sábado, 29 de janeiro de 2011

MITOLOGIA INUÍTE

MITOLOGIA INUÍTE


Rachel Attituq Qitsualik: O cosmos inuíte não é governado por ninguém. Não há uma figura divina seja maternal ou paternal. Não há deuses criadores do vento ou do Sol. Não há punição eterna na vida futura, assim como não há punição para crianças ou adultos na vida presente

1

Adlets

Hematófagos monstros que surgiram
Numa mistura feita em cão – mulher
E o quanto se apresenta no que quer
Diversas sortes trazem e surtiram

Dos dez filhotes, cinco são caninos
Que cruzando o oceano noutro instante
As raças européias doravante
Trazendo em seus anseios tais destinos,

Os outros cinco; Adlets e desde então
Dos monstros mais atrozes vejo a face
E deste ser indômito se trace
O tempo noutro prazo e dimensão,

Erqigdlit, descendente destas feras
Temíveis criaturas, quais quimeras.

2

Idliragijenget

Idliragijenget é na verdade
Local onde este espírito venal
Purificando possa em outro astral
Seguir o seu caminho à claridade,

Quidlivun traz na lua o paradeiro
Que tanto se deseja em calmo tom,
E o mundo se desenha agora bom,
Erguendo da esperança o seu canteiro.

Adlivun este solo improdutivo
O Idliragijenget aonde eu vejo
Diversas divindades, num ensejo
Aonde se desenha o quanto crivo

De sonhos e temores, dia a dia,
Na sorte mais atroz, dura e sombria.

3

Agloolik

Espírito que vive sob o gelo
E ajuda os pescadores, caçadores
E nele tantos sonhos ao propores
Expressam dimensão em raro zelo,

O quanto se pudera sem desvelo
Vencer tantos temíveis predadores,
E assim cada momento enquanto fores
O mundo de tal sorte possa vê-lo

E o tanto que se sente em tom suave
Sem nada que deveras tanto agrave
O passo de quem busca a melhor sorte,

Assim se resumindo neste fato,
Benignidade então; vejo e constato
Trazendo a quem deseja raro aporte.

4

Aipaloovik

Aipaloovik um deus que em mau presságio
Expressa a morte e mesmo a vilania,
Um vândalo cenário que se cria
Da sorte e da esperança este naufrágio,

Dos esquimós a vida por um fio,
Destruição e caos são corriqueiros
E os tempos entre medos verdadeiros
Caminhos onde o tanto desafio,

E sei desta mortalha que se tece
A cada instante em fúria, febre e neve
E quando de tal sorte o tempo atreve
Restando uma esperança noutra messe,

Um mundo em aridez imensa traz
O tempo num cenário mais mordaz.

5

Akhlut

Já no Estreito de Bering se apresenta
A face mais atroz, diversa e rude
Uma orca que num lobo se transmude
E gere esta faceta mais sangrenta,

Tramando a cada instante outra tormenta
A morte não sacia em plenitude,
E a fome toma então dura atitude
E dos homens e feras se alimenta.

As pegadas de um lobo rumo ao mar
Denunciam tal monstro tão voraz
E o quanto se deixara para trás

Presume que talvez; irá voltar
Destarte este cenário em dor e caos
Mostrando os vãos instintos sempre maus.


6

Akna

A deusa que traduz fertilidade
Regendo sobre o parto traz após
O nascimento em paz a imensa voz
Do quanto poderia e já se agrade,

Marcando em leve tom felicidade,
A benfazeja deusa molda os nós
E destes laços vejo dentro em nós
A vida numa rara claridade,

Maternidade trama amor perfeito
E quando vejo assim eu me deleito
Nas ânsias desta imensa mãe que dita

A sorte no bom parto, a proteção
E nesta mais sublime direção
A sina se anuncia mais bonita.


