sábado, 16 de outubro de 2010

23242 até 23613




23310
A mosca é muito chata, na verdade
Pousando no cocô e na comida
Tem gente neste mundo distraída
Que engole logo a mosca com vontade.
Porém a mosca tem outra maldade
O fato de ser muito da enxerida
Invés de dar um beijo, uma lambida
Nojenta a danadinha é realidade.
Porém eu descobri suas vantagens,
Carrego uma comigo, isto é constante
Guardada escondidinha no meu bolso,
Durante os meus passeios e viagens
Num chique e bem careiro restaurante
Na sopa é reclamar que dá reembolso.



23309
O fato é que de fato o flato vem
E quando vem amigo é um sufoco
Quem é culpado? Nunca vi ninguém
Senão sai pontapé, pisada e soco.
No elevador então, ali também,
Tem gente segurando o seu brioco
Terrível flatulência do meu bem
Se cura só se alguém coloca um toco.
Cutuca com taquara este culpado
Mas não cutuque nunca o coco errado
Cuoco faz tremenda confusão.
Chegando na feirinha ou no mercado,
Porém jamais eu vi um tão furado
Do que o do fundador do blocozão...



23308
No papo deste pato já não caio
O papo com certeza está furado
Deu briga, do poleiro logo saio,
Não quero mais ficar nem depenado.
Quem fala sem pensar é papagaio
E ainda se metendo em trem errado,
Galinha vai fingindo algum desmaio
O troço está ficando complicado.
Tem gato se fazendo de bichano,
Bichano se fazendo de gatinha
É melhor ir baixando logo o pano
Senão vai todo mundo pro buraco
Da Angola veio logo esta galinha
Dizendo sem parar : eu já tô fraco...


23307
A foca mal sabia da fofoca
Que foca já não gosta disto não
Confundem a jibóia com minhoca
Na certa isto vai dar é confusão.
O rio pá no mar é pororoca
Lagoa de mineiro é um marzão
Se sobrou muita coisa, amigo estoca
Quem gosta deste pinto é gavião.
Assim a bicharada se diverte
Lagoa tem o sapo e a perereca
Na zebra é bem difícil que se acerte
Menino tem que ter educação
O dedo no nariz tira meleca
Fazendo de bolinha até bolão...



23306
A tantos a miséria ronda e ataca
O quadro se aproxima do final,
E vejo em teu olhar o triunfal
Delírio de quem usa a fina estaca
Qual fora algum corsário que se atraca
No cais aonde aguardo o meu fatal
Momento que julgara factual,
Mas vejo em tuas mãos o gozo e a faca.
Não pude sonegar a realidade
O amor não sendo vivo na verdade
Altivas emoções nos causa; e a dor
Que tantas vezes vi na tua face
Agora após o frio deste impasse
Mostrando o seu jogral revelador...


23305
Nos olhos o reflexo da ambição
O gozo dos prazeres inauditos
Os olhos entre risos, riscos, ritos
No fundo o que nos resta é sempre o não.
Vencer a cada dia um turbilhão,
Enfrento estes momentos que, malditos
Deixando os pensamentos mais aflitos
Diverso do que molde ao rés do chão.
Descrevo-te feroz insaciável,
O gesto de perdão inalcançável
Defesas? Não consigo acreditar.
Usando de artimanhas e armadilhas
Dourando madrugadas, ermos trilhas
Expondo-se aos desejos do luar...


23304
A loba que devora seus filhotes
Nas garras sanguinárias vejo o fim,
Depois como um banquete pros coiotes
O pouco que restou então de mim.
As cobras entre as matas, firmes botes
Matando o que pensara ter enfim,
A faca que se entranha em tantas glotes
A morte me rondando, é sempre assim.
Esparsas alegrias, raros risos,
A vida acumulando prejuízos
Não deixa que eu consiga respirar.
O beijo traiçoeiro de quem quero,
Sorriso tão sarcástico quão fero
A morte se aproxima devagar...



23303
A fronte se levanta mais feroz,
Faminta a fera espreita na tocaia,
Bem antes do que o sonho já me traia
Escuto ao longe os ecos desta voz.
Queria ter ao menos para nós
Um dia passeando em plena praia
Olhando o sol que aos poucos se desmaia
Deixando no passado a dor atroz.
Não deixa que eu consiga ter tal sonho,
Aos poucos sei que enfim me decomponho
E nada sobrará; mas morto embora
Terás ainda em ti vaga lembrança
No vento que tão manso ora te alcança
Na rosa que em canteiros bela, aflora...



23302
Por vezes circunspecto vejo a vida
Detrás destes meus óculos- miopia
Assim vou deformando a fantasia
Acaso não teria outra saída
Que um dia demonstrasse já perdida
A glória que talvez trague alegria
De uma alma que deveras se extasia
Mesmo que outra vertente se decida.
Apenas o meu canto se disfarça
Deixando para trás o que era farsa
São falsas ilusões, cruel fadário.
E o verso mais audaz; inda consigo
Fugindo do que fora desabrigo
Guardado nas gavetas deste armário...



23301
Inquieto; eu busco o tempo de viver
Ainda restariam tais acertos
Desperto para o risco do prazer
Nem mesmo se pensasse em teus concertos
Arcando com meus erros, posso ver
Depois de tanto tempo se os consertos
Trouxeram o que tinham por trazer
Após os dias trágicos e apertos
.
Não vou fazer dos versos apanágio
Do quanto já sofri, vero naufrágio
Somando os meus vazios, resta o quê?
Macabras ilusões são minhas marcas
E quando os meus sonetos tu abarcas
Procuras minhas sendas, mas cadê?



23300
Pavor se mostra inteiro no meu peito
Deveras a verdade não consola,
O quanto desejara e insatisfeito,
A porta se fechando, o amor degola.
Não pude perceber sequer direito
Aonde me perdi, só sei que a mola
Ejeta esta esperança; antigo pleito
Enquanto a fantasia já se isola,
Pudera ter nas mãos esta resposta,
A mesa com certeza estando posta
Não posso me negar à refeição
Infaustos são comuns, disto bem sei,
Mas quando isto se torna quase lei,
Aonde em que sentido há direção?


23299
Revejo a tua imagem refletida
Nos óculos de quem tanto queria
Assim se desenvolve a minha vida
Numa expressão diversa da alegria.
O quanto se desenha já perdida
Não deixo me levar pela utopia,
E quando a velha porta está rompida
O tempo com certeza sempre esfria.
Melhor pudesse ter outras imagens
Que ao menos retorcidas não seriam,
Assim os meus tormentos cessariam,
Dourando com magia estas paisagens,
No olhar de quem amei, o teu reflexo,
Opaco, indefinido e tão sem nexo...



23298
Pudesse preservar a noite mansa
Entre diversas luzes constelares
Marcantes ilusões o peito alcança
Fazendo da alegria seus altares.
O vento prenuncia esta mudança
Então soltando cantos pelos ares
Enquanto ainda resta uma esperança
Mantenho bem regado os meus pomares.
Primores encontrando nestes brilhos
De raras alvoradas multicores,
Seguindo com carinho colho flores,
Deixando os estilhaços, traço trilhos
E atalhos onde possa caminhar
Mirando o céu brilhante e constelar...



23297
Afasto-me dos sonhos do passado
Entrego-me aos desejos desta fera
Aonde desejara primavera
O inverno se demonstra assim gelado.
E o quadro não mudando, preservado
Apenas nos meus olhos esta espera
Que tanto me alimenta e desespera
O vento noutro rumo, desgraçado.
Pudesse pelo menos crer possível
Um dia em que viver fosse melhor,
Mas como se este sonho sendo incrível
Transborda em pesadelos infernais
O quanto deste mundo sei de cor
Impede que eu vislumbre ao longe, o cais...


23296
Minha alma se infundindo de esperança
Expressa num sorriso a falsa imagem
Diversa da verdade, esta miragem
Em meio às tempestades vem e avança.
Trazendo finalmente a temperança
Que tanto necessito. Esta paisagem
Moldada do real, estando à margem
Da dor a qual meu sonho enfim me lança;
Cercado de ilusões e tantas farsas
Os dias entre medos logo esgarças
E passas como quem nada sofreu.
Amenas emoções? Não me contento,
Estando aos teus caminhos sempre atento,
Enfrento a tempestade em treva e breu...



23295
O sonho desfilando em seus primores
Momentos de alegria e de tristeza,
Por mais que se misturem tantas cores
Navego contra a forte correnteza,
E as nuvens sonegando tais albores
Impedem ao olhar tanta beleza,
Minha alma sem ter nada se diz presa
Enfrenta espinhos fartos, mata flores.
Seria do poeta esta verdade?
No quarto de dormir o medo invade
E tomando de assalto o meu descanso,
Insone, madrugadas sempre em claro,
O quanto desejei e não declaro
Demonstra o que jamais, querida, alcanço...



23294
Falando deste amor que sei divino
Entôo com mais vontade melodias
Que falem de ternuras e alegrias
Deixando o dia calmo e cristalino.
Vivendo esta emoção eu me alucino
E verto pelos poros fantasias,
Mas quando estes momentos; esvazias
O sol que outrora estava pleno e a pino
Encoberto de nuvens prenuncia
Imensa tempestade e ventania
Deixando o entardecer bem mais dorido.
Esqueço esta ventura e volto ao medo,
Sequer algum sorriso; inda concedo
E o tempo de viver se esvai, perdido...


23293
Quisera em minha dor amigos, sócios
Nefastas companhias, risos fartos,
Aonde no passado havia partos
Agora simplesmente loucos ócios.
Ocasos que relato em cada verso
Aonde se dispersa a fantasia,
Merecendo este fim, alma vadia
Num cálice em venenos vou imerso.
Cercando as minhas tramas com mentiras
Envolvo-me deveras com escândalos
Em meio aos companheiros, toscos vândalos
O vento em podridão que agora aspiras
Expressa o que talvez já não querias,
Marcando com angústias horas, dias...



23292
Excêntricos caminhos resplandecem
Nos antros, nos esgotos, nos porões
Aonde se pensaram soluções
Os mortos com denodo comparecem.
E quando as vozes torpes obedecem
Esquecem as prováveis ilusões
Matando os ressurretos, podridões
Durante a tempestade cores tecem.
E o vago coração de quem se deu,
Agora sem descanso segue ateu
Vasculha cada canto deste espaço.
E meço com meus olhos o vazio,
Aonde depois disso, eu me extasio
E o pouco que me resta ali eu traço...


23291
Quisera retornar ao mesmo vão
Descalços pés cansados não teria
O verso que traduza uma alegria
Regressa desde sempre a tal senão.
Guardado em versos frágeis num porão
Nefasta maravilha florescia
Enquanto ao vento beijo a mão vazia
Eu sinto aproximar-se a solidão.
Erguendo os meus olhares no horizonte,
Espero que este sol inda desponte
E desaponte a dor, fria quimera,
Serenando minha alma tão frugal,
O fardo que coubesse no bornal,
Traria um bom final para esta espera...


23290
Tolhendo o meu caminho os espinheiros
Adentro estas veredas desconexas
Seguindo as velhas perdas nos ribeiros
As horas são deveras mais complexas;
E os féretros decerto derradeiros
As lágrimas carpidas vão anexas
E custam ao que foi; parcos dinheiros.
E enquanto teu futuro nisto indexas
Além do que pensavam companheiros
Assim a minha morte tanto alenta
Ao mesmo tempo em paz e violenta
Expressa um gozo fútil e venal.
Após a cerimônia este banquete,
A vida preparando algum falsete
Tramando qual festança o funeral...


23289
Se um dia quis um verso que agradasse
Agora não me importa o que desejas,
As dores nos meus dias são sobejas
E a cada novo tempo, o mesmo impasse.
Se o verso te seduz ou não; que sejas
Mais feliz neste mundo aonde trace
A sorte que pretendes noutra face
Diversa da que mostro e não prevejas.
Não tento disfarçar as dores tantas
Em frases tão sutis por onde cantas
Os ritos são diversos, dor e glória.
Aquém do teu anseio, eu me desnudo,
Prefiro na verdade ficar mudo
A ter que me embrenhar em outra história.



23288
Só resta a poesia, a companheira
De tantas caminhadas vida afora.
E enquanto a fantasia não se aflora
A vida bebe a senda derradeira.
Pudesse ter a paz por mensageira,
Mas sei que ela em verdade se demora,
Portanto sem descanso, sem ter hora,
A noite em vendavais, se mostra inteira.
Mergulho no passado e tento crer
Que ainda possa ter algum prazer,
Mesquinharias? Falsas ilusões...
Os dias se repetem tão iguais,
Os versos que ora faço são banais
E falam destas pérfidas paixões...


23287
A sorte, tantas vezes belicosa
Medonhas emoções afloram, vencem
E enquanto os versos tolos não convencem
Jardim perdendo flores, mata a rosa.
Perpetuando a dor que se produz
Na vaga sensação de um gozo ameno,
O quanto te desejo concateno
E o medo noutro medo reproduz.
Assim caminho às voltas com engodos,
Estranhamente passo pelas ruas
Tu nem reparas; cega, continuas
E eu volto aos meus antigos, torpes lodos.
E faço da esperança um lamaçal,
Quem dera algum sorriso, triunfal...



23286
Pudesse; solitário crer na luz
Que embora sendo dia já se esconde;
Nublando o coração nem sei por onde
Exista uma esperança; ao fim conduz
O verso que pensara solução
Angustiadamente a vida passa,
E o tempo sem remédio, uma fumaça
Dizendo sempre o mesmo tédio e o não.
Arrimos desabando, meus castelos,
As sendas mais floridas; nem mais vejo
E quanto mais me entrego ao vão desejo
A vida sonegando os meus rastelos.
Expresso em cada verso o medo e o frio,
E o peito sendo exposto, eu esvazio.



23285
Em meio aos crótons planto estas dracenas
E as cores se misturam no canteiro,
Ao longe percebendo o doce cheiro
Encontro entre as roseiras, as verbenas.
E vendo novamente as raras cenas
Do tempo alvissareiro já me inteiro
E mostro quanto é belo e verdadeiro
O amor que; sei, desejas, quando acenas.
Imersas entre avencas, samambaias,
Orquídeas multicores; logo espraias
E deitas teus anseios junto aos meus.
Expressas com ternura esta vontade
E bebo de teu gozo a claridade,
Deixando na saudade um ledo adeus...



23284
Perfume tão suave em teus cabelos,
A maciez convida para o colo,
Deitando esta alegria chego ao solo
Envolto pelo amor e seus novelos.
Meus dias na alegria de revê-los
Os medos e temores; louco, assolo,
Não vendo mais rancor, terror ou dolo,
Percebo a maravilha de contê-los.
Glorificante luz que tu me emanas
No sonho que perdura por semanas
As horas do teu lado são sagradas.
E quero a cada instante mais e mais,
Desejos entre noites rituais
Dourando de prazeres, madrugadas...


23283
No olhar angustiado de quem tanto
Se fez um sonhador e não sabia
Que a sorte desnudando a fantasia
Destrói a cada passo o seu encanto.
E mesmo quando creio e livre canto
O ocaso se aproxima e traga o dia,
Apenas o que resta, a melodia
Moldando a cada nota um vão espanto.
Mergulho neste mar que não tem fim,
Eterno precipício dos ignaros,
Vivendo nos mais negros desamparos
A sorte se afastando assim de mim,
Quem sabe noutra vida nova chance,
A paz que me redima, enfim, alcance...



23282
Numa epopéia um mundo mais heróico
Aonde poderia ter a glória
Mudando o rumo podre desta história
Pudesse ser ao menos mais estóico.
Nos pórticos da sorte me perdi,
Deixando para trás o que talvez
Um dia em esperança inda se fez,
Morrendo sem chegar enfim aqui.
Navego entre procelas, vendavais.
E sei que quanto mais luto, padeço,
A cada novo passo outro tropeço
Os dias são deveras tão normais.
Apenas ilusões inda cultivo,
Por elas tão somente eu sobrevivo...



23281
Ao Pai eu agradeço o raro dom
De transformar em músicas palavras,
Usando com fineza raras lavras
Colhendo maravilhas neste tom.
Alvissareiro mundo que penetro
Dos versos traço os sons da liberdade,
E bebo como um louco a claridade
Da poesia, eu sei qual o seu cetro.
E quando me permito desfilar
Estrelas entre trevas, trago a luz,
E ao templo, a poesia me conduz,
Pegando este caminho que é o luar.
O amor num raro manto em que se fez,
Tradicional soneto, ou mesmo inglês...



23280
Banquete para poucos convidados
Apenas escolhidos entre tantos
Aqueles pelos deuses já tocados
Vislumbro a raridade nos encantos.
Os medos e os anseios revelados
Também raras venturas nestes cantos,
Em versos com certeza bem talhados,
Nas mãos destes poetas, risos, prantos.
Assim se faz do verso uma expressão
Aonde se permite a fantasia
E a viva realidade dita então,
Da forma mais exata, eu te prometo,
Enquanto a mente teima e assim se cria
Nas mãos de algum ourives, o soneto...



23279
Obedecendo às regras, normas, leis
Escrevo este soneto em simples versos,
Vagando no teu corpo os universos
Bebendo em tua pele doces greis.
Erguendo um belo brinde em raros vinhos,
Anseio teus caminhos junto aos meus,
Jamais suportaria algum adeus,
Meus dias; não pretendo mais sozinhos.
As armas que encontrei para as batalhas
E lutas pelos sonhos que traçamos,
Dizendo que em verdade nos amamos,
Enquanto as dores tolas; já retalhas.
Falando com ternura da paixão
Que envolve-nos, apreendo o coração...



23278
Padeço deste mal: desilusão
Que tanto me maltrata e traz sossego
Se às vezes em teus sonhos eu me apego
O medo pode ser a solução.
Vencido pelos ermos da paixão
Expresso solidão enquanto entrego
O verso mais audaz e o bem que prego
Emprego nele as honras da emoção.
Vestígios do passado inda presentes
O quanto que tu mentes e inda sentes
Recentes caminhares e querências
Demonstram quão cruel realidade
E vendo tão distante a claridade
As vidas vão sorvendo tais ausências...



23277
Guardado na gaveta este retrato
Descreve muito bem o que vivemos,
Por onde e em que mundo; mostraremos
A sorte casual e raro fato.
Na imensa solidão eu me retrato
E teimo com veleiros, mares, remos
No fundo com certeza nós sabemos
Amenos os destinos de um regato.
Porém a corredeira não se espera
E mostra quanto a vida se faz fera
E rola o pensamento entre cascalhos.
Pudesse pelo menos ter certeza
Vencendo cada queda ou correnteza
Usando para tal; rotas e atalhos...


23276
Perdoe pelos erros cometidos
Não posso disfarçar a dor tamanha
Que enquanto a noite chega; da montanha
Os raios do luar tão prometidos
Espalham claridade e os meus sentidos
Tocados pela luz que assim se assanha
Mudando num momento minha sanha
Deixando os meus tormentos esquecidos.
Navego então por mar em calmaria,
Na noturna ventura se anuncia
Beleza que bem sei somente farsa.
Ao ver tal claridade, a vida espanta
E a dor então calada se agiganta
E em risos de ironia se disfarça...


23275
Apego-me aos fantasmas do que fomos,
E teimo nesta luta que bem sei
Não tendo nem sequer regras ou lei
Demonstra no momento o que hoje somos.
Deveras aprendendo a cada tombo,
Revejo os meus defeitos e mentiras,
Até que expondo o peito em finas tiras
Vergasta lava em sangue, na alma um rombo.
E o bêbado persegue estas pegadas
Deixadas nos caminhos, toscos rastros,
A vida sonegando então meus lastros,
A sorte há tanto tempo em vãs guinadas
Percorre o mesmo não por onde vim,
Matando o que restara do jardim...



23274
Menino que corria entre mangueiras
Nas sombras do arvoredo, no quintal,
Agora a vida mostra o desigual
Caminho entre loucuras e bandeiras.
As horas que virão; as derradeiras
E o tempo de viver sendo banal,
Moldando o meu sorriso em ritual
Palavras de consolo, corriqueiras.
A morte não me assusta até me atrai,
E o tempo pelas mãos logo se esvai
Não deixo de pensar nesta criança
Correndo pela sala, pelo quarto,
O velho já cansado e mesmo farto,
Ainda traz bem viva esta lembrança...



23273
Qual fora uma criança e seu brinquedo
Pensara ter a sorte em minhas mãos,
O amor me abandonando desde cedo,
Os dias transcorrendo inertes, vãos.
A morte desenhada sem segredo
Acalentando, o sonho dos cristãos
Porém ainda luto e não concedo
Espalho por veredas falsos grãos
E espero uma colheita que não veio,
Aos olhos tão somente este receio
Do nada ressurgido após o nada.
A luz que se propunha se apagando,
O incêndio se tornando bem mais brando
A infância pela vida destroçada...


23272
Se ainda por um sonho tenho zelo
Não posso garantir que ele me encante.
Na súbita impressão de um mero instante
A vida me tratando com desvelo.
Queria tantas vezes poder crê-lo
E ter em minhas mãos a luz brilhante;
Porém não adianta um só rompante,
A morte me envolvendo em seu novelo.
Cabendo ao sonhador somente versos
Que mesmo tão sombrios e diversos
Ainda trazem claro algum alento.
Nas tramas deste enredo a me envolver,
Proximidade enorme; e posso ver
O caos aonde louco, me atormento...


23271
Sonego o que inda resta dentro em mim
Bebendo as maravilhas que não creio.
Seria muito bom, mas o receio
Desdiz este caminho de onde vim.
Percorro a solidão e vejo enfim
O peso com que a sorte trama o veio
Nefastos os desejos; meu anseio
Matando esta alegria, sendo assim
Espúrios os momentos que inda tenho
Cerrando com angústia logo o cenho,
As senhas necessárias esquecidas.
Apreços; não conheço e nem recebo
Das glebas e das sendas que concebo
As vias espalhadas e perdidas...


23270
Houvera um tempo ainda mais feliz
Em meio aos meus enganos que desfilo
Nos versos em que outrora tão tranqüilo
Apenas revivendo o amor que quis.
Agora a própria vida me desdiz
E o vento vai mudando todo o estilo,
Não tendo mais sequer do amor aquilo
Que um dia desejara, mas não fiz
Espero pela volta da esperança,
Ardentes ilusões e fantasias.
As noites que percorro tão vazias
O sonho ao passado já se lança
Mergulho nas entranhas do futuro
E vejo tenebroso mar escuro...


23269
A música distante ainda ecoa
Nos pântanos em que a alma se cultua
A noite sente ausência desta lua
E vaga sem destino, segue à toa.
Pensara numa sorte ao menos, boa
E o tempo se esvazia, alma vai nua
Enquanto a realidade em vão flutua
Naufraga no teu rio, esta canoa.
Bebendo cada gota do rocio
No gozo incontestável me vicio
Amenas emoções, vestes completas.
Mas quando a realidade se desnuda
A vida se demonstra assaz miúda
E a morte de amarguras tu repletas...


23268
Espero quem demonstre uma vontade
De ter um amanhecendo um belo sol,
Mergulho no vazio do arrebol.
E beijo sem certeza a realidade.
Quem dera se tivesse liberdade
Roubando dos teus olhos o farol,
Porém qual fora um simples caracol,
Escondo-me ao ver a claridade.
No quarto este abandono se repete
E quanto mais ausente mais confete
A festa nunca pára nem se adia.
Rondando o velho leito de um demente
O sonho sem sentido se pressente
E mata o que pudera fantasia...


23267
Bebendo destes féis que tu me deste
Em finas taças feitas de cristal,
O medo se tornando colossal,
Negando cada porto em que estiveste.
Aonde a sorte doma o sonho agreste
O verso que desenho tão banal,
Quisera algum sorriso, mas fatal,
O mundo não suporta quem conteste.
Rastreio estas pegadas e não vejo
Sequer alguma sombra de um desejo
Que o tempo já deixou envilecer.
E assim não tendo aporte nem suporte
Aguardo quem me traga um novo norte
Apenas esperando pra morrer...


23266
A minha poesia estando morta
Há tanto que não posso disfarçar
A velha liberdade a se alcançar
Esconde-se detrás de qualquer porta;
Minha alma a quem saudade não importa
Teimando com os raios do luar
Deixando-se entre tantas; carregar
Em meio aos vendavais já não comporta
O tempo de viver que se transmuda
Nem busca no presente alguma ajuda
Esgota-se em si mesma e morre só.
Aonde poderia haver um brilho
O peito de um estúpido andarilho
Prefere o velho trilho, exposto ao pó...


23265
Qual fora um sonhador que em triste empenho
Vasculha cada canto dos seus dias
Além do que talvez fossem vazias
As noites em tão frágil desempenho.
Por vezes eu prossigo e me contenho
Embora reações outras; querias,
Enquanto os meus enganos; descobrias
Mostrando o descaminho de onde venho
Desnudo não concebo solução,
Retorno desde já, vil solidão
E faço do meu verso um hino à vida
E quando me encontrares, por favor,
Não tente desvendar se existe amor
Pois ilusão há tanto está perdida...


23264
Mal pude crer que a sorte inda teria
Quem tantas vezes viu-se em maus lençóis
A vida sonegando luz e sóis
Eterna madrugada, sempre fria.
Bebendo sem descanso a ventania
Ausente em noite escura teus faróis,
Procuro algum remanso, e os arrebóis
Sonegam qualquer cor ou fantasia
Melífera esperança não anseio
O mundo se transforma e sem receio
No abismo que se forma sob os pés
Eu ato tais correntes, na masmorra
Sem ter alma sequer que me socorra
Eterna sensação, duras galés...


