
Na porta dos meus olhos, vagabundo.
Aguando com sabão a moura torta
No quanto em teu retrato náusea abundo.

Se a banda tem dobrado os teus joelhos
Abrandas bandalheiras usuais
Em talhos entalhados meus espelhos
Sem bossas em verdade são boçais.

Basilisco comido no jantar
Repente repentino faz pensar...



24


A boca tão voraz que te descobre
Entregue em mil lascívias, languidez.
A pele delicada que me cobre
No contato integral, nossa nudez.
Insensatez profana e divinal,
Desejos se misturam, lambuzados...
No toque mais profundo e sensual
Dois corpos por si mesmos, devorados...
A noite fascinante não termina...
Volúpias não se bastam, querem mais...
O gosto desta boca determina
Que o tempo nunca passe... amor... jamais...
Na letargia mole de nós dois,
Cigarros e carinhos do depois...



25

A borboleta voa em liberdade
Sem ter a falsidade da andorinha.
Que migra todo tempo, tem saudade,
Mas mesmo em denso bando, vai sozinha...

Se quer a borboleta companhia
Do triste e amargurado passarinho.
Sabendo que voando todo o dia,
Distante sempre está, mesmo do ninho...

Porém essa andorinha anda tão tonta
Com marcas doloridas, cicatrizes...
Não pense borboleta que ela apronta
Apenas nunca viu tempos felizes...

Mas foge a borboleta na amplidão,
Uma andorinha nunca fez verão!


26

A bossa do beócio é ter um sócio
Na parte feminina que lhe cabe.
Juntando uma vontade com seu ócio
A pobre cidadã de tudo sabe

Apenas mal percebe que o beócio
Vagando quer demais antes que acabe
Nem que se der vontade, amada force-o,
Senão pobre infeliz, talvez desabe...

Versões de várias vidas diferentes
São quase repetidas como um todo.
Esgotos não se afastam mais do lodo

Nem deixam perfumar mais a cidade.
Desejos que se fazem tão prementes
Jamais retornarão felicidade...


27


A bossa do boçal faz lamaçal
Aonde poderia pá e cal
Fazer do meu caminho ritual
Morrendo sem tempero, busco o sal.

Enquanto viajar por outro astral,
O vento se mostrando canibal,
Realça o que eu queria bem ou mal.
Não posso permitir tolo jogral.

Abarco o pensamento e solto a nau
Subindo escadaria em vão degrau,
Degrado o que seria triunfal

Matei tua figura divinal
Escarro em teu cadáver. Meu bornal
Esconde o que seria desigual...
28

A bosta da internet caiu de novo,
Eu quero te falar, mas não consigo.
Estorvo se transforma em desabrigo.
E aqui sem ter ninguém, teimoso chovo.

Não posso te dizer que ainda provo
O quase que jamais se faz amigo.
No fundo desdenhoso eu já nem ligo,
Se tenho ou se não sigo quebrando ovo.

Assando esta batata feita amor,
Não posso mais dizer que enfim tou frito
Se eu quero te falar não sei se grito

Ou deixo este caminho e vou propor
Que ligues para mim, meu celular
Aguarda uma resposta. É só ligar...


29

A brisa chega mansa e vem falar
Do amor que tantas vezes fora um sonho,
O encanto que me trazes e proponho
Tomando a nossa vida devagar.

Deitando sob os braços do luar,
Deixando este passado tão tristonho,
Um verso enaltecendo amor; componho,
E sinto a poesia nos tocar.

De mansinho, teus passos nesta escada,
A porta do meu quarto; sempre aberta,
Promessa de uma mágica alvorada

Um dia em raro sol, beleza pura,
A brisa me avisando num alerta
Que a noite será plena de ternura.
Marcos Loures



30

A brisa matinal vem me tocar
Fazendo no meu rosto uma carícia,
Roçando minha pele devagar,
Com toques tão sutis, uma delícia.

Recebo neste vento o teu carinho
E sinto uma alegria sem igual.
Amor quanto adentrou em meu caminho
Da forma mais suave e natural

Mudou a minha história com certeza
Deixando minha vida bem mais leve
Nas águas deste amor, a natureza
Trazendo a mansidão que já me enleve

E faça de meus olhos sonhadores,
Cativos para sempre dos amores...



31


A cabeça rodando: álcool, cerveja,
Nos velhos botequins... Tantas verdades...
Mentiras deslavadas? Se deseja
Em todos os momentos, liberdades.

Se eu não vejo; eu não creio. E que assim seja!
Sorrisos escondendo falsidades
Destilando em conhaque tais saudades.
Futuro que não vem, tanto se almeja.

Apenas uma sombra desfilando
Daquilo que passei há tanto tempo...
Amores que se foram, contratempo,

Mas resta uma lembrança, vez em quando,
De toda aquela festa semanal,
Na mesa deste bar, nosso ideal...



32

A caça que se faz quando bem quer
Um dia se mostrando em outra senda,
No rosto tão bonito da mulher
Segredo que decerto não desvenda

No quanto amor se entrega sem limites,
Não vejo mais teus rastros pela casa.
Eu peço e necessito que acredites
A chama deste sonho está sem brasa

E morre tão somente em frio intenso,
Vertendo a dor em forma de ilusão.
Parece que o amor é contra-senso
Vazio aumenta a força do tufão.

Não posso te esquecer nem um segundo,
No abismo em solidão eu me aprofundo...


33

A cada amanhecer eu já te espero
Aguardo a tua voz, ansiosamente,
Em meio a teus carinhos, simplesmente
Encontro o que sonhara e tanto quero.

O amor que às vezes cega, tolo e fero,
Nos braços desta musa, de repente
Sabendo do que anseio, o bem pressente
E nele a cada dia, eu me tempero.

Trafegas no meu peito e me dominas
Com tuas mãos suaves, mansas finas,
Diamantinos ritos que clareiam

Todos os momentos em que o sonho
Além do paraíso que componho,
Enquanto estes prazeres incendeiam...
Marcos Loures




34

A cada amanhecer quero e pelejo
Tentando ser feliz, fazer o quê?
Apenas esperando por você,
Eu sinto que se esvai este desejo.

Se um novo amanhecer; mais claro, almejo,
O meu olhar vazio nada vê.
Nem mesmo na esperança ainda crê.
O gris do céu roubou seu azulejo.

Levando de vencida a caminhada,
Eu tento inutilmente, e já me canso.
Quem dera se tivesse algum remanso

Imagem repetida: o mesmo nada.
Uma alegria, às vezes, mas fortuita
Ao menos a ilusão inda é gratuita...
Marcos Loures


35

A cada aniversário eu já percebo
As rugas me tomando, sem disfarce,
De todos os presentes que recebo
Apenas o vazio. Recordar-se

Do quanto fomos livres e não somos,
Beber da nossa doce mocidade,
Os frutos que apodrecem, velhos gomos,
É perceber mais clara a realidade.

Mas mesmo que isto seja tão cruel,
A festa que tu fazes, companheira
Permite que esta vida em carrossel
Transforme em ilusão mais verdadeira

O sentido de toda esta festança,
Um louvor em que acorde uma esperança.
Marcos Loures


36


A cada aniversário que fazemos
Olhamos mais distante para trás
O barco vai levando os mesmos remos,
Porém novo desgaste já se faz.

Desejo-te, querida que tu sejas
Feliz a cada dia que viveres,
Que as sortes te sorriam benfazejas
Do jeito e da maneira que quiseres.

Uma alegria mostre cada etapa
Vencida nesta longa caminhada,
Ninguém desta viagem, sei que escapa

Mas vale a pena sempre viajar.
Mesmo que te pareça estar cansada,
Valerá sempre a pena o caminhar...


37

A cada anoitecer a mesma prece
Pedindo que tu venhas para mim,
Destino caprichoso agora tece
Amor que se percebe forte assim.

Tomando nossos corpos, mesma chama,
Chamando para a noite intensa e maga,
O quanto eu te desejo e já se inflama
Fogaréu que a distância não apaga.

Deitando sobre nós vital beleza
Entorna suavemente uma esperança
Vontade se mantendo agora acesa
Teu rosto não me sai mais da lembrança;

Eu te amo e nunca nego este querer,
Quem dera teus carinhos, receber...


38

A cada instante o sonho é revivido
Em viagens sensíveis, sensuais
Da festa e do banquete comensais
No pão e nos prazer bem dividido.

Do vinho em fartos goles, bem servido
Desejos tão profanos e carnais,
Eu quero desvendar raros florais
Altar em ar profético erigido.

Egrégia sensação em nobre incenso,
No quanto em reais sonhos recompenso
Com fartas emoções a quem me traz

A boca que em deidade me sacia,
Esplêndido cinzel que em alegria
Esculpe a maravilha erguida em paz...
Marcos Loures



39

A cada instante penso mais em ti
Distante de teus olhos, que saudade!
O mundo mais perfeito eu conheci
Nos braços deste amor/felicidade.

O gosto desta boca que senti
Me dando a dimensão desta verdade.
Vontade, meu amor de estar aí.
Contigo eu concebi sinceridade.

Beber de cada gota do sorriso
Que trazes como festa que não pára.
Nos braços deste amor eu me harmonizo

E sinto minha sorte bem mais perto.
Amada minha perla, jóia rara.
Meu peito ao nosso amor, pra sempre aberto...


40

A cada noite imerso em tal saudade,
Eu vivo intensamente: imensa glória.
Retida tua imagem na memória,
Um vento em calmaria já me invade.

E posso imaginar felicidade,
Mudando todo o rumo desta história.
Por mais que a realidade seja inglória,
Tua presença traz tranqüilidade...

Poder guardar nos olhos, nas retinas,
As mãos tão delicadas, belas, finas
Roçando a minha pele, frágeis dedos...

Dizer que fui feliz e não sabia
Talvez pareça até uma heresia,
Saudade faz viver velhos enredos...
Marcos Loures



41

A cada nova estrofe sempre exclama
O coração decerto doentio,
Ao suportar o duro e forte frio
Procura no teu corpo, acesa chama.

Cobrindo minha pele com a lama
Na chuva que anuncia um novo estio,
Não vejo nosso amor mais por um fio,
Sabendo que o carinho já nos chama.

Mergulho cada beijo em tua pele,
A sensação do gozo me compele
A ter o teu amor mais plenamente.

O rumo se extravia, mas retorna
Meu coração de ti nunca se entorna
Ao ver amor tão puro, claramente.
Marcos Loures


42

A cada nova noite um espetáculo
Marcado pela leve transparência,
Das mãos sempre vorazes um tentáculo
Procura com delícias a dolência

Do doce balançar de teus quadris,
Na gula em que voraz eu me vicio,
Orgástica loucura pede bis
Gerando e recriando eterno cio.

Perfaço com loucuras a viagem
Por entre tuas sanhas, belas sendas,
Na nudez encontra tal roupagem
Dois corpos vão atados, sem emendas.

A lua emoldurando da janela
A cena que em delícias se revela...



43

A cada novo beijo em ti, mais penso
No amor que se fez nosso e ninguém nega,
Decerto deste sonho eu me convenço
Enquanto alma deseja e assim se apega

Ao mesmo tempo aberta essa janela
Refestelado sonho me inebria.
O quanto eu te desejo se revela
E invade sem demora, a poesia.

A vida transcorrendo sem entrave,
Imersa em alegrias e prazeres.
Carinho delicado e tão suave
Do jeito e da maneira que quiseres.

Amor em perfeição puro e sincero,
Do mel de tua boca eu sempre quero...
Marcos Loures


44

A cada novo beijo, outra falseta
E assim nós prosseguimos vida afora.
Quem mama, na verdade é porque chora
A sorte não se cansa em pirueta.

O quanto se prepara em nova meta
Menina de meus sonho se assenhora.
Vontade aqui ficou, não vai embora
Por mais que veja a morte pela greta.

Mergulho no vazio e quebro a cara,
A sorte em nossa vida é coisa rara
Prazer então? Apenas ilusão...

Vencido pelo tempo e por cansaço,
Deitando mansamente em teu abraço,
O rio não tem mais inundação...
Marcos Loures



45

A cada novo dia; demonstrada,
Fantástica emoção toma arrebol
Vontade de tocar teu corpo, amada,
Singrando por teus mares, ser teu sol,

Manhã de nosso amor, cedo raiada,
Guiando cada sonho, um girassol.
A lua se entornara na calçada,
Buscando o teu olhar, raro farol

Assim percebo o quanto eu te desejo,
Nosso sonho infinito- amor- almejo
Enquanto a fantasia continua

Vencendo os descaminhos, sigo em frente
Beleza que se quer e que se sente
Ao vislumbrar a deusa, agora nua...
Marcos Loures


46

A cada novo dia se agiganta
O mar em que desejos aprofundo
O brado feito amor já se levanta
Espalha sobre a Terra um bem profundo,

A dor para bem longe, amor espanta,
Mudando a minha sorte num segundo.
Minha alma extasiada, assim se encanta,
Nas águas deste amor, enfim me inundo,

E canto meu futuro venturoso,
Tocado pelo amor em pleno gozo
Cevando um claro tempo deslumbrante.

Vivendo o que me resta em plena paz
Amor que nos domina e satisfaz
Nos olhos da morena provocante...
Marcos Loures


47

A cada novo dia te esperando...
O trem da minha vida não descansa.
Não sei nem se suporto ou até quando
resistirá um resto de esperança.

Ouvindo o trem de ferro vir chegando
o meu olhar, destino, não alcança,
eu penso em tua voz já me chamando;
mas nada, nada e nada... Minha alma cansa.

Mas volta pra estação num novo dia,
refeito do vazio que encontrara.
Ó prenda, meu amor e fantasia;

quem dera se viesses neste trem.
Porém, vai novamente e nunca pára,
restando esta esperança que já vem...



48

A cada novo dia, renovada
Uma esperança feita em juventude.
O sol vem renascendo em alvorada,
Trazendo a cada sonho, uma atitude
Iluminando sempre a mesma estrada,
Embora o calendário sempre mude.

Singrando por espaços, ilusões,
Vivemos deste sonho em mocidade,
Abrindo com carinho, os corações
Alçando sem limites, liberdade.
Sangrando nas loucuras das paixões
Podemos perceber felicidade

Na boca da manhã que nascerá
No sol que eternamente brilhará...
Marcos Loures


49

A cada novo dia, mais contente,
Canteiro em profusão, perfeitas rosas,
Um sonho mais feliz, vida consente,
Distante das outrora temerosas

Tempestas num vazio penitente
Agora em emoções maravilhosas,
Futuro mais suave se pressente
Nas mãos das emoções tão caprichosas

O sentimento ganha da razão
Na força desmedida, uma paixão
Que chega e que nos toma por inteiro,

Nos olhos de quem amo, farto brilho,
Caminho alvissareiro, cedo eu trilho
Na busca deste amor mais verdadeiro.


50

A cada novo passo, decidido;
Por mais que ainda pese o que passei,
Vislumbro nos teus olhos bela grei,
Legando ao sofrimento: adeus, olvido.

Enquanto me defendo se eu agrido
A culpa é do fantasma que criei,
Verdade que jamais desafiei
Escondo-me das trevas na libido.

Abarco os pesadelos e os persigo
E saibas que prefiro estar contigo
Mesmo que a solidão me atraia tanto...

Deixando meus vestígios no caminho,
Ao menos nos delírios de um carinho
Terei ingenuamente um manso manto...


51

A cada novo tempo que começa
Recrio o que perdi não sei aonde.
A história descarrila, vou sem bonde
E tudo vai correndo mais depressa.

Enquanto o dia-a-dia, adia e engessa
Não tendo fantasia que me sonde
Nem saia de mulher que ainda esconde
Percorro o que me resta sem promessa.

Seria o que talvez não fosse mais
Se o mote que tentasse resistisse,
Sem ter braço moreno que cobice

As horas sei que são assim, iguais.
Mas temo o que virá depois da curva,
Enquanto a tarde vem nublada e turva...


52

A cada novo tempo, uma estiagem
Diversa da que tive no passado,
Vigores se perdendo na viagem,
Contemplo o que deixei abandonado.

Mas vejo que talvez uma esperança
Mostrada num festejo, refletindo
O quando vicejei, viva lembrança
De um temeroso, embora lindo.

A cada aniversário uma ansiedade
Da conta que se torna bem menor,
Mas vale pelo sonho e lealdade
Daqueles cujo amor se faz maior.

Desejos de bonança e de alegria
Ajudam a viver a fantasia!



53

a cada novo toque sensual
o nosso corpo em transe, frenesi.
no quanto eu te desejo e sei de ti
o amor se demonstrando sem igual.

não mais um simples gozo casual
um mundo em fantasia, tenho aqui,
beleza em plenitude descobri
num sonho que se torna ritual.

Bem mais do que um momento, muito além,
mergulho nos teus mares e naufrago
bebendo dos prazeres cada trago,

perfeita sincronia eu sei que tem,
nas tramas que traçamos, peito aberto,
aguando de esperanças, o deserto...
Marcos Loures


54

A cada vez que acendo meu cigarro,
Um ex-fumante chega e já reclama.
E tenta não deixar acesa a chama
Reclama até de dentro do meu carro.

Em todo santo dia já me esbarro
Eu não escapo mais da mesma trama.
Até você meu bem! E diz que me ama.
Deixem-me em companhia do pigarro.

O câncer que virá, se der eu trato,
Mais fácil que curar sujeito chato.
Só peço, por favor, me deixe em paz!

A vida? Perderei nem sei se urgente.
Um fumante incomoda muita gente?
Ex-fumante incomoda muito mais!
Marcos Loures


55

A caixa de remédios tá guardada
Escondida num canto desta casa.
Se a fantasia há tempos vai mofada
A mão de uma esperança sempre atrasa.

História porcamente mal contada
Com a verdade nua não se casa.
Porém uma alma tola, apaixonada
Sem ter mais coerência se defasa.

Também pra quê pensar em suicídio?
Amor quando se perde sem dissídio
Assíduas ilusões jogo no lixo.

Não quero a serventia de um remédio,
E mesmo que inda morra aqui de tédio
Prefiro a te buscar no antigo nicho...
Marcos Loures


56



A caravana segue o seu destino
Embora os cães ladrando não se cansem,
Enquanto estas estrelas nos céus dancem
Bebendo dos seus brilhos me ilumino.

A saga continua mesmo que
Em meio a barricadas e armadilhas,
Deslindam-se sobejas maravilhas
Das quais a poesia sabe e crê.

Enquanto cicatrizam-se as feridas,
Por mais que nos pareçam tão perdidas
As estradas nos levam para o cimo.

Ao fundo, este horizonte azulejado
Pra trás ficou o dia malfadado,
Das pedras atiradas? Sequer limo...


57

A carne apodrecida da esperança
Vagando pelas fétidas esquinas
Desilusão atroz quando me alcança
No mesmo instante; os sonhos exterminas.

Antigas lendas vivas na lembrança
Explodem novamente velhas minas.
Nem mesmo a noite tépida me amansa
Cavalgo meu cadáver, suas crinas.

Esgoto as ilusões, redemoinho,
Persisto embora saiba estar sozinho
Catando o que sobrou da fantasia

De ter ao menos paz, tranqüilidade,
A boca escancarada da saudade
Vomita meus pedaços: agonia!
Marcos Loures


58


A carne sendo fraca me permite
Fazer desta amizade, sacanagem,
O quanto te desejo, dinamite
Que explode num prazer feito miragem.

Embora confiança deposite
Fazendo assim um tipo de blindagem,
Na bunda em remelexo já se admite
Vontade de invadir tão bela imagem.

De noite tão distante eu te imagino
Desnuda em minha cama, bem sacana.
Querência se fazendo desumana

Sobrando tão somente em desatino,
O mundo em que sozinho, eu me perturbo
De noite o que fazer? Eu me masturbo...



59

A carta de alforria, eu bem mereço
Depois de falar tanto em nosso amor.
Se o verso prometido num tropeço
Tropeço em teu encanto sedutor

Errando novamente de endereço
Mandei pra moça errada a cara flor
Virando minha casa assim do avesso
Não tenho outra barganha a te propor.

Eu venho oferecer o meu pescoço,
Comendo mais voraz vai sobrar o osso
Perfeito pra lamber, pois dá caldinho

No rosto mais guloso da vampira
Olhar apaixonado sempre gira
Mostrando rara forma de carinho.


60

A carta mais pedida perde o senso
E nega o meu mergulho pelas trevas.
Do mar que outrora vira enorme, imenso,
As hordas de alegria, novas levas.

Seguir este passeio sempre tenso,
Durante o que querias, mas não levas,
Agenciando luzes, não mais penso
No quanto em vão delírio ainda cevas.

São breves os momentos de emoção,
Mas tanto que me marcam, sei eternos.
As luas se escondendo em meus invernos,

O sol ainda queima sobre o chão.
Querendo ao fim da tarde, a lua cheia,
Eu morro sem ter praia nem sereia...


61

A carta que mandei, não recebeste,
Por isso é que tu falas deste jeito,
O amor do qual com fé eu me deleito
Se grito para o Sul vai pro Nordeste...

Invés de falar tchê, cabra da peste
Vagando sem destino errando o leito,
Saindo com furor do mesmo peito
A roupa feita em gala, ele já veste.

Mas saiba que talvez eu volte logo,
E trague o meu carinho verdadeiro.
O amor, velho andarilho, este tropeiro

Nas ondas deste mar se faz em rogo
E mesmo que demore dias, meses,
Enfrentará quaisquer duros reveses...



62



A casa abandonada me trazia,
Criança curiosa não tem medo...
Descobre sem querer, tanto segredo...
A noite me deitava a fantasia...

Volta e meia, pensava que podia,
Tentava, me ocultava, saia cedo
Na entrada de tal casa um arvoredo,
Como fosse, da casa, um bom vigia...

Na casa abandonada, nunca fui,
Os fantasmas habitam o esqueleto...
A roupa que vesti o tempo pui,

Nada mais serviria por completo...
Na casa abandonada, minha vida,
Minha infância feliz, ‘stá escondida...
Marcos Loures



63

A casa abandonada sempre eu via,
Criança curiosa não tem medo;
Descobre sem querer qualquer segredo,
E a noite sempre deita em fantasia,

Volta e meia, pensava que podia,
Mudar de minha história o seu enredo.
Porém já me impedia um arvoredo,
Da casa abandonada, um bom vigia.

Por isso nesta casa eu nunca fui.
Fantasmas haveria no esqueleto?
A roupa da saudade o tempo pui,

Nada mais seria por completo;
Na casa abandonei a minha vida,
Minha infância feliz? Vive escondida..


64

A cascavel balança o seu chocalho
Porém minha mulher não manda aviso,
E mesmo quando encontro algum trabalho
A vaca faz inferno. Perco o siso.

Não sou nem quero ser penduricalho
De alguma liberdade, eu bem preciso.
Por vezes, num tropeço eu me atrapalho,
E finjo que não vejo ou causo riso.

Queria ter do amor algum proveito,
Quando, com a serpente enfim eu deito,
Eu faço dos meus sonhos, meu afã.

Quem dera se eu pudesse e peço à Deus!
Laçar a desgraçada, e num adeus
Mandá-la de presente ao BUTANTÃ..



65

A cena que em delícias se revela...
Dos seios da mulher bela morena
Estende em minha cama a rara tela
Que em gozos e promessas já se acena.

Apenas a nudez que se desfralda
Formando tal cenário inesquecível,
O amor vai sem limites e se esbalda,
Fartura que se mostra além do crível.

Criando fantasias, jogos feitos,
Numa expressão divina e sem pecado,
Vontades e desejos são aceitos
Em cada novo rumo desbravado.

Assim, bisando audazes, nossos coitos,
Galopes que se mostram tão afoitos...



66

A chama da chamada calmaria,
Mais forte que imagina toda gente,
Verdade que supera a fantasia,
Ateia tanto fogo, de repente...

É pleno nevoeiro espanta o dia,
É frio que me queima fosse quente.
Num eclipse total ao meio dia,
Devasta em tais tormentas envolvente...

A chama que se esconde me apavora,
Não posso perceber sua chegada...
Não diz nem quando chega ou vai embora

Disfarça-se de calma mas é brava,
Não nega nem sequer a madrugada,
Vulcânica mas gélida essa lava...
Marcos Loures



67

A chama no meu peito a palpitar
Moldando a minha vida, traz o tom,
Aonde a minha alma a gargalhar
Encontra a vida em festa. Isto é tão bom...

As horas que perdi, abandonadas,
Em meio a vida intensa que escolhi,
Decerto ao esquecê-las, maltratadas,
Previa que teria, amor em ti.

Tu trazes no sorriso, um belo sol,
Que invadindo o meu quarto, traz em glória
A luminosidade de um farol,
Mudando todo o rumo desta história

De amores e tristezas salpicados
Mosaicos em mil cores matizados...


68

A chama que em carinhos convertemos
Felicidade trama; eu sei de cor.
De tantos sofrimentos que tivemos,
Sabemos escolher o bem maior.

Amigos pela vida nós perdemos,
Não posso te dizer qual o melhor,
O barco não caminha sem os remos,
Tampouco existe um canto a se compor

Sem ter nos traços firmes de quem sabe
O quanto desta glória inda nos cabe
Permite que se sinta este poder

De um sonho inesgotável feito em luz,
Nos braços da amizade, amor reluz
Trazendo à nossa vida, paz, prazer...
Marcos Loures



69

A chama que me chama em tramas ganha
O gosto deste beijo em minha boca,
A vida se mostrando em nossa sanha
Assanha esta vontade quase louca

De ter o teu desejo junto ao meu
Untando nossas peles com luxúria
Sabendo que bebendo amor se deu
Fornalha que se espalha entranha a fúria.

Procuro o teu perfume e lume eu vejo
Sentindo a tua pele junto à minha.
Na fonte inesgotável que eu almejo
Debaixo dos lençóis amor se aninha

E veste de nudez nossa vontade,
Até que chegue enfim, saciedade...



70

A chama que se acende toda noite,
Fazendo desta cama uma fogueira,
Das bocas e das línguas um açoite,
Na flamejante lua feiticeira.

A par desta vontade que nos chama
Pra festa interminável, tão gostosa,
A fúria em vendaval que agora inflama
Preâmbulos da luz maravilhosa

Estrelas se derramam sobre nós,
Fronteiras desconheço totalmente,
O amor um amo ardente como algoz
Cravando em nossa carne um gozo ardente

Amar sem ter limites, nem juízo
Abrindo este portal, diz paraíso...
Marcos Loures


71

A chave do sucesso é a fantasia
E nela, as mais diversas esperanças,
Olhando para trás vejo crianças
Rompendo em liberdade manhã, dia.

Felicidade, amiga, tanto urgia,
Tramando com certeza tais mudanças,
Enquanto mansamente, em paz, avanças,
Espalhas sobre todos, poesia.

Gravando cada cena em minha mente,
Palavras que propagas tenramente,
Garantem complacência e mansidão.

Servindo aos teus propósitos, meus versos,
Dos olhos sofredores, tão diversos,
Miram; lacrimejantes, a amplidão...


72

A chuva cai... Recebo o teu carinho triste De quem amou demais e não teve perdão. De quem sabia que, depois, a solidãoOlívia
Olívia: Azeitona, oliveira


A chuva cai... Recebo o teu carinho triste
De quem amou demais e não teve perdão.
De quem sabia que, depois, a solidão
Se instala e toma cada espaço que inda existe.

Eu estou aqui. Sei que nada disso importa
Para quem sofreu e não sabe disfarçar.
Eu posso prometer a terra e o luar,
Tua alegria está atrás daquela porta.

Eu bem que tento embora eu saiba não consiga
Trazer uma esperança. Espero que prossiga
Sem esse sofrimento inútil que domina.

O meu verso calado, o peito está cansado
De saber que não tens o amor tão esperado.
Minha esperança, Olívia, a cor esmeraldina...
Marcos Loures


73

A chuva companheira tão amada,
Não deixa de cair sobre o telhado.
A noite forasteira está tragada
Pelos meus olhos tristes, vou calado.

Não quero mais saudades, dores, nada...
Eu trago meus detentos, sou teu gado
Na sombra maldição que foi gerada
No desamor pintaste nosso fado!

Me desculpe, pretendo que não chores...
Nosso beijo sombrio, embriagado.
No canto que temias nossa dor...

A chuva cai feroz, nunca implores
Pelo perdão que sempre foi negado.
Embalde queres luz. Mas peço amor...


74

A chuva dentro da alma vem ligeira
Molhando os olhos tristes da morena.
A luz da nossa lua feiticeira
Nascendo atrás do monte já me acena.

A noite que virá em claridade,
Promete uma beleza a polvilhar
Os olhos de quem quer felicidade
Deitada sob os raios do luar.

Os pássaros da noite vêm chegando
Mistérios entre trevas, vaga-lumes
O vento da saudade me tocando
Dama da noite entorna os seus perfumes...

Dedilho uma viola sertaneja
Amor em minhas veias já poreja...
Marcos Loures


75

A chuva disparando nesta tarde
Inunda tantas ruas, tantos sonhos...
A cor do meu amor, decerto encarde,
Meus olhos nessa chuva estão medonhos!

São olhos tão perdidos, de quimera...
Olhando sempre a esmo, sem sentido.
A morte deste amor em primavera
Deixando uma saudade, triste olvido...

Mas sei que a tempestade passará
Trazendo uma bonança em alegria.
O sol do novo dia me trará
Uma explosão de cores, fantasia...

A chuva, quando forte, faz limpeza
Minha alma renovada quer clareza!



76

A chuva dos meus olhos sempre cai
Fazendo alagação no teu barraco,
O amor quase imbecil por ser tão fraco
Aos poucos sem juízo já se esvai.

Facínora que um dia foi meu par,
Um brâmane se torna um beduíno.
Um sentimento frágil, genuíno
Não sabe nem sequer anteparar.

Paragens coletadas na memória,
O risco poluindo minha história
Não deixa quase nada pra depois.

Seria o que talvez pudesse crer
Aquele que nasceu só pra morrer
Nos lagos inventados por nós dois...
Marcos Loures



77


A chuva em teimosia, sempre cai
Penetrando a minha alma, transtornando.
O sonho pouco a pouco desabando,
Até a fantasia já me trai.

Meus olhos procurando em Adonai
A paz anunciada. Tropeçando,
Eu sinto que as tristezas vêm em bando.
Nem mesmo a poesia me distrai.

Do quanto imaginara sou resumo,
Os erros na verdade, eu sempre assumo,
Mas nada mais me impele a prosseguir.

Talvez na morte eu tenha a recompensa.
Incenso se perdendo em noite imensa
O pouco que inda resta a se esvair...
Marcos Loures



78

A chuva em transparência te tocando
Deixando a sombra bela de teus seios,
Colado em tua pele, desnudando
Mostrando a maravilha, devaneios.

Sentindo o teu perfume, teus enleios
Os olhos do prazer já derramando
Procuro te tocar, diversos meios,
Distante. Eu te pergunto e não sei quando

Eu poderei tocar tua nudez
Entregue totalmente, louco e teso,
Dançando meu delírio em fogo aceso

Aguardo tão somente pela vez
De ter a nossa noite desejada,
Em louca tempestade demarcada...
Marcos Loures



79

A chuva que caía a noite inteira, amor
Agora se dispersa e o sol já vem surgindo
Trazendo pra manhã um brilho encantador,
Promessa de outro dia imensamente lindo.

Amar e ser feliz, entregue a tal torpor.
A dor já se acabou em chuva se esvaindo
Da tristeza em desamor; felicidade vindo
Ternura em teu sorriso, um lume sedutor...

Esqueça o temporal, a lua nascerá
Em belo plenilúnio estrelas voltarão.
A sorte renascendo, eu sinto desde já

A chama da paixão intensa e sem limites,
E eu peço, minha amada, não tema nada não,
No amor em liberdade, espero que acredites...
Marcos Loures



80

A chuva que caindo dos meus olhos,
Expressa uma saudade de um olhar
Que quando foi embora, mil abrolhos
Plantou no jardim. Mal cultivar.

As lágrimas que caem, diamantinas,
Qual prisma sob o sol em sete cores
Permitem uma miragem cristalina
Trazendo em esperança outros amores.

Embora tão cansado desta espera,
Ao ver os olhos mansos da morena
Promessa de uma nova primavera
Num belo amanhecer sei que se acena

No límpido cenário que se borda,
O peito que hibernara, agora, acorda...
Marcos Loures


81

A chuva que caiu naquela serra
Caiu dentro de um peito sonhador
Molhando, com carinho toda a terra,
Matando, no meu peito, um grande amor...

Você fugiu depressa e me deixou,
Sozinho nesta estrada tão comprida
O tempo foi passando e só restou
Tristeza dolorida em minha vida...

Mas hoje que eu lhe vejo tão distante
E sinto no meu peito cicatriz
De novo vou querer por um instante
Que seja, novamente ser feliz...

Agora ela já veio, eu esperava;
A chuva que hoje cai, tristezas lava...


82

A chuva que caiu ontem à noite
Batendo na janela do meu quarto,
Por mais que a solidão ainda acoite,
O sonho de um amor; jamais descarto.

Embora tantas vezes andei farto,
Da dor que maltratando feito açoite
Nas tramas deste encanto, agora eu parto,
Querendo muito além de um vão pernoite.

O amor sabendo disto, numa espreita,
Prepara outra tocaia. O que fazer?
Minha alma de pensar, já se deleita

Não quero mais sentir este ar tão denso,
Quem sabe ainda posso amanhecer
Ao lado deste sol divino, imenso...
Marcos Loures



83

A chuva que caiu ontem de tarde
Deixando a terra assim, toda molhada,
Enquanto o sol de agora queima e arde,
Promete a noite enfim tão estrelada.

A lua que virá decerto cheia,
Deitando sobre ti belos clarões
No fogo da vontade que incendeia,
Viveremos então, mil emoções.

Asseclas dos desejos, caminheiros
Em busca da real felicidade,
De todos os prazeres, prisioneiros
No gozo da alegria, a liberdade.

E nada impedirá nossos momentos,
Distantes dos temores e tormentos...
Marcos Loures



84

A chuva que, caindo esfria tudo,
Alaga de saudade o coração.
Distante de teus olhos, fico mudo.
Tomado pela dor da solidão...

Porém uma esperança vem, contudo,
Em forma de desejo e de ilusão...
Que sabe se contigo, amor eu mudo
E as enxurradas sejam de verão...

Poder tocar depois da tempestade
Teu corpo, uma bonança sem receios...
Nos devaneios; vôos de verdade

Chegando no teu quarto de mansinho,
Deitar minha cabeça nos teus seios,
Aquecendo esta tarde com carinho...



85

A chuva salpicando, ouvi chamar teu nome...
Pretendo conhecer tuas farsas, enganos...
Vou devagar, sofrendo, o mundo inteiro some...
Ninguém quer mais saber de todos os meus planos...

Estrelas percorrendo, a tristeza consome
Não deixa nem restar sequer sombra de panos.
A noite me trazendo a vigorosa fome.
Os amores, por certo irão morrer tempranos...

Procuro por teu canto, a sombra não ecoa...
Cascalho, o que me resta, a festa terminou...
A minha asa esquecida, inválida não voa..

A noite que se acaba aguarda novo dia...
Um pássaro sem ninho aqui, quieto, ficou...
Não cantarei jamais nosso amor: fantasia...
Marcos Loures



86

A chuva te molhando, as formas sensuais
Aos poucos me tomando este desejo imenso
De ter tua nudez, divinas catedrais
Amor insensatez, perdendo todo o senso.

Teu corpo – um manso cais, aonde ir aportando
Prazeres sem iguais. O tempo inteiro penso
No amor que a gente fez. O fogo me tomando
Querendo-te outra vez; em ti me recompenso.

Amor, pura delícia, matando a lucidez,
Um corpo, uma carícia... E tudo recomeça.
Reflete imensidade a beleza da tez

Total felicidade, amor que não tem pressa,
Num toque de malícia, além do que tu vês
Além da eternidade, amor já se confessa...

Tentei fazer um soneto em alexandrino com rimas encadeadas na sexta e na décima segunda, espero que tenhas gostado.
te agradeceria se comentasses. abraços marcos


87


A chuva vai caindo devagar,
Batendo na janela e em cada pingo
Vontade de contigo, amada estar,
Assim da solidão, cruel, me vingo...

Orvalhos que deixaste em minha cama,
Molhando de prazeres meus desejos.
O vento que teu nome ainda chama
Fazendo da esperança bons cortejos.

Anseio cada seio em minha mão,
Roçando o teu pescoço em arrepios.
A chuva, quem me dera, um furacão,
Em explosões fantásticas, os cios

Garantem cada orgasmo, cada gozo,
Delírios num cenário esplendoroso!
Marcos Loures


88

A chuva vai caindo e traz teu rosto
Em todos os lugares, eu te vejo,
Meu mundo está desnudo, estou exposto,
Às tramas tão banais deste desejo...

Procuro me sentar, cadê encosto?
A boca está sedenta do teu beijo,
O sol qual esperança morre, posto;
Nublando todo o céu, finda azulejo...

A chuva recomeça nos meus olhos,
Em gotas que se escorrem deste olhar.
As dores me cegando, são antolhos,

A vida vai mudando pouco a pouco,
O mundo num eterno transformar
Só esta uma saudade... E eu... Tão louco...



89




A chuva vai caindo lentamente
Molhando toda a terra, devagar,
Meu coração viaja de repente
Até que possa enfim já te encontrar.

Pensando nos teus lábios, beijo quente,
Olhando tão sozinho pro luar,
Carinhos que perdi, amor da gente
Jamais esquecerei. Vou te buscar

Em meio a tanta estrela sei que estás
Voando tão distante, em noite fria,
Estrela que deixei, meu astro guia,

A chuva, esta saudade, então me traz.
Nas gotas que desabam sobre mim,
Molhando o nosso amor, que eu sei sem fim...



90


A chuva vai caindo no telhado,
Chamando para a cama, o meu amor,
Eu sei o quanto estou apaixonado,
Só quero, neste frio, o teu calor...

Preciso te encontrar, minha menina,
Morena doce flor do meu desejo.
Nossa noite, louca, não termina,
Apenas recomeça em cada beijo...

O nosso amor, sincero e tão infindo,
Nos arrepia sempre num prazer.
Amar-te! O coração batendo lindo
Buscando o teu carinho pra viver...

Meu peito, em sobressaltos, vai vivendo;
Sem teu amor, melhor eu ir morrendo...



91

A chuva vai caindo no telhado,
Molhando toda a terra, meu quintal...
Vontade de te ter aqui do lado...
Morena, tão bonita e sensual.

Ao ver o teu retrato emoldurado,
Sorriso belo e franco, natural,
Meu coração batendo, disparado,
Aguando essa saudade sem igual..

Morena delicada, amor sincero,
A noite te esperando passa lenta...
Tu és o que desejo, o que mais quero,

Paixão que nos tomou, não cessa mais.
Ao mesmo tempo é suave e violenta,
Eu te amo, meu amor... assim... demais!



92

A chuva vai caindo o tempo inteiro,
Em gotas lagrimadas da agonia.
Uma esperança em mim, cedo morria,
No sacrifício triste de um cordeiro.

Amor que desenhara derradeiro,
Distante do meu quarto adormecia,
A voz do vento como que dizia
Amor não voltará; irás primeiro...

Em luta violenta, a natureza,
Nos raios rebrilhando com beleza
Formava vaga-lumes no meu céu.

Surgiste já trazendo estrelas belas,
Da dura solidão em frágeis velas,
O amor se refazendo, em alvo véu...



93

A chuva vem caindo mansamente,
Beijando toda a terra, acende o cio.
Brotando nova vida da semente,
Recomeçando o tempo, novo estio...

A paisagem muda totalmente,
Já não parece o campo mais vazio,
O cheiro deste mato, de repente,
Transformação divina em novo fio

De esperança de vida sobre a terra,
Reflexo tão profundo deste amor
Que a vida, por si só, traz e se encerra

No mago sentimento que se fez
Nas mãos do nosso amado Criador,
Que o homem por desleixo já desfez...
94


A chuva vem chegando devagar,
Te espero em nossa casa... o tempo voa...
Vontade de te ter e me entregar...
A vida do teu lado é sempre boa;
A brisa que se chega lá do mar;
O vento em tua voz, meu peito ecoa...

Total ansiedade me tomando,
Aos poucos te percebo bem mais perto...
Lá fora azul do céu, mesmo nublando,
Uma esperança traz o tempo aberto.
A chuva que virá, se aproximando,
Garante esse alagar em meu deserto...

Num aguaceiro lindo de emoção,
Molhando nosso quarto de paixão...


95

A chuva; a tempestade, em toda a gente
Num frêmito terrível sempre tem
Sabor de uma saudade de outro alguém
Que há muito já se foi, estando ausente.

Parece que num átimo pressente
A solidão eterna, sem ninguém,
Chamado doloroso de um Além,
De um vazio constante e mais presente.

A paz que derradeira, não mais creio,
Distante do que fora um ideal
Mostrando uma agonia que receio.

Na chuva necessária, a brotação,
Refaz-se toda a vida, num jogral
Brincando com meu louco coração...
Marcos Loures



96

A cíclica esperança natimorta,
Implícitas verdades sonegadas.
A lâmina afiada que nos corta,
As bocas quando em fome desdentadas.

O velho continente que se vende
E troca esta pelagem tão imunda,
Cadáveres de mártires, de Allende
Enquanto a mão senil já se aprofunda.

Nerudas e Buarques, os Guevaras,
Meninos destroçados por canhões,
Dos sonhos arrancados, pelotões,

As marcas das torturas, paus de araras.
A velha ideologia aposentada
Jogada no porão ou sob a escada...



97

A claridade toma toda a grei
Desejos que encontrei; agora tantos,
A lua é benfazeja, disso eu sei,
E dela amor recebe seus encantos,

Nos mares desta lua eu mergulhei,
Às vezes afogando duros prantos.
Por tantas vezes, saiba, eu te amei,
Olhando para a lua em belos mantos.

Embora um cavaleiro e seu alforje
Roubou-a num instante: velho Jorge
Tornando bem mais clara esta amplidão,

E tendo dos teus olhos farto brilho,
A cada novo passo, amor eu trilho,
Vibrando bem mais forte, o coração...
Marcos Loures



98

A coca quando cola coca cola
O karma quando o lama no nirvana
A lama que se trama não se engana
E faz deste remendo medo escola

O pé na lama chama e tanto atola
Que vaga sem ter vaga e se explana
A fome que não come não se esgana
E o resto sem rastilho tudo empola

O pântano se espanta com Brasília
O mundo se remenda sem presilha
No seio tão preciso da morena.

Asseio com licor depois é cama
O fogo que refoga a velha chama
E sempre que quiser sem dura pena.
Marcos Loures


99


A corda se arrebenta para o fraco
E quase sempre traz uma lambada,
Nas costas da gentalha malfadada,
Jogando o pobre assim para o buraco

Da vida eu desejava mais que um naco
Porém já não me sobra quase nada
Senão a boca torta e desdentada,
Na dura caminhada enfim me empaco.

Pacotes mais pacotes, grana some,
Um velho vira-latas se virando,
Andando solitário busco um bando

E o que resta, a vida vem e come.
Malando que é malandro, deputando
E a gente do outro lado passa fome...



100

A corja vende amor, rouba o perdão
Nos bancos das Igrejas, tribunais
Abutre se disfarça em vendilhão
Engorda a súcia cada vez bem mais.

Quem dera se eu tivesse o mesmo açoite
Que um dia o Bom Judeu usou sem dó,
Talvez ainda pudesse em plena noite
Mostrar o amanhecer, dourar o pó

Do qual nós fomos feitos, e voltamos
Depois da caminhada sobre a Terra,
Cuspindo nos venais e cruéis amos
Sentindo o puro amor que assim se encerra

Nos olhos de um amigo em cruz, liberto,
Aguando em esperanças o deserto...


101

A cruz abandonada no caminho
Traduz a sorte triste da paixão.
Não quero a sensação de estar sozinho,
Por isso risco trilhas, novo chão...

Quem fora tempestade no sertão,
A dona dos meus olhos, sem carinho...
Razão de vida mata o coração
Que teima... Vai morrendo, passarinho...

Esta cruz foi fincada por alguém
Que nunca poderia imaginar
Que simbolizaria o nosso bem...

Agora, novo sonho, novo mar...
Cansado de na vida ir sem ninguém,
Embarco em novo amor... Vou ao luar...



102

A cruz abandonada no caminho,
Traduz a sorte; morte sem perdão.
Quem passa e nem percebe, vai sozinho,
Riscando pelas trilhas, novo chão.

Mal sabe que viveu, nesse sertão,
A dona dos meus olhos, meu carinho,
Razão de vida, pobre coração.
Que teima , vai batendo, passarinho...

Essa cruz foi fincada por alguém,
Que nunca poderia imaginar;
Que ela também fora meu triste bem.

Mas, meu Deus, nunca posso revelar,
Nem a Ti, nem sequer mais a ninguém,
Esse amor consagrado no luar...

103

A cruz que carregamos dia-a-dia
Na angústia rotineira, nos permite
Saber qual é por certo o meu limite
Porém, a resistência, aos poucos, cria.

Uma alma que não sofre é tão vazia,
Por isso, a dor, amigo não evite.
O sol após a chuva, que olhar fite
A estrela que virá comanda e guia

Aquele que percebe que a beleza
Se faz do lacrimar e do tormento,
A força pra vencer a correnteza

Nos braços do sofrido remador,
A luz que surgirá no firmamento
Trará a paz e o alento ao sofredor...



104

A culpa é de quem não teve perdão
Sabendo disso procurei abrigo
Nos olhos mansos de um amor amigo
Que traga sempre um verso em redenção.

Contigo, o medo; um sentimento em vão,
Jamais trará ao pleno amor perigo.
Demonstração do que em palavras digo
Num turbilhão de chama em paz, vulcão.

Há tanto tempo eu perseguia o riso
Insensatez que profanou o siso
Negando sempre o que busquei em méis

Da calmaria que nos mostra o cais;
Embora audazes e jamais formais,
Nós somos os retratos mais fiéis
Marcos Loures



105

Da culpa; não mais fujas, ela é nossa,
Omissos e idiotas, vendilhões
Das almas em que as velhas podridões
Exalam este perfume que me acossa.

No sangue que escorrendo, já se empoça,
Das fétidas e podres multidões
Eu vejo retratados meus grilhões,
Enquanto a fantasia, tola, adoça...

Não posso mais fugir da realidade,
Omisso! Sou omisso! Sim, eu sou.
A minha mão jamais esfaqueou,

Porém ao vomitar felicidade
Fechando a porta a todos que padecem
Os meus dedos também logo apodrecem...


106

A cúmplice perfeita que encontrei
Irmãos nos mesmos sonhos esquecidos.
Reinados tão distantes, nossa lei
Tocando nas feridas dos vencidos.

Inglórias que tivemos e sangrei
Nos plasmas derramados convertidos
Em larvas canibais. Mergulharei
Nos poços que pensamos já perdidos

E deles beberei espuma e ódio
Nos louros da vitória em cada pódio
Açoda este cadáver insepulto

Fazendo da mortalha nosso culto,
Estigma que trazemos, podridões
Irmanam nossos lodos, corações...
Marcos Loures



107

A dádiva suprema esboçada na dor
Permite que se vença o medo, os dissabores
Um velho caminheiro irá sempre propor
Caminho conhecido envolto em belas flores

Porém ao perceber as garras do rancor
Mudará, num segundo o céu em novas cores
Na certeza que irei meu mundo recompor
O olhar cego e vazio em meio aos estupores.

Mas sequer o rumo encontro ao fim do dia,
Enfrentando o temor de velhas tempestades
Esboço algum sorriso imerso em ironia

Mantendo nos meus pés as antigas correntes
Da noite sinto vir em falsas claridades
As sombras do meu sonho, algozes penitentes...
Marcos Loures



108

A dama da cidade andando nua
Tomando em meu desejo, tanta luz,
Num sonho mais profundo reproduz
A sorte que eu queria e continua.

Em festas a minha alma assim flutua
Roubando todo o gozo que me induz
A ter tão inclemente e dura cruz
Verdade que se mostra nua e crua.

A dama da cidade não disfarça;
Dum desejo imenso, uma comparsa,
Que faz de todo o sonho uma loucura.

Nas bocas que osculava, sem perdão,
Uma ave aprisionando o coração
De quem na sedução, louco; a procura...



109

A dama de vermelho, o cabaré
As noites entranhadas mil desejos!
O cheiro inebriante do café,
Minhas mãos percorrendo, peço beijos...

Beijos que sonhei fossem sinceros,
Da dama apaixonante desta noite...
Amores que julguei não fossem feros,
Transformam-se, venais, cruel açoite!

A dama de vermelho, sedutora...
Vestido transparente, belos seios...
A noite que passei, me revigora,

Na espera cruel, os meus anseios...
A dama de vermelho, solidão....
Nas danças, cabaré, meu coração!
Marcos Loures



110


A dama em seu castelo, desejando
Que venha um cavaleiro em noite plena,
Nas mãos a lança imensa agora acena
Com um futuro manso, calmo e brando

Aos poucos em tristezas se entornando
A dura realidade volta à cena
Matando esta ilusão, doce e serena,
O dia-a-dia amargo retornando.


A moça solitária no bordel,
Contando tanta estrela, em seu corcel
Cavalga pelo espaço sideral.

O santo que sonhara, nunca veio,
Apenas nos seus olhos o receio
Transborda a fantasia em árduo sal...
Marcos Loures


111



A dama imaginária que encontrara
Em sonhos, iludido, jamais vem.
Qual fora uma emoção singela e rara
Transporta um sentimento que não tem.

A dama imaginária é fantasia
De quem navega só, faz tanto tempo.
A noite que me engana não traria
Amor, já me causando contratempo.

Ao vê-la assim formosa, nada fala.
Apenas me cerceia e me domina,
Nudez invade a casa, o quarto, a sala,
E aos poucos, mansamente me alucina...

O medo de perdê-la me entorpece,
E rogo sua volta em cada prece...
Marcos Loures



112

A decadência bate em minha porta...
Não me restando luzes, ando cego.
Minha esperança luta, mas vai morta.
As dores do passado inda carrego.

Os tempos já são outros... Quem se importa?
As mãos tão calejadas. eu me entrego.
O resto que desaba, sangra, corta...
As lutas que perdi, embalde, nego!

A decadência serve-se do resto,
Não tenho a lucidez para enfrentar
A morte. Companheira a quem empresto

O que sobrou dos raios do luar!
A mão vai descrevendo em simples gesto
a sombra do que fora tanto amar...



113

A Deus com emoção, tanta alegria,
Eu agradeço, em preces, nosso amor.
Que trouxe tão depressa este pendor
A quem morria só, dura agonia.

Além do que bem sei, esperaria,
Um coração tão triste e sonhador,
Cansado de penar, um sofredor,
Na espreita pela luz de um novo dia.

No dia em que falamos tanto disso,
Do amor de namorados sonhadores,
Trazendo para ti milhões de flores,

Refaço o sentimento em brilho e viço
E canto sem parar amor sincero,
O tudo que desejo, o bem que eu quero...
Marcos Loures


114

A Deus, eu agradeço cada dia;
A força e a sensação de ser feliz.
Sabendo ser fugaz uma alegria,
Eu sinto como é bom ser aprendiz.

Não temo sua ira nem vingança
Meu Deus é do perdão e pleno amor.
A mão abençoada sempre alcança
Quem sabe que viver já é louvor.

Eu creio neste amor em plenitude,
Eu creio na esperança mais singela;
Viver felicidade é atitude,
A paz, quando cultivas, se revela...

Te agradeço Senhor, a liberdade
A de, por Ti, sentir, uma amizade!


115


A deusa alabastrina em tramas lúbricas
Enlanguescente imagem que me entranha.
Das horas que vivi, outrora, lúcidas
Mostrando a realidade tão tacanha,

Sorrisos de menina em poses lúdicas
Mudando a direção de minha sanha.
Desejos e vontades, chamas túrgidas
Desnuda maravilha que me assanha.

Os lábios vasculhando cada ponto
Sem tempo de partida ou de chegada,
Adentro em maravilha a madrugada,

A raríssima aurora, agora apronto
E sinto o sol chegando em nosso quarto,
Deitado, extasiado, manso e farto...



116


A deusa dos amores, Afrodite,
Derrama sobre nós, tantos desejos;
Fazendo que; no amor, eu acredite;
Carinhos, mansidão, nos nossos beijos...

Na rosa que ofereço; meus amores.
Perfumes delicados, meu jardim...
Os templos dedicados, amor, flores;
Exprimem toda a luz que existe assim...

Eros e suas flechas; sobrevoa,
Mirando o coração, me aprisionou.
O canto deste Amor, no peito ecoa,
Ao mesmo tempo em que me libertou...

Vivendo, ao mesmo tempo, espinho e flor;
Cativo e senhorio deste amor.


117

A deusa que se entrega bela e nua,
Aos gozos e prazeres desejados
Estrela que me chama e que flutua
Em todos os momentos mais safados.
A deusa se emoldura e traz a lua,
Deixando nossos corpos prateados...

A deusa se mostrando mais sacana,
Abrindo os teus portais umedecidos,
Rainha deslumbrante e soberana,
Os gozos igualmente divididos,
Em cunilíngua, a deusa feita insana,
Oferecendo os lábios repartidos

Da gruta feita fonte em Vênus monte,
Moldando meu orgástico horizonte...




118

O quanto mais queria ser feliz
Ousando noutro instante, de repente
O passo onde deveras se apresente
Traduz o que deveras sempre quis.

Marcando cada passo com tal giz
A vida se apresenta plenamente
E o tanto quanto quero a vida sente
Gerando dentro da alma a cicatriz

Infaustos são comuns no dia a dia,
E quando na verdade eu poderia
Ousar noutro momento e crer na sorte

Desditas costumeiras de quem ama
A sorte não poupando qualquer drama
Aos poucos nega ao sonho cada aporte.

119



A deusa se encantou com a morena
Mais bela que deus Júpiter criou;
Beleza sem igual quando me acena
A minha fortaleza derrubou,

Vencido sem quer sequer batalha,
Entrego-me aos teus braços, bela flor;
Perfume que domina enquanto espalha
Promessas divinais de tanto amor...

Olhando, no cerrado, tal canteiro,
Um templo se prepara pra Cupido,
Neste conto de fadas verdadeiro,
Remédio para um peito desvalido

Que sofre sem poder a flor cheirar,
E deixa-se, num êxtase levar...

120



A deusa seminua em fogo e riso
De constelar beleza rara e imensa
Enquanto em seus delírios já se adensa
Semeia; paulatina, o Paraíso...

Efêmera loucura sem aviso
Fazendo do prazer a recompensa
Que numa absurda cena, mansa e intensa
Explode-se em cristais, luz e granizo.

E nua esta fantástica miragem
Perfaz ao infinito esta viagem
E, orgástica, fecunda e se engravida

Numa partenogênese sem par.
Ao mesmo tempo céu, mar e luar
Numa explosão fantástica da vida...

121


A deusa semi-nua qual bacante
Orgástica sereia que insinua
A fome que se mata num instante
Na divindade rara, bela e nua,

Sátiro em tropel vai galopante
E a sílfide real, ele cultua
Tocado pelo fogo deslumbrante
Chegando ao paraíso, invado a lua.

E tanjo meus desejos mais audazes,
Recebo os teus carinhos tão vorazes,
Segredos que se demonstras sem sarcasmo.

Cedendo à chama intensa amor em brasa
Desfruto de teu corpo, minha casa,
Reflito em tua carne cada orgasmo...
Marcos Loures


122

A direita devora criancinhas,
A velha seborreica tão obesa
Fazendo da criança sua presa
Cobrando por arcaicas “lembrancinhas”.

Burguesas fedorentas e galinhas
Cadáveres desnudos sobre a mesa,
Nas quermesses vendendo cada presa
Beneméritas faces das fuinhas.

A roupa démodé, bom donativo,
Mostrando um ar deveras mais altivo
Parece que se veste assim de santa.

As filhas nos motéis de cinco estrelas
Com outros burguesinhos. Sacripanta
Figura repetida em podres telas...
Marcos Loures


123


A distância entre amigos não existe
Tampouco ausência cause algum abalo,
Amizade decerto já resiste
Pois sei, amigo sempre onde encontrá-lo.

Amigo de verdade não desiste,
Por isso esta certeza de eu amá-lo,
Quem tem um bom amigo, mesmo triste,
Pode contar com mão a consolá-lo.

Eu sei que este caminho é complicado,
Uma escultura feita com carinho,
Jardim tão bem florido e bem cuidado

Uma amizade consta de alegria,
Ouvir e dar abrigo, rumo e ninho,
Nos vôos desta vida... Em harmonia...


124

A distância, senhora do meu fado,
Machuca, destrutiva, dor horrível!
Meu pranto se imiscui calando o brado...
Na noite desumana, é tão terrível...

Melancolicamente, meu recado...
De todas as maneiras, perceptível,
Um sonho se esgarçando derrotado;
Não posso mais viver tal dor incrível!

Retrovisor me mostra essa poeira...
Acérrima, profunda dor mortal,
Um karma a me tomar, rasga a bandeira.

A morte incandescente já lateja,
Cortinas decerrando. Ato final,
A morte benfazeja enfim me beija...
Marcos Loures


125


A divina presença da verdade
Reflete nos meus versos qual navalha...
Um cego procurando claridade,
A morte, num segundo, tudo atalha.

Nas plagas mais distantes, na cidade,
O gesto que maltrata me agasalha.
A fome que sacias, cedo ou tarde,
Um canto universal, o vento espalha...

Nas visões dessa insânia sem resposta,
Andando pedras brasas fogo, inverno...
O medo da verdade queima e tosta,

Esfacela qualquer sombra de paz...
A vida se transforma nesse inferno,
Teus medos te corrompem: Satanás!
Marcos Loures


126

A doce embriaguez que me domina
De bar em bar a noite desfiada.
Gosto de liberdade que alucina
No copo e na cerveja derramada.

Vermutes e conhaque e a calibrina,
Não resta nas garrafas quase nada.
Somente o beijo doce da menina
Deixando minha boca adocicada...

Meu mundo destruído e sem ter volta;
Os olhos fumegantes denunciam...
Porém em tua boca, esta revolta;

Amor se refazendo da fumaça
Reclames de jornais já me anunciam
O banco me convida, a mesma praça...



127

A dona do canteiro dos meus sonhos,
Espinha em cada rosa, lagos plácidos.
Os lábios prometidos, beijos ácidos
Tornando os meus cantares mais medonhos.

Olhando para espelhos são bisonhos
Os olhos que eu julgara beneplácitos
Os templos da esperança sendo flácidos
Embaçam velhos mitos tão risonhos.

Se eu guardo na memória tua foto,
O amor que se tornou magro e remoto,
Não deixa que isso siga plenamente.

E o passo se mal dado leva ao tombo,
Vergasta qual cinzel cortando o lombo,
Impede da emoção qualquer semente...


128



A dona dos meus sonhos nesta noite
Rondando o pensamento chega mansa,
O frio do vazio, duro açoite,
Enquanto a fantasia já me alcança,
Sem ter uma ilusão que amor acoite,
Só resta com certeza esta esperança.

Viver cada momento mais e mais,
Beber de tua boca este licor,
Delírios em desejos sensuais
Delícia inesgotável deste amor.
Em loucos e profanos rituais,
Espécie de tortura em raro ardor...

Eu te amo desta forma louca e sã,
Vontade de te ter cada manhã...
Marcos Loures



129


A dor como constante companheira
Talvez tenha um disfarce até bem feito,
Trazendo o meu sorriso insatisfeito
Mostrando uma carcaça qual bandeira.

O podre de minha alma varejeira
Podendo te assustar, vai contrafeito
Vestindo de um perfume, trama em leito
Aquilo que perdeu a vida inteira.

Não veja minha amada, o meu sorriso,
É quase desdentado e não tem brilho.
O passo no percurso falsifico,

E tendo bem distante o paraíso,
Invento a cada verso um novo trilho,
E finjo de esperanças ser bem rico...

]

130

A dor da punhalada em corte fundo,
Na dura traição de quem amamos,
Decepa do arvoredo grandes ramos
E mata esta alameda num segundo.

Vagando meus olhares pelo mundo
Encontro este caminho em que passamos,
Nas flores que em conjunto nós cevamos,
Perfume se perdendo em mal profundo.

Amor quando se trai depressa morre,
A seiva em podridão assim se escorre
E deixa tão somente ressequido

O tronco que já fora tão frondoso
Destino se mostrando caprichoso
Pressente o nosso amor vago e perdido...



131

À dor da solidão eu me recolho
E sinto transformada a minha sina.
A mão que acaricia e me assassina
Perfura em ironia, rasgando o olho

O sangue vai servindo qual um molho
Que ao gotejar decerto me alucina
Secando da esperança qualquer mina,
Na janela dos sonhos, um ferrolho.

À farsa que me trazes, logo cedo
E finjo estar contigo, ser submisso.
A morte prenuncia vir mais cedo

Ao opacificar, negando o viço
Olhar vai se tornando, então mortiço
E a solidão, aos poucos, enveredo...
Marcos Loures



132

A dor da solidão maltrata tanto
Que às vezes, dá vontade de morrer.
Não posso e nem resisto, tanto pranto
Cansado de, na vida, só sofrer.

Amiga necessito teu encanto,
Em cantos que me trazes meu prazer.
O manso do teu canto faz viver
E cobre meu amor com claro manto.

Imanando meu sorriso, minha amiga,
A vida sem ter medo, já periga.
E novo sentimento me persegue.

Amor que tanto tempo não sabia
Vivendo e se escondendo a cada dia.
Procura um coração que o carregue!
Marcos Loures



133

A dor de amar demais e nunca estar contente,
Amordaçando o sonho em velhas catedrais
No quanto nada fui; vazio se pressente
O meu olhar distante aguarda um novo cais.

Arcanas ilusões num canto tão demente
Sangrando o coração. Amores são vitais,
Porém a dor prossegue e toma totalmente
Deixando como herança estranhos funerais...

Quem dera se tivesse o vento da bonança
Nos lábios da mulher que tantas vezes quis.
A noite se aproxima, a tarde em dor avança,

A solidão se mostra inteira em noite plena.
Um dia até pensara, enfim ser mais feliz.
As brumas, tempestade, apagaram a cena...



134

A dor de estar tão só ruge em meu peito,
O brilho de uma estrela? Não vem mais.
Lembrando destes dias magistrais
A vida se esvaindo sem proveito...

Enquanto a solidão adentra o leito,
Resíduos esboçados, ancestrais,
Ouvir a tua voz? Sei que jamais...
Apenas teu perfume quando deito

Guardado nos lençóis, nas velhas fronhas,
As noites sem ninguém, duras, medonhas
O frio penetrando na janela.

A sombra do que fomos me persegue,
Às torpes, vãs lembranças vou entregue,
Inutilmente a lua se revela...
Marcos Loures



135




A dor de uma existência sem sentido
Perfaz a caminhada pelos sonhos,
Apenas um sussurro ou um gemido,
Momentos melancólicos, tristonhos...

Se às vezes, do teu lado, ao mar regrido
Buscando os meus escombros mais risonhos,
Carrego um coração tão desvalido
Pesando com seus fardos vãos, bisonhos.

Pereço quando penso liberdade
E morto, nada tenho atrás da grade
Que um dia servirá como armadilha.

Melancolia é coisa de quem ama,
E ao ver; fortalecida, alguma chama,
Enforco-me nos laços da presilha...



136

A dor deste prazer que não tem fim
Encharca em nossa cama, um fogo intenso
Inundação divina em corpo tenso,
Relaxa e me transtorna, sempre assim.

Um maremoto insano dentro em mim,
Depois na calmaria mar imenso
Deixando-me levar, perdido eu venço
E encontro com mim mesmo, vago, enfim.

Nas artimanhas, santa fantasia
Louvores às bacantes numa orgia
Fazendo de teu corpo um belo altar.

Teus gozos vão servindo como preces
Nas tramas que embrenhados, sempre teces
Orgasmos nos ensinam como orar...



137

A dor é companheira em parceria...
Meu tesouro guardado noutras grutas.
Não posso descobrir mais alegria,
As luzes que me emanas, duras, brutas.

Corcéis, imobilizas, montaria.
As podres maravilhas dessas frutas,
Sem sombras do que fora fantasia
Nas noites nos perdemos e sem lutas...

Não penso nas conquistas que não tive
Nem prendo meus olhares no vazio...
Na cama que roçamos me contive...

Aurora torporosa me alvorece,
A dor que nunca sai permite cio
Amor que nunca veio, me entorpece


138

A dor em esperanças convertida
Batalha por um riso mais audaz,
O vento que nos toca e satisfaz
Permite vislumbrar a nova vida.

Levando a solidão já de vencida
O quanto te desejo a noite traz
Caminho repartido volta atrás
O jogo decidido de saída.

Mas tenho uma reserva de alegria,
Jogando para longe a fantasia,
O prazo não se vence, é sempre igual.

Teimosa, vai seguindo sem cansaço
No verso em desafio logo traço
Uma esperança em paz, mansa e vestal



139


A dor em que se molda o pensamento
Num verso me transforma plenamente.
Enquanto a solidão já se pressente,
Procuro tão somente algum ungüento

Que possa me curar do sofrimento
Num último desejo, ser contente,
Andando libertário entre esta gente
O peito sem defesa, aberto ao vento.

As lágrimas traduzem o que sinto,
Numa álgica lembrança do que fomos.
Às vezes, tolamente cismo e minto

Tentando até sorrir. Mas é maldade...
Do fruto da esperança, amargos gomos,
Inundando o meu peito. De saudade...
Marcos Loures


140

À dor em sua nobre serventia
Erijo meus altares. Minhas preces
Nos tronos da tristeza e da agonia
No quanto em ilusão; amada, teces.

Minha alma sem juízo e tão vadia
Vagando pelas luas, por quermesses
Encontra na amargura esta alegria
De amores insensatos que confesses

Sem medidas, mergulhos abismais,
Loucuras em paixões que não têm fim
Vasculho cada seixo dentro em mim

E vejo tão somente os temporais
No fogo mais bravio; pura essência
No olho do furacão sem penitência...



141

A dor já se afastando, em despedida
Amor que se aproxima: turbilhão...
Estrela que me guia pela vida,
Rainha dos meus dias, sedução

De todas as tristezas a saída
Encontra-se no fogo da paixão
Que torna a poesia mais querida
E vibra em nosso peito, coração!

Eu quero estar contigo o tempo inteiro,
Caminho em que me guias, verdadeiro
Sonega o que eu tivera em desencantos.

