1
Tu me deixastes querida
Vivo agora tão sozinho.
O que irei fazer da vida?
Passarinho perde o ninho...
Já te disse de saída
Era teu o meu carinho.
Minha sorte vai perdida,
Sem ninguém, o meu caminho...
Mas meu bem, alguém falou
Esta verdade primeira.
Se o sujeito não prestou
A sorte já vem brilhar
Mas minha alma verdadeira,
Passa no mundo a penar...
2
Tu já sabes querida, do que gosto,
Do calor dos abraços, deste amor,
Tudo assim... Desse vento no meu rosto,
De poder me encontrar no teu calor.
Em todas as surpresas geniosas
Que teimam sempre teimam, sem descanso,
Da beleza da rosa dentre rosas,
No buquê que deveras me esperanço.
Em todas as roseiras do jardim,
O dia se passando sem demoras,
As flores tanto amarem, sem ter fim,
Mesmo com o passar de todas horas,
Eu quero com certeza todo amor
Que brota nos buquês, em simples flor...
3
Tu gemias no gozo em carnes nuas
Luxúrias em bacantes silhuetas,
Os lábios mais audazes, qual cometas,
Explorando os caminhos; tocas, ruas.
E vendo a sutileza em que flutuas,
Loucuras, desvarios que cometas
Deixando para trás ritos ascetas
Na fome que se mostra em vocês duas.
E eu, ao ver esta mágica pintura
Tocado por desejos, com ternura,
Espero meu momento de chegar,
Nas ondas de prazer que te incendeiam,
Nos olhos de outra ninfa já clareiam
Fogueira deste sonho em lua e mar...
Marcos Loures
4
Tu freqüentas as minhas fantasias
Povoas madrugadas sonho e glória.
Nas noites solitárias, antes frias,
Mudaste todo o rumo desta história.
Revelas esperanças tantos dias,
A vida já não passa merencória.
Que bom se me quisesses, me dirias
Do amor que se perdeu, triste memória...
Eu quero que tu penses; necessito.
Tu és a redenção de minha vida.
Meu sonho mais gostoso e mais bonito,
Um rito de alegria em salvação,
Depois de tanto tempo, alma perdida,
Me encontro em tuas asas; Ah! Paixão!
5
Tu foste para mim um novo sol
Raiando em luz suprema, dia-a-dia,
Seguia-te qual fora um girassol
Que aos poucos se inebria em tal magia.
Um sonho que se fez realidade,
Além de fantasia, simplesmente,
Contigo, eu conheci felicidade,
De novo eu me senti adolescente
Vivendo novamente a juventude,
Depois de tantos anos solitário
Trazias a esperança de um açude
Porém quando acordei, estava só,
O tempo se tornando temerário,
Restou, da caminhada, apenas pó...
Marcos Loures
6
Tu foste o meu presente mais fantástico
A vida tantas vezes nos magoa,
A chuva da saudade, esta garoa,
Tornando o coração calado, espástico.
Sorriso da saudade,vil, sarcástico,
Canções de solidão uma alma entoa,
O cheiro do café, o pão, a broa,
As flores no jardim não são de plástico.
O rio que recorda-se do mar,
Um canto de alegria do passado.
Às vezes dá vontade de chorar,
Mas quando sinto o cheiro de quem és,
O tempo novamente clareado
Tristeza já nem olha, de viés...
Marcos Loures
7
Tu foste o diamante mais perfeito
Que um dia meu olhar reconheceu.
Depois de certo tempo, contrafeito,
Sem ser aguado, amor demais morreu.
O rio da esperança é bem estreito,
Em meio a tantas curvas se perdeu,
O mar a quem pensava ter direito
Noutro lugar distante se escondeu...
Agora que me vejo aqui sozinho,
Relembro com carinho cada beijo...
No cálice da vida, o doce vinho
Depois de tanta espera avinagrou.
Mas mesmo assim, querida eu te desejo
Tu és espelho vivo do que sou ..
8
Tu foste meu pequeno talismã
Trazendo para mim felicidade.
O amor quando se dá em doce afã
Permite vislumbrar a claridade.
Portavas nos teus olhos a manhã,
Certeza da sublime liberdade.
Agora a minha vida segue vã
Sem ter o teu carinho... que saudade!
Como pude te perder na caminhada...
Eu mereço o sofrimento que hoje trago,
Distante dos teus braços, minha amada.