23263
Encontro nos teus braços quem amei
E vejo que esta vida não valeu
Sequer esta ilusão aconteceu
O mundo noutro mundo; eu mergulhei
E agora que deveras te encontrei
Percebo que o vazio que sou eu
Aos poucos entre os nadas se escondeu
Vagando sem destino grei em grei.
Arcando com engodos é comum
Ao fim de cada história ser nenhum
Tampouco ter um resto de esperança.
Ao longe tão somente a criatura
Que em dádiva suprema, uma amargura
No olhar quase sarcástico me lança...



23262
Esgoto da esperança, um verso ao menos
Que possa me acalmar e nada tendo
Percorro sem espaço cada adendo
E lembro estes momentos mais serenos.
Alvissareiro sonho; não pretendo
Os dias não serão fartos ou plenos
Extenuado teimo, mas ao menos
Um novo amanhecer; cedo desvendo.
Quisera poder ter um só segundo
Vivendo esta alegria e já me inundo
De uma ilusão tão tosca e fantasio
Pensando ser possível ter um dia
Repleto de emoção e de alegria,
Mas olho em minha volta e este vazio...


23261
Procuro nestes bares quem me queira
E trague para mim um sonho bom,
A vida modifica cor e tom,
E tudo o que vivi das mãos esgueira.
E o quadro se repete a noite inteira
Ainda escuto forte o mesmo som
Quisera da esperança; ter o dom
A sorte não seria tão rasteira..
Mesquinhos os caminhos que inda tento,
Vagando sem destino e desatento,
Apenas me embriago e nada mais.
E vejo na aguardente a mesma imagem
Que um dia imaginara ser miragem
E agora molda dias sempre iguais...


23260
Não pude mais conter os dissabores,
Algozes que perturbam meus caminhos
Pudesse ter nas mãos as belas flores
Ausentes das estradas; perco os vinhos
E tramo com denodo outros albores,
Mas sei que nesta ausência de carinhos
Herdando tão somente as velhas dores
Meus dias permanecem mais sozinhos.
Alçando as mais complexas ilusões
Deixando para trás sonhos, verões
Versões abandonadas, medo intenso.
E quando te procuro e nada vejo,
A vida decifrando este desejo
Expõe com mais vigor tudo o que penso...


23259
Arcando com pecados que inda levo
Deixando o meu futuro sem respostas
As dores e feridas vão expostas
Escravo do futuro; o nada cevo.
Abreviando a vida não me atrevo
A crer nas mesmas coisas que tu gostas
Olhando as cicatrizes, minhas costas,
Invernal sentimento, ainda nevo.
O quadro se propõe em fartos vãos
E o peso desmedido destas mãos
Lanhando com firmeza meus anseios.
Não tenho mais o riso que pensara,
Uma alegria agora se faz rara
E a morte decifrando rumos, veios...



23258
Quem dera se tivesse pelo menos
A chance de tentar um novo sonho;
Mergulho no vazio que componho
Buscando dias calmos e serenos.
Ao longe ainda vejo teus acenos
E penso noutro tempo mais risonho
Viver a fantasia que ora sonho,
Distante da verdade e seus venenos.
A sombra de um passado me rondando
Pergunto; sem respostas, até quando
A vida não trará um novo tempo.
Mas quando vejo a sombra do que fomos,
Olhando para trás, escombros; somos
Somente vislumbrando contratempo...


23257
Mudando as estações? Eterno inverno
Apesar de esperança ser teimosa
A sorte se demonstra desairosa
Deixando para trás um mundo terno.
Adentro este dantesco e vão inferno
A vida destroçando última rosa
Deveras poderia caprichosa,
Porém neste vazio eu já me interno.
E beijo cada sonho que prometa
Volver uma alegria qual cometa
Que há tanto se fez nada e não retorna.
Procuro inutilmente por atalhos,
Estradas demarcadas por cascalhos,
Apenas a tristeza ainda adorna...


23256
Ascendo ao vasto mundo do vazio
Por onde percebi uma saída
Depois de tanto tempo a alma perdida
Agora; o meu futuro, eu já desfio.
Excêntrico caminho que ora crio
Moldando a cada instante a despedida
Houvera uma alegria; mas a lida
Mudando a minha história traz o frio.
Escrevo como quem mata os temores
Os versos fugidios, mãos atadas
Aonde imaginara as alvoradas
Somente encontro enfim amargas dores
Pudesse ser feliz, ah se eu pudesse
Porém a vida nega e já me esquece...


23255
Apenas uma tosca caricata
A vida não se mostra mais capaz
De ter em suas mãos força tenaz
E o tempo não sossega, sempre mata.
Enquanto a sorte amarga desacata
Eu teimo com um passo mais audaz,
Somente esta carcaça satisfaz
Nas drágeas que ora engulo, o nó desata.
À parte dos demônios e panfletos
Escondo-me deveras em tais guetos
Aonde penso em ter ar e respiro
O fétido marasmo que me deste
A sombra do final, delírio e peste
O mundo renascendo a cada giro...


23254
Ignaro caminheiro em plena treva
Avança sem saber desta armadilha,
A cada novo passo imensa trilha
A morte numa espreita, sonhos leva.
E quanto mais audaz, mais forte neva
A luz que não trazias já não brilha
As dores em cruel, torpe matilha
Nem mesmo uma esperança se releva.
Aviso aos navegantes: é o fim.
Somente apocalíptica verdade
Voltando ao mesmo nada de que vim
Esgueiro-me entre espinhos, pedregulhos.
E bebo com venal felicidade
Os restos que coleto em vãos mergulhos...


23253
A morte que deveras se equilibra
Qual fora este funâmbulo falsário
Tornando sempre curto o calendário
A vida não consegue e nunca a dribla
O peso tão diverso desta libra
Pendendo para o lado do fadário
Além do que pensara necessário
O corpo no final desequilibra
E traz neste tropeço a direção
Restando a quem amou putrefação
A ossada sob a terra é o que inda resta
De quem ao ter empáfia, medo e gozo
Pensara ser mais nobre e majestoso
E agora toda a senda flórea empesta...


23252
Vivesse em harmonia, em simbiose
Teria talvez luzes que não creio.
Somenos importante o meu receio
Temendo que esta sorte o tempo glose.
A carne destruída, esta necrose
Tomando todo o corpo simples veio
Por onde a morte chega, e num anseio
Adentra mansamente dose a dose.
Não posso mais dormir em paz, tranqüilo,
As hordas demoníacas me acercam,
E enquanto a podridão da alma eu desfilo,
A vida vai seguindo a sua tônica;
Os sonhos tão somente a morte estercam
E a curta sobrevida desarmônica...


23251
Meu verso procurando algum sustento
Entre substâncias várias, ar e fogo
Perpetuando a dor; etéreo jogo
Por vezes inda teimo e mesmo tento.
Aspiro ao mais diverso caminhar
Das armadilhas tantas; se eu me enfado
O corpo pelo menos resguardado
A morte dominando devagar.
Aspectos tão prosaicos de um poeta
Mosaicos que ora crio em forma arcaica
A minha poesia se faz laica
E crê neste abandono e se completa,
Mas sabe que a verdade já desgasta
Deixando como herança esta vergasta...


23250
Cósmicos delírios, astros lúdicos
Bebendo a tempestade; solto ao ar
Imenso fogaréu, vento solar
Momentos de desejos, fogos lúbricos
Arcando com as hostes dos anseios
Vasculho tais fronteiras e não vejo
Limites que soneguem meu desejo
E toco com meus lábios, lábios, seios.
Numa expressão de mágica loucura
Os corpos incendeiam-se deveras,
Expondo-se às vontades, cios, feras
A noite determina esta procura
Que envolta em maravilhas se perfaz
E um gozo insuperável dita a paz...


23249
Pressinto no final a escuridão
Do caos em que me entrego sem defesa,
Não quero ser das ondas simples presa
Temendo a cada dia a viração.
Ouvindo já distante este tufão
Que arrasta e nada deixa sobre a mesa;
Enquanto a realidade já se entesa
Meu sonho dita cedo a solidão.
Apago estas candeias do passado
E vendo mais de perto estes neons
Desfiando agora em velhos tons
Enfrento a calmaria de bom grado
Queria tão somente os temporais
Prefiro à mansidão de toscos cais...


23248
De um tempo abandonado; eu sei, procedo
E vejo o quanto nada se criou
O beijo que deveras não te dou
Demonstra do passado o seu segredo.
E mesmo quando espúrio inda concedo
O resto do que trago se moldou
Ao verso que deveras desnudou
O quadro tão macabro, mas não cedo.
Reverso da medalha; vivo apenas
Enquanto com futuro tu me acenas
As cenas que por certo presencio
Aspectos corriqueiros e banais
Respondem ao meu peito que jamais
Eu vencerei em paz tal desafio...


23247
Telúricos caminhos, primavera
Expressam alegrias que não trago,
E quando vejo enfim tamanho estrago
A vida em novo tempo não se gera.
Enquanto a realidade degenera
Queria desta fera algum afago,
E mesmo a placidez do antigo lago
Viver em plenitude: quem me dera!
Acasos não são fases, frases soltas
As ondas que encontrei sempre revoltas
Denotam as marés que enfrento agora.
A morte se aproxima paulatina
Assim como inebria e me fascina
Eu sei que este momento não demora...


23246
Prevejo finalmente o caos imenso
E dele o ressurgir do etéreo nada.
A porta que mantenho assim fechada
O tempo transcorrendo amargo e tenso.
Não vejo e nem tampouco ainda penso
Que possa a solução tão ansiada
Dizer deste amanhã que não se aguarda
Espreito e nada vendo, eu me convenço.
Assim caminharia se pudesse
Ainda tendo os olhos no futuro;
Apenas do vazio que se tece
Eu faço meu banquete em pratos rasos,
E tolo, nos meus sonhos eu perduro
Já não comportam mais limites, prazos...


23245
A larva que ontem fui aborto certo
Distante da provável liberdade
E quando em meio ao nada enfim desperto
Não tendo esta palavra que inda agrade
Degrado-me em vazios, sigo incerto
À parte, sinonímia da saudade
O quadro se moldando na verdade
Transfere para mim vulgo deserto.
E perco as minhas bóias; tal naufrágio
Expõe a realidade em limpos pratos.
Os olhos deveriam ser mais gratos
A vida cobra sempre e com seu ágio
Do pouco vejo o nada ressurgindo
No corpo entre quimeras se esvaindo...


23244
Vivendo de um recôndito passado
Alçando velhos ares, roupas rotas
Bebendo deste bálsamo tais gotas
Ao léu meu verso teima em alto brado.
Alcanço apenas trevas solitárias
O tumular poema que demonstro
Remete a quase inerme e torpe monstro
Amortalhadas sendas temerárias.
Pudesse respirar míticos ares
Ainda assim teria sido inútil.
O sonho se denota sendo fútil
Enquanto as vestes simples e vulgares
Estampam a verdade que não vejo,
Apego-me ao já morto e vão desejo...


23243
A cosmopolitana poesia
É feita em farsas simples, toscamente;
Remetendo ao vazio tolamente
Qual fora praga atroz já se procria
E enquanto o Velho Olimpo se esvazia
Ocaso destruindo cada mente
Quando a morte desta arte se pressente
Nos olhos dos beócios a alegria.
Mortalha que inda teima em algum brilho,
Não vejo em meu ocaso alguma luz
O tosco quando em tosco reproduz
Diverso do caminho que ora trilho
Não deixa que se veja no futuro
Além de um tempo amargo, tolo e escuro...


23242
Surgindo qual fantasma de outras eras
Apenas perambulo pelas ruas
Sorvendo ainda o brilho destas luas
Aguardo numa espreita frias feras.
Adentro os meus engodos e as quimeras
Das quais, fiel herdeira; continuas
Deixando minhas dores sempre nuas
Marcando com veneno as primaveras.
Pudesse ter os olhos no amanhã,
Mas nada do que tento se faz pleno,
E quando ao meu passado; torpe, aceno
Encontro os desafios; logo paro,
Não tendo para tanto um anteparo
Percebo minha vida etérea e vã...


23241
Somente um espectro tosco, vão, sombrio
Durante alguns momentos, quis a vida
Em meio às vagas trevas ressurgida;
Comédia que entre tantas propicio.
Não pude suportar tal desafio
Imagem do passado já perdida
A voz em teimosia não ouvida
A morte num instante; prenuncio.
E vejo se perdendo pouco a pouco
O que pudesse haver de uma esperança
Tentara pelo menos temperança,
E rondo os meus fantasmas feito um louco
As larvas adentrando esta epiderme,
Cadáver resumido em cada verme...



23370

Quem dera dos sonetos, coletâneas
Que há tempos me propus e nunca fiz,
As honras são deveras momentâneas
E deixam tatuada a cicatriz;
Juntando num só livro tais infâmias
Audaz o gozo atroz da meretriz,
Que tanto se desfaz em tais insânias
Mas mostra-se sincera se feliz.
Excêntricos poemas, versos frágeis
Embora os dedos sejam bem mais ágeis,
Tetânicos espasmos; vou sardônico.
Mercado não suporta velharias,
Guardando na gaveta as poesias,
Ao menos solitário sou irônico...


23369
Aprendo a ter a mesma falsidade
E creio ser possível novo engano,
Abaixam; fim de cena, o negro pano
E deixo que te encante a claridade.
Soberba fantasia que te invade
Enquanto deste fato já me ufano,
O verso se mostrando mais profano,
Não deixa que se veja a liberdade.
Escusas; não suporto nem daria,
Aonde se moldara esta escultura,
Desnuda a deusa bebe a alegoria
E morre em tão solene madrugada,
A faca que nas mãos dita a loucura,
Apenas pelo amor será domada...


23368
Escassas emoções, versos tão fúteis
Ardentes ilusões, promessas falsas,
Enquanto as esperanças tu descalças
Os dias são deveras quase inúteis.
Aonde se fizera poesia
Não piso, pois cascalhos espalhaste.
E quando se percebe este desgaste
A sorte me abandona e não me guia.
Vestindo o que restara em algum canto,
Um espantalho apenas, nada mais,
E entrego-me aos desejos infernais
Matando o que pudera ser encanto.
Exprimo nos meus versos este adeus,
Aonde se fizeram todos teus...



23367
Perpetuamente imerso no vazio
Aonde tantas vezes cri possível
Um dia mais alegre ou aprazível
Fantástica ilusão que ora desfio,
Usando do meu verso, qual pavio
Um tempo que virá tão desprezível
Ascendo sem saber ao tosco nível
Por onde caminhaste; horas a fio.
Não ter outra saída? Simples farsa,
Minha alma de tua alma, uma comparsa
Que teima em ter nos olhos esperança.
Assim ao ver a luz, peito disfarça
Fingindo ter na frente uma alva garça
Enquanto aos grises céus, ela se lança...



23366
No quanto tu mostraste esta peçonha
Eu pude descobrir quem não sabia
Ainda se mostrando em euforia,
Imagem que ora trago; tão medonha.
Minha alma muitas vezes inda sonha,
Mesmo sabendo tosca a fantasia
Já não suportarei mesquinharia
Por mais que um Eldorado se componha.
Negar a minha história? Não; prefiro
Que invés de um beijo venha bala e tiro
Nos dedos preparados o gatilho.
E quanto mais mergulho neste enredo
Menos desejos trago ou te concedo,
Erguendo a minha fronte, não me humilho...


23365
Perdoe quem se fez quase inocente,
Mas sabe os descaminhos desta vida,
A sorte muitas vezes esquecida,
Enquanto a poesia nada sente.
Pudesse neste instante estar presente
A morte não seria dolorida,
Ocaso começando e a despedida
Envolve minha fronte já doente.
Herético; se eu fui não me console
Bebendo esta aguardente, em cada gole
Eu sei dos desafetos que plantei.
Não quero ter o choro falso e o riso,
Apenas o silêncio mais conciso,
O resto; com certeza, deixarei...



23364
Mereço de quem sabe; certo crédito
Portanto não me esquivo de tentar
Usando com palavras transformar
Gerando a cada frase um verso inédito.
Percebo quantas vezes fui tão tolo
Seguindo falsas luzes entre tantas,
E agora que em verdades acalantas
A vida não merece mais consolo.
Esparsas letras volvem numa dança
E deixam as retinas tão confusas,
Mas quando de emoções, diversas usas,
O olhar de quem te quer ao longe lança
Por mais que seja sempre movediça
O sol por sobre areia cedo viça...


23363
Meu verso a cada dia se aprimora
Diverso do começo tartamudo,
E quando as emoções; deveras mudo
Expresso a luz que sinto a qualquer hora.
Não posso suportar esta demora
E quanto mais audaz, menos iludo
Usando a poesia como escudo,
Não temo mais sequer a voz que implora.
Não pude confessar os meus defeitos,
Nem mesmo a garantia que me deste
Quisera ter nos versos mais perfeitos
A faina de um sublime lavrador,
Que mesmo arando um solo tão agreste
Transforma em alegria o seu labor...



23362
Enquanto a fantasia me mentia
Trazendo um gosto ameno onde era fel,
A sorte se moldando em vão papel
Tramando invés de sorte, esta agonia,
Não posso me entregar, melancolia
Deixando um coração vazio ao léu,
A noite se envolvendo em negro véu,
As nuvens que virão já denuncia.
Perfaço cada verso em águas turvas,
Nas horas mais difíceis, rotas curvas
E o pêndulo volvendo ao seu início,
Atípica loucura me tomando,
E mesmo quando o tempo se faz brando
À beira dos meus pés, o precipício...


23361
Buscando nas palavras; lenitivo
Que possa aliviar tal sofrimento,
Não vivo mais em paz um só momento,
Deveras quase inerte, sobrevivo.
E tendo em minhas mãos o sonho altivo,
Por vezes de tristezas me alimento,
E quando em fantasias busco o ungüento
Das falsas ilusões eu não me privo.
Vencer os dissabores, quem me dera.
Pudesse reviver a primavera
Que austera se fazendo agora ausente,
Mesquinharias tantas adivinho
E faço da esperança um vão caminho,
Enquanto a morte atroz já se pressente...



23360
Palavras se perdendo em ventos fortes,
Descuidos da ilusão dizem promessas
E quando em meus caminhos recomeças
Apago do passado estes aportes,
Por mais que na verdade não suportes
O mundo desta forma, mas são essas
As cores que se pintam, quando estressas
Espero por profundos talhos, cortes.
E sei que na verdade; o mal não queres,
Argêntea maravilha em teus talheres
Numa áurea fantasia banqueteias
Enquanto um pária dorme na sarjeta;
Porém sua alma livre qual cometa
Jamais suportaria tuas teias...



23359
Mentiras, farsas, toscas emboscadas
Durante as minhas noites solitárias,
Aonde imaginara solidárias
As horas entre fogos, destroçadas.
Almejo alguma paz, mas nas calçadas
As balas se perdendo, torpes, várias
Apagam dos meus sonhos, luminárias
E moldam no futuro; barricadas.
Ouviram margens sórdidas, o pranto
De um povo aonde grassa o desencanto
Mudando este cenário glorioso,
E acendem-se os pavios, explosões,
A fome se acercando de milhões
Pacífico caminho? Furioso...



23358
Celebro a vida em versos e desejos
Mergulho os meus sonetos em anseios,
Os dias entre trevas e receios,
Apenas, do passado, vis lampejos.
E quanto aos teus encantos tão sobejos,
Beleza e maciez em firmes seios,
Percorro; enamorado, raros veios
Um andarilho em paz, passos andejos.
Ascendo num segundo ao próprio Olimpo,
O céu se anunciando claro e limpo,
Solares maravilhas, a alma pressente,
E tendo o teu olhar como meu guia,
A vida se transborda em poesia,
E o dia se mostrando iridescente...



23357
Perduram nos meus olhos as estrelas
Que tantas vezes guiam navegantes,
Por tanto que me deram em instantes
Concebo a maravilha de revê-las
Celebro a fantasia de contê-las
Diversas emoções inebriantes,
Percorro estes caminhos mais distantes,
Apenas na certeza de colhê-las.
Quais fossem pirilampos siderais,
No etéreo a eternidade sendo o cais
Abrindo o coração, alçando os céus.
Esgueiro-me entre dores, desventuras
E sinto nas estrelas as branduras
Debaixo de seus brilhos, raros véus...


23356
Ainda é possível ser Felizabraçar o mundo com carinhoe muito além do além, ao
ninho,posso colher o bem que fiz!
Efigênia Coutinho
Celebro com meu verso o ser feliz
Que tantas vezes quis e não sabia
Aonde em que detalhe poderia
Viver a fantasia e me desfiz,
Se trago tatuada em cicatriz
A marca insofismável da agonia,
Talvez ainda reste uma alegria
Num céu eternamente escuro e gris.
Ouvindo um canto amigo em voz suave
Do fado em desventura uma esperança,
Uma alma turbulenta então se amansa
Por mais que a solidão ainda agrave;
O resto dos meus dias; sigo altivo
Teu canto se mostrando um lenitivo...



23355
As velas sendo abertas; vou liberto
Por mares que jamais navegaria
Não fora tão enorme a fantasia
E o meu futuro agora, vago e incerto.
Os medos e os pudores eu deserto
Minha alma a tal delírio já se alia,
E vence qualquer dor, frio e agonia
Num mar de ondas bravias, peito aberto.
Há sangue em minhas mãos, fogo nos olhos,
Por mais que ainda veja tais abrolhos
Deveras meu canteiro floreado,
Arcando com meus próprios caminhares,
Expondo sem temor os calcanhares
Adentro este oceano, sina e Fado...


23354
A deusa já desnuda em águas claras
Qual Ninfa se deleita à luz do sol,
Não tendo mais ninguém neste arrebol,
No encanto magistral; sonhos declaras.
Sirena em formas belas, nuas, raras,
Fazendo dos meus olhos, girassol,
Encontro em tal pureza este farol
E a vida sem saberes, logo amparas.
Correndo imenso risco já me atrevo,
Não quero ser eterno nem longevo,
Mas tendo emoldurada em meu olhar
A tela que desfilas, na nudez,
Perdendo toda a minha sensatez,
Nas águas, em loucura, mergulhar...



23353
Não faço destes sonhos; ideais
Apenas não consigo me calar
Querendo da verdade sempre o mais,
Negando o sortilégio de um altar
Expresso a solidão de um mero cais
E nele esta vontade de voltar
Os ventos transformados, temporais,
Quem sabe novamente navegar,
E ter esta certeza que me move,
Por mais que a parceria seja nobre
Não tendo quem comigo me desdobre
Estrofe pós estrofe me comove,
Mas nada se compara ao meu retrato
Desnudo em cada verso, o nó desato...


23352
Bem sei que nesta vida não há ilhas
Nefastos os profundos, grandes pélagos
Nós somos e seremos arquipélagos
E nisto se consistem maravilhas.
Por quem os sinos dobram? Por nós todos,
Mas quando lobos somos de outros lobos
Fingindo muitas vezes sermos probos
Expomos na verdade nossos lodos,
Nos charcos que profanos, chafurdamos
Vestidas igualmente toscas tribos,
Nas costas tatuados os estribos
Da violência estúpida, os ramos,
Pois, macabros, ignaros e imbecis
Escravos de valores torpes, vis...


23351
Eu quero a liberdade do meu canto
Por isso não desejo as edições
Se nelas existindo o desencanto,
Profanas e diversas emoções.
Tampouco quero crer que distorções
Transformem o sorriso em mero pranto,
Não faço dentre os versos, distinções,
Se o próprio cerceamento traz espanto.
Escrevo o que desejo e não me importa
Se abrindo ou se fechando alguma porta
Poemas; são meus gritos libertários.
Por isso é que em verdade não publico,
Se eu sou tosco, sacrílego ou pudico
O rio não se vende aos estuários...


23350
Chegando à divisória entre alma e luz
A estrada mesmo antiga, fronteiriça
Dizendo deste encanto que cobiça
Quem faz a festa enquanto reconduz
Espreito mansamente cada obus
E a sorte feito areia movediça
Ao mesmo tempo aquieta enquanto atiça
Escrúpulos diversos, falsa cruz.
Enquanto anoitecendo na cidade,
Neons vão se espalhando em tosco brilho,
O amor sendo demais, já nem mais trilho
Buscando a paz intensa e a liberdade,
Ao ver a luz dispersa; penso na alma,
E um breve sentimento/paz me acalma...


23350
Minha alma dividida entre dois rumos,
Acenos do futuro; não percebo,
Enquanto dos incensos, eu concebo
Perfumes exalados, doces fumos.
Bebendo da esperança; raros sumos
Reinando sobre tantos, belo Phebo
Apenas um fantasma, este mancebo
Que teima em devorar os toscos grumos.
Obesa fantasia não se cansa,
Quem dera a vida fosse bem mais mansa
Pudesse pelo menos rir em paz.
Porém ao ver andrógina figura
Ditando sem pensar a alma procura
Além deste vazio que ele traz...
EM HOMENAGEM A UM GRANDE COMPOSITOR DA MPB


23349
Cidade entre diversas fortalezas
Um templo feito em luz, sangue e vergonha,
Imagem tresloucada e tão medonha,
Expressa a cada canto tais tristezas,
Martírio usado em nome das defesas,
A sorte se moldando mais bisonha,
Enquanto o populacho pede e sonha
Com tempos prazerosos e riquezas.
Vendidos em barganhas sem pudores,
Lacaios deste rei feito em demência
No olhar de cada ser tola inocência
A pútrida mensagem dos horrores.
Pastores, toscos reis destas Igrejas,
Cordeiro; abençoado sempre Sejas...



23348
Erguendo calmamente a minha fronte
Encontro Tua Luz a cada dia,
Mergulho neste mar em calmaria,
Vislumbro um novo tempo no horizonte,
Por mais que a minha vida desaponte
Um claro amanhecer, no amor se cria,
Ouvindo a mais suave melodia,
Contigo, Meu Senhor, divina ponte
Erguida com as bases de um afeto,
Nas sendas dos Teus passos me completo
Prossigo e quero ser simples cordeiro.
Pois sei que tens no olhar rara pureza,
Minha alma se envolvendo em tal beleza
Conhece-Te do amor, o mensageiro...