Não tendo mais fantasmas, sigo em frente,
Um novo encantamento se pressente
Cevando em harmonia nossos cantos.
Marcos Loures



142


A dor maior que trago, o desamor,
Festeja uma saudade que sentimos...
Vibramos com tesão, farto calor,
Nas horas divinais, nos divertimos...

Porém depois de certo desengano
Causado por ciúmes, não sei bem;
O vento vai mudando, novo plano,
Será que depois disso, sem ninguém?

Desculpe mas não quero ser mais chato,
Amor que tanto temos somos tantos,
As águas que inundaram outro regato,
Não podem te causar tantos espantos...

Amada, minha lua é par constante,
Seu brilho, já me basta, deslumbrante!



143

A dor que consome
Coração da gente
Trazendo em seu nome
Um mundo descrente

Tantas tempestades
Promessas de chuva
Saber das maldades
Da estrada na curva.

É ter a certeza
Que a vida maltrata
Contra a correnteza

Somente teu braço,
Amiga, nos ata
Permitindo um passo.



144


A dor que dilacera corações,
Reside nas profundas de minha alma...
Herdando velhas chagas, aflições,
Não tenho mais sequer quem já me acalma!

As rosas exalando podridões,
Teu nome rabisquei na mão, na palma...
Vermelhos velhos vermes vendilhões,
Meus versos são versões antigo trauma...

Minha dor, resistente não perece...
A cada novo dia me envelhece,
Nas rugas que desenha minha face...

Desdenha sutil corda que embarace
Meus passos sertanejos na cidade.
A dor que já me enluta, a da saudade!



145


A dor que já me enluta, a da saudade
Não deixa que eu caminhe livremente.
Quem dera se eu pudesse. A liberdade
Distante dos meus olhos, vou demente

Enquanto a fantasia ainda mente,
Vazio se transforma em realidade;
Nem mesmo a solução já se pressente
Ausência impedirá tranqüilidade...

Eu vejo a tua face em qualquer rosto,
O tempo se fazendo em vão desgosto,
Não sei por que tu foste amor, embora.

O gosto de teus lábios sinto agora,
Meu peito sem defesas segue exposto
Minha alma solitária pena e chora...



146


A dor que latejara no meu peito
Aos poucos se esvaindo lentamente,
Ao ver que posso amor tão plenamente
O meu prazer em ti; querida, eu deito.

Vanglória que me ufana a cada feito,
Invade com desejos minha mente,
Entorno esta vontade que é da gente
E tudo o que fizeres é perfeito.

Na sílfide divina e colossal,
O riso desejado e sensual
Encharca de vontades e ternuras...

Uma escultura rara em puro encanto
Permite-me dizer que eu quero tanto
Teu corpo; a mais divina das molduras.
Marcos Loures



147

A dor que latejara no meu peito
Atônita se perde em confusão,
Sentindo deste amor a inundação
No rio dos meus sonhos, vaza o leito.

Ao ter tua presença quando deito
Recebo a mais completa sensação
Do bem que nos tomou em convulsão,
Tornando o nosso mundo mais perfeito.

Ao ver tua nudez perambulando,
O dia bem melhor se anunciando
Deixando bem distantes as procuras

No céu que imaginei em rara tela
Ao meu em fantasia já se atrela
Teu corpo a mais divina das molduras.
Marcos Loures



148

A dor que me acompanha, hereditária,
Nascida desde antanho, nebulosa.
Farnel das ilusões em tenebrosa
E amarga sensação em peito pária,

Negrume que se insere em luz tão vária,
Estrume de minha alma pavorosa,
Na desintegração perfeita rosa,
Adentrando esta pele até que escare-a.

E folga quando torna-me refém
De suas garras lépidas e finas.
Ao me negar destarte todo bem,

Refaz vastas feridas; dentro da alma,
E aos poucos minhas carnes exterminas,
E me toma e me entranha em sua palma..


149

A dor que me oprimindo me redime,
Estima que terei o teu amor.
Sentado na cadeira, sei, de vime.
O tempo que passamos traz a dor.

Mas dor que, me salvando, quer que estime
O vento da promessa, sem rancor.
A dor não mais machuca nem oprime
Um peito que se fez todo esplendor.

As roxas violetas da saudade
Morreram mal entrou felicidade,
Um vento que te trouxe me encantou.

Das dores que tiveste minha amada,
Agora minhas dores não são nada.
A nossa dor, querida me salvou!



150

A dor que me penetra qual mortalha,
Trazendo minhas ânsias, ser feliz...
Os brilhos que esta lua sempre espalha
São látegos denotam cicatriz...

Sombrias tempestades, qual navalha,
Malditas me torturam. Por um triz
O bote destes lumes, dor canalha,
Vestida de ilusões, vã meretriz!

Forjando santidade se revela
Nas horas mais sombrias, vago o mundo...
Ó lua, por que queimas, sua vela?

Traíste meus delírios de poeta,
Meu verso vai embalde, vagabundo...
Mataste qual Cupido e sua seta!
Marcos Loures


151


A dor que me procura sempre estava
Escondida na boca que eu beijei.
Sentinela perdido me enlutava
Das saudades deixadas me entranhei...

O tempo levará toda essa lei
Que não permite sonhos nem os lava...
Nos vulcânicos dias me encontrei,
Escorrem pelos olhos calor, lava...

A despedida feita neste portal,
A amargura da vida, velho sal...
Os restos das fronteiras que não vi.

Os amores fatais que, sei, perdi...
Todas rosas mais belas do rosal.
As flores dos amores que esqueci...



152


A dor que me tortura, tão antiga,
No peito de quem ama já se atreve
Ferocidade imensa, uma inimiga,
Pesando uma esperança outrora leve.
Tristeza em solidão logo se abriga,
Felicidade morre em luz mais breve.

Meu sonho- ser feliz – assim, morrendo,
Não deixando um rastro mais sequer,
Meu rumo pela vida se perdendo,
Na pérfida tristeza, o que se quer
É ter um novo sol que me aquecendo
Permita-me outro rosto de mulher

Que possa me trazer felicidade,
Na força de um amor em amizade...



153

A dor que nos domina, formidável,
Escárnios que formaram primaveras,
Os dentes afiados destas feras
Tocaia que percebo inevitável.

Sorriso traiçoeiro, quase amável,
Nas garras tão cortantes das panteras
As farpas espinhosas que assim geras
Sugerem um caminho inencontrável.

Facínoras, as noites sensuais
Nos ódios em que cedo transbordais
Reflexos de meus olhos amauróticos.

No beijo em ironia que me dás
Escolha que fizeste, Barrabás
Momentos tresloucados e neuróticos...
Marcos Loures



154


A dor que nos ensina a caminhar,
Vencer os claustros tolos que cevamos.
Rompendo a relação escravos/amos
Os sinos dobrarão, não vou negar.

Porém quando entranhamos o luar
Aos poucos os segredos desvendamos,
E em todos funerais que freqüentamos
A vida mostra a face. Eterno lar...

Assim pensava há tempos, mas agora
Distante de quem amo, sigo em vão.
Cavando com meus dias, ledo chão

A morte redentora já demora,
Ninguém escuta a voz que em agonia
Reveste em amargura, o dia-a-dia...
Marcos Loures



155

A dor que nos invade, impertinente
Em erma solidão, turva e sombria
Por vezes me transforma em penitente
E uma esperança mórbida me guia.

Um coração estranho e assim plangente
Aflora-se em ressaibos, fantasia.
O chão quase desértico, tão quente
Impede o renascer de uma alegria.

Mistérios que se fazem nesta vida,
Os medos acumulam negações.
Senzala em que minha alma apodrecida

Aborta uma sutil felicidade.
Talvez ao conceber as ilusões
Refaça toda a trilha em amizade...
Marcos Loures



156


A dor que quando vem nos entristece,
Ferindo muitas vezes nos humilha;
Negando ao próprio Deus, calando a prece,
Matando de um amor, a maravilha.

Tanta tristeza e mágoa sempre tece.
Aos corações amantes, cega, humilha
Uma esperança assim, cedo fenece;
Nem mesmo a fantasia compartilha...

Sozinhos, sem ter rumo, nada vem,
O gosto tão amargo, uma quimera.
Distante do que fora nosso bem,

O sol já se perdendo em falsidade.
Só resta em nosso peito a leda espera
Do brilho salvador de uma amizade...



157

A dor que reconheço desde infante,
Atravessando toda a juventude,
Roubando da esperança o seu turbante
Mudando vez em quando de atitude.

Por mais que a fantasia ainda ajude
O passo agora vai titubeante,
Mas sigo sem olhar para adiante,
Quem sabe meu futuro a sorte mude.

E vista algum sorriso em minha face,
Ausente de alegria não me calo,
Fragrância de ilusão, sonho renasce

Das cinzas do que fomos tão antigas.
A vida vou bebendo no gargalo,
Roubando esta emoção que desabrigas.


158


A dor que se promete não virá
Se o bem que nos domina inda ficasse.
Por mais que a solidão temível grasse
O dia com certeza brilhará.

O olhar da aurora rubra em tom grená
Diversa poesia em que se trace
O som de um novo tempo que me abrace
E mude todo o rumo, desde já...

Sem ter o que me impeça de sonhar,
Esqueço o que se foi, adoço o mar
E risco um raio lúdico em meu céu.

As cordas dedilhando, o violão,
O amor vencendo enfim a solidão,
O sol virá cumprir o seu papel...
Marcos Loures



159

A dor se anuncia bruta,
Dor cruel que me destrata
A vida merece essa luta
Os brilhos desta cascata

Do meu peito colho a juta
Que plantaste, dor ingrata.
Tuas mãos, triste batuta,
Embrenham na minha mata.

A dor que fora primeira
Fez descanso no meu peito
Minou minha vida inteira

Não restou nem o direito
De buscar a companheira
Que me deixe satisfeito...
Marcos Loures



160

A dor sempre acompanha um grande sentimento
E traz; a cada dia, um novo desengano,
Por mais que seja nobre o sofrimento humano
O tempo quando em dor, demora-se e vai lento.

Não tendo na verdade, o bem de um novo alento
Quem sabe e reconhece, invoca em outro plano
O dia que virá cobrindo com seu pano
Porém em cada rasgo, invade forte vento.

À parte do que sinto, eu bebo uma esperança,
E dela faço meta. A luta, porém cansa
E tendo na batalha o fim como certeza

A solidão retorna e volta bem mais forte,
Trazendo em sua mão, adaga fina e corte
Arrasta-me depressa, a dura correnteza.



161


A dura sensação de uma ignorância
Faz mal a quem recebe com carinho.
Palavra que se toma em discrepância
Demonstra ser estúpido o caminho

De quem cresceu inerme desde a infância
Confunde saparia com sapinho.
Educação se faz com elegância
Porém isso se cria desde o ninho...

Meu verso se criou em liberdade
Não teve mãe nem pai, foi abortado.
Vagando pelas ruas da cidade

Não tem nem paradeiro nem grilhões.
Primeiro é melhor ter estudado
Do que falar asneira aos borbotões....


162

À espreita de um desfecho mais feliz
O coração se deixa aprisionar,
Eu sinto assim chegando, devagar
O bem que toda a vida eu sempre quis.

Se o céu da juventude foi tão gris
Agora vejo tudo clarear
Deixando a triste flor desabrochar
Mudando do canteiro o seu matiz.

Acendo o meu cigarro, tiro um trago,
Espero ansiosamente esta chegada,
Teu rosto em pensamentos eu afago

E sinto a maciez de tua tez
Depois de tanto tempo sem ter nada:
Respondo ao coração: é sua vez!



163

A estampa na parede demonstrando
O retrato cruel do fim do mundo,
Vagabundo meu mundo vai rodando,
E assim quando eu percebo; já me inundo,

De toda crueldade, me afogando.,.
Qual abissal marinho, sou profundo,
Resta-me tão somente esse segundo,
A vida nada vale, mas me abrando.

Incrivelmente, manso nada temo,
Espectral fantasia tudo toma,
Minha vida vai trôpega, sem remo,

Mas nem mesmo ao temor a dor se soma,
E de encanto tenaz, incrível, gemo...
A morte assim será um simples coma.



164


A eterna companheira: poesia
Jamais me abandonou e está comigo,
Nos mundos mais diversos que ela cria
O quanto que desejo e até persigo.

De todas as mulheres que eu já tive
Durante a minha vida, um sonhador.
Apenas poesia sobrevive
Toando a melodia em puro amor.

Por mais que enfrente imensos vendavais,
Ou mesmo a calmaria chegue enfim,
Dos sonhos delicados, sensuais
Eu vejo a força intensa dentro em mim

Daquela que se faz eterna amante,
O par que é predileto e sei constante...



165


A eterna sensação de um novo sim
Tornando mais suave a minha lida
Alçando uma emoção que sei sem fim,
Encontro no final, a nossa vida,

Semeias alegrias dentro em mim,
Demonstras minha sorte decidida
Na flor que já brotando no jardim
Perfuma a tarde inteira e faz querida

A noite iluminada deste amor,
Depois da maravilha do sol pôr
Fazendo deste sonho um bem imenso.

Na crença de saber amor profano,
Distante do andarilho audaz cigano
No quanto eu te desejo sempre penso...
Marcos Loures



166

A Fábrica de heróis pediu falência.
A gente não suporta mais mentiras
Perdi, tenho a certeza, a paciência
Rasgando esta bandeira em tantas tiras.

Se há concordância ou não, tenha clemência,
Aos leões os heróis falsos atiras,
Na verdade o que falta é competência,
Nas calças deste povo, ainda embiras.

O desdentado diz: muito obrigado
Aos Senas, aos Ronaldos e aos Thiagos,
Num chute que desferem nos meus bagos

O caco deste espelho destroçado,
Retratos desta frágil educação
Os ídolos criados vão ao chão...
Marcos Loures


167


A faca com dois gumes mostra a cena
Na qual o nosso caso fez de tudo
Deixando o coração já quase mudo.
No fundo o que eu desejo é tua pena.

Se apenas o que fiz não mais acena
Prefiro seguir sempre, mas contudo
Às vezes idiota inda me iludo
Tentando uma palavra mais serena.

As costas vão lanhadas pelas garras
Mesmo que inúteis, fúteis e bizarras
Da moça que em panteras quis espelhos

E agora mostra um toque de sarcasmo.
O amor vai sucumbindo a tal marasmo,
Deixando o sentimento de joelhos...
Marcos Loures


168

A faca de dois gumes dita amor
Algumas vezes fez de mim cobaia,
Enquanto a solidão velha não traia
Ainda quero ser um sonhador.

Porém ao ver o nada a me propor
Sequer um só momento de alegria,
Resisto bravamente. Fantasia...
Meu sonho num eterno decompor...

O encanto preparando este desfecho,
O olhar que inda iludido, quer a luz.
Caminho de esperança agora fecho

E deixo meu cadáver mais exposto.
Ao nada de onde vim, amor conduz,
Marcando com as garras o meu rosto...
Marcos Loures



169


A faca penetrando em meu pescoço,
Ausência de esperança, morte à vista,
Enquanto a poesia ainda assista
Ao fim do que sonhei, não me alvoroço

De tudo o que pensei, ledo destroço,
O coração fingindo-se de artista,
Por vezes sonhador ou egoísta,
Eu tento disfarçar, mas não mais posso.

Eu sou um velho traste, torpe imagem,
Amor nunca passou de uma miragem,
Olhar se perdeu tolo em descaminhos.

Não tendo mais sequer algum sorriso,
Exposto, me perdendo sem aviso,
Os dias que virão serão sozinhos...
Marcos Loures



170



A faca tem dois gumes, disto eu sei,
Meu erro foi somente acreditar.
Agora que em teus braços me enganei
Procuro nova estrela em outro mar.

As mãos que acariciam me torturam,
Os olhos vão vazios; vida afora.
Os erros tantas vezes se procuram
Assumo meus pecados; vou embora

Buscando em outro amor, amanhecer,
Legando ao meu passado o que vivemos.
Quem sabe encontrarei algum prazer,
Depois do imenso nada que tivemos.

Apaixonadamente, fui um tolo,
Não quero mais sequer algum consolo...



171


A faca tem dois gumes
E neles me percebo,
Além destes costumes
Estrelas quero e bebo,

Não sinto teus perfumes,
Amor virou placebo
Não tento seguir lumes
Nem mesmo o bem concebo..

Aberta a temporada
A caça continua,
Mulher tão almejada

Se entrega à plena lua,
Enquanto desmaiada
Se espalha pela rua...



172

A faca tem dois gumes, riso e pranto
Metade do que eu sou não representa
O quanto na verdade ainda venta
Durante a tempestade e o desencanto.

Se às vezes contra a luz eu me adianto
Eu tento perceber a vida lenta,
Vencendo em calmaria uma tormenta,
Herdei somente dor, medo e quebranto...

As cifras vão mudando a cada dia,
Riqueza se transforma em simples dívida,
Ao ver esta mulher pálida e lívida

Uma sorte melhor já merecia
Aquele que comprou mais que vendeu
E mesmo assim, perceba: inda sou teu...



173

A fada com varinha de condão
Transforma esta menina na princesa
Tornando seu amor uma explosão
De rara e salutar, nobre beleza.

Porém a bruxa má em maldição
Prevê para esta moça tal tristeza
Que traga pro seu lar destruição
Fazendo da menina simples presa

De um sapo disfarçado em principesco,
Trazendo um pesadelo tão dantesco
E tendo todo o mal como seu dom.

E em lágrimas castelo desabando,
Varinha desta fada demonstrando
Que é sempre necessário um bom Condon...


174

A fala de quem fala em desamor
Seria verdadeira se não fosse
A troça que o palhaço finge doce,
No fim trazendo sempre este amargor.

Ciúme é resultado do louvor,
E quando a realidade mais acosse
Sem ter a claridade que remoce
A carne já começa a decompor.

Brincando com palavras, vou liberto,
E quando te proponho algum acerto,
Em desacerto estúpido, naufragas.

Otário não precisa de conselho,
Quebrando em desvario o próprio espelho,
Fazendo do vazio, as tuas sagas...



175

À falsa fantasia eu já me apego,
A sensação de paz mais atrevida,
Mordendo devagar a minha vida,
Um caminheiro segue assim, tão cego.

Por vezes mais sedento, em vão me entrego
Na luz insanamente percebida
O amor que busco ofusca a despedida,
Amor que nunca veio; jamais nego.

Nos bares e prostíbulos, a luz...
A boca que me cospe me seduz
O leito amargurado de viúvo

Aos olhos deste sonho que me curvo
Serei tão simplesmente um idiota.
Felicidade existe? Tão remota...
Marcos Loures



176

A fantasia chega e vem ligeira,
Dourando o meu caminho, com certeza,
Sabendo que encontrei a companheira,
A vida já transborda em tal beleza.

No teu aniversário, uma surpresa
Tocando em emoção mais verdadeira,
A sorte se deslinda sobre a mesa
E mostra esta alegria costumeira.

Depois de ser errante em cada passo,
Encontro a mansidão de um belo abraço
Tramando um paraíso em que prevejo

O riso mais sincero e mais perfeito.
Amor em tal magia faz seu pleito
Tocando o coração, nosso desejo.


177

A farsa que se fez mudando o trilho
Desaba na profunda ribanceira,
Quem ama, na verdade traz bandeira
Diversa deste peito, um andarilho.

A vida vai puxando o seu gatilho,
Deixando para trás a sorte inteira,
Quem sabe alguma luz inda me queira,
Legando ao meu passando este empecilho.

Correndo sempre atrás de uma ilusão,
Vencido pela força do tufão,
Meus trunfos eu perdi não sobrou nada.

Lançados pelas mãos, os frios dados,
Desejos em pecados incrustados,
O jogo sempre foi carta marcada.
Marcos Loures



178

A farsa que se monta em versos tantos
Atalhos percorridos noite afora.
Se em mares tão diversos, desencantos,
O olhar sem ter um porto não se ancora.

Sou ávido e talvez sem ter havido
Não tenho mais um álibi, que faço?
Amor, além de um cais para a libido
Refém de um bom sorriso ou de um abraço

Quando em vicissitudes traz alento.
Eu sei que isto é difícil para poucos
Que urdem na surdina, um vão tormento,
Espumam feito lobos, velhos loucos

Que apodrecendo em vida sem ninguém
Não sabem da magia que amor tem...



179



" A guia que ilumina esse farol
e passa aos corações as cores,
alumia muito mais que o Sol,
estrela matutina que chama Loures.

Chaplin

A fascinante estrela que ora vi,
Tornando por si só meu céu azul,
Na verve sem igual de Golberi
O imenso minuano, vem do Sul.

Fazendo de uma prenda, uma rainha,
Romântico poeta, sonhador,
Palavra nos teus lábios, a avezinha
Que beija com ternura cada flor.

Tu sabes quanto admiro o teu talento,
De ti, eu sou apenas um reflexo,
E quando acompanhar-te, amigo eu tento
Num complemento, côncavo e convexo

Por vezes, se eu me perco, o teu perdão
Eu peço, por ser árido, o meu chão...


180


A febre me queimando, já transtorna...
Não posso mais pensar, toma-me inteiro,
Teu nome não me larga, vai, retorna,
O teu perfume está no travesseiro

Na cama, nos lençóis, minha alma adorna,
Em todos os lugares sinto o cheiro...
Não posso mais passar pela madorna
Acordo em sobressalto! Um verdadeiro

Desatino me doma, e nada faço
Senão pensar em ti; somente nisso...
Não consigo sequer dar mais um passo.

No roçar dos teus lábios, imagino
Amor que na paixão ganha mais viço,
Num turbilhão intenso me alucino...


181


A febre que me toma neste instante,
Quarenta graus, intenso fogaréu,
Qual fora um livro exposto numa estante
Sem ser tocado; um monte de papel

Jogado pela casa, delirante
As sombras na parede, sonho ao léu.
A morte me rondando e a faiscante
Presença de uma deusa em rubro véu.

O vinho de teus lábios. Tudo gira,
E o vento ainda acende antiga pira
Dizendo que talvez tenha uma chance.

Agonizante, bebo esta esperança,
Porém soturna luz vem e me alcança
Nada impede, enfim, que a morte avance...


182

A felicidade
Abrindo a janela
Já traz qualidade,
Amor que revela,

Tem a faculdade
De ser bem mais bela
Nesta mocidade,
Eu pinto esta tela.

Do riso tão franco
Que mostra o meu peito,
No sonho mais branco,

Ando satisfeito,
A dor eu desanco,
Te encontro em meu leito...



183

A fêmea que em volúpia, assim se entrega,
Deliciosamente aqui despida,
Sabendo desfrutar o bem da vida,
Mergulha enquanto o corpo nu navega.

Delírio que em delícias já se esfrega,
Uma fruta de vez que ao ser comida
Descreve do prazer embevecida
O gozo que profano, a mão quer, pega.

Enlanguescida, os seios fartos, belos,
Fazendo desta cama meus castelos,
Chamando pro festejo dos sentidos.

E enquanto vago imerso nestas brenhas,
Descubro dos segredos, chaves, senhas,
Orgásticos caminhos divididos...
Marcos Loures



184



A fêmea que lateja dentro em ti,
Há tanto adormecida em vãos pudores,
Desnuda-se voraz e chega aqui
Mudando do cenário suas cores.

Tu sabes quantas vezes eu pedi
Do corpo desejado, tais fulgores,
Irei acompanhando aonde fores,
Encanto como o teu, não conheci...

Parece, meu amor que finalmente,
Sem medo que a saudade a violente,
Virás sem ter vergonha, medo ou pejo.

Arranco tuas roupas e ao ver-te nua
Minha alma sem amarras já flutua
Matando plenamente o meu desejo..


185


A Fênix travestida em ilusões Esgarça cada pano do cenário. Aonde pululavam emoções Argutas fantasias num fichário.

A Fênix travestida em ilusões
Esgarça cada pano do cenário.
Aonde pululavam emoções
Argutas fantasias num fichário.

O tempo corroendo o calendário
Enfrenta as mais diversas diversões,
Veraneando o peito, se ao contrário
Encontro o desencontro em mil versões.

Mas tenho que dizer quanto eu te gosto!
No amor que tantas vezes sempre aposto
O ganho não se esgota, e recomeça.

Registro em cada verso esta harmonia
Do amor que a gente às vezes fantasia,
Mas vivo, nos traduz santa promessa...


186


A fera dá seu bote sem espera
E cria diamantes, todos falsos,
O tempo sem ter rédeas não me espera
E deixa no caminho cadafalsos

A falsa poesia feita em prosa
De tudo o que mais quero, sem ciência
A moça se espetando em minha rosa
Percebe não ser simples coincidência

O verso sem estrela e sem jardim,
A lua que não veio, o frio intenso.
Jornada que percorro dentro em mim,
O parto na verdade é sempre tenso.

Deste imenso monólito que sou
Apenas um resquício, o que sobrou...
Marcos Loures



187


A fera decidida quer o gozo
Que possa em explosão cerzir um magnífico
Orgasmo num momento em que específico
Nos mostre este delírio fabuloso.

No amor tudo decerto é sempre lícito.
Rocios entre espasmos provocantes,
Delitos e pecados fascinantes
Num ato fulgurante e tão explícito.

Bebendo cada gole de teu gozo,
Comer deste maná delicioso
Sentindo cada frêmito, ser teu.

A deusa sem a blusa, seios belos,
As coxas já se abrindo aos meus rastelos
Num lúbrico desejo intenso, ateu...
Marcos Loures


188


A fera que enjaulada nada teme,
Irrompe estas cadeias, sem temores.
Um barco que se vai, perdendo o leme,
Prenúncio de tempestas e de horrores.

Toda a dor quando impele que blasfeme,
Deixando para trás perfume e flores,
Criando fantasia onde amor treme
Seguindo sem a sorte dos penhores.

Porém ao perceber tuas mazelas,
Espero paciente tua volta.
Na força que me mostras e revelas,

Certeza de que um dia serás minha;
Entendo, meu amor, tua revolta,
Mas voltarás pra mim, qual andorinha...



189

A fera que se entrega à louca caça,
Espreita a sua vítima, num bote,
Instinto predador quando amor traça,
Desejo sem igual que não se esgote.

A gente se encontrando se embaraça
Não teima e com certeza quebra o pote.
Porém quando de noite, tão devassa
A moça vem mordendo o meu cangote.

Nos lotes dos prazeres quero algum
Que tenha pelo menos bela vista.
O amor quando passando por revista

Transporta uma emoção e aumenta o zoom.
Assim esta pantera se faz nua,
Caçando a noite inteira sob a lua...
Marcos Loures


190


À festa em que se gesta nova vida
O peito já se abrindo não discute,
A noite vai chegando distraída
Verdade em cada sonho já se embute

Parelhos os caminhos de quem ama,
Refazem mocidade e juventude.
A sorte num momento vem e inflama
Mudando de conversa e de atitude.

Assim, um caminheiro antes sozinho,
Agora persevera e segue em frente,
No colo deste amor quando eu me aninho
Pressinto um novo encanto mais presente.

Vislumbro com firmeza e com vontade
Quanto é possível ter tranqüilidade.



191

A festa prometida
Na noite que virá
Mudando a nossa vida
Na certa brilhará

Em taças de cristal
Um brinde nos alcança
No toque sensual
Delícias e festança

Enlevos e meneios
Cabelos como crinas,
Amando sem receios
Adentro campos, minas

E sinto o teu perfume
Em fogo, gosto e lume...

192

O quanto poderia
A sorte sem final
Num ato ritual
A vida rege o dia

Lamento em agonia
E sei do vago astral
Imenso e sideral
E nada mais traria

Sequer o que desejo
Momento mais sobejo
Em glória e luz intensa.

Depois de certo tempo,
Inverto o contratempo
E ganho a recompensa

193

A festa que fazemos cama posta
Em bares e botecos, mesas, lua
Meu corpo quando enfim no teu se encosta
Promessa divindade inteira e nua.

Andei em solidão calçada e rua
Calada a noite fez-se mais disposta
Na pele uma emoção bem forte exposta,
Sentando num momento fogo e pua.

Refém desta vontade que não passa
Sou caça da mulher que assim me traça
Destino desejado com tesão.

Arranco tua roupa, tire a minha,
Ao explorar teu corpo o meu se aninha
Até que chegue assim, a convulsão...


194

A festa que se empresta em alegria
Traduz tanto querer que não tem fim,
No amor que em cada verso se dizia
A flor que floresceu neste jardim.

Se tudo que se quer já se recria
Num verso enamorado, chego enfim
Ao ápice do sonho em poesia
Falando desse encanto, tanto assim.

Feliz aniversário, parabéns
Que tudo seja claro em teu caminho
Do tempo de esperança que tu vens

Vencendo as tempestades e os temores,
Contigo eu não irei jamais sozinho
Pois tenho em teus olhares, refletores...
Marcos Loures



195

A fétida metade da maçã
Há tanto decomposta. Hoje eu te trago.
Não posso resistir ao duro afã
Da vida que se deu sem ter afago.

Não vejo mais deslumbre na manhã,
Matando da esperança cada bago,
A sorte tão estúpida e malsã
Renega a placidez do velho lago

Não posso suportar mais este peso
Que ainda teimo, às vezes carregar.
A vida traz a herança de um desprezo

Na cruel gargalhada desta harpia
Cismando em ironia me beijar
Bebendo cada gota da sangria...
Marcos Loures



196

A fixação me toma e assim fascina
Fazendo do sonhar monotonia.
O corpo tão perfeito da menina
Diversas emoções decerto cria.

Do quanto havia outrora em tristezas,
Agora se perfaz felicidade.
Tomando já de assalto tais defesas
Penetra com audácia e liberdade.

Agora não consigo disfarçar
Nem mesmo assim pretendo outro caminho.
Tocado pela força do luar
Argêntea solução, eu já adivinho

E bebo cada gota de suor,
No mundo que se faz sempre melhor...
Marcos Loures



197

A flor da juventude renovada
Depois desta outonal desesperança,
Traz-me primaveril manhã raiada
Ao fim desta jornada, longa andança.

Na mão a bela rosa que, encanada,
Convida novamente para a dança
Depois de tanto tempo abandonada,
Ciranda retocando esta lembrança.

Florindo no jardim quase deserto,
Os olhos da menina me convidam.
Como voltar de um sonho, estar desperto,

No retorno aos vinte anos, quem me dera!
Os cantos juvenis já se deslindam
Volvendo para a vida, em primavera!
198

A flor da mocidade faz tão bela
A moça que desnuda, soberana,
Deitando em minha cama, rara estrela,
Rebenta de vontade quase insana,

E toda uma loucura me revela,
Sorrindo mansamente, mais sacana,
Ao gozo da emoção amor atrela
E sabe o quanto a vida nos engana.

Além do que pensei e se imagina,
Mulher que se aflorou numa menina
Esboça num sorriso esta loucura

Que é feita na delícia e na ternura
Audaciosamente em minha cama,
Espalha suas iscas e me chama...
Marcos Loures



199

A flor da mocidade no meu peito
Dormia em berço amado, enlanguescente,
Sem ter acanhamento, insatisfeito,
Buscava do prazer, toda a vertente.

Logrado pelo engodo da beleza,
Me acreditava eterno, temerário..
A dor me parecia uma incerteza
Num rol de sentimentos, louco e vário.

Amor era um dilema em labirinto,
Desejo suplantava qualquer senso,
Vivendo sem saber quanto é bonito
Amor em plenitude, amor imenso...

Agora que envelheço a cada dia,
Amor vem renovando a fantasia...



200

À flor da pele, exposto em carne viva.
Jamais refugarei, cabelo ao vento.
O tempo que transtorna o sentimento
Mantendo a fantasia que me aviva.

Alma encarcerada. Vã cativa
Dos medos, das insônias, não lamento.
Até percebo algum tipo de alento
Por mais que me pareças tão esquiva.

Estático, não movo nenhum dedo.
Masmorra aonde, intenso, eu me emparedo
Regressa ininterrupta, nunca falha.

A boca da pantera sempre aberta,
Tempero feito em fel, já não me alerta,
Prefiro andar no fio da navalha...



201



A flor de uma esperança ganha viço
Mudando num momento o meu jardim,
O amor que se fez mágoa, vil, postiço
Morrendo pouco a pouco dentro em mim.
O sol do novo amor, ora cobiço,
Matando essa tristeza, agora, enfim.

A sorte deste sonho em claro assédio,
Carrega toda a luz dentro de si.
Percebo que encontrei raro remédio
Deixando para trás o que vivi.
O tempo que tivera em puro tédio
Garanto, meu amor, eu esqueci.

Manhã que renasceu, em paz, sorrindo,
Mostrando o sol intenso, claro e lindo...


202

A flor do sonho trouxe primavera
A quem tanto queria um manso cais.
Um doce sentimento em mim impera;
Te peço, meu amor, não vá jamais!

A noite vem pousando suas asas
E cobre meu desejo de carinhos.
Sem perceber me perco em tuas brasas
Deitados como simples passarinhos...

Ninguém sabe entender, mas não me importo,
Não quero importunar com meus segredos.
Na carne, se preciso eu mesmo corto,
Apenas não mais cabem tantos medos.

Eu te amo sem transtorno e sem pavor,
Pois Deus abençoou o nosso amor!

203

A flor dos meus receios, temporã,
Aflora em nosso caso, triste amor...
Quem já guardou no peito um talismã
Adormece tremido de pavor...

Vivemos nas esperas, nosso afã
Angústias transformadas em rancor.
A vida desespera e passa vã
Não tenho mais comigo o teu calor.

A flor dos meus desejos, despetala,
Não deixa nem perfume nem saudade...
A voz que enamorada, sempre cala.

Quem sabe restará qualquer estima
Do amor que vai morrendo e que se prima
Por ser além de tudo, uma amizade...

204


A flor mais bela e rara que encontrei
Em meio a tantas ervas mais daninhas,
Mostrando todo o sonho que plantei

Nas ilusões mais caras, todas minhas.
Ao vento do carinho me entreguei
Numa esperança toda de andorinhas...

Na cândida certeza de vitória
Meus passos tropeçaram, egoísmos.
Invés de mil sorrisos, os de glória,
Senti destes amores, cataclismos.

Mas antes que esta vida se maldiga,
Refeito destas dores; a verdade,
Te digo, minha amada, minha amiga,
Eu tenho esta esperança, uma amizade...


205


A flor mais delicada ganha viço
Nos olhos do faminto aventureiro.
Do sangue tão ardente de um mestiço
O gozo se mostrando por inteiro.

Quem dorme no relento em pedregulhos,
Ao ter cama cheirosa se deleita,
Porém prazer imenso traz barulhos
Tremendo como febre de maleita.

A moça com gemidos e sussurros,
Olhando para o lado, o coronel,
Não vendo mais ninguém, desfere murros
Criando no final este escarcéu.

A bala do jagunço em mira certa
Uma alma desta vida se deserta...
Marcos Loures



206


A flor que desejo,
Distante de mim.
No sonho que vejo,
Eu te canto assim:

Nas horas mais difíceis, sofrimento,
A rosa, em seu perfume, me inebria.
Na sensação gostosa deste vento
Toda emoção, serena, e tão macia.

Do sonho de poder, a flor tocar,
Em todas suas pétalas, carinho...
Jardim dos sentimentos, cultivar,
Certeza de não ser, jamais, sozinho.

A flor que me encantou, está distante.
Só sinto seu aroma e nada mais.
Quem dera se esta rosa deslumbrante
Ouvisse o meu cantar de amor e paz...

Espero te encontrar. Ah! Quem me dera!
Seria renascer a primavera!



207


A flor que é divindade marcescível
Em pétalas debulha tantos hinos...
Amor que se pensara intransponível,
Lateja o coração destes meninos...

Carinho constelar tão impassível,
Se mostra guardião, vários destinos...
No caule destas flores mais flexível,
Desejos se demonstram, mansos, finos...

Resistem a qualquer pressentimento,
Vagueiam pelas hordas estelares...
Jamais se dobrarão ao forte vento.

A flor, embora morta, sobrevive
Nos olhos dos amores, dos luares...
Deste mago pendor, não há quem prive...


208

A flor que eu cultivei pra sempre viva
Expressa a fortaleza de um canteiro
Estendo minhas mãos, a alma cultiva
Promessa de um amor mais verdadeiro.

O cheiro que entranhaste dentro em mim,
Decerto que jamais eu perderei.
Amor o mais perfeito espadachim
Defende com firmeza a sua lei.

O tanto que eu te quero não se mede,
Apenas se vislumbra no infinito.
Nem mesmo a solidão agora impede
O sonho mais audaz, sempre bonito.

De ter por companhia benfazeja
A luz desta mulher que se deseja...


209

A flor que nasce em plena solidão
Nas lágrimas encontra adubação
Raiando numa amarga escuridão
Trazendo em suas pétalas, perdão

Perfuma com nobreza um coração
Que entregue ao seu poder de sedução
Já sabe sonegar a negação
E vive sem temor e sem senão.

Não deixe que esta flor morra, querida,
É nela que eu encontro o raro aroma
Razão fundamental para esta vida

Jogada há tantos anos, sem jardim.
E quando a fantasia, chega e toma
Eu vejo florescer a luz em mim...




210


A flor que num desejo vai se abrindo
Permite em leve orgasmo um colibri
Que aos poucos no prazer que vai sentindo
Espalha os seus desejos sobre ti.

Teu corpo com vontades se vestindo,
Desnudo e descoberto chega aqui
E trama nosso jogo ardente e lindo,
Delícia sensual. Dela eu bebi.

Tocada pelas ânsias desejosas,
Espalhas teu rocio pelas rosas
E fazes florescer belo jardim.

Um beija flor, vagando em liberdade,
Tomado por prazer e por vontade,
Revoa sem limites, dentro em mim...



211

A flor que um dia renasceu feliz
No peito de quem teve todo o amor
Num átimo se adere em cicatriz
Tomando todo o corpo, sedutor.
Fazendo deste corpo o que bem quis,
Escravo sem juízo desta flor...

Bebendo cada gole desta história,
Revendo o que passou, passo por passo,
Amar é reviver, guardar memória
Do que já se perdeu em rumo, espaço,
E reverter a dor em fina glória
Na devoção sincera de um abraço...

Assim comigo foi, flor do cerrado,
Meu verso se mostrando extasiado...



212


A flor que, no jardim, floresce rara,
De cores maviosas já me tinge
Na solidão feroz vem e me ampara,
Enigmaticamente, minha esfinge

Com mansidão devora; eu me rendo,
Ao doce aroma intenso desta flor,
Em ramas delicadas me envolvendo,
Perfume sensual e sedutor...

Um jardineiro atento em primavera
Sabendo desta flor em brônzea pele,
Vive pacientemente toda espera
Embora todo o sonho sempre atrele

Às pétalas da flor, ouro sonhado,
Plantado em jardim calmo, no cerrado...



213


A fome de poder entrar em ti,
Insaciável noite vai sem fim,
Na fúria em que deveras te comi,
Teu gozo derramaste sobre mim.

Além do teu desejo inesgotável,
Enfio de mansinho, frente e atrás,
A fonte do prazer inexorável,
Desejos em volúpia sempre traz.

Requebras tuas ancas quando engoles,
Até que te sacie, bem vadia.
Enquanto sobre mim, cavalgas, boles,
A gente se entregando em pura orgia.

Assim, como bacantes noite afora,
E cada novo orgasmo revigora...


214


A fome de viver adentra o mar,
Balanços destas ondas; vão e vem,
Meu coração perdeu o rumo e o trem,
Não tendo muita coisa pra contar.

Rastejo nas areias, ao luar
E o tempo de sonhar inda não tem
O braço bem mais forte de outro alguém
Que possa me ajudar a caminhar.

Acendo uma fogueira do meu jeito,
Assando com ternura o velho peito
Farrapos estendidos da ilusão...

Quem tem como estandarte, o sofrimento,
Fazendo da esperança o seu ungüento
Esquece a dor de outrora, arrisca o chão...


215


A fome de viver me faz contente,
Mostrando cada passo displicente
Na busca de um futuro mais ardente
No amor que cedo chega e se pressente.

Vivendo com vontade e plenamente,
O meu peito esfaimado, de repente
Percebe como é doce e tão ardente
O amor que é todo nosso. Só da gente.

Felicidade sempre é tão premente,
Quem nunca amou na vida, sempre mente,
O quanto a fantasia é envolvente

Banquete dos sentidos enlanguescente
Deitada em minha cama sabe e sente
Do amor que se faz pleno e mais urgente...



216


A fome nos guiava sem piedade.
Nos olhos miseráveis, esperança.
Desértica injustiça, na verdade,
Mostrando este flagelo numa lança..

Sabia que jamais iria ter
O gosto da pelúcia e do vinil.
A cama de capim nos vai dizer
Que o céu doutros lugares, mais anil...

Na fome de justiça, calejados,
Nessas barracas soltas nas estradas.
Os céus que nos olhavam, estrelados,
Extremas claridades desenhadas.

E vendo neste céu belos matizes,
Na cicatriz exposta, tão felizes!


217

A fonte delicada em que me banho
Nas noites em que vens bela e desnuda,
Vontade de te ter, gozo tamanho
A boca tão sedenta que me acuda

Em lábios desejosos, carmesim
Nas rubras ardentias na fogueira
Que queima intensamente até o fim,
Na insânia que se molda feiticeira

Recebo em minha boca, inundação,
Que emana desta gruta em doce ardência
Seguindo par a par, sofreguidão
Distante do juízo e da prudência,

Eu quero em cada orgasmo que tiveres,
Provar deste banquete em mil talheres...



218

A fonte do prazer jamais esgoto
E deixo a vida sempre me levar
Além deste infinito tão remoto
Maior que toda a força deste mar.

Eu sei que nada mais me impedirá
De ter o que sonhara o tempo inteiro
Por isso é que eu desejo desde já
Amor que seja sempre verdadeiro,

Hospedo no teu corpo essa vontade
De sempre querer tanto e muito mais.
De toda esta ternura que me invade
Carícias em delírios sensuais.

Quais fossem duas loucas andarilhas,
Minhas mãos apalpando maravilhas.



219


A fonte dos desejos já se alcança
Emblemática luz que assim me guia.
Ao ter em teu carinho tal fiança
A vida se entranhando em poesia.

Perguntas que não faço e nem pretendo
Caladas no meu peito me transtornam,
O quanto tão distante ando vivendo
Silêncios em respostas se retornam.

Rodando em noites vagas bar em bar
Recolho estas mensagens que deixaste.
A vida vem num lento transformar
Criando a cada noite este contraste.

No amor que eu encontrei a salvação
Eu bebo toda angústia em perdição...



220


A fonte inesgotável da beleza
Nos seios da morena mais faceira,
Bebendo deste gozo em corredeira,
Encontro a mais sublime fortaleza.

Sabendo dos teus sonhos de princesa,
A terra se derrama alvissareira
Nem mesmo a solidão tão traiçoeira
Vem contra uma alegria em correnteza.

Nos dóceis braços ninhos mais perfeitos,
Um canto idealizado e tão feliz,
Os rios vão seguindo mansos leitos

Eterna claridade a cada olhar
Trazendo a suavidade que prediz
O tempo de viver e de sonhar...


221

A fonte das esperas dita amor
Reinando sobre os passos que daria
Ousando muito além da fantasia
E nisto cada dia a se compor,

Vestindo este cenário redentor
Redime cada passo em agonia
E gesta o que deveras me traria
Cerzindo em primavera a rara flor.

Espero pelo fim e nada vindo,
O todo se deseja quase infindo
E nisto mergulhara uma esperança.

Mas quando me imagino em liberdade
O passo noutro engodo agora evade
E a sorte em desavença enfim me cansa.


222

A fonte inesgotável que sacia
Desejos e vontades mais ardentes,
Tomando nosso amor em noite e dia
Em lábios mais vorazes e tão quentes.

Recebo teu amor com alegria
Nos fogos delicados e prementes,
Em chama tão possante, em tal magia
Que morde e quando assopra crava os dentes.

Lambendo desta fonte com desejos,
Encontro delicadas maravilhas
Rondando ferozmente com meus beijos

Adentro por divinas, belas trilhas,
E mato a minha sede num segundo
No fogo em profusão, vulcão profundo...

223


A fonte insaciável desvendada,
Derrama-se em riacho, ganha o mar.
O quanto procurei numa alvorada
O sol que nunca veio me dourar.
Ao ver a mansidão anunciada
Nos braços da mulher vou me entregar

Na dança, a contradança prometida,
Nos olhos o farol que assim me guia,
Mudando todo o rumo desta vida,
Eu posso perceber farta alegria,
A solidão se esvai, vaga perdida
Morrendo pouco a pouco, a cada dia.

Ao léu vai se perdendo o desengano,
E o tempo vai passando soberano.


224


A fonte luminosa do prazer
Estampada nos olhos de quem amo,
Permite num momento perceber
A vida sem senzala, escravo ou amo.

Cativas com sublime liberdade
Expressa na completa fantasia,
Em espirais encontro na verdade
O quanto farto amor desejaria.

Sentir completamente esta presença
Que muda, num segundo, a minha rota,
O coração liberto sempre pensa
Na luz que dos teus olhos vem e brota.

Segredo desvendado, aberta a porta,
O sentimento em ti, feliz aporta..


225


A fonte tão distante mata a sede
De quem perde ilusão pela vida.
Desancando esta sorte, resta a rede
Levando o corpo em despedida.
Nem ao menos retrato na parede
Resta desta pobre alma assim perdida...

A seca da esperança mata a fonte
Tornando este deserto traiçoeiro
Sem lua que renasça no horizonte
Sem brilho que se mostre por inteiro
Nem há sorte final que se desconte
Do tempo que jamais foi companheiro.

Para alma que perdeu a virgindade
Só resta um bom remédio; uma amizade!


226


A força alentadora da amizade
Permite a mais suave caminhada.
Romper do sofrimento a velha grade
Tristeza se perdendo em revoada.

Negar tal sentimento ninguém há de
E se ele em calmaria tanto agrada
A gente conhecendo a liberdade
Não teme com certeza, quase nada.

Será que não podemos ter o viço
Do gozo deste amor sem compromisso
Que faz com que esta vida siga em paz.

Se o ser humano nega este poder,
Condena-se, por certo ao desprazer,
E mostra-se no fundo um incapaz...


227

A força da amizade é soberana
E de um fonte rara feita luz,
Trazendo para a luta tanta gana
Que ao mesmo tempo traz e nos conduz.

Quem tem esta certeza se engalana
Do brilho mais intenso e reproduz
Inesgotável chama soberana,
Reflexos que nos mostram quase nus.

Aperceber do quanto revigora
Mudando muitas vezes nossos passos,
Ao estreitar mais firmes nós e laços,

As tramas deciframos sem demora,
E nestas teias preso, sigo em frente,
Vencendo estas batalhas, tenramente...


228

A força da humildade não se esgota,
E nela, a mansidão de quem conhece
Que a vida traz Amor por tenra prece
E vence toda a seca, gota a gota.

Uma alma em desamor se perde, rota
E aos poucos, com certeza ela apodrece,
Distante do que quer, do que apetece
Tornando a glória em paz, bem mais remota.

Nas bem aventuranças, um pastor
Dizendo deste Amor que nada pede,
E sem outros desejos se concede

Fazendo da alegria o seu louvor
Trará felicidade para quem
Reconhece na paz seu grande bem...


229

A força da poesia em cada verso
Nos mostra todo encanto de viver.
Transporta pro papel um universo
Que cismo, de repente, em percorrer.
Daquilo que sabe, mais diverso,
Disperso em tanto sonho me faz crer

Que a fantasia borda a realidade
E forma num momento, um novo mundo.
Espaços percorridos, na verdade,
Se perdem e se ganham num segundo.
Fazendo da emoção que nos invade
O mote que nos toca, o mais profundo...

Por isso minha amiga, um peito alado,
Voando para além do imaginado...



230

A força de um amor que nos conquista
Eternizando a nossa juventude.
A sorte abandonada já se avista
Inunda novamente todo o açude.

O coração moleque, sempre artista,
Refaz em nossos dias a atitude
Numa beleza rara que se assista
O renascer dos sonhos, traz saúde.

Amiga, nunca tema o santo amor.
É forte tempestade que não passa.
Mostrando que o perfume de uma flor

É feito de alegria e de esperança.
Destino, com certeza não se traça,
É tempo de vivermos nossa dança!


231

A força desse amor que sei divino,
Insuperável canto da amizade.
Torna-me, de repente num menino,
Querendo assim, de todos, irmandade.

Trilhando no caminho da verdade
Que é feito sem temor e desatino,
Mudando toda história e meu destino,
Saber, permite solidariedade...

Vencendo mil temores, cardos, urzes...
Espinhos, pedregulhos, desamores.
Não permitindo mais terríveis cruzes,

Abrindo uma vereda em temperança.
Pintando nosso céu de mansas cores,
Já verdejando os olhos da esperança...


232


A força deste beijo não sacia
A quem louco desejo explode em fogo,
Por mais que tanto amor eu sei que havia
Preciso muito além que um simples jogo.

Eu quero uma paixão cega e vadia,
Que venha derramar-se em desafogo,
No gozo abençoando o dia a dia,
Sem roupas e juízo. Venha logo

Que a chama não se aplaca só com sarro,
No banco da pracinha, mato ou carro,
Eu quero intensidade sem frescura,

Não traga mais um álibi, querida,
Que a noite tem que ser bem resolvida,
Senão o amor padece na secura...


233


A força deste mar, tensa procela,
Tramando em vastidão a recompensa
Vencido pela dor que sei imensa,
Saudade de quem fora minha estrela.

Vontade a cada dia de revê-la
Embora a noite venha sempre tensa,
Meu canto em harmonia se revela
Na força desta luz que é tão intensa.

Envolto pelos braços da tristeza,
As mãos entorpecidas de quem reza
Sonhando com um dia mais contente.

Tramando amanhecer num outro dia
Distante da amargura e da agonia,
Sorrisos de esperança, finalmente...


234


A força do desejo pulsa forte...
Cabe-nos simplesmente não temer.
Se a vida nos promete um novo corte,
É necessário, sempre, perceber

Pelas ruas dos sonhos; que se aporte
O novo; meus desejos vão vencer!
Quem fora crueldade perca a sorte,
Que nunca mais respire um bem querer!

Nas margens violentas desses rios
Canções abençoadas viram hinos.
Não se permitam tétricos desvios.

Que a coragem de todos os meninos,
Seja a força maior. Seus desafios
Nos tragam novos dias, cristalinos!


235


A força em esperança se renova
Fulgura em cada verso, revela o sonho.
Supera qualquer dura e triste prova
Garante este porvir bem mais risonho.

Barreiras e ressaltos superados
Com calma e com total serenidade;
Os raios matinais ensolarados,
Permitem nos pensar eternidade.

Tu sabes como é dura a caminhada
Daqueles que viveram por amor.
Degraus que justificam esta escada
Numa escalada firme e sem temor.

Na busca deste sonho mais preciso,
A porta procurada: o paraíso...



236

A força insuperável do que é belo
Não pode sucumbir e vencerá,
Por mais que seja humilde este castelo,
Imerso em realeza desde já

Bom lavrador conhece o seu rastelo,
E sempre belos frutos colherá;
No canto que encantado eu te revelo,
O verso em harmonia vencerá

Porém é necessário ter talento,
E saiba que tens minha admiração
Fazendo do soneto, louvação,

Permita que eu expresse num momento,
O quanto que aprendi tendo comigo
Os teus ensinamentos, mestre e amigo.
237


A força necessária pra batalha
Por vezes já não basta, minha amiga.
O corte que aprofunda enquanto talha
Não deixa que o caminho, vão, prossiga.

O tanto que se entranha da navalha
Arrebenta decerto a dura viga,
O vento em tempestade, tudo espalha
E no final de tudo, desabriga.

Porém quando irmanados não tememos,
Sabemos desta força inexorável
Unindo nossas mãos em vários remos

Atravessamos sempre a correnteza.
Além do que é possível, imaginável,
Se juntos, bem mais fortes, com certeza!


238

A força que demonstra uma união
Jamais permitirá que o mal nos vença
Quem tem este desejo em profusão,
Aqui terá decerto a recompensa.

Os medos em real arribação
Ao ver este poder em força imensa.
Deixando para trás desilusão
A vida em amizade é menos tensa.

O quanto em cada verso louvo a fé
Naquele que se fez simples cordeiro,
Amando com certeza o mundo inteiro

Jogado nas masmorras, na galé
Vencendo em mansidão dura tortura,
Ensinou o poder de uma brandura...


239

A força que me doma está disforme
Em pútrida garganta se regala,
Estúpida esperança que não dorme,
Espreita silenciosa em minha sala.
Um coração afeito a coliforme
Em látegos castigos, nada fala

Errantes emoções, podre destino,
Num abissal e tétrico sorriso,
Revirando minha alma em desatino,
Prenúncios esgarçados num aviso.
No vago de teus olhos me alucino
E louco, a dor espúria, logo biso.

No centro de meu mundo uma discórdia
Somente uma mentira, vai, acode-a...


240


A força que não teme a correnteza
Enfrenta as corredeiras, ganha a foz,
Escuto a claridade desta voz
Que trama em minha vida tal beleza.

Sabendo quanto a vida sempre preza
Aquele que se dá vencendo o algoz
Lega ao esquecimento a dor atroz
Deixando sempre farta a nossa mesa

Não creio ser possível desprezar
O sentimento nobre que sem par
Transforma o nosso dia, triunfal.

Aos poucos me domando o pensamento
Trazendo em glória cada bom momento
O amor vai se tornando sem igual.



241

À forceps retirado das entranhas
Da boçal matriarca da matilha,
Bebendo da vergasta, quando apanhas
Masmorra e cadafalso a besta trilha.

Nos esgotos mais pútridos as sanhas
Da velha alma canalha, uma andarilha,
Aprende com os vermes suas manhas,
Prepara a cada riso, uma armadilha.

Hematófago inseto. A carcomida
Carapaça que esconde a podre vida
Recobre este molambo que respira.

Herético fantasma lambe a merda
Que escorre e toma os lábios, cada cerda
Empapuçada, e um beijo a esmo atira...



242

A formosa morena que deixou
Meu coração sofrendo em cachoeira,
De lágrimas o chão já se alagou,
E nada de voltar moça trigueira.

Na casa de sapé, tanto ventou
Que um dia desabou a casa inteira,
Somente o seu retrato lá ficou
Mostrando o quanto a sorte é traiçoeira.

O rio vai correndo no sertão
As águas; eu bem sei, vão dar no mar,
As lágrimas fazendo migração

Decerto encontrarão linda morena
Que um dia ao perceber a água salgar
Talvez volte pra mim, mesmo por pena...


243

A fralda da morena em minha boca
A boca se desfralda na morena,
A noite vai passando muito louca
Enquanto sem ter fralda amor acena.

Depois devagarinho já se esbalda,
Molhando minha boca com rocio...
Delícia da morena sem ter fralda
Desfralda toda noite imenso cio.

De tanto que ela goza enchendo balde
Na borda de uma cama não agüento,
Depois que tanto amor a gente esbalde
Eu durmo solitário no relento.

Que faço se esse gozo já me empoça
Eu tiro ou deixo a fralda dessa moça...


244

A fria solidão que me tortura
Dizendo a todo tempo que não posso
Sonhar além do esboço de um destroço,
Ferrenho auto-retrato em amargura.

Saudade do que tive em vã procura
Nas mãos das ilusões eu me remoço,
Depois a realidade abrindo o fosso
Reflete o que colhi, só desventura...

As asas tão distantes dos arcanjos
A vida se perdeu em desarranjos,
O vértice se torna então a base.

E quanto que sonhei... eu sei, demais...
Momentos de esperança são fatais
Se a lua se transforma a cada fase...



245

A gata que me deste uma angorá
Que toda noite mia na janela,
Eternamente eu sei que ficará
Tanta beleza nela se revela.

Bichana ronronando em minha cama,
Espraia-se e sorri num bom miado,
Não dá problema, amor nem lá no IBAMA
Não fala e nem reclama. De bom grado

Eu topo esta parada, sim senhora,
Pois não tendo segundas intenções
A troca que propões, eu topo agora

Jamais tu ouvirás reclamações
E fique, pois então com este cão
O tal pastor que eu sei ser alemão...



246


A gata ronronando em minha cama,
Roçando sua pele sobre mim,
Tigresa que no cio já me chama,
Querendo desfrutar do amor sem fim,

Num ritmo alucinante, noite afora,
Requebros delirantes, garras, dentes,
Enquanto num segundo me devora
Penetro suas minas entrementes.

Molejos de quadris extasiando,
Deixando alucinado o seu parceiro,
No fogo em tanta ardência nos tomando
Orgasmos multiplicas, vou inteiro

Querendo sempre mais e sem descanso,
O paraíso em gozos, eu alcanço...



247



A gente quer transar Problema nosso,
Vizinhos de binóculos. É moda?
Mas não permita nunca mais a poda,
Eu quero o tu queres. Sim e posso.

Lambendo com carinho o teu pescoço,
Porém Dona Taninha se incomoda
Enquanto Edinho dança noutra roda
A gente a se melar, é um colosso!

Melhor beber do mel do que meleca..
Te quero safadinha e bem sapeca
Rebola bem ou mal, mas me prometa

Que não se importará com os vizinhos
Pois resta aos dois otários pobrezinhos
Somente a fechadura ou mesmo a greta.


248

A gente se escraviza por tolices
E deixa que as correntes nos contenham.
As moças mais bonitas, tolas misses,
Na estúpida etiqueta já se embrenham.

Na vida, eu procurei a liberdade
E tantas vezes; vi burras algemas
Tirando do viver a qualidade,
Causando os mais babacas dos dilemas

Depois da feijoada ou do repolho,
O pobre do intestino retorcendo,
Porém a sociedade vivendo de olho
Esquece do conjunto e quer o adendo.

Pois viva este sinal libertador
E solte então um pum no elevador!



249

Enquanto a gente sonha com riqueza,
A face da miséria em cada esquina
Transtorna qualquer forma de beleza
E a cena, amargamente ela domina.

Às vezes é preciso ter destreza,
Senão já se tropeça na menina
Dopada ou revendida, sem defesa
Enquanto o velho pai já nem opina.

É fato que isso cause comoção,
Ao menos por segundos num cristão
Que passa pela rua, atrás do sonho;

Pensando no cenário que é medonho...
Mas logo vem à tona o dia-a-dia:
- Comprei um carro novo. Que alegria!


250


A gente tantas vezes se perdeu
Em coisas tão sutis. Por que sofrer
Se tudo que carrego no meu ser
No brilho dos teus olhos renasceu?

E quando te percebo, sendo teu,
Encontro um bom motivo pra viver.
Sabendo mergulhar neste prazer,
O sol tomando o céu num apogeu.

Razões que procurara sem descanso,
Fazer desta alegria o meu remanso,
Sentir o teu calor que me protege

O amor sendo demais; olvida o herege,
Converte em luz perfeita a fria treva
E a dor de uma saudade, ao longe leva...



251


A gente vai sem paz, perdendo o chão;
Ao ver que não restando quase nada,
A vida quando muda a direção
Adentra em solidão por outra estrada.

O brilho se ofuscou sem a demão
Necessária. Da sorte anunciada
E aos poucos destruída e sonegada
Eu vejo tão distantes vinho e pão.

Esperança, sem tréguas, carcomida,
Alegria fugaz segue sem rumo,
Deixando como rasto este vazio.

O quanto que sonhara em minha vida,
Esvai-se em noite fria, frágil fumo,
Fantasmas que hoje trago, eu mesmo crio...
Marcos Loures



252


A glória de viver a mocidade,
Na eterna sensação de primavera,
Ao espalhar a solidariedade,
Apascentando sempre a dura fera,
Trazendo para todos; a amizade,
Do amor que distribui amores gera;

São poucos os que eu vi em minha vida,
Por isso, é necessário que se diga
De uma pessoa bela e tão querida,
Da qual posso sentir: presença amiga,
Eternamente vai ser percebida
Na estrela em que amizade já se abriga

Um homem como poucos assim diz
Da espera que será sempre feliz...

ESTE SONETO É UMA HOMENAGEM PÓSTUMA AO GRANDE AMIGO E SER HUMANO DIFERENCIADO ELADIR PADILHA, QUE COM CERTEZA ESTÁ ESPALHANDO FELICIDADE NOS CÉUS.


253




A glória de viver sempre se faz
Nos olhos de quem traz felicidade,
Palavra benfazeja satisfaz
Moldando em esperança uma amizade.

Deixando as diferenças para trás
Permite-se prever a claridade.
Ao semear amor, carinho e paz,
A vida se promete em liberdade.

No teu aniversário, minha amiga,
Que toda a glória imensa já prossiga,
Pois tens este poder de ser assim.

Uma pessoa alegre e triunfante,
Sorriso acolhedor e deslumbrante,
Parabenizar-te, então eu vim...


254


A glória que se faz um pouco a cada dia
Explode nesta data, alvissareira e bela
Aonde o coração transborda em alegria
E todo o grande amor, por ti já se revela.

Querida, Deus demonstra o quanto propicia
Ao homem, ser ingrato; empresta nau e vela
Trazendo em boa sorte a chama que luzia
E o destino da gente, alvissareiro, sela.

No teu aniversário eu quero te dizer
Do quanto é necessário à vida o bom prazer
De termos lado a lado, alguém que nos permita

Um sonho tão bonito, à luz da liberdade
Que possa enfim nos dar total felicidade.
Mudando em paz imensa história e sina escrita...



255


A glória tão sublime da amizade
É feita com total discernimento
Da dura tempestade ao manso vento
Um sonho que se doura em liberdade.

Na lua, nas estrelas, na cidade,
Nos olhos mais profundos tanto alento,
Domínio deste mundo em que aparento
Lunático que busca a claridade

Hasteio o coração em verso solto,
Enfrentando oceano mais revolto
Persigo a calmaria em doce abrigo.

Na glória prometida um lenitivo
No qual sei que ilusão decerto eu vivo
Do apoio que recebo deste amigo...
Marcos Loures



256


A gordota desfila os seus quadris
Pensando na potranca de outros tempos.
A história não permite mais o bis
Estrias não são simples contratempos.

O botox mal esconde a rugaria
Que o tempo inexorável determina,
O duro é perceber que outrora havia
A face delicada da menina

Que agora exagerando a maquiagem,
Ilude-se pagando algum miché,
E a triste transparência na roupagem
Desnuda o que ninguém finge que vê.

Derrama na banheira vários sais
E a vida já partiu pra nunca mais...


257

A grácil fantasia que vestiste
Suave transparência de organdi,
O verso não se faz, contigo, triste,
Desabo dos castelos, chego a ti.

Arcanos hedônicos eu vi
Buscando os teus caminhos; não os viste?
Depois de tanto tempo estou aqui
O féretro entranhado não existe.

A dor se locupleta na tristeza,
Audazes os meus olhos cirzem luzes;
Exauridos. Desdenhas com destreza

Antigos faroletes se dispersam,
Os gozos mais sublimes reproduzes
E as almas solitárias já conversam...

258

A grande borboleta leva na asa
Direita a solução de meus problemas
Na esquerda a solidão que tanto abrasa
No coração meus medos fazem temas.

A borboleta voa e ronda a casa
Pousando em meus temores, velhas gemas.
Meu nome eu encontrei lá no SERASA,
Porém não tenho nada com esquemas

Apenas isquemias passageiras
Que fazem da crisálida o retorno
À larva com defesas afiadas.

Se tento ter amores por bandeiras
A sorte; vou assando noutro forno
Pois sei reconhecer cartas marcadas...


259


A guerra traz a morte, a vida se esvai, breve.
Amor, talvez, prometa, a proteção do escudo.
Quem ama nunca pensa, a morte o deixa mudo.
Um arco doloroso, a vida então descreve...

Quem sabe desta sorte, em guerras não se atreve.
Fugindo da batalha, esconde-se de tudo.
Assim se deu comigo, eu sempre não me iludo.
Um peito enamorado, em paz fica mais leve...

Não me deixo levar pela vontade insana
Que tantas vezes dá de guerra leviana;
Sustento-me em teu braço, a vida fica bela!

Não quero essa navalha, espero doce estima,
Por não viver batalha, a nossa vida prima.
Marcela, em nosso amor, a paz sempre se sela!



260


A imagem convulsiva da volúpia
Na cúpida expressão de teu sorriso,
Mulher que sem ter nada mais que culpe-a
Desnuda em minha cama, o Paraíso.

Desejos entre lábios, sem pudores,
Véus alabastrinos, bela tez.
O amor entre delírios, cheiros, flores
Reflete esta loucura na nudez.

Suores se espalhando nos lençóis,
As marcas nos pescoços. Tão lasciva
Derrama sobre a cama luas, sóis,
Uma estrela voraz e compassiva.

Suspiros e gemidos, pleno gozo,
Matizes deste sonho fabuloso...

261

A insanidade intensa deste amor
Promulga em nossa sorte, eternidade.
Eu tenho tanta coisa a te propor
Porém acima disto, intensidade.

Amor quando já traz sinceridade
Demonstra ser de berço um vencedor,
Decerto vai gerar felicidade
E nela novamente se compor.

Teus braços, universos benfazejos
Que amansam as volúpias e os desejos
Em laços carinhosos e benditos.

Meus olhos te encontrando são felizes
Pois sabem que terão belos matizes
Iluminando os céus bem mais bonitos...


262

A irradiação divina que em teus seios
Demonstra em maravilha singular,
A força mais perene dos anseios
Tomando o pensamento devagar.

Meus olhos de outras sendas vão alheios
E sinto o teu desejo me tocar,
Singrando mares plenos, fartos veios,
Embarcação em sonho, navegar.

E despes lentamente a camisola,
A fúria feita insânia chega e assola
Tomando este cenário prazeroso,

Da bela paisagem que me expões,
Prepara-se a caçada. Nos arpões,
Certeza de um final maravilhoso...


263

À janela, de noite te esperando,
Na forma deste vento tão suave,
Aos poucos tua voz já vem chegando,
Nos sonhos, meus desejos, uma nave...

O vento, calma brisa, me tocando,
Abrindo o coração, encontra a chave
E sem que eu sinta já chega me entranhando.
Permito que este sonho sempre lave

As dores do que fui e não sou mais,
Não tenho mais as penas que sofria...
Agora, que sou teu; encontro a paz,

A paz que tantas vezes procurara...
A voz que escuto, enfim, é tão macia,
Desta mulher tão bela quanto rara...
264


A juventude morta, escorraçada...
Meus olhos na penúria dos enganos.
A vida que passamos, desgraçada.
O tempo tão cruel, estraga os planos..

A noite não permite madrugada,
Meus dedos congelados vão tempranos,
A rota desta vida, desviada.
A morte me trazendo velhos panos...