7

Akycha

Akycha representa o intenso sol
Que reina por seis meses sobre o céu
E deste luminoso e intenso véu
Domínio sobre todo este arrebol,

Tomando no verão este farol
Reinando com beleza em seu papel
Seis meses quase some, e segue ao léu,
Porém depois retorna em raro escol,

Assim quando se vê à meia noite
Akycha dominando este horizonte
Aonde noutra face já se aponte

E mesmo sendo o frio raro açoite,
A imagem consagrada luminosa
Diversa maravilha se antegoza.

8

Alignak

Alignak dominando inteiro o clima
Reinando sobre as águas, ondas, luz
Eclipse, terremoto, ora produz
E nisto toda a sorte se aproxima,

O quanto deste sol também se estima
Marcando o que pudera e traz em jus
Caminho quando possa e nos conduz
Traçando muito além do que suprima

E molda com beleza e fantasia,
Gerando ou mesmo até destruiria
São forças sem igual da natureza

E deste rumo feito inconsistência
A vida se mostrando em tal ciência
A cada novo instante; outra surpresa.

9

Amaguq

O deus que representa uma trapaça
Lupina criatura traz assim
O quanto poderia em ledo fim,
E o mundo num instante se esfumaça,

O todo que deveras sempre passa
O corte se anuncia dentro em mim,
Apenas o que pude e de onde vim
A sorte se desenha amarga e escassa,

Amaguq representa a humanidade?
Talvez retrate mesmo o que degrade
Mostrando a mais cruel face, real.

O quanto se transcende em dor e medo,
Gerando o mais atroz em desenredo
Num ato tão voraz quanto venal.

10

Amarok

Esta entidade traz em sua senda
O nascimento e a vida aonde traça
Do caribu o quanto mesmo faça
Além do que deveras se desvenda,

Enquanto na verdade ali se atenda
Necessidade feita em glória e caça
Depois de certo tempo, mais escassa
E tanto quanto possa assim se renda,

Amao um lobo rude e gigantesco
O ser que se mostrando mais grotesco
Alimentando-se também da mesma sorte,

Porém seleciona sem querer
Os que sendo mais fortes podem ser
Natural seleção em raro aporte.


11


Apanuugak


Apanuugak ao se mostrar diverso
Um deus que possa ser herói/vilão
Nesta dicotomia se verão
Os dias noutro rumo mais disperso

Assim enquanto penso e desconverso
Marcando o que pudesse em direção
Contrária mesmo aos dias que virão,
Seguindo este caminho, ou noutro imerso,

E a vida enfim prossegue em queda e sonho,
O quanto mais desejo eu decomponho
E tento novamente sem sucesso,

Ardis diversos trazem mesmo rumo?
Aos poucos sem sentido algum me aprumo
E a mesma ladainha eu recomeço.

12

Asiaq

Do clima e seus tormentos e alimentos
A deusa dominando traz o quanto
Às vezes noutra face eu mal garanto
Ou bebo os temíveis sofrimentos,

Vagando sem destino, pensamentos
E neles cada passo em desencanto
E sei do que pudera em tal quebranto
Entregue aos temporais, audazes ventos,

Assim nesta volúvel face eu vejo
O quanto se traduz em novo ensejo
O tanto que se dera sem razão,

Meu mundo noutro mundo se desenha
E sei do quanto possa em fogo e lenha,
Da seca à tempestade e inundação.

13

Ataksak

Ataksak deus do céu e da alegria
Marcando com seus brilhos e negrumes
Os dias entre sonhos e perfumes
No quanto com certeza poderia,

A sorte se anuncia mais sombria
Enquanto as dores; vejo em tais cardumes
E de tal forma nunca mais aprumes
Na sorte desdenhosa e mesmo fria.

O tempo sem proveito nada traz,
A face que se vendo, mais mordaz
Expressa a negação de uma esperança;

Mas quando em alegria vejo o céu,
Esqueço do ferrão, sorvo do mel
E o sonho noutra face então se lança.