23347
Descubro neste Pai a clara imagem
Do amor que sendo terno se eterniza,
Transforma o vendaval em simples brisa
Tornando mais tranqüila esta paisagem.
Não quero nem preciso de algum pajem,
A vida por si só da glória avisa
Quem farsas, ilusões, em Ti já visa
Não merecendo em Deus tal hospedagem.
Amar sem ser amado e sem medida,
Resumo do que busco nesta vida,
E nisto imprescindível, o perdão.
Não quero e nem mereço algum milagre,
Que o vinho feito amor não se avinagre,
Já basta para alçar a salvação...


23346
Regido pelos sonhos de um rei tosco
Vestido de imperial, tolo imbecil,
Num mundo que se faz amargo e vi,
O olhar do soberano segue fosco,
Assim se encaminhando a humanidade
Diversa do que outrora quis um Rei
Fazendo do perdão e amor a lei,
Trazendo; soberano uma humildade
De quem se sabe eterno mensageiro,
Agora qualquer tolo se faz deus,
Nas mãos guarda o punhal, e o mero adeus
Aos sonhos mais felizes. Sou cordeiro
Daquele que se fez simples, com nexo,
Agora no poder, dinheiro e sexo...



23345
Quem dera dos teus sonhos, capitão
Apenas tão somente um timoneiro
Navego pelos mares, vou inteiro
Fazendo como barco, o coração
Amor que imaginara derradeiro
Desliza em pleno mar, a sedução
Sabendo deste sonho, a solução
Moldando um dia claro, mensageiro
Dos deuses transformando em Céu e glória,
Tramando desde sempre esta vitória
Aonde se pudesse ter em paz
A sorte de ser teu a vida toda,
Minha alma se emoldura e não se poda,
Bebendo esta alegria que amor traz...


23344
Por mais que se mostrasse ausente ou ledo,
Amor com suas formas e matizes
Eróticos desejos em deslizes
Guardando ou demonstrando este segredo,
E em cada verso penso e a ti concedo
O quanto de prazeres tu me dizes,
Só peço que deveras sempre avises
E não permita à vida algum degredo.
Tu trazes em teus braços, firmes hastes
E quanto deste sonho arrebataste
Trazendo nos teus olhos o contraste,
Mas peço, deste enredo não te afastes
Tampouco se permita a um vão desgaste
A vida não permite tais desbastes...


23343
Talvez não mais quisesse batizado
Aquém do paganismo que propagas
Moldando esta mentira noutras plagas
O quadro original tece o pecado?
Não posso me furtar a tal enfado
Tampouco em cores cinzas, tais adagas
Que em fátuas ilusões; o povo, esmagas
Além de algum poder que fosse dado.
Não creio em falsos mártires, só Cristo
Ovelha em sacrifício, mas insisto
Apenas neste Amor que Me ensinara.
Já não comportam mais toscos alcoólatras
Nem mesmo insofismáveis; vis idólatras
Que a própria história nega e desmascara...


23342
Talvez ainda escute o que dissera
O velho timoneiro da esperança
E enquanto em mar profundo o barco avança
Ao largo se perdendo a primavera.
No olhar da poesia, a louca fera
Marcando com as garras, a lembrança
De um tempo aonde ainda uma criança
A sorte desejada em vão espera.
O quadro se tornando inverossímil
Apátridas veredas, diz o mar
Sem nada em que pudesse ao fim. Imprime-o
Na pele em tatuagem, riscos vários.
Aonde em que planeta os temerários
Caminhos onde encontro o bem de amar...


23341
Vivera tão somente em risos falsos
Imensas cicatrizes dentro da alma,
Apenas a lembrança ainda acalma
Quem sabe do futuro em cadafalsos.
Os pés sobre espinheiros vão descalços
O amor quando se fora, imenso trauma,
Dourando este horizonte, a rara calma
Mesmo enfrentando em vão tantos percalços.
A morte é solução para quem tenta
A sorte e não percebe outra saída
Ao Norte a ventania violenta
Ao corte tatuado a despedida
Aportes tão diversos; já não sonho,
E o fim se aproximando, assim medonho...


23340
Vivesse entre mil reis e não teria
Sequer a sensação deste poder
Que sinto Meu Senhor no quanto crer
Já traz a quem fiel, farta alegria.
O mundo se desfaz em agonia
Mergulhos que imagino no meu ser,
Em Ti eu aprendi a conhecer
Verdade que deveras já me guia.
Negando as trevas tantas que me impingem
Nas grises cores toscas em que tingem
Sacrários onde estão raros pendores.
Alvissareiros dias? Já não creio,
Soberbos descaminhos, meu receio,
Porém a Ti Meu Pai, os meus louvores...



23339
Bacantes e terríveis gargalhares
Expondo estas orgásticas loucuras
Milagre em profusão, soberbas curas
Igrejas se fizeram lupanares.
Senhor, Tu não repares se ao voltares
As luzes que espalhaste em vão, escuras,
Em Tua casa, apenas esculturas
Diversas excursões, ricos bazares.
Mulheres e crianças exploradas,
As velhas entre as hóstias profanadas
Demônios em batinas, ternos, ritos.
Aonde houvera paz, o pandemônio,
Na casa do Senhor, claro demônio
Bebendo do Teu vinho, entre os aflitos...


23338
Não sendo aos olhos teus; um velho anseio
Vibrando de alegria; um templo eu crio,
E deixo para trás qualquer receio,
O mundo mais feliz; já fantasio.
E quando percebendo aberto o veio,
O coração distante, em vão, vazio
Nas cordas da viola que ponteio,
A sensação divina; eterno estio.
Ascendo aos Teus caminhos e veredas,
E Te agradeço sempre o que concedas
A quem se fez ovelha, manso e probo.
Não quero ter nas mãos a faca e a foice
No olhar tão vingativo, a sorte foi-se
Deixando no lugar, pastor e lobo...


23337
Deformam-se decerto em descaminhos
os ritos que pensara salvadores
aonde preservara meus amores,
agora a solidão tomando os ninhos.
E teimo contra os vermes tão daninhos,
prometo mais felizes os albores
sem amos, nem escravos, pois senhores
morrendo em frios chãos, sempre sozinhos.
Assim num amanhã mais prazeroso,
dos Céus as alegrias e pendores,
andores espalhados pela Terra.
No Amor e tão somente nele próprio
um mundo mais audaz, por isto sóbrio
aonde a paz suprema já se encerra...


23336
Recebo dos amigos o recado
Falando sobre um tempo em que talvez
Pudesse ser feliz, mas sensatez
Há tanto tempo tenho abandonado.
O quadro se pintando desolado,
Aonde poderia a lucidez
Moldar esta alegria em que se fez
O mundo entre desmandos disfarçado.
Apenas imagino a sorte imensa
De quem se deu inteiro e recebeu
A glória como justa recompensa
Vivendo esta alegria que sonhara,
Assim vou desenhando teu e meu
A vida sem as mágoas, crua escara...


23335
Espalham-se por ruas e cidades
Venenos embutidos em discursos,
Vagando por diversos vãos, percursos
Que possam nos tirar tranqüilidades.
Distante das razões e das verdades
Aos mesmos não cabendo mais recursos,
Mantendo destes rios, velhos cursos,
Concursos nos levando às falsidades.
Negar a própria luz sendo holofote
Poeta é um mensageiro da ilusão.
Perfilo no horizonte as minhas cruzes.
E tendo a fantasia que me adote,
Eu vejo muito além desta amplidão,
E bebo do Senhor divinas luzes...


23334
Quem dera um pensamento mais arguto
Deixando os dissabores sempre ao léu,
O mundo sendo torpe e tão cruel,
Nas sendas, nas entranhas eu reluto.
E quando estas mentiras eu refuto
Ascendo num segundo elevo ao céu
O pranto necessário de um fiel,
Que vive eternamente em negro luto.
Ao ver a hipocrisia dos altares
Insânia e tão atroz voracidade
Prostituindo a cruz e a majestade,
Não posso me calar se entre meus pares
Percebo a mansa ovelha encurralada,
Por lobos disfarçados, explorada...


23333
Descubro-me desnudo em simples versos
Usando da palavra, uma arma audaz
O quanto este vazio satisfaz
Depois de perceber mil universos.
E sei que mesmo sendo tão dispersos,
No quanto a minha voz se faz voraz,
Ao mesmo tempo lúdica e mordaz,
Sentidos que procuro são diversos.
Agora ensimesmado e circunspecto
Transmudo no silêncio meu aspecto,
Desato velhos nós já esgarçados.
Não posso me entregar à prepotência
Seria tão somente incoerência
Jamais eu suportei cães disfarçados...


23332
Enfrento as mais diversas emoções
E nisso pressentindo este perigo
É necessário crer que exista abrigo
Embora tão distantes ilusões.
Escrevo meus sonetos, negações
Daquilo que não tendo, nem persigo,
Alvejo um só momento, mas desligo
Não quero mais a fúria dos leões.
Poeta sendo assim, um ser excêntrico,
Ególatra, em meu mundo; eu vou concêntrico
Etéreo; teimo insânias, meus delírios.
E sei que prosseguindo em senda tétrica
Meu verso se moldando em pura métrica
Propõe-se aos mais terríveis, vãos martírios...


23331
Enfrentando gravíssimos desvios
Com tanta galhardia, não consigo
Saber de cada curva o seu perigo,
Enquanto enveredando os desafios
Os olhos no horizonte estão vazios,
Prevendo o meu futuro em desabrigo,
O quanto do desejo inda persigo
Decifra os mais diversos, loucos cios.
Avança sobre os sonhos, centopéias
Abelhas entre vespas, nas colméias
Apenas o ferrão, esqueço o mel.
Apego-me ao porvir, mesmo que apático,
E vejo o que não vindo, deixa estático
O que era libertário carrossel...


23330
Caminho tão incertos desta vida
Expressam o vazio que virá,
Aonde eu esperara desde já
A sorte abandonada e envilecida
Mergulho neste mar sem a guarida
Do sonho que decerto domará
Bravia tempestade que virá,
A volta desta Ilíada é servida
Em raros pratos, nobre porcelana,
Porém uma alma torpe, vã, profana
Vergada à força insana das paixões,
Não pode desvendar tais profecias,
E quanto deste amor me propicias
Traduz das esperanças, expressões...


23329
Pusesse uma esperança neste barco
Talvez atracação em cais seguro,
Mas quando vejo o tempo, te asseguro
No medo do futuro, enfim embarco.
O vento que pensara forte; é parco,
O quadro; não percebo sendo escuro,
Além de cada curva um novo muro,
Porém com desenganos torpes, arco.
E quando te encontrara nos presságios,
Nas ondas dos teus mares meus naufrágios
São frágeis os caminhos de quem ama.
E agora nos teus braços, vou letárgico
Jamais queria um fim que fosse trágico,
Mantendo acesa sempre a imensa chama...


23328
A vida em que se vê insegurança
Jamais permitiria ser possível
Que a luz distante ainda fosse crível,
Porém em nossas mãos toda a mudança.
Ao longe, no horizonte o olhar descansa,
O mundo imaginário ou invisível
A sorte se moldando noutro nível
Traindo que restara de esperança.
Nas lúdicas mentiras; ilusões,
Infância se eterniza nos olhares
Dos tolos que vagando nos altares
Expostos aos diversos vendilhões
Expressam um temor desnecessário;
Se é Deus amor, perdão. Não temerário...



23327
Danosa serpe entranha-se entre nós
envergonhando a um Deus bom e perfeito,
nas sedas e cetins, soberbo leito
no olhar tão escabroso, o gozo atroz.
Tu não merecerias outro algoz,
no amor em que deveras foi Teu pleito,
Satã expressa o que pensa direito
mudando ou disfarçando a Tua voz.
Nas grandes confrarias, espetáculos
aonde demoníacos tentáculos
oráculos diversos se espalhando.
E quieto, aprisionado em fria cruz,
exposto nesta feira está Jesus,
cadáver vê os abutres o explorando...


23326
Enfrento esta tormenta a cada dia
Mesquinhos os demônios disfarçados,
Os sonhos entre estrelas preservados,
Uma alma se permite à fantasia.
Mas quando vejo imunda confraria
Dos vermes entre vermes bem cuidados,
Os ímpios e satânicos soldados
Que à margem de Jesus, mal se procria.
A fome insaciável eclesiástica
Deforma de maneira atroz, fantástica
Aquilo que o Cordeiro proclamou.
A fúria desta súcia peçonhenta
Espalha-se voraz e me atormenta
Matando o que este Cristo nos deixou...


23325 com estrambote
A morte se percebe nos olhares
Dos vermes instalados nas Igrejas
Canalhas e pedófilos, altares
Não são conforme a corja que desejas.
Jesus jamais se deu aos lupanares
E neles com soberba tu lampejas
As hóstias profanadas, quando almejas
Riquezas entre vinhos e manjares.
(A pútrida expressão de um falso Deus)
Vendido aos borbotões em cada esquina,
A fonte inesgotável já fascina
A súcia que em verdade é tão imunda.
Não posso me calar frente aos farsantes
São padres e pastores elegantes
Nos quais Satã em fúria se aprofunda...


23324
Perplexo ao ver enganos repetidos
Mesquinharias várias, mundo cão
Não posso me furtar à sedução
De ter na minha voz cantos urdidos
Nas sendas mais atrozes, não ouvidos,
Mas teimam em buscar a solução
Aonde atracaria a embarcação
Se os portos da esperança são olvidos.
Negar a própria sorte é ser caótico
O verso que ora faço em mundo exótico
Aguarda algum momento mais pacífico.
Queria um tempo aonde o ser bucólico
Não fosse tão utópico se estóico
E o católico diverso do ser tífico...



23323
Espalham-se na Terra dores, ódios,
Aonde poderia ter a paz?
Se tudo o que em verdade a vida traz
Somente faz pensar troféus e pódios.
Delírios entre máscaras. Açode-os,
Verás fartas vitórias se isso apraz;
E quanto mais valente e mais audaz
Forjando brilhos vãos, mordazes. Molde-os.
Assim talvez expressem novos cânticos.
Quem sabe noutros mundos mais românticos
E o fardo de viver será mais leve.
Não sendo tão cruel; menos colérico
Não necessita nem sequer homérico
A dor a te atingir jamais se atreve...


23322
Necessidades várias, luz opaca
Acórdãos sonegados, mentirosos
Nos olhos destes seres vaporosos
A sorte se desfaz, nem dor aplaca
E quando se percebe a fria estaca
Nas mãos destes ferinos belicosos
Os risos de sarcasmo prazerosos
A sede sanguinária se destaca.
Pudesse Deus voltar ao velho Gênesis
Talvez modificasse a nossa história
Hemoptises sutis, nas hematêmeses
A saga desta raça vã, sanguínea
E ainda se valendo da vanglória
Gerando e eternizando tal ignomínia...


23321
O ser humano, tétrica figura
Herméticos caminhos do amanhã,
Nos olhos desta fera inútil, vã
Apenas a loucura se afigura.
A mão que sem motivos já tortura
E faz da morte um frio e duro afã
Mantendo a sangue e morte um podre clã
Espalha sobre a Terra esta amargura.
É quando se demonstra demoníaca
Herética e nefasta esta maníaca
Escolta a própria espécie em torpe engano.
Um Deus deveras bom e solidário
Jamais por semelhança, sanguinário
Ao Seu irmão pudesse causar dano...



23320
Acolhem-se mentiras entre tantas
Aonde houvera luz, a escuridão
Na temerária voz do anfitrião
As festas entre versos; desencantas,
Saraus dos idos tempos, velhas mantas
Apenas demonstrando a negação
Do que hoje se moldando em turbilhão
Ainda em vãs promessas agigantas.
Ao ver no meu jardim um rubro antúrio
Percebo o que meu canto sendo espúrio
Não tem mais cabimento, exausto e fútil.
E sei que a poesia também morta
Adentra envergonhada a velha porta
Sabendo-se deveras tão inútil...


23319
Enquanto a fantasia me assegura
Além desta razão que me domina
A noite bem suave mesmo escura,
Encontro na ilusão, devassa mina.
Por onde se prepara esta amargura
Que há poucos, mas constantes, já tortura
Inebriantes sonhos, luz divina
Ao fim de certo tempo, não perdura.
Do caos em que surgi ao caos retorno,
E quanto mais de trevas eu me adorno
Mais facilmente enfrento a dor eterna.
Porém deste vazio em que surgi,
Num último tormento estou aqui,
Nas mãos de um bardo vejo esta lanterna...


23318
A vida que se encurta a cada dia
Negando uma esperança ao andarilho,
Fazendo desta algia um estribilho
Nefastas ilusões; deveras cria.
E quando mais distante a fantasia,
Menor este caminho que ora trilho,
Aos poucos vai puxando o seu gatilho
Até que este pavio extinto, esfria.
No pórtico dos sonhos, sigo cético,
Não vejo outra saída, sendo herético
Quem crê que ainda exista a claridade.
No quanto se perdendo um apoplético
Caminho se moldando na verdade
Jamais perceberá felicidade...


23317
Indignos os delírios que inda trago
Almejando a saída que não vi,
Vivendo a poesia que há em ti
Quem dera pelo menos teu afago.
Alego por defesa, mero lago
Aonde em águas mansas me perdi
Enquanto a correnteza em que vivi
Meu mundo se inundando, enfim me alago.
Heréticas mentiras, nada além,
E quando a realidade me convém
Expondo este vazio que sou eu.
Apreendo com meus olhos raras luzes,
E enquanto tal beleza; reproduzes,
Meu mundo num ocaso se perdeu...



23316
Ao ver o céu sereno em que se expõe
As constelares cores siderais,
O quanto em maravilha se compõe
Belezas que desfilas; magistrais,
E ao mesmo tempo a vida se propõe
A ter como saída um porto, um cais
Minha alma, distraída decompõe
As formas de um delírio, desiguais.
Não quero de mim mesmo tais escusas,
Nefastas e sombrias tolas Musas
Há tanto se afastaram. Já me afeta
O medo de seguir escuras sendas,
Mas logo calmamente tu desvendas
Desejos de um estúpido poeta...


23315
Porquanto fosse; em tese tão pequena
A dor que nos devora e nos enfada,
A sorte há tanto tempo está lançada
Minha alma frente à mesma se apequena.
Pudesse ter somente mais serena
Aquela que me doma e desagrada
A fonte sutilmente demonstrada
Ao mesmo tempo cura e me envenena.
Não posso suportar tamanho escândalo,
Tampouco tenho em mente ser o sândalo
Que ao vândalo se expõe e inda o perfuma.
Escassas as defesas, sigo cúpido,
Jamais permitiria um ato estúpido
Prefiro a ser uma onda, leve espuma...


23314
A sorte em epopéias já lançada
Vencendo os meus temores, sendo prático
E mesmo quando mostro este ar apático
Minha alma em perigeus vã, destroçada...
Preparo por defesas, paliçada
Estando muitas vezes quase espástico
Num cáustico caminho, finjo tático
Mas sei que vivas dores; alcançada
Esgotam-se meus víveres; nefasto
Dos sonhos que inda restam; já me afasto
E deixo como rastro a luz vulcânica
Que um dia após sombrias emoções
Mostrara fragilmente as soluções,
Porém minha alma pasma inda tetânica...


23313
Navego em oceanos mais bravios
Levando dentro da alma esta incerteza
Envolto pelas ondas, a tristeza
Aumenta e multiplica os desafios.
Vencê-los é questão de honra e meus brios
Suportam com orgulho a correnteza
Prevendo no final rara beleza
Após momentos duros, mares frios.
A voz quando se embarga, em dor suprema
A luta sem descanso já se extrema
E teimando incansável sonhador,
Expondo os meus enganos com audácias
As pedras nos caminhos. Expressasse-as,
Moldando um novo tempo a se propor...


23312
Minha alma ocidental e italiana
Latina e eternamente atada ao lírico,
Às vezes com certeza sendo empírico
Desfilo minha origem lusitana
Enquanto a poesia em mim se ufana
O mundo que imagino quase onírico
Num átimo diverso deste etílico
Caminho em que a verdade desengana
Mergulho nas distâncias amazônicas
E quando em fantasias tão hedônicas
Procuro no final ser mais eclético.
Ao fundo este cenário vasto e lúdico
Aplausos; não espero deste público,
Mas mostro o meu caminho atroz, poético...


23311
Assinalando os dias que entre dias
Se tornam mais diversos e felizes
Além dos contumazes já me dizes
Possíveis, os momentos de alegrias.
Mas quando em descaminhos há deslizes
Disperso deste encanto em que vivias
As honras das soberbas poesias
Tornando-se profundas cicatrizes.
Mas hei de amar e nada impedirá
O sol que nascerá mesmo acolá
E sei que a minha vida se completa
Entre armas que inda restam, as palavras
Fecundam o solo árido que lavras
Porquanto simplesmente sou poeta...