Juventude se perde sem carinho...
A graça de viver, perdendo encanto...
Prossigo vagabundo passarinho.

Não ouves nem sequer meu triste canto...
Quem sabe viveremos nosso canto,
Quem sabe encontraremos nosso ninho!


265


A lágrima mais triste que rolou
Desses meus olhos, velhos sonhadores,
Aquela que num dia te encontrou
A rosa mais bonita dentre as flores

Dizendo que este amor já se findou
Levando ao meu sonhar tantos horrores.
Querida, não pergunte mais quem sou
Meu canto vai morrendo. Os estertores

Daquilo que sonhara ser eterno,
Amor que resistia a tempestades,
A vida se tornou um vero inferno,

Restando tão somente estas saudades
De nosso amor que sempre fora terno,
Lutando pela vida e liberdades!


266

A lâmina que corta tão profundo
Serena adormecendo nas mentiras.
Gerando tantas dores num segundo
Recorta uma esperança em finas tiras.
Nas voltas que percebo, pelo mundo,
A faca nas senzalas caipiras

Assim como em favelas soberanas
Repetem o retrato travestido
Noutras senzalas/dores suburbanas.
Na saia levantada, no vestido,
No corte, nas queimadas, fomes, canas
No sonho sem pendão, prostituído...

Mas quem sabe amizade bastaria
Para nós renascermos outro dia?


267


A liberdade agora, no amor; vivo.
Singrando os ermos campos da saudade,
Percebo em nosso amor, tranqüilidade,
O peito vai aberto e segue altivo.

Do gozo deste sonho eu não me privo,
Vivendo enfim real felicidade.
A mansidão divina já me invade,
Mudando o meu caminho, redivivo.

Trazendo um copo d’água pro sedento,
Depois de atravessar vasto deserto,
Meu rumo com certeza, não deserto

Prosseguindo ao sabor do calmo vento
Eu sei que encontrarei o que desejo,
Final apoteótico, eu prevejo...


268

A liberdade em paz, cedo se aflora
Nos olhos da morena que ao saber
Que eu quero vem chegando sem demora
Trazendo este delírio: o bem querer.

Na porta de chegada desta casa
Porteira sempre aberta da esperança
Dizendo que a vontade não se atrasa
Quando se perpetra em confiança.

É. Por vezes a estrada se interdita
Nos engarrafamentos da tristeza
Audaciosa chaga tão maldita
Estampada na fome sobre a mesa

Vazia, sem sequer uma iguaria.
Repasto que tu trazes: poesia...


269


A LIBERDADE ENTOA UM HINO RARO
DECLARO EM CADA VERSO ESTA EMOÇÃO
QUE HÁ TEMPOS CULTIVANDO EM ILUSÃO
PERMITE O QUE PROCURO COMO AMPARO.

NO GOSTO DA AMIZADE, TOM TÃO CARO
O BEIJO TENRO E CALMO SEM SENÃO
NEGANDO A CADA DIA A NEGAÇÃO
SONEGA O VENTO FRIO DURO AMARO

EU TENHO NOS IRMÃOS O BRAÇO FORTE
QUE TRAZ NUM GESTO MANSO ESTA CERTEZA
DE VENCER COM TERNURA A CORRENTEZA

FAZENDO DA ESPERANÇA AGORA O NORTE
LEVANDO O CORAÇÃO COMO BANDEIRA,
SOBREVOANDO EM PAZ A CORDILHEIRA...


270


A liberdade rasga a madrugada
Exposta em cada esquina da cidade.
Rosnando com os cães numa calçada
Desnuda nos bordéis em tempestade.

Nos goles de aguardente, rum e gim.
Gemidos espalhados nos motéis.
Liberdade agoniza dentro em mim
E verte sem limites, méis e féis.

No corpo da vadia que me roça,
Sarcástica se mostra; insanamente.
Às vezes tão irônica faz troça
Em outras se desnuda totalmente.

A liberdade foge das paixões,
Vertendo em riso e gozo, as podridões...

271



A liberdade, ainda que tardia;
Fazendo um manso ninho no meu peito,
Mostrou que se renova em cada dia,
O sonho de viver amor perfeito.

Amor em plenitude, sem cobranças;
Que dê à companheira as asas plenas.
Que não se prenda aos medos nem às crenças,
Que saiba enfim amar, somente, apenas...

Amor que não derrote, sempre ganhe.
Amor que não discuta, sempre saiba;
Amor que nunca peça, sempre apanhe,
E que nunca se extravase; sempre caiba...

Amor que em todas horas, traga o bem...
Libertas; que serás assim, também...


272


A linguagem popular
Já faz mal aos teus ouvidos,
Mas, atento, devagar
Tocará os teus sentidos.

Quem desvenda este luar
Tem seus cantos repetidos,
Em Catulo fui buscar
Os meus versos mais sofridos.

A miséria que afugenta
No sertão do meu Nordeste
Se esta seca é violenta

Foi castigo lá do céu?
Na verdade o mal e a peste
Vem das mãos do Coronel!


273

A lipoaspiração numa alma triste
Talvez deixe seqüelas: esperança.
Enquanto o vaga-lume ainda insiste
A lua tão distante já se cansa

Esta emoção morrendo, não resiste,
E bebe do passado em temperança,
O sonho extasiado tudo assiste
E aguarda ao fim de tudo, uma mudança

Que trague outra verdade que não essa,
Se a gente não conhece e recomeça
A pressa é inimiga do perfeito.

Mergulho os meus fantasmas no teu colo,
Não vejo com certeza sequer dolo,
Mas tudo recomeça se eu me deito...


274


“A lira do cantor em serenata” ,
Convoca a sua amada que não vem.
Sonhando na janela com seu bem
A moça mal percebe, mas maltrata.

Vencido pela dor, procura alguém
Que possa lhe tornar a vida grata,
Na lua que se esconde atrás da mata
Dizendo que não há, jamais ninguém

O velho sonhador em disparate
Mergulhando os seus olhos no infinito,
Por mais que a vida tanto lhe maltrate

Não cansa de sonhar, retorna à cena
E a lua se entregando noutro rito
Sorrindo, com desdém, imensa e plena...


275

A lira em serenata diz dos versos
Amantes emoções, risos e dores.
Louvando dos jardins, espinhos, flores,
Os sentimentos vagam, tão diversos.

Os dias que passei, tristes, perversos,
Permitem que eu disfarce em mil amores,
Deixando bem distantes os rancores,
Meus olhos no infinito vão imersos.

Amigo, eu te agradeço, saiba disto,
Num sonho mais insano ora persisto
Falando dos castelos da ilusão.

Um velho trovador, um repentista,
Às vezes sonhador, outras trocista,
Agradecendo a ti, de coração...


276

A loba tão fogosa em minha cama,
Chamando para a festa do prazer,
Ovelha desgarrada logo inflama
A cama que se faz enternecer
De novo recomeça a velha trama
Da boca em tuas sendas, se perder...

Devoras cada gota de saliva,
Na sede que não cessa e que enlouquece
A carne devorada, aberta, viva,
Neste delírio insano que apetece
E faz além de toda expectativa,
Gerando um maremoto, riso e prece

A pele tão suada, o teu sorriso
A noite agradecendo o paraíso...


277


A lua ao penetrar sem cerimônia
O quarto em que tu dormes bela e nua,
Enquanto um cavaleiro com insônia
Percebe esta beleza e vai à rua

Subindo na janela de teu quarto
Adentra e te beijando mansamente
Depois do susto, amor deixando farto
Aqueles que se entranham loucamente.

Sacias meus desejos e eu sacio
Nos gozos infinitos, o teu cio,
Entrelaçando coxas e caminhos.

Rendido as emoções e aos teus carinhos
Alçando no teu quarto ao paraíso,
Encontro-me na paz de teu sorriso...



278

A lua ao penetrar
O quarto da princesa
Além desta surpresa
Em raios de luar

Da prata a nos tocar,
A sorte sobre a mesa
A vida trama a presa
Na luz a desnudar.

Risonha maravilha
Aonde se polvilha
Argêntea fantasia

E o todo do passado
Num átimo eu já brado
E nele amor se via.


279


A lua clareando no sertão
Deixando prateado todo agreste
A moça sem juízo não diz não,
De toda a sedução já se reveste.

Amor contrariando mãe e pai
Jagunço com princesa não dá certo,
Enquanto a noite mansa inda não cai
O vento se espalhando no deserto

Parece me dizer desta loucura,
Porém a juventude não se cala.
Na boca da morena uma ternura
No peito do seu pai, encravo a bala.

O ofício, com certeza, me treinou,
O tiro se bem dado, libertou...


280


A lua comovida, desce à terra
E molda em argentinas maravilhas
Estradas onde amada, sei que trilhas
Alçando num momento, vale e serra,

Ausentes da discórdia, em paz sem guerra
As almas que se tocam, andarilhas,
Fugindo da tristeza que, em matilhas
Chaves da solidão cruel, encerra

Permita-se sonhar, não custa nada,
Da lua que se espalha sobre nós,
Vislumbro a mansidão tão delicada

Legando ao sofrimento, este vazio,
No sol que surgirá enfim, após
Um tempo abençoado, eu fantasio....


281


A lua companheira dos amantes
Deitando em nossa cama rouba a cena.
Seus raios poderosos e brilhantes

Vibrando em nossa chama nada amena.
Depois de extasiada, por instantes,
De plena vai ficando assim, pequena...

Um dia a lua chega de mansinho
Nos toca e nos levando num segundo
Fazendo sem saber, tanto carinho;
No amor que sempre foi maior do mundo,

Provoca essa mulher maravilhosa
Como uma deusa encharcada de perfume
Rainha dos canteiros, minha rosa,
Tomada, num lampejo de ciúme...


282



A lua coroada em céu brilhoso,
Tramando, despojada, tanta luz...
Em ti, ó companheira, vou ditoso.
E cada raio teu, amor conduz...

Desfolho o meu olhar nas tuas pratas,
Grinaldas esculpidas sobre a terra.
Mergulho nos teus braços, nas cascatas,
Amor que tanto lume sempre encerra...

Eu quero um beijo teu na minha boca,
Dançando sob os raios, minha lua...
Vontade de te amar, vontade louca.
Despir-te totalmente, ter-te nua...

E assim, embriagado de desejo,
Nos braços desta lua já me vejo...


283

A lua de Catulo, sertaneja
Deitando pura prata sobre nós,
Enquanto o São Francisco desce à foz
Uma esperança além já se deseja.

As margens deste agreste quando beija
Singrando sobre a fome mais atroz,
Gaiola da ilusão escuta a voz
Que se ergue em fantasia mais sobeja.

A lua se derrama cor de prata
Clareia maravilhas sobre a mata
Espalha sobre o rio o seu caminho.

Sertão virando mar, mudando estradas,
As sendas num clarão enluaradas,
Enquanto as águas correm, de mansinho...


284

A lua de meus sonhos muda as fases
Desnuda, em plenilúnio, chega aqui.
Lirismo inevitável, tantas frases
Sagrando todo o amor que vejo em ti.

Atônito caminho pelas ruas,
Buscando a lua imensa que sonhara,
Ao ver estas estrelas belas, nuas,
Verdade se tornando bem mais clara.

Tua nudez entranha nos meus olhos,
Miragem que decerto já me ilude.
Colhendo a fantasia feita em molhos
Amor vai me inundando, sacro açude.

Espetáculo feito em várias cores
Caleidoscópio, eu vejo em tantas flores..


285


A lua debruçando sobre a fonte
Derrama nos seus raios luz intensa.
Aos poucos se escondendo no horizonte
Em negritude deixa a noite tensa.

Debruçada, distante sobre um monte
A lua que já fora grande, imensa,
Talvez noutro momento já desponte
Desnuda se mostrando em recompensa.

Amores que se banham sob a lua,
Deitando mil prazeres, claridades,
Na diva que se entrega mansa e nua,

Os olhos radiantes, dois cristais,
No gozo de um orgasmo, insanidades,
Reflexos dos desejos imortais...


286


A lua derramando-se tristonha,
Espera pela aurora que se chega...
A luz que brilhará vaga e medonha,
Os olhos desta lua sempre cega...

Com outra madrugada, a lua sonha,
Passeando no zênite, trafega...
Deitada, se cobrindo bela fronha,
Os sonhos do poeta já carrega...

Lua amada, querida companheira...
Não te esqueço jamais nos pobres versos...
Tantas vezes procuro-te altaneira

Pelos céus no meu canto desolado...
Buscando por teu brilho em universos..
Mas embalde, o meu céu vive nublado...


287

A lua desmaiando; o firmamento,
Rompendo o sol trazendo o seu clarão...
Uma esperança acalma o sofrimento,

E aviva, borbulhando o coração.
O dia vai passando, calmo e lento,
Saudade dominando esta emoção...

Percebo que sem mágoas, criei asas;
Na espera que promete bom augúrio.
Fomenta uma alegria em vivas brasas,
Quem teve no passado, amor espúrio,

No augúrio deste sonho quer futuro
Que seja, pelo menos delicado,
Qual lume que ilumina céu escuro,
Quem sabe te terei sempre a meu lado?


288

A lua é companheira há tanto tempo
Não temas, minha amada, a traição.
Não vejo nesta vida contratempo
Que possa nos negar tanta paixão.

Se estás bem dentro da alma tatuada,
Tu és minha metade mais querida.
Nas mãos tão delicadas desta fada
A sorte foi lançada, e assim cumprida.

Nós somos espelhares, nada temas.
Tu és a minha glória, e sou feliz.
Amores e desejos, nossos lemas,
Tu és tudo o que quero e sempre quis...

Minha alma se encharcou em teu perfume
Não necessita, amada, ter ciúme....


289

A lua em primavera, imensa e plena,
Correndo pelos campos, forma o trilho,
Enquanto a poesia assim me acena

Nos rastros do luar me maravilho.
A brisa que me roça, doce amena,
Trilha sonora feita em raro brilho.

Pensando em ti, chamando por teu nome,
Murmúrio de um riacho me responde,
Num segundo, entre nuvens, ela some
Procuro a tua sombra, não sei onde.

Retorna bem mais forte, luzes tantas,
Colhendo as flores mágicas do sonho,
Paisagem deslumbrante, assim me encantas
E um quadro inesquecível, eu componho...


290


A lua enamorada do deus sol
Se entrega num eclipse total.
Na noite esse apagar do grã farol
Penumbra num convite sensual.

Dispersam energias e delícias.
A terra se inundando deste amor.
Estrelas salpicadas em malícia
São vivas testemunhas do esplendor.


A lua se engravida de beleza
E solta, nos seus raios mais felizes
Um brilho que bem sei, tenho certeza,
Transmudam meus amores, seus matizes.

Depois deste momento extasiante,
Encontro-te lunar, solar, amante...



291

A lua iluminando nosso quarto
Adentra na janela, tão airosa.
De ti; jamais, querida eu me aparto
Colado em tua pele mais cheirosa.

Depois de tanto amor já não descarto
Que uma alvorada venha mais gostosa;
Embora na verdade esteja farto.
Tu és uma mulher maravilhosa!

Meus sonhos te alcançando num momento
Deixando para trás o sofrimento
Revelam quanto quero o teu amor.

O dia vai nascendo em pleno sol
Que adentra iluminando com fulgor
E tudo recomeça em arrebol...


292

A lua melancólica nos diz
De tempos que se foram pra não mais.
E mesmo quando agora, eu sou feliz,
O vento diz de dores ancestrais.

Olhando a claridade, a cicatriz
Lateja no meu peito; mas jamais
Retornará decerto um céu tão gris.
Meu barco até que enfim encontrou cais.

Não sei se tu entendes o meu choro,
Não é, pois eu garanto de saudade.
Se às vezes pensativo eu me demoro

Revendo cada dia que passou,
Seja porque, talvez, felicidade
Finalmente, querida, aqui chegou...


293


A lua merencória dos poetas
Deitando tanto brilho sobre nós,
Uma estrela cadente vem veloz
Descreve em pleno céu sublimes setas.

Sabendo dos prazeres, nossas metas,
O amor que outrora fora nosso algoz
Derrama maravilhas, tem por foz
Paisagens delicadas e diletas.

Mereceria enfim felicidade,
Aquele que teimando em liberdade
Por vezes fez do verso sua grade?

A rara fantasia nos invade,
Será que encontrarei a claridade?
Respostas eu procuro, mas quem há de?



294


A lua merencória que nasceu
Por sobre estas montanhas, trás os montes,
Sabendo que este amor era só meu,
Radia com tal força os horizontes

Tocando todo o sonho que se deu
Bebendo em alegria, minhas fontes,
A lua em claro sol se converteu,
Ligando noite e dia em raras pontes...

Serei o que quiseres, a sereia
Domina com seu canto o meu destino.
Deitado nesta praia em fina areia

Almejo meus caprichos nos seus seios.
O mar quebrando areia canta um hino
Louvando o nosso amor, sem ter receios...

295


A lua merencória, em noite fria
Ascende sobre os lumes vaporosos
Enquanto ao debruçar tal fantasia
Os olhos de quem amo; caprichosos.

Florias com delícia em harmonia
Deixando para trás os belicosos
Momentos onde a luz inda se via
Dourando fartos bens, voluptuosos.

Dormências entre ardentes explosões
Volúpia que te toma em tais delírios
Na profusão de estrelas, tantos círios

Pairando sobre nós, aos borbotões
Rendida aos vãos temores, neste altar,
A deusa se entregando ao lupanar...


296


A lua, no deserto, branca e plena
Traduz a solidão do meu amor.
Brilhando com total, raro esplendor,
Toda a melancolia já me acena...

Deserto que vivemos, só miragens,
Amores nos deixando, a cada dia.
Depois de tanto tempo em fantasia,
Nos sobram simplesmente essas imagens.

Do tempo em que sonhamos viva cena
Achando eternidade na alegria.
Fugaz, nos abandona em agonia.
E sem nenhum escrúpulo, envenena.

Quem dera se nascesse alguma flor
Em todos os desertos de um amor!


297

A lua no sertão, meu amor sertanejo...
Abrindo essa janela a lua, intensa brilha.
Promete a minha vida imensa maravilha.
A lua se esbaldando, espelha meu desejo...

Vem cá minha morena, espero por teu beijo.
A lua faz o claro, então vamos na trilha.
As urzes no caminho, espreita e armadilha;
Um sonho cristalino; olhar brilhante vejo!

A lua, companheira, anseia pela aurora.
Estrela tão formosa, a cena se decora!
Ó lua do sertão! Meu sonho e minha luz!

Lucélia me deixou, roubou a claridade.
A lua que carrego, a lua da cidade...
Da lua do sertão, ficou só a saudade...


298

A lua nos abraça; sempre cheia
Trazendo a mais sublime claridade,
Quem ama de verdade não receia
Nem mesmo ventania ou tempestade.

Vontade sem igual não se refreia
E todo pensamento amor invade.
Presença que se quer e tanto anseia
Quem sabe desfrutar felicidade.

Mil beijos e carinhos; louca busca
Nem mesmo a lua intensa nos ofusca
Trazendo ao nosso sonho, a perfeição.

Meu pensamento encontra o teu sorriso,
Da boca que eu mais quero, perco o siso
Entregue ao teu poder de sedução...


299


A lua nos decora; prateada...
Beijando-te me entrego aos teus caprichos,
Matando teus desejos todos... Cada...
Amor encontra em nós; abrigos, nichos...

Sorvemos cada gota de prazer
Com fúria e com ternura, mansas, vis...
Me encontro totalmente ao me perder
E sou por ser em ti, bem mais feliz...

O vento, a lua, a noite, tua nudez...
Vontade de que o tempo pare agora.
Depois de tanto amor que a gente fez
A lua se entregando nos devora

E toma nosso corpo em tanto brilho,
E grávida de luz, traz nosso filho...


300


A lua nos meus braços se entregando
Despida me conquista e já me chama.
Todo o meu sentimento vai tomando,
Em sua placidez, logo se inflama.

Lua que neste mar procura areia
E deita-se na praia, deslumbrante...
Ufana-se, tão bela e fica cheia
Tomando meu amor a cada instante...

Nas ondas prateadas eu mergulho,
Nadando em direção à claridade...
O mar tão ciumento em seu marulho
Demonstra em forte brado, ansiedade..

Sem medo desfrutamos deste amor,
Me entrego ao doce raio, sedutor...


301


A lua plena e branca em noite clara
Decifra os teus segredos e te expõe
Desnuda fantasia que te aclara
Cenário tão fantástico compõe

O amor qual jóia fina, bela e rara
Durante o plenilúnio recompõe
Ternura que sutil não se compara
E o sonho num cometa, amor já põe.

Girando pelo espaço, carrossel,
Constelações esparsas, vão ao léu
Fazendo da alegria um estribilho.

Vagando por teus braços sem descanso,
O dia se anuncia bem mais manso
Argênteas emoções contigo, eu trilho...


302

A lua, predileta musa. Brilhas
Esparramando bênçãos pelas matas!
Teus clarões nas searas forram trilhas
Noctívago, permeio serenatas

Refletes verdejantes maravilhas.
Nas buscas insolentes, me maltratas...
Lua, das tuas mansas, belas filhas,
Uma dorme comigo e m’arrebata!

És flâmula tremulas bruxuleias,
Tecelã tantas formas, tuas teias,
Passeando sutil, sobre essa terra...

A quem planta, fulguras nos plantios,
A quem ama, incitando tantos cios,
Nos teus rastros, clareiras, mares, serra...


303


A lua que eu beijava na calada
Dos sonhos estrelados que tivera,
Ao vê-la toda nua des’perada,
No raio solitário, quem me dera...

Ardendo toda fria, trovoei
Os preconceitos tolos. Encantado,
Em comoção total me apaixonei,
Apesar de eu estar tão afastado...

Aconteceu amá-la louca lua
Sonhava despencada nos meus braços
Nesta beleza clara, bela, nua,
Te tomaria, lua, nos abraços

Em plenilúnio, nova ou na minguante,
Me entregaria a ti, no mesmo instante!


304

A lua que levou o teu sorriso
Vagando pelo espaço sideral,
Não tem, eu te garanto qualquer siso,
A deusa tresloucada deste astral.

Satélite cruel e sem juízo
Não sabe que te causa tanto mal?
Partindo sem deixar sequer aviso
Provoca no teu peito, um temporal.

Nos seus brilhos, enganos, disso eu sei.
Agora iluminando uma outra grei
Levando o sol consigo, nubla o céu.

Porém, viver: eterno carrossel
Trará tenha esperança, e nisso creia
Depois da tempestade, a lua cheia!



305

A lua que me linka até você
Trazendo a paz que tanto desejei.
Meu corpo desejando o que se vê
Nos olhos da mulher que tanto amei.

Decifrar seus enigmas. A alma lê
Beleza sem igual onde encontrei
O amor perpetuado em que se crê
Fazendo da alegria, norma e lei.

Chegando calmamente, suave brisa
Da louca tempestade ele me avisa
E forma um turbilhão interminável.

Burila com ternura a jóia rara,
Que enquanto me fascina, vem e ampara
Na fonte do desejo, inesgotável...


306


A lua que me viu jamais voltou,
Perdida caminheira dos espaços.
Aonde um sonho outrora mergulhou,
Sem ter suas pegadas, perco os passos.

Não sei nem mesmo ainda o que restou,
Apenas no meu peito estes pedaços
De tanto que esta vida sonegou,
Dos sonhos já não vejo nem mais traços.

Porém, ao ver-te; estrela eu percebi
Que toda uma esperança existe em ti,
Mesmo que entre medos e incertezas

O barco dos meus sonhos, fantasias
Na luta por momentos de alegrias
Enfrenta com vigor, as correntezas...


307


A lua que se acende em nosso céu
Usando o seu vestido cor de prata,
Tocando mansamente o meu dossel
Enquanto acaricia, me maltrata.

Das nuvens descortina cada véu,
Iluminando em festa toda a mata.
Arranjos de crepom, marché papel,
Alucinante sonho que arrebata

E leva ao coração de um sonhador
Beleza sem igual em luz e cor,
Mergulho no infinito de nós dois

Imerso nesta rara paisagem,
Guardando na retina a bela imagem
Sem medo do que surja no depois...


308

A lua que se fez em duas peles
Deitada sobre a areia, nua, exposta.
Naquela que permite que te atreles
As mãos, a língua quente, carne em posta

Enlaças mansamente uma sereia
Em trocas de salivas e prazeres.
A noite mergulhando viva e cheia,
Nas lutas e procuras dos quereres...

A sede tão ardente que se mata
Na lua que irmanaste em paraíso,
A chuva se transforma na cascata
Mistura dos humores num sorriso...

Nas ânsias delicadas destas luas,
Eu vejo o lume intenso em vocês duas...


309

A lua que transborda de esperança
Na luta por um mundo bem melhor.
Trazendo numa voz calma e tão mansa,
Os sonhos que a beleza tem, de cor...

Ensina que o amor deve vencer,
As dores que esta vida sempre traz.
Amiga, como é bom poder te ter,
Na doce maciez da plena paz.

A lua que, mineira, é raridade,
E brilha mais intensa nas Gerais.
Sentir poder ter tua claridade
Aos olhos de quem canta é ser demais.

Por certo, uma verdade vai comigo;
Como é de se orgulhar ser teu amigo!



310

A lua refletida sobre o mar

Chorando suas lágrimas, orvalho...

Percebe que a distância a flutuar

Encontra com amor, um grande atalho



E lança-se, sem medo sobre as águas

Invade o manso mar com seus desejos.

Rasgando este universo sobre as fráguas

Mergulha delirante em mil lampejos...



O mar se extasiando com a luz

Se entrega sem temor aos seus carinhos;

A lua não percebe, mas seduz;

Entregando-se às ondas faz os ninhos



De cores e delícias mais incríveis,

Realizando amores impossíveis...


311


A lua refletida bebe o mar
E toca mansamente o que pudera
Gerar dentro do peito a primavera
Voltando neste instante a decorar
Florindo a cada instante num lugar
Aonde a solidão já não me espera
E sei do meu caminho em rara esfera
Presume cada passo a mergulhar
Nas ânsias mais audazes da esperança
E nisto o coração ao longe lança
Banhando de saudade o que se traz,
Apenas mergulhando no vazio.
O sonho de tal forma eu desafio
E a vida se presume inteira em paz.


312



A lua refletindo luz tão pálida
Por sobre o corpo nu desta mulher.
Argêntea maravilha com mister
De ser minha rainha, doce e cálida...

A sorte que tivera quase esquálida
Refaz-se da maneira que eu quiser.
Na lua que te cobre, um bem me quer
Guardando uma esperança de crisálida...

Afloram meus desejos, em mansa lua,
Que emana sobre ti, como um cometa,
A força que trará tal borboleta

Maravilhosamente bela e nua
Cravando no meu peito a fina garra
Da deusa em perfeição, feita em Carrara


313

A lua renascendo, anoitecer
Em raios refulgentes e brilhantes.
Nos olhos de quem amo, diamantes
Fazendo nosso sonho reviver...

Eu quero nos teus braços me perder,
Coberto pela lua dos amantes,
Eu sinto esta alegria por instantes
Na fantasia eterna do querer...

A lua iluminando a Terra inteira,
Envolve no luar a minha amada,
E mostra na magia, a feiticeira

Que tanto nos seduz e nos clareia.
Assim também minha alma apaixonada,
Ao ver teus olhos claros se incendeia...


314


A lua resplandece sobre amor
Que vive semelhante em alegria
À tarde que traduz tanto vigor
E sabe ser feliz com harmonia...

Amor que se pensara estar extinto
Renasce com tamanha valentia
Que mesmo que em tristezas vãs me pinto,
O brilho que carrego, em pleno dia...

Eu vivo pelo amor que te roubei
E tanto que pedi nas orações,
Amada tanto amor agora eu sei,
Explode em terremotos, corações...

Amor que sempre vela por quem ama,
Renova-se em amor, é brasa e chama...


315

A lua se aproxima soberana,
Tornando esse cenário inesquecível.
Nas mãos da bailarina, da cigana
A noite se transforma e segue incrível.

Percebo na distante serenata
Um trovador enamorado em sonho...
Beleza sem igual já se retrata,
Na fantasia, o verso que componho.

Ao refletir em maravilha os olhos
Da sílfide perfeita, iluminada,
Esqueço num momento dos abrolhos
E sigo com clareza a minha estrada.

Deslumbre em plenilúnio me tomando,
Um fabuloso dia se moldando...


316



A lua se derrama na calçada
Encontra-me dormindo no relento...
As horas se passando, a madrugada,
Assalta-me um terrível, frio vento...

Teu nome repetindo, não diz nada,
Só sei que me traduz em sofrimento...
A mão da morte mostra-se espalmada,
Não posso nem consigo ter alento...

O parto que me negas, da vergonha,
O gosto tão medonho da saudade...
Não tenho travesseiros e nem fronha,

O tempo que passei, mostra a verdade,
A dor de te perder, já sei medonha,
A lua se derrama na cidade...


317

A lua se entregando ao sol intenso
Momentos de prazer e de loucura.
Teu corpo em minha cama, sempre eu penso,
Trará enlanguescente tal ventura

Ao peito de quem vive triste e tenso,
Restauração com fome de ternura.
O medo de viver; contigo, eu venço
E teimo em ser feliz, sem amargura.

Vem logo que esta noite eu te prometo
Levar ao infinito, nos orgasmos
Que tornam bem distantes os marasmos,

Pois sei que em teus caminhos me completo,
Ardentes emoções, bacantes fúrias
Envoltos nos desejos e luxúrias...


318


A lua se entregando, imenso brilho,
Forrando a natureza em esplendor,
Formando com certeza um belo trilho
Para esse amante, triste e sonhador...

Ao ver tanta beleza busco exílio
Nos braços de quem sabe que o amor
É canto que merece um estribilho
Composto com carinho, sedutor...

No chão todo forrado por estrelas,
Essa deusa noturna se entregando,
Com toda uma ternura, sabe tê-las,

Testemunhas perfeitas, deste caso,
O sol já se aproxima, irradiando,
Deslinda-se na aurora, sem ocaso...


319


A lua se escondendo, tão mortiça
Não deixa que se veja amanhecer,
Na sorte de quem ama e não cobiça
Estrelas espalhando o bel prazer.
Areia não se torna movediça,
O mundo novas cores, passa a ter.

Assim, um caminheiro da amizade
Escreve com paixão cada passagem.
Ao ter ao fim da noite, a liberdade,
Percorre mais tranqüila esta viagem.
Na paz que num momento já me invade,
Eu sinto ser palpável tal miragem.

O coração vazio morre só,
Voltando novamente ao velho pó.


320


A lua se espalhando invade o dia
Formando com o sol, belo casal,
Forrando toda a Terra em poesia
Num gesto tão divino e magistral

Fomenta assim a sorte que se dá
A quem sempre deseja ser feliz.
Quem dera se eu tivesse desde já
Aquela que busquei e tanto quis.

Mulher da lua plena, rara estrela
Que brilha eternamente dentro em mim.
Vontade de poder sempre contê-la
Num sonho sem igual, tão belo assim.

Vivendo a fantasia, alegremente,
Manhã extasiante se pressente.


321

A lua se refaz em raios mansos
Deitada sobre um campo magistral
Olhando para as fontes e os remansos
Permite que se tenha o visual

De sendas promissoras entre flores
Marcantes esplanadas sem mistérios.
Algozes; entretanto em tantas dores
Matando as esperanças sem critérios.

Serenas, as estrelas vão guiando
Em meio a tantas trevas, caminheiros
Que o reino de esperanças usurpando
Estraçalham venais, seus companheiros.

No amor entregue às traças e baratas
As hóstias escondidas, nestas matas...


322

A lua sertaneja que eu carrego
Falando das morenas do sertão,
Distante da cidade, com paixão
Num sonho deslumbrante eu já me entrego.

Teus versos, companheiro, com apego,
Diversas vezes dizem da emoção,
Pensando ter no asfalto a solução,
Permita-me dizer: tu andas cego!

Embora seja um rústico poeta,
Lavrado pelos duros espinheiros,
Amores que concebo; verdadeiros,

Não falam de Cupido, nem têm seta.
Apenas o cheirinho da fulô,
Dizendo com sorrisos: meus amô!


323

A lua soberana brinda a noite
E em nobre porcelana se desnuda.
Um sonhador sozinho no pernoite
Procura em outras bandas por ajuda.
A solidão queimando como açoite
A vida parecendo tão miúda...

Vagando pelas ruas, bar em bar,
Não tendo mais descanso, continua.
Deitando sob os raios do luar
Caminha cego, a esmo pela rua.
Não tendo mais sequer onde aportar
Seus lamentos; dirige para a lua...

Amigo, eu também sei da desventura
Que em noite enluarada, nos tortura...


324




A lua soberana, brinda a noite,
Transmite veleidade e sentimento...
Não há quem não perturbe-se e se afoite
Distante plenilúnio vai ao vento..

No que farturas flanges não me acoite,
Sensatos se suprimem sem sustento.
A boreal fantástica do açoite
Que vermifuga a dor de ser sedento...

Merencoricamente lua serva,
A seiva em que me absorves se conserva
Nos potes divinais desta esperança!

Uma coorte que fiz nunca repara
Nas causas das loucuras que se avança
Uma esperança inglória me antepara...


325




A lua solitária reina plena
A deusa soberana e tão soturna
Na prata que se espalha nesta cena,
Esplendorosa diva-mãe noturna...

E as plêiades vagando no universo
Rendendo as homenagens vaga-lumes
Num mundo gigantesco e tão disperso
Estrelas faiscantes são cardumes...

Na profusão de luzes e de cores
A dança sideral jamais termina,
Meus olhos de teus olhos refletores,
O amor se consolida como sina

De um velho trovador enamorado,
Cevando os madrigais louvando o Fado...



326


A lua tão serena enamorada,
Espelha a noite inteira esta beleza
Também de teus olhares, anda presa,
Tal qual um sol em plena madrugada.

O vento enciumado tanto brada
Roncando entre cascatas, correnteza
Amor que eu tanto quero e que me preza
Imagem para sempre resguardada.

Quem fora um cardo; amargo e desprezado
Ao ver a maravilha que tu és
Deitada em alegria do meu lado

Já vê que a sorte agora vem propor
Grilhões se desatando dos meus pés
Um canto inebriante feito Amor...


327


A lua te invejando se escondeu
Temendo o raro brilho deste olhar,
Amor na plenitude em que se deu
Tomou a nossa vida, devagar.

O gozo da ventura, meu e teu,
Permite que se possa imaginar
No quanto esta alegria convenceu,
Percebo a fantasia a nos tocar.

Fomentas os meus sonhos mais audazes,
Estrelas tal cenário triunfal
Meus olhos te buscando, tão vorazes

Capazes de dourar a prata lua
Teu corpo qual moldura magistral
Estampa a divindade, bela e nua...


328



A lua vai sedenta e vaga mundo.
Buscando por paisagem mais bonita.
Em toda esta amplidão, bem mais profundo,
Certeza de viver, sempre palpita...

Escoam meus sentidos pelas matas
Descendo as cachoeiras mais velozes.
Nos ouros destes campos, tantas pratas,
Em meio a sentimentos mais ferozes.

No seio ardente da mulher que quero,
Na boca que tremula a cada beijo.
Vivendo teu sentido em que me esmero.
Sabendo que no fim vence o desejo.

No mar que se arrebenta, tanta espuma,
Amor tão delicado, não se esfuma...

329

A lua vai surgindo atrás do monte
Que banha o horizonte de beleza,
De todo o meu cantar mais mansa fonte
A lua se demonstra na clareza

Que forra nossos trilhos deste amor,
Deitando sobre as folhas no quintal,
Eu olho para a lua, sonhador,
E sonho meu desejo sensual

De ter essa mulher amada, nua;
Rolando nestas folhas sem juízo,
Minha alma em teu céu, louca flutua
Encontra este portal do paraíso...

A lua é companheira dos desejos
Quem sabe testemunha dos meus beijos?


330

A lua varandando em nossa casa
Florindo de algodão forrando a cama.
A sorte generosa nunca atrasa
Na brasa decifrando toda a chama.

Tua nudez, meu peito já se abrasa
O fogo desfilando sempre inflama
No visgo deste olhar não se defasa
Amor vem logo. A cama já te chama.

Encontro no teu seio essa romã
Perfume delicado do desejo.
Não deixe pra depois nem pra amanhã

Agora é necessário se entregar
Ao gosto-gozo-festa em cada beijo
Depois, ir pra varanda enluarar..


331

A lua vem falar de poesia
Matéria tão distante do que sei.
Vertendo o que me resta em fantasia
Destino sem fronteiras se faz lei.

O verso que emoção deveras cria,
Não sabe do que outrora em vão, sonhei.
O gesto mais audaz, diz alegria
Palavra que inconstante, não criei.

Um cântico, quem dera, fosse o mote
Do encanto que deveras não desbote
Ao ter somente um fio sem meada.

A lua ao ver a audácia deste ignaro
Do raio esplendoroso belo e raro,
Não deixa nem resquício, envergonhada...


332


“A lua vem surgindo cor de prata”
Trazendo teu amor bem junto a mim...
Amor que quase sempre me arrebata
Tramando meu futuro, sem ter fim...

Amando que amei espero tudo
Que a vida, com certeza, pode dar,
Os olhos revirando, fico mudo,
Vontade de em teus braços mergulhar...

Trazendo a doce lua com meu beijo
Trazendo essa manhã que não termina,
Trazendo cada forma de desejo
Vertendo toda luz que me alucina.

A lua vem surgindo sobre a mata
Trazendo teu amor, salva e maltrata...


333

À lua, confidente mais fiel,
Declaro todo amor que, sabes, sinto.
Da prata deste sonho ora me pinto
E bebo da emoção, sublime mel

O pensamento gira em carrossel,
Buscando em tua boca um doce absinto,
Tornando mais real cada recinto
Aonde a lua exposta, rasgue o véu

Argênteos raios sobre o meu jardim,
Moldando a bela rosa insuperável
O toque sensual tão agradável

Dos corpos sob a lua do sertão
Trazendo para a Terra um Querubim
Envolto nas tramóias da paixão....

334


A lua, num momento de paixão
Se entrega ao trovador enamorado,
Num ato de loucura e sedução,
Neste canto ao deus Eros dedicado.

Aos poucos sem defesa e sem perdão,
Os dois já caminhando lado a lado,
Unidos pelo mesmo coração.
Ao ver que a ele havia se entregado,

Sedenta dos carinhos, a lua ávida,
Aos poucos foi se inflando. A plenitude
Mostrada pela lua, nua e grávida...

Fugindo para o dia, o trovador,
Com medo, sem saber que essa atitude,
Havia de gerar um filho: AMOR...


335


A lua, teu olhar, brilhos diversos,
A boca que se mostra em beijo e riso,
O toque tão suave e mais preciso,
Ao longe melodias, sons dispersos...

Um trovador inventa novos versos,
Ouvindo o coração, do Paraíso,
Neste diapasão, cadê juízo?
Olhares em olhares ora imersos...

Conhaques, mãos e dedos. Cheiros, ritos...
Estrelas desfilando em carrossel,
Momentos tão sublimes e bonitos

Aonde em fantasias eu me acabo,
Chegando sorrateiro, vejo o Céu
Em plena comoção, feito o diabo...


336


À lua, companheira dos poetas,
Que traz em cada brilho sensual
As fontes prazerosas, prediletas,
Na prata que se espalha pelo astral.

As noites sem a lua, tão discretas,
Mostrando uma alegria desigual.
Ao ver esta beleza em que completas
Nosso canto de amor, fenomenal.

Teus olhos estrelares são meus guias,
Na busca de uma intensa liberdade.
Além de todo lume que querias,

Além da poesia que nos brinda
Do nosso sonho: amor. felicidade,
A lua nos namora; clara, linda...


337


À luz da lua, pálida, dormia,
Sua nudez mostrada na janela,
A natureza em festa, então sorria
Deitando o doce vento em torno dela.
Ao longe um coração tudo sabia,
Mas não podia estar junto com ela...

Os anjos passeando pelo céu
Ao verem tal beleza esculturada
Clamavam pelo amor, lindo corcel
Que vinha assim deixando-a extasiada.
Meus lábios ao sentirem raro mel,
A vida se tornou mais encantada...

Às noites vou velando o seu cansaço,
Decoro de seu corpo todo traço...


338


A luz da rutilante e bela aurora
Transforma todo o dia em um mistério.
O brilho que depois se revigora
Promessa de esperanças lá d’etéreo.

Esplêndida manhã surge sonora
Por sobre todo o mundo, vasto império;
Toda a natura vibra mundo afora
Amor em plena aurora, um caso sério....

As bênçãos divinais não discriminam,
A todos os humanos trazem luz
E corações amantes se iluminam.

Aos loucos namorados, tanta gente..
Tal sorte benfazeja reproduz.
Qual sátiro profano, vou contente...


339


A luz de uma alegria me decora,
Mas chega a tarde e a nuvem sempre vem.
Na angústia que mormente diz de alguém
Que um dia sem avisos foi embora

Nem mesmo a fantasia traz a escora
Olhando pros escombros com desdém
A vida num instante desarvora
E perde simplesmente rumo e trem.

Semente que abortada nada diz
Tentei inutilmente ser feliz
E agora o que fazer se não consigo

Saber deste cultivo desejado,
O campo que sonhei ser adubado
Em ervas tão daninhas mata o trigo.



340


A luz de uma amizade permanece
Depois do duro golpe, desengano
A senda de um carinho, logo tece
O canto que se mostra soberano,

Vivendo deste sonho, favorece
A quem percebe amor como seu plano
Expressa em alegrias sua prece
Fazendo o seu viver bem mais humano

Toando uma canção em toda parte,
Trazendo um bom calor, sempre reparte.
Retira do caminho espinho e entrave.

Vencendo as urzes todas nesta senda
Na sorte que o mistério se desvenda
Um passageiro segue nesta nave.



341

A luz de uma amizade se acendia
Em meio a tantas nuvens carregadas,
Traduzo teu carinho em alegria,
Ajuda nessas dores mal curadas...

Tomando toda a vida como base,
Amigos encontrei, decerto, poucos...
Curando essa ferida, põe a gaze
Impede que meus dias sigam loucos...

Melhor saber que existes, meu amigo.
Dá forças pr’a seguir a dura estrada.
Percebo, em cada curva, outro perigo,
A mão que me sustenta, abençoada...

Por mais que este caminho seja duro,
Nos passos co-relatos, me asseguro...



342


À luz desta amizade eu vou contente
E nada impedirá meu firme passo,
Vivendo o que sonhara, plenamente,
Não temo descaminhos nem cansaço

Abraço os teus sorrisos, companheira
E deles faço o mote necessário
No quanto se reforça esta bandeira
O mundo não se mostra temerário.

Eu quero estar contigo sem demora
Singrando entre procelas, o oceano.
Felicidade eu sinto já se aflora
Deixando para trás o desengano.

Contando com teus braços, minha amiga,
A sorte tão volátil nos abriga...



343



A luz desta manhã iridescente
Mudando este cenário trama festa
Enquanto a noite amarga, as dores gesta
O dia que virá será mais quente.

Vontade de saber e ser contente,
O riso da esperança assim atesta
Que tudo o que consola, o que me resta
Saber o quanto brilha o amor da gente.

A lua se desfez em frágil traço
Negando argêntea fonte e sem abraço
Eu tive a solidão como parceira.

Embora, feiticeira, uma cigana
Matando em negritude a porcelana
Abismos espalhou na Terra inteira...

SOBRE SONETO DE GOLBERI CHAPLIN


344

A luz desta mulher que se deseja
Espalha pelos cantos desta casa
O fogaréu que intenso já lateja
No corpo de quem viva imensa brasa.

A cargo desta insânia sigo a vida,
Em via tão diversa acerto o prumo.
Primordial caminho, uma saída
Que a cada nova noite assim consumo.

No sumo de teus lábios me lambuzo
E bebo até fartar, mas peço mais,
O tempo vai perdendo rumo e fuso
Em meio aos mais divinos vendavais.

No cais eu desemboco os meus navios,
Criados pelos sonhos, loucos cios...


345


A luz do teu olhar
Estrela radiante
Chegando devagar
Entorna num instante

Vontade de ficar
Sorriso provocante
Convite pra sonhar,
Estrada fascinante.

A boca busca os seios
Os olhos, o sorriso,
Vivendo sem receios

Encontro paraíso
Entranho sendas, veios
Tens tudo o que eu preciso.


346

A luz em seus matizes mais diversos
Propaga-se entre as trevas num mosaico.
Estrelas multicores, universos
Renovam este mundo velho, arcaico.

Ouvindo a voz do vento que nos chama,
Convites para um vôo inesquecível,
O amor minimizando dor e drama,
Pressente este amanhã quase intangível.

Recebo tais fluidos de esperança
E verso sobre o quanto inda pretendo,
A força da emoção, rara pujança,
Segredos e mistérios; já desvendo.

Alheio ao que julgara inalcançável,
A vida se tornando mais potável...


347


A luz em treva intensa ele espalhou,
E nele com certeza eu já me espelho
Amor que em esperanças se lançou,
Renova um coração outrora velho,

E busca uma alegria que encontrou,
Não quer da solidão sequer conselho,
Vestindo uma emoção se demonstrou,
Mais forte e mais sereno. Em seu espelho

Reparo a juventude ressurgida,
Ao renovar em brilho a minha vida
Em toda essa amargura dá seu jeito

Não tendo o que temer eu sigo manso,
Sabendo que depois de tudo alcanço
A paz em devoção, eterno pleito.


348


A luz enegrecida pelas dores
Que há tanto coabitam com meus medos.
Ensandecido, tento ver alvores,
Mas vagos e tristonhos, tais enredos.

Espero a solução, mas ao propores
Tu falas como fossem teus segredos
Do vento que dobrando folhas, flores,
Arranca na raiz, os arvoredos.

Tempestuosa noite se anuncia,
Colérica expressão, tantos trovões,
Tomado pela insânia, nos senões

Eu vejo a realidade mais sombria.
Nefastas, malfadadas ilusões
Morrendo em meio à atrozes podridões...


349

A luz inutilmente em ronda gira,
As tochas da esperança se apagando...
O tempo em agonia destroçando
Desfaz o que se fez eterna pira.

Amor em cego vôo errando a mira
O templo da ilusão já desabando
O resto do que fui se derramando
A sorte sem resposta se retira.

Esboços do que sonho; desfiguras
E deixas tão somente em garatuja
Retrato de uma vida amarga e suja,

Entregue às marcas tantas das torturas
Entranhadas. Profunda cicatriz
Das garras rapineiras, fortes, vis...


350

A luz que é libertária, assim se aflora
Moldando um dia claro, enlanguescente.
Vivendo o paraíso desde agora,
Percebo o quanto é bom o amor da gente.

A paz que num momento se assenhora
E toma a nossa vida num repente,
Promete: não irá jamais embora,
Deitando nos teus braços, tenramente.

Somamos nossos sonhos, sem temores.
O tempo se repleta nos amores
Que a vida já nos trouxe há tanto tempo.

Ao suplantarmos, juntos, contratempo,
Lavramos na aridez de um duro chão,
Colhendo as flores raras da emoção...


351

A luz que iluminava nosso ocaso,
Não deixa testemunhas, me arrebata...
Amor quando se trai parece vaso
Quebrado, que jamais de novo se ata...

Não posso te perder, nem peço prazo,
A vida sem sentido, me maltrata,
És pilastra por onde eu sempre embaso
Os meus sonhos audazes. És a nata

De todos os meus passos. És a guia...
Nublando um claro céu, perdi a aurora,
A vida já não tem qualquer valia.

Um quadro que envelhece e se descora,
Nos pélagos medonhos, alma mora...
A tua ausência mata a fantasia...


352



A luz que irradiaste sobre mim,
Na turgência dos seios tão famintos..
O brilho desta lua sobre mim,
Em plena embriaguez dos absintos...

Dançávamos na noite, tontos passos,
Nas valsas e nos beijos, danças, sonhos...
Nas pernas e nos braços, loucos, baços...
Nas camas e nas chamas, vis, medonhos...

Nas mãos sertões, promessas, minas...
As bocas procurando turbilhões,
Em danças alucinas, e dominas,
Valsando desatinas excursões

De mãos e doces línguas que se caçam
Nas dança nossas chamas, esvoaçam...


353

A luz que me maltrata e me alimenta,
Fazendo fotossíntese em minha alma
Enquanto mansamente é violenta
Um turbilhão insano que me acalma

Cevando no canteiro rosa e espinho,
Abelha que ferroa mel e fogo.
Vinagre que se faz do doce vinho,
Vitória na derrota, tenso jogo.

A fome insuperável que sacia,
Sacrílego oratório em que confesso
Momentos de fartura e de agonia,
O frágil sentimento que obedeço

E trama movediço e belo norte,
Tatua com prazer, delírio e corte...



354

A luz que se irradia em teu olhar
Acende uma esperança dentro em mim,
Depois de tantos anos te buscar,
Encontro o que queria, amor, enfim...

O vento da esperança devagar
Chegando faz florir velho jardim,
A rosa que se fez doce ao luar,
Entranha tua boca carmesim.

E o verso que se deu em tal ternura,
Decifra nos teus olhos a ventura,
Bonança que sonhei na tempestade.

Eu quero que tu saibas, e garanto
Que o amor se sucumbindo ao teu encanto,
Já trouxe à minha vida, a claridade...
355

A luz que se irradia, tão distante,
Também aquece, amada. Não se esqueça
Que a vida não repete um só instante
Por mais que isto difícil me pareça.

A força do querer quando gigante
Não tem sequer juízo que obedeça,
Um passo que se afirme mais constante
Não deixa que saudade trame a peça.

Toda realidade é dolorida
A vida se permite sonhos, risos.
A luz que se irradia, vai perdida

Em meio a turbilhões de pensamentos,
Os passos muitas vezes imprecisos,
Se perdem no caminho, em outros ventos....


356

A luz que te traria me enganou,
Não trouxe nem sequer um vago lume.
Saudade que senti, ressuscitou
Nas asas desse amor, um vagalume!

Carrego o muito pouco que sobrou,
A dor, o medo, a ponta de ciúme,
A dúvida feroz, ser o que sou?
Não posso perseguir o teu perfume,
(A rosa que deixaste, não brotou...)

Perdoe se não posso estar contigo,
Meu grito nunca mais te importará.
À noite, adormecido, não consigo,

Saber o quanto a dor traga infinita,
Estrela dos teus olhos brilhará
No que me restará de vida, Anita!


357

A luz que vem de um belo paraíso
Reflete nos teus lábios, minha cara
Sabendo: ser feliz é o que preciso
Teu braço a cada passo já me ampara

A cada caminhar um novo aviso
Moldando esta emoção perfeita e rara,
Por isso em cada verso, assim eu friso
O brilho que decerto deslumbrara

Aquele que se fez amigo teu,
Matando com certeza todo o breu.
No teu aniversário o pensamento

De um tempo mais alegre que virá
Meu verso tão feliz te mostrará:
Que aprazo em noite clara o sentimento.


358

À luz sempre bendita dos desejos
Em corpos delicados e vadios,
Rondando em nossas carnes, fogos, beijos,
Matando com delícias; velhos frios.

Dourando a nossa pele, tais estios
De amores que mais fortes eu prevejo,
Fulguram mil prazeres, relampejo,
Mistura enlanguescente, ritos, cios...

Na lúbrica vontade sem limites,
Em côncavos, convexos, união.
Na gruta estalactites, estalagmites

Formando num delírio, um turbilhão
Rainha devotada pede ao kaiser
Uma explosão de gozo feito um gêiser...


359

A luz tão penetrante que irradias
Invadindo o meu quarto, qual a lua,
Deixando bem distantes noites frias,
Aquece-me em seus raios, forte e nua.

Verdade que te digo, nua e crua,
Mostrando tão somente as alegrias
Nas quais a minha vida já flutua
Reinando sobre os sonhos, fantasias...

Sorrisos que trarei ao ver-te estrela
Deitando em minha cama, luz tão bela,
Roçando minha boca com desejos...

E assim mal surja enfim uma alvorada,
De sol a bela luz se faz banhada
Desnuda em deslumbrantes azulejos...


360

A maciez das mãos sobre meu peito
Permite que se tenha algum alento.
A gente tantas vezes vai desfeito
Entregue aos dissabores, sofrimentos.

Do céu risonho apenas pesadelos,
Meus olhos procurando algum descanso
Encontram no horizonte, frios, gelos
Distante me afastando de um remanso.

De tanto que eu sonhei e nada tive,
Das esperanças restou arribação
Apenas teu carinho sobrevive
E nele algum resquício de ilusão.

Meu verso se perdendo em noite fria
A sorte pouco a pouco se esvazia...


361


A maciez que encontro em teus cabelos,
Fluindo mansamente como um rio.
Teus olhos tão divinos, ao revê-los
Esqueço o meu passado, algoz sombrio.

Do duro inverno, neve, fome e gelos,
Um coração sofrido, assim, vazio,
Amores tão difíceis percebê-los
Desejos, fantasias que inda crio.

Mas tendo o teu convite para a festa
Na noite e nas campinas mais brilhantes.
Encontro uma esperança por instantes

Que possa povoar meu coração.
Abrindo no meu peito imensa fresta,
Já permitindo os sonhos e a paixão...


362

A madrugada vem me segredar
Um sonho que bem sei ser falsidade
Pois sei que logo vens me procurar
Tão logo noutro amor a dor te invade

Tua alma então ficando a observar.
Percebo no teu caso insanidade
Mas eu preciso enfim continuar
Na caça desta tal felicidade

Vivi de ilusão e fantasia
Além do que pudesse ou bem queria
E vejo como eu fui um idiota-

Achei que em ti teria lealdade
Mas és muito volúvel - que revolta!..
De tudo não restou nem amizade...


363

A mágoa em soberana e triste idéia
Compele tanta vez ao sofrimento.
Quem pensa ser amor a panacéia
Engana-se decerto, e num momento
Em diferente senda, uma platéia
Transmuda a mágoa em dor, vivo lamento.

Porém já contraposta, uma amizade,
Trazendo para os rios ricas fozes,
Permite alçar a plena liberdade
Realça na alegria nossas vozes,
Portando no seu bojo a claridade
Matando os sofrimentos mais atrozes.

Do acérrimo lamento faz o riso,
Propõe um passo certo, enfim, preciso...


364


A mais brilhante estrela do universo
Deitada em minha cama, fúria e gozo.
Expressa a poesia em cada verso
Descendo um rio imenso e caudaloso.

O Paraíso exposto enquanto eu abro
As pernas e penetro cada senda,
Iluminada noite, o candelabro
Cada minúcia adentra e já desvenda.

Relâmpagos cortando a nossa cama,
Os olhos faiscantes holofotes,
Esquece-se em prazeres tolo drama,
Os dedos decifrando tesos motes.

Farnéis abastecidos por luares,
Pecados, sacrilégios, céu e altares...



365

A mando deste sonho, um beija flor,
Achando que podia ser feliz.
Depois de tanto tempo quis a flor,
A flor que na verdade, sempre quis.

Porém tal flor com medo deste sonho,
Deitada sob os ventos da saudade,
Ao ver que o beija flor era tristonho,
Deixou de desejar felicidade...

Não sabe que no fundo tantas vezes
Amor vem sob as formas mais estranhas...
Passaram-se talvez uns poucos meses,
O beija flor fugiu para as montanhas...

Mal sabe que no fundo uma tristeza
A todo grande amor, traz a beleza...


366


A manhã me trazendo seus albores
E seus raios solares... sensação
Da abelha fecundando belas flores,
Na eterna primavera... coração!

A manhã, companheira dos amores,
Refaz a nossa vida, é solução
Para os noturnos medos, seus horrores,
Abrindo a porta, fecha a solidão!

Há tanta coisa mais interessante
Que acompanha os solares raios, vida...
As libélulas, pássaros, as cores...

Nossa vida passando em um instante...
A tristeza anestésica, esquecida...
A manhã vem trazendo seus albores...


367


A mansidão de um rio sem cascatas

Descendo para o mar sem ter percalços,

O vento desfilando sobre as matas...

Os sonhos se mostraram todos falsos...


As noites se passando, morrem frias,

O sol jamais de novo irá brilhar?

As mãos sem primavera estão vazias,

O medo se espalhou e ganhou ar...


Meu canto se perdendo, bem mais frágil,

Restando quase um nada... Nada mais...

Quem sabe talvez venha um bom presságio

Em forma de canção. Mas tanto faz


Talvez inda me reste um novo dia

Trazendo uma esperança em poesia...


368


A mão da solidão, mais fria e fina
Roçando meus lençóis, dentro de mim
Com toda a maciez, qual de cetim,
Prenuncia em sorrisos a ruína

Dos templos da esperança. A dura sina
De quem um dia teve em seu jardim
O perfumado sonho de jasmim,
E agora erva daninha já domina...

Nascendo em meu canteiro tais abrolhos
Deixando mais depressa cegos olhos
Heranças que ficaram por farol.

Negando qualquer sombra de beleza,
A vida vai seguindo a correnteza,
Quem dera renascesse em mim, o sol!


369


A mão deste infeliz rasgando a pele
Erguendo um brinde à sorte traiçoeira,
O bote da serpente me compele
À trama desleal, mas verdadeira.

Conhecimento humano que se atrele
À máscara cruel e lisonjeira
Que bebe do veneno e que repele
Qualquer alma mais nobre: ela se esgueira

Por entre as carcomidas esperanças,
Promessas de terror entre vinganças,
Deixando restos podres tão somente

Assim, a consciência coletiva
Matando com sarcasmo já me priva
Mostrando o seu sorriso de demente...


370

A mão do meu destino, sepulcral
Rasgando o que sobrara de ilusão
Rondando a solidão do mar astral
Impede qualquer forma de emoção

Que diste deste medo que ancestral
Transmite desde sempre a negação.
Nos sonhos quem outrora, magistral
Esboça pouco a pouco a podridão...

Somenos importante o que te digo,
Há coisas bem mais sólidas, eu sei.
Um verme aqui se expondo traz consigo

Antiga ladainha dos insanos...
Desculpe se te enfado, procurei
Noutras vertentes, trágicos enganos...


371


A mão escorregou, parou na coxa
Depois de viajar o corpo inteiro
Vontade sem juízo, heterodoxa
Traduz todo o matiz deste tinteiro.

Homólogo desejo eu catalogo
Etéreas emoções; a noite traz
Desejo o teu carinho e desde logo
Encontro o que eu buscara a pleno gás.

Na frouxidão depois do gozo pleno
Detalhes mais sutis: querer atento,
Prazeres que nos tocam, quando dreno
Tomando com vigor o pensamento.

De um mel feito em fartura, encantador,
Teu colo, minha amiga tem sabor

372

A mão que acaricia me maltrata
E traz este punhal por entre os dedos.
Quem dera conhecesse os seus segredos,
A vida não seria tão ingrata.

Não quero mais ouvir velha bravata
Tampouco reconheço estes enredos,
Os dias foram tolos, todos ledos,
Apertando este nó, tosca gravata.

Jamais conceberei uma saída
Que possa transformar a minha vida,
Ausência se tornando uma constância.

O quase ser feliz; nada mais vale,
Por mais que uma esperança ainda fale
O rumo está perdido desde a infância...


373

A mão que acaricia, em garra já se atreve.
A noite não permite o brilho em novo dia.
O canto que me deste, a dor o revestia.
No sol do nosso amor, o lume não se escreve.

De todo nosso sonho, a manhã morreu breve.
O que levamos? Nada. Amor não mais havia...
A lágrima forjada, a carícia mais fria.
Agora o tempo corre, a vida se faz leve!

Não sinto mais cansaço, esqueço o meu tormento.
Não quero mais mentira abraça-me a verdade.
Não quero nem aceito a tua piedade.

Notícias que me deste, espalho-as no vento.
A lágrima que corre, o sol que anda mais forte.
A voz tão engasgada, aguarda minha morte...


374



A mão que acaricio, vacilante,
Decerto não me trouxe um só momento,
Onde estarei liberto do tormento.
Em tudo que pensei, tão inconstante

Mas sei que tu carregas minha dor
Envolta nos teus olhos-azulejos,
Querendo teu desejo em meus desejos
Amando imensidão do teu amor.

Versejo meus momentos mais sutis
Buscando no matiz dos olhos teus
Espelho que reflita os olhos meus

Quem sabe, finalmente, ser feliz
Vivendo a fantasia que bem quis,
Sem ter sequer notícias de um adeus...


375


A mão que carinhosa traz amor,
Não deve ser deixada assim de lado,
Nos dedos divinais de um escultor,
Amor parece sempre engalanado...

Perfume que exalado desta flor,
Merece ser por Deus abençoado.
Inundam nossa vida de calor,
Deixando um coração desenfreado.

Mas quando maltratado, o coração,
Não queira que ele trague maciez,
Se feito com respeito e com paixão,

Amor sempre domina e satisfaz,
Porém quando o desprezo toma a vez,
Quem pode reclamar, quem é capaz?
376


A mão que engatilhara pega a pena
E mostra num segundo, transformado,
Um mundo diferente do passado,
E a sorte de um futuro bom se acena.

Palavra outrora rude vai amena,
O que é distante, não mais cobiçado,
Um sonho mais feliz sempre cantado
Deixando nossa vida bem serena...

Quem dera se assim fosse, meu amigo.
O mundo não teria mais problemas.
Mudando, de repente em outros lemas,

Trazendo o seu irmão, em forte abrigo.
Seria tudo belo, de verdade,
Se assim reinasse em nós, toda a amizade...



377

A mão que lapidando esta pepita
Transforma em jóia a pedra fria e bruta.
Silêncio dentro da alma, sabe e escuta
Nos sonhos, fantasias acredita.

Tu tens este poder em tua escrita,
Na mágica palavra, a tua luta
Eu louvo enquanto admiro esta conduta
Que tens para com todos, tão bendita.

Cativas com teus versos, poesias,
De métrica perfeita e nos ensina
Técnica de quem sabe e assim domina

Espalhando fulgores e magias.
Aceite deste pobre trovador,
Os versos que hoje faço qual louvor...
378

A mão que maltratando quem discorda
Criando preconceitos e deslizes
Arrebentando assim a frágil corda
Tornando os seus cordeiros infelizes.

Da forma mais canalha sempre aborda
Os pobres, os mendigos, meretrizes,
Enquanto o seu prelado nunca acorda
Permitem que se inventem novas crises.

Vendendo Jesus Cristo dia-a-dia,
A corja não se cansa de beber
O sangue do profeta em heresia.

Das chagas fazem rendas e fortunas
Usando da palavra ao bel prazer
Nas costas dos espíritas? Bordunas!

EM HOMENAGEM À POSIÇÃO CRIMINOSA DE UMA ALA DA IGREJA CATÓLICA INTOLERANTE E ABSURDAMENTE ANTI-CRISTÃ.


379

A mão que me acarinha esconde a faca
E ao mesmo tempo ri, se escancarando.
Na noite em que dormimos quando atraca
Ataca minha boca, me sugando.
Depois chamo ambulância e vou de maca
Mas volto noutra noite te buscando...

Refaço-me do susto e recomeço,
Bem sei que isto te faz, amada, forte.
Não vejo mais meu rumo ou endereço,
Aceito tão passivo a minha morte.
Talvez reste de tudo algum apreço

Mas sei que morrerei nos braços teus...
Bebendo do prazer em doce adeus..


380



A mão que nos acolhe e nos abriga
Em meio a tantas pedras no caminho,
Ao permitir que a marcha assim prossiga
Jamais me deixará seguir sozinho.

Palavra que se mostra mais amiga
Aquece com certeza o nosso ninho,
Na força da amizade, rara viga
Que amadurece como um belo vinho,

A cada novo dia, novo encanto,
Que nos permite sempre imaginar
Um mundo mais perfeito sob o manto

Que traz ao mesmo tempo a liberdade
Forrando nossa sorte, faz sonhar.
Trazendo para todos, claridade...

381


A mão que tanto apóia, sempre acena
Trazendo uma esperança pra quem sofre.
Não quero minha amiga tua pena,
Apenas quero a chave deste cofre

Aonde encontrarei tua amizade,
Em meio a duras guerras e tristezas,
Portando nos teus olhos, qualidade
Que mostra para tantos, tais belezas...

Não quero mais falar de dor imensa
Que a vida num momento desfraldou,
O custo em que se cobra a recompensa,
Não vale todo o tempo que passou.

Mas sei que tenho em ti, clara palavra
Pra quem plantando colhe em rica lavra...


382



A mão que te procura não se atreve
A mendigar carinhos, orgulhosa.
Quimera que me toma em alva neve,
Perdendo o bom perfume, nega a rosa,
Que o tempo que passamos não preserve
Sequer a tua luz, maravilhosa.

Sou aspas e parênteses, um til,
O resto do que foi um sonho lindo.
A morte tão voraz e mais sutil,
Aos poucos minha porta vai abrindo.
No toque delicado é bem sutil,
E em passos quase rápidos, vem vindo...

Sonego uma esperança, nego a sorte,
Na doce mansidão de minha morte..

383

A mão que um novo tempo esplêndido constrói
Gerando esta esperança aonde eu quis amor.
Trazendo ao meu canteiro, a mais sublime flor,
Por vezes; outro rumo emerge e quanto dói...

O sonho que a verdade estúpida destrói,
Algoz das ilusões, cenário a se compor
Em trágica loucura; amargando o sabor,
Assim uma esperança a vida em vão corrói...

Quem dera se eu pudesse ainda crer no sonho!
E o verso mais feliz que agora não componho
Expressaria além da face carcomida

Exposta em podridão, espelhos distorcidos...
Os dias que desnudo em cantos desvalidos
Mostrariam a luz enfim, já soerguida...


384


A marca da pantera em minha pele,
As unhas penetrantes rasgam fundo,
Enquanto ao Eldorado me compele
No corpo que faminto eu me aprofundo.

Bebendo a tempestade eu quero mais
E trago gota a gota de teu gim,
Alçando o pensamento, vendavais,
Trazendo todo o gozo que há em mim,

Hedônica promessa que se dá
Na nua maravilha em que se expõe
O gosto que decerto tomará
O novo amanhecer que amor compõe.

Trajando cada parte deste sonho,
Meu barco nos teus mares; recomponho...


385

A marca do cigarro que tu fumas,
O gosto da bebida em tua boca,
De costa para o mundo, nego as brumas,
E o vento da ilusão logo me toca.

As horas de prazer foram algumas,
O rio sem ter mar não desemboca,
Além do que desejas tu costumas
Falar da noite insana, cega e louca.

De tudo o que provei restou bagaço,
O verso mais estúpido que faço
Faltando este pedaço que sonegas.