14

Atshen

Atshen representando um canibal
Espírito que tanto ronda quem
Tentando superar o que inda vem
Num ato tão constante quão venal,

A vida mesmo sendo desigual
Permite que se creia e veja além
O tanto quanto possa e já provém,
A sorte num cenário em ritual,

Maléfica verdade dita o quando
O mundo num instante desabando
Gerando o que tentara e não consigo,

Apenas solitário caminheiro
Sem ter sequer descanso enfim me esgueiro
E tudo se transforma em desabrigo.

15

Aulanerk

Benigna divindade rege o mar,
Também as ondas e marés e via
O quanto se traduz em alegria
Depois do mais diverso caminhar,

Vasculho o que pudera desenhar
E sei da minha sorte mais sombria,
Mas quando se aproxima novo dia
Nada me impedindo de sonhar.

Aulanerk traduzindo a redenção
E nela outros momentos se verão
Ousando em plena paz e claridade,

Risonho caminhar em noite bela
E assim o quanto quero se revela
E o tempo em luz serena hoje me invade.


16

Aumanil

O benévolo espírito que amável
Expressa desta terra o quanto anseia
Na caça que se faz vejo a baleia
E nela o que pudesse em tempo arável,

O mundo se desenha imaginável
E reina sobre tudo e devaneia
Marcando com ternura o que rodeia
Gerando este momento interminável.

Aumanil nos trazendo a paz enquanto
O tempo mais suave enfim garanto
Vencendo os meus temores, indo em frente

E a cada novo dia o quanto traga
Tornando bem mais doce cada plaga,
E a vida não permita ou atormente.

17

Eeyeekalduk

O deus da saúde e medicina
Trazendo a cura ou mesmo aliviando
E assim neste cenário desenhando
O quanto a sorte traz e já fascina,

O tempo noutro instante determina
O mundo num cenário bem mais brando,
E sei que de tal forma desde quando
A vida se mostrasse cristalina

Eeyeekalduk demonstra esta certeza
E rege com perícia e com destreza
Mudando tantas vezes nosso fado,

Plena sabedoria em rituais
E neles outros passos magistrais,
Sentido a cada dia demarcado.

18

i'noGo tied

Um talismã que traga a boa sorte,
No Alasca desenhando esta figura
Que a própria vida gera e configura
Traçando com firmeza um claro Norte,

A casa dos espíritos comporte
O quanto tanto quero e se assegura
Na face mais suave que perdura
Trazendo da esperança este suporte,

E quando i'noGo tied trago aqui
Levando na alma o que embebi
Desta fortuna rara: ser feliz,

Vencendo o quanto trame
E nisto superando este ditame,
Vivendo o que deveras sempre quis.


19

Idliragijenget

Idliragijenget, deus do oceano,
Regendo a cada instante o que pudera
E traz no coração a primavera
Enquanto noutro ponto, soberano.

O quanto na verdade e sendo insano
Apascentando na alma a dura fera,
O mundo se desenha noutra esfera
E quando solitário eu me profano,

Mas sei do que se mostra no horizonte
Na hercúlea fantasia em verdes tons
Momentos magistrais em raros dons

Aonde cada sonho ora se aponte
Tramando como ponte uma esperança
Que ao todo num instante ora se lança.

20

Igaluk

Igaluk representa a bela lua
E o deus que se fizera muito além
Marcando o quanto possa e sempre vem
Enquanto a sorte dita e sempre atua.

Ao ver a sua irmã; Malima, nua
No escuro a violenta, mas, porém
Retorna e demarcado muito bem
A sorte noutro rumo já flutua,

Cortando os próprios seios e servindo
Ao seu irmão e algoz, Malima traça
Gerando a dita amarga e tão escassa,

Depois deste momento; perseguindo
Por todo este cenário em arrebol,
Enquanto nele há lua, nela o sol.