Domingo, Janeiro 24, 2010
23450
Aéreos descaminhos vagas rotas
Antigos navegantes, barcos, naus;
Alvissareiros tempos? Pois o caos
Explode em cada curva, mas nem notas.
Subindo calmamente estes degraus
A fonte dos prazeres; cedo esgotas
Aonde imaginara fundas grotas
Os dias são terríveis, duros, maus.
Enquanto tu sonhavas melodias
As horas se passavam tão vazias
Diversas do que crias; ilusões.
Extorquindo a saudade em fartos pratos,
Sentimentos mordazes, pois ingratos
Movendo com certeza multidões...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23449
Encontro no teu corpo o magnetismo
Que tanto me seduz quanto me trai,
E quando nas estrelas, grande abismo,
O sonho em gozos fartos já distrai
O velho caminheiro em seu batismo
Desníveis enfrentando; logo cai.
Em meio às tempestades, tento e cismo
Nos olhos de esperança feito um pai
Que encontra no seu filho algum futuro,
Além do que deveras não depuro
Aguardo com real expectativa
Que a sorte se bandeie pro meu lado,
Meu tempo de sonhar diz do passado,
Porém minha alma, tola, segue viva...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23448
A voz que em altos brados nos liberta
Do algoz entre terríveis cadafalsos,
Os dias percorridos, ledos, falsos,
A história se mostrando tão incerta.
Havia no caminho alma desperta
Meus pés enfrentam urzes; já descalços
E bebo sem rancores tais percalços
Porteira da esperança sempre aberta.
Andasse pelas ruas e calçadas
Vagando sem destino em madrugadas
As trevas vão guiando quem barganha
E embora muitas vezes esperando
O dia noutro dia se entranhando
E a fé no amor remove esta montanha...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23447
Indefinível forma se apresenta
Ditando antigas normas e pensares,
Aonde se quisera então altares
A sorte com a morte se aparenta.
Paixão que um dia fora violenta
Agora se perdendo em lupanares,
Embriagado sonho se notares
Verás quanto o passado me atormenta.
Esgoto minhas forças neste bar
E danço a noite inteira sem parar
Fugindo do que outrora fora amor,
Agora se mostrando indiferente,
Ainda que deveras não se tente
Colher deste jardim pétala e flor...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23447
Indefinível forma se apresenta
Ditando antigas normas e pensares,
Aonde se quisera então altares
A sorte com a morte se aparenta.
Paixão que um dia fora violenta
Agora se perdendo em lupanares,
Embriagado sonho se notares
Verás quanto o passado me atormenta.
Esgoto minhas forças neste bar
E danço a noite inteira sem parar
Fugindo do que outrora fora amor,
Agora se mostrando indiferente,
Ainda que deveras não se tente
Colher deste jardim pétala e flor...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23446
Os versos agregados ao que sinto
Permitem decifrar o velho gozo,
E sendo sempre tolo este orgulhoso
Desenho em que deveras sigo extinto,
Não posso me calar, imenso instinto,
Vencendo o que pensara caprichoso,
E o tempo se mostrando tão danoso,
Mergulha no vazio em que me tinto.
Revigorada voz de um sonhador,
Ancoro meus anseios em teu cais,
E mesmo que se veja ao fundo a dor,
Não posso decifrar qual fora meu,
Aquilo que bem sei; terei jamais
E há tanto num descaso se perdeu...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23445
Uma estranguladora realidade
Tornando mais difícil caminhar
Vencido pela dor, o meu altar
É feito de terror e frialdade,
Expressando nos versos liberdade
Aonde poderia desvendar
Segredos que se aprende com a idade,
Vagando em noite fria bar em bar.
As roupas já puídas como o sonho
Que entranho e sem disfarces recomponho
Bebendo da aguardente mais atroz
Ninguém encontraria o que inda resta
Cadáver que abandono agora gesta
E a sorte se moldando como algoz...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23444
Douradas pelo encanto desta lua
As horas ditam sempre rara glória
E quando em minhas mãos, ela flutua
A sorte transformando nossa história,
Espalha tal beleza em cada rua,
A senda mais bonita e sempre flórea
Etérea maravilha continua
Brilhando a cada instante na memória.
Não deixo-me levar por falsos guizos,
Tampouco não suporto prejuízos
Aonde o desamor causara danos,
Sabendo das belezas destes sóis
Outrora aonde havia maus lençóis
Agora já percebo rotos planos.
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23443
Moldando com carinho a nossa trama
Descrevo a maravilha em que ora vivo,
No amor que tantas vezes se reclama,
Eu busco amanhecer suave e altivo,
Não quero sonegar a imensa chama
Por ela tão somente sobrevivo
E quando o grande amor deveras chama,
Dos gozos deste sonho não me privo.
E teimo em procurar felicidade
Aonde se encontrara a claridade
Do olhar da bela diva, deusa nua,
Espalhas pelos cantos e calçadas
Que quando passas vão iluminadas,
Douradas pelo encanto desta lua...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23442
Aonde deposito o coração
Encontro tanto amparo que prossigo,
Bebendo da divina sensação
De ter após batalhas, meu abrigo,
Vivendo neste mar de sedução,
Eu quero estar deveras já contigo,
E sinto ter provável solução
Deixando para trás qualquer perigo,
E sei que tantas vezes me querias,
Tramando nos teus olhos fantasias,
Ardendo com fulgor em cada chama,
Assento esta emoção em tuas mãos,
E os dias semeando raros grãos
Moldando com carinho a nossa trama...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23441
Tu és do amor imenso, a mensageira
E sigo cada passo que tu dás,
A vida do teu lado é mais que queira
Um velho coração que sendo audaz
Entrega-se ao delírio da fogueira
Aonde nosso amor maior se faz,
Seguindo cada rastro alma se esgueira
E entrega-se ao desejo mais voraz.
Pudesse ter ainda nos meus olhos,
Diverso dos caminhos entre abrolhos,
O brilho que nos trouxe esta emoção,
Envolto nos teus braços, não me canso,
Sabendo finalmente do remanso
Aonde deposito o coração...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23440
Alvissareiros são agora os cantos
De quem por tanto tempo se fez dor,
E quando se envolvendo em tais encantos,
Colhendo a cada dia nova flor,
Secando desde já terríveis prantos,
Nas mãos o delicado e fino andor,
Momentos divinais, deveras santos,
Aonde se perfaz raro louvor.
Não deixe que este sonho um dia acabe
Tampouco que esta história em vão desabe
A sorte muitas vezes traiçoeira,
Mas sei que mesmo sendo movediça,
A vida do teu lado cedo viça
Tu és do amor imenso, a mensageira...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23439
Futuro em paz imensa se pressente
Depois de ter nos olhos tempestades,
Vivendo o que deveras já se sente
Afasto-me das dores, claridades
Bebendo com ternura se presente
Aquela a quem conduzem tais verdades
Uma alma carinhosa de repente
Explode nas vertentes das saudades.
E assim caminharemos sempre unidos,
Os dias solitários esquecidos,
Apenas teus anseios, teus encantos,
Vertendo neste amor raros momentos,
Deixando para trás medos, tormentos,
Alvissareiros são agora os cantos...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23438
Neste oceano imenso- amor- navego
Em busca de uma praia ou de um tesouro,
Enquanto a tais desejos eu me entrego
Encontro em teu abraço o ancoradouro,
E sei que navegara outrora cego,
Agora nos teus olhos eu me douro,
Os erros do passado nunca nego,
Encanto que pressinto duradouro.
Descreves com ternura cada fato,
E sei que em teu sorriso me retrato,
Vivendo esta alegria tão somente.
O quanto sou feliz jamais omito,
No amor que se transforma quase em mito,
Futuro em paz imensa se pressente...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23437
Sorvendo nos teus olhos o luar
Incomparável brilho que ora sinto,
Dizendo da beleza de te amar,
Com cores mais suaves, dias pinto,
O templo dos prazeres, nosso altar,
Jamais será decerto em vão extinto,
E quanto mais procuro te encontrar
Nos mares dos anseios; solto o instinto.
E bebo destas águas tão lascivas
Mantendo as velhas chamas; sempre vivas,
Alvissareiro canto em que me entrego,
Nos tantos caminhares que encontrei,
Apenas em teus braços mergulhei,
Neste oceano imenso- amor- navego...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23436
A história deste amor não terá fim
Tampouco desfiando dor e tédio,
Nos olhos de quem amo; vejo enfim
Dos males que encontrei santo remédio.
O tempo se desfila e vou assim
Vivendo a maravilha deste assédio,
Enfeito com delírios o jardim,
E trago bem mais firme o nosso prédio.
As bases deste amor são eternais,
Desejo e te procuro sempre mais,
Não quero e nem posso descansar,
Ao ver tanta beleza se espraiando,
O mundo nos teus braços entregando,
Sorvendo nos teus olhos o luar...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23435
Colheita fabulosa que prevejo
Trazendo tal ventura ao sonhador
Que envolto pelas ânsias de um desejo
Mergulha sem defesas neste amor,
A vida não passando de um lampejo,
Ardente e delirante traz calor
E o quadro mais feliz que agora vejo
É feito da esperança em clara cor.
Negar esta existência é ser venal,
O encanto se demonstra no final,
E beijo a tua boca carmesim,
Trazendo para mim imenso gozo,
O tempo se mostrando prazeroso,
A história deste amor não terá fim...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23434
Um mundo mais tranqüilo e tão bonito
É tudo o que deseja quem procura
Por mais que esteja só e agora aflito
O encanto deste sonho já perdura,
A noite em que se dá divino rito
Jamais será decerto mais escura,
Pensando neste tanto eu exercito
A voz numa canção feita em ternura.
Mergulho na beleza de teus braços,
E sinto no calor destes abraços
A fonte inesgotável de um desejo
Ao qual eu me entregando sem pudores,
Encontro finalmente belas flores,
Colheita fabulosa que prevejo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23433
A noite em fantasias do meu bem
Durante tanto tempo se fez minha,
E quando uma tristeza não convém
A sorte deste encanto se avizinha,
Não quero ter nos olhos outro alguém
A vida em tua vida já se aninha,
Mergulho no passado e vivo aquém
Do sonho que deveras sempre tinha.
Apenas um cansado caminheiro
Que tanto desejou ser mensageiro
Da paz na qual deveras acredito,
E tendo nos meus olhos a esperança,
O amor que nos unindo cedo alcança
Um mundo mais tranqüilo e tão bonito.
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23432
Por onde se desviam nossas vidas,
Apenas solidão ainda trago,
Deixando para trás noites dormidas
Sem ter sequer do amor algum afago,
Perpetuando as dores, não duvidas
E vês a cada dia um novo estrago,
Perceba nossas camas repartidas,
E veja a placidez de um manso lago.
Quisera ter a sorte de poder
Vivenciar deveras o prazer
Do qual a minha sorte é uma refém
No quarto de dormir, acendo a luz
E vejo que o sorriso reproduz
A noite em fantasias do meu bem...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23431
Agora já percebo rotos planos
Aonde imaginara alguma sorte,
A vida sonegando ao peito o norte
Promete tão somente mais enganos.
Encubro-me deveras com tais panos
E neles a mortalha diz da morte,
Não tendo nenhum bem que me suporte,
Depois da tempestade, graves danos.
Morrendo entre os diversos fundamentos,
Percorrem os caminhos, pensamentos
Ungüentos nas escaras e feridas.
Apago da lembrança este passado,
O mundo que eu queria diz do Fado
Por onde se desviam nossas vidas...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23430
Das flores a beleza de um ditame
Expressa-se em raríssimos matizes,
Polinizando a vida, cada estame
Molduram os momentos mais felizes,
Aonde se procura o bem que se ame
Embora muitas vezes vãos deslizes
Sem ter onde e com quem inda reclame
Gerando inevitáveis cicatrizes.
Aonde em que jardim tu te escondeste?
O mundo sem te ter se torna agreste
E o tempo de sonhar em paz? Revê-lo
E ter esta certeza que o canteiro
Entregue ao mais devoto jardineiro,
Cuidado com carinho e tanto zelo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23429
Na ponta desta língua peçonhenta
As marcas das mentiras e armadilhas,
Aonde tu pisaste, amargas trilhas
Um frio amanhecer já se apresenta,
A mão que acaricia e me apascenta
Diversa desta estrela em que não brilhas
Distante dos teus olhos tantas milhas,
A morte numa espreita violenta.
Aguardo a qualquer hora o bote insano,
E sei que neste caso não me engano,
Decerto fria serpe me aguardando,
Aonde imaginara um tempo calmo,
Invés da mansidão de um belo salmo,
Satânica presença me espreitando...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23428
A luz que se fazendo tropical
Expressa a violência de um desejo,
Se na ponta afiada do punhal,
O corte mais profundo, ora prevejo.
Não tendo nas esquinas o fatal
Delírio que demonstre tal lampejo,
Nas ondas de um soberbo carnaval,
Contra as minhas vontades eu pelejo.
Fizera esconderijo em tuas pernas,
As honras em prazeres são eternas
Na simples duração de alguns segundos.
Orgástica e sublime fantasia,
A bala se perdendo propicia
Dicotomia louca de dois mundos...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23427
Difícil compreender a poesia?
Dos mundos que deveras fantasio
O quanto de mim mesmo não se guia
Tampouco pelo verso, quente ou frio.
Mentiras num poeta? Alegoria.
O quadro se emoldura como eu crio,
A vida passa a ter policromia
Nem tudo o que é verdade propicio.
Utópicos os tópicos que tento,
Às vezes paciente ou violento,
Feroz ou tanto manso quanto sou,
Versáteis os caminhos de quem sabe
Que tudo em palavras sempre cabe,
E nelas sem perguntas, mergulhou...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23426
Minha alma numa escura charqueada
Voltando desta espúria insensatez,
Depois de tanto tempo se desfez,
Negando a própria história, escravizada.
Visando uma esperança abandonada
O quanto se procura em lucidez,
No quarto das lembranças, minha vez
Dizendo do que outrora fora nada.
Aguardo um novo dia, mas sei bem
O quanto este vazio me convém
E dele faço o sonho em que mergulho.
Viver ao deus dará sem eira ou beira,
Depondo sobre o chão; cada bandeira;
Porém a luta traz imenso orgulho...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23425
Nos últimos momentos, besta fera
Mostrando as suas garras afiadas,
No olhar propenso ao medo, esta pantera
Explode em raras cores disfarçadas,
Aonde se pudesse primavera,
As horas não traduzem alvoradas,
Negando o que da vida já se espera,
As mortes sem pudor anunciadas.
Escravo desta estúpida loucura,
Aonde se percebe e se tortura
Quem tem opinião mais controversa,
Falar do bem da vida é sempre bom,
Mas quando a realidade dita o tom,
Verdade sendo expressa só dispersa...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23424
Necrófagas e toscas criaturas
Que vivem do nefasto e do sombrio,
Ao mesmo tempo enquanto desafio
Entraves entre pedras; emolduras;
Criaste com teus medos as agruras
E neste desencanto ora desfio,
O canto em que me mostre o medo e o frio,
Aonde sem pudores finges curas.
Não posso me furtar ao brado insano
E mesmo que deveras noutro plano,
Incendiando a Terra profanada,
Descrevo o pandemônio em que ora vivo,
Um mundo na verdade tão nocivo,
Do qual não se aproveita quase nada...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23423
Não julgo, mas direito de pensar
Um fato que jamais discutirei,
Quem tem Nosso Senhor que é Deus e Rei,
Aprende desde sempre a perdoar.
Também nos ensinando o bem de amar,
As lutas pelas quais eu me engajei
Dizendo deste amor, não estranhei
O quanto é necessário caminhar.
Mas tendo por princípio que ao pastor,
Ovelhas conduzindo e sendo probo,
Não deve desviar-se nem propor
A mesma realidade em senso prático,
Não quero ter na frente um fero lobo,
Perdoe se em verdade sou lunático...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23422
Outrora ultra-romântico poeta
Agora simplesmente um perdedor,
Vencido pelas fúrias de um amor,
A vida sem ter vida não completa
O ciclo aonde a sorte predileta
Trazia em suas mãos, um raro andor,
Na vida, eternamente um amador,
Cupido sem juízo errando a seta.
Apenas o vazio como herança
Vivendas entre flores do passado,
O sonho se mostrando abandonado,
No imenso precipício alma se lança,
E o vento assobiando no telhado,
Demonstra quão, deveras fui errado...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23421
Agrestes companheiros de viagem
Aonde se escondeu a estrela guia?
Morrendo como fosse a poesia
Não tendo mais o sonho na bagagem,
Apreciando a tosca paisagem,
A vida se desfaz, mas se recria
Perpetuando assim a fantasia,
Tirando o pensamento da garagem.
Viver nestes neons que o tempo traz,
Deixando para trás o bem do sonho,
O mundo que deveras eu componho
Querendo no final, somente paz,
Mesquinhos desenganos; acumulo,
Da fera atocaiada, aguardo o pulo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23420
Minha alma a pó e pedra reduzida
Depois de ter vencido os descaminhos,
Aonde se quiseram simples ninhos,
A morte destroçando o que era vida.
Perguntas sem respostas, já perdida
A sorte que em momentos de carinhos
Negara ao caminheiro tais espinhos,
Mas sei que na verdade não se olvida
O canto distorcido em que dizias,
Dos fogos de artifício de alegrias
Imorredouro sonho; agora morto.
Não tendo mais descanso sigo só,
O amor se reduzindo à pedra e pó
O barco procurando ainda um porto...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23419
A sombra do passado não se afasta
E toma este cenário em grises cores,
Seguindo cada passo aonde fores,
A voz se torna assim, mordaz, nefasta.
A corda que nos une agora gasta,
Não deixa que se pense mais em flores,
Descrevo nestes versos minhas dores,
E o grito não contido; solto: Basta!
Já não quero saber das falsas luzes,
Cansado de pisar em tantas urzes
Aonde quis a paz, trouxeste guerra,
Num agradável sonho que compus,
A sorte se desfaz da própria cruz
E o amor que nos unia, o tempo encerra...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23418
Na idéia de um valente cavaleiro
Aonde se fizera um bom amante,
A lua se mostrando radiante,
Deitando rara prata no canteiro,
Mergulho sem defesa e vou inteiro
Não quero ter a dor um só instante
O amor um mensageiro mais constante
Dos sonhos, o maior e o derradeiro.
Não pude segurar este desejo
Que aflora em cada verso quando vejo
A luz que se irradia em teu olhar,
Assim podendo estar em liberdade,
No amor encontro paz e claridade,
Vivendo tão somente por te amar...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23417
São fogos passageiros da esperança
Apenas e somente vejo assim,
As flores que cevaste no jardim,
Trazendo para a vida esta mudança.
Agora vivo em plena temperança,
Sabendo desde sempre qual o fim,
E enquanto a poesia já me alcança
Eu sinto que serei feliz, enfim.
Alvissareiro canto que em promessa
Ao mesmo tempo enquanto recomeça
Por tantas emoções vivi e vivo,
Mantendo esta alegria inabalável,
O verso se promete mais amável,
E dele, e só por ele sobrevivo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23416
Os dias em que estive do teu lado,
Bem sei o quanto foram tão vitais
Ao velho coração enamorado,
Momentos na verdade sem iguais,
Aonde retornando do passado,
Vivendo em cores raras, magistrais
Eternamente insano e iluminado
Bebendo das auroras boreais.
Não posso me furtar ao sonho bom,
Aonde a poesia dita o tom
E faz com que eu me eleve ao bem supremo,
Contigo, nada mais serve de exemplo,
Sabendo que endeusei-te neste templo,
Deveras neste amor mais nada temo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23415
Às normas, leis e regras, obedeço
Enquanto sou poeta e quis voar,
Andando sobre as teias do luar,
Nos raios mais audazes eu me teço.
Na vida tudo tem valor e preço,
Mas nada se compara ao bem de amar,
Aonde com certeza tanto apreço
Merece muito mais que possa dar.
Confesso o quanto quis e nada vinha
Senão este vazio que apresenta
Uma alma tão serena ou violenta;
Eterna navegante que, sozinha,
Aguarda algum momento em paz; distante
Dos medos que desfila a cada instante...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23414
Ao voltar ao começo, nas origens
Dos seres eu concebo um Deus presente
Que embora sendo enfim onipotente
Deixando como marca nossos gens,
Quem somos e deveras de onde vens
Na forma em que a verdade se apresente
O Poderoso Pai onisciente
Cedeu à própria vida vários bens.
Mas o homem, criatura intolerante
Pensando-se divina se propõe
A dominar a cada e todo instante
A herdade aonde fez sua morada,
E aos poucos o que resta decompõe
Do todo que recebe, deixa o nada...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23413
Ao vento se espalhando tais fuligens
Os vermes entre vermes reciclando
O tempo de viver já se esgotando
Voltando ao mesmo nada das origens,
Na gênese da história nossos gens
Num vário movimento, desde quando
O início noutro início se tornando,
Dizendo quem tu és e de onde vens,
Revelam-se os escárnios da Natura,
Que sendo tão sublime mesmo impura
Permite uma existência após a morte,
Cadenciando assim eternidades
Nos átomos, moléculas, verdades
Que ditam sem saber a nossa sorte...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23412
Endêmica loucura nos tomando,
Atrozes fantasias, medos fartos,
Escassas alegrias, morte e partos,
O verbo de outro verbo se formando.
Outrora um passo leve e mesmo brando,
Agora a luz ofusca em tristes quartos,
Meus erros consumindo a paz. Descarto-os.
Porém eu sei o quanto sigo errático,
Aonde desejara ser mais prático,
Enfáticos desmandos do insensato,
Ecléticos caminhos, vário ciclo,
O quanto me sonego já reciclo
Momento em opulência; em ti retrato...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23411
Germina neste solo o que era grão
E abortam-se deveras outros tantos
Assim em meio a risos, dores, prantos,
Encontro a cada dia a evolução.
Do ser original, transformação,
E nisso a maravilha e desencantos,
Fragilizada vida traz nos mantos,
Mortalhas entre flores, sedução.
Arcando com desertos entre matas,
A vida noutro tempo já resgatas
E moldas sem saber outros caminhos.
Por isso na verdade somos feitos
À imagem da Natura e seus defeitos,
No etéreo transmudar túmulo e ninhos...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23410
Adentro estas hostes onde a plebe
Devora seus cadáveres e ri,
O verso mais perfeito existe em ti,
E nele a própria vida se concebe,
A morte se desnuda e sempre bebe
Do corpo que esmagaste e está aqui
No prato e nos banquetes que servi,
Prazer o transmudando já recebe.
Vorazes criaturas; refazemos,
Depois é nossa vez num reciclar
Eterno caminhar. Nele morremos;
E após a nossa morte e podridão
A vida se refaz até voltar
De novo como morte para o chão...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23409
Minha alma num tropismo insofismável
Aguarda o seu descanso, após as guerras
E quando os restos podres tu enterras
Não creia ser um fato lastimável,
O beijo carinhoso e tão amável
No olhar que agora morto tu descerras,
Olhara para além, vencera serras
E agora se entregando, inevitável...
Acolha cada lágrima, querida
E saiba que sem dor e despedida
A vida após a vida noutra face.
E o tempo mostrará, tenha certeza,
No refazer eterno, a Natureza
Impede que o final eterno embace...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23408
No olhar de quem sorri leda desgraça
Vencido não percebe o próprio fim,
O quadro se define e sigo assim,
Por onde uma esperança não mais passa.
Apenas o vazio a vida traça
E a fonte já secando dentro em mim,
O medo retornando de onde vim
O corpo se tornando uma carcaça.
Espero o gozo pleno; ato final,
Da peça feita em vida, um ritual
Do qual ao fazer parte, fui um traste.
Levando dos meus dias, meras luzes;
Pisando sobre espinhos, tantas urzes,
Aquele em que cuspiste e sonegaste...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23407
Crepuscular imagem que cultivo
Nos versos que ora faço, morto em vida,
Aonde se pensara uma saída,
Da arcaica podridão enfim me crivo.
Não quero mais um tom tão agressivo
Que mostre a tua face envilecida,
Também não quero a faca que me agrida,
Sombrio e carcomido sobrevivo.
Aonde poderia ter a sorte
De crer na eternidade após a morte
Eu tenho tão somente a negação,
O quanto resta ainda me tortura,
Deixando como um rastro de amargura
O meu corpo em fatal putrefação...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23406
Quem dera tão somente um plenilúnio
Moldando em luzes fartas noite em trevas
As horas que tivemos, onde nevas
Tramando com firmeza este infortúnio.
Sem ter sequer na vida um sonho. Pune-o
Fantástica tormenta adentra as cevas
As almas que das almas seguem servas
Devoram teu sorriso tolo. Exume-o.
Verás que não restara nem o odor
Das fétidas loucuras que encetaste,
O fardo que condena-te ao desgaste
Trazendo em tuas sombras o bolor
Do qual tu te alimentas entre pragas,
E a fera que indomável, logo afagas...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23405
Amarguradamente os dias correm
E o tempo não socorre quem sonhara
A sorte de quem ama, sendo rara,
Momentos que deveras não me ocorrem.
E enquanto as fantasias tolas morrem,
O beijo num escarro se declara,
Portal de um tosco inferno se escancara
Eflúvios putrefeitos ora escorrem,
Não pude ser aquele que sonhava
Com algo além da fúria desta lava
Que a humanidade traz como uma herança
Maldita desta serpe tentadora
Matando imagem pura e redentora
Do que pensara ser uma esperança...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23404
Olhando para o túmulo que espera
As marcas do passado; ainda vivas
Imagens que pensara mais altivas
Demônios entre os dentes, besta fera.
O medo do futuro não tempera
As horas que inda restam; delas privas
Enquanto em cores mórbidas te crivas
A morte em nova vida degenera.
Servil como se fora um tosco cão,
Regando com suor a plantação
Figura mera e fátua; um campônio
Que expressara no riso uma alegria
De uma alma tão simplória que desfia
Nos olhos rubros lábios de um demônio...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23403
Ao ver a minha imagem, velhos risos
Deveras sem esmero a podridão
Tomando este cenário desde então
Sinais dos dias negros e imprecisos.
Estéreis emoções em vagos frisos,
A carne decomposta, a solidão,
O verme que procura na amplidão
Da sorte os mais sinceros, claros guizos.
Carcaça sendo aberta e o peritônio
Delírio aonde festas diz demônio
Especulares sombras de um fantasma,
Magérrimas imagens que ora crias
Fugazes tais figuras mais sombrias
Apenas o que resta, um vão miasma...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23402
Qual fora um animal inferior
Protozoário ou mesmo uma bactéria
Vivendo do escárnio da matéria
Apenas o vazio a te propor.
No quanto se fez podre o que era amor
Ainda se imagina a luz sidérea
Já não suportaria a fonte etérea
Por onde se moldasse a simples cor;