Se estrelas são ainda nossos guias,
Eu quero que se danem poesias
Falando deste amor sem ter entregas...


386



A máscara medonha se levanta,
Dos restos, podridão deveras unta.
Nos olhos vermelhantes, sacripanta,
Da minha solidão já se besunta.

A noite que me poda, finge santa
Não passa de vergonha nem pergunta,
Sangria que me trazes cedo espanta
As larvas destas moscas dor conjunta...

Haverei de viver meus lassos dias,
Beirais monumentais são meus abismos...
Na máscara medonha as agonias,

Expressas no calor desta fornalha.
Os dentes serrilhados mostram trismos,
Na lama da minha alma, a vil batalha...


387

A massa que caminha, feito gado,
Arreios entre estribos e chicotes.
Nos olhos mais famintos dos coiotes
No lombo iniciais, corpo marcado.

O olhar já de nascença, derrotado,
As cobras preparando os mesmos botes,
Sem chance de saída, sem os botes,
Açoite disfarçado. De bom grado.

Amigo, o povo segue seu destino,
Correntes costumeiras, seus grilhões.
Enquanto o seu pastor, velho ladino,

Permite algum respiro, samba e gol,
O pensamento morre nos grotões,
E o sonho que era doce se acabou...


388



À meia luz brindemos nosso amor
Os beijos mais audazes preparamos
Enquanto com carinhos desfrutamos
Dos sonhos que permitam recompor

Caminhos que morrendo em tanta dor
Há tempos, malfazejos caminhamos,
Depois que num instante nos tocamos,
A vida renascendo, sem rancor...

Porém viva penumbra no meu peito,
Meu coração eterno insatisfeito,
Não deixa que se veja a luz suave.

Crepúsculos que trago de outras noites
Queimando em minhas costas, vis açoites
Impedem a alegria, duro entrave...


389

À meia noite a festa prometida,
Nos cabarés as luzes multicores,
Falando da ventura dos amores,
Da sorte a cada esquina, já perdida.

Nos olhos da mulher que me convida
Eu vejo refletidas tantas flores,
Bebendo no seu corpo estes licores
Eu tento retornar à minha vida.

No afã de ter somente uma alegria,
O olhar tão desejoso, assim recria
Imagens que vivemos... Mas perdi.

Depois de tantos passos, tempo afora,
O ritmo das orgias revigora,
Porém, inutilmente busco a ti...


390


A melodia acalma; suave som
Que invade a madrugada, ganha o dia.
Na boca da morena este batom
Roçando a minha pele com magia.

Recende a todo o bem que a vida trama
Num gesto em perfeição, sublime e audaz
Enquanto o dia nasce e o sol nos chama
A vida recomeça em pleno gás.

Suave transparência, camisola,
Teus seios delicados e bonitos
O pensamento clama, alma decola
Trazendo novamente loucos ritos.

A melodia invade e nos convida,
Amor não reconhece despedida...


391

A melodia agora está perdida,
Sem ter mais solução aguarda o corte
Procuro a poesia que me aborte
E mate em nascedouro a própria vida.

Imprópria pro consumo, despedida,
O medo acaricia quem suporte
De toda a solidão encontro o Norte
Mordendo as minhas mãos, há quem me agrida

Somente por dizer que amo demais.
Não falo mais de amor. Prefiro a paz,
Ou mesmo em outros temas canibais

Eu possa ter um pouco de sossego.
Desculpe se eu pensei tempos atrás
Que ainda houvesse amor. Agora eu nego...


392

A memória da vida sempre traz
Momentos tão difíceis que passei,
Olhando firmemente para trás
Percebo como tanto já sangrei.

Dizer desta ilusão de ser feliz
Que sempre acompanhava meu desterro,
Nem sempre conseguindo o que mais quis
Errando, pois se aprende mais com o erro.

Fiz versos, universos sem sentido,
Perdido neste espaço, sem ninguém.
Sem rumo, tantas vezes vou perdido
Na busca do descanso que não vem.

Ao ver-te enfim, deitada aqui do lado,
Esqueço minha dor; flor do cerrado...



393

A menina brincando com tinta
Pintando de esmeraldas o meu céu,
Ao mesmo tempo sonho enquanto pinta
Lambuzo de aquarela o meu corcel

Que vai pelos espaços, se retinta
Da tinta esparramada neste véu
Jogado nalgum canto. Nunca minta
Para menina, abelha, cera e mel.

Menina cavalgando o seu cavalo,
Desponta para o sol, menina-moça
Amor, castelo, toca num resvalo

O coração pacato da menina,
Formando da ilusão em gotas, poça
Paixão adolescente e genuína...

394

A merencória lua em noite pálida
Deitando em seus luares bela prata,
Amor que se fazendo de crisálida
Nascendo novamente, o sonho mata.

Beleza tão sutil, intensa e cálida
Calada, nada mostra e me arrebata,
A noite que se fora assim, inválida,
Tomando por refém palavra ingrata

Noctâmbula alegria se desfaz,
Esperança tropeça e quase cai,
Prazer que em vago rio já se esvai

E nada do que fomos, noite trás
Apenas o vazio deste cálice
Mostrando o derradeiro e fino cale-se!



395

A mesa posta, a cama bagunçada
Depois de tanto amor, minha querida
Manhã sempre contigo ensolarada,
Tu és a claridade em minha vida.
O medo de depois não haver nada
Se perda nesta luz bem concebida

Do amor que é nosso pão e nosso vinho
Afeto que nos leva à salvação.
De novo, meu amor, vem de mansinho
Que a vida se renova em emoção.
Desejo teu prazer e teu carinho
Regados por amor, por atenção..

Não deixe que se perca mais a sorte
Do amor que a cada dia é bem mais forte...


396


A mesa, a cama, a vida, sempre posta,
Banquetes em divinas iguarias.
Nudez em maravilha, agora exposta,
Convite às mais sublimes fantasias.

Peregrinação feita em noite insana,
Num misto de loucuras e carinhos.
A mão que se demonstra audaz profana
As sendas mais diversas, teus caminhos.

Orgásticas lições são reveladas,
Fronteiras? Desconheço totalmente.
Os vales e montanhas inundadas
Nesta explosão voraz e tão premente.

A lua nos rondando embevecida,
Entranha cada raio em nossa vida...


397



A mesma mão que amansa, sacrifica.
Em preces mentirosas se reveste
A falsa pedraria em roupa rica
Engodo pra quem usa e se veste.

A seta ludibria quando indica
O rumo das estrelas. Que se infeste
No amor que nada acalma, nada fica.
Encontra a solidão que o ateste.

Amor sem paz é quase incoercível
Só deixa vir caminhos tateantes.
Porém se gigantesco é invencível.

Resiste qual falésia à tempestade.
Permite novos sonhos delirantes
Demonstra no seu rumo, a liberdade...


398


A mestra dos embustes já chegou!
Sentada na primeira fila ri.
Neste intervalo inerte em que saí,
A máscara que usava se quedou...

Ilusionista mentes. Mas já vou
O meu futuro está longe daqui.
Nas metas que prometes perco o gol,
Nos mares onde afogas, me perdi

Vencida pelas tramas em que mentes
Teu mundo de repente está caindo.
As presas que me mostras, de serpentes

No riso que falsária finges lindo...
A mestra dos embustes já me chama,
- Vem logo que incendeio até a cama...


399

A minha alma ecoando busca a tua,
Nessas fráguas, as mágoas queimam, tanto...
Amiga, me permita teu encanto,
Talvez, um dia, venhas bela e nua

Nas noites que imagino, minha lua...
Respiro seus venenos, lentos, pranto...
Amor divino, cego, louco, santo,
A cada dia, a dor vem, continua...

O vento e madrugada, nova dança;
Nas estradas, atalhos d’esperança
Levam ao nada, nada, simples nada...

Caminhemos distintos caminhares,
Naveguemos por mares, por vagares
Que, afinal, voltarão por essa estrada...



400


A minha alma embuçada nas torturas.
Um sino repicando esta saudade...
No gosto mais amargo, as desventuras
Nas neves que me deste, frialdade.

Num tempo bem distante das ternuras
Chuvosas cordilheiras, tempestade...
Amores necessitam de branduras
Sem elas; impossível liberdade...

Destino me levando pr’outra estrada
As noites esquecidas trazem nada.
O vento? A calmaria desconhece...

Meu canto transtornado, uivo e prece
O resto do que fui já não existe...
O mundo que me deste, morre triste...

401

A minha alma está cheia de alegria
Por que vieste, amor; em redenção!
Passando tanto tempo em agonia,
É bom poder tocar teu coração

E ver que nossa vida, em harmonia
Trará bem mais que simples ilusão.
Será toda a certeza de, num dia,
Viver com toda a força esta emoção

De ser bem mais que sonho, que promessa,
Matando essa amargura tão funesta.
Vem logo, meu amor, eu tenho pressa

De ser feliz. Mereço amor enfim,
Viver em nossa vida; gozo e festa.
Sacramentando amor que existe em mim!
402

A minha alma fechada quer respiro,
O meu berço quebrado diz de farsas
Nos mundos que não vi, resta um papiro,
Charnecas tristes charcos, meus comparsas;

Na sombra que ilumina vou, atiro...
Não me digas licença nem disfarças,
O canto que vasculho, vou, me estiro,
Voando repetis as mansas garças...

A minha alma transmuda-se em concreto,
Inaudita e feroz, nunca se cala...
Amor que me legaste, vai discreto,

O medo caminhando pela sala...
Perdoes por não ter nem mais afeto,
O gosto que me deixas, pus e bala...


403


A minha alma onde está? Pergunto ao vento...
Que teima em me ocultar qualquer resposta.
Na força inigualável, pensamento,
Encontra seus resquícios, morta, exposta...

Minha alma se deixara transbordar
Nos mares dos amores, se perdendo...
As ondas e procelas deste mar,
Aos poucos, meu amor, também morrendo.

Surge no firmamento, raio ardente,
Que treme em singular, rara beleza.
Mudando meu caminho totalmente,
Gravando em fino bronze essa certeza.

Amor que na minha alma se perdeu,
Da própria cinza, em brasa , renasceu!



404

A minha alma te deseja
Numa terna sensação
Tanto amor que já poreja
Até causar inundação.

Alegria tão sobeja,
Vai rodando em turbilhão
Tendo o sonho que se almeja
Trago em mim esta amplidão.

E não posso me calar
Se bebi os céus e o mar
Nos teus lábios sensuais.

Quero repetir a dose,
Sem tristezas que isso glose
Quero sempre e muito mais!


405

A minha alma, tristonha caminheira,
Que há tanto se perdeu qual nau sem rumo,
Naufrágio desta antiga carpideira,
Esvai-se num segundo amargo fumo.

Por mais que o pensamento ainda queira
Beber da fantasia todo o sumo,
A mão desta facínora é ligeira
E perco em desvario todo o prumo...

Assídua e merencória mercenária
Minha alma sem destino, temerária,
Não tendo qualquer porto, segue só.

Corroem minhas pernas, velhos sais.
Em passos sempre trôpegos, boçais,
Retorno ao inerente e inútil pó.



406


A minha boca torta neste ensejo
Pedindo um lábio teu, mas que fazer?
Apenas vou vivendo do desejo
Que um dia talvez trague algum prazer.

O corpo delicado sempre almejo,
Montanhas entre vales perceber,
Amor quando sincero esquece pejo,
E nele, com certeza eu posso crer.

Se o pesadelo traz terríveis serpes,
Pior eu te garanto, amor, essa herpes,
Que volta e meia chega e me incomoda.

Bicudo desse jeito, um belo susto,
O amor que tanto eu quis, no fim eu susto,
Beijar com tal moléstia, amor, é poda
407


A minha companheira tem o brilho
Das manhãs orvalhadas no quintal,
Se no seu canto tanto maravilho
Trazendo tanta luz, puro cristal...

A minha companheira tão viçosa
Robusta com a força lavradora,
Perfume que, emanando, lembra rosa
Certeza de quem sabe, vencedora!

Me dando o mel agreste da vontade
Que sabe bem pedir quanto ordenar...
Fazendo assim total felicidade
Sem medos e segredos, basta estar...

De minha companheira, o sal, sorriso,
O gosto de quem sabe o que preciso...



408

A minha dor ao espalhar seu sal
Estampa no meu rosto esta agonia.
De todo sonho o desamor recria
Imagem de um passado triunfal.

Da taça feita amor, sonhei cristal,
Porém ao perceber, a vi vazia
A solidão que agora propicia
Apenas, dos meus sonhos, funeral

Trazendo em suas mãos, cravos e lírios,
Na tétrica esperança diz martírios
Cevando no meu peito este amargor.

Noctâmbulo fantasma, eu vou sozinho,
Da morte mansamente me avizinho
Caminho que busquei; desolador...



409

A minha inatenção por tantas vezes
Causou-te a sensação de ingratidão.
Depois de tantas dores e revezes
Meu barco se perdeu de direção.
O tempo solitário, dias, meses,
No fundo o que me resta é o coração...

Eu me lembro do dia em que perdi
O rumo nesta estrada tão complexa.
Estava tão distante que nem vi
A tua imagem bela, em mim, reflexa.
Agora que percebo estás aqui.
A minha vida corre desconexa...

Neste quarto silente nada vejo
Senão a mão em preces, em desejo...



410

A minha maldição, julgava esparsa.
O tempo adormeceu tal tempestade.
Maldita seja então toda essa farsa,
Triste vulto enlutado na cidade...

Não tem sequer amigos. Um comparsa
Surgindo dessas sombras, causa alarde.
Num tempo, se fazendo tragifarsa,
Só deixa a sua marcas de maldade...

Quantas horas passadas sem prazer,
O templo da esperança foi queimado...
Quem sonha com momentos de lazer,

Num átimo percebe estar errado...
Nas sombras da maldita vou viver.
A maldição ressurge do passado!


411

A minha mão buscando no teu seio
Calor tão desejoso de prazer,
Procura nesta mina o rico veio
Que com certeza doura e faz perder

O rumo, meu juízo e minha sina,
Nestes carinhos loucos, tal riqueza
Que vem destas entranhas desta mina
Que leva nosso amor qual correnteza.

Espero o teu amor a cada instante
Vasculho nas paredes desta gruta,
Os traços tão sutis do diamante,
Polindo, com carinho, a pedra bruta.

Eu sei do nosso amor banhado em ouro,
Começo a achar o mapa do tesouro...



412

A minha mão passeia calmamente,
Buscando tocar todas reentrâncias,
Eu sinto esse desejo, mais urgente,
De conhecer molejos e cadências.

Sorvendo todo líquido fervente,
Que põe no nosso amor as evidências
Que poderás gozar, tão de repente,
Sem conceder sequer qualquer clemência...

Eu quero teu suor e teu sorriso,
Nas salivas trocadas; as delícias.
Teu prazer é tudo o que eu preciso.

Suave viajar dessas carícias,
Orgasmos delirantes, sem aviso...
Meu amor, por favor, me dê notícias.


413


A minha mão procura simplesmente
Macio porto envolto em tal loucura
E quando te encontrando se assegura
Do todo que deseja, e nada mente

Ainda que a saudade se apresente
E o todo se traduz numa amargura
A vida se transforma e com ternura
O mundo se transforma plenamente.

Assisto ao quanto pude num segundo
E todo este desenho onde me inundo
Presume a mais feliz coincidência

E sei de tanto amor aonde eu pude
Rever a minha ausente juventude
E desta luz imensa ter ciência.


414

A minha mocidade tão distante
Rolando nas lembranças, sem parar
O tempo nunca pára, vai constante
Passando e transformando faz voar...

Quem dera ter o gosto do teu beijo
Na boca que murchou, pele enrugada...
Porém nunca morreu o meu desejo,
O de poder te ter, ó minha amada...

Passamos tanto tempo na procura
Do bem que alimentou a juventude
Amor que se banhava na ternura
Amei, vou ser sincero, mais que pude...

Das forças que já tive, quer renovem
A vontade de ser, p’ra sempre jovem...


415

A minha noite vira um triste enfado,
O que pensei ser meu não me pertence.
Olhando para as sombras do passado
Amor já não me toca e nem convence.

O coração se enfurna, amargurado,
A solidão inútil já me vence,
Saudade vem chegando pro meu lado,
Amor um espetáculo circense

Fazendo de palhaço quem amou,
O jeito é me entregar completamente,
Contando cada caco que restou.

A vida se transforma tolamente,
E mata em nascedouro uma esperança
Apenas solidão, cruel me alcança.



416

A minha pele sente este calor
que vem do corpo quente da mulher
a quem eu me entreguei em pleno amor,
e sei que tanto bem, assim me quer.

Delírios sensuais em nossa cama,
nudez exposta e boca mais sedenta
ardentes sensações de brasa e chama,
paixão que nos devora, violenta.

Nos corpos e nos copos, brindes, vinhos
em toques mais divinos e tão gostosos,
as mãos, vãos percorrendo, teus caminhos
até que explodam fortes, doces gozos.

Assim ao atingirmos perfeição,
sentimos, nesse amor, um turbilhão...



417

A minha sina é te amar
Menina maravilhosa
Coração a vicejar
Vai batendo todo prosa

Esperando te encontrar
Numa noite glamourosa
Debruçando no luar
A beleza desta rosa

Que nasceu no meu canteiro
Que me fez feliz assim.
Teu amor foi o primeiro

Que bateu dentro de mim,
Deixa eu ser o jardineiro
E cuidar deste jardim...



418

A minha vida é cigana
Entre sonhos e carícias
A saudade não me engana
Vai morrendo sem notícias.

Da mulher que é mel e cana
Os carinhos e delícias.
Deita à lua soberana,
Seu sorriso diz malícias

Cavaleiro enluarado
Vou bebendo cada estrela
O meu céu foi constelado

Hoje traz escuridão,
Mal começo a percebê-la
Perco logo a direção...


419



A moça ao dar volteios por aí
Deixando um cavaleiro a ver navios
Mexendo com seus sonhos e seus brios
Expressa noutro verso o que eu perdi.

Assim como pensara ter em ti
Os olhos entre brilhos, meus pavios.
Os dedos que são escorregadios
Distantes da ilusão que descrevi.

Agora a lua imensa acaricia
Apenas o raiar da fantasia
Ausente da expressão que me guiara.

A dama e seus corcéis vagando à toa,
Seu canto em plena noite inda ressoa
Cevando com sorrisos cada escara...


420


A moça ao encontrar novo parceiro
Mostrou-se mais audaz, isso me encanta
Enquanto a fantasia outrora tanta
Não deu sequer o brilho no tinteiro.

Acende com vontade, belo isqueiro
Que a cada novo verso se agiganta
Mudando o seu destino, amor suplanta
As ondas, como fosse um bom saveiro.

Olhando este cenário, o trovador
Que um dia se fez tolo, enamorado,
Vencido pelas setas deste amor

Agora se escondendo amortalhado,
Já sabe como é bom poder compor
Um verso sem juízo, transtornado...



421

A moça da janela, carolina,
Agora virou simples periguete,
O que fazer, Meu Deus, desta menina,
Que um dia decidiu virar chacrete.

A fita em vídeo teipe rebobina,
Mantendo como fundo este chiclete,
Cachorra deixa marca numa esquina,
Não vou jogar sequer mais um confete.

A bela foguetinha quer o Créu,
Rebola até o chão, a popozuda.
Bolada, toda a turma inda saúda

Termina com certeza no motel,
Com tanta periguete por aí,
Fenômeno é dormir com travesti...



422


A moça desejava um marombeiro
Porém o que chegou, quase um fiasco,
Não sendo mais que um simples, frágil frasco,
Nadava nos cifrões, tanto dinheiro.

O amor que se mostrou foi verdadeiro
Depois de certo tempo, roto o frasco,
A moça já não tinha nem mais asco.
Acostumada estava com meu cheiro.

Se ela me quer ou nada disso sente,
Já não reclama mais do continente
O conteúdo basta, ela me diz.

Não sei e nem desejo ter resposta,
Se a gente na verdade não se gosta
Importa depois disso, é ser feliz...


423

A moça desfilando desafina
E mostra em suas pernas tatuadas
Vestígios de varizes disfarçadas
Mantendo sua pose, sempre fina

Detalhe em celulite que azucrina
Permite se falar em derrocadas,
As coxas entre luzes garimpadas
Do velho sedutor extingue a mina.

Nas modas entre rodas de fofoca
Mentira que em falácias já pipoca
Expressam a temível realidade.

A vaca que se expõe neste leilão
Alcança sempre a cifra que em milhão
Humilha quem procura a liberdade...


424


A moça desfilando pelas ruas,
Nariz empinadinho, e minissaia
Depois de certo tempo bebe luas
Caindo já de boca na gandaia.

Dizendo baboseiras em inglês,
A bela patricinha vai se achando,
Falando babaquices em francês
No colo de um maurício se acabando.

Rainha da cocada, ela se sente.
Não pode ver mendigo ou indigente
Que logo vai mudando de calçada.

À noite se derrama na boate,
No carnaval se entrega num iate;
Chegando em casa às seis; vem da balada...

425


A moça diz com força “ou mato ou morro”
Eu fico pasmo vendo a convicção
De quem sem nem pedir algum socorro
Espalha a sua voz de furacão.

Depois ao procurar um velho gorro
Que o vento carregou pra plantação,
Presente de mamãe, tem belo forro,
É coisa da maior estimação

Eu vi no matagal esta donzela
E um baita de um sujeito em cima dela
Fazendo a mais incrível sacanagem

Depois de certo tempo eu percebi
Que o mato que ela disse é logo ali,
O morro fica além, noutra paragem...


426

A moça faz com moço um bom dueto
A ursa tem no pau seu complemento
Deu tênia na barriga do jumento
Que morde com o rabo todo o gueto.

A soma desses dois mata o soneto,
Risível palhaçada neste intento,
Enchendo a paciência. Mas lamento
É tanta incompetência, vadre reto!

Depois vem me falar que toma tranco,
Se cai a cada frase de um barranco
A bunda não é minha, que se dane...

Descerebrada dupla se completa
Formando uma figura tão abjeta
Provando que o talento entrou em pane...


427

A moça faz da noite o ganha-pão
E deixa pelas ruas seus pedaços.
Vencendo em teimosia, seus cansaços
Andando quase sempre em contramão.

Procura por estrelas pelo chão
Não vendo nem resquícios, segue os passos
Do sonho que pensara ver os traços
Aos poucos só encontra a negação.

E tudo o que queria é ser feliz!
A fé de quem jamais desistirá
Sabendo, na verdade desde já

Que a curva se repete. Amor desdiz.
No corpo da bonita meretriz
A lua não reflete. Brilhará?



428


A moça fez a feira na segunda
E trouxe uma cenoura para casa,
Brincando calmamente adentra a bunda
E deixa esta fornalha quase em brasa.

O gozo de quem sabe e se aprofunda
Correndo vem depressa e não se atrasa.
Pois quando em puro leite ela se inunda
Fazendo mil requebros já se abrasa.

A dona dos quadris virando os olhos,
Pedindo que te chupe traz os molhos
Mistura jurubeba com cachaça

Caçando enquanto vira fácil caça
Rebola engole a bola e já me esfola
Em tanta sacanagem faz escola.


429

A moça mal percebe que a tristeza
Demonstra que a saudade representa
Paixão que se mostrando violenta
Derrama mil sabores sobre a mesa.

A noite se decora e, com certeza
Em louca fantasia se apresenta
Trazendo à sonhadora uma tormenta,
Derrubando sutil qualquer defesa...

Amiga, eu te desejo boa sorte,
Não quero que tu sofras. É inútil.
O coração tão tolo deste fútil

Não pode macular, mudar teu norte.
Mas creia que aqui torço pra que tenhas
O amor que te incendeia em frágeis lenhas....



430

A moça manda um beijo
Olhando para os lados
Pensando noutro queijo
Com pés desengonçados

Amor que sem traquejo
Traz olhos bem vendados
Vencendo os seus desejos
sonhos prejudicados...

A moça faz de conta
Que nada percebeu
Andando sempre tonta

Mergulha noutro breu.
De novo a moça apronta
parece que bebeu...



431


A moça perebenta do quintal
Que nunca foi deveras tão mineiro,
Agora dança nua no varal
Motel, lugar comum e corriqueiro.

Manchete costumeira do jornal,
A rosa sem espinhos perde o cheiro.
Revela-se durante o carnaval,
Atola uma esperança em tal barreiro.

E viva a mocidade que não veio,
A velha juventude exposta e nua
Suave transparência mostra o seio,

E as saias levantadas, fazem festa.
Olhando já sem crer, a velha lua,
Se esconde avermelhada na floresta...


432



A moça quando entende do riscado
Faz sempre o coração bater depressa,
E tanto amor que traz sem ser promessa
Já deixa o cidadão apaixonado.

Por isso é que eu aceito de bom grado
O amor que esta moçoila me confessa.
Não tendo pra morrer nenhuma pressa
Eu quero o que sobrar a ter ao lado.

Dançando toda noite este forró,
Jamais terminarei meus dias só,
Somando cada noite, eternidade...

Vencer os meus complexos e temores,
Nas pernas o desejo em mil tremores,
Depois a mais completa saciedade...
433


A moça que comigo se encontrava,
Bonita e tão faceira, deu um nó,
Minha situação assim se agrava
A filha do danado deste Jó

Numa gargalhada lancinante
Mostrou por sob a saia um longo rabo,
Aquela moreninha deslumbrante
Queria, na verdade era dar cabo

Daquele que se fez amante e amigo,
Ao libertar a moça, perco o céu,
Sem ver qualquer sintoma de perigo,
A filha do safado coronel

Ao aprontar comigo essa falseta
A menina era esposa do capeta!



434

A moça que queria aparecer
Em tantas fantasias se mostrou,
Após gozar com puto do poder
Já diz a todo mundo: não gozou.

Em busca de dinheiro, quero crer,
A roda; presunçosa ela espalhou,
Da porra se fartou, até saber
Que dela outra mulher já desfrutou.

A vítima, coitada, agora quer
Vingança contra aquele que fedeu
Honrada e tão benquista esta mulher,

Que um erro eu nunca faça nem cometa,
Problema é todo dela, não é meu;
Só sei que ela alugou sua tarjeta

435

A moça que se faz desentendida
Parece que carrega na barriga
Um deus. Eu não suporto tanta intriga
E quero não problema e sim saída.

Por mais que a gente sonhe, a convencida
Fingindo ser – quem sabe? Minha amiga;
Coçando esta vontade como urtiga,
Não sei o que fazer de minha vida.

Mergulho no vazio e quebro a cara,
Quem tenta ser feliz se desampara
Se tem a porta assim, já tão fechada.

Eu sei que ela faz doce e na verdade,
Pensando ser a dona da cidade,
Se não for toda minha, tá com nada...


436



A moça que vivia amargurada
Olhando da janela de seu quarto,
Não via que esta noite enluarada
Trazia um principesco nu e farto.

O pobre descansando na calçada,
Refletia na poça o seu retrato,
A moça sonhadora, enamorada,
Guardava para si o seu recato.

Porém, não vendo o príncipe pensava
Que amor que um dia teve não voltava.
Vendo na poça d’água reles trapo

Gritou e se assustou com o que viu.
E fechando a janela despediu,
Xingando aquele horrendo e pobre sapo.


437

A moça tão bonita,flor e riso,
Sabendo quanto pode conquistar
O coração que sonha com o amar
Partiu na nuvem clara, sem aviso.

Os olhos tão grisalhos de quem fica,
Mortificada história sem remédio,
A vida vai passando em duro tédio
A dor que maltratou não edifica...

Porém ao fim da tarde, ouvindo a voz
De quem se foi há tempos, mas voltou
O rio encontra agora a sua foz

No mar feita esperança, se entranhou.
Fazendo da alegria a sua senda,
Mistérios deste amor, Amor desvenda...


438


A mocidade goza seu segredo!
Quem sabe não seria a minha conta...
Os ventos nunca deixam o arvoredo,
A lua embevecida anda tão tonta.

Futuro se escondendo traz o medo,
O rastro que deixou de novo aponta
A ponta mais feroz deste torpedo.
A vida se desnuda numa afronta

Lembrei dos velhos tempos de menino,
Sem saber encarava meu calvário...
As orquestras fingiam um novo hino

Espalhavam meus sonhos pelo mar...
Meu bisonho e decrépito fadário:
Aprender conjugar o verbo amar!

439


A morena mais guapa dos rincões
Distantes. As coxilhas maviosas,
Fazendo dos meus versos mil canções
Espalha pelos pampas rubras rosas.

Cevando com ternura, as emoções
Que mando aqui das belas alterosas
Estâncias lá do Sul, em vanerões
Dançamos as paixões mais gloriosas.

Se eu trago na guaiaca estas lembranças
Em farta provisão, meu embornal
O amor com valentia de bagual

No peito de um mineiro faz andanças
Eu quero teu querer e sem embargo,
Bebendo em tua boca um bom amargo...


440


A mortandade segue amarga, amena,
Calando todo sonho mais piegas
A boca que me beija e me envenena
Caminha em noite imensa, sempre às cegas.

Egrégio de outro tempo; eu vejo tudo
E novamente omito o que hoje sinto.
Seguindo o mau caminho, sigo mudo
Em trevas o futuro agora eu pinto.

Aceito tão passivo tais verdades,
Na faca que se aponta numa esquina
Os olhos vão negando as claridades
A podre sensação já descortina

O amor que não devia ser assim,
Matando o que inda resta dentro em mim...


441

A morte, minha esquálida parceira,
No beijo que tortura pede lábios...
Fugindo deste vulto a vida inteira,
Perdendo meus caminhos, astrolábios...

Vencido postergando esta videira,
Não posso disfarçar amores sábios...
Procuro por vingança a companheira,
Jamais encontrarei nos alfarrábios

Nos livros de magia ou de presságios.
A morte não permite tais saídas...
Nos olhos, nos momentos, nos adágios,

Pedágios que pagamos, nossas vidas...
Não posso pressupor, isso alucina...
A morte qual a vida é luz divina!


442

A morte ao adentrar meu quarto escuro
Bebendo cada gota deste gim,
Preconizando em lágrimas meu fim,
Enquanto de meus erros me depuro.

Cansado de cevar um chão tão duro,
Sorrio neste instante e sinto enfim
Em flórea maravilha o meu jardim
O término das dores, eu auguro.

Os olhos faiscantes num momento
Prevendo que se encerre o sofrimento
Vislumbram de uma treva, um bom farol.

No funeral dos sonhos, finalmente,
Um dia nascerá iridescente
Da vida tão sombria, a morte é o sol!



443

A morte chega cedo a quem não ama
E mente pra si mesmo, temerário.
Deitado no curral, exposto à lama,
Vivendo o que temera, sem horário.
A sorte solitária não reclama,
No peito que morreu, um relicário.

Ao visto necessário para o riso,
Amor como um sentido além da vida,
Por mais que num amor se perca o siso
É nele que se encontra essa saída
Aberta para eterno paraíso,
Numa escalada mágica e sentida.

Morrer em vida assim é mau presságio,
Cuide então desse amor, embora frágil...



444


A morte da esperança, em primavera
Se faz a cada instante, sem talvez.
Resíduo do que fora a minha espera
No tempo que se foi sem ter nem vez.

A sorte que não veio, a dura fera
Tomando o meu sentido em triste tez,
A dor que sem sorrisos, degenera
Um pouco a cada dia, a cada mês...

Mas nada me tocou, nem mesmo amor,
Sou resto do que nunca havia sido.
Agora, minha amada, ao teu dispor,

Bem sei que voltarás em meu inverno,
Depois de tanto tempo, nada, olvido...
Meu braço te recebe, sempre terno...


445


A morte derramando o seu caudal
Na carne envelhecida, agonizante,
Tomando toda a sorte neste instante,
Lateja no segundo mais fatal.
Estrelas derramadas num bornal
Do sonho destruído, vil, farsante.

Vassalo de imbecis desejos tolos,
Riquezas e nobreza não carrega.
Adubo que renova sujos solos,
Ao nada perfazendo sua entrega.
Mulheres e carinhos... outros colos;
Aos vermes e bactérias já se apega...

A morte beija a boca, costumeira,
Amante mais voraz e derradeira...


446

A Morte, dos meus olhos se aproxima...
O Verbo que me fez já não me acena...
A vida que é de Deus sua obra prima,
Qual melancólica atriz sai de cena...

Permito-me rever Palas Atena,
Viver é conceber tanta auto estima,
No fundo não querer ter medo ou pena...
A morte com a sorte, pobre rima

Os sofrimentos lesam e não saram,
Amores que já tive, desvanecem...
Meus olhos, os espelhos não encaram...

Abismos se aproximam formidáveis.
As dores e os amores infindáveis,
Nas ondas deste mar se desvanecem...


447


A morte em redenção virá em breve
Na luz que tantas vezes, cega impura,
O vento deslumbrando tal ventura
Trará ao pensamento frio e neve.

Por mais que uma esperança, tola ceve,
A mão da realidade nos tortura,
A liberdade morre em plena agrura
Amor em perfeição? Meu sonho em greve.

Fervendo olhares tolos, primitivos,
Medonhos meus delírios são cativos
Da falsa pedra em lume cintilante.

Na rua da ilusão, bosque em queimada,
De vidro cada estrada ladrilhada,
Tomando as tais pedrinhas de brilhante...



448

A morte em sedução ora se empresta
Deixando o verso amargo e sem sentido,
O tempo de sonhar vai esquecido,
Apenas solidão decerto, gesta.

A boca que se beija em vão, funesta,
Meu riso aos poucos segue distorcido,
No corte aprofundado, desvalido
O fim que se aproxima já me atesta

O quanto é necessária uma esperança
Ao menos que permita ancoradouro
Enquanto a vida esvai, amor ancora.

Trazendo pelo menos temperança
Num sonho mesmo tênue em nascedouro,
A paz que num momento se assenhora.



449

A morte emoldurando a dura tela,
Fagulha que incendeia em agonia.
Enquanto a solidão inda bramia,
O tempo se perdeu sem rumo ou vela.

Alento derradeiro que revela
O quanto foi enorme esta sangria,
O amor em força insólita recria
A falsa sensação de alma tão bela.

Jazendo estes escombros do que fora
Guardados qual relíquias. Tola imagem.
A morte profanando esta paisagem

Em luzes mesmo opacas, já decora
Com flores quem cevou tantos desertos,
Os olhos do defunto estão abertos!



450

A morte me sorria, linda, loura...
Estava angustiado à sua espera!
Meu tempo de viver cedo se estoura,
Não quero perceber sequer a fera...,

Esperava-te, morte redentora!
Perambulava à beira da cratera,
Vulcânica cratera, salvadora!
Da vida, chave d’ouro que tempera...

Nas minhas derrocadas, das batalhas,
Foste esperança trágica vitória!
Repousar meus defeitos, minhas falhas,

Na tua boca amiga, minha glória!
A morte, companheira mais fiel,
Vem, fechando as porteiras do bordel!


451

A morte não escolhe quais os panos
Que cobrem o cadáver, com certeza.
O luto que promete desenganos
Tecendo com justiça a natureza.

Distante do que foram outros planos,
Igualitária morte em sutileza
Ao corrigir da vida seus enganos
Ao pó nos tornará, sem dar defesa.

Quando a vida é feita em alegria
Permite num sorriso, a redenção
Alçando na amizade e no perdão

A plena sensação que assim viria
Arrancando dos pés qualquer grilhão,
Trazendo enfim a tal libertação!


452

A morte, nos meus sonhos, engatilho
Tornando a tempestade bem mais breve,
Sem ter a poesia que me enleve
Perdendo há tanto tempo rota e trilho.

Não vejo no momento um empecilho,
Nem mesmo a fantasia já se atreve,
A vida se tornou bola de neve
Deixando para trás velho andarilho.

Querências tão diversas se perdendo
Nas nuvens que solúveis nem mais chovem,
Sem ter as esperanças que desovem

Os rios da ilusão estão morrendo
E a seca se espalhando em arrebol,
Quem quis ser arquipélago, hoje atol....



453

A morte, o bem supremo que inda resta
A quem durante a vida só sonhou.
Jardim no qual a seca desandou
Apenas os abrolhos; inda gesta.

Janela se fechando sem ter fresta
Castelo de ilusões já desabou,
A boca que me morde é indigesta
O tempo em armadilhas revoltou.

Agarro uma esperança em furacões
Tentando vislumbrar as soluções,
Porém não tendo nada em arrebol,

Da tábua imaginada em tempestade,
Ao ver com ironia em claridade,
Deparo tão somente com anzol...



454


A morte prometida dos amantes
Barbárie sem motivos nem sentido.
Os raios deste sol são deslumbrantes
E trazem na memória, todo olvido.

Eu minto se te digo que não sonho
Com tramas que vieste me enganar,
Urdido por palavras mas risonho,
Não temo sequer medo de te amar.

Mas quero o teu amor sem ter a morte
Somente uma emoção bem mais feliz.
De tudo que não tive, sei a sorte
E toda a grande sorte, o que mais quis.

Eu amo teu amor assim sem rumo;
Da vida que me dás eu bebo o sumo...

455



A morte que espreitando na tocaia
Faz festa com meus olhos taciturnos,
Recebo os teus carinhos mais soturnos
Na solidão imersa já se espraia

A lua que levanta a sua saia
E mostra nas virilhas, cais noturnos.
Revezo no seu corpo vários turnos
E bebo da argentina antes que saia

Desnuda pelos bares da cidade
Serpenteando nua meretriz.
Nos vícios mais infames, companheira.

Amada se tu fosses minha lua
Terias a magia desta rua
Exposta e sem vergonhas, verdadeira...


456

A morte que me beija em pleno tédio,
Negando o que talvez ainda houvesse
Além deste caminho em que se tece
O quanto se pensara ser remédio.

Por mais que a gente tente um novo mote,
Sem preces, obedeço ao sentimento
Que mata com ternura e num momento
Explode arrebentando casa e pote.

Ao ver a tua imagem num anseio,
Revivo novamente este dilema,
Por mais que um passo livre já se tema,

A casa desabando sem esteio
Demonstra quanto é forte a correnteza
Matando uma esperança, de tristeza...



457

A morte que se dá na mocidade,
Deixando os corações quase descrentes
A fome de vingança em nossos dentes
Sonega o que restou de claridade.

Apenas o vazio, dura herdade,
Legando a quem virá os penitentes
Momentos que se foram, descontentes
O medo de seguir agora invade.

Que vale o Paraíso sem poder
Usufruir da vida algum prazer,
Trazer os olhos vagos, sem destino.

A cova que se abrindo aos nossos pés,
Qual barco naufragado. No convés
Da vida me perdendo em desatino...



458


A morte se aproxima intensa e violenta
Calando tanto sonho em mar tão revoltoso..
De tudo o que queria, um mundo mavioso,
A vida não me deu, mas minha alma acalenta

Esperança divina. A luta que se enfrenta
Por um tempo feliz, um mundo generoso,
Desfaz-se no meu peito, amargo e venenoso!
O fim de inútil luta, a lágrima arrebenta.

Do pouco que me resta , eu busco meu prazer,
Não tenho, na verdade, o medo de morrer.
Bem sei do meu final. Mas quero as alegrias

Do riso de criança escondido no peito.
Do gozo tão sincero, enorme e satisfeito!
Da vida? Nem um dia! E de vida, plenos dias!


459

A morte se aproxima, agora sinto
O vento em temporal anunciando
O fim deste tormento em que me abrando
Deixando o que pudesse ser extinto.

Meandros tão diversos de um caminho
Que leva à mais dispersa realidade.
Meu vinho se avinagra e a qualidade
Dos sonhos se perdendo em burburinho.

Arrefecendo em tréguas tal batalha
À qual já me entreguei em outras eras
O corte se aprofunda e da navalha
As hordas de fantasmas viram feras.

Sinérgicas estradas se confluem,
Sem ídolos nem ritos que cultuem...


460


A morte se fazendo anunciada
Espreita de tocaia e dá seu bote,
Cansado de beber do mesmo pote
Não vejo no final, sobrar mais nada.

Um vago que caminha em fria estrada,
Repito e não me canso o duro mote,
Espero uma alegria por rebote,
Porém a sorte segue enviesada.

Nas folhas todas brancas do passado,
O vento quando vem é mais gelado
Herança que ao final tu me legaste.

Sem ter sequer um resto de ilusão,
Partindo tão somente deste não;
Às vezes eu me sinto feito um traste.


461

A morte se tornando o meu anseio
Inspiração suprema e mais perfeita,
No quanto em amor pleno já descreio
A trama feita em sonho está desfeita.

Outrora intempestivo e sem receio,
Agora uma amargura se deleita
De toda uma alegria sigo alheio
A solidão me aguarda em fria espreita.

De tudo o que pensara ter no mundo,
Um sentimento amargo e tão profundo
Deixando a minha sorte abandonada.

O céu que me iludira, imaginando,
Em tétricos sonhares desabando
Mostrando o que retrato, sempre o nada.



462

A morte soberana toma a cena
E deixa todo mundo em polvorosa,
Rainha que se mostra presunçosa
A cada novo dia mais se acena.

E mesmo que distante me envenena
Espinho sobrepõe-se sobre a rosa
Usando esta coroa, caprichosa,
Aponta a sua cara, dura, amena.

Reinando sobre todos, solitária
A face em que se expõe, terrível, vária
Espelha tal terror que cedo espalha.

Tocando com seus olhos cada ser,
A morte no final irá vencer
Não perde e nunca foge da batalha...



463

A morte sorrateira vem e avisa
Do pote que quebrando perdeu mel.
A boca em que se deu outrora um céu
Agora desdentada segue lisa.

Bolor que nossa cama aromatiza
Traduz o vento manso, até cruel.
Cabelos empapados pelo gel
O gol do campeonato se reprisa.

Malemolências? Nada. É só preguiça
O carro da esperança quando enguiça
Nem mesmo reza brava. Pois; danou-se.

Há tempos que sei disso e nada falo,
Engulo tanto em seco que me entalo.
A vida já perdeu o que era doce...



464


A morte talvez seja a solução
Que tanto procurei durante a vida,
Veredas tão distantes, negação,
A estrada em descaminho, a mais comprida.

Das serras e montanhas ao sertão,
A sina com certeza a ser cumprida
Impede que se sonhe e na ilusão
O beco substitui uma avenida

Olhando os meus fantasmas eu percebo,
Inúteis os delírios de um menino,
O fardo mais pesado que eu recebo

Traduz cada retalho da esperança,
E enquanto a fantasia eu assassino,
Preparo pros meus filhos, minha herança...



465


A morte, companheira mais dileta,
Deitando em minha cama, pede abraço.
E cerra com meus dias, forte laço,
Se torna derradeira e predileta.

Não tenho nessa vida, uma outra meta
Que trague novamente um bom regaço.
Seguindo calmamente passo a passo,
No fim da dura estrada me completa.

Das coisas que da vida levarei,
Encantos e quimeras, dor e fado.
Perdendo depois tudo o que ganhei,

Morrendo simplesmente sem passado.
Meu nome restará em desabrigo.
Apenas nas lembranças de um amigo!


466


A morte, minha esquálida parceira,
No beijo que tortura pede lábios...
Fugindo deste vulto a vida inteira,
Perdendo meus caminhos, astrolábios...

Vencido postergando esta videira,
Não posso disfarçar amores sábios...
Procuro por vingança a companheira,
Jamais encontrarei nos alfarrábios

Nos livros de magia ou de presságios.
A morte não permite tais saídas...
Nos olhos, nos momentos, nos adágios,

Pedágios que pagamos, nossas vidas...
Não posso pressupor, isso alucina...
A morte qual a vida é luz divina!

467


A morte, solidária companheira,
Ressona, calmamente, no meu quarto...
Cansado, procurando seu retrato,
A vida se esvaindo em corredeira...

Quem me dera poder saber inteira,
Deitada, descansando, senso lato,
Comendo, desfrutando o mesmo prato...
A morte principal lema e bandeira.

As carícias que peço, sem demora,
O seu manso sorriso, triste embora,
O que resta de tantas tempestades...

Vencido pela atroz lassidão, morro...
Descalço, vou pedindo seu socorro.
Na morte, encontrarei felicidades!

468


A multidão caminha ainda cega
Distante de teu claro ensinamento,
Quem à riqueza em vida já se apega
Condena seu irmão ao sofrimento.

A vida não se dá pra quem se nega
É muito mais que um simples, bom momento.
O pensamento livre assim navega
E vence qualquer forma de tormento.

Vieste para nós e para tantos,
Na forma de Jesus ou de outros santos
E nisso, meu amigo, tantas vezes

Pastores confundindo suas reses
Querendo ter maior autoridade
Denigrem o sentido da amizade.



469

A Musa já sem blusa em belo seio
Na pele bronzeada bebe a praia,
O vento vem chegando e sem receio
Levanta, expondo as coxas, sua saia.

A vida me virando assim do avesso
Entranha em minha pele; incorpora a alma
Voltando novamente recomeço
Somente esta semente, amor, me acalma.

No corpo da delgada bailarina
Enteso esta vontade insaciável
Um passo delicado me domina
No amor que se deduz interminável

Amáveis fantasias, redenção
Amor em verdadeira infestação.



470

A musa que me inspira, com certeza
Conhece muito bem os meus defeitos,
Meus dias normalmente estão sujeitos
A terem no final, uma surpresa.

Por mais que tente amar, sem ter destreza
Enganos deixam sonhos contrafeitos,
Adoço a tua boca com confeitos
Depois sem ter cuidados viro a mesa.

Joguete das paixões, o coração
Coage enquanto sofre um desafio.
Nos motes que profiro não confio

E vendo tão somente uma ilusão.
Colhendo cada espinho invés da rosa,
A vida se escorrendo caprichosa...



471


A Musa que num sáfico romance
Se entrega destemida e mais audaz.
Percebe a maravilha de um nuance
Que traz felicidade e satisfaz.

Homérica vontade: ser feliz.
Em conchas repartidas, mar imenso.
A Musa desta Ninfa colhe o bis
Pensando noutro Phebo mais intenso.

As águas caudalosas vertem rios
Que invadem em cascatas, as montanhas,
Adoçam, aquecendo mares frios
Trazem fertilidade pr’as campanhas.

E assim destes fluidos derramados
Os mundos se tornando povoados...



472


A Musa tão safada quis o fado,
Eu sei ser enfadonha a poesia,
O vento que sem vento foi “lufado”
Fartura na fatura não se via.

O que pensei talvez ser de bom grado,
Já segue degradado sem a guia
Que aguando desde sempre não cumpria
Destino em desatinos enfronhado.

O pássaro canoro desafina
Se adoro ou descompenso, sou avesso.
No beco da ilusão, tolo tropeço

Na prancha eu me esqueci da parafina,
Só quero poder ter parafernália
Que fale das anáguas desta dália....



473

A Musa, traiçoeira, escolhe como e quando
Surgir em minha vida. O vento já trazia,
Ao mesmo tempo, vai. Nenhuma poesia!
E toda a fantasia, esvai-se como em bando.

Mas antes que esta Musa espalhe-se, voando;
Espero que consiga um pouco de alegria:
Fazer um verso manso a quem se prometia.
A vida se transcorre e o dia vai passando...

Pois bem querida amiga; o verso? Vou tentar!
Não sei se falo em sol, do mar ou do luar.
Mas te prometo um canto, a Musa anda invisível...

Luzia é gloriosa, guerreira sem igual,
No amor me trouxe rosa. Na vida, carnaval.
Desculpe-me, querida. Sem Musa, é impossível!


474

A música encantada da amizade
Ecoa no meu peito como prece,
Garante em meu viver, tranqüilidade
E sinto que este amor por ti já cresce.

Eu sei que não consegues discernir
Amor dum sentimento bem mais nobre,
Por isso venho aqui para pedir
Que saibas que o que sinto já me encobre

De uma alegria imensa e benfazeja
De ter essa emoção encantadora,
Meu corpo te procura e te deseja
Minha alma já te sabe redentora.

Tu és bem mais que simples companheira,
És minha amada amiga, a verdadeira!




475

A música me toma como o mar
Trazendo para os versos uma estrela.
Estrela que pensei tanto encontrar,
Na noite e no mar, estrela bela...

Meu peito que se inunda do teu canto,
Nas ondas dos meus sonhos, sem quimeras.
Vertendo tais miragens, meu encanto.
Recebe a solidão, vigor de feras...

Vibrando em mim palavras mais doídas,
Navio que se naufraga sem ter bóia.
Fugindo dessas dores, a saída,
Encontro no meu peito, clarabóia...

Imerso em convulsivas emoções,
Trazendo deste mar, as sensações!


476

A música que guia os passos meus,
Levando ao libertário pensamento,
Aproxima-me aos poucos deste Deus
Silenciando assim, dor e tormento.

Se os dias que passei, loucos, ateus
Trouxeram ilusões; o sofrimento,
Das luzes como herança; trevas, breus,
A redenção e a paz, agora eu tento...

E vejo tão somente uma saída
Que possa transmudar a minha vida
Revigorando assim a imensa luz.

Traduzo nos meus versos a verdade
Que trama esta alegria que me invade:
Presença soberana de Jesus...


477

A música repete sentimentos...
No crescendo voraz, aumenta o pranto,
Não pude nem pedir um outro canto,
A vida não deixou sequer momentos...

Não quero nem sorver os teus tormentos.
Paro, penso, reflito e me levanto.
As horas que se passam, novo encanto...
Devagar fui procurando elementos

Que permitissem sabres e bastões.
Que me salvassem dessas podridões,
Que não sorvessem luz nem dessem trevas...

A seiva sanguinária foi letal.
Não quero transformar num carnaval;
As dores que me deixas quando nevas...

478


A música tocando, traz saudade...
Partiste em um aborto tão insano...
Deixaste tanta coisa, frágil plano;
A vida se perdeu... Diversidade,

Contraste entre a mentira e a verdade...
A música tocando, tanto engano...
Os restos de poeira que eu espano
Do coração, darão a liberdade!

Maliciosamente me deixaste,
Sabias que jamais te esqueceria...
A alegria banal que tu roubaste,

Deixou esse embornal de sofrimento...
A música tocando, traz Maria,
As notas espalhadas pelo vento...


479

A natureza amada aguarda a traição...
O século consome a boca desta amada.
Num cataclismo louco espermas da ilusão
A vida adormecida esvai-se, magoada...

A morte da natura eterna e sem perdão,
Renova-se na podre ação desenfreada
Daquele que, por Deus, seria o guardião!
Na flora que se acaba, a vida destroçada.

Já vai, agonizante, empresta a tal cenário
A face da desgraça. Embalde tanta luta
No canto passarinho, a morte do canário...

Um cheiro de queimado abraça a pobre Terra.
Quem pode conquistar não usa a força bruta...
Amor que se conquista, esconde-se da guerra!



480


A natureza chora de tristeza
Ao ver que não estás aqui comigo.
O rio se perdendo em correnteza,
Não deixa mais restar um só abrigo.

Amor deixou saudade em sobremesa,
A solidão vagando em desabrigo,
Encontrando a minha alma sem defesa
Maltrata como fosse assim, castigo.

Recolhendo os meus cacos pelas ruas,
Na perda destes sonhos maltratando,
Aos poucos de saudades me matando,

Cegando minha noite sem ter luas.
Eu sou o que restou de um belo sonho,
Morrendo pouco a pouco, tão tristonho...
A natureza chora de tristeza
Ao ver que não estás aqui comigo.
O rio se perdendo em correnteza,
Não deixa mais restar um só abrigo.

Amor deixou saudade em sobremesa,
A solidão vagando em desabrigo,
Encontrando a minha alma sem defesa
Maltrata como fosse assim, castigo.

Recolhendo os meus cacos pelas ruas,
Na perda destes sonhos maltratando,
Aos poucos de saudades me matando,

Cegando minha noite sem ter luas.
Eu sou o que restou de um belo sonho,
Morrendo pouco a pouco, tão tristonho...


481


A natureza envolve-se em teus braços.
Adormece silente, tal beleza...
Dormindo calmamente teus abraços,
Esquece-se profana da tristeza!

Natureza adormecida, nos seus traços,
A vida se refaz bela certeza!
Os olhos que choravam, tristes baços,
Abertos, enamoram...Natureza...

Vindo o cheiro da terra que se molha,
Percebendo a meiguice, ser amada.
Acordando, tão mansa, pra tudo olha.

Procura teu sorriso, não vê nada!
A chuva caindo lágrimas, implora!
A natureza, entristece-se, chora!


482

A natureza gera em cada germe
A vida feita em vida eternamente.
Nos corpos devorados pelo verme
O mundo se refaz completamente.

Ao ter como certeza o não deter-me
Minha alma vai liberta, plenamente
Quem dera se eu pudesse conhecer-me
No mapa que se faz de minha mente

Veria tua imagem que me espelha
Mosaicos de nós mesmos, perfeição
Amor que nos guiando se revela

Ao acender a brasa em tal centelha
Certezas deste sonho em emoção
Emoldurando a vida em rica tela.

483


A natureza inteira em esplendores
Abrindo os elementos no horizonte.
Repare na fineza destas flores
As águas percorrendo a calma fonte.

A lua nas montanhas, suas cores,
Aurora: madrugada-dia, ponte...
A tempestade louca dos amores,
A Serra do Curral, Belo Horizonte...

Estrelas passeando constelares...
Abismos, profundezas, vasto mar...
A natureza mãe, tantos lugares...

O brilho que encontrei na luz solar,
Merecem orações nesses altares.
E mais maravilhoso, teu olhar...



484


A natureza mestra dentre mestras
Mostrando a cada dia o quanto amor
Ensina-nos sem aulas ou palestras,
O quanto tem por certo, de valor.

Na flor que se fecunda em doce entrega
Ao colibri faminto e carinhoso,
No beijo de uma abelha que carrega
O pólen necessário e valioso.

Pedra fundamental para a existência;
Sem ele, nada somos, com certeza.
A vida sem amor é penitência,
É rio que se vai sem correnteza

E morre sem ter águas, perde a foz,
A vida sem amor? Um nada após!



485

A natureza muda em suas mãos,
Transforma-se em diversa maravilha.
Enquanto a humanidade segue a trilha,
Às vezes os caminhos são tão vãos...

Usando como exemplo os vários grãos
Fartura que com máquinas se empilha,
Porém como se fosse uma armadilha,
A fome toma conta dos irmãos...

Para se construir tudo derruba,
O rei dos animais não tendo juba
Destrói tanta floresta, inutilmente.

Se Deus nos fez imagem, semelhança,
O homem destroçando uma esperança
Demonstra o que é se ter inútil mente...


486

A natureza traz fantásticas lições.
Por isso nunca perca o brilho de esperança.
Por mais que esteja escuro,a manhã logo alcança
A calmaria vem depois de furacões.

A boca que te beija espalha as ilusões.
Na mais incrível guerra uma antiga aliança.
O homem mais sisudo, um dia foi criança.
Amor mal se distrai, espera por perdões.

Nos mares, a pobre ostra, em dor descomunal;
Ferida pela areia, em louco ritual;
Gerando tal beleza, o dom maior da vida.

Transmuda o grão de areia em pérola sublime.
Do escuro desta vida, a luz que me ilumine.
Assim é nosso amor, pérola, Margarida!


487


A natureza traz fantásticas lições.
Por isso nunca perca o brilho de esperança.
Por mais que esteja escuro,a manhã logo alcança
A calmaria vem depois de furacões.

A boca que te beija espalha as ilusões.
Na mais incrível guerra uma antiga aliança.
O homem mais sisudo, um dia foi criança.
Amor mal se distrai, espera por perdões.

Nos mares, a pobre ostra, em dor descomunal;
Ferida pela areia, em louco ritual;
Gerando tal beleza, o dom maior da vida.

Transmuda o grão de areia em pérola sublime.
Do escuro desta vida, a luz que me ilumine.
Assim é nossa sanha, em pérola vertida...


488

A neblina caindo como em flocos,
Cortina em meu olhar que quer saber,
Em meio a tantas cores busca em focos,
Depois de tanto tempo perceber

Os brilhos deste olhar tão festejado,
De quem eu esperei a vida inteira.
Não nego, se eu estou apaixonado,
Amar e ser feliz, minha bandeira...

Mas sinto que não queres meu amor,
Pressinto que este canto foi em vão.
Peço-te, então, somente este favor,
Já basta p’ra valer esta emoção.

Se amar nunca depende da vontade,
Desejo tão somente uma amizade...


489

A nebulosa noite aproxima-se trágica
No pálido semblante, amada desespera...
Do éter tresloucado a vida sem espera
Deseja tolamente a salvadora mágica...

A morte se redime, audaciosa e fágica,
Num céu avermelhado expõe-se numa esfera.
E num segundo, troa, espírito de fera!
A morte companheira, astral e necrofágica!

As águas na convulsa esperança da luz,
Vão tresloucadamente, as angústias expostas...
A noite cai, pesando, expressa a minha cruz...

Na noite deste amor, que tanto consumiu;
Os raios desta noite invadem minhas costas...
Negridão do oceano... Amor morreu, partiu...


490

A nobre porcelana em noite rara,
Irradiando a luz sobre este mar,
Pegadas que este sonho me mostrara,
Qual divindade surge em preamar.

A vida sem martírio se pintara
No verso que te fiz, sempre a adorar.
Ao ver tua beleza, fonte e lume,
Desvio meus fantasmas, morro em ti.

Amar além da vida o teu perfume,
É mais do que sonhara, estou aqui.
No doce que me deste de costume,
O mel que me inebria, eu consegui.

Naufrágios, bóias, mares, lua plena,
Na areia em que te encontro, a vida acena...



491

À noite a solidão, trama a tristeza
Que faz de nossa vida merencória.
Porém amor espalha tal beleza
Que tudo se reverta em plena glória.
Levados pela forte correnteza,
Deixemos que o amor mude esta história.

Fazendo deste canto qual um hino
Rendendo uma homenagem ao amor.
Futuro mais brilhante descortino,
No peito que se faz tão sonhador.
Bebendo deste amor, eu me alucino,
Diante deste verso embriagador.

A noite solidária vem e tece,
Um sonho que jamais alguém esquece...


492


A noite apascentando meus olhares
Meu cais já se aproxima da verdade
Procura a liberdade de um Palmares
Nos becos e botecos da cidade...

Buscando respirar em outros ares
Distantes de um amor em falsidade.
Amiga vem tecendo em seus teares
O pano todo branco da amizade.


A noite se transcorre então, silente,
Na mansidão de calmos, leves ventos.
Seu braço que antepara a minha vida

Nos ombros, com carinhos, envolvente
Meus dias de tenazes sofrimentos
Encontram na amizade uma saída...



493

À noite dançaremos mil prazeres
Em ritmos tão suaves e selvagens
Serei, querida, tudo o que quiseres
Promessas de loucuras e viagens

Por mundos sem limites, sem decência
Tomados por vulcões enlanguescentes
Amar assim demais, com tanta urgência
Cravando com vontade nossos dentes

Nesta maçã que é deusa do pecado,
Abençoadamente sensual
Deixando cada corpo bem marcado
Por toques de loucura, sem igual...

Tatuo em tua pele com fulgor
As marcas mais sagradas deste amor...



494

A noite desfilando suas luzes,
Em meio a ventanias inconstantes.
O frio transtornando e por instantes
Ao sofrimento intenso me conduzes.

Num único momento velhas cruzes
Pesando em minhas costas, são gigantes
Estrelas disfarçando-se, mutantes
Algozes que terrível, reproduzes.

De tudo o que sonhamos, resta o gelo,
E nele o descaminho; posso vê-lo
Granizos dentro da alma, o que restou.

Do amor que imaginei, apenas neve,
A solidão voraz ora se atreve
E mata, pouco a pouco, o que inda sou...



495


A noite deslumbrante nunca vinha
Deixando os meus retalhos no caminho.
Não quero que minha alma vá sozinha.
Que faço se perdi meu velho ninho.

Nas mãos de um sertanejo, lua e pinho,
Enquanto uma emoção já se avizinha
Depois da lida feita enxada, ancinho,
Distância se entalando como espinha.

Televisão a cabo acaba tendo
Macabra dimensão para quem sonha.
Realidade chega tão medonha

Aos poucos meu amor se corroendo
Só deixa uma saudade do que fomos,
Das frutas do desejo? Nem os gomos...


496

A noite desvendando as fantasias
Que trouxe quando estavas bem aqui.
Se fazes do teu canto as melodias
Que queres quando feres tanto assim?

Por certo tuas garras afiadas,
Rasgando minha pele, fundas chagas;
Pretendes destruir as tão amadas
Carícias que decerto, enfim, apagas.

Não venhas me culpar por tuas dores,
Tu sabes muito bem quanto te quero.
Mas deixo para sempre tais amores,
Depois de tanta luta. Sou sincero...

E quero que tu sejas mais feliz...
Destino que criaste mas não quis.



497

A noite devagar, chegando mansa
Trazendo uma amargura, dentro em mim.
A dor desta saudade já me alcança
Penumbra vai caindo. É sempre assim.

A festa que se foi, sem sequer dança
Tramando uma tristeza que sem fim
Aos poucos no vazio já me lança.
Quem dera se restasse algum festim

E a vida não seria tão amarga,
Meu canto poderia ser mais belo.
À lua, feiticeira, eu não revelo

Os sonhos que perdi, há tantos dias.
A voz quase silente, inda se embarga,
Lembrando das passadas alegrias...


498

A noite do teu lado mansa e farta
De toda esta loucura que fizemos,
Teu corpo de meu corpo não se aparta
É tudo o que mais quero, e que queremos.

A dor contigo, amada, se descarta,
Futuro deslumbrante o que prevemos,
Certeza de que amar, antes que parta
Da vida o bem maior que nós já temos.

Deitar tua nudez maravilhosa
Neste dossel que é feito em pura estrela.
A noite alucinada em que se goza

Uma alegria imensa se revela
Marcando cada dia em verso e prosa,
Uma delícia insana: poder tê-la...


499

A noite dos amores, densa e bruta,
Não permite perfumes nem de rosas
Amar, renunciar à tensa luta,
Não posso receber as mãos nervosas

Nem templos esculpidos nesta gruta:
Coração, responsável por sedosas
Ilusões... Quem me dera a nova escuta
Trouxesse nos meus sonhos, lendas, prosas...

Amor que não perdoa e me constrange,
Não deixa essa pobre alma libertária.
os carinhos transformam-se em falange.

Nos pícaros febris, mais alto encerra...
Noite que não permite luminária,
Estrela apaixonada pela Terra...


500

A noite é linda; amor, nos sonhos meus
Eu vejo em teu olhar, a clara lua,
Não quero nunca mais ouvir adeus
Tua alma em minha vida continua...

Não deixe pra depois, te quero agora,
Quem sabe faz seu tempo de viver.
Não deixe que a alegria vá embora
Eu vejo, neste amor, o sol nascer...

A lua enamorada não nos deixa,
Apenas acalanta o nosso amor.
Que eu saiba nosso caso não se queixa
De tanto que se faz encantador...

A noite é tão bonita, minha amada,
A vida é sempre nossa camarada...

501


A noite é nossa e nada impedirá
Que seja sempre assim a vida inteira,
Eu quero o teu desejo, venha cá
No amor que é trilegal, nossa bandeira.

Deixando estas invejas pra lá. Bah!
A gente sabe a força verdadeira
Que todos os problemas vencerá
Sem bala nem fuzil, sequer peixeira.

Os gomos; vou comer da bergamota
Até matar a sede, além da cota,
Delícias em delírios, todo dia.

Vem logo que uma noite não é nada
A rosa deve ser despetalada,
O templo do prazer? Em ti, guria...


502

A noite em esperança tênue e pálida
Transporta um sentimento amargo e vário,
Embora uma emoção às vezes cálida
Demonstra quanto o amor é necessário

A mão que tantas vezes foi inválida
Regendo o coração, velho templário
Permite uma ilusão feito crisálida
Cristalizando um sonho solitário.

Vagando qual noctâmbulo nos bares
Esquinas, ruas becos, sem destino.
Bebendo os raios claros dos luares

Melancolia chega e toma forma,
Olhando o rosto amargo eu já me inclino
E esta esperança, agora se deforma...


503


A noite em mil estrelas decorada
Formando uma tiara em belo céu,
Cobrindo tua pele bronzeada
Adoça com vontades pão de mel,

A boca tão gulosa apaixonada
Sorvendo em fantasia rasga o véu
E deixa na beleza desnudada
Desejo de galopes. Sou corcel.

Vencendo a timidez bebo o perfume
Que nesta insensatez exala a rosa.
Entregue a tal prazer, voluptuosa

Mulher que me conquista em cada dia,
Acende em meu caminho um raro lume
Entorna de passagem, poesia...


504


A noite em plena festa, uma criança
Brincando de ciranda com a lua,
Meu verso, no infinito já se lança
Trazendo tanto brilho para a rua.

Infância que carrego na lembrança
Enquanto a brincadeira continua,
No peito, uma zoeira, uma festança
Minha alma delicada assim flutua.

Convite pra folia, com prazer,
É tempo- fui feliz- de reviver
O gosto açucarado da alegria.

Venha logo que a gente quer sonhar,
Girando o carrossel irei chegar
Ao encantado reino: fantasia!


505

A noite em plenilúnio, mansa e pálida,
Deleita-se contigo, deusa nua.
Lúbrica fantasia de crisálida
Que em sonhos se entregando, já flutua.
Deitando num remanso, doce e cálida,
Temerosa pressente e enfim recua.

Amar é se entregar, louco sacrário,
Fazendo de outro corpo o seu altar.
No beijo que procura, senso vário,
Derrama-se em deleites ao luar.
Na cama ensangüentada, seu sudário,
A fome e saciedade a se buscar.

Refém deste desejo que a domina,
Mulher incandescendo uma menina...

506

A noite em que comigo saciar-te
De beijos e carinhos, insensatos...
Vontade de cobrir-te e de tocar-te
Nossos lençóis à beira dos regatos,
Cenários multicores, e com arte
Servirmos nosso amor em finos atos.

Neste aconchego doce de teus seios,
No infinito imenso de nós dois,
Descer os rios, braças, leitos, veios,
Sem perguntar sequer se talvez, pois,
Falando pelos beijos, outros meios,
E descansarmos juntos bem depois...

Eu te amo, minha cara companheira,
Te quero do meu lado a vida inteira...


507

A noite em que comigo tanto faz
Potente maravilha em sol e canto
E neste delirar o que garanto
Deveras dita um passo mais audaz,
E nisto cada ponto satisfaz
O todo mais além e assim me espanto
Do mundo se mostrara em novo encanto
E o caos já se deixara para trás.
Esbanjo fantasia aonde eu pude
Não devo relutar, porquanto a luta
Esvai a cada instante em glória plena
E a vida de tal forma agora acena
Que o coração decerto não reluta


508

A noite em serenata e violão,
Preparo para amada meus segredos,
E tento demonstrar numa canção
Embora o desajeito dos meus dedos...

