sábado, 16 de outubro de 2010

Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23700
Em flores tão soberbas, Natureza
Expõe na primavera seus primores
E vendo as alamedas multicores
Entregue sem medidas à beleza
E quando se permite tal leveza
Uma alma mais suave em seus pendores
Proclama a maciez de tais amores,
Mostrando fielmente esta grandeza.
Não posso me furtar a tal cenário,
E tendo em minhas mãos o gozo vário
Estendo-me nos versos e agradeço
A sorte de poder ter em delírio
Além do que pensara ser martírio
Das belas fantasias o endereço...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23699
Pudesse ter nos olhos os segredos
Que ainda não consigo decifrar
Bebendo as alegrias do luar,
Não posso sonegar velhos enredos.
Se eu tenho o meu futuro entre meus dedos,
Os dias que virão podem falar
Do quanto me acalenta o teu gostar
E mostro-me deveras sem os medos
Que outrora consumiam os desejos
E tendo nos meus sonhos tais lampejos
Despejo em luzes fartas, poesia;
O quadro se mostrando mais sutil,
Permite que entre versos céu anil
Azulejando em paz um manso dia...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23698
Mudando desde já velhas roupagens
Aonde se moldaram risos tantos
Envolto pelos riscos, desencantos
Esqueço as mais felizes paisagens,
E enquanto me entregando às engrenagens
Ao menos não vertendo falsos prantos,
Deveras embarcando em sonhos bantos
Arcaicas melodias e visagens.
Fazendo da esperança uma senzala
A voz que tantas vezes nada fala
Emite em sons sombrios meus lamentos,
E quando em fantasias arrebatas
Sentindo em minhas costas as chibatas
Aonde quis a paz, ganho tormentos...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23697
As cores que pensava serem várias
Agora se agrisalham e me afastam,
Os dias na verdade já se bastam
Encontro as vagas noites perdulárias
No céu em abandono procelárias
Os répteis de minha alma que se arrastam
Enquanto nos escuros já contrastam
Com todas as defesas visionárias.
Apego-me ao não ser e tenho nisso
O fogo que em verdade ainda viço
Bastando-me saber da morte em gozo.
O pântano do qual desvendo feras
Expressa as ilusões, falsas quimeras
No espelho me retrato, desairoso...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23696
Entre aves de rapina, o bote é certo
E o corpo apodrecido sobre a mesa
Deveras com fartura, a sobremesa
Mudando de repente este deserto.
E sendo pelos medos descoberto,
Não tendo mais sequer medo ou defesa
Exponho-me sabendo ser a presa,
Em campo na verdade sempre aberto.
Somente estes fantasmas que inda levo
Por mais que imaginara ao fim longevo
Escombro de um passado, vil escória
Que morta em plena vida nada diz,
Amortalhando o risco, um infeliz
Perdido sem vigor e sem memória...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23695
Cantasse alguma música e talvez
Pudesse crer na tal eternidade,
Mas tendo a fantasia que degrade
Não teimo e perco logo a minha vez.
O quanto em alegrias se desfez
Caminho que pensara em claridade
Agora mais distante a liberdade
No fundo o me resta: insensatez;
O berço em que nasci, apodrecido,
O dia muitas vezes esquecido
O gozo insuperável do não ter.
E quanto mais procuro algum caminho
Somente vislumbrando fogo e espinho,
Vontade de fugir ou de morrer...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23694
Na mesma proporção em que me entrego
E vejo destruído cada sonho
O fim da longa história, eu te proponho,
Por mares mais ferozes já navego.
E o quanto se fizera louco e cego,
Ainda em versos frios decomponho
O medo que nos medos eu reponho
Invés de procurar, me desapego.
Bastando ser bastardo e ter por fardo
Abrolho, pedregulho espinho e cardo
Ardentes emoções são falsas tramas.
Esgueiro-me entre ratos neste esgoto,
Da vida devorando o tenro broto,
Aspiro deste incêndio brasa e chamas...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23693
Espécies tão diversas que me habitam
Bactérias, vermes, vírus entre helmintos
E mesmo quando exponho meus instintos
As forças animais já se habilitam.
Mais fortes do que a mente quando gritam
Rompendo da ilusão diversos cintos,
Os ânimos que outrora quis extintos
Deveras muitas vezes inda excitam.
O berço se transforma neste túmulo,
E chego mansamente ao cume e cúmulo
Perpetuando o podre ser humano,
Nos ascos que me tens, asas me dás,
E quando se mostrasse mais voraz
Maior o meu delírio vão, profano...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23692
Não quero discernir morte de gozo
Se todos os caminhos, mesma foz,
Aonde se mostrara algum algoz
O dia sendo assim maravilhoso.
O peso do passado, desastroso,
E o canto que me embarga e cala a voz
Perpetuando o resto que há em nós
Decerto o meu destino é caprichoso.
Caleidoscópios dizem do que sou,
Mosaico que disforme não se expõe
Enquanto a minha sorte decompõe
O preço que se paga é muito caro.
Escrevo tão somente vagas linhas
E nelas com certeza me adivinhas
Putrefação de uma alma eu escancaro...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23691
Niilista tantas vezes quis respostas
E as velhas negações, versões diversas,
Acima dos enganos e conversas,
As mesas entre corpos sendo postas,
Se gostas do que escrevo ou se não gostas,
Verdades sobre as quais também não versas,
Esgoto nos anseios, sendo imersas
Palavras que devoras; nunca expostas.
Apenas os postais de antigos medos,
Aonde se trancaram meus segredos
Sem chaves, estes cofres nada são
E perco-me deveras, desvarios,
Semeio quando colho os desafios
E trago em cada sim a negação...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23690
Na mesma proporção que a dor aumenta
O frio dentro da alma já progride,
Enquanto a realidade sempre agride,
Na forma mais audaz e violenta
Nem mesmo a solidão ora apascenta
Aos tempos mais felizes, vã regride
E o passo a cada dia se decide
Bebendo do vazio que alimenta.
O escasso caminhar não leva mais
Aos dias que pensara sempre iguais
No fundo são deformando o que buscara
Carinho sendo escárnio me acompanha
Forjando da aguardente este champanha
Fazendo da ferida, imensa escara...
Marcadores: rebek
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23689
Nas vozes do além túmulo as verdades
Que não sonegaria, pois credito
Aos vermes o melhor de cada rito
Bebendo sem pudor as veleidades.
Enquanto apodrecendo me degrades
Terminas com meu tempo que é finito
E o rosto decomposto exposto aflito
Ainda vê distantes velhas grades.
E sendo sempre assim, a vida e a morte,
Não posso sufocar; negar a sorte
E o verso se aprofunda nos vazios.
Aonde se moldasse uma esperança
Mortalha enegrecida, já se lança
Das velas, acendendo os seus pavios...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23688
A podridão que aos poucos já me invade
Por mais que ainda seja bem sutil,
No fundo tanta imagem permitiu
Enquanto a vida em farsas se degrade.
Apego-me aos valores da saudade
E sei que na verdade isso faz vil
Quem tantas vezes teve e repartiu
Buscando sem perdão saciedade.
Apego-me aos valores mais venais
Enquanto em vilipêndio transformais
Os riscos que pensara serem vagos.
Os beijos desta pútrida quimera
Causando desde sempre a louca espera
Seriam das mortalhas seus afagos...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23687
Vislumbro minha vida com clareza
E sei que nada fui e nem seria
O tolo que se envolve em poesia
Morrendo num momento, velha presa,
E quando a mão desfere a seta, tesa
Esconde o que restara da alegria,
Não posso ser cruel, mesquinharia
Só tendo a minha morte por defesa.
Aonde se escrevesse uma emoção,
Deveras encontrei a negação
E afagos desta fera envilecida.
Assim melhor seguir a minha estrada
Que mesmo só levando ao mesmo nada
Traduz mais fielmente o que foi vida...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23686
Olhando esta sutil fotografia
Aonde se fizeste em cores várias
As tramas que vivemos; temerárias
Na sorte que a verdade ainda adia.
O peso do passado se alivia
Aonde percebera luminárias
E os cortes profanados, vidas párias
Nas almas dos infaustos, as sangrias.
Excluo dos meus versos meus esgotos
Tampouco quero os pés agora rotos,
Escondo-me nas tramas mais sutis.
E sei que sendo assim, falso e venal,
A vida que eu buscara, triunfal
Produz imagem lúdica e feliz...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23685
Se a cada novo instante ainda assomo
A imagem tresloucada deste inferno
Aonde se fizesse ainda eterno
O fogo que deveras não mais domo.
Descomunal figura sabe como
O mundo não teria um vento terno
Se em meio aos teus rancores eu hiberno
Vivendo a profusão de um longo inverno
A vida dividida em cada tomo.
Asperges os teus tétricos fulgores
E quando novo tempo; recompores
Verás quão frágil sonho se apresenta
A quem aquém do todo é sempre escasso.
E quando nos intentos eu fracasso
A vida se propõe mais violenta...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23684
Bebendo desta estrela matinal
O raio que se entranha me diz: trai.
O quanto sem enganos já distrai
O rosto se mostrando mais venal.
O berço deste encanto sideral
Moldando o que deveras alma esvai
No berço aonde outrora quis um pai
Apenas a vergonha toma o sal.
E quando se mostrasse a face escura
Do quase que me leve em tal loucura
Vital essência; eu busco no vazio.
E tendo em minhas mãos a morte insana,
O quanto do meu mundo se profana,
Responde pelo quanto me esvazio...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23683
Ao longe dos meus olhos, inda passa
A velha confraria dos demônios
Aonde se mostraram patrimônios
Somente o que restara: uma devassa,
As mãos já calejadas dos campônios
E o tempo vagaroso se esfumaça
Enquanto se demonstra em plena praça
A fúria insaciável dos hormônios.
Aspectos tão diversos desta vida
Aonde com certeza está cumprida
A sina que nos deram Evangelhos,
Os dedos engelhados, rugas fartas
Enquanto da verdade não te apartas
Devoram-te na certa, escaravelhos...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23682
Qual fora de carneiros, um rebanho
Seguindo o seu pastor, podre promessa,
A história noutra senda recomeça
E o jogo que pensara ainda ganho
Deveras não permite o que inda entranho
Mesquinhos os temores, já confessa
Uma alma que perdida em vão tropeça
Causando o mais profundo corte e lanho.
A perda dos sentidos, convulsão
Esgueiro-me entre as urzes; proteção
Não tenho e nem pretendo, sou assim,
Martírios de mim mesmo vergastadas
As portas do futuro estão cerradas
A vida se prepara para um fim...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23681
De minhas podres mãos a sorte arranca
Pedaços entre facas, canivetes
E tudo o que deveras me prometes
Somente este vazio te desbanca.
Aonde se mostrara uma carranca
Os olhos; coniventes, arremetes
E teimas com escuros e competes
Enquanto a vida atroz devora e espanca.
Não pude mais conter sequer o quanto
Decerto se mostrasse em desencanto
O pranto não sossega, mas prefiro
Metânica explosão em fátuo fogo
Do que poder mostrar em algum rogo
A bala prenuncia a morte e o tiro...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23680
Buscando alguma forma quando e como
Pudera desvendar segredos vários,
Os dias entre nuvens, temerários,
O tempo com vigor diverso eu tomo,
E bebo do prazer enquanto domo
Os medos onde escondo meus fadários
Revelo os dias tolos, seus horários
E tudo o que pudera; simples pomo.
Assenta-se a poeira e o tempo passa,
Aonde imaginara uma fumaça
Apenas leve brasa e nada além.
O quadro se repete vez em quando,
E vejo o mundo inteiro desabando
Olhando de viés, tanto desdém...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23680
Aonde se fizeram toscas crenças
Somente o não se mostra mais completo,
E quando deste vago me repleto
Não posso suportar as desavenças
Por mais que disto tudo; já convenças
Das várias convenções; se inda deleto
O tempo mais complexo, predileto,
Dirá dos descaminhos e doenças.
Naufrágios são comuns em quem procura
A noite sem estrelas tão escura
Nesta obscuridade o meu degredo,
Aonde se moldara alguma luz,
O tempo sem ter tempo me conduz
Ao quanto se perdera desde cedo...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23679
Expondo dos meus sonhos simples fósseis
Mesquinhas emoções herança dada,
O corte que se mostra enquanto enfada
Momentos que pensara bem mais dóceis
No fundo se permitem mais indóceis
A sorte que deveras me degrada
A boca que me beija nauseada
E os vermes sãos os mesmo que inda roceis.
Efêmeros prazeres; não mais quero
O gozo deste pútrido ser fero
Não satisfaz a quem se fez mortalha.
E quando a faca brilha em tuas mãos,
Jogando nestes solos, vagos grãos,
A senda dos senões a morte espalha...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23678
Apenas do que fora, simples fumo
Aonde se fizera força, o vago,
E quando a minha morte ainda afago,
Eu bebo da tristeza todo o sumo.
Os erros do passado se eu assumo
Procuro pelo menos mais um trago
Da vida que se perde em cada bago,
E a cada novo dia me consumo.
Perdesse algum momento e não teria
Sequer o que pudesse em alegria
E tu escarras sempre com teu ódio.
Repúdios que me deste são comuns,
Os dias mais felizes, se inda alguns
Meu corpo apodrecido enfim. Açode-o...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23677
Tal qual se imaginara assim medonha,
Imagem refletida neste espelho,
Deveras bebo o gozo que aconselho
Enquanto uma alma tola ainda sonha.
Escrevo sem ter medo nem vergonha
Apenas não suporto e me ajoelho
Defronte ao paraíso em que me espelho
Além do que este verso te proponha.
Ao menos uma paz que necessito
Não mostre ser diverso deste rito
O canto que encenara o fim dos dias.
Mereço pelo menos caridade,
Por isso não desejo nem saudade
No inferno que deveras me querias...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23676
Sonhasse com diversa maravilha
Não fossem os meus versos realistas
As mãos de insuperáveis, bons artistas
Apenas fantasia, o canto trilha.
Nefastas ilusões, não sendo uma ilha
Apenas o mordaz inda conquistas
E quando noutros rumos tu me avistas
Minha alma sem fulgor, já não mais brilha.
E o ocaso se fazendo mais freqüente
Ainda é que o em verdade se pressente
Depois de não valer sequer a prece.
O peso que se impõe sobre estas costas,
É tudo o que decerto ainda apostas
E a morte salvadora se oferece...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23670
Olhando pelo imenso telescópio
Talvez divise estrelas, nebulosas,
Perfeitas maravilhas, fabulosas,
Delírio comparável mesmo ao ópio.
Enquanto num incrível microscópio
Mais diversas bactérias perigosas
E criaturas vagas, caprichosas
E o mundo desde o nano ao macroscópio
Permite-se vagar em formas várias.
Assim ao refazer a própria vida,
Jamais conhecerás real ermida,
Porém almas errantes, meras párias
Envoltas nos mistérios dos degredos
Em fátuas ilusões, vários segredos...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23675
Deveras exageras proporções
Dos sentimentos tantos que vagueias
Aonde imaginara praia e areias
No fundo são somente provações.
E sei que quanto mais louca incendeias
E tramas outros rumos, direções,
Acendes com loucura os furacões
Entranhas pelas casas, nas ameias.
Escravo do vazio que legaste,
Ao menos ser gentil, não há desgaste
E o peso se tornando um empecilho.
Abrindo os tumulares descaminhos
Envolvo-me deveras nos espinhos
A solução; aos poucos engatilho...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23674
De dores e terrores são compostos
Os dias em que teimo resistir,
Sabendo do vazio do porvir
As dores são decerto, meus impostos,
E os dedos pouco a pouco decompostos,
Os tempos não serão como há de vir
O canto que não pude mais ouvir
E os ossos cada dia mais expostos.
Na macilenta imagem que ora vejo,
Especulares formas do desejo
Outrora insaciável e hoje morto.
Não tendo outra saída, e ancoradouro,
Nos braços da mortalha em que me douro
Imaginando ainda um frágil porto...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23673
Restando do total pequenas partes
Ainda não consigo crer na morte,
Que sei ser desta vida sempre o Norte
E mesmo que conceda tais apartes,
Não verso sobre as formas nem das artes
Eu quero a sensação de algum suporte,
Não tendo uma alegria que se aporte
Resisto bravamente a tais enfartes
E quase não retenho mais os medos,
Aonde se fizeram meus degredos
Os dedos gangrenados não importam.
Se ao menos permitisse algum respeito,
Porém neste vazio em que me deito
Os dias como facas finas, cortam...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23672
Imagem quase informe do que fui,
Passado se mostrando em fria cena,
Enquanto a realidade ainda apena
O bêbedo desnudo ainda flui
Rondando esta esperança que ora rui,
Não quero nem vestígios de uma pena,
A boca que beijara me envenena
E o podre a cada dia mais influi.
E vá-te procurar noutra vereda
Aquele que deveras te conceda
Um gozo mais atroz, velha profana.
Se eu sou este cadáver insepulto,
Não quero nem a sombra do teu vulto,
Canalha que deveras desengana...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23671
Apenas do que fui, mera parcela
Que tanto me maltrata e me magoa
Enquanto o pensamento segue à toa
O barco se perdendo, rota a vela,
A boca que é mordaz já me revela
A vaga sensação que ainda aproa
Naufrágio se prepara enquanto voa
O sentimento em paz jamais se atrela.
Agora o fim de tudo se apresenta,
E apenas o vigor de uma tormenta
Nefastas ilusões, que as leve embora.
O gosto tão amargo que deixaste,
No amor que me disseste, simples traste
Pantera numa espreita me devora...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23670
Observando deveras os mais altos
Montes onde encontrei alguns sinais
Dos dias que passamos; anormais,
Degraus enormes, sempre tais ressaltos.
Os dias que pensara serem lautos
Agora em vãos momentos, transformais,
O quanto se buscara foi demais
Os passos traduzindo os mais incautos
Caminhos onde a sorte se fez tanta
E ao mesmo tempo a morte se levanta
E ri-se desta orgástica loucura.
Já não comporto mais mesquinharias
Diverso deste mundo que querias,
A morte mansamente me procura...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23669
Aonde imaginara cordilheiras
Apenas depressões e vales fundos,
Mergulho nos abismos mais profundos,
Por mais que qual farsante tu não queiras,
Se embalde entre estas pedras tu te esgueiras,
Meus dias prosseguindo sempre imundos,
Olhares que disparas, vagabundos,
Esquecem dos quintais velhas mangueiras.
Bebendo as variantes da emoção
Escravizando uma alma em teu porão
Pensavas ter nas mãos o meu destino.
Qual louca que se entrega numa orgia,
Apenas a verdade me encobria
E agora em versos frágeis descortino...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23668
Aspectos tão diversos, mesma face,
A mortalha que deste, um vão presente
Por mais que uma saída ainda tente
Não posso superar qualquer impasse.
Embora a realidade me desgrace,
Jamais dela seria assim, ausente,
E o quanto do vazio uma alma sente
Permite o mais sombrio desenlace.
Acaso sem saída, morto o sonho,
Nos antros mais escusos, decomponho
Apêndices de um velho trovador,
Que outrora em versos mansos quis a vida,
E agora esta sarcástica ferida
Envolve-me num rito e num louvor...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23667
Olhando com firmeza e nitidez
Percebo que deveras não sou nada,
Vestígio do que andara noutra alçada
Aos poucos minha vida se desfez,
E nesta mais completa estupidez
A sorte foi há muito, destroçada,
Por mais que inda tentasse uma guinada
Não quero ter mortalha em que se fez
A sanha dos poetas e dos loucos,
Se os gritos são embalde, seguem roucos
A porta que trancaste, não arrombo;
Não vejo outra saída nem preciso,
O beijo sem caráter, um aviso
Que preconiza agora a queda e o tombo...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23666
Se ao largo da ventura a paz prefiro
E nada conseguindo eu me permito
Além do que talvez fosse infinito
O corte mais profundo em que me firo,
Apenas dos teus olhos vejo o tiro
E nele está o prazer do ser aflito
Que embalde sortilégio seja dito
Às voltas com vazios, inda giro.
Aprendo a cada dia ser assim,
Nefasta poesia que há em mim,
O pão que me sonegas, distribuis,
Embora virulenta criatura,
Na morte ou na esperança que me cura,
Deveras já não vagas nem influis...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23665
Aonde imaginar poder crer
E ter dentre dos sonhos horizontes,
Devastas com a fúria minhas pontes
Matando o que podia amanhecer
Nas mãos trazes poderes, mastodontes
E bebes do meu sangue até verter
Roubando a fantasia, toma o ser
E secas da esperanças, parcas fontes.
Assim é que se mostra o quanto queres
E mesmo que deveras interferes
No quase que eu herdei e não consigo,
Dos charcos onde encontro a placidez,
Somente o que me resta em lucidez
Transmite ao andarilho algum abrigo...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23664
Procuro tão somente o suicídio
E bebo esta cicuta que me dás,
Assim quem sabe, enfim, encontre a paz,
Depois de tanto tempo em vão dissídio
O verso que pudesse em manso vídeo
Na vítrea passarela sendo audaz
Devorando os escombros é mordaz
Meu mundo se perdendo após. Agride-o.
A raiva se estampando nos meus olhos,
Ferrolhos impedindo uma saída,
E a morte se moldando diz da vida,
Somente entre espinheiros, meus abrolhos,
Atóis que imaginara não existem,
E os ventos mais sombrios já persistem...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23663
Apenas entre insetos sou inseto
Numa metamorfose em perda e dor,
A pútrida emoção a se compor
Diversa do que outra eu quis dileto.
No verso mais feliz, o predileto,
Ainda poderia ter louvor,
Agora me entranhando este rancor
No qual sem preconceitos me completo.
Ascendo ao meu martírio com ternura,
E sei que na verdade a morte cura
Aquele que em tristezas e ilusões
Bebera deste cálice sagrado,
Agora segue sendo destroçado,
Exposto às asquerosas refeições...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23662
Demonstro da ilusão suas facetas
E carcomidos versos demonstrando
O quanto imaginara outrora brando
E agora são medonhas as falsetas,
Adentro pelos becos, guetos, gretas
E o término da vida se moldando,
Não quero mais saber aonde e quando
Ao vago do infinito me arremetas.
Somente sou o tosco em fantasia
Que aos teus olhos amor, apodrecia
Em decompostas formas e atitudes.
Só peço que te vás, e que me deixes,
O rio se envolvendo com seus peixes
Já pede que seus leitos; não transmudes...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23661
A voz da violência que se espalha
Por toda a minha casa, não consigo
Vencer o meu fantasma em desabrigo
A vida se mostrara tão canalha
No fio, o desafio da navalha
E a carne apodrecida, tosco artigo
Vendido em livrarias, mas não ligo,
Apenas a verdade me atrapalha.
Pereço paulatina e friamente
E enquanto a realidade não desmente
Sou mero caricato do que fora,
Servido de bandeja num banquete
Soneto em despedida, este bilhete
A morte enfim seria redentora...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23660
Um verso violento em mar bravio
Perpetuando a dor que me legaste,
A porta que deveras tu trancaste
E em loucas sensações já desafio,
Mergulho no passado em que desfio
Rasgando qualquer sonho. Sou desgaste
Do tempo que se deu algum contraste
Descrevo tão somente o medo e o frio
Aonde não pudera ter preciso
O mundo que devoras, fera escracha,
Minha alma se desmancha e não mai acha
O rumo entre tempestas e procelas,
Mesquinharias são muito freqüentes
E sabes quão mordazes os dementes
Momentos em que nua te revelas...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23659
A vida, esta maldita fantasia
Que tanto nos domina e depois disto
É como se em verdade não existo
A morte se apodera e a paz se cria,
Lateja dentro da alma esta agonia
Por vezes, idiota até insisto
No gozo que deveras sem ser visto
Apenas é longínqua melodia.
Assassinando os sonhos, não me resta
Senão tal desvendar de tolos mitos,
Percorro devagar os infinitos
E vejo o grão que sou nesta floresta
Poeta que, iludido já se cansa
Matei esta quimera, uma esperança...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23658
Os monstros que carrego dentro da alma
Medonhas criaturas que decoram
De vez em quando loucas já se afloram
Causando tão somente medo e trauma.
Da angústia reconheço dorso e palma
E os vermes que deveras me devoram,
Apenas tão somente comemoram
E a cena na verdade ainda acalma.
Quisera ter no fim algum momento
Aonde pelo menos me apascento
Ausência de mentiras e sarcasmos.
Os olhos se esvaziam, se esfumaçam
Enquanto os meus demônios se disfarçam
Os dias seguem vãos, deveras pasmos...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23569
A vida se transcorre em tal rancor
Que nada sossegando o peito aflito
Por mais que na verdade seja um rito
Aonde abarco um cais em plena dor.
Negar a própria sorte muda a cor?
Meu tempo é muito pouco e ser finito
Transforma qualquer verso num só grito
Jamais verei um mágico sol-pôr.
Quebrando estas correntes; me liberto,
Por mais que meu futuro seja incerto
O certo é que não tenho muitos dias.
E a morte se aproxima velozmente
O frio que eternal a alma pressente
Deveras o que sempre tu querias...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23568
Dos restos que hoje sou eu me alimento
Estômago; intestino, eviscerado
Arquétipo do errôneo e vão passado,
A cada novo tempo ainda tento,
Mas sei que na verdade mesmo atento,
Vazio será sempre o meu legado,
Percorro os descaminhos, cada prado,
Não traz sequer a paz, tampouco alento.
E beijo apodrecidos dedos; fardo
Que carregando ainda em plena vida,
Invés da quaresmeira; agora o cardo
Aquilo que decerto ainda sou,
A sorte num momento sendo urdida
Demonstra tão somente o que restou...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23567
Paixão que represento em sacrifício
Cortando a minha pele, a fina adaga
A boca da serpente quando afaga
Fazendo da peçonha o seu ofício,
Trazendo nos seus olhos, precipício,
Enquanto a violenta onda me traga
Fugindo de mim mesmo em fria plaga
O quarto é como outrora fora. Visse-o.
Aspergindo os demônios que me deste,
Agruras são sorrisos, gozo é peste,
E o tempo não decifra os meus anseios.
Morrer em podres fardos, árduo rito
Alçando o meu caminho ao infinito,
Já não suportaria mais rodeios...
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23657
Não quero esta versão que heroicamente
Fizeste para a sorte que não veio,
E sendo assim por certo banqueteio
Fazendo do mesquinho, uma semente.
O beijo que me deste, sempre mente
E o peso do passado de permeio
Moldando este caminho que receio,
No barco que naufrague novamente.
Os pés quando amputados salvação
De quem ao se perder na podridão
Ainda busca a vida, mesmo parca.
E tendo a poesia como amiga,
Por mais que no vazio inda prossiga
A sorte noutros cantos desembarca...
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23656
Numa misteriosíssima ilusão
Cerceio cada verso em tolas rimas,
E quando em vãs mentiras tu já primas
Mergulho no vazio da amplidão.
E o quase se tornando o meu refrão,
No quanto ainda gostas ou estimas,
Não tenho mais coragem, vejo em Dimas
Exemplo a ser seguir. Peço perdão.
Mas nada impedirá o louco brado
De quem se fez na vida um desgraçado
Mesquinho ser, estúpida promessa
Que agora ao se abortar, mostra na face
O vômito da fera que o embace
E a cada novo dia recomeça...
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23655
Mergulho na lagoa dos engodos
Aonde se apodrecem esperanças
E quando entre nenúfares me laças
Encontro tão somente podres lodos.
Escudo-me nos vermes, sei-os todos
Jamais esperaria temperanças
Nem mesmo arcando enfim com tais lembranças
Nas mãos velhas vassouras, toscos rodos,
E tudo não se limpa, putrefeitos
Medonhos caricatos foram feitos
Do barro em que o demônio defecara.
Assim, nos olhos vagos do profeta,
O verso incoerente de um poeta
Descobre de Satã o corte e a vara.
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23654
Humanas criaturas, vermes tolos,
Que bebem das sanguíneas emoções,
Torturas entre balas e canhões,
Canhestros camaradas, onde pô-los?
Vassalos dos desejos, sem opô-los
Na permissiva vida, são leões
Nas jaulas, embotados. Nos porões
Aonde poderia recompô-los
São meras feras toscas e medonhas,
Por mais que em ilusões inda componhas
Cenário mais suave; já não me engano.
A farsa se fazendo mais cruel,
Aonde se derrama fúria e fel
Decerto tu verás um podre humano...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23653
Desfilam-se cadáveres e restos
Aonde poderia crer que a vida
Por mais que se mostrasse dolorida
Já não trouxesse ritos tão funestos,
Em meio aos furacões, loucos incestos,
Medonha e sem desculpas a ferida,
Que entre meus pesadelos fora urdida,
Moldando com terror antigos gestos.
Escrevo em toscos versos o que embora
Pareça bem mais mórbido se aflora
E toma todo o corpo, invadindo a alma,
Somente o gozo amargo deste fel
Que tanto produziste, é teu papel,
Depois de tantas fúrias, inda acalma...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23652
Cantasse pelo menos a esperança.
Mortalhas que inda trago; não esqueço
Bem sei que este final; quero e mereço
Enquanto a sorte ao largo já se lança.
Pudesse ter previsto uma mudança,
Ao menos se tivesse outro endereço
Tortura não seria este adereço
Que aos poucos entre as carnes vai e avança;
Meu verso amortalhado só traduz
O que me falta ainda, porto e luz.
Desabrigado sonho perpetua
O fogo que não cessa um só momento,
E quanto mais voraz eu me atormento
Deitando sob o incêndio de uma lua...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23651
Não pude suportar o teu sorriso
Imaculadamente um falso gozo,
E sendo sem candura, pedregoso,
Mergulho no vazio; mais preciso.
E tudo o que pensara ser um guizo
No fundo outro caminho que ardiloso
Moldaste com audácia, caprichoso,
E quanto mais refúgio, mais eu biso.
Frisasse alguma frase eu poderia
Sentir quem sabe ao fundo, a fantasia,
Mas nada me poupando já clareia,
E a carne se apodrece em vãos pedaços,
Ainda do passado, queimos os laços,
A lua nunca mais se fez tão cheia...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23650
Exércitos de farsas e mentiras
Em turbilhões diversos versos verso
O peso do passado vai disperso
Nas balas que deveras já me atiras,
E quando nos vergões inda prefiras
O tempo se moldando no universo,
Seguindo a poesia e nela imerso
Ainda busco em vão belas safiras.
E o fogo não se cansa e me devora
Afloram-se desejos desde agora
Causando no meu peito o descalabro,
E quando a fantasia enfim eu abro,
Descubro a solidão que me decora
No riso da verdade, mais macabro...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23649
O amor quando se faz barro ou argila
Moldando uma figura em vasos vários,
Além dos dias falsos, meus fadários
Sem ter sequer quem dores; aniquila,
Esqueço do passado; arcaica fila
Aonde os meus destinos visionários
Escondem as loucuras nos armários
E o fogaréu da fúria inda destila.
Esvaem-se em segundos tudo o que
Pensara e na verdade não se vê
Sequer a velha sombra do que fora.
Misturo os meus fantasmas e fantoches,
Por mais que dos meus medos já deboches
Minha alma sem remédios, sonhadora...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23648
Quem fora nesta vida messiânico
Paspalho se desnuda em versos frios,
Recebo como herança tais vazios
E o olhar ora cristão, porém satânico.
Não quero nem reparo se houve pânico
Apenso meu destino em vagos brios,
Espectros que me seguem sendo esguios
O mote que perfaço, quase orgânico.
- É carma. Tu dirias, mas sei bem
Que o nada quando em nada se contém
Expressa fielmente o que me resta.
A boca se escancara e traz nos dentes
Os vermes que deveras não pressentes,
Matando o quanto havia alma funesta...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23647
No olhar de quem prepara um simples crime
A fúria desmedida diz que tudo
Não passa deste tempo em que me iludo
Aonde uma verdade não se estime,
A morte sem ventura me redime,
Seguindo em descaminhos, sempre mudo,
No vasto do vazio quando grudo
O verso mergulhado em dor oprime.
Nas carnes decompostas, o prazer,
Se eu tenho vampirescas ilusões,
Os ventos se transformam, turbilhões,
E neles possa ainda mesmo ver
Que nada se fará conforme eu quis;
Porém bisonhamente eu peço bis...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23566
Aonde imaginara a mansidão
Somente encontro aqui a mesma escarpa
Nas mãos que se sonegam, faca e farpa
O tempo se mostrara em solidão.
Vergando sob o peso da emoção,
Já não escuto mais sequer uma harpa
Minha alma tão pacífica qual carpa
Mergulha no vazio ribeirão
E morto sem saber o que fizera
Aonde inda tentara a primavera
A neve se tornando mais comum,
De todos os engodos a carcaça
Apenas tão somente quando passa
Responde em ladainha: sou nenhum...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23646
Os mares mais distantes eu transponho
Usando como barco, este vazio
Que embora seja simples desafio
É tudo que em verdade inda componho.
O tempo se moldara assim medonho
A vida que deveras eu desfio
No mar que em tempestades já desvio
Enquanto um cais suave; inda proponho.
Repondo as minhas coisas no lugar,
Às vésperas da morte, nada temo,
Primando pelo gozo, como um demo
Vergando-me ao diverso mergulhar
Mereço por acaso esta vergasta
Que a mão feita em carinhos não afasta.
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23645
Qual fora um ser que ainda em vão medite
Buscando a solução que não virá,
Servindo desde sempre, sei que já
Não terei nem sequer o que acredite.
Não deixo me levar, qualquer palpite
A sorte vez em quando negará
E o tempo na verdade mostrará
Que tudo que eu queria tem limite.
Obesas ilusões são mais cruéis
E delas imagino fúria e féis
Arcando com os enganos dos meus dias.
Aonde se fizera tentação
Não sendo deste amor, decoração,
Conforme imaginaras e querias...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23644
Qual fosse destas sombras mais sinistras
O mártir que se entrega sem defesas,
Aonde poderiam as belezas
Diversas ilusões já não ministras.
Percorro tão somente em vagas listras
Medonhas emoções, diversas presas,
Carcaça carcomida sobre as mesas,
Das ondas mais vorazes, loucas cristas.
Estrídulos; escuto e nada faço
Somente me regendo este cansaço
Da vida que não vale quase nada,
Mesquinharias toscas, o presente
Que tanto se quisera e se pressente
Matando desde sempre essa alvorada...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23643
Tangesse dentro da alma a harpa sombria
Aonde se moldasse um vasto mar,
E bêbedo de luz a caminhar,
Por mais que toda a vida seja fria.
Aonde se derrama o que seria
Do verso se não fosse o bem de amar,
Perdendo desde agora o meu pomar,
Do quanto quis e nada mais teria.
Assaz glorificante a morte exata
No fundo não seduz e não maltrata
Malogros enfrentando dizem vida.
Asquerosa figura se desnuda
Sem ter quem me condene sonego a ajuda
Prefiro a solidão da doce ermida...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23642
Minha alma não reprime os desalentos
Se deles os meus versos são a fonte,
Percebo quando escuro este horizonte
Aonde mergulhar em fartos ventos.
Os dias se passando, os pensamentos,
No quanto se podia crer em ponte,
Sentindo que a verdade desaponte
Não posso mais prever novos proventos.
Apenas os mesmíssimos fadares
Por mais que tão distante navegares
Verás que o verso é feito de emoção.
Entrego algum sorriso e em troca tenho
A podre solidão, cruel empenho
De quem se fez amante e volta ao chão...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23641
A dor que exprimo em versos me deforma
A cada novo tempo mais audaz,
Estrada sem descanso se perfaz
Mudando a cada instante, nova forma.
Não quero obedecer à velha norma
Espero no final algo mordaz,
Bebendo este veneno que me traz
Aquela que propunha uma reforma.
Informo-me dos tempos onde existe
No crivo do passado, sigo triste
E mato esta esperança que me tolhe.
Uma alma em transparência; não percebo,
E quando me entregando ainda bebo
Os restos que minha alma em vão recolhe...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23640
Versos de amor? Findando tal etapa
O quase se mostrara renitente
Por mais que algum sorriso ainda alente
Não quero mais usar a escura capa.
O sol que cada nuvem chega e tapa
Pudesse ser deveras bem mais quente
Sem ter nada que ainda me faz crente
Das pedras quero apenas fria lapa,
Negando desde sempre esta existência
Apelo para quem com inocência
Ainda crê possível Paraíso.
No cerne da questão, a vida e a morte,
Enquanto a fantasia já se aborte,
Ao menos não terei mais prejuízo...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23540
As bocas entre as carnes, lacerantes,
Sentindo cada dente que se entranha,
O verso se moldura na montanha
Aonde me perdera por instantes,
Os velhos predadores são gigantes
E a sorte que sonhei e que me estranha
Deixaram a mortalha como sanha
De quem não poderia ser feliz,
Acerca da mentira que me diz
Quem fosse destroçando o que inda resta,
Nos velhos arvoredos frias caças,
E quando sorridente; ainda passas,
Invés do meu velório; queres festa...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23639
Plantasse uma esperança, porém na horta
A sorte se perdeu faltando o adubo,
Se às vezes noutro espaço ainda subo
A fantasia agora segue morta,
E quando em vários ritos sonho aporta
Mergulho no passado, um velho tubo,
Mudando cada aspecto, prisma ou cubo,
A boca que me beija não me importa,
Serpentes entre farpas e fagulhas
No entanto sem defesas tu te orgulhas
Da faca que entranhaste no meu peito.
E as fontes variáveis do prazer
Podendo a cada instante me perder,
Por sobre finas lanças eu me deito...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23638
Não pude disfarçar a solidão
Que tanto se fizera assim presente,
O quase ser feliz minha alma sente
Trazendo no final a negação;
Ao velho caminhante, a solução
Na morte que deveras se pressente
Por mais que uma razão se mostre ausente
Inverna dentro da alma este verão.
Apraz-me tão somente o ledo fim,
E a morte me rondando, diz do quanto
Perdera-se na força deste encanto
Moldando cedo o riso, sendo assim
Não deixo de tentar sobreviver,
Mas quero ainda algum parco prazer...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23637
Não posso me furtar a ser assim,
Um tempo após a morte dos meus ritos,
O cardo que cevaste em meu jardim,
Permite os versos toscos; velhos gritos.
Havia dentro em mim o querubim
Que agora se perdendo em infinitos
Navega por distâncias sem ter fim,
Ferindo com antigos, tolos mitos.
Aprendo a ser cruel naturalmente
E tudo o que minha alma ainda sente
É feito deste sangue que tu bebes,
Aonde poderia ter a paz,
Agora amortalhado tanto faz,
Além deste cadáver que concebes...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23636
A morte dos meus sonhos deu-se enquanto
Roubaste as minhas últimas verdades,
E quando os meus espaços tu invades
Demonstras que não valho sequer pranto.
Não quero prosseguir, mas entretanto
Já não conseguirás as velhas grades,
Retorno aos meus anseios, pois que brades
O verso não se dobra, nem meu canto.
Que dane-se quem tanto se fez santa
E quase a cada instante se levanta
Mordendo com sorrisos imbecis,
Mortalha se me cabe é meu problema,
Não tendo quase nada que ainda tema,
Não quero e nem serei bom ou feliz...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23635
Infância que perdeu-se há tanto e agora
Refaço nos meus olhos qual pudera
Ainda ser a viva e vã pantera
Que aos poucos, novamente me devora.
Abarco cada sonho que inda ancora
Atracações diversas, quem me dera;
Se o fogo do passado me tempera
A morte da esperança já decora.
Os versos que procurem pelo alento,
Metáfora da vida que eu invento
Adentro este vazio como fosse
Um último tormento, ou manso alívio.
Cadáver do meu sonho está ali. Vi-o
Tal qual uma criança espreita um doce.
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23634
Eu sei que não virá quem disse adeus
E nada acrescentando sigo assim,
Mortalhas vão tomando o meu jardim,
Não quero mais pensar sequer em Deus,
Os dias que passaram, todos meus
Das vozes que escutasse chego ao fim
Metáforas; criara e se estopim
A bomba destrançando luz e breus.
Arquétipo de sonhos que não pude,
O meu pensar deveras tosco e rude
Medonhos os versáteis sentimentos.
E quando não couberam soluções
Não pude decifrar as ilusões
Nos olhos dos engodos, meus ungüentos...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23633
Sentando o coração no velho paço
Por onde não passaram mais os trens
Por vezes imagino que inda vens,
Mas logo este fantasma; já desfaço.
E quando mergulhando passo a passo,
Escarifico o resto dos meus bens,
As ordens que recebes dos aléns
Traçando da ilusão velho compasso
Escrevo o verso frágil e mesquinho,
Seguindo devagar o meu caminho,
E sinto que talvez reste uma chance
Aonde ver a sorte se não creio,
Não posso ter em mente este receio,
Por mais que a dor em mim ainda avance...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23632
O vento assobiava melodias
Dos tempos onde quis alguma luz,
Severas ilusões traçando a cruz
Que a cada novo instante me trarias
Não fossem os meus versos fantasias
Compondo o que a verdade não produz,
Na profusão de cores, corpos nus,
Versões que em aversões tu não darias.
Mesquinhos os meandros da paixão
E neles sem saber se sim ou não,
Mergulho os meus poemas e me faço
Apenas a carcaça do que outrora
O vento assobiando se demora
E o beijo não passou de simples traço...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23631
Verdade é como manta multicor
Deveras nos descobre enquanto aquece
E nestas ilusões o mundo tece
Variações do tema, como o amor.
E quase se perdendo a decompor
Na pura invalidez desta quermesse
Sem nada além do quanto se obedece
O peito, num naufrágio teima em dor.
Houvesse pelo menos um instante
Aonde se pudesse triunfante
Adentrando a real felicidade.
Verdade em mil matizes se desnuda,
A sorte que se dá, forte ou miúda
Tentando quem deveras já te agrade...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23630
Palavra não bastando para ser
Aspectos mais diversos que traria
O quadro feito em luz, melancolia
Moldando o meu enorme desprazer.
Assim sem poder ver e sequer crer
Apenas o passado bastaria
Invés de se perder em agonia
O beijo sonegado; pude ter.
No pôr do sol, a sombra do passado,
Somente do que tive algum recado
Mostrado em multicores expressões.
O verso se desnuda por inteiro
E o gozo que pensara verdadeiro
Transmite tão somente estes senões...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23629
Coloco dentro da alma esta mantilha
Que escurecendo o dia nada traz
Seguindo o meu destino; se mordaz,
Apenas no final uma armadilha,
Não faço e nem farei desta matilha
Que o tempo se moldando diz audaz,
O quadro sem rabiscos satisfaz
Enquanto o mar em luas claras brilha.
Enegrecido sonho, faz do tempo
Além do que pudera contratempo
Atemporais momentos; não conheço,
Converto estas palavras em verdades
E quando em mares turvos inda nades,
Vejo a sorte ignorando este endereço.
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23628
Buscara algum caminho em que pudesse
Ao menos vislumbrar a liberdade,
Sem nada que em verdade ainda agrade
Vazio versejar meu tempo tece.
E o quanto se fizera o bem que esquece
O medo que persigo ora me invade,
Enquanto em mar tranqüilo quer que nade
Uma alma transparente que tivesse
Percorro em descaminhos outras sendas
Que embora muitas vezes tu repreendas
No fundo não divergem desta foz,
Ainda que se mostre mais escura
A estrada que em desníveis me tortura
Às vezes mais suave ou mesmo atroz...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23627
Puseste dentro da alma um barco e um cais,
Mas nada do que pude salvaria
Quem sabe navegar, faz da alegria
Além do que queria e muito mais.
Por onde poderia, não notais
Se tudo o que pudesse em agonia
No mar de imensas dores nadaria
São sonhos mais comuns entre mortais.
E o verso se perdendo em águas turvas,
Sabendo decifrar o que nas curvas
Transforma em descaminho um bem tranqüilo,
Aonde não pusesse algum espinho,
Vergando sob o peso, vou sozinho
E as mágoas que inda restam, eu destilo...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23626
Não tires o que outrora se fez festa
E deixe que eu perceba o que propões
E enquanto não vislumbre soluções
Apenas o delírio, o que me resta,
Se nada do que teimo já se empresta
Aos medos que não trazem ilusões,
Vestígios do que foram corações
Na noite sem luar, rota e funesta.
Mas peço, por favor, já não retires
O brilho que em teus olhos percebia,
O encanto se mostrando em fantasia
Deixando a proteção de velhos pires,
Impede que eu mergulhe no vazio
Dos versos que reversos, ora crio.
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23625
Dos brincos que tu trazes, teus disfarces
Esboças os desejos e as libidos,
Aonde se pudessem esquecidos
Demonstram na verdade tuas faces,
E quando em tais belezas sempre embaces
Os olhos que teimaram, percebidos,
Mordazes os delírios permitidos
Aonde fantasias; inda traces.
Seriam nestes lóbulos somente
Adendos se não fossem sedução
E tenho com total satisfação
O gozo do que em brincos se pressente,
Meus lábios procurando em tais enfeites
Caminhos para enfim, raros deleites...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23624
Saudades que trazemos só desmentem
As dores que sentimos; nada mais.
O barco não voltando ao mesmo cais,
As velas do passado ainda mentem.
E quando dos momentos que se sentem
Assenta-se a poeira, são demais
Os ritos que deveras provocais
Usando das lembranças que inda alentem.
Saudade diz mentira e falsidade,
Retrato bem distante da verdade
Memória seletiva traz o bom,
Matando o que de fato acontecera
Como se fosse assim feito de cera
Neste museu que muda a cor e o tom...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23623
Um pêndulo matreiro, o coração,
Por vezes traz sorriso e mesmo gozo,
Depois este menino caprichoso
Em si já nos demonstra a negação.
Versando sobre as chuvas de verão
Verás o que talvez vá tenebroso,
E embora muitas vezes generoso,
Naufraga qualquer sonho, solidão.
Nas horas mais felizes, riso franco
Depois eu mesmo vejo e já desbanco
Num bando de ternuras e mentiras.
É como fosse festas num velório,
O pensamento expressa este ilusório
Caminho que deveras vão, retiras...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23622
Deixaste que esta máscara caísse,
Depois de tantas vezes se esconder
Nas horas mais difíceis pude ver
O que doce ilusão já me desdisse.
No quanto se permite esta tolice
Eu vejo no reflexo do meu ser
O que não poderia mesmo ser
Fugindo vez em quando da mesmice.
Se vejo atrás da máscara o retrato
De quem por tantas vezes eu retrato
Em versos lisonjeiros ou audazes
Percebo que também assim sou eu,
Minha alma noutra escala se escondeu
E faço do meu mundo o que tu fazes...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23621
Minha alma muitas vezes se protege
E quando se percebe, em fria algema.
O amor velho parceiro, antigo tema
A vida de quem sonha sempre rege.
Em tons mais claros creio; branco ou bege
Enquanto o dia a dia inda se tema
Não vejo e nem procuro mais problema
E quando a realidade enfim lateje
Eu tenho nos poemas, a vingança,
E a voz muito mais forte, o peito lança
Buscando até quem sabe ser feliz.
Não posso sonegar esta verdade,
Atrás da poesia, imensa grade
O mundo a cada instante me desdiz...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23620
Por mais que tanta coisa a gente diga
Apenas são fumaças, nada além,
O muito do vazio se contém
Na face que deveras desabriga.
Da sorte traiçoeira desobriga
Nossa alma que deveras nada tem
Além do que resguarda de outro alguém
Por mais que esta pessoa seja amiga.
No quase e no talvez nos protegendo,
Do todo somos partes; mero adendo
E disso é se faz nossa defesa.
O rio se espalhando pelas margens
Lambendo com vigor as paisagens
Enfrenta vez em quando a correnteza...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23619
Jamais diria alguma coisa, amiga
Do todo que me move; envolto em luzes
Das sortes e dos medos, minhas cruzes
A vida na verdade desabriga.
E enquanto a realidade se persiga
Nos olhos da verdade tais obuses
Ainda que bem pouco inda reluzes
Enquanto no vazio se consiga
A eterna proteção que nós quisemos,
Se temos sacros ritos, loucos demos,
No fundo somos partes deste todo
Que espalha-se nas sombras que deixamos
Enquanto do arvoredo, finos ramos,
Deveras chafurdamos neste lodo...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23618
A vida não permite que a verdade
Se mostre inteiramente, pois é nela
Que uma alma se desnuda e se revela,
Reflexo da total obscuridade.
Enquanto a fantasia nos invade
O barco da esperança abrindo a vela,
Corcel das ilusões, palavra sela
E volta num galope à imensidade.
Mas quando nos olhamos num espelho,
A farsa se mostrando por inteiro,
Não adianta mais qualquer conselho
Envelhecemos sim, e isto me basta
E o que eu pensara, um nobre cavaleiro;
Figura maltrapilha, amarga e gasta...
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posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23617
Jamais uma verdade se completa
E mostra inteiramente o que sentimos,
Por mais que muitas vezes permitimos
Visão que se demonstra, a razão veta.
Assim é como fosse este poeta
Nos versos que deveras iludimos
Diverso de nós mesmos, o destino
Assim quão variável nossa meta.
Sentir o arfar suave ou dor imensa,
Não tendo nem talvez a recompensa
De um riso ou de uma lágrima, teimamos,
E mesmo quando tentam nos calar
Salgando de alegria cada mar
Invés de nos calarmos, mais cantamos...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23616
Percebo-te sombria, amargurada
E as trevas de tua alma já se apossam,
Por mais que os novos dias inda possam
Dizer da claridade da alvorada
A sorte, tantas vezes desprezada,
Enquanto as nossas lágrimas se empoçam
E as fantasias tolas sempre adoçam
Realidade tosca não diz nada.
A cada tempo a mesma ingratidão
E nisso se resume a nossa vida,
Encontro a solidão da despedida,
O amor nunca passou de uma visão,
E assim seguimos sós; nada contém
Uma alma eternamente sem ninguém...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23615
Uma alma que se mostre assim, inquieta
Em plena liberdade, impertinaz
Buscando a cada verso a velha paz
Na qual a fantasia se completa,
Traduz a voz intensa de um poeta,
Somente o desconsolo satisfaz
Podendo a cada dia mais audaz,
Tendo só fantasia como meta.
Vencer os meus eternos dissabores,
Lutando por caminhos onde flores
Não sejam utopia, mas reais.
Meu canto se esbarrando na verdade,
Enquanto uma ilusão já se degrade
Não deixa de sonhar. Isso, jamais!
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
23614
Pudesse ter apenas um sorriso
E nada mais seria tão ruim,
O mundo desabando traz pra mim
Um gosto mais amargo, mas preciso
Além do que talvez tomando o siso
Permita que se creia ainda assim
Que tudo mudaria, pois no fim
Quem sabe ainda reste algum aviso
Mostrando uma saída e, de repente
Um novo amanhecer já se apresente
Trazendo a paz bendita, a mensageira
De um tempo aonde possa ver a luz,
Ao sonhador então fazendo jus,
Conforme uma alma livre ainda queira.
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Janeiro 27, 2010
Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23740
Festins aonde encontro estas rapinas
Esbaldam-se com pútridos manjares
E bebem desejosas, como em bares
O sangue em que se escorrem tuas sinas,
Pudesse perceber quanto fascinas
Abutres e chacais, seres vulgares,
Os vermes te elevando aos vãos altares
Da negra podridão, fazem-te minas.
E assim em tais orgásticas loucuras
Por entre estas neblinas, já perduras
Eternizado em pérolas sombrias.
Esgota-se deveras num instante
No riso mais audaz e delirante
Das tétricas e horrendas confrarias.
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23739
As belas iguarias; banqueteias
E rapineira sombra já me ronda,
Enquanto este fantasma agora sonda
Entranho sem saber em tuas teias.
Por mais que uma alma tola ainda esconda
Tu sabes desvendar artérias, veias
E bebe todo o sangue que saqueias
E a voz em alto brado como estronda...
Estrídulos diversos, murmurantes
Espelhas o que tanto desejaras,
E quando nos meus pântanos a clara
Visão de tolos dias, tu vens antes
E tramas com deveras competência
A morte sem perdão nem indulgência...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23738
Encontro os meus espectros nos ermos
Envoltos em neblinas, noite escura
A cova que me deste em terra dura,
Convida ao que talvez em outros termos
Ainda gostaria de podermos
Arcar com as angústias da procura
E enquanto o pesadelo já perdura
Sem nada que sonhar até bebermos
Do fel evaporado deste espaço,
Aonde o ar se mostre mais escasso
Pedaços do que fomos, e ainda sou.
Nesta fantasmagórica ilusão
A morte se desenha em aversão,
Porém foi na verdade o que restou...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23737
Ainda se pudesse ter saída
No imenso labirinto feito em urzes,
Enquanto no passado vira cruzes
Agora desconheço a própria vida.
A sorte abandonada, ou esquecida
Jamais eu poderia ver as luzes
Por trevas mais obscuras me conduzes
Sabendo que o rancor ainda agrida
Quem vive do passado tão somente
Sonega para o chão; o grão, semente
E tudo não passando de um aborto,
Aonde se pudesse crer na paz
Apenas o vazio já se traz
Negando ao navegante qualquer porto...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23736
Se tudo o que pretendo foi negado,
Em cântaros esqueço cantorias
Os sonhos na verdade sempre adias
E mandas com silêncio, o teu recado.
O prazo descumprido e nunca dado,
As horas que entre os dedos escorrias
Deixando como marca tais sangrias
O corpo exangue além abandonado.
Esqueceste de tudo, mas talvez
Ainda me restando a lucidez
Eu possa refazer a caminhada.
Porém neste funéreo beijo amargo,
A voz que ainda teimo; logo embargo
A vida de uma vez, esfacelada.
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23735
Quisera a minha vida mais augusta
Aonde se pudesse crer na sorte
Que tantas vezes trama a minha morte,
E o pouco do que resta inda degusta.
A voz dos meus espectros não me assusta,
Mas tendo tão somente o fundo corte
E a ausência da esperança que conforte
A vida, mesmo parca tanto custa.
Quem dera algum lampejo de alegria
Enquanto a poesia se esvaia
Deixando a solidão por companheira,
Integro os mais profanos bandos, párias.
Aonde imaginara luminárias
A luz por entre as trevas, vã, se esgueira...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23734
A estrada em que decerto inda palmilho
Não tendo mais um ponto em que eu consiga
Apenas a palavra mais amiga,
Um velho coração de um andarilho
Fazendo da esperança amargo trilho,
Ainda que deveras já prossiga
A cada nova curva mais periga
E mesmo entre os humildes, eu me humilho.
Arcando com os meus tantos desacertos,
Vencendo os desafios e os apertos,
Não posso me furtar ao meu ocaso,
E galgo as mais tranqüilas ilusões,
Por mais que sejam curtos os verões
O pouco já me basta, e nisto aprazo...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23733
A dor que agora invade e assombra o sonho
Aonde poderia ter um dia
No qual com tanta fé mergulharia
E a cada bordoada, decomponho.
O que se mostraria tão medonho
Não sei se valeria a fantasia
Na qual uma alma tola ainda urdia
Um verso que pudesse ser risonho.
Insepultas verdades me açodando,
O quase se desnuda desde quando
O tempo demonstrou vago final,
Aonde poderia ter um porto
Não quero, pois me encontro quase morto
Além do meu espúrio funeral...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23732
Se exalto o antigo sonho em que talvez
A minha vida enfim teria paz,
Não posso me sentir mais incapaz
Se o amor em tanto amor já se desfez;
Mortalha vem tomando em altivez
Aquilo que pensara mais audaz,
A morte se aproxima e nisto traz
O fúnebre fantasma que tu vês.
Esqueço a cada dia do que outrora
Ainda poderia sem demora
Vivenciar em tempos mais felizes,
Não sei se eu poderei sanar as dores,
Só penso em te pedir para repores
O que em alegrias já desdizes...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23731
O quanto do passado construíra
E desde então somente o nada levo,
Aonde me entreguei; já não me atrevo
Castelo em esperanças, pois ruíra.
Não trago mais no peito ainda uma ira
Tampouco este rancor terrível, cevo
Nem creio num amor que se, longevo
Ainda outro caminho exposto, mira.
Erijo dos meus ermos este sonho
E morto quando em tréguas recomponho
O mundo feito em fera e mais atroz,
Não quero ter somente o vão tormento,
E quando noutros braços me apascento,
Tornando mais suave a minha voz...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23730
Pensara poder ter além do todo
Alguma explicação mais convincente
E tudo o que minha alma ainda sente
Expressa na verdade podre e lodo,
A vida por si só, um grande engodo
E neste mundo, apenas penitente
Por mais que outro caminho ainda tente
Já não conheço mais paz nem denodo.
E quando tento um ar mais respirável,
Ou fonte que se mostre enfim potável
A mesma putrefeita solidão.
E esvaio em farsas tantas como um pária,
Minha alma muita vez incendiária
À vida apresentando esta aversão...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23729
Desmoronando enfim os meus castelos
Aonde em vãos orgulhos fiz meu mundo,
E quando no vazio me aprofundo
Não restam nem sequer sonhos mais belos.
Espero alguma sorte que não vindo
Desmancha o que pensara ser mais doce,
É como se deveras inda fosse
O mundo mais suave e mais infindo.
Apresso-me a negar os descaminhos
Por onde eu andaria em fogo e lava,
Minha alma que nas trevas se entregara
Buscando solitários, velhos ninhos,
Agora se desfaz em podre esfera
E apenas o final, ainda espera...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23728
Aonde quis o sonho, a realidade
Sem ter nem mais escrúpulos; desnuda
A face aonde outrora quis ajuda
E a morte se mostrou sem falsidade.
Por mais que uma esperança ainda nade
O tempo a cada instante sempre muda,
Nem mesmo a caridade que inda iluda
Permite que se creia em liberdade.
Esgarço-me em neons e brilhos falsos,
Audazes os modernos cadafalsos,
Disfarces entre pernas e sorrisos,
A pútrida verdade é feito em gozo,
O mundo se mostrando caprichoso
No Inferno os aparentes Paraísos...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23727
Qual fora nas pirâmides da vida
O vértice deveras almejado
O templo que julgara no passado,
Agora a sorte morta é vã, perdida.
Aonde imaginara enternecida
Sacrílego demônio enclausurado
O beijo que me dei emocionado
Demonstra esta ilusão vaga e perdida.
Se agora eu apodreço pouco a pouco
E mostro-me aos teus olhos quase um louco,
Amontoando em mim velhas carcaças,
Ao largo desta estúpida quimera,
Sem ter sequer piedade, uma pantera
Seguindo o teu caminho, agora passas...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23726
Somente do passado um velho entulho
Semente dos escombros que me deste
O nada que do nada se reveste
Demonstra a cada passo, o pedregulho.
E quando; os meus segredos desembrulho
Percebo tão somente o frio e a peste
E a dor na qual o sonho ainda investe
Deveras como fosse algum marulho
Distante dos teus mares, navegar
Enquanto em tal desdita sei do mar
Ouvindo a voz medonha do futuro,
Que tanto amaldiçoa quem espera
A sorte que deveras me faz fera
Atocaiada em solo árido e duro...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23725
Só sei que nada sou e disto faço
Apenas a verdade e nada além
O quanto desejara a sorte o bem,
Restando disto tudo um vão pedaço;
Seguindo cada rastro; ganho o espaço
Enquanto o mesmo nada me contém
Hermético fantasma; sigo aquém
Do quanto imaginara e em sonhos traço.
Murmuro o que pensara ser resposta
E quando vejo uma alma assim exposta
Não tenho outra saída e teimo em crer
Que ainda poderia ter a sorte,
Mudando com certeza o antigo norte
E poderia, enfim, deveras ser.
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23724
Apenas sou matéria e nada mais,
Mas quando eu fizer em fátuo fogo,
Não tendo mais sequer a reza e o rogo,
Meu verso entre os diversos, frágil cais.
Esboço alguma tola solução
E tento ter a sorte fugidia
De quem em outros mundos fantasia
Sabendo dos vazios que virão.
Não quero e nem pretendo tais lauréis
A poesia é morta e já faz tempo;
Se fosse pelo menos passatempo,
A vida modifica seus papéis.
Aonde outrora houvera alguma luz,
Agora tão somente pedra e cruz..
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23723
Canhestro estro ou ostra no ostracismo
Cismando cataclismos cato o vento
Se o menos ou somenos aparento
Aonde houver verão ainda cismo.
E sinto se pressinto o mesmo achismo
Não quero ser o quanto para-vento
Invento uma aversão, dela o provento
No prédio assédio e tédio causam sismo.
Momento onde; mormente adentra infausto
Jamais a mais demais meu holocausto
Jornais ditam notícias, cios, ócios
Extrema unção ação dita a serpente
Ser crente ou coerente ente que mente
Divinos hinos sinos, bons negócios...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23722
Saltava sobre a lava em vão vulcão
Aonde o bonde perde o senso crítico,
Não sendo o que seja este analítico
Caminho leva ao vinho e à viração.
Concreta poesia diz o não
A morte tema homérico quis mítico
Eclético fantoche quase elíptico
Olímpico ser vil sem servidão.
Afasto do nefasto; faustos falsos,
E falo destes fartos cadafalsos
No encalço do meu verso mais perfeito.
Traduz ir-se na luz que não conduzo
Num traduzir-se tanto ou mais confuso
Cafuzo ou mameluco me deleito...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23721
No júbilo, do jugo me esqueci
E julgo que pensei ter asa própria.
Por mais que a vida mostre ser imprópria
A senda que desvenda o que há em ti.
Metrópoles diversas poles certas
Do pólen, colibris, abelhas, levam
E quando as asas livres se relevam
As bocas beijam méis e me desertas.
Partindo do concreto, concretizo
O tremular que emulas entre as velas,
E sendo o que talvez inda revelas
Ao fundo a tempestade diz granizo.
Sementes da semântica; disperso
Enquanto canto tanto em cada verso...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23720
Vontade de meu medo estrangular
Destroçar e deixar em mil pedaços
Acendo o meu cigarro e fumo maços,
Rasgando a minha própria jugular.
Imagem que; prismática e angular
Transforma poesias em abraços,
Os dias se passando sempre lassos,
O medo continua singular.
Agarro os meus desgarros e detenho
O tenho nada diz se não pudera
Aonde não contenho mais a fera
Assanho os seus cabelos, fecho o cenho
Detento deste amor que tento tanto,
Invento um vendaval; me desencanto...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23719
Amortalhando o dia que vivemos
Esqueço-me do quanto não se tem
E penso que a saudade diz alguém
Que agora, com certeza já não temos.
Não quero santos falsos, veros demos
Não valem na verdade algum vintém
E tudo o que meu verso diz desdém
Temática disforme quebra os remos.
Exímios nadadores? Nada disso,
O peso do passado rouba o viço
E o compromisso é feito com a morte.
Assentando a poeira, sou atroz,
Meu verso do meu mundo sendo o algoz,
Não há quem me acalente ou me suporte...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23718
Desmoronando assim vasta montanha
Entre as neblinas fartas, meu mergulho
De cada sensação, só pedregulho
Cascalho que minha alma agora ganha.
Não posso descrever inútil sanha
Se fútil inda faço meu orgulho
Ao longe do teu mar quero o marulho
Sereia tão dispersa já se assanha.
Nas ondas entre pranchas, tubarões,
Barões entre viscondes e condessas,
Entrego de bandeja tais cabeças,
Na cova aonde havia tais leões
Fazendo do meu verso liberdade,
Palavra até sem nexo me invade...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23717
Amor que em fases fazes diferenças
Trazendo em seu lazer dor e promessa
Enquanto a cada tempo recomeça
Provoca tantas vezes desavenças.
Por mais que destes fatos te convenças
O beijo se disfarça e já tropeça
Na boca amordaçada esta compressa
Diversa do que versam tolas crenças.
Não posso discernir meu ir do teu,
Perpetuando o amor que se perdeu
Eu teimo em transformar água no vinho
Aonde inebriado, me torturo,
Porém do quanto fora tão impuro
Saudade cruelmente eu adivinho...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23716
Verdade que deveras turbilhona
O rumo onde embaraça uma emoção,
Degrada desde sempre em podridão
Abaixa dos meus circos, velha lona.
E o pétreo coração não se abandona
E deixa borbulhante sensação
Aonde se fizera alguma ação
A doação sem fé já não me abona.
Se eu quero ou se desfaço, finjo farsas,
Enquanto vez em quando tu disfarças
E mostras gargalhares imbecis.
Não pude condenar quem tantas vezes
Pastor ao desviar as tolas reses
Mostrara seus propósitos mais vis...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23715
Nos tantos que são poucos eu pretendo
Acerca dos engodos ter certezas,
Se expões as tais emendas sobre as mesas,
Não quero ser retalho, nem adendo.
Escondo-me debaixo do que vendo
Não poderia crer tantas belezas,
As bocas demonstrando firmes presas,
A cicatriz somente um dividendo.
Atento aos teus domínios nada faço
E quero só poder em pouco espaço
Abrir as minhas asas e voar.
Poeta tem um quê de fantasia
Que medra quando vê o que se urdia
Nas tramas dos desmandos de um amar...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23714
As bases do que outrora quis verdade
São frágeis e desabam, pois no fundo
Nas sendas destes vagos, me aprofundo
E tudo se transforma, em realidade.
O que pensara ser variedade
Traduz um sentimento vagabundo
E; quantas vezes teimo em novo mundo
Propondo o que talvez nem tanto agrade.
Orgásticas loucuras vão e vêm
Depois de certo tempo mais ninguém
Lembrando-se das festas tão profanas.
E sabes muito bem que quando eu digo
Do amor eu só pretendo ter abrigo,
Se pensas só em risos, tu te enganas...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23713
Enquanto ainda peço e me estremeço
Enveredando rotas mais diversas,
Não quero mais dos sonhos o endereço,
Nem mesmo conhecer sobre o que versas.
Apenas os desvios, reconheço,
E na verdade aceito estas conversas
Que sei ser muito além do que conheço,
Mas sinto a cada dia, mais dispersas.
Perpetuar a dúvida é talvez
O que melhor na vida já se fez,
A verdade absoluta, uma ignorância.
Não quero ser estúpido e por isso
Da mesma forma em que meu sonho, atiço
Retorno novamente à minha infância...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23712
Não veja como fato o que descrevo
E mesmo se pudesse não faria
Se o medo se desmancha noutra orgia
Ainda caminhar sozinho, devo.
E quando nos meus dedos levo o trevo
A sorte na verdade mudaria,
Acervo da ilusão; já não me atrevo
A crer ser mais possível novo dia.
Ardendo nesta febre de consumo,
Eu bebo a poesia e nela esfumo
As pontas de cigarros sobre o chão.
E invento novo vento em tempestade
Por mais que amar demais te desagrade,
Não posso e nem suporto mais perdão...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23711
Vagando pelos vastos do Universo
Versões de tempos outros? Inda creio
Não posso me furtar e banqueteio
Usando para tal somente o verso.
E quando noutro tanto sigo imerso,
Não peço e nem tampouco algum receio
Usando a fantasia em que permeio
O templo sobre o qual ainda verso
Mundanas expressões, fundo funesto,
E enquanto aos meus descasos eu me empresto
Adestro o coração, gauche caminho,
Esquadros entre tês, prédio medonho,
Se o todo neste pouco eu te proponho,
Deveras o que resta, desalinho...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23710