Medonhos os diversos descaminhos
Os dias que virão sempre sozinhos
O féretro se aguarda em velas, ritos,
Os dias que se mostrem mais simplórios
Na louca efervescência dos velórios
O corpo sendo exposto aos falsos gritos...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23401
Esterco do que outrora se fez glória
Agora o que me resta é ter ainda
A luz de uma tarde que foi linda
Morrendo dia a dia em tosca história.
Deveras esquecido na memória
Daquela que o futuro já deslinda
Cumprindo a minha etapa que se finda
Deixando a tarde fria e merencória...
Apenas se escoria quem deveras
Pensara ter nos olhos a alegria
E vendo tão somente amargas feras
Nefasta criatura a quem amei,
E o tempo na verdade desafia
Mostrando ser vazia a minha grei...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23400
Ao evangelizar com falsos mitos
Espalhas entre tantos; divergências
O Amor sempre comporta as inocências
E os dias mais tranqüilos, leves ritos.
Mas vendo a multidão; tolos aflitos
Não posso me curvar às procedências
Infaustas dos demônios que em ciências
Traduzes como fossem torpes gritos.
E neste hermeticismo a defesa
Daqueles que sem Deus por esperteza
Vendendo a fria imagem de um Satã
Que invés de perdoar traz nas vergastas
Justiça em que da glória logo afastas
Tornando cada ovelha espúria e vã...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23399
À Natureza humana o meu desprezo,
Disformes criaturas deuses criam,
Nos olhos violentos já procriam
O irmão que sendo frágil e indefeso
Sentindo em suas costas todo o peso
Dos vermes que deveras se inebriam
Do sangue de seus pares; descumpriam
As ordens de um Senhor, do amor defeso.
Excêntrico cadáver ambulante
O ser já decomposto, mas falante
Expressando em orgásticas loucuras
Vertentes conflitantes, vida e morte,
Negando ao próprio filho algum suporte,
Nas noites em sangrias e torturas...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23398
Queria algum prazer cotidiano
Aonde mergulhasse sem defesas,
Ao crer bem mais plausível tais belezas,
Por vezes, tão ingênuo eu já me engano.
O fogo das loucuras sendo insano,
Servido como fartas sobremesas,
Enquanto houver terríveis correntezas
A sorte se moldando em novo plano.
Acasos entre farpas, fados, facas,
Medonhas fantasias quando atracas
Saveiros entre portos, mortos cais.
Assegurando apenas o vazio
Que enquanto num delírio propicio
Expressas negações fenomenais...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23397
De todas as espécies sobre a Terra
O ser humano mostra os seus sinais,
Refaz os mesmos erros ancestrais
Enquanto uma esperança já se enterra.
Além da sensação que nos desterra
Momentos variáveis, magistrais
Envoltos por anseios animais,
Do vale se percebe ao longe, a serra.
Assim não poderíamos viver
Pensando ser de Deus, a semelhança,
Outrora fora feito uma aliança
Porém a humanidade a se perder
Voltando à sua origem mais nefasta
Da perfeição divina já se afasta...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23396
Na solidariedade vejo a luz
Que possa nos guiar ao Deus em paz,
E quando uma alegria já se faz
No verbo que ao prazer nos reconduz.
Percebo neste espelho quando nus
Os homens que viveram muito atrás
Agora, este vazio não mais traz
Senão a sensação de peso e cruz.
Ausência da inocência nos permite
Que em dúvidas caminhe a humanidade,
Não tendo no saber qualquer limite,
É necessária; sim, a informação,
A todos Deus cedeu a claridade,
Só não temos poder de criação...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23395
Sentindo a vergastada no meu dorso,
As vésperas da morte a dor emana
Um quadro aonde a sorte soberana
Já não suporta mais qualquer esforço,
E quando num espasmo eu me contorço
O rastro da ventura da alma plana
E o gozo do martírio me profana
E a própria realidade; ao fim distorço.
Não posso me furtar e nisto creio,
Aonde houvesse ainda algum centeio
Lavrado com o sangue dos campônios.
Acerco-me das tramas que enveredo,
Vislumbro neste olhar tosco segredo,
Qual fosse legião de vãos demônios...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23394
Qual brâmane adentrando o ser; repenso
As várias influências que recebo
Diversas são as fontes de onde bebo
Um mundo variável, pois imenso.
Não quero me mostrar apenas tenso
Enquanto outros caminhos; já concebo,
Saídas divergentes, eu percebo,
Sabendo ser a mente, um mar extenso.
Nirvanas que buscara no silêncio,
Temor sem a alegria é vão; compense-o
Com algo que remeta à fantasia.
O fato de viver nos dá ciência
Do quanto é necessário a paciência
Que tanto nos acalma enquanto guia...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23393
Ao ver a metafísica saída
Abandonando a crua realidade,
Adentro o cristianismo que em verdade
Domina o pensamento e rege a vida.
E nele encontro a paz. Não se duvida
Do mundo que se molda enquanto invade
Mostrando nossa vã fragilidade
Quando a esperança foge e está perdida.
Pudesse; circunspecto ver na crença
Além do que talvez não me convença
Portal aonde escapo das tormentas.
Mas vendo sem vieses tolo mundo,
Na entranha do meu ser eu me aprofundo
E envolta em fortes luzes me apascentas...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23392
Um fato deslumbrando na existência
A luz mesmo em penumbra; assim resiste,
E quando o coração se mostra triste
Talvez ainda reste uma inocência.
Ao homem que da morte tem ciência
A imensa tempestade ainda insiste,
Enquanto esta esperança vã desiste,
Minha alma segue exposta; então, convence-a.
Nos trajes das antigas ilusões
Mesquinharias tolas, emoções,
Vasculho pelos cantos e me entranho
Dos cânticos de outrora, o mensageiro
Nefasto do real e verdadeiro
Quem dera dos meus sonhos, fosse estranho...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23391
A face miserável da verdade
Expondo em cada ruga o tempo atroz,
Que doma e toma o rumo e nos invade,
Calando pouco a pouco a nossa voz.
Quem dera se tivesse a qualidade
De ter em minhas mãos o mundo após
Vivenciar a dor da tempestade
Que ataca em persistência a todos nós
Volvendo ao meu princípio em carrossel,
Mas quando já cumprido o meu papel
Somente a morte trama algumas fugas,
Durante os meus momentos terminais,
Lembrando dos instantes germinais,
O espelho dita o Fado exposto em rugas.
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23390
Não fosse a poesia ingrata amante
A vida não teria mais sentido,
Apenas um fantasma desvalido,
Que segue na penumbra, mas constante.
Prevejo no vazio a voz que encante,
Hermético poeta; atroz, me acido.
Enquanto com palavras tolas lido,
O amor se torna ausente ou mais distante.
De todas estas dores, ando farto,
Aguardo sem demora algum infarto
Aonde tanto enfado se desfaça.
O corpo se desfaz a cada dia,
Invés de uma esperança ressurgia
Sombria sensação de morte e traça...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23389
No amarelecimento dos meus dias
Outonos entre trevas e neblinas
Porquanto cada sonho tu dominas,
Ao longe se perdendo as fantasias.
Diverso do universo que ora crias,
As horas que entre luzes determinas
Por vezes enganosas e ladinas,
Causando dentro da alma tais estrias...
E assaltam-me os desejos de outras eras
Voltando ao meu olhar as primaveras,
Mas vejo; se aproxima o duro inverno,
Amortalhadamente a vida expõe
Enquanto a carne aos poucos decompõe
Visão alentadora deste inferno...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23388
Quisera dentro da alma sem dispêndio
Poder crer num momento mais audaz,
Porém a sorte infausta logo traz
Nos olhos o terror de um vilipêndio.
Sem ter quem trame o riso, ou mesmo atende-o
Percebo-me dos sonhos, incapaz,
E quanto mais procuro a vida em paz,
Maior a sensação de torpe incêndio.
Na véspera da morte; o ritual,
O beijo da esperança me faz mal,
E o gozo incontrolável do sarcástico
Irônica pantera me desvenda;
Cigana desventura adentra a tenda
Num cáustico delírio um final drástico...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23387
Perpetuando em mim a sanguessuga
Que outrora se fizera amante e amiga,
Expondo no meu rosto cada ruga
A sorte ao mesmo tempo desabriga.
E enquanto a vida aos poucos tudo suga,
Nefasta companheira tão antiga
A pele decomposta já se enruga
Que um andarilho em rotas vãs prossiga
Necrópsia de uma estúpida esperança
Ao férreo percorrer desta lembrança
Lançada num esgoto, em vale obscuro.
A pérfida ilusão velha senhora,
No escárnio derradeiro se demora,
No intenso efervescer que em ti procuro...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23386
Acima dos meus ermos, velho teto
Escombros do que fomos nesta sala
Minha alma da ilusão, simples vassala
Buscando em qualquer parte algum afeto.
Nas sendas mais doridas me completo,
Enquanto a dor decerto me avassala
A morte, esta quimera enfim me cala,
Mas nela, um ser vazio, eu me repleto.
Da fétida e terrível podridão
Renascem esperanças, solução?
Quem dera, simplesmente a mesma história...
Ao ver este fantasma destroçá-la
Ignara criatura, nada fala.
Ao fim dos vagos dias, mera escória...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23385
Descendo ao mais profano e escuro vale
Encontro os meus fantasmas e os devoro.
Volvendo a superfície em fogo e cloro
Sem nada que inda impeça ou quem me fale
Do quanto esta emoção de nada vale,
No verso mais sensato ainda imploro
Em tanto desapego me decoro
Por mais que no costado o açoite estale.
Esquálida figura; em vão prossigo,
Fazendo de minha alma o esconderijo,
Ao vento suplicando a paz erijo
E o tempo me condena ao desabrigo,
Mergulho sem defesas neste abismo,
E espero novamente um cataclismo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23384
A luz que se sonega em tarde escura
Neblinas esfumaçam a esperança
E quando aos teus vazios a alma lança
O medo que deveras já perdura,
O quadro se mostrando sem moldura,
Aonde encontraria temperança,
Não vejo perspectiva de mudança
A sorte em vagas rotas nega a cura
Mal sinto esta presença que me alente,
Um dia se mostrando atroz e quente
O resto do caminho não perfaço,
Deixando nos espinhos minha pele,
Enquanto a realidade me repele,
Vencido pela dor; pelo cansaço...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23383
Lançando-me ao abismo que criaste
Com teus desejos falsos e tenazes,
Por mais que se mostrassem mais audazes
Os dias sem teus passos perdem a haste.
E quando se permite tal desgaste,
Além do que em verdade nada trazes,
Mesquinhos e decerto tão vorazes
Os traumas mais ferozes; provocaste.
Recebo o vento frio como fosse
Um ato de ternura, um beijo doce
Da fera que se esconde sob a pele
Daquela criatura em voz suave,
Somente tendo a dor que tanto agrave
À morte inadiável me compele...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23382
A fera que em minha alma não sossega
Restando neste canto; atocaiada,
Depois de tanto encanto sobra o nada,
Vazio que esperança não navega.
Perdesse as ilusões, seguisse cega
Minha alma pela sorte abandonada,
O amor jamais se deu à minha alçada
Pudesse ter ao menos uma entrega
Aonde decifrasse estes enredos,
Porém deste vazio, meus segredos,
Num cofre que se expõe às tempestades.
Mudando ao fim o rumo deste Fado,
Deixasse para trás terror e enfado,
Por mais que a realidade tu degrades...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23381
Do quanto se me sentira abandonado
Nefastas as manhãs, dourados sonhos
Aonde ainda houvera um belo prado,
Meus dias prosseguindo em vão, medonhos.
O quadro muitas vezes revelado
Momentos que julgara mais risonhos
Apenas o reflexo do passado,
Mergulho nos espaços tão tristonhos.
Bisonhos os desejos de quem tenta
Viver a paz que nunca mais tivera.
Nos olhos da ilusão, cruel pantera
A morte se apressando violenta
E o fardo que carrego sendo imenso,
A um tempo mais feliz? Jamais propenso...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23380
O tempo em que se perde já chegando
Mereço tal destino, a morte em riste,
Pudesse ser ao menos bem mais brando,
Mas sei que ao dom do amor ninguém resiste.
Não pude decifrar querida, quando
O coração se fez amargo e triste,
No quanto desejei, mas mergulhando
No vago deste mar, o medo insiste.
E trama outra saída; não resisto,
Oferto em sacrifício cada sonho,
E o quadro se desfaz, nada componho,
Percebo em cada esquina um novo Cristo
Acorrentado aos vãos de um mundo injusto,
E acreditar na sorte, agora eu custo...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23379
Pudesse dia a dia acreditar
Nas ondas que na praia já se esfumam,
As dores tão freqüentes me acostumam
A ter em minhas mãos demônio e altar.
Nas aquarelas várias ao pintar
Belezas que vagueiam e se aprumam,
Diversos dos caminhos em que rumam
Os raios luminosos do luar.
Aos pés de quem desejo, mas não creio
Ainda ser possível ter nas mãos,
Os versos mais audazes; teimo e crio
Crivando o pensamento neste anseio,
Mesmo sabendo serem todos vãos,
O grito solto ao vento, no vazio...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23378
A mente inda receia algum ocaso,
E nada mudaria enfim meu Fado,
O quanto se mostrasse degradado,
Ao menos não teria rumo ou prazo,
E quando mergulhando neste acaso,
O gosto amargo resta demarcado,
Levasse uma esperança que ao meu lado
Um tempo mais feliz ainda aprazo.
Mas vendo um ser incômodo e indefeso,
Soltando sobre mim o imenso peso,
Faltando uma saída, aonde possa
Viver tranqüilidade que ora ausente
Por mais que outra verdade ainda tente
A vida não passou de tosca troça...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23377
Pudesse n’alguma ilha ter descanso
E a vida se moldasse mais tranqüila,
Porém ao sonegar qualquer remanso,
Veneno a cada passo se destila.
E o quanto de esperança ainda alcanço,
Distante da cidade, rua ou vila
Os pés sobre estas cordas finas; tranço,
Funâmbulo insensato em vão desfila.
Ao menos quem soubesse aonde encontro
Além de tão somente desencontro
Semente que permita bela lavra.
Não pude me calar, sigo em pedaços,
Do mundo que sonhei; só meros traços,
Fazendo da esperança vã palavra...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23376
Movido tão somente pelo medo,
Terrores invadindo o pensamento,
Pavor a cada dia em incremento
Aonde poderia a paz: degredo.
E quando alguma luz; parca, concedo,
Numa explosão insólita inda tento
Fugir dos meus fantasmas, mas atento
O tempo decifrando este segredo.
E o fim que se aproxima dita as normas,
Imagens delirantes tu deformas
E os arcos se tornando mais estreitos.
Num pesadelo envolto em sangue e guerra,
A sorte vaga à solta e se desterra
Os rios mudam cursam, secam leitos...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23375
Imensa torvação meus sonhos tinge
Em rubros tons, matizes mais sanguíneos
Buscara tão somente teus fascínios
Porém a solidão feroz me atinge.
Uma alma que deveras cedo finge
Deixando no passado seus domínios
Ainda traz temores. Elimine-os.
Senão a cada dia nova esfinge.
Palavra muitas vezes desconexa
A sorte se moldando ainda indexa
Vestígios de uma sombra assustadora.
Mesquinhas alvoradas não virão,
A morte mostra o rumo e a direção
Orquestrando esta paz já redentora...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23374
Dantescas emoções, barcos sem rumo
Expressam o vazio que me deste,
E o quanto sem ninguém já não me aprumo,
Distante do caminho em que vieste.
O corte se aprofunda e logo assumo
Rasgando cada parte desta veste,
A pele- que em verdade é um resumo
Da pútrida carcaça que reveste
Um fétido e banal pária sem nexo,
Por mais que se pareça mais complexo
Ao fundo esta paisagem nada diz,
Apontam-se no céu nuvens escuras,
E quando pelas sombras tu procuras
Não vês numa sarjeta este infeliz...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23373
Um velho fingidor, tolo farsante
Que sabe muito bem usar o dom
De ter em suas mãos, música e tom,
E segue o seu caminho cambiante.
Na vaga sensação de um mero instante
Por vezes disfarçando algum batom
Escuta sem ouvir, sons de um pistom
Cavalga este vazio, galopante.
E o quanto se mentindo vai ou vem
No fundo nada sabe sobre alguém,
Porém toca profundo dentro da alma;
Bufão e muitas vezes menestrel,
Nas mãos contendo o inferno, bebe o Céu
Gerando a tempestade que ora acalma...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23372
Andara com meus pares juntamente
Vivendo o que talvez não mais seria
Além desta quimera, o vento guia
Mereceria a sorte; esta inclemente.
Nos bares em que adentro se pressente
Invés de riso e glória, a sintonia
De seres em que a vã melancolia
Tomara quais reféns, completamente.
Agora não pressinto outro caminho,
Seguindo acompanhado e até sozinho
Num átimo mergulho no meu ego.
E quando imaginara alguma luz,
Percebo que ao vazio se conduz
O passo sem destino em rumo cego...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
23371
Em noites tão diversas e profanas,
Rolando os meus prazeres entre bares
As sortes muitas vezes desumanas
Até que ao conheceres e notares
Que embora caminhasse por semanas
Nos antros, velhos guetos, lupanares
Enquanto mais distante desenganas
Pudera ter ao menos um motivo
Dizendo deste modo que hoje vivo
Carpindo minhas dores sem destino.
No quanto desejei e me perdi
Volvendo o meu olhar encontro a ti,
E embora isto desdiga, eu me fascino...
posted by MARCOS LOURES at Domingo, Janeiro 24, 2010
Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23540
Vislumbro em névoas densas este mundo
Aonde poderia ter vivido
Medonho este caráter percebido
No qual entre cadáveres me afundo.
E beijo cada boca apodrecida
Nefastas companheiras; súcia imensa
A morte sendo a nossa recompensa,
Pois nela se começa a própria vida.
Eflúvios destes pântanos, metano,
Bruxuleante imagem, fátuo fogo,
Já não basta sequer um brado ou rogo,
Em Lúcifer se vê o soberano,
Disformes criaturas; louca dança
Aonde se sepulta uma esperança...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23539
Nas visões de outras eras me entranhando,
Esgoto minhas forças e me entrego,
Aonde desejara paz, não nego,
Aos poucos vou também enveredando
Caminhos que me levam aos martírios
Esgotos entre solos charqueados
Revejo no final; antepassados,
Vibrando em loucos gozos e delírios.
Convulsionados corpos em desdém,
Sarcasmos e ironias, beijos podres,
Bebendo deste vinho em toscos odres
Apenas podridão inda convém
Cadáver insepulto em tal cenário,
Somente um louco ou mero visionário?
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23538
A turba de dementes me envolvendo
Expressam em delírios os seus gozos,
Os pântanos de uma alma, desairosos
Minha alma pouco a pouco apodrecendo.
Encontro os meus espectros entre tantos
E volto-me deveras aos fantasmas
Apenas evanescem-se em miasmas
Sarcásticos demônios, risos, cantos.
Especular imagem do que sou,
Na pútrida esperança, um mero riso,
Fazendo deste Inferno um Paraíso,
Somente o que deveras me restou.
E bebo cada gota deste sangue
No imenso lamaçal, horrendo mangue...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23537
Já não resisto à torpe sedução
De corpos seminus, loucas bacantes.
Mergulho nestes corpos delirantes
E entrego-me em tosca devoção.
Na fúria demoníaca de insanos
Orgásticos incestos, ironias,
A súcia se inundando qual temias
Num hormonal delírio, rotos panos,
Assim entre fantásticas figuras
Satã com seu açoite; ri-se e orquestra
O festival profano em luz canhestra
Bailando em fogo fátuo as criaturas.
Exangues os infectos carniceiros,
Entregues aos demônios rapineiros...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23536
Meus olhos entre seres mais diversos
Imaginarias formas tão complexas
Nas sádicas imagens, desconexas,
Expressam-se em penumbras universos.
Sanguíneas existências, mortos-vivos,
Esperam pelo fim, penam-se as almas
Que embora vos pareçam sempre calmas,
Mantém os seus perfis, torpes e altivos.
Mergulho nesta infame confraria,
Aonde os hematófagos se encontram,
Orgias entre insano sacrifício,
- Remetem ao passado, ao Santo Ofício,-
E as trevas tais cadáveres adentram;
Espasmos entre risos, gargalhares,
A podridão se exala em tais altares..
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23535
Encontro estes espectros, visionário
Volvendo às priscas eras onde a sorte
Trazia em seu olhar o medo e a morte,
Um mundo muitas vezes temerário
As sombras que me seguem hoje em dia
Fantasmas dos antigos ancestrais
Envoltos em penumbras, provocais
O sonho que dantesco ora se cria.
Entregue nas masmorras do passado
Abutres devorando o que inda resta,
À noite velhas bruxas, louca festa
Orgásticas figuras, céu nublado
Nos pântanos e charcos, decompostos
Os corpos entre os ossos sendo expostos...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23534
Entregue aos desvarios desta corja,
Bêbedo deste sangue em profusão,
Satânicas imagens, do porão
Um tempo em palidez e dor se forja.
Do cemitério faço o meu altar,
Dos mortos os caminhos que perfaço
Espectros entre túmulos abraço
Não quero e não suporto a luz solar,
Das sombras vou erguendo o meu castelo,
Das covas e masmorras, meus andores
Nefastas com certeza as vivas cores
Das sepulturas faço o meu rastelo
E morto, muito embora inda caminho;
Vagando pelas trevas, vou sozinho...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23533
Satã em duras hostes se aproxima,
Nefasta criatura que profana,
Imagem dos infernos, soberana
Gargalha enquanto espalha farta estima.
Alvíssimas mulheres se entregando
Num festival de insânia e de prazeres,
Mostrando aos vãos mortais os seus poderes
O mundo em luzes foscas desabando.
Cadáver ressurreto de um canalha
Exangue criatura, um guardião
Na boca deste Demo, a podridão
Aos poucos entre tantos já se espalha,
Num átimo a penumbra toma a cena
Sombria madrugada se faz plena...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23532
Desejo tanto insano que devora
Orgásticas loucuras me consomem,
E enquanto num momento vago somem,
A morte se aproxima sem demora.
Nesta fantasmagórica figura
Imagem refletida num espelho,
Nos ermos da neblina me aconselho,
Enquanto Satanás já me procura.
Sabendo desde sempre que eu insisto
Nos pórticos das sombras, meus altares,
Até que no final ao devorares
Meus restos, a alma sendo de Mefisto,
Demônios e bacantes, gargalhadas,
Adentram numa orgia, as madrugadas...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23531
Imerso na completa depressão
A morte é solução, mas inda teimo,
E enquanto neste inferno sei que queimo
O mundo se transforma em negação.
Imagem que me ronda vampiresca,
Sanguíneos os banquetes que tu queres,
E quando nos meus dias interferes
Perfilas as angústias mais dantescas.
Entregue aos teus domínios, vão demônio,
Eu bebo esta certeza que corrói,
A vida que outra vida em vão destrói
Transforma esta ilusão num pandemônio.
Sacrílega hematófaga me expõe
Espectro, a própria sombra a decompõe...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23530
Produz numa alegria, o dividendo
Uma esperança amena, calmos dias,
Além do que talvez o que querias
O amor nos conduzindo ou envolvendo
Permite amanhecer que ora desvendo
Por mais que as noites sejam sempre frias
No gozo destas belas fantasias,
O tempo mais feliz; prossigo vendo.
Fazendo do meu verso um simples canto
Abrindo o coração a tal encanto,
Sabendo ser a sorte muito clara,
Mas quando me encontrando em solidão,
Sentindo sob os pés abrindo o chão,
Diviso com os medos que guardara
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23529
No olhar de quem desejo um diamante
Prismática beleza iridescente
O amor quando se faz assim urgente
Tomando a nossa vida num rompante,
Por mais que se prossiga sempre avante
No fundo uma esperança se pressente
Dizendo deste encanto que envolvente
Permita que se creia a cada instante
Na luz que iluminando o amanhecer
Trará com toda a glória este prazer
Do qual eu não escapo e nem pretendo,
O amor sendo sincero e mais profundo,
Trazendo esta beleza em que me inundo,
Produz numa alegria, o dividendo...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23528
Enquanto a poesia cedo almeja
O velho coração de quem se entrega
A vida noutros rumos já navega
Além do que ilusão tola preveja,
Mergulho no passado e assim lampeja
A glória que julgara amara e cega,
Enquanto à esperança amor se apega,
Minha alma sem parada segue andeja
E vasculhando ponto sobre ponto
Estrelas que encontrei deveras conto
E bebo desta luz inebriante.
Vivendo sem temores nem rancores
Desfilam-se no céu diversas cores,
No olhar de quem desejo um diamante...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23527
Vencendo com ternura uma quimera
No olhar uma esperança interminável,
O quanto se pensara mais amável
A sorte superando qualquer fera,
O amor dizendo tudo o que se espera
Tornando a solidão abominável,
Além do que se fez imaginável
O sonho nos domina e já tempera
A vida de um poeta enamorado,
Um mero trovador que tendo ao lado
A bela criatura que deseja,
Fazendo da viola a companheira,
Ponteia à lua cheia a noite inteira
Enquanto a poesia cedo almeja...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23526
Razão que move toda a poesia
Nas mãos desta esperança a mensageira
De um tempo em que a razão mais costumeira
Derrama-se em loucura e fantasia.
No quanto o coração com amor cria
A sorte não se mostra passageira,
Por mais que outro caminho ainda queira
Somente num amor vejo alegria.
E quando se dourando em sol imenso,
No encanto que me trazes sempre penso
E moldo este soneto nesta espera.
Viver o grande amor sem ter perguntas,
As almas se procuram e andam juntas,
Vencendo com ternura uma quimera.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23525
Vivendo com ternura e sem rancor
Expresso em esperanças o que sei
Virá depois de tudo o que passei
Lutando pelas cores de um amor,
Apenas um eterno beija flor
Vagando sem destino grei em grei,
Sem medo do sofrer eu me entreguei
Vencendo em alegria qualquer dor.
Agora um simples calmo jardineiro
Que cuida com carinho do canteiro
Aonde semeara a fantasia...
Depois de certo tempo eu conheci
Felicidade enorme que há em ti,
Razão que move toda a poesia...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23524
Tramando com beleza o meu porvir
Jamais esquecerei erros antigos,
Os dias que virão serão abrigos
Deixando em calmaria prosseguir,
Quem tanto desejou só conseguir
A paz entre diversos inimigos,
Vencendo com ternura estes perigos,
Já sabe os dissabores impedir.
Naufrágios? Não pretendo nem os quero,
O amor quando se molda amargo e fero
Transforma-se em terrível desamor.
Por isso é que pretendo esta esperança
Ao qual minha alma livre já se lança
Vivendo com ternura e sem rancor...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23523
Trazendo a fantasia do meu lado