O som que sempre tento transportar
Na letra, estonteante, meu desejo.
Deixando minha mente me levar
Mandando a melodia como um beijo...

Eu quero te encontrar ó minha amada
Vivendo essa repleta tentação,
Sentindo em tal vigor noite inflamada,
Inteira madrugada de emoção.

Eu quero teu amor, lua de prata,
Nos olhos de quem amo, em serenata!


509


À noite em terrível algazarra
Dois cães que se procuram e se lambam.
Amor unindo forte numa agarra,
Em grunhidos prazeres se descambam.

A lua é testemunha desta cena
Apenas o luar inda passeia
Na noite que em desejos já se acena,
Deitados sob a lua, bela e cheia;

Dois párias que se irmanam num só gozo,
Causando inveja à turba de infelizes
Que pensam ter poder, mas caprichoso
O amor não sabe cores nem matizes.

É bicho desgrenhado e sem pudores,
Dá-se a quem se esquece dos temores...



510


A noite emoldurada na janela
Tecendo com estrelas um tapete.
Nas franjas maviosas desta tela
O olhar de minha amada se reflete.

Com estrelas, cometas, branca lua,
Num sonho tão incrível, mergulhei.
Espalham claridade pela rua
No quadro mais bonito que sonhei.

Em fogos de artifício amor doideja
Invade cada canto desta casa.
Amor que tão dileto se deseja;
Acende neste quadro intensa brasa.

Sem medo da tristeza que me ronda,
Sou nauta que, em teu corpo, lança sonda...


511

A noite enamorada perde vinco...
O mundo se restou no velho eclipse,
A morte transportada num elipse
Quem fora despertada fisga finco...

Agindo na defesa contra-ataca,
Não merece desprezo nem merenda.
Dos valores convertes em pataca
A perda não contrai a reprimenda...

A noite enamorada nada agüenta
Falaz me desprezando faz a fala.
Ardida se delira qual pimenta,

A noite enamorada foi mentira.
A queda transbordando nova escala.
Na colcha de retalhos cada tira...


512


A noite engole as horas, guerra e paz.
Adormecendo em berços de crianças
Devolve em nossos sonhos, esperanças
Tornando-me decerto mais falaz.

A sorte em pirilampo já se faz,
Amanhecendo importo outras lembranças
De festas, fogos, risos, gozos, danças
Aonde com certeza, fui audaz...

Beijando tantas bocas, loucas fúrias
Bacantes e delícias, mil luxúrias
Sem medo do sofrer e até da morte.

Distante dos meus medos e fracassos
No gosto de teu gozo, teus abraços
Que a noite sempre venha e me transporte...



513

À noite entre as estrelas e os cometas
Os grilos estrilando no jardim,
Eu peço encarecido que prometas
Amor que tanto quero. Pois sem fim.

Em cores variadas, nossas flores
Regadas com carinho e com afeto,
Crisântemos e lírios, monsenhores,
Porém amor perfeito, o predileto

Não nasce tão somente no canteiro,
Está decerto aqui, junto comigo.
É feito em sentimento verdadeiro

Cuidado com esmero todo dia,
Da flor iluminada um manso abrigo
Na perfeição que é feita de alegria...


514

À noite entre gemidos e torturas
Delitos cometidos dor e gozo.
Vadia qual cadela tu procuras
Caminho ensandecido e mavioso.

Suplicas por carinho em tuas juras,
Rastejas entre açoites. Belicoso
Delírio em que mostram tais loucuras,
O fogo derramado, prazeroso.

Tu lambes os meus pés, escrava e serva,
Bebendo do meu leite em sal profano.
Meus dedos te penetram sem reserva

E sangras gotejando o teu rocio,
Deitada sob os pés do soberano
Que insano te maltrato e acaricio...


515

À noite entre guitarras, melodias,
Dançamos nossos corpos, busca intensa.
A lua sobre a areia, plena, imensa,
Permite que voamos fantasias...

Nós dois, entranhados de magias
Nesta deliciosa recompensa
Da noite que se vai e em nada pensa,
Deixando bem distantes, agonias...

As marcas desenhadas nesta areia,
Por certo as ondas levam, as marés...
Depois nada encontrando, quem rastreia

Não verá mais vestígios. Nada mais...
Mas a marca das pegadas , nossos pés
Testemunhas do amor que sei demais...


516

A Noite entre magias e delícias
Deitado sobre os sonhos, minha vida.
Se não vierem horas, em carícias,
Eu Quero te sentir, em mim, perdida...

Eu Quero uma surpresa a cada canto,
Um pensamento assim, mais libertário.
Entre tantos os quais sempre me encanto,
O sonho de viver neste cenário...

As Íntimas lembranças, cruzam sonhos,
Os Sonhos que não mais poderei ter.
Relembro mais detalhes, são medonhos,
Mas sangram nosso amor, nosso viver.

Na viuvez em vida que restou,
Certeza desta lua, que brilhou...



517

À noite entre poltronas, almofadas,
Convites ao prazer em cada gesto.
Delírio que ao desejo sempre empresto,
Mulheres são somente deusas, fadas...

No velho palacete, demonstradas
Belezas que em vontades eu atesto,
Deixando para trás um ar funesto
Das noites solitárias, nas calçadas..

Ao fundo desta cena eu já te vejo,
Olhando nos teus olhos, sem ter pejo,
Mergulho no horizonte deste sonho.

Um único momento bastaria
E então ao me render à fantasia
Um quadro fascinante, enfim, componho...


518

À noite esta pantera tão gulosa,
Não cansa de querer já se fartar,
Delícia que se faz voluptuosa,
Chegando sorrateira. Devagar.

O vestidinho curto, cor de rosa,
O vento faz questão de levantar.
Desfruto do prazer enquanto goza
A deusa tão safada a se mostrar.

De todas as maneiras que se prove,
A moça quer a festa assim completa,
Começamos com esse meia nova

Conosco, meu amor não há quem pode,
Comida saborosa e predileta,
Quer barba, quer cabelo e quer bigode..


519


A noite está propícia para a festa
Que toma meus sentidos e permite
Loucura que não sabe mais limite
E tudo o que se quer é irmos nesta

Enquanto a poesia tudo gesta,
No bem que a gente sonha se acredite,
Desnuda do meu lado, uma Afrodite,
O coração em chamas desembesta...

Atento aos teus desejos; obedeço,
E não pergunto nada, vou inteiro.
O paladar, o tato, a voz e o cheiro,

Mirando tal beleza (não mereço)
Estrelas derramadas sobre o chão,
Forrando com teu brilho, o barracão..



520


A noite está tão fria sem te ter...
A chuva vai caindo lentamente,
Quem sabe meu amor pudesse ver
A dor que me transtorna, totalmente...

Se a chuva perceber o bem querer
Trazia a minha amada novamente.
As águas alagando vêm dizer
Que nada me fará bem mais contente...

Meu sofrimento aumenta com a chuva
Que não respeita nada nem ninguém,
A porta escancarada... A visão turva...

Saudades deste bem, que foi enfim,
Razão da minha vida. E sem ninguém,
A chuva não termina. Chove em mim...


521

A noite está tão fria... A chuva cai...
Saudade toma conta e não me deixa.
A vida num segundo já se esvai,
Não resta nem sequer a simples queixa.

Não consigo entender por que partiste
Deixando este vazio dentro em mim...
Meu coração tão frio, está mais triste,
Por que terá, Meu Deus, de ser assim?

A chuva continua bem mais forte,
Trazendo tal angústia, que é infinda.
O frio me tomando lembra a morte.
E a dúvida terrível não deslinda.

Daria tudo, amor, para saber,
Onde e com quem desfrutas teu prazer...

HOMENAGEM A TITO MADI


522


A noite iluminada te trazia
Aos braços que esperavam, tão ardentes.
A vida num momento reluzia
Meus olhos explodiam, mais contentes.

A graça de te ter junto comigo,
O verso que cantava meu amor.
Durante todo o tempo que persigo,
Encontro em meu caminho, bela flor...

Eu quero me entregar tão cedo e tanto,
Sentir dos teus carinhos, os favores,
Tramar nas madrugadas, os cantos
E mergulhar nas águas dos amores.

Que louvam esperanças, e ventura,
Amor que me clareia em noite escura!


523

A noite inteira; estou ao teu dispor,
Inesquecíveis sonhos realizados,
Vagando por divinos, belos prados,
Enlouquecidos, plenos. Tanto amor...

Eu tenho tanta coisa a te propor,
Iremos em conjunto, pareados,
Na busca por carinhos, nossos fados,
Até que em bel prazer, venha o torpor.

Lençóis, puro cetim, colcha em retalhos,
Nada nos importa senão saber
De toda uma alegria a desfrutar

E conhecer, decerto os teus atalhos,
Rumando sempre célere ao prazer
Que apenas no teu corpo, irei achar...


524

A noite já se avança, o frio vem
E traz esta vontade de te ver.
Distante dos teus olhos, sem ninguém,
Espero o teu carinho em meu querer.

Nossos desejos morrem sem prazer
Saudade vem tomando todo o bem
Preciso mais depressa te rever
Como é difícil a noite sem alguém.

Eu quero, estes desejos, partilhar
Contigo, minha amada, meu abrigo...
É duro tanto tempo a te esperar,

Por isso, volte logo para mim...
Pois todo o bem da vida está contigo,
Espero que a saudade chegue ao fim...


525

A noite me tomara por refém
Em bares, cabarés, sangue, solidão...
Vivendo sem ter nada, sem ninguém,
Amigo de uma negra escuridão...

Cansado desta vida sem um bem,
Ouvindo sempre o mesmo e triste não,
Somente este vazio, nada vem
As portas se fechando... O mundo em vão...

Vieste em calmaria, quieta e mansa,
Imagem redentora deste amor.
Trazendo num sorriso esta esperança

De vida que renova em cada instante.
Teu braço companheiro e salvador,
Descortina um futuro radiante...


526

À noite meu amor, darei plantão
Mas antes que isso ocorra, por favor
Escute um derradeiro cantochão
Falando como sempre de um amor

Que morre sem defesas no porão.
Porém se porem luzes, farta cor
Coragem pra corar o coração
Decoração diversa vou supor

Que possa tirar poças desta estrada
Estratos no meu céu não viram nimbos
Nem quero freqüentar os frágeis limbos

Cachimbos dizem paz tão esperada.
Arada esta paisagem se revela
Na sela que traduz visagem bela...


527

À noite na penumbra de meu quarto,
Percebo estrelas claras, florescentes,
De tal beleza eu nunca mais me aparto,
Entregue às fantasias envolventes.

Desta visão decerto eu não me farto,
Momentos deste amor que sinto e sentes,
Nos quais um navegante em sonhos, parto.

Os astros/pirilampos num cortejo,
Refletem todo amor que assim desejo,
Fazendo desta noite um nobre altar

Aonde em oração, ternura e prece,
Um mundo mavioso já se tece,
Nos braços tão sublimes deste amar...


528

A noite na penumbra vem chegando
Trazendo meus fantasmas, ilusões...
Pergunto pras estrelas até quando
Somente irei viver recordações...

O negro desta noite me tomando
Refaz voracidade das paixões;
Os medos se aproximam vêm em bandos
Marcando os meus olhares, emoções..

De toda a sensação que trago aqui,
Apenas meu cigarro foi constante.
Sentindo amargamente que perdi;

A noite é companheira mais dileta.
E bebo esta penumbra neste instante
Minha alma em teu fantasma se completa..


529

A noite não demora a me chamar
E tenho que partir, que fazer?
Ficar sem teu carinho e teu querer?
Difícil, meu amor, me controlar.

Eu sei que logo chega este luar
Eu tenho que sair. Sem teu prazer
A vida num momento a se perder
Distante de teus braços. Viajar...

Porém uma esperança traz o sol,
Refaz nossos desejos na manhã;
Por certo voltarei quando amanhã

Chegar de novo aqui a claridade.
Amor que é feito assim, um girassol
Que busca no arrebol, a liberdade..


530

A noite nos cobrindo
Com toda a sensação
Do mar que foi se abrindo
Da rosa que em botão

De mansinho florindo,
Jardim do coração,
Amor se fez tão lindo,
Em louca sedução..

Na dança em que brincamos,
Prazeres multiplico,
Assim nos entregamos,

Em sentimento rico,
Aonde nos amamos,
Querida, ali eu fico...


531

A noite nos convida a namorar,
O frio tão gostoso já nos chama,
Na chama que queremos no queimar,
Amar... Enveredar por louca trama.

Quem ama não pergunta, e já mergulha
Nas sombras vaporosas, mais ardentes.
Acende novamente esta fagulha,
Rumores delicados e vibrantes.

Os beijos que tocamos; doces, quentes,
Os seios em meu peito, descansando.
Turbilhões cada vez mais envolventes,
No frio desta noite, nos cortamos...

Encharcam-se de rosas meu jardim,
Perfumes dominando tudo, enfim...


532


A noite nos convida, praia e mar...
Deitarmos nesta areia, sob a lua.
As ondas nos molhando, devagar...
Perder-me em tua pele, clara... nua...
Em teus ouvidos logo murmurar
Que a noite mensageira, continua...

A lua, o mar, teu corpo... esta nudez...
Meus beijos, nossos beijos sensuais...
Lembrar de tanto amor que a gente fez
Vontade de fazer de novo, e mais...
Nos toma uma sincera insensatez...
Ah! Não irei deixar-te, amor, jamais...

Teus olhos, minhas mãos... tudo a contento.
Nas ondas te lambendo... o gozo... o vento....


533


A noite nos tomando, verão pleno,
Na cama em que dormimos, sempre alertas.
Depois de termos tido amor ameno,
Sonhamos bem debaixo das cobertas...

Talvez eu não perceba um novo aceno
Que mostre tuas pernas mais abertas.
Prazer que se transborda no veneno
No fogo em que te escondes não despertas....

Mas sinto que preciso de teus seios
E quero o recomeço mais audaz.
Perdido nestes velhos devaneios

Te busco por instantes, mas não vejo.
O frio que esta noite sempre traz
Adormecido, inerte, sem desejo...



534

A noite nos trará tal recompensa
Depois de um dia imenso em solidão,
Tu sabes quanto amar sempre compensa
Ainda mais se é feito com paixão.

Na nossa cama, em chama tão intensa
Fogueira das vontades, do tesão,
Deixando para trás a vida tensa
Nas tesas sensações, pura emoção...

No vale em que aprofundo expedições
Na busca de um tesouro, diamantes.
Dois corpos que se encontram, dois amantes

Promessa de loucura e tentações.
Fazendo desta cama a catedral
Na prece redentora e sensual...


535

À noite num hotel a solidão
Batendo como um vento na janela.
Repenso a minha vida e chego à ela,
Mulher que foi problema e solução.

Os carros, avenidas, multidão
Encanto multicor, estranha tela
Que toda esta balbúrdia me revela
Cidade que se embebe em turbilhão.

Luz artificial cegando a lua
Enquanto em mim a luta continua
Os falsos brilhos trazem teu olhar

Olhando da janela deste hotel
Eu vejo os rastros teus ganhando o céu,
Néon a confundir, a transtornar...


536

A noite preparou a sua rede,
Espera que me caces sem perdão.
Vingança consumindo tua sede,
Minhas tormentas nunca são em vão...

Jogaste meu cadáver na parede,
Brincando vou fazer revolução.
Nos muros que caíste já me enrede,
Nas horas mortas sigo a solidão...

Não posso examinar tuas mordaças,
As bocas já me mordem, são carcaças.
Teus torpes sentimentos geram asco...

Não me permita sequer ser o carrasco,
Bem cedo te arremeto pois madrugo.
Pois sei que tu serás o meu verdugo!



537

A noite quando chega constelar
Dançando lamparinas pelo céu.
De toda a via láctea, raro véu
Eu vejo um raio imenso a deslumbrar

Deitando meus olhares sobre o mar
Eu sinto imensidão, vagando ao léu,
Tua presença invade em fogaréu
Raiando a minha vida devagar.

Enquanto o pensamento não descansa
O vento vai trazendo esta esperança
De um dia ser além de um simples sonho.

Barcaças invadindo a madrugada
Nas mãos de meus desejos, ancorada
Falando deste amor que eu te proponho...



538

À noite quando vem a solidão
Em vão eu te procuro, e nada tendo
Meus olhos, o vazio percorrendo
Da morte sinto a fria sensação.

Ouvindo alguém batendo no portão,
O coração palpita e vou correndo,
Porém, leda ilusão, e sem adendo
Retorno à dolorosa sensação

De ter somente o sonho como abrigo.
Eu tento te esquecer, mas não consigo,
Tua lembrança vem depressa à tona

Gélida madrugada e eu sozinho,
Sem ter sequer um resto de carinho,
Até a solidão, já me abandona...


539


A noite que caindo em mão ardente
Promete redenção a quem se faz,
Em flóreas tentações e docemente
Persiste em procurar o que lhe apraz.

Os corpos se entregando, sensuais,
Nas ruas, nas favelas, nos motéis,
Nas belas prostitutas, portos, cais,
Ou nas embocaduras dos bordéis.

As castas se misturam, se equalizam,
Profana sensação de uma igualdade,
As bocas desejosas se deslizam,
Recebem sem limites saciedades

Amores e punhais, rosas e sangue,
Perfumes se misturam, Dior no Mangue...



540

A noite que em raríssimo luar,
Argêntea vestimenta cobre a flor.
A brisa como um leve soluçar,
Chamando por teu nome, diz amor.

Vontade de talvez poder tocar
O corpo assim desnudo, encantador,
No âmago do infinito navegar,
Sublime fantasia a se compor....

Perfume que minha alma respirava,
O amor seguindo livre, rompe a trava
E vai pelos espaços, sem fronteiras...

Palavras de ternura em poesia,
Na remissão dos erros já se cria
Constelações em luzes derradeiras...


541

A noite que maltrata,sempre a mesma,
As frases mentirosas, um refrão,
As mãos que percorri uma abantesma
Guardas tantos rancores, coração...

Nos espectros noturnos, melancolia...
Me mostras meus remorsos, um miasma,
A cama que dormimos, fantasia...
No medo que me trazes, um fantasma...

A noite que maltrata, traz saudade...
As frases que repetes estribilho...
As mãos que percorri, a liberdade,

Não posso retornar desta viagem...
Carregas dentro em mim, o nosso filho,
A noite necessita de coragem..



542

A noite que me trouxe teu olhar,
Já partiu sem sequer dizer adeus,
Saudade fez adeus dos olhos meus,
Não quero enfim morrer de tanto amar

Cansado de esperanças esperar
Jogado sob as trevas, negros breus
Quem não acreditava, olhos ateus;
Pudesse um dia; cego, procurar,

Pelas vielas; luzes mais audazes,
Quem sempre deparou-se com mordazes
Pesadelos, buscando pela paz;

E agora, quando achava-me capaz,
De saber finalmente amor sereno,
A vida me inocula o seu veneno...


543

A noite que mendigo é tão aflita,
Perdido nesta mata, neste bosque...
No peito silencioso a alma se agita,
Nas noites tanta perna que se enrosque

Rondando os botequins, a noite imensa,
Espreito uma morena que não vem,
Sem ter sequer sorriso que convença
Procuro insanamente por alguém

Que nunca mais virá, tenho certeza,
A lua se escondendo na neblina,
O amor que a gente quer já nos despreza,
Deixando nestas sombras, a menina,

Que um dia soberana foi rainha,
E tolo até pensei que fosse minha...


544


A noite que nos traga um manso lago,
Depois das corredeiras deste dia.
Que ao vento se entregando em doce afago
O mundo nos conquiste com magia.

Tu sabes deste sonho que hoje trago,
Além de todo amor que se queria,
Somente o grande amor, eterno mago,
Trará toda esperança que eu dizia.

Não deixe-me faltar tua presença
Que é sempre redentora e tanto acalma.
Que a noite sempre venha e nos convença

Da eternidade santa deste amor.
Trazendo para nós; perfeita calma,
Nos braços deste sonho redentor...


545

A noite que passamos mais felizes,
Roubando da alegria este sorriso,
Tão delicadamente, sem deslizes,
Depois de visitarmos paraíso...

Do céu onde estivemos; os matizes,
Num toque sensual e tão preciso
Pedimos com olhares mil reprises
Sem medo de perdermos o juízo...

Durante tanto tempo, mil perguntas
Em vão, não precisamos responder
As nossas tatuagens feitas juntas

Reflexos de nós mesmos entranhados
Nesta tortura mansa do prazer
Por toda essa emoção, teleguiados...

546

A noite que passamos sem marasmo,
As bênçãos desejadas que não vêm,
Olhando mais de perto, vejo bem
Que tudo se condena ao mesmo espasmo.

E ainda que me mostre tenso ou pasmo,
No fundo não seria de ninguém
O deserto que colhi, nele também
O gozo da alegria é vil sarcasmo.

Aonde pretendia níveas garças,
Apenas as etéreas, vãs fumaças
E um gesto costumeiro de quem vai

Distante dos seus sonhos, risos, graças,
Puídas ilusões decifram traças
E tudo se traduz num simples bye.


547

A noite que pretendo, a mais bonita
De todas as que tive em minha vida,
Teus olhos qual fantástica pepita
Encontram na emoção uma saída...

A sorte que suplanta uma desdita
Tornando a nossa senda mais querida,
Minha alma o Paraíso, agora fita
A cada novo dia convencida

Do quanto é necessário ser feliz,
Eterno sonhador, um aprendiz
Sabendo de teus brilhos chega a ti,

Estrela que me guia, num segundo,
Alcanço em esperanças novo mundo
Distante do que outrora eu conheci...



548

A noite que te trouxe, amargurada
Em fantasia imensa e vaporosa,
Deixando minha vida abandonada
Matando em meu jardim jasmim e rosa.

Depois de certo tempo, um quase nada
Traçando uma esperança dadivosa,
A noite se mostrou mais constelada,
Já menos sofredora e dolorosa...

Dormências em meus sonhos mais secretos,
Aos poucos emoções me dominando.
A chuva mansamente em meu deserto,

Encharca uma alegria em seus espaços.
A vida para mim abrindo os braços,
O sol em alvorada vem raiando...


549

A noite que te trouxe, passageira
Dos sonhos tão perfeitos, delicados
Os beijos num momento são roubados
E a vida se entregando, vem inteira.

Por mais que a gente sonhe e sempre queira
Viver estes carinhos mais ousados
Os olhos do desejo debruçados
Fazendo da emoção nossa bandeira.

Eu quero estar contigo e desde agora
Jamais esquecerei um só segundo
Do quanto em nosso amor eu me aprofundo

Paisagem tão sublime que decora
A vida deste pobre caminheiro
Decerto teu amante e companheiro...


550



À noite quero o gozo mais gostoso
Molhando minha boca, dedos, língua.
Deitando do teu lado, é prazeroso,
Amor que não me deixa mais à míngua,

Desejo que tu sejas, puta e santa,
Vadia e refinada, em pura entrega,
A sede de poder te ter é tanta
Meu sexo em tua rota já se esfrega

E os dedos encharcados acarinham,
Teu corpo que endurece pouco a pouco,
Prazer já vem tomando de mansinho,
Até que chega e explode, imenso e louco...

Depois de tanto amor vem o cansaço,
E eu adormeço manso em teu abraço...


551


A noite recomeça em nova dança
Nos toques mais audazes e precisos,
A vida em nossas mãos logo se avança
E mostra na alegria dos sorrisos

O gosto tão divino da esperança
Que vem e não prescinde dos avisos
Fazendo da volúpia esta aliança
Nos lábios que se entranham mais concisos...

Fogosos, flamejantes labaredas
Que encharcam nossos corpos de tesão,
Invado tuas matas, alamedas

E busco o nosso amor com tanto apuro,
Imerso em teus desejos. Sedução...
Na eternidade sempre te procuro...



552

A noite rememora estes momentos
Trazidos pelo sol em dia claro.
Nos sonhos, nas lembranças, pensamentos,
Sabor de um sentimento calmo e raro;

Tua presença aqui, pressentimentos,
De um novo dia a dia em que o amparo
Já deixe bem distantes os lamentos,
E o gosto do viver não mais amaro.

Sorrisos e carinhos conquistados,
Beijos sorrateiros são roubados
E fazem do sorriso um estribilho.

Os sonhos que se sonham acordados,
Redimem sofrimentos já passados
E mudam, nesta vida, rumo e trilho...


553

A noite se aproxima e morre o dia.
A lua companheira traz saudade
De quem viveu comigo a poesia
E morre na longínqua tempestade.

A noite polvilhando fantasia,
Esconde no seu breu a falsidade.
Sem luas no sertão a noite esfria.
Distante já ficou nossa amizade...

Quem teve lamparina tem neon
As luzes apagaram o luar
Viola se perdeu em outro tom.

Nos quartos dos motéis tantos casais,
Companheiros, encontro em cada bar
Amizades? Partiram... Nunca mais...


554

A noite se aproxima e nela eu vejo
Aquela que se fez maravilhosa,
Tomada pela força do desejo
A lua se entregando assim, sestrosa.

Com pedras cristalinas eu cravejo
A cena que se mostra fabulosa,
Enquanto com carinhos eu tracejo
A pele mais sublime, majestosa.

Assim imerso em raros esplendores
Sentindo o teu perfume que das flores
Decerto não teria um mais perfeito,

O peito enamorado se extasia
Tocado por tão rara fantasia
Que encontro toda noite quando deito.



555

A noite se aproxima. Note bem
Quantos pirilampos numa espreita
Enquanto a lua reina e se deleita
Bebendo a poesia que amor tem.

Escute a mansa voz que agora vem
Enquanto a natureza não se deita,
Imagem tão sublime em luzes feita
Vasculha uma esperança, e pede alguém

Que venha calmamente me mostrar
O quanto é bela a noite de luar
Ao lado de quem sempre desejei.

Vivendo a plenitude deste amor,
Encontro nos teus olhos, refletor
Mudando em mil matizes, toda a grei...



556


A noite se esgarçando em podridão
Deixando o meu esgoto sempre às claras
Inverno desbotando este verão,
Enquanto de outros sonhos me declaras.

Escaras que acumulo pela vida,
Feridas que se fazem mais presentes.
Não vejo mais sequer uma saída,
A faca segurando entre meus dentes.

Mostrando minhas garras, meus farrapos
Vivendas que ontem foram doces lares,
Nos pêndulos do tempo velhos trapos
Estendem suas cores nos altares.

Solares do passado tão distante,
Cenário desta insânia deslumbrante...



557


A noite se mostrando em lua pálida,
Vestindo de ilusões, falsas promessas,
Por mais que inda tentasse vê-la cálida,
Encontro os desencontros que confessas.

Na fronte uma esperança de crisálida,
Nas tramas que entranhaste já tropeças,
A sorte que busquei, agora inválida,
Esquálida manhã. E recomeças.

As peças preparadas pela sorte,
Noctâmbulo, dos bares, minha herança.
Sem ter a fantasia que suporte,

Derramo-me entre frágeis hastes, toscas;
E a morte sorrateira, já me alcança,
Em meio a trevas fartas, luzes foscas...


558

A noite se passando agalopada
Viajo nas estrelas, corto o céu,
Vibrando em teu desejo minha amada,
Montada em seu cavalo, sou corcel.

A pele luzidia tão suada,
Jorrando em nossa cama tanto mel,
Depois, quase que exausta, extasiada
Deitada, na cabeça um carrossel

Girando devagar, o quarto roda.
Arfantes os teus seios alvos, mansos...
De novo este desejo nos açoda

Convida de repente a nova marcha
E vamos viajar nossos remansos,
Acesa a tocha, o fogo nos encaixa...



559

A noite se passando em tal pavor
Refém do que vivemos não consigo
Dormir. Envolto em trevas, desamor,
Encontro tão somente o desabrigo.

Quem dera se pudesse num torpor
Voltar o tempo. Insano, inda persigo
Um dia que inda trague em esplendor
O abraço que se mostre mais amigo...

A mão de Deus tocando a minha face
Permite que entranhado em desalento,
Ainda encontre assim, um lenitivo.

Quem dera se alegria retornasse,
Apascentando enfim, este tormento,
Talvez não fosse assim, frágil e esquivo...



560

A noite se passando neste idílio
Que adentra a madrugada em riso franco
Meu coração que há tempos num exílio
Tentara imaginar um sonho branco

Durante a minha andança um empecilho
E nele uma esperança eu já estanco.
Depois de conhecer-te, um novo trilho
Permite um passo altivo e não mais manco.

Deslumbre de desejos e ternuras,
Sem medos ou temores, vida afora...
Eu quero o teu carinho e desde agora

Olvido estas antigas desventuras
Na sede de te amar, felicidade,
Trazendo para a vida, a liberdade!


561


A noite se passando sem ter pressa,
Deitando junto a ti, meu verso leve.
Que a dor que nos tomou, bem sei, tão breve
Não venha nunca mais, que vá depressa.

Paixão mais ardorosa se confessa
Tristeza que se foi, já não se atreve,
Um canto em tua cama, me reserve
Que eu quero tanto amor, contigo, à beça!

Vem logo, não espere um só segundo,
Eu necessito, amor, de teus carinhos.
Contigo, no universo me aprofundo

E bebo as tempestades, destemido.
Mais fortes quando unidos, faz sentido
Jamais ficarmos outra vez sozinhos...



562

A noite se passando tão distante
De quem sonhara sempre, a vida inteira.
Quem dera deste barco comandante
Tocasse tua boca feiticeira,

Roubando da magia num instante
Razão de ser mais justa e verdadeira.
Minha alma te procura, debutante,
Querendo para sempre companheira...

Mas nada do que faça te arrebata,
E nada do que eu diga mais importa.
Só sinto que se adentra em densa mata

A noite que eu queria ser tão nossa.
Apenas este vento bate à porta
Espero este momento em que se possa...


563

A noite se passara em diluências
De luzes que se foram sem a lua.
As almas se perdendo em penitências
Apenas a tristeza se cultua.
Na fria madrugada, sem clemência
Parece que somente a dor atua.

O rio vai correndo para o mar,
Assim como a alvorada vem chegando.
E o mundo num minuto a se mostrar
Mais belo com o sol iluminando.
Na glória de poder já te encontrar
O dia em plenitude vem chegando...

E sinto em teu calor o renascer
Da vida num eterno amanhecer...



564

A noite se prepara em bela prata
Tocada pelos raios do luar
Beleza sem igual nos arrebata
Convite para encantos desfrutar,

O rio se derrama na cascata
O tempo vai passando devagar,
Reflexos vão tomando toda a mata
Beijando num instante, areia e mar

Em meio à profusão de imensidade
Voando pelos céus com liberdade,
Cometas passeando num lampejo

Demonstram quão volúvel nossa vida
Por isso venha logo aqui querida
Trazendo essa alegria que eu almejo...



565


A noite se promete em bandolins
Em danças, em chorinho, em festa pura,
A lua se enamora nos jardins
Espalha tanta luz, sua ternura...

Rodando sem parar dançando leves,
A nossa alma nos pés solta, flutua,
Que pena que os momentos sejam breves,
A transparência sob a luz da lua...

Meu pensamento voa e vai ao céu,
Deleita-se contigo e já se deita.
Bebendo desta boca tanto mel,
A lua na janela, quieta, espreita...

E brilha nos seus raios como um sol,
Iluminando o sonho, qual farol...



566


A noite se promete em gozo pleno,
Rondando nossa cama, um fogo ardente,
Do gosto inebriante do veneno
Que desce em nossos corpos, lava quente

Em tua fenda aberta, a catedral
Aonde amor perfaz uma oração
Lasciva, enlanguescente e sensual,
Um mundo em fantasia, um turbilhão.

Recebo tua orgástica loucura,
Pecado na verdade é não saber
De toda esta delícia que nos cura,
Abençoando em gozos e prazer

Altar ao qual penetro em redenção
Em chamas mais profanas, oração...


567


A noite se promete em alegria
E traça além de tudo o quanto pude
Vivendo com ternura a plenitude
Aonde toda a sorte se veria

Audaciosamente vejo o dia
E nele me entregando além do rude
Momento atroz em leda juventude
E nisto se desenha esta utopia

Pudesse acreditar num novo instante,
Mas sei que nada mais pode e garante
Vicejo em tom feliz, primaveril,

Alçando a poesia em cada dito,
O amor se aproximando do infinito
Aonde todo o sonho construiu

568



À noite se sentires arrepio,
Um vento tão suave em teu pescoço.
Um misto de calor em pleno frio,
O corpo ser tomado em alvoroço,
Um lábio te roçando tão macio,
Um cheiro de jasmim... Quase um colosso

Tocando tuas costas, teus cabelos;
A sensação de mãos te percorrendo,
As pernas tão confusas quais novelos,
Os braços calmamente te envolvendo...
Não tema nem permita que atropelos
Impeçam o desejo num crescendo...

Perceba que estarei bem do teu lado,
Sereno, calmo, manso, extasiado....


569


A noite sedutora emoldurava
Cenário deste sonho alvissareiro.
A lua tão lasciva decorava
Todo o céu transformado num tinteiro.

O rastro das estrelas transportava
Amor em gozo intenso e feiticeiro
Desejo em nossa cama anunciava,
Nos braços deste amor, mar derradeiro.

As algas fosforescem no oceano
Testemunhas reais deste romance.
A noite em louca orgia, em cada lance

Refaz toda luxúria e todo gozo.
Pena que o sol surgiu cedo, temprano...
O mar derrama as ondas, caprichoso...


570

A noite sem ninguém é dolorida,
Oráculo em tristeza concebido,
Intérprete fiel da descabida
Paixão que vem tomando o meu sentido.

Meu mundo se transforma, a minha vida
Se perde sem ter prumo. Vou vencido.
Nas artimanhas vãs, corte e ferida,
Aprofundando amor mal resolvido...

Na pompa que exacerba uma saudade
Funeral e mortalha não se nega
A noite vem tolhendo a liberdade

Trazendo em pesadelo, duro vício.
Se todo amor se faz em pura entrega,
A noite sem amor é precipício!


571

À noite sem te ter, sonho e loucura,
Tua nudez caminha pelo quarto,
Angustiante sempre esta procura,
Dos desejos, querida, eu não me aparto.

Meus lábios viciados nesta boca,
Delírios que vivemos... Quero mais.
De tanto te chamar, alma vai rouca,
Bebendo os teus requebros sensuais...

Sorver o teu prazer, doce rocio,
Esplêndidas manhãs sobre os lençóis,
Seguir a correnteza deste rio
Tocado pelo brilho de mil sóis...

Teus seios, tuas coxas... meu prazer...
No encanto de teus braços me perder...


572

A noite sem teus braços esfriava
E vinha em pesadelos, tal tortura.
Sozinho pelas ruas, eu cismava
Na insanidade imensa da procura.
A sombra da saudade me rondava
E nada prometia uma ternura...

O vento que batia na janela
Do quarto onde não tinha mais sossego.
Mentia ao coração: Deve ser ela!
Somente o vento vinha. Peço arrego,
E nesta poesia se revela
Perdão que assim te imploro. Quase cego

Sem as luzes divinas deste olhar,
Querida... Por favor, vem me buscar...



573

A noite sempre trouxe uma verdade
Em meio a multidões tão delirantes.
Nas danças, nos salões mais deslumbrantes,
O sonho transformado em realidade!

A lua simboliza liberdade,
Explode em tantos brilhos radiantes
Nos faz sentirmos deuses por instantes.
Transporta do infinito a claridade!

Pois quando estou amando é como a lua
Minha alma dançarina já flutua
Nos salões e nos bailes dos meus sonhos...

Meus olhos são dois lumes, são faróis,
No peito a violência de mil sóis.
Meus dias vão passando mais risonhos!



574

A noite sempre trouxe uma verdade
Em meio a multidões tão delirantes.
Nas danças, nos salões mais deslumbrantes,
O sonho transformado em realidade!

A lua simboliza liberdade,
Explode em tantos brilhos radiantes
Nos faz sentirmos deuses por instantes.
Transporta do infinito a claridade!

Pois quando estou amando é como a lua
Minha alma dançarina já flutua
Nos salões e nos bailes dos meus sonhos...

Meus olhos são dois lumes, são faróis,
No peito a violência de mil sóis.
Meus dias vão passando mais risonhos!



575


A noite silenciosa vem trazendo
Um vento tão tranqüilo que apascenta
Aos poucos nos teus braços eu desvendo
Desejo soberano que arrebenta

Do corpo no meu corpo se envolvendo
Paixão que arregaçando; violenta.
Do quanto bem te quero vou bebendo
Até que a noite passe, mansa e lenta.

Beijando tua boca, quero mais,
Pescoço se oferece em arrepio.
Quando invadir depois o lago em cais,

Em alvoroço e festa, meu deleite.
No gozo que me dás, logo vicio,
Nas nossas convulsões, salgado leite...



576

A noite sufocante, amargurada,
Celebramos tristezas e saudades,
De resto, sobraria quase nada.
Sabemos tantos campos e cidades...

No rumo que perdemos, sem estrada,
Os bares visitamos, das verdades,
Bebendo, vitimamos nossa fada...
Amantes que perderam qualidades...

Não suporto mais tal abafamento,
Meu ar desperdiçado, sem retorno...
Amar não pode ser só sofrimento...

Dispneico na procura do oxigênio,
Eu tento, transtornado, neste forno,
A lâmpada quebrada nega o gênio!


577

À noite te sentindo do meu lado
Por certo, estou mais forte e mais sereno.
Teu rosto tão bonito e delicado
Deixando este ambiente mais ameno.

Depois de tantas dores do passado,
Bebido sem sentir, tanto veneno,
Encontro no teu braço enveredado
Um mundo que sonhara, vivo e pleno.

Enrosco minhas pernas entre as tuas
Aninho-me contigo num só ser.
As pernas bronzeadas, quentes, nuas

Na languidez parece que me diz,
Que em toda esta delícia, teu prazer;
Até que enfim, querida, eu sou feliz...



578



A noite tem mistérios e delícias;
No fogo das paixões, corpos ardentes...
A lua nos envolve em mil sevícias
Premissas de momentos envolventes.

Suave brisa traz suas carícias
As bocas se procuram, domam mentes,
Os sonhos dominados por malícias
As pernas se misturam quais serpentes...

E tudo me trazendo esta lembrança
De um tempo que se foi pra nunca mais.
Meu barco se perdendo sem um cais,

O olhar sem horizontes não descansa
E busca novamente te encontrar.
Porém a noite segue sem luar...



579


A noite traz mistérios e segredos
Envoltos em tristezas, dissabores.
Na noite que se faz em tantos medos,
A morte de alguns sonhos, dos amores.

Meus olhos te procuram, e os meus dedos
Espetam-se em espinhos, ganham flores.
Embora estás distante, meus enredos
Te buscam onde vais, por onde fores.

Que faço nesta noite sem te ter?
Sem lume, minha vida: escuridão!
Sem ti, não há caminho e nem razão.

Adormeço minha vida sem prazer.
Por isso volte logo, minha amada,
Saudades de uma noite iluminada!



580



A noite vai caindo dura, espessa,
Distante de meus sonhos e delírios.
Assim que, de repente, eu adormeça,
Recomeçarão todos os martírios.

Marcado por terríveis desenganos,
Meu tempo de viver vai se esgotando,
Embalde se fiz outros novos planos,
Pergunto sem respostas até quando?

As mãos vão prosseguindo mais vazias,
Apenas com meus medos tatuadas.
Encarceradas sempre as alegrias,
Distante da saída, sem estradas.

Apenas uma força, na verdade,
Conduz a minha vida: uma amizade...



581


A noite vai caindo e toma a cena
Mudando a direção dos pensamentos.
Enquanto a lua chega, mansa e plena
Os olhos se tornando vãos, sangrentos.

O amor entre estas trevas me envenena
E paulatinamente traz os ventos
Dama da noite, aroma que me acena
Ensimesmado, entranho os sentimentos

E deles pulverizo esta querência
Que traz a mais suprema transparência
Da qual, mesmo que eu tente, não me esgueiro.

Sentir o teu perfume, mesmo ausente
Permite que eu resista bravamente
Domado pelo sonho... Verdadeiro.



582

A noite vai descendo em plenilúnio
E vejo quanto Deus foi bom comigo,
Depois de tanto tempo em infortúnio
Agora encontro enfim, o meu abrigo

Nos braços da morena mais brejeira
Que um dia pude enfim, reconhecer
A mais perfeita e bela companheira
Sinônimo perfeito: bem querer...

Janela sem tramela sempre aberta
Na espera da morena tão sestrosa,
Em cada novo beijo, a descoberta

Divina e esteja certa, mais gostosa.
Vagando em cada lume do luar
Encontro esta morena, que é sem par...


583

A noite vai esguia
Deitando no luar
Desejo que se urdia
Tocando devagar,

Moldando uma alegria
Gostosa de sonhar,
Quem sabe a fantasia
Chegando devagar,

Mostrando que também
Amor a mim se deu,
Eu vivo por teu bem,

Somente agora meu,
Por isso, amada vem,
Na luz que me aqueceu



584

A noite vai passando, doce e quente;
Num tórrido desejo que nos guia
Envolta por suores, fantasia
Se mostra mais voraz, impertinente.

Vontade de te ter, fogosa, ardente;
No jogo que me encanta e me vicia,
Torpores de prazeres e magia,
No amor que a gente faz amor se sente.

Meus braços te enlaçando na cintura,
As pernas que se tocam se entrelaçam
Num beijo tão suave com brandura

Loucuras que traçamos mal disfarçam
A sede delicada, uma tortura,
Dois corpos que se querem e se abraçam...


585

A noite vai passando amargurada
Distante da mulher doce, formosa
Na beleza noturna constelada
Tua imagem divina, maviosa

Na lembrança restando imaculada
Teu perfume emprestado à bela rosa
Reclama, mas não vejo aqui mais nada.
A noite então se faz tempestuosa...

Partiste por caminhos mais secretos
Deixando esse vazio em meus espaços.
Os verdes campos morrem tão desertos

Vasculho pelas ruas, nada vejo.
Procuro minha cura noutros braços.
Matar a minha sede em outro beijo...



586


A noite vai passando e não te vejo
Apenas adivinho o teu perfume.
Amor além de tudo o que eu almejo
Decerto me guiando, forte lume.

O dia me trará pleno desejo
Apenas madrugada já se esfume
Terei o teu carinho, assim prevejo,
E a vida voltará ao seu costume.

Sentir a tua pele me tocando,
Sentir a tua boca junto à minha
Delícias deste sonho enamorado.

O dia do teu lado vai passando
Mas quando a noite negra se avizinha
O sofrimento vem se aproximando...


587

A noite se anuncia de tal forma
Gerando dentro da alma esta esperança
E quando o meu caminho ao vão se lança
O passo em direção tosca deforma

E nada mais pudesse e já se informa
O caos onde tentara esta fiança
A vida se perdendo na lembrança
A solidão transforma azar em norma

De todos os meus dias se eu pudera
Gerar a cada instante a primavera
Ferrenho sonhador, eu bastaria

Ao todo quando anseio noutro enredo
E sei dos meus momentos se concedo
Apenas algo mais que a fantasia.


588


A noite vai sombria e violenta,
Expondo o coração à tempestade,
Olhar angustiado ainda tenta
Buscar em plena treva, a claridade.

Sarcástico luar já se escondeu,
Felicidade? Apenas qual miragem,
Em falso testemunho me escolheu
Irônica e terrível fria pajem.

As páginas viradas? Quem me dera!
Talvez inda pudesse ser feliz.
Não tendo mais sementes, primavera
Não deixa nem ao menos cicatriz.

De todos os meus sonhos, nada resta
A vida, sem ninguém, segue funesta...


589

A noite vem caindo devagar
Trazendo para a Terra um manto escuro.
Meu coração deveras inseguro
Pergunta por teus rastros ao luar.

Difícil, realmente acompanhar
Um passo que se deu em chão tão duro.
Escondido, por certo atrás de um muro,
Não faço nada além do que esperar.

Não quero conceber um mundo triste,
Eu creio neste amor que sei, resiste;
Por isso toda noite aqui eu venho.

Embora sem respostas, quero alguém
Que um dia, há tanto tempo foi meu bem
Uma esperança tola; enfim, contenho...

590

A noite vem chegando devagar,
Trazendo tão somente esta amargura,
Imagem transparente que tortura,
Estrela sem destinos a vagar...

Revejo, num momento este lugar
Que há tempos foi meu pátio de ternura
Paisagem que saudade inda emoldura
Fazendo do meu sonho, triste altar.

Percebo que este amor, cruel persiste,
Por toda parte vejo teus resquícios...
Mergulho nos mais vagos precipícios

Enquanto esta lembrança vã resiste,
E a dor de nada ter, teimosa insiste
Tornando as ilusões, terríveis vícios...


591


A noite vem chegando e te trazendo
Em raios de luar, delícia plena.
A sorte benfazeja então se acena,
E o amor, incandescente me envolvendo.

A vida não permite mais adendo
A quem já se entregou a cada cena.
A saudade cruel que me envenena,
Ao ver tua chegada vai morrendo.

Renascem esperanças no meu peito
Bem sei o quanto amar é meu direito
Por isso lutarei sem ter descanso.

A lua soberana que nos guia,
Demonstra em fortes raios a alegria
Que ao ver tua presença enfim, alcanço...


592


A noite vem chegando e traz mistérios,
Os sonhos envolvendo enamorados,
Atingem os viventes, sem critérios,
E mudam, num momento, tantos Fados.

Sentir a tua mão me acarinhando,
Sentir o teu perfume junto a mim.
A noite em ilusões já vai passando
Quem dera se ela fosse – amor – sem fim...

O riso se esboçando no meu rosto,
Deixando esta distância para trás.
Sentindo do teu lábio o doce gosto.
Vontade de sonhar e dormir mais.

Quando a manhã ressurge ainda vejo
A tua face em forma de lampejo...


593

Ainda posso além do que imagino
E sigo sem temer qualquer tempesta
A vida noutro rumo agora atesta
Do sonho mais audaz e cristalino,

E quando um novo passo eu determino
Ousando penetrar na imensa fresta
Apenas desenhando a vida em festa
Cenário sem igual em paz atino.

Vestindo a fantasia da esperança
Ainda quando a sorte em paz me amansa
Na dança dos meus sonhos mais gentis,

A sorte se traduz felicidade
E o quanto da ilusão agora invade
Fazendo de minha alma o que bem quis.


594

A noite vem pousando seus carinhos,
Pendida no meu peito a bela flor...
Bem sei como escondeste teus espinhos,
Tua defesa simples, meu amor...

Eu ouço a noite em sinos a tocar
Mostrando como é bom te ter aqui,
Não quero mais dormir; prá que sonhar;
Se tudo o que desejo eu consegui?

Eu já nem sei quem sou, mas não me importo,
Nas bênçãos do luar eu te encontrei.
Aos dias mais difíceis não reporto;
Tua beleza plena emoldurei.

E sinto-me decerto apaixonado,
Por essa flor tão bela, do cerrado...


595


A noite vem surgindo alvissareira
Depois da tempestade que passou,
O quanto se deseja o que inda sou
Demonstra a sorte feita uma bandeira.

A luz que se mostrou ser derradeira
Tomando cada casa se afastou,
Amor que é muito mais do que se queira
Em novo alvorecer me dominou.,

Agora vou liberto sem ter medos,
Conhecendo estes jogos e segredos
Enfrento a qualquer hora uma batalha

Sabendo decifrar os seus sinais,
Eu quero o nosso amor e muito mais,
Felicidade imensa assim se espalha...


596

A noite vem surgindo deslumbrante
Trazendo para nós imensa lua
Por trás desta montanha verdejante.
Desejo e sedução; bóia e flutua

Vontade de te ter a cada instante
Deitando sob luar, argêntea e nua.
Vagando sem destino, um louco amante
Fazendo serenata em plena rua...

Debaixo da janela, um triste pinho
Aguarda uma resposta, com receio.
Atrás do cortinado eu adivinho

Em transparência bela, o lindo seio...
E a noite se entregando à madrugada,
Um sonhador te chama, na calçada...



597

A noite vem surgindo no horizonte
Trazendo bela lua cor de prata.
Um reflexo argentino em tua fronte,
A rara maravilha me arrebata
E mostra que esse amor é minha fonte
De toda uma alegria que nos ata.

Assim, quando a teu lado adormecer
Depois de tanto amor que a gente fez,
Sorrindo venturoso, perceber
Que enfim, em minha vida a sensatez
Tomando com meiguice o meu querer
Acalma e vê chegar a minha vez

Após as longas horas em espera,
De ver nascer em mim, a primavera...


598


A noite vem trazendo no sereno
Um frio tão gostoso de sentir.
Um coração batendo mais ameno
Mais um motivo tem para sorrir.
Amor que a gente faz decerto pleno
Traz sempre uma alegria a refulgir.

Sentindo o teu perfume em minha cama,
Qual fosses um rosal em meu canteiro,
Jardim que toda vez quando se inflama
Demonstra quanto é meigo e feiticeiro.
A gente é tão feliz e quando se ama
Se entrega neste sonho por inteiro.

Ansiosamente espero tua vinda,
Beleza que inebria e se deslinda...


599

A noite vem trazendo uma esperança
De ter aqui comigo, a minha amada.
A noite, todos sabem, é criança;
E mostra-se completa, enluarada.

Chega e nos convida para a dança
Depois de tanto tempo, mais cansada
Deitada do meu lado, a noite avança
Até se deslindar na madrugada...

Confesso quanto amor tenho por ti,
Nos versos que sonhei e agora faço.
Belezas que em teu rosto sempre li

Traduzem os poemas que dedico,
Teus braços me convidam, e o cansaço
Chamando ao teu regaço. E amor; eu fico...


600


À noite, caminhando tão segura,
Passando pelas ruas sem temor.
Embora carregando a desventura
De tanto tempo em busca de um amor.

Que jamais retornara; triste bem,
Que se fora nas ondas deste mar.
À noite no silêncio do ninguém,
Em meio à tantas pedras, divagar...

Procura por notícias; mas, nenhuma.
Nem mesmo novas más, só um vazio.
As pedras já conhece, de uma a uma.
De tanto perguntou para este rio;

Que sabe desemboca em pleno mar...
Rio entretanto leva, sem buscar...

601


A noite, com certeza foi nublada
E nisso meu saveiro se perdeu.
A boca que se deu não provou nada,
Apenas a vontade ainda ardeu.

Sou teu, mas o que faço se não queres?
Apenas repetir o mesmo mote.
Banquete necessita de talheres,
O doce que se foi procura o pote.

Meus olhos te buscando nada vêm,
A trama embaralhada vai sem rumo.
A boca com batom beija ninguém
Em sonhos, tão somente, eu me perfumo.

Amor aquém do gozo de costume,
Olhando desde o vale, quer o cume...



602

À noite, em confidências e segredos,
Guardados neste cofre dos desejos.
Refaço nossa sorte, bons enredos,
E vibro tantos beijos, mil festejos...

Cabelos, pernas, olhos, sisos, medos...
No brilho dos olhares, relampejo...
Denunciam vontades. Nossos dedos
Se buscam nesta noite. Assim prevejo

O dia que virá, nossa folia,
Em sonhos clandestinos, fogo intenso.
Somente neste amor, querida, eu penso.

Amor que se tomou pura magia.
Tua nudez querida e desejada,
Na cama que sonhamos, minha amada...



603

A nossa amizade
Carinho traduz
Traz a claridade
Reforça esta luz,

Amor de verdade
Pra sempre seduz.
A felicidade
É quem nos conduz

E mostra a beleza
Da vida sem medo,
A nossa riqueza

E o nosso segredo
É ter na pureza,
Em paz... nosso enredo...



604

A nossa casa, amor, já não existe...
Procuro meus quintais, não mais os vejo.
Meu bem, a vida queda-se tão triste!
A morte vem chegando, em seu cortejo!

Um frágil coração jamais resiste
À ausência dolorosa do teu beijo!
Sou pássaro faminto, sem alpiste,
Sou tarde que perdeu seu azulejo!

Vivendo de ilusões cadê a casa
Onde fomos felizes? Sem jardim,
Mergulho esse infinito, sem ter asa.

Meu mundo se perdendo, sem confete...
É quarta feira, cinzas, mesmo assim,
Teu nome irei gritando: Bernadete!



605

A nossa tarde juntos, nossa vida...
Outonos que sabemos já se vão...
Amor quando em promessa, despedida,
Compartilhamos mesma solidão.

Amor que nos uniu, sem desespero;
Na tarde que despenca em rapidez.
Eu sinto esse agridoce do tempero
Tal fosse nosso amor que assim se fez.

Amor vitorioso, mais sagrado,
Vencendo tantos medos, preconceitos.
Agora que vivemos lado a lado,
Em plena lucidez, tão satisfeitos.

Sabemos construir felicidade
Nas asas deste amor em liberdade...



606


A orquestra nos chamou. Meu coração
Batendo alucinado e tão feliz.
Dançando este bolero, uma emoção;
Além de todo o bem que sempre quis.

À luz de um cabaré, a noite é nossa.
A lua tropical nos ilumina,
Amar pra sempre além do que se possa,
No fogo da paixão que já domina...

Bandaleon tocando a noite plena,
Eu não me canso nunca de pedir
Que a sorte tão ditosa nos acena

Então te peço, beija-me querida,
Que o mundo simplesmente irá sorrir
Assim, pra sempre em toda a nossa vida...

EM HOMENAGEM A FLAVIO VENTURINI



607

A pacificadora sensação
Que toma nosso peito, sem cobranças
Forjada pelas tréguas, alianças
Formando em dois soldados, batalhão.

Dela mesma se faz renovação
E no cantil, somente as esperanças
Nas velas desfraldadas, confianças,
No mar tempestuoso da paixão...

E somos companheiros de viagem,
Nas estações, nos cais, em vários portos
Por mais que sejam duros, sejam tortos

Os caminhos; seguimos. Numa aragem
Serena e mais sensata. Mas com ardor
De quem sabe regar, canteiro e flor...

608

A pacificadora voz da morte
Chegando calmamente aos meus ouvidos,
Esqueço antigos sonhos prometidos
Permito que a emoção tosca se aborte.

Bizarra companhia; num transporte
Que leve aos vales turvos permitidos
A quem teve seus sonhos mal vestidos
Perdido, ao Deus dará, sem rumo ou norte.

Não posso ser mesquinho, até desejo
O fim da caminhada sem proveito.
E posso até dizer: vou satisfeito,

Sorte melhor, no fundo eu já prevejo,
Qualquer que seja a sorte: abençoada;
Melhor que este vazio, que este nada...



609


A paixão acontece de repente,
Sem tempo pra defesas ou pudores,
Momentos que, sutis, aterradores
Num êxtase que envolve plenamente.

Por mais que a liberdade, a gente tente
Não somos destes passos, mais senhores,
Nesta explosão divina em mil fulgores,
Sem rumo que nos guie ou oriente.

Minha alma te sorri em breve instante,
Seguindo cada raio fascinante
Que emanas simplesmente num sorriso.

Apaixonado sigo cada rastro,
O barco vai perdendo âncora e lastro,
Liberto alçando inferno e Paraíso!



610


A palavra se solta e vai liberta
E nada pode enfim a controlar.
As coisas vão passando por passar
Quem dera se eu pudesse ser poeta

Teria uma palavra mais dileta
E tudo voltaria ao seu lugar.
O rio vai correndo para o mar,
Traçando, no caminho a sua meta.

Quero o gosto das lavras e das minas
E as águas deste rio, cristalinas.
Meu sonho vai morrendo – assim – embalde.

A palavra se perde sem saber
Aonde encontrar um bem querer
Que venha por amor ou amizade..



611

A pálida manhã em frio e medo,
Alvoroçando um sonho quase vão,
Quem dera discernisse este segredo
Que ronda e quase toca o coração.

O dia se nublando desde cedo,
Talvez inda retrate a solidão,
Meu pensamento foge, quieto e ledo,
Reflete simplesmente cada não

Que a vida em avidez já desmedida
Num bulício insensato me deixou.
A luz que nunca mais alumiou

Há tempos se mostrando enfim perdida
Parece prometer a claridade,
Nos braços de – quem sabe – uma amizade...



612

A par da insanidade que entornaste
Qual fosse farto espinho em minha estrada
A vida faz do riso o seu contraste
E trama depois disso, o mesmo nada.

Enquanto a poesia sonegaste
O vento sacudindo a paliçada,
Derruba a fantasia, mostra o traste
Em que minha alma viu-se transformada.

Vestígios do que fomos? Não os vejo,
Nem mesmo algum momento de alegria,
A morte, na verdade, o que desejo

Trazendo a sepultura como altar
No cárcere dos sonhos que se cria
Somente a solidão tem seu lugar...


613


A par de cada sonho que mentiste
Coleciono medos tão somente.
Embora o meu olhar prossiga triste
Amor ainda insiste, tolamente.

De tudo o que em verdade sei que existe,
Apenas restará simples semente
Que agora em despedida não resiste
E morre, sem carinhos, simplesmente.

Enquanto, sei que mentes, e sonegas
Um resto de esperança; eu não me calo,
Quem teve no passado algum regalo

Ao ver estas estradas, vaga às cegas,
Depois de cada curva no caminho,
Não teme mais sequer pedra ou espinho.



614

A par de tão divina sensação
Entrego-me ao amor sem mais defesas.
Percebo que os percalços da paixão
Também são ricas formas de belezas.

A vida nos promete solução
A todos os problemas, incertezas,
Somente pareados na emoção
Nós venceremos duras correntezas...

Sejamos minha amada como um feixe,
Gravetos que se unindo fortalecem
Multiplicando o pão, o vinho e o peixe

Ao espalharmos somos bem mais fortes,
Nos nós que nos tapetes que se tecem
Mudando, solidários, nossas sortes...



615


A par desta ilusão, sigo sozinho,
Vencido pelo amargo da saudade.
Aonde outrora quis fosse meu ninho,
Apenas o vazio e falsidade.

Quem sabe possa crer que em outros tempos
A vida não permita o sofrimento.
Por mais que sejam tantos contratempos,
Um novo alvorecer; teimoso, eu tento.

E vago por estrelas e cometas,
Perdido nos espaços infinitos.
Felicidade e paz, divinas metas,
Distantes dos meus olhos tão aflitos.

Quem sabe após a chuva venha o sol,
Uma esperança trago por farol...


616

A par desta ironia em que pintaste
O céu deste fantasma que hoje eu sou.
Formando com a luz, duro contraste,
Apenas o vazio inda restou...

Lacaio deste encanto que legaste,
O sonho tanta vez me escravizou,
Colhendo cada fruto que cevaste
A névoa, tão somente se mostrou.

Amores não carrego em meu alforje
Por mais que uma ilusão meu verso forje,
As mãos não me obedecem, vão vazias...

Na lúbrica manhã que vem surgindo,
As nuvens e a fumaça pressentindo
A morte num torpor das fantasias...


617


A par desta verdade, não me calo,
Eu sei o quanto dói tal traição,
Aperta bem mais firme cada calo,
E torna o meu viver amargo e vão.

Se ao menos eu pudesse decifrá-lo
Talvez recuperasse a mansidão.
Quebraste da ilusão, um frágil talo
E o fardo que carrego? Sem perdão...

Eu sei que na verdade, ela também
Queria o teu querer. A morte tem
Poder de apascentar quem tanto sofre.

Procuro a solução, mas não concedo
Tu violaste; amigo, este segredo,
Tomando em tuas mãos o inútil cofre...


618



A par do quanto é bom teu caminhar
Estampo o teu retrato na camisa,
A brisa avisa e invade devagar
O tempo ao mesmo instante se ameniza.

Depois deste granizo que caiu,
Matando minha sede em tua boca
O verso que se versa mais gentil
Atraca meu saveiro em bela toca

Retoca cada passo com ternura,
Texturas delicadas, belos seios,
A gente de contente não tem cura
Não tema quando exprimo os meus anseios.

Na rede sem moinhos, nosso céu,
Redemoinhos giram carrossel...


619

A par do que a parceira diz ser meu,
Na tenda dos milagres me avinagro.
O amor sem calorias, morre magro,
O rumo sem consumo se perdeu.

Sonhar com festa intensa, um himeneu
Ao hedonismo tolo não me sagro,
Porém se tenho tempo já consagro
O que deveras verso concebeu.

O riso tão sarcástico e macabro
Fingindo ser comparsa, o peito eu abro
E fecho num desfecho que não basta,

Abasto-me em diversa direção
Sem termos de vingança ou de união.
Enquanto a poesia tola pasta...



620

A par do que passei
Difíceis caminhadas...
Carinho em encontrei
Em mãos abençoadas.
Bem mais do que pensei
Nestas duras jornadas

Amiga, eu pude ver
O quanto és importante.
Na força do querer
Tornando-me um gigante
Já posso até prever
Futuro radiante

Sabendo, na verdade,
Valor desta amizade


621


A par do sonho raro que vivemos
Sentindo todo o visgo deste amor,
Percebo este poder transformador
E vago pelo rumo que escolhemos.

De toda a luz que em glória recebemos,
Mosaico de alegrias a compor
Um mundo mais sublime ao meu dispor
Além do céu imenso que nós vemos.

Ao ter nos olhos brilho da esperança
A gente vai dançando a mesma dança
No brilho que te entrego e que recebo

Dos olhos desta bela namorada,
História que passei; abandonada,
Martírios que vivi; já não concebo.



622

A parte que me cabe desta festa
É o bar abandonado da esperança.
O mar que em tempestade já se empresta
Fomenta este vazio que me alcança.

Encalacrando o peito, sem pujança
Invado qualquer parte da floresta
Bebendo deste rum, alma descansa
E o gozo sem limites desembesta.

Apenas um partícipe, descubro
Nos olhos deste sonho outrora rubro
A vastidão do vago que carrego.

Se sarcasticamente tu gargalhas
A boca vai se abrindo nas navalhas
Deixando o meu olhar, vazio e cego.



623

A parte que nos cabe da maçã
Permite-me dizer que creio nisso.
No amor que quando entorna mostra viço
Qual fora ventania temporã;

Mantendo acesa a chama, doce afã,
O fogo que nos toma sempre atiço;
E vendo sem ter vendas te cobiço,
O sol que justifica esta manhã.

Nas manhas e manias que inda trago,
O gosto deslumbrante de um afago,
O mago sentimento em que se dá

O gozo deste amor que nunca cessa,
A boca desfrutando da promessa
Cumprida, sem pudores, desde já...



624

A paz de um ancoradouro, belo cais
Decerto a mais sublime das vitórias
Não deixe que se apague, assim, jamais
O brilho em que se irmanam nossas glórias.

Desejo o teu carinho sempre mais,
Mudando o rumo antigo das histórias,
As dores vão ficando, enfim, distais
Jogadas bem distante das memórias.

No teu aniversário, comemoro
O amor em que amizade me decoro
E sinto o vento manso que me roça;

Na brisa desta tarde benfazeja
O bem de quem se quer e se deseja
A paz que, verdadeira, me remoça.



625

A paz do amor inflama quarto e sala
E invade totalmente o coração,
Meu brado em alegria, ninguém cala,
Nem mesmo muda rumo ou direção.

Do pão multiplicado, afasto a fome,
Do chão já divido uma igualdade
Fantasma da injustiça, corre e some,
Nos olhos de quem ama, a liberdade.

Fraternidade alcanço nos teus passos,
Em laços solidários bem traçada.
A luz irradiando nos espaços
A poesia em todos, entranhada.

O paraíso, em ti, amor, diviso,
E o toque dos teus lábios; mais preciso.


626


A paz em devoção, eterno pleito
Que toma a nossa vida totalmente
Meu canto em teus encantos, satisfeito,
Transborda em alegria, calmamente,

Felicidade muda em seu conceito
Do amor vira sinônimo e pressente
Que o mundo em nova face, dê direito
A quem necessitar ser mais contente

Deixando o sofrimento já perdido,
Distante, sempre ausente, e sem sentido
Deixando a solidão assim de lado,

Eu tenho já comigo esta alegria
De ter a anunciada sintonia
Deixando o meu caminho iluminado.


627

A paz em que se fez amor maior
Sem par e sem limites, tão intenso.
Teu corpo vasculhei e sei de cor
Somente em ti, querida sempre penso.

Na glória de ser teu, felicidade,
O sol que forte brilha na manhã,
Falando deste amor/sinceridade
Percebo esta alegria em doce afã;

Além de todo amor, a paz domina
E faz de cada dia uma esperança.
Viver a nossa história, minha sina
Trazendo para a vida esta festança

Que faz de cada noite um claro rito
De amor além dos mares, infinito...

628


A paz que encontro em ti já não tem preço
É tudo o que desejo nesta vida,
Além de todo amor que te ofereço
Encontro no teu corpo uma saída

Prazer ao procurar teu endereço
Mostrou que minha sorte, decidida
Não quer e não permite mais tropeço,
Pois sabe quanto dói, a despedida,

Do sonho quando, outrora, benfazejo
Banhado em esperança, ouro de lei,
Por isso ao perceber-te, enfim prevejo

Além do que num dia imaginei,
Um mundo em que rebrilhe este luar
Trazendo a paz que enfim eu pude achar...



629

A paz que eu procurei a vida inteira
Em braços tão diversos, diferentes
Em bocas e carinhos envolventes
Encontro agora em ti, bela trigueira.

Minha alma, com certeza é caminheira
E busca noutros cantos, noutras gentes
Vontades que se mostram mais prementes
De ter uma paixão alvissareira.

Amor perfeito achei nos braços teus
Por isso uma alegria radiante
Na aurora deste sonho promissor.

Quem teve nesta vida tanto adeus
Já sabe valorar em cada instante
A força gigantesca deste amor...



630

A paz que num momento se assenhora
Relembra uma esperança feita em luz,
A ponta desta faca adentra agora
Cortante, inebriando, bebe o pus.

Fiando a tempestade ao som da lira,
Na garganta restando a leda espinha
Que feita em agonia diz mentira,
Transparecendo o nada de onde vinha.

Os risos que se foram generosos
Tentando demonstrar qualquer ternura,
Aos poucos mostrarão quão onerosos
Os guizos mais insanos da procura.

Saudade do que fui e não bebi,
Trazendo um vão retrato, volto a ti...


631


A paz que verdadeira me remoça
Permite que se almeje um novo dia,
A solidão que sempre nos destroça
Já morre ao perceber uma alegria.

Não deixe que a tristeza faça troça
Marcando em sofrimento a fantasia,
O peito mais feliz já se alvoroça
Sentindo o vento calmo que nos guia.