Ao respeitável público, o espetáculo
Começa a qualquer hora, e não tem fim,
Deveras apresento um querubim
Que tem invés de mãos, cada tentáculo!
A sorte adivinhada neste oráculo
Cigana diz que o mundo está chinfrim
E o fogo se espalhando no Jardim,
Invés de proteção; tente outro sáculo.
E Baco desfilando com baquetes
Diabo com as suas diabetes
O Padre vai cantar no trio elétrico
Assim a vida passa e tudo bem,
E quando o Apocalipse diz que vem
O rufar dos tambores se faz tétrico...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23709
Solares entre escombros, velhos prédios,
A caricata imagem do futuro
Verdade que entre corpos eu apuro,
Não sei se existirão inda remédios.
Demônios entre tantos, vis assédios
E a podridão erguendo a cada muro
Um templo mais amargo, em solo duro
Ocasos formam túneis tantos. Vede-os.
Não poderás dizer do desconforto
Ao veres nas esquinas cada morto
A culpa é também tua, quando omisso.
Quem vive a realidade sabe a algema,
Pois injustiça e fome não é tema,
É necessário SIM, ter COMPROMISSO...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23708
Viajo por mim mesmo entristecido
Vencendo os meus rancores mais profundos,
Em sentimentos torpes, vagabundos
Há muito me sentindo envilecido.
O quanto não conheço inda duvido,
E bebo dos dejetos tão imundos
Os sonhos se mostrando moribundos
Apenas o vazio é percebido.
Escrevo por tentar saber se posso
Ainda acreditar que alguém perceba
E desta realidade já se embeba
Fazendo do que é meu e teu, o nosso.
Assim numa corrente; entrelaçados,
A sorte não se lance em meros dados...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23707
Procuro nas ruínas velhas tralhas
E teimo em me fazer inda poeta
A vida que na vida se completa
Não sabe do terror de tais navalhas.
Apenas no silêncio em que trabalhas
Encontro a fantasia como meta,
Mas sei que a realidade é fria seta
Trazendo ao sonhador, restos, migalhas.
E o pântano aonde se fez pura
A imagem devastada da cultura
Apodrecendo em gozos segue hedônica.
Mecânicas sombrias ditam normas
E quando mal percebe; tu deformas
Fazendo do vazio, eterna tônica...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23706
Aonde se fizeram risos, ritos,
Histriônico mundo se moldara
O corte profanado vira escara.
Os medos se transformam; infinitos.
E quando se mostrassem torpes gritos
Aonde a poesia se declara,
Não vejo a solução; pois desampara
A sorte dos ingênuos, tolos mitos.
Assisto aos terremotos e desta era
Apenas não concebo a primavera
Que espera interminável, vagamente.
Enquanto em parricídio segue a vida
Imagem do Senhor sendo vendida,
Igreja se transforma; incoerente...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23705
O sonho de esperança desmorona
E trama a solidão, cruel resgate
Após a nossa vida, duro embate
A solidão e a morte, nossa dona.
Enquanto se profana e se abandona
Por mais que uma ilusão já se arremate
O mundo sanguinário ou escarlate
Fingindo nada ver, dorme e ressona.
Assim não poderia ter sequer
O gozo de um prazer que já se quer
E o tempo não seria tão ruim.
Neblinas e fumaças, turvos dias,
Enquanto a fantasia tu parias
A seca toma todo este jardim...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23704
Apenas tão somente o sortilégio
Seguindo cada passo que tu dás,
A fera que, medonha é mais voraz
Mantendo seu poder, etéreo e régio.
O fraco sem ter alguém que inda protege-o
Vagando pelas ruas, pede paz,
O quanto de amargura a vida traz
Sombrias as ruínas, mundo egrégio.
Acreditar na força da esperança
É ter nas mãos ainda a luz que lança
E mesmo entre fantasmas reproduz
A imagem do que outrora se fez belo,
Porém na podridão que ora revelo,
Não bastaria apenas uma Cruz...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23703
A sorte que busquei, despedaçada
Angústias devorando o ser humano
Enquanto se mostrando mais profano
Ao mesmo tempo entoa o mesmo nada.
Da outrora presa fácil na caçada
Agora um ser terrível, soberano,
Invés da fantasia traz no dano
A marca da pantera disfarçada.
Serpente que devora outra serpente
E quando se desnuda traz peçonhas
Se com paz no futuro ainda sonhas,
O medo do viver que ora se sente
Traduz a realidade em cores mortas,
Por isso em vãos prazeres, tu te aportas...
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23702
Por mais que se mostrasse em ordinários
Caminhos, a verdade não se nega
E a humanidade segue sendo cega
Procelas, terremotos: mostruários.
Os versos se entregando aos relicários
Revivem ilusões, o hoje sonega
E quanto mais ao velho já se apega
Futuros são ocasos visionários.
Nefasta criatura à qual se deu
Poder de transformar a luz em breu,
E nisto se produz destruição.
Pensando-se divina, tal canalha
Desfaz este planeta abutre gralha,
Pergunto: quem fará a recriação?
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
23701
Por sermos, na verdade sempre assim,
O ser humano em ritos temerários
Destrói a cada dia o seu jardim
E busca para tal seus honorários.
Também a podridão chegando a mim
Destila seus terrores que sei vários
Do mundo simplesmente vejo o fim
Neste holocausto, estúpido fadário.
A morte que em mais mortes já se alastra
Futuro a cada dia mais se castra
E o novo não verá provavelmente
O que ainda resta de esperança
Amortalhada espécie ao vão se lança
Embora tal verdade se apresente
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Janeiro 28, 2010
REFLEXOS DO PASSADO EM LUZ SOMBRIA
Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23816
Pudesse inda conter nos olhos este brilho
Que tantas vezes foi um marco em minha vida,
A sorte se desnuda e vendo assim perdida
Caminho mais diverso, ainda teimo e trilho
Enquanto sob a luz senda bela palmilho
Bebendo da ilusão; encontro-a distraída
Seguindo cada passo aonde a lua ungida
Derrama argênteo fogo aonde louco encilho
Corcel de uma esperança atroz e vingativa,
Aonde já se lança uma alma quase viva
Vivenciando a dor de ter em olhos fixos
A imensa fantasia, agora abandonada
Numa avidez tamanha apenas vejo o nada
Qual fora feito em cruz, terríveis crucifixos...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23815
Pudesse então vibrar em meio aos vários ritos
Descrentes ilusões, ardentes caminhares,
Vivendo deste encanto aonde tu buscares
Os dias que; decerto, espero os mais bonitos
Adentrando este espaço, encontro os infinitos
Por onde desejei erguer nossos altares
Estranho sortilégio: envolvo-me em luares
Distantes do que um dia embalde foram mitos.
Poeta; retornai que a lua em vã neblina
Há muito que esquecida, agora não fascina
Tampouco a serenata ainda se faz bela
Na lua do sertão, mergulho no passado
E vejo desde então, qual templo destroçado
Imensa maravilha, envolta em rota tela...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23814
Sentindo esta vontade audaz, fremente
De ter em minhas mãos, a dor da liberdade
Enquanto a fantasia entregue à realidade
A cada novo dia, a história se desmente
E falta ao sonhador, ainda o remetente
Por mais que em calmaria ainda teima e nade
A sorte em dissabor, por mais que desagrade
Permite que inda crie um dia pertinente.
Alvissareiro sonho embalde não resiste
E a vida se fazendo ainda amarga e triste
Não deixa sequer sombra aonde se descanse
Tenaz, velho guerreiro acostumado à dor
Um guerrilheiro entende a voz de um sonhador
Ainda que pareça ausente deste alcance...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23813
Envolto pela luz buscando noutras formas
A solução final aonde eu poderia
Dizer do quanto vale a imensa fantasia,
Porém logo ao me ouvir, o que eu disse, deformas.
E fazes do meu canto ameno tuas normas
Causando ao coração; imensa e vã sangria
Ainda posso ouvir distante melodia
Falando em voz macia, o quanto que em reformas
Seria necessário ao homem se quisesse
Além de simplesmente uma oração ou prece
Um claro amanhecer em brilhos mais constantes
Mudando deste vento, a marcha e a direção,
Trazendo enfim alento e paz, transformação
Ao lapidar assim; perfeitos diamantes...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23812
Clarão imaginário em tempos invernais
Provoca este alvoroço invade todos nós,
O mundo agora hiberna e mostra-se feroz
Enquanto este castelo; agora derrubais
Vós sois o que se faz na ausência de algum cais
O lobo se mostrando em fúria mais atroz
Devora o próprio lobo e tudo segue após
No verso mais sincero; a fera; demonstrais.
Sendo-vos mais tranqüilo o dia feito em guerra
O tempo sem ter tempo, a morte cedo encerra
E trama desumano o dia que virá,
Espécie decomposta exposta à tal peçonha
Ainda se omitindo, um novo dia sonha
Apocalipse então é feito desde já...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23811
Percebo na alvorada a luz destes clarões
Aonde imaginara a névoa persistente,
A vida se mostrando ainda renitente
Embora se perdendo em várias direções.
Entoas com soberba as mais belas canções
E enquanto cantas livre, a dor já se pressente
Envolta num abraço a luz que me apascente
Demonstra após a chuva, imensos turbilhões
Que a doce calmaria, uma ilusão apenas.
E quando novo mundo; em lástimas encenas
Desejas o poder e dele usufruindo
O esgoto se reabre em fendas magistrais
Deixando-se antever medonhos animais,
Porém o dia nasce envolto em manto lindo...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23810
Pudera simplesmente em chamas perceber
Vulcânica promessa expressa em plenitude
Por mais que num momento a história seja rude
O mundo que procuro ainda penso em ter
Vencendo a cada dia o enorme desprazer
Espero com certeza o bem que ainda ajude
A ter nas mãos o sonho e com firmeza mude
Aquilo que não quero e não posso mover.
Sincero verso canta amanhecer dourado,
Deixando todo o medo envolto no passado,
Entoando a canção em que se fez mais terno,
O velho coração, abrindo-se ao futuro,
Encontra na alegria, o todo que procuro,
E nisto se percebe, embora morto; eterno.
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23809
Pudesse navegar e ter nas mãos o leme
Naufrágio mais distante; audaz o timoneiro
Que trama em sorte imensa, um sonho em que me inteiro
E nada, nem procela, o navegante teme.
Sem medo nem temor, por mais que já se extreme
Caminho descoberto em céu mais altaneiro
Do solo da esperança apenas passageiro,
Enquanto em poesia a Terra toda treme
Imenso terremoto, amor se revelando,
Aonde imaginara um dia bem mais brando
Tempestuosamente a mente seduzida
Envolta pelo afeto, abraça esta alegria
E enquanto se faz luz, o novo mundo cria
Refaz a cada verso a mansa e bela vida...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23808
Intraduzíveis sons espalham-se na Terra
Aonde houvera paz a fome em campo farto,
Aborta-se a esperança; indefectível parto
E imensa solidão no olha já se descerra.
Quem dera se pudesse arar a mansa terra,
Porém esta ilusão, aos poucos eu descarto,
E sinto-me sozinho, imenso e vago quarto
Olhando para a luz por sobre a nobre serra
Percebo quão perfeito, o Deus que nos criou
Humanidade tosca em triste rebeldia
Enquanto Deus criava, o humano destruía
E agora que percebo o pouco que sobrou
No olhar desta rapina, a gula se espalhando,
Um fogaréu imenso, abutres vêm em bando...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23807
Procuro neste céu azulejadas cores
Que possam me trazer a luz que tanto espero,
O amor além de tudo, o bem suave e fero
Moldando em alegria o medo em mil horrores,
Seguindo cada passo aonde ainda fores
Nas sendas deste encanto o sonho em paz tempero,
Vivendo da esperança um dia em que venero
Jardim onde plantei e cultivei tais flores.
Percebo que este eterno e nobre sentimento,
No qual eu muita vez ainda me atormento
Vivendo a magnitude expressa em cada verso
Alçando num segundo infinito delírio
Deixando no passado o que fora martírio,
Contendo em minhas mãos, deveras, o universo...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23806
Pudesse eternizar do amor cada momento
Quem sabe enfim teria a paz que se procura
E enquanto se espalhasse entre nós a loucura
A vida então seria além do sentimento
Ao qual em fantasia imerso, eu alimento
Trazendo ao sonhador um mundo em tal alvura
Que mesmo o grande mal, em tanto amor se cura
Tramando a cada dia, um claro e manso alento.
Não pude discernir, outrora sem saber
Do quanto se podia, em ti viver prazer
Deveras fora um tolo, apenas, nada além,
E quando ao acordar sublime maravilha
Que em meio à farta luz, mais forte ainda brilha
Alertando afinal, que o imenso amor já vem...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23805
No mármore em que é feita a deusa dos meus sonhos
Eternidade traz além de tal beleza
A sorte que pensara, emana esta grandeza
Aonde outrora houvera os dias mais medonhos,
Agora em primavera os sóis deixam risonhos
Caminhos em que a luz qual fora em correnteza
Desfila-se divina e envolta na leveza
Deixando no passado, os medos mais bisonhos...
Ascendo ao infinito, embarco em cada estrela
Alçando a maravilha ao menos por revê-la
Exposta no meu quarto, amante mais febril,
Enlanguescidamente encontro-te desnuda
Minha alma então se cala, e enquanto se faz muda
Formosura em nudez, igual jamais se viu...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23804
Eternos bronzes, prata à bela luz da lua
Estende-se divina a mais sublime diva
E quando vejo a luz desta figura altiva
Deitada sobre a cama, etereamente nua
Minha alma se perdendo aos poucos te cultua
E mesmo que distante, ainda sobreviva
O sonho mais audaz, que de prazeres criva
Quem sabe distinguir o belo e enfim flutua.
Na brônzea e rara tez entrego-me deveras
Além do que talvez bem sei que não esperas
Moldando em sintonia, amor claro e perfeito
Aviva-se a emoção, e bebo deste encanto,
Deveras deveria alçar em brado e em canto
A glória em perfeição enquanto eu me deleito...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23803
Aonde o meu desejo se acendera
Avança em noite imensa, a lua cheia,
E quando em fantasias se permeia
Quem tanto se perdeu, sobrevivera;
Ascendo ao coração, velas e cera
Liberdade se faz e já clareia
A vida que deveras se incendeia
No barco em que minha alma se escondera,
Espreito as velhas dores e não vendo
O tempo se mostrando sem adendo
Vivendo a maravilha de poder
Sentir em plenitude esta emoção,
Vigor e poesia, a direção
Num oceano em paz, a me perder...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23802
Há quanto a liberdade acende o facho
Trazendo na ardentia o caminhar,
Apõe-se sobre os raios do luar,
Enquanto os meus desejos; em ti acho.
Realço as maravilhas que me trazes
Nos versos em que traço o teu porvir,
Vivendo todo o amor vou repetir
Qual lua se entregando às suas fases.
Medonhas artimanhas da ilusão,
Mesquinharias tantas que jamais
Pudessem ser assim, cruéis, banais
Os ventos num naufrágio, embarcação.
Ainda destes sonhos, timoneiro,
No amor ao qual me dou e vou inteiro...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23801
Curvando sob o peso da ilusão
Que muitas vezes dita esta chibata,
Enquanto a fantasia me arrebata
A vida me mantendo sobre o chão,
Abismos que criara, em solidão,
O sonho mais feliz, já me maltrata
E quando a poesia me arremata
Esqueço qualquer rumo e direção,
Alçando eternidade num segundo,
Se em meio a tantos vagos me aprofundo
Nas vagas deste mar eu me perdi.
E preso aos teus desejos e vontades,
Aprendo a descobrir quando me invades
Trazendo o que melhor existe em ti...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23800
Ouvindo a voz do vento nos umbrais
Clamando como fosse alguém em dor,
Num rito muitas vezes qual louvor
A sorte se mostrando: nunca mais...
Pudesse mergulhar pelos astrais
Tivesse esta altivez; feito condor
Abrisse esta janela ao bem do amor,
Quem sabe neste instante dos venais
E parcos descaminhos, lenitivo
Mantendo ainda o sonho, sobrevivo
E teimo contras as forças da Natura.
Aonde poderia crer possível
O encanto que deveras sendo crível
Eterna e docemente se procura...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23799
Sonhar com a devida liberdade
Que tantas vezes traz a luz na qual
A vida se tornou menos venal,
Enquanto a poesia, o peito invade.
E toda a fantasia que te agrade
Formando este sublime festival
No mar de imensas ondas, frágil nau
Encontra enfim o cais, tranqüilidade.
Assim as nossas vidas negam celas
E libertário sonho nos alcança
Mantendo neste olhar a temperança
Que mansamente cedo me revelas
Abrindo então as velas venço o mar,
Sabendo desde sempre o bom sonhar...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23798
Aborto feito em turva sabotagem,
Deveras esta ofídica canalha
Enquanto muitas vezes me atrapalha
Deforma desde sempre esta paisagem.
Pudesse crer: somente uma miragem
Que o vendaval tomando logo espalha,
Qual fora um fogo simples sobre a palha,
Por mais que os dissabores sempre ultrajem.
Não posso me furtar à tal serpente
E o mundo que buscara mais ardente
Tornando-se vazio em fogo brando.
A sorte se desfaz a cada instante
E o mundo se transforma e o viajante
Fugindo da peçonha e te negando...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23797
Não quero ter nas mãos troféus e glória
Beijando esta bandeira que me deste,
Aonde se fizera mais agreste
A vida não repete a velha história,
A lua se desfila merencória
Jardim se tornando árido reveste
De abrolhos a beleza enfim. Decore-a
Com todos os desejos e delírios
Esqueça os dissabores e martírios
Produza com devida paciência
A luta se renhida, fortalece,
O amor não se curvou nem obedece
E a dor já não resiste à sorte. Vence-a...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23796
Das eras que passamos, turbulências
Aonde imaginara ter remanso,
Os dias entre fogos; esperanço,
Mas sei serem ingênuas inocências.
Permite-se sonhar conveniências
Enquanto a sorte ao longe; não alcanço
E deixo-me levar suave e manso
Enquanto tu desfilas tais demências.
Apenas coincidências; dita a vida
Que embora muitas vezes já perdida
Permite ao sonhador, alguma luz.
Enquanto a solidão bate na porta,
E a poesia outrora viva, é morta
Desejos se mostrando inteiros, nus...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23795
As folhas de papel rotas na mesa
Demonstram o que sentes; doce amada,
Do todo que te quis não sobra nada
Levado pela imensa correnteza,
E tendo na verdade em vã beleza
A sorte muitas vezes desejada
Descansa-se o luar sobre a calçada
Derramas sob a luz tanta leveza,
Disfarces de uma fera em franca guerra,
No olhar torpe e medonho se descerra
A dura realidade; pois tu és
Aquela a quem me dei sem perceber
Atando com devasso e vão prazer
Correntes e grilhões junto aos meus pés...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23794
Brilhantes e diversas cores; trazes
Nos sonhos entre ritos, fantasias,
Enquanto maravilhas inda crias
A vida se transforma em tantas fases.
Além do que deseja e mesmo fazes
Das sórdidas lembranças, agonias
Encontras ao final, alegorias
E mostra neste encanto o quão capazes
Aqueles que permitem brilho intenso
E quando mais atento, reconheço
Após o medo enorme, este endereço
Aonde encontrarei tudo o que penso,
Nas mãos da redentora poesia,
O mundo que minha alma fantasia...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23793
O mundo que em verdade nos esmaga
E traz em suas mãos a faca e o corte,
Aonde se pudesse ver a sorte
Apenas vejo o brilho desta adaga.
A boca vocifera em louca praga
Preparo a caminhada para a morte,
Sem ter jamais o sonho que conforte
Distante dos meus olhos, bela plaga.
Afagos de uma mórbida loucura
Durante a vida inteira, isto perdura
E traz como castigo a dor venal.
Assim ao descobrir algum farol,
Procuro pela paz qual girassol
Naufrágios esperando a pobre nau...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23792
Enquanto em rubro sangue borrifada
A vida que profanas, guerra e saque,
Aguardo este momento; em duro baque
E temo que afinal não reste nada.
Por mais que a fantasia ainda estaque
Nos olhos de quem ama a vã estrada
Uma alma pelo sonho abandonada
Usando um corroído e podre fraque
Permite-se que veja atrás do muro
Um tempo aonde em vagos eu procuro
Ao menos um momento feito em paz,
Mas sei que após a chuva, nada vem,
E quando perceber, talvez alguém
Em cujos olhos brilho ainda traz.
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23791
A chama mesmo sacra ainda teima
E devasta toda a sorte de esperança
Aonde a solidão cruel avança
O tempo na verdade já se queima,
Em meio aos constelares diademas
As nebulosas tomam o cenário,
O amor que sempre fora necessário
Agora se prendendo em vãs algemas.
Por mais que nada temas, inda crês
Nos dias mais atrozes e venais,
E enquanto procuravas por um cais
A vida se perdendo num talvez
A nossa embarcação, naufrágio à vista,
Sem ter sequer um bote que inda a assista...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23790
Não quero ser o mártir que sonhaste
Tampouco irei fugir à realidade,
No quanto a própria vida nos degrade
A morte se aproxima em tal desgaste,
E quando percebeste tal contraste
Verás então que a solidariedade
Caminho mais tranqüilo, na verdade
Impede que o viver se torne um traste.
Sondando estes oráculos confusos,
E os búzios entre cartas e ciganas,
Por vezes quando pensas; já te enganas
Os dias que virão bem mais obtusos
Trarão à tona todo este dilema
Também a solução, pois nada tema...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23789
Jamais reconhecendo a própria morte
Buscando qual hedônico, o prazer,
Deixando muitas vezes de viver
Ao léu se entrega a vida, leda sorte.
Sem ter sequer a força que comporte
Imensidão do mundo, eu posso crer
No quão insuperável é o ser
Por mais que já sonegue a luz e o aporte.
Do trágico futuro, nada falo,
Os olhos embotados de um vassalo,
Uma avassaladora e vil verdade.
Enquanto a humanidade se distrai,
O pano sobre a cena, aos poucos cai,
Demônio em súcia atroz, a Terra invade...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23788
Quem sabe se esmagando esta serpente
Eu poderei; talvez, saber da luz,
Pesando em minhas costas, farta cruz
Aonde se mostrara então ausente
O brilho que nos olhos já se sente
De quem em luminárias reproduz
O encanto deste canto em versos crus
Na audácia mais feliz e transparente.
Aonde houvesse um modo de tentar
Poder em plena tarde ver luar
E deslumbrar a prata que derrama
Tomando toda a cena, mansidão
Enquanto o fogaréu desta paixão,
Aumenta – insensatez- a enorme chama…
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23788
Quem sabe se esmagando esta serpente
Eu poderei; talvez, saber da luz,
Pesando em minhas costas, farta cruz
Aonde se mostrara então ausente
O brilho que nos olhos já se sente
De quem em luminárias reproduz
O encanto deste canto em versos crus
Na audácia mais feliz e transparente.
Aonde houvesse um modo de tentar
Poder em plena tarde ver luar
E deslumbrar a prata que derrama
Tomando toda a cena, mansidão
Enquanto o fogaréu desta paixão,
Aumenta – insensatez- a enorme chama…
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23787
A sorte pela qual eu tanto zelo,
Não deixa que se creia no vazio,
Enquanto a tempestade eu desafio,
O amor em luzes claras, frágil, belo
Em tramas mais suaves eu revelo,
Enovelados dias eu desfio
Moldando com denodo o bem que crio,
Destino em teu destino já não selo.
E sigo em libertária caminhada,
Uma alma sem temor; quando ilibada
Não deixa qualquer dúvida e se entrega;
Por mais tempestuoso o que virá,
Gerando a calmaria desde já,
A sorte não será, deveras, cega...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23786
A liberdade acende a imensa luz
Que enquanto for a guia nos permite
Viver sem ter sequer algum palpite
Enquanto o próprio lume nos conduz.
A sorte que na sorte reproduz
Não sabe na verdade de um limite,
E enquanto houver a força que palpite
A história sem demora, em paz reluz.
Mas quando nos grilhões, nosso futuro,
Ao largo da alegria, não depuro
E teima-se em venal satisfação
Vergastas entre açoites e correntes,
Por mais que o amanhecer; inda pressentes
Neblinas em terror é que virão...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23785
Pudesse ter ainda em fátuo brilho
Real soberania sobre os atos
Talvez já não trouxesses nestes fatos
Além do que somente um empecilho.
E quando noutras sendas, teimo e trilho,
Pudesse desvendar claros regatos,
Tomando o meu destino, desacatos,
Os quais; corcéis soberbos; não encilho.
Ainda poderia crer nas lendas,
Mas quando os desenganos tu desvendas,
Não posso conceber sequer que cedas
E volto-me ao clamor de um peito audaz
Demonstra-se na fúria até capaz
De incendiar sem dó tuas veredas...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23784
A turba se envolvendo em néscios dias
Ilusões mesquinhas nos tomando
A corja se prepara, ataca em bando
A morte insofismável que previas
Macabras emoções, alegorias
O mundo a cada instante destroçando
O quanto tu pensaras bem mais brando
Peçonha das rapinas que tu crias.
Assíduos frenesis, espasmo tanto,
Deveras não prossigo mais meu canto
Agora em alto brado a voz se emana,
Perpetuando o medo em que baseias
O sangue que mal corre em tuas veias
Imagem de uma deusa vã, profana...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23783
O fel que dos teus lábios conheci
Num amargor imenso, fria fera,
Aonde imaginara a paz, quimera,
O sonho se perdendo todo em ti.
E quando mergulhara descobri
Abismo que em abismos dores gera
Nem mesmo a mansidão da longa espera
Acalma esta sandice em que vivi
Postergo a solução dos meus problemas,
Sabendo da verdade que inda temas
Medonhos precipícios aos teus pés.
O barco naufragado já diz tudo,
Nas ânsias deste encanto não me iludo,
Arranco estas correntes, vis galés...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23782
Brindemos, pois à gloria de saber
Que mesmo na amargura conseguimos
Vencer os mais complexos, frios limos
Vivendo esta ventura do prazer.
E tomando deveras todo o ser,
O amor no qual decerto prosseguimos,
Um tempo mais amável descobrimos
E nele nós iremos reviver
A eternidade, sendo uma promessa
No amor sem ter limites recomeça
Trazendo a quem sofreu; a redenção
E serenando assim, a luz revela
A calmaria após qualquer procela,
Negando desde sempre a negação.
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23781
Deste mundo venal nós zombaremos
Enquanto houver a força que me impele
Sentindo no frescor de tua pele
O sonho que deveras escrevemos.
Não posso me furtar ao mar risonho
E nesta fantasia mergulhando
Procuro um tempo aonde seja brando
O imenso sentimento que proponho.
Vencer os mais diversos dissabores
E mesmo quando em dores, ter nas mãos
A fecundar a histórias, mansos grãos
Seguindo cada passo aonde fores,
E florescendo a paz neste canteiro,
O amor que tanto eu quis é verdadeiro...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23780
Enlouquecido teimo em fantasias
Apontam-me deveras o vazio,
Que em cada verso em vão, eu já desfio
Diverso do universo que querias,
Mendigo algum carinho em noites frias
E o medo se tornando um desafio,
Aonde imaginara o mar que crio,
Areias movediças, agonias.
Espreito num instante a fera sorte
E sei que no final somente a morte
Será de minha história, a redenção.
Enquanto houver a força que me ilude
As águas derramadas deste açude,
Jamais trariam paz e inundação...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23779
Não posso destruir o sentimento
Que ainda me habitando traz a dor,
Aonde se pensara salvador
Apenas no final, medo e tormento,
Se dele, na verdade me alimento,
E tenho outro momento ao teu dispor
Podendo novamente recompor
O que jamais deixou meu pensamento.
Vibrantes emoções? Já não espero
O olhar que se reflete agora fero
Não tendo as alegrias que sonhara.
Mas creio ser possível novo dia
Aonde a sorte em vida se recria
Deixando em noite escura, a lua clara...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23778
Não fosse o grande amor que eu alimento
Embora não consiga ter a sorte
De quem ao se perder não acha o Norte,
E encontra invés de paz, tanto tormento,
Pudesse reviver no pensamento
O amor que com certeza me conforte,
Porém sem ter a luz que inda comporte
Apenas tão somente, em vão, lamento.
Agora, se prossigo é pela fé
Já não suportaria mais galé
Meus pés acorrentados? Nunca mais.
Prefiro ao maltrapilho desamor,
Voar com liberdade do condor
Já bastam de procelas, temporais...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23777
O meu soneto é feito em dor e pranto,
Na vida, apenas fui um passageiro,
O encanto que trouxeste; derradeiro
Agora tão somente um desencanto,
Mas teimo e na ilusão ainda canto
E sinto o vento audaz e lisonjeiro,
Mordaças; já não trago e verdadeiro
Usando da esperança o verde manto
Escrevo em cada verso, uma palavra
Que possa transformar árida lavra
E trazer por colheita, uma alegria.
Assim a poesia sempre traz
Ao velho guerrilheiro, imensa paz
No mundo em que; feliz, já fantasia...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23776
Erguendo as minhas mãos, em prece eu peço
A sorte que deveras desconheço,
Se a cada novo passo, outro tropeço
Palavras com cuidado, sempre meço
E teimo em ter nas mãos a fantasia
Que tanto me maltrata e me diz bem,
E quando a noite chega e não contém
Sequer o que; talvez, se merecia
Não deixo me abalar, prossigo em frente
E mesmo na completa solidão
Envolvo em esperança o coração
Por mais que o medo e o vago ele freqüente.
Assim, da vida sou coadjuvante,
Da glória e do prazer, vivo distante...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23775
Bailando sobre os sonhos, luzes várias
Encontram a perfeita sincronia
E enquanto o coração dita alegria,
As dores vão embora, procelárias.
À sombra do passado o Amor se cria
E traz nos seus olhares luminárias
Das fontes que julguei celibatárias;
O gozo mais audaz se propicia.
E quando mergulhado em águas mansas
Num êxtase supremo, cedo alcanças
A etérea sensação de ser completa.
Assim a nossa vida em fogo intenso,
Nas labaredas fartas, recompenso
A dor de ser apenas um poeta...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23774
Pudera imaginar fúlgidos raios
Desfiles de belezas entre tantas,
E quando, maviosa tu me encantas
A lua simulando vãos desmaios,
Meus sonhos de teus sonhos são lacaios,
Moldando a fantasia quando cantas
Divina e fabulosa és entre as santas
Os medos que dominam; esmagai-os
Servindo ao nosso amor, não poderia
Vivenciar tamanha maravilha
Que tantas vezes busco enquanto trilha
Os mais sublimes prados, a alegria,
Esplêndida e sublime me fascinas
Trazendo ao peito ateu, luzes divinas...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23773
Bailando os meus sentidos nesta busca
Aonde a sorte molda um dia claro,
Amor que tantas vezes eu declaro
Nem mesmo a solidão ainda ofusca
E quando a realidade se faz brusca,
Encontro em teu olhar um manso amparo,
O sonho desfiando um dia raro
Aonde a poesia não rebusca
E traz em versos simples, rimas pobres,
Momentos que se fazem bem mais nobres
Descobres os desejos mais sutis.
E quando em tal mergulho salvador
Penetro a fonte calma em que este amor
Desvendo estes mistérios. Sou feliz...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23772
Na fleuma deste encanto que derramas
Enquanto; estrelas mostras neste olhar
Aonde poderia te encontrar
Vivendo intenso amor em tuas tramas,
Deixando no passado medos, dramas,
Apenas neste lago mergulhar
Nas águas cristalinas decifrar
Desejos e vontades que reclamas,
Expresso nestes versos tal desejo
E sei que no final serei feliz,
Se a sorte que deveras eu prevejo
Tramando com ternura o meu futuro,
Nem mesmo a fantasia contradiz
O bem que nos teus olhos, eu procuro...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23771
Enigmas que me trazes neste olhar
Que embalde, tantas vezes perguntei,
Aonde se escondera, em rara grei
Por onde poderia procurar
Quem sabe e tanto encanta ao se entregar
Mudando desde então; em ti vaguei
Num mar de azul sereno mergulhei
Jamais eu pensaria em naufragar
Seguindo a calmaria deste alento
Bebendo a mansidão em que apascento
Borrascas que deveras fora atroz
Agora que me trazes mansidão
Contando sempre as horas que virão,
Escuto como um canto a tua voz...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23770
Olhar que quando estás já se serena
Mudando num momento o brilho opaco,
Aonde se mostrara sempre fraco,
O Amor revigorando trama a cena
E a sorte transmitindo em tarde amena
O cais em que deveras chego e atraco
Após a tempestade e em paz estaco
Uma haste que permita a luz mais plena.
Havendo desde então no ancoradouro
O sol de intenso brilho onde me douro
Aspectos mais suaves e felizes,
Já não comporto a dor de ser tão sozinho,
E quando da esperança eu me avizinho
Esqueço do passado, os vãos deslizes...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23769
Não são tão simplesmente dolorosos
Os dias em que bebo a solidão,
A sorte noutro rumo e direção,
Os ventos sempre são mais caprichosos.
Aonde se pudera em pedregosos
Caminhos, perseguir a solução,
Envolto pelas tramas da ilusão
Pensara em vãos momentos, mas formosos.
Agora que não tenho outra saída,
Percebo quão valeu a nossa vida,
Do nada ao nada eterna e friamente
Vasculho nos armários da lembrança
E o tempo sem perguntas sempre avança
E o Amor em solidão, a dor consente...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23768
Poemas que jamais alguém lerá,
Sonetos se perdendo com o vento
Aonde imaginara um só momento
Esqueço o que vivemos, desde já
O tempo com certeza mostrará
Que todo sonho morre e me atormento
Vivendo sem carinho, afeto e alento
O templo que contemplo ruirá.
E o fim de nossa história será nada
A casa que se fez abandonada
Deixada ao deus dará, já desabou.
E vejo neste espelho em rugas feito
O amor cujo final; em paz aceito
Comendo cada resto que sobrou...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23767
Meus olhos seguem frios; vão extáticos
Aonde poderia ter o brilho
As sendas mais atrozes ora trilho
Momentos de terror, finais apáticos.
Se os sonhos de quem ama; são lunáticos
O coração se veste de andarilho
E encontra a cada passo um empecilho
Os dias não serão jamais tão práticos.
Assim ao perceber que a solidão
Apossa-se de um torpe coração,
Escondo-me deveras na saudade,
Aonde imaginara algum verão,
A neve se derrama sobre o chão,
Apenas sinto em mim a frialdade...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23766
As cores se espalhando no canteiro
Perfumes mais diversos, mil matizes,
Aonde no passado, mais felizes
Pensara num amor tão verdadeiro,
E agora quando sinto ainda o cheiro
De teus cabelos, logo me desdizes
Deixara tão somente em cicatrizes
O tempo sem o qual sou derradeiro.
Já não me martirizo, mas percebo
Nas dores e granizos que recebo
O fim de um sonho alegre e transparente.
Pudesse retornar ao dia manso,
Mas sei que é tudo em vão, desesperanço
Por mais que ainda sonhe, o fim se sente...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23765
Aonde se pensara num enredo
Diverso do que tantas vezes vi,
Sonhando com desejos vejo em ti
A marca da vontade e do degredo,
E mesmo quando insano inda concedo
Percebo: não estás; amor, aqui
E voltando ao início, te perdi
Num sonho que se fez atroz e ledo.
Nas flores e nos pântanos resumos
Do encanto que se vai; são frágeis fumos
E nada mais consegue enfim contê-los.
Relembro cada dia, um doce afeto,
E quando nos delírios me completo
Sentindo ainda aqui os teus cabelos...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23764
Aberta entre meus dedos, a esperança
Avança sobre os restos do que fomos,
E toma; num momento, sumos, gomos
E neste mar sombrio, ela se lança
Aonde se pensara em temperança
Desunião marcando o que hoje somos,
Diversos na verdade, vários tomos
Da vida sobre a qual já não se alcança
Sequer os leves rastros e pegadas,
A lua se derrama nas calçadas
Cadeiras e conversas. Nada vem
Senão esta neblina que se entorna
E a morte que apascenta inda contorna
Deixando um leve traço, raro bem...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23763
Amor trazendo em si, glória e pecado
Aonde imaginara um dia calmo,
Apenas solidão deveras salmo
E busco da esperança algum recado,
Percebo quanto em vão, lutei e sinto
Que tudo não passou de um breve engano,
Mergulho nos espaços e me dano
Bebendo esta aguardente, qual um absinto
E quando descobri que não pudera
Vencer os descaminhos, nada eu fiz
Somente cultivando a cicatriz
Das marcas destas garras, vil pantera.
Amar e ter a sorte companheira
É tudo o que na vida, mais se queira...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23762
O amor deixando escrito pelos astros
As sendas mais audazes; nada disse
O verso em que buscara a paz, tolice
Não restam do passado sequer rastros,
A vida se permite em vários lastros
O mundo em que a verdade se desdisse,
Na luz esta esperança em que se vice
Mantendo-se em firmeza, fortes mastros,
Seguindo em mar aberto, naufragando
Nas ondas e procelas desde quando
Ouvira o canto mago da sereia,
Amar e ser feliz... Ah! Quem me dera,
A sorte se desfaz, fria quimera,
Enquanto a fantasia me incendeia...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23761
Do amor tantas mentiras e loucuras
Levaram ao vazio em que percebo
Além da fantasia em que me embebo
As horas são terríveis, me torturas
Vivendo do passado, as amarguras
Que em meio a tais anseios eu recebo,
Aonde imaginara ser um Phebo
Realidade mostra tais agruras.
E enquanto não sossego o coração,
Recebo o desafeto da ilusão
E beijo as vãs estrelas que me deste.
Por vezes poderia até pensar
Que existe um belo raio de luar,
Porém a vida traz na dor, seu teste...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23760
A noite sob estrelas, bela e lírica
Traduz os sentimentos de quem ama,
E sabe que se envolve em louca trama
A sorte se fazendo quase empírica.
Não pude revelar o quanto eu quero
O teu amor que sei jamais teria,
Amar e ser feliz? É fantasia,
Perdoe se estou sendo mais sincero.
Não posso acreditar no mar que trazes
Ainda descortino do passado,
O Amor como um destino malfadado
Embora tenha mesmo tantas fases.
Mergulharia até se não soubesse
Das teias que este insano sempre tece...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23759
A noite se desnuda e assim, pagã
Delírios entre rotas sem fronteira,
Enquanto ela se dá e vem inteira
O Amor se permitindo em novo afã.
Até beber os raios da manhã
A madrugada audaz, a derradeira,
Loucuras entre corpos e a bandeira
Dos sonhos não se mostra mais tão vã.
Assim um sonho é feito em luzes fartas,
Mas quando em realidade tu te apartas,
Vazios adentrando o velho quarto.
O solitário e arcaico sonhador,
Sem nada mais se cansa de propor
E esquece-se num canto, amargo e farto...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23758
Manhã dos meus anseios, rutilante
O sol entremeado por neblinas
E enquanto o pensamento tu dominas
A vida se transborda neste instante.
Pudera prosseguir e sempre adiante
Nas líricas paisagens cristalinas,
O quanto não percebes e fascinas,
Semente que o amor deveras plante
E façam-se de luzes os meus dias;
Mas sei que na verdade me iludias
E tudo não passou de um desengano,
A solidão batendo à minha porta,
O frio penetrando, atroz, me corta
E em farsas; desespero e assim me dano...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23757
Enquanto os tantos astros desfilaste
Deixando tua herança em sonhos feita,
Meu coração; amarga sina aceita
Embora, na esperança um vão contraste.
Desfias os meus ermos, pois notaste
O quanto a fantasia se deleita
No amor que para mim, é quase seita,
Coluna que sustenta é como uma haste
Por sobre a qual ergui os meus castelos,
Aonde imaginara dias belos
E a tempestade atroz, tudo devora.
A morte se aproxima e se revela
Destino para quem minha alma apela
Despetalada flor percebe esta hora...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23756
Sementes que espalhaste pela Terra
Jamais perecerão, eternizadas
Nas ânsias muitas vezes demonstradas
No encanto que esta vida mesmo encerra.
E quando ouvir distante a voz da guerra
Entre os destroços todos, algemadas
As luzes que querias libertadas
O imenso sortilégio desenterra
Os velhos e profanos insensatos,
Assim no decorrer dos mesmos fatos
A vida é garimpada entre funéreos
Caminhos em que a sorte nada traz
Senão a sensação venal e audaz
Dos grãos das esperanças. Pois, enterre-os...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23755
Encontro soluções tão diferentes
Em vários e complexos descaminhos
A poesia doura velhos ninhos
E os dias se transformam quando mentes.
Religiões diversas, claras mentes
Confusas emoções, paixões e vinhos
Assim entre sabores vagos, são sozinhos
Os templos e os tormentos, quais vertentes
Erguidas sobre túmulos diversos
Aonde pensamentos vão imersos
Reflexos desta angústia que nos guia.
Em meio às tantas formas e cenários
Fizemos as pirâmides, templários
Pergunta sem respostas; agonia...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23754
Procuro calmamente novos trilhos
Por onde poderia crer possível
Um tempo onde feliz pudesse crível
E os dias não seriam andarilhos.
Mas quando percebendo os empecilhos
A sorte tão cruel quanto factível
O mundo em vagos rumos. Porém, vive-o
E mostre outro caminho para os filhos.
Quem sabe ao perceberem que se fez
Completa a mais total estupidez
Em nome de uma falsa liberdade,
Assim o sol virá bem mais tranqüilo,
Diverso da neblina que destino
Na fúria da procela, o nada invade...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23753
Andasse entre montanhas, rios, vales,
E tantas flores belas no caminho,
E enquanto do final eu me avizinho
Só peço que deveras nada fales,
E se puderes sonhos inda embales
Por mais que eu te pareça, então, sozinho,
Um trêmulo fantoche vão; me aninho
Nas ânsias de um desejo em que regales
Uma alma transtornada e tão pequena,
Apenas tua voz já me serena
E basta como um manso lenitivo,
Embalde envelhecido em podres formas,
Sonhando com o encanto em que tu formas
Um mundo aonde em paz, eu sobrevivo...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23752
Desfilo estes escombros onde restas
Efervescência outrora, diz o nada,
Aonde se mostrara iluminada
Nos ermos mais escuros das florestas
E quando aos desencantos tu te emprestas
Moldura já dispersa e desgraçada
A vida envilecida abandonada,
Em meio às fantasias mais funestas.
Assim o tempo passa e modifica
Uma alma que pensara nobre e rica
Desfeita nas veredas, feita em pus.
Por mais que te entretenham tais belezas
Entranharás depois as incertezas
Difícil carregar a própria cruz...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23751
Na multifacetária vida eu vejo
Os ramos de arvoredos mais diversos,
E teimo nas angústias destes versos,
Moldados com furores do desejo.
Aonde se fizera em azulejo
Os céus entre mil nuvens vão dispersos,
E os templos erigidos de universos
Distantes tramam mais do que prevejo.
Ainda se pudesse navegar
Entre as estrelas, luas e galáxias
Por mais que na verdade procure; ache-as
E enfim tu poderás verter luar
Por todos os teus poros, velho nauta,
A sorte de quem sonha, é sempre incauta...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23750
Amando além da vida, eternamente
Se houver eternidade, nela juntos
Embora para os outros, dois defuntos
Unidos pelo amor, nova semente
Gerada por si mesma, eterno moto
Moldando no amanhã o que se faz
Hoje e se transformando em rara paz
No amante caminha que em sonho adoto.
E quando em viuvez, etérea chama
Mantida com o fogo da emoção,
Mas noutros caminheiros que virão
O amor se refazendo já te chama
E aquilo que pensara ser eterno,
Transborda à própria morte, num Inferno...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23749
Após o que se fez em dor e morte
Navegaremos mares mais tranqüilos?
Aonde se encontrasse a paz. Segui-los;
Os vastos desencontros desta sorte?
Não tendo a expectativa que conforte
Aguardo mansos prados. Consegui-los
No imenso turbilhão e prossegui-los
Depois de anunciado o medo e o corte.
E célere tentar outras vertentes,
No quanto me querias e consentes
Esconde-se a verdade mais atroz.
Não temo o meu final, até o anseio,
E nele imaginando o vago, ou veio
O que será de nós, momento após?
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23748
A morte se mostrando em cores vivas
Arguta e temerária; nada poupa
É como se coubesse noutra roupa
A imagem que em demônios loucos, crivas.
Adoto os meus enganos, são deveras
Os filhos da amargura que acompanha
A vida que se fez em risco e manha
Envolta nos anseios destas feras
Que habitam o meu eu e não sossegam,
E quando se permite algum descuido,
Esgueira-se a esperança, frágil fluido
E as sortes e desejos se sonegam.
Assim na eterna dúvida, desfio
A eternidade expressa-se em vazio?
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23747
A mãe de todos nós; Natura em chamas,
Aonde se pudesse crer no sonho
O barco se perdendo, não reponho
A vida destroçada em tolas tramas.
E quando à realidade tu me chamas
O tétrico sorriso em que me exponho
Define o quão amargo, um ser medonho
Destrói a própria vida em mansos dramas.
Apátrida e vazia insensatez
Espalha-se o terror em cores mórbidas
E as criaturas vis, venais e sórdidas
Num matricídio insano como vês
Expõe-se vaga e pútrida figura
Na auto-destruição já se emoldura..
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23746
Verdade midriática em lividez
Assim vejo o futuro inexorável,
Angústia a cada tempo renovável
Num misto de loucura e lucidez.
O quanto do que outrora se desfez
Mergulho num abismo inabitável
E tento ter um mundo que, improvável
Noutro caminho belo se refez.
Excêntricos prazeres e ternura,
A morte traz na morte a própria cura
E o beijo desta terra, o derradeiro.
Semântica somente e nada mais?
Romântico delírio diz de um cais
Quiçá pudesse crer ser verdadeiro...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23745
À terra devolvido, nada temo
Sequer a solidão dos ermos solos,
Aonde eternamente terei colos,
Medonhas tempestades, louco Demo,
Quem sabe na verdade, barco e remo
Sem ter as velhas chagas, tristes dolos,
Assim o meu futuro entre tais pólos
No qual a cada dia mais me algemo.
Ou mesmo este vazio e turvo nada
Dizendo do que outrora fora a vida,
E sendo pouco a pouco já perdida,
Entre sendas diversas maltratada
A pútrida e venal realidade
No terror infernal, ou claridade...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23744
O tempo se renova e não consigo
Ainda crer que tudo se desfez no dia a dia
Aonde ainda houvera poesia
A sorte que; distante inda persigo,
Procuro algum refúgio ou mesmo abrigo
Enquanto o mundo inteiro desfazia
A minha história. Triste então, eu vi-a
Expressa num tormento; meu amigo.
Aonde eu quis um mundo mais liberto
O passo a cada tempo desacerto
E incerto bebo as mágoas, nostalgias.
E embora me perceba mais ausente,
O quanto de mim mesmo inda se sente
Revivo em belos sonhos, melodias.
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23743
Do verso se fazendo eternidade
Aonde vários bardos se impuseram,
Os dias invernosos compuseram
O que se fez em dor, leda saudade.
E quando a solidão tenaz invade
Além destas tristezas que se esperam
Poemas com cuidado mais se esmeram,
Na dor alheia o vento que te agrade.
Esboço alguma frágil reação
E crendo que outros tempos não virão
Mergulho no vazio, ensimesmado.
Pudesse ter a sorte de prever
E até quem sabe, o rumo reverter
Revendo os meus enganos do passado...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23742
Pudesse ter nas mãos a garantia
De um novo amanhecer em luz tranqüila,
Porém a solidão venal destila
A fúria pela qual perceberia
A turva caminhada. Mereci-a.
Se o homem quando feito desta argila
Retorna à própria terra. Ao descobri-la
Verás vermes famintos numa orgia.
São pertinentes fatos; pó ao pó,
Por isso ao percorrer a vida só,
Desvendo dela mesma os seus anseios.
E quando a voz silente se fizer
O rumo; preconizo onde puder
Saber destas entranhas, ledos veios...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23741
E quando dos meus olhos se apagarem
O que se fez penumbra e escuridão
Voltando a fecundar o velho chão
Enquanto os vãos das terras me tomarem,
Resgates que deveras ao cobrarem
Mergulharei na treva e solidão,
Na marcha em que se faz putrefação
Somente estas ossadas, se buscarem.
O fardo de uma vida se faz leve,
Momento que julgara amargo é breve
E o túmulo servindo qual remanso,
As lágrimas aos poucos se esquecendo,
O dia noutro dia renascendo
A paz que tanto quis, enfim alcanço...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
VOZES DO ALÉM TÚMULO
REFLEXOS DO PASSADO EM LUZ SOMBRIA
Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23816
Pudesse inda conter nos olhos este brilho
Que tantas vezes foi um marco em minha vida,
A sorte se desnuda e vendo assim perdida
Caminho mais diverso, ainda teimo e trilho
Enquanto sob a luz senda bela palmilho
Bebendo da ilusão; encontro-a distraída
Seguindo cada passo aonde a lua ungida
Derrama argênteo fogo aonde louco encilho
Corcel de uma esperança atroz e vingativa,
Aonde já se lança uma alma quase viva
Vivenciando a dor de ter em olhos fixos
A imensa fantasia, agora abandonada
Numa avidez tamanha apenas vejo o nada
Qual fora feito em cruz, terríveis crucifixos...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23815
Pudesse então vibrar em meio aos vários ritos
Descrentes ilusões, ardentes caminhares,
Vivendo deste encanto aonde tu buscares
Os dias que; decerto, espero os mais bonitos
Adentrando este espaço, encontro os infinitos
Por onde desejei erguer nossos altares
Estranho sortilégio: envolvo-me em luares
Distantes do que um dia embalde foram mitos.
Poeta; retornai que a lua em vã neblina
Há muito que esquecida, agora não fascina
Tampouco a serenata ainda se faz bela
Na lua do sertão, mergulho no passado
E vejo desde então, qual templo destroçado
Imensa maravilha, envolta em rota tela...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23814
Sentindo esta vontade audaz, fremente
De ter em minhas mãos, a dor da liberdade
Enquanto a fantasia entregue à realidade
A cada novo dia, a história se desmente
E falta ao sonhador, ainda o remetente
Por mais que em calmaria ainda teima e nade
A sorte em dissabor, por mais que desagrade
Permite que inda crie um dia pertinente.
Alvissareiro sonho embalde não resiste
E a vida se fazendo ainda amarga e triste
Não deixa sequer sombra aonde se descanse
Tenaz, velho guerreiro acostumado à dor
Um guerrilheiro entende a voz de um sonhador
Ainda que pareça ausente deste alcance...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23813
Envolto pela luz buscando noutras formas
A solução final aonde eu poderia
Dizer do quanto vale a imensa fantasia,
Porém logo ao me ouvir, o que eu disse, deformas.
E fazes do meu canto ameno tuas normas
Causando ao coração; imensa e vã sangria
Ainda posso ouvir distante melodia
Falando em voz macia, o quanto que em reformas
Seria necessário ao homem se quisesse
Além de simplesmente uma oração ou prece
Um claro amanhecer em brilhos mais constantes
Mudando deste vento, a marcha e a direção,
Trazendo enfim alento e paz, transformação
Ao lapidar assim; perfeitos diamantes...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23812
Clarão imaginário em tempos invernais
Provoca este alvoroço invade todos nós,
O mundo agora hiberna e mostra-se feroz
Enquanto este castelo; agora derrubais
Vós sois o que se faz na ausência de algum cais
O lobo se mostrando em fúria mais atroz
Devora o próprio lobo e tudo segue após
No verso mais sincero; a fera; demonstrais.
Sendo-vos mais tranqüilo o dia feito em guerra
O tempo sem ter tempo, a morte cedo encerra
E trama desumano o dia que virá,
Espécie decomposta exposta à tal peçonha
Ainda se omitindo, um novo dia sonha
Apocalipse então é feito desde já...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23811
Percebo na alvorada a luz destes clarões
Aonde imaginara a névoa persistente,
A vida se mostrando ainda renitente
Embora se perdendo em várias direções.
Entoas com soberba as mais belas canções
E enquanto cantas livre, a dor já se pressente
Envolta num abraço a luz que me apascente
Demonstra após a chuva, imensos turbilhões
Que a doce calmaria, uma ilusão apenas.
E quando novo mundo; em lástimas encenas
Desejas o poder e dele usufruindo
O esgoto se reabre em fendas magistrais
Deixando-se antever medonhos animais,
Porém o dia nasce envolto em manto lindo...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23810
Pudera simplesmente em chamas perceber
Vulcânica promessa expressa em plenitude
Por mais que num momento a história seja rude
O mundo que procuro ainda penso em ter
Vencendo a cada dia o enorme desprazer
Espero com certeza o bem que ainda ajude
A ter nas mãos o sonho e com firmeza mude
Aquilo que não quero e não posso mover.
Sincero verso canta amanhecer dourado,
Deixando todo o medo envolto no passado,
Entoando a canção em que se fez mais terno,
O velho coração, abrindo-se ao futuro,
Encontra na alegria, o todo que procuro,
E nisto se percebe, embora morto; eterno.
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23809
Pudesse navegar e ter nas mãos o leme
Naufrágio mais distante; audaz o timoneiro
Que trama em sorte imensa, um sonho em que me inteiro
E nada, nem procela, o navegante teme.
Sem medo nem temor, por mais que já se extreme
Caminho descoberto em céu mais altaneiro
Do solo da esperança apenas passageiro,
Enquanto em poesia a Terra toda treme
Imenso terremoto, amor se revelando,
Aonde imaginara um dia bem mais brando
Tempestuosamente a mente seduzida
Envolta pelo afeto, abraça esta alegria
E enquanto se faz luz, o novo mundo cria
Refaz a cada verso a mansa e bela vida...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23808
Intraduzíveis sons espalham-se na Terra
Aonde houvera paz a fome em campo farto,
Aborta-se a esperança; indefectível parto
E imensa solidão no olha já se descerra.
Quem dera se pudesse arar a mansa terra,
Porém esta ilusão, aos poucos eu descarto,
E sinto-me sozinho, imenso e vago quarto
Olhando para a luz por sobre a nobre serra
Percebo quão perfeito, o Deus que nos criou
Humanidade tosca em triste rebeldia
Enquanto Deus criava, o humano destruía
E agora que percebo o pouco que sobrou
No olhar desta rapina, a gula se espalhando,
Um fogaréu imenso, abutres vêm em bando...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23807
Procuro neste céu azulejadas cores
Que possam me trazer a luz que tanto espero,
O amor além de tudo, o bem suave e fero
Moldando em alegria o medo em mil horrores,
Seguindo cada passo aonde ainda fores
Nas sendas deste encanto o sonho em paz tempero,
Vivendo da esperança um dia em que venero
Jardim onde plantei e cultivei tais flores.
Percebo que este eterno e nobre sentimento,
No qual eu muita vez ainda me atormento
Vivendo a magnitude expressa em cada verso
Alçando num segundo infinito delírio
Deixando no passado o que fora martírio,
Contendo em minhas mãos, deveras, o universo...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23806
Pudesse eternizar do amor cada momento
Quem sabe enfim teria a paz que se procura
E enquanto se espalhasse entre nós a loucura
A vida então seria além do sentimento
Ao qual em fantasia imerso, eu alimento
Trazendo ao sonhador um mundo em tal alvura
Que mesmo o grande mal, em tanto amor se cura
Tramando a cada dia, um claro e manso alento.
Não pude discernir, outrora sem saber
Do quanto se podia, em ti viver prazer
Deveras fora um tolo, apenas, nada além,
E quando ao acordar sublime maravilha
Que em meio à farta luz, mais forte ainda brilha
Alertando afinal, que o imenso amor já vem...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23805
No mármore em que é feita a deusa dos meus sonhos
Eternidade traz além de tal beleza
A sorte que pensara, emana esta grandeza
Aonde outrora houvera os dias mais medonhos,
Agora em primavera os sóis deixam risonhos
Caminhos em que a luz qual fora em correnteza
Desfila-se divina e envolta na leveza
Deixando no passado, os medos mais bisonhos...
Ascendo ao infinito, embarco em cada estrela
Alçando a maravilha ao menos por revê-la
Exposta no meu quarto, amante mais febril,
Enlanguescidamente encontro-te desnuda
Minha alma então se cala, e enquanto se faz muda
Formosura em nudez, igual jamais se viu...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23804
Eternos bronzes, prata à bela luz da lua
Estende-se divina a mais sublime diva
E quando vejo a luz desta figura altiva
Deitada sobre a cama, etereamente nua
Minha alma se perdendo aos poucos te cultua
E mesmo que distante, ainda sobreviva
O sonho mais audaz, que de prazeres criva
Quem sabe distinguir o belo e enfim flutua.
Na brônzea e rara tez entrego-me deveras
Além do que talvez bem sei que não esperas
Moldando em sintonia, amor claro e perfeito
Aviva-se a emoção, e bebo deste encanto,
Deveras deveria alçar em brado e em canto
A glória em perfeição enquanto eu me deleito...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23803
Aonde o meu desejo se acendera
Avança em noite imensa, a lua cheia,
E quando em fantasias se permeia
Quem tanto se perdeu, sobrevivera;
Ascendo ao coração, velas e cera
Liberdade se faz e já clareia
A vida que deveras se incendeia
No barco em que minha alma se escondera,
Espreito as velhas dores e não vendo
O tempo se mostrando sem adendo
Vivendo a maravilha de poder
Sentir em plenitude esta emoção,
Vigor e poesia, a direção
Num oceano em paz, a me perder...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23802
Há quanto a liberdade acende o facho
Trazendo na ardentia o caminhar,
Apõe-se sobre os raios do luar,
Enquanto os meus desejos; em ti acho.
Realço as maravilhas que me trazes
Nos versos em que traço o teu porvir,
Vivendo todo o amor vou repetir
Qual lua se entregando às suas fases.
Medonhas artimanhas da ilusão,
Mesquinharias tantas que jamais
Pudessem ser assim, cruéis, banais
Os ventos num naufrágio, embarcação.
Ainda destes sonhos, timoneiro,
No amor ao qual me dou e vou inteiro...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23801
Curvando sob o peso da ilusão
Que muitas vezes dita esta chibata,
Enquanto a fantasia me arrebata
A vida me mantendo sobre o chão,
Abismos que criara, em solidão,
O sonho mais feliz, já me maltrata
E quando a poesia me arremata
Esqueço qualquer rumo e direção,
Alçando eternidade num segundo,
Se em meio a tantos vagos me aprofundo
Nas vagas deste mar eu me perdi.
E preso aos teus desejos e vontades,
Aprendo a descobrir quando me invades
Trazendo o que melhor existe em ti...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23800
Ouvindo a voz do vento nos umbrais
Clamando como fosse alguém em dor,
Num rito muitas vezes qual louvor
A sorte se mostrando: nunca mais...
Pudesse mergulhar pelos astrais
Tivesse esta altivez; feito condor
Abrisse esta janela ao bem do amor,
Quem sabe neste instante dos venais
E parcos descaminhos, lenitivo
Mantendo ainda o sonho, sobrevivo
E teimo contras as forças da Natura.
Aonde poderia crer possível
O encanto que deveras sendo crível
Eterna e docemente se procura...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23799
Sonhar com a devida liberdade
Que tantas vezes traz a luz na qual
A vida se tornou menos venal,
Enquanto a poesia, o peito invade.
E toda a fantasia que te agrade
Formando este sublime festival
No mar de imensas ondas, frágil nau
Encontra enfim o cais, tranqüilidade.
Assim as nossas vidas negam celas
E libertário sonho nos alcança
Mantendo neste olhar a temperança
Que mansamente cedo me revelas
Abrindo então as velas venço o mar,
Sabendo desde sempre o bom sonhar...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23798
Aborto feito em turva sabotagem,
Deveras esta ofídica canalha
Enquanto muitas vezes me atrapalha
Deforma desde sempre esta paisagem.
Pudesse crer: somente uma miragem
Que o vendaval tomando logo espalha,
Qual fora um fogo simples sobre a palha,
Por mais que os dissabores sempre ultrajem.
Não posso me furtar à tal serpente
E o mundo que buscara mais ardente
Tornando-se vazio em fogo brando.
A sorte se desfaz a cada instante
E o mundo se transforma e o viajante
Fugindo da peçonha e te negando...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23797
Não quero ter nas mãos troféus e glória
Beijando esta bandeira que me deste,
Aonde se fizera mais agreste
A vida não repete a velha história,
A lua se desfila merencória
Jardim se tornando árido reveste
De abrolhos a beleza enfim. Decore-a
Com todos os desejos e delírios
Esqueça os dissabores e martírios
Produza com devida paciência
A luta se renhida, fortalece,
O amor não se curvou nem obedece
E a dor já não resiste à sorte. Vence-a...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23796
Das eras que passamos, turbulências
Aonde imaginara ter remanso,
Os dias entre fogos; esperanço,
Mas sei serem ingênuas inocências.
Permite-se sonhar conveniências
Enquanto a sorte ao longe; não alcanço
E deixo-me levar suave e manso
Enquanto tu desfilas tais demências.
Apenas coincidências; dita a vida
Que embora muitas vezes já perdida
Permite ao sonhador, alguma luz.
Enquanto a solidão bate na porta,
E a poesia outrora viva, é morta
Desejos se mostrando inteiros, nus...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23795
As folhas de papel rotas na mesa
Demonstram o que sentes; doce amada,
Do todo que te quis não sobra nada
Levado pela imensa correnteza,
E tendo na verdade em vã beleza
A sorte muitas vezes desejada
Descansa-se o luar sobre a calçada
Derramas sob a luz tanta leveza,
Disfarces de uma fera em franca guerra,
No olhar torpe e medonho se descerra
A dura realidade; pois tu és
Aquela a quem me dei sem perceber
Atando com devasso e vão prazer
Correntes e grilhões junto aos meus pés...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23794
Brilhantes e diversas cores; trazes
Nos sonhos entre ritos, fantasias,
Enquanto maravilhas inda crias
A vida se transforma em tantas fases.
Além do que deseja e mesmo fazes
Das sórdidas lembranças, agonias
Encontras ao final, alegorias
E mostra neste encanto o quão capazes
Aqueles que permitem brilho intenso
E quando mais atento, reconheço
Após o medo enorme, este endereço
Aonde encontrarei tudo o que penso,
Nas mãos da redentora poesia,
O mundo que minha alma fantasia...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23793
O mundo que em verdade nos esmaga
E traz em suas mãos a faca e o corte,
Aonde se pudesse ver a sorte
Apenas vejo o brilho desta adaga.
A boca vocifera em louca praga
Preparo a caminhada para a morte,
Sem ter jamais o sonho que conforte
Distante dos meus olhos, bela plaga.
Afagos de uma mórbida loucura
Durante a vida inteira, isto perdura
E traz como castigo a dor venal.
Assim ao descobrir algum farol,
Procuro pela paz qual girassol
Naufrágios esperando a pobre nau...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23792
Enquanto em rubro sangue borrifada
A vida que profanas, guerra e saque,
Aguardo este momento; em duro baque
E temo que afinal não reste nada.
Por mais que a fantasia ainda estaque
Nos olhos de quem ama a vã estrada
Uma alma pelo sonho abandonada
Usando um corroído e podre fraque
Permite-se que veja atrás do muro
Um tempo aonde em vagos eu procuro
Ao menos um momento feito em paz,
Mas sei que após a chuva, nada vem,
E quando perceber, talvez alguém
Em cujos olhos brilho ainda traz.
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23791
A chama mesmo sacra ainda teima
E devasta toda a sorte de esperança
Aonde a solidão cruel avança
O tempo na verdade já se queima,
Em meio aos constelares diademas
As nebulosas tomam o cenário,
O amor que sempre fora necessário
Agora se prendendo em vãs algemas.
Por mais que nada temas, inda crês
Nos dias mais atrozes e venais,
E enquanto procuravas por um cais
A vida se perdendo num talvez
A nossa embarcação, naufrágio à vista,
Sem ter sequer um bote que inda a assista...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23790
Não quero ser o mártir que sonhaste
Tampouco irei fugir à realidade,
No quanto a própria vida nos degrade
A morte se aproxima em tal desgaste,
E quando percebeste tal contraste
Verás então que a solidariedade
Caminho mais tranqüilo, na verdade
Impede que o viver se torne um traste.
Sondando estes oráculos confusos,
E os búzios entre cartas e ciganas,
Por vezes quando pensas; já te enganas
Os dias que virão bem mais obtusos
Trarão à tona todo este dilema
Também a solução, pois nada tema...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23789
Jamais reconhecendo a própria morte
Buscando qual hedônico, o prazer,
Deixando muitas vezes de viver
Ao léu se entrega a vida, leda sorte.
Sem ter sequer a força que comporte
Imensidão do mundo, eu posso crer
No quão insuperável é o ser
Por mais que já sonegue a luz e o aporte.
Do trágico futuro, nada falo,
Os olhos embotados de um vassalo,
Uma avassaladora e vil verdade.
Enquanto a humanidade se distrai,
O pano sobre a cena, aos poucos cai,
Demônio em súcia atroz, a Terra invade...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23788
Quem sabe se esmagando esta serpente
Eu poderei; talvez, saber da luz,
Pesando em minhas costas, farta cruz
Aonde se mostrara então ausente
O brilho que nos olhos já se sente
De quem em luminárias reproduz
O encanto deste canto em versos crus
Na audácia mais feliz e transparente.
Aonde houvesse um modo de tentar
Poder em plena tarde ver luar
E deslumbrar a prata que derrama
Tomando toda a cena, mansidão
Enquanto o fogaréu desta paixão,
Aumenta – insensatez- a enorme chama…
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23788
Quem sabe se esmagando esta serpente
Eu poderei; talvez, saber da luz,
Pesando em minhas costas, farta cruz
Aonde se mostrara então ausente
O brilho que nos olhos já se sente
De quem em luminárias reproduz
O encanto deste canto em versos crus
Na audácia mais feliz e transparente.
Aonde houvesse um modo de tentar
Poder em plena tarde ver luar
E deslumbrar a prata que derrama
Tomando toda a cena, mansidão
Enquanto o fogaréu desta paixão,
Aumenta – insensatez- a enorme chama…
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23787
A sorte pela qual eu tanto zelo,
Não deixa que se creia no vazio,
Enquanto a tempestade eu desafio,
O amor em luzes claras, frágil, belo
Em tramas mais suaves eu revelo,
Enovelados dias eu desfio
Moldando com denodo o bem que crio,
Destino em teu destino já não selo.
E sigo em libertária caminhada,
Uma alma sem temor; quando ilibada
Não deixa qualquer dúvida e se entrega;
Por mais tempestuoso o que virá,
Gerando a calmaria desde já,
A sorte não será, deveras, cega...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23786
A liberdade acende a imensa luz
Que enquanto for a guia nos permite
Viver sem ter sequer algum palpite
Enquanto o próprio lume nos conduz.
A sorte que na sorte reproduz
Não sabe na verdade de um limite,
E enquanto houver a força que palpite
A história sem demora, em paz reluz.
Mas quando nos grilhões, nosso futuro,
Ao largo da alegria, não depuro
E teima-se em venal satisfação
Vergastas entre açoites e correntes,
Por mais que o amanhecer; inda pressentes
Neblinas em terror é que virão...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23785
Pudesse ter ainda em fátuo brilho
Real soberania sobre os atos
Talvez já não trouxesses nestes fatos
Além do que somente um empecilho.
E quando noutras sendas, teimo e trilho,
Pudesse desvendar claros regatos,
Tomando o meu destino, desacatos,
Os quais; corcéis soberbos; não encilho.
Ainda poderia crer nas lendas,
Mas quando os desenganos tu desvendas,