21


Ignirtoq

O deus que representa esta verdade
Trazendo em plena luz o que pudesse
E disto se desenha esta benesse
E tanto quanto possa ou não agrade,

Moldando no final sinceridade,
E vendo o que talvez; em sorte tece
A vida que decerto ora obedece
O tanto quanto quero e agora invade,

Ignirtoq traduzindo este cenário
Marcando com ternura o meu fadário
Gerando em esperança o quanto quero,

Somente se desenha no sincero
Caminho feito em tanto destemor,
Do sonho que se queira, refletor.

22

Inua

Inua representa a alma e doma
Já toda a natureza em plenitude,
Nos animais nos vegetais não mude
Até nos minerais ela se assoma,

E nisto se apresenta o quanto toma
Com mais cuidado uma atitude
Nos rios e montanhas, num açude
Em toda a criação sobeja soma.

E quando se respeita tudo então,
Certeza de uma sorte em dimensão
Maior do que pudesse simplesmente,

Natura traz esta alma sempre viva,
E quanto mais atroz caminho priva
Tormenta sem igual já se apresente...

23

Ishigaq

Qual fosse alguma fada, algum duende
Minúscula presença se anuncia
E deste ser em luz a sincronia
Nem mesmo uma pegada já desprende,

Flutua sobre a neve e não se prende
E quando noutra face se veria
O tanto que se quer ou poderia
E ao pleno desejar agora ascende.

Uma pessoa em tal miniatura
O quanto a cada instante configura
Um ente tão diverso e feito em paz,

Marcando com seu rumo o que viera,
Enfrentando deveras toda fera
Num passo mais ligeiro e mesmo audaz.


24

Issitoq


Qual fosse um olho imenso, voador,
Issitoq observando este universo
E dele novo rumo onde disperso
O canto que se fez em medo e dor,

Dos sonhos este rústico vetor
Criando sem sentido aonde eu verso
Gerando a tempestade e nela imerso
O mundo se desenha em turva cor.

A quem quebra tabus, a punição
E disto não se escapa; a dimensão
Do olhar que sobrevoa e observando

O quanto poderia acontecer,
Expressa na verdade este poder,
Ao mesmo tempo rude; atroz e infando...

25


Ka-Ha-Si

Menino que deveras preguiçoso
Vivendo nesta tribo, sem proveito,
Um dia quando em sonho no seu leito
Dissera do caminho caprichoso

Aonde o que pudera em pavoroso
Cenário se mostrando em rude pleito,
Assim este cenário em si desfeito
No mundo em plena fome, tortuoso.

E os caribus sumindo num instante
A cena que se vira apavorante;
Porém ninguém ouvira este menino,

Mas quando num momento deslumbrante
Este Davi vencendo um ser gigante
Passou a ter nas mãos o olhar divino.

26


Kadlu

Comandando o trovão, as deusas (três)
Traduzem o poder além do qual
A vida se desenha em ritual
O quanto na verdade agora vês,

O tempo se mostrando, insensatez
E o verso num diverso e desigual
Caminho desenhando em bem e mal,
O quanto caberia já desfez.

Numa explosão audaz, o que sente
Enquanto em tempestade plenamente
Expressa o que pudesse ou muito mais,

No céu ora brumoso se anuncia
Tomando em terrível agonia
A sorte nos diversos temporais.

27

Keelut

Espírito dantesco, em crueldade
Transcende ao que pudesse ou mais tentasse
A vida se transforma e neste impasse
A cada novo engodo se degrade

Deixando para trás a claridade,
O mundo noutro passo se tramasse
E olhando a desairosa e turva face
Cerceia a cada instante a liberdade.

Keelut ao se mostrar em plena dor,
Causando tão somente este pavor
E nada mais pudesse mesmo quando

O tempo sem destino e sem proveito
Marcando o que tentara em rude pleito,
Meu sonho neste fato desabando.