Quando completas outro ano de vida
Eu sinto quanto Deus foi muito bom,
Pois tens este poder, divino dom

De ser por todos sempre a mais querida,
Meu verso, um servo teu se faz sutil
Louvando o teu cantar sempre gentil.


632


A paz tão necessária, amor sincero,
Deixadas pelos cantos de uma casa
A sorte desejada assim se atrasa
Matando a poesia que inda espero.

Se em luas tão diversas me tempero
Minha alma em fantasia já se abrasa,
Enquanto no vazio amor se embasa
O veto que não quis se mostra fero.

A cargo desta insânia me desgasto,
O amor jamais será um bom repasto
Parece com o tal capitalismo

Que agora se expressando em bancarrota,
Perdendo num segundo rumo e rota,
Condena o teu amor ao egoísmo...


633

A pedra continua sem ter limo,
De tanto que ela muda já se cansa.
O amor quando distante da esperança
Esconde a fantasia que eu estimo.

De ter honestidade, se eu me primo,
Tu vens com teu olhar de cobra mansa,
Sorrindo falsamente, traz a lança,
Por isso nestes versos eu te ultimo

E quero uma resposta mais exata,
O amor quando demais não se maltrata,
Apenas a verdade nos liberta.

Brincando por debaixo dos lençóis,
Que faço se me entrego aos claros sóis
Nos quais toda a verdade se acoberta?


634


A pedra do caminho que impedia
Um passo mais audaz rumo infinito,
Eu descobri, querida era granito,
Que sabes ser deveras dura e fria.

Felicidade eu sei o quanto urgia,
Porém amor não ganha amor no grito
Num jogo sedutor eu acredito
E nele existe sempre uma magia.

Assim, ao perceber este empecilho,
Um coração deveras andarilho,
Venceu a tempestade num deleite.

Da pedra solitária que encontrei,
Com teu amor decerto imaginei
Pra nossa casa, enfim, um belo enfeite...


635



A pedra no caminho
Gigante, intransponível,
Em duro e forte espinho,
Num mundo corruptível,
Recomeçar, sozinho,
Seguindo um outro nível...

Assim na nossa vida,
Amiga, amada, amante,
Um ponto de partida,
Surgindo a cada instante,
No fim, outra saída,
Se mostra fascinante.

Da vida qual um fel,
Refazer doce mel...



636


A pele arrepiada, olhos sedentos,
Delírios que enlouquecem um cristão,
Prudências esquecidas no porão.
Carinhos mais vorazes, violentos.

Assim vamos cumprindo os meus intentos,
Entregues à completa sedução
Do gozo sem limites, a paixão
Percorre teus caminhos, passos lentos...

Até chegar à fonte prometida,
A gruta dos desejos, umidade.
Cascata que em delícia, amor invade

Do amor que assim jamais ninguém duvida
Eu faço dos carinhos, minha estima,
Enquanto corpo a corpo, a gente esgrima...


637


A pele carcomida se destrói
E mostra uma ossatura bem mais frágil.
Aquém do que sonhara num presságio,
A vida em solidão por vezes dói.

O medo muitas vezes me corrói,
Mas tento a fuga em salto bem mais ágil.
O verso se perdendo num naufrágio
Dos sonhos, outro canto já constrói.

O quase consegui me acompanhando
Há tempos não permite uma auto crítica.
Amor uma figura quase mítica

Aos poucos minha carne lacerando
Permite que adivinhe-se o final
Na paz que nascerá do amor boçal.


638

A pele se esvaindo na saudade,
Expõe minhas entranhas, vagos lumes.
Carpindo a perda amarga, na verdade
A vida não me traz qualquer perfume.

Abutres vão fazendo os seus repastos
No corpo carcomido, entregue às moscas.
Sonhara com amores puros castos,
As luzes se tornaram bem mais foscas.

O beijo da pantera ao fim do dia,
Gargalha em ironia, extasiada.
Do quanto que pensara em fantasia
Não sobra, com certeza, quase nada

Somente um gesto antigo e renitente,
Expressa alguma luz neste poente...



639

A pele sensual, fina penugem;
O rosto tão macio, o gozo o gesto.
Movendo mansamente já ressurgem
Os medos deflagrados; sou teu resto...

Os brilhos dos teus olhos já refulgem
Nos sonhos que aos desejos eu empresto
E o corte tão profundo traz ferrugem
Na boca a sensação de um louco incesto...

Mas temo solitário em minha cama,
Que o vento que te rouba faz segredos.
Acende e vulcaniza toda a chama

Dormito lentamente no teu braço.
Vencido pelos trágicos degredos,
Agarro-me ao teu corpo e nem disfarço...



640


A pena vai expondo o coração
Do ignaro caminhante, um andarilho,
Que sabe ter apenas negação
Durante a tempestade que ora trilho.

Metástases dos sonhos, vida em vão,
Minha alma se contém neste espartilho
Da senzala e chibata, escravidão,
A sorte não permite outro estribilho.

No cerne da questão, antigo fardo,
Numa expressão temível, velho bardo
Dizia deste cardo no caminho.

Na verve de um poeta se desvenda
O encanto imaginário de uma senda,
Porém quebrando a taça; perde o vinho...



641


A perfeição do amor deveras lindo
Recende ao fogo ardente de um desejo
Que aos poucos nos entranha e vai fluindo
Causando intensamente o relampejo

No qual nós dois seguimos sem limites
Eterna procissão de gozos tantos,
Senhora de meus sonhos, acredites
Na força sem igual de teus encantos.

Intensa labareda a nos tomar,
Na força que não cede em fortaleza,
Nas ondas dos teus braços, bebo o mar
Seguindo passo a passo a correnteza

Deitando todo amor que existe em nós,
No gozo mais audaz, divina foz...

642

A plenitude feita em cada vôo
Em devaneios, sonhos, esperança.
O mundo em maravilha sobrevôo
Nas asas tão sublimes da lembrança.
Um canto de alegria quando ecôo
Depressa o sentimento vem, alcança.

Criança que se mostra intransigente,
Em tantas peraltices, faz a festa,
Amor vai inundando a toda gente,
E dele- Amor, amor na certa gesta
Tornando-me verdugo e penitente,
A sorte de te amar, decerto atesta

A glória em perfeição, versos e risos,
Em passos mais profícuos e concisos...


643


O pleno caminhar em noite clara
Aonde este cenário bebe a lua
Minha alma muito além vaga e cultua
Gerando esta emoção na qual se ampara

A vida desenhando em tal seara
O todo num momento enquanto nua
A sorte se aproxima e continua
Marcando em consonância o que declara;

Invisto cada verso neste sonho
E sei do quanto possa e amor componho
Ousando dentro em nós felicidade

Vencendo os meus temores de um passado
E nele tão somente o que ora invado
Presume o que deveras dome e brade.

644


A plenitude intensa em que me abasto,
Encontro em nosso amor, força inaudita.
O quanto que tivera em vã desdita,
No olhar que se mostrara vago e gasto.

Amor em fantasia tem seu pasto
E aplaca qualquer sombra da maldita
Solidão. A esperança que me incita
Fazendo da alegria o seu repasto.

Eu sinto o teu perfume em cada flor
Regada pelos sonhos prazerosos,
Vivendas e canteiros; nosso amor

Em lúdica emoção, se faz presente.
Ao vislumbrar delícias, risos gozos,
Percorro a velha senda, novamente...

645


A podridão do corpo começara,
Sentira o gosto azedo, fecalóide,
As mãos se decompunham, já notara.
Do cérebro porções dum alcalóide

Esparramavam pelo chão... U’a vara,
Logo atravessaria seu mastóide,
Deixando à mostra tudo que almoçara.
Sentia-se zumbi, talvez andróide.

Mas nada de chegar a morte santa,
Redentora de tanto sofrimento.
A cabeça rodando, se levanta;

Cai em seguida. Pútrido, seu mento
Abrira tantas fendas... Ele canta
Incrivelmente, goza co’o tormento!


646

A poesia, insana companheira
Espalha em simples versos, emoções.
Transmuda, num segundo, as ilusões,
Nas mãos desta terrível feiticeira.

Às vezes diversão como bandeira,
Em outras; sofrimentos e paixões,
Loucuras em gigantes proporções;
Tocha que nos perdendo nos inteira.

Amarguras e risos se sucedem,
Em tresloucada estrada, maestrias.
Os versos muitas vezes não concedem

Senão estas verdades incompletas,
Alquímicas palavras, mil magias
Nos dedos tão sensíveis dos poetas...


647


A poesia é fardo que escraviza
Enquanto nos liberta; aprisiona
Na mão que nos afaga ou abandona
No forte vendaval, na mansa brisa.

A velha companheira que exorciza
Deixando o sentimento vir à tona;
Uma alma que se espelha ou mesmo clona
Deveras verdadeira ou imprecisa.

Detona o que há melhor dentro de mim,
De antigos dissabores o estopim
Que gera tempestade e calmaria.

Vivendo sob esta égide cruel,
Do Inferno ao purgatório, chego ao céu
Guiado pelas mãos da poesia...


648


A poesia é o vero Sal da Terra,
Traduz tanta alegria, ou dor imensa.
O quanto se percebe alma descerra
Na boca que hoje eu beijo, a recompensa.

Valsando entre as estrelas versos soltos,
Marcados os compassos desta dança.
Os mares que se foram já revoltos
Conhecem calmaria na esperança.

Não quero soluções definitivas
Nem mesmo a falsa luz de vaga-lumes
Do quanto tantas vezes dás e privas
Espalhas os diversos, vãos perfumes.

Apenas poesia não traiu
O sonho que se fez manso e gentil


649

A poesia está, deveras, morta;
Eu não tenho esperanças que reviva
A musa dos meus sonhos está cambota,
Destino de quem fora sempre altiva...

Se nem a solidão bate na porta,
Meu coração batuca e já se esquiva,
A lua está sem brilho e morre torta.
O beijo se envenena na saliva

A moça que eu queria se esquivou;
O resto dos meus sonhos? Aposento.
O coração depressa se entregou.

Amores que passaram tão estóicos,
Amor-bradicardia, bate lento...
Matando decassílabos heróicos!


650


A poesia vive da beleza
Não importando a forma nem tamanho,
As ordens que chegarem já de antanho
Não significariam que há destreza.

Servirmos tal banquete em nossa mesa,
É sempre, com certeza um belo ganho,
E quando no luar claro me banho,
Desvendo a mais perfeita fortaleza.

Dedilhas a canção com maestria,
Embora não mais beba da harmonia
Minha alma dança ao som de teu poema.

Palavras que transformas e lapidas
São pérolas por certo bem urdidas,
Usando em perfeição tão belo tema...


651

A poesia, amada, nunca morre,
Assim como esse amor que imaginamos.
Quando a tristeza vem, amor socorre
E nos refaz intensos qual sonhamos...

Na rosa da emoção, a poesia,
Eterna companheira dos amantes,
Nos versos que entoamos; fantasia,
Que forra o nosso peito, por instantes...

O brinde que fazemos ao amor,
Em cada verso vivo, nossa meta,
Permita que se diga ao sonhador
Da profunda ilusão de ser poeta.

A rosa que nos guia, essa aliança,
Eternizada sempre na esperança!



652


A pomba da esperança me deixou
Sozinho neste cais, ao vento breve,
O meu canto impreciso, o que restou
No tempo que se foi, que a dor não leve
O gosto desta vida que amargou
Somente teu carinho que me enleve

E salve desta errante caminhada
Por entre mil jazigos da saudade.
Depois de tanto tampo quase nada
Do que tive na vida foi verdade,
Somente a mão divina abençoada,
Que trazes companheira em amizade...

Meu coração que estava assim sem rumo,
Depois de te saber, acerta o prumo...



653


A porta às armadilhas, cedo cerra.
Quem tem um sentimento igualitário
Amor vai se elevando sobre a Terra,
Além do que eu pensara; imaginário

Sonho aonde esta glória assim encerra
Um canto mais audaz e necessário.
No amor a solução pra triste guerra,
Vencendo em calmaria um adversário

Que contra a sua força não podia
Entregue sem defesas, fantasia
Vislumbre mais sublime em alto plano.

Alegrias em vôos plenos benditos
Percebem mansos vales; tão bonitos,
Lançando-se sublimes, do altiplano.



654

A porta da ilusão pra sempre aberta
Deixando a claridade penetrar,
O coração vazio já desperta
E pede nova chance de sonhar.

De tudo o que vivi, agora alerta
Minha alma se deixando navegar,
Fazendo de teu corpo uma coberta
Realça esta vontade de ficar

Ao lado de quem quero tanto bem,
E sei que me deseja assim também,
Sabendo do que triste caminhei

Por isso minha amiga, vem comigo
Eu quero o teu amor, bem mais que amigo
Após as dores tantas que passei.



655

A porta do barraco permitia
Que apenas pelas fendas inda houvesse
O brilho que se molda como prece
E faz do meu viver alegoria.

Enquanto a porta, às vezes não se abria
O jeito foi tentar que inda viesse
Antes que a tempestade recomece
Aquela a quem teimoso eu já queria.

Resisto, mas não posso mais negar
Que as ondas justificam que este mar
Não seja tão somente revoltoso.

Se obuses inda trago em minhas mãos,
Não quero mais ouvir nem mesmo irmãos
Ferino e tolamente caprichoso...



656

À porta do juízo, meus pecados.
No precipício louco sigo em frente...
As hastes que me prendem nos costados,
Um grito agonizante faz demente.

Chibatas dilaceram. Amputados;
Braços e pernas. Vou morrer, somente...
Os olhos tento ver, estão furados.
As danças dos fuzis na minha mente...

Primeiro que sangrar delira a gralha.
O rosto dilacera. O pau de arara.
Não há um vencedor nessa batalha...

-Respira esse infeliz, vai bater mais!
Um teimoso sorriso em minha cara
Como se perdoasse Satanás!

657

A porta quando abrindo mostra a sala
Deixando a claridade entrar inteira
Enquanto na verdade tuda fala
Sorriso da morena mais faceira.

Mulher de coronel, o que me importa?
Vontade sem limites, não sossega,
A fome desejosa quando aporta
Caminha sem juízo, viva e cega.

Depois desta fartura sobre a mesa,
A noite, uma criança sem juízo,
A cama tão macia, sobremesa,
É tudo o que eu mais quero; o que preciso.

Enquanto o coronel, gordo, dormia,
Na cama da visita, uma folia...


658

A porta que fechaste, sem adeus,
Jamais alguém abriu, está trancada...
No mundo perseguindo os sonhos meus,
Depois de tanto tempo, nada, nada...

Meus olhos procurando por um Deus
Que possa me dizer de ti, amada,
Aos poucos se tornando mais ateus,
Se perdem sem ter lume, nesta estrada...

É duro este vazio que restou,
Depois de tanto tempo de ilusão,
Meu mundo sem sentidos se acabou,

Na porta que trancaste, sem por que,
Também aprisionaste o coração,
Que te procura sempre... Mas, cadê?



659

A porta que sonhara escancarada
Aos poucos se fechando nega a sala,
Antiga fantasia então se cala,
Minha pele se torna degradada

A face; a se mostrar tão enrugada,
Pesando com escombros minha mala;
Futuro neste instante nada fala,
Já vejo assim, o fim da longa estrada...

Outonos desfilando folhas mortas,
Fechando com certeza minhas portas,
Inverno se aproxima. Inevitável...

As sombras do que fui tomando a cena,
O resto de ilusão vem e envenena
Tornando o amanhecer quase intragável...



660



A porta vai se abrindo devagar
O teu perfume se afastando, lento.
Queria tanto te sentir... Amar
Se traduzindo em dor e sofrimento.

Réstias de luz roubadas do luar,
A janela batendo com o vento
É como se eu pudesse adivinhar
Pela porta entreaberta, este tormento...

Distante do calor de teus abraços,
Na cadência cruel, ouvindo os passos
Que descem pela escada deste prédio...

Escuridão retorna à minha vida,
Partiste sem ao menos, despedida,
Deixando a solidão, terror e tédio...


661


A praga da peleja me daria...
Um desejo mais torpe que me toma,
A manta que te cobre, fantasia,
O medo de viver contudo, soma...

A chuva que teimava já se estia,
Amores encontrei na velha Roma,
Na lei do que me importa, mais valia.
A boca normalmente vira estoma.

A plaga onde pelejo já distante...
Por ondas e por mares navegados...
Não quero nem permito tal instante,

Amores nunca foram revogados...
Nos beijos que me deste delirante,
O coração desmancha apaixonado....


662


A praga de um ciúme faz da gente
Que busca tão somente uma alegria
Virar na mão do amor um penitente
Que sofre sem descanso todo dia.

Se é marca de batom, ou se é perfume
A tralha da mulher não dá descanso,
Lá vem a baboseira do ciúme
Não deixa mais nem afogar o ganso.

Se a mulher do vizinho usa sainha,
Ou se requebra a bunda na calçada,
A culpa, com certeza é toda minha,
Assim pensa a jamanta desgraçada.

Depois ainda quer tirar o atraso.
Se dessa eu me livrar; jamais me caso!



663


A primavera está em cada olhar
Mosaico de perfume entre mil cores
No pólen traduzindo estes amores
Fecundação se espalha e ganha o ar.

O vento nos tocando devagar,
Balança sutilmente belas flores,
Matizes tão diversos nos alvores
Encanto sem igual, amor sem par.

Na brisa matinal, terra orvalhada,
A cada novo sonho outra florada
Permite que se entenda esta paixão

Tomando o sentimento nos transporta
Abrindo o coração, adentra a porta
Trazendo em alegrias, o verão...


664


A primavera traz as suas flores
Assim como se fosse um grande amor
Que nasce nas tempestas e nas dores,
Mostrando o seu perfume encantador

Amada, nos caminhos onde fores
Permita este momento sedutor
Do céu que se renova em belas cores,
Recende à primavera e cada flor.

No viço destas folhas se renova
A vida se acasala em primavera.
De todas as delícias que se prova

Depois do duro inverno que enfrentamos
Amor em novo amor renasce e gera
Quais fossem; no arvoredo, fortes ramos.


665


A primavera vestida em podridão
Regando cada flor com sangue e pus.
Jogado sem destino na amplidão
O barco da esperança aonde eu pus

O sonho que se foi pura ilusão
Pesando em minhas costas feito cruz,
Nadando em tanta merda em profusão
Cruzando por favelas, bala e obus.

A casa vai caindo em tanta orgia,
Política virando putaria
O povo se ferrando sem parar

Amizade amargando qual jiló
A gente sem ninguém caminha só
Enquanto elite come caviar...



666


A primeira vez nua, em nosso espaço;
Que tão distante, longe sem embaço,
Te desnudaste inteira, Terra amiga,
Cantávamos felizes, u’a cantiga...

Eras muito mais bela; nenhum traço
Desenhara-te linda assim; Picasso,
Nem Da Vinci, nenhum deles; me diga
Quem pudera pensar que a Terra antiga,

De beleza gentil e inesperada,
Fosse roubar teus olhos, minha amada;
Pois tão sedenta andava só de luz;

Assim, mal percebendo o triste blues,
Num momento de glória, apaixonada,
A Terra, qual teus olhos, tão azuis...


667


A produção de um belo e doce vinho
É feita com volúpia e com prazer,
No colo da morena eu já me aninho
No jogo de se dar e receber.

A vida que se fora como um fardo
Agora se permite em festa plena.
Quem dera se eu pudesse ser um bardo
E traduzir em versos tela e cena.

Mas ouça este repente que ora eu faço
Clamando o meu amor ao mundo inteiro.
Deitando calmamente em cada abraço,
Traduzo o que pressente um jardineiro

Que sabe o que deseja e sem ter hora
Prepara todo o solo desde agora.



668

A prova da inocência cabe à quem?
Parece que hoje as coisas se diferem,
Enquanto os holofotes interferem
História vai perdendo o velho trem.

Quem tenta, reconhece e sabe bem
Poderes tão diversos já se ingerem,
E as mãos do delator tudo sugerem
Atirando sem destino, matam cem.

Depois de ter a casa destroçada
Não sobra à pobre vítima mais nada,
Senão rezar bastante e de bom grado

Torcer para a verdade aparecer.
Porém é necessário, amigo, ter,
Mesmo inocente um ótimo advogado...


669


A pulga na cueca faz estrago;
Assim também o amor que a gente fez
Tomado por total estupidez
Morrendo sem sequer ter um afago,

Quem quer a mansidão de um calmo lago
Buscando tão somente a placidez,
Esquece no caminho a lucidez
Perdendo esta ilusão que ainda trago.

O fato é que o amor já se estropia
Enquanto a gente mata a fantasia,
Quem vive da emoção, nisto não peca.

Mas tendo algum problema pela frente,
É necessário sempre que o enfrente
Senão vira dinheiro na cueca...



670


A pústula explodindo em minha pele,
O rastro dos demônios que carrego
À louca procissão que me compele,
As lutas mais insanas, morrendo ego.

Expondo o que restou já decomposto,
Alívios; não terei, nem os mereço.
Insalubres; os pântanos do agosto,
Eterna sensação de um vão tropeço.

Tenazes no pescoço, mil tentáculos,
O crânio esfacelado expõe o nada.
A morte ao se mostrar, traz espetáculos,
A fonte dos prazeres decifrada

E o vento que balança o coqueiral
Espectros num maligno ritual...


671


A puta cocainômana se vende
Nos bares e botecos dos ricaços.
O corpo apodrecido pouco rende,
Do quanto já foi belo, sequer traços.

Enquanto um baseado a vaca acende
Cigarros espalhados pelos maços,
A maquiagem borrada enfim se estende
No rosto destruído por inchaços.

A noite não tem fim sequer juízo,
Viagens por inferno e Paraíso
Mecânicos orgasmos simulados

E um corvo crocitando em ironia
Na carne destroçada faz sangria...



672

A puta mais gostosa, deusa e musa,
Saciedade plena e garantida,
No fogo insaciável assim me usa,
Fogosa sensual e decidida...

Rasgando a tua roupa, tiro a blusa
Magnífica vadia que despida
Sem medos, sem pudores não se escusa
Quando ávida mergulha destemida.

Tua xaninha em gozo umedecendo
Enquanto cada ponto percorrendo,
Explode-se em orgasmos divinais.

Te quero bem safada, e assim sacana,
Cadela sensual e soberana
Desejos que se buscam sempre mais...



673


A pútrida figura que caminha
Sem rumo pelos ermos do passado,
Num gesto viperino acalentando,
A alma perambula vã, sozinha.

Saudades do que fomos é só minha,
Em outros braços vejo acorrentado
O amor que se perdeu em puro enfado,
Migrantes esperanças, andorinha...

No intuito de tentar ser mais feliz,
O verso se tornando meretriz
Entregue ao mais completo desespero.

O corte mais profundo adentrando a alma,
Nem mesmo uma ilusão ainda acalma,
A morte servirá como tempero...


674

A pútrida figura toma a cena,
Esvai-se entregue aos vermes tão somente.
Na fúnebre paisagem se pressente
A mágica da vida, intensa e plena.

Tumba pacificou quem envenena
O torpe transformado em complacente
A víbora escondendo cada dente
Serpente expondo a face tão amena.

Memórias seletivas negam trevas,
Das glebas eternais que agora cevas,
A bela floração de lírios, cravos.

Quem nunca teve amigos, só escravos,
Matando em voz solene, a fantasia
Demonstra, finalmente, serventia...



675

A pútrida lembrança do que fui
Ao esgotar meu tempo, esgoto exposto.
O medo de viver ainda influi
E cospe esta saudade no meu rosto.

Quem não conhece o templo e assim intui
Colhendo do que planta, só desgosto,
Aos poucos cada passo em dores pui
E o fosso vai se abrindo recomposto.

Não meço mais palavras nem me calo,
Já sei aonde aperta um duro calo
E disso faço gozo e galhardia.

Amiga; nada mais trarei pra ti,
Andando sem destino, eu me perdi,
Apenas sobrará u’a campa fria...


676


A quem por tantas vezes quis liberto
E vejo rastejando pela casa,
A vida no vazio não se embasa,
Distante muitas vezes é incerto

Se nada vejo enfim quando eu desperto,
A chama se perdeu e apaga a brasa,
Sozinho, nem a glória mais me apraza,
De trevas eu prossigo recoberto.

Carcaça carcomida pelo tempo,
Vencido por terrível contratempo,
Encontro no final alagação.

A noite que se fez deveras fria
No terremoto mata a poesia,
Não deixa nem escombros pelo chão.


677

A refeição servida é sempre lauta
Enquanto amor for regra, lei e norma,
Felicidade nunca sai da pauta
Um gozo interminável já se forma

Meu barco não espera capitão,
Apenas um teimoso timoneiro
Tomando desde sempre a direção,
Coração se mostrando por inteiro...

Os dias em carinho assinalados,
Superam qualquer treva desumana,
Os olhos nestes mares navegados
Permitem nova senda soberana;

Caminhos que distantes percorri,
Encontro o porto, agora. Está em ti...


678



A rima que se faz do sonho, arrimo,
Que uma expressão pacífica transtorna,
Além do que decerto tanto estimo,
Por vezes me maldiz, noutras me adorna.

Tornar minha palavra bem mais morna,
Às vezes não condiz com o que primo,
Na fúria em que este verso ora se torna
A velha insegurança traz o limo.

Desdigo a poesia em que me farto,
Usando como afago a dor do parto
Que embora fatigante, me sustenta.

No vago em que procuro inspiração,
A amarga insensatez da solidão
É dos meus versos tolos, a placenta...



679


À rosa debruçada na janela
Eu faço deste verso uma homenagem,
Da mesa vou guardando a rara imagem
Que a música divina me revela.

O pensamento solto, toma a sela
E voa até tocar esta paisagem
Chorinhos, cavaquinho, uma visagem
Na qual o sentimento já se atrela.

Tocado pelo sonho de um menino,
Poeta em redondilhas doura a cena.
No canto em tanto encanto me alucino,

E bebo cada gota que entornaste
Nos céus da poesia, doce e plena,
Que com o teu lirismo emocionaste.


680

A rosa decomposta no jardim,
Em ventos desfolhada, na janela.
Mostrando o que sobrou do amor em mim,
Servido sem talher à luz de vela.

Do couro verdadeiro sobrou brim,
O conto do vigário se revela
No falso do batom mais carmesim,
A boca que beijava não é dela.

No gesto mais discreto silencia
O resto mais completo que esperei.
Se empresto meu discurso em fantasia

Queimei os seus retratos por desfeita.
Na cama em que cansado, eu esperei,
Agora vem mansinha e assim se deita.


681



A rosa delicada da esperança
Transborda-se em perfumes e desejos.
No gesto tão bonito, uma aliança
Se faz na profusão de doces beijos...

Regada com carinho e mansidão,
Não deixa que os espinhos te maltratem,
Na rosa carmesim, a tentação
De termos os delírios que nos atem.

Semente que brotando gera a planta
Depois de certo tempo, vive em flor,
Que o verso do poeta sempre canta,
Em todos os acordes de um amor...

Cuidando desta flor, tenho a certeza
De cultivar assim, tanta beleza!



682



A rosa desabrocha em podridão
Molhando o meu jardim em sangue e riso,
Bebendo do veneno provo o não
E vejo a morte vindo em cada aviso.

O toque em gargalhada é mais preciso
Na garatuja feita coração.
Porém amor prendendo em alçapão
Não deixa nem resquícios, vai conciso

E fere em fero corte, crava as garras,
Mas vejo em suas mãos doces amarras,
Respiro suas águas bebo o mar,

Salgando esta delícia dos desejos
Luxúrias em carícia esqueço os pejos
E vejo a maravilha de te amar...


683


A rosa destinada para mim
É dona de um perfume inebriante.
Bem sei quanto me encanta estar assim,
Nos braços desta flor tão deslumbrante.
Vivendo neste sonho sem ter fim,
Te quero minha amada, a cada instante...

Eu quero te enlaçar neste momento,
Beijar a tua boca, flor perfeita.
Sentir o teu carinho, doce vento,
Tu para mim, bem sabes foste feita.
Em todo sofrimento és meu ungüento.
A rosa perfumada aqui se deita

E vamos nesta noite de verão
Tragarmos toda a luz desta paixão...


684

Ouvindo a voz do vento
Decerto me chamando
Ao dia bem mais brando
Aonde a paz eu tento,
Viceja o pensamento
E sei do passo quando
O mundo se moldando
E nisto um raro alento
Vencer os meus temores
E seja como fores
Verás além o brilho
Da estrela que nos guia
Dourando a fantasia
Enquanto em paz eu trilho.


685

A rosa em seus perfumes sabe bem
Que espinhos fazem parte de seu ser
Assim como o ciúme, também tem
Pode de seduzir e enlouquecer.

Saudades tantas vezes quando vem,
Mistura o sofrimento com prazer.
Sem teu amor, querida, eu sou ninguém,
Ajuda-me a sorrir, sonhar, viver...

Não deixe-se levar por este medo,
Entendo, mas não posso permitir
Que a vida nos transforme desde cedo

E venha causar dor em quem desejo.
No vento que te roça, vem sentir
A mansidão em fúria deste beijo...



686

A rosa mais bonita do jardim
Durante a vida inteira, eu procurei,
Estrela vai brilhando dentro em mim,
Rainha deste sonho, sou teu rei.

Depois de tanto tempo encontro enfim,
A deusa que em loucuras tanto amei.
História deste amor chegando ao fim
Vivendo o Paraíso que sonhei.

Porém daquela rosa em perfeição
Apenas farto espinho e solidão,
Os olhos abaixando volto só,

Escondo o meu olhar de todo mundo,
Reinado não durou nem um segundo.
Mas peço, por favor, não tenha dó!


687


A rosa maltrapilha não sabia
Dos meus desejos loucos, sensuais,
Enquanto se entregando à poesia
Mais se afastava; tola, deste cais

Quem sabe do que quer tanto porfia
Lutando até chegar aos ideais,
Aos espinhos, minha alma resistia
Vencendo os desenganos usuais.

Porém a maltrapilha viu-se bela
E a rosa caprichosa e feminina
Mudando num instante sorte e sina

Volúvel maravilha se revela
E foge desdenhosa, do jardim,
Desmoronando o resto que há em mim...


688


A rosa no jardim,
Você em minha cama,
Felicidade assim,
Acende sempre a chama

De quem sonhou por fim,
Com chuva, mel e lama,
Bebendo até no fim
Amor que tece a trama

Felicidade espreita
Mas vem, decerto, inteira,
A boca insatisfeita

Procura por roseira,
Não me faça desfeita,
Vem logo, companheira...


689


A rosa percebendo quem cuidou
Com tanto esmero deste meu jardim
Em suaves perfumes me mostrou
O que guardo deveras dentro em mim.

A mão de quem em sonhos esperou
Delícia dos prazeres teve enfim
O gosto delicado que entranhou
A boca feita em rosa carmesim...

Sentir o doce aroma penetrando
Pelos umbrais da casa, em vento brando
Permite que se creia: sou feliz!

O campesino bruto já se amansa
Envolto pelos raios da esperança
Colhendo o roseiral que sempre quis...


690


A rosa quando prosa me maltrata
E traz nos seus espinhos um veneno,
Que corta e me invadindo, me arremata
E deixa o coração, triste e pequeno...

Fascínio no sorriso da menina,
Eu sinto e não renego o sentimento.
No brilho deste olhar que me domina,
No cheiro do perfume solto ao vento...

Trazendo uma alegria sem medida,
Um ácido sorriso que me encanta,
Mostrando uma razão à minha vida,
Por isso essa alegria, tanta, tanta...

Menina, não és rosa, disso eu sei;
Porém traduzes tudo o que eu sonhei...



691

A rosa que em néons traz os matizes
Supremas aquarelas da esperança.
Projeta no infinito a bela dança
De ternos corações, seus aprendizes.

Enquanto em luzes fartas tu me dizes
Do quanto amor se dá pra quem alcança
A força incomparável da aliança
Vibrando no poder dos chafarizes.

Receba o meu carinho, meu afeto,
Nos vértices do sonho eu me completo,
Tangenciando estrelas que ora trago

Abrindo o peito entranhas rubras cores
Cevando com carinho as belas flores
Fazendo numa oferta, imenso afago...


692


A rosa que esperavas, a mais bela,
Amarga esta ternura tão antiga,
Enquanto a solidão já se revela,
O vento da saudade desabriga.

Pintando em cores gris, divina tela,
Perdida entre lamentos, cada briga
Matando uma emoção. Desta aquarela
O amor, em agonia, já periga.

Dolores, o teu nome traduzia
Um mar de tão sublime fantasia
No qual eu sigo imerso e te ofereço

Desde a primeira estrela que vier
À rosa mais perfeita. Uma mulher
À qual num verso triste eu agradeço...



693


A rosa que te enfeita e tanto ampara
Espalha o seu perfume em nossa casa,
O tanto de prazer que nos abrasa
Tomando cada sonho nos aclara.

No incenso de minha alma, o que buscara,
A vida na verdade não se atrasa
Se amor em mansidão a glória embasa
Mudando os velhos ventos escancara

A porta da alegria e da esperança
Sabendo desde sempre da mudança
Não temo mais sequer velhos espinhos.

Bebendo da ilusão os caros vinhos
Não vejo após a curva desta estrada
A sorte qual pensara, destroçada...


694


A rosa que trouxeste em pensamento
Vibrando como a flor mais desejada.
Sabendo que viver cada momento
É ser por toda a vida mais amada...

Aromas que procuro em cada flor,
Recendem nesta rosa em meu jardim.
Mostrando que a beleza deste amor
Ressurge de repente sempre, enfim...

Eu quero este perfume que exalavas
Nas horas mais divinas minha rosa...
Vulcânicas delícias, tantas lavas,
Abriam tuas pétalas, vaidosa...

Mas sinto que perdi os meus caminhos,
Nas garras tão cruéis dos teus espinhos...


695


A rosa sedutora bem sabia
Que tinha mil perfumes delicados,
Amores que em amor se delicia
Das rosas iluminam belos fados...

Um louco colibri ao ver a rosa,
Em versos dedicou o seu desejo
A rosa por sinal tão vaidosa
Ao pobre colibri negou um beijo...

De tanto que sofreu o pobre ser,
Que enlouquecido vive sem ter rumo.
Agora a sua sina é só viver
Em busca dum amor que lhe dê prumo...

Procura inutilmente por amor,
E beija, sem parar, basta ser flor!


696

A rosa solitária no jardim,
Sabendo ser tão bela não notara
Que mesmo uma esmeralda nobre e rara
Não pode ser feliz, vivendo assim.

Um dia ao perceber que amor, enfim,
Precisa de outro alguém que manso ampara,
Além do que a coitada em vão pensara,
Divina criatura carmesim...

Ao vê-la tão tristonha, um colibri
Beijando com cuidado a deusa nua
Parece, delicado, que flutua

Chegando sutilmente vem a ti
Dizer que ser feliz não custa nada,
Quem ama se permite ser amada!



697

A rosa sonhadora, tão bonita,
Perfuma esse jardim, tão delicada.
A rosa assim querida, pois bendita,
Já sabe que está sendo muito amada...

A rosa que se entrega, mansamente,
Depois de tanto tempo de botão
Aberta a luz da vida, totalmente.
Percebe o louco vento da paixão...

Jardim em que nasceu, rosa tão bela,
Depois de tantas noites sem perfume;
No aroma desta rosa, que amarela
Se avermelha na dor deste ciúme...

Mal sabe que o rosal todo flutua,
Ao ver sua beleza, mansa e nua!


698


A rosa tão vaidosa quão ciumenta
A fera que a pantera tanto esconde.
Paixão quando demais tudo arrebenta
O mundo, vou perdendo, mas aonde?

São fases que se mudam com a lua
Poeta nunca soube quem eu sou,
Se marco meus caminhos alma nua
Nos marcos sinto tanto mar eu vou...

Eu quero dessa rosa tal perfume
No gozo desta fera meu prazer
Persigo qual falena brilho e lume
No fogo, com certeza irei morrer...

Mas deixe que eu te cuide, minha amada.
Que a noite sem amor, é sempre nada...


699


A roupa que trazias vai jogada
Num canto deste quarto onde estivemos.
Varando sem ter tréguas, madrugada,
Do amor que tantas vezes nós fizemos...

Eu me lembro de teu corpo sobre o meu
Nesse jogo que excita e dá prazer
Do tanto que sonhamos, flor morreu,
Regada em outras mãos, quis esquecer...

Mas tenho uma lembrança bem feliz
Do tempo em que tivemos nossa lua.
Agora que embrenhaste outro matiz,
A noite sem ter lua continua...

Mas sei que amanhecendo um outro dia,
De novo vou amar a poesia...



700


A rua escura e fria, sem ninguém...
Vontade de chorar o tempo inteiro.
Chamando por teu nome, nada vem.
Somente o vento frio é companheiro.

Sozinho, tão distante do meu bem.
Amor que foi-se embora, traiçoeiro.
Quem dera se eu tivesse amor de alguém,
O sonho então seria verdadeiro.

Mas essa dor cruel, essa agonia
Matando o que restou de uma ternura,
Mascara de tristeza a fantasia

Da vida que sonhara tão amiga,
Agora, morre envolta na amargura,
Ternura que acabou, demais antiga...

Homenagem à DOLORES DURAN



701

A saudade cruel, me trucidando...
Não permite que te fale, calmamente...
Por mares que não tive, navegando,
Saudade vai cortando, cruelmente...

A noite que se inunda vem chegando,
Trazendo teu veneno de serpente
Amores que vivemos, vão passando.
Me restam míopes olhos, peço lente...

Porque chegaste assim, noite nublada?
Relâmpagos afagos e coriscos...
A voz que te clamava, tão cansada,

O medo de morrer me deixa triste...
Saber de nossa vida, de seus riscos,
Saudade devorando, não desiste...


702

A saudade desfralda abrindo uma asa
Sobre quem se afastou da vida há meses.
Encaro estas derrotas e reveses
Queimando o coração em forte brasa.

Lembranças que ficaram desta casa,
De amores que já foram siameses.
A dor que no começo vinha às vezes
Agora a todo instante já me abrasa.

A um tempo mais feliz eu me arremeto
E faço deste verso uma mortalha,
Quartetos e tercetos de um soneto

Cortando minha pele, na verdade,
A morte, sorridente já retalha
Um coração imerso na saudade...


703


A saudade é dolorida,
No meu peito deu um nó,
Depois desta despedida,
Coração andando só,

Na longa estrada da vida,
Vou comendo tanto pó,
Morena na despedida,
Foi-se embora sem ter dó.

A saudade traz apuro,
Maltratando, não descansa,
Meu amor pra sempre eu juro,

Nunca tirei da lembrança
Nosso amor, que foi tão puro,
Mas morreu cedo, criança...



704


A saudade é tormento, esmaga o coração...
Procura pelo porto, encontra podre cais...
Saudade dolorosa em busca do perdão
Esbarra na vontade, e vai pr’a nunca mais...

Saudade que me corta, em tanto sonho vão,
A resposta, sempre ouço, a mesma, pois jamais
Saudade terá mesa em toda essa amplidão.
A dor dessa saudade a saudade me traz...

Recordo-me do beijo, amor que já morreu...
O céu que sempre brilha; invernoso nublou.
A noite que era clara e já se escureceu

Demonstra quem eu fora e nunca mais serei,
O tempo que sonhava e que já se acabou
Foi um tempo feliz onde amar era a lei!



705


A saudade faz estrago
Disso eu sei e até garanto,
Porém tendo um manso afago
Eu encontro um novo encanto

Quero placidez de um lago,
Nos meus olhos? Nenhum pranto,
Pois o amor, divino mago,
Da saudade nega o manto.

Sendo assim, quero o teu beijo,
Teu carinho sem igual.
Vem matar o meu desejo,

Esquecendo da saudade,
Do prazer fazendo a nau
Aporto na liberdade...
Marcos Loures



706

A saudade fez estrago
Feito um grande vendaval,
Do trigal nem mesmo um bago,
Resistiu ao temporal.

Meu amor sem um afago
Naufragou saveiro e nau,
Se oceano vira lago
Só restou do mar, o sal.

E a mortalha que carrego
Sem descanso todo dia,
Mesmo vendo fico cego

Nem consigo reparar
Na beleza que se via
Numa noite de luar...



707

A saudade me clama, (é tão teimosa)
Não se esquece jamais meu sobrenome...
As bênçãos divinais, canteiros, rosa,
Meu tempo indefinido... Tudo some...

Saudade se demonstra gloriosa
Baixinho me chamando pelo nome.
Os marcos do que tive verso e prosa.
Meu fígado, meus olhos, cedo come...

Já vem despetalando o coração.
Afaga-me qual fora um pobre cão.
Alaga-me nas lágrimas que mente...

A vida se resume no perdão,
Saudade vai chegando, lentamente...
Meu mundo já desaba, de repente...


708

A saudade me diz tanto
Deste bem que eu já perdi
Meu amor em teu encanto
Diz do sonho que eu vivi

Quando à noite vem o pranto
Eu me lembro então de ti,
Cada estrela tece um manto
Solidão enfronha aqui

E nos braços desta lua
Adormeço esperançoso
Quando o sonho continua

De saudades, minha rede,
Teu olhar maravilhoso
Resta apenas na parede...

709

A saudade me tomando
O tempo quase não passa,
Aos poucos me matando,
Nem sorriso mais disfarça

Eu procuro e não sei quando,
Esperança se esvoaça
Meu castelo desabando
Se perdendo na fumaça.

Velhos sonhos que se foram,
Meus sorrisos de ironia
Tão somente me decoram

Que me dera se eu pudesse
Ter de novo a fantasia,
De um amor que não se esquece...



710


A saudade valoriza
Cada dia que vivi,
Tempestade vira brisa
Quando estou perto de ti,

O teu verso já me avisa,
Estarei depressa aí,
Na palavra mais concisa
Dos teus beijos me embebi.

Venha ser minha sereia
Que serei seu Odisseu,
Teu amor bateu na veia,

Coração enlouqueceu
Tua fome me incendeia
Eu serei, depressa, teu..



711

A seca do passado, enfim, deserto
E sinto a chuva mansa e promissora,
Prepara todo o solo e desde agora
Terei felicidade aqui por perto.

Quem veio de um caminho tão incerto,
Já sabe valorar a redentora
Presença de quem ama. A vida aflora
Tornando o coração bem mais experto.

No olhar de brilho farto, reluzente,
A maciez das mãos sobre meu peito,
Amor que assim domina toda a gente

Invade qual posseiro, benfazejo.
Felicidade plena é um direito
Trazendo a paz sincera que eu desejo.




712

A seca do passado, enfim, deserto
Ouvindo uma alegria em temporal,
Dos meus grilhões, agora eu me liberto
Na imensa fortaleza sem igual

Formada pelo encanto de teus olhos,
Deixando a solidão, adentro os sonhos,
Arranco dos caminhos tais abrolhos
Prevejo novos dias mais risonhos,

Sem ais e sem tormentas que me impeçam
De ter uma esperança, mesmo breve,
Os cantos mais sublimes recomeçam,
Felicidade chega e se atreve

Neste arco-íris tão raro de se ver
A fonte luminosa do prazer.


713



A seca nos meus olhos, puro acaso.
Seara onde se ceve uma ilusão,
Por falta de carinhos, morre o prazo,
Das trevas de minha alma, lavação.

Humanidade segue para ocaso,
E disso estou bem certo. Nega o pão
Destroços na colheita quebram vaso,
Ao desertificar, quer plantação

Os olhos d’água secos, cadê lágrima?
Não venho te falar somente em lástima
Esgrimo com palavras, vale nada...

Apenas distrações de um sonhador,
A par do descaminho, perco o andor,
Na procissão amarga, anunciada...


714

A seca se derrama nos meus solos,
Ausência de motivos pra viver.
Cativas ilusões, negando colos,
Misturam agonia com prazer.

Agônica manhã se prenuncia
Fazendo deste sonho, um pesadelo,
A boca que destrói decerto ungia
Rasgando minha pele; frio gelo.

Atrocidade inerte e sem limite
A marca da pantera se entranhando,
Amor no qual nem mesmo se acredite
Aos poucos meus caminhos sonegando.

A par da estupidez de cada verso,
Não vejo outra saída, vou disperso...



715



A seca tomou toda a plantação
De tudo o que cevei, nada brotou,
Apenas o vazio enfim restou,
Deixando este sabor de negação.

Abordo cada sonho e o mesmo não
Repete o que na vida se escutou,
O barco com certeza naufragou,
O cais se transformou, pura ilusão.

Mas tento novamente, não desisto,
Qual fora um insensato, inda resisto
E tento novamente ser feliz.

A boca que hoje beijo não me quer,
Desejos caprichosos de mulher,
Vontade de viver, vida desdiz...



716

A sede de viver, querida amiga,
Permite em labirinto uma saída,
Deixando que esta estrada enfim prossiga,
Porém nos marca sempre pela vida.

Sobrevivi também à dura queda
Embora com fraturas, luxações.
Nem mesmo uma tristeza eterna veda
Os olhos de quem vive as ilusões

Como se fossem náufragos perdidos
Nos mares mais distantes, nos atóis.
Os sonhos tantas vezes são urdidos
Apenas como simples girassóis.

Bebendo, neste instante, num momento,
A vida como fosse um cata-vento.



717


A sede quando é muita, saiba disso,
Não deixa mais o cabra descansar.
A flor mais delicada ganha viço
Enquanto uma vontade quer matar.

Das águas que busquei nenhum sinal,
Porém uma morena deslumbrante
Com rebolado intenso e sensual
Tomou todo o cenário num instante.

Embora não quisesse ser só minha,
Fingindo que uma vez não fosse nada
Deitando em sua cama, assim sozinha,
A festa foi durante a madrugada.

Pois se no Tororó tal moça achei,
No mesmo Tororó eu a deixei...




718


A seiva extravasada traduzindo
Desejo magistral de ser feliz.
Aos poucos teu prazer vai esculpindo
Na forma desejada que mais quis...

Desnudo tua pele, mansamente.
E vejo em teus anseios, tal nudez
Transpiras neste afã mais indecente
As tramas nessas transas que se fez...

Avanças mansas loucas mais tenazes
Refletes tentação a cada espasmo.
Pressinto tais vontades mais audazes
E sinto a contração do amor, vou pasmo...

Na língua que percorre o paraíso,
As estocadas no ponto mais preciso...



719


A sensação terrível de uma morte,
Arrasta em turbilhão meu pensamento,
O tempo em solidão passando lento
Trazendo esta amargura feita em corte.

O sonho engravidado que se aborte
Causando, sem defesas o tormento
Por vezes tanto luto e sempre tento
Coração imprudente perde o Norte.

Mas quando num chorinho bem marcado
O peito enamorado e tão chorão,
Transbordando alegria, traz esperança.

Mansamente num ritmo sincopado
Querendo essa gostosa sensação,
Convido-te, querida para a dança




720

A Serpe rastejante e caprichosa
Ao conhecer o fruto proibido
Sabendo ser mulher tão curiosa
Acende dos desejos, o sentido

E o homem, sem vontades, fascinado,
Devora o mesmo fruto sem pensar,
À morte se fazendo condenado,
Tentando ao próprio Pai, ludibriar

Negando ao Criador obediência
Expulso do Jardim; dista de Deus
E ao carregar em si tal penitência
Da luz se transformando em fartos breus

Sem respeitar enfim qualquer aviso,
Expulso desde já do Paraíso...

721



A seta que te entranha é mais gentil,
Penetra tua pele e chega ao fundo,
Vencido pelo amor em um segundo,
O mundo finalmente já floriu.

Coração sem juízo e vagabundo,
Escreve de maneira tão sutil
O campo constelar em pleno abril,
Mudando a direção, sou giramundo.

Não somo, nem divido, eu multiplico,
Não quero na verdade ser mais rico
Pois tendo tal riqueza em minha vida.

Do amor faço meu ouro e minha prata,
Na boca da morena e da mulata,
Encontro a minha vez já decidida...


722


A silhueta bela e tão esguia,
Em névoas sob as pratas do luar.
Num átimo tomando o meu sonhar
Entranha, num segundo, a fantasia.

O verso que decerto concebia
Beleza que inda tento conquistar,
Tornando mais suave o versejar
Fagulhas de ilusão ganhando o dia.

Descrente, tantas vezes, andei só,
Meus pés ainda trazem as correntes
Atadas quais grilhões, dura incerteza.

Quem dera se talvez tirando o pó
Pudesse perceber iridescentes
Manhãs a sonegar tanta tristeza...



723



A sina de quem sonha é o sofrimento,
Pensei durante tempos desta forma,
Porém a fantasia assim me informa
É chegado talvez; o meu momento;

E assim tal ilusão quero e fomento,
Fazendo deste encanto lei e norma,
E o velho coração crê na reforma
E trama com firmeza o novo intento.

Levando a minha vida deste jeito.
Cansei de ser escombro, ser rejeito;
Rejeito os estribilhos do passado.

Perfeito? Não pretendo nem o quero,
Que seja tão somente o mais sincero,
Diverso do que estou acostumado...



724


A sina de ser teu; agora aceito
E falo da vontade de te ter,
Recendes à ventura e ao bel prazer
Deitando bela e nua sobre o leito.

O jogo que começa a ser refeito
Regido pelas fontes do querer
Somando não concebe mais perder
E vive sem limites dá seu jeito.

Depois das ratoeiras espalhadas,
As caças passam ser ludibriadas
Jogando para as traças, fantasia.

Não sendo mais sequer um velho príncipe
Apenas me entregando, um vil partícipe,
Aos braços deste amor que me queria.



725


A sobremesa flamba em vera chama
Fecundando luares, trama o gozo,
Perdendo antigos rumos enquanto ama
Um sonho; farta vez, ambicioso.

Batalhas entre colchas e lençóis
Nas sedas e nas rendas, transparências
Penumbras esquecidas nos faróis
Dos ritos prazerosos, florescências...

Alabastrina senda em lua mansa,
Vestígios encharcando os cobertores;
Amor quando em desejos tem fiança
Transita entre caminhos redentores.

Vontade sem limites que proclama
Reflexos do luar sobre esta cama.




726

A sogra que me deste meu amor,
Desculpe, mas não serve para o gasto
Ao ver essa serpente me desgasto
E sinto, sou sincero, tanto horror.

O bicho sempre traz tanto terror
Não posso nem deixar solta no pasto.
Por todo amor que sei que é puro e casto
O peso que carrego é sem valor.

Um dia se morrer, pobre diabo!
Ao ver na velha todo o grande rabo
E a cara de fuinha da maldita

Sua alma vai ficar à revelia
Até que pobre Deus, com pena um dia
Ao céu carregará essa desdita!


727


A sogra que me deste
Querida; que suplício.
Não digo que ela é peste,
Azar ou precipício,

De negro se reveste
Que é por dever de ofício,
No caldeirão faz teste,
O bicho, este estrupício.

Porém tem as vantagens,
Depende do momento,
Às vezes redentora,

No trânsito em viagens,
Num engarrafamento,
Me leva na vassoura...



728


A solidão, quimera mais atroz,
Havia me legado ao sofrimento.
A boca da saudade, mais feroz,
Mordia cruelmente; esquecimento!

Distante de meu peito, ouço a voz,
Sincera e tão venal do meu tormento.
Sou rio que não sinto minha foz,
Destino me deixou, solto no vento....

Embora mais sincero que já fui,
O medo na verdade, contradiz.
Minha alma sofredora, vai perdida..

O tempo da existência nunca flui,
Sou pássaro ferido, qual perdiz...
Só me encontro feliz, se estás, Aída...



729



A solidão, terrível, mortuária
Se fez em minha vida, em triste treva,
Tragando toda a sorte numa leva;
Força descomunal e temerária.

Cantiga de um amor, tão solitária,
Matando uma esperança, olhar que neva
Por sobre um campo atroz, negando ceva
Tornando uma alegria relicária.

Porém, cedo chegou a calmaria
Trazida pelas mãos de uma mulher,
Depois que quase nada esperaria

Quem teve tão somente impaciência.
Da vida que se fez em penitência,
Já sonha com o dia que vier...



730


A solidão adentra em cada fresta
Inundando de lágrimas a casa.
Nos olhos revolvidos em tempesta
O tempo nunca passa e já se atrasa.

A brasa que se esvai em fogo lento,
Matando uma provável esperança;
Mergulho no vazio e sempre tento
Inútil sensação de uma aliança

Sem álibi que possa me salvar
Estendo os meus olhares na varanda,
A noite vai passando devagar,
O passo sem destino assim desanda

E tudo o que pensara ser feliz,
No esgoto se perdendo, contradiz...



731

A solidão ao ver um peito aberto,
Indefeso, viu logo um bom abrigo,
Porém meu coração anda desperto
Olhou pra solidão e: nem te ligo...

Olhando de soslaio e bem de perto,
Já preparou, sorrindo o seu castigo,
Meu coração por vezes bem esperto
Se adiantou, fugiu deste perigo...

A morena brincando no quintal
As coxas grossas na árvore subiu,
Neste desenho formoso e sensual,

Taquicárdico bate no meu peito,
Ao ver esta beleza ele se abriu...
Agora a solidão é dito e feito...



732



A solidão batendo na janela
Qual fora um vento frio que me invade,
Deixando para trás felicidade
Apenas o vazio me revela

Lembranças de um amor que ora distante
Na espera interminável, tal tristeza
Tomando o corredor invade a mesa
E tudo se transforma ao mesmo instante

Em que percebo um som que se aproxima
Falando da saudade de você,
O frio toma a casa e me alucina,

Procuro em minha volta, mas cadê?
Apenas teu retrato na gaveta,
A solidão se torna então, completa...
Marcos Loures



733


A solidão chegando no meu canto
Em prantos e torturas faz seu mote.
Sabendo que o amor precisa encanto
Na cama não há chama que me esgote.

Noturnos os desejos mais sedentos
Se adendos e barganhas eu desfaço,
Disfarço tantos óleos que sei bentos,
Nos dentes que mergulham no teu braço.

Amar demais não custa nem descarto
Embora vá rolando tão sozinho...
Aberto o coração ao novo parto,
Aguardo, calmamente no meu ninho...

Não temo a solidão, é companheira,
Embora eu te prefira a noite inteira...

734


A solidão cruel, é tudo o que receio.
Não quero pr’esse amor, noites negras, escuras.
Não quero a caminhada em estradas mais duras.
Na salvação da lua, amor brilhante, creio.

Viver manso calor deitado no teu seio.
O gozo desta vida, eu sei que me asseguras,
O nosso amor foi feito em torno destas juras.
É doce compaixão, o fim, início e meio...

Amor que sempre brilha em noite enluarada
Vereda que prossegue em doce madrugada,
Nos campos do meu sonho; aurora bela, traz...

Não trago mais a mão disposta, fosse garra,
Amor nos trouxe o laço em leve e frouxa amarra.
Márcia, na mão macia, a promessa de paz!


735


A solidão devora enquanto espanta
Não deixa mais resquícios, me incendeia,
A força de sonhar, outrora tanta
Morreu ao penetrar em fria areia.

Somente a dor da vida se agiganta
E traz a sensação de estranha teia
Que invade a noite imensa e desencanta
Portando uma estranheza invade a veia

E trama uma tristeza em letargia,
Que nada neste mundo vão sossega,
No mar da solidão em dura entrega

Distante do raiar de um belo dia,
Nem mesmo uma ilusão em poesia
Permite claridade em noite cega...




736


A solidão é fera e me devora
Não permitindo um passo em destemor.
Trazendo estas angústias que de outrora
Acompanharam sempre imensa dor.

O tempo é vagaroso e se demora
Fazendo o coração ser receptor
Das lágrimas vertidas quando chora
O peito em desalinho, sofredor.

A solidão; tempero de meu karma
Encontra na esperança um maremoto.
Que sabe onde ela oculta medonha arma

E traz por lenitivo uma morena
Que trama em alegria um bem remoto,
Mas que ao fim da tarde já se acena...




737

A solidão é gume de um punhal
Cravado nas entranhas dum amor.
Por vezes o seu corte traz fatal
Desilusão em forma de temor.

Bem longe do que mostra ser normal,
Calando a voz de um frágil sonhador,
Carrega bem guardado no bornal
Espinhos. Aos milhares, matam flor.

Amiga da mentira, irmã da intriga,
A solidão é fera e sem pudor.
Criando com a morte, forte liga,

Com traços de total iniqüidade,
Somente um sentimento salvador,
Nos cura deste mal: uma amizade!



738


A solidão é gume de um punhal
Cravado nas entranhas dum amor.
Por vezes o seu corte traz fatal
Desilusão em forma de temor.

Bem longe do que mostra ser normal,
Calando a voz de um frágil sonhador,
Carrega bem guardado no bornal
Espinhos. Aos milhares, matam flor.

Amiga da mentira, irmã da intriga,
A solidão é fera e sem pudor.
Criando com a morte, forte liga,

Com traços de total iniqüidade,
Somente um sentimento salvador,
Nos cura deste mal: uma amizade!
738



A solidão é o nada numa soma
E desse nada eu quero uma distância
O verso que se faz sem elegância
Adentra na minha alma, ganha o estroma

O quanto a fantasia já me toma
Permite que se mostre em discrepância
Realidade e sonho em abundância
Causando em meu olhar um escotoma.

No gráfico da vida, descendente
No tráfico dos sonhos nada resta,
Trafego em solidão pela floresta

De amores e ilusões, um indigente.
A noite em tantas brumas vai espessa,
Apenas esperança se confessa...



739


A solidão em flor nasceu no meu jardim
E em seu perfume amargo, um gosto de saudade.
Neste momento insano, amor dentro de mim
Refeito da loucura; em incivilidade

Estorva meu caminho, e quase que no fim
Avança escuridão, matando a claridade.
Que faço se não posso amar demais assim.
Procuro uma resposta. Apenas inverdade.

Tal flor apodrecendo aqui no meu canteiro
Afasta o colibri, espanta a fantasia.
Seguindo um mundo falho em passo traiçoeiro

Eu busco em esperança, uma última aliada
Nos braços desta amiga, a sorte inda me guia
Somente ela resiste. E depois, sobra o nada...



740


A solidão jamais passou aqui,
Tu és a flor mais bela; saiba disso,
De todos os meus sonhos que vivi,
Meus olhos nos teus olhos ganham viço.

O cheiro desta flor eu não perdi,
Estou tão radiante, amor por isso,
Espero que tu saibas que vivi
O tempo inteiro sempre dentro em ti.

Perfume anunciando a primavera
Mostrando que viver já vale a pena,
Bem sei que a solidão, amarga fera,

Rondando uma alegria, nos maltrata.
Mas sinto nos teus olhos, bela cena
Que salva, que me cura e me arrebata...



741


A solidão morrendo, tão remota,
Explode num terrível pesadelo.
O amor que a gente tem, nunca tem cota,
Nos braços deste sonho a envolvê-lo.

Vontade de te ter jamais se esgota,
No doce balançar de teu cabelo
As luzes vêm chegando; em mansa frota
Os laços se entrelaçam num novelo.

Mosaicos infinitos, tantas cores,
Expressam os diversos sentimentos,
As flores invadindo os pensamentos

Dourando em esperança estes amores.
Atores desta peça universal,
Vivendo tão somente o bem e o mal...


742



A solidão não é nenhum troféu
Que deva ser exposto em galeria.
É raio que riscando o negro céu
Impede novo sonho de alegria.

Amando e transformando fel em mel,
Vencendo a solidão com galhardia,
Deixando bem distante esta cruel
Quimera que nos banha em agonia...

Nas névoas desta tarde solitária,
Em meio a tantas dores incontestes.
A vida se mostrando assim, contrária,

Espero que este caos seja finito,
Vestindo deste amor, contente, as vestes,
Futuro grandioso, enfim, eu fito...


743


A solidão que amarga, atroz, me afaga
Enquanto olhar opaco lacrimeja
Lembrança do que fomos; mesmo vaga,
No peito abandonado inda troveja.

Um tempo que perdido, nada trouxe
Senão este vazio que carrego.
Um dia mais suave, calmo e doce,
Redunda no meu passo frio e cego.

Noctâmbulo, procuro os teus carinhos
E bebo em falsos guizos, a alegria
Saudade se entornando em copos, vinhos
Ao mesmo tempo dói e me inebria.

Perdidas ilusões... Ermas estradas,
As horas não serão recuperadas...



744


A solidão que sinto nos teus versos
Em busca deste amor que tu sonhaste,
Soltando teu lamento aos universos,
Amada é por que nunca reparaste

Em quem entre momentos tão diversos
Um pensamento só não dedicaste
E em meio a tantos sonhos tão dispersos
Sempre esteve aqui mas não notaste...

Te quero em cada sonho, a cada dia,
Em minhas emoções, falo teu nome
Buscando te encontrar, pura alegria,

Mas nada percebendo, nada diz;
E toda esta tristeza me consome..
Comigo tu serias bem feliz...



745


A solidão se ausenta, mas retorna,
Deixando em polvorosa o coração,
Quem tem uma esperança como norma
Jamais enfrentará tal furacão.

Dormir tranquilamente? Quem me dera...
No fundo até desejo o sofrimento.
A presa se acostuma com a fera,
Nas garras da felina eu me apascento.

Eu sei que isto parece uma heresia,
Gostar da própria dor é masoquismo?
Porém se a solidão já me inebria
Funâmbulo vagueia sobre o abismo

Devolvo ao desamor, mesma moeda,
E aguardo a cada instante a minha queda...



746

A solidão se faz caricatura,
A simples garatuja que se esquece,
O quanto me derramas de ternura
O peito enamorado te obedece.

A porta escancarada em noite clara
Permite que se encontre a rara lua,
Além do que pensara ou mais sonhara
A sorte em minha vida continua.

Contínuas emoções se revezando,
Num carrossel de gozo, alma se encanta,
Eternidade em paz se revelando,
Vontade se dourando em força tanta.

No corpo da mulher o ancoradouro
Nos lumes deste sonho, eu já me douro...


747

A solidão terrível companheira
Compele nossa sorte ao dissabor.
Amiga, desfraldar esta bandeira
Talvez seja um delírio salvador.

A chance que parece derradeira
Se faz em nosso canto, puro amor.
Após a chuva fria e traiçoeira
Quem sabe novo sol a recompor?

Por isso te proponho a tentativa
De unirmos solidões em esperança.
Quem sabe uma alegria enfim reviva

Nascida deste sonho alvissareiro.
Unindo nossas dores, a aliança
Refaz um mundo amigo e verdadeiro...


748


A solidão impede qualquer sonho
E nega a redenção enquanto viva,
Dos dias mais felizes já nos priva
E nisto de desenha um ar medonho,
Além do que deveras eu proponho
A sorte se mostrando vã, cativa,
E o tanto quanto pude agora criva
O peito em ar atroz, ledo e tristonho.
Cenário; aonde eu tento ainda ver
As sombras do que fora algum prazer
Rondando a minha noite em tênue luz,
Depois de certo tempo enfim sem rumo,
Aos poucos com tal dor eu me acostumo,
E ao nada o mesmo nada me conduz.

749


A solidão terrível, muito amarga
Qual fora um oceano tão sombrio.
Pesando em nosso peito, dura carga
Tomando um coração em vento frio,
Apenas na amizade já se alarga
Caminho que julgávamos vazio...

Procura-se um amigo com lanterna
Na noite escura e negra da amargura.
A mão que nos envolve, mansa e terna,
Transborda em tais carinhos, com ternura.
Quem sabe sendo assim, a vida eterna
Não seja uma utopia e sim a cura.

Um ramo de oliveira, a pomba traz,
Numa esperança clara, toda a paz...

750


A solidão, vazia, se esfumaça
Ao ter tua presença, mesmo ausente
Imagem que não larga a minha mente
E nem assim distante ela se esgarça.

Outro amor? Coração logo rechaça,
Saudade me procura novamente,
Um gozo tão sublime e mais freqüente
Melancólico riso não disfarça.

Embora tão amargas, minhas noites,
A pele se acostuma a tais açoites
E deles sente falta com certeza.

Nestes constantes sonhos não me largas,
E neles, num instante, tu me afagas
Dourando a madrugada em tal beleza...



751


A solução que buscas, mesmo eterna
Talvez não seja o rumo desejado.
Misturas as antigas e a moderna
Num círculo que formas, tão fechado.
Felicidade morre assim, hiberna
Deixando o que há de bom sempre de lado.

Esvoaça em momentos, minha mente
E volta num cuidado redobrado.
Sem opulência ou lume florescente
O passo que eu quis dar foi estagnado
Talvez a solução se mostre urgente
Em novo mandamento renovado.

Amar a Deus por certo, na verdade,
É respeitar valor de uma amizade.


752


À sombra da esperança feita em flor,
Aguada com as lágrimas sentidas
Na ausência deste enorme e doce amor,
As dores dominando nossas vidas.

Mas saiba que voltando, renasci.
E agora partirei junto contigo
Ao mundo que sonhei viver aqui
E há tanto tempo, amada já persigo.

Beijando tuas mãos, a tua pele,
Alçando em cada verso uma alegria.
Que o tempo agora, amada se congele
E aqueça eternamente a noite fria

Jamais me abandonar, isto eu te peço,
Amor enorme eu tenho e te confesso...



753


À sombra da saudade, amor me infesta,
Trazendo a tua voz, longínquo sonho...
Distante deste porto, o barco em ponho
Em ondas, solidão, minha alma gesta.

Vagando em noite escura na floresta
Das esperanças nada mais proponho.
O dia; eu sei, virá sempre medonho.
A morte a cada curva; algoz, me testa...

Meu canto se esvaindo, assim, agônico.
Meu passo prosseguindo, vão, distônico
Apenas o vazio se aproxima.

Sentindo-me, deveras, histrião,
Recebendo em resposta o mesmo não
Apenas a saudade inda me estima...



754

A sombra de um terrível desengano
Vagando pela casa, tão funesta,
Esconde na verdade antigo plano
Deixando ao coração a dor que resta.

Gargalha este sorriso desumano
E mostra a dura face pela fresta
Bem antes que se abaixe último pano
Final indesejável se detesta.

Miasmas flutuando no cenário
O riso se tornando temerário,
Ausência do que fomos vaga à solta.

Amor que se fez morte e desespero
Em minha cama verte este tempero
Mistura de terror e de revolta.



755


A sombra do que fomos me acompanha,
Funâmbulo dos sonhos; perco o rumo.
Distante dos teus olhos. Triste sanha,
Apenas desejei manter o prumo.

A vida se propondo em tal barganha
Nos erros que cometo e não assumo.
Quem sabe decifrar decerto ganha,
Minha alma sem destino vira fumo.