Não posso conceber sequer que cedas
E volto-me ao clamor de um peito audaz
Demonstra-se na fúria até capaz
De incendiar sem dó tuas veredas...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23784
A turba se envolvendo em néscios dias
Ilusões mesquinhas nos tomando
A corja se prepara, ataca em bando
A morte insofismável que previas
Macabras emoções, alegorias
O mundo a cada instante destroçando
O quanto tu pensaras bem mais brando
Peçonha das rapinas que tu crias.
Assíduos frenesis, espasmo tanto,
Deveras não prossigo mais meu canto
Agora em alto brado a voz se emana,
Perpetuando o medo em que baseias
O sangue que mal corre em tuas veias
Imagem de uma deusa vã, profana...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23783
O fel que dos teus lábios conheci
Num amargor imenso, fria fera,
Aonde imaginara a paz, quimera,
O sonho se perdendo todo em ti.
E quando mergulhara descobri
Abismo que em abismos dores gera
Nem mesmo a mansidão da longa espera
Acalma esta sandice em que vivi
Postergo a solução dos meus problemas,
Sabendo da verdade que inda temas
Medonhos precipícios aos teus pés.
O barco naufragado já diz tudo,
Nas ânsias deste encanto não me iludo,
Arranco estas correntes, vis galés...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23782
Brindemos, pois à gloria de saber
Que mesmo na amargura conseguimos
Vencer os mais complexos, frios limos
Vivendo esta ventura do prazer.
E tomando deveras todo o ser,
O amor no qual decerto prosseguimos,
Um tempo mais amável descobrimos
E nele nós iremos reviver
A eternidade, sendo uma promessa
No amor sem ter limites recomeça
Trazendo a quem sofreu; a redenção
E serenando assim, a luz revela
A calmaria após qualquer procela,
Negando desde sempre a negação.
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23781
Deste mundo venal nós zombaremos
Enquanto houver a força que me impele
Sentindo no frescor de tua pele
O sonho que deveras escrevemos.
Não posso me furtar ao mar risonho
E nesta fantasia mergulhando
Procuro um tempo aonde seja brando
O imenso sentimento que proponho.
Vencer os mais diversos dissabores
E mesmo quando em dores, ter nas mãos
A fecundar a histórias, mansos grãos
Seguindo cada passo aonde fores,
E florescendo a paz neste canteiro,
O amor que tanto eu quis é verdadeiro...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23780
Enlouquecido teimo em fantasias
Apontam-me deveras o vazio,
Que em cada verso em vão, eu já desfio
Diverso do universo que querias,
Mendigo algum carinho em noites frias
E o medo se tornando um desafio,
Aonde imaginara o mar que crio,
Areias movediças, agonias.
Espreito num instante a fera sorte
E sei que no final somente a morte
Será de minha história, a redenção.
Enquanto houver a força que me ilude
As águas derramadas deste açude,
Jamais trariam paz e inundação...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23779
Não posso destruir o sentimento
Que ainda me habitando traz a dor,
Aonde se pensara salvador
Apenas no final, medo e tormento,
Se dele, na verdade me alimento,
E tenho outro momento ao teu dispor
Podendo novamente recompor
O que jamais deixou meu pensamento.
Vibrantes emoções? Já não espero
O olhar que se reflete agora fero
Não tendo as alegrias que sonhara.
Mas creio ser possível novo dia
Aonde a sorte em vida se recria
Deixando em noite escura, a lua clara...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23778
Não fosse o grande amor que eu alimento
Embora não consiga ter a sorte
De quem ao se perder não acha o Norte,
E encontra invés de paz, tanto tormento,
Pudesse reviver no pensamento
O amor que com certeza me conforte,
Porém sem ter a luz que inda comporte
Apenas tão somente, em vão, lamento.
Agora, se prossigo é pela fé
Já não suportaria mais galé
Meus pés acorrentados? Nunca mais.
Prefiro ao maltrapilho desamor,
Voar com liberdade do condor
Já bastam de procelas, temporais...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23777
O meu soneto é feito em dor e pranto,
Na vida, apenas fui um passageiro,
O encanto que trouxeste; derradeiro
Agora tão somente um desencanto,
Mas teimo e na ilusão ainda canto
E sinto o vento audaz e lisonjeiro,
Mordaças; já não trago e verdadeiro
Usando da esperança o verde manto
Escrevo em cada verso, uma palavra
Que possa transformar árida lavra
E trazer por colheita, uma alegria.
Assim a poesia sempre traz
Ao velho guerrilheiro, imensa paz
No mundo em que; feliz, já fantasia...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23776
Erguendo as minhas mãos, em prece eu peço
A sorte que deveras desconheço,
Se a cada novo passo, outro tropeço
Palavras com cuidado, sempre meço
E teimo em ter nas mãos a fantasia
Que tanto me maltrata e me diz bem,
E quando a noite chega e não contém
Sequer o que; talvez, se merecia
Não deixo me abalar, prossigo em frente
E mesmo na completa solidão
Envolvo em esperança o coração
Por mais que o medo e o vago ele freqüente.
Assim, da vida sou coadjuvante,
Da glória e do prazer, vivo distante...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23775
Bailando sobre os sonhos, luzes várias
Encontram a perfeita sincronia
E enquanto o coração dita alegria,
As dores vão embora, procelárias.
À sombra do passado o Amor se cria
E traz nos seus olhares luminárias
Das fontes que julguei celibatárias;
O gozo mais audaz se propicia.
E quando mergulhado em águas mansas
Num êxtase supremo, cedo alcanças
A etérea sensação de ser completa.
Assim a nossa vida em fogo intenso,
Nas labaredas fartas, recompenso
A dor de ser apenas um poeta...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23774
Pudera imaginar fúlgidos raios
Desfiles de belezas entre tantas,
E quando, maviosa tu me encantas
A lua simulando vãos desmaios,
Meus sonhos de teus sonhos são lacaios,
Moldando a fantasia quando cantas
Divina e fabulosa és entre as santas
Os medos que dominam; esmagai-os
Servindo ao nosso amor, não poderia
Vivenciar tamanha maravilha
Que tantas vezes busco enquanto trilha
Os mais sublimes prados, a alegria,
Esplêndida e sublime me fascinas
Trazendo ao peito ateu, luzes divinas...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23773
Bailando os meus sentidos nesta busca
Aonde a sorte molda um dia claro,
Amor que tantas vezes eu declaro
Nem mesmo a solidão ainda ofusca
E quando a realidade se faz brusca,
Encontro em teu olhar um manso amparo,
O sonho desfiando um dia raro
Aonde a poesia não rebusca
E traz em versos simples, rimas pobres,
Momentos que se fazem bem mais nobres
Descobres os desejos mais sutis.
E quando em tal mergulho salvador
Penetro a fonte calma em que este amor
Desvendo estes mistérios. Sou feliz...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23772
Na fleuma deste encanto que derramas
Enquanto; estrelas mostras neste olhar
Aonde poderia te encontrar
Vivendo intenso amor em tuas tramas,
Deixando no passado medos, dramas,
Apenas neste lago mergulhar
Nas águas cristalinas decifrar
Desejos e vontades que reclamas,
Expresso nestes versos tal desejo
E sei que no final serei feliz,
Se a sorte que deveras eu prevejo
Tramando com ternura o meu futuro,
Nem mesmo a fantasia contradiz
O bem que nos teus olhos, eu procuro...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23771
Enigmas que me trazes neste olhar
Que embalde, tantas vezes perguntei,
Aonde se escondera, em rara grei
Por onde poderia procurar
Quem sabe e tanto encanta ao se entregar
Mudando desde então; em ti vaguei
Num mar de azul sereno mergulhei
Jamais eu pensaria em naufragar
Seguindo a calmaria deste alento
Bebendo a mansidão em que apascento
Borrascas que deveras fora atroz
Agora que me trazes mansidão
Contando sempre as horas que virão,
Escuto como um canto a tua voz...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23770
Olhar que quando estás já se serena
Mudando num momento o brilho opaco,
Aonde se mostrara sempre fraco,
O Amor revigorando trama a cena
E a sorte transmitindo em tarde amena
O cais em que deveras chego e atraco
Após a tempestade e em paz estaco
Uma haste que permita a luz mais plena.
Havendo desde então no ancoradouro
O sol de intenso brilho onde me douro
Aspectos mais suaves e felizes,
Já não comporto a dor de ser tão sozinho,
E quando da esperança eu me avizinho
Esqueço do passado, os vãos deslizes...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23769
Não são tão simplesmente dolorosos
Os dias em que bebo a solidão,
A sorte noutro rumo e direção,
Os ventos sempre são mais caprichosos.
Aonde se pudera em pedregosos
Caminhos, perseguir a solução,
Envolto pelas tramas da ilusão
Pensara em vãos momentos, mas formosos.
Agora que não tenho outra saída,
Percebo quão valeu a nossa vida,
Do nada ao nada eterna e friamente
Vasculho nos armários da lembrança
E o tempo sem perguntas sempre avança
E o Amor em solidão, a dor consente...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23768
Poemas que jamais alguém lerá,
Sonetos se perdendo com o vento
Aonde imaginara um só momento
Esqueço o que vivemos, desde já
O tempo com certeza mostrará
Que todo sonho morre e me atormento
Vivendo sem carinho, afeto e alento
O templo que contemplo ruirá.
E o fim de nossa história será nada
A casa que se fez abandonada
Deixada ao deus dará, já desabou.
E vejo neste espelho em rugas feito
O amor cujo final; em paz aceito
Comendo cada resto que sobrou...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23767
Meus olhos seguem frios; vão extáticos
Aonde poderia ter o brilho
As sendas mais atrozes ora trilho
Momentos de terror, finais apáticos.
Se os sonhos de quem ama; são lunáticos
O coração se veste de andarilho
E encontra a cada passo um empecilho
Os dias não serão jamais tão práticos.
Assim ao perceber que a solidão
Apossa-se de um torpe coração,
Escondo-me deveras na saudade,
Aonde imaginara algum verão,
A neve se derrama sobre o chão,
Apenas sinto em mim a frialdade...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23766
As cores se espalhando no canteiro
Perfumes mais diversos, mil matizes,
Aonde no passado, mais felizes
Pensara num amor tão verdadeiro,
E agora quando sinto ainda o cheiro
De teus cabelos, logo me desdizes
Deixara tão somente em cicatrizes
O tempo sem o qual sou derradeiro.
Já não me martirizo, mas percebo
Nas dores e granizos que recebo
O fim de um sonho alegre e transparente.
Pudesse retornar ao dia manso,
Mas sei que é tudo em vão, desesperanço
Por mais que ainda sonhe, o fim se sente...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23765
Aonde se pensara num enredo
Diverso do que tantas vezes vi,
Sonhando com desejos vejo em ti
A marca da vontade e do degredo,
E mesmo quando insano inda concedo
Percebo: não estás; amor, aqui
E voltando ao início, te perdi
Num sonho que se fez atroz e ledo.
Nas flores e nos pântanos resumos
Do encanto que se vai; são frágeis fumos
E nada mais consegue enfim contê-los.
Relembro cada dia, um doce afeto,
E quando nos delírios me completo
Sentindo ainda aqui os teus cabelos...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23764
Aberta entre meus dedos, a esperança
Avança sobre os restos do que fomos,
E toma; num momento, sumos, gomos
E neste mar sombrio, ela se lança
Aonde se pensara em temperança
Desunião marcando o que hoje somos,
Diversos na verdade, vários tomos
Da vida sobre a qual já não se alcança
Sequer os leves rastros e pegadas,
A lua se derrama nas calçadas
Cadeiras e conversas. Nada vem
Senão esta neblina que se entorna
E a morte que apascenta inda contorna
Deixando um leve traço, raro bem...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23763
Amor trazendo em si, glória e pecado
Aonde imaginara um dia calmo,
Apenas solidão deveras salmo
E busco da esperança algum recado,
Percebo quanto em vão, lutei e sinto
Que tudo não passou de um breve engano,
Mergulho nos espaços e me dano
Bebendo esta aguardente, qual um absinto
E quando descobri que não pudera
Vencer os descaminhos, nada eu fiz
Somente cultivando a cicatriz
Das marcas destas garras, vil pantera.
Amar e ter a sorte companheira
É tudo o que na vida, mais se queira...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23762
O amor deixando escrito pelos astros
As sendas mais audazes; nada disse
O verso em que buscara a paz, tolice
Não restam do passado sequer rastros,
A vida se permite em vários lastros
O mundo em que a verdade se desdisse,
Na luz esta esperança em que se vice
Mantendo-se em firmeza, fortes mastros,
Seguindo em mar aberto, naufragando
Nas ondas e procelas desde quando
Ouvira o canto mago da sereia,
Amar e ser feliz... Ah! Quem me dera,
A sorte se desfaz, fria quimera,
Enquanto a fantasia me incendeia...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23761
Do amor tantas mentiras e loucuras
Levaram ao vazio em que percebo
Além da fantasia em que me embebo
As horas são terríveis, me torturas
Vivendo do passado, as amarguras
Que em meio a tais anseios eu recebo,
Aonde imaginara ser um Phebo
Realidade mostra tais agruras.
E enquanto não sossego o coração,
Recebo o desafeto da ilusão
E beijo as vãs estrelas que me deste.
Por vezes poderia até pensar
Que existe um belo raio de luar,
Porém a vida traz na dor, seu teste...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23760
A noite sob estrelas, bela e lírica
Traduz os sentimentos de quem ama,
E sabe que se envolve em louca trama
A sorte se fazendo quase empírica.
Não pude revelar o quanto eu quero
O teu amor que sei jamais teria,
Amar e ser feliz? É fantasia,
Perdoe se estou sendo mais sincero.
Não posso acreditar no mar que trazes
Ainda descortino do passado,
O Amor como um destino malfadado
Embora tenha mesmo tantas fases.
Mergulharia até se não soubesse
Das teias que este insano sempre tece...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23759
A noite se desnuda e assim, pagã
Delírios entre rotas sem fronteira,
Enquanto ela se dá e vem inteira
O Amor se permitindo em novo afã.
Até beber os raios da manhã
A madrugada audaz, a derradeira,
Loucuras entre corpos e a bandeira
Dos sonhos não se mostra mais tão vã.
Assim um sonho é feito em luzes fartas,
Mas quando em realidade tu te apartas,
Vazios adentrando o velho quarto.
O solitário e arcaico sonhador,
Sem nada mais se cansa de propor
E esquece-se num canto, amargo e farto...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23758
Manhã dos meus anseios, rutilante
O sol entremeado por neblinas
E enquanto o pensamento tu dominas
A vida se transborda neste instante.
Pudera prosseguir e sempre adiante
Nas líricas paisagens cristalinas,
O quanto não percebes e fascinas,
Semente que o amor deveras plante
E façam-se de luzes os meus dias;
Mas sei que na verdade me iludias
E tudo não passou de um desengano,
A solidão batendo à minha porta,
O frio penetrando, atroz, me corta
E em farsas; desespero e assim me dano...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23757
Enquanto os tantos astros desfilaste
Deixando tua herança em sonhos feita,
Meu coração; amarga sina aceita
Embora, na esperança um vão contraste.
Desfias os meus ermos, pois notaste
O quanto a fantasia se deleita
No amor que para mim, é quase seita,
Coluna que sustenta é como uma haste
Por sobre a qual ergui os meus castelos,
Aonde imaginara dias belos
E a tempestade atroz, tudo devora.
A morte se aproxima e se revela
Destino para quem minha alma apela
Despetalada flor percebe esta hora...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23756
Sementes que espalhaste pela Terra
Jamais perecerão, eternizadas
Nas ânsias muitas vezes demonstradas
No encanto que esta vida mesmo encerra.
E quando ouvir distante a voz da guerra
Entre os destroços todos, algemadas
As luzes que querias libertadas
O imenso sortilégio desenterra
Os velhos e profanos insensatos,
Assim no decorrer dos mesmos fatos
A vida é garimpada entre funéreos
Caminhos em que a sorte nada traz
Senão a sensação venal e audaz
Dos grãos das esperanças. Pois, enterre-os...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23755
Encontro soluções tão diferentes
Em vários e complexos descaminhos
A poesia doura velhos ninhos
E os dias se transformam quando mentes.
Religiões diversas, claras mentes
Confusas emoções, paixões e vinhos
Assim entre sabores vagos, são sozinhos
Os templos e os tormentos, quais vertentes
Erguidas sobre túmulos diversos
Aonde pensamentos vão imersos
Reflexos desta angústia que nos guia.
Em meio às tantas formas e cenários
Fizemos as pirâmides, templários
Pergunta sem respostas; agonia...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23754
Procuro calmamente novos trilhos
Por onde poderia crer possível
Um tempo onde feliz pudesse crível
E os dias não seriam andarilhos.
Mas quando percebendo os empecilhos
A sorte tão cruel quanto factível
O mundo em vagos rumos. Porém, vive-o
E mostre outro caminho para os filhos.
Quem sabe ao perceberem que se fez
Completa a mais total estupidez
Em nome de uma falsa liberdade,
Assim o sol virá bem mais tranqüilo,
Diverso da neblina que destino
Na fúria da procela, o nada invade...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23753
Andasse entre montanhas, rios, vales,
E tantas flores belas no caminho,
E enquanto do final eu me avizinho
Só peço que deveras nada fales,
E se puderes sonhos inda embales
Por mais que eu te pareça, então, sozinho,
Um trêmulo fantoche vão; me aninho
Nas ânsias de um desejo em que regales
Uma alma transtornada e tão pequena,
Apenas tua voz já me serena
E basta como um manso lenitivo,
Embalde envelhecido em podres formas,
Sonhando com o encanto em que tu formas
Um mundo aonde em paz, eu sobrevivo...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23752
Desfilo estes escombros onde restas
Efervescência outrora, diz o nada,
Aonde se mostrara iluminada
Nos ermos mais escuros das florestas
E quando aos desencantos tu te emprestas
Moldura já dispersa e desgraçada
A vida envilecida abandonada,
Em meio às fantasias mais funestas.
Assim o tempo passa e modifica
Uma alma que pensara nobre e rica
Desfeita nas veredas, feita em pus.
Por mais que te entretenham tais belezas
Entranharás depois as incertezas
Difícil carregar a própria cruz...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23751
Na multifacetária vida eu vejo
Os ramos de arvoredos mais diversos,
E teimo nas angústias destes versos,
Moldados com furores do desejo.
Aonde se fizera em azulejo
Os céus entre mil nuvens vão dispersos,
E os templos erigidos de universos
Distantes tramam mais do que prevejo.
Ainda se pudesse navegar
Entre as estrelas, luas e galáxias
Por mais que na verdade procure; ache-as
E enfim tu poderás verter luar
Por todos os teus poros, velho nauta,
A sorte de quem sonha, é sempre incauta...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23750
Amando além da vida, eternamente
Se houver eternidade, nela juntos
Embora para os outros, dois defuntos
Unidos pelo amor, nova semente
Gerada por si mesma, eterno moto
Moldando no amanhã o que se faz
Hoje e se transformando em rara paz
No amante caminha que em sonho adoto.
E quando em viuvez, etérea chama
Mantida com o fogo da emoção,
Mas noutros caminheiros que virão
O amor se refazendo já te chama
E aquilo que pensara ser eterno,
Transborda à própria morte, num Inferno...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23749
Após o que se fez em dor e morte
Navegaremos mares mais tranqüilos?
Aonde se encontrasse a paz. Segui-los;
Os vastos desencontros desta sorte?
Não tendo a expectativa que conforte
Aguardo mansos prados. Consegui-los
No imenso turbilhão e prossegui-los
Depois de anunciado o medo e o corte.
E célere tentar outras vertentes,
No quanto me querias e consentes
Esconde-se a verdade mais atroz.
Não temo o meu final, até o anseio,
E nele imaginando o vago, ou veio
O que será de nós, momento após?
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23748
A morte se mostrando em cores vivas
Arguta e temerária; nada poupa
É como se coubesse noutra roupa
A imagem que em demônios loucos, crivas.
Adoto os meus enganos, são deveras
Os filhos da amargura que acompanha
A vida que se fez em risco e manha
Envolta nos anseios destas feras
Que habitam o meu eu e não sossegam,
E quando se permite algum descuido,
Esgueira-se a esperança, frágil fluido
E as sortes e desejos se sonegam.
Assim na eterna dúvida, desfio
A eternidade expressa-se em vazio?
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23747
A mãe de todos nós; Natura em chamas,
Aonde se pudesse crer no sonho
O barco se perdendo, não reponho
A vida destroçada em tolas tramas.
E quando à realidade tu me chamas
O tétrico sorriso em que me exponho
Define o quão amargo, um ser medonho
Destrói a própria vida em mansos dramas.
Apátrida e vazia insensatez
Espalha-se o terror em cores mórbidas
E as criaturas vis, venais e sórdidas
Num matricídio insano como vês
Expõe-se vaga e pútrida figura
Na auto-destruição já se emoldura..
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23746
Verdade midriática em lividez
Assim vejo o futuro inexorável,
Angústia a cada tempo renovável
Num misto de loucura e lucidez.
O quanto do que outrora se desfez
Mergulho num abismo inabitável
E tento ter um mundo que, improvável
Noutro caminho belo se refez.
Excêntricos prazeres e ternura,
A morte traz na morte a própria cura
E o beijo desta terra, o derradeiro.
Semântica somente e nada mais?
Romântico delírio diz de um cais
Quiçá pudesse crer ser verdadeiro...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23745
À terra devolvido, nada temo
Sequer a solidão dos ermos solos,
Aonde eternamente terei colos,
Medonhas tempestades, louco Demo,
Quem sabe na verdade, barco e remo
Sem ter as velhas chagas, tristes dolos,
Assim o meu futuro entre tais pólos
No qual a cada dia mais me algemo.
Ou mesmo este vazio e turvo nada
Dizendo do que outrora fora a vida,
E sendo pouco a pouco já perdida,
Entre sendas diversas maltratada
A pútrida e venal realidade
No terror infernal, ou claridade...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23744
O tempo se renova e não consigo
Ainda crer que tudo se desfez no dia a dia
Aonde ainda houvera poesia
A sorte que; distante inda persigo,
Procuro algum refúgio ou mesmo abrigo
Enquanto o mundo inteiro desfazia
A minha história. Triste então, eu vi-a
Expressa num tormento; meu amigo.
Aonde eu quis um mundo mais liberto
O passo a cada tempo desacerto
E incerto bebo as mágoas, nostalgias.
E embora me perceba mais ausente,
O quanto de mim mesmo inda se sente
Revivo em belos sonhos, melodias.
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23743
Do verso se fazendo eternidade
Aonde vários bardos se impuseram,
Os dias invernosos compuseram
O que se fez em dor, leda saudade.
E quando a solidão tenaz invade
Além destas tristezas que se esperam
Poemas com cuidado mais se esmeram,
Na dor alheia o vento que te agrade.
Esboço alguma frágil reação
E crendo que outros tempos não virão
Mergulho no vazio, ensimesmado.
Pudesse ter a sorte de prever
E até quem sabe, o rumo reverter
Revendo os meus enganos do passado...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23742
Pudesse ter nas mãos a garantia
De um novo amanhecer em luz tranqüila,
Porém a solidão venal destila
A fúria pela qual perceberia
A turva caminhada. Mereci-a.
Se o homem quando feito desta argila
Retorna à própria terra. Ao descobri-la
Verás vermes famintos numa orgia.
São pertinentes fatos; pó ao pó,
Por isso ao percorrer a vida só,
Desvendo dela mesma os seus anseios.
E quando a voz silente se fizer
O rumo; preconizo onde puder
Saber destas entranhas, ledos veios...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
23741
E quando dos meus olhos se apagarem
O que se fez penumbra e escuridão
Voltando a fecundar o velho chão
Enquanto os vãos das terras me tomarem,
Resgates que deveras ao cobrarem
Mergulharei na treva e solidão,
Na marcha em que se faz putrefação
Somente estas ossadas, se buscarem.
O fardo de uma vida se faz leve,
Momento que julgara amargo é breve
E o túmulo servindo qual remanso,
As lágrimas aos poucos se esquecendo,
O dia noutro dia renascendo
A paz que tanto quis, enfim alcanço...
posted by MARCOS LOURES at Sexta-feira, Janeiro 29, 2010
VOZES DO ALÉM TÚMULO
REFLEXOS DO PASSADO EM LUZ SOMBRIA
Sábado, Janeiro 30, 2010
23900
A Via Láctea deita imensa claridade
Derrama este caminho em maga e bela luz
E enquanto se apresenta intensa nos seduz
Trazendo para o céu, um ar de liberdade,
Envolto em tal beleza, o brilho que me invade
Durante a noite inteira, imagem me conduz
Num êxtase supremo uma alma em paz reluz
Deixando-se levar, total tranqüilidade...
Poeta deslumbrado ao ver a Natureza
Entrega-se ao delírio e em plena correnteza
Esvai-se o vão terror que há tanto o consumia,
Enquanto a senda clara, em láctea maravilha
Etérea realeza, em mansidão rebrilha
E um verso se elabora imerso em fantasia...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23899
Imensa ansiedade envolve o sonhador
Que tanto se entregara e nada vendo em troca
Aos poucos se desvia e em vão já se desloca
Vagando sem destino e nada a se propor.
Teimando com estrela o velho trovador,
O sonho mais audaz, um barco em mansa doca,
O seresteiro faz da lua a quem invoca
A deusa preferida, argênteo, claro amor.
Percebe-se no olhar de quem enamorado
Ainda se mostrando em luzes encantado,
Vagando sem destino em rua, beco ou vila
Soltando a sua voz em alto som, num brado,
Vivendo sem temor, do amor que vislumbrado
Emana a maravilha e em luzes já desfila...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23898
Apenas esperando o dia em redenção
Eu sei que tanto medo espalha-se entre nós
A vida se é da vida amargo e duro algoz
Impede que se veja as luzes que virão,
E tendo neste olhar, o brilho e a sensação
De um mundo aonde possa em paz seguir a voz
De quem quando nos guia expressa estreitos nós
Aonde encontraria o amor em louvação.
Mas quando a voz se torna estúpida e venal
Rebanho se desvia e bebe deste fel
Amargando o terror, em dose tão cruel,
Serpente que desvia em rito sensual,
Demônio se apresenta e toma toda cena,
Enquanto mais distante, a paz ainda acena...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23897
Onde perpetuamente a luz já se escondera
Deixando a fria treva erguer-se soberana
Uma alma sem destino, aos poucos já se engana
Derrama-se depressa e como fosse cera
Aonde o fogaréu que amor louco acendera
Expressando a vontade uma alma que é cigana
Da plena liberdade, a todos já se ufana
E em meio a tal loucura inda sobrevivera.
Assaz rebelde sonho aonde me entregara,
Vivendo esta certeza, a vida sendo cara
Aporto em cais seguro ouvindo a voz do vento,
Que tanto me trazia a doce melodia
E agora tão somente a realidade cria
Moldando um mundo calmo aonde em paz, me alento...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23896
Pudesse ter nas mãos as linhas do futuro
Cigano coração, vagando mesa em mesa,
Adentra a solidão, prepara uma surpresa
E deixa o meu viver amargo e sempre escuro;
A solução; não sei. E quando em vão procuro
A vida se defende e mostra com destreza
A luz tão farta e rara expondo-se em beleza
E neste lusco-fusco; indômito, eu perduro.
Decerto quanta vez num brilho raro e nobre
A sorte sem desdém, aos poucos me recobre,
Mas quando vejo enfim, do corte a santa cura,
As mãos sonegam luz, e o medo continua
Aonde houvera amor, neblina cobre a lua
Deixando como rastro apenas a loucura.
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23895
A luta prosseguindo em termos mais insanos
Não deixa sequer que se possa crer na sorte
E pesando este fardo aonde vejo a morte
Em passos sem descanso, andares soberanos,
E os dias transcorrendo em meio aos desenganos
Deveras poderia ainda ver no aporte
Da luz imensa e clara, amor que me conforte
Porém ao perceber, desvias estes planos.
E mudas novamente, audaz e soberana,
Uma alma que procura a paz em ti se engana
E morre a cada instante, um pouco e sempre mais,
As mãos pedem clemência e negas com sorrisos
Irônica serpente; invades paraísos
Preparas com sarcasmo amargos funerais...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23894
Indubitavelmente entregue aos teus desmandos
Não tento prosseguir sabendo dos anseios
Que entornas quando vês abertos mansos veios
Transbordando na guerra os dias que eram brandos.
Assim ao perceber deveras teus comandos,
Procuro algum refúgio em outros tantos meios
O pensamente invade espaços vãos e alheios
Ao vê-la qual abutre em incansáveis bandos.
Pudera ter decerto a doce sensação
Que possa permitir os dias de verão
Deixando para trás invernoso caminho,
Adentro a mansidão e bebo a calmaria
Enquanto percebendo a luz que se irradia,
Nas tramas deste encanto – AMOR – eu já me aninho...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23893
Minha alma se projeta além da eternidade
E busca a mansidão aonde eu poderia
Viver com plenitude um sonho, a fantasia
Expõe dentro do peito o canto que me invade.
Sem nada mais temer, e nada que degrade
O mundo que componho; a solidão desvia
Na braça de outro rio, e envolto em alegria
Deixando esta agonia apenas na saudade.
Seria muito bom se tudo fosse assim,
Florada garantida, a paz tocando em mim
E a vida renovada em meio às esperanças,
Mas quando tu me vês em sórdida tormenta,
O quanto eu poderia, apenas se lamenta
Não quero a piedade à qual; olhares lanças...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23892
Tragicamente eu vi depois da calmaria
Ainda imaginando um dia mais feliz
A dura tempestade, aonde a paz desfiz
E tão somente a dor em pântanos se cria.
Vencida pela fúria o mundo se esvazia
Somente vislumbrando imensa cicatriz
A sorte com desdém imenso contradiz
O que pensara ser além da fantasia.
Mas nada me restando apenas minha voz
Num brado que incessante audaz e até feroz
Não contenho o silêncio e dele faço o brado
Num êxtase profundo escrevo este soneto
E a luta que não pára; incessante, eu prometo
Deixando qualquer medo apenas no passado..
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23891
Não vejo mais a luz aonde tanta vez
Pensara ter nas mãos destino, sorte e vida,
Agora que em verdade a história me convida
Mostrando aonde eu quis o amor que não se fez
E enquanto se perdera o rumo e a sensatez
A sorte se esvaindo e a glória em despedida
Não posso mais conter e a voz já vai perdida
Cansado de lutar, aonde há lucidez?
Não tendo esta resposta eu vejo que afinal
O mundo que eu buscara expressa-se venal
E em turbulento sonho eu tento inda revê-lo,
Mas nada me acompanha e exposto à fantasia
O quanto imaginara aos poucos se esvazia
Deixando tão somente o medo e o pesadelo...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23890
Herético demônio invade a Terra inteira
Espectro sanguinário entorpece os sentidos
Enquanto os homens vão, assim tão divididos
A solidão se mostra a eterna companheira,
E quando a noite chega e mostra a traiçoeira
Vontade soberana, adentrando libidos
Num êxtase supremo, os dias esquecidos
E a morte em riso farto expõe-se lisonjeira.
Impetuosamente ao fim de certo tempo
Aonde houvera luz, apenas contratempo
E o medo se espalhando invade cada casa
Nefasta madrugada anunciando o fim,
Trombetas vão tocando o amargo querubim
E o fogaréu se espalha aonde houvera brasa...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23889
Insólita figura andando sobre a Terra
Aonde se imagina a imensidão profana
A sorte tanta vez a quem sonega engana
E o coração vazio aos poucos se desterra.
Enquanto a poesia é morta e já se enterra
O gozo sem limite, imagem soberana
Destrói a eternidade; a geração se dana
E morta desde então, a peça enfim se encerra.
Aonde poderia existir a semente
A pétrea insensatez soberba e poderosa
Matando em nascedouro, enquanto a sorte glosa
Não deixa que respire um ar bem mais tranqüilo,
Invés do pleno amor, peçonha já destilo
Moldando em turbulência um sol vão e inclemente...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23888
A fé que nos movendo espalha a luz intensa
E trama no futuro um dia feito em glória
Ao ser humano então, o Pai trouxe a vitória
Eternidade sendo a maga recompensa,
A paz que existe em Cristo exala a força imensa,
Mas quando existe em nós, apenas a vanglória
Aquele em semelhança, agora sendo escória
No hedônico prazer, somente a fera pensa.
E quando o fim chegar e a luz celestial
Mostrada sem temor, à toda humanidade
Virão anjos do Céu e finda a impunidade
Rolando em fogaréu, tomando todo astral
A Mão que nos redime ao Fado se entregando,
Trazendo a plenitude apenas ao que é brando...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23887
Putrefação de uma alma expressa agora o fim,
Convulsa tempestade adota a humanidade
Satânico prazer cruel, enquanto invade
Espalha farto abrolho em árido jardim.
Distante da esperança, a voz de um querubim
Clamando pela paz, chamando à realidade
Enquanto em vã tolice, um ser que se degrade
Ditando solitário o que não sabe enfim.
Perdoe-me Senhor, se tanto magoei
E tanto descumpri a Tua santa lei
Pensando na alegria, apenas nada mais,
E agora quando a morte exala seus odores
Aonde imaginara ainda colher flores
Encontro em meu retrato imagens tão venais...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23886
Encontro no Senhor, amor de irmão e Pai
E louvo em oração agradecendo a luz
Que em meio a tanta treva a Ti, já me conduz,
Embora a realidade amarga e tanto trai
A luxúria e o prazer profano, nos seduz
E neles toda a glória, aos poucos já se esvai
E quando a noite chega e a escuridão distrai
A queda se prepara e o medo dita a cruz.
Nas urzes o Jardim se fez improdutivo
Também assim sou eu, porém em Ti eu vivo
E trago uma esperança, além do imaginário
Não posso me calar e sigo-Te Senhor,
Vivendo a plenitude eterna deste Amor
E o coração mais manso expressa este cenário...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23885
Caminha sempre surda a turva humanidade
Bebendo a solidão em taças de cristal,
Aonde se pudera amor fenomenal
Apenas encontrando a dor que nos invade
E teima simplesmente erguendo cada grade
Sem ter sequer notícia aonde este final
Nos levará contudo, a cada vão degrau
Escada nos conduz ao cume que degrade
Resíduo tão profano aonde houvera um sonho
Eu mesmo não escapo e em trevas decomponho
O tanto que foi dado em pleno e farto amor
Deveras deveria haver bem mais cuidado,
Porém no olhar ateu apenas o pecado
Merece tanto aplauso e até, glória e louvor.
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
Parágrafo que em brado evoca a salvação
Aonde se fez Deus presente em sacrifício
A multidão faminta ainda espera o ofício
E nele com certeza, os ditas da Paixão,
Mas sei que depois disso, o mundo segue em vão,
A cada novo dia, imenso precipício
Cavado pelos pés que desde o mero início
Trouxeram para a Terra o medo e a podridão,
Demônio disfarçado em anjo ou num pastor,
Esconde-se num antro, e mostra em suas garras
Libidinoso riso, em orgias e farras
Aonde se pregara o perdão feito amor
Descubro esta senzala e nela cada escravo
Nas ânsias do poder, o amor se torna agravo...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23884
Eu vejo o renascer de um tempo mais amigo
Na voz de um cantador, promessas se cumprindo
E o tempo se moldando em dia e claro e lindo
Trazendo ao sofredor, amparo feito abrigo,
Assim um trovador; deveras, já consigo
Pensar com lucidez no sonho que deslindo,
Um mundo bem mais justo amor se torna infindo,
E depois disto tudo; encontro o que persigo.
Quem dera fosse assim, mas não é a verdade
A podre realidade expressa a humanidade
Que aos poucos já destrói a casa aonde mora,
Bebendo deste sangue incrível virulência
Aonde houvera luz agora em inclemência
O mundo pouco a pouco a si mesmo devora...
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23883
Apenas sobrará a ossada e nada mais
Por isso para que soberba em teu olhar
Depois de certo tempo, o nada há de encontrar
Aquela que sonhara em dias magistrais
Ser mais do que pensara, além de todo cais
A deusa soberana, esposa do luar
Ao ver-se transformada em pó irá brilhar?
Enquanto a voz do bardo em tons fenomenais
Eternizada em glória, um dia a bela diva
Agora já desfeita, em rugas e terrores
Ouvindo a melodia encarnará tais cores
Que a poesia trama e mantém sempre viva
A força que se impele e molda tais matizes
Diversos das que tens, imensas cicatrizes...
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23882
Atônito encontrara escombros do que fui,
Aonde se imagina um tempo mais amável
Decerto em luz intensa, a noite memorável
Porém na solidão, castelo queda e rui,
E enquanto a luz se afasta o medo tanto flui
E tudo o que pensara, outrora em solo arável
Destrói-se num segundo além do imaginável
E no conjunto inteiro, a parte sempre influi.
Eviscerado sonho aonde te perdi?
Só sei que em pouco tempo eu me afastei de ti
E quando percebi o nada se instalara
E o medo me tomando, invade e não descanso
Minha alma busca em vão, a paz de algum remanso
Aonde quis o amor, apenas funda escara...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23881
Aonde imaginara um mundo feito em paz
Num tumular anseio a morte se deslinda
E quando na verdade é cedo, mesmo ainda
Assim a realidade o tempo diz e traz.
Percebo que afinal, o medo satisfaz
E o templo onde julgara a vida bem mais linda
Aos poucos com o tempo, enfim também se finda,
Mostrando a dor que sinto e esconde-se detrás
Enquanto a poesia outrora feita em luz
Agora em medo e treva, apenas reconduz
Ao pó de onde surgi ao pó que já me espera
Extremos que percebo aos poucos já se tocam,
As ilusões esqueço, as glórias não se estocam,
E aonde houvera amor, agora a vida é fera...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23880
Delírios sensuais em noite convulsiva
Expressam violência aonde quis a paz,
A sorte desvirtua o quanto sou capaz
Mantendo a velha chama ainda sempre viva,
Por mais que na verdade a vida já me priva
Do quanto desejara e nada satisfaz
Poeta se perdendo, a glória não se faz
Enquanto a fantasia, em tantas dores criva
O peito que se encanta e morre sem remédios,
Aguardo a solução; e imerso em frios tédios
Ingratidão se mostra amiga e companheira,
O medo se desnuda e chego ao fim de tudo,
Mesquinha sedução, na qual inda me iludo,
A morte mansamente assim de mim se inteira...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23879
Excêntrico cantor um dia quis poeta,
Quem sabe do silêncio escuta a voz maldita
De quem se fez em mágoa e dela esta desdita
Esvaziando o encanto e assim já se completa.
Amena madrugada? A sorte mais dileta
Morrendo sem o brilho, a luz não se credita
Em quem se fez sombrio aonde houve pepita
E tem a fantasia ainda como meta.
Mal pude perceber o quanto sou assim,
A paz não me domina, e morto chego ao fim
Deveras, temporais; espalho quando canto
Trazendo pra quem sonha uma verdade em pranto
Medonhas ilusões; já não cultivaria
Apenas tão somente espalho esta agonia...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23878
Haurindo um ar profano a vida em dores tantas
Exausto caminheiro aguarda pelo fim
E quando se percebe aonde e quando vim
Eu sei que na verdade ao ver-me desencantas.
Pudesse ter a glória, embalde quando cantas
Demonstras o vazio e mesmo sendo assim,
Ainda me pergunto o quanto sei de mim
Nas ondas do oceano; infaustos tu levantas.
E sabes discernir o que pudesse ser
Além do nada imenso, a glória de um prazer
Que jamais poderia encontrar em quem trama
A vida em voz nefasta, assim do quanto queres,
Não posso te servir sequer pratos, talheres,
Tampouco manteria acesa em nós a chama...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23877
Acreditar na vida, embora complicada
Às vezes com paixão em outras; desespero
Mergulho no vazio e nele me tempero
Sabendo que afinal o tudo trama o nada,
Mas quero me encontrar e sei que abandonada
Uma alma transpirando um desejo mais fero
Permite que se creia ainda no que eu quero,
Aguardo a lua cheia e vejo da calçada
O brilho que se espalha e toma toda a Terra
E quanta maravilha eu sinto que se encerra
Fazendo acreditar num dia claro e bom.
Mas quando na verdade, a lua surge imensa,
Não pode ter; sequer pensar na recompensa,
Segue ofuscada então, por luzes de neon...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23876
Fruindo mansamente em mim doce ternura
Aonde imaginara a dor e a virulência
Apenas só te peço, enfim tenhas clemência
Que a sorte a cada tempo em quadros emoldura
Diversa maravilha, às vezes amargura
E tendo disto tudo eterna consciência
Tu saberás viver e tendo esta ciência
Verás que na verdade, o amor já te procura
Amarga desventura, a terra mal plantada
E tudo o que eu vivera; eu sei não fora nada
Senão inútil noite aonde em vão granizo
O frio acometendo e a geada espalha
Por sobre a plantação a turva cordoalha
Deveras hibernando o sonho que preciso...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23875
Sombria madrugada envolta na neblina
A morte se aproxima invadindo o meu quarto,
Encontra-me cansado e de tudo já farto
Imagem que te assusta, a mim doma e fascina.
Pudesse ter agora a fria e dura sina
E quanto mais da vida afasto-me descarto
O sofrimento imenso e sei; feliz, eu parto
Deixando para trás a treva que assassina.
Outrora tive o brilho em plena mocidade
Agora tão somente o medo chega e invade
Tomando todo espaço insânia me acomete
Por isso no velório, um pedido eu te faço,
E peço que isto siga, em cada ponto e traço,
Invés do carpir falso, apenas luz, confete...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23874
Percebo que acabou a festa em que talvez
Pudéssemos saber da nossa plenitude,
Sem ter sequer alguém que ainda nos ajude
A vida se perdendo, em loucura se fez
E o renovar do sonho, a cada dia ou mês
Mudando na verdade omite esta atitude
Aonde se fez seca, ausência de um açude
Aonde se fez treva, procuro a lucidez.
Diógenes moderno; acendo esta lanterna
E nada encontrarei, carrego tal certeza,
A sorte está lançada, os dados sobre a mesa,
Felicidade morre, e enquanto o sonho hiberna
Aguardo melhor dia e sei que não terei,
Nem mesmo tendo a glória e sendo escravo ou rei...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23873
Cruel assassinato a cada novo dia,
Assim se espalha a dor e o mundo se perdendo,
Aonde houvera luz, agora se escondendo
Apenas ilusão, amor não se recria,
Viver este momento, estática agonia
Pudesse imaginar o medo como adendo,
Mas hoje numa esquina, o terror eu desvendo
E a noite se tornando eternamente fria.
Pudesse ainda crer na tal humanidade
Que se matando assim, em águas turvas nade
Deixando como herança a Terra inabitável,
Aos poucos que me lêem; perdoem desabafo,
Alexandrino verso, invés do que fez Safo
Um mundo solidário: um tempo memorável...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23872
Cadáveres no chão, exposta em guerra
A vida não valendo o pão sequer o vinho,
Caminho em solidão; no vago já me aninho
E o coração guerreiro, agora a paz encerra.
Enquanto desfilar a morte sobre a Terra
Deveras cabe a nós em forma de carinho
Saber o quão é bom chegar bem de mansinho
Deixando para trás, a dor imensa serra.
Quem sabe esta mortalha usada sem clemência
Um dia se transforme e trague a paciência
Na convivência plena ensinamentos vários
Além da complacência a luz guiando os passos,
Aprendo a respeitar do próximo os espaços
Meus aliados são antigos adversários...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23871
Humana insensatez destrói nosso planeta
Deixando para trás a vida em louca esfera,
Aos olhos de quem ama, esmagar a pantera
É tudo o que devia à paz da baioneta
Porém com simples arma, a ponta da caneta
Um sonhador qualquer, ainda a sorte espera
E bebe da ilusão, vazia e vã quimera
Até já parecendo, às vezes tão ranheta.
Não posso e nem devia enfim silenciar
A sertaneja luz intensa do luar
Derrama sobre nós a imensidão de um céu
Aonde se permite o brilho do futuro,
E mesmo que este solo ainda árido e duro
Só nos cabe fazer em paz nosso papel.
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23870
Proliferando a guerra aonde se quis paz,
Vencida este ilusão, apenas realidade
Embrutecida sorte embora não se aguarde
Ainda creio em Deus e o bem que Ele me traz.
Enquanto humanidade aos poucos já desfaz
O Amor que recebeu num ódio eis a verdade
Transforma esta venal; tanta imbecilidade
Total insensatez num mundo mais mordaz.
Escuto ainda o grito emanado em senzalas
Ao ver tal sofrimento, estúpido te calas
Terrível omissão matando assim, futuro,
Permite que se creia – apocalipse vem
E no final de tudo, a solidão, ninguém.
Apenas o Senhor, que em lágrimas procuro...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23869
A consciência nada em águas turbulentas
Medonhas ilusões, estúpidas quimeras
Aonde no passado, a paz que ainda esperas
Trouxera uma alegria em lutas violentas,
Não posso me calar, já nem mais se agüentas
As tramas da loucura, as garras destas feras
Imensos temporais, vagando em vãs esferas
Temperas a alegria em cores virulentas.
Assim nada terás senão este vazio,
Que a cada novo verso, embalde desafio
E sinto tal horror aonde busquei glória,
Porém a solitária e amarga juventude
Sem ter a luz que guie e a mão que ainda ajude
Não pode nem pensar nos louros da vitória...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23868
Num mar aonde outrora imaginara a sorte
Sereias e tritões; mergulho em águas fundas
Deveras neste instante a dor da qual me inundas
Provoca a sensação sombria de uma morte
Aonde não pudesse entrar num novo norte
Nas vagas ilusões, deveras aprofundas
A seca se espalhando em terras mais fecundas
Não posso me furtar ao ver já sem suporte
Quem tanto se entregou e quis felicidade,
Agora tão somente o frio da saudade
Matando pouco a pouco, o nada como herança,
Mas sei que quem labuta, um dia há de vencer
E ter em suas mãos, as tramas do prazer
Com tal perseverança a paz ao fim se alcança...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23867
Vivendo esta amargura à luz de cada instante
Um velho marinheiro ainda busca um cais
Embora na verdade, eu sei que não tem mais
Sequer ancoradouro, aonde radiante
Divino e fabuloso em dias magistrais
Agora nada vendo; o mundo, este mutante
Aonde se pudera encontrar diamante
Apenas o vazio em que vos transformais
Dizendo desta luta inglória e sem vencidos
Tomando já de assalto embarga meus sentidos
E sei que nada tendo, ao fim amargo fel,
Bebendo da esperança um mel que não sacia,
Encontro tão somente à luz da fantasia
O coração vadio andando sempre ao léu...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23866
Destino em desatino, a rima se produz
E tudo o que pensara ainda não se fez
O amor com sua glória; expressando altivez
Aonde imaginara os sonhos belos, nus,
Apenas o vazio, entranha-se sem luz
E deixa como herança amarga insensatez
Vivendo por viver, buscando a lucidez
Eu sei do amor imenso, ao qual já se conduz
O coração que sonha em novo amanhecer
Aonde se emoldura uma ânsia em tal prazer
Que nada mais segura o fogo que nos toma,
Porém sem ter amor, do nada ao mesmo nada,
A angústia se anuncia e invés de uma alvorada
A névoa sem final, meu mundo entrando em coma...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23865
A Terra atormentada expressa-se deveras
Envolta em tal neblina a sorte amortalhada
Apenas o vazio aonde se fez nada
Enquanto sigo exposto e enfrento tais quimeras
Aonde poderia haver mais primaveras
Minha alma já vislumbra a noite, a madrugada
Em trevas, solidão; buscando a bem amada
Bem sei que no final, mais nada ainda esperas.
E sigo como fosse um velho timoneiro
Borrasca nunca finda e o tempo se nublando
As aves lá no céu esgueiram-se num bando
E tudo o que pensara agora acontecendo,
A vida traz na morte, a sorte e o dividendo,
E apenas um pedaço o que foi feito inteiro...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23864
A imagem caricata à qual já se entregara
Quem tanto se fez guerra e agora busca a calma
Eterno desamor, destroçando tua alma
A mesma mão que amansa, agora desampara.
Não sabes distinguir; a jóia sendo rara
Lapida-se com arte enquanto ali se acalma
O coração do artista esquece qualquer trauma
E a vida neste instante, em paz, logo se aclara.
Medonha estupidez; infausto desengano,
O mundo em que viveste embalde tão profano
Traduz e tão somente o fim que se aproxima,
Aonde houvera brilho as trevas entornando
Tempestuosamente, um mundo outrora brando
Desfaz em um instante o que se fez estima...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23863
Percebo entre as gentis, suaves maravilhas
O Brilho encantador por onde deveria
Seguir em calma rota, a imensa fantasia,
Diverso da tristeza aonde agora trilhas,
As sortes e o prazer, que em vão já não palmilhas
Permitem me falar do quanto poderia
Viver em plenitude o amor, esta alegria
Que sabe verdadeiro e; tola, sempre humilhas.
Cansado de tentar buscar a claridade
Meu peito já se expõe na luz da liberdade
Deixando para trás uma amargura imensa,
A vida nos ensina através do tropeço,
Buscar numa esperança a paz que ora mereço,
Diversa direção; amor nos recompensa...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23862
Aonde poderia em paz a criatura
Encontrar o remanso aonde se fez luta,
Minha alma sem cuidado, apenas já reluta
E vive amargamente a insânia da procura.
Enquanto a noite cai e o frio então perdura,
A solidão atroz, o amor em força bruta
Hermético eremita adentra em sua gruta
Sabendo mais distante a paz feita em ternura.
Assim a cada dia enfrento os descaminhos,
Os olhos entre vãos, dos medos são vizinhos
E sinto na amplidão, brilhantes astros; sóis.
Quem dera fossem meus, eu poderia ter
A doce imensidão do mundo em que o prazer
Amantes; já transforma em loucos girassóis...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23861
Qual fora um galopante e tonto desvairado
Andando sem destino em meio às tantas trevas
Procuro pela paz distante que inda cevas
Às cegas sem domínio, envolto em tal pecado,
Aonde poderia exposto ao meu passado
Trazer de volta à vida o amor se ainda nevas
E bebes da ilusão; traiçoeiras conservas
Longevas emoções, o tempo abandonado
E em pleno sortilégio, egrégias maravilhas
Dizendo desta lua aonde em brilhos trilhas,
Moldando a sensação supérflua e tão venal
Da eternidade expressa em gozo e riso tanto,
Apenas a verdade em tristes árias canto
Sabendo sem ter cais, naufrágio desta nau...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23860
Atormentado; eu busco alguma paz possível
E sinto que talvez ainda não consiga
Vencer a tempestade, embora tão antiga
A vida sem amor, não se tornando crível,
Mudando de estação, o vento ao longe, audível
Permite se pensar na sorte que periga
Imenso temporal; em fúria desabriga
No quanto o desamor se mostra tão factível.
No desagregador e temerário adeus
As lágrimas tomando os olhos tristes, meus,
Somente uma lembrança, apenas nada mais
De um tempo em que feliz, julgara-me qual Rei,
Agora percebendo o quanto tanto errei,
A sorte que tentara, eu não terei jamais...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23859
Eu penso no teu corpo exposto sobre a cama
Deitando esta nudez divina e soberana
Minha alma se entregando embarca-se profana
Enquanto à tal delírio o anseio já me chama,
Vivendo plenamente, as loucuras da trama
Da intensa claridade, a fúria que se emana
Daquela deusa nua, à qual vida se explana
Moldando com firmeza, a paz que se reclama.
Numa expressão suprema, aos gozos magistrais
Descendo pelo rio em margens fabulosas,
Enquanto num momento, em loucura tu gozas,
Da fonte que se mostra eu peço e quero mais
Até poder, cansado enfim saber que o sonho
É feito deste amor, que em luzes eu proponho...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23858
Meu corpo se entregando ao pânico e cansaço
Buscara há tanto tempo um canto em que pudesse
Viver a eternidade imensa feita em prece
Dizendo de um amor, que em sonhos inda traço,
Quem sabe se bebendo a luz de teu abraço
A sorte num momento então visse e viesse
Minha alma sendo exposta à venda em tal quermesse
Da qual não restaria ainda um leve traço
Não fosse a fantasia embalde vaga e tola,
A cruz que inda carrego expondo a nudez. Pô-la
Aonde eu poderia com calma decifrar
O quanto nada existe em lúgubre temor,
Arcando com meu erro, exposto ao novo amor
Bebido nesta noite, em raios de luar.
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23857
Aonde se pensara apenas convulsões
Encontro finalmente a luz que procurava,
Vulcânica beleza, expressa em fogo e lava
Demonstrando divina, intensas sensações.
Pudesse ter meus pés sem algemas, grilhões
E a liberdade então, de uma alma outrora escrava
Na qual a fantasia em luzes claras lava
O tempo em que julgara exposto às ilusões,
Vencendo calmamente a fúria em desalento
Deveras outro tempo, ainda gozo e tento
Expressando no verso o amor que desejara,
Vivendo esta loucura a cada novo tempo,
Sem ter sequer mais medo, embora o contratempo
Cadenciando o passo, aos poucos curo a escara.
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23856
Voluptuosamente em ti eu mergulhei
Bebendo a falsa luz que tanto ainda emanas
E quando, temerária a sorte desenganas
Mudando a fantasia, encontro noutra grei
Os restos do passado, à sombra do que eu sei
Passando pela dor, por dias e semanas
Tristeza rapineira em águas tão mundanas
Fazendo do vazio a sua norma, a lei.
E tudo não passou de simples ilusão,
Aonde poderia em paz, a atracação
Se desde que me entendo, o velho ancoradouro
Deveras destruído, expondo nas ruínas
Realidade tosca, à qual já não dominas
E o sol deste verão; aonde, em vão me douro...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23855
O quanto penso em crer num dia temerário
Exposto a mais cruel, terrível esperança
Que enquanto nos sacia, embalde não avança
Pudesse ter amor ainda em vida. Prepare-o.
E a sorte talvez mostre aonde eu quis sacrário
Sem medos nem engodo, a mão da temperança
Mudando a direção do dia já me alcança
E traz em alegria o amor tão necessário.
Pudesse ser real a doce fantasia
Que transforme em perdão a dor que tanto urgia
Medonho temporal; meu barco num naufrágio.
Porém o amor cobrando imensidade em ágio
Não deixa que se creia em luzes e perdão,
Matando o que pensara ainda: salvação...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23854
A voz da morte açoda em plena tempestade
A sorte se perdeu em meio aos vãos tormentos
Aonde inda pudera em tolos pensamentos
Apenas o vazio agora inda me invade...
Sabendo da esperança, amarga e fria grade
Ouvindo mais distante; apelos e lamentos,
Pudera ter a paz, ao menos por momentos,
Talvez eu nunca visse a luz que me degrade.
Espero em ansiedade; a dor, supremo infausto
Entregue ao seu domínio, aguardo este holocausto
No qual me fiz cordeiro, insânia em plena fúria.
Do todo que vivera; encontro a solidão
E nela mergulhando ao ver esta amplidão
Minha alma apodrecida, aguardando a paz. Cure-a!
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23853
Iremos neste instante; adeuses proclamar
Aonde imaginara a paz que nos redime
A mera sensação amarga feita um crime
Entoa-se a mentira, e o vento no solar
Trazendo em dura sanha o quanto quis amar
E nada do que fora ainda o bem que estime
A mão que acaricia a mesma que me oprime
Deixando à própria sorte o quanto quis lutar...
E quando ao perceber no meio da batalha
A fúria de quem busca a sede da navalha
Exposto ao mais sombrio e trágico momento
Na angústia que se assoma, a boca escancarada
Esboço de ternura, agora não diz nada
E a sorte decomposta, apático, eu lamento...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23852
A noite se aproxima e traz esta derrota
Que tanto eu evitara e agora se percebe.
Aonde percorrera; escura e turva sebe
A turba em fria insânia aos poucos se denota
O medo inda estampado; amargura se nota
E toda a fantasia em vão já se concebe
Enquanto a dor venal, minha alma em transe bebe
O gozo permitido, além de qualquer cota
Transforma-se em terror, mudando a direção
Dos ventos que pensara em pacificação
E agora só terror invés de calmaria
Macabras sensações, a morte se aproxima
Trazendo em voz intensa, o fim do ameno clima
Tremulando este espectro escuso em que eu vivia...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23851
Não quero apenas crer na imensa desventura
Que tanto me maltrata e morde feito um cão,
Imaginando então as luzes que virão
E em lágrima e sorriso, o amor já não perdura.
Sentindo a mansidão, bebendo esta loucura
Adentro sem saber, imenso e fundo chão
Teimando no vazio, ainda crer no grão
Que a mão de um lavrador embalde faz cultura.
Ascendo num momento os infinitos ares
E tento procurar, embora saiba escuso
Deixando esta armadura aonde tu notares
Perpetuando a dor que tanto está presente
Escudo que em defesa, ainda – um tolo- eu uso
Arcando com o fim que em ti vida pressente...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23850
O amor que nos tramando a sorte em firme laço
Trazendo num sorriso a paz e a redenção
Ao mesmo tempo em fogo ardendo em sedução
Tramando a fantasia aonde em ti me enlaço
Intenso fogaréu que até em mero abraço
Causando num momento imenso furacão
Da brasa mansa eu vejo as chamas que virão
Tormento tão suave, em cada verso eu traço
Usando o meu buril; invento mil palavras
Enquanto a vida ceva, o amor em que me lavras
Gerando esta loucura imersa em fantasia
Poeta, bem queria então eu te mostrava
Da fúria de um vulcão, incêndio feito em lava
Da vida, solução, que me apascentaria...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23849
Ouvindo deste amor o som que me entorpece
Deixando à flor da pele anseios mais ferozes,
É como se talvez ainda em paz pudesse
Vencer a tempestade e as mãos destes algozes.
O amor quando demais, se faz além de prece
Enquanto caminheiro, escuto em mansas vozes
O canto que procuro e tanto me enlouquece
Deixando no passado angústias tão atrozes.
Seria muito bom poder ter a certeza
Da imensidão do rio em plena correnteza
Descendo para a foz que encontra nos teus braços,
Vivendo fartamente a imensidão da luz
No sonho mais premente o amor que nos conduz
No rastro que persigo; amenos, finos traços...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23848
Ainda sinto ao longe o encanto da ternura
Que tanto procurara e não tendo notícias
Embora no passado envolto em tais delícias
Sabendo do terror que ainda em mim perdura,
Alçando a liberdade em forma de candura
Melodias; sonhara em mansa paz. Ouvisse-as
E terias noção do encanto que em primícias
Promete tão somente imensidão, fartura.
E assim ouvindo a voz de um tolo cantador
Que fez a sua vida envolta em tal amor
Terás dentro de ti certeza absoluta
Do quão se faz em vão a vida de quem ama,
Por mais que ainda exista, acesa última chama,
Quem tendo a fantasia, em crer no fim; reluta.
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23847
Viajo na palavra e em versos bebo a vida
Ascendo em poesia ao mundo mais feliz
Ou mesmo demonstrando a antiga cicatriz
Que embora tão distante ainda é dolorida,
E enquanto a realidade aos poucos me convida
Viver da fantasia é tudo o que mais quis
E sei que na verdade a vida se desdiz
E trago uma ilusão; encarno esta ferida.
Escrevo pelo amor de ter em liberdade
Embora com certeza o verso não agrade
Agrido-me sem ter sequer algum motivo,
Mas sei que libertária a vida do poeta
Trazendo a plenitude, e nela se completa
Nas mãos este rastelo; e por ele inda vivo...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23846
Entrego-me ao vazio aonde ainda via
Possível ter a sorte em leves emoções
Porém a vida traz perversas sensações
Deixando para o fim a morte em agonia.
Procuro finalmente a mansa sintonia
Que possa me trazer diversas direções
Vivendo em solidão entranham-me visões
E tudo, de repente explode em fantasia.
Não posso mais negar o quanto fui feliz
Bebendo da ilusão, fantásticas loucuras
E quando a realidade; em sombras emolduras
Diverso deste todo, o verso que ora fiz
Pudesse renascer em glória e paz tão terna
A luz de um amor imenso, ainda viva, e eterna...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23845
Envelhecendo o corpo uma alma há muito morta
Expondo em podridão aquilo que foi vida
Na decomposição a sorte adormecida
O quanto que inda resta; eu sei; já não importa.
Apenas o terror, ainda me conforta
Espero pela glória há tanto em vão, perdida,
Quem crê numa esperança e disto inda duvida
Num mar em calmaria aguarda um manso porto.
Etérea fantasia, o canto em doces tons,
A sorte se mostrando envolta nos neons
Mas sei que nada disso expressa a realidade;
Procuro em negro céu, o brilho de uma estrela
Não consigo jamais, embora busque vê-la.
Descobrir soluções, pergunto em vão, quem há de?
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23844
Vontade de morrer em meio aos tantos medos
Percebo que o vazio aos poucos me domina
E aonde imaginara a luz mais cristalina
Apenas encontrando o imenso dos degredos,
Pudesse ainda crer e ter mansa paz. Ledos
Descaminhos tendo e deles me alucina
A sorte em vagos tons enquanto em podre sina
Escondo o que podia imaginar segredos.
E quando num soneto aos vastos eu me entrego
Bebendo da aguardente amarga em rumo cego
Escondo-me em tocaia, aguardo a fúria e a fera
Percebo quão tolo o estúpido que tenta
Enfrentar os leões; a morte violenta
É tudo o que decerto ainda ao torpe espera.
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23843
Eclética emoção se desnudando agora
Trazendo avassalado o sonho que inda busco,
Embora no teu canto a luz em que me ofusco
Permite à solidão, matiz onde decora
O sonho em podridão; que sei não se demora
E tento ainda crer aonde em lusco-fusco
Um mundo que não seja amargo e um tanto brusco
Apaixonadamente o templo se decora,
Porém num desencanto amargura se dá
E vejo o que não quero aqui ou acolá
A sorte se desfaz na turba que, enigmática
Expõe a cada tempo um féretro diverso
No qual eu me sentindo entregue e quase imerso
Na voz dura e sombria o dom de estar estático...
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23842
Entregue à solidão; meu velho camarada
Depois de tanta luta o final do espetáculo
Conforme imaginara, aquém do tabernáculo
Seguindo em vago sonho entranho-me do nada
A partir do vazio eu busco uma alvorada
Dissera em poesia, um tolo e falso oráculo
A vida em desencanto; o amor sendo um obstáculo
Expressando-me em vão; a sorte abandonada.
Decifro em tal marulho as ânsias deste mar
Pudesse finalmente, o tempo decifrar
Enigmático canto, aonde em luz profana
Herético momento, em busca do prazer
Hedônico imbecil; aguarda no não ter
A noite que inda trague a paz que tanto engana...
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23840
O tempo se mostrando mais amigo,
Embora progredisse em desafeto,
Causando no passado o desabrigo,
Agora noutro encanto me completo.
Se o todo novamente assim persigo,
Nas tramas da loucura me arremeto,
E tudo o que em verdade inda consigo
Além do que dissera algo concreto,
Não pude discernir razão e gozo,
O dia se mostrando caprichoso
Demonstra as variáveis da emoção.
Enquanto me disfarço noutra senda
A sanha que procuro se desvenda
Ditames mais diversos da paixão...
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23841
Num beco sem saída me trumbico
E quebro a minha cara todo dia,
Quem faz dos seus remendos poesia
Não atingindo nunca mais o pico.
Não quero mais saber se vou ou fico
Apenas o que a sorte me diria
Mergulho o meu cantar na fantasia
E quanto mais cutuco me complico.
O berço outro esplêndido adormece
E o quadro que a verdade ainda tece
Demonstrando o vazio que virá.
Não sei o que deveras eu pretendo,
Mas quando sem saída; vou bebendo
A sorte que se molda desde já...
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23839
O quanto Amor se faz imprevidente
Mudando a direção dos nossos dias,
Aonde a realidade; poderias
A vida na verdade já te mente.
E nada no futuro se pressente
Mordazes ou sublimes alegrias
Audazes e diversas agonias
O Amor no próprio Amor já se desmente.
Assim navega contra o mar imenso,
E mesmo quando nele, ainda penso
Alçando a majestade da ilusão.
Nefastas tempestades e procelas,
Destino que em destino, Amor, tu selas,
Dizendo destes dias que virão...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23838
Miséria não se acaba, pois sustenta
A corja mais pilantra que conheço,
O mundo é sempre assim desde o começo
Por mais que a sociedade se diz benta.
O fardo que ninguém jamais agüenta,
Pesado muitas vezes, reconheço,
Mas sei destes canalhas, o endereço
Na ação que ao próprio Cristo violenta.
Melhores dias; sei que não virão,
E tendo apocalíptica visão
Piora se fazendo mais notada
A cada novo tempo; mais imunda
Na súcia tão cruel e vagabunda
Miséria sendo sempre alimentada...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23837
Sossega que eu te mando algum dinheiro
Depois de deduzidos estes gastos,
Terás como pensar nos teus repastos
Ao menos sentirás um breve cheiro.
E quando da verdade enfim me inteiro
O gado se fartando nos seus pastos,
Os olhos pecadores, ora castos,
Num ato tão gentil e corriqueiro...
A sopa não é sopa, tem substância
Até uns tomatinhos lá boiando,
E assim o dia segue bem mais brando
A velha burguesia em elegância
Devolvem o que roubam na surdina,
E pensam numa ação, quase divina...
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23836
Expondo um miserável pelas ruas
Arranjo alguns trocados, sempre assim,
Um belo cidadão, um querubim
Nas doações diversas, tu flutuas...
E quanto mais otário, continuas
Maiores os desejos do chupim,
Às vezes disfarçado de cupim,
Verdades peçonhentas? Não. São cruas.
Invés do desgoverno ser cobrado
Melhor é se pedir por caridade,
Assim apodrecendo a humanidade,
Livrando todo mundo do pecado,
A paz adormecendo o travesseiro,
O povo empobrecido? Um bom cordeiro...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23835
A fome que na fome se sacia
Derrama suas marcas pela Terra,
Verdade que a verdade não encerra,
E quanto for pior, mais alegria.
O tempo em contratempo me dizia
Ganância diz trambique nesta terra
Neste alambique bêbedo se ferra
Dinheiro sempre acerta a pontaria.
Velhacos em barracos fazem festa,
E quando a podridão tal mundo gesta
Imunda cercania diz favor,
É tanta e tão profana pedição,
Na perdição fizeste a doação,
Miséria alimentando o protetor...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23834
A chuva que chovera chuva fina
Agora chove intensa tempestade
Por mais que a chuvarada desagrade
Esta enxurrada sempre me fascina,
Chovendo o tempo todo sem parar,
Achando que esta chuva traz a sorte,
Chuvisco sei quem já nem mais suporte
Depois deste chuveiro, vem luar.
Há quanto te imagino garoando
E sabe que deveras desde quando
Garoas com cuidado tu transformas
Um aguaceiro enorme em mansidão
Já não suportaria inundação
Se até para chover existem normas...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23833
O preço deste apreço é o desapreço?
Não faço neste caso distinção
Dissesse pelo menos sim ou não
As ordens deste encanto eu obedeço.
Mas sei que a cada passo outro tropeço
Aonde se perdeu a direção?
O tempo se mostrara qual vilão
Da sorte, por favor, qual o endereço?
Engesso-me em palavras, sigo teu
E quando este horizonte escureceu
Das nuvens fiz a chuva que é bendita
Do solo mais agreste, um lavrador
Ainda crê deveras num amor,
Por mais que ele jamais nele acredita...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23832
Apego-me ao pecado sem perdão
E pego cada rabo de foguete,
Aonde se podia ser cadete
Apenas um soldado; capitão.
O beijo foi apenas armação
Ação de quem buscara algum banquete
E tudo no final desce o cacete
Afunda o barco e toma a direção.