Quem sabe noutro dia, noutra vida,
Eu possa inda saber de cada afago
E encontre para a dor, uma saída...
Marcos Loures
9
Tu foste há tanto tempo, mas ficaste
Guardada dentro em mim, qual tatuagem,
O pensamento impetra uma viagem
Caçando cada herança que legaste;
Distância não causou nenhum desgaste,
Pensara neste amor como bobagem,
Porém a cada noite uma miragem
Açoda o pensamento; quebrando haste
Tão firme dos propósitos que eu tinha.
A noite vai passando tão sozinha
Somente o vento frio da saudade
Batendo na janela do meu quarto,
Do sonho de ser teu já não me aparto,
Quem dera se eu pudesse... Mas, quem há de?
Marcos Loures
10
Tu foste esta cabrocha que sonhei
No carnaval perdido da memória.
Recebo todo o vento que assoprei
Na morte sem sentido, sem história.
Agora o que fazer se não sou rei,
Se o rumo se perdeu, sem ter nem glória.
Do quanto tanto amor eu desejei,
Percebo que não resta nem escória.
Cabrocha, carnaval, morreram todos,
Apenas um batuque meio estranho
Surgindo doutros rumos, novos lodos,
Matando a colombina em caquexia
Da fome deste amor sequer um ganho,
Cabrocha também tem anorexia...
11
Tu foste em minha vida a mais perfeita
De todas ilusões que eu poderia
Ter, pois ao espalhares fantasia,
O amor se agigantou, qual fosse seita.
A total obsessão tomando conta
Dos olhos que buscavam teu olhar,
Sentindo esta emoção me dominar,
Minha alma andando à toa, à tona, tonta...
Seguindo cada rastro que deixaste
O velho coração perdendo o rumo.
O quanto eu te desejo ainda, assumo
E tendo na esperança um vão contraste,
Eu sinto a liberdade me tomando,
Porém felicidade, se afastando...
12
Tu foste dentre todas, a mais bela;
Porém ao te encontrar eu mal sabia
Que a vida preparando uma ironia
Vestiu em cores falsas, tal estrela.
Agora o tempo chega e me revela
Que tudo não passou de fantasia,
O olhar que transbordava em alegria
Sonhava poder ver uma outra tela.
Amaste com total sofreguidão,
Envolta pelos braços da paixão
Aquele que se foi sem um adeus.
Depois, quando cheguei em tua vida,
Imagem do passado refletida
Ofuscando,mais forte, os olhos teus...
Marcos Loures
13
Tu foste a primavera dos meus sonhos,
Tu foste a poesia que sonhei.
Sem ti, todos os meus dias são medonhos,
Em ti, toda a grandeza que busquei...
Os filhos que me deste, duas bênçãos,
Com toda essa alegria, eu te canto.
Que os dias permaneçam todos sãos,
Movidos a ternura e tanto encanto.
A filha tão amada e carinhosa,
Esposa que me orgulho de saber,
Amiga e companheira maviosa,
Dá forças de lutar e de viver.
A rosa mais formosa, a mais bonita,
Por isso eu te agradeço, amada Rita.
14
Tu finges que vai dar e nada faz,
Apenas fica assim, sacaneando.
Tu sabes que foder-te já me apraz
Mas nada, nem pedindo ou implorando.
Só sarro, meu amor, não satisfaz.
Pergunto sem resposta aonde e quando.
De tudo, por favor, eu sou capaz
Pra poder ver meu falo penetrando
Até mesmo um boquete tu não pagas,
Só fica me zoando. É sacanagem.
Acendes a fogueira e não apagas.
Sacana, vagabunda... Uma vadia
Que faz do meu tesão, tal molecagem
Desculpe te dizer: é putaria...
15
Tu finges que não quer, mas quanto queres!
Sentir penetrações e lábios quentes.
Do amor em que vieste, amor geres
Em tramas sem pudores, envolventes...
Por que temer prazer quando me deres
As chamas dos incêndios que pressentes,
Fazendo-te mais bela entre as mulheres.
Rangendo com furor, travando os dentes.
Vem logo me fazer e ser feliz.
No gozo das vontades mais profanas,
As noites destemidas, tão sacanas
Serão de certo modo inesquecíveis.
Tu sabes quanto eu sempre quis
Compartilhar os gozos mais incríveis...