Já não suportarei a solidão
Envolto com os braços da paixão
Seguindo um dia sempre abençoado,
Não deixo que me falem do passado,
As águas vão descendo o ribeirão
Até que em plena foz, numa explosão
Num oceano enorme, dita o Fado.
Assim uma esperança que me move,
E a cada novo dia se comprove
Permite que eu consiga prosseguir,
Olhando os descaminhos que passara,
A vida se tornando bem mais clara,
Tramando com beleza o meu porvir...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23522
Sequer deixando alguma cicatriz
Supero os dissabores de uma vida,
Aonde uma esperança em despedida
Trouxera um sonho amargo, o que eu não quis.
E quando de ilusões a sorte diz,
Por mais que a realidade venha e acida
Não dando a caminhada por perdida,
Retorno à mesma estrada e peço bis.
Seria redentor este momento
Aonde em paz suprema já me alento
E volto a ser quem era no passado,
Amor ditando as ordens que obedeço
Não quero e nem percebo mais tropeço,
Trazendo a fantasia do meu lado...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23521
No mundo que deveras te proponho,
A sorte se mostrando imaculada
Trazendo a nossa noite enluarada,
Moldando na existência um belo sonho.
No verso que deveras eu componho,
A vida sempre clara e iluminada,
Depois da vida inteira em quase nada,
O barco em mares calmos ora ponho,
Seguindo a direção do manso vento,
O gozo que nos ritos eu invento
Expõe um novo tempo: ser feliz,
Deixando para trás o que era dor,
Vibrando em alegrias e louvor,
Sequer deixando alguma cicatriz...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23520
As cordas que comandam coração
Vão tesas entoando melodias,
E quando as esperanças; cedo, urgias
Tramando algum sentindo e direção.
Vivendo sob as cores da paixão
O quanto se desfila em alegrias
Fugindo das fatais melancolias
Dedilho com prazer o violão,
E faço deste sonho realidade,
O quanto de prazer agora invade
Mudando este amargor em doce sonho.
Vencer as tempestades, temporais,
Chegando mansamente ao porto e ao cais
No mundo que deveras te proponho.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23519
O tempo dos temores eu deserto
E enfrento os dissabores com sorrisos,
Já não comportaria os prejuízos
Mantendo para tanto o peito aberto,
O rumo de quem sonha sendo incerto
E os dias serão todos imprecisos,
Porém em versos claros e concisos,
O amor que desejara enfim desperto.
Viver a fantasia tão somente?
Sabendo que ela é falsa e o quanto mente
É como um suicídio em ilusão,
Por isso um caminheiro segue em paz,
Bebendo tão somente o que lhe traz
As cordas que comandam coração...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23518
A paz de um grande amor; mais cedo alcanço
Enquanto sonhador em mar tranqüilo,
Se a minha poesia aqui desfilo
Procuro após a guerra algum remanso.
Vibrando de emoção eu me esperanço
Mudando a cada verso meu estilo,
O mundo que imagino segue aquilo
Que em sonhos mais fecundo já me lanço.
Não posso conviver com tempestades
Tampouco mais suporto tais saudades,
Resíduos de um amor que não deu certo.
Viver para o futuro, simplesmente,
É tudo o que mais quero; o que apascente
O tempo dos temores eu deserto...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23517
Diviso com os medos que guardara
Durante a minha vida, simplesmente,
Volvendo ao meu passado de repete
A sorte num poema se declara.
Por mais que a tarde surja bela e clara,
Uma alma não se mostra transparente
E tendo quem deveras me acalente
Jamais esta amargura desampara.
Vivendo por saber quanto é possível
Vibrar num tempo novo e perecível
Aonde o meu caminho se Fez manso.
O quadro se define e num segundo,
Nas sendas deste encanto me aprofundo,
A paz de um grande amor; mais cedo alcanço...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23516
Sem medos enfrentando o imenso mar
Por mais que as ondas sejam tão bravias
E quando as tempestades; desafias
Aprendes os segredos de um amar
Que mesmo transtornado, faz vibrar
Gerando muitas dores e alegrias,
Verão trazendo noites sempre frias
Vontade de sair e de ficar.
Mas quando as ilusões não são verdades,
Apenas restarão meras saudades
A sorte se desnuda tão concisa.
E o quanto desejei já não mais cabe,
O sonhador deveras disto sabe:
O amor que tanto eu quis cedo agoniza
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23515
Mergulho o meu viver na fantasia
E teimo como o velho marinheiro
Que sabe quando o vento é passageiro
Embora trague sempre uma agonia
Nas cores que minha alma se vestia
As sombras embotando o meu tinteiro,
O encanto que pensara verdadeiro,
Aos poucos sem resposta se esvazia
Deixando apenas mera tatuagem
Aonde imaginara uma paisagem
Que poderia a todos encantar.
Mas nada que me impeça de seguir
Acalentando um sonho no porvir,
Sem medos enfrentando o imenso mar...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23514
O olhar no alvorecer em paz se lança
Carrego esta ilusão que me sustenta
A vida sendo qual grande tormenta
Sonega ao navegante a temperança.
E quando este futuro em dor me alcança
Nem mesmo a poesia me apascenta
O sonho que a verdade violenta
Talvez me prometesse uma mudança.
Mas como acreditar se sigo só,
Atado com a sorte em frágil nó,
O medo dominando o dia a dia.
Amar sem ser amado? Que me vale,
Pois antes que este brado vão se cale,
Mergulho o meu viver na fantasia...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23513
Retrato na gaveta, amarelado
Dizendo deste tanto que te amei
E agora no passado mergulhei
Não tendo mais ninguém sempre ao meu lado,
O medo me tomando e abandonado,
Fazendo do vazio a minha grei,
Aonde imaginara ser um rei,
Apenas um vassalo desgraçado.
O rito se repete a cada verso,
E em plena solidão seguindo imerso
Ainda creio ter uma esperança
Que molde no futuro alguma luz,
Por mais que ainda pese a dura cruz,
O olhar no alvorecer em paz se lança...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23512
Traria num encanto a solução
Quem tanto procurou amor imenso
E quando no passado ainda penso
Perdendo qualquer rumo e direção
A sorte se transforma em negação
Apenas no vazio sigo tenso,
O quanto me entreguei em fogo intenso
E o mundo disse sempre o mesmo não.
Agora um marinheiro teima em crer
No sol que há de brilhar no amanhecer
Trazendo iridescentes alvoradas.
Auroras que buscara no passado,
Um tempo onde viver trazia glória,
E agora tão somente na memória
Retrato na gaveta, amarelado...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23511
A cada novo dia se desdiz
Quem tanto se entregou e nada além
Do medo e do vazio inda contém
Apenas do passado, a cicatriz.
A vida se transforma e por um triz
Ainda caminhando sem ninguém
E quando a noite chega e o frio vem
O olhar outrora claro queda gris.
Servindo a quem jamais me desejou,
O tempo sem prazeres se escoou,
Restando em mim somente uma ilusão.
Pudesse ter de novo quem queria
O mundo revestido em alegria,
Traria num encanto a solução...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23510
Distante ouço um lamento em melodia
Qual fora algum murmúrio agonizante,
E tendo em meu olhar um diamante
Que a sorte do meu lado não queria,
A senda se mostrando então vazia,
Aonde se quisera deslumbrante
Um mundo por princípio fascinante
Aos poucos sem amor, a vida esfria
E traz nos seus caminhos o granizo,
Vivendo sem calor, eu agonizo
E sinto que jamais serei feliz.
Se tudo o que trouxeste foi o nada,
Uma alma desde sempre abandonada,
A cada novo dia se desdiz...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23509
Por mais que esta ilusão já se apresente,
Deveras não terei a mesma sorte,
Perdendo desde então meu rumo e Norte,
Amor que tanto quis; agora ausente.
O mundo se transforma de repente
E aonde quis apenas um suporte
A queda; eu prenuncio e nela o corte,
Mudando o meu destino, novamente.
Percorro este universo na procura
De quem pudesse ter tanta ternura
Encontro tão somente a fantasia.
Versando sobre sonhos, desenganos,
Apenas reparando rotos panos,
Distante ouço um lamento em melodia...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23508
Trazendo ao sonhador, o desprazer
De crer neste vazio que me deste,
O amor em solo frio, duro e agreste
Não deixa que se possa o bem colher,
Somente em poesia pude crer
No quanto claramente me quiseste,
A vida sem prazeres, fria peste,
Matando a cada dia o bem querer.
Sabia muito bem deste vazio
Porém não me acostumo à solidão,
E enquanto um novo tempo; eu fantasio,
A sorte se mostrando inconseqüente
Trazendo sempre a mesma negação,
Por mais que esta ilusão já se apresente...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23507
A vida transformando velhos planos
Não deixa que se pense no futuro,
A sorte que deveras eu procuro,
Encontra tão somente os mesmos danos.
Momentos que pensara bons, profanos,
O céu permanecendo sempre escuro,
Encontro no caminho um alto muro
Formado pelos medos, desenganos.
Quimera que se fez em fera e gozo,
O dia se moldando caprichoso
Não deixa que se veja o amanhecer,
Quem dera se pudesse ser feliz,
A vida pela vida se desdiz
Trazendo ao sonhador, o desprazer...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23506
Jamais colherei flores no jardim
Embora cuidadoso jardineiro,
O amor que outrora vira em meu canteiro
Agora se afastando assim de mim,
Vivendo por viver, tudo é ruim,
Apenas este canto, o derradeiro,
Dos males que devoram; mensageiro
Dizendo que esta história chega ao fim,
Mudando de estação, num duro inverno,
Quem dera se pudesse; não hiberno,
E volto aos mesmos erros, desenganos.
Ao menos trago em mim esta certeza
De ter lutado contra a correnteza
A vida transformando velhos planos...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23505
Seguindo sem destino, em rumo cego
Apenas como guia uma esperança
Ao mar interminável já se lança
Quem tanto desejou e nunca nego,
Enquanto este vazio; inda carrego,
Buscando tão somente segurança
A solidão aos poucos, chega e avança
Nos braços deste encanto; eu já me apego.
Mas sei que nada disso mais importa,
Agora que trancaste a tua porta,
Aporto no vazio e sigo assim,
Voltando vez em quando ao meu passado,
Somente de tristezas decorado,
Jamais colherei flores no jardim...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23504
E o gosto de um eterno nunca mais
Tomando o paladar, o que fazer?
A vida sem sequer algum prazer
Desfila os seus macabros rituais.
Pudesse ter nas mãos o porto e o cais,
Talvez não mergulhasse no querer
Que impede de sonhar e de viver
Ausente de meus olhos os cristais;
Enquanto houver a força que me impele
O amor nos transformando, toma a pele
E deixa a cicatriz que ora carrego,
Navego sem ter lastro, leme ou proa,
O pensamento às vezes, inda voa
Seguindo sem destino, em rumo cego...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23503
O amor que tanto eu quis cedo agoniza
Deixando para trás felicidade,
Agora tão somente uma saudade,
A dura tempestade nega a brisa.
E o quanto te desejo se matiza
Nas dores, na terrível crueldade,
Aonde a solidão agora invade
E a morte num momento se divisa.
Queria ter nas mãos quem se fez dona
E o barco lentamente ela abandona
Mudando este percurso, perco o cais.
Sorvendo a solidão venal herança
Restando deste amor só a lembrança
E o gosto de um eterno nunca mais...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23502
No dia que agoniza o meu tormento
Espreito a sorte intensa que não veio,
E aonde se fizera algum anseio,
Apenas o vazio que lamento
Não deixo de pensar um só momento
No quanto te desejo, mas receio,
Que amor ao descobrir um novo veio
Desvie para além o pensamento.
Causando tal tristeza no meu peito,
Aonde quis a paz, soberbo pleito,
Apenas a distância e nada mais;
Canteiro em framboesas e verbenas
Diverso deste mundo que me acenas,
Certeza; não virás aqui jamais...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23501
À luz do teu olhar, doces carinhos
Envolto pelo amor que nos guiando
Permite que se molde um tempo brando
Vivendo com denodo nossos ninhos,
Enquanto dos encantos são vizinhos
Desejos que decifro desde quando
Podemos cada sonho se mostrando
Maior do que pensávamos sozinhos.
Não posso me furtar a crer que um dia
Além de tão somente poesia
Teremos o prazer de estarmos sós
Fazendo desta espera fonte e foz
Do amor que a cada tempo mais queria
Unindo nos dois corpos, mesmos nós...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23500
Pensando no luar claro e bendito
Aonde poderia ter a sorte
De ter modificado o frio Norte
Um mundo inesperado, e mais aflito,
Enquanto no futuro eu acredito,
Propões a fina adaga que me corte,
Não tendo mais sequer algum suporte,
O canto se tornando um brado, um grito.
Alvissareiros dias que virão
Moldando com carinho esta emoção,
Somente uma ilusão de um sonhador,
Que tendo em suas mãos a dor e o riso,
Num passo tão audaz quanto impreciso,
Desbrava as duras sendas deste Amor...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23499
Pudesse ainda ter no que sonhar
Em íntimos momentos, nada vindo,
Apenas o passado; inda deslindo
E nele não mais quero mergulhar.
Tivesse esta ventura, ter no mar
Um dia inesquecível; raro e lindo
Mas sinto esta tristeza me seguindo
E tento inutilmente disfarçar.
Usando da palavra, simples versos,
Enquanto no vazio vão imersos
Os sonhos de quem tanto quis e nada.
Encontro a solidão, fiel parceira,
E a dor imensa chaga corriqueira
Negando o amanhecer, uma alvorada...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23498
Fugisse da tristeza que é fatal
Mudando logo o curso deste rio,
As horas solitárias desafio
E sinto da esperança o ritual
Mergulho neste mar e bebo o sal
Por vezes teias; teço ou já desfio
A fantasia acende o seu pavio,
E o fim se demonstrando sempre igual.
Vazio o coração de quem procura
Ao menos um momento de ternura
E não achando nada nem ninguém,
Durante a vida inteira, um sonhador,
Agora no final, o trovador
Somente uma ilusão inda contém...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23497
Olhando mansamente o teu olhar
Percebo quanto a vida se faz boa
E quando navegando a voz se entoa
No mar de teus prazeres; mergulhar,
Bebendo cada raio do luar,
Dos risos e dos gozos a canoa
Que vence as correntezas, logo aproa
No cais que imaginei sempre encontrar.
Vestindo esta emoção ser teu parceiro,
Vivenciando o gozo verdadeiro
De tantas ilusões, glorificado,
Agora não pergunto mais por que
Eu sei do amor imenso em que se vê
O mundo em pirilampos, estrelado...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23496
O amor nos aquecendo em brandas luzes
Deixando para trás medos e dores,
Colhendo nos teus olhos raras cores
Matando ervas daninhas, tantas urzes,
Vencendo os dissabores, já conduzes
Meus passos sempre etéreos, sonhadores
Por entre este canteiro, belas flores,
Que sei com tanto afeto tu produzes.
Mesclando esta alegria com a crença
Do amor que a cada dia nos convença
Ser ele tão somente a solução.
Vivenciando a glória de poder
Dizer que em ti somente o meu prazer,
Envolto nestas teias da paixão...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23495
Por mais que em águas turva a alma nade
Buscando a placidez que não se vê,
A sorte em que deveras amor não crê
Determinando sempre esta saudade.
E enquanto se desmancha a realidade
Procuro os teus sinais, porém cadê?
No livro da esperança ninguém lê
E sabe decifrar toda a verdade.
Outrora um sonhador. Hoje um farsante,
Enquanto me dizias deste instante
Pensava tão somente em meu prazer.
Agora que se finda a nossa história,
Resgato novamente da memória
O mundo que esperava em ti viver...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23494
Relembre da paixão que um dia fora
A dona dos meus olhos e segredos,
Aonde desenvolvo meus enredos
E a sorte se mostrando sonhadora,
Enquanto a solidão dita os degredos
Uma alma dentre tantas sofredora,
Buscando alguma imagem redentora,
Percebe que se escapa entre seus dedos
A Sorte num momento mais atroz,
Calando da esperança qualquer voz,
Na foz desta emoção, um mar sombrio.
Aonde se mostrara uma alegria,
Agora tão somente se irradia
No olhar enamorado; um desafio...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23493
Quando o tempo chegar e neste espelho
Tu vires tantas rugas; lembrarás
Do amor que desprezaste anos atrás,
Por isso meu Amor, eu te aconselho
A crer que na existência somos frágeis
E a vida não traduz eternidade,
Escute no meu verso esta verdade
Por mais que te pareçam bem mais ágeis
Os dedos no futuro serão lentos
Os olhos embaçados, e o sorriso
Que outrora se mostrara mais preciso
Agora sem os dentes, busca alentos.
Não queres meu amor? Termina o embate.
Só peço, por favor, não me maltrate...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23492
Perfume que encontrando; estonteante,
Nas sendas em que passas, deusa e diva.
Minha alma se mostrando ainda viva
Buscando este caminho deslumbrante
Permita-me querida que eu me encante
E molde em versos frágeis esta altiva
Imagem que de luzes fartas criva
O coração tão tolo de um amante.
No diamante exposto em teu olhar,
Viver tal fantasia sem pensar
Sequer se existirá um amanhã.
Assim permanecendo extasiado,
A poesia encontro do teu lado,
E faço da esperança o meu afã.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23491
Uma alma nívea e pura se desnuda
E mostra o quanto a vida se faz bela,
Desenha com ternura a rara tela,
Porém a sorte amarga cedo muda,
E quando vejo a dor, procuro a ajuda
Que em tuas mãos macias se revela,
A vida que seria toda dela
Aos poucos noutro rumo se transmuda.
Esfuma-se dos olhos a presença
De quem o coração ainda pensa,
Mas sabe ser distante, um mero sonho.
E quando me aproximo; amor, de ti,
Percebo que deveras conheci
A perfeição à qual eu me proponho...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23490
Por ti palpita etéreo coração
Corsário da ilusão, vago entre os mares,
Aonde tu prossegues; meus altares,
Encontram toda a minha devoção.
O Amor sendo cruel embarcação
Enquanto com carinho provocares
E contra as ondas todas tu remares
Jamais em paz terei a atracação.
Quem dera Capitão, mas timoneiro
Enfrenta com vigor tal nevoeiro
E sabe aonde aporte o seu navio.
Assim também no encanto que me trazes
Vivendo a poesia em firmes bases
As ondas e os fantasmas desafio...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23489
Qual fora do jardim alma e desejo,
Ao florescer os sonhos; vivo Amor
Trouxesse tão somente um beija flor
Imagem deste encanto em que me vejo.
Porém o coração, cruel andejo
Deveras um eterno sonhador,
Buscando a maravilha em cada cor
Traduz a imensa luta em que pelejo.
Vestindo uma esperança tão fugaz,
Aonde poderia crer na paz
A solidão se expõe inteira e nua.
Minha alma cadencia cada passo,
E quando outro caminho em vão eu traço,
A história se repete ou continua.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23488
Pudesse de uma flor saber perfumes
E crer no amor que um dia me falaste
A vida sem ninguém leva ao desgaste
É noite eternamente sem seus lumes,
Não quero que deveras me acostumes
A crer numa existência do contraste
Do amor em plena dor, preferindo a haste
À fria insensatez que logo esfumes.
Se há tanto cultivara num canteiro
Verbenas entre rosas e jasmins,
O amor como um divino mensageiro
Mudara o meu destino se pudesse
Saber que os meios negam sempre os fins
No Amor a santidade feita em prece...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23487
Minha alma transparente e apaixonada
Seguindo sem destino, bebe o pó
Ainda que tu tenhas pena e dó
Do todo que pensara, resta o nada.
Vencido pelas dores, madrugada
Retrata esta amargura de quem só
Buscara em sua vida, a pedra e a mó,
Mas sente esta ilusão dilacerada.
Voltando os meus olhares para a sala
Ausência deste alguém ora me cala
Não pude ser deveras mais feliz.
Enquanto a fantasia trouxe o riso,
Vivendo tão somente um Paraíso,
A dura realidade isso desdiz...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23486
Ao te ver partir, sonhos fugiram
Levados pelas mãos de quem eu amo.
E quando em noite fria; amor reclamo,
Sem ter as emoções que inda interfiram
Por mais que outros caminhos se prefiram,
Não tendo solução; somente um ramo
Deste arvoredo imenso, cedo e chamo
E as horas solitárias, rodam, giram...
Mergulho no passado e te resgato,
O quanto foi difícil cada fato
Depois de ter nas mãos felicidade.
Morrendo na distância sigo vão
Escravo dos anseios da paixão,
Queria ter nas mãos a chave e a grade...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23485
A tarde se desfaz nesta saudade
Que tanto me maltrata e me redime,
Na sensação dileta gozo e crime,
Procuro ter enfim, tranqüilidade.
Pergunto aonde encontro, mas quem há de
Dizer além do quanto amor estime
Prazer que na verdade não suprime
Mostrando noutra cor, a realidade.
Vencido pelos medos e temores,
Aonde imaginara belas cores,
Apenas grises tardes, nada mais.
O tempo se mostrando um inimigo
Embora solitário, enfim, prossigo
Saveiro que à deriva, busca um cais...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23484
O mar ao se entregar aos vãos penedos
Encontra a resistência e não prossegue,
Assim a nossa vida não consegue
Vencer os desafios e os segredos,
Na força imensurável dos rochedos,
A sorte desairosa já nos segue
Sem ter sequer a paz que mansa regue
As flores condenadas aos degredos.
Não pude conservar este canteiro
Aonde Amor se fez mais verdadeiro
Não tive nos teus braços, este alento,
Por isso é que deveras sigo triste,
O amor que tanto quis já não resiste
Trazendo invés de paz, dor, sofrimento...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23483
Qual fora, da palavra um operário
Usando destes versos, forma e cor,
Falando muitas vezes de um Amor,
Que sei quanto é deveras necessário.
Por vezes noutro canto temerário
Procuro demonstrar que o sonhador
Não foge nem desdenha a própria dor,
Abrindo dos sentidos, seu armário.
Não quero ser apenas relembrado
Como se fosse um tolo e de bom grado
Espero que me aceites, mas se não
Jamais irei mudar sequer um til
Somente para ser manso e gentil,
Pois neles ponho inteiro o coração...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23482
Expressa-se a Natura, em teus caminhos
Moldando com denodo cada rota,
E o Amor quando se entrega a paz se nota
Jamais caminharemos mais sozinhos.
Dos sonhos e das glórias, mansos ninhos,
Amor além da vida, não tem cota,
Tampouco com o tempo se desbota,
Não vejo em seu jardim; seres daninhos.
O quanto amor se mostra em plenitude,
Permite que este caminho enfim se mude
E o riso se tornando um ritual,
Aguarda tão somente outros momentos
Aonde apascentando estes lamentos,
Supere com ternura todo o mal...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23481
Nas águas em que banhas, de cristal
A fonte inestimável de um desejo,
Ao vê-la num instante já prevejo
O dia em que seja triunfal
O Amor cedo nos guia, e sem igual
Maior do que somente algum lampejo,
Na tenra sensação de um manso ensejo
Fazendo do prazer um ritual
Espalha-se deveras pelos campos,
Estrelas são apenas pirilampos
Reluzem sob o impacto deste encanto.
Falena que procura a clara luz,
O Amor em suas teias me seduz
Por ele e só por ele, agora eu canto...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23480
Por campos mais alegres, mansos prados
Desfila-se esta sílfide divina
E o andar da bela Diva me fascina
Matando os dias frios, degradados,
Fazendo ao meu olhar doces agrados
Imagem que se molda diamantina,
Expressa num momento o que alucina
Um velho trovador entregue aos Fados.
Quisera ter nas mãos rara beleza
Entregue aos teus encantos, Natureza
Moldando uma escultura em que o cinzel
Nas mãos de um grande artista se fez mago,
Enquanto a divindade em sonho afago,
Vislumbro nos seus olhos, Deus e Céu...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23479
Viver esta tristeza é necessário
O dia se fará depois das trevas,
E quando o amanhecer em sonhos cevas,
Decerto; tu verás outro cenário.
A Sorte se moldando no Fadário
Por mais que as dores sejam tão longevas
E dentro de tua alma, em frio nevas,
Enfrentarás; no Amor, tal adversário.
Jamais se esconda e creia ser possível
Uma alegria enorme, pois cabível
Mesmo que a porta seja tão estreita.
Quem teima e tem a glória de saber,
Somente num Amor pleno poder,
Tem a alma apascentada quando deita...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23478
Não sei se vale tanto a noite escura
Que possa me impedir de ver que o sol,
Ainda se escondendo no arrebol
Trará no amanhecer paz e ternura.
Por mais que uma alma entranhe esta amargura
A Sorte sem reveses, um farol,
Tramando maravilhas que de escol
É tudo o que se quer e se procura.
No Amor encontro a paz e as oferendas
Por mais que noutras sendas já desvendas
Momentos tão mordazes e infelizes,
Verás que quando entregue à sedução
Do imensurável deus, a embarcação
Superará com calma estes deslizes...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23477
Não quero mais falar da dura morte
Bem sei; a companheira derradeira
De todas as agruras, a parceira
À qual qualquer momento diz aporte.
Não quero uma esperança que se aborte
Tampouco a dor, etérea mensageira
Do fim que se aproxima, e corriqueira
Traçando muitas vezes nosso Norte.
Não quero ter nos olhos o pavor
Daquele que se entrega ao desamor,
E traz sempre a discórdia; e amarga a vida.
Só quero a luz que possa me alertar,
Mas mostre sob os raios do luar
O Amor, mantendo a dor entorpecida...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23476
Trazendo, o desamor, um negro manto
Aonde se escondesse a faca, a adaga,
A mão que na verdade ora te afaga
Prepara num segundo a dor e o pranto.
E quando mais mordaz o desencanto
Maior a solidão na escura plaga
Por mais que uma ilusão; o Amor nos traga;
Nestas veredas torpes; eu me espanto.
Quisera a claridade em raro sol,
Um helianto busca o seu farol
Nos olhos de quem ama e sabe bem
Cuidar com maestria deste sonho
Que em versos e sonetos eu componho
E sei que me avassala quando vem...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23475
A Sorte se mostrando amara e escura
Mudando sempre antigas direções
Trazendo nos seus olhos, seduções
Que ao mesmo tempo dizem da tortura
Quem dera se tivesse tal ternura
Que aflorando em diversos corações
Expressa a maravilha das paixões
Aonde a eternidade não perdura.
Numa ávida e suprema fantasia
A cortesia foge e o medo cria
A dor que nos acolhe e nos conforta.
O Amor sendo um guerreiro; pacifica
Maltrata em finas luvas de pelica,
Gentil, arromba a casa, estoura a porta...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23474
A Ninfa desfilando sedutora
Desnuda entre os nenúfares, a vejo
Aumentando deveras o desejo