Corpúsculos, crepúsculos e sinas
Opérculos, apáticos poetas
Se nada do que fazes, tu completas
Complexos os desejos mais normais.
Pecado sem perdão é safadeza,
Garanto, meu amor, uma beleza...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23831
Um pássaro sem asas, ases guarda
Nas ancas das morenas sensuais,
Aonde se mostrou consensuais
Palavras a verdade não resguarda.
E quando o quanto mais jamais aguarda
Em meio a tais calores vós suais
Os dias são assim e sempre iguais
Por mais que vos viseis a tal vanguarda.
Enquanto em vegetais vos vegetais
Delírios das mulatas são as tais
Mortais ou imortais ao fim; podê-las
É tudo o que eu queria e vós negais,
Se não puder, deveras mais contê-las
Que faço meu amor destas estrelas?
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23830
Sem plágio, sem naufrágio, ágil sou
E sendo frágil frasco não me quebro,
O tempo quando em templo já celebro
Metáfora do quase me restou.
Debruço sobre os sóbrios e ébrios brios
E brinco com palavras, lavro a sorte
A boca desemboca tal suporte
Causando quando em vez os calafrios.
Calabares pescara, escara funda
Os velhos escafandros, antros entram.
E quando neste antanho se concentram
Abaixa-se demais, mostrando bunda.
O povo não reprova cada prova
Comprova que soneto não é trova...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23829
Nos arvoredos; idas entre as vindas
Bem vindas ilusões dizem do pouco
Aonde em fantasia fico rouco
Enquanto tu desfilas e deslindas
As ondas nas marés por mais infindas
Formando a maravilha em que treslouco
Pudesse ser ao menos quase mouco,
Belezas com as quais ainda brindas.
Metódicos sonetos, atos ouço
E teimo num etéreo calabouço
Algemas me transmitem versos frios.
E o tema que em problema não desfaço
Bebendo do meu verso cada espaço
Mexendo assim deveras com meus brios...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23828
A forma pela forma sendo norma
Metade diz que sim outra diz não
E aonde se centrara a decisão
Apenas pena vária te deforma.
E nada do que teimo já me informa
Se peso mais um pouco a minha mão
O beijo transformado no formão
Perfomance diversa mundo forma.
Dormindo sobre penas, pobres gansos,
Os dias entre chuvas sem remansos
Alcanço o que não cansa, e já me diz.
O palco se ilumina a mina esgota
Abrindo das represas a compota
Inundo do que outrora quis feliz...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23827
Se aprumo ou se não prumo o rumo busco
Aonde não podia ser disperso,
E quando noutros termos desconverso
O quanto de mim mesmo sei mais brusco,
No peso do passado ainda ofusco
O que não poderia crer imerso,
Serpente se mostrando onde disperso
O pensamento eterno lusco-fusco.
Pereço quando faço o que não quero,
Mereço pelo menos bem mais fero
O férreo desafio ser ao menos.
O quanto desfiara dos teus dias,
Bem sei que tantas vezes desafias
Os tempos mais felizes e serenos...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23826
Semânticas diversas, sendo assim,
Românticos os versos que fizeste
Aonde se pensara mais agreste
A chuva vem molhando o teu jardim.
Jazigos entre pedras e florais,
Ascendo aos teus encantos, meus tormentos
E deixo-me levar pelos momentos
Aonde desejara ter jamais
O ser e o nunca ser; dúvida traz
Questões muito comuns; não mais adentro
Queria na verdade ser o centro
E o cetro depois disso diz a paz.
Apaziguada fera que carrego,
O amor mesmo sincero segue cego...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23826
Ouviram vozes tantas, medos fartos
E nada do que outrora se fez paz
Agora se mostrando mais capaz
Invade sem saber, salas e quartos,
Os dias em que foram feitos partos
No tempo a fantasia já desfaz
O que pensara ser inda mordaz,
Já não mais os queria então, reparto-os.
Sigo assim mergulhando no vazio
E o vendaval, quimera que desfio,
Desfiro como um golpe à flor da pele.
No peito esta medalha feita em tiro,
Se tudo o que não quero inda prefiro,
Ao longo descaminho me compele...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23825
Atento aos mais profundos sentimentos
Adentro os meus engodos e disfarço,
Se tudo o que me prende é um cadarço,
Alcanço desafetos, desalentos.
E enquanto ainda tenho brisas, ventos
Os dias entre os dias; sigo esparso
E tudo o que pudera, fera esgarço
Galgando mais velozes pensamentos.
Atestam-se momentos que não pude,
E mentalizo a sorte feito um grude
Que ancora barcos vários, tempestades.
Não peço-te perdão e nem defino
O que se fosse audaz ou cristalino
Importa-me bem pouco que te agrades...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23824
Estímulos diversos me afetando
O tanto verso quanto não me vejo
E sendo sempre à custa de um desejo
O quanto se fizera o mesmo quando.
E beijo tuas mãos, amanso o brando
E sendo mais profético prevejo
O quadro que diverge do lampejo
Aonde quis a vida despejando.
Oprime-me o primor do quase ser
Encontro o tanto ainda me gradua
Mineiramente bebo a luz da lua
E sei reconhecer o seu poder.
No palco aonde quis iluminado
O tempo se mostrara ultrapassado.
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23823
Expondo esta ossatura imagem de um demônio
Estende-se no leito, envolto em ar sombrio,
A morte se aproxima, e enquanto a desafio
O riso em ironia; último patrimônio.
A pele se esgarçando, a vida de um campônio
Entregue à sua lavra, em larvas já desfio
O quanto desejara e o tempo tão vazio
Atônito e voraz aonde eu quis idôneo
Mas quando a vida traz ainda algum suspiro,
Minha alma em forma bruta expõe a sua face
Procura a salvação enquanto a vista embace
Um náufrago somente, e enquanto inda respiro
Bebendo do sarcasmo, exponho-me deveras
Que tanto se fez lobo agora entregue às feras...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23822
Não posso me calar enquanto a fúria volta
E tomando de assalto o coração insone
Por mais que a fantasia ainda reste e abone
A vida se transforma e envolto em tal revolta
Minha alma apodrecida, as mãos dos sonhos solta
Enquanto a solidão impede que abandone
A senda em que talvez uma alegria clone
E muda cada fase, o amor sendo esta escolta.
Mas vejo que afinal o corpo se desfaz
Deixando esta carcaça aos rapineiros lobos,
Em torno deste verme, os sentimentos probos
Ainda que distante, avista-se na paz
O que talvez pudesse enfim me redimir,
Porém cedo se amarga o que fora porvir...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23821
Enfrento dentro da alma angústia e sofrimento
Vou reduzido ao pó do qual não deveria
Jamais ser transformado em vida; onde se cria
A sorte se perdendo. O quanto já lamento
O dia que se foi redoma o pensamento
E a noite se transforma e torna-se sombria
Recebo em desalento o mundo em que queria
Invés da solidão, liberto sentimento.
Sentindo envilecida a sorte em turvas águas,
Restando deste encanto apenas frias mágoas
Deságuo nesta foz aonde se fez trágico
O caminho em que buscara ao menos claridade
Agora o desafeto e o medo que me invade
Mudando o meu destino, anteriormente mágico...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23820
Impotência tomando o coração senil
Além desta esperança aonde eu poderia
Viver a plenitude envolta em fantasia,
Diverso do que outrora o sonhador previu
Estúpida memória aguarda o final vil
De quem há tanto tempo enfrenta a noite fria
Esboço a reação; porém tal vilania
Não deixa que prossiga embora vá gentil
O término da vida, angústia sem limites
No desamor completo, aquém do que credites
Auspiciosamente o mundo ainda traz
Num riso semi-roto, aurora em tal neblina
Enquanto uma alma tenta a luz mais cristalina
Buscando em desespero, ao menos certa paz...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23819
Quando imortalidade enfim puder tocar
De amores, a saudade expressa em tal beleza
Incontestavelmente o encanto e a grandeza
De um sonho que permita aos raios do luar
Perceber a delícia envolta neste amar
Além da própria vida entendo tal leveza
Indubitavelmente o mundo que se preza
Transcende a realidade invade o imaginar.
E assim perceberei que tudo se fez raro,
No gozo mais sublime o verso em que declaro
As magas sensações esmagam cada medo
E sei que tanta luz há de brilhar eterna,
Minha alma se entregando ao canto que se externa
Defronte a tanta luz, não luto e manso cedo...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23818
Se deste sentimento ardentes ilusões
Moldando o que seria um tempo mais tranqüilo
Vivendo a nossa história em vastas dimensões
O quando se deseja em novo e claro estilo
Trazendo no seu bojo o bem das emoções.
Não posso me calar defronte o amor. Senti-lo
É ter esta certeza envolta em seduções
De um mundo mais feliz no qual me desopilo.
E sigo em verso manso a direção de um rio
Chegando então à foz, o mar eu desafio
Desfio na palavra o tempo em que pretendo
Ter nas mãos a verdade e a paz que me transforme
Um ser outrora frio, um coração disforme
Encontra na alegria, imenso dividendo...
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
23817
No imenso frenesi procuro a calmaria
Aonde talvez fosse um pouco mais suave
A vida que tentei sem ter maior entrave
Num terno desejar; que me renovaria.
Porém em vasta senda, amarga fantasia
Na qual realidade a estaca fria crave
Trazendo então a dor; a liberdade, uma ave
Sem grades nem temor em doce sintonia.
Distante do que posso; ausente de esperança
Vislumbro a claridade e nela o sonho lança
Num último lamento um brado que redima
Abrindo este caminho aonde eu possa ter
Além de um sonho tolo, as tramas de um prazer
Moldado em alegria, em vida e farta estima.
posted by MARCOS LOURES at Sábado, Janeiro 30, 2010
Domingo, Janeiro 31, 2010
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23950
Aventando uma sorte expressa em luz sombria,
Aonde se fez calma a rota tempestade
E o gosto do vazio ainda chega e invade,
Mostrando a realidade imersa em fantasia,
Na sorte que buscara a dor que não queria,
O mar sempre bravio; ausente liberdade,
Nas mãos do cantador a voz que desagrade
Emoldurando assim, o que fora utopia.
Arcar com cada engano e teimar prosseguir,
Negando desde já qualquer doce porvir,
Assim, não poderei sentir outra emoção,
Já que não mais traria o quadro que me alente,
Caminhos em que eu ande, eu finjo estar contente
Sabendo que depois, borrascas voltarão...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23949
Fechado dentro em mim oceano sombrio
Nefasta sinfonia expondo a morte em vida
Estátua do vazio, aos poucos consumida,
Esculpo deste mar, em mármol duro e frio
Auto retrato aonde; os engodos desfio.
Por mais que esta desdita, ataque e mesmo agrida,
A solução; não vindo, o apocalipse cria
Do velho tabernáculo um campo nu, vazio.
Ensimesmado e quieto, atrozes dias passo,
Deste universo imenso, apenas leve traço,
Rascunho concebido em simples garatuja.
Fantoche que se expõe um tosco caricato,
O Fado traiçoeiro, insano eu desacato
Minha alma apodrecida, agora, imunda e suja...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23948
Os dias turvos; tenho, ainda dentro da alma
Eterna viajante em busca do infinito,
Aonde se escondera eu tento e não me omito
Sabendo que o amor; deveras sempre acalma.
Não quero imaginar a dor, terrível trauma
Que agora transformada, apenas neste mito,
Não deixa que eu explane, em brado, sonho ou grito,
Mantendo-se distante, onde encontrara a calma.
Perguntas sem resposta, a vida não permite,
E tudo o que eu conheço, expõe no seu limite
A realidade tosca à qual já não enfrento,
Moldado pela foice, o corte da navalha,
A mão já calejada entrega quem trabalha,
Ferida se aprofunda, agora em vão tormento...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23947
Inócua resistência aonde eu quis um dia
Mostrar algum poder; disforme sonhador,
Bebendo desta fonte até se recompor
O que talvez transforme o mundo que eu queria.
Atento ao caminhar, a tola poesia
Permite que se veja um dia num sol-pôr
Matizes tão sutis que mostrem num amor
A senda mais brilhante, exposta em fantasia.
Romântico fantoche, atravessando o tempo
A cada nova curva, um novo contratempo
E assim vou procurando ao menos quem me queira,
Esgoto minha força, a busca sendo inútil,
O coração se mostra agora bem mais fútil,
Mas traz esta esperança, amiga e companheira...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23946
Por mares navegando em busca de algum cais
Antigo timoneiro esconde-se do frio,
E o medo do não ter; enfrento e desafio
Por mais que a vida mostre e grite: nunca mais.
Os dias do passado, as noites magistrais
A lua sertaneja, o tempo que desfio
A mansidão da sombra argêntea sobre o rio
Viagens sem limite, em astros siderais.
O gozo da vitória, a história não tem fim,
Quem dera, meu amor, a vida fosse assim,
Mas sabe o navegante aonde o seu tesouro
Perdido em ilha imensa, agora tão distante
E mesmo que oceano ainda belo; encante
O barco não tem força e busca ancoradouro...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23945
Pudesse ter do sol, fogo equatorial
Traria o brilho farto aonde recompenso
Os erros do passado, este terror imenso,
Momento de alegria, em paz fenomenal.
Mas quando vejo a sorte envolta em baixo astral
Percorro sem saber um mundo amargo e tenso,
E mesmo num vazio, ainda temo e penso,
E traiçoeiramente a vida, então, banal.
Já não suporto mais hibernar sem proveito,
As ordens do senhor, amor eu sempre aceito,
E nada me impedindo até de imaginar
Que o tempo se permite ainda em crer possível
Um templo feito em luz, diverso do irascível
Caminho que prevejo: ausente luz solar...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23944
Cadenciando a vida, encontro a paz que quero,
Não posso me furtar à dura realidade
Por mais que um verso tolo ainda não te agrade,
Encontro neste mundo, o rosto amargo e fero
Mostrando a todo mundo o quanto duro e austero
Porém traduz assim a luz de uma verdade
Que molda sem saber a cruz sem liberdade
Matando a cada dia, o mundo que inda espero
Aonde eu possa então cantar sem ter censura,
A sorte imaginada aonde se procura
Trazendo uma alegria ao coração ferido,
Ainda sendo belo o nobre amanhecer
Que é feito em claridade e traz farto prazer
Expressando este amor, cinzel com o qual lido
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23943
Meu verso diz da trama aonde eu te encontrei
Vagando sem destino uma estrela perdida
Que jamais poderia encontrar a saída
Do imenso labirinto aonde o medo é lei,
Dourado brilho farto, iluminando a grei,
Que tanto imaginara, em plena despedida,
Agora vejo enfim, a glória concebida
Mudando este destino aonde vão, tracei.
Escrevo num soneto o quanto desejara
Amor em noite imensa, intensa, bela e clara,
Apenas por saber da vida que se faz
Enquanto ainda sonho, o mundo se revolta
A sombra do passado, aonde encontro escolta
Permite que se pense ausente e louca paz...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23942
Pudesse transformar a perda em algum ganho
Não sofreria tanto e enquanto houvesse chance
Visagem se moldando a cada bom nuance
A dor já se esvaindo e o medo agora, estranho.
A queda se prepara, e nela não me banho
Aonde se imagina e amor; portanto alcance
Eu posso imaginar um redentor romance
Nas ondas do poema, embarco e já me assanho.
Assim navegador que sabe a correnteza
Não teme maremoto e encara a natureza
Sabendo respeitar anseios e limites.
Por isso é que eu te peço, e nisto não segredo,
Que à sorte não entregue o mapa deste enredo,
E que afinal querida em mim tu acredites..
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23941
Imagético sonho exposto na paisagem
Qual fora simplesmente um ato insano e vil
O quadro se desfaz aonde repartiu
O lúdico prazer, sem ter quem inda ultrajem
Corvos que de Allan Poe crocitam tal miragem,
Traçando sobre o busto em tétrico e sutil,
Mas desalentador cenário em que se viu
Apenas o vazio, estática estalagem.
Assim faço da vida a flâmula dispersa
Sobre a qual meu canto, ainda teima e versa
Espasmo convulsivo, insano caminhar,
Bebendo deste espectro aonde o nunca mais
Explode-se num rito, ondas fenomenais
Moldando o meu futuro em noites sem luar...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23940
Sarcasmos entre riso; irônico e estridente
Assoma-se o terror e nele me encaixando
A vida qual uma ave exposta em negro bando
Devora mais voraz, e mostra-se envolvente
Aonde quer que eu vá, por mais que ainda ausente
Estende-se sombria apátrida fadando
A sorte da querência, um mundo bem mais brando
Helênica traição ao fundo se pressente.
Aquiliana glória expondo o calcanhar
Aonde fragilmente houvera sem pensar
Histriônico gozo esgueira-se entre cruzes
Deixando um rito atônito aonde se buscara
Homérica epopéia, adentrando esta escara
Expondo no canteiro, abrolhos entre as urzes...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23939
Execrável caminho; humanidade trilha
Excêntricos, sutis, exacerbados ritos
Esguia criatura encilha velhos mitos
E nada do que fora, ainda vive e brilha,
A morte se expandindo aonde esta matilha
Expõe em dissabor os asquerosos gritos,
Os dias que tentara alçar bens infinitos
Morrendo neste tédio, a vida; uma armadilha
Lacustre placidez, apenas utopia
Herético e profano, o dito ser humano
Aonde se esperava até sabedoria
O rio desta foz, aos poucos já desvia
Da funesta heresia, estúpido me ufano
Traçando invés de paz, dor, incúria, agonia...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23938
Dos versos e versões violas e volteios
Aonde perseguira apenas os caminhos
Adentro sem saber os mais audazes ninhos,
E o sonho passarinho, explora novos veios.
Aonde se mostrara apenas meus anseios
Agora se moldando os dias mais sozinhos,
Expresso a solidão, em busca de vizinhos,
Mas nada tendo então, retorno aos meus receios.
Nos recreios de uma alma aonde em cristalina
Luz se imaginara a sorte que fascina
E nada tendo então, descrevo a sorte ausente
E bebo desta vida, uma amarga aguardente
Aguardando calado; a luz que me apascente
Enquanto o nada ter, deveras me ilumina...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23937
Austera maravilha em áurea luz composta,
Ascendo ao teu caminho, estrela radiosa,
E a noite se devassa e enquanto a deusa goza
Desnuda-se a beleza, e assim se mostra exposta.
Encontro neste encanto a mais plena resposta
E sorvo cada gota, esgoto a fonte airosa
Brilho espetacular, lúbrica e caprichosa
Num ar mais provocante alma orgástica posta.
Exímio timoneiro, o cais eu reconheço
E bebo desta mina até que saciada
Amante em luzes farta encontra na alvorada
Querendo desde já o insano recomeço
E ao lasso cavaleiro, enlaça-se a princesa
Acesa essa ardentia, a fera espreita a presa;
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23936
Suprema maravilha adivinhada em gozo
Moldando esta beleza, em tons argênteos claros
Flavos cabelos; tens. Destes matizes raros
Em sonhos divinais o encanto mavioso,
Aonde se mostrara um ar mais caprichoso
A brônzea e bela tez, dos solares amparos
Esboça-se suprema, aonde outrora amaros
Caminhos mais sutis, num ar voluptuoso.
Esgueiro-me na noite e adentrando teu quarto,
Da sílfide sublime, agora não me aparto
E bebo a claridade emanada de ti
Efervescência plena; esgota-se em si mesma
Minha alma seduzida; encanta-se e ensimesma
Sorvendo essa elegância expressa imensa, aqui...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23935
Deslumbra-me a Natura exposta nua e bela,
E quando em verso audaz expresso esta emoção
Numa ávida loucura a vida; ebulição,
Num átimo se entrega e a paz já se revela.
Aonde se tecesse a mais sublime tela
A sorte se emoldura e traz a explicação
Assoma-se a beleza incrível sedução
E esse corcel do sonho, amor deveras sela.
Adentro com meu verso o cenário sutil
Aonde se mostrara intensa a luz se viu
O brilho encantador, essencialmente raro
Na trama em dramas feita, o amor nos apascenta
E a chama que devora, em brasas violenta
Expondo num anseio, o amor que ora declaro...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23934
Delírio de um poeta, exposta em galeria
A vida não passara ainda do vazio
E neste vago tom estóico ainda crio
O quase que talvez trouxesse uma alegria,
As asas que não tenho; o sonho fantasia
E neste sonho eu vejo um mundo que desfio
Em verso e vastidão, num tom de desafio
Atrevo-me a pensar, sutil melancolia.
Exímio sedutor, o amor se maculando
Aflora-se em loucura o que já fora brando
E tudo não passando apenas de promessa.
O peso entesa as mãos e o tempo desampara,
Aclara-se em perdão, a sorte assaz amara
E a sanha desse encanto, em cantos recomeça...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23933
Voláteis sensações em asas libertárias
Presença anunciada, assaz maravilhosa
Encilho o meu corcel, anseio seda e rosa
Ascendo assim ao céu; em sinas procelárias,
Acesa essa luzerna expondo as adversárias
Excita-se em fulgor a ausência caprichosa
Das estrelas sutis, a sorte ensina e glosa
Cenário sedutor, espessas luminárias.
Escassas ilusões, a senda se desvenda
E sendo o que se sonha, assoma-se essa lenda
Em sombras o vazio expressa a solidão,
Mas servo dessa luz; sensíveis sons; escuto,
Excêntrica sonata; um ás sonoro e arguto
Essencialmente expõe estranha solução...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23932
Num êxtase profano, açoda-me o desejo
E beijo mansamente a boca que se expõe
O amor que fartamente amor cedo compõe
Permite mavioso orgasmo que antevejo.
Em coralinos tons, lençóis, sedas; prevejo
Uma explosão soberba e nela já se põe
Tecida em raro brilho, a luz que recompõe
Luar catuliano, um sonho sertanejo.
A senda sempre flórea esgota-se em tais dons
Na formidável noite, envolvem-me mil sons.
Hedônica loucura atraindo faróis
Em êxtase percorro a madrugada e insone
Permito que amargura, ao largo já ressone
Bebendo numa aurora a fúria feita em sóis...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23931
Láctea maravilha exposta em noite clara
Adentrando meu quarto; imensa alegoria
Poética ternura, uma alma fantasia
E o verso em luz intensa, imensidade aclara.
Brilhante sedutora, a lúdica ardentia
Qual fora perolada, uma jóia tão rara
Na sideral beleza o amor pleno declara
Na voz do sonhador, etérea melodia.
Plangência se denota em lúbricas canções,
Emaranhados tece a luz em tais visões
Versando em vários tons atônito cantor
Desnudam-se na noite, esplêndidos novelos,
Que simplesmente até, somente por revê-los
Revela-se o corcel denominado amor...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23930
Rebrilha em mansidão volátil luz, mas farta
Parábola descreve antes do tombo e queda
E quando no vazio a vida em vão se enreda
A sorte fragilmente a mente já descarta.
O quanto deste sonho a realidade aparta
Na mão que acaricia o olhar jamais se veda
Ruína da emoção, tempo enfim depreda,
Na manga se escondendo a derradeira carta.
Eclode a nebulosa e forma nova estrela,
Aportam-se sutis; as luzes. Ao revê-la
Lembrando-me venal do fogaréu intenso
Incendiando, inglório, arcando com terrores
Jamais eu julgaria antes de recompores;
Mas hoje ao te rever na solidão, eu penso...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23929
Imerso na loucura expressa em fantasia
Adentro o vago mundo aonde eu talvez fosse
Além de mero ser por vezes agridoce
O quase que em verdade em versos se recria.
Enlanguescidamente o olhar profano guia
E molda o que pensara um fóssil que se trouxe
Dum tempo feito em luz que agora em vão; findou-se
Tramando escuridão noturna alegoria,
Herético caminho algoz de cada passo,
Hermético desejo um rebuscado traço
Esgoto-me na fera, aguardo atocaiado
O quanto do que fora eu mesmo já desfaço,
E embora mais venal, arguto, porém lasso,
Escondo dentro em mim, as sombras do passado...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23928
Se queres inda ou não, que faço senão ir
Buscando a minha própria amarga desventura
Nas mãos de quem outrora eu percebera a cura
Somente este vazio estampando o porvir.
Mesquinho descaminho aonde prosseguir
Se enfim a tal desdita em lágrimas perdura,
A noite que me traz uma alma em treva, escura
Deveras já me impele; então devo partir...
Não deixo nem a sombra ou rastro que inda possa
Falar de uma alegria, antigamente nossa
E agora se mostrando em pálida expressão.
Do solo que julgara um fértil, doce abrigo
Encontro esta aridez, deveras não consigo
Sequer saber dos cais que os barcos não terão.
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23927
Já não suportaria o grande desafeto
Que tu me demonstraste ao negar a esperança,
E quando em mar sombrio uma alma enfim se lança
O gozo do passado, em mágoas, eu repleto.
Não pude perceber do outrora predileto
Caminho sobre o qual a vida já balança
E o tempo se transforma e sinto na mudança
O quanto que perdi no sórdido concreto
Granítica verdade esconde a fantasia
Enquanto no passado, estúpido trazia
No olhar torpe sorriso; agora lacrimejo
Expondo enfim tão nua a clara realidade
Sem ter sequer nas mãos a luz que ainda aguarde
O tolo caminheiro envolto num desejo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23926
Globalizado mundo e eu seguindo disperso
Ainda preso ao tempo insólito tutor
Penando por pensar se ainda existe amor,
Esqueço a realidade e volto ao velho verso.
E quando no passado adentro e sigo imerso
Volvendo a ter no olhar, diversa e opaca cor,
Quem dera se pudesse ainda no sol-pôr
Trazer para um soneto a luz deste universo.
Mas sei que na verdade, ultrapassado e velho,
Cadáver de um poeta, um vago escaravelho
Medonha criatura, em naftalina, eu guardo
A foto em preto e branco aonde me desnudo,
Empoeirado verso; eu sei quanto me iludo
Globalizado mundo: imenso e duro fardo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23925
Não posso me calar ao ver tantos desdéns
Aonde eu poderia um dia até compor
Um verso em que talvez dissesse de um amor
Embora na verdade, eu sei que não conténs.
Vendido numa esquina até por uns vinténs
O amor que me deste, incrível sedutor,
No fundo não valia e, mesmo tentador,
Já não traduziria os sonhos, raros bens.
Mesclando a realidade em tons fantasiosos,
Os versos que mandaste, eu sei tão mentirosos
Mergulhos num abismo; aonde se percebe
A podridão escusa em lágrimas e risos,
Apenas no final, enormes prejuízos
E o fim da longa estrada, uma espinhosa sebe...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23924
Tomado pela dor, em pleno esquecimento
Não pude prosseguir, vasculho meus guardados,
Os sonhos nada são senão dias mofados
Nem mesmo a poesia ainda traz alento
A quem já se perdeu; por isso não sustento
Com canto e fantasia, os tempos já passados,
Aonde eu poderia, entregue às sinas, Fados,
O mar que quis suave agora é turbulento...
No vento e na vertente aonde me envolvera
A Morte se aproxima e quando num desdém
A sorte nega o sumo e apenas vão contém
A vida se desmancha, a vela feita em cera
Ao fogaréu do gozo, expõe-se em louco cio,
Porém a realidade apaga algum pavio...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23923
O nada se apresenta e mostra o quanto em nada
A vida se transforma após a tempestade
A cada tempo eu vejo o quanto se degrade
Quem busca a solução há tanto abandonada.
Pudera ter no olhar a sublime florada,
Porém se no jardim a seca chega e invade
Não resta do que outrora imaginei verdade
Sequer algum perfume em flor despetalada.
Mesquinharias são comuns e recorrentes,
Atando-me em galés, algemas e correntes
Não posso nem talvez pensar na libertária
Manhã que não virá, pois sei da noite eterna
E enquanto me esvazio, a vida amarga inverna
O que pensara ser imensa luminária...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23922
Rasgando o coração; expondo a nu meu sonho
Em volta do que fora outrora uma ilusão,
Esgota-se em si mesmo, o gozo da paixão,
E nele cada verso em que me recomponho,
Abarco nesta noite o vago e tão medonho
Momento do vazio, exposto em explosão
Marcado pela dor, incrível sedução
Ao mesmo tempo em gozo um mar turvo e tristonho.
Açoda-me a borrasca e nela vejo ao fundo
Abismo sem medida e quando me aprofundo
Em água turbulenta a escuridão se faz.
Mascaro com soneto o quadro mais cruel,
Minha alma se tornando a torre de Babel,
Vagando sem destino; ausência busca a paz...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23921
Dizer do que sonhei em noites turbulentas
Ao mesmo tempo eu sei o quanto nada faço
Senão seguir o rumo e traço em cada passo
As horas mais sutis enquanto me apascentas.
Pudesse contornar estradas violentas
A sorte vai moldando usando o seu compasso
Um novo amanhecer, bisonho em cada traço,
Aguardo este final afastando tormentas.
Entoas com carinho as mais belas cantigas
A dor que me tortura enquanto desabrigas
Não deixa que eu perceba ao fim uma saída,
Eterno labirinto, o amor não tem respostas,
E quando nos retalha, as carnes sendo expostas
Traduz o sem sentido e nisto molda a vida...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23920
Nos versos me desnudo e mostro quem eu sou,
Protejo-me da fera a quem já me entreguei,
E moldo com palavra um templo em cada grei,
Aonde tanta vez, a sorte me encontrou
E quando me pergunto, esqueço se inda vou,
Mas tudo na verdade, é como eu te falei,
A poesia é ópio e traça a própria lei,
Anárquica e sensata, eclode em “body and soul”.
Vagando sobre o tema, aonde poderia
Vestindo a minha pele, apenas fantasia
Ou mesmo andando nu à noite na calada,
Metáfora, lirismo, expressão do não ser
Nas mãos com ironia, a vida ao bel prazer
Do tudo que não pude ao mais provável nada...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23919
Olhando neste espelho eu vejo o que em verdade
Talvez até pareça a ti um pedregulho,
E quando ensimesmado eu busco num mergulho
O quanto a vida traz e até já não agrade
A quem procura a paz, ausente realidade,
Poeta sem critério; expresso-me no entulho,
Mas sei que disto tudo, ainda sinto orgulho
Por mais que nada veja; a luz assim me invade.
Eu quero ser somente um velho passarinho
Voando mansamente em busca de algum ninho,
Se tudo o que já fiz um nada representa,
Essencialmente sou; deveras, um poeta
E tendo a fantasia uma ardilosa meta,
Por onde há calmaria, uma onda violenta.
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23918
Eu sei que cada verso; uma expressão de dor,
Traduz a mesma história em repetidas cenas,
Assim ao prosseguir expondo minhas penas
Repito na verdade, a luz do desamor.
E quando novamente um novo amo, compor,
Enquanto em calmaria, eu sei que me serenas
As noites voltarão a serem mais amenas,
E assim continuamente espinho dita a flor.
Excêntrico caminho, amor não mais suporta,
Na mansidão abrindo e expondo qualquer porta
Permite ao andarilho a paz de um tenro abrigo.
Tempestuosamente a vida não se acalma,
Num ir e vir contínuo expressando minha alma
A paz tão necessária, insano, eu não consigo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23917
Crisântemos, jasmins, verbenas, violetas
Canteiros da esperança; aonde eu cultivara
A flor mais desejada, a orquídea bela e rara,
Apenas aridez; nos dias que prometas
Além deste vazio, as cores dos planetas
No infinito sonho, a sorte não me aclara
E o tempo se escoando, aos sonhos, desampara.
Descrevendo este nada, empunho estas canetas
E sei que na verdade ao fim, a solidão
Tomando cada espaço, as nuvens que virão
Trarão a tempestade e nela o vento frio.
Medonha fantasia, escombros do que fui,
Castelo de esperança, ao vendaval se rui
Daninhas ervas, urze; apenas o que eu crio...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23916
Durante a minha vida; amenos dias; tive
Mas quando conheci a deusa feita em luz,
Beleza que envolvente, aconchega e produz
Incandescência e brilho; eu já não me contive.
Eu sei que quem deseja o amor que inda não vive
É como um tolo louco, às vésperas da cruz,
Como algum doente aguarda pelo SUS
Vivendo de um passado embora nunca estive.
Arcar com o delírio imposto pelo amor
Sem nada que receba; o que mais vou propor?
Seguir em manso passo em pleno temporal?
Não posso mais conter a lágrima e o anseio,
O dia que virá; a sorte que receio
O medo em cada olhar, insano ritual...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23915
Enlouquecido sigo os rastros que deixaste
Ainda não consigo a plena liberdade
O amor quando demais, eterna e firme grade
Causando a quem deseja a dor feita em desgaste
E a luz quando na treva encontra-se em contraste
Percebo que perdendo aos poucos qualidade
A vida é como um mar que uma alma cega nade
Mordaz, sem poesia, assim o que legaste.
Insânia se entornando, apenas um tormento
Aonde imaginara a paz procuro e tento
Encontra um vestígio e nada me responde.
No quanto ainda posso, uma alma vaga crê
Procuro cada rastro, em vão busco e cadê?
Estrela vida ou morte; eu teimo, mas aonde?
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23914
Meus versos deste amor apenas são escravos,
E quando renegado, esqueço a própria vida
No imenso caminhar, a rota já perdida
Aonde quis roseira, apenas lírios, cravos.
Invés de um riso manso, ausentes desagravos
Adentra-me o vazio, a paz sempre esquecida,
Mortalha se prepara em lágrimas tecida
Do lago em placidez, mares em fúria, bravos;
Assim não poderia então pensar que tudo
Não fosse; na verdade, aquém do quão me iludo
Podendo-me despir do que fora ternura.
Usando o mesmo luto; eterno companheiro,
E quando do vazio, em trevas eu me inteiro
O rio sem ter foz, na lástima eu perduro...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23913
Num último suspiro, as dores e alegrias
Se dicotomizando expõem nossa nudez
E dela se percebe, a própria insensatez
Conforme em outro tempo, ainda proferias.
No quanto se demonstra em vagas profecias
O todo que na vida em momentos se fez
Permite-me dizer além do que tu crês
A sideral beleza em luzes, fantasias.
Assíduo navegante em meio aos temporais
Perguntas sem resposta, ausente ou parco cais.
Satânico caminho ou lúdica esperança?
Só restando de tudo, a mesma indagação
Se luz ou treva, cor. Aos dias que virão
O olhar ensimesmado à dúvida se lança...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23912
Do amor que nesta vida ainda desfrutara
Vivendo em poesia a sorte de te ter
E nela com loucura, um grã, doce prazer
Comendo desta fruta amena e sempre rara.
No beijo que me deste o amor já se escancara
E molda este futuro expresso em manso ser
Vivenciando assim o quanto posso crer
Na fonte que não cessa e traz uma água clara.
Potável caminhar em luas, prata e sol,
No encanto deste olhar, a fúria de um farol
Que embora em noite escura; emite em tons brilhosos
A cândida delícia em versos desnudada
Trazendo em claridade, a bela e terna estrada
Num átimo desfia em tons voluptuosos...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23911
A luz que assim se emana expressando a raiz
Demonstra em tons suaves o quanto prazeroso
É ter nas mãos o fogo e nele o próprio gozo
Momento auspicioso aonde estou feliz.
A base demonstrando o que deveras quis
Por mais que isto pareça um pouco caprichoso
Esqueço-me da fera e bebo o majestoso
Caminho sem tocaia, o céu em seu matiz.
Por vezes me defendo usando da palavra
Que quem com tal denodo; aguarda e sempre lavra
E tendo em mansidão a fonte quase lúdica.
Do amor que sei divino e mostra-se tranqüilo
Por onde o caminhar na paz que ora desfilo
Deixando para trás o tom feérico e lúbrico...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23910
Nascemos e depois em ritmo alucinante
A sorte nos conduz à mera persistência
Tomando por exemplo a própria resistência
O tempo prosseguindo, agora, ontem e avante.
Tampouco feito um livro esquecido na estante
O gozo de um prazer, e nele a penitência
Do quanto se transforma e molda-se a ciência
Um rito que denota o quanto é triunfante
O parto que refaz o riso após o pranto
E nele com certeza, ainda um raro encanto
Do qual se tem o brilho após a noite escura,
Essencial caminho aonde se percebe
O variável tom expressa o rumo e a sebe
Aonde imagem turva ainda assim perdura...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23909
A carne se apodrece e dela se refaz
A vida que dá vida e morte ressurgida
Após o que seria apenas simples vida
E da continuidade eternidade traz.
Não posso mais negar, por ser um incapaz
Esta verdade plena em norma concebida
Uma existência clara embora construída
Por sobre base opaca extrema unção da paz.
Urdindo em dor e pranto a etérea e vã matéria
Em átomos composta eternamente. Espere-a
E verás depois disso o quanto ainda existe
Num infindável ritmo expressa-se a verdade
Que a cada renascer incorporando invade
E sobre a Terra a vida, em vida sempre insiste..
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23908
Deveras proibindo algum grande prazer
É que se, escravizando assim se tem domínio
E desta forma vejo aquém de algum fascínio
A história do pecado e aonde me faz crer
Que após a liberdade existe algum poder
E nele a realidade um fogo traz. Domine-o
E tudo será teu. Pois então; incrimine-o
E terás com certeza o que não podes ter
Usando da razão, espécie em extinção
Vagando sobre tudo, o amor feito em perdão.
E nisto se moldando um mundo mais complexo.
A Igreja soberana impede desta forma
Já que comer, beber; são da existência, norma,
Mais fácil proibir o prazer feito em sexo.
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23907
ETERNIDADE
Para muitos um conceito meramente filosófico
Que transcende o espaço e não se mede pelo tempo
Seu verdadeiro sentido é sublime e *acrosófico
Debatê-lo é envolver-se num terrível contratempo.
Ela é antes do princípio e seu fim é inexistente
Nada há que a supere, nem sequer por um momento:
Ela é da mesma essência que o Deus Onipotente
Pois, Ele é antes de tudo; e é maior que o firmamento.
Do infinito ela é a linha que flui de forma eterna
Sem sucessão de momentos, sem sofrer alterações
Atrelada ao próprio tempo, ela é mui subalterna.
Sobre o assunto eternidade, não cabe comparações
Pois o tema é mui profundo e de beleza superna
Que encanta nossas almas e os nossos corações.
*acrosófico: palavra derivada de acrosofia cujo significado é: a
suprema sabedoria, a sabedoria divina, portanto, no soneto traz o
sentido de ligado à suprema sabedoria; à sabedoria divina.
NATHANPOETA. Abraços
Nossa fragilidade expressa em lusco-fusco
Ausência de resposta e dúvida, deveras
Desde o nosso principio em belas primaveras
O mundo se mostrando aquém do que inda busco.
Por vezes mansidão esconde um ato brusco,
Ainda, na verdade eu sei que somos feras
A morte após a morte em morte degeneras
E neste ato contínuo, eternidade; ofusco.
A vã filosofia emana um ar sombrio,
E nela a fantasia, aonde eu me recrio
Permanecendo nua, a pele quase edênica.
Comemos desta fruta e nada respondemos,
Ciência não nos veste e assim permanecemos
A fé ou esperança, etérea ou ecumênica...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23906
Por vezes me pergunto aonde encontro a paz
Um velho marinheiro, ausente de seu cais
Espera pela sorte, e teme o nunca mais,
Aonde fora outrora intrépido e voraz
Agora simplesmente, o medo vivo traz
Deixando para trás momentos magistrais
O porto da esperança, ondas fenomenais
E o encanto que a sereia entorna mais audaz...
Eu sei que na verdade existe algum remanso
Após a tempestade, e nele ainda alcanço
Momentos de prazer e glória feita em luz.
No amor que tanto quis, e sei que me domina
A luz que ora me guia, expressa a doce sina
E leva o marinheiro, ao porto que é Jesus...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23905
Dos erros que cometo a dor penitencia
E trago ainda aberta a escara terminal,
Aonde imaginara um dia triunfal
Apenas encontrei amarga fantasia.
Pudesse renascer um pouco a cada dia
Traria em meu olhar o sonho sem igual
Da vida que, refeita, expressa a magistral
E rara divindade à qual em luz se alia.
Mas sei que nada disso é possível, amigo;
E quando em desespero aquém do que persigo
Encontro tão somente uma resposta vaga
Não posso mais deixar que tudo fique assim,
Expresso o meu desejo e esqueço se há um fim,
E o brilho da esperança, ainda vem e afaga...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23904
A cada anoitecer o sonho que transporte
Levando ao nada ou tanto o quanto que inda resta.
A sórdida lembrança, às vezes tão funesta
Ou mesmo a maravilha expressa em rara sorte.
Assim num ir e vir, o medo diz da morte,
A vinda do futuro, o quanto que se gesta,
Numa aridez do solo aos vastos da floresta
O início de uma vida, o trágico que aborte.
Morfeu a divindade em suas variantes
Transporta a eternidade em poucos, vãos instantes
E tudo se refaz após o amanhecer,
Excêntrica loucura, insânia poderosa
Em luz ou pesadelo, em pântanos, a rosa
Sendo fuga ou resposta expondo ao sonho o ser.
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23903
Ainda nos restando o gozo genesíaco
De um éter que se faz ao éter que voltamos,
E quando perceber, dos arvoredos, ramos,
As forças deste signo, expressas no zodíaco.
A sorte se mostrando um bom afrodisíaco
Dizendo do que em vida, ainda desfrutamos,
Por mais que alguma vez; dispersos relutamos
Numa ânsia temerosa, espasmos de um cardíaco.
E assim ao vermos logo em fogo, em espetáculo
O que se fora vida, apenas um obstáculo
Que meramente é posto aonde prosseguimos
E nisto se percebe a formação do eclipse
Embora se prepare o fim no Apocalipse
Tosca mesquinharia enquanto nos ferimos...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23902
Abortar a esperança é como se perder
No oceano sombrio envolto por neblinas,
E quando a sorte; assim, deveras assassinas
É como em plena vida, a morte do teu ser.
Ainda nos restando após o nada ter
Seguras pelas mãos, as fontes cristalinas
Das quais mesmo não vendo etéreo sol dominas
E chegando ao final, decerto renascer.
Dispersa fantasia uma esperança traz
No front desta batalha a doce e mansa paz
Supera a barricada e avança destemida.
Não teme a turva treva e bebe os dissabores,
Por isso esteja atento, e por onde tu fores,
Mantenha-a,pois nela existe a própria vida...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
23901
A vida após a morte, um sonho e nada mais?
Dúvida eterna; algoz de nossos pensamentos,
Grandes Olimpos, Céus; ou excrementos?
Ínfimos seres ou figuras magistrais?
Há um Deus, respondo. Entes originais.
E nós? O que dizer? Movido a sentimentos
Procuro que me dê ao menos tais alentos,
Eternidade após ou mero nunca mais?
Traçamos nossa história um pouco a cada dia
E nisto prosseguir até que chegue o fim,
Edênica loucura, imensidão; Jardim?
Ou vazio absoluto; uma alma se esvazia,
E a dúvida persiste, e um vago som se lança
Restando tão somente, a força da esperança...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 31, 2010
Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
24006
Não sou o teu tutor também vou sem tutela
A boca que me beija e morde em desvario
Enquanto noutro tanto encantos eu sacio
A sorte atropelada em lástimas revela.
O tempo se faz canto e barco trama a vela,
O parto que se deu jamais fora vazio
E quando o temporal, eu bebo e desafio
A morte sobre a mesa, emoldurada tela
Acendo o meu cigarro em fumo vou morrendo
Talento; eu nunca tive. Apenas um adendo
Adentrando a verdade invade o livre gozo.
O cheiro da comida espalha-se na casa
Fogão à lenha é claro acende gosto e brasa
E o verso que fizeste; amor, maravilhoso...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
24005
Sem sempre nem talvez; quem sabe faz agora
E o gosto da vitória espalha aos quatro ventos,
Por onde andaria houvesse em pensamentos
O quanto se tecia em versos sem demora,
O que não cabe tanto; e a vida ainda implora
Dizendo sem saber dos velhos sentimentos,
Não quero meu amor ainda os teus lamentos
Se não vieres já melhor eu ir embora.
Sou mero repentista e assim vou me virando
Se tudo cair bem, as aves noutro bando
E o contrabando diz do quanto não comprara
Se eu fosse como um rio, aceito o desafio
E neste enovelado eu quero e me desfio
Fazendo desta vida a jóia bela e rara...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
24004
Fomento sem fermento o tanto quanto atento
E vivo este destino audaz e cristalino
Aonde na verdade o que não sei ensino
E encilho o meu corcel chamado pensamento,
Vivera por viver e só neste momento
Ainda sem ter rumo entranho e me alucino
Do beijo que me deste ao recordar, menino
Fazendo do meu verso apenas desalento
O vento em temporal, atemporal medida
Numa intempérie tola eu compor e faço a vida
Audaz e desmedida, ao léu um andarilho
Bebendo deste pó aonde quis estrada
A lua se deitando e a Terra iluminada
Dizendo deste encanto aonde em canto trilho.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
24003
Pecado não é ter bem menos do que espero
Apenas se preparo o gozo triunfal
Fazendo do viver eterno carnaval
Aos poucos sem caminho eu já me desespero,
O brado que soltaste, ao menos bem mais fero
Arguta maravilha espera sem igual
O mundo se prepara ao velho ritual
Navego mar imenso e nele me tempero
Salgando a fantasia apenas fui gentil
Dizendo que este senso há muito tempo viu
O pré adentra o pós depois quer gradação
Azeda-se o futuro aonde fiz meu bote,
Não tendo mais quem queira ainda que se adote
No fim sobra a rasteira e as quedas que virão...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
24002
A dor se faz tanta
E trama decerto
O mundo deserto
Que já desencanta
Uma alma que canta
Seu rumo eu acerto
Estando por perto
O amor me agiganta
E sei dos sabores
Por onde tu fores
Irei te seguir
Na noite vazia
Amor fantasia
Um manso porvir...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
24001
O meu verso triste
Falando de amor
Que vem se compor
Aonde inda existe
E sempre resiste
Mais forte o temor
Do espinho e da flor
Deveras insiste
Bebendo da sorte
Que tanto conforte
O forte e ao fraco
Buscando este cais
Em sóis magistrais
Aonde eu atraco...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
24000
Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisão se erguia
Apenas entre nós - e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela...
Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!
Como era doce aquele seio arfando!
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!
Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando...
Cheio de amores! E dormir solteiro!
Álvares de Azevedo
Pudesse ter a sorte ainda mesmo apenas
De ter em minhas mãos aquela a quem amando
Percebo que talvez, trazendo um dia brando
Não deixe se perder, as noites que serenas.
São poucas, na verdade, as alegrias. Condenas
Quem se faz sonhador e tendo assim se desviando
Do velho caminhar que escapa-te ao comando
Mudando desta peça; antigas, velhas cenas.
Assim não poderei sequer falar do sonho
Aonde mergulhara e dele inda componho
Os versos que ora trago a quem desejo tanto.
Falar de estrelas, lua e não se perceber
Este gozo absoluto e imenso de um prazer
É deveras morrer em vida, sem encanto...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23999
XVIII
Dormes... Mas que sussurro a umedecida
Terra desperta? Que rumor enleva
As estrelas, que no alto a Noite leva
Presas, luzindo, à túnica estendida?
São meus versos! Palpita a minha vida
Neles, falenas que a saudade eleva
De meu seio, e que vão, rompendo a treva,
Encher teus sonhos, pomba adormecida!
Dormes, com os seios nus, no travesseiro
Solto o cabelo negro... e ei-los, correndo,
Doudejantes, sutis, teu corpo inteiro
Beijam-te a boca tépida e macia,
Sobem, descem, teu hálito sorvendo
Por que surge tão cedo a luz do dia?!
Olavo Bilac
Adormecida está maravilhosamente
O amor que em palidez encontro em lua clara,
A voz doce e serena, uma paixão declara,
Marmórea lividez um gozo audaz pressente.
Alabastrina tez, um ar quase dolente
Jogando-me aos teus pés, a vida enfim se aclara,
E tens em tua face alvura bela e rara,
Queria ter talvez o amor que me apascente.
Escuto a voz da noite em meio aos vários cantos,
Noturna melodia; a profusão de encantos
E a sorte se afastando a angústia de saber
Que estás aqui presente e não posso tocá-la,
A luz deste luar ao invadir a sala,
Trazendo em solidão, vontade de morrer...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23998
Pede o desejo, Dama, que vos veja,
não entende o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado,
que quem o tem não sabe o que deseja.
Não há cousa a qual natural seja
que não queira perpétuo seu estado;
não quer logo o desejo o desejado,
porque não falte nunca onde sobeja.
Mas este puro afeito em mim se dana;
que, como a grave pedra tem por arte
o centro desejar da natureza,
assi o pensamento (pola parte que
vai tomar de mim, terreste [e] humana)
foi, Senhora, pedir esta baixeza.
Luis de Camões
Amor sidérea fonte aonde em luzes fartas
Em vagas a plangência; expressa-se em luzernas,
As horas sendo assim somáticas e eternas
Etéreas ilusões, das quais jamais te apartas
Hedônica beleza, as mesas entre as cartas,
As sortes se lançando, excêntricas e ternas
Mesmo se estás ausente, eclética me externas
Intrépida loucura impede que tu partas.
Constelares ardis; exemplas sutilezas
Velada voz avisa as ânsias das riquezas
Que sei em ti encontro enquanto em cantos tento
Há tanto que me encanto e teimo em ser feliz,
Vontade audaz e férrea incita o que se quis
Prismáticos cristais, diamantino alento...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23997
MONJA
Ó Lua, Lua triste, amargurada,
Fantasma de brancuras vaporosas,
A tua nívea luz ciliciada
Faz murchecer e congelar as rosas.
Nas flóridas searas ondulosas,
Cuja folhagem brilha fosforeada,
Passam sombras angélicas, nivosas,
Lua, Monja da cela constelada.
Filtros dormentes dão aos lagos quietos,
Ao mar, ao campo, os sonhos mais secretos,
Que vão pelo ar, noctâmbulos, pairando...
Então, ó Monja branca dos espaços,
Parece que abres para mim os braços,
Fria, de joelhos, trêmula, rezando...
Cruz e Souza
Amor que tanto amor nos traz e neste encanto,
Mudando num momento, o rumo ao qual o Fado
Entrega-se por certo, um tempo mais amado,
Vivendo tão somente em busca deste canto.
Tendo-vos como a dona à qual eu me agiganto
Já não comportaria amargura, dor e enfado
Aonde o Amor se entrega e deixa no passado
O amargo sofrimento, a dor, o medo e o pranto.
Eu ser-vos-ei então Senhora em magistrais
Momentos qual um servo a quem vós desejais
Seguindo vosso passo; os rastros sendo guias
Lavrando em solo bom; certeza de colheita,
Minha alma enamorada, então em vós deleita
Servindo ao servidor, Amor diz poesias...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23996
Plenilunio
Desmaia o plenilúnio. A gaze pálida
Que lhe serve de alvíssimo sudário
Respira essências raras, toda a cálida
Mística essência desse alampadário.
E a lua é como um pálido sacrário,
Onde as almas das virgens em crisálida
De seios alvos e de fronte pálida,
Derramam a urna dum perfume vário.
Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctâmbula do Amor,
Eu, noctâmbulo da Dor e da Saudade.
Ah! como a branca e merencórea lua,
Também envolta num sudário - a Dor,
Minh'alma triste pelos céus flutua!
Augusto dos Anjos
Eu trago dentro da alma a solidão de quem
Durante a vida inteira à espera de um carinho,
Mortalha feita em dor; prossigo tão sozinho,
Olhando com cuidado, eu sei que ninguém vem.
Mergulho no passado e sinto a voz de alguém,
No encanto deste canto entrego-me, mansinho,
E quando em farto brilho, eu deito e já me aninho,
O sol adentra o quarto e não vejo ninguém...
Uma alma entristecida aguardando o final,
A lua se deitando e pálida; invernal
Expõe minha nudez e assim enlouquecido,
Percebo o quanto a dor espalha-se em meu quarto
E quando da esperança, ao fim eu já me aparto,
Eu penso que é melhor não ter sequer nascido...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23995
Crisântemos
Sombrios mensageiros das violetas,
De longas e revoltas cabeleiras;
Brancos, sois o casto olhar das virgens
Pálidas que ao luar, sonham nas eiras.
Vermelhos, gargalhadas triunfantes,
Lábios quentes de sonhos e desejos,
Carícias sensuais d´amor e gozo;
Crisântemos de sangue, vós sois beijos!
Os amarelos riem amarguras,
Os roxos dizem prantos e torturas,
Há-os também cor de fogo, sensuais...
Eu amo os crisântemos misteriosos
Por serem lindos, tristes e mimosos,
Por ser a flor de que tu gostas mais!
FLORBELA ESPANCA
Nefasta humanidade expondo-se deveras
Qual fora a flor pisada, amarrotada sorte,
Aonde poderia, apenas vejo a morte,
E o eterno renascer das pútridas panteras.
Carcaça do que fui, aquém do que inda esperas,
Mistérios mais sutis, a podridão do aporte
Por mais que isto te estranhe é gozo que conforte,
Ascendo ao nada ser, e volto às tais quimeras.
Efêmero e funéreo açoda-me o desejo
De ser eterno enquanto a morte que prevejo
Moldada num escárnio esgota-se em jardins.
Crisântemos já murchos; encontro lírios, cravos,
Meus dias do temor, ainda são escravos,
Dos vermes que virão, vidas feitas dos fins...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23994
Vencido pelo medo escapo do massacre
A vida se perdendo, um pouco a cada instante,
Vivesse sem temor amor belo e constante
O mundo não teria este sabor tão acre.
Alardeio o vazio; a porta sem o lacre
Permite que se adentre um gélido e alarmante
Terror sem ter medida e embora eu me agigante
Não tendo mais a força e ninguém que ela lacre.
Um velho camponês lavrando a terra
Espera que a semente frutifique,
O barco que navego vai a pique
E a solução decerto, o tempo enterra,
Herdando esta vereda árida e estéril,
Estou amiga morte, ao seu critério.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23993
Pudesse apenas ter alguma fantasia
Aonde se pensara a glória de uma vida
Por mais que nada valha, a sorte permitida
Não me deixa pensar no vago que se cria.
À sombra do arvoredo, imagético dia
Batalha se mostrando, há tempos aguerrida,
Não vejo mais aonde eu possa ter saída
Se não consigo agora o amor a quem daria
Além deste momento, a própria eternidade,
Porém o sentimento escapa e quando evade
Sombrios rastros; deixa, em dor e sofrimento.
Pudesse ter o riso e nele esta esperança
De haver um Paraíso ao qual amor se lança,
Sem ter qualquer notícia, insano eu me atormento...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23992
Não há gozo eu bem sei nestes mundanos bares
E neles eu entranho o que fosse prazer,
Sabendo desta sorte, enfim, melhor morrer
Ou tentar prosseguir aonde tu andares.
Porém fazendo assim, das ruas meus altares
Somente a noite fria; ainda eu posso ver
Bebendo da aguardente amarga do sofrer,
Em plena treva busco os brilhos e os luares.
Andasse com ereta e firme compleição,
Quem sabe encontraria, no inverno este verão
Que tanto anseio agora e sei que não virá.
Andante e sem destino, um bêbedo sem rumo,
Se às vezes o meu erro, aceito e até assumo,
Espero em meu futuro, a terra, a enxada e a pá....
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23991
Ouvindo nesta sala ainda este rumor
Que apenas na verdade, em minha mente existe,
Um coração atroz, em lágrimas resiste,
Mas sabe muito bem o quando dói o amor.
Espero a cada instante o brilho multicor,
Porém o que fazer se andando sempre triste,
Apenas no vazio a vida inda consiste
E nada mais teria amor a te propor
Senão um canto amargo aonde se revela
O medo do futuro. Adentro uma capela
E peço então perdão, meus erros foram tantos…
Engodos de quem quis e não podendo ser
Um dia, mais feliz, a Deus peço poder
Fazer desta emoção, suaves, doces cantos...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23990
Minha alma sendo triste expressa em poesia
O que mais poderia entoar; coração.
Vivendo do passado, as coisas que virão
Uma alma sem futuro, ainda se esvazia
E bebe a solidão e nela se recria,
Formando do que fora, apenas ilusão
Um mundo onde talvez houvesse solução
Que jamais poderei encontrar na alegria.
Servindo ao que melhor ainda tenho aqui,
O tempo não voltando, o dom eu já perdi
E sei da lua exposta em noite sertaneja
Ponteio esta viola e beijo o vento amigo
Romântico cantor, a luz enfim persigo,
Porém uma alma triste insiste e não deseja...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23989
Não vou ficar aqui fazendo picuinha
Se tudo vale à pena, uma alma se apequena.
Mas quando a noite surge e vem bem mais amena
Num colo bem gostoso, o coração se aninha.
Mas quando estou birrento a razão sempre é minha,
A sorte é que o calmante aos poucos me serena
Senão tanta besteira, ao fim só me envenena.
Não vou chamar de galo aquilo que é galinha.
Depois neste poleiro, apenas sou pintinho
Sujeito lá da roça um pobre analfabeto,
Não pode te dizer o que é ou não correto,
E então vou me mandando, amigo, de fininho,
Se a bola que ele joga, eu falo que é quadrada
A trova se eu quiser; SONETO, apelidada...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23988
Buscando ter na sorte o olhar mais delicado
De quem se fez poeta e tenta estar liberto,
Se o rumo que me deste aos poucos eu deserto
Não posso reclamar ou culpar o meu Fado,
Apenas vou falar o que melhor achado,
Machado em arvoredo é bom ficar esperto,
Não venha me dizer: portão estando aberto
Convite para a fuga, e o que faço sem gado?
Neruda quando fez sonetos em falsete,
Vontade desgraçada é de dar um cacete
Neste chileno imenso, eu sei lá qual motivo
O fez agir assim, preguiça ou simples birra?
Traje de gala, amor; não se amarra co’embira;
Mas deixa isso pra lá, senão disto eu me privo...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23987
Neste ultramodernismo, arcaico e ultrapassado
A figura que eu vejo, a mesma caradura
Que há tanto se disfarça e bebe a noite escura
Qual fora um bom caminho, eterno e iluminado…
Cadáver execrado, estúpido e fadado
Ao fim de certo tempo, enquanto ele perdura,
A ter o seu cantar que é como uma tortura,
Aos poucos, estou certo, enfim desfigurado.
Eu sei que vão dizer que é muito para o pouco
Que represento até falar qual fora um louco,
E criticar o que se fez ser liberdade
Sem métrica, sem ritmo, apenas por ser feito,
Não dá sequer senhor, a ti qualquer direito
Denominar soneto ou o que melhor te agrade.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23986
Excêntrico cantor cantando em doce tom,
Falando de um amor ou mesmo deste adeus,
Aonde se pudera em sonhos teus e meus,
Tramar uma ilusão de um mundo sempre bom.
Não posso disfarçar neblina com neon,
Tampouco me fazer um quase semideus
E crer num mundo aonde a luz impeça os breus,
Poeta; um fingidor? Mas não tenho este dom.
Um mero repentista assiste sempre inquieto
A morte do embrião, aborto deste feto
Que agora ao chão tão duro, em lágrimas se lança
Deixando para trás o que pudera vida,
E vendo assim a sorte, em podridão urdida,
Não quero ter ausente o quer resta: esperança!
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23985
Embora te pareça, eu sei que não só trago
Amargor dentro da alma, e posso até pensar
Que a tal felicidade estende-se ao luar
E nela eu já concebo o doce e bom afago.
Quisera num momento apenas ser um mago
Alquímica loucura, expressa num cantar
Permite que se creia e possa-se entregar
A um mundo bem melhor, sem perda e sem estrago.
Quisera ter ainda o velho e bom lirismo,
E não crer tão somente em queda, fim e abismo,
Porém nada adianta um verso que se cale,
Ou trame a fantasia, aonde a dor se esconde
Perdoe se não posso; ainda não sei onde,
Falar de melodia amena que te embale...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23984
Possível se falar de um amor tolo e mundano
Se tudo o que percebo expressa o fim da vida.
A espécie, do Senhor, a mais nobre e querida,
Volvendo o seu olhar imundo e tão profano
Causando ao próprio Pai, a cada dia um dano?
Bem que eu queria em versos, a aguerrida
Paixão que nos domina e traz adormecida
A fera que se pensa, o ser mais soberano
E expõe o mais divino e belo que inda resta
Na imagem derradeira, amarga e assim funesta
Do ser que se fez dono, apesar de não ser
De toda a Natureza e o que dela se emana,
Primata incoerente, uma alma dita humana,
Hedônico animal, só pensa em seu prazer...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23983
Tal monstruosidade, um bípede falante
Que se fez o senhor dos outros animais
Enfrenta a brava fera em toscos rituais
Se fazendo mais fera a partir deste instante.
Demônio que encarnado, um podre diamante
Em momentos; capaz de coisas magistrais,
Em pouco tempo expõe os féis que derramais,
Eu vos peço Senhor, que o tempo se adiante.
E o fim que se demora, agora seja feito,
E nele a realidade além deste imperfeito
E vago ser audaz, um canibal voraz
Engodo capital que Vós não percebeis
E que destrói agora, as vossas belas greis,
Após esta atitude, a Terra volta à paz...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23982
A criação se fez em tons maravilhosos
E assim se perdurando até que num momento,
Do barro feito lama, eis que surge excremento
Tornando o tempo calmo, em ritos prazerosos
Aquém do que já fora, antes dos caprichosos
Motivos pelo qual, também eu me atormento
Buscando depois disso, a Deus como um alento
Após ter concebido engodos volumosos.
A rota humanidade imiscuindo a morte
Aonde poderia haver somente o aporte
De divinal beleza além do que se espera,
Mas traz nos olhos sempre a marca do demônio,
Guiado pela fúria expressa em cada hormônio
Devastação completa. Agrada ao Pai tal fera?
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23981
Dos elementos tais que formam cada parte
Deste completo e vago andante ser humano
Por vezes qual fantasma, estúpido me ufano,
E para a fantasia, o fantoche já parte,
A vida se renova e feita pro descarte
Não deixa, meu amigo, haver sequer engano,
Um ínfimo fantasma autor de perda e dano,
Teimando; da Natura, expressar como uma arte
A decomposição da qual autor funesto,
Aos olhos do Senhor, eu sei e disto atesto,
Pudera ter a chance e ter a eternidade.
Mas quando me poluo e assim fazemos todos,
Chafurdando este verme envolto pelos lodos;
Queremos que, depois, de nós o Pai se agrade?
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23980
Absorvendo assim infernos, céus e ritos,
Não me vejo retratado em nenhuma faceta,
Apenas quero ser talvez como um cometa,
Deixando em paz e nus, os velhos, torpes mitos.
A voz já se perdendo em busca de infinitos
Aonde quero o fim, o resto que arremeta
Pedaços do que fui, sem nada que prometa
Além deste momento, envolto em sóis bonitos.
Asquerosa figura andando sem destino,
Esgoto feito em alma, amarga criatura
Que tanto já se deu, e assim, inda perdura
Olhando este horizonte, o quanto eu me fascino
Permite-me pensar na vida como um fato
Além da eternidade, à qual em sonhos me ato. (mato?)
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23979
Contrastes que percebo e teimo em relutar
Vencida cada etapa o fim já se aproxima,
Aonde ainda havia as sombras de uma estima
A vida não suporta e deixa-se levar.
Sonhara, pois poeta, em luzes e luar
A perfeição suprema, extrema de uma rima,
Mas quando vejo a vida em outro, vário clima,
Não posso me furtar, tampouco me calar.
Ao exemplificar o que talvez não caiba
Nem nos versos, sequer mesmo eu não saiba,
Mas sinto ainda viva a imagem de um passado
Deixado por acaso, exposto na vitrine,
E quando vejo o amor, que amor já descrimine
Percebo quão se torna agreste e seco, um prado...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23978
Aonde imaginara apenas um jardim
Eu vejo destroçado o solo que eu arava
E tudo o que eu queria, aos poucos desabava
Dizendo do vazio aonde e quando eu vim.
Coincidência estranha, a vida é sempre assim,
O vulcão da esperança esconde, cedo, a lava
Minha alma sem saber, de outra alma segue escrava
E nisso acendo então, da bomba um estopim,
Fluindo com ternura um verso poderia
Dizer desta ventura, amena fantasia,
Mas nada do que penso; expressa a realidade.
Augusta melodia, ao longe, quando a ouço
Trazendo na memória, um velho calabouço
E esta melancolia – amiga – não se evade...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23977
Sentindo este sarcasmo exposto no teu rosto
Após a tempestade, a calmaria é sonho,
Se quando faço um verso eu mesmo me proponho
A deixar muito claro o que sou quase exposto,
No fundo prosseguindo embora decomposto,
Não posso me furtar ao ver quão é medonho
O mundo que criaste; o mesmo, onde risonho
Teimara no passado, em ver suave gosto.
Agora se não tenho ainda um porto manso
E mesmo se tivesse; a sorte eu não alcanço
E avanço pela noite, estrada mais sombra
Na falsa luz que encanta e finge-se de lua
A sanha sem proveito, apenas continua
Do nada ao nada feito, o nada se recria...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23976
Pudesse te falar sem medo e sem pudor
Do quanto nada vale o amor sem ser cuidado,
Jardim há tanto tempo estando abandonado
Permite que um abrolho espalhe invés da flor.
Eu vejo o meu futuro e nele a se compor
Um dia bem diverso; escondendo o passado
Podendo sim ou não, te ter aqui do lado,
Não importando então ser tens algo a propor.
O que fizeste deve analisar-se bem
Talvez já não se importe o que faça ou convém,
Convento da ilusão, amor se mostra a nu.
Mas tudo na verdade expõe um passageiro
Momento que depois, não sei se derradeiro.
Afinal do mirim, também se faz o açu.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23975
Deixando para trás as marcas do que fora
Há tempos o bastante e agora já não cabe,
Bem antes que a verdade expresse-se e desabe
Castelo em cartas feito e no vazio ancora
Sabendo que o prazer jamais determina hora
Quem vive sem temor, deveras sempre sabe
O que se faz e teima, aqui e em Abu Dhabi
Vencendo o que virá sem ter qualquer demora
Prepara-se por certo e vê num novo dia
O sol que teima e brilha e se renova e cria
Nos raios da manhã belíssimo fulgor
Não se deixe levar, já que deveras mata,
Por algema qualquer: escravo ama a chibata,
E a liberdade traz a paz de um novo amor...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23974
Das larvas e do medo, apenas a crisálida.
Esboço do futuro, amarga realidade
Aonde quer que eu vá o atual invade
E a morte do passado, expressa em cor tão pálida
Tornando o que vivera uma figura inválida.
Internético gozo ainda que me agrade
Telegrafo descarto? Ou mato esta saudade,
Apenas tão somente, imagem morta e cálida.
Usando o que bem sei; o alexandrino verso,
Exponho-me decerto e sei que velhas feras
Medonha criatura além do quanto esperas
Serpente em pleno bote, atocaiada aguarda
Um velho usando fraque; um tosco caminheiro,
Desta imagem puída eu fujo e já me esgueiro,
Não uso no soneto, amarrotada farda...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23973
O tempo nunca pára? Eu sei que isto é normal,
Quem vive do passado expressa o nada ser,
Apenas um museu, não sabe e já morreu,
Mas nem por isso amigo, o futuro é bom ou mal.
Revejo cada engodo e nele a velha nau
A direção eu corrijo ou mesmo passo a ver
Que nada do que fui ainda posso crer.
Mutável criatura eu sou tão desigual
Ao que deveras flui e segue em mansa rota,
A velha roupa rasga e sei que se amarrota.
Porém já não me cabe afirmação correta
Se tudo está conforme agora deveria,
Mitose após mitose expressa a alegoria,
Fotografo do tempo, apenas sou poeta...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23972
Falava do passado, os tempos de criança
Aonde era feliz, dizia o conterrâneo,
O mundo que se mostra agora é instantâneo
Do todo nada além do que afinal se alcança.
Pra frente é que se anda, e corra senão dança;
Tu pensas deste jeito. Então, amigo; explane-o,
Pois tanto se deforma o ser contemporâneo
Um caranguejo ao léu, assim o mundo avança.
Olhando bem de perto, eu vejo a imperfeição
Por isso; o meu espelho; escondo no porão.
Do jogo de botões ao novo vídeo game
Pretérito futuro? Aonde irei parar?
Se nada mais eu vejo; esqueço do luar