16
Tu fazes maravilhas num rondel,
Porém só sei fazer tolos sonetos,
Queria um pedacinho do teu céu,
Mas o meu peito vive em torpes guetos.
Qual lua que domina vãos insetos,
Meu sonho te acompanha em carrossel,
Os teus encantos são meus prediletos,
Trazendo em luz intensa um raro véu.
Procuro-te na estrada costumeira
E não te vendo aqui, vago sem rumo.
O amor que tanto tenho e agora assumo
Fazendo da poesia uma bandeira
Que deve ser deveras cultivada,
Por mãos tão delicadas de uma Fada!
Marcos Loures
17
Tu fazes do meu peito sofredor
Gato e sapato, matas pouco a pouco.
Enquanto sem te ter eu fico louco,
Desando em descaminho, fogo amor.
O canto que se mostra sem pudor
Deixando o coração bater mais rouco,
Viver sem teus carinhos, no sufoco
Revela este relevo, sonho e flor.
Não posso mais ficar aqui deitado
Ouvindo a tua voz já tão distante
Eu quero estar contigo neste instante
Um velho sem juízo apaixonado,
Entranha fogaréus por toda a vida,
E bebe da emoção mesmo perdida...
18
Tu falas, meu amor, em casamento.
Que pensas desta vida, eu te pergunto?
Gostoso é namorar, sem sofrimento
Não tem esse negócio de andar junto.
Reclamas quando eu mudo pro outro assunto;
Eu na verdade, digo: não agüento
Só comer mussarela com presunto
No almoço, no jantar, todo o momento...
Quem dera se na vida eu fosse um pato.
O bicho que eu mais gosto e mais admiro.
De resto, na verdade eu ando farto.
Perguntas: por que pato enfim, prefiro?
Eu te falo, isso nunca foi segredo:
Jamais cabe aliança no seu dedo...
19
Tu falas que meus versos são herméticos
Talvez fossem melhor se fossem leves
Porém o que fazer se são genéticos
E as horas de viver decerto breves.
Os beijos que trocamos, tão herpéticos
No fundo me mostraram quanto atreves
A ver meus olhos mortos, apopléticos
Envolto em tempestades, frias neves.
Mas nada do que falas já me importa
Se aporto noutro porto, ancoradouro,
Quem fora, aberta a porta, meu tesouro,
Agora adormecendo velha e morta
Sorri de cada verso que eu fizer,
Mas decerto será minha mulher...
Marcos Loures
20
Tu falas que me queres. Isto é grave.
Não sirvo nem para ti, sou uma mala.
Enquanto a fantasia não se cala,
Não quero ser, decerto algum entrave.
Eu vou chamar doutor antes que agrave,
Prometo que não vou importuná-la
Quem sabe da verdade nada fala,
Eu peço um tratamento mais suave.
Quarenta graus de febre! Descobri
A causa da doença que tu tens.
Depois de conhecer diversos bens
Perdendo o teu juízo, estás aqui.
Compressa de água morna, uma Aspirina,
Resolve o teu problema. Viu, menina?
Marcos Loures
21
Tu falas deste amor em amizade,
De tudo o que já fomos, nada além...
O dia vai perdendo a claridade
Matando a doce noite de meu bem...
As nuvens transbordaram tempestade,
E nada mais, por certo, a vida tem
Senão o gosto amargo da saudade,
Do tempo que se foi, restou ninguém...
Mas peço que bendigas nosso lar,
Que fales como fôssemos amigos,
Que tudo o que se teve, sem pensar,
Perdemos num momento de loucura.
Meus braços inda são os teus abrigos,
Clareie, por favor, a noite escura...
22
Tu falas das saudades deste bem
Que tantas vezes trouxe sofrimento
O sonho desairoso sempre vem
Qual fosse tão somente um vão lamento.
Não posso me calar neste momento
E falo, minha amiga, como alguém
Que ouvindo tua voz escuta o vento
E acolhe cada lágrima também ...
Tu sabes quantas vezes eu pensei
Ter nas mãos este jogo, mas perdi.
Cevando uma esperança falo a ti
Que tudo mudará, disto eu bem sei,
Um dia tu irás ser mais feliz,
Iluminando o céu outrora gris...
23
Tu falas com teus olhos, transparente...
Não creio na metade do que dizes,
Porém, quando te vejo, de repente,
Teus olhos não escondem cicatrizes.