28

Kigatilik

Espírito venal, um psicopata
Que em violência dita o seu caminho
Mostrando em tom cruel atroz mesquinho
Enquanto num momento invade e mata,

Xamãs, os curandeiros, na verdade
São suas vítimas comuns, destarte
O quanto do terror sempre reparte
Gerindo a cada passo outra maldade,

O tempo se anuncia em dor e medo,
O corte na raiz, o temporal,
O vento mais atroz, rude e venal
A sorte num completo desenredo,

Assim se imaginando este cenário
Num ato tão feroz e temerário...

29

Matshishkapeu

Matshishkapeu, deus soberano
O espírito mais forte e dominante,
E nisto cada passe se adiante
Deixando para trás o desengano

E o Mestre Caribou noutro momento
Negando o sacrifício então dos seus
Ousando contra a fúria deste deus,
E nisto se desenha o desalento,

E assim ao praguejar contra o inimigo
Causando a mais cruel constipação
Até que este cedera e desde então,
Findara mansamente este castigo.

Na força mais audaz da divindade
O quanto se transforma ou já degrade.

30

Nanook

Regendo vida e morte deste ursídeo
Que vive na polar imensidão,
E deste desenhar já se verão
Da sorte desenhando este dissídio

Julgando pelos atos se merece
Ou não já ter sucesso na caçada
E a sorte desta forma enfim traçada
Trará ou não trará qualquer benesse.

O mundo se presume de tal forma
Que o quanto poderia não se vendo,
Apenas o que resta num remendo
Enquanto a própria sorte nos informa

Desta diversidade, luz e treva
Que a vida com firmeza em caça ceva.



31

Negafook

O deus que rege o clima e traz no frio
A marca mais audaz e mesmo rude,
E no Ártico decerto o quanto mude
E neste desenhar o desafio,

O tanto quanto possa e assim desfio,
Traçando a mais completa plenitude
E quando se moldando em atitude
O tempo num cenário em desvario,

Assenta-se deveras a poeira
E vejo muito além do quanto queira
A cena repetida refletindo,

Na gélida expressão forte nevasca
Do todo que se anseia, mera casca,
Cenário em sortilégio, quase infindo.

32

Nerrivik

A deusa do oceano traz a sorte
E rege cada pesca e toda a caça
E mesmo quando a vida é mais escassa
Numa esperança além tramando o aporte,

A vida se desenha, imenso porte
E o tempo noutro instante sempre passa,
Marcando sem temor e sem trapaça
Gerando o que deveras mais conforte,

Trazendo o provimento a toda a gente
A deusa agora trama e se apresente
Gestando dentro da alma este caminho,

E quando me percebo muito aquém
Do quanto poderia e me convém
De Nerrivik, nas teias eu me alinho.

33

Nootaikok

Dominando as geleiras, este deus
Dos icebergs regendo a direção,
E nesta mais suprema dimensão
Os dias em cenários de um adeus,

A sorte de tal forma já deforma
A imagem tão sutil que ora se vê
E o tempo se anuncia sem por que,
Marcando em discordância toda a norma,

E quanto mais atroz a humanidade,
Menor esta expressão aonde possa
Traçar o quanto outrora fora nossa
A senda desta imensa divindade,

Assim em pouco tempo se destrói
E o sonho como o gelo se corrói,

34

Nujalik

Trazendo em suas mãos; terrestre caça
Expressa o quanto possa nos prover
E nisto o mais diverso parecer
A vida de tal forma busca e traça,

Cerzindo uma esperança quando escassa
A provisão decerto eu passo a ver
E tento sem sequer esmorecer
Aonde esta vontade enfim se faça.

Meu mundo se desenha em ledo império
E tento com meu passo, sem mistério
Vencer o que viria em tom cruel,

Porém quando se vendo em discrepância
A luta não traduz a mesma estância
E deixa em minha boca apenas fel.