Poeta? Um funeral... Por mais que ainda teime...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23971
Renasço desta cinza aonde disfarçado
Vivera numa espreita apenas observando
As dores; já não tenho. Afastaram-se em bando
Somente este retrato, há muito amarelado
Mostrando simplesmente, o que fora o passado,
Aonde desejava a paz, e mesmo quando
Ausente de um olhar, sem medo inda teimando
O gosto tanta vez, um tanto amargurado.
Mas tudo se renova. Assim a cada sol,
Apesar do futuro, acerto o meu farol,
Retrovisor faz falta e ensina a direção,
Porém olhar bem fixo apresenta o futuro
E nele a realidade, à qual sempre procuro,
Sabendo desde já os dias que virão...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23970
Ocultas sem sentir segredos incontáveis
Porém nada te cobro e sei que isto é normal,
A verdade absoluta é com certeza um mal,
Alguns momentos são no amor inconfessáveis.
Nem sempre estamos nus, mistérios insondáveis
Permitem que se creia e tenha um ritual
Que sempre determina um final triunfal
Domando em mansidão, medos incontroláveis.
E nesta auto defesa, apenas com cuidado,
Não interessa a alguém, se houve ou não passado,
Mas somos imbecis e nisto nossa dor.
Garimpando a peçonha à qual nos entregamos
E nela por si só, já nos envenenamos,
Querida, somos peça, é fácil recompor...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23969
Final dos tempos? Pára. Eterna babaquice,
Estamos num processo, apenas de reforma,
A imagem que se vê, o espelho já deforma
A foto demonstrada a si mesma desdisse
Repare no retrato, e basta de tolice.
Prazer pelo prazer arcaica e tosca norma
Miséria cultural? A velha plataforma
Retorna e repetindo uma eternal mesmice.
Não vendo diferença entre estas realidades,
Por mais que contra uma onda ainda teimes, nades,
O mundo sempre assim, do Éden até o hedônico
Depois contra-reforma, arranhado vinil,
O filho que nasceu igual a quem pariu?
Jamais. Um novo ciclo; um mal antigo e crônico.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23968
A tônica que rege o império do gozo,
Botecos de cristãos, um lupanar católico,
A sorte no vazio, um tempo parabólico
Estampa esta quimera, o mundo é fabuloso...
Nas coxas da morena, o jeito prazeroso
Palavra se perdeu, destino assim, eólico
Aonde se pensara haver algo bucólico
Erótica figura em ar tão desastroso.
Ultrapassado e velho? Ou eu, ou este mundo
No qual a cada instante, eu bebo e me aprofundo
Realidade arcaica, aos tolos sempre engana,
O que se vive agora, um erro milenar
A Dionísio erguido, em cada esquina, altar
Retrato mais fiel, do fim da era romana...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23967
Cálices e cristais, nos brindes que ora faço
Percebe-se tolhida a sorte desejada,
Aonde não pudera; expondo-se este nada,
O tempo vorazmente esboça um grasso traço.
Me expressando com fúria, ao ver cada pedaço
Da vida que pensara ainda destinada
A ter um belo dia, a partir da alvorada
Despedaçada sorte um mundo amargo e lasso.
Aprendo a conviver com tal estupidez,
E vagando nesta onda encontro o que não vês,
Lasciva adolescente em bailes, cocaínas,
O cérebro grotesco, agora em glútea forma,
A moça em paparazzo, avisando me informa
Num frenesi boçal, ao que tu me destinas...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23966
Flexível caminheiro encontro estas vertentes
E da dicotomia eu traço o meu futuro,
A dor sendo comum, o medo até que aturo,
Porém o nada ser, peço; não me apresentes.
O mundo se transforma e traz novas correntes,
Midriático espectro, assim morto eu perduro
E quanto mais não vejo, eu mais teimo e procuro,
Sombria realidade em estúpidas gentes.
Pior que qualquer droga, a ignorância absoluta
Expressa a realidade, uma alma tola luta
E vendo esta batalha inerte e sem proveito,
Tornando-se eremita, esconde-se deveras
Enquanto com o sal que trazes e temperas,
Um hipertenso tolo e voraz; não aceito...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23965
Sepulcros do passado? O tempo revigora
E a trágica lembrança adentra a nossa sala,
A pasma humanidade, ainda em vão se cala,
E a morte da esperança, eu sei; não se demora;
Quem sabe muito bem já faz e não tem hora
Enquanto num desdém, a noite feita em gala,
Miséria pelo mundo, a podridão não fala.
E quando ela se expõe; carrasco se apavora.
Etéreo sentimento entranha-nos, fugaz
Um oco dentro da alma, a vida molda e traz
Numa nudez se expondo a carne bela e crua
Vendida numa esquina, em bares e motéis
Aos homens do presente, ignaros e cruéis
Medieval figura, ainda continua...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23964
Aonde se pudesse em luzes bem suaves
Invés da palidez constante e temerária
Vencendo a solidão, eterna procelária,
Moldando uma esperança, sem medos ou entraves,
Por mais que a realidade; em lucidez, agraves
Na luta por justiça, as reformas agrárias
Que há tanto prometida em falsas luminárias
Momentos sem futuro? Esperando outras naves...
Decerto é que se faz aos poucos a mudança
Porém sem ter critério, ao vazio se lança
Amanhã sem remédio exposto ao léu, insano,
Atrevo-me a dizer que o mundo sendo assim,
Exposto ao abandono, e nele se me dano
Retrato do planeta: um mar tupiniquim...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23963
Colérico fantasma um vulto que espasmático
Esboça reações e nada sendo feito,
Aos poucos se percebe e tenta dar um jeito
Na sorte em frio Fado, um futuro enigmático.
Do espectro delirante, um rumo tão pragmático
Não sei se poderia, e disso faço um pleito
Encontrar mansidão nas horas em que deito,
Atônito me vejo, em ar já sorumbático.
Lacustre sensação incrustando minha alma
Crustáceo ensimesmado, a placidez acalma
E permite que estenda a lua no quintal
Salubre fantasia, adubo da esperança
A vida se entrelaça e quando passa alcança
A foz que tanto quis, num imenso caudal...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23962
Minha alma intoxicada em fumaças diversas
Monóxido carbono entranhando narinas
E quando mal percebe a fúria não dominas
Um ar bem mais tranqüilo? Apenas são conversas,
E quando se estampando a luta à qual tu versas
As forças mais sutis entranham fundas minas
Assim já sufocada, afinal te alucinas
Aos filhos como herança, as horas mais perversas.
Assim se demonstrando a nossa estupidez
Há um Ser que criou, criatura desfez
Deixando esta aridez tomando a terra e o céu,
O grito segue embalde, e fingindo surdez
A Terra se demonstra em tal insensatez
Planeta sufocante, a vida segue ao léu...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23961
Amor tanto acalanta enquanto me apascenta,
A vida se mostrara em luzes mais sombrias
E agora esta esperança à qual me entrego e crias
Deixando a minha vida, outrora violenta
Em violetas, feita; ausência de tormenta
As noites neste amor, jamais serão tão frias
E o tempo em raro ardor, conforme me dizias
O ressurgir da vida, o amor ainda tenta
E sigo seu caminho, os rastro que ele deixa,
Nas mãos da deusa nua, a sílfide, uma gueixa
Deitando sobre mim esta ternura imensa
Fazendo deste encanto, um mar belo e sem fim,
Deixando no passado, o amargo de onde vim,
Trazendo no prazer a glória e a recompensa...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23960
Fazer da própria dor, uma aliada a mais
Ao enfrentar a vida, e tudo que virá,
Sabendo que importante, é ter e desde já
Noção de ancoradouro expressa em algum cais.
As noites de luar, sublimes, magistrais,
O canto na alvorada, o sol que brilhará
Encanto deste sonho, aos poucos tomará
O coração insano; aonde derramais
A vossa magnitude, amigo e companheiro,
Da vida ao vosso lado, assim enfim me inteiro
E tramo num segundo enquanto a luz avança
Futuro bem mais belo, um templo verdadeiro
Alçando em brilho raro, um tempo lisonjeiro
Aonde se governe o amor feito esperança...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23959
Sentir o teu perfume e dele extasiado
Adentro a fantasia e tramo este espetáculo
Em luz e brilho feito. O amor não teme obstáculo
E segue sem temor divino e manso prado,
Aonde se perder é ter já se encontrado.
A vida nos enlaça e num doce tentáculo
Conforme já previra, outrora algum oráculo,
As dores e o temor são coisas do passado.
Vivendo a plenitude intensa do desejo,
A sorte que procuro, a paz que tanto almejo
Encontro em tua boca, e bebo cada gota
Do imenso fogaréu que em nós à noite espalha,
Entranho delirante, e preso nesta malha
A tristeza esquecida, agora ausente e rota...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23958
A secular batalha aonde a dor só vence
E o medo que se espalha expondo a nossa face
Ainda quando o tempo, atroz avance e passe
Não vendo solução não há quem se convence
Do quão vazia, vida, enquanto a morte adense
E mesmo após a noite o dia ainda trace
O fim que se aproxima e neste torpe impasse,
O coração cigano de um tolo muriaense
Aguarda alguma nova, uma esperança apenas,
Herética loucura; assim tu concatenas
E ris do meu tormento, exposto em verso e lida.
Pois na célula-tronco, a sorte se refaz
De um belo amanhecer talvez seja capaz,
Porém o que fazer, se a Igreja é contra a vida?
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23957
Dantesca gargalhada a vida me prepara
Ao ver até que ponto, uma alma se apodrece
Embora respirando, a morte aos poucos tece
Uma espiral vazia; e a queda se declara
Fulgores do passado, a sorte bela e cara,
Em densa e turva névoa, a cor já se esvaece
Não resta nem sequer, a solução da prece,
Aonde houvera força, a invalidez da escara.
Mereço este final, eu sei que na verdade
Quasimodo nefasto, um Fausto morto em vida
Uma alma sem valor e há muito já vendida
Olhando para o espelho, imagem desagrade
Reflexo do que atroz, aos poucos degradei,
Qual fora num infausto, um novo Dorian Gray.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23956
Lutando contra a sorte enfrento-me deveras,
Perpétuas ilusões fenecem num segundo
E quando dentro da alma, imerso, eu me aprofundo,
Percebo na verdade, apenas duras feras
Aonde eu poderia; ausente, degeneras
E esgotado percebo o quão me sinto imundo,
Um velho solitário, audaz e vagabundo
Vomita em ironia, afasta as primaveras.
Uma alma vã e arcana adentrando o infinito
Olhando o meu fantasma, assusto-me e se grito
Talvez em desabafo ou mesmo com terror
Na turbulenta vida, apenas fetidez
E o cadáver do sonho, apático que vês
Espelha o que tu és; no etéreo decompor...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23955
Mortalha que reveste uma alma apodrecida
Aonde poderia haver uma esperança,
Carcaça se expressando invés da temperança
A pele se desfaz aos poucos carcomida,
Esgotando-se estes vis caminhos de uma vida
A morte se aproxima; a foice então se lança
Apenas o não ter, deveras minha herança
Retratos do vazio, eterna despedida...
Medonho sortilégio, algozes e carrascos,
Venenos em alta dose, embora leves frascos,
Assídua tempestade, imenso vendaval,
A sorte se desfia em névoas e neblinas
E vendo tal cenário, ainda te fascinas
A vida que se vai, um fato tão normal...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23954
Inútil perceber alguma luz após
A fria madrugada em que, velho e impotente
Buscara alguma força e a verdade inclemente
Mostrara a sua face estúpida e atroz.
Ainda poderia, esboçando estes nós
Viver algum momento, e embora ainda tente
Não tendo mais resposta, e nem voz indulgente
Escombro do que fui, espalha-se feroz.
Percebo no vazio, imensa iniqüidade
E apenas sofrimento, ainda vem e invade
Tornando-se infecunda uma alma que buscara
A luz por tanto tempo e agora se esvaindo,
Nesta inutilidade expõe um vago infindo
Do pélago funesto aonde mergulhara...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23953
Pudesse ter ainda além do que tortura
Uma saída amena aonde eu poderia
Envolto em ilusões, estúpida alegria
Sentir da mão suave, ao menos a ternura.
Porém a solidão adentra e assim perdura
Tomando num repente o pouco que ainda havia,
Matando em nascedouro, aborta a fantasia
E deixa por herança, a morte em vã moldura.
Se o canto é tão sombrio e o sol, não reconheço,
A culpa se faz minha, e após queda e tropeço
Não pude mais me erguer, esgota-se a esperança.
Enquanto amargo sou, nefastas tempestades
Deveras sonhador, em turvas águas nade
Uma alma que funérea, em podridão avança...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23952
Uma alma soberana adentrando este esgoto
Por onde mergulhara há tempos sem pudores
Revendo num instante, os mesmos roedores
Amigos do passado; espiam tosco broto
Que ao retornar ao lar uma esperança esgoto
E volto novamente aos dias em que horrores
Tomaram pensamento, e nele ao me propores
A morte em plena vida, o quão vago eu sou, noto.
Oh luzes que jamais eu poderia ver
Arauto incoerente; esqueço algum prazer
E volto ao meu jardim em fétidas daninhas.
Insetos, vermes são meus velhos camaradas,
E quanto mais me afundo, irônica degradas
Devolve-me; portanto, às plagas que são minhas...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
23951
Refulge na manhã um sol de raro brilho
Estende-se por sobre os vales e as montanhas,
Relembro num momento; antigas, torpes sanhas
E as sendas do passado, incauto e tolo eu trilho
Fúlgida beleza espalha-se e o andarilho
Revolve como um louco as profundas entranhas,
E enquanto mais distante; atônita, acompanhas
Espectro do terror, aperto este gatilho.
Espasmo convulsivo, herética ironia,
Andante cavaleiro, aos poucos fantasia
Intrépida loucura, insânia me tomando,
E visceral, medonho; esqueço-me de ti,
Revejo no teu rosto, o amor que já perdi,
Volvendo a lucidez, então manso, me abrando...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Fevereiro 01, 2010
VOZES DO ALÉM TÚMULO
REFLEXOS DO PASSADO EM LUZ SOMBRIA
Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24077
Menino coração não tem juízo
E quando se fazendo passarinho
Os outros passarão, mas tão sozinho
O amor se faz sem medo ou prejuízo,
E tendo desde sempre algum aviso
O quanto é necessário ter carinho,
Bebendo cada gole deste vinho,
Eu bebo a adega inteira e mesmo biso.
Se o todo faz do pouco muito além
Ao ter o quanto amor já nos convém
Não tendo nem por isso outra chance,
Não quero ser apenas companheiro,
O amor quando demais e verdadeiro
Não deixa que a saudade chegue e alcance...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24076
Eu fui pra Porto e bah! Felicidade
Guria trilegal, maravilhosa,
A bergamota amada e tão cheirosa
Trazendo, o minuano esta saudade;
O canto de um gaudério agora invade
E trama a sorte mesmo caprichosa,
Aonde uma marcela brota em rosa
O Amargo tem seu quê. Barbaridade.
Carrego na guaiaca a solidão,
E quando nas coxilhas a geada
Espalha-se tomando todo o chão,
Das margens do Guaíba esta lembrança
Da prenda que deveras, guapa e amada
O tempo na distância não avança...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24075
Teu corpo no meu corpo diz suores
E fogo, fúria, gozo e mil alentos
Entregue aos mais sublimes pensamentos
Deixando para trás falsos pudores,
Encontro neste encontro tantas cores
Matizes que me tomam sentimentos,
E quando se perdendo dos tormentos
Os dias entre nós redundam flores.
Vivendo em tal loucura e frenesi,
O quanto te desejo percebi
No mesmo instante amada em que te sentindo
O teu doce perfume, em vasta insânia
Sem nada que controle a vida. Ufane-a
Num mundo tão soberbo amável, lindo...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24074
Os cálices das flores bebem luz
E trazem aos meus olhos fantasias,
E quando entorpecida, brilhos crias
O quanto de beleza me seduz,
Andara contra a sorte, imensa cruz
Pesando em minhas costas, velhos dias
Agora em que decifro alegorias
Amarga escuridão já se reluz.
Descrevo em cada verso o quão preciso
Do amor que na verdade toma o siso
E beijando a loucura muda o Norte,
Aonde se buscara a paz não tendo,
O amor que em pleno amor vejo e desvendo
Trazendo a plenitude que conforte...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24073
Pudesse te trazer sempre ao meu lado
Quem sabe assim seriamos felizes,
Eu tendo dentro da alma cicatrizes,
Um coração há tanto amargurado,
Revejo cada cena do passado
E teimo no que agora tu desdizes,
Embora reconheça meus deslizes,
O mundo que pensei, ultrapassado.
Não toque com teus olhos minha pele,
Se amor a ti também tanto compele
Compete-me fugir. Fatalidade.
Não tendo uma esperança que me ajude,
Por quanto amor, tanto e amiúde
Apenas a saudade ainda invade...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24072
Não leve a poesia tão a sério
Seria muito bom, mas já não é
O verso com certeza não dá pé
Por falta de emoção; ou de critério?
O canto já foi tempo em que sidéreo
Agora é necessária muita fé
Não tendo nem mais broa nem café
O mote de um defunto é mais funéreo
A Musa na verdade menstruada
Agora já prepara uma cartada
É toda a fantasia ela destrói,
Outrora moça muito venerada
Agora vai posar nua, pelada
É capa garantida da Playboy...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24071
Asperges sobre mim veneno e fúria
Vergastas em lacustre placidez
O quanto do vazio já se fez
Aonde imaginara tanta incúria
Se ao menos houver cor e luz; procure-a
E terás a certeza em lucidez
Do quanto na verdade sem talvez
Acentuado brilho é vida; cure-a.
Não faças de esperanças teus sepulcros,
Arranje com vigor mais fortes fulcros
E tendes a viver com mais vigor,
Imagem que funérea trama a morte,
Não tendo mais sequer quem inda aporte
O cais terá perdido o seu valor...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24070
Aonde se quisera mais eclética
A noite entre tramas dita frios,
Poder que não teria se sombrios
Ainda se moldando nova estética
E faço do penhor desta poética
O quanto se prendera em firmes fios,
Os versos são capazes. Desafio-os
Tentando uma temática que hermética
Não deixe qualquer dúvida e vá cálida
Aonde se pudera sempre pálida
Crisálida diz tons esperançosos.
Qual fora tão somente um lepidóptero
Quisera ser talvez um coleóptero
Os dias não seriam desditosos...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24069
Na cólera sombria que nos toma,
Anexa figura de uma estrela
Aonde poderia em vão contê-la
Entorpecido sonho dita o coma,
E quando luz etérea já nos doma
Vontade de viver e de sabê-la
E quando se possível envolvê-la
Nas teias como fosse um fino estroma.
Fibrose que me enreda nos teus braços,
Assídua maravilha deixa os lassos
Momentos para trás e revigora.
Enlaço-me deveras nesta mágica
E a noite que julgara quase trágica
Renasce sem pudor a qualquer hora...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24069
Na cólera sombria que nos toma,
Anexa figura de uma estrela
Aonde poderia em vão contê-la
Entorpecido sonho dita o coma,
E quando luz etérea já nos doma
Vontade de viver e de sabê-la
E quando se possível envolvê-la
Nas teias como fosse um fino estroma.
Fibrose que me enreda nos teus braços,
Assídua maravilha deixa os lassos
Momentos para trás e revigora.
Enlaço-me deveras nesta mágica
E a noite que julgara quase trágica
Renasce sem pudor a qualquer hora...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24068
Nas turvas águas busco algum reflexo
E nada simplesmente se apresenta
Aonde a noite surge e forte venta
O tempo me tomando todo o nexo,
Aonde se pudera ser complexo
Veria meu amor, quanto apascenta
A sorte se não fosse tal tormenta
Deixando nosso canto em vão anexo.
Espreito da varanda a lua cheia
Viola que deveras já ponteia
Cirandas do passado me tocando,
À beira deste abismo, um precipício,
O mundo se transforma em podre vício
E o quanto outrora quis somente quando.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24067
Amor como albatroz traz liberdade
Alçando em mares tantos seu destino
E quando nos seus brilhos me alucino
Permito a claridade que ora invade
E toma com real felicidade
O templo sem o qual me desatino,
Amor, por quem jamais se dobre um sino
Traduza além de tudo eternidade.
Coragem de gritar nossa alforria
Vivendo sem temor a poesia
Que cedo se irradia deste canto,
Abençoada luz, nosso farol,
Domina com certeza este arrebol,
Em suas tramas mágicas, me encanto...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24066
Iridescente imagem, nosso amor
Compondo este cenário fabuloso
Expressa uma alegria feita em gozo,
Por momentos parece-nos louvor.
Viver grandiosidade em destemor,
Adentrando o luar impetuoso,
Vibrando em luzes fartas, prazeroso
Caminho que se entrega; tentador.
Alvissareiro sonho ao qual me entrego
No mar sem tais procelas eu navego
E vejo que consigo o ancoradouro
Solar vento que toca a nossa pele,
E quando à tal loucura me compele
Nas sanhas deste amor, eu já me douro...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24065
Consola-me saber que teu sarcasmo
Um dia se virando contra ti
Depois de todo o tempo que perdi
Envolto num estúpido marasmo,
Estando desde sempre quase pasmo,
Eu vejo esta ilusão chegar aqui,
E o amor que tantas vezes converti
Em lágrimas causando dor e espasmo
Agora se apresenta e te domina,
Rainha da emoção, dolosa sina
Revejo a tua face de ironia
E bebo esta alegria de saber
Que quem por tantas vezes fez sofrer
Embalde se transtorna em agonia...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24064
Aonde se percebe esta descrença
O tédio nos tomando agora impede
O dia que amanhece não concede
Sequer a quem deseja a recompensa
Por mais que a solidão não te convença
Uma alma sem defesas sempre cede,
E quando o pedregulho já te impede
A dura caminhada será tensa.
Adensando-me em nuvens temporais
Decerto cairão e nunca mais
Teremos esta paz com que sonhamos,
Riqueza que se perde a cada dia,
Enquanto a própria vida se recria
Diversa do que um dia imaginamos...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24063
Homem pelo tédio já vencido
Embrenha-se entre névoas, trevas, medos
E quando se desnudam os segredos
O quanto fora ainda está perdido,
Ao vê-lo transtornado não duvido
Do quão enorme foram meus enredos
E teço no vazio, dias ledos
Amortalhado sonho envilecido.
Aonde se pensara em luz e glória
A noite sem luar tão merencória
Orgástica loucura toma a cena
Uma alma que se entrega sem combate,
Enquanto a vida traz a quem debate
Uma incerteza atroz, dúvida acena...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24062
Mistérios que dominam cada mente
A luz estremecida em sombras feita,
Mundana fantasia se deleita
Enquanto o fim dos tempos se pressente
Aonde se previra o mundo ausente
Não creio mais na paz sendo refeita
E quando a noite chega e a dor se aceita
Prenúncio do vazio uma alma sente.
Consinto em não querer outro caminho,
Vestindo a podridão nela me aninho
E volto ao que já fora no infinito,
Escombro que em escombro assim retorna
A dura realidade me transtorna
O ocaso no horizonte, imerso, eu fito...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24061
Amortalhada face, solidão
Esgueiro-me e deveras nada resta
Senão a fantasia mais funesta
E o gozo interminável da ilusão.
Aonde se estampara uma paixão,
Ao vago do não ser a sorte empresta
O riso mais irônico e a tempesta
Não deixam ver ao fundo esta amplidão.
Somando nossas forças, tenho dito
Que além do quão possível acredito
Insuperável brilho reluzindo
No canto deste amor que não se acaba,
Podendo ser palácio ou simples taba
O encanto já se mostra imenso e lindo...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24060
A sorte se abandona a cada esquina
E dela nem resquícios, inda vejo
O amor que se moldando em tal desejo
A quem se entrega tanto já domina
E sendo teu amor a minha sina,
Um dia bem melhor, amor prevejo,
E tendo esta certeza, num lampejo
A vida ao mesmo instante se ilumina
Amar e ser amado. Ah quem me dera,
Porém a solidão, temível fera
Espera atocaiada e não permite
Que tanto sonho seja mais real,
O toque mais profano e sensual,
Atinge no vazio, o seu limite...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24059
Sou plâncton, sou tão ínfimo poeta
E nada além do que já poderia
Trazer alguma forma de alegria
Deveras coração não tendo meta
Pudera ter a boca predileta
E nela um grande amor se fantasia,
Além do que se vê, melancolia,
Entendo esta ilusão que me completa.
Servir a quem se torna amo e senhor,
Não posso desfazer qualquer temor
Que ainda qual fornalha me alimenta,
A sede de sentir tua presença,
É tudo o que deveras recompensa
A vida que se fez tão violenta.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24058
Embora tenha o riso como meta
No fundo não terei felicidade
Por mais que tão distante ainda nade
A sorte sem a sorte não completa
E o ciclo de um estúpido poeta
Moldado pelas cores da verdade
Mundana fantasia ou realidade?
Apenas descobrindo a doce seta
Cupido bom arqueiro acertando o alvo
O que pensara outrora já não salvo
Momento inusitado: riso e dor,
Viver só por viver e ter talvez
O encanto que esta vida já desfez
Não quero ser somente um sonhador...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24057
Percebo o meu destino malfadado
E vejo que jamais serei feliz,
Enquanto o coração ainda diz
O tempo se afastando, desolado,
Aonde quis o brilho do passado,
Apenas a verdade já desdiz
Aonde se fizera a cicatriz,
Mergulho neste lago abandonado
E tento o que já sei não ser capaz
Aonde imaginara haver a paz
Apenas um momento de ilusão,
A sorte se desfia em vários tons
Amor que fora outrora em megatons,
Agora se tornou mera fração...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24056
Minha alma que do amor deveras se alimenta
Entorpecido sonho adentra a noite insone
Não deixe que este encanto aos poucos abandone
Trazendo em seu lugar, apenas a tormenta,
Vivendo esta ilusão a vida em paz alenta
E quando ouço de noite o som do telefone
Ardente fantasia em brilho que me abone
Visão maravilhosa, a cada dia aumenta
Num fúlgido momento inebriado eu canto
Em versos, trovador, o quanto eu quero tanto
Suave criatura, imersa em abandono,
Procuro e não encontro um modo de chegar,
Recados eu mandei, estrelas e luar,
Porém o que fazer senão perder o sono...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24055
Não posso me furtar a crer nesta ilusão
Do amor que me tomando espalha sobre a Terra
Um gosto agridoce, e quando a luz encerra
Permite que se veja ao longe na amplidão
Imagética luz trazendo a sensação
Da vida que se dá o sol dourando a serra,
Enquanto a solidão, ao largo se desterra
Amar sem ter limite, além de uma paixão...
O quanto se deseja expressa em doce lavra
O encanto se professa e o dom de uma palavra
Espelha a magnitude e o fogo que eu anseio
Deitando sob a lua, estende-se divina,
Inesgotável fonte amor tanto ilumina
Deixando no passado, algum tolo receio...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24054
Desenho no teu corpo em toques multicores
Caminhos em delírio, alçando o Paraíso
E quanto mais audaz, decerto mais preciso
É como se jamais eu conhecera as dores,
E sigo cada passo e vago aonde fores
Amor enlouquecendo entorpece o juízo
Nas tramas deste encanto, amada eu me matizo
E trago o coração exposto em raras flores.
Não deixe que se acabe um sonho tão suave,
Tampouco merecia o medo que se agrave
A noite sem estrela, a tarde sem um sol,
Vencer cada temor e ter em minhas mãos,
Os olhos no infinito, e levo aos solos grãos,
Tramando este jardim, tomando este arrebol...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24053
A lua se derrama em prata divinal
E encontra-te desnuda, extrema maravilha
Mais forte que o luar, o amor tanto rebrilha
Trazendo esta visão superna e sensual,
Pudesse ter no olhar clareza do cristal
A noite não seria o que deveras trilha
Uma alma se inebria e dá-se na armadilha
Sabendo que a paixão tem brilho magistral.
Aonde se pudesse ainda crer na luz
O coração se expondo, enquanto se seduz
Num lírico cantar, belezas entranhando,
Loucura me embebendo, embalde e em vão mergulho,
No amor que desejara apenas pedregulho,
E a procela devasta um solo outrora brando...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24052
Perdoe-me se a trago uma alma tão inquieta
E temo pela vida embora veja a morte
Como se fosse um bem que acalme e que conforte
Na qual o nosso ciclo humano se completa
Senhor tende piedade e saiba que esta meta
O fim a quem me entrego e dele faço o Norte,
Prevê a cada esquina, o imenso e fundo corte,
Sabendo que o Amor a fruta predileta
Permite que se tenha um dia mais tranqüilo,
E quando numa angústia, os medos eu desfilo,
A Tua mão em paz, trazendo alivio e luz
Invada cada dia e tome o pensamento,
Nas horas em que há dor, em Ti eu já me alento
Irmão no Amor e fé, Senhor Cristo Jesus...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24051
Senhor permita que se creia e faça-se cumprir
A eternidade à qual no Amor e no perdão
Uma conquista aonde é que vejo o cristão
Moldando a cada dia a paz no seu porvir.
Caminho pedregoso estrada a prosseguir
Levando com certeza à plena salvação,
Amando além de tudo a Ti, e ao próprio irmão,
E a quem nos ofender. Difícil conseguir.
Ó Pai aplaque então esta ira que consome
Da justiça, Senhor; matai a nossa fome
Tornando bem mais manso um coração que pena,
Soberbo e tão vaidoso, orgásticas loucuras,
Aonde se mostrando as noites mais escuras,
A solidão atroz, aos poucos já se acena...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24050
Coração de estudante, audaz e caprichoso
Há tempos que não vejo assim a realidade,
Nas lan houses da vida, a solidão invade
Tornando este vazio um tanto prazeroso,
Agora só se vê o gozo pelo gozo
E quanto mais salgado o mar em que se nade
Eu vejo o temporal, pressinto a tempestade
E sinto te dizer, o mundo é vergonhoso.
Chegando ao mesmo fim, imperialismos vários
Nos olhos do demônio, os vãos incendiários
Bebendo cada trago amargo deste gim,
E assim em turbulência o que se quis em paz,
Apenas o vazio o vazio me traz
Depois vem me falar de Adão, Eva e Jardim?
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24049
Jamais aceitaria enfim qualquer censura,
Se nada faz sentido, o que permitiria
Por caos ou fanatismo impedir novo dia
O que mais vale a pena, apenas se perdura?
Ao escrever não quero opinião, ternura,
Nem mesmo intromissão é minha a fantasia,
Se não gostas desligue e busque o que queria
Aqui não verás luz, porém farta amargura,
Não sou tão tolo e traço o que bem pretender,
Melífero caminho, eu sigo ao bel prazer,
A liberdade tua exige que haja a minha
Assim te respeitando esgotando este assunto,
Não vale camarada, uma água e óleo junto,
De qualquer jeito, a morte, aos poucos se avizinha...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24048
Não vendo e nem tampouco aceito uma barganha
A vida se desnuda e bebe da loucura,
Que tanta falta faz pro bem de quem procura
Além de simples vale, uma enorme montanha.
Verdade é que a palavra enquanto a alguns assanha
Causando certa espécie expressa uma tortura,
O vento na janela a foto na moldura
E o mofo dentro da alma, esgota a leda sanha.
São pétreos dias, vago entre versos e riscos
Quem vive deve ter os pés bem mais ariscos
Senão a queda traz o fogo que não quero,
Aonde quer que eu vá expresso esta saudade
De um tempo aonde o brilho enfim não se degrade
E o gozo do viver, já não seja tão fero...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24047
Jamais eu cantaria a tosca realidade
Se não doesse tanto escracha palhaçada
A venda do perdão, uma puta explorada
E a gargalhada escuto, enquanto se degrade
A nossa bela dama, a vaca sociedade
Aonde se pariu a imagem bem tratada
Na pútrida figura, a bosta mal cagada
Exposta nos carrões esconde atrás da grade.
Que todos vão pra puta aquela que os pariu,
Assim se destroçando a merda que é o Brasil
E toda a humanidade encontra o mesmo fim,
Por isso é que repito, e não me arrependendo,
O mundo inteiro está de perto se vertendo
Numa completa zona, um mar tupiniquim.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24046
Herodes pós moderno, assim define Igreja
A quem tendo o bom senso impede que inda morra
A pobre mulherada aonde a santa porra
Engravidou sem nexo, a merda feita, seja.
Faminta favelada, otária sertaneja
Não tendo quem ainda esta imbecil socorra
Com talo de mamona, em sanguinária borra
Na séptica figura o fim já se preveja
Enquanto que a filhinha engravidou mais cedo
Ou mesmo a burguesada atola-se em segredo
Na clínica bacana, um doutor instruído
Fazendo deste aborto, um caso bem guardado,
Polícia nem aí, o padre diz pecado
E um miserável segue, fodido e possuído...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24045
Depois da tempestade apenas este ultraje
Aonde a boca amarga espera um beijo ameno,
E quando não dispondo ainda me sereno,
Em drágeas vejo o mundo, e visto o velho traje.
Cascata da emoção não vale quem não age
E muda a velha face em busca do veneno
E quando com futuro ao tolo mesmo aceno
A serpe se disfarça e assim cedo interage
Não posso desfrutar delírios da peçonha,
Pois quanto mais se quer, entorpecido sonha
E volto ao mesmo mote: amor e dor, dormência
Ao fundo a mesma e velha audácia do poeta
Que enfrentando a maré, na fúria se completa
Não tendo quem disfarce uma alma então; convence-a;
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24044
Impingindo verdade aonde a noite trava
O medo e a solidão ateio em fogaréu
Aonde se pintara azul um belo céu
A fonte da esperança apenas isto agrava,
Não sei se poderia, uma alma que se lava
Ainda ter no olhar o vento solto ao léu
E beber fantasia ainda feita em mel
Depois de ter sentido uma ânsia quase escrava
Um mar sempre bravio, o fio desencapa
E tudo o que pudesse amortalhada capa
Escapa do sentido e molda o não poder
Servindo como fosse um lamaçal divino,
Aonde mergulhando eu sinto e me fascino
Numa vontade imensa, ascendo ao teu querer...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24043
Licores que encontrei na boca mais suave
Ainda refletindo o gozo inevitável
Que tanto poderia até dizer potável
Não fosso o amor insano uma trágica nave
Aonde quer que eu vá sem ter nada que agrave
Pudesse transmitir um sonho mais amável,
No fundo não teria além do imaginável
Senão a fantasia ainda como um entrave
Não deixando seguir, mesquinho o velho enclave
Notória tempestade em voz e tom mais grave
Serpente que sorrindo apenas encontrável
Num Éden que fizeste um gosto que intragável
Pressente este momento aonde um inefável
Delírio que desvenda a evangélica trave.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24042
Irônico fantasma adentra este cenário
E num tropel insano açodam-se diversos
E esparsos carrosséis aonde fiz meus versos
Moldando o que parece além do imaginário.
Vivesse um dia a mais, mudando o meu fadário,
Às vezes poderia andar quem sabe em universos
Melhores do que tenho e neles mais dispersos
Momento não teria a mais que o necessário.
Esgota-se em si mesma a glória e o meu fracasso,
Não posso te dizer o quanto sigo escasso
E vejo que a demora ainda trama a sorte
Vencer o que pensara e enquanto isso não passo
Fazendo da ilusão um mundo em que o compasso
Traduza algum anseio aonde eu me conforte...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24041
Na mão vendo o punhal argênteo fogo, escapo
Da fúria que te envolve e ronda a velha casa,
Aonde se pudesse apenas já se abrasa
O quanto amor se fez e nada resta, é trapo.
Grafando em garrafais; esqueço este fiapo
E bebo o quanto traz quem acusa e defasa
O tempo de viver, a vida não se atrasa
Batráquio que se molda, espelho dita o sapo
E vendo a minha face assim emoldurada
Entrego-me ao pavor a faca que afiada
Entranha sem perdão, adentrando voraz,
Num mórbido desejo, o anseio se estampando
Nublada maravilha, os abutres em bando,
E ao fundo do cenário, encontro Satanás.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24040
Andando entre os chacais, exposto ao bote e a risco,
Encontro este habitat aonde desejara
O tempo se moldando em luz imensa e clara
Aos poucos o que tenho ainda jogo e arrisco,
Mundanas ilusões abocanham petisco
E tudo não passando, a morte anunciara
O dia que se fez impotável ampara
E trama em sua rede, amargo e vão confisco.
Arrendo-me ao demônio e nisto estou feliz,
O beijo da serpente, suave cicatriz
Ainda latejando em loucura febril,
Ao mesmo tempo em glória, a história não desdiz
O fato de tentar e ser o que se quis,
Embora isto pareça a ti, amiga, vil...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24039
Formigante opressão invade o pensamento
E quando na verdade a insânia se aproxima
Velório da esperança, um doce e tenso clima
Num arquejante gozo, a morte eu não lamento.
Sulfídrico delírio adentra o sentimento
Excêntrico desejo, a noite dita a estima
E quando a fantasia acende o que nos prima
Eu vejo neste olhar sombrio e mais atento
Disforme violação, primazes maravilhas
Aonde sem sentir, percorres, andas, trilhas
Por senda provocante em lúbricos anseios
E quando se percebe o fim chegando insano,
O riso do demônio em ar além do humano
Explode-se em delírio invade os rios, veios...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24038
A sorte tenebrosa em brilhos sempre raros
Ascende-se entre nós, promessas entre méis,
Assim ao se mostra perfeito nos papéis
Que cria um belo ator, imerso em motes claros
E beija com sutil desejo e; mesmo amaros
Os lábios do demônio invés de turvos féis
Destilam a delícia e inebria os fiéis,
Legando tão somente os frios desamparos.
Prazer que clandestino incendiando toma
Não deixa quase nada, ao absorver uma alma
Ao mesmo tempo ilude, enquanto até acalma
E assim entorpecido, um quase semi-coma
Bulindo com anseios, os seios, coxas risos,
Promete a cada tolo, em vida Paraísos...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24037
Encantadora em asco imagem de Satã
Erguendo-se da sombra emana forte luz
E num sorriso audaz, enquanto nos seduz
Traçando a nossa vida, amarga e mesmo vã
Num louco e torpe sonho, a noite sem manhã
Por um momento até um anjo reproduz
Um lisonjeiro e tosco, até ao Bom Jesus
Em tentação se fez num doce e louco afã.
Assim ao empunhar as armas mais sutis
Promessa de prazer além do que se quis
Espelha uma alma turva e assim nos ludibria
Endiabrado ser, medonha garatuja
Que tendo a pele esguia, uma alma vaga e suja
Conhece e muito bem, a nossa fantasia...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24036
Mendigo se arrastando em turvas madrugadas
Um pária necessita algum novo prazer,
E quando mal percebe o que se fez sem ver
As ruas na manhã surgem ensangüentadas.
Demônios entre sóis, luas depravadas
Mergulho neste abismo e ao me entorpecer
Nefasta maravilha encontro e passo a ter.
Deitando neste chão, as pedras, almofadas.
Um libertino audaz, medonho e caricato,
O espelho em desafio, a sorte desacato
E bebo cada gole até que se esvazie
Espasmo reticente, inválido demente
Medonhas emoções a vida já pressente
Enquanto o sangue escorre e a morte eu fantasie.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24035
Deitada sobre a cama, a lúgubre figura
Escancarando em riso imenso brilho, farto.
Adentra sem pedir, invadindo o meu quarto
E mostra-se desnuda enquanto me procura,
Tomado por surpresa ao ver a caradura
Deveras me aproximo e insano não me aparto,
Desejo se aflorando, intenso e louco parto,
Enquanto não descansa a imagem lá perdura.
E bebendo do absinto eu me inebrio,
A cada novo instante um torpe cio
Num vício alucinante, ascendo ao majestoso
E sublime caminho aonde alçando a luz,
Efervescência explode e enquanto me seduz
Satânico desdém num ar quase jocoso...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24034
Ocupam cada espírito anseios e terrores,
A morte em plena vida, uma alma em podre face
Por mais que alguma luz, nosso futuro trace
Aonde num mergulho o vago que propores
Trará somente a dor, aonde houvera flores
Acorda! O sol disfarça e nega algum impasse,
Mas logo a vida chega e por onde ela passe
Transmite em vaga luz olhares e temores.
Assim ao ter defronte a imagem do demônio
Encontro num espelho e num fruir de hormônio
Bebendo a insanidade em rito mais macabro
Gargalho e sem sentir, adentro as profundezas
E aonde imaginara a fonte das belezas
A porta deste Inferno a cada dia eu abro...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24033
Aonde se permite apenas o pecado
Esbalda-se em sorriso e ritmos sensuais,
Mefisto em sua glória expõe tais rituais
E o gozo sem limite explica ao fim, o Fado.
Não deve ser talvez por isso condenado?
Nos antros, botequins febris, loucos jograis
Enquanto em vós reluz o que mais desejais
Álcool, anfetamina; orgástico e enfadado
Cadáver perambula adentrando este inferno
Aonde sem saber, aos poucos eu me interno
Vivendo nos motéis, nas camas das bacantes
Na falta de perdão, no amor que não conheço
Na fúria desmedida, assim cada tropeço
No olhar que sempre brilha aos tons dos diamantes.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24032
Assim como se fosse noite tenebrosa
Uma alma se procura e ainda não se vendo,
Permite qualquer gozo, estranho dividendo
Adentrando o demônio enquanto a pobre goza.
Figura prepotente e sempre majestosa
Nos faustos e no riso, espetáculos vendo
Satânica visão, à sombra não desvendo
E nela se mostrando a face prazerosa
Bacante gargalhar, em vastos e profanos
Momentos mais sutis na fúria desvendados
E neles com certeza eu vejo os desenganos
Brindando com delírio às faces mais diversas
Rolando no tapete em transparência e dados
Enquanto em farsa e luzes, um imbecil ser, versas...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24031
Criado com sorriso, imenso cadafalso
E mergulhando o brilho etéreo na masmorra
Sem tendo como fuga a luz que me socorra,
Pisando sem saber, num ato torpe e falso
As brasas entranhando o velho pé descalço
Aonde quer que eu vá, caminho que percorra
Histriônico espectro aguardando que eu morra
Enquanto esta esperança atroz, mais tolo eu alço.
Puseste em minhas mãos uma tosca ardentia
E quando mais eu fujo, a força renascia
Atando-se em galés, acorrentando uma alma
Perversas ilusões, total hipocrisia
Imagem sensual, Satanás sempre urdia
O prazer que, venal, aflorando te acalma...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24030
Engendras soluções enquanto se desdenha
A sorte que se busca em negros temporais,
E quando em desafio, devastas os sinais
Do quanto fora a glória em desmedida ordenha
Navegas calmamente e sabes cedo a senha
Que leve ao prazeroso extremo onde cristais
Derramam-se em fulgor nas cores magistrais
Explicito terror num gozo já se empenha;
Emprenhas de ilusão a raça soberana
E bebes cada gota até total sangria
E quando mais sedento, a sede não sacia
Enquanto o seu rebanho em falsa luz se engana
Orgástica loucura enlanguescidamente
A turba ter idolatra edênica serpente...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24029
Minha alma se desnuda em miseráveis formas
Disforme e caricata arranha esta moldura
E quando a paz eterna ainda em vão procura
Extrai de si a face austera que deformas.
Nublada fantasia estende-se nas normas
Aonde o que mais vale, o gozo que perdura,
Tramando desde sempre as ânsias da loucura
Mefisto gargalhando enquanto os ritos formas,
Usando do infinito e trágico poder,
Ao se expressar no açoite esboçado em prazer
Imenso o seu repasto, enorme confraria,
Rebanho feito em treva, estranha confusão
De pernas num delírio aborta a solução
E a cada novo tempo, o demo se recria...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24028
Satã em sua forma angélica e venal
Deveras é um rei enquanto força extrema
Não há quem o deseje embora sempre o tema
A sorte se mostrando às vezes triunfal
Tramando a cada instante um vário ritual
Permite esta corrente, atroz e louca algema
Atada sobre nós, estranho diadema
Significando a força audaz, descomunal
Fornalha em que se molda o pão que assim sacia
A fome de um prazer, sarcástica ironia
Qual fora um semideus, herética figura
Expondo em ar devasso a enorme tentação
Esgota-se em si mesmo; espúrio e mesmo vão
Da edênica serpente, ao gozo que tortura...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24027
Aonde a velha tocha ainda iluminara
Caminhos sem sentido, o rumo em pedras feito,
Sonoro gargalhar, o encanto putrefeito
Que embora te transtorne em ti já se declara.
A morte te acompanha e dela cada escara
Demonstra a tua face exposta deste jeito,
Não sei se na verdade, ainda quero e aceito
A lama que me dás qual fosse jóia e rara.
Helmíntica figura, apática e satânica
A fúria que te guia uma explosão vulcânica
Permite que se veja; escombros neste olhar
Aonde se pensara ainda num futuro
A vida sem descanso extrai de um solo duro
O nauseabundo tom que irá te deformar...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24026
Banquetes que serviste em fina porcelana,
Orgulho de quem tenta apenas ser alguém,
No fundo o que retrata e sabes muito bem
Uma alma tão vazia entorpecida emana
O pútrido sentido aonde já se engana
A marca em cicatriz, o melhor que convém
Àquela a quem meu verso estampa-se: ninguém.
De onde tu roubaste este ar de soberana?
Imagem carcomida, envilecida em rugas
Preparas num banquete as mais espúrias fugas
E crês ser importante um gozo tão banal,
O prato; porcelana, a prataria e o riso,
Satã se gargalhando ao ver teu Paraíso
Desnudo neste fausto estúpido jogral.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24025
Hoje eu me percebo à cinza reduzido
Aonde imaginara ainda haver um resto
Daquilo que se fez em calmo e triste gesto,
Apenas um restolho, condeno-me ao olvido.
Guiado vez em quando irmanado à libido,
O tempo que perdi; se ao sonho ainda empresto,
Percebendo afinal, deveras nisto atesto,
O bem tão desejado, agora está perdido.
As cinzas do que fui ao vento se darão
Neste instante; sutis luzes chegarão
Medonha e já disforme a face demoníaca
Trazendo o que pensara há tanto abandonado,
Nos olhos do fantasma, o corte do machado,
E a torpe gargalhada, estridente e maníaca...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24024
A noite sem luar encarcerando o sonho,
Atrevo-me a pensar no quão difícil vida
Moldada a cada dia, expondo-se à ferida
Num canto mais absurdo, o amor eu te proponho.
E vejo que o passado embora tão medonho
Marcou-te tão profundo, uma alma em despedida
Da sorte que virá, decerto já duvida
E traz no olhar o medo, um ar sempre tristonho.
Deveras importante é ser além do todo,
Superando em Amor, qualquer engano, engodo,
Trilhando em urzes feito o teu vasto caminho
Sabendo que amanhã nas tramas deste sol,
O dia nascerá e tomando o arrebol
A claridade à qual, deveras eu me alinho...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24023
Amar quem nos odeia e mesmo em prejuízo
Do quanto se pensara além do próprio gozo,
Caminho que seria o mais belo e formoso,
E sei que é necessário, um canto mais preciso,
Do todo que aprendi, perdoe se eu aviso
Enquanto se fez Filho o Pai maravilhoso
Ensinando que Amor é campo pedregoso
E nele um andarilho expondo-se ao granizo
Encontrará se forte, a imensa claridade
Que quanto mais se der, mais bela nos invade
Mergulho dentro da alma extrai a maravilha
Amando quem te fere, ascende-se ao Senhor,
Não há um bem maior, senão o pleno Amor
Embora árduo caminho; expõe quando se trilha.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24022
A minha voz cansada após tanto teimar
Buscando a melodia, ausente desde quando
A sorte pouco a pouco, eu vi se transmudando,
E nela não percebo as ânsias de lutar.
Não posso mais me expor ao turvo lupanar
Do qual imaginara um dia se moldando
Hedônico fantasma, estúpido guiando
A mão do que deseja embalde se salvar.
Inexorável mundo esgota-se por si
Aonde vira luz, decerto me perdi
E nada tendo após somente a dor se emana
Do incenso da esperança, a morte se mostrara
Qual força que transtorna, e nega a própria Vara
A qual feita em cordeiro expõe a face humana...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24021
A luz que nos guiando; expressa mansidão
Não sei até que ponto agüenta a realidade
À qual se entrega a tola e torpe humanidade,
Depois – hipocrisia – ainda quer perdão.
Eternamente o Pai, nos ensinando em vão
Que todo ser humano, agrade ou não agrade,
Por mais que noutro mar ainda teime e nade,
É teu e nosso bem, deveras um IRMÃO.
Assim eu poderia ao ver em mar tranqüilo
Sossegar uma alma, e se isso eu não destilo
É por não ter a força à qual eu me daria
Se ainda houvesse o brilho, além da fantasia
De um novo amanhecer que sei já tão distante,
Aí o olhar sombrio expressaria o avante...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24020
A cada novo dia expulsas mensageiros
Do Pai que nos amando entrega em sacrifício
Seu Filho a cada instante, assim é desde o início
E tolo, nada vendo, és tu entre os primeiros
A crer na eternidade e matar os cordeiros.
Assim é na verdade, o nosso Santo Ofício,
E nele a realidade expressa em fome e vício
O desamor no qual em atos corriqueiros
Expões na velha cruz o que disseste o Cristo,
Pois nele a humanidade e também eu existo.
Perpetuando assim a tosca hipocrisia
Na velha prostituta está neste mendigo
Que matas se não vês omisso desabrigo,
E depois numa Igreja a imagem salvaria?
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24019
Mistério que se mostra eterno e doma
O pensamento humano e mostra o quanto
Ainda não se sabe e quando nos assoma,
Estreita-se o caminho, entre agonia e canto,
Vivendo por viver, a verdade nos toma
E nela vez em quando, o riso, o medo e o pranto,
Saber que nada sei reduz a velha soma
E ao ver o quão vazio, agônico me espanto.
Estranho-me no espelho e nada mais de mim
Eu sei, nem onde irei, tampouco porque vim,
Se o vago que sou eu ainda não traduz
Sequer o que pensara o que será no fim
Se não houver um sonho e perecer Jardim,
Aonde caberia ainda crer na cruz?
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24018
Numa idiossincrasia, a dor entranha e ri-se
Medonho antagonismo, o ser e o nada ser
Aonde se veria algum tosco poder
Talvez até pareça, uma mera tolice,
Mas quando uma incerteza adentra-se; desdisse
O que se fora certo e morto passa a ter
Caminho que ilusório, um dia irás perder.
O preço do vazio, a sombra a se verter
Tomando o que brilhara e neste lusco fusco
Encontro mais distante o que deveras busco.
Excêntrico desejo, etérea companhia,
Assim fragilizado, o forte esvaecido,
Perece desde quando adentra em cena o olvido
E depois de passado, o nada se recria...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24017
Imaginável rota aonde eu poderia
Entranhar o desejo e ter felicidade,
Apenas o não ser em lástimas invade
E nada se refaz, e nada assim se cria,
Eterno transformar, a morte me daria
A vida que da vida, expondo eternidade
Realça o quanto fui e serei na verdade,
Um ser sempre mutante, eterna sincronia.
Mas quando enfim sonego a vida após a vida
Ao me deixar arder em forno crematório
Termino o velho ciclo; sem nada que reflore-o
Jardim de uma existência aborta-se e, perdida
O que já fora outrora uma renovação
Em cinza se transforma e nela, a negação.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24016
Não quero mais me dar ao luxo de sonhar,
Zelando pela sorte, o tempo me destrói,
E aonde houvera força, a vida já corrói
E nada do que quis, ainda irei tocar,
Fazendo da esperança algum imenso altar,
O medo me tragando o nada se constrói
E tudo que era meu, a vida aos poucos rói,
Arruinado sonho, um fardo a carregar
E nele percebendo o quanto nada valho,
Esqueço da ilusão, quebrando um frágil galho
Aonde me mantinha em sonhos; sustentado
Percebo que em verdade, apenas solidão
Depois de tanta luta; o mesmo e velho não,
Parceiro mais constante encontra-se ao meu lado...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24015
Embora muita vez eu siga introspectivo
Ensimesmado mesmo, até de ti me afasto,
Carrego dentro da alma, um furor tão nefasto
Aonde outrora fora, audaz, mesmo lascivo,
Agora sem ter força apenas sobrevivo,
O tempo que em vazio, ainda teimo e gasto
O gozo que não veio; o amor singelo e casto,
O riso prazeroso. Ambíguo mundo, eu vivo
E sei que depois disto, o nada me consola,
Açoda-me a vontade, a morte, uma pistola
E o rito suicida, a forca ou o veneno.
No fundo ainda resta uma força menor,
Caminho que conheço e sei até de cor,
Mas quando vejo a vida, eu sempre me apequeno...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24014
Isolo-me de tudo e nada me apetece
O não ter e não ser, devora o que foi gente,
Por mais que alguma luz, ainda teime e tente
O vazio completo, aos poucos já se tece.
E quando em minha vida eu sinto que anoitece
O que pensara ser, deveras tão urgente
Morrendo em nascedouro, impede que se atente
Aonde houvera brilho, em trevas escurece.
Não posso me furtar, mas ando tão cansado,
A solidão e o medo, andando lado a lado
Não deixam que se sinta um novo amanhecer,
Queimando em carne viva, ardências desumanas,
E quando sem sentir; a sorte, tu profanas
Não vês que a vida assim, começa a se perder...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24013
A chama da esperança ainda está bem viva
E dela já se emana etérea fantasia
Que sempre se renova e muda a cada dia
Trazendo em belo porte uma presença altiva.
Mas quando deste fogo, o coração nos priva
Aonde se fez luz, a treva imperaria,
Apenas sem proveito, esta mesquinharia
Que embora me transtorne, em cicatrizes criva.
Um embrião que a vida aborte e não permita
Sobreviver se perde e uma alma se faz brita,
Na ausência da esperança, apenas frialdade.
Num gélido caminho, olhar sem horizonte,
Sem ter sequer a luz que ainda guie e aponte
É força que com tempo, aos poucos se degrade...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24012
A liberdade acende ao fundo esta luzerna
Que tanto nos conforta e ao mesmo tempo fere,
Nas tramas desta vida, a sorte se interfere
E quando a embarcação, aos ventos já se aderna
O tempo se demonstra em lástima que eterna,
Mudando a direção, do nada ao nada gere
E faz com que o vazio em nós retorne e impere.
Num libertário canto, a dor se mostra terna.
Não tendo a mesma sorte uma alma procelária
Encontra a cada dia, a falsa luminária
E queda-se em tropeço, andando sempre às cegas.
Diversa da que tem nos olhos a esperança
Que mesmo em temporais, segura mais avança
Não importando o tempo, eu sei que tu navegas...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24011
Estátua do passado em bronze burilada
A vida é um cinzel e transforma deveras
Além do que pensara enquanto degeneras
Do nada que vieste, ao retornar ao nada.
E quando se percebe a longa caminhada,
Diversas estações, distantes primaveras
Hiberna o sentimento, as horas sendo meras
O quanto mais queria; imagem congelada.
Simples fotografia, um espelho renega,
O vinho que se guarda em boa e nobre adega
Persiste muito além aumentando o valor,
Mas quando se entregando aos dissabores vários,
Os prazeres sutis, eternos adversários
O bronze outrora firme encontro a decompor...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24010
O amor tem rituais, aos quais não caberia
Um julgamento tolo e estúpido de quem,
Achando-se supremo enquanto inda convém
Tentar se imiscuir numa outra fantasia.
A mão que me acarinha é a da poesia;
Erótico prazer se meu, de mais ninguém,
E quando uma vontade enorme toma e vem,
O que faço com ela amigo, eu não diria.
Se eu bebo, fumo e gozo, o problema é só meu,
O falso moralismo há muito se perdeu,
Hipocrisia é fato; o amor já não comporta
As trevas do passado, as imbecilidades
A arcaica burguesia estende suas grades
E teima inda em fechar dos sonhos, cada porta...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24009
Pudesse inda manter uma soberania
E ter em minhas mãos controle, pelo menos,
Dos sentimentos vãos, dias bem mais serenos,
Mas quando acordo e sinto o quanto se esvazia
O que restara ainda, em louca fantasia,
Os dias que pensara ainda serem plenos
Escondem desde cedo, o sol, a luz e Vênus
Em névoas eu percebo a sorte que me guia.
Não tendo solução, a vida nada traz
Senão este marasmo aonde quis a paz,
Tempestade se aflora e tudo é sempre igual,
A morte; quem me dera, ouvisse a minha voz,
A sorte não seria, assim, cruel e atroz,
E a luz encontraria ao menos no final.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24008
Fui néscio, reconheço; ao crer num falso guizo
Aonde se mostrava uma ilusão qualquer
Acordo e nada vejo, encaro o que vier,
E sei que na verdade, o sonho inda é preciso.
Pudesse num momento o sol sem ter granizo
A sorte mudaria e havendo o que inda houver
Teria com certeza o quanto inda me quer
Resquícios do passado, a sombra me acompanha,
E quando imaginara além desta montanha
Um vale mais sereno, apenas um remanso,
Encontro no final, imensa cordilheira
Se tudo foi em vão, e a sorte já se esgueira,
Apenas o vazio em água turva alcanço...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
24007
A turba se perdendo em meio aos temporais
Quisera algum lirismo e tudo cor de rosa
A vida na verdade, uma esperança glosa
E nada do que fui; serei, pois nunca mais.
Os dias que pensara em tons fenomenais
A paz que procurara, embora caprichosa
Durante todo tempo, ausente e belicosa
Apenas escondida atrás destes florais.
Azedo-me e, talvez, já não tenha saída,
Se toda a fantasia em dores convertida
Não deixa que se pense em outra solução.
Meu verso procurara um dia mais tranqüilo,
Mas quando esta amargura entranha-me e desfilo,
Somente os mesmos féis, os meus versos terão...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Fevereiro 02, 2010
VOZES DO ALÉM TÚMULO
REFLEXOS DO PASSADO EM LUZ SOMBRIA
Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24130
O que me resta agora neste mundo
São flores esquecidas nalgum canto,
E quando na ilusão ainda canto
Nas sendas mais diversas me aprofundo
E o coração deveras tão imundo
Apenas embalado pelo pranto,
Lembrando do sutil belo acalanto
Esqueço o meu presente, vagabundo.
Qual fora um mero pária em noite fria,
Ainda se esboçando a poesia
Nas mãos de quem outrora quis o sol,
E quando me percebo tão distante
Do dia que pensara, radiante,
A treva vai tomando este arrebol...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24129
O mais alto de tantos pensamentos
Jamais alcançaria o pedestal
Aonde se encontrando o triunfal
Delírio que apascenta sofrimentos,
Enquanto vou me expondo aos fortes ventos
E aguardo com certeza o temporal
A vida se mostrando trivial
Esconde os mais diversos sentimentos.
Meus versos embalados pelo sonho
Que tanto procurara e recomponho
Usando qual cinzel um simples verso,
Passado se perdendo na lembrança
E quando este porvir risonho alcança
Esqueço o que vivera, tão perverso...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24128
Sentindo em desamor o teu desdém
Um frio pensamento dita a sorte,
Não tendo quem me acolha ou me conforte
Vontade de morrer, deveras vem,
E vivo tão somente por alguém
Que não me quer e busca noutro norte
A fonte que desfila em seu aporte
Enquanto em minhas mãos nada contém.
Vazio coração espera tanto
E enquanto neste sonho em vão me encanto
Encontro o que pensara não mais ter,
E os olhos que perdidos no passado,
Agora vendo o fundo abençoado
Do céu neste tão lindo amanhecer...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24127
Aonde se fizera amor tão fútil
A paisagem muda no final,
Esgueiro-me das ânsias do animal,
E tento mesmo sendo vago e inútil.
Ascendo ao nada ter e nisto faço
Um verso que possa me conduzir
Ainda se acreditas no porvir,
Permita que eu repita cada traço
E beije a podridão que já se exala
Da velha poesia semimorta
E quando noutro cais a vida aporta
A noite que pensara ser de gala
Esboça-se em venal caricatura
E o fim de uma ilusão já se afigura...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24126
Escondo-me nos ossos de quem fora
Ainda há pouco tempo e da carniça
A glória da esperança já se viça
Uma alma se mostrando sonhadora
E quando noutros tempos; tentadora
Mortalha muitas vezes movediça
Fornalha da ilusão trama em cobiça
A morte no final, expectadora
Aonde se mostrara este cenário
Uma esperança atroz, desnecessária
E o fogo se espalhando, temerário.
Queria pelo menos ver a face
Daquela que se mostra a luminária
Da fúnebre paisagem, o desenlace...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24125
Apenas a renúncia doma a fera
Que habita estas entranhas e devora
Aos poucos quem sustenta e sem demora
Atocaiada; a vida degenera,
Aquém do que uma sorte ainda espera
A morte se mostrando a qualquer hora,
Aonde uma esperança vai embora,
Vazio após vazio, o nada gera.
Esqueço-me deveras desta sina,
E bailo frente aos olhos da assassina
Mordazes alegrias; não escondo,
A cada bote seu; outra ferida
E assim embora tosca, vã, perdida,
Uma ilusão; me vejo enfim repondo...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24124
Atrevo-me a pensar em claridade
Depois de tantas noites entre trevas
A sorte entre estas luzes mais longevas
Permite esta esperança que me invade.
Aonde houvera medo; ânsias e grade
O amor em dores feito, trama levas
E enquanto mais distante ainda nevas
Um ar primaveril que tanto agrade
Permite uma faceta mais diversa
E quando em fantasia uma alma imersa
Esgarça a rota veste e se desnuda
Alvoroçadamente a vida eclode
Crisálida que em cor sublime explode,
Alma que agora canta, outrora muda.
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24123
Ouvindo nesta noite a voz do vento
Trazendo a vã notícia do final,
O quanto desejara um cais, a nau
Naufraga num vazio sentimento.
E quando em temporais eu me atormento,
Pensando neste mundo desigual,
Ascendo ao mesmo instante o pedestal
Enquanto na verdade, me arrebento.
Volátil luz se emana da ilusão
E dela volto à mesma escuridão
Esgueiro-me entre treva e lusco-fusco,
Aonde se fizera um leve brilho,
O dedo no revólver; engatilho
E a solução fatal, mais manso, eu busco...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24122
Numa ânsia sem limites, infernal,
Angústia vem tomando toda a cena,
A morte num momento já me acena
E bebe com fulgor seu ritual,
Ascendo ao nada ter; termo final
Aonde não desejo sequer pena,
Se a vida por si mesma não serena
O coração de um tolo, vil boçal
Que posso se não tenho mais saída,
Apenas esperar o fim da vida,
Adormecendo em mim a louca fera,
Que tanto se aflorara no passado,
Agora com certeza, abandonado
O velho coração, seu fim espera...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24121
Acendo este cigarro embora nele
A morte se apressando a cada trago,
O quanto do vazio ainda trago
Floresce enquanto a vida me repele
O gozo que não tenho mais presente,
O medo do futuro que não vem,
Encontro destinado contra alguém
O olhar já deturpando o meu presente,
Audacioso passo? Fui capaz,
Agora sem ter forças eu me entrego
E sigo pela vida em rumo cego,
Aonde poderia ser audaz
Um ser que se definha a cada instante
Embora tenha uma alma delirante...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24120
Alheia aos medos vários que dominam
A face demoníaca se expressa,
No quanto se desvia mais depressa
Os rumos do vazio se aproximam.
E quando nada houver sequer a glória
Ainda se fazendo sem pudor,
Ao Pai, o nosso imenso Criador
Deboches; ser humano vil escória
Já conseguindo então seu objetivo,
Destroçando o que resta por inteiro,
Enquanto no poder sexo e dinheiro,
Eu agradeço a Deus por estar vivo.
Medonhos precipícios, longos sismos,
Aos pés desta pantera, vãos, abismos...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24119
Devasta-se sem tempo e nem defesa
A Terra num martírio demoníaco,
O olhar do ser humano, este maníaco
Prepara o Apocalipse, sobremesa,
Deitando no vazio tal herança
Que Deus deu num momento feito amor,
Destroços esboçados no terror
Matando desde já uma esperança,
Aonde quer que eu vá, percebendo ira
Do Pai em tempestades, furacões,
Dos dias que virão; fúrias, verões
Sem ter nenhum poder que inda interfira,
Insuportável ar, furor desértico,
Um ser tão desprezível, tosco e aético.
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24118
Diversa deve ser sempre a temática
De quem já filosofa e tenta crer
Teimando desfiar em cada ser
Além do que propõe a matemática.
A vida não se mostra assim estática
Tampouco sendo insólito o prazer
Não devo nem por isso perecer
Nem mesmo vou mudar a minha tática.
Assim novo poeta; eu não serei,
Arcaica e démodé a minha grei
E nele, só por ela é que inda traço
Em ritmos compassados os meus versos,
Que seguem pelas ondas, tão dispersos
E um dia ocuparão algum espaço.
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24117
A fonte inesgotável tendo a mística
Palavra que se molde ao que bem tento
Bem mais do que transmita o pensamento,
A vida se moldando em estatística;
A veia em que transborda a luz artística
Exige que ao seu tempo siga atento
Perdido sem valor exposto ao vento,
Meu verso traz em si velha balística.
Num sísmico tremor, aumenta o tédio,
Explícito caminho sem remédio,
Enojo-me deveras deste nada
Aonde se transcorre a atualidade
Sem fonte, sem palavra que te agrade
Assim se faz a nossa caminhada...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24116
A mágica do mundo sepulcral
Invólucros diversos são crisálidas
Aonde dores fartas, mãos inválidas
Transgridem a beleza sideral
Vagando pelas ânsias deste astral,
Mergulho em luzes tantas, toscas, pálidas
Buscando multiformes luas cálidas
Fazendo do meu canto um ritual,
Assédios de satânicos delírios
Prenunciando assim duros martírios
Entre cores diversas, vão dispersos
Os sonhos que deveras acalento
Tomados pelas ondas, forte vento,
Anárquicos caminhos de universos...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24115
Homem pelo medo já vencido
Num ultra e farto gozo esta quimera
Que a tantos causa espécie e destempera
Aonde reinaria esta libido
O gozo pelo gozo diz olvido
E o tempo entre tais teias trama a espera
No olhar inebriante desta fera
O tempo sem ter tempo adormecido,
Esgota-se em si mesmo o fratricídio
Aonde humanidade principia
E quando se mostrara em vão; decide-o
Caminho feito em treva desde o início,
A sorte que transborda em agonia,
Tramando sem defesas precipício...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24114
Meu corpo putrefeito se escancara
E beija esta carcaça do que fui,
Enquanto a fantasia se dilui
E a morte em vida agora se declara
A sorte desmedida, mas amara
Escarpas entre medos; evolui
E o quadro se desfaz enquanto rui
A casa que decerto nunca ampara
Acerto minhas contas e pressinto
Que aonde imaginar algum absinto
Apenas tão somente a embriaguez,
E quando num excêntrico caminho
Da morte insofismável me avizinho
Eu perco a cada instante a sensatez...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24113
Arrulha esta ilusão, pombo correio
Dizendo do passado, escondo agora
O quanto não virá e sem demora,
Não posso mais conter sequer o anseio,
Dizendo desde sempre ao que não veio,
A sorte noutras cores se decora
E quando a poesia vai embora
Não tendo quase nada, tosco esteio,
Agarro-me ao que resta e sei tão frágil
O que se outrora fora bem mais ágil
Demonstra tão somente no naufrágio
O beijo ardente e tolo da esperança,
Aonde quis viver, vejo a vingança
Cobrando com a vida, um imenso ágio...
posted by MARCOS LOURES at Quarta-feira, Fevereiro 03, 2010
24112
Tal qual uma esperança perde o senso
Andando sem destino; busco a paz
E sei que quando a sorte se desfaz
Apenas num momento ainda penso,
E quando o céu se mostra escuro e denso
Nem mesmo uma ilusão me satisfaz,
Aonde se quisera mais audaz,
Encontro este vazio enorme, imenso
Se eu tento decifrar cada caminho
Por onde poderia, em vão me aninho
Nos braços de quem sempre atocaiara
E nesta espreita sinto o firme bote,
E mesmo que esta vida vã se esgote
Agora, só no fim a noite é clara...