Nocivas esperanças numa espreita
Enquanto a solidão já se deleita,
Cravando suas garras no meu peito.

Quem dera se eu pudesse ainda crer
Que um dia, poderia talvez ser,
Nas sendas da ilusão, querido e aceito...


756

A sombra do que fomos me persegue.
Esvaecidos sonhos não me deixam...
O luto de minha alma não consegue
Deixar-me. Então as flores já se queixam

Abandonadas, mortas no jardim.
Tal sombra não me deixa um só minuto.
Devora o restou de bom em mim,
Tão manso que já fui, agora bruto...

Sou simplesmente um nada que passeia,
Na busca da fatal tranqüilidade.
Mergulho, prisioneiro em triste teia.

Não passo do que foi e não voltou.
A vida se transforma iniqüidade,
A sombra do que fui, o que restou...



757

A sombra do que fui já me devora,
Deixando tão somente uma saída,
Se o olhar que inda te trago se descora,
Quem sabe renascendo em nova vida

Após meu funeral em luz sombria
Permita ao eremita ser feliz.
A morte me fascina. A fantasia
Criada noutra senda expõe e diz.

O vaso que se quebra jamais é
Do jeito que se fora noutro tempo,
Vivendo com loucura, risco e fé,
Talvez ainda vença o contratempo

Armado qual cilada a cada passo,
Negando à fantasia o seu espaço...



758



A sombra quando passas; vira sobra,
As uvas viram passas, peças finas.
Os olhos enigmáticos de cobra
Não deixas no cavalo rabo e crina.

Um preço inflacionário, o tempo cobra,
Nas camas dos motéis, belas meninas.
Orgia tão sem nexo se desdobra
Bacantes são as mães, as mãos, as sinas.

Depois fingis ouvir os meus reclames
E um riso desdenhoso já me deste.
Por mais que me pareçam mais infames,

O olhar já se mostrando transmutado,
O moço tão simplório vira peste,
Subornos te fizeram deputado...



759


À sombra tão serena dos carinhos
Tua presença invade a minha mente
Contente, se pressente outros caminhos
Os ninhos vão mudando de repente.

Nos olhos e narinas, forma e cheiro,
Ouvidos, boca e tato, paladar
O canto vem chegando alvissareiro
Gostoso se beber e de tocar.

Transborda pela casa, abre a janela
Entranha o travesseiro e o cobertor
Cavalo da esperança já se sela
Trafega pelos céus buscando amor.

No jorro de palavras, frases feitas,
Delícias vão brotando enquanto deitas...



760

A sorte de te ter, já não se cala,
E forma em cada verso, um elo forte.
Deixando para trás tristeza e corte,
Do meu passado amargo, uma senzala

Que fora em minha sina, uma ante-sala
Numa programação que leva à morte.
Amor me dominando em alta escala
Prelúdio tão divino, a dor aborte.

Proclamas nosso amor aos sete mares,
E falo do carinho aos quatro ventos.
Colhemos tantos frutos dos pomares

Que plantamos com arte e sentimentos,
Contigo, amada, irei por mil lugares,
Com todo este prazer, nossos momentos....



761


A sorte de um amor quando encontraste
Jogaste na janela em dissabor,
Receba então espinho e mate a flor,
Deixando tão somente uma fria haste.

Segredos que em verdade murmuraste,
Falando assim tão mal de um pobre amor
Não deixam quase nada a te propor
Senão tentar conter este desgaste.

Meu verso ultrapassado vai teimoso,
Que faço se não posso mais conter,
Em liberdade solta a sua voz

E volta novamente caprichoso
Na busca insaciável por prazer,
Tendo em mulher amada a bela foz...


762

A sorte de viver, amor, alcança
E deixa no passado toda a dor.
No quanto quero a vida recompor
O tempo de sonhar trama a festança.

Amor que pressupõe tal confiança
Deveras um farnel encantador.
Alvíssaras ao gozo com louvor
Marcando nosso mundo em aliança.

Enoveladas pernas sem fronteiras,
Misturas delicadas e sutis.
As horas preferidas, costumeiras

Adentram madrugadas, ganham dias.
Cansado de viver só por um triz
Entrego-me ao calor das fantasias...



763

A sorte derradeira e prometida
Jogada nos beirais desta janela,
No suicídio salvo a minha vida,
E tramo uma esperança sem tramela.

Quem ama na verdade se congela,
Escravo desta inglória mais querida,
Acendo toda noite a mesma vela
Capaz de incendiar qualquer saída.

Marco o corpo inteiro em tatuagem,
Sorvendo com prazer qualquer bobagem
Capacho em garatujas; erros crassos,

Divido o que somei há tanto tempo,
E mesmo que me entregue ao contratempo,
Bem firmes meus caminhos e meus passos.



764


A sorte num segundo se transmuda
Meus dedos engelhados, meus problemas,
Sem nada que proteja ou que me acuda
Ainda sinto a força das algemas

A dor de uma saudade é tão aguda,
Por mais que tu me digas que não temas,
Imagem do passado na alma gruda,
Fleumática, dorida cria emblemas.

A boca sem teus beijos, vã procura,
Esgueiro pela vida, simplesmente.
Enquanto este vazio atroz me invade.

A noite desenhada em amargura,
O tempo de viver, já não se sente.
Apenas tão somente, esta saudade...


765


A sorte pouco a pouco se esvazia
Não restando sequer um riso franco
A solidão matando a fantasia
Corcel já não galopa; velho e manco.

O quanto que eu tentei e nada fiz,
E tudo o que eu temia, aconteceu.
Uma esperança, eterna meretriz
Levando o que restou do que foi meu.

Palavras que me dizes, de consolo,
Não servem para nada, me perdoe.
Durante tanto tempo, simples tolo
Que em vagas tempestades inda voe

A marca das angústias demarcada
Na pele pelas dores tatuada...



766


A sorte qual pensara, destroçada
Deixada em algum canto do canteiro
Agora ao me mostrar bem verdadeiro
Adentra uma emoção, enamorada.

A força a cada passo demonstrada
Estende na janela o mundo inteiro,
Usando uma ilusão como tinteiro
A moça dos meus sonhos desnudada...

Prelúdio desta noite que insensata
Aos poucos, dominando me arrebata
Incêndios prometidos no meu leito.

Em claras explosões os multicores
Caminhos entranhados por amores
Invadem em delícias cada peito...



767

A sorte que desejo, toda minha;
A quem transmite sonhos inocentes,
Em meio a tempestade que já vinha
Rangendo, temerosa, todos dentes,

Encosta no meu ombro, assim se aninha
Sorrindo com seus olhos tão contentes.
Delicadeza frágil de avezinha.
Término dos meus dias penitentes...

Pois ela, minha dita que ansiei
Por tempos, longos dias, muitos anos...
Fazendo dos meus sonhos soberanos,

Caminho para o amor, em nobre lei.
Agora que chegou, minha alma fala
Abrindo o peito, o quarto, a casa, a sala...


768


A sorte que já fora vaporosa,
Nos olhos de quem amo, logo muda,
Trazendo em noite clara e tão formosa
Dourada sensação de grande ajuda

Da flama que me invade mais fogosa
Que venha em noite clara e não me iluda.
Presença sem igual, maravilhosa
Deixando uma tristeza quieta e muda,

Espalho o meu cantar pelo universo,
Cantando o pleno amor a cada verso
E nele encontro rumo, acerto a rota.

Ao lado deste amor que nada cessa
Revivo muito além de uma promessa
Uma amizade imensa, mas remota.



769


A sorte que me foi já concedida,
Mostrando em mansidão um belo aceno,
Mudando de repente a minha vida,
Moldando meu futuro mais ameno.

A paz tão desejada e bem querida
Num toque mais gentil, suave, ameno
Numa amizade plena e recebida,
Antídoto real para o veneno

Da negra solidão que assim não cabe,
No peito de quem tanto amor já sabe
E agora não caminha mais vazio.

Deixando no passado esta lembrança
Na cena que se esvai já sem fiança
Um coração que morre, estranho e frio,



770

A sorte que se mostra verdadeira
Estampando na face um bom sorriso.
Além de uma bonança corriqueira
O toque que se mostra mais preciso.

Vencendo quaisquer medos ou terrores,
Uma amizade diz ao coração.
Trazendo a perfeição feita em pendores
Poeira que assenta sobre o chão

Demonstra o quão de ti eu necessito,
Uma sublime forma de carinho.
Dobrando mesmo a força do granito,
Retira de meus passos um espinho.

Florada que se mostra em primavera,
Apascentando assim, temível fera...



771

A sorte que se mostra, tão serena
Permite que eu consiga contemplá-la;
Mulher em tal beleza, rara e plena
Fulgurante, ilumina toda a sala.

Intérmina ilusão em vão se acena
Com mistérios diversos da cabala
Enquanto traz a cura me envenena,
Mantendo com soberba pose em gala.

Uma esperança audaz, porém esquálida
Tramando a fantasia da crisálida
Em vã intensidade vai e avança.

Ainda espero o sol ao fim da estrada,
Clarão esplendoroso não diz nada.
Amor em tempestade quer bonança...



772



A sorte tanta vez emoldurava
A vida se mostrando em passo lento,
Ao mesmo tempo a dor se aproximava
Tomando já de assalto o pensamento.

Quem noutros tempos; mudo, se tornava
Ao perceber no fim, o sofrimento,
Carinhos e torturas, misturava,
Deixando a solidão como rebento.

Agora que encontrei na grande amiga
Açude de esperanças, santas águas,
Esqueço que passei por duras mágoas

E vejo o meu destino que se abriga
Nos braços da esperança benfazeja
Na qual uma amizade se deseja...



773

A sorte tão volátil nos abriga
E ao mesmo tempo este abandono;
Por mais que a luz se mostre apoio e viga
O amor vai se perdendo no oceano.

Nas velhas fantasias que eu cultivo
Apenas as saudades são fiéis.
Um canto de esperança embora altivo
Encontra tão somente amargos féis.

Vieses que se mostram mais constantes
Trafegam no meu peito sem destinos.
Quem dera se eu pudesse por instantes
Conter os mais temidos desatinos.

Nas noites que varei em solidão
Saudade toma o rumo, a direção...




774


A sorte, esta cigana vagabunda,
Vagando sem destino, segue ao léu,
Qual verme passeando em carrossel,
Minha alma do vazio fel se inunda.

Enquanto em farta lama se aprofunda,
A morte vem cumprir o seu papel,
Esperança caída do corcel
Do verde esmeraldino, à tez imunda.

Aperte então seu cinto, cavalheiro,
Que o vento derrubou a aeronave,
O seu lugar no espaço, insano, cave

Que o frio é do final, o mensageiro,
E o quase que jamais concretizaste
Levou num só momento, apoio e haste...



775


A sorte, sendo espúria, nos deserta,
E impede que se encontre, enfim, a glória,
Porta que permanece sempre aberta,
Garante ao fim de tudo uma vitória.
O coração amante já desperta
O tempo de viver mudando a história.

Bebendo com fartura amor e paz,
Não temo mais as pedras do caminho.
A noite benfazeja assim me traz
A mansidão perene de meu ninho.
Amor quando demais só satisfaz
Não deixa que eu prossiga mais sozinho.

A placidez suave de um regato,
Trazendo uma emoção que aqueça o prato.


776


A sua voz escuto nesta brisa.
Que toca os meus cabelos mansamente.
O vento neste toque já me avisa
Do sonho que busquei, completamente.

A boca delicada e mais precisa,
Mostrando esta alegria, docemente
A sorte redentora aromatiza
Felicidade um sonho mais freqüente.

As estrelas que espalhas pelo chão,
Refletem num momento, esta paixão
Cobrindo este horizonte em claro véu.

Liberto, destemido e sem algemas,
Em meio a tantas crises e problemas
Meu verso vasculhando, ganha o céu


777


A súcia dos ladrões associados
Fizeram da bandalha uma bandeira.
A multidão de pobres esfaimados
Jogados numa eterna quarta feira

Das cinzas os seus olhos arrancados,
Rasgando com vontade a bandalheira
Matando estes canalhas perfilados,
Num gozo de alegria verdadeira.

No parto de uma nova consciência
As lágrimas trarão felicidade,
Os elos mais profundos da amizade

Trazendo a tão querida penitência
Aos velhos vagabundos e seus ternos,
Ardendo eternamente nos infernos...



778


A tarde cristalina em belo ocaso,
Deitando sobre a terra seus mistérios.
Roçando nos seus raios ao acaso
Encontra os pensamentos mais etéreos...

Galopo sobre o lume deste sol
Buscando eternidade que não vinha.
Aos poucos transtornando o girassol
Beleza deste olhar que descaminha.

Confunde com teus olhos tanto brilho
Os raios desta estrela matutina...
Eu perdido, também me maravilho
Com todo esse esplendor que descortina

Na força sem igual do teu olhar,
Na tarde em minha vida, vem brilhar!


779


A tarde declinada e tão fugaz,
Prenunciando nossa noite, Lara;
Os meus restos jogados, minha cara,
São as formas cruéis, são invernais...

Bem que eu tanto quisera ser capaz.
Mas, inútil, percebo, nova escara...
Estampado nos olhos, não repara
Nas mentiras que estrago, vãs, normais...

A chuva demitindo as esperanças,
Da volta, novos dias, velhas danças...
Para sempre, empregando meus fantasmas...

Convulsivos segredos são miasmas,
A noite chegará sem ter perdão...
E Lara está perdida na amplidão!!!



780


A tarde incandescente de verão,
Nos altos das montanhas muge gado...
Os reflexos solares no sertão,
Espero meu amor apaixonado...

Não posso conhecer a solidão.
Contando com você aqui do lado,
As horas disparando o coração,
Da noite esperarei um bom bocado...

As horas se passando calmamente,
No turbilhão das cores, primavera...
Nas matas escondidas as serpentes,

Na porta do esplendor da bela tarde...
Fugindo vou matando essa quimera,
Na espreita sem fazer nenhum alarde...



781


A tarde que me trouxe esta alegria
Desmonta-se em terrível tempestade,
Formando tantas nuvens, morre fria,
Em plena sensação de insanidade.

Quem fora uma promessa de vitória
Adormecendo mostra-se quimera,
A vida se repete; a mesma história,
Trazendo imensa dor, temível fera.

Agora a solidão não me perdoa,
Andando do meu lado, castra o sonho,
A dor de te perder inda ressoa
Num vívido sofrer, o mais medonho...

Meus olhos empapuçam, sem beleza,
Vão se encharcando em lágrimas, tristeza...



782


A tarde se desnuda em tons de rosa
E vai se despedindo, aguarda a lua.
Que ao chegar divina, esplendorosa
Encontrará, na cama exposta e nua

Mulher que se tornou maravilhosa
E que em beijos sedentos já flutua.
Após a tarde bela e radiosa
O meu prazer intenso continua...

Na rua confusão: buzinas, carros,
Na cama, tentação de minas, sarros.
Os pensamentos unem os desejos.

A tarde se desnuda no horizonte,
Delírio vai minando em bela fonte
Mantida sem cessar por doces beijos.



783


A tarde tão nublada no meu peito
Parece que mais tarde vai chover,
O dia se arrastando desse jeito
Distante deste amor, e do prazer

Que possa me deixar mais satisfeito
E ajuda a gente sempre a perceber
O quanto ser feliz é meu direito
E ter na minha vida um bem querer.

Amor que na verdade em seu mistério
Encanta enquanto traz terrível dor.
Não tendo com certeza algum critério

Amor é feito em lágrima e calor.
Quem dera se esta chuva enfim passasse
E a dona dos meus olhos já chegasse...



784

A tarde vai caindo, espreita os olhos meus...
Um sino repicando ao sabor dessas horas...
Rezando por Maria, espero por meu Deus.
Lembranças d’outro dia, à noite, enfim, imploras...

Meu olhar embuçado, aguarda pelos breus...
Não posso reclamar, preciso, sem demoras...
Saudade me destrata, aguardo os olhos teus.
A noite então trará certeza das auroras...

Descanso meu cansaço, envolto nos teus braços...
Amor que foi dolente, o sol já não me queima...
Na caça que fizeste, abraços foram laços...

Martírios deste amor, brotando na verbena.
Mal posso traduzir, ressurges nesta teima,
Amor que já floresce, as cores da açucena...



785


A tarde vem caindo... O medo chega...
Distante de quem amo me pergunto,
Se encontro do outro lado a mesma entrega.
Se ela também quisesse sonhar junto

Comigo! Certamente mais feliz;
Poderia viver intensamente
O gosto deste amor... A tarde diz
Que o frio chegará e novamente

Sozinho, tão vazio de esperanças
Apenas restará meu triste verso.
Quem dera se pudesse nas andanças

Levar-te com carinho aos universos
Que preparei somente pra te dar..
Nos meus braços... Somente este luar...


786


A tarde vem caindo sobre o rio
E um por de sol se mostra multicor.
A noite sem ter lua, em tanto frio
Distante de quem tenho puro amor.

Aqui num triste inverno, lá estio,
Quem dera desfrutar deste calor,
Um mundo imaginário então eu crio
E passo num segundo, a te propor

Um banho na cascata da ilusão
Regado ao Porto Vinho mavioso.
E assim ao aflorar tal emoção

Prometo te darei mais fino gozo,
E vamos decididos pro verão.
Que inverno tropical vai rigoroso...



787


A tarde vem caindo... Um dia a mais
A noite traz a lua? Quem me dera...
No inverno de minha alma esta quimera
Prepara novamente os temporais,

Pudesse acreditar em divinais
Momentos renovando a primavera,
Porém o que em verdade o peito espera
Traduz estes tormentos invernais.

Depois de tanto tempo solitário
O amor já não se vendo, imaginário,
Arisco pensamento dita o fim.

E assim ao me encontrar em neve e pranto,
Apenas este estio enfim garanto
Matando o que restara em meu jardim.



788

A tela ao fim da peça nunca cai,
Palhaço agonizando no cenário.
O velho que pensara samurai
Não passa de imbecil ser temerário.

Algozes dos meus sonhos, os teus lábios
Ressecam com sarcasmo uma ilusão.
A frota sem destino ou astrolábios
Promete neste inferno, atracação.

O inverno recomeça a cada dia,
Amanhecendo em névoas, morto o sol.
Apenas me restou melancolia
A seca vai tomando este arrebol.

As garças vão embora, nada resta,
A solidão adentra em cada fresta...



789


A terra que esperança já tolhia
Tornada em frágil senda derrotada;
Nas ondas tão distantes da alegria
O canto se espalhando em dura estrada

Na vívida impressão do não havia,
Restando no meu peito o quase nada.
Nas asas do meu sonho, a poesia
A cada novo dia, renegada.

Amor já se afastando só me resta
Fazer desta saudade o meu refém.
Trazendo finalmente a voz de alguém

Que possa traduzir felicidade,
Depois deste vazio, alguma festa
Nos rastros tão sutis de uma amizade...



790

A terra se esparrama em vento e pó,
deitada sob o sol, enlanguescida.
Na cruz de tantas almas, vento só
deixando para trás restos de vida.

Quem veio dos engenhos e moendas,
já sabe e reconhece uma amizade.
Sertão, princesas, reis, castelos,lendas.
Apenas resta a seca, na verdade.

Esfinges que encontrei pelo caminho,
as velhas carpideiras da esperança.
A sorte de não ser ermo e sozinho
criando com meus sonhos aliança,

ferrenhas ilusões que se perderam,
nas léguas que meus olhos já venceram..



791



A terra sertaneja tão bravia,
Demonstra a estupidez da natureza
Porém o puro amor que eu bem queria,
Contendo a perfeição feita em beleza,
Numa lua caipira traduzia
Amor imenso, pleno de grandeza.

Quem dera se esculpisse com buril
As formas da morena que eu deixei,
Nas matas nordestinas, amor viu
O quanto na verdade eu tanto amei,
Semi-aridez no solo duro e vil,
Um coração divino eu encontrei.

As lágrimas caindo qual cascata,
Saudosas dos carinhos da mulata...



792



A terra toda em lágrima encharcada
Enquanto tu prossegues teu caminho.
Não quero prosseguir sempre sozinho,
Buscando com clamor esta alvorada.

A pele em cicatrizes tatuada,
Algemas que contêm um passarinho,
O coração vazio, pobrezinho,
Recebe como herança o mesmo nada.

Nas teias em que braços me molduram
Momentos mais sombrios se asseguram,
Sem sândalo, apodrece este machado.

Viagem por diversas emoções,
Flechado por teus olhos, quais arpões,
Um Paraíso imenso vislumbrado...




793


A terra vai girando e traz a lua,
Buscando a claridade deste sol,
Minha alma na tua alma já flutua
Te sigo, um helianto, um girassol...

Desejo o teu desejo em cada dança
Em cada sinfonia que fizermos,
Amor quando demais de amor não cansa,
Os cantos que cantamos são eternos

E ternos nossos sonhos mais felizes
De estarmos irmanados neste afeto,
Que sabe como doem cicatrizes
Por isso nosso amor, o predileto...

Eu quero ressurgir na poesia
Que canta o nosso amor, em harmonia...


794


A ti dedicarei, eu te prometo,
Os versos que se entornam na canção.
Aos braços de quem amo eu me arremeto
E solto um grito enorme na amplidão.

No chão que tantas vezes foi tão duro
As mãos de um trovador teimam sementes.
O quanto é necessário com apuro
Vencer as tempestades em torrentes

Pressente que se veja em escultura
As formas desta sílfide sem par,
Na pele entronizada tal ventura
De um dia todo o sonho desfrutar.

Eleva o pensamento, alçando um trono,
Reavivando império em abandono...



795


A tinta em que se expressa o meu passado
Relembra a minha casa e seus quintais.
O tempo tantas vezes é quarado
Depois vai se secando nos varais.

Do menino correndo sigo ao lado
Lembranças vão guardadas nos bornais.
Joelho pelas quedas esfolado,
Estrelas que se foram, nunca mais..

Saudade se transforma num pomar,
Cadeiras espalhadas na varanda.
Vontade de partir e de voltar.

O tempo em sofrimentos já desanda,
Fantasma do que fui, dança ciranda
A casa; veio vento derrubar.



796


A tísica presença da esperança
Fugaz que, tantas vezes, me dizia
Da claridade intensa de outro dia
No qual uma alegria amor alcança.

A farsa que montara, vil criança,
Matando aos poucos toda fantasia
Enquanto não raiava, me escondia
Por sob suas mãos a dura lança

Que algoz de uma ilusão se transformava,
Vulcânica expressão, temível lava
Tomando este arrebol em plenitude.

Da outrora sensação de juventude
Não resta nem resquícios, disso eu sei.
Apenas o vazio que eu herdei...



797


A top model desfila anorexia
Minhoca mal vestida, passarelas...
Sonhando com fatal apoplexia
Complexo de faminta tu revelas.

Devoras dois pedaços de repolho,
Pensando na lasanha e no croquete.
Quatro gotas de azeite; tosco molho
E a moça/prisioneira não repete.

Escrava de um modelo carcomido,
Confundindo ossatura com beleza
Se o silicone aumenta uma libido
Da cirurgia plástica ela é presa.

Prefiro uma gordota rechonchuda;
Menina tome senso e não se iluda!



798


A trancos e barrancos eu pretendo
Viver o que talvez não poderia
Não fosse esta parceira, a poesia,
O dia eu não veria amanhecendo.

O cedo que não cede me contendo
O verso se entregando em fantasia,
Por mais que uma alameda assim surgia
O vento não entranha nem desvendo...

Cruel caricatura do que espera
Aquela que mordaz, qual bruta fera
Espreita atocaiada, bote certo.

Sem ter uma amizade, esta procura
Redunda no final numa amargura,
Fatídica expressão, feroz deserto...



799


A tua amizade
Por certo me traz
Força de vontade
Certeza de paz,

Achei a verdade,
E sou mais capaz
Ao ver claridade
Que enfim satisfaz.

Meu verso incontido,
Se mostra mais forte,
Contigo decido,

Meu rumo, o meu norte,
E vou protegido,
Não temo nem morte...

800


A tua ausência mata a fantasia
Menino coração já se desbota,
Perdendo a direção, procuro a rota
Na estrela matutina que me guia

Levando ao sol imenso que irradia,
Abrindo deste mel pote e compota,
Meu peito anda de lado, e vai cambota
Sob o peso do amor que o sonho cria.

Vertendo tantos sonhos pela pele,
Enquanto a poesia me compele
A ter uma ilusão como bandeira,

A vida sonegando o Paraíso
Permite-se cruel ao vago aviso
Da estrofe que agoniza, derradeira...

801

A tua boca amada me percorre
A pele assim exposta, toda tua...
O mel que dos teus lábios, manso, escorre
Em cada nova curva continua...

Permita que meu corpo ao teu já forre,
Com ânsias bem vorazes, pele nua...
O teu desejo ao meu, logo socorre
A cama, o quarto...tudo enfim, flutua...

Teus seios no meu peito, tentação...
Explodem mil prazeres incontidos
Marcando cada passo em sedução.

Mergulho no teu corpo, meus carinhos...
Os teus olhos reviram, vão perdidos...
Inebriante gozo... nossos vinhos...

802


A tua boca, esposa e fantasia,
Nos sabores ferozes dos teus beijos
As linhas cruéis: farsas, desejos...
Os ecos da discórdia em pleno dia...

Não sei de que me vale ou se valia,
O canto dos canários, tantos pejos,
O medo dos espinhos, vãos solfejos.
A porta das estrelas não se abria...

Linda e nua, remota e traiçoeira,
Os cardos e penúrias, podres urzes...
A mão que tortura, vez primeira.

Revejo estes cansaços e disfarces.
Mas posso te ofertar algumas faces,
Decerto encontrará as velhas cruzes



803

A tua boca invade sem defesas
Audaciosamente tantos cais
E quanto mais se te tanta em dias tais
Meus olhos de teus olhos, tolas presas.

E sigo contra ardentes correntezas
Marcando em toques raros, divinais
Delírios entre sonhos sensuais
Carícias demonstrando tais destrezas.

Resumo dentro da alma esta esperança
E o passo noutro rumo sempre avança
Trazendo esta diversa maravilha,

E o cântico em louvor ao deus erótico
Ainda que se mostre quase exótico
O Paraíso em vida, enfim já trilha


804

A tua camisola tão macia,
De pura seda, bela e transparente,
Mostrando e me escondendo de repente
Aquilo que desejo e enfim, queria...

Em teus seios delícia que pedia
Um beijo mais gostoso e assim ardente.
Como um vulcão em fogo e brasa, quente
Entorpecente raro que vicia.

Desnudo-te e; bebendo desta fonte,
Apalpo levemente vale e monte
Até chegar ao ponto mais fogoso.

E sinto o teu perfume delicado,
Ficando por completo extasiado
Tomando gota a gota todo o gozo..




805

A tua companhia, amiga amada,
Expressa uma vital felicidade.
Em flóreas esperanças, mostra cada
Momento onde porvir é liberdade.

Sem máculas ou farsas, exprimimos
Vontades que per si são radiantes
Jamais imaginamos ledos limos
Nos passos em que vamos triunfantes.

Erguemos, pois então um brinde à vida
Que irmana-se nos versos e palavras.
Nas mãos tão calejadas pela lida
A recompensa, vindo de tais lavras.

Revigorando sempre uma alegria,
De estar sempre ao teu lado em poesia

806


A tua estupidez vai destruindo,
Aquilo que se fora um grande amor.
Aos poucos meu castelo vai ruindo
Em sonhos tão distintos sem pudor.

Do tempo que passamos mais distantes
O nada sem motivos, desamor,
Tomando nosso mundo por instantes
Secando toda a fonte de calor.

Intrigas nos fizeram belicosos,
Espinhos espalharam entre nós.
Nos jogos mais difíceis perigosos

Amor não resistiu, insensatez.
Agora caminhamos, ambos sós,
Presente desta tua estupidez...



807

A tua garatuja: Satanás
Rondando a minha cama noite afora,
Enquanto a fantasia inda se aflora
O tempo derramando amarga paz.

O gozo que esperança ainda traz
Opalescente dor que se demora
Remoendo os temores desde agora
Deixando as alegrias para trás...

Carregas nos teus olhos breus profundos,
Meus versos são agrestes, vagabundos,
Meus dias não têm sol sequer um brilho.

O que restou de nós, somente trevas,
Distante dos meus sonhos já me levas
Demônios que espalhaste aonde trilho.




808

A tua silhueta maviosa
Desfila no meu quarto, toda nua...
A pele que recende olor de rosa
Convida e nossa festa continua.

Bem sei o quanto sentes vaidosa
Se em teu prazer minha alma assim flutua,
Na pele acetinada e tão sedosa
Brilhando sob a luz da plena lua

Uma argentina imagem me conquista
Mostrada na nudez tão desejada.
Não há ninguém no mundo que resista

Na sede do querer, logo deliro,
Bebendo de teu corpo, minha amada,
Aos teus seios e braços eu me atiro...



809


A tua silhueta tão formosa,
Reinando nos meus sonhos, vem ardente
Rondando o meu jardim, perfeita rosa,
Mostrando ser feliz; um fato urgente,

A mão que acaricia; carinhosa,
E toda esta alegria que se sente
Permite esta emoção que, enfim, se goza
Vestida em camisola transparente

Clamor que em fantasia se verteu
No fogo dos desejos e paixões
Tu sabes, meu amor, quanto sou teu

E disso faço glória em minha vida,
Prazeres que me invadem, borbotões
Numa nudez perfeita e distraída...


810

A tua voz me guia com desvelo
Trazendo para a vida, calmaria.
Um sonho mavioso eu te revelo
Que, pleno de emoção e de alegria,

Sou tão feliz somente por sabê-lo
E nisto vou vibrando em fantasia.
O vento que acarinha o teu cabelo
Em brisa, demonstrando o que eu queria.

Eu amo cada verso que me fazes,
Além do que tu pensas, imaginas.
Amor é muito mais do que estas frases

É; sobretudo, um sonho mais completo
Aonde reconheço nossas sinas,
Das quais me realizo e me completo...



811


A tua voz tocando mansamente
As ânsias de quem fora mais audaz
E agora tão somente satisfaz
Enquanto o coração em ti presente.

O todo se desenha e quando sente
O canto mais além e já se traz
A vida em novo rumo, mansa paz,
A dor deste passado se desmente,

E o caos aonde outrora inda se visse
O passo sem destino da tolice
Agora se vislumbra em belo prado.

E o tanto quanto pude ser feliz
Já nada mais calando ora desdiz,
E as sendas magistrais, portanto, invado.

812

A tua voz domina este cenário
E o quanto pude crer e não soubera,
Da sorte desdenhosa da quimera
Num antro tão terrível, meu fadário.

O vento se mostrando temerário,
O cântico desdenha a primavera
E o todo se transforma e tétrica era
O mundo dos meus sonhos, vão corsário.

Matando o que pudesse e não teria,
Deixando para trás toda a alegria
Apenas desenhando a ribanceira

Diversa da que pude constatar
Aprendo tão somente a navegar
Aonde o meu caminho em paz se queira.


813



A tudo sobrevive uma amizade
E enfrenta temporais, isso eu garanto
Se a base traz então, sinceridade,
Vence vicissitude e desencanto.

E mesmo quando a sorte nos ilude
Nos tantos desalinhos, muda o rumo.
Manter com segurança uma atitude
Após a dura queda eu já me aprumo.

Embora magoado, estou contigo,
Sabendo perdoar a ti e a ela
Poder dizer de novo: meu amigo,
Destino pareado assim se sela.

Porém chumbo trocado não machuca.
Beijei tua mulher, a mameluca...



814


A um tempo satisfaz e satisfazes
Provocas e me tocas com desejos.
Nos jogos da alegria, tantos ases,
Carícias tresloucadas negam pejos.

A vida tem, decerto, suas fases
E nelas há momentos mais sobejos
De luzes e carinhos, pois me trazes
Prazeres muito além de relampejos.

Beijar a tua boca. Ser só teu...
Não quero simplesmente estar contigo,
Meu mundo nos teus braços se perdeu.

Sorriso inigualável em perfeição,
Embora cada canto diz perigo,
Nos braços da sereia, a perdição...




815

A vaca foi pro brejo sim senhora.
A moça prometeu que gozaria
Bastava relaxar, mas que demora!
Assim não posso ter nem alegria.

O povo vai sofrendo, mas agora
A gente não acerta a pontaria
Do jeito que eu sonhei vou logo embora
Deixando para outrem tal utopia.

Sem Meca que me salve ou revigore
Vou ler o meu Neruda, ou o Tagore
E vestir meu casaco de ilusão.

A gente faz amor, e fecha os olhos
Colhendo o que restou destes abrolhos
Fazendo desta fé a profissão...



816


A vaga que me arrasta ao infinito
Tramando em cada vento uma esperança.
Liberto de meus medos solto um grito
E a noite em calmaria já me alcança.

Rasgando em meu cavalo o céu bonito
Durante a vida inteira, sem pujança
Agora em amizade tramo um rito
Que trague finalmente a temperança.

Nas ondas deste mar, imenso e frágil,
Não deixo sucumbir esta alegria.
Já não permitirei mais o naufrágio

Do sonho que se fez em liberdade,
Almejo eternidade, uma utopia
Gerada sob os ramos da amizade



817


A vaidade fere a quem amamos
Tomando de soberba o coração.
Por noites, madrugadas procuramos
Amor que nos transmita uma emoção.

O mar quando se quebra em quente areia
Acalma esse calor que queima tanto
Teus olhos, o meu peito se incendeia,
Só beijos e desejos meu encanto.

Encantos que me trazes, minha amada,
Não vejo solução senão amar-te
Na cama que nos trouxe essa alvorada
Do amor, vasculharei parte por parte.

Eu amo teu amor com tal fartura,
Preenche minha vida de ternura...


818


A velha cartomante não sabia
Da sorte que escondia atrás da porta
Além do simples toque da magia
A moça desdentada tosca e torta.

Sem medo do que o tempo inda dizia
Vestindo o meu futuro, sonho corta
E volta a reviver o que queria
Quisera novamente a rota morta.

Acrescentando ao nada o pouco tenho,
Acendo o quase lume em meu olhar
E quando em temporais não me contenho

Arrebentando algemas e correntes,
Refaço a minha vida devagar
E a cartomante range; então seus dentes...




819



A velha classe média bolorenta
Que fede pra caramba, mas esconde,
Perdendo novamente o mesmo bonde
Não sabe que ninguém mais isso agüenta.

Madame nariguda e xexelenta
Ouviu galo cantar, não sabe aonde,
Uma tataraneta de visconde
Agora diz que senta que é de menta.

O sonho de consumo da manceba
São vinte e três centímetros de jeba,
Olhando para o lado, o dorminhoco

Ricaço barrigudo e mal cheiroso,
Que sonha com um macho bem gostoso
Roçando devagar o seu brioco...



820


A velha cucaracha não sabia
Do quanto se requebra no Caribe.
Olhando para a amarga poesia
Queria, agasalhar somente um quibe.

Não tendo com certeza, companhia,
Não pode ver ereto, logo inibe,
O vento em temporais quando assobia
Um sorriso, coitada, a moça exibe.

Pensando ser convite; coitadinha.
A cobra que mordendo se defende
Pensando assim quem sabe num duende,

Fingindo-se cordata, a diabinha
Não vê atrás de si, penduricalho
Barulhento em formato de chocalho!




821


A velha dos Jardins falsa cristã,
Erguendo a sua crista dita norma,
Enquanto a sua neta se transforma
Na quenga mais voraz do imenso clã.

A bruxa quis ser puta temporã,
E tenta recompor a antiga forma,
À plástica malfeita já deforma
Esta caricatura amarga e vã.

Ao ver a meninada nas baladas,
Roçando coxas, pernas e algo mais,
No fogo esmorecido, vendavais

Balançam estruturas mal armadas,
E não podendo ter seu cavaleiro,
“transforma o mundo inteiro num puteiro”.

Antes que me censurem, esta frase é baseada numa música do Cazuza tocada livremente nas rádios e nas televisões...

E parafraseando o genial funkeiro:

Se ele pode, eu posso...


822


A velha gargalhada do capeta
Ressoa em meus ouvidos desde já.
A gente que caminha assim cambeta
Não sabe o que o futuro mostrará.

Farei o que me der nesta veneta
E sei que disso tudo restará
Apenas um começo, qual vinheta
Que o fim do nosso caso provará.

O vinho que em vinagre se transforma
A sílfide em desastre já deforma
O que pensara outrora ser sublime.

O rio desafia em cada curva
A chuva que em meus olhos sempre turva
O quanto desafio, amor e crime...




823

A velha ladainha se repete
Estupidez faz parte do menu.
Fantasma de imbecil se pondo nu
Rebola o derriére tola chacrete.

Jamais eu desejei qualquer confete
Também não tenho a fome de urubu
Carniça misturada com angu
No rabo tão faminto da vedete.

O caco que se pretende ser alguém,
Tentando ser irônico já vem
Rasteja, cascavel, balança o rabo.

Sem ter sequer noção, a besta rosna,
Tão palatável ser, recende a losna,
De toda sensatez dá logo o cabo...



824


A velha poesia já morreu
Inerte, o seu cadáver numa sala
Aonde, amordaçada, nada fala,
Venenos em néons, ela bebeu.

Outrora, quando estava no apogeu
Na noite tão sublime feita em gala,
Ferida por perdida e justa bala,
A pobre entre fantasmas se escondeu.

Vasculho sob a cama, nem sinal
Daquela que vestida de ilusão,
Jogada sobre os rasgos do colchão

Tentava ser sublime e magistral.
Dos bardos outros bares e segredos,
Os sonhos condenados aos degredos...



825

A velha que, debaixo de uma cama
Criava tanto bicho, já se foi
Vivendo ao fim da vida um duro drama,
Chifrada pelo amado, antigo boi!

Fazendo da linguagem popular
Os versos em perfeita sintonia,
Eu tento ao mesmo tempo separar
O que sempre rebusca a poesia.

Não quero ser somente indecifrável,
Eu sei quanto é preciso a claridade.
Tampouco num balão, daquele inflável,
Eu não suportaria qualquer grade!

Por mais que isto degrade algum soneto,
Na alma simples do povo eu me intrometo.




826


A velha sanguessuga não sabia
Que anêmico poeta já se esvai
Enquanto a solidão diz da sangria
O templo da esperança cedo cai.

Capacho de meus sonhos, poesia,
Embaralhando os passos, não me atrai
Vencendo por nocaute a fantasia
Espectro da ilusão não vem nem vai.

Um soco desferido em minha nuca,
O tapa quebrando óculos, vou cego.
Ingredientes fazem mestre-cuca

Caduco se não tenho o teu amor.
Nos restos que deixaste, eu já me apego,
Nos cacarecos teus, reza e louvor...



827

A velha teimosia não me larga,
Sou mesmo cabeçudo, mas garanto
Que enquanto não secar todo o meu pranto,
A voz sem solução inda se embarga.

A vida continua sendo amarga,
O resto de esperança quando janto
Mostrando esta faceta: desencanto,
Impede que eu deseje o gozo à larga.

Largado pelas ruas, um lagarto,
Enquanto não decide, já nem parto
E fico boquiaberto ao ver as teias

Que teces tão somente pro domínio
Usando o teu poder- raro fascínio,
Bebendo todo o sangue em minhas veias...




828

A velhice batendo em minha porta,
Trazendo as tempestades invernais...
A boca que beijava anda mais torta,
As pernas já não dançam carnavais.

O que fora vital, já não me importa.
As horas já não passam, voam mais.
A faca desdentada já não corta.
Os olhos que choravam pedem paz...

A velhice não deixa um só momento...
Não permite sequer esquecimento.
Representa fantásticas nevascas.

Da pele diferenças velhas cascas...
Aprendendo depressa a ter perdão.
Peço: Não envelheça o coração!




829


A venusta mulher por quem deliro,
Trazendo teus adornos naturais;
Transladando meus versos faz um giro
Remontando a meus sonhos ancestrais...

O teu nome, incrustado num papiro,
Traduzindo, em vigor, fenomenais
Desejos. Rememoro, num suspiro,
Um tempo que não volta, nunca mais...

As púrpuras saudades inflamadas,
Expõem toda a dor que me entranhou.
As chagas no meu corpo tatuadas,

Não negam, pois eternas cicatrizes,
As horas quando um deus presenteou,
As marcas destes dias mais felizes...



830

A verdade queimando-me as entranhas
Banhando de alegria os velhos rios
Sangrando nos antigos desafios
Percorro sem temor, altas montanhas.

Conheço os teus caprichos, tuas manhas,
E enfrento calmamente tais estios,
Seguindo os teus caminhos sei dos fios
Por mais que as rotas surjam tão estranhas.

Tua inocência salva e me desnuda.
Na ponta dos teus dedos, a verdade,
Meus pés roçando a terra; extensa e muda.

Olhar alçando os mares do infinito,
Percebem sutilmente a claridade
Do sonho juvenil, mas tão bonito...



831


A verdadeira força vem do amor!
Não tenho mais qualquer dúvida disso.
Se eu fui; em tua vida, um beija-flor
Refaço a cada beijo o compromisso.

No viço que se empresta à flor de lis
Plantada nos canteiros da esperança
Um velho jardineiro, este aprendiz
Retorna aos tempos belos de criança.

Amor, meu analgésico perfeito,
Na cura em que se dá o sofrimento
Estende os seus varais dentro do peito
Queimando em febre expressa o seu intento.

Dos erros, aprendi, eu te garanto,
Do amor, a mola mestra, luz e encanto...



832


A vergonha assolando meu país!
Pelos cantos a fome se aplacava.
Imprensa, oposição qual meretriz,
Ao ver que velha noite se acabava,

Um sonho mais gentil se acalentava,
Já tentam impedir de ser feliz
Aquele cuja fome não calava,
Aquele que vivia por um triz!

Silêncio sobre torpe corrupção
De quem sangrou, roubou,qual vendilhão,
Não deixando sequer resto de esperança...

Ao ver esse sorriso da criança
Faminta, não consegue se calar!
Ao povo por vingança, TRUCIDAR!



833


A véspera da fome é o degredo;
Por isso não segregue o coração.
Segredes o mais límpido segredo,
Mas nunca se permita a solidão...

Da vida já nem quero novo enredo,
Basta-me ser feliz; que vou fazer?
Nas tramas de teus braços, sempre cedo,
Pois quero, simplesmente; o teu querer...

Espero nova espera mais feliz,
Num tempo que se torne mais amigo;
Anseio caminhar sem cicatriz.

Pressinto o sofrimento, mas nem ligo,
Sabendo que encontrei felicidade
Louvando assim a força da amizade...


834



A vida, picadeiro em que converto
As dores que me marcam sem demora.
Nos palcos onde mostro meu concerto
Tristeza se demonstra e é senhora.

O tempo que passei não tem conserto
Não pode mais tornar-se belo agora.
Um títere da peça já me alerto
A morte sempre chega antes desta hora...

A peça desgarrada do contexto
Meus sonhos e desejos não se expressam.
Errei, não decorei sequer o texto.

No fundo tanta coisa triste à beça,
Pecados que forjei não se confessam.
A vida me pregando a mesma peça...


835


A vida, sem ninguém, segue funesta;
Melancolia em noite solitária.
Apenas o vazio ainda atesta
Minha ilusão que sei desnecessária.

Teria ainda um resto de esperança
Rondando a minha casa se eu tivesse
Ao menos, do passado uma lembrança.
Quem vive sem ninguém sempre padece...

Sem nada que me lembre uma partilha,
O coração sozinho e vagabundo
Entranha na esperança. Amarga trilha
Na qual, pobre iludido, eu me aprofundo.

Revendo desde agora o que vivi,
Deságua nesta ausência, amor, de ti...



836

A vida, minha amiga, às vezes se faz ácida,
Minha alma se perdendo andando maltrapilha
Outrora uma pessoa amável, mesmo plácida
Aos pouco penetrando, amarga; em outra trilha

Percebe o quanto é vil o mundo de quem sonha
Transforma-se em escombro e morre a cada dia.
A noite se transmuda e segue mais medonha
A dor e a solidão em louca e rara orgia

Rasgando o que sobrara, amaro coração...
O vento em tempestade; a lua/escuridão
Meu canto segue vão, atada a liberdade.

O gozo já se esfuma, o que me resta agora?
A vida se desmancha aos poucos em cada hora.
Restando tão somente, a força da amizade!



837

A vida, do teu lado, radiosa.
A sorte num instante tudo muda,
Quem teve uma aventura desditosa,
Percebe nos teus braços, grande ajuda,
Tua presença amiga e carinhosa,
Protege contra a seta pontiaguda

Que a dor em momento assim nos lança,
Ferindo com terrível crueldade.
Mas tendo na amizade uma esperança
Encontro finalmente a liberdade,
E o coração voltando a ser criança
Percebe mais feliz, tranqüilidade.

Riscando num segundo em cada verso,
Distante de outro tempo tão perverso...



838



A vida;um carnaval em adereços,
Em tantas fantasias me embalando,
Num baile mil ternuras desfilando,
Mudando desta sorte os endereços.

Amor já me cobrando ricos preços
Não sabe conduzir, nem quanto ou quando.
Aos braços de quem amo me entregando,
Percebo em passeata meus tropeços.

Nos lenços que balanças, teu adeus,
Os olhos embuçados quase ateus,
Demonstras quanto dói a decisão.

Mas, amor; implorando por perdão,
No camarote imenso da saudade
Não vi mais desfilar felicidade...



839


A vida, companheira, em dores passa.
Em tristes romarias, os aflitos
Passeiam angustiados tais proscritos
Da sorte, cavaleiros da desgraça.

Às vezes num sorriso que disfarça
A sina de infeliz oculta os gritos
Dos pobres sofredores. Os benditos
Desejos se perdendo na fumaça.

A juventude morre esfarrapada
A mocidade aborta uma esperança.
Sozinho em noite escura, quase nada

Restando senão dor; mas na verdade
A sorte desejada inda se alcança
Nos braços tão sinceros da amizade...


840




A vida agora em paz, já não desanda
Quarando uma esperança no meu peito.
Os olhos vão rodando na ciranda
Mergulho no teu lago, satisfeito,

Palavra desejosa e mais sagaz
Esconde mil detalhes, subterfúgios,
Quem quer o amor que traga a boa paz,
Encontra nele os gozos dos refúgios.

São tantos os meandros deste jogo,
No qual não há sequer um vencedor.
Querendo o teu anseio desde logo,
Aprendo a ser um novo jogador.

Os rios vão buscando a mansa foz,
Vencendo a corredeira mais atroz...


841

A vida ano que vem, talvez quem sabe
Num quase que não tenho já faz tempo.
No passo de quem vai que não se acabe
A pedra no caminho é contratempo?

Bebido deste vinho, pás carrego
Cultivo o que não quis, fazer o quê?
Procuro pelo amor, porém sou cego,
O gozo de viver: diz-me- cadê?

Amálgama dos sonhos, sombras feitas
Batuca uma vontade de aguardente.
A lua te sarrando enquanto deitas
Cravando em minhas costas, unhas, dentes.

Acredito que possa, enfim, voar
Deitando meu tesão neste luar...


842

A vida ao permitir tantas façanhas
Espalha no jardim, divinas rosas,
Amor vai adentrando nas entranhas
E torna nossas vidas grandiosas,
Felicidades mostram-se tamanhas
Quando em palavras doces carinhosas.

Quem teve em seu passado, amor tão fero,
Marcado por tristezas e cobiças,
Percebo que também de ti espero
As flores perfumadas, sem as liças
Nas quais por tantas vezes desespero,
Tornando nossas vidas mais mortiças.

Não deixe, minha amiga que a dor vença,
Nos laços da amizade, a recompensa...



843


A vida batendo no meu peito
Não economizando sentimento
Fazendo que me encontre insatisfeito
Abrindo novamente, solto ao vento.

Na fantasia sempre tão romântica
Meus versos são serenas tempestades.
Vontade de te amar tão grande, atlântica;
É quase que suprir necessidades...

Abrindo-se também a flor dos sonhos,
Na lua que não sei se mais terei.
Os campos que passara, se risonhos,
Em plena alegoria que criei.

Não temo a triste folha que descoro,
Eu sei que, na verdade amor... Te adoro!



844



A vida chega e sangra sem perdão;
Dilacerando todo triste sonho.
Nada mais rutilando, resta o não;
O rumo deste barco é tão medonho.

Cicatrizes abertas; podridão.
Nas pernas que se quebram; eu me exponho.
A cada novo verso outra aversão.
Fui arrancado à fórceps, bisonho.

Amor que não teria, ledo parto.
Abortei das entranhas; meu futuro.
Das torpes cantilenas já me farto.

Perambulo vielas, salto o muro,
Talvez eu seja um verme; eu me procuro,
Do amor abandonado, eu me descarto.


845


A vida claramente qual remanso
Depois que esta alegria nos tomou
O amor que canto em versos, sem descanso,
Moldura em que minha alma se encontrou,

Vestido de esperança sempre avanço,
Buscando aonde estrela mergulhou
O coração feliz, batendo manso,
Já sabe o que procuro, aonde vou,

E segue este cometa enamorado,
Seguindo o que me resta, do teu lado
Na glória que se mostra sempre tanta.

A força deste amor nos conquistando,
Sublime fantasia derramando
A cada novo dia se agiganta.




846

A vida colocando pá de cal
Em todas esperanças que trazia,
Num ato em desespero, sem igual,
Matando pouco a pouco, em agonia.

O golpe desferido foi fatal
Deixando para trás o que eu queria.
Na dor angustiante, uma ancestral
Certeza de que nada poderia...

Mas vindo bem distante um novo vento,
Assoma e toma a forma magistral
Que invade sem pergunta o pensamento,

Demonstrando um resquício em claridade.
Na força que demonstra que a amizade
Retrata um santo Deus, fenomenal...



847

A vida com certeza traz mistérios
Aos quais eu me submeto todo dia.
Surpresas que nos mostram que critérios
Jamais existirão, pura magia.

Ao encontrar depois de tanto tempo,
Jogado pela rua este bilhete,
Percebo solidão ser contratempo
E a sorte só nos tem como joguete.

Um sonho muito além do que mereço
Ou mesmo concebera no passado,
Ao ver neste papel teu endereço
E o amor a mim, com força endereçado

Eu percebi que existe sim um Deus,
Unindo os dois caminhos, teus e meus.


848

A vida com certeza traz o medo
E gera da esperança este vazio
E quando alguma sorte eu desafio,
Um passo para o nada e o vão concedo,

A sorte se traçando em desenredo
O tanto quanto eu quis já dita estio,
E o sonho se apresenta em tênue fio,
Deixando o dia a dia atroz e ledo.

Vencido pelo passo sem destino,
O quanto ainda quero eu determino
Audaciosamente em noite escura,

Depois de certo tempo, nada vindo
O quanto se imagina agora findo
E a vida sem sentido me tortura.

849

A vida com certeza, só se abranda
Depois de ter passado a tempestade;
Se amor, a nossa vida já comanda,
Reflete em nosso peito a liberdade.

Porém se em desventura vã desanda,
A vida não conhece claridade.
Um coração que andando vai de banda,
Pesando bem mais forte uma amizade.

Assim depois de triste decaída
A sorte se fez bênção no deserto,
Amor que em amizade descoberto

Ajuda a resgatar o bem da vida.
Depois, na caminhada mais possível,
O mundo se anuncia em paz visível...


850

A vida como um rio turbulento
Descendo em cachoeiras e remansos.
O sol por entre nuvens, bruma e vento,
Momentos pós tempestas, calmos, mansos.

No lusco-fusco, às vezes eu me perco,
As margens me confundem, montes, matas
As nuvens se acirrando, fazem cerco,
As cores se misturam, ouros, pratas...

Porém o cinza toma este cenário
E as sombras me acompanham sem dar tréguas.
O tempo vai passando, temerário,

A chuva se aproxima no horizonte,
Distante de um remanso muitas léguas,
O amor que tanto eu quis, serve de ponte...


851



A vida desafia e já nos doma,
Um coração que outrora foi guerreiro.
Agora se perdendo já se assoma
E mostra-se mais frágil, por inteiro.
Porém te entrego amor. Renove a soma
Vencendo o medo, velho carniceiro.

Os dias que formaram primaveras
Distantes deste inverno que hoje vem.
Parece que já foi em priscas eras
Por tanto tempo andei ser tem ninguém.
O peito em que se abriram tais crateras
Um fio de esperança agora tem.

Rebelde coração, sem rumo ou meta,
Explica, na verdade, o ser poeta...



852


A vida desde o nosso batistério
Prepara para nós a sepultura
Bramindo com vigor golpe funéreo
Às vezes com aspectos de tortura.

Envoltos nesta bruma, em tal mistério
A dor que nos maltrata não se cura
Descortina a nossa alma em climatério
Legando um frio inverno em noite escura.

Na solidão terrível dessas fragas
Cobrindo o nosso corpo em negras chagas.
A sombra da esperança? Claridade...

Embora quase sempre seja tarde
Aplaca o firme sol que assim nos arde
Somente o laço firme da amizade...



853


A vida destinou-me tal ventura
De ter esta alegria duradoura
A sorte que já veio e a futura
Em tua fantasia já se doura.

Minha alma te procura a todo dia,
Sabendo que algum dia serás minha,
Vivendo do teu lado em harmonia,
Na mão que com desejo, me acarinha.

Teu quero ser; eterno namorado,
Erguido da paixão em vivo sonho,
Andar o mundo inteiro lado a lado,
Querida, é o que desejo e que proponho.

Assolam-me flamejos de um vulcão,
Neste desejo imenso, coração...


854

A vida do teu lado, extasiada
Permite que eu me expresse em cada verso
Vagando com presteza este universo
Nos braços da mulher imaginada.

Não tendo depois disso quase nada,
Não andarei sozinho e nem disperso
Nos braços de quem quero, estou imerso
À espera da fantástica alvorada

A barca dos meus sonhos singra o mar,
Bebendo da emoção vai ancorar
No porto que em belezas se assenhora.

Colhendo em tua boca o que plantei,
Agora com certeza eu já terei
Prazer que eternamente revigora



855



A vida é tecelã que na aquarela
De cores tão diversas emoldura
O que no dia-a-dia se revela
Num misto de furor e de brandura.

O barco desfraldando a mestra-vela
Percorre este oceano de amargura,
A lua-montaria, o sonho sela
E vaga clareando a noite escura.

Amar é perceber cada detalhe,
Por mais que a solidão em fogo entalhe
Usando da tristeza por buril,

Eu creio ser possível um novo sol,
Tramando a claridade do arrebol,
Formando este cenário mais gentil...


856

A vida é um mistério, disso eu sei,
Muitas vezes sozinhos caminhamos,
Além de todo o sonho que vibrei
Descanso minhas costas, fogos, amos...

Distante do que fora a dura lei,
No mundo em que vivemos, nos amamos,
Mas tanto que em castigos eu sangrei,
Cansado deste rumo que tomamos...

Mas vejo em tua voz, querida amiga,
A sorte que talvez não encontrara
Nos rumos que por vezes eu tomara.

E sinto que isso pode me salvar,
Nesta ternura imensa e tão antiga,
Com tua amizade sempre irei contar...


857


A vida em alegria, calma e terna
Na procissão de luzes e de estrelas,
Na tenra fantasia, não hiberna
E deixa as nossas noites bem mais belas.

A força conclamada em paz interna
Permite que ilusões, que sempre ao vê-las
O barco sem tempestas não se aderna.
As horas; tão gostoso assim vivê-las.

Sorrisos já não são simples centelhas,
No mesmo brilho agora, tu espelhas
Raiar inesquecível, deslumbrante.

Mantendo sempre acesa essa lareira,
A chama além do sonho que se queira
Na duradoura flama de um instante...



858


A vida em névoas feita, já neblina
Cigarros são meus únicos parceiros
E neles os momentos derradeiros
Insânia vem e sonda; e me domina.

Vulto fantasmagórico se declina
E beija os frios lábios costumeiros,
Retratos de outros tempos, vêm ligeiros
E partem com a nuvem matutina.

Apenas um cortejo de lembranças,
Levando nos seus rastros, esperanças
Deixando tão somente este vazio.

O quanto fui feliz. O sol invade
E traz pelas janelas, a saudade
Interminável sonho que recrio...



859



A vida me cedendo os agasalhos,
Permite-me saber da noite e frio...
Não temo meus fantasmas, espantalhos;
Não temo a solidão, eu vou vadio.

Persigo procurando meus atalhos...
As horas se passando, meu estio;
O sol que me tortura; os atos falhos.
Pretendo conhecer desejo e cio...

Minhas certezas, sumo e cercanias.
Minas profundas, resto e valentias;
Rotas perdidas, rumos e incertezas.

Quem fora podridão hoje respira...
Quem fora solidão, hoje transpira.
Flutua, cultuando estas levezas...



860


A vida me levando na corrente
Que sempre traz a sorte que Deus quer,
Às vezes infeliz, outras contente,
Na espera do que der, do que vier.

Qual a folha caída em correnteza
Na chuva que não pára de cair,
Levado pela vaga em incerteza
Sem nada que me impeça de seguir.

Sou esmo, sou sem nexo, um eremita
Que teme toda a luz que se aproxima.
A sorte tão distante não se agita
Restando-me buscar somente a rima

Que faça da amizade uma esperança
De noite diferente, em plena dança..



861


A vida me marcando em funda chaga
Fazendo no meu peito uma avaria,
Distante deste sonho, noutra plaga,
Espero te encontrar, quem sabe um dia.

A dor que me consome e já me traga
Dizendo que em amor, velhacaria,
Mas quando vens, querida, tudo alaga
Transforma toda a dor em fantasia...

Navego nos veleiros e jangadas,
Os mares transformando velhos rios,
As noites que retornam consteladas,

Embarcações diversas que me levam,
Tanto calor, às vezes num estio,
Em duro inverno, olhares tristes nevam...




862


A vida me permite tal grandeza
Nos atos onde busco majestade?
Quem dera conhecer felicidade,
Poder dispor enfim de tal riqueza!

Voando por teus braços na leveza
Da pluma que traduz imensidade.
Oscilo tantas vezes, na saudade,
Como medo da cruel fatalidade...

Meus olhos pobrezinhos, rasos d’água
Lotados, carregando tanta mágoa,
Buscando a claridade... Foi embora...

Me lembro de momentos mais felizes,
A vida se desfez, tantos deslizes...
A noite me promete nova aurora?



863


A vida me promete a primavera
Talvez a derradeira em minha vida...
Não sei mais se resisto a tanta espera.
Não se demore tanto assim, querida...

Saudade corroendo pouco a pouco,
A primavera passa tão depressa...
Em grito desumano, amor tão rouco,
Aguarda mas precisa; tenho pressa!

Fechando os tristes olhos devagar,
Divago sobre quem já foi embora.
Não tarde meu amor, o teu chegar,
A solidão em tudo me devora...

Espero, ansiosamente por teu sol,
Meus olhos te buscando, girassol...



864

A vida me promete este tesouro,
Vestido de mulher em riso franco.
Errado sei que sou, do nascedouro,
Quebrei a poesia e não desbanco

Tirando da alegria todo o couro
O pangaré da sorte andando manco,
O amor jamais será um bom agouro
E em versos tão dispersos eu desanco.

Um passo sem tamanco faz a festa
Tropeça numa escada e vai liberto,
O beijo se mostrando tão incerto

Encara a fantasia que me resta,
Se o templo se perdeu, foi profanado,
O amor já se esqueceu. Cadê recado?




865


A vida me propondo encruzilhadas.
Somando o quase nada, resta o zero,
O amor que tantas vezes diz que quero,
Deixando as sensações, cruéis, ilhadas.

Palavras tantas vezes humilhadas,
Servindo no meu prato de tempero,
Não vou falar sequer do desespero,
Nem das louças tão sujas empilhadas.

Apenas vou beber até cair,
E nada e nem ninguém vai me impedir.
Que se danem as velhas convenções.

Metamorfoses somo em minha vida
Que embora tantas vezes vã, perdida,
Encontra sempre ao fim, as direções...



866


A vida me tocando, na ribeira
Levado pelas sinas mal tecidas,
Na morte derradeira companheira,
As esperanças somem, já vencidas.

Resumem as histórias verdadeiras,
Amargas soluções pra tristes vidas
A noite do teu lado, a derradeira
Impede que eu vislumbre outras saídas.

Capítulo final que se pressente,
Encerrando o farnel de toda gente
Que um dia quis sorrir, mas vou sozinho;

Espalho a tempestade nas andanças
Na busca por antigas esperanças
Desvio a cada curva, o meu caminho...



867

A vida me vestindo antiga túnica
Palavras se perdendo em luzes trágicas
Vontade de te ter, mulher tão única
Nas noites insensatas, porém mágicas.

A noite se esvaindo quase estóica
Sem nada, sem ninguém que venha lânguida
A luta se demonstra sempre heróica
Embora algumas vezes bem mais cândida.

Nos termos que se fez este armistício
Perdido; eu sigo em voz triste e patética
Amores me impelindo ao precipício
Matando uma ilusão viva e poética.

Nos jogos que se fazem histriônicos
Quem dera se pudessem ser harmônicos...


868

A vida não dá tempo pra sonhar,
Apena quem deseja ser romântico.
Minguando um sentimento que era atlântico,
Matando toda fruta do pomar.

Quem pensa que consegue disfarçar
A lágrima contida em algum cântico,
Amor já se tornou erro semântico
E a fera na tocaia a me espreitar.

Ouvindo a tua voz tão delicada,
Volvendo ao reino aonde a boa Fada
Dizia de castelos e princesas,

Percebo que inda temos solução,
Nas tramas, nos enredos da paixão
Banquetes entre valsas pondo as mesas...



869


A vida não me deixa nem compressa...
Do vinho da esperança? Só vinagre
A mão que me maltrata já tem pressa,
Não há sequer um sonho que consagre

Felicidade existe? Não conheço.
Quem soube só do mal procura o bem,
E esquece, de repente o seu tropeço.
Não quero ser brinquedo mais de alguém,

Eu sei que tanto errei, mas sendo humano,
A perfeição jamais existirá.
Agora se eu mereço o desengano,
Talvez o sol que sonho, morrerá.

Quem dera se eu tivesse uma amizade,
No fim da negra noite : a claridade...

870


A vida não permite mais lirismos.
Nem sequer o sabor de uma saudade
Pelas portas do céu, os meus abismos,
Adentram ocultando a claridade...

Não me permitirão meus transformismos,
Nem a solene dor da liberdade;
Herdada pela força d’atavismos...
Permita, pelo menos, falsidade!

Nas pedras do caminho, tento o salto.
Na rigidez cruel deste basalto,
Não me restou sequer mais uma curva...

Meus medos, minha fome, tudo enturva...
Fantasias perdidas no egoísmo.
A vida reproduz meu fanatismo...



871


A vida não seria torpe e vã
Se o amor não fosse apenas tal miragem.
O quanto poderia neste afã
Realizar contigo esta viagem.

Porém a vida trama outras verdades
E deixa a solidão, fatal herança,
Não quero ter somente as vaidades
Estúpidas, cruéis de uma esperança

Eu quero muito além de um simples cais,
Ancoradouro sempre mais seguro.
Decerto que eu procuro, agora mais,
Que um simples clarear em céu escuro.

Bem mais que estar feliz e satisfeito,
Eu quero em nosso caso, amor perfeito.




872



A vida não teria tanta luz
Se quem eu sempre quis não me quisesse
Aí não bastaria toda prece
Imagem que no olhar se reproduz.

Sem medo da saudade; amor traduz,
Bem mais do que meu canto já merece.
De todos os meus sonhos não se esquece
Aquela que em meu verso se seduz,

Somente essa menina que chegou
Em meio à tempestade, já brilhou
A flor do meu desejo mais profundo.

Mar e sol, lua e vida soberana
Um peito apaixonado não se engana
E morre nos teus braços num segundo...


873

A vida negará qualquer adeus
A quem já se perdeu de tanto amor.
Olhares divinais iguais aos teus
Invadem o meu peito sonhador.

Caminhos confluentes teus e meus
Refazem o perfume desta flor,
Por tantas vezes passos vãos, ateus
Tramaram tão somente amarga dor.

Partindo deste nada, tive o nada,
Porém minha alma louca e transtornada
Cansada de vagar inutilmente

Encontra no teu peito ancoradouro,
Sabendo que encontrei, enfim, tesouro
Meu rumo se transmuda num repente.



874

A vida no meu peito, entardecendo,
Promete anoitecer bem mais suave...
Amor com mansidão adormecendo
Comanda sem tumultos a minha nave.

Esqueço em algum canto, revolta, ira,
Carinho que tu fazes me sustenta
A dor que posso ter, cedo retira,
E todo o meu amor, macio, venta...

O sol estremecido não desponta
A lua envaidecida inda brotando
Nas hastes deste amor, percebo a ponta
Que fere mansamente, mal cortando...

Amor que calmamente faz espuma
Derruba minhas dores, uma a uma...


875


A vida nos demonstra tantas chances
De mostrarmos amor a muita gente.
Por mais que te pareça não alcances,
Pequenas coisas fazem tão contente
Aquele que recebe uma atenção
Ou mesmo paciência pra escutar.
Um sorriso, um abraço, uma emoção
Por vezes nos ajudam. Se pensar
Nisso, meu companheiro, tu virás
Como é bom partilhar de uma alegria.
Assim propagarás por certo, a paz.
E viverás a vida em harmonia...
É nas pequenas coisas que sabemos
O bem que ao semelhante nós fazemos...




876


A vida nos ensina o bem de amar,
Sem ter qualquer limite nem medida.
Por mais que uma palavra vã te agrida
Melhor deixar o barco te levar.

Assim tu poderás beber do mar
Além da água que salga em despedida,
Aprenda a cada dia com a vida,
Que tem rara nobreza de ensinar.

Os sonhos? São as asas que Deus deu,
E neles universo todo teu
Ao qual ninguém penetra se não deixas.

Não ceda aos vãos caprichos insolentes
Daqueles que vazios, descontentes,
Apenas aprenderam tolas queixas...




877

A vida nos ensina uma lição:
Quem ama e necessita ter respeito
Precisa respeitar do mesmo jeito.
Precisa perdoar se quer perdão!

Pois se Deus tanto amou na criação
Do mundo que gerou, assim perfeito;
Não pode permitir-se contrafeito
E sabe que quem ama não diz não!

A vida é necessária e se completa
Em cada criatura. A velha meta,
Ser feliz, se completa no seu par.

Se quer ser respeitado, então respeite,
Pois se quer ser aceito, sempre aceite.
Quem age desta forma sabe amar!