35

Pana

Enquanto no submundo uma alma está
Pana enfim cuidando antes que um dia,
Decerto noutro encanto se veria
E a sorte se anuncia e desde já,

O tanto quanto possa e proverá,
Nesta ressurreição em melhoria
A senda se avizinha e moldaria
No fim de certo tempo tal maná.

Na ressurreta face em plena luz,
O todo se deseja e reproduz
O mundo desenhando este futuro,

E assim quando do Adlivun soerguesse
Em cena mais gentil se percebesse
O porto que procura; mais seguro...

36

Pinga

A deusa que regendo a medicina,
Fertilidade e caça, demonstrando
Em tempo mais sereno e mesmo brando
O quanto com certeza; já domina.

Organizando assim cada manada
Aonde os caribus neste fadário
Traçassem num igual itinerário
A sorte de tal forma desejada,

Uma alma renascia em sua casa
E toda esta certeza de outra chance
Ainda que deveras já se lance
O sonho novamente nos abrasa

Impedindo que a vida ora se extinga,
Louvores canto então; à deusa Pinga.


37


Pukkeenegak

Ao proteger criança e gravidez
A divindade diz sobrevivência
Da espécie e tramando com ciência
A consciência plena já se fez,

Motivo pelo quanto o quanto vês
Expressa o que pudera em sua essência
Pukkeenegak traçando em eloquencia
O todo desenhado e seus porquês.

Também rege a costura e alinhavando
Futuro com presente demonstrando
O eterno refazer em novo passo,

Assim se garantindo tal fortuna
Enquanto com firmeza a paz nos una
O mundo se desenha em nobre traço.

38

Qiqirn

Um cão assustador, atoleimado
Embora amedrontando quem o veja
A senda que se mostra malfazeja
Mudando num segundo este traçado,

E quando sem sentido além eu brado
A vida noutro ponto ora lateja
E mesmo que maldita sempre seja
Aos poucos deste lodo ora me evado.

Qiqirn este peludo e vão canino,
Ainda que pudesse sem destino
Não tendo nem sequer onde parar,

O tempo em contratempo se anuncia
E o corte se aprofunda a cada dia
Negando onde tentasse se amparar.

39

Sedna ou Sanna

Trazendo em suas mãos, marinha caça
A divindade molda a permanência
Do povo mesmo quando em ingerência
A sorte noutro rumo já se traça,

Enquanto jovem bela em face humana
E ao ser decerto; um dia, seduzida
Marcando com terror a própria vida,
E nesta face atroz o quanto engana,

E numa miserável moradia
Seu pai noutro momento foi buscá-la
O seu amante fez dela a vassala
E o tempo se mostrara em agonia

Em tempestade o pai lançando ao mar,
E cada dedo seu, pôs-se a cortar.

40

Silap Inua

Simbolizando este éter que domina
O passo, o respirar, uma mudança
E nisto com certeza ora se lança
Gerando o pudesse em rara mina

Primária fonte aonde determina
O quanto se tentasse e a vida alcança,
Gestando muito além da temperança
O todo que deveras me alucina,

A deusa que controla cada instante
E mostra o quanto venha doravante
Senhora do destino; traz a dita

E molda o que virá noutro momento
E sendo de tal forma o que ora tento
Atento caminhar em luz bendita...

41

Tarqeq

Divindade lunar trazendo em brilho
Argêntea maravilha e molda assim
O quanto se mostrara em seu marfim
E neste caminhar ora palmilho,

E o tempo na verdade este andarilho
Traçando o que pudesse e de onde eu vim,
Marcando o dia a dia até o fim,
E neste desenhar decerto eu trilho,

Reinando sobre o céu durante meses,
Neste Ártico cenário, quantas vezes
Seus raios já guiando cada passo,

Destarte deusa nobre e prateada
Qual fosse numa tela ora pintada,
Demarca em precisão, imenso espaço.