Imagem divinal e tentadora.
Minha alma tantas vezes sonhadora
Ao ver esta beleza que ora almejo
Vivendo além do Amor, louco lampejo
Teimando com tal senda promissora
Encanta-se e num átimo se faz
Além do que pensara calma e paz
Uma expressão que traz fausta ternura.
Ao mesmo tempo um ar tempestuoso
Dizendo desventura, anseio e gozo,
Porquanto me seduz; tanto tortura...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23473
Jamais eu deixaria de querer-te,
Se tenho em ti a glória e o descaminho,
E quando nos teus braços eu me aninho
Do sonho não há quem tente ou desperte.
O Amor quando em saudade se converte
Por vezes se tornando mais daninho,
Espalha a tempestade aonde o vinho
Bebera com ternura; e a paz deserte.
Não posso me calar, por isso canto,
E vivo ainda à luz do raro encanto
Que espalhas sobre a Terra, deusa nua,
Minha alma se mostrando transparente
E tendo esta candura que apascente,
Por sobre estas procelas já flutua.
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23472
Porque deixaste aquele que querias
Além do tanto Amor; eterno amante
Nos olhos tu trouxeste o diamante
Por onde desfilavas fantasias.
Seqüelas deste encanto, noites frias,
Não vejo o sentimento qual rompante
Tampouco quero a voz que me acalante
Depois deixe deveras mãos vazias.
No Amor e só por ele inda existo,
Percorro vales, montes, cordilheiras,
As honras que ofereço; verdadeiras
Vivendo este momento e até por isto
Desnudo os meus segredos ao propor
Além da própria vida, eterno Amor...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23471
Nas ondas que desfias em teus braços,
Tormentas entre doces ilusões
O Amor ao invadir os corações
Deixando bem marcados firmes traços,
Ocupa mansamente estes espaços
Diversas e sublimes tentações
Espalhando sensíveis furacões
Estreitando deveras fortes laços,
Embora muitas vezes lassos dias
Encontram solitárias noites frias
Vazios entre tantas maravilhas.
À sombra deste encanto mais perfeito,
Por vezes maltratado, eu me deleito,
Trazendo a escuridão, imenso, brilhas...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23470
A dúvida acomete quem se entrega
Aos vários dissabores deste encanto,
Por mais que ainda em festa, o verso eu canto
A sorte se demonstra cedo cega,
O mar onde esperança em paz navega,
Tempestuosamente gera espanto
Quando das nuvens negras vejo o manto
Uma alma mais sensível não sossega.
Encontro num Amor, santo remédio
Que enquanto nos ungindo, gera o tédio
Dicotomia clara se apresenta.
Trazendo em si a paz que nos sacia
Ao mesmo tempo o medo e esta agonia
Amor é calmaria e vã tormenta...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23469
Melhor seria não ter visto a cena
Aonde renegaste o sentimento,
Deixando tão somente o desalento,
Minha alma solitária se apequena.
E enquanto a poesia se diz plena
No canto em que louvei-te me atormento
Estando desde então bem mais atento,
A lua sobre as nuvens, dor acena.
Medonhas tempestades? Não queria,
Apenas uma frágil fantasia,
O Amor sendo demais, a dor é certa.
E eu sinto que deveras te perdi,
Vivendo esta ilusão, eu via em ti
A Sorte que insensata me deserta...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23468
Houvesse desdobrado o sentimento
Aonde se moldara tal quimera
A vida não teria tanta espera
O Amor seria além deste momento.
E quando permaneço mais atento
A sorte que procuro e me tempera
Vencendo com ternura a fria fera,
Deixando no passado algum tormento.
Buscando a limpidez tão cristalina
Do encanto que deveras me domina
Terei sem ter mais dúvida o louvor
De poder caminhar, cabeça erguida
E dando enfim sentido à minha vida
Encontraria em paz, o imenso Amor...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23467
Estando desde então sob os cuidados
Do Amor que nos encanta e nos conduz,
Vivendo a plenitude desta luz
Deixando para trás dores e enfados.
De todos os desejos procurados,
O encanto que em encanto reproduz
Amenizando o peso desta cruz
Sanando do andarilho os seus pecados,
Permite-se notar neste horizonte
O sol dos brilhos fartos, nobre fonte,
Azulejando assim, um belo dia,
Enquanto houver nos olhos tal beleza,
Terei decerto, amada, esta certeza
Que Amor em tanto Amor, Amores cria...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23466
23466
Pudesse descansar depois de tanto
Caminhar sem poder ver claridade
Envolto pelos mantos da saudade,
Que causa dor e traz um raro encanto.
Ao mesmo tempo atroz, molda meu canto,
Enquanto se mostrasse na verdade
A sombra do passado que me invade,
Apascentando em dor nela me espanto.
Mas quando percebendo a tua ausência
A vida se perdendo sem clemência
Volvendo ao mesmo nada de onde vim,
Acaso poderia ter a sorte
De ter sob o comando, o Fado e o Norte,
Saudade então no Amor; teria fim...
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23465
As asas das angústias nos tocando,
Na ausência deste tanto que buscaras
Apenas no lugar chagas e escaras,
O mundo se mudando desde quando.
Houvesse ainda um tempo em que plantando
Com tudo este cuidado que tens; aras
Cevando as flores belas; perlas raras
As dores arribando em louco bando
Terias a colheita que se espera;
Porém a solidão, amarga fera
Pantera que entre tantas reconheço
Diversa deste anseio que há em ti
Mostrando em claros tons o que senti;
Amor; Bem precioso, não tem preço...
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23464
Fortuna se tornando uma inimiga
Daquele que se entrega sem defesas
Bebendo da alegria estas belezas,
Nos braços de quem ama já se abriga.
Mas quando a sorte muda e a vida intriga
Apenas entre as dores e tristezas
Já não comportariam fortalezas,
E o que era fantasia desobriga
A sorte sendo assim tola e volúvel
Problema sem resposta ou insolúvel
A vida em desamor não traz descanso.
E quando tão somente em ti percebo
A cristalina fonte que concebo
O Amor em plenitude e em paz, alcanço...
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23463
Mores tristezas têm os que não sentem
A força imensurável de um Amor,
Pudesse ser somente um Trovador,
Enquanto os novos dias se pressentem;
As horas prazerosas nunca mentem,
E moldam com denodo encantador
Um tempo todo feito num louvor
Por mais que as velhas dores atormentem.
Serenando deveras a minha alma
Na paz de um sentimento que me acalma
Percebo ser possível tal herdade
Aonde desfrutando das venturas
Terás no pleno Amor o que procuras,
Verás nos braços teus, felicidade...
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23462
Amor que perpetua-se em prazeres
Trazendo a sorte imensa para quem
Vivendo a fantasia que contém
Em si toda a magia dos quereres.
Por onde e quais caminhos escolheres
Terás no Amor; intenso e grande bem,
É sendo e tendo sempre que ele vem
Descreve com doçura seus poderes.
Porém nas sendas frias e distantes
Ausência de luzeiros radiantes
Somente a escuridão; tormento e treva.
Uma alma sem Amor é quase nada,
A vida em desamor que tanto enfada,
Nas estações diversas, sempre neva...
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2361
Perdoe se talvez houvesse tido
Algum momento em que te magoei
Por vezes reconheço, tanto errei,
O Amor perdendo assim qualquer sentido.
Por tanto que eu já tenha percorrido
Às vezes noutras sendas, mergulhei,
Diversa desta rara e bela grei,
Aonde cada sonho foi vivido.
Escusas eu te peço, e mesmo imploro,
Se em pensamentos torpes me demoro,
Eu creio ser tão grande o sentimento
Que abarca do viver cada segundo
E nele tanto quanto me aprofundo,
Escravo sou de todo pensamento...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23460
A deusa que se fez mulher e trama;
Envolta nos anseios do desejo,
O Amor no qual mergulho e assim prevejo
Eternizada em mim a rara chama
Que tantas vezes chega e assim nos chama
Por vezes na figura de um lampejo,
Ou mesmo de um delírio tão sobejo,
Mas Vênus, neste instante já nos clama.
E entregue sem defesas à loucura
Que sana e nos tortura e abençoa
Invade pela popa, adentra a proa
Ao mesmo tempo fere e assim nos cura,
Trazendo um sofrimento encantador,
Maior que o próprio Zeus, somente o Amor...
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23459
Envolto pelas tramas da Natura
Deitando em meu caminho arroio manso
A fonte dos desejos; logo alcanço
E a doce fantasia já perdura
Deixando no passado esta amargura
Que outrora fora fera; mas avanço
E tendo à minha frente este remanso
A dor enfim encontra a sua cura.
Pudesse eternizar este momento,
Estando sob as luzes de um alento
Não sendo tão somente um lenitivo,
Percebo quão o Amor se faz presente
Na imensa Natureza e em toda gente,
Por ele e só por ele, Amor, eu vivo...
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23458
Das nuvens que escondiam lua plena
As marcas indeléveis de um passado,
Aonde se quisera iluminado
Caminho mais tristonho a dor acena.
O mesmo Amor que cura e me envenena,
A Sorte se detém nas mãos do Fado
Quisera tão somente um manso prado,
Porém o desamor à dor condena.
Arando com ternura o duro solo,
O medo se desfaz; com ele o dolo
Perdido entre os brilhares da esperança.
Luzindo em noite imensa, a lua clara,
A vida noutra vida já se aclara
E o Amor entre a neblina, enfim, avança...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23457
Recolho os meus anseios; e os cultivo
Nas sendas sempre flóreas de um Amor,
Um bardo que se mostre um sonhador,
Vivendo a fantasia segue altivo.
Portanto deste encanto sobrevivo,
Outrora um simples tolo trovador,
Deixando para trás a imensa dor,
De sonhos mais audazes; eu me crivo.
Deveras merecia ser feliz.
O verso traduzindo o que se quis
Pedira ensandecido; esta presença;
Por mais que dolorido o caminhar
Quem tem em suas mãos o dom de Amar,
Decerto não há quem, no mundo o vença...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23456
O Sol ao se esconder entre os outeiros
Não deixa que se veja tal beleza
Daquela criatura que indefesa
Expressa os meus anseios verdadeiros.
Caminhos que te trazem, derradeiros,
Enfrento o dissabor e a correnteza
Vencida com vigor e com destreza
Revela após cascatas, o ribeiro
Aonde em mansidão imensa vejo
A Musa que deveras eu desejo
E beijo tuas mãos, divina dama.
Alvissareiros dias de ventura,
Depois de tanto tempo em vã procura
A voz do Amor imenso, enfim, me chama...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23455
Ouvindo do oceano o seu marulho
Chamados de Sirenas maviosas,
Encontro as nossas noites mais formosas,
E desta fantasia já me orgulho,
Na doce melodia, audaz, mergulho
As ondas muitas vezes caprichosas
Enquanto num murmúrio manso gozas
Afastam do caminho pedregulho.
E sentindo-me em paz, extasiado,
Revejo os desenganos do passado
E agora me permito um sonhador.
Numa expressão divina, bela e rara,
O mar em seus segredos nos declara
A incomparável força deste Amor...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23454
Aonde uma tristeza se desterra
O tolo desencontro se escondia.
Ardente e tão sobeja fantasia
O Amor bendito trama; e a porta cerra.
O Sol dourando agora toda a Terra
Reflete a luz intensa em que se via
O encanto da divina poesia,
Que olhar de quem desejo em paz descerra.
Quem tem a imensa sorte de saber
E ter nas mãos a fonte do prazer
Percebe quão se faz belo e luzente
Os passos se perfeitos sob a saga
Do encanto tão sublime em que se afaga
O Amor no qual o Eterno se pressente...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23453
Num manso caminhar encontro em ti
A paz que é necessária para vida,
A dor, outrora viva hoje esquecida
Traduz os dissabores que vivi.
Permito-me sonhar e estou aqui,
Refaço prazerosa a minha lida,
E a sorte que julgara já perdida
Renasce desde quando a descobri;
Em águas cristalinas, fontes belas,
As raras maravilhas tu revelas
Trazendo então alento ao andarilho
Que outrora se perdendo em noite escura
Enquanto a solidão não mais perdura
Encontro em plenilúnio a luz que trilho...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23452
À sombra destes verdes arvoredos,
Adentro por caminhos mais felizes,
Não posso me conter frente aos deslizes
E o quanto te desejo sem segredos,
Deixando no passado velhos medos,
Mudando deste céu os seus matizes,
Tu sabes e porquanto sempre dizes
Do Amor que ora nos dita seus enredos.
Atravessando em paz mansos ribeiros,
Desejos que sabeis tão corriqueiros
Expressam os anseios de quem ama.
Perfaço sem temores; de bom grado,
E entrego-me deveras ao teu Fado,
Mantendo deste Amor a eterna chama...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
23451
Relembro a rara e mansa formosura
De quem se fez a dona dos meus dias.
Peço-vos tão somente que alegrias
Que me dais, permaneça co’a ternura
Diversa de uma dor que nos tortura
E envolva com carinhos, fantasias
Jamais deixando as noites vagas, fias,
No Amor que nos guiando se procura.
Vós tendes, pois, nas mãos o meu futuro
E quando estais distante eu me torturo
Porquanto solitário, nada sou.
Ouvir-vos é saber o quão feliz
Quem tem; junto consigo o bem que quis
E em mares tão tranqüilos navegou...
posted by MARCOS LOURES at Segunda-feira, Janeiro 25, 2010
Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23613
Não digas a mentir o que pretendes
Não creio nas falácias e façanhas
Jamais suportarei as velhas manhas
Nem acredito mais nestes duendes.
Da luz que na verdade nunca acendes
Não poderia ver as tais montanhas,
E quando a cada dia bem mais ganhas
O quanto te desejo não entendes.
E dane-se portanto ou por tão pouco
Não quero nem pretendo ficar louco
Apenas no sufoco levo a vida.
Se tens ou se não vens problema teu,
O mundo noutro rumo me escolheu
A história deste amor, já vai, perdida...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23612
Apressas a subida, pois bem sabes
Que a queda na verdade não terás,
Aonde se imagina plena paz
Bem antes que com tudo ainda acabes;
Deveras neste quadro já não cabes
Tampouco outro caminho a vida traz
O mesmo que este pouco ainda faz
Permite então versões onde desabes.
Apenas no final mera centelha
A luz que na verdade se avermelha
Não diz da claridade que procuro,
Mas bem melhor alguma chama
Do que toda a verdade em que se trama
Deixando a minha vida neste escuro...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23611
Desceste com sorrisos esta escada
Depois de ter me dito o não final,
Aonde se mostrara sensual,
Agora não me diz mais quase nada.
E quando percebi nesta alvorada
O sol quarando a vida no quintal,
Bebendo deste corpo todo o sal,
Minha alma já deveras tão cansada
Não pode prosseguir e se calando,
As aves vão fugindo em louco bando,
Apenas a saudade inda me leva,
Mas tudo não passou de uma ilusão,
O verso se mostrando outra versão
De simples aversão imensa treva...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23610
Fogueiras e folias nesta festa
Aonde comemoras o vazio
Que deste de presente e que desfio,
Deixando para trás o que não presta.
A vida me garante e sempre atesta
Não vale mais o tolo desafio,
Restando ao navegante o mar mais frio,
Sonhando com calores da floresta.
Meiguice mentirosa? Que se dane.
No amor que tanto quis, eterna pane,
O verso traduzindo o sentimento.
Aguço meus ouvidos e nada ouço,
Apenas esperando o calabouço
Sequer fugir, querida, agora tento...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23609
Uns dias que se gozam alegrias
Enquanto noutros dias tempestades,
Mesquinharias ditam as verdades
Aonde com certeza interferias.
Bebendo cada gota que darias
Não fossem tão cruéis felicidades,
Nem mesmo quando em mares largos nades
As águas se demonstram bem mais frias.
Peçonha em cada beijo; tua marca
E quando a poesia em ti se embarca
Vagando por naufrágios e tormentas,
Não vês que tudo aquilo se fez vago,
E vejo dos demônios que hoje trago
Aqueles em que tocas quando alentas...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23608
O verso que é reverso da medalha
Inversas emoções, frio e calor,
No quanto a poesia trama a dor,
Ao mesmo tempo em paz, ela batalha.
E sei que quando afio esta navalha
Olhando para o tal retrovisor,
No quadro tenho muito o que compor,
A métrica por vezes me atrapalha.
Sossego que procuro no teu colo,
E quando em tempestades eu assolo
Talvez seja querendo a perfeição.
Sem ter algemas faço o meu poema,
Não vejo no rimar qualquer problema,
Apenas obedeço ao coração...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23607
Tal qual se foram tolos outros dias
Os tempos em mudança, itinerantes,
O que fora verdade, por instantes,
Somente são agora velharias.
Assim também as minhas poesias,
Que na verdade são quais debutantes
Usando vez em quando alguns turbantes
Carregam dentro da alma estas estrias.
Metamorfoses; tento vez em quando,
O teto desta casa desabando,
Matando o que restou de velho em mim.
Dedetizar o verso eu te garanto
Que mesmo não trazendo mais encanto,
Impede que se crie então cupim...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23606
Pensara ser um grande pregador
Falando para as moças, com cuidado,
À sombra do fantasma do pecado,
Ao espalhar decerto algum louvor,
Ao confundir desejos com amor,
O pobre não sabia; desgraçado,
O quanto foi por Deus também amado,
E ao profanar assim o redentor
Mesclando sacanagem com vontade,
Deixando para trás a realidade
Até com o decote ele implicou.
E para completar sua bravata
Somente com o terno e a gravata,
Roupas que Jesus Cristo nunca usou...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23605
Trazias Santo Antonio no teu quarto
Pensando num provável casamento,
Até que depois disso num momento,
O santo se mostrando mesmo farto,
Causando em teu amante um forte infarto
Invés de fantasia este tormento,
Deveras tais crendices, não agüento,
Nem mesmo compartilho ou já reparto,
Só sei que no final a moça veio
Sem medos, sem rancores nem receio,
Audaz com seu vestido decotado,
O Santo adormecido não sabia
Que a moça abandonando a fantasia
Entregou-se deveras ao pecado.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23604
As moças têm nos olhos romantismos
Que os homens muitas vezes nem percebem,
E quando as ilusões ainda bebem,
No amor encontram cedo seus batismos,
Estigmas diferentes, cataclismos,
No fundo em poesia elas concebem
Além do que em verdade já recebem,
Mas sabem como usar seus magnetismos.
As moças são deveras sonhadoras,
Mas vivem com os pés por sobre o chão,
É delas o poder da sedução.
E quando em santos vários, redentoras
Imagens disfarçando a realidade,
Transformam todo adeus numa saudade...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23603
Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!
Vendaval
Fernando Pessoa
Encontrando vazio o coração
Que outrora se fizera mais feliz,
Aprofundando a dor, tudo desdiz,
A própria sorte traz a negação,
Agora tão somente a solidão,
Aonde no passado amor eu quis,
A sorte me abandona, vaga atriz
Mostrando a cada dia o mesmo não...
Penhascos e desérticos caminhos,
Os dias que enfrentando são sozinhos
O vento traz o frio e rouba o Norte
Aonde houvera um verso, simples trova,
Agora imensa dor e negra cova,
Aguarda finalmente a minha morte...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23602
Tudo quanto penso
Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Extensão parada
Sem nada a estar ali,
Areia peneirada
Vou dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi.
Fernando Pessoa
Deveras no que penso sou inteiro
E nada impedirá tal pensamento,
Vivendo imensamente este momento,
Jamais eu mudaria este tinteiro
Deserto em que mergulho, verdadeiro,
É o que decerto sou, e sem alento,
Tampouco no não ser eu me atormento,
Onde jamais estou, nisto me inteiro.
Sem nada a estar nem ter prossigo ali,
Da vida que por certo eu já vivi
Areia muitas vezes peneirada.
Numa extensão parada, vagos sigo
Na imensidão do nada, se prossigo,
Apenas adivinho a ferroada...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23601
Não quero navegar, bastando então
Que possa em liberdade caminhar
Por entre as maravilhas do criar
Tramando sempre ao fim a criação.
Se a vida inda pudesse agigantar
Tornar mais evidente uma emoção
Tocando mansamente a sensação
E dela conseguir já decifrar
A essência que transborda-se em meu sangue
Por mais que seja anêmico meu verso
Poder ao atingir todo o universo
Até que no final um corpo exangue
Ajude a evolução da humanidade
Na mística da Raça que me invade...
parafraseando Fernando Pessoa
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23600
Leão mostrando a força em sua juba,
A sorte tem diversas variáveis
Por vezes em caminhos intragáveis
É como ouvir o solo de uma tuba.
Que faço se não como mais jujuba
E o diabetes mostra inalterável
O pé se demonstrou ora amputável
Procuro um tratamento e vou pra Cuba,
Ao menos o charuto é de primeira,
Na escola te encontrei porta bandeira
Nesta estação primeira, quis verão,
Metade do que faço é por engano,
O resto, meu amor, me causa dano
Apenas neste verso a diversão...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23599
Salvando num arquivo os meus poemas,
Eu sei que no final não valem nada,
Jogados pelas ruas na calada,
Apenas romperão minhas algemas,
Não quero ter nas mãos jóias e gemas,
Apenas o que outrora em madrugada
Uma alma tão distante quão cansada
Pensara ter nos olhos, meros temas.
Selando a minha sorte, odor mais acre,
Rompendo da esperança qualquer lacre
Eu acredito e até mesmo acrescento
Não faço e nem farei sequer um préstimo,
Nem mesmo por acréscimo este empréstimo
Somente por alento sigo atento...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23598
Descrevo como vejo a realidade
E nada me censura nem se atreve,
Se trago em minhas mãos calor ou neve
A vida me pertence, eis a verdade.
Não quero que meu verso sempre agrade
Senão eu não seria assim tão breve
Inspiração entrando em franca greve
Já não suportaria qualquer grade.
Matando os desafetos com palavras,
Usando para tal as minhas lavras
São larvas que virão à ser crisálidas.
As armas são trabucos e facões
Não quero ter senhores, soluções,
Se as minhas poesias são esquálidas...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23597
O mundo em tantas voltas volta atrás
E mostra em mil revoltas, liberdade
O sangue que se escorre sempre traz
Depois de certo tempo, a claridade,
E quando o verso encanta e satisfaz
Demonstra do cantor a qualidade,
Porém sendo em verdade um incapaz
Prefiro retratar a realidade.
Embora muitas vezes traiçoeira
Bandeira que demonstra várias cores;
Nos lábaros mais belos, os louvores
Da sorte que virá já não inteira.
Verás que um filho teu esquece a luta
E sabe muito bem porque reluta...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23596
Permite, no Seu Reino, Satanás
Depois de perdoar os seus enganos
Do arcanjo decaído em novos planos,
A Terra conhecendo enfim a paz
Imagem; semelhança se desfaz
E Deus que é o maior dos soberanos
Ao ver a derrocada dos humanos,
Um claro amanhecer agora traz.
Edênicos prazeres rebrotando,
O amor que era total, se demonstrando
A dor da morte, enfim, agora ausente.
E sente-se o perfume da esperança
Que renovada força já se lança
Numa ânsia que se torna mais freqüente
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23595
O sol refaz aos poucos seus fulgores
E o ser humano morto e sem morada,
Apenas o cadáver deste nada,
Que um dia transbordou medos e horrores,
E quando sobre os corpos nascem flores,
A vida se mostrando renovada,
Da podre criatura desgraçada
Nem sombra, Deus escuta então louvores.
Demônios se destroem; vão ao Céu,
Cumpriram desde agora o seu papel,
E o arcanjo que era fogo se faz paz.
Redime-me deveras a serpente,
E o Pai sendo em verdade onisciente
Permite, no Seu Reino, Satanás...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23594
Gerando outros fantasmas, novas eras
E a Vida sobrevive à própria vida,
Da carne agora exposta e apodrecida,
No salivar intenso destas feras,
Estraçalhados homens são quimeras
A humanidade enfim em despedida,
A Terra num momento agradecida,
Aos pouco toda a glória regenera.
Depois desta nefasta mortandade,
Sem ter quem a destrua nem degrade
Natura se entregando sem temores.
Aonde a podridão sempre reinara,
A luz já se tornando bem mais clara,
O sol refaz aos poucos seus fulgores...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23593
Imensa multidão de canibais
Vagando sobre corpos decompostos,
Os ossos entre os vermes vão expostos,
Orgásticos e loucos bacanais,
Momentos entre tantos rituais
Demônios entre os mortos sempre à postos
Revezam-se e deveras recompostos
Etéreos e sombrios carnavais,
Medonhas criaturas, ritos trágicos,
Os olhos dentre as sendas quase mágicos
Risonhos caricatos, bestas feras,
Entoam as canções e ladainhas,
Os vermes sobrevivem entre as vinhas
Gerando outros fantasmas, novas eras...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23592
Apenas de Satã se escuta a voz
E a legião de lúbricas bacantes
Tomando toda a Terra em vãos instantes
Mergulham-se e devoram todos nos.
Aonde se pensara mais atroz
Os risos das quimeras triunfantes,
Feridas entre cortes terebrantes
Certeza do vazio logo após,
E tudo num momento se transforma,
A pele decomposta se deforma,
E o gozo se espalhando, e muito mais.
Dos poucos que sobraram, negra sina,
Explode na fatal carnificina
Imensa multidão de canibais...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23591
Cumprindo a mais amarga profecia
Fantasmas entre espectros mortos-vivos
E os ritos mais macabros, são altivos
As trevas sonegando uma ardentia.
A morte do planeta se anuncia
Entre fogueiras tantas, finos crivos,
Pastores se tornando mais nocivos,
Soberbos demoníacos audazes
A lua se perdendo, nega as fases
E a escuridão se espalha sobre nós,
Trombetas disparadas pelos cantos,
Aonde houvera paz, os desencantos,
Apenas de Satã se escuta a voz...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23590
O intenso gargalhar de Satanás
Vestindo-se de lavas, fogaréus,
Mergulha deste inferno, adentra os Céus
E bebe dos arcanjos toda a paz.
Num passo mais terrível e mordaz,
Arranca dos fiéis os alvos véus
E explode num momento os bons ilhéus
E um pandemônio então logo se faz.
As criaturas sacras e benditas
Eternas lamparinas e infinitas
Percebem que o holocausto se anuncia.
Verdade apocalíptica se espalha,
Nas mãos deste demônio uma navalha
Cumprindo a mais amarga profecia...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23589
A lua morre atrás desta montanha
Deixando putrefeita esta ilusão,
Matando o que restara da emoção,
A sorte desvairada já me entranha
E quando imaginara noutra sanha
A vida muda logo a direção,
Entregue aos desacordos, sempre o não
Resposta que minha alma não estranha.
Morresse então seria imensa glória,