878


A vida nos ensina muito enquanto
Ao mesmo tempo e fere e acaricia,
Assim regendo a dor e a fantasia,
Também noutro momento diz quebranto

E o quanto poderia e não garanto
O passo em noite escassa, atroz e fria
Marcando com terror, esta agonia
Gerando após o sonho, o ledo pranto.

Vestindo esta mortalha; uma esperança
Audaciosamente ao nada lança
A sorte desejada de quem tenta

Vencer com calmaria esta procela
E quando a poesia se revela,
Aplaca em tal bonança esta tormenta.


879

A vida nos impele desde cedo
A procurar apoio e convivência
Quem tem e reconhece esta ciência
Não traz a solidão nem o degredo.

Pra ser feliz já basta este segredo
Que salva contra a dura penitência,
É preciso saber, então clemência
Com quem concebe a vida em outro enredo.

E ter a consciência assim liberta
Respeitando as diversas diferenças
O mundo te trará as recompensas.

Uma alma sorridente e sempre aberta
Prenúncio de viver felicidade
Numa pura acepção de uma amizade...


880

A vida nos impõe as turbulências
Terríveis cachoeiras sob a ponte,
E o céu quando se nubla no horizonte,
Permite aos corações torpes demências.

Não posso suportar tais penitências,
Tampouco quero seca a velha fonte,
Enquanto o sol, de novo, não desponte,
Só peço ao Criador, paz em clemências.

Porém, mesmo que sinta desbotado
O terno que me diz de um bom passado,
Em meio às esperanças mais sutis.

Eu creio, mesmo que isto seja tolo
Que um dia, restará fatia e bolo,
Da festa que emoção inda me diz...


881

A vida nos maltrata e nos perjura
Roubando um sentimento, às vezes claro.
Olhando os descaminhos logo eu paro,
E vejo noutros céus, outra pintura.

Erguendo as mãos tão frias, em tortura,
Carrasco deste sonho, um ser avaro,
Impede que se faça num reparo,
A vida noutros termos, com brandura.

Profundos dissabores, fundo corte,
Profanam os carinhos, seus altares.
Num vento tormentoso frio e forte

Quem sabe talvez tenha a claridade,
Em sonhos de Quilombo outro Palmares,
Na força e no poder de uma amizade....


882


A vida nos mostrando duras leis
Deixando o nosso peito desarmado,
O dia que se foi, triste passado,
Não bebe mais dos gozos feitos méis.

Nos braços em que fortes vos ateis
Permitem novo dia imaginado
No sonho que se fez tão encantado
Castelos eu concebo: lendas, reis.

Vencendo, com vigor, os inimigos,
Na luta que se faz no dia a dia,
Os medos esquecidos, tão antigos,

Apenas desfraldando esta bandeira
Que crava em nosso peito uma alegria
De ter a cada liça, a companheira...


883

A vida nos remete a valsa e festa

Nos versos somos unos, universos

Aberto o coração, enorme fresta,

Dizemos nossos somos tão diversos.



Nas ondas espalhadas pelos ventos

Se vemos ou se temos, não tememos,

Sem pena, libertamos pensamentos,

Na valsa que dançamos já vivemos.



Um mar que se agitando nos acalma,

Nesta torrente imensa que nos cura,

Futuros que guardamos, mão e palma,

Sem medo sem remendo, só ternura...



Ter cura em cada verso que cantamos,

Encanto que somenos, já somamos...



884

A vida nos teus braços, bem amada,
Transcorre com total felicidade.
Sentindo da alegria, a baforada
Percebo esta fantástica deidade

A mão de quem se mostra abençoada
Roçando a minha pele. Na verdade
Encontro a sorte grande tão buscada
No amor que me traduz eternidade.

Deixando para trás as aparências
Na vida que encontramos transparências
Em atos e palavras mais gentis.

Percorro tão suave o meu caminho
Tocando o corpo teu; brando carinho
Certeza de que sou, enfim feliz.



885


A vida nos tomando em majestade
Permite que vejamos belo templo
Aonde se percebe uma amizade,
Perfeita sintonia, raro exemplo
Da mais perfeita paz, da cristandade.
Nos olhos desta amiga eu já contemplo

O sol que vem raiando, comovido,
Num sentimento puro, pois eterno,
Carinho que se mostra engrandecido
Sublime sensação de ser mais terno,
Nos braços da amizade, convencido
Da suprema beleza: amor fraterno.

De todos os que eu sei, sua clemência
O torna, nos amores, excelência...



886


A vida nos trazendo uma estranheza
Que toma em desespero a nossa mente,
Embora tantas vezes com presteza
Remonte a velhos dias, lentamente.

Nos mares esquecidos, correnteza,
Nos rios da esperança esta corrente.
Que mostra num momento a realeza
De uma amizade feita plenamente.

E tanto quanto eu canto, já sabia
Dos cardos e das curvas, pedregulhos.
Nas ondas dos amores, meus mergulhos

Terminam tão somente em água fria.
Juntando tantos cacos, meus entulhos,
Apenas a amizade ainda me guia...






887


A vida nos trazendo – em lágrima- o mistério
Num erro cometido em um lugar comum,
Embriaguez que cura, em farto gole – rum,
Seja, amigo, talvez amor sem ter critério

Invade nossa casa e sob seu ministério
Não deixa quase nada e vestígio nenhum
Subindo nossa escada este algoz, número um
Tirando quem sonhava em rumo calmo e sério

De todo o prumo exato, em passo decidido,
Mostrando em outro fato, às vezes derradeiro
Negando a sorte plena e mesmo a recompensa

Por ter tanto lutado e condena ao olvido
Com risos de ironia, um mal alvissareiro,
O amor faz seu estrago e torna a dor imensa...



888

A vida numa festa, meus amigos
Trazendo uma alegria em passo certo,
Distante dos terríveis inimigos,
O coração em fresta descoberto,
A proteção perfeita pr’os perigos
Que cada vez estão, daqui, mais perto.

Eu quero o gosto doce da morena,
Na audácia que se mostra em fogo e chama,
Deitando minha sorte, logo acena
Fornalha que me aquece em minha cama.
Paisagem sensual que, nua acena,
E num momento insano, vem e me ama.

Eu quero ser feliz e nada mais,
Distante dos medonhos vendavais...


889

A vida passa a ser deliciosa
No cálice perfeito em que mergulho
A boca mais audaz, maliciosa.
A senda sem espinho ou pedregulho.

Do quanto eu te desejo, e já me orgulho
De ter em minha vida; a fabulosa
Mulher que se entregando sem orgulho
Do mesmo gozo insano, se antegoza.

Assaz maravilhosa, a noite segue,
Sem blagues armadilhas ou rancores.
Não quero mais saber de uma mixórdia,

Vivendo em mansidão, plena concórdia
Acórdãos respeitados, bel prazer
Num sonho tão sublime de viver...


890

A vida passa brusca; e nela, a sensação
Desoladora e triste, o gosto mais amaro.
Deixa-me, então, decerto, o desejo mais raro.
O de percorrer, livre, espaço e amplidão!

Nunca despreze a dor, nem negue o seu perdão.
Amor belo, de outrora, a morte sente o faro
E em menos d’um segundo, está no desamparo!
Amor é qual semente, a rega brota o grão.

Não despreze a mulher mesmo que não a queira.
Amor nunca permite afronta nem cegueira.
O vaso que se quebra, aceita nova cola.

Mesmo que nunca seja igual depois da queda.
Amor sempre se paga, o beijo é a moeda.
Por fim, amor não sabe e não respeita escola!


891


A vida pode dar bem mais que sonho
A quem se entrega inteiro e sem pudor.
Fazendo da alegria o seu louvor
Certeza de outro tempo mais risonho.

É tudo o que desejo e te proponho,
Levando em calmaria nosso amor,
Futuro se mostrando promissor
Deixar no esquecimento um mar medonho.

Quem sabe desfrutar tal maravilha
As sendas mais suaves sempre trilha,
Seu barco com fantástica ancoragem.

Porém quem desconhece esta verdade
E traz bem mais distante a liberdade
Desesperança marca em tatuagem.


892


A vida pode ser maravilhosa
Se temos neste mundo alguma ajuda
De uma pessoa amiga e caprichosa.
A sorte num momento, tudo muda,

Espinhos vão deixando a bela rosa,
A dor vai se calando e fica muda,
Diante da alegria fabulosa
Saudade se tornando, enfim, miúda.

Eu tenho uma certeza renovada
Da mão tão carinhosa de uma amiga
Trazendo para a vida uma alvorada

Na qual felicidade já se abriga
E ganho, num segundo outro universo
Matando um mundo rude e tão perverso.


893


A vida preparando intensa vaia
A quem; por vezes, tolo imaginou
Que após seus desvarios encontrou
A cândida ternura areia e praia.

Por mais que em tentação a gente caia
O pouco do que fomos, mar levou,
Deixando a sensação do nada sou,
Enquanto o sol à tarde, vão, desmaia.

Levaste o que restara da promessa
Do quanto a vida cega nos confessa
Mostrando assim somente veleidade.

Adivinhando o fim da nossa história
A boca deste esgoto merencória
Vomita o que bebera da cidade...



894

A vida preparando uma tocaia
Às vezes não permite que sonhemos;
Nos dias doloridos que tivemos
A sorte se escondendo noutra praia.

Por isso, meu amor, daqui não saia
Amar é com certeza o que podemos
Fazer. Nesse belo mar, pois naveguemos,
Que a lua, enamorada, já se espraia.

Roçando um sentimento mais profundo,
Nem sempre nós seremos mais felizes.
Porém, isto valida num segundo

Distantes desta dor – tocaia grande-
Que o tempo já prepara outros matizes
Mas eu te imploro; amor: tocai a glande!


895


A vida prometendo alguma festa
Estampa o teu retrato na janela,
Entrando como um vento pela fresta
Destino, num momento, em paz se sela

De toda esta saudade que me resta,
Beleza de teus olhos me revela
Que enquanto a poesia em amor gesta
O céu trará imagem sempre bela

Na qual as nossas almas comungadas
Traduzem a maior felicidade
Que pode se querer por sobre a Terra,

Depois da solidão das madrugadas
A neblina tomando esta cidade
O teu olhar, farol, por sobre a serra...



896


A vida proporciona tanto corte,
As ruas se transformam em saudades.
Não posso perguntar sequer à morte,
As dores que trancamos trás às grades...

Quem dera se soubesse a minha sorte,
Por certo saberia essas verdades.
Não há um só momento que reporte
Alegrias não passam, veleidades...

Deitado sobre um barco; vil, lascivo,
O medo me carrega qual serpente...
Meu sangue derramado, rubro, vivo...

Nas lutas que perdi, vou indolente...
Não posso confrontar, me perco altivo,
Na palidez mordaz, vivo doente...

897


A vida quando é feita de combate
No qual encontraremos dura treva,
Somente aos solitários, ela abate,
No peito de quem sofre sempre neva.

Um canto que demonstra uma conquista
Vertido em sensações mais prazerosas,
Ao longe uma esperança sempre avista
Jardim que se decora em belas rosas.

A dor em alegria se converte,
Deixando para trás a sorte agreste,
E a fonte da ilusão em risos verte
Promete recompensa em voz celeste.

Tão força poderosa não se cala,
Nem mesmo a tempestade insana, abala...


898

A vida que atravessa nevoeiros,
Percorrendo infinitas amplidões,
Meus erros cometidos, os primeiros,
Me fazem ser mais ermos corações...

As naves que precisam passageiros,
Envoltas em tempestas soluções
Se deixam carregar sem motorneiros,
A chuva vai caindo aos borbotões!

Onde esperava senso nada mais
Me resta senão lumes contraditos...
A chuva devorando a minha paz,

Me restitui levando a velhos ritos...
Muitas vezes pensei fosse capaz,
De poder conhecer os infinitos...



899

A vida que inebria enquanto fere
Merece tão somente o meu desprezo.
Do quanto que não tenho e que interfere
É na verdade o bem que tanto prezo.

Sorriso cadavérico da imunda
Mulher que se fingira num instante
Além da solidão que me fecunda
O sonho de um momento fascinante.

Morrendo em ironia e sarcasmos,
Gritando em mel o fel que produzia.
Sabendo disfarçar falsos orgasmos,
Aos poucos, tão venal, apodrecia.

Cansado das falácias e mentiras,
Devolvo toda a merda que me atiras...


900

A vida que nos traz
Carinhos sem cessar,
Mostrando ser capaz
Do eterno navegar

No corpo que se faz
Prenúncio de um luar
Amor que satisfaz
Sem nunca maltratar..

Eternidade existe
No amor que a gente tem,
Felicidade insiste,

E toda noite vem,
Não sou, querida triste,
Enfim, tenho o teu bem...

901
A vida que permite em sonhos claros
Moldando um bom sorriso em nosso rosto.
Amor que se mostrara assim exposto
Tornando nossos dias; belos, raros.

Assim ao mergulhar em teus sorrisos,
Adentro um infinito e vou audaz,
Beleza que este olhar cedo me traz
Derrama no meu peito paraísos.

Assim posso cantar em liberdade
Amor que seduzindo, cativou,
Vivendo tão somente o que restou

Encontro em teu olhar felicidade,
Rainha dos meus sonhos, benfazeja,
Minha alma enamorada te deseja...



902

A vida que por vezes mal nos trata
Quem dera se encontrasse lenitivo
Nos braços de uma amiga tão sensata
Mantendo este caminho sempre vivo.

Uma amizade sempre desbarata
Perigos que se encontram, faz altivo
Um coração do qual; jamais me privo
Pois sei que nele encontro rara prata.

Ao ver com que carinho tu me falas
Das noites que tivemos em conjunto.
Andando do teu lado, passo junto

Os dias mais felizes desta vida.
A solidão fazendo suas malas
Percebe qual a porta de saída...



903

A vida que prometes, tão escura
Jamais será decerto a que eu sonhei,
A lua se mudando pra outra grei
Deixando como herança, esta amargura.

Depois de tanto tempo em vã procura
Fazendo da esperança a minha lei,
Decifro o que nos sonhos desenhei
Imagem que a verdade transfigura.

Cismando pelas noites, giramundo,
Rasgando os meus poemas preferidos,
Inválidos, decrépitos sentidos

Das dores mais diversas eu me inundo.
E teimando em vagar assim à toa
A voz do meu passado ainda ecoa...



904


A vida que renasce eternamente
Num círculo que sendo vicioso
Permite que se adentre o mavioso
Caminho que liberta corpo e mente.

Eu quero o teu carinho simplesmente
E nele este desfecho fabuloso
Que toma a nossa vida e de repente
Transborda em mar intenso e revoltoso.

Assim nas intempéries da paixão
É necessário sempre ao timoneiro
Tomar com mais firmeza a direção

Do barco que enfrentando o bravo mar
Aproveitando o tempo por inteiro,
Jamais irá decerto naufragar.



905

A vida que se faz como ciranda
Girando o tempo inteiro, idas e voltas
Às vezes nos transtorna ou vem mais branda,
À toa; o pensamento traz revoltas.

O coração pesando, assim de banda,
Trazendo suas rédeas sempre soltas
Da lua que se deita na varanda
Os raios são do amor, belas escoltas.

Porém eu peço, amiga, paciência
Por mais que te pareça penitência
Tenha clemência e aguarde por favor.

Assim que este tormento se findar,
Como se fossem fases do luar
Terás junto contigo, o teu amor...



906


A vida que se fez em derrocada
Tomando meus castelos. Maldição!
Depois de tanto tempo resta nada
Apenas a terrível solidão.

A noite que se fez tão estrelada
Agora, enegrecida, mostra o não.
Amor já se perdeu em negação,
Sobrando só minha alma abandonada.

O medo companheiro, em meus anseios,
Aterroriza sempre em cada verso.
Quem dera, minha amiga, em teus enleios

A vida se mostrasse bem mais minha.
Assim eu poderia, no universo
Salvar minha alma triste e pobrezinha....



907


A vida que se fora outrora pândega
Encontra a calmaria necessária,
Vencendo o maremoto, dribla a alfândega
E traz dentro do peito a luminária

Que permitindo o passo mais audaz,
Em meio a tantas trevas que hoje em dia
Cotidiano amargo já nos traz,
Matando na semente, a poesia.

Amigo nada impede que caminhes
Olhando para a frente, peito erguido.
Teu sonho com meu sonho, peço, alinhes
Assim num caminhar mais decidido

Iremos desvendar tantos mistérios
Do sonho que se dá em vãos critérios...





908

A vida que se sangra em cada porto,
Vertendo em hemorrágicas saudades.
Não vale o que se leva tão absorto,
Esquece de brindar realidades.

Eu dou meu testemunho se quiseres,
Eu sou o que seria se não fosse
Amor da forma louca que vieres;
Amor de qualquer jeito, me remoce!

E faça do outonal, primaveril.
E fale com firmeza e com ternura.
Mudando meu destino, amor sutil,
Que emana e se alimenta em fonte pura.

Vislumbro melhor tempo de chegada,
Depois destas procelas, minha amada...


909



A vida que traz dores e infortúnio
Emoldurando os sonhos no vazio,
Quem teima, com certeza o tempo pune-o,
Total insensatez: eu fantasio...

E busco a mais gostosa guloseima
No amargo que recebo dia-a-dia.
Minha alma ensandecida já se queima
E morre nos altares que ela cria.

Descoberto em abandono, volta e meia,
Incêndios aplacados; resta o sono,
O gozo movediço diz areia
E o verso vai liberto, não tem dono.

Revejo estes porões que sei sombrios
E apago as ilusões; podres pavios...


910


A vida recomeça a cada afã,
Mudança prometida nestes ventos.
O gozo tão sublime da maçã
Entorna em minha vida, os sentimentos.

Amor que em fantasias acontece,
Expressa a mais divina realidade.
O quanto tanto tenho não se esquece
Amar é seduzir a liberdade...

Rolando nos teus braços, perco o fuso,
Redemoinhos tantos encontrados.
Do mel que tu me trazes, quero e abuso,
Canções e melodias, risos, fados...

O quanto te desejo o bem que fez,
Tocando insanidade, insensatez...



911


A vida se baseia em forte viga
E encara a tempestade ou vendaval,
O quanto se demonstra enquanto abriga
O bem desta amizade é sem igual.

Retendo nos meus olhos tua imagem
Depois de tanta luta em minha vida,
Agora uma esperança em nova aragem
Permite que se veja uma saída

No duro labirinto da existência
Que torna a caminhada mais perversa,
Não quero mais sequer tal penitência
O canto em alegria mostra e versa

Destino transformado, num instante
Expressa um canto alegre e triunfante...



912


A vida se demonstra em verde mata,
Nessa luta incessante contra a morte.
Que venha no machado que maltrata,
Na serra que derruba, triste corte...

As árvores, amigo que desmata,
Gigantes ou miúdas no seu porte.
Espíritos que mata e desacata,
Produzem a vingança tensa e forte...

Nos golpes que dizimam a floresta,
Moto serras, machados e queimadas.
Em pouco tempo nada mais resta...

Revoltas da natura são terríveis
Os ventos e as águas revoltadas,
Da natureza, forças invencíveis!


913


A vida se desenha desde agora,
A cada dia eu caminhando assim
Decerto irei saber deste jardim
Florido, na esperanças se decora.

Não deixe que este lume vá embora,
Colhendo cada flor sei de onde vim
Perfuma com certeza dentro em mim
A dona do destino se assenhora

Mostrando num sorriso delicado
A força deste amor abençoado
Por beijos e vontades satisfeitas.

Dos sonhos não pretendo arribação
Apenas transformar em emoção
Desejos que se ofertam quando deitas...




914

A vida se entornando na paixão
Não deixa qualquer força suplantá-la!
No começo e no final de uma estação
Bem mais alto que tudo sempre fala

Trazendo para a vida uma emoção
Que bem dentro do peito tanto cala
Em nosso dia a dia a sensação
Divina de poder sentir a gala

E o glamour que nos traz felicidade.
Embora tantas vezes venha a dor,
Valendo por si só a claridade

Que somente a paixão pode trazer
Abrindo todo o peito em destemor,
Sem medo da amargura e do prazer...



915

A vida se equilibra entre dois pontos
Princípio traz o fim, ele é inerente
Por mais que outro caminho a gente tente,
Os passos desde início estão já prontos.

As poucas ilusões são lendas, contos,
O sol renascerá e, novamente
O tempo se esvaindo é condizente
Com sonhos que nos tornem ledos, tontos.

Mecânica da vida se fazendo
Num carrossel de luzes e de trevas.
Tu colherás por certo o que tu cevas.

Mas saiba que ao final, o nada vendo
Terás somente o vago por herança.
A eternidade? Frágil esperança...



916


A vida se escondendo num casebre
Na beira de um regato, interior,
Levanto com meus versos esta lebre
O que basta pra ter um grande amor?

Aonde a fome bate, amor se manda,
Difícil repartir dificuldades,
Dançando como toca sempre a banda;
Por mais que tão romântica tu brades

Dizendo desta utópica falácia
De um lírico formato ultrapassado,
Perdoe, minha amiga pela audácia
Há muito tempo guardo isto, entalado.

Eu não suporto tanta hipocrisia,
Que uma alma tão ingênua fantasia...



917

A vida se escorrendo na corrente
Que leva para a foz de um grande rio,
Às vezes congelada, em outras, quente,
No fundo, o mundo segue seu pavio.

Por tantas vezes ando descontente
Porém a fantasia, eu sempre crio,
Não posso caminhar indiferente,
Mas tenho o coração dorido e frio.

Esgarço todo o tempo sem proveito,
Olhando para o teto e do meu leito
Espero a morte vir, de boca aberta.

Sem nada que me impeça, minha amiga,
Velho redemoinho desabriga
E a vida prosseguindo mais deserta...



918


A vida se faz doce para quem
Sabe desfrutar cada segundo,
E quando a fantasia chega e vem
Dotar-se do querer denso e profundo.

Atando lua e sol, manhã em glória
Etéreas maravilhas; já propõe
E mesmo na alvorada merencória
Cenário deslumbrante se compõe

Farnéis que abastecidos de emoção,
Expressam a vitória inesquecível
Inequívoca lua que em sertão
Prateia este arrebol de forma incrível

Regalos delicados, favos, méis,
Girando sol e lua, carrosséis...



919

A vida se faz mágica pra quem
Viveu em liberdade intenso amor.
Quem sabe de onde o sonho, cedo, vem
Começa um novo tempo a recompor

Distante de outro tempo, sem ninguém
Trazendo uma alegria ao seu dispor.
Fazendo nosso mundo, bem mais zen
Nos braços deste amor libertador.

Ao mesmo tempo a luz que nos atinge
Em total mansidão nos acalanta.
E um céu maravilhoso que se tinge

Nas cores dum arco íris trama a manta
Na qual descubro o rumo de meus versos
Vagando por espaços, universos....




920


A vida se fez maga e feiticeira
Tornando-me feliz em teu remanso,
Do amor que tanto quis, agora alcanço
Razão para viver, mais verdadeira.

Tu és a minha eterna companheira,
Contigo vou vivendo sem ter ranço
Com coração sereno e sempre manso.
A flecha de Cupido foi certeira...

Estarei sempre ao teu lado, amada minha,
Em todos os momentos desta vida.
Não quero e nem aceito despedida.

A sorte que eu quisera nunca vinha
Até chegar teu canto em meus ouvidos
Tomando firmemente meus sentidos...



921


A vida se mostrando um labirinto
Tramada sobre as formas de um mistério.
Pois do útero materno ao cemitério
Vivemos tão somente por instinto.

Além do que procuro o que mais sinto
Se mostra sob o céu, um mar etéreo
Até que o golpe venha, enfim, funéreo
Das cores do ambiente eu já me pinto.

Quem anda na total obscuridade
Não sabe deste lume que virá
Em forma de carinho ou crueldade

A sorte noutras plagas vingará
Porém se tenho em vida uma amizade
A paz tão redentora chegará...



922

A vida se passando como fosse
Um vento que me toca mansamente,
Revelo o quanto quero, de repente,
Amar esta emoção que a vida trouxe.

Recebo o teu carinho, sempre doce,
No abraço mais suave e calmamente
Invade essa alegria corpo e mente,
No sonho em que viver, cedo tornou-se.

Saber de uma amizade tão sincera,
Que traz o renascer em primavera
A quem já se perdera em sobressalto.

Quem tem o teu apoio sempre ganha,
Em força soberana e luz tamanha
Que faz o coração subir mais alto.



923


A vida se passando... eu... filial
Destes temores que percebo em ti,
Copo na mão; imaginei cristal
Porém do vidro no final bebi.

Às vezes minto em solidão fatal
Que finjo ter mesmo contendo aqui
A falsa festa que se mostra a tal
No fundo eu sou o que de amor perdi.

Sigo perdido procurando a lua
Que se escondeu de mim, porém flutua
Numa loucura que trará esgarce

Triste canção refletirá meu sonho,
Tendo o passado em urzes, vil, medonho,
Não creio em teu amor que quer disfarce.




924


A vida se passou sem conformismo
Na luta interminável sem descanso,
À beira de um gigante e negro abismo.
Porém; agora eu vejo, nada alcanço
Senão a dor terrível por batismo.
Nem mesmo doce margem, ou remanso.

Angústias inundando em tempestade
Sem chances de lutar ou de fugir.
E tudo o que queria, nesta tarde,
Um sol que assim pudesse refletir
Que pelo menos traga qualidade
À noite que, bem sei, irá surgir.

Um resto de esperança, uma amizade,
Tramando em fim de túnel, claridade...




925


A vida se perdendo em desengano,
Depois dos dias loucos que vieram,
Mudando de repente qualquer plano,
Os sonhos mais antigos refizeram

Meu passo em direção ao ser humano
Além do que percebem ou esperam
Caminho sem destino em mar temprano.
Sozinhos, meus olhares desesperam.

As horas se passando sem ninguém
Os medos sem limites sei que imperam
Na noite que vazia sempre vem.

Porém depois de tudo tive a sorte
De amores que em amores regeneram
Mudando eternamente rumo e norte.




926

A vida se perdendo num momento,
Distantes dos olhares que desejam
Que mude num repente, o duro vento,
E as sortes redentoras já porejam,

Singrando com volúpia o pensamento,
Amores do passado inda trovejam.
Cortando a minha pele, sofrimento
Impede que outras sendas se prevejam

As horas aos amores consagradas,
Perdidas, noutros dias, maltratadas...
Vazio no meu peito vai reinando.

As andorinhas seguem migrações,
Distantes deste olhar, arribações,
Porém numa amizade irão voltando.


927




A vida se permite contemplá-la,
E mesmo que isso seja tão normal,
A sorte vai tomando toda a sala,
O medo então procura este quintal.

A noite que sonhei, sendo de gala,
O tempo vai tornando tudo igual,
Quem sabe, sem remédio, já se cala,
Tristeza preconiza o temporal.

Jazendo em qualquer canto, a fantasia,
Não tendo mais quem doure, segue só.
O amor que renasceu do mesmo pó,

Manhã tudo refaz, mas nunca cria.
Semeias tempestade pelas ruas,
E bêbada de luz, inda flutuas...


928


A vida se promete agora plena
Embora o medo faça traquinagens
A boca que se dá temores drena,
Porém sonega às vezes as viagens.

Não tendo na verdade o que temer,
Errático; eu persigo o tempo inteiro
O insustentável peso do meu ser
Na força deste amor mais verdadeiro.

Carências que descubro sem alarde
Não deixam que eu te possa navegar.
Um dia acordarei, não será tarde,
Crisálida mudando devagar

Meu vôo em liberdade ainda vem
Nos olhos e nos braços de meu bem...



929

A vida se promete em claro tom
Pra quem se dá com força e com vontade.
O tempo desejado, claro e bom,
Talvez possa impedir cruel saudade.

O quanto ela se mostra qual raiz
Que aos poucos vira praga no canteiro.
Um novo sonho muda este matiz
Permite muito além do corriqueiro

Um canto mais sublime que acalente
O peito em que se deu a solidão.
De toda esta esperança eu ando crente
Estando do teu lado. Eu cevo o chão

Plantando a fantasia no meu peito,
Espero na colheita, amor perfeito...



930


A vida se renasce em mil momentos,
Portanto não se esqueça de sonhar.
Deixando para trás velhos lamentos,
As ondas justificam o deus-mar

Do fardo de viver, nosso proventos,
Verdades absolutas? Deixa estar...
Fantásticas lições dos excrementos
Permitem que se possa cultivar...

Eterno refazer perpétuo moto
Que incrusta uma esperança perolada,
O meu olhar deveras teimo e boto

Entranham-se os desejos mesmo audazes.
A sorte tantas vezes transmudada
Conota a magnitude feita em fases...




931


A vida se renova nos lampejos
De sonhos que traduzem as paixões,
Reféns destes delírios dos desejos
Perdemos sempre as nossas direções.

Quais barcos que seguindo sem timões
Enfrentam temporais ledos, sobejos,
Vagando sem destino em multidões,
Os passos seguem trôpegos, andejos.

A mão que acaricia nos tortura,
A noite solitária, sem notícias
Ausência de carinho e de ternura

Imagens que nos rondam são fictícias
Apaixonadamente esta procura,
Promessa de encontrar podres delícias...




932



A vida se repete em alegrias
Depois que conheci a liberdade
Encanto se espalhando na cidade,
Deixando para trás as noites frias.

Das mãos que se mostravam mais vazias
Fartura transformando a realidade,
Vivendo o que busquei, tranqüilidade
Escuto as mais sublimes melodias

Vencendo os meus temores, vou contigo
Sabendo de teu braço, amante e amigo,
Não vejo em minha frente contratempo.

Minha cabeça erguida, o peito aberto,
Contigo o meu caminho é sempre certo
Assim pensava, amada, já faz tempo!




933


A vida se repete feito as ondas...
Solidão, sofrimento são constantes...
As mãos que se percebem como sondas,
Nos deixam sensações mais delirantes...

As horas que passamos são redondas,
Os dias que perdemos tarde ou antes...
Parecem os sorrisos de Giocondas;
Mistérios a rondar, estimulantes...

As ondas que te levam não me deixam.
Na solidão persisto meus desmaios.
Quem fora sempre rei, não tem lacaios.

Nunca mais saberei dos que se queixam;
Nem tampouco me importa tuas queixas...
Minhas rainhas d’hoje foram gueixas...



934


A vida se tornando assim, um saco
Não tenho paciência, a vida é chata
Palavra que busquei, agora ingrata
Do amor que procurei, sequer um naco.

A porta não se abriu, restou buraco,
Até o teu sorriso me maltrata
A sorte que sonhei era “da lata”
Procuro outra saída, mas me empaco.

Eu não suporto intrigas nem fofocas
Mentiras descaradas: estou fora!
Quem dera outro caminho, mas agora

Não quero patricinhas nem dondocas
Apenas liberdade pra voar
Buscando a minha paz noutro lugar!



935


A vida se tornando então amara
Pra quem não descobriu o seu caminho,
Seguindo pela estrada colhe espinho
E torna a rosa assim sempre mais rara.

Sem ter um bem que cedo ampara,
Um pássaro distante do seu ninho,
Sofrendo ao procurar seguir sozinho
Estrada que alegria iluminara.

Deixando o sofrimento tomar conta,
A vida em emboscada cedo apronta
Trazendo velhas dores, tantas levas.

Quem faz de uma ilusão a sua escora,
Ao ver-se solitário já deplora
Ficando como brinde só as trevas.



936


A vida se transforma a cada dia
Em ventos, ventanias, temporais,
Depois a mansidão em calmaria
Bonança se promete em manso cais.

Não temas, pois as duras tempestades
Nem nuvens que enegrecem nosso céu.
Aos poucos se dissipam. Claridades
Virão em toda a alvura deste véu.

Quem sabe destas urzes não as teme
Pois sabem que são sempre passageiras.
O mundo, num segundo, sempre treme,
Quando emoções se mostram verdadeiras.

Não tema prosseguir nos mesmos passos,
As dores só estreitam fortes laços...



937


A vida se transforma a cada queda
Pousando no vazio do meu peito
E sei do quanto quero e mesmo aceito
E nisto a minha vida se envereda,

Ousando muito além enquanto seda
Meu tempo noutro tempo dita o jeito
Diverso de mostrar cada defeito
Pagando em mesmo tom, mesma moeda.

A sorte se desenha de tal forma
Que quanto mais audaz, tanto deforma
O passo sem sentido ou direção

Audácias são comuns na mocidade,
Depois somente o medo nos invade,
Causado dentro em nós a hibernação.


938


A vida se transforma em duras lutas,
As luas e desejos se despojam.
Amores e cansaços desalojam
As noites que se foram, frias, brutas...

Nos medos minha angústia, não refutas;
Pois sabes que torturas não se forjam,
Nas dores que, no peito, sempre alojam.
Distâncias e saudades são astutas...

É minha culpa, tento ser sincero,
Unicamente minha! Mas desejo
Que neste nosso amor, que é manso e fero,

A vida não se torne uma mortalha,
A noite que vivemos, nosso beijo,
Na garra que demonstras cara Amália!

939


A vida se transforma em vis geleiras
Nas galerias torpes dos caminhos
Andamos entre dores costumeiras,
Na busca por prazeres e carinhos.

Embalde nos perdemos sem bandeiras,
E vamos tantas vezes mais sozinhos.
As ilusões se tornam corriqueiras,
As esperanças partem pr’outros ninhos...

Penhascos que enfrentamos, são imensos,
Muitas vezes parece inalcançável
O sonho de vivermos sem perigos.

Porém por tantas vezes nisso eu penso,
O mundo enfim seria mais amável
Se tivéssemos sempre bons amigos...


940

A vida se vislumbra calma e mansa
Num acalanto breve e tão sereno.
A paz em pleno amor assim se alcança
Secando o que se fora vil veneno.

Estendo na varanda o teu sorriso,
Sem ódios ou vinganças, mais unidos
O quanto é necessário e sei preciso
Desejos e carinhos concebidos.

Sem juras ou desvios das promessas
Costuramos um dia mais feliz.
No todo que eu te quero já confessas
Amor que outrora fora por um triz.

Rasgando estas agendas do passado,
O dia mais ameno, anunciado...



941


A vida segue em paz, sem alvoroço
Banquete que se faz a cada dia,
Amor é meu café, jantar e almoço
Remoço-me nas mãos da poesia.

E crio em fantasia o mais perfeito
Caminho aonde eu possa me entranhar
Abrindo o coração exponho o peito
E bebo cada gota do luar.

Argúcia em que se mostra a moça bela
Revela o quanto amor se faz moleque
No leque de prazeres, quero tê-la
Por mais que com loucura assim se peque.

Explicações; não tenho e nem pergunto,
Contigo a vida inteira, ficar junto...



942


A vida sem amor já se desgasta
Aponta para o nada, muda o rumo.
E tudo que em verdade quero e assumo
Do mal quando desejo sempre afasta.

Rasgando a minha pele tal vergasta
Dardeja enquanto busca algum aprumo,
Esvai a fantasia feita em fumo,
E o quase nem mais quero, não me basta.

Sem castas sem caçadas, sou o que
Vivendo a minha vida sem porquê
Não pude decifrar o que querias.

Quisera ser a fera que apascentas
Em noites multicores, violentas,
Ardência que sonega mãos tão frias...




943


A vida sem paixão, passa vazia...
Amar além, lutar pelo desejo.
Não temo mais a dura ventania
Quando quero encontrar o que prevejo.

Por mais que a noite surja só e fria,
Não quero mais limites no que vejo.
Rasgando meus temores, sei que um dia
Terei o que mais quero, sem ter pejo.

As marcas em meu corpo servirão
De troféus conquistados em batalhas.
Levando a minha vida com tesão

Trarei o meu destino em minhas mãos,
Mesmo no corte fundo das navalhas,
Até se estes meus sonhos forem vãos...



944

A vida sem pomar ou framboesas,
Canteiros entre as ervas mais daninhas,
Pensei que num momento fossem minhas
As mãos que entre meus dedos senti presas.

As águias mergulhando sobre presas,
Vencido pelos medos. Desalinhas
E enquanto, sempre em sonho, ainda vinhas,
As vinhas se tomaram de incertezas.

Agora que não sinto medo e frio,
Apenas vou vivendo e nada mais.
O quanto em maravilhas quis o cais

Garrafas em naufrágios esvazio,
E sigo feito um lobo solitário
À espera do final: vão, necessário...


945


A vida sem seu braço esquece do deleite.
Chorando, convulsivo, a madrugada fria...
Minha esperança, breve, escapa.Fugidia...
Quem dera se eu pudesse, atar-me, como enfeite,

Ao corpo da pantera. Espero que m’aceite
Ao menos um segundo... O meu mundo teria
O brilho d’uma lua. A vida sorriria...
No braço que preciso, aguardo que me estreite!

A solidão atroz aguarda pelo encanto
Da deusa que se esconde, em alvo e belo manto.
Adormeço e não tenho a presença que espero...

Qual falena procuro o lume, mas não vem.
Outra noite se passa; outra vez sem ninguém
Rainha Nefertite: amor, desejo fero!



946


A vida sem te ter é quase o nada,
Nas ânsias do prazer e da loucura,
O amor que a gente quer, tanta fartura,
Adentra sem limites, madrugada...

Dos raios desta lua emoldurada
Nos céus aonde o sonho se procura,
Ouvir do coração, pedido e jura,
Erguendo contra a dor, tal paliçada.

Seguir sem ter rancores ou pudores,
Vencer as intempéries que virão,
Deixar à solidão, seus estertores,

Fazendo da esperança, o timoneiro,
Que leva a mais perfeita atracação,
Em meio às vis borrascas, meu saveiro...



947


A vida sem te ter, barco à deriva,
Sem rumo e sem destino, morre em mar.
Se a sorte dos teus olhos já me priva
Não sei nem mais viver nem enxergar.

Tu és a minha flor que sempre viva
Tenho tanto prazer de cultivar.
A noite do teu lado, tão festiva,
Trazendo todo o brilho do luar...

Eu sei que vou te amar eternamente
Em cada novo dia, renascer.
Amor que me tomando totalmente

É feito de carinho e de prazer.
Amor que me tomando o coração,
Mostrando que viver jamais é vão...



948

A vida sem valia, sem prazer
Distante de quem quero para mim,
O mundo se perdendo sem ter fim,
Somente minha dor a florescer.

Cansado de lutar, sem perceber
A solução de tudo, sigo assim,
Sem cores e perfumes meu jardim,
Não tenho mais as ganas de saber

Aonde se escondeu estrela rara
Que trouxe para a vida, um claro brilho.
Estrelas reluzindo, uma tiara,

Os passos vãos, perdidos, sem destino,
Quem dera não tivesse este empecilho
Talvez não conhecesse desatino...



949


A vida sem você não tem sentido,
Eu quero poder ser o companheiro
Que trama cada sonho dividido
Dormindo do seu lado, por inteiro...

Eu quero seu perfume em meus lábios,
Na doce maciez de sua boca.
Os dedos conhecendo sendo sábios,
Invadem sua pele, a voz mais rouca...

Eu quero ser o pássaro que voa
Adentra nessas matas mais fechadas,
O canto que em meu canto já ressoa,
A mando dessas mãos por mim amadas...

Sabendo cada canto de seu colo,
Penetra, mansamente no seu solo...



950


A vida sem você
Jamais terá sentido.
No amor que a gente crê
Um sonho embevecido

Eu quero estar consigo,
Estrela que me guia,
Seu corpo é meu abrigo.
O seu beijo vicia

Estar sempre ao seu lado,
É ter felicidade.
Meu peito enamorado
Rompendo qualquer grade

Sem medos, vai aberto
E encontra o rumo certo...



951

A vida sempre trouxe tanta dor,
Embora em poucas lutas que venci
Guardei essa esperança por aqui
Sabendo que jamais verei a cor

Duma felicidade e seu calor.
Por tanto que lutei sempre esqueci
Que a noite quando chega traz em si
O frio da saudade em seu vigor.

Mas nada me trará outro caminho.
Meu mundo percorrer a pé, sozinho,
E nada mudará a triste história...

Porém ao acordar nesta manhã,
Ao ver essa menina, novo afã,
Será que enfim, terei minha Vitória?



952


A vida sendo assim, carta marcada
Nos jogos em que tantos dizem nada.
Seguir com tal volúpia a velha estrada
Há tempos destruída e destroçada.

A sorte muitas vezes malfadada,
A guerra sem perdão, já declarada,
A mão em plena ceva tão cansada
Versando sobre a ausência, madrugada.

Mas tento descobrir em nova alçada
A voz em esperança foi lançada
Seguindo este degrau, subindo a escada

Encontra esta mulher que, desnudada
Reinando sobre o sonho, enamorada
Promessa de uma esplêndida alvorada...



953


A vida simplesmente me devora,
Mas tomo noite e dia talagadas
Desta aguardente imensa que, sem hora,
Encontro neste bar, nas madrugadas.
Amada a quem queria uma senhora,
Se veste de ilusão, já vai embora...

Não quero mais ouvir as zombarias
Que encontro a cada vez que assim suspiro.
Os becos da saudade em noites frias
Ouvindo pelas ruas como um tiro
Que as mãos que me deixaram desferias
No luto merencório do retiro...

Mas sabes da fumaça/coração
Que o gosto desta vida: uma emoção...



954


“A vida só se dá pra quem se deu”,
Já dizia um poeta magistral,
Que em versos sempre foi fenomenal
Dourando uma esperança, mata o breu.

Coitado de quem ama e se perdeu,
Na busca de uma estrada desigual,
Porém amor transmite-se ancestral
E tem numa amizade o apogeu.

Não tema, minha amada, a dor se esconde
Somente em desamor, não em amor.
Um sonho que se faz encantador

Não deixa que esperança perca o bonde
E pinta em fantasia e claridade,
No enlace de um amor se é de verdade...



955


A vida traz surpresas, festa e dor.
No teu aniversário, lembro bem,
Na busca audaciosa por alguém
Um simples navegante sonhador

À mais bela sereia quis propor,
Sabendo que dos mares nada vem
Voltando para o porto sem ninguém,
Morrendo de saudades quis amor.

Vieste em sonho, bela mensageira
Do encanto que se mostrar sem igual.
A lua enamorada, feiticeira

Deitando tantos brilhos me falava
Do encanto da mulher fenomenal,
Que tão distante, aniversariava.



956


A vida turbulenta, as águas deste rio
Que em louca tempestade espalham nas ribeiras.
A chuva em enxurrada enchentes verdadeiras.
Neste calor ardente, um terrível estio.

Saudade do teu colo, o coração é frio.
Atrocidade louca, as dores costumeiras,
Inverno contumaz sem vento e sem palmeiras.
Da amara solidão, incrível, inda rio...

Se Deus já me esqueceu, não sintas, de mim, pena.
A morte, sorridente, aproxima-se, acena.
Não quero ser eterno, a dor será perene!

A cura não encontro o rio não se amansa.
Na festa desta vida, eu me esqueci da dança.
Quem sabe a despedida esteja em ti, Marlene?


957


A vida vai em paz, segue serena
Nas tramas tão suaves deste sonho.
Amor quando demais tanto envenena
Embora trague um dia mais risonho.
Palavra delicada e mais amena,
Acalma um pesadelo tão bisonho.

Enfrento a tempestade e o furacão
Teus olhos me servindo de farol,
No quanto se mostrou em sedução
O brilho deste amor, amigo sol.
Vivendo a cada dia uma explosão,
Eu sigo pela vida, girassol...

Catando cada rastro que deixaste
Sabendo o quanto em mim, iluminaste.



958


A vida vai passando iluminada
Deitando o corpo nu sobre meus braços.
A carne em tua carne tatuada
Atada por estreitos, firmes laços.

Perpétua sensação de ser alguém,
Vivenciando a glória de poder
Sentir a maravilha que hoje vem
Cobrir a minha pele de prazer.

Espelha em teu sorriso, franco, aberto
Certeza de quem sabe o que bem quer,
Aguando em esperanças meu deserto
Delírio feito em forma de mulher

Caminho te buscando a cada instante
Estrela que surgiu, rara e brilhante...



959


A vida vai passando, num janeiro,
O tempo transcorrendo uma agonia...
O vento na janela, a melodia..
Amor que separei, já morre inteiro...

De todos os meus sonhos, o primeiro,
De tantas maravilhas, fantasia...
Na noite que se finda, eu não sabia,
Amor se sacrifica, meu cordeiro...

Nos moldes de insensata natureza,
Amor me trucidando, foi beleza,
Agora imensamente, nega o véu...

Amor, subitamente, trouxe glória,
Revendo a todo tempo, minha história,
Amor que vai morrendo, vou ao léu...


960


A vida vai puxando o seu gatilho
E faz tremer as bases de quem ama,
Recebo ainda o fogo desta chama,
Tentando destruir este empecilho.

Amor é qual cometa, um andarilho
E vaga toda noite em minha cama,
Aos poucos, na verdade já difama
Enquanto não se inflama e muda o trilho.

Percebo em teus retratos na parede,
Que ainda tenho sonho, e tenho sede
Embora no final não reste nada.

A cada novo dia mais vazio,
Usando a tempestade como fio
A morte se fazendo anunciada.



961


A vida vai rodando sem parar,
Nas rodas da fortuna te encontrei,
Nas rodas das cirandas, no luar,
Nas rondas das estrelas, mergulhei..

A vida vai girando, não se cansa,
Girando meu amor não para mais,
Os olhos revirando, em nossa dança
Que dança, gira e roda, assim, demais...

Aroma deste amor que me delira
Amando vou a Roma vou ao mar,
Amor, quando demais, a vida gira ,
Amor que tanto quis me faz rodar...

A lua vai girando lá no céu
Rondando sobre as ondas, um corcel!


962


A vida vai seguindo o seu caminho
Embora muitas vezes maltratada,
Ventura que se mostra na alvorada
Compondo e recompondo o nosso ninho.

Não quero e não consigo andar sozinho,
Assim me perderia nesta estrada
Que faz de minha vida uma jornada
Numa busca diuturna por carinho.

Vencida cada etapa sem temor,
Vagando por teu corpo o meu destino.
Quem fora, há tanto tempo peregrino

Encontra finalmente o seu amor.
Permita que eu entoe esta canção
Que é feita em belo acorde: coração!


963


A vida vem trazendo sem aviso
A perfeição em forma de mulher,
Um beijo sorrateiro roubo e biso
Por ele topo tudo o que vier.

Quero a tua pele, a tua cor
Revirando fronhas, travesseiros,
Proponho sem limites, nosso amor,
Em aconchego, toques, peles, cheiros...

Quero ficar até o fim do dia
Conhecendo os caminhos, me perdendo
Até que decorando a geografia,
Aproves com louvor sem ter adendo.

Debaixo desta manga uma cartada
Em plena calmaria, a trovoada...



964


A vida, milagrosa passageira,
Surgindo por divina precisão,
Nos olhos de quem ama, a verdadeira
E única certeza de perdão.

A vida, dos primórdios, derradeira
Esperança negando a solidão...
És fiel e risonha companheira,
Acompanha o bater do coração...

Nas sombras das saudades e das dores,
Nos sentidos e várias tempestades,
O palco onde perfazem os atores,

Planícies e planaltos das verdades,
Deserto aonde moram os amores,
Nos passos que percorres, liberdades!



965

À vista experiente nada escapa
Nem mesmo alguns detalhes mais sutis.
Enquanto a fantasia traz a capa

Sorriso sem sentido de uma atriz
Que foge do passado, vem da Lapa
E mostra em nova face a meretriz.

Vendida por dinheiro ou cocaína,
Às vezes por maconha, crack ou ecstasy
Nas Raves, nas boates, se alucina
Mentiras que sonegam veros êxtases.

Nos motéis se apinhando prostitutas,
Que fazem da ilusão suas verdades,
As moças que se julgam mais astutas
Mostrando quão são vãs felicidades...



966

A volta deste sonho, lua imensa,
Sertaneja esperança que almejei
Buscando em cada esquina a recompensa
De todo grande amor com quem sonhei.

Espero que esta trova te convença,
Te oferecendo o sonho que plantei
Depois da noite em claro, dura e tensa,
Agora nos teus braços, versos sei.

Ajoelhado aos pés desta rainha,
Senhora dos meus dias, minha amada.
Vencendo a longa estrada, se avizinha

Castelo em fortaleza, meu remanso.
A voz do coração apaixonada,
Pedindo no teu colo, amor, descanso...


967


A volta deste sonho em rara luz
Permite tão somente a poesia
E nisto o meu caminho se veria
Além do que decerto ora traduz,

Aonde e de tal forma sempre pus
O amor que na verdade tanto guia,
A guisa do que fora fantasia
Já nada mais comporta e nem produz.

Resolvo cada engodo de tal forma
Enquanto a solidão já me deforma,
Marcando com astúcia o pranto e o sonho,

E sei que depois disto mergulhando
No mar que imaginara outrora brando,
Agora se desenha em tom medonho.


968


A voz ainda ecoa no meu quarto,
Dizendo do passado mais tristonho,
Felicidade? Apenas mero sonho
A morte prematura nega o parto.

E quando em ilusões eu me reparto,
O mundo desejado; recomponho,
Nas sendas mais distantes eu me enfronho
Até que esteja manso, calmo e farto.

Mas nada do que dizes me interessa,
Já tive nesta vida tanta pressa
E agora a mansidão dita passada.

Do todo só restando um vago escombro,
O sol já se escondeu sobre meu ombro
E a noite permanece tão nublada...




969





A voz de um trovador já bem cansada
Depois do duro inverno que passei,
Apenas por teus olhos vai banhada
A sorte em que distante mergulhei.

Não quero mais minha alma destroçada
Na força da tempesta, pois já sei
O gosto desta amarga derrocada
Que tantas vezes, cego eu encontrei.

Permita que eu me cure destas chagas
Nos braços deste amor feito alegria.
Andando por temíveis, duras plagas

Encontro ao fim da vida a fantasia
De ter amor sincero e transparente
Mudando a minha rota, de repente.


970


A voz desta mulher pernambucana
Ecoa no Brasil com força plena.
A bela poesia toma a cena
Imagem tão sublime e soberana.

Ouvindo tal beleza, Taciana
Encontro a placidez, suave e amena,
Que em tensa tempestade me serena
Fazendo ainda crer na raça humana.

Perdoe minha amiga este soneto
No qual em alegria me arremeto
Ao sonho de teu mar, Boa Viagem.

Encontro no Recife a maravilha
Que em versos tão sublimes a alma trilha
Sabendo ter fantástica ancoragem...



971


A voz do meu passado não se cala
E volta vem em quando a me dizer
Que nada valeria sem prazer,
O sonho que tivera ainda embala

Fugindo do terror, projétil ,bala,
Quem dera se pudesse mesmo crer
Que tudo vale a pena até viver
Deixando esta agonia na ante-sala.

Marinas tão distantes, vejo montes
Diversos encobrindo os horizontes,
Além eu creio haver praias e areia;

Porém são movediças. Resta o frio,
E em lúdica ilusão, eu fantasio;
Da moça tão bonita, uma sereia.




972


A voz em manso canto me chamando
Convida para a festa dos sentidos.
Os dias calmamente vão passando
Deixando o sofrimento em dias idos

Do quanto te desejo, desfrutando,
Os sonhos se não vens, são desvalidos,
Perceba quanto estou aqui te amando
A tua voz chegando aos meus ouvidos...

Sou teu, tenha a certeza deste fato,
Embora amor às vezes doa demais,
Na bela doação eu me retrato

E teimo em te dizer do amor profundo
Que invade em noite clara o nosso cais,
Mudando, num repente o velho mundo...



973



A voz em manso canto me clamasse
Além do que pudera noutro instante
A vida de tal forma me agigante
Vencendo o que pudera ser impasse.

E ainda que destarte se mostrasse
O todo num momento, doravante
O passo se desenha e degradante
A sorte noutro rumo não se trace.

Esgoto a fantasia aonde eu pude
Viver cada momento atroz e rude,
Erguendo o meu olhar em nova senda,

E o pânico gerado em solidão,
As horas noutro canto me trarão
O quanto nossa vida em paz desvenda.


974


A voz que apascentando um sofredor
Espalha estas benesses sobre nós.
Enquanto ata com força os nossos nós,
Permite um novo intento, encantador.

O quanto é necessário crer que amor
Detendo a mão terrível e tão atroz
Desde o riacho manso até a foz
Expressa em nosso peito este fulgor

Que emana do sublime sentimento
Tomando a nossa vida num momento,
Trazendo paz a quem em penitência

Encontrando injustiças no caminho,
Servido fartamente de carinho,
Recebe a glória plena da clemência..




975


A voz que há tanto tempo não me alcança
Ainda ressoando na memória,
Convite descartado para a dança
Danando de uma vez a minha história.

Um canto que permita a temperança
Jogado pelos cantos, como escória,
Minha alma revolvendo, merencória
Apenas o vazio, passo trança.

Meu barco vai sem rumo, sempre ao léu,
Estrelas que se foram do meu céu,
Deixando a noite em trevas mais soturnas.

Adentro em ilusão, antigas furnas
E nada se revela neste instante.
Saudade mata a paz, beligerante...



976



A voz que já me chama para a vida
Depois de tanto tempo adormecido
Agora se aproxima. É tão querida,
Que nela vejo o sonho refletido.

Por mais que a solidão cruel agrida,
O peito exposto ao medo, ressentido,
Refaço a minha força para a lida,
No encanto deste bem, por Deus ungido.

Eu quero ter comigo esta presença
Na chama mais audaz e mais airosa,
Carinho, a mais sublime recompensa

E o vento benfazejo da esperança
Que traz em teu perfume, minha rosa,
O brilho incomparável que me alcança...



977


A voz que ora contenho na garganta
Negando qualquer brado da emoção.
Saber desta ilusão que desencanta,
Matando desde sempre a floração.

As pontes destruídas, solidão...
A noite sonegando clara manta,
Da morte sinto aqui, a vibração,
E o riso da esperança já me espanta.

Algozes de nós mesmos; tão errôneos,
Colijo num segundo tais demônios
E faço desta senda, o meu inferno.

Mefisto vem cobrar a sua prenda,
Enquanto este segredo se desvenda,
Nas mãos deste fantasma, enfim, me hiberno...



978



A voz que vem chegando aos meus ouvidos,
Suave melodia em versos belos,
Cultivando alegrias com rastelos
Cevando sobre solos destruídos.

Trazendo em perfeição, cantos sortidos,
Criando em fantasias os castelos
Aonde a poesia, por sabê-los
Adentra com seus passos decididos.

O som que perolado, reconstrói
Diamantino sonho lapidado
Encanto raras vezes encontrado.

Poeta magistral, de Niterói
Teu canto chega intenso nas Gerais
Acordes sem igual. Fenomenais...

PARA O GRANDE SONETISTA AMARGO.
DE UM TROVADOR DAS GERAIS.



979


A voz tão poderosa destes ventos
Por sobre fortes vagas do oceano;
Demonstram este querer tão desumano
Que forma em minha vida, meus lamentos.

Rugindo nos tufões mais violentos
Um poderoso amor se mostra insano,
Mudando de meu barco rumo e plano,
Faz do cantar feliz, duros lamentos.

Calando no meu peito surdos gritos,
Trazendo uma incerteza em agonia.
Porém, por um momento, uma alegria,

Acalma estes tormentos tão aflitos
E muda, num segundo, amansa as vagas;
No instante em que me beijas e me afagas...



980



Abaixe então a luz e feche a porta...
Assim ninguém virá nos impedir
Que a sorte já lançada sempre aporta
Naquele que aprendeu a repartir

Prazeres e desejos, gozos, gestos,
Palavras e sussurros, os carinhos.
Não quero ser somente vagos restos
Abandonados, sujos. Descaminhos...

Eu sinto ser possível realizarmos
Os sonhos e vontades que trazemos
Além deste desejo, nos amarmos,
E darmos tanto quanto recebemos.

Abaixe então a luz , venha comigo,
No amor a que me entrego – o nosso abrigo...



981

Abandonando os sonhos sei que morro,
Não deixo nem sequer uma saudade.
Enquanto em fantasias me socorro,
Permito ainda crer na claridade.

Estorvo da alegria, definhando,
Deixando bem distante a juventude
O peso do passado desabando
Nas costas, corte fundo e amiúde.

Os cândidos amores que sonhava,
Apenas um punhado de ilusões,
Da paz que tanto quis somente a lava
Que escorre das tristezas, meus vulcões...

As flores já murchando no jardim,
A vida preconiza um ledo fim..


982



Abandonei meus olhos, minha amada,
Bem em frente ao portão onde tu moras.
Não vejo; neste mundo, quase nada,
Preciso te encontrar e sem demoras...

Agora sem meus olhos, como faço?
Tropeço meus caminhos, perco o rumo.
De tanto que procuro, perco o traço,
Será que sem meus olhos, acostumo?

Te peço meu amor, por caridade.
Meus olhos sem teus olhos nada enxergam.
Preciso retornar à claridade,
Sem cores, meus amores já me cegam...

Eu quero me perder no teu olhar,
Meus olhos; nos teus olhos, mergulhar...



983


Abandono meu corpo a tais delícias
De beijos e carinho audacioso,
Depois de conquistar tuas carícias,
A noite se anuncia em total gozo.

Tranqüilas sensações de imenso amor,
Deixando nossas peles tatuadas,
Sem medo nem resquícios de pudor,
As sendas se desnudam, decifradas...

Misturas dos fluidos que se faz
Presente em nossas noites, pura entrega.
Bem sabe quanto amor nos satisfaz
Nos vinhos que tomamos, nossa adega.

E vamos par a par, sem mais perguntas,
As almas se permitem andar juntas...


984


Abarcando o teu barco em noite fria
Em peixes, calabares e sargaços
Os aços penetrando quem devia
Abrindo no meu peito seus espaços.

Confesso que talvez uma alegria
Motiva a cada dia tantos passos,
Mas veja, quem talvez não mais queria
Deitar em minha cama, nos meus braços.

Aquela que regalo com cometas,
Em língua percorrendo céu e boca.
Os erros que te peço que cometas

São meros instrumentos do prazer.
Sentindo que tu queres, quase louca,
Começo cada canto revolver...



985


Abarco humanidades entre as mãos
Talvez uma imprudência, mas que faço?
Sonhando sermos todos quais irmãos
Às vezes o meu verso perde o traço

Ingênuo, na verdade, um sonho casto;
Porém que traz em si uma esperança
De um dia não servir só de repasto
A quem em súcias mãos traz aliança.

Fomento com total insanidade,
Aquilo que aprendi; lição antiga,
Que a gente só terá felicidade
Em vida solidária e mais amiga...

Eu sinto ser somente uma utopia
Porém, quem sabe... surja em raro dia...


986


Abarco o sentimento em que me tocas,
Fazendo de meu verso um mensageiro
Que busca essa alegria que retocas
De modo mais gentil e alvissareiro.
Com brilho e com ternura quando enfocas
Amor que se faz tenro e verdadeiro.

Exponho com total delicadeza
O sonho que também possuo eu,
De ter em meu reinado tal princesa
Dourando minha vida, pois sou teu.
E quero que tu tenhas a certeza
De que este amor decerto me envolveu

E trouxe para sempre a fantasia
Marcada por sublime poesia...


987


Abarco os pensamentos de quem amo
Levando para dentro do meu mar,
Aonde ainda consiga navegar
Buscando este caminho que hoje tramo.

Por vezes, tão saudoso, o nome eu chamo,
Somente a solidão a me escutar.
Numa esperança louca a me tocar,
Em vão, por tantas vezes eu me inflamo.

E nada, sempre nada, eis a resposta.
O barco procurando pela costa
Encontra tão somente um ledo atol.

Espraio o meu desejo em tua praia,
Quem sabe depois disso, venha e saia
Mais forte e deslumbrante, um claro sol.



988


Abarco os sonhos todos se eu pudesse
Secar a velha fonte das tristezas
Legado que recebo sem defesas
Sou presa ao suprimir ardor e prece.

No canto que me resta, se eu tecesse
Além de simples marcas, dentes presas
Veria as mãos dos medos, sempre presas
Forjando um sentimento que obedece...

Não sei se isso seria salutar
Mas tanto quanto quero quedo agora.
Sem hora sem limite, sem luar.

Vencido pelos olhos que em promessa
Vergando sob o sonho que me escora
A sorte é que teu corpo, amor, regressa...



989


Abeberei-me mantras e cinzel,
Nos espelhos reflexos perdidos...
O canto que prometo, meu corcel,
Postergo esses meus sonhos, mal vividos...

Nas contas que fizeste, teu cartel,
Os olhas a beijar, destituídos
Do brilho que flagraste amaro fel...
Os prazos que forçaste estão vencidos...

Eu quero a transparência, camisola,
Eu sondo por distâncias transponíveis,
Amar não tem remédio nem escola...

Os beijos que farturas mais incríveis,
Não me designam mortes nem pistola
Quem sabe transporemos tantos níveis...


990



Abelha forja o mel do pólen delicado
Que rouba desta flor em súbito revôo,
Beleza deste fato, encantos tais ecôo
Abelha qual Cupido, o pólen, o recado

Que a flor manda p’ra flor, um canto apaixonado!
A dor do meu amor por certo te perdôo,
Flor, colibri, abelha... Amor que eu abençôo!
Do perfume da flor, o mel adocicado...

Pois Deus ao te encontrar, a filha mais amada.
Por certo descobriu o brilho da alvorada,
E mais do que depressa, o Deus se emocionou.

Da abelha e do seu mel, do pólen dessa flor.
Do perfume à doçura,da doçura, ao amor...
E Pamela, em doçura, esse Deus transformou...


991


“Abelha necessita de uma flor”
Formando em simbiose uma esperança
Uma orquídea ou bromélia já se trança
Numa árvore qualquer a seu dispor.

Assim na sinergia a se compor
A vida com certeza sempre alcança
Sentido verdadeiro da esperança
Num laço primitivo, faz-se amor.

Porém, cabendo ao homem perceber
Por ser mais racional ou parecer,
Que a vida em solidão não vale nada.

E o passo principal deve ser dado
Na busca de bem mais que um aliado
De um verdadeiro amigo em nossa estada...


992

Abelha produzindo farto mel
Seduz um beija-flor, que sem cuidado,
Sentindo o teu perfume adentra o céu,
Bebendo cada gota, enamorado.

Descubro por debaixo deste véu
O doce paraíso, um Eldorado,
Cansado de viver sozinho, ao léu,
Recebo de teu corpo este melado

Que faz com que eu vicie nesta abelha
Que bela fantasia agora espelha
O bem mais precioso que eu pedi

Durante a caminhada pela vida,
Fartura de carinhos produzida
Inebriando assim, o colibri...



993


Abelha quando pica dá bundada,
Veneno insuportável no ferrão.
Melhor eu te garanto, a melação
Do que tomar da bicha uma picada.

Amor quando demais, não faz mal não,
Um lavrador conhece a sua enxada,
A moça que me olhou ressabiada
Agora me namora no portão.

Depois pulo a janela, que festança!
Quem sabe faz agora e não se cansa
Enquanto abelha pousa aqui e ali.

Fazendo do bundão, sua defesa
O mel pode deixar por sobremesa,
Na mesa que sacia o colibri...


994



Abelha que precisa desta flor,
A flor que necessita desta abelha,
Amores que vivemos por amor,
São flores que iluminam qual centelha!

Do pólen produzimos, sonhador!
Das cores que vivemos, a vermelha!
A chuva que refresca esse calor,
Batendo, levemente em cada telha!!!

Te quero, tanto quanto te preciso.
Não sei viver; somente sobrevivo
Nas horas onde estou, de ti, distante!

Não vás, te necessito a cada instante....
Se fores, não terei sequer o siso!
Prisioneiro da abelha, sou cativo!


995


Abelha se dedica a cada flor
Pois sabe que no néctar, recompensa,
Meu verso sempre tem do trovador
A voz que vai macia; nunca tensa.

Eu quero teu perfume encantador
Que é feito de ternura tão imensa,
Deitando do teu lado o meu torpor
Não segue nesta vida qualquer crença

Que mostre-me distância de quem amo,
Pois toda esta beleza encontro ali,
Por isso tantas vezes eu te chamo

Saudades tem da flor, o colibri
Que encontra doce mel em belo ninho
E assim, jamais caminha ou vai sozinho...



996

Abelha sendo um bicho bem safado
Querendo outra bitoca do zangão,
Olhando de mansinho pro meu lado
Prepara com vontade o seu ferrão...

Olhando para a ponta do bundão
Eu vejo que estarei logo ferrado,
Depois de tanto mel, é gozação
Pela traseira ser apunhalado.

Rainha dos meus sonhos, u’a abelha
Deitando em minha cama faz a festa
Enquanto bota fogo na floresta

Estrela solitária não espelha
Vontade de um inseto sem juízo
No ataque com firmeza mais preciso...



997


Abelhinha quem me dera,
Ter teu mel em minha boca,
Brilharia em primavera
A paixão sedenta e louca.

Que já vem sem ter espera,
Eu jamais dormi de touca,
Quando amor, do amor se gera
A saudade fica pouca.

Vou matando esta quimera,
Abelhinha em tua toca,
Mergulhando viro fera,

Quando amor ali se aloca.
Na taboca ou na tapera,
Mel no teu mar desemboca...



998

Abençoado o dia em que te vi!
Andavas pelas ruas da cidade,
Da bela e tão amada Mirai.
O tempo inda corrói, resta saudade...

Estava passeando por ali
Em férias, a buscar tranqüilidade.
Neste mesmo momento percebi
Um fascinante lume, claridade!

Estava transtornado pela dor,
Dor que nunca pensei que minha.
Juventude se ilude com amor.

Rimas pobres, meus versos juvenis,
Andavam vagabundos, à tardinha...
Giane, aquela tarde fala anis...


999

Abençoado o ventre em que se dá
O sublime milagre da existência,
Divina circunstância em que a potência
Moldando uma esperança desde já

Permite novo tempo que virá
Trazendo com o Pai a convivência
Soneto em que total magnificência
Eternamente em paz, renovará.

Beijar-te o colo amigo e redentor,
Sentir o renovar-se da esperança
Batendo o coração desta criança

Percebo a tradução do puro amor.
Alcanço a glória plena num segundo
Estendo as minhas mãos e abarco o mundo.


1000

Acossa-se esperança mais audaz
E gera além do quanto pude outrora
A sorte de tal forma hoje se ancora
E nisto tão somente satisfaz.

Vencendo cada engodo sigo atrás
Do quanto poderia e se demora
Ousando dentro da alma o que se aflora
Florada traduzida em rara paz.

O quanto pude ver em esperança
E o dia noutro rumo sempre avança
Moldando o mais sobejo rumo em nós,

E o vento se espalhando em primavera
Apenas o meu mundo se tempera
Deixando no passado o sonho atroz.

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