42

Tekkeitsertok

Um mestre dominando os cervos traz
A cada instante enfim raro provento
E neste desenhar tomando assento
O quanto poderia mais audaz,

E o mundo se mostrando onde tenaz
Eu busco este caminho e quando invento
Mais livre deve ser o pensamento
De tudo o que tentasse, sou capaz,

Tekkeitsertok o deus que dita caça
E nisto a mais real sobrevivência
Gerando com denodo em eloquencia

O quanto se mostrara outrora e traça
O todo que virá em novo dia,
E a sorte que conforte cerziria...

43

Tootega

A sábia que caminha sobre as águas
E sendo uma anciã conhece o todo
Sem ter sequer nem dúvida ou engodo
Sua alma traduzida em belas fráguas,

De pedra esta cabana aonde habita
E tendo mesmo humilde dimensão
Do mundo a mais completa precisão
Ainda que enfrentasse uma desdita,

Tootega numa face mais audaz,
Do quanto poderia ser capaz
Invade o pensamento em paz e trama

Depois da tempestade, esta bonança
E quando neste instante agora avança
Mantendo dentro em nós a imensa chama.

44

Torngasoak

Divindade celeste que em poder
Incomparavelmente se anuncia
E mostra com ardor, sabedoria
E sabe a cada instante convencer,

O quanto se desvenda e posso ver
Trazendo em emoção meu dia a dia,
E mesmo quando a sorte é mais sombria
O todo noutra face me faz crer.

Regendo assim os céus, a divindade,
Expressa com superna majestade
O dom de ser além e mesmo assim,

Traçar o que pudesse em plena paz,
Deixando algum rancor já para trás
Moldando no seu mundo um bom jardim.

45

Tornarsuk

Dos submundos o deus que rege espaço
Aonde as almas traçam seu futuro
E ressurretas quando eu afiguro
O mundo num momento mais escasso,

E o tanto quanto quero teimo e traço
Vencendo este cenário mais escuro
De todos os tornat, quando o procuro
Expressa o que pudesse sem cansaço,

E mesmo das profundas avizinho
O quanto se mostrara mais daninho
O tempo sem saber do que mais possa,

Vencendo com denodo e em esperança
O tanto quero a vida alcança
E deixa para trás a imunda fossa.

46


Tulugaak

O criador da luz reinando ali
Durante este verão longo e tenaz
O quanto cada sonho agora traz
O todo que deveras mereci,

O verso se produz e sei que vi
Um mundo desenhado em rara paz,
Embora num cenário tão mordaz,
Beleza sem igual ora sorvi,

A divindade clara em plenitude
Dos sonhos transmitindo a juventude
Que esta alma inda procura mesmo quando

O tempo se anuncia desolando
E mesmo que o cenário ainda mude
Meu verso caminhando em contrabando.

47

Tupilak

O deus que rege além tantos mistérios
Aprofundando em fases tão diversas
Enquanto sobre o todo agora versas
A vida se desenha sem critérios,

Os ermos de minha alma, quais minérios
As lutas entre tantas vãs conversas
As sortes que se vendo já submersas
O tanto se perdendo em vãos impérios,

Assim o quanto sinto e nada vejo,
Apenas cada passo num ensejo
Disperso de outro fato em tal fastio,

E quando alguma luz já se anuncia
A tarde se retorna mais sombria
Embora este vazio, eu desafio...

48

Wentshukumishiteu

Wentshukumishiteu, o protetor
Da vida em pleno mar; em desafio
Ao homem que em loucura e desvario
Traduz somente imensa e leda dor,

Das lontras, focas, orcas, das baleias
A face mais atroz em tanto medo,
Assim quando se molda o desenredo
Além do quanto possas devaneias,

Rodeias com a fúria em tom atroz
Em sanguinária face avermelhando
O belo em azulejo, em ar tão brando
Agora outro cenário mais feroz

E assim devastações enquanto possa
Gerando tão somente a amarga fossa.

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