24111
Perdidas ilusões deixando marcas
Profundas nos meus olhos sonhadores
Se tudo o que pensara fossem flores
Diverso do que agora onde abarcas,
As horas prazerosas sendo parcas
E nelas se puderes onde fores
Terás bem mais bonitos os albores
Nas mansas fantasias que ora embarcas.
Assédios das complexas emoções
A vida se tomando em vãos senões
No fundo tudo aquilo que mais quero
Espelha-se na face da pantera
Aonde algum alívio uma alma espera,
O brado que ressoa ao longe, fero...


24110
Aonde se pensara em simples gozo
Ecléticas daninhas seduções
Tomando já de assalto os corações
Moldando um tempo amaro e pavoroso.
Quisera pelo menos prazeroso
O dia em que sabendo dos verões
Não se perdera a rota, as estações
Agora num caminho caprichoso.
Mecânica na qual tal engrenagem
Enferrujada traz somente o não.
Aonde se buscara a direção,
Perdida há muito tempo esta viagem,
Arguto caminheiro do futuro,
Jamais verei a luz que aqui procuro...


24109
O tempo se mostrando em tom fanado,
Mistérios escondidos desde quando
A vida que em Jesus se transformando
Deixara algum caminho, um manso Fado.
Porém ao homem cabe tanto enfado
Um mundo bem suave, e bem mais brando
Distante do que busca, deformando
O amor com que universo foi criado.
Percebo a morte audaz a me tocar
E quando não mais vejo algum luar,
Semeio a tempestade que colhi.
Bebendo a fetidez de um tempo insano,
Mostrando o quão deveras sou humano,
O Inferno em própria vida; eu vejo aqui.


24108
O quanto do passado se relê
Nos fatos que acontecem dia a dia,
Enquanto a podridão inda nos guia
O homem, sem procurar, no nada crê
Prazer pelo prazer, o que se vê
E nesta falsa luz, tosca ardentia,
O que talvez pudesse fantasia
Agora na verdade, sem por que.
Estúpidos fantasmas me acompanham,
Demônios que deveras inda crio,
E quando desviar-se o velho rio,
Perdendo as ilusões que ainda arranham
Invés da claridade, eterna treva,
Aonde um tempo brando, em fúria neva...


24107
Atemporais prazeres, fim de Império?
Divergem, mas deveras se aproximam,
Enquanto gozos fáceis nos dominam,
O mundo se perdendo sem critério.
O quanto desejara no Mistério
As luzes que por certo já se primam
E quando amores/dores inda rimam
No peito de quem sonha, um vão minério.
Graníticos momentos, alma esquálida
Aonde se perdera esta crisálida
Desvendo este cenário em palidez.
Buscara a Salvação, estando atento,
Com meias soluções não me contento
Ainda teimo e busco a sensatez...


24106
As folhas se perdendo neste outono,
Aonde a primavera se desfez
Bebera do carinho em altivez,
Agora o que nos resta, este abandono.
A sorte que se busca e não abono
Mergulha em total insensatez,
O mar que noutras cores tu já vês
Estúpida ilusão, pois tem seu dono.
Aonde se pudesse crer num fato,
O medo sem temor, se eu desacato
Transforma vento frio em temporal,
Agônico caminho, a humanidade,
Sem mar que se percorra, o vago invade
E o rito se tornando sempre igual.


24105
Não sei se tu reparas ou se notas
O quanto não se pode mais sonhar.
Ausente desta terra algum luar,
As velhas esperanças seguem rotas
Diversas do que outrora em vão denotas
Usando com ardor de um lupanar
Aquilo que seria algum altar
Enquanto; esta roupagem, amarrotas.
Servir ao nosso Pai e Criador
Num tempo feito em gozos e prazeres,
Além do que buscares e quereres
Será bem mais difícil e encantador.
Palavras nada mais representando,
O Amor em falsa face se mostrando...


24104
Acordo e vendo a vida em polvorosa
Demônios disfarçados pelas ruas,
E enquanto o teu caminho continuas
Pensando neste mar sublime em rosa,
A sorte que deveras sempre glosa
Tornando em realidades duras, cruas,
Ao ver que mais distante tu flutuas
Estampa a sua cor mais desairosa.
Não deixe se levar por esta imagem
Que embora te pareça feita em luz
Às trevas mais profundas te conduz
E saiba quão difícil tal viagem,
Gargalhando-se irônico Satã
Colhendo com vigor seu frio afã.


24103
O canto se espalhando em fogo e guerra
Além do que julgara ser possível
Na fúria de Satã tal força incrível,
A quem resistirá destino cerra.
E a porta escancarada desta Terra
Deitada sobre a fome do impossível,
Fazendo todo gozo ser mais crível
A salvação deveras já se enterra.
Não creia que o Demônio te ofereça
Um mundo mais atroz em que padeça
A sorte se fazendo negativa,
Muito ao contrário, nele tu terás
Prazeres incontáveis; mas voraz
Não deixa que tua alma sempre viva...


24102
Desmaia sob o açoite da esperança
Esgueira-se a serpente, e o Paraíso
Há tanto prometido em prejuízo
Ao fogo deste inferno já se lança,
Nas mãos do Redentor a frágil lança
Enquanto humanidade sem juízo
Esboça com sarcasmo algum sorriso,
O Cristo não reluta nem descansa.
Quisera ter a força do Meu Pai,
Porém enquanto o medo ainda me trai
Não tenho outro caminho senão fuga.
Pois quanto mais resisto à tentação
As armas de Satã, cedo virão
Tomando minha face em cada ruga...


24101
Por onde se espalharam tais gemidos
O açoite sobre a pele quase nua,
Ensangüentada cena continua
Vergastas dizem dias mais sofridos,
Os sonhos libertários esquecidos
Uma alma se evadindo em vão flutua
Ao longe, enlanguescida, deita a lua
Enquanto o servo perde os seus sentidos.
Por vezes este fato se repete
Na fome e na miséria, no pivete
E sendo desde sempre até o fim
A História não desmente a realidade
E mesmo que este espelho desagrade
É nele que decifro o que há em mim...


24100
Qual fora da esperança solta vaga
Que adentra-se na areia e toma a praia,
O amor quando demais nele se espraia
A sorte que desejo e não se apaga,
Aonde se mostrara outrora vaga
Agora com certeza, em luz desmaia,
Alheia ao sofrimento já não caia
Nos erros que cometes nesta plaga.
Não se deixe levar por manso mar,
Pois nele só tormenta há de encontrar,
Uma enganosa face em falsas luzes.
E saiba onde tu pisas; nunca viça
A planta numa areia movediça
À qual sem perceber tu te conduzes...


24099
A vaga beija a praia em luzes tantas
E quando vês sublime maravilha
O pensamento amada, também brilha
Nas tramas de um verão tu já te encantas
E as horas em que douras pele, santas
Alvissareira e brônzea estrada trilha
Distante de teus olhos, quase milha
Percebo a claridade em belas mantas
Deixando para trás qualquer tormento,
Sentindo neste vento o que acalento,
Amor em mansidão, luzes solares.
Aonde tu seguires minha amada
Será decerto feita a caminhada
De quem tu escolheste para amares...


24098
Banhado pelo sol; esqueço a lua
E encontro bem mais forte claridade
Que enquanto mansamente chega e invade
Uma alma se dourando já flutua
E enquanto se desfaz, amarga e nua
A sorte que outra senda desagrade
Arcando com cruel fatalidade
A morte sem defesas, vêm à rua
E tomando de assalto quem outrora
Aos raios deste sol se demorava
E agora tão distante se apavora
Mudando o seu destino, num segundo,
Aonde fora sol, do mundo em lava,
Nas sanhas dos mistérios me aprofundo.


24097
Banhado em tantos prantos quanto sei
O dia em que talvez fosse feliz,
Espera uma alegria, a sorte diz
Do quanto se perdera noutra grei
O mundo que deveras procurei,
O encanto refugio e por um triz
O todo que em desejo e peço bis,
Não pode respeitar arcaica lei
E trama do futuro outro sabor,
Sem ter quase mais nada o que propor
Um torpe caminheiro segue só,
Da estrada que pensara redentora,
A senda que julgara salvadora,
Deixando a quem se deu, poeira e pó.


24096
Se encontro em nosso amor com tanto afinco
O quadro que deveras imagino,
Ainda se pudesse, qual menino
Que enquanto co’ilusão ainda brinco
Deixando este telhado feito em zinco
Aonde uma esperança dobra o sino,
Completo e mais perfeito desatino
A porta sem ferrolho, amor sem trinco.
Escapa-me das mãos esta certeza
E quanto mais cruel a correnteza
A sorte que se preza, presa está
Do encanto que se molda a cada dia,
E enquanto em tanto brilho se fazia
A vida se afastando desde lá...


24095
Descendo pelas margens deste rio
Sabendo que talvez não veja a foz,
A sorte se mostrara tão atroz,
Mas como um louco, insano desafio
Vencendo a cada dia, um mundo crio
Aonde se perceba sem algoz
E possa-se escutar mais forte voz,
Assim o meu futuro já desfio.
Aonde se moldara a cordilheira
Minha alma da esperança ora se inteira
E sabe que depois existe um vale,
Aonde em plena paz possa colher
Os frutos que exalando tal prazer
Jamais permitirão que o amor se cale.


24094
Pudesse então minha alma renascer
E trazer noutros dias esperança
À qual quando deveras a alma se lança
É tempo de buscar novo prazer.
Vivendo tantas vezes por viver
Sem ter sequer amor ou aliança
Que possa se guardado na lembrança
Um fato tão difícil de esquecer.
Por vezes, na verdade, sou mesquinho,
E quando encontro pedra, cardo, espinho
Desvio o meu caminho e nada disso
Ajuda ao andarilho que procura
O sol em noite amarga, dura e escura,
Neste solo arenoso e movediço.


24093
Ainda que não possa ter nas mãos
As cores que já sei não mais verei,
Aonde se pudesse ter a grei
Na qual os dias fossem menos vãos,
Plantando com ternura versos, grãos
Fazendo da alegria a minha lei,
Quisera num castelo que sonhei
Vivêssemos os sonhos sem tais nãos.
Alcançaria a glória de poder
Ter neste olhar um novo amanhecer
Na aurora multicor, belos matizes,
E assim ao perceber tanta ventura,
Vida que noutra senda se aventura
Traria dias calmos e felizes...


24092
Pudesse pelo menos em velhos cantos
Ao traduzir antigas melodias,
Diverso deste encanto que desfias,
Apenas me restando amargos prantos,
E quando me perdendo em desencantos
Encontro o que inda restam; agonias,
Aquém deste verso onde dizias
Dos dias mais felizes, foram tantos...
E cabe-nos talvez, lutar ao menos
Por dias mais tranqüilos e serenos
Usando para tanto a luz que resta
Aonde se pudera ver o brilho
Do rumo que, sem mágoas sigo e trilho,
Sem ter lua a escolher, aquela ou esta...


24091
Quisera ainda ter no olhar o estio
Que há tanto se perdeu num longo outono,
E quando mais distante inda ressono
Um ar primaveril, em sonhos crio.
Pudesse ter mais longe o vento frio
Que apenas traduzindo este abandono,
E quando com saudades telefono,
Respostas, não escuto; horas a fio...
Mudasses pelo menos uma vez,
O amor no qual deveras já não crês
No todo desta vida ao menos resta
Uma leda esperança e nada além,
E quando em noite escura, o sonho vem
Invés deste amargor, sorriso e festa...


24090
A flor que ao se murchar nega o verão
Tramando um duro inverno a cada dia,
E enquanto cada sonho desfazia
Apenas frias noites que verão
A sórdida figura da paixão
Aos poucos se perdendo em fantasia,
A noite sem ninguém tanto esvazia
Deixando em teu lugar, a solidão.
E beijo das sarjetas, aguardentes
E peço, pelo menos que tu tentes
Mudar este sarcástico sorriso.
E quando tu vieres, não comentes
O imenso asco que ainda sei que sentes
Do tempo em que me amar fora preciso...


24089
As horas que, mundanas me desdenhas
Descreves o abandono como fosse
Um mote que deveras agridoce
Traduz das ilusões, enigmas, senhas.
Embora sei o quanto te convenhas
Fazer do desencanto em que se trouxe
Além do que este amor em ti; findou-se
Também toda a verdade que inda empenhas.
Palavras nada valem, vento leva,
E enquanto o sol se esconde e vejo a treva
Atrevo-me a pensar noutro momento,
Mas sei que tu não vens e nem virás
Aonde se buscara ao menos paz
Sem ter sequer o amor, me desalento...


24088
Fizesse dos festejos, belas galas
Banquetes e delírios entre mesas,
Aonde se mostrara em sobremesas
Fulgor que não percebes, mas exalas,
Porém este ar tão pútrido que inalas
Não deixa que se veja em ti belezas
Lutando contra as fortes correntezas,
Expondo-se desnuda em ricas salas.
Perdendo cedo o brilho aonde há vida,
A moça sem saber prostituída
Usada como fosse um brinde apenas,
Sem ter noção do quanto é caro
O amor que em timidez já não declaro,
Com um tolo sorriso tu me acenas...


24087
Prazeres que buscara noutras sendas
Agora vão distantes dos meus dedos,
Amores envolvidos em segredos
Que sei, somente tu inda desvendas,
Paixões se transformando em ledas lendas
Restando tão somente os velhos medos,
E teimo em prosseguir, mesmo em degredos
Diverso deste encanto em vãs emendas
Não pude mais pensar em gozo e festa
Se tudo o que em verdade ainda resta
Não vale nem sequer algum nuance
Da sorte amargurada que legaste
A vida vendo a luz em tal contraste
Não deixa que alegria um tolo alcance...


24086
O quanto em puro amor inda consiste
O verso que sonega uma esperança,
Nos bailes da ilusão, meu sonho dança
E a noite já se dana amarga e triste.
Aonde desejara, enfim desiste
E ao vago deste rumo amor me lança
Deixando tão somente na lembrança
Um resto de prazer que ainda insiste
E toma cada instante desta vida
Que embora muitas vezes vá perdida
Não deixa de pensar em novo dia,
Aonde a luz que outrora me guiava
E aos poucos se tornando de outro, escrava
Deveras sem ter brilho a ninguém guia...


24085
No campo aonde estava essa ilusão
De um mundo mais tranqüilo e até bucólico,
Verdade se moldando em tempo insólito
Transmite a mesma idéia, negação.
E quando as fantasia que virão
Trouxerem o futuro melancólico
Verás o que pensaras ser heróico
Morrendo bem distante, noutro chão.
Assim imagem falsa e deturpada
A sorte há tanto tempo não diz nada
E, omissa não permite que se creia
Ainda num momento mais feliz,
Se a própria vida nega e isto desdiz,
Que faço, meu amor, da lua cheia?


24084
Eu sinto no rumor de antigas salas
Presença do que fui e o tempo leva,
Aonde uma esperança existe, neva
Dos sonhos almas não podem ser vassalas.
E quando ao mesmo instante ainda falas
Dos dias em que a luz negando a treva
Moldaram fantasia que se entreva
E muda ao mesmo tempo em que tu calas.
Não posso mais seguir o brilho falso,
Tampouco de ilusões, inda me calço
E vejo após a noite, esta neblina
Que enquanto toma o céu, no alvorecer,
Deixando para trás qualquer prazer,
Algema uma esperança e me domina...


24083
Em ermos descaminhos luzes falsas
Aonde poderia ter a sorte
Apenas solidão inda comporte,
As emoções deveras vão descalças
E quando outro momento em paz tu alças
Não vês que me tomando o rumo e o norte
Tu deixarás somente o medo e a morte
Que sem tu perceberes já realças;
Aonde se fizera algum proveito,
O amor que te me trazes não aceito,
Expondo desde sempre a falsa idéia
De um tempo em que se possa acreditar,
O brilho que inda trazes neste olhar
Irônico, desfilas p’ra platéia...


24082
Aonde poderia ter um resto
De luz que me dourasse, nada havendo,
Apenas solidão; inda desvendo
E tudo o que eu buscava em vão, funesto.
E quando a fantasia; em sonho atesto,
Encontro alguma luz, cruel adendo,
Da infausta sensação, lanterna, acendo
Bebendo da ilusão, sonhos, detesto
E finjo que tal luz possa guiar
Embora tão distante do luar
O brilho determina o passo e o tom,
Nas ânsias de um momento mais feliz,
A sorte por si mesma já desdiz
Mandando, como engodo este neon...


24081
Um solitário cavaleiro busca
Em noite clara se entregar ao sonho
E quando a fantasia; assim componho
E luz da lua cheia toma e ofusca
Deixando no passado a eterna busca
Um pesadelo expõe um ar medonho
E aos poucos sem ninguém eu já me exponho
À férrea solidão tola e patusca.
Ao procurar, inútil, quem me queira
A derradeira estrela, companheira
Também me abandonado atrás das serras,
E vendo este martírio interminável,
Num ato resoluto e indecifrável
Janela de teu quarto, também cerras...


24080
Venenos que me deste em raras taças
Nos cristalinos sonhos nada além
Do quanto este vazio já contém
Destino que deveras nulo; traças.
Aonde se pensara em luas, praças
Apenas solidão; procuro alguém
E sei que na verdade nada vem
Somente a frialdade em vãs desgraças;
Convulsas emoções, o amor nos dita
Mas quando a sorte é vã, torpe e maldita
O que me move então? Louca esperança.
Ardendo no meu peito o saber que
O instante que se espera não se vê
Olha ao infinito, o amor me lança...



24079
Enquanto vejo luto em luz sombria
A dor inevitável dita a sorte
Aonde se pensara em quem conforte
Somente a solidão ainda havia
Vivendo sem demora a poesia
Aonde se moldura a vida e a morte
Num mundo que negando via e aporte
Escuto da esperança a melodia
E sendo esta quimera tão terrível
O quanto imaginara ser possível
Encontro ora vazio, simplesmente.
Alcanço com meu verso outra ilusão
E sei que os tolos me trarão
A fantasia à qual vida desmente.


24078
O amor se verdadeiro nos liberta
Já não suporto algemas nem correntes
Jamais traduziria atos dementes
Embora sua senda seja incerta
Quem vive o falso amor logo deserta
Levado por caminhos envolventes,
Mas quando ele vier; amiga, tentes
Fugir deste tentáculo que te aperta.
Não se deixe levar em descaminhos,
Amores se reais, ditam carinhos
Trazendo tão somente a liberdade
Viver a plenitude sem deixar-se
Levar por fantasia ou vão disfarce
Não deixe que uma luz demonstre grade...

24185
Simpatizas com dores e tormentas
E quando não consegues destruir
Ainda sem ter forças pra seguir
A tempestade imensa que ora alentas
Em meio às ondas tantas, violentas
Não posso mais pensar n’algum porvir
Se tudo o que procuro a te pedir
Responsabilidades? Cedo isentas.
Exijo talvez por incoerência
Algum momento apenas de clemência
E nisso se mostrando os desatinos
Desprendes de teus olhos tal fulgor
Que quando se pretende recompor
Os dias que virão mais cristalinos?

24184
Acordo e quando vejo em desacordo
O quanto se fez tanto e agora é nada,
A sorte quando em morte malfadada
Deveras feito feras no rebordo
Esboço este retrato em tratos férreos
Encilho estes corcéis libertadores
E busco mesmo quando tu te fores
Os sonhos sem ter quem ainda; ferre-os
Desta intempérie, impérios derrocados,
As ânsias expressando o que mais quero,
Arfando como fosse um fogo fero
Em fátuos turbilhões já degradados
Regresso do que outrora fora excesso
E agora cada engodo a ti confesso..


24183
Vivendo a luz que aviva a voz dos sonhos
Aonde ondas diversas versam mares
Por onde tu pretendes desandares
Decerto deverias céus medonhos.
Adentro-me deveras, vãos bisonhos
E biso quando piso teus pomares
Arcano qual arcanjo diz altares
Exaltam-se momentos mais risonhos.
Num lúdico cantar, lúbrico anseio,
Brindando em tal ardor desnudo o seio
E sei o que virá; delito e glória
Perecem; padeceres que prudentes
Impedem maravilhas impudentes
Matando a velha sombra merencória...

24182
Adejo-me em diversas dimensões
Sobejas maravilhas encontrando
Serenamente em tempo suave e brando
As horas se moldando em tais visões,
Vislumbro abrindo em paz os corações
Audácia se apresenta emoldurando
Dourando este caminho, raro bando
De estrelas; constelares seduções.
E sabes sem censura sensual
O amor quando se faz consensual
Expressa um ritual maravilhoso,
Orgástica loucura não se doma,
E quando invade a pele, alma e o estroma
Volátil vôo em vão, vertiginoso...


24181
Viver desta esperança que me trazes
Nos olhos benfazejos da ilusão
Ar puro se transborda em sedução
Enquanto feito em lua, ditas fases,
E sendo que bem sabes o que fazes
E as glórias que decerto inda virão
Perceba a maravilha de um verão
Expressa em raios fúlgidos, fugazes.
Efêmeros momentos florescendo
Na fluorescência rara de teus olhos
Florada vai tomando enfim abrolhos
Na franca efervescência, eu me defendo
Deste flagelo infame, feito em fome
Defasa-se a tristeza, foge, some...


24180
Eneassílabo verso eu persigo
Procurando talvez incapaz
De viver esperança que audaz
Servirá como um último abrigo,
E deveras a sorte eu consigo
Num viver que não seja mordaz
São palavras diversas que a paz
Muitas vezes não mostra o perigo
Onde a lua se esconde na mata
E a saudade voraz me maltrata
Quando vejo teus olhos, morena
A certeza se apossa de mim,
De onde quer no deserto em que eu vim
A alegria em ternura se acena...


24179
Não colho mais as dores do passado
Aonde não podia crer possível
Que a sorte se tornara mais plausível
E o medo num amor, abandonado.
Vivendo a cada dia do teu lado
O gozo de um prazer além do crível
No canto que se mostra imperecível
O verso pelo Amor abençoado.
Não creio mais nas velhas desventuras
E vejo que visões dizem da glória
Aonde se moldando em senda flórea
Deveras novos rumos que procuras
Encontras nas estrelas que polvilhas
Por sobre nossa vida, suas trilhas...


24178
Ocasos em voláteis luzes; vejo
E nelas os matizes ditam cores
Soberbas onde colho raras flores
Toando com ternura este desejo.
Distanciando embora, em vão lampejo
Prossigo em raro encanto sem opores
Aos sonhos mais felizes; sedutores,
Tutores dos meus dias, claro ensejo.
Havendo de surgir sem alternância
Apenas este amor que em abundância
Municiando a vida em tais prazeres
Florescem entre nós, mil primaveras
Realças a beleza e não alteras
Estrelas que refulgem; no colheres.


24177
Fartando-se da glória no infinito
Aonde procurara te alcançar
Um sol deitando as luzes sobre o mar
No amor que nos transforma; intenso, eu grito.
Viver a plenitude e ser bendito
O gozo que nos toma no sonhar
Pudera em mansidão se renovar
O verso aonde amor, deveras cito.
E sinto que talvez já não consiga
Esgrimo com vontades, sacrifícios
E quanto mais difíceis os ofícios
Mais forte com certeza, cada viga
Aonde sendo erguida esta emoção
Resiste à mais cruel devastação.


24176
Procuro a cordilheira, andino sonho
E tramo em Himalaias nossa vida,
Mas quando vejo a sorte já perdida
Apenas vale escuro em vão componho,
Sombrio o nada ter se faz medonho
Deixando como resto, a despedida
E quando do futuro a glória olvida
Retrato de um poeta audaz, bisonho
Ao esgarçar-se assim nada trará
Imensa depressão; encontrei cá
Sem pélvico molejo dos quadris
Explicitando o amor já não mais vejo,
E quando penso resta algum lampejo
Não levo nada além da cicatriz...


24175
Aroma que se espalha pela sala
Minha alma ao mesmo tempo já se cala
E bebe extasiada, tal perfume
Qual fora uma falena em volta ao lume
Palavra dos desejos é vassala
E quando a poesia me avassala
Além do que pensara de costume
Por mais que contra a sorte a vida rume,
Não posso ter sequer algum momento
Caminho sem o qual já não me alento
Envolvo-me e enovelo esta esperança,
E quando ao grande amor, vida me lança
Arrumo com denodo a minha casa,
Porém Musa me trai, com outro, casa...


