DOS DEFEITOS DO EXCESSO DE FRANQUEZA
Retornando ao folclore político, tenho uma história que já ouvi algumas vezes, com fontes diferentes, mas merece ser contada.
Segundo uma das fontes, essa história se deu em Governador Valadares, a outra fala em Juiz de Fora; mas, de qualquer forma, vamos a ela:
Havia um candidato à eleição municipal numa cidade mineira que tinha a franqueza como principal característica e isso, apesar de ser uma virtude, muitas vezes atrapalha; e nesse caso, quase resultou numa tragédia.
Nos idos dos anos 70, antes da liberalização sexual, uma das características das cidades interioranas era a existência, para deleite de adolescentes e dos boêmios, a famosa ZBM – Zona do Baixo Meretrício.
Por uma questão econômica, tais prostíbulos se localizavam, na maioria das cidades, próximo ao centro destas. Onde, após uma noite com a namorada virgem, os meninos iam satisfazer seus desejos com as “bad girls” da época.
Em Muriaé havia uma casa de baixíssima qualidade e de péssima reputação cujo nome era bem sugestivo “Beco dos Aflitos”; já em Guaçuí existia um prostíbulo com um nome até certo ponto poético: “A Flor do Asfalto”.
Nessa cidade que não pude identificar, houve um comício deste candidato a prefeito, que me permito chamar ficticiamente de Lúcio Franco; mais franco que lúcido.
No comício em plena zona, ele tentando justificar a sua plataforma política, trouxe à tona um fato que mudou realmente a economia das prostitutas.
A zona que era no centro da cidade, fora transferida por um ex-prefeito que tentava a reeleição para a periferia da cidade onde ocorreram os trágicos fatos daquela noite perdida no tempo.
Ao subir no palanque, nosso amigo começa com um discurso apaixonante, falando da desigualdade social, da falta de escolas no bairro, da falta de creches, do estado de abandono em que se encontrava a saúde, etc.
Extremamente empolgado, foi aumentando o tom da voz, à medida que os aplausos se tornaram mais intensos e constantes; até que:
Num momento extremamente infeliz, no ápice do discurso saiu-se com essa;
“E o candidato do Governo, quando foi prefeito da outra vez, cometeu o maior absurdo que poderia ter cometido. A zona era no centro da cidade, onde dava muito mais renda do que aqui, na periferia, que fica distante, para prejuízo de todos, e de todas. Vocês mais antigos se lembram, e o quanto isso foi prejudicial. Mas vocês, mais novos, se não acreditam no que estou falando, perguntem para as suas mães e irmãs mais velhas, que eram quengas na Zona antiga...”.
Nem preciso dizer como terminou a história.
Antes de o pano cair, a conta do Hospital, com direito à estadia na UTI, foi paga pelo próprio candidato que, depois dessa, nunca mais apareceu em nenhum prostíbulo da cidade, para infelicidade de Mariinha Coxa Grossa; mas isso já é outra história...
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