Não tendo nem as sombras da vitória
Medonhas criaturas; perco a paz.
Aonde esperaria um riso franco,
Encontro o dissabor e não estanco
O intenso gargalhar de Satanás...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23588
Abortando deveras a semente,
De nada me valeu o sacrifício,
À beira do terrível precipício
A morte se tornando então premente,
O fim da leda história se pressente
Aguardo tão somente o velho ofício
Da bala que penetra, este orifício
Marcando o que deveras, a alma sente.
No infausto de viver, apenas resto
Deitando este vazio que ora empresto
Ao medo feito insânia que me entranha.
A boca que me beija e agora escarra
O sol já se escondendo, escura barra,
A lua morre atrás desta montanha...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23587
Na morte que virá cedo, alucino
E a cada novo dia nova dor,
Aonde imaginara campo e cor,
Apenas o vazio e o desatino.
Acordo o que restara do menino
Que um dia se fez manso e sonhador,
Porém sem ter mais nada pra propor
Nas mãos da morte vejo o vão destino.
Argutas maravilhas se disfarçam,
Os olhos entre as trevas já se esgarçam
E deixam que se veja tão somente
A negra escuridão que se aproxima,
Amortalhado sonho, dita a rima,
Abortando deveras a semente...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23586
Eu vejo nos teus olhos, fria fera
A sanguinária deusa que me bebe
E quando se demonstra e se concebe
Nas garras afiadas da pantera
Aonde imaginara mansa espera
O fogo feito em lágrimas recebe
Aquele que esperança inda percebe
E nela tão somente se tempera.
Aguardo o meu final, em cena atroz
Das criptas e masmorras solto a voz,
Mas nada se compara ao desatino,
Voraz no qual adentro em frialdade,
Aonde imaginara liberdade,
Na morte que virá cedo, alucino..
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23585
Nesta sorte intragável, eu me arrisco,
Cadáver em total putrefação
Buscando tão somente algum perdão,
O gozo que tivera; eu já confisco.
O mundo se tornando mais arisco,
No fundo o que me resta, a negação
Depois de tanto tempo sempre em vão
A morte se apresenta qual petisco.
Das sombras que me deram como herança
Amortalhada luz de uma esperança
Vulgarizada e estúpida quimera.
Não posso me calar frente à verdade
E mesmo que a palavra desagrade,
Eu vejo nos teus olhos, fria fera...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23584
Mas sei que no final, virá ninguém,
Por isso me despeço num soneto
E quando nos teus braços me arremeto
Bebendo cada gota que contém
Enquanto a madrugada inda não vem,
Medonhas ilusões; já não prometo
E tomo do veneno, adentro o gueto
Aonde a poesia dita o bem.
Nefastos tais espectros do passado,
O beijo que me deste, amortalhado,
O gozo de um prazer é quase um risco.
Dos pélagos de uma alma entorpecida,
Procuro reviver o que, perdida,
Nesta sorte intragável, eu me arrisco...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23583
Numa ânsia que se torna mais freqüente
A fúria de um passado me condena,
E quando a podridão tomando a cena,
O olhar quase mendigo, se apresente.
No quanto quis e nada se fez gente,
Tampouco a boca amarga ainda acena
Se a lua em despedida se fez plena
A morte encontrarei em seu poente.
Mesclando poesia e realidade,
Vivendo por saber que a claridade
Por mais que seja errônea, um dia vem.
Mumificados sonhos, abandono,
Quisera algum momento a mais de sono,
Mas sei que no final, virá ninguém...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23582
Na festa que em si trágica dizia
Dos gozos entre rastros esquecidos,
Mergulho sem pensar os meus sentidos,
Expresso na ilusão, a fantasia
Que embora tantas vezes me traria
Os dias entre pedras repartidos,
Aonde se estendera em vãos gemidos,
A morte da sincera poesia.
Não posso me furtar ao ver a escória
Legada para todos pela história
Sutil e deformante caricata,
A mão que te acalenta, a que destrói,
Prazer que te apascenta, o que corrói
A sorte à qual te entregas, a que mata...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23581
A lira silencia enquanto o bardo cala-se
Deixando como herança apenas poesia
Que expressa ao mesmo tempo o mundo que queria
Distante do fulgor expresso em algum Palace,
Do muito que dissera em versos tristes; fala-se
Somente do que outrora em expressão diria
Sorvendo de uma estrela a imensa fantasia
E o corpo em cremação, ainda teima. Estala-se.
Não poderia ter sequer a sorte plena
Da mansidão divina aonde a morte encena
Algum festivo ocaso, envolto em negritude.
Porém ao se perder dos tantos que gostara
A morte na verdade, em bálsamos declara
O que tão frágil vida espera quem a mude...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23580
Já o Loures não sou.... Que palhaçada
Bocage merecia outro final,
Escrito com certeza por boçal
História muitas vezes mal contada.
No fim da minha vida é minha alçada
Falar deste canalha ritual
Que mostra na maior cara de pau
O Cristo sendo exposto na calçada.
De tantos pecadores eu garanto,
Deus deu o seu perdão; mas, entretanto
Ao vendilhão o açoite; mas contemplo
Que a corja nesses dias continua,
Só que vendiam tralha em cada rua
Agora vendem Cristo no Seu templo...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23579
Não é difícil crer neste Jesus
Tampouco compreender o que dizia,
No amor e no perdão, tanta alegria,
Assim é bem mais fácil nossa cruz,
Porém quando um pastor qualquer conduz
Rebanho vai entrando numa fria,
É tanta confusão que então se cria
Deixando bem mais longe a clara luz.
Pecado é garantia de salário,
Metade deste povo é salafrário
Do otário que esta turba podre engana
Não é a salvação que agora importa,
É muito estreita eu sei, do Céu a porta,
Cuidado que o seu lobo quer é grana...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23578
Pecado é ganha pão de meio mundo,
Não fosse Satanás pobre pastor,
O padre sem ter nada o que propor
Seria tão somente um vagabundo?
E quando me confesso mais imundo
Pedindo algum perdão mesmo um louvor
O dízimo cobrado é um favor
Pedágio sem o qual não me aprofundo.
Batismo com certeza tem seu preço,
Assim no casamento um adereço
A mais custa aos nubentes e o aluguel?
É tanto azeite para esta engrenagem
Que até me parecendo sacanagem
Viagem muito cara: Igreja ao Céu...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23577
Cadela em pleno cio faz a festa
Coitada da infeliz, estupradores
Diversos em matizes, várias cores
Até que de uns dois, três ou quatro gesta.
Depois em plena selva ou na floresta
Os lobos entre lobos caçadores,
Devoram os mais fracos, perdedores
Canibalismo é tudo o que inda resta.
O roubo da comida, simples sorte,
Cabendo ao mais esperto uma atenção
Leão come filhote de leão,
A lei que sempre impera: a do mais forte.
Humanidade dela já dá cabo
O que nos freia um pouco é o Diabo...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23576
Antes do entendimento da presença
De um Deus e de um Diabo malfazejo
Reinava sobre todos; o desejo
E nele tão somente a velha crença.
Abraão com sua irmã é natural,
E Lot com duas filhas de uma vez,
Jamais passou por ser insensatez
O incesto abençoado era normal.
Em nome de Javé a morte é santa,
Os saques são comuns, estupros idem,
Pra Jeová, decerto tudo bem,
Barbudo com mais nada já se espanta.
Até que veio alguém que de uma cruz
Mostrou toda a verdade e a clara luz...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23575
Já não suporto mais hipocrisia,
Vencer os desafios não é fácil,
Por mais que a moça seja bela e grácil
Ainda traz a velha fantasia.
Calão se for do baixo ou se é de cima,
Não mudando o sentido do que falo,
Se é falo ou se é pipoca; eu já me calo
Senão pode esquentar demais o clima.
Meu filho me mandou para a pariu
Aonde ele escutou esta bobagem,
Se o mundo se entregou à sacanagem
Nem por isso serei grosso ou gentil,
Meu verso não é feito com tesão,
Também não sou escravo da paixão...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23574
Não sou vitoriano nem velhusco
Tampouco quero ter falsas morais,
Aonde são prazeres anormais
O mundo se tornando bem mais brusco,
Se orgasmos entre festas inda busco
Não sou somente hedônico; boçais.
Falsos conservadores são fatais,
Porém em toscas sombras não me ofusco,
O sexo com certeza é natural
E chego a te dizer: essencial,
Nasceste por acaso de outro jeito?
Não quero ser somente um tolo orgástico,
Mas posso te dizer sem ser sarcástico,
Quem sabe exercitando faz direito...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23573
Das gregas ilhas vejo no passado
Farta sabedoria em gozos vários,
Momento divinal, velhos fadários
À eternidade sempre condenado
A poesia, um dom abençoado,
Ao qual se devotaram visionários
Por mais que agora esteja nos armários
Há tempos o futuro revelado.
Em Lesbos maravilhas foram feitas,
E se hoje nos sonetos te deleitas
À lésbica e soberba poetisa
Tu deves o prazer que agora tens,
Num verso heróico dou meus parabéns
Àquela a quem em glória se eterniza...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23572
Dionísicas loucuras, festas risos,
Entregas sem limites nem pudores
Enlanguescidas fêmeas, multicores
Em toques violentos e imprecisos,
Aonde se pudesse ter certeza
Os laços se rompendo por segundos,
Nos vinhos e nas carnes, vários mundos
Seguindo a mais diversa correnteza.
E lúbricas serpentes, gargalhares,
Obesos cavalheiros, podres damas,
Em sáficos prazeres, fartas chamas,
Na imensa profusão destes altares.
Impérios desabando e o gozo aflito
De um povo que pensara-se infinito...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23571
Erótico senhor, deus das loucuras
Encontro em tuas flechas os delírios,
Vencendo com prazer velhos martírios,
As dores e os temores, cedo curas.
Expressa-se em prazeres transbordantes,
Delícias entre ritos sensuais
Nas festas e soberbos bacanais,
Em meio ao sortilégio das bacantes,
Um fauno se entregando, insaciável,
Sacrílegos festins, vinhos e sexo
Sem ter qualquer juízo, perco o nexo
Mergulho neste mundo incontrolável.
E bebo dos delitos e pecados,
Lúbricos caminhos desvendados...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23570
Sentindo o fogo ardendo em cada veia
Bebendo destes goles prazerosos,
Adentro maravilhas, sonho gozos,
E a sorte num momento me incendeia,
O fogaréu que aos sonhos vida ateia
Momentos delicados, caprichosos,
Caminhos sem pudor, voluptuosos
Atado sem defesa à tua teia.
Penumbras entre beijos e mordidas,
As horas vão passando em fúria e riso,
Passamos dos limites e medidas,
Jamais alguém se deu com tanto fogo,
E assim ao perceber o Paraíso,
Orgasmo interminável nem um rogo...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23569
Netuno com sua ira em mar revolto
Procelas e borrascas, sem bonança,
Aonde imaginara uma esperança
O mundo sem destino; segue solto.
E quando a voz do vento; ao longe escuto
Preparo-me deveras para o ocaso,
A vida sobre a Terra tem seu prazo,
Porém inda resisto e até reluto,
Mudasse este destino, mas Netuno
Explode em maremotos fúria imensa,
A morte em paz seria a recompensa
Erguendo alguma prece a Zeus e a Juno
Descubro ser inútil, tal apelo,
E ao final só resta, em dor, sabê-lo...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23568
Seguindo por estradas mais formosas
Adentrando caminhos e arvoredos,
Os dias me contando os seus segredos,
A cada novo encanto; cevo rosas,
E vejo entre estas árvores frondosas
A fonte cristalina e entre meus dedos
Cumprindo deste Fado, seus enredos,
Estradas entre flores, maviosas.
Ouvindo a flauta doce, penso em Pan
E bebo este ar tranqüilo da manhã
No amor é necessário que acredite
Quem sabe decifrar da natureza
Detalhes que ela expõe com sutileza,
Vislumbrando nos prados, Afrodite...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23567
Gozando este prazer de ter comigo
A bela criatura que se fez
Expressão mais completa da altivez
Na qual encontro a paz do eterno abrigo,
Trazendo neste olhar o que persigo,
O Amor que em tanto amor mais do que vês
Permite que se veja o Deus que crês
Um Pai além de tudo, irmão e amigo
Acenas com sorrisos e convidas
Ao bem maior que existe em nossas vidas
No encanto deste amor inigualável.
A fonte dos desejos em teus lábios,
Momentos delicados, raros, sábios
Num mundo se tornando agora, amável...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23566
O nada transformando-se no nada
Aonde poderia crer na luz,
Ascendo ao vão inferno; e a mão conduz
À negra solidão tão ansiada.
Especulares sombras dominando
A cena transtornando as ilusões
Demônios vão chegando aos borbotões
Porões escurecidos, me tomando.
À parte dos fantasmas vejo a imagem
De um soberano ser, cruel visão
Que tendo um cetro escuso em cada mão
Reinando na nefasta paisagem,
Em meio à névoa extensa, ri-se, audaz
Em lúbrico delírio; Satanás...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23565
Deitado sob a lua eu te imagino
Desnuda maravilha a quem me entrego,
Por mares bem tranqüilos se navego,
Ribeiro delicado e cristalino,
E quando isto; percebo e me fascino,
Abandonando a dor que inda carrego,
Em rimas bem mais pobres eu me apego
Tomado pelo amor, santo destino
Quisera declarar-me em versos belos,
Tramando em fantasias os castelos
Aonde poderias ser rainha,
Porém um pobre e tolo sonhador,
Não tendo quase a nada a te propor
Deseja que tu sejas sempre minha...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23564
Na decomposição dos seres vivos
A fome se matando em mortes tantas,
No eterno movimento, risos, mantas
Por quer sermos pernósticos e altivos?
A própria natureza traz seus crivos
E ao vê-los com certeza desencantas,
Da imensa podridão que tu decantas
Benéficos cadáveres. Nocivos?
Se deles somos feitos e refeitos,
Por que então teríamos direitos
De comandar a vida se é da morte
Que nós sobrevivemos, e deveras
A fera que se fez entre mil feras
Pensa ser diferente a sua sorte?
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23563
O verso que emolduro em tantas alegrias
Dizendo desta forma o quando necessito
Falar deste momento aonde mais que um grito
Expresso o que bem sei ainda em sonhos crias
Emoldurando em sonho o quanto fantasias
Trazendo para a terra o universo infinito
Estrelas que percebo expressam cada rito
Num êxtase supremo, aonde poderias
Dizer do teu demônio embora em cores frágeis
Os dedos no poema expressam versos ágeis
Mordazes ilusões, perpetuando assim
O quadro que deixaste em cima desta mesa,
Mesquinharia cega, aonde quis beleza,
Negando a correnteza esmaga o que há em mim...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23562
Numa ânsia delicada em formas tantas
Beleza que desfilas pelas ruas,
Mergulho nos teus braços; vejo em luas
As formas constelares com que encantas
O bardo sonhador; cedo agigantas
E enquanto tu levitas e flutuas
Marmórea fantasia que cultuas,
Delírios entre sonhos, logo plantas;
A vida em tua vida traz a sorte
Brindando ao teu prazer esqueço o corte
E vibro na fantástica alegria
Ao salpicares astro quando passas
Dourando com delírios, fartas graças
Desmanchas em teus passos, fantasia...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23561
Amigo e companheiro de caçadas
Adentrando estas selvas, em Diana
A deusa protetora, a soberana
Que nos permite sempre as mais ousadas
E belas entre matas, caminhadas,
Jamais a minha seta em vão se engana,
Nos cervos e narcejas já se explana
Bem sucedidas horas; tanto agradas.
Adentrando estes campos verdejantes,
Aonde se buscara diamantes
As mãos de vários deuses e pastores
Cevando as esperanças lança e seta
Na glória de um cantor, simples poeta,
Prazeres muitas vezes redentores...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23560
Somente por ditosa e bela dama
Suspira o coração deste poeta,
Que a sorte sendo rumo, sonho e meta
Ao mesmo tempo adoça e já reclama,
Presença que mantendo a mesma chama
Deveras cada dia me completa
Moldando a fantasia que repleta
Minha alma em melodias, mansa trama.
Bebendo desta fonte cristalina
Que enquanto me sacia e me domina
Permite que eu consiga ser feliz,
Eterno enamorado, nas paixões
Encontro os meus caminhos, direções,
Na glória insuperável que assim quis...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23559
Sentindo estremecer os pés cansados
Expostos aos diversos espinheiros,
Os dias que percebo derradeiros
Não sabem nem verão campos ou prados.
Apenas em demônios disfarçados
Os risos entre gozos corriqueiros,
Dos pântanos, meus leitos costumeiros
Os dias entre dias desgraçados.
Arfante e sem domínio a besta fera,
Expondo suas garras, mostra os dentes
No olhar avermelhado dos dementes
A sorte num escárnio já me espera,
Após emanações pútrido gozo,
Sarcástico demônio, prazeroso...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23558
Quisera em verdes prados, clara fonte
Apenas um pastor com seu rebanho,
O sol deitando luzes no horizonte
Pensando em minha diva desde antanho,
Após este arvoredo um belo monte
Aonde houvera Ninfas eu me banho,
E aguardo que entre as matas já desponte
A Musa à qual entrego amor tamanho.
Diana percebendo os meus anseios
Esvanecendo em paz tantos receios,
Trazendo esta pastora que em meus braços
Deitando tantos sonhos e carinhos,
Transborda em fartos beijos, raros vinhos,
E Zeus compadecido, estreita os laços...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23557
Vislumbro em teu olhar a castidade
Na alvíssima beleza em que se expõe
O mundo nos teus braços recompõe
O que perdera outrora em qualidade,
E tendo esta visão que tanto agrade
A sorte num segundo me propõe
O verso que esperança em paz compõe
Negando desde já qualquer saudade.
Ausentes deste olhar, os dissabores,
Espalhas nos canteiros, belas flores
Fulgores deste sol enamorado.
E em ti depois de tanto, eu pude ver
Que a vida guarda em si farto prazer,
Prossigo o meu caminho do teu lado...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23556
Numa harpa desenhavas melodias
Aonde imaginara em cada acorde,
Um mundo aonde o gozo nos aborde
Diverso que em versos tu dizias.
Magérrima e dantesca criatura
Que em meio aos temporais, se fez profana,
Enlanguescida e tosca soberana
Mortalha te servindo de moldura.
Visões que demoníacas nos tomam,
Caminhos que procuras, espectrais
Na abóboda dos sonhos, seus vitrais,
Mosaicos e arabescos que se assomam.
Quasímodos estúpidos servis,
Reinando sobre a corja; mas gentis...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23555
Saudade descorada pela vida,
Na fátua sensação do nada ter,
Aonde pude após evanescer
Sentir a mão deveras já perdida.
Enquanto nos seduz, cruel acida,
E mata a cada instante o teu prazer,
Não vejo nela como amanhecer
Se traz toda a verdade destruída.
Destroços ambulantes; podre e inerme
Sensação que eterniza cada verme
Moldando eternidade do vazio.
Neblina amortalhada que nos segue,
Saudade tendo quem sempre a carregue
Eternizando o inverno amargo e frio...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23554
Os vermes me devoram pouco a pouco,
Adentram o intestino e meus pulmões,
Vagando por diversas direções
Matando em própria vida um pobre louco.
A podridão se faz a cada instante,
Meus pés denotam cedo a turva cena,
Nos dedos avançando-se a gangrena
A amputação prevista e debridante.
O quinto pododáctilo direito
Mumificado expõe a realidade,
A morte se aproxima e quando invade,
Sobrevivência é um rumo bem estreito.
Acordo e mal percebo o odor intenso,
E, tosco, num futuro ainda penso...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23553
Espalhando-se ao vento a cabeleira
De um ébano; formada, em raro brilho
Ao ver tanta beleza, maravilho
Minha alma se entregando não se esgueira.
Tu tens em teu olhar a derradeira
Vontade de seguir em manso trilho,
Do amor não mais encontro um empecilho,
Augusta fantasia traz cegueira.
Não posso me furtar a tal desejo
Que enveredando os sonhos, dizem luzes,
Não tendo em meu caminho pedras, urzes,
A vida em plena paz ora prevejo,
E espalhas pela casa o teu perfume,
Falena entorpecida segue o lume...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23552
Mansão aonde espíritos vagueiam,
Celebram em sanguíneos sacrifícios,
A morte enaltecendo tais ofícios
Os restos que ficaram se rastreiam
Num brinde feito em pútridos fluídos
Os rastros se espalhando pelos quartos,
Esquartejados corpos, novos partos,
Banquetes por demônios divididos.
Diviso em névoa densa os meus escombros,
Escórias do que outrora se fez gente
E tudo numa orgástica vertente
Os erros inda pesam sobre os ombros.
E as sombras me revelam o que fomos,
Da fruta proibida, simples gomos...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23551
Minha alma entregue aos gozos da peçonha
Que molda o meu futuro, e me incandesce,
A sorte não se crendo nunca tece
Além do que esperança ainda sonha.
Nos olhos a mortalha me envergonha
E o quadro feito em dor, ternura e prece,
Já não me ouvindo mais, agora esquece
E um tempo em desventura se componha.
Erguido sobre os restos, as carcaças
Dos homens que pensaram liberdade,
Ao fim da leda história, esta inverdade
Mostrada quando em risos esfumaças
E tramas num intenso gargalhar
A morte neste imenso lupanar...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23550
Qual fora um mensageiro destas flores
O gozo da esperança se perdendo,
A sorte não passando de um adendo,
Aonde poderia ver as cores
Embalde mergulhei em vãos amores,
E o dia pouco a pouco anoitecendo,
Mistério em desencanto; não desvendo,
Tampouco caminhando aonde fores
Sabendo que em teus rastros e pegadas,
Somente a imensidão que não aguardas
Negada a cada dia. É sempre assim.
Das doces violetas e verbenas
A morte se moldando enquanto acenas
Matando sem pensar o meu jardim...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23549
Uma engrenagem vil e sem proveito,
Mesquinhos os anseios deste ser
Que tendo em suas mãos algum poder
Pensando ter na morte, o seu direito,
Insânia que nos toma, não aceito,
E vejo todo dia apodrecer
Imagem que desvenda o anoitecer
Eterno em que deveras me deleito.
Desonra que polui esta Natura
A deusa se mostrara bela e pura,
Porém ao ter gerado a raça humana,
Mal percebia o quanto estava errada,
E agora a cada dia mutilada,
O verme sem pensar, tudo profana...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23548
Etéreos sentimentos, vagos sonhos,
Fenômenos diversos, e o vazio,
Assim após a morte o desafio
Se molda em ritos trágicos, medonhos.
Pensara num momento em paz ou guerra,
Delícias ou martírios, treva ou luz,
Porém a morte à morte nos conduz
Na escuridão imersos, sob a terra.
Uma alma se sossega e volta ao zero,
Mergulhos em profundos precipícios,
Voltando para os nossos vãos inícios,
Sem riso ou dor intensa, assim espero.
E a morte num momento revelada
Trazendo simplesmente o eterno nada...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23547
As normas que criaste; agora vãs,
Numa esterilidade se desfazem
E quando esta verdade enfim te trazem
Desenhas falsos quadros e amanhãs.
Orquestras em mentiras o futuro,
Não sabes dos espectros que virão,
No sangue que espalhamos pelo chão,
Esterco produtivo que procuro,
Cadáveres que agora tu empilhas,
Mesclados com escusas esperanças,
Provocam nos demônios festas, danças,
A Terra se inundando em maravilha
Do esgoto se refaz a vida e a sorte,
Negando com firmeza a própria morte...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23546
Hirto ao perceber farsas inglórias
Escarro sobre os corpos; sigo a sina
Da mão que se mostrara uma assassina
Envolta nestes gáudios das vanglórias;
Envolto pelas névoas, vou soturno
Erguendo cada morto qual troféu
E sanguinário abutre em seu papel,
Revezam-se rapinas turno a turno,
E quando enfim retorno das profundas
Esbarro nestas farsas dos mortais,
Disfarces entranhando tais chacais
Mundo em podre eflúvio; logo inundas
Bebendo cada gota liquefeita
Da carne apodrecida, já desfeita...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23545
Minha alma aniquilada encontra a morte
E nela a solução dos meus anseios
Aonde ainda houvera algum receio
O fim das esperanças mata a sorte.
E em meio às vãs neblinas, podridão,
Açoites explodindo em minhas mãos,
Os dias foram toscos, tolos vãos,
Encontro tão somente a escuridão.
Das cores e alegrias já me afasto,
Perpetuando o escárnio; intensa dor,
Incrível que pareça, este torpor
Tornando o mundo amargo e tão nefasto.
As trevas dominando o que restara
Da vida que pensara calma e clara.
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23544
O olhar mortiço e frio desta fera
Que aguarda tão somente algum descuido,
Bebendo todo o sangue e qualquer fluido
Na insânia destemida se tempera.
Cadáveres se espalham pelos cantos
Desnudas podridões, saques diversos,
Demônios sobre os ossos vão dispersos,
Entoam ladainhas, velhos cantos.
E enquanto se preparam para o fim,
Nas mãos o frio açoite vergastando
As semi-vidas toscas molestando,
Estupros entre incestos no festim.
A turba se confunde em formas várias,
Eternidade em lavas temerárias...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23543
Entranho neste estranho labirinto
Aonde sem saída nada vejo
Senão este abortar de um vão desejo,
O quão inda sonhara agora extinto.
Farsantes e dementes criaturas,
Espasmos entre risos, palavrões,
O sangue se escorrendo aos borbotões
A sede insaciável nele curas,
Esperança esquecida nos portais,
As lavas consumindo o que inda resta
Sombrias garatujas, louca festa,
Numa expansão de ritos hormonais,
Satã com seus demônios, nada fala;
Observa este ir e vir na horrenda sala...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23542
Perdida no passado a mera lenda
Da sorte que talvez trague a esperança
Apenas um resíduo na lembrança
A morte cada farsa já desvenda.
Encontro após o túmulo a verdade
Em formas mais diversas, podridão,
Minha ama na fatal putrefação
Das dores e terrores tem saudades.
Efêmeros prazeres; aproveites
Que tudo se deforma totalmente,
Quem pensa eterna paz, não sabe e mente
Apenas nos vazios, os deleites;
O Céu inalcançável, mera imagem,
Caótica e terrível paisagem...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
23541
Emanações diversas e sombrias
Espectros de um passado sob trevas
Disformes multidões, podres catervas
Tal qual antes do fim tu percebias.
Medonhas criaturas, noite eterna,
O látego explodindo nos costados
Demônios entre corpos destroçados,
luz se afasta da pálida caverna.
E vândalos destroem tal cenário,
Satânicas bacantes, loucos vermes
Ossadas espalhadas já inermes
Insano passageiro, visionário
Em meio às podridões, carnificinas
E louca entre fantasmas te alucinas...
posted by MARCOS LOURES at Terça-feira, Janeiro 26, 2010
REFLEXOS DO PASSADO EM LUZ SOMBRIA

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