24174
Um mundo no passado antropofágico
Agora se mostrando novamente
E nisto o nada ser permita atente
A Musa com seu ar meio nostálgico.
Aonde fora apenas casuístico
Herética doutrina diz do vago,
E quanto mais deveras eu te afago
Procuras noutros corpos um ar místico,
Sou pelo menos tórrido e deveras
Excêntricos caminhos esotéricos
Deixando para tais gozos histéricos
Entrego-me sem medo ao que inda esperas
Embora meu poema seja empírico
O tom que rege a vida é mais satírico...


24173
Ao aspirar este ar soberbo e raro
Encanta-me deveras, poesia
Aonde a própria sorte se desfia
Num verso quanto amor penso e declaro,
Versando sobre a luz em que me aclaro
Enquanto o coração já fantasia
Afasto o que julguei mesquinharia
E vivo ternamente em manso amparo.
Elevo-me ao fulgir de um farto sol,
Sentindo esta paixão, nobre farol
Excita-me saber quanto se deu
O encanto não estanco e me proponho
A crer ser bem mais forte que algum sonho
O mundo todo nosso, teu e meu...



24172
«Tan m'abellis vostre cortes deman, / qu'ieu no me puesc ni voill a vos cobrire. / Ieu sui
Arnaut, que plor e vau cantan; / consiros vei la passada folor, / e vei jausen lo joi
qu'esper, denan. / Ara vos prec, per aquella valor / que vos guida al som de l'escalina, /
sovenha vos a temps de ma dolor»
Dante

Alçando este degrau ascendo ao topo
E vejo quão doridos vossos dias
Constrito, envolto em fartas agonias
Embora não me torne um misantropo
Eu vos peço cortês e nobre amigo
Apenas um momento de atenção
Outrora farta dor e decepção
Agora noutra sanha busco abrigo.
Espero que saibais da dor que trago
E ser-vos-ei deveras sempre grato
Do meu passado atroz eu me retrato
E busco da esperança algum afago.
Perdoando a loucura do passado,
Vereis um novo dia, abençoado...


24171
Luar a quem Catulo Cearense
Poeta fabuloso, magistral
De todos o maior, nosso Mistral
Num canto insuperável, me convence
Da bela e prata dama sertaneja
Desnuda em raro brilho em noite imensa,
Minha alma tendo nela a recompensa
Encontra a maravilha que deseja.
Raríssimo fulgor, sem infortúnio
Tornando a própria vida inebriante,
Eu sigo a clara trilha a cada instante
Bebendo deste nobre plenilúnio
“Branqueja folhas secas pelo chão”
Tomando como deusa esta amplidão...


24170
Os ermos mais distantes consagrados
Aos deuses muitas vezes intocáveis
Voláteis ilusões são intragáveis,
Enquanto em nossos dias, desagrados.
Pudesse ter nas mãos finos agrados,
Mas sei dos teus caminhos insondáveis
E bebo destas águas não potáveis
Os dias que virão; a ti sagrados.
Aperolada e bela, rara tez
Ainda mais ausente tu não crês
No encanto que professo quando vejo
Em ti além de mero e claro altar
Esplêndida beleza constelar
Ditando as regras várias de um desejo...


24169
Em única harmonia vejo a vida
Ausente dos meus dias mais felizes
Deixando tão somente após deslizes
Uma ânsia totalmente em vão, perdida,
História noutra história quando ungida
Expressa a invalidez das cicatrizes
E quando de outros tempos tu me dizes
Ascendo à senda atroz, desconhecida.
Assíduo sonhador em dores feito,
O gozo da alegria num confeito
O medo se escancara e nada traz
Somente o desvario de um poeta
Que enquanto em ilusão não se completa
A cada novo verso mais mordaz...

24168
{Vós} sois üa dama
das feias do mundo;
de toda a má fama
sois cabo profundo.
A vossa figura
não é para ver;
em vosso poder
não há fermosura.

LUIS DE CAMÕES

Em vós senhora vejo claramente
As ânsias de um amor que não se acalma,
Trazendo uma esperança dentro da alma
Apenas o vazio este inclemente
Tomando-vos deveras plenamente
Assíduas ilusões trariam calma;
Mas sei o quão difícil, duro trauma
Em vos trazer o nada se pressente.
E perdoai-me se a voz já não se cala
Porém se da verdade a alma é vassala
Entendo que por mais que se procura
A sorte vos desdenha, caprichosa,
O mundo esta esperança vã vos glosa
Somente porque em vós, rara feiúra...


24167
Um manto feito em luzes e carinho
Aonde eu já decifro a magnitude
Do encanto que deveras nunca mude,
Pois dele com prazer eu me avizinho.
Tivesse a sensação de ferro e espinho
Mudando vez em quando de atitude
Moldando noutra esfera a vã saúde,
E nela sem temor irei sozinho,
Professo esta ilusão que não me doma,
Mas quando entorpecido em leve coma
O mundo me parece mais bonito.
Porém mal eu acordo e vejo ignaro
Caminho em que sem luta eu me declaro
E sem qualquer resposta, um tolo, eu grito.


24166
Permito-me falar da Diva e Musa
Que desde os tempos áureos da poesia
Traduz a forma exata em que se cria
O verso que em verdade, a história cruza,
Não deixe que se perca numa obtusa
Senda a maravilha em melodia
Ousando com soberba fantasia
Vencer a sorte amarga e tão confusa
Aonde se demonstra a insensatez
De uma era que se faz em turvas águas,
E quando nestes mares tu deságuas
Transformas a palavra que ora vês
Num mundo feito em brilhos tão diversos
Usando este cinzel que são teus versos...


24165
Pudesse nalgum canto o canto à vida,
Mas sei que o desencanto prevalece,
E sendo o que me resta, alguma prece
Expressa a solução em despedida.
Não tendo mais poder que dê guarida
A quem não crê, sem fé desobedece,
A teia que este mundo agora tece,
Expõe do próprio ser funda ferida.
Carcaça do que eu quis fosse mutante
Por mais que minha voz inda levante
Ninguém escutaria um tosco brado
De quem vivendo as dores do seu tempo,
Morrendo a cada novo contratempo,
Procura reviver treva e passado...


24164
Aonde procurara vi nenhum
E deste nada agora ainda sobra
O verso que em verdade dita cobra
E nunca mudaria; jeito algum.
Escrevo como quem não se conforma,
Pois não suportaria o que se alcance
Nas ânsias deste mundo em vão nuance,
E não comportaria qualquer norma.
Egocêntrico? Nunca desmenti,
Mergulho dentro em mim; e isto me basta,
A imagem transtornada, agora gasta
Traduz o que melhor percebo aqui.
Enquanto se prepara o temporal,
Aonde houver um cais, ponho esta nau...


24163
A sorte que me fez desencantado
Com tudo o que percebo dia a dia,
Meu verso se pudesse moldaria
Um tempo bem diverso; ledo Fado.
O que já se proscreve, diz passado,
Mas dele um novo ciclo se recria,
Trazendo ao velho porto esta agonia
Do barco que se fez mal ancorado.
Presumo deste insumo o que se esfuma
E bebo com certeza desta espuma
Aonde a podridão de um velho encanto
Brindando em raros copos de cristal
Agora o que concebo é frágil nau
Salgando o mar vazio em tosco pranto...


24162
Seguindo cada passo até o inferno
Mergulho neste imenso fogaréu,
Descrente deste ausente e turvo Céu
Nos antros mais imundos, eu me interno,
Bem sei que jamais fui, serei eterno,
E nisto reconheço o meu papel,
O canto procelário é mais cruel,
Mas como poderia ser tão terno
Se eu vejo esta desdita que se espalha,
Na multidão estúpida e canalha
Reproduzindo a insânia dos primórdios,
Sem ter sequer talvez que inda aborde-os
Percorrem este mundo feito em gozo,
Depois num fogo espúrio ou invernoso...


24161
Aonde em descampados meu futuro
Previra neste oráculo, um cigano
Semeio cada grão do desengano
Cultura que deveras eu procuro,
O céu do embrionário gozo é duro
Ascendo ao Paraíso e já me ufano
Do verso que deveras segue insano
Por onde na verdade, não perduro.
Apenas tão somente uma excrescência
Não trago em minhas mãos, sequer clemência
E vivo sem remédios, por viver.
Um tempo em que se mostrara destroçado,
Ainda molda agora o seu reinado,
Matando o que me resta de prazer...


24160
Aonde se pudera uma mansão
Dos vários desenganos fiz barraco,
E quando em realidade; a vida atraco
Percebo que deveras não virão
Os dias onde outrora na amplidão
Agora percebendo ser mais fraco
O coração de quem se mostra um caco
E a sorte se perdendo sem razão.
Morrer e não saber se existe ainda
Um tempo ou temporal ou mesmo nada,
Futuro no vazio se deslinda,
Mortalha do passado traz o luto
Aonde uma alma encontra-se invernada,
Mas contra os vários nãos, teimoso, eu luto...


24159
Do quanto imaginara sou punhado
E desta parte apenas um resquício
Do que pensara outrora desde o início
Num mar, talvez um rio, ou alagado.
Mas sei que na verdade se eu me enfado,
Percebo tão somente o precipício
E dele sem temor, mergulho em vício
E bebo da aguardente um bom bocado.
Tragando com certeza já me estrago,
Porém não quero mais sequer o afago
De quem se fez amiga, mas decerto
É como uma serpente em frio bote,
Por mais que outro caminho inda se note,
O quanto de esperança em vão, deserto.


24158
Aonde se mostrara humanidade
Apenso no talvez que deste a quem
Outrora transformara o que inda tem
No vago que deveras inda brade
Quem tanto se fez luz e claridade
E vive agora ausente e mesmo aquém
Do tanto que em verdade não convém
Morrendo a cada dia, diz saudade.
O ser humano nasce bom? Inerte.
Depois em fria fera se converte
E tudo que pensara em tom sombrio.
E quando mais audaz o passo, então,
Maiores desatinos mostrarão
Os que nos versos turvos eu desfio...


24157
Espero tão somente no final
A paz que não consigo e tanto tento,
Aonde se mostrara mais atento
Vislumbro este momento sepulcral,
Venero cada força deste astral
E mesmo quando ausente ou violento,
Tomando com certeza o pensamento,
Expresso na alegria um ritual,
E vejo após a tarde que se encerra
A lua se aproxima e sobre a serra
Deitando farta luz, eterna dama.
Aonde procurara a lucidez
O mundo neste instante se desfez
E a morte, indescritível sonho, clama...


24156
De todos os meus dias, os destroços
Ainda se mostrando sobre os ombros,
Nascendo e renascendo dos escombros
Apenas restarão de mim os ossos.
Esquálida figura se perfila
Buscando das estrelas algum brilho,
E enquanto em trevas ando e noites trilho
Revolvo num instante a velha argila
E mostro o quanto em pó ainda resta
Do ser que Deus num sopro fez em vida,
Da própria sorte às vezes se duvida
Erguendo um novo altar, alma funesta
Bebendo desta pútrida aguardente
Um quadro tenebroso se pressente...


24155
O pó que se entranhando nas narinas
Depositando a lama que nos fez,
Voltando ao mesmo pó, sem lucidez,
Na treva mais escusa te iluminas,
E quando os meus desejos tu dominas
Percebo em teu olhar tal altivez
Bem mais do que pensara, ainda crês
Que enquanto me maltratas, me fascinas.
Abafam-se os delírios da pantera
Aonde a solidão já destempera
A morte se aproxima quase infame,
Não tendo quem me possa mais calar,
Ascendo neste verso céu e mar,
Permito que minha alma, à morte clame...


24154
Qual fora simples bússola sem norte
Aonde se pensara em luz sou treva,
A sorte se moldando aonde neva,
Deixando a solidão como suporte,
Não tendo quem deveras me conforte
Apenas a ilusão assim me leva,
E enquanto da esperança última leva
Perdendo a direção, traduz a morte.
Não vejo mais nem quero me apoiar
Nas vagas de um estranho e vão luar
Mesquinho e avermelhando argênteo tom
No quadro que se esboça em vulga tela
A vida muitas vezes se revela
E a paz tão necessária, vira um dom...


24153
O quase se reflete muitas vezes
Na plena negação da sorte em vida,
E a quantas, andaria esta partida
Imposta pelos mesmos vãos reveses,
Por mais que noutros campos tu revezes
E vejas com olhar de despedida
A luz que dentre tantas; sempre urdida
Nos moldes que se buscam novas reses
Permite ao sonhador crer que inda resta
Uma esperança tosca, e dela a festa
Assiduamente entorna a serpentina
Aonde em carnavais antigos vejo
Além do borbulhar de algum desejo
A fonte que deveras me ilumina...

24152
O amor que em tanto amor se fez enorme
Aonde se moldara um vasto lume,
Sentindo em tua pele este perfume,
Da sorte que deveras já se informe
Uma alma outrora pária e tão disforme
Esconde-se deveras, onde esfume
A dor que muito além de um vão costume
Jamais descansaria, pois não dorme.
E tendo em minhas mãos as tuas, posso
Falar do sentimento, sendo nosso
Deveras invadindo este arrebol,
Pois quando perceber felicidade,
Além da fúria imensa que te invade
Seremos para o mundo qual farol.

24151
Tecesse alguma imagem com pincéis
Pinçando dentre tantos desencantos
Alguns momentos nobres, belos cantos
E deles desenhasse carrosséis;
Aonde se fartara outrora em méis
Agora ouvindo só terríveis prantos,
Esqueço os dissabores, tantos, tantos,
E penso noutros dias mais fiéis.
Assaz maravilhosa, a vida trama
Envoltas entre luzes, treva e chama
Essências tão diversas, boas, más.
No fundo a gente busca a liberdade
E mesmo que este sonho envolva, agrade,
Como realizá-lo sem a paz?

24150
A morte não é o fim,
é apenas transição:
começo da vida, enfim,
numa outra dimensão
Celina Figueiredo
Quisera poder ter esta certeza
Que trague ao meu olhar a eternidade
E em mares mais tranqüilos sempre nade
Bebendo com vigor a correnteza,
A vida se trazendo em tal leveza
Teria o mesmo tom: felicidade,
E enquanto a fantasia ainda agrade
Navegando ao revel da natureza.
Mas sei que esta verdade é feita em fé
E dela me afastando vez em quando,
O tempo a velha imagem destroçando
Procuro algum momento, ou mesmo até
Quem possa me dizer ao que se lança
O bem que ainda trago: uma esperança...

24149
Neste vôo a liberdade em cores várias
Aonde se fizera larva apenas
Metamorfoseando em luz acenas
As ilusões diversas luminárias,
E quando entre mil fogos; velhos párias
Bebendo a fantasia, doses plenas,
As noites que deveras tu serenas
Outrora foram duras adversárias.
E quando se mostrando em face pálida
O destino lepidóptero da crisálida
É ter o mundo inteiro em asas leves,
E quando alçando encantos, dissabores,
Por onde novamente recompores,
Os passos mais audazes; sempre atreves.
posted by MARCOS LOURES at Quinta-feira, Fevereiro 04, 2010
24135 até 24148
5
Ao largo destas ondas, levo o barco
Vencendo as intempéries; mansidão.
Sabendo desde sempre o que farão
As torpes ilusões que não abarco,
O quanto se mostrou na vida parco
O sonho ao ver ao fundo esta amplidão
E nela propriamente a negação
São como setas frágeis para um arco.
Não posso me levar por tais sinais
Aquém do deveras desejais,
Se vós tendes nas mãos a liberdade.
Vos servido não temo outra manhã
E sei que uma mudança tola e vã
Não é o que deveras mais agrade.
6
Às vezes de esconder claros defeitos
Eu sinto ser real necessidade,
Por aonde esta saudade chega e invade
Os sonhos na verdade estão desfeitos.
Encontro a solidão de velhos leitos
E neles a total tranqüilidade
Embora tal retrato se degrade,
Não faço de ilusões sequer meus pleitos.
Apenas quero se feliz e entanto
Ao longe no vazio inda me espanto
E tento sem sucessos ver a luz;
Pois onde no passado houvera penas
Agora se em perdão e paz acenas
Deveras falso brilho não seduz...
7
Se desgraçadamente a mente engana
E tudo o que se vê não tem razão
Apenas simples sombras ficarão
E o tempo traz uma alma soberana
Aonde se mostrando mais profana
Uma alma se entregando sem perdão
Não sabe se inda resta a solução
E quando se aproxima desengana.
Vencer os meus delírios e seguir
E mesmo que não creia num porvir
A vida por si só encanta a quem se dando
Não teme os dissabores nem tristezas
Além do que deveras inda prezas,
As dores se aproximam; turvo bando...
8
Um corpo sem sentidos, vão e inerme
Aonde se pudera crer na sorte,
E quando sem ter luz que me conforte,
Não posso mais sequer talvez; erguer-me.
Além do que pensara sei que ver-me
É como ter nas mãos a fria morte,
E enquanto houver um canto que comporte
Não vou ser devorado por tal verme.
Não quero a placidez que me apascente
Uma alma se demonstra mais ausente
Se tudo o que inda quero não consigo.
Viver só pelo fato de poder
Aos poucos descobrir o que meu ser
Procura além de cais, comida e abrigo.
9
O peito em carne viva poderia
Ao menos ser talvez mais dócil, pois
Enquanto se mostrara sem depois
Expressa no final a fantasia.
Mergulho neste mar onde a agonia
Extrai cada momento de nós dois,
Não dando nem sequer o nome aos bois
A morte noutra vida se recria.
Acende esta lareira após. Senão
Falenas noutro campos volverão
Mudando a sorte imensa de revê-la.
Esgoto-me deveras no que eu disse,
Embora tanto amor seja tolice
É nele que aprendi conter estrelas...
10
As mãos que se cruzando sobre o peito
De um velho sonhador dizem promessas
Audazes que mal tornas, recomeças
E sabes onde escondo o nada feito.
E enquanto estas versões eu não aceito
Sabendo que deveras vivas; essas
Ilusões pelas quais quedas; tropeças
São peças arrumadas sem ter jeito.
Não posso se, enfadonho, busco ao menos
Os dias em que possam ser serenos
Os cortes mais profundos que me deste.
Por mais que não consiga outra versão
Senão esta nefasta comunhão
Da vida com o solo mais agreste.
11
Metido com as mãos erguidas tendo
Apenas este céu por referência
E quando se demonstra a preferência
Não vejo noutra fonte algum adendo,
Se todo o meu caminho assim desvendo
E entregando a minha alma; pois, convence-a
Que ao fundo não verás sequer clemência
No olhar de quem se fez mesmo não sendo.
Escrevo cada verso feito apenas
Por ter necessidade de contar
Além destas estrelas, do luar
Aonde e em que caminho tu serenas
E roubas; logo, as cenas, fato incrível
Do amor que antes julguei ser implausível.
12
Desfila sobre o leito agora o que
Deveras não sabia ter qual alvo
Um dia em que pudesse estando a salvo
Saber desta verdade o que não vê.
E tendo sem desculpas nem cadê,
Auto-controle enorme é que ressalvo
De cada monte o cume, mesmo calvo
E nele em escaladas, céu se crê.
Estrelas e disfarces onde a lua
Deitando sua prata continua
Reinando sobre toda a noite em luz.
Esgoto-me no quanto não consigo
Viver a poesia como abrigo
Que tanto me maltrata e já reluz...
13
Pairando sobre as almas, vejo as asas
Abertas das estúpidas quimeras,
Aonde na verdade não esperas
São presas teorias em que embasas
As vidas como fossem meras brasas
Que o tempo muita vezes destemperas,
Deixando em teu olhar, pródigas feras
Enquanto refugias noutras casas.
Não posso desvendar sabendo a teia
Aonde se enovele o que incendeia
E toma em fogaréu a cercania.
Acerco-me das armas que inda tenho
Mostrando desde cedo o meu empenho
Na luta amortalhada que se cria...
14
Enquanto cantas vida e riso e gozo,
Ainda não me cabe este prazer,
Aonde se mostrara algum viver
O tempo se moldara caprichoso,
Vivendo a fantasia e desditoso
Caminho que procuro, posso ver
O quanto desnudando um vago ser
Apenas mostra o rosto belicoso
De quem se fez mortalha em plena vida
E mesmo que talvez em descaída
História se refaça vez em quando,
No fundo meu cantar trazendo a morte,
Não tendo quem deveras mais suporte
Um mundo noutro canto disfarçando...
15
Cantasse em ironia festa e luz,
Seria na verdade sempre falso,
E quanto mais profundo o cadafalso
A treva sem demoras, já conduz
O velho caminheiro reproduz
Em versos o que ainda usando calço
E quando a realidade turva eu alço
Levando a mais pesada e dura cruz,
Servindo de mortalha a tais abutres
Que insaciavelmente ainda nutres
Com gozo de esperança tola e tosca,
A sorte que se aufere em fogo e chama,
Por vezes de outro mote inda reclama,
Porém a minha noite segue fosca...
16
Passado que em futuro não traduzo
Expondo no presente a solidão
Bebendo desta estúpida ilusão,
As cores que revejo, reproduzo.
E sendo que não posso, mas reluzo
Em plena negritude, pois virão
Tomar já totalmente a embarcação
Moldando a cada passo o mesmo abuso.
Não ter outro caminho e ser assim
Diverso do vazio de onde vim
Mereço pelo menos um momento
Aonde não se faça só promessa,
Mas quando a vida vem e recomeça
Nas ânsias do vazio, eu já me alento.
17
Entorna-se deveras este caldo
E quando não pudesse ter nos dias
Além do que este vão que prometias
Restando neste escombro algum rescaldo.
E quando noutra sanha eu me rescaldo
Esqueço do quer foram fantasias,
E sempre que procuro, mais adias
Numa incerteza tosca, enfim me esbaldo.
E tenho que lutar contra o não ser,
Queria simplesmente; mas poder
Decerto não tem nada com querências.
Aonde se mostrara algum sorriso,
Espanto-me, pois mais do que preciso;
As horas se moldando em imprudências...
18
Presente está pior do que o passado?
Talvez, mas se não creio no futuro
Enquanto em trevas luzes que procuro
Mergulho neste abismo, abandonado,
Vivendo o que não sei ser cruz, pecado,
Pesando a cada dia o chão mais duro,
Pisando neste vale em céu escuro,
O tempo que pensara, desolado.
Rasgando os velhos tomos deste livro,
Dos meus fantasmas, todos, eu me livro
E solto as mãos em busca do que outrora
Pensara ser possível, mas sei bem
Que nada vezes nada, o que contém
O mundo que buscara sem demora.


24134
Abrutalhado ser que em plena paz
Destroça quem encontra pela frente,
Assim com tal furor e incoerente
De tudo, com certeza ele é capaz.
Figura tão insólita e voraz
Nas mãos trazendo a faca se pressente
A morte inevitável no inclemente
Delírio ao mesmo tempo em vão, mordaz.
Cercando-se de deuses mais baratos,
Gargalha-se satânico espetáculo,.
E expondo sem temor cada tentáculo
Não vendo a fúria imensa de seus atos,
Um bípede primata se fez deus,
E nele a vida diz o último adeus...


24133
Restando tão somente após a luta
O fato de não ter luz e inocência
Aonde procurara fluorescência
O passo outrora firme, já reluta.
Estúpida figura segue astuta.
Não tendo mais quem creia após. Convence-a
Do quanto se pesou como inclemência
a fúria do senhor que não te escuta.
Deveras fora assim que me ensinaste,
Um pai que se entregando a tal contraste
Amando enquanto em ódio ora se vinga,
Olhando para o belo, a natureza
Eu vejo coerência em tal nobreza,
O Pai que fez o mar; fez a restinga...


24132
Nas mãos do deus erótico, o futuro
Numa expressão satírica se vê
O quadro sem retoques, nem por que
Aonde com delírios me emolduro.
Encontro vez por outra um alto muro
E nele com certeza o que se lê
Em garrafais além do que a alma crê
A história primitiva onde perduro
O sangue que deveras se fez santo
E nada mais impede e não me encanto
Com cores desbotadas, vãos grafites.
Não quero ter a sorte dos senhores
Tampouco seguirei por onde fores
Nem mesmo acreditar no que acredites.

24131
O que virá depois da última bomba,
Apenas o vazio? O quanto falta?
Pergunto e sem resposta do internauta
A previsão do oráculo já tomba
Uma alma se sutil de tudo zomba
E enquanto a solidão vem e me assalta
A refeição jamais se fez tão lauta
Porém numa hecatombe, outra kizomba?
Acendo então um último cigarro,
Num fio de esperança ao qual me agarro,
A sorte tece redes que incompletas,
Encontrando à deriva o meu esquife,
No olhar tão traiçoeiro de um patife
As honras mais jocosas e diletas...


24242
Extrema-Unções da Terra que agoniza
Hereges cidadãos a fome espalham
E quando nestes pélagos trabalham,
Aguardam de um Inferno mansa brisa,
A voz que sobre todos nos avisa
E os homens, nada ouvindo, nisto falham
Estranhas esperanças já se empalham
E o mundo sem saber; Demo matiza.
A carne se apodera, e sem Razão,
O instinto prepondera e tudo é válido,
Aonde se pensara ser mais cálido,
O gozo prometido em explosão
Esbalda-se em sarcasmo, vil Satã
E a vida, sem sentido, segue vã...


24241
Sacrários entre trevas, párias, súcias
Aonde se pudera crer no eterno,
Apenas adivinho o imenso inferno
Imerso nos delírios e pelúcias.
Momentos cruciais atravessando
A tosca humanidade em plagas farta,
Enquanto desta sanha não se aparta
As sortes se esparramam, torpe bando.
Austeridade invés de prepotência
Soberba dominando cada ser,
E dele já se emana um vão prazer,
E nele toda a nossa incompetência.
Assim ao ver Satã se erguendo aos Céus,
A Terra se envolvendo em turvos véus...


24240
Aonde em níveas luzes vi a lua
Deitando sobre as tendas e castelos,
Momentos que decerto são tão belos,
Uma alma sobre a imagem já flutua
E quando a maravilha continua
Qual fosse um deus cevando em seus rastelos
Em claros movimentos mais singelos
Descendo do infinito até a rua.
Argênteas ilusões em vozes roucas,
As sortes sem os nortes morrem loucas
No enfado do vazio em que se vê
O medo se esgueirando em claridade,
O vento redentor que nos invade,
Entorna em nossa vida algum por que.


24239
Azeda-se sem nexo a relação
Desvias os caminhos, seca fonte
Por onde quer que o sol inda desponte
As nuvens com certeza o cobrirão,
Dos céus estrelas formam cinturão
Clareiam pirilampos no horizonte,
Mas como, se deveras esta ponte
Tombada por total destruição
Expressando deveras o que somos,
Da fruta paralelos, podres gomos,
Mesquinharia toma este jardim
Aonde imaginara a lucidez,
Em plena insânia o amor já se desfez
Matando o que restara inda de mim...


24238
Fulgindo em noite impávida o luar
Delírio onde poetas mergulharam
E quando os dias negros nos tocaram,
Apenas morte veio em seu lugar,
Pudesse novamente num altar
Erguido ao deus das trevas, onde amparam
Os dias mais sombrios que escancaram
A força indescritível a levar
Os últimos e frágeis imbecis,
Austeridade em tempos mais gentis
Explodem entre as tíbias ilusões
Arcanjos e demônios se entrelaçam
Enquanto sobre nós, estrelas passam
E nelas as terríveis implosões...


24237
Veremos entre os últimos fulgores
As luzes da explosão? Ou nada além
Do quanto em morte ainda nos convém
Negando as alvoradas e os albores,
E quando em descaminhos inda fores
Buscando no final, espinhos, vêm
Tomando a tua senda o que detém
O passo; vão inverno e seus rigores.
Heréticos pudores entre os vermes
E os seres já pensantes, mas inermes
Deitando sobre as pedras, pregos, farpas,
E além neste horizonte em luzes fartas,
Satã do qual; em sonhos, não apartas
Subindo altas montanhas, nas escarpas...



24236
Bebendo desta vida este veneno
Estreitas ilusões, vagos caminhos,
Rastejando meu corpo entre os espinhos,
A cada torpe queda, eu me sereno.
Somente não consigo ser ameno
Enquanto em tosca busca por carinhos
Encontro estas serpentes nos seus ninhos
E a cada novo bote me enveneno.
Arestas entre pontas e cascalhos,
Aonde procurara por atalhos
Retalhos do que fomos se apresentam,
E os medos, mesmo sendo em atos falhos,
Arrebentando casas e assoalhos,
Jamais enfrentaria e me apascentam...



24235
Em ares solitários, ermos levo
E deles renovando a cada dia
O quanto de verdade se historia
O tempo se mostrando mais longevo,
E quando à sensatez eu já me atrevo
Sem ter sequer quem saiba ou mesmo guia
O todo traz no bojo a fantasia,
Porém ser bem mais franco agora eu devo.
Há tanto se destrói e se repete
A mesma insensatez feita em confete
Trazendo neste olhar velho disfarce
Na roupa mal vestida e feita às pressas
O quanto que tu sabes; não confessas,
Até que o tempo surja e enfim esgarce...


24234
Prelúdios, trinos, cânticos de glória
Exército em luzes reluzentes
Excêntricos caminhos renitentes
Herética expressão, tão merencória
Exímio sonhador, medo e vitória
As ânsias destes antros prepotentes
Por mais que contra a força ainda tentes
Nas mãos dos poderosos ruma a história
Verdade se escondendo atrás do pano
Cenário tosco mostra o desengano
Por onde se traduz da humanidade
O passo que se dá em tosco e escuro
Delírio pelo qual eu me emolduro,
E tranco a realidade que degrade...


24233
“Numa luta de gregos e troianos”
Homérica epopéia se moldara
E a luz que no final ainda aclara
Demonstra sonhos fartos, soberanos,
Aonde proliferam desenganos
A sorte se mostrando sempre rara
Apenas o futuro se escancara
E mostra no vazio, velhos danos.
Esperas, tantos anos, dor e pranto,
Aonde uma sereia traz o canto
Mortalha que se tece e se desfia,
Na vida cada qual sendo Odisseu
Batalhas e venturas, luz e breu,
Assim vai se moldando o dia a dia...


24232
“Foste a sonoridade que acabou”,
Deixando a minha noite mais sombria,
Aonde se pensara em alegria
Agora só tristeza o que restou.
E quando me pergunto aonde vou
A estrela que brilhara não me guia,
E o medo se transforma em agonia,
Mostrando neste espelho o que inda sou.
Palhaço que se fez em falsas luzes,
Ainda caminhando sobre as urzes
Espinhos, pedregulhos, aridez.
Aonde imaginara um “chão de estrelas”
Sendas se maravilham por revê-las
Quem tanto e pelo encanto, amor se fez...


24231
“Jabuticaba, teu olhar noturno”
Em negros espetáculos reluz,
Farol que tantas vezes reproduz
Um ar maravilhoso e tão soturno,
A vida se mostrando a cada turno
Diversa do que outrora se fez cruz,
Mergulho neste amor que me conduz
Além da dura algema e do coturno,
Liberdade se mostra em brilho tanto
E quando em tal beleza eu já me encanto
Ascendo ao céu deveras, não reluto
E bebo da esperança em finas taças
E quando pelas ruas, bela, passas
No olhar divino sumo, um raro fruto...


24230
“A lua vem surgindo cor de prata”
E dela se expressando a maravilha
Na qual a sorte imensa trama a trilha
E todo este prazer já me arrebata.
Vencer os meus temores; pois maltrata
A voz de uma ilusão que ainda brilha
Na vastidão do céu, qual fora uma ilha
Vestindo de nobreza esta cascata.
O tempo sendo inglório nos transmite
Além do que se pensa; algum palpite
Trazido pelas mãos de uma ignorância
Aonde presunçosa voz sem nexo,
Talvez por solidão, medo ou complexo,
Ainda se mostrando em arrogância...


24229
Aonde se pudesse ter certeza
Do quão fútil o tempo que perdemos,
E enquanto não tivermos nossos remos,
Difícil suplantar a correnteza
Aonde se espalhara com destreza
O quão difícil turno nós teremos
Ausentes da esperança; não vivemos
Tomados pelos vãos de uma tristeza.
Arejando com sonhos mais audazes
Enquanto na verdade nada trazes
Senão tal desconforto a quem atinges
Palavras ofensivas, torpe dama,
Sabedoria escassa, a das esfinges
Das quais a voz estúpida já clama...


24228
Depois de perder tempo com bobagem
Agora me desnudo em verso e faço
Do quanto se perdera sem compasso
Além do que diverge esta paisagem,
Houvera no passado uma miragem
Que quando se aproxima já desfaço
E sigo com certeza cada traço,
Mesquinharia é pura sacanagem.
Serviço se mal feito tem quem note,
Por isso é que a serpente dá seu bote
Veneno não se cansa de mostrar,
A boca que escancara-se banguela
Apenas o vazio já revela,
E nele nem estrelas, nem luar.


24227
Ao cutucar uma onça em vara curta
O bote se prepara à mesma altura,
Um tosco interiorano se perdura
Por mais que esta verdade não se furta.
Plantara no quintal um pé de murta,
Porém a terra sendo seca e dura
No fim nasceu com turva caradura
Erva de passarinho; a vida encurta
E assim ao ver a praga no capim,
Vestindo de bufão, um querubim
Mexendo com as águas de Camões,
Dois olhos; tinha o mestre lusitano,
Porém era zarolho, ou não me engano,
Do que não funcionava t’as visões...


24226
Espírito deveras decaído
Demônio se expressando em voz pequena,
Uma alma que se mostre mais amena
Ao fim será legada ao triste olvido,
Não quero me expressar pondo a libido
Desnuda no quesito que serena
E ao mesmo tempo atroz nos envenena
Tomando sem pudores, o sentido.
Arcar com ares tanto rarefeitos
Do quão inútil termo sendo feitos
Mecânica deveras trabalhosa,
Quem sabe faz mansinho e com cuidado,
Porém o pobre verso maltratado,
Merece com certeza a tua glosa.


24225
Se “uma parte de mim é todo mundo”
Não posso sonegar o quão medonho
O tempo em que vazio já não sonho
E nestas podres lamas me aprofundo,
Viver esta inocência, vagabundo
E pária coração, nele eu componho
O barco que deveras não mais ponho,
Naufrágio se tornando, agora imundo.
Quisera das metades, união;
Mas sei que falsas luzes tomarão
Cenários onde vi espelhos vários.
Concretizando em versos temerários
Nesta universidade eu represento
Totalidade em lente, mas de aumento...

24224
Aonde o coração se fez perdido
Em trevas, nuvens negras e neblinas
As ondas que julgara cristalinas
Ao mesmo tempo em lágrimas, o olvido.
Estendo as minhas mãos, ouço o rugido
Enquanto dizes não, já me alucinas
E bebo destas podres, vastas minas
E com o verso impuro, ainda lido.
E tendo lido as mesmas ânsias nossas
Além do que talvez ainda possas
Aposso-me do infausto que me deste.
Arranho as escrituras, beijo a cruz,
A cada esquina está pobre Jesus
Açoitado e puído em rota veste.


24223
Sarcásticos e sátiros fantoches
A boca se escancara em riso irônico,
Aonde o ser se mostre então agônico
Apenas dos demônios, os deboches
Grotescos e nefastos ritos tétricos
Assim encaro o dia que desnudas
As esperanças morrem tão miúdas
Excêntricos caminhos quilométricos
Desvios entre vias, versos vândalos,
Aonde se buscara doces sândalos
Encontro os mesmos ermos do passado,
A porta escancarada mostra a fome,
E o fogo como outrora me consome,
Assim o nada ser eternizado...


24222
Ao ver em vós; alheio olhar tão triste
Deveras expressando o que jamais
Enquanto em sendas turvas caminhais
Bem sei que na verdade não resiste.
Servindo-vos o Amor em vós persiste
Além do quão dispersa sei que vais
Alcançaria em vós, soberbo cais,
Mas sei que a solidão ainda insiste.
E dela invoco a paz doce e insolúvel,
Porém vos tendo assim, bela e volúvel
Não posso mais seguir errante passo,
E sem saber qual seja a minha sorte,
Pouca razão traduz um vago Norte
E em meio a tais perguntas me desfaço.



24221
Buscando-vos senhora em vastidões,
Mui tempo se perdera em ânsias várias
Na grã beleza afasto as procelárias
E tendo-vos deveras quais visões,
Ansiando vossos lábios, seduções,
Se em vossos olhos vejo luminárias
Palavras de esperança, então; declare-as
Servindo-vos encontro as direções
Nas quais ao perceber encruzilhadas,
As almas que se sentem mais ilhadas
Não tendem ao propício desenlace.
Não quero permitir tal sofrimento
Se em vossas alegrias eu me alento,
Não deixemos que em vão, a vida passe...


24220
O amor em tantas formas; variantes
Dos mesmos dissabores, vida e morte,
Por mais que a poesia nos aporte
Velhos ancoradouros, vãos instantes.
Escravo destes raros diamantes,
Prazeres entre laços, cartas, Norte,
E o gozo inestimável nos exorte
A ter em nossos olhos sóis errantes.
Ardências entre lavas e granizos,
Os dias; entrelaces, mais concisos
Ascendo ao quase eterno em terno anseio.
Mas quando desvendando a minha face
Por mais que a fantasia ainda embace
O amor se esquece sempre porque veio...


24219
Resumo em fogo e ferro noite extensa
Deitando sobre os pregos, um faquir
Sem ter sequer noção vou prosseguir
Além do que uma alma nobre busca e pensa.
Cobrindo com a lama que se adensa
Não tendo nem resquícios de um porvir
Desilusão e mágoa; irei sentir,
Vingança se tornando a recompensa
Efêmeros prazeres custam caro
E quando nestes vãos me desamparo
Mesquinhos os abismos onde eu vejo
Retrato do que sou e não sonego,
Vagando sem destino em rumo cego,
Matando no não ser o meu desejo...



24218
“Figura que adocica e que me inflama”
A morte penetrando em ocos, vãos,
Cevando da discórdia, amargos grãos,
A vida se tornando mera chama,
E quando se desfaz, enfim tal drama,
Nos olhos esperanças de cristãos,
Porém vazias seguem minhas mãos,
E a plena desventura já me chama.
Perpetuando a dor da qual surgi,
Recebo o vendaval e vejo aqui
A imagem destroçada de um helminto
Que quando procura algum abrigo,
Matando quem cuidara e fora amigo,
Também qual fora a presa morto, extinto.
SOBRE VERSO DE DALVA ABRÃAO


24217
Quisera ter decerto esta ventura
De um dia poder crer na eternidade,
E quando a solidão atroz me invade
Um esmoler esquece esta ventura,
Arcaico misantropo em noite escura,
Um eremita foge à claridade
Por mais que o desencanto desagrade
É nele que meu verso se escultura.
Arcanjos, serafins; será meu fim?
Não creio, mais mantendo uma esperança
Que mesmo no vazio já se lança
Retornando deveras de onde vim
Das cinzas entre cinzas, podridão,
Somente levarei o meu caixão...

24216
Consigo mesmo até desta desgraça
Sorrir enquanto a morte não me alcança
Trazendo esta carcaça que é lembrança
O tempo sem remédio sempre passa,
E quanto mais veloz, exposto à traça
A vida se puindo já se lança
Ao nada que deveras traz na lança
Destino em vis retalhos, vida traça.
Por onde imaginara rua e paço,
Num féretro sutil deveras passo
E encontro o meu cadáver numa esquina.
Mortalha que reveste cada verso,
No qual em podres sonhos sigo imerso,
A sanha terminando me fascina...

24215
Não posso desdizer a sina aonde
Mesclando riso e pranto eu me desfiz,
Quiser ter além da cicatriz
Porém o brilho foge e já se esconde,
No quadro decomposto perco o bonde
E beijo a velha e podre meretriz
Que tantas vezes mórbida não quis,
E agora do arvoredo é viga e fronde.
Um pária, um vagabundo que sem rumo
Esconde-se em sarjetas; eu assumo
Os erros e os meus versos traduzindo
Uma esmolar vingança desta sorte,
Aonde uma esperança enfim se aborte,
O mundo sem defesas, me traindo...


24214
Aonde se sentira as vibrações,
Apenas mortandade e nada mais,
Os dias se mostravam tão banais
E os ventos em diversas direções.
Vislumbro as mais incríveis negações
Ausente dos meus olhos ledo cais,
Por onde em vossos rumos, desfilais
Mesclando dores, medos, podridões.
Enguias entre enormes poraquês
A vida se mostrando em pequenez
E o carma de um fantasma que se expõe,
Enquanto em vossas mãos tive o prazer,
Não posso mais os frutos recolher
Carcaça do que fui se decompõe...


24213
Horríveis paisagens nexo ausente
O término da vida se apresenta
E sem sequer alguém que me apascenta
Mergulho no vazio, incoerente
Por mais que ainda lute e mesmo tente
Sangria se mostrando violenta
A morte que quisera, mais sangrenta
Dos deuses é deveras um presente.
Esguichando-se artérias, vasos nobres
Mortalha que me dês enquanto cobres
Descobrem podres vícios de alma imunda,
E estranhos rituais, demônios sorvo,
Rondando este cadáver torpe corvo,
Nas entranhas em vida, se aprofunda...


24212
Espreito da janela e vejo o fim
Ao qual me conduziste vida insana,
A morte que deveras já se emana
Apodrecendo as flores do jardim,
Crisântemo, roseiras, e o jasmim,
Petrificado sonho não se engana
O corte se desdenha e a voz humana
Reverberando um mundo mais chinfrim,
Esqueço o que se fez nirvana e gozo,
O tempo se mostrando belicoso
Intempestivamente sigo ao nada,
Por onde caminhante de outras eras
Ao menos neste rastro recuperas
A sorte há tanto em vão já desviada...


24211
Beirando o precipício, um vão tamanho
Aonde se mostrara a minha face,
Por onde uma esperança tola passe,
Não vejo mais sequer chance de ganho,
E quando no vazio eu já me entranho,
O quadro se tomando em tal impasse,
Nem mesmo que se mostre o que me embace
Deveras este jogo diz antanho.
Estranhas formações, crateras, vales,
E quando me permites nada fales
Esqueça o que se fez em rastro e sol,
Medonha virulência em cada frase
Sem ter qualquer coluna que me embase
A amiga solidão, luz e farol.


24210
Dispendioso o tempo em que se tenta
Vencer os mais terríveis terremotos,
E quando os dias ficam mais remotos
A sorte se demonstra violenta,
Imerso na ilusão, de bingos, lotos
Escrevo o meu futuro em marcha lenta
E tudo terrifica, onde apascenta
Não vejo mais senão antigas fotos
E quase me iludindo novamente
Aonde a perfeição se dista, ausente
Descrevo especular face disforme,
Sem ter quem ainda possa me guiar,
A barca se perdendo em alto mar,
Talvez somente a morte me conforme...


24209
Sentindo o mesmo vácuo de onde vim
Espero que retorne ao mesmo pó,
Aonde se fizera outrora só,
Matando o que pudera ter enfim,
Não quero ouvir o tosco querubim,
Tampouco desfazer o velho nó
Aonde se fizesse algum trenó
Capoto uma esperança e sigo assim,
Esgotando-me entranho nos desvios
Da nitroglicerina estes pavios
Incêndios, explosões e o nada após,
Ascendo ao finito do meu verso
Que morre sem sentir o quão imerso
Estou neste universo vão, feroz...


24208
Esvazio-me do nada que inda tinha
E sei que depois disso, morrerei,
Fazendo do não ter descanso e grei
A sorte desdenhada é toda minha.
Aonde uma esperança se avizinha
O quadro se desfaz sem regra e lei,
Aonde imaginara reino e rei,
Errei e pelo tanto desalinha.
Naufrágios entre pedras e penhascos,
Das praias as areias movediças
O quanto tu desejas e cobiças
Apenas entranhando em ti tais ascos
Arcando com os engodos, desengano,
O fim se aproximando e nele ufano...


24207
Na sôfrega ilusão de um dia manso
Descrevo com palavras ânsia imensa
E quando esta esperança não compensa
A dor que inutilmente cedo alcanço,
Aonde a cada dia me esperanço
O cerne do vazio se repensa
Esgoto-me no vão desta dispensa
E crio na aguardente este remanso
Perpetuando a morte a cada dia,
Eclético demônio uma alma cria
E tomba-se por sobre o quase exposto
Numa nudez que sei ocasional,
A bêbada impressão do bem, do mau,
Etéreo frenesi, no qual me encosto...



24206
Epiléptico sonho espasmos vários
Vergando sob o peso do talvez,
Aonde uma esperança se desfez
Os dias são terríveis adversários
E os corpos entre farpas, meus fadários
Os rios navegando insensatez
Sarcófago de um tempo o que ora vês
Escrito nos ocasos e estuários
Assino a cada dia um testamento
E beijo o que deveras acalento,
A velha tentativa incoerente
De ser o que jamais eu poderia,
Lacaio de uma torpe fantasia
Descrédito onde o tosco se apresente...


24205
Os medos entranhados em minha alma
Apesar de poder crer que inda exista
Ao menos percebera alguma pista
De um tempo que deveras já me acalma
E deixo para trás o sonho e o trauma,
A escória do que fui – mero – persista
E mesmo que a verdade não assista
O coração traduz pérfida calma
Escombros de um fantoche que se teima
Vencido há tanto tempo em dissabores
E quando o vão que resta tu repores
Verás que não valeu algum esforço,
E tento ao fim da tarde um raro brilho
E neste vão imenso que ora trilho
O quanto me restara já destorço...


24204
Lua cheia em minha terra
não desponta em "verde mata”
mas clareia ao pé da serra
Beagá em serenata.
Celina Figueiredo

Um velho trovador que das Gerais
Encanta-se com luas e varandas,
Mineiro coração dita cirandas
Dos tempos que se foram, nunca mais...
Agora estas estrelas magistrais
Nos véus maravilhosos sem demandas,
Enquanto flutuais, diversas bandas
Alteram alterosas que buscais.
E vejo em vós a voz de uma esperança
Aonde se derramam luzes falsas
Sonhamos com fulgores feitos valsas
Porém ao tempo amargo, a vida lança
Quem fez das serenatas alegria,
Enquanto a lua esconde e se esvazia...


24203
Se queres um sorriso mais suave,
Um verso que traduza um acalanto
Deveras se afastando do meu canto,
A voz que agora escutas, dura e grave,
Ainda mesmo quando em paz agrave
E causa a quem sonhara algum espanto,
Demônios invadindo todo o canto
A sala se transforma em duro entrave.
Pudesse ter ao menos a esperança
Estúpida quimera à qual se lança
Infernais ilusões, torpes canções,
E quando vejo os dias que tu nublas
As horas que pensara claras, rubras
Espalham temporais e furacões...


24202
Uma alma em que se vê desnuda sala,
Escrava do que um dia quis perfeito,
E quando no vazio eu me deleito
Aceito o que incerteza já me fala.
Enquanto a cordilheira, o sonho escala,
Nas ânsias do poder estranho leito,
Medonha consciência; eu não aceito
E o coração audaz então se cala.
Arrulhando em sobejas ilusões
As pombas se perdendo em descaminhos,
Não voltam para os velhos, toscos ninhos,
Tramando no voar as estações
Enviuvada rola nada resta
Senão esta ventura vã, funesta...


24201
Pudesse ter ouvido a consciência
Não mais teria a dor de ver
Perdendo-se sem tréguas o prazer
E tendo como herança a penitência
Vivesse a mais completa paciência
Na placidez que outrora pude crer
Possível mesmo longe do poder,
A sorte procurando alguém; compense-a
Trazendo o teu sorriso mesmo falso,
E quando as ilusões ainda calço
Esqueço do passado e do presente,
Futuro não existe, terminal,
Esgoto-me num canto mais venal
E o quanto nada resta se apresente...


24200
A vida que pensara em apogeu,
Desfiladeiros tantos; já não posso
Apenas do passado algum destroço
Vivendo o que deveras vão, perdeu,
O céu se mergulhando em pleno breu
Desdita a cada instante mais endosso
E vejo a solidão na dor em empoço
E faço do viver, meu perigeu.
Apesar dos pesares prezo a sorte
Que mesmo não trazendo o que conforte
Aguarda este desfecho, vorazmente
Nos gêiseres de uma alma efervescente
O quando se mostrara em rito e morte,
Traçando este final que me atormente...


24199
Esboço em tela rara estes matizes
Aonde mais distante do que dizes
Encontro-me nas luzes que decoras,
As sendas entre flores são senhoras
Dos dias que pensara mais felizes,
Ardis entre tocaias e deslizes,
A sorte se perdendo nas demoras,
E quando em poesia tu te afloras
Mergulho neste encanto, rastros teus,
Aonde se esgueirando de um adeus
Encontro finalmente algum remanso,
Suspenso ao ver beleza deste eclipse
Esqueço havendo ou não o apocalipse
O Paraíso eterno; em ti alcanço.


24198
Senhora das querências mais audazes
Entranho em vosso rumo, meus carinhos
E quando vejo apenas vãos espinhos
Momentos tão diversos e falazes,
A vida tendo assim, momentos, fases,
Expressa a mansidão em descaminhos,
Não quero mais seguir dias sozinhos
Tampouco ver inúteis, tolas frases.
E ser-vos-ei leal feito um lacaio
E quando noutro rumo eu me distraio,
Volvendo ao vosso encanto me permito,
Seguindo vossos passos noite afora,
A luz da bela lua nos decora,
Tornando o nosso mundo mais bonito...


24197
Cadáver de esperança, um verme tosco,
Que galga alguma luz e se inebria,
Aonde se mostrara a fantasia,
Deveras um caminho amaro e fosco,
E quando em tais novelos eu me enrosco
E bebo da paixão, falsa alegria
Restando tão somente esta agonia
Que trago vem em quando aqui conosco.
Num sôfrego lutar, tanto abandono
E quando outra esperança, tolo, eu clono
Vergastas vão cortando minhas costas,
E sei que do cenário putrefeito
Que exponho no momento em que me deito
Satírico demônio; ris e gostas...


24196
Plantara em minha vida este arvoredo
Que agora tu destróis e ainda zombas,
E quando este navio aderna e tombas
Sequer algum alívio eu te concedo.
E sendo desde sempre muito cedo
Nas mãos invés de flores, frias bombas
Sorrisos enigmáticos; se arrombas
As portas e descobres meu segredo.
Uma ímpia criatura néscia e vã
Fazendo da tortura o seu afã,
Escombro do que fora um ser humano,
Escravo deste amargo sentimento,
Se eu posso, na verdade inda lamento
O que se fez em treva; eu desengano.


24195
Pensara ter na vida, ao menos lastro
E quando fosse em fúria, placidez,
Porém na mais completa insensatez
O barco vai perdendo único mastro,
E quando feito praga em vão me alastro
Mergulhando em total estupidez
O quanto se pensara e se desfez,
Não deixo nem sequer passada ou rastro,
Aonde se mostrara tão espúria
E vaga criatura, tanta incúria
E a fúria não sossega um só momento,
Agora simplesmente um excremento
Daquilo que se fez altivamente
E o tempo em inclemência já desmente...


24194
Fantasma do que fui, simples destroço
O vasto descaminho feito em mágoa
No quanto, novo rumo já deságua
A sorte se moldando, eu não remoço.
Além do que talvez pudera; ou posso,
A lua se derrama, imensa frágua
Lacrimejo salgando vida e água
Enquanto a fantasia em vão, acosso.
Avermelhado sol que me banhasse,
O tempo se mostrando em tal impasse
Passando sem deixar sequer momentos
Aonde poderia ter ao menos
Os doces pensamentos mais serenos
Neles, acalentando os desalentos...

24193
Erguendo-me do escombro onde me escondo,
Vivendo por talvez favor e sorte,
Aonde exista esgoto que comporte
O mundo pelo qual, vazios sondo.
No tempo, sem discursos, vou repondo
O quanto se perdendo a cada corte,
Não tendo mais talvez quem me suporte,
Um vândalo em vazios já se opondo.
No quase ser feliz, eu percebera
O quanto a ingratidão se mostra clara
E mesmo sendo a vida a perla rara
Aos poucos se derrete feito a cera
Aonde este pavio aceso, um dia,
Decerto pouco a pouco morreria...

24192
Magérrima esperança se descarna
E quando se mostrar a face escura
Da vida que deveras vã perdura,
Minha alma em podridão, terrível sarna
E quando a fantasia ainda encarna
Navego pelo mar que se procura
Trazendo a paz; diversa da moldura
Que em turva servidão, já desencarna;
Pudesse uma alforria em luz suprema,
Mas quando a dor imensa assim se extrema
Não tendo solução, procuro a morte
Que ao menos trague o encanto do não ter
Nem dores, sofrimentos ou prazer
E mostre este vazio que conforte...

24191
Se desgraçadamente a vida trama
Esgotos, podridão em plena luz,
Aonde um passo trôpego conduz
É lá que manterei última chama,
Vergastas me consomem, alma clama
E a paz que tanto busco; imensa cruz,
Desejo à flor da pele, sonhos nus
E o quanto estou vazio, fúria e drama.
Decrépito fantasma do que fora
O quanto se pensara sedutora
Imagem de um momento em mansa glória,
Os fados se desviam; nada sobra
Somente a solidão, terrível cobra
Num bote terminal; luz merencória...



24190
A luz de um belo dia em raro sol
E apenas o vazio em tomando,
Esperanças em leva, frio bando,
Contrastam com o claro do arrebol,
Aonde um novo tempo diz farol,
Nevascas e granizos desabando
O mundo que eu buscara destroçando,
Quem dera fosse feito um caracol,
Quem sabe um ermitão, ausência e treva,
Nas grotas, nas cavernas. Se a alma neva
E o vento deste inverno se eterniza,
A sorte; eu não conheço e me desdenha,
E a mera solidão inda contenha,
Aqui, um temporal; lá fora a brisa...



24189
Envolto nos clarões de uma alvorada.
Procuro pelas sombras e neblinas
Enquanto em luzes fortes te iluminas
Minha alma há tanto tempo depredada
Esboça a reação que dando em nada
As horas que pensara cristalinas
As mesmas onde em dores já fascinas
O corte desta vida abandonada
Jogada pelos cantos, ser inútil
Um sonho de prazer? Deveras fútil.
Recebo a ventania com descaso,
Sabendo que depois do temporal
Apenas destruído no final,
Vislumbro a cada dia o meu ocaso.


24188
Não vejo o céu que outrora mais clemente
Trazia alguma luz ao caminheiro,
E quando pelos mangues eu me esgueiro
Bebendo a podridão de mim se ausente
A fúria que deveras tão presente
O fim se demonstrando o companheiro
Leal e mesmo sendo o derradeiro,
Apenas nele a paz já se consente.
Mortalha que carrego dentro da alma
Somente a morte apenas inda acalma
Um louco que em completo desvario
Mesquinho verme andando sobre a terra
Que quando mais procura mais se encerra
Tornando a própria vida um desafio...


24187
Aonde se pensara em primavera
Hiberno o pensamento e nada trago
O quanto desejara, feito estrago
Apego-me ao vazio que se espera
Do nada em que surgi, se o nada gera
Estático caminho ainda afago
Escravo do não ser, em dor; alago
O quanto que restou, funda cratera.
Volvendo aos meus momentos invernais
Não quero tua voz e nunca mais
Perceba que estão não inda respira.
Matando o que deveras está morto
Não tendo mais sequer paz e conforto,
Pra que manter acesa alguma pira?


24186
Não creio ser possível demover
Aquele que negando uma evidência
Ou alegando ser coincidência
Sonega o que em verdade pode ver.
Assim sendo impossível para um ser
Seguir a vida em paz, sem penitência
Aonde se pudera ter prudência;
Num passo vacilante quer viver?
O verdadeiro fato, mesmo quando
Em face mais diversa se mostrando
Não deve se esconder em falsas luzes,
Senão cada caminho onde tu fores
Invés de ter espinhos, fontes, flores
Somente pedregulhos, medos e urzes.


24301
A mágica se faz em verso e prosa
Traçando algum caminho, não sei qual
Aonde se mostrara desigual
A sorte caminheira, tanto glosa
Enquanto se proíbe assim a rosa
Jardim desabitado; num degrau
Chegando neste porto, velha nau,
Por vezes calma e mesmo belicosa
Trazendo o coração, como um corsário
Não tendo no caminho um adversário
Que possa naufragar tal comandante,
Entrego-me ao completo desvario
E o tempo em contratempo desafio
Olhando sem temor sempre adiante...


24300
A lua se debruça nas varandas
E traz em cada raio um beijo ameno
E tendo este fulgor já me sereno
Deixando para trás noites nefandas
E quando em poesia tu desandas
E vestes emoção, o amor é pleno
E neste néctar raro me enveneno
E o coração se entrega às tais demandas.
Arejo-me deveras e desfaço
As sombras do passado, e em cada espaço
Traçando com desejo um novo céu
Girando etereamente a lua emana,
Fortíssima beleza soberana


24299
Declino-me desta ânsia que tomava
Um velho caminheiro coração
Aonde se moldando esta estação
Do inverno se transborda em fogo e lava,
Enquanto a solidão se desagrava
E o tempo se transforma em negação
Enfrento as tempestades que virão
Abrindo deste céu, porteira e trava.
Arcando com meus erros, eu prossigo
Buscando noutras plagas este abrigo
Que tanto desejara e não sabia
Medonhos temporais, eu sempre enfrento,
Por mais que o tempo esteja violento
Vencendo no final; esta utopia.



24298
Diamantino sonho em que me embrenho
E vejo a eternidade do cristal,
Prismática beleza sendo a nau
Num cais maravilhoso, o meu empenho
E quando a claridade, enfim contenho
Avanço sobre o espaço sideral
E constelar delírio em pedestal
Endeusa o puro amor do qual eu venho.
Explícita razão de minha vida
Uma álgida presença, não se olvida
E traz dentro de si, início e fim,
Por tanto que desejo ser feliz,
E a sorte maltrapilha me desdiz,
Adubo de esperanças meu jardim.


24297
Argentinas delícias, plena lua
Ascendo ao teu brilhar, simples poeta
E quando minha vida em ti completa
Uma alma sem defesas já flutua
E a sorte de viver então atua
E toma de Cupido, a forte seta
O Amor que num amor tem como meta
A mor felicidade, deita nua
A deusa que se faz em raros brilhos,
Vencendo os mais difíceis empecilhos
Chegando ao seu dossel qual fora luz,
Encontro-me nos vértices de um sonho
E quando um verso a ti, diva, componho,.
Dois corpos neste leito, imersos, nus...



24296
Ouvindo; ao longe sons de violinos
Vencendo os vários vândalos vetustos
Aonde imaginara belos bustos,
Versando sobre o verso, velhos trinos,
E neles verifico mais versátil
Vestígio de violas e volteios
Um venerável vate vê nos veios
Avesso ao que envenena, mas volátil.
Havendo desse vão um vago aviso,
Vislumbro candelabros e abro os braços,
Um brâmane se embrenha nos abraços
Da mansidão do mar eu me matizo
Uma ave soltas asas, alça os sonhos
E os dias entre os sons sonham risonhos.


24295
Minha alma se trancando num cubículo
Ocaso da esperança, esboço incensos
Aonde se perderão mais intensos
Deixando para trás qualquer turíbulo
Do quanto imaginara sou montículo
E deste vago nada trago; imensos
Os problemas em dias bem mais tensos
Buscando na Escritura algum versículo
Que possa me ajudar a ver mais claro
O quanto doloroso e me preparo
Usando o mesmo verbo que conjugo
Amar e ser amado, o meu desejo,
E amando no amanhã, busco e prevejo
Um tempo sem senhores, amos, jugo...


24294
Atacas, virulenta pelos flancos
E deixas como herança a mortandade,
E mesmo que em delírios inda brade
Os dias não serão deveras francos,
E esqueces os demônios, velhos bancos
Aonde se sentara a realidade,
E mesmo que tal fato não te agrade
Os dias que virão, trarão pés mancos
A bomba explodirá dentro de quem
Teimando enquanto a morte, ao longe vem
Derrama-se em cascalhos, pedregulhos,
E nada valerão rezas e preces
E quanto mais resistes mais feneces
Na insone alegoria, vãos mergulhos.


24293
Ebúrneo sentimento que se exala
De um sonhador, etéreo navegante
Poeta se desnuda ao mesmo instante
Que toda a realidade invade a sala,
E quando a fantasia ele trescala
O que rege seus versos, delirante.
Aonde se mostra um diamante,
A voz já se embargando nada fala.
Permita-me sonhar, isto me basta
Porquanto a vida em si mesma se gasta
Desgastes que carrego desde quando
Pensei poder soltar a minha voz,
Enquanto o mundo esgota-se feroz,
O sonho; ainda invento, derramando...


24292
Insípidos, meus versos dizem nada
E transmitindo o fim que se anuncia
Negando por si só esta utopia
Que vejo na inclemência disfarçada,
Espero um tempo aonde não se evada
De todo ser humano a fantasia,
Desnudando a verdade numa orgia
Que há tanto se demonstra assim cevada.
Motéis, velhos bordéis e lupanares
Deveras são modernos tais altares
Que agora reproduzem cenas gregas
É claro, uma atração humana e física
Não pode ser somente a dionísica
Mensagem que nos sonhos tu agregas...



24291
Trescalo esta emoção currente calamo
E faço do meu verso forma e lança
Do qual a luz se emana e assim se lança
Envolto na alameda, em ramos de álamo.
E vejo quão mesquinha a pequinês
De um ser que se mostrando assim minúsculo
Transmite tão somente este crepúsculo
Do qual meu canto já se fez
Assombra-me a figura do holocausto
Aonde mergulhara a fantasia
De quem buscando agora uma alforria
Encontra tão somente um turvo infausto,
E vendo que esta sorte me abandona,
Demônios tão nefastos vêm à tona.


24290
Estende-se histriônica loucura
E dela a farta insânia se proclama
Enquanto homem mergulha nesta lama
O pó do qual foi feito e assim procura,
A mão que milagreira traz a cura
Mantendo da alquimia acesa a chama,
Na panacéia feita em treva e drama
Imagem de Satã enfim perdura.
Demônios envolvendo a face escusa
De quem usando Cristo, tanto abusa
Vendendo qual outrora a prima Igreja
Ainda percebendo desse início
A volta do inclemente Santo Ofício
Que é tudo o que esta corja em vão, deseja...


24289
Sacrário da ilusão, a poesia
Entorpecendo aquele que se dá
E sabe, reconhece desde já
Beleza que sem par ela irradia.
Vencendo os desacordos da utopia
O sol que intensamente brilhará
Tomando este cenário, aqui ou lá,
Qual fora luminária; fantasia
Um mundo aonde amor se torne intenso
E quando em teu cantar o medo eu venço
Permito coerente sensação
Tramando um novo cais aonde ancoro
E nele a realidade de um sonoro
Momento feito em música e paixão.



24288
Heróico caminheiro em penedias
Esgarçando em feridas mãos e pernas
As noites que pensara quais lanternas
Invadem e transbordam alegrias
Da forma que talvez já não querias
Por mais que estas palavras sejam ternas
O quanto se deseja e não externas
Mostrando ansiedades tolas, frias.
No alabastrino encanto, belo cisne,
Embora o sol derrame enquanto tisne
O velho caminheiro enamorado,
Cercando-me das luzes que ora emanas
Durante horas e dias ou semanas,
Guiaste minha vida em torpe prado...


24287
Imagem rutilante de um anseio
Que tanto me seduz quanto me agride
Não tendo como apoio tal cabide
A vida que desejo e banqueteio
Deveras entre várias se divide
E trama o quanto quero sem receio
Que amor não se demonstre qual recreio
Enquanto a realidade já regride.
Mesclando tais temperos, vida e gozo
Caminho que procuro, caprichoso
Moldando este soberbo amanhecer,
No verso aonde embalo o meu futuro
O quanto de prazer inda procuro
E vivo tão somente por viver...



24286
Vislumbro da poesia tais lampejos
Que possam me trazer clarividência
Aonde se mostrara a convivência
Supera-se deveras os desejos,
E quanto mais encontro tais vontades
Deixadas pelas ruas sem pegadas
As hordas se mostrando destroçadas
Ainda não conseguem ver as grades
E soltam ao revel qualquer besteira
Falando do que nunca imaginara,
A sorte que se trama, sendo rara
Não deixa que a verdade enfim se esgueira
Proscreve-se o que outrora fora luz
E agora é lamparina e não conduz.


24285
O quase centenário modernismo
Usando esta bengala, pois cegueta
Enquanto não percebe que é cometa,
Comenta os dissabores do lirismo,
E quanto mais arcaico mais achismo
E nisto solto a voz, minha trombeta
Mandado para o raio, ou pro capeta
Quem pensa que o inferno é feito abismo;
E deixa de prosaica palhaçada
Quem sabe faz e não pergunta nada,
É coisa verdadeira e cristalina,
Matar com tal soberba e arrogância
Disfarçando, querido, esta ignorância
Que somente aos imbecis inda fascina.


24284
Não poderia ao menos ter a clássica
Noção do bem estar e conviver
Se tudo o que desejas é poder
Levar a tua vida, assim jurássica.
Ecléticos delírios dizem tanto
Do quanto nada diz quem tudo sabe
Bem antes que este tempo gris acabe,
Ainda posso livre, ter meu canto
E mesmo que tu venhas com balelas
Esconda o teu rabicho de perua,
Uma alma libertária já flutua
Embora em linhas várias, paralelas
Reveja os teus conceitos; caro amigo,
Pois quando tu me falas, nem te ligo.


24283
Milagres se tornando tão freqüentes
Em rádios, em tevês e botequins
Enquanto os meios dizem sim aos fins
Além do que talvez deles te ausentes.
Por mais ainda mesmo o quão te alentes
Imagético arcanjo, querubins
Os resultados sempre tão chinfrins
Permite que se pense quanto mentes.
Não quero misturar sonho e velório
Tampouco me metendo neste empório
Bazares usam Cristo qual nobre isca,
No fundo aventureiros disparates,
Leilão dos quais são almas que arremates,
Pois quem engana mais, tudo petisca.


24282
Aonde se sagrasse a poesia
Em versos com perfeita sintonia
A sorte se mostrara vingativa
E apenas a memória mantém viva
Aquela a quem a musa se daria
Trazendo não somente a fantasia
Nem mesmo uma palavra lenitiva
Que em mera ocasião não sobreviva.
Escrevo o que minha alma dita ou não
Maldita poesia que me doma,
E quando se percebe feita a soma
O tempo traz os cantos que virão,
Porém eternizado o que concebe
E dele a poesia já se embebe.


24281
Infante que vislumbra algum brinquedo
Que tanto desejara e no que quis
Encontra a realidade e se é feliz
No encanto deste tanto eu já me enredo.
E quando noutro espaço eu te concedo
O verso que minha alma em luzes diz
Explode feito um gêiser, chafariz
Num caloroso ardume, esqueço o medo.
E sigo sem demoras nem porquês
E tudo quanto eu amo sei que lês
Cigana traduzindo o que há por vir.
E deixo-me levar por tuas mãos,
A sorte reconhece fendas, vãos
E neles do teu lado, prosseguir.



24280
O olhar que traz à noite tais centelhas
Luares pareados, gemelares,
O amor qual faroleiro erguendo altares
Enquanto em dores tantas, avermelhas
Por vezes na distância tu engelhas
Uma alma de quem tanto ao procurares
Entrega-te nos versos seus cantares
Intenso fogaréu, soberbas grelhas,
E quando estás ausente a noite traz
Grisalhos tons que tomam todo o céu
E aquilo que se fez fogaréu
Apenas leve chama e nada mais,
Aonde te encontrar seguindo o trilho,
O coração audaz de um andarilho
Percebe luminárias magistrais...


24279
Trazendo dentro da alma a luz sombria
De quem por tantas vezes procurava
Aquém deste vulcão, imensa lava,
A noite pouco a pouco já se esfria,
A sorte se traduz melancolia
E enquanto a dor reabre a dor escrava
Uma esperança traz enquanto escava
O brilho que deveras se escondia
Nos dias mais atrozes e mordazes,
O amor que nos teus olhos ora trazes
Adentra vigoroso, e muda o rumo
Nas ânsias desta imensa embarcação
As horas com certezas me trarão
O leme pelo qual enfim me aprumo...


24278
Amor se traz em si tormento e jugo
Não pode ser o quanto procurara
Quem sabe quanto a sorte se faz cara
Suaves fantasias? Delas sugo
Sorvendo cada gota e se me enrugo
Na busca pelo encanto que sonhara
A vida sem saber ao certo, aclara
E a solidão se torna enfim, refugo.
Mesclando as ilusões com a verdade
Enquanto esta incerteza ainda invade
Eu ergo o meu olhar; belo horizonte
Desvendo após a turva tempestade,
Deixando para trás qualquer saudade
E deixo que este sol, surja e desponte...



24277
Trazendo dentro em mim amor e medo
Aonde poderia ser feliz,
Se tudo o que minha alma sempre quis
Condena-se deveras ao degredo,
E quando sem pensar, eu me concedo
Direito de buscar, sorte desdiz
E volta a incomodar tal cicatriz
Eternizando assim, o torpe enredo.
Viesse pelo menos este aroma
Que quando se aproxima e já me toma
Denota a maravilha do teu ser,
Mergulho neste fausto e me inebrio,
Vencendo sutilmente o desafio
Do medo vem surgindo este prazer...



24276
Percebo em vossa face senhorinha
O quão fermosa vida se apresenta
E em vossa majestosa voz aumenta
Beleza sem igual que se avizinha.
Liberto o pensamento, uma andorinha
Em vossa perfeição, a Sorte isenta
Os Fados dirigindo tal tormenta
Servindo-vos de amparo esta avezinha.
Permitem-me sonhar com liberdade
E mesmo que mais alto uma alma brade
Encontra em vossos braços, lenitivo.
Ser-vos-ei fiel dama que trais
Nos olhos esperanças ancestrais
Nas quais e pelas quais somente vivo...



24275
Em tantos sobressaltos adormeço
E vejo quão funâmbulo é o futuro,
Pois sendo a mansidão o que procuro,
Apenas vislumbrando outro tropeço
E tendo a dor que sei mesmo mereço
No quadro quis matizes, vejo o escuro
E nele tão somente me perduro,
E o meu caminho é vão; já reconheço.
E quedo-me defronte à realidade
Que embora em versos fúteis inda brade
Dizendo-me do encanto devedor,
Percebo que somente existe em mim
Os restos do que fora algum jardim,
E o inverno assim se fez destruidor...



24274
Percorro os céus em busca de um momento
Aonde possa enfim saber que a senda
Por onde a magnitude se desvenda
Traria tanta luz na qual me alento,
E vislumbrando apenas sofrimento
O quanto de prazer se encontra à venda
Quitandas nas esquinas, gozos, lenda
O amor se torna então mero tormento.
Num triste e tão terrível, duro empório,
A cada novo tempo o vomitório
Traduz suas bacantes e delírios,
Assim ao fim do túnel, podridão
E loucas rapineiras já virão
Trazendo nos seus bicos, os martírios...


24273
Do sonho em grises cores, profecia
Falando do final, do Apocalipse
A vida sendo apenas um eclipse
Que a cada novo tempo se recria,
Aonde se formando então a elipse
Da qual e pela qual retornaria
O que deveras vida fora um dia,
Mistério de uma divindade tríplice.
Assaz imperfeições, percebo quando
Um Pai que se fez Bom e mesmo Brando
Não pode destruir o que criou,
Se tanto se entregando à criatura
Que busca; mesmo atroz; quem emoldura
O tanto que este Pai já nos amou.


24272
“Derradeiro suspiro de Bocage”
Não foi por suas mãos composto, creio
Que em vós senhora o gozo banqueteio
E nele não percebo algum ultraje,
Usando da palavra como traje
Desnuda maravilha, insano veio
Por onde ao Paraíso chego; sei-o,
Caminho bem melhor do que uma laje.
Entregando-vos decerto meu caralho,
No quão supremo encanto já trabalho,
E tendo em vossa xota esta delícia,
Apenas por tentar vendar os olhos
Dos que percebem cedo quais abrolhos
Traduzem punição desde as primícias...
SOBRE VERSO DE MARCOS COUTINHO LOURES


24271
Vibrante sensação, amor que trago
E dele faço o mote pelo qual
A vida se mostrando sem igual
Permite da emoção, suave afago,
Enquanto deste sonho eu já me alago
E bebo da esperança, um ritual
Trazendo no seu bojo o triunfal
Caminho sedutor, tranqüilo e mago.
Alquímica promessa, a panacéia,
Esbanja maravilhas; traz a idéia
De eternidade ao homem que se entrega
Vencendo assim até o próprio tempo
Por mais que havendo espinho e contratempo,
Enfrentando procela, o amor navega...



24270
Palavras ditam tantos sentimentos
Traduzem emoções, diversas luzes
E quando ao farto amor tu me conduzes,
Esqueço dos terríveis pensamentos.
Não posso me entregar aos sofrimentos
Que em tantas dores tramam, mas reluzes
E neste refulgir não vejo as urzes
E bebo da alegria, sem tormentos.
Alentadora voz já se levanta
E traz abençoada esta garganta
Que evoca a maravilha feita Amor.
E quando te percebo mais presente
Encontro esta palavra que apascente
Trazendo o quanto em brilho irei propor.



24269
Senhor; apascentai meu coração,
Em tantas tempestades, Vos anseio
E busco em Vosso amor um rumo, um veio
Que possa traduzir a redenção.
Fazendo do meu verso uma oração,
Encontro em Vós, Meu Pai que em homem veio
Mostrar que a vida aqui é só um meio
De se encontrar as glórias que virão.
Não quero Vossa imagem em dor e cruz,
O ressurreto Deus, Senhor Jesus,
Amigo que presente está e traz
A mansidão que a Vós, Senhor nos guia
Eternidade feita em alegria,
Caminho pelo qual se encontra a paz.



24266
Tombando sobre o caos que se apresenta
Debaixo dos meus pés, tal precipício
Que desde seus primórdios, medo e vício
Transborda em tempestade violenta
Assim a humanidade se atormenta
E busca a cada dia outro reinício
E sendo aquém do sonho morre; disse-o
Senhor que nos criou a alma se alenta
Na eternidade feita em luz extensa
Além de uma promessa, a recompensa
Buscada por quem sabe que o Amor
Somente, e tão somente é quem nos guia
Trazendo à realidade a fantasia
E nela já se vê o Redentor...


24268
A luz que se emanara destes círios
Trazidos por fiéis em procissão,
Olhando para a frente, a imensidão
Expondo desde sempre os seus martírios.
Aonde se pensara em rosas, lírios
A vida não transforma a direção
E dela novas vidas mostrarão
Além do que foi feito em vãos delírios.
Ascende-se a fogueira da esperança
E dela se permite crer no eterno,
Aonde um mundo manso, belo e terno
Uma alma caridosa sempre alcança.
Remendos pela vida afora trago,
Porém no arrepender-se creio afago.



24267
Imagens se compondo em poucos versos
Permite que lapide o que quiser
Podendo ter nas mãos um ser qualquer
Cabendo nas palavras, universos.
E quando se percebem mais dispersos
Os rumos que buscara e o que vier,
Na angústia de quem cria; um esmoler
Que anseia por destinos tão diversos
Somando-me ao vazio que ora vejo
Desdenho desde sempre o meu desejo
E caço as ditas Musas e transcendo.
Além do ser finito que ora sou
A voz que a poesia eternizou
Recebe de quem lê; seu dividendo.


24266
Um bosque sempre em flor? Pretendo e quero
Embora seja apenas uma imagem
Tornando mais suave esta paisagem
De um mundo tão amargo, duro e fero.
Na lírica ilusão não me tempero,
Porém percebo nela que a viagem
Tornada mais tranqüila, mais que ultrajem
Os dias; as verdades; fujo. Austero.
Apenas um poeta e nada além
Do quanto se fez sonho em verso e tom,
Porém amor e paz, não sendo um dom
Diversa realidade já contém
Aonde poderia ser liberto,
A fonte se transforma num deserto...



24265
Sossega coração que o trem já vem
E apita, maquinista da saudade
Deixando para trás a ansiedade
Numa estação buscando por alguém
Que além de ser aquela a quem meu bem
Deseja com vontade que inda agrade
Mudando vez em quando de cidade
Encontro este passado e sigo aquém.
Acende esta fornalha, coração
E bebe das estrelas que virão,
Pois nelas encontrando o seu caminho
Não tente de surpresa dar seu bote,
As belas fantasias; inda anote
E não será decerto mais sozinho...


24264
Cantasse com lirismo a flor e o vento
Canteiros onde outrora em framboesas
Vestindo estas românticas belezas
Amor cumprindo sempre o seu intento
E quando noutro campo, o pensamento
Envolto por anseios, diz levezas,
Esbarro nas eternas correntezas
E mesmo em fúria intensa; enfim, me alento.
Esqueço do vigor da vida em si,
E traço cada passo que perdi
Usando a maciez com que se lavra
A terra este campônio e a maestria
Poética que o verso fantasia
Liberta, sem senhores, a palavra...


poesia
Aonde mergulhar
O quão sou
O não fui
E o jamais teria
No pélago
No pântano
Ou quem sabe
Na poesia?


24263
Aonde se imagina a cordilheira
Envolta eternamente em gelo e frio,
O coração de um tolo segue esguio
Moldando da maneira que bem queira
A imagem de uma força verdadeira
À qual já me entreguei, e que desfio
Na vida rotineira, enfim, me guio
Trazendo a mansidão qual mensageira
Do imenso amor que move quem nos dando
A vida num eterno encanto; um brando
Pastor que comandado vil rebanho
Percebe quanto insólita a criatura
Que presa aos seus instintos vãos perdura
Refém deste animal que em mim apanho.


24262
Uma uterina força move o mundo inteiro
E dela se oriunda o gozo e a dor,
Não creio nesta história. O Criador
Da paz e do perdão, um mensageiro
Expondo num cantar mais lisonjeiro
A vida como fosse algum louvor
Estampa em plenitude, este vigor
Além da opinião de um rapineiro.
Esboça-se a verdade feita em luz,
Bem mais do que os mistérios de uma cruz
Ao qual há tantos anos mostra fixo
O olhar da humanidade que só vê
Aquilo que deveras quer, por que
Jesus jamais foi mero crucifixo.


24261
Ao ver a ponta deste gigantesco
E pavoroso monstro: um iceberg
O olhar de um frágil ser ao alto se ergue
E vendo este tormento tão dantesco
Na criação bucólica do afresco
A mão de um grande artista se soergue
E traz a imensidade como albergue
A um ser deveras ínfimo e grotesco.
Mas eis que vejo os olhos da pantera
E matando decerto degenera
Esta obra-prima feita em claridade,
Depois de destroçar, tal criatura,
Ainda segue em vão e quer, procura
Após tal vilania a eternidade...


24260
Um Ser que se tornando onipotente
Se expressando princípio, meio e fim
Reflete a eternidade? Pois assim
É tudo o que minha alma quer e sente.
Revolto mar aonde se pressente
A tempestade imensa de onde vim,
Trazendo o que buscara dita enfim
O quanto do total se mostra ausente.
Mas creio neste Pai Eterno e bom,
E a vida se transforma noutro tom
Somente pela fé que em luzes move,
Entrego-me deveras ao poder
Do Amor que ternamente posso ver
Quem crê já nem mais quer prova dos nove.


24259
A força que deveras já se expande
E toma toda a cena, falso guizo,
Aonde se fizesse mais preciso
Não tendo um coração deveras grande
Mesquinharia tanta; não se abrande
O quanto me restando: prejuízo,
E sendo na verdade o que cotizo
O tempo sem ter tempo que demande
Esgota-se num átimo; percebes
O quanto nos perdemos noutras sebes
Inúteis e deveras enganosas.
Aonde imaginava meu canteiro,
Abrolhos e daninhas por inteiro
Matando o que talvez trouxesse rosas...


24258
Aonde quer que o tempo se transforme
Num vago e destemido cavaleiro,
Fazendo de um calvário verdadeiro
Um rito fragilmente tão disforme.
Por mais que esta rotina nos deforme
É dela esta verdade à qual me esgueiro
E bebo deste sonho por inteiro
Embora a vida acorde e já me informe.
Amante quixotesco do passado,
Mergulha dentro em si e nada ao lado,
Sabendo que afinal; inda persiste
Somente por motivos que não sabe,
Mas antes que este sonho em vão se acabe,
Não quero ser conforme sou, tão triste...


24257
Enquanto em cores frágeis, vida tinge
Os rumos deste bêbado que, insano
Ainda se mostrara soberano
E nada do que outrora quis, atinge.
O próprio mundo; imensa e vasta esfinge
Do qual por vezes tolo, ainda ufano,
Traduzindo o descrédito em algum dano
Qual fora um bom poeta, sempre finge.
E apenas se mostrando esta heresia
Que a cada novo tempo fantasia
Humanidade em busca de respostas,
As mesas não mais fartam quem procura,
E encontra tão somente esta amargura,
Erguida por verdades decompostas.


24256
A vida sempre foi grande mistério
E nele sem respostas eu prossigo,
Aonde poderia ter abrigo,
Não vejo coerência nem critério
Por mais que a dor aplaque e amanse; espere-o
Verás tranquilamente onde prossigo
Voltando-me deveras ao perigo
Embora queira um rumo mais etéreo.
Navego pela insânia do não ter
E mesmo ainda resta algum poder
A quem se fez apenas turbulência.
E quando encontro alguma sensatez,
Imensa realidade já desfez
O que pensara vida: álgica; vence-a!


24255
Seguindo qualquer brilho de algum astro
Que possa permitir a claridade,
Enquanto a treva amarga já me invade,
Em plena turbulência em vão me alastro
E quando procurara ter um lastro
Somente me restou dura saudade,
Ausente de meus olhos realidade
Futuro desde já, qual tolo eu castro.
E quando ainda espero alguma luz
A noite se nublando reproduz
O que dentro de mim vida apresenta,
Negando a própria sorte, sigo assim
Na busca interminável pelo fim,
Em meio à negritude turbulenta...


24254
Qual fora um tenebrário em tempo escuro
Aonde não se vê além de si
Procuro esta esperança que perdi
E nesta inútil busca já perduro
Aonde se pensara um alto muro
Impede que se chegue aonde eu vi
Que tudo se mostrando como eu cri,
Atravessando um campo árido e duro.
Assalta-me a vontade de parar
Deitando sob as sombras, mas luar
Implícito poeta se desnuda
E enquanto mergulhado em infortúnio,
A imensa claridade em plenilúnio
Em pleno temporal, a rota muda.


24253
Ouvindo a tua voz que ainda ecoa
Em ressonância imensa dentro em mim,
Recordo cada noite, tudo enfim,
Uma alma se perdendo, segue à toa.
A vida do teu lado era tão boa,
Porém a nossa história tendo fim
Dizendo do vazio de onde vim
Do claro amanhecer já se destoa.
Espero poder ter tua presença
E tendo que deveras me convença
De um dia ser plausível tal ventura,
A noite se tornando em lua cheia
Minha alma em pleno inverno se incendeia
E encontra finalmente o que procura....


24252
Utópicos caminhos desvendados
Ou mesmo tão somente simples lenda
Por mais que a realidade nos atenda
Espera-se bem mais que nossos Fados.
Os dias entre névoas ou nublados
No desabrigo interno a mansa tenda
Nos olhos, mascarando feito venda,
Momentos de ansiedade relevados.
Assim nosso futuro a quem pertence?
Aos pés do caminheiro, a alma convence,
Mas quando em intempéries já se lança
Após a surpreendente luz sombria,
Ao fim do que nos resta só nos guia
A leda, mas fantástica esperança...


24251
Por tantas vãs angústias eu desfilo
O verso sendo uma arma que me resta,
E mesmo quando vejo mais funesta
É tudo o que permito; um mero estilo?
Do exílio em que me encontro desopilo
Uma alma tão inquieta já se empresta
Ao que talvez se mostre no que gesta
A vida num momento até tranqüilo,
Porém numa diversa inquietude
Por mais que a teosofia ainda ajude
Ao fim de certo tempo não sacia.
Hedônica resposta, o mundo expõe
E quanto mais exposto decompõe
O que será verdade ou fantasia.


24250
Orgânica matéria e nada mais,
Da decomposição a vida é feita
E nela só por ela, se refeita
Permite a eternidade que alentais.
Em vossas caminhadas, os jograis
Trazendo uma alegria, mera e aceita
Qual fora até parece quase seita,
Estúpida quimera de animais.
A cada dia mais me esgarço e vejo
Que apenas me sobrando um vão desejo
Ao fim não terei nada, sombra fria.
Um sonho eclesiástico ou mundano,
Deveras quando penso eu já me engano,
Uma alma perpetua; ou se esvazia?


24249
De tudo o que mais crês sou simulacro
Da vasta e mais cruel incoerência
Se eu tenho em minhas mãos, mera potência
Os olhos à verdade então eu lacro.
Aonde imaginara puro e sacro,
Mentira se desnuda então; convence-a,
Embora reconheça t’a inocência
Acrosófico olhar do micro ao macro?
Ao expor a nudez de quem não crê
E sendo assim não tendo nem por que
Tentar continuar em marcha lenta
O que se fez em dúvida; um cometa?
Por mais que no vazio eu me arremeta,
Uma esperança ainda é o que me alenta...


24248
Angústias da efeméride da vida
Arcanas ilusões que nos guiavam
E agora tão somente ainda travam
Do labirinto frágil, a saída.
Do quanto não se sabe e se duvida
Os medos que deveras habitavam
E ainda nestas águas turvas lavam
Matéria aos poucos vã e apodrecida.
O verbo se transforma, mas o medo
Que ainda trago vivo e aqui concedo
Percebe-se sutil e quando invade
Não deixa mais respostas nem talvez
Por que, para onde e quando isto se fez
Existirá depois a eternidade?


24247
Atordoante luz que assim se emana
Dos vértices sombrios do meu sonho,
E quando novamente me reponho
A sorte se mostrando mais profana
Acuso-me e deveras a alma engana
E a cada dia mais me decomponho
Chegando ao final ao ser medonho
Exposto em galeria tosca, insana.
Assento-me defronte uma lareira
Escrita que descreves estradeira
Mergulha neste ocaso solitário.
E ao ver o descaminho em que se faz
O tempo que julgara mais capaz
Encontro este vazio então; prepare-o.



24246
Se enquanto rimos mesmo até de nós
Estamos na verdade em vã defesa
Por mais que se prepare, pobre presa
Jamais escapará; fúria feroz.
O corte se mostrando mais atroz
E embora disfarçado de beleza
O sonho se levando em correnteza
Não deixa com certeza, nada após.
Escassos os momentos de prazer
E neles, só por eles posso ver
O verso mais suave que me acalma.
Mas sei do turbilhão que existe em mim,
E mudo do princípio chego ao fim,
Mascaro o que em verdade trago na alma.


24245
Nascido dentre limos, lama e esgoto
Se eu tenho neste olhar um pantanoso
Caminho que se mostre audacioso,
E vos pareça mesmo um semi-roto
Dum arvoredo edênico sou broto
E tramo muitas vezes o ardiloso
Desnível feito em pedra, prego e gozo
O arcaico coração, velho garoto
Se expressando jocoso e tão satírico,
Quando querias ritos mais oníricos
A realidade trago, um misantropo.
Que das estrelas foge, busca o não
E nele tais vazios que virão
Até chegar o abismo ou mesmo ao topo.


24244
Diatribes proferidas sem que o nexo
Permita uma defesa, pelo menos,
Aonde imaginei serem amenos
Os dias se envolvendo em ar complexo.
Se, às vezes ao silêncio então me anexo
É por tentar momentos mais serenos
Ausente dos furores e venenos,
Ataco-te? Deveras por reflexo.
Se as formas são audazes e execráveis
Os dias não serão aproveitáveis
E tudo se perdendo em vão, por isso
Na ausência muitas vezes mais aprendo,
Não quero do teu ermo ser adendo,
Tampouco a glória em vida, o que cobiço.


24243
Aturdido, imagino uma esperança
Que possa desta fúria trazer paz
Sabendo desde já não ser capaz
A voz sobre o vazio então se lança
O corte se aprofunda, a dor avança
E tudo parecendo pertinaz
Até o gargalhar cruel; mordaz
Que a cada novo tempo chega e alcança
O velho coração de um marinheiro
Cansado de lutar contra as procelas
E quando a realidade, me revelas
E desta intempérie eu já me inteiro
Percebo o meu valor, um simples nada,
Uma alma pelo corpo abandonada...




24362
Silente madrugada e não me escutas,
Deixando para trás sonhos e festa,
Do quanto desejei e nada resta,
Apenas as lembranças destas lutas
Das quais e pelas quais, sei que relutas
E toda a mansidão já não se empresta,
O quanto desejei amor não gesta
Apenas as palavras vãs e astutas.
Resistes ao meu canto e sei por que
Quem tanto tempo ainda nada vê
E sabe, mas prefere nem ouvir
Concebe a cada tempo a negação,
E mesmo estas estrelas saberão
Do quão vazio então, ledo porvir...


24361
A lua se esparrama em luzes fartas
E sobre estas veredas, traz no brilho
O quanto enamorado maravilho
Por mais que dos meus sonhos já te apartas
E quando as horas passam e descartas
Ao longe ainda escuto em estribilho
O som da tua voz e cego eu trilho
Jogando neste instante últimas cartas.
E sei que na verdade não terei
Distante do caminho que entranhei
Estás e até por isso nada escutas.
E quando me aproximo e chego a ti
Percebo então, que tudo enfim perdi,
E até para me ouvir, sinto, relutas.
.


24360
Azulejando o céu, o sol se encanta
E bebe a mansidão deste riacho,
O quanto procurara e enfim eu acho
O amor que me entranhando em força tanta
No quase ser feliz, um mero facho
Transtorna o coração e se levanta
Ardência entre fulgores já me espanta
Realça da esperança cada cacho
E toda a maravilha feita em brilhos
Tomando os corações vãos andarilhos
Entornando entre nós a melodia
Que inebriadamente nos domina,
E vendo a placidez da fonte e mina,
O sol enamorado se sacia.



24359
Ao vê-la desfilando em noite clara
A lua se enamora e já se entrega
Aos teus delírios, sinto nesta entrega
O quanto em poesia amor se aclara,
Deitando em fantasia nobre e rara
Assoma-se o calor e em ti navega
O brilho estonteante que me cega
E todo amor a ti, lua declara.
Amante dos luares, deusa nua,
Uma alma tão sutil, leve flutua
E enquanto me atormento, enciumado
Não posso contra a força do luar
E mesmo se quisesse ao te encontrar
Também, quem sabe, enfim, enluarado.


24358
Aonde se plantara esta ilusão
Colheita se abortando em dissabores
Se quando prosseguir por onde fores
Verás as fantasias que estarão
Deitadas sobre a terra, podre grão
Encharcado de sonhos sedutores
E morto, no correr dos meus amores
Eterno inverno aborta este verão.
Auspiciosamente a vida engana
E quando se imagina soberana
Desdita toma todo este caminho,
E sendo um velho e tolo sonhador
Do nada que surgi, ao nada for
Nas tramas do vazio eu já alinho.



24357
A morte do poeta e o nada são
Figuras que se tocam, na verdade
Enquanto a solidão ainda invade
O tempo se tornando negação
Do quanto quis tomar a direção
E tendo a ventania que degrade,
Apenas encontrando frio e grade
Estrelas espalhadas pelo chão
Medonhas esperanças, tosco fim
Dizendo do que outrora fora assim
E ainda permanece inalterado,
Nascido nas divinas alterosas,
Plantando e recolhendo espinho e rosas
O trovador se perde no passado.


24356
O que se fez loucura após, tornou-se
Apenas referência para os dias
Alheios aos vazios que trazias
Talvez inda trouxessem manso e doce
O quanto que se quer e nos remoce
Tramando estas loucuras, fantasias
Dourando no final as utopias
E tanto que te quis finda, acabou-se.
Agora não pergunto mais ao tempo
Se tudo não passou de passatempo
Passado impasses traz a quem delira,
Poeta se fazendo um penitente
A cada vão instante se pressente
A morte do que fora sonho e lira...


24355
Ouvindo tão distante qual alarme
O brado de quem tanto quis um dia,
Agora transformado em agonia,
Sentindo a cada instante maltratar-me,
E tendo da esperança este desarme
Apenas o vazio é que se cria
Lamento torna a noite bem mais fria,
É como se viesse desnudar-me.
E tudo o que pensara se perdendo
A sorte simplesmente assim te vendo
Derrama-se por sobre o casarão,
Tragando alguma luz que inda restara,
É como se o viver parasse para
Poder sentir as neves que virão.


24354
Erguendo sobre o cimo deste monte
A lua se desnuda por completo,
Cenário que percebo o predileto
Tomando num momento este horizonte
E enquanto este luar além desponte
Qual fora uma falena, um mero inseto
Inebriado encontro e me completo
Nos raios, do prazer e morte, fonte.
A angústia de se ver tão solitário
Tramando este tormento amado e vário
Moldando ao mesmo tempo dor e gozo.
Nas sendas mais distantes irradia
A tempestade em forma de alegria
E o vento se lançando caprichoso.


24353
Estrelas a brilhar em noite estranha
Aonde se percebe a dor e o vento
Tramando muito além do sentimento
A cada vez que a vejo mais entranha.
Seria como ter desta montanha
Imensidade plena, e me atormento
Vivendo sem sequer saber se inda freqüento
O pensamento teu, teu rumo e sanha.
Aos poucos se nublando relampeja
A fúria da Natura, ora sobeja
Demonstra-se nos raios e trovões
Volúpia em temporais e fogaréus
A lua se escondendo sobre os véus
Espalha-se acolá, nos meus sertões.



24352
Venturas que teu corpo me convida
Adentro paraísos e percebo
Que tudo de melhora em ti; recebo
Prazer que dá razão à própria vida,
Viaja por estrelas, distraída
E sabes tanto quanto aqui eu bebo
Além da fantasia que concebo
A sorte que eu buscara, merecida.
Assim ao navegarmos noite afora
O quando do desejo já se aflora
E deixemos seguir tal correnteza,
O amor se faz completa refeição
E nele, com certeza sou glutão,
Só falta meu amor, a sobremesa...



24351
A cada tempo vejo a mesma face
Da fera que na fera reproduz
Tomando do futuro qualquer luz
Causando desde sempre o velho impasse.
Por mais que o tempo avance e o mundo passe
As novas gerações comem da cruz
E matam, sem saber, Cristo Jesus
Num gozo insuperável que o desgrace.
Mortalha acompanhando este primata
Endeusa-se e decerto come e mata
O que puder em nome do dinheiro,
Assim este sacrário feito em Terra
A porta do amanhã, deveras cerra
Numa assombrosa imagem: um puteiro.



24350
Escondem-se cadáveres nas ruas
Prostituídos tempos insepultos
E quando mal vislumbro os mesmos vultos
Encontro as tais verdades sempre nuas.
Porém tu nada vês e até flutuas
Pensando que meus versos são insultos
Os povos mais atrozes? Os mais cultos,
Enquanto tu te omites, nisto atuas.
Os dedos apontando esta carcaça
Ao lado do tropel que esnobe passa
Nos caros magazines, capital
Tornando a realidade mais atroz
Se homem tal qual um lobo é dele algoz
O que falar então de um animal?



24349
Vergonha se expressando em guerra e fome
Ainda verdadeira a profecia
Que aos poucos nas esquinas se traria
O fogo sem igual que nos consome.
Portanto se percebe quem não come
Na dura realidade tal orgia
Sarcasmo se transforma em zombaria
E a fera não encontra quem a dome.
Ilíadas diversas do presente,
Assim caminha ao fim, quem se fez nobre,
E pelo desatino, se descobre
O quanto do vazio violente
Os sonhos de justiça e liberdade
Que tomam desde sempre a humanidade.



24348
A massa se desfaz e não consegue
Sentir o quanto vale a força unida,
Assim a sorte sendo decidida
Nas mãos de quem deveras a carregue
Por mais que a realidade não sonegue
A cada novo tempo mais se agrida
A luta que se mostra tão renhida
Por terras tão distantes vã, trafegue.
Em nome de qualquer deus ou mentira
Humanidade ao torpe afã se atira
E come dos destroços, canibal,
Abutre que se mostra eternamente
O mundo sem descanso sempre sente
O gozo deste insano vendaval.


24347
A luz da qual se emana o ser real
É fosca e muitas vezes mais sombria
Porquanto é que a verdade só se guia
No gozo de um momento triunfal,
Assim se fez o mundo em desigual
Caminho baseado na sangria
E quanto mais o escravo se vendia
Vergasta se tornava um ritual,
Até quando não sei, mas se repete
A mesma ladainha do passado,
E o mundo por dinheiro governado
- O sexo, neste caso, uma vedete-
Expondo a podridão de cada ser
Que vive tão somente pro prazer.


24346
O mundo traz o sangue e a liberdade
E neles adivinho morte e glória
Assim ao decorrer da nossa história
Embora uma verdade desagrade,
Herói de vez em quando o mundo invade
E traz dentro de si, farta vanglória
Depois ao conseguir qualquer vitória
Um passo pra colher a eternidade.
E assim em podridão seguimos todos,
Envoltos pelas lamas, torpes lodos,
Na busca de viver tranquilamente,
Mas saiba quantas vezes é enganosa
E mesmo noutras tantas, caprichosa
Verdade de quem vence, sempre mente.


24345
Escondes dentre em ti tais maravilhas
Envolta em pedrarias, rica fonte
Por mais que a fantasia desaponte
Em ti encontro sempre mansas trilhas,
A vida se prepara em armadilhas
E a luz que se irradia no horizonte
Podendo ou não quem sabe ser a ponte
Que ligando dois corpos quando brilhas.
Exímios caminheiros do passado
Aonde se pensara destroçado
Soergue-se este amor e nele vejo
Além de simplesmente céu e lua,
Amante delicada, alma flutua
Tocada pelas mãos deste desejo.



24344
Atalho que procuro ainda leva
O sonho para quem tanto queria
Assim ao ser exposta a fantasia
A sorte se transforma e já te eleva
A vida sendo ou não parca ou longeva
Não pode suportar mesquinharia
E tudo o que deveras te traria
Distante do que agora sinto em treva
Espalha belos cantos pelos ares
E sabe muito bem quando cantares
Que toda a natureza encontra a festa.
E toda esta alegria; compartilhas
Trazendo para mim tais maravilhas
Às quais o amor intenso já se empresta.


24343
Olhando para o espelho tu te vês
E quando te percebes; sendo bela
O amor que pelo belo se revela
E nele encontrarás os teus porquês
E nisto tão somente ainda crês
E o mundo do outro lado se congela,
Imaginando agora a própria tela
Na qual te emolduraste: insensatez?
Só sei que não me queres e também
Não sei se quando alguém ainda vem
Desejas os carinhos que te fazes.
Assim vivendo linda e solitária
Imagem refletida sendo vária
Não sabes quanto vida dita em fases.



24342
Mulher que tanto quero e nada quer
Vestindo esta ilusão, seguindo os passos
Percebo que talvez encontre lassos
Os dias em que a fonte se vier
Trará eternidade e se puder
Rendido ao ocupar tantos espaços
Vagando pelas ruas, poços, paços
Encontro o que buscava: esta mulher.
E sei o quanto é bom saber que existe
Quem mesmo me deixando ausente e triste
Desfila tal beleza que inebria
Julgara se deveras impossível,
E agora que te vejo sendo crível
Além de simplesmente fantasia.



24341
A Diva que com Diva já se entende
Deixando a própria Safo envergonhada
Adentra sem pudores madrugada
E nela noutra senda já se estende,
No quanto do prazer Musa depende
Se expressando na força derramada
Enquanto no prazer, pré-destinada
A chama poderosa ali se acende.
A lua em plena lua se sacia
E deita amor profano em alegria,
Belezas se esparramam pela praia,
E quando o navegante quis sereia
Incêndio em fogaréu o fogo ateia
E levanta suave sua saia...



24340
Não quero qualquer súplica nem prece,
Apenas esta paz que tanto busco,
O dia sendo amargo; tenso e fusco
Traduz além do sonho que oferece
E quando em falsas cores inda tece
O quão pensara ameno sendo brusco
Nas sombras deste vão insano ofusco
E teimo em caminhar quando escurece.
Não posso sonegar que uma lanterna
Traria uma esperança em noite terna,
Mas quando me recordo dos teus ais,
Encontro sufocado o meu passado,
E sigo sem destino já traçado,
Apenas não te quero, nunca mais.



24339
Pesando sobre mim tais cordilheiras
Aonde quis a sorte que se fosse
Quem tanto procurei, e só me trouxe
Mentiras, falsas pedras lisonjeiras.
E tendo nos meus olhos, verdadeiras
Mensagens de outro tempo bem mais doce
O quanto desejei e assim findou-se
Sombrias madrugadas; não me queiras
E sigas teu caminho não me tragas
Palavras que se fazem quais adagas
E marcam com total profundidade,
Por mais que isto talvez seja mesquinho
Prefiro a solidão neste caminho,
Pois nela reconheço a liberdade.



24338
Olhando este passado, sigo assombrado
Vivendo o que talvez não mais pudesse
E tendo em minhas mãos, o medo e a prece,
O gozo em sofrimento, malfadado,
O quanto fui feliz tendo ao meu lado
O amor que tanto quer quanto oferece
E sei que quem deseja enfim padece
O tempo de sonhar; sinto esgotado,
As minhas mãos agora estão vazias
E quanto mais queria, tu fugias
Urdindo no final, este abandono.
E quando da esperança o sonho clono
Vislumbro ao fim de tudo, o que sou eu
Andante cavaleiro se perdeu...


24337
Passando por teus olhos os romeiros
Que seguem passeatas e cortejos
Trazendo em suas mãos, velhos desejos
Momentos tão comuns e corriqueiros
Por onde se encontraram verdadeiros
Os dias que transformam relampejos
Em fonte de prazer, nos azulejos
Os céus se transbordando, mensageiros
Do tempo em que saber tranqüilidade
Será bem mais comum, e tanto agrade
A quem se dando assim; recebe em troca
O amor que na verdade se provoca
Durante a caminhada pela vida,
Nas bênçãos de um amor, se fez urdida...


24336
Suave melodia se espalhando
Desvios entre mares, ruas, rotas
E quando destes sonhos, bela, brotas
As dores escapando em tosco bando
O tempo se divide desde quando
Notando esta alegria, estas compotas
Abertas alagando além das cotas
Mudando a direção e me levando
Além do que pudera imaginar,
Raiando nos teus olhos, o luar
Bebendo desta intensa claridade
Viver a poesia de saber
Que em ti, querida encontro este prazer
Por mais que uma tristeza ao largo, brade.


24335
A bela e nobre dama demonstrando
Sorrisos tão gentis; plastificados,
Olhares de soslaio perfilados,
Mostrando um ar audaz, porém tão brando
E quando desta dama se notando
Momentos com certeza delicados,
Falando de banquete e convidados
E sobre toda a plebe assim reinando
Beleza eternizada; igual, não vi
Nas tramas e magias, bisturi
Jamais conhecerá tal derrocada,
Porém um rosto assim feito escultura
Trazendo a bela imagem que perdura
Não muda nem sequer numa cagada...



24334
Escondem-se nas sombras rapineiros
Que tanto destruindo deixam caos
Aonde se pudesse por as naus
De dias mais felizes, corriqueiros,
Esgueiram-se deveras nos banheiros
Brincando com miúdos, brochas paus
Sonhando com diversos bacalhaus,
Escusos estes pobres punheteiros.
Pudessem ter a sorte de um orgasmo
Que possa com outrem compartilhar
Teriam outra forma de brincar
A dor que se expressando em face alheia
Enquanto à velha corja ora incendeia
Sozinhos, contraídos num espasmo...


24333
Chagásica presença do passado,
Mostrando quanto a dor se faz imensa
A vida não promete e recompensa
Quem teve esta má sorte, desolado,
O pútrido fantoche descarnado
Matéria sendo outrora firme e densa
Imagem macilenta que convença
Do tempo pelo tempo abandonado;
E penso quão difícil caminhar
Esgoto minhas forças, agonizo
E vejo que se fez neve e granizo
O que pensara outrora ser luar
Caíste; embora eu creia que sem dolo
Com todo o seu bundão sobre o meu colo.


24332
Que faço desta sina aventureira
Destroços acumulo e nada mais,
Aonde imaginara magistrais
Momentos, sorte tola e lisonjeira
De todas na verdade és a primeira
Dos sonhos que proponho um manso cais,
Perder-te, meu amor, não quis jamais
Tu foste do viver rara bandeira
Agora te percebo e sinto ausente
O quanto em desamor tudo desmente,
A sorte se mostrando frágil nau,
Enquanto noutra senda desferias
Sorrisos traiçoeiros, mãos vazias
Preferes perereca ao meu bilau.



24331
Enquanto tu mijavas não sabia
Que a vida continua e mesmo assim,
Quiseste dominar e tudo enfim
Transforma-se em diversa alegoria,
Urina sobre as sortes desafia
Matando em aridez o meu jardim,
Se todo o caminhar diz de onde vim
Penico transbordando em noite fria.
Seduzes com teus lábios, porém cagas
Fazendo uma arruaça no banheiro,
E tendo minhas dívidas já pagas
Não posso mais sentir quão é profunda
A dor e quando dela enfim me inteiro
Entalas na privada a imensa bunda.


24330
Enquanto a solidão, amor engana,
Somente uma expressão da nostalgia
Que a cada anoitecer já se recria
E traz a desventura, tão profana.
Queria ter nas mãos a soberana
Vontade de viver, mas fantasia
Matando o que teimara em alegria
Deixando leve rastro em voz mundana.
As dívidas que trago do passado,
O amor há tanto sinto abandonado
Restando este retrato onde recrio
Imensas galerias onde exponho
O quadro deste encanto que, medonho
Transborda num verão, intenso frio...


24329
Ternura que buscara inutilmente
Durante alguns momentos o holofote
E mesmo de um poeta tolo, o mote
Caminho que a verdade já desmente
Por mais que uma ilusão inda freqüente
Não posso ter o doce, pois o pode
Encontro lacerado; mas anote
A vida muda o rumo de repente.
Quem sabe uma bonança ou mesmo o riso
Após a chuva intensa, este granizo
Tomando o meu quintal, matando o que
Durante muitos anos temperava
A sorte que desfeita em fúria e lava
Procura uma alegria, mas cadê?


24328
Hiberna o coração de quem outrora
Durante muito tempo se iludiu
E quando esta verdade enfim surgiu
Prazer já se esquivando não demora,
Apenas solidão inda decora
Depois que esta esperança assim ruiu
E todo grande amor se dividiu
Sobrando este vazio que ora aflora;
Servir sem ter sequer a recompensa
Do amor que pelo menos já convença
Mostrando ao fim do túnel tênue luz,
Se um dia fui dos sonhos serviçal
Amordaçado vejo o meu final
Ao qual inutilmente tanto opus.


24327
Uma alma soberana, apenas isso
O que desejo agora, paz e luz,
E quando à realidade me conduz
O tempo pelo qual jamais me viço
O mundo se mostrando alagadiço
Nos olhos da esperança vejo o pus
E trago em cada verso que compus
O medo de viver. Vão compromisso.
Esqueço dos meus dias mais felizes
Que embora não deixassem cicatrizes
Ao menos trairiam lenitivo
E quando vejo a sombra do que eu era
Realidade atroz, temível fera
Pregos e espinhos; traz, deles me crivo.


24326
Quem toma os meus sentidos e naufraga
Os sonhos de um estúpido poeta,
Enquanto uma esperança esta alma veta
Apenas solidão ainda afaga
Na boca do vazio, imensa draga
Que trama a morte em vida, fria meta
De quem ao se entregar não se completa
Na mão de quem amara vê a adaga.
E sabe muito bem que nada após
Terá e ao mesmo instante seduzido
Tomada pela insânia da libido
Já não consegue mais soltar a voz,
O quanto na verdade sobrevivo,
Um verme quase morto, inexpressivo.


24325
Não mais tentar a sorte que se opõe
Ao rito feito em luz e liberdade,
Aonde se tentou felicidade
A vida rotineira decompõe
Esboço a reação, nada repõe
Os dias que perdi, o medo invade
E traz dentro de si a tempestade
À qual um caminheiro assim se expõe.
Amar sem ser amado? Nunca mais,
Além do que deveras desejais
Eu vos imploro apenas mansidão,
Mas mesmo que relute chego a vós
Rainha, deusa e diva meu algoz
Traduzes as borrascas que virão...


24324
Percebo ser inútil tal tesouro
Que há tanto se escondera em outras terras
Mostrando a realidade aonde encerras
O que pensara ser mais duradouro,
E quando no vazio assim me douro
Deitando uma esperança, logo cerras
As portas que deveras tu emperras
Matando o meu amor no nascedouro.
Perceba quão vazio teu futuro
E nele o tanto quanto inda procuro
Perdura-se no nada que tu és,
Medonha caricata inda se ri
E vejo retratada assim em ti
A marca dolorida das galés.



24323
Destroços de um amor, meras ruínas
O que pensara feito em firmes bases
Do quanto da verdade tu defases
Decreta o variável de vãs sinas.
Porquanto tanto domas e fascinas
E mostras no caminho várias fases
Momentos que julgara mais audazes
Mordazes, em mentiras cristalinas.
O quanto me entreguei e não sabia
Da falsa e tormentosa alegoria
Trazendo ao sonhador, diversas minas
Das quais ao me fartar, tanto inebrio,
E quando me percebo, estou vazio
Da noite constelar, moldas neblinas
E serpe desvairada, insana e má,
Sentir tua presença enquanto já
Em vários rumos desatinas.


24322
Mesmo que a tanta dor eu já me oponha
Por mais que inda relute nada faço
E quanto mais reajo,um ímã e aço
Fulguras carismática e medonha.
E quando no passado vi risonha
A bela que se dando num abraço
Destino traiçoeiro dita o traço
Do canto original, alma envergonha.
Audazes madrugadas, noites quentes,
Agora ao perceber que nada sentes
A alma se transtorna e vai tristonha,
Mas quando em solidão, tola esperança
Quem tanto se feriu, à luz se lança,
E incauto navegante, ainda sonha


24321
Enquanto me conquistas, assassinas
A quem te desejara tanto e traz
Além do que em prazer te satisfaz
E extrai de cada ser, anseios, sinas.
As horas que eu tivera, cristalinas
Bebendo mansamente o riso e a paz
Agora esta presença tão mordaz
Transforma em dores fartas e ladinas.
Mesquinhos os delírios de quem ama
E quando se apagando a pira, a chama
Deixando imagem pálida e tristonha,
E tens no teu olhar tanto poder
Por mais que uma alma lute, eu posso ver
Apenas esta face má, bisonha.



24320
Antigos versos, velhos romanceiros
Falando de um desejo que acalento
O quanto o mundo torna violento
Os dias; medos vivos, corriqueiros,
Os verbos no passado verdadeiros
Mostrando o que deveras inda tento,
E quando me percebo desatento
Das serpes adentrando os seus viveiros.
Argutas ilusões inda carrego,
Mas quando me percebo tolo e cego
Dos pregos e das travas, trevas dito,
E sendo assim o tempo em que vivemos,
Além do que pensara já perdemos,
Perdendo-se no nada, inútil grito.



24319
Sentindo-me perdido em vã procura
Deixando o coração à revelia
E quando esta emoção já fantasia
A noite se aproxima sempre escura,
O tanto que desejo e não se cura
Apenas o vazio se recria
E nele se desnuda esta agonia
Que leva, paulatina a tal loucura.
Não posso me calar perante o nada
Que ronda a minha vida e não me deixa
Soltando aos Céus, a voz que é feita em queixa
Navego em turbilhões procela tanta
E quando ao fim da tarde anunciada
Sentindo que virás minha alma canta..,



24318
Lampejos de uma vida, riso e dor
Descreves com total clarividência
O quanto não se faz em coincidência
O tempo que deveras muda a cor
E sendo uma intempérie, este louvor
Tomando já de assalto a consciência
Desvenda-se com toda paciência
Bendito e assustador, divino amor.
Aos seus caminhos luzes, trevas, medo,
Se o todo que deseja enfim concedo
Aprofundando então este contraste
Da sombra com a fonte que irradia
Nas mãos trazendo o dom da poesia,
No quanto mais se dá, mais se desgaste.


24317
Tu lanças dos teus olhos brilhos fartos
E beijo cada raio desta luz
Que enquanto me tocando reproduz
Momentos divinais, dosséis e quartos,
A vida se refaz em vários partos
E a cada novo tempo nos conduz
Mudando vez em quando o foco, e nus
Percebemos decerto nossos pratos.
Assim não poderia ter deserto
O quanto se pretende ver por perto
Desejos entre formas e maçãs.
Assídua maravilha dor e riso,
O lucro predispõe ao prejuízo
Assim em sol e nuvens,as manhãs.



24316
Dantescas emoções, dores constantes
À sombra dos ciprestes do passado
Adentro o meu caminho, e vejo o prado
Por onde desvendara por instantes
Os dias que pensara radiantes
Morrendo em turbulência, derrotado
O barco na tempesta derrocado,
Sorrisos de ironia, provocantes
Desprendes com total sarcasmo e vês
O todo se mostrando em altivez
Deixando no passado a luz que outrora
Já fora a companheira preferida
E agora a cada dia mais se acida
Enquanto a dor renasce e revigora.


24315
Na vida como um Sátiro somente
Que há tanto se perdeu, tosco bufão
Encontra no final a solidão,
Colhendo o que plantara vil semente
O quanto a fantasia já nos mente
Negando as desventuras que virão
Permitem ao poeta a decisão
Que julgo necessária e tão premente
De ter em suas mãos além do vago
A plena realidade em que se insere,
E quando a vida aos poços degenere
Que tenha pelo menos este afago
Da glória do sorriso frente espelho,
Narcísico caminho, o que aconselho.


24314
Há tanto que não sei o teu carinho
Distante de teus olhos, sigo só
E quando retornar ao velho pó
Decerto saberei bem o caminho,
E quando da saudade me avizinho,
De mim mesmo, querida, sinto dó,
O quanto desejei, a vida, um mó
Destroça e nada deixa, sequer ninho.
Adeus ou até mais, o quanto fomos
Apenas as lembranças destes gomos
Permitem que se veja apodrecida
A fruta pela qual fui tão feliz
E agora a realidade já desdiz
Resumindo afinal a própria vida.



24313
A vida num enorme picadeiro
Transcorre cada dia sem que pense
Espetacular jogo circense
Que muda a cada instante, o derradeiro?
Além do trivial e corriqueiro
Não tendo quem deveras convence
Do quanto poderia se o non sense
Trouxesse um ar ao menos verdadeiro.
Bailando sobre os astros, trapezista
Funâmbulo traduz a própria vida
Jogada pelos cantos e esquecida
Equilibrando e tendo quem assista
A sorte jamais muda rumo e idéia
Agradecendo em morte à vã platéia.



24312
Um coração audaz, ora senil
Mesquinharias dita enquanto vê
O mundo que procura, mas cadê?
Se tudo o que sonhara já partiu,
Deixando tão somente a marca vil
Do quase ser feliz e sem por que
Deveras do passado em nada crê
Semente em solo seco, não se abriu.
Arcando com meus erros, nada mais
Do que pagar as contas que inda devo,
Não quero e não seria enfim longevo
Ao menos tive dias magistrais,
E agora ao ver que vida já se esgota
Decerto eu agradeço a minha cota...



24311
Floresce a mocidade em teu sorriso,
Mas sei que depois disso uma aridez
Tomando este caminho em que se fez
Um dia mais alegre e mais conciso.
Se na verdade tenho o preciso
Não posso me perder, insensatez,
Mas sei que a qualquer dia é minha vez
De ver se existe ou não tal Paraíso.
Amortalhando esta alma que se engelha
A porta se fechando à pele velha
Uma alma se perdendo; atrocidade
Mergulho neste espelho e vejo bem
Que a morte inebriante cedo vem
Aonde florescera a mocidade.



24310
A morte se propondo num noivado
Deitando seus prazeres, riso e pranto,
E quanto mais me entrego ao seu encanto
O rio em seu trajeto, desviado,
Permite que se veja retratado
O manso desafio onde levanto
O que pensara outrora noutro tanto
Deixado como um barco, abandonado.
Existe ou não suporte após tal ida?
A que se resumira a minha vida
Se tudo mais se foi, somente aqui
Restando este cadáver quase inerte,
Se o todo num vazio se converte
Uma esperança aquém, eu já perdi.



24309
Aos poucos me entregando à podridão
Da qual não poderia vir a paz
Apenas esperança como antraz
Destrói o que restara da ilusão.
E sendo sempre assim somente o não
O quanto se buscara o nada traz
E vejo este retrato ora mordaz
E nele a minha vida ao rés do chão;
Ensimesmado tanto decifrar
Sinais que percebera no passado
Pensando ser imagem mais vulgar
E agora percebendo decomposto
O tanto que julgara encarcerado
Pagando a cada dia um alto imposto.



24308
Envolto na neblina à madrugada
Encontro entre estas sombras o passado
Deitando mansamente do meu lado,
Imagem pelo tempo degradada
E nela vejo uma alma descarnada
E o gozo de um prazer abandonado
Aonde quis o amor bem albergado
A rota veste assim esfarrapada.
E quando poderia ter um gozo
Cadáver do que fui tão andrajoso
Exposto em esquelética visão
Demonstrando afinal a verdadeira
Face de uma vida corriqueira
Que aos poucos se entregando à podridão.



24307
Estéreis os caminhos que buscais
A voz que em vós se torna mais potente
Por mais que uma ilusão ainda alente
Encontro por resposta o nunca mais.
Volvendo ao quanto fui e sei jamais
Seria enquanto a sorte prepotente
Mudando a minha estrada de repente
Impede o vislumbrar; longínquo cais.
O sonho que pensara; alvenaria,
Mas quando sem reboco ele se cria
Uma estrutura frágil se percebe
Ao vento do viver, fúria constante
E tudo desabando neste instante
Deixando a solidão tomando a sebe...



24306
Numa expressão divina em paz e glória,
Pudesse ter além deste vazio
A noite se aproxima merencória
E toda esta esperança desafio
Cortante qual navalha, gume e fio
O medo; ainda vivo na memória
Minha alma jogo aos pés, então; devore-a
Matando o que pudera haver de estio.
Os sonhos mergulhando dos umbrais,
Percebo mais distante todo cais
Sentindo que virá ao fim naufrágio,
E a vida que julgara bem mais mansa
Enquanto houvesse luz ou esperança
Cobrando com terrível, imenso ágio.



24305
Imaginar um tempo aonde a vida
Seja mais suave e nos permita
Acreditar na sorte que em desdita
Escreve-se na luta ora perdida,
E quando a realidade nos acida,
E nossa iniqüidade assim limita
A caminhada tenra; uma alma fita
Horizonte sanguíneo e enfim duvida
Do quão se poderia ser melhor,
Um mundo onde esperança sendo mor
Traria ao menos brilho neste céu
Grisalhos os olhares que já lanço
Tempesta onde pensara algum remanso




24304
Esperas e tocaias da existência
E nada valerá nem mesmo o fim,
E quando não houver mais nem jardim
Terei as complacências da clemência?
Por tanto que me fiz em prepotência
Ao esgotar o todo, nada enfim.
Voltando pro vazio de onde vim,
Restando do que fui fluorescência.
Um fatual momento em gases feito,
Deveras a ascensão que ainda aceito
A de um já decomposto corpo e nada
Além do vão instante em desengano
Aonde a vida fora desfrutada
O fruto que inda resta, este metano...



24303
Às quantas existindo em bioquímica
Verdades em carbono e nitrogênio
A vida na esperança, um vão convênio
A sorte não se trama assim, alquímica.
Apenas continuo em torpe mímica
Até chegar meu fim, doença, arsênio?
A poesia sendo um oxigênio
Traduz a realidade quase símica.
E neste traduzir já se percebe
A pedregosa e turva, amarga sebe
Vencida muitas vezes com vanglória,
Adentrando o vazio, tua herança
A vida neste espaço que se lança
Deturpa ou mesmo nega a tua história.



24302
Espalho meus gametas e refaço
A velha ladainha, vida e morte
Tendo a teosofia que conforte,
Estendo à existência então meu braço
Enquanto a frialdade morta do aço
Deveras se demonstra noutra sorte,
A eternidade dele é o meu norte,
Da minha história aqui, só deixo um traço
Soubesse quão diversa a natureza
Dos seres e matérias, por defesa
Talvez inda pudesse crer tão meus
Aquilo que em verdade não pertence
Restando a tal fantoche muriaense
A inevitável crença que há um Deus.

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