Amada, és tão sincera em teu olhar,
Demonstram a tua alma sem disfarces.
Permitem, sem defesa, mergulhar,
E desvendar as máscaras, as faces...
Não temo tuas dores nem rancores,
São fáceis de sentir, são como a brisa.
Carregas as delícias, esplendores,
Teu olhar, qual farol, sempre me avisa...
Em ti, toda a beleza e lucidez,
Neste teu olhar, límpida nudez...
24
Tu estiveste sempre do meu lado,
Servindo de aconchego e de esperança.
Enquanto uma alma amarga em ti descansa
O canto se mostrou desafinado.
Perdoe tantos erros. Meu pecado
É não saber de quanta luz me alcança,
Vivendo tão somente da lembrança
De um dia frio, inglório, do passado.
Guardando em mim dores e agonia,
Tristeza que inerente, propicia,
Eternos temporais que dentro da alma
Transformam toda luz em duras trevas,
Negando esta alegria que ora cevas
Nem mesmo a fantasia inda me acalma...
16125
Tu és uma sublime sonetista
E galgas com teus versos, o infinito
Vencendo a frialdade do granito
Com mãos de delicada e rara artista.
Amiga, não conheço quem resista
Ao ler teu verso esplêndido, bonito
E com palavras frágeis me permito
Dizer que estou deveras otimista
Em ter a companhia de quem sabe
Com mãos tão delicadas, talentosas
Usar com maestria este buril
Somente ao repentista agora cabe
Louvar tais poesias fabulosas
Que tornam este mundo mais gentil...
26
Tu és uma saudade tão presente
Amor que se fez vivo e deslumbrante,
No cheiro que me toca se pressente
A vida como um bem mais radiante.
A boca está distante, mas se sente
O toque tão suave, num instante.
Amor tão delicado este da gente,
Qual sonho que invade a noite, galopante...
E roça teus sentidos, te arrepia,
Te beija, te desnuda e nada fala.
Qual fosse simplesmente fantasia.
Mas é real, tu sabes muito bem,
Adentra em tua porta, ganha a sala
Deitado em tua cama; manso... Vem...
27
Tu és uma esperança sem ter fim,
A paz que eu tanto quis, encontro em ti.
Vibrando todo amor que sinto em mim,
Eu posso enfim, dizer, já recolhi
A flor maravilhosa em meu jardim,
O sonho mais bonito que vivi,
Da sorte e da alegria um estopim
Nos laços deste sonho eu me prendi
O mar de uma emoção que nunca cessa,
Amor não é somente uma promessa!
É lua que se dá tão gloriosa
Destino se forrando nestes laços
Eu traço eternidade nos meus passos
Bebendo desta fonte maviosa.
Marcos Loures
28
Tu és toda a delícia que eu sonhara,
Volúpias nestas cópulas divinas.
Devoro no teu cerne, carne rara,
E bebo do prazer em tuas minas.
Lambuzo-me de ti imerso em sonhos,
Avanço com meus lábios, teus segredos.
Profanos, insensatos, mas risonhos,
Umedecendo a boca, línguas, dedos...
Salgando de suor, o doce enleio,
Ardendo em flamejante tentação.
Mordisco levemente cada seio
E encontro na resposta um furacão.
E assim, nos nossos jogos ardorosos,
Misturas inundando, lavas, gozos...
29
Tu és toda a alegria que domina
O sonho mais gostoso que sonhei.
Teu jeito sensual, bela menina
Além de todo mar que imaginei.
No rosto delicado, minha sina
Se mostra mais inteira. Ser teu rei
Rainha desta terra cristalina
Aonde, em doce sonho te encontrei...
No mar em que navego, porto e cais,
No sonho que me doma, companheira.
Beijar-te mansamente, mais e mais.
E tu és o meu verso predileto,
A voz de uma esperança verdadeira,
Aonde, simplesmente, me completo..
30
Tu és tão bela, amada primavera.
As flores que nasceram em teus braços,
Formando uma alegria que me espera,
Deitando meu calor em teus abraços...
Essa luz na alma, mansamente acesa,
Aumentam os assédios da ternura.
Amor que é tão fugaz se torna presa,
Nas magas soluções duma candura...
O vício de buscar tanta beleza,
Por vezes, nos cegando esconde o belo.
Precisa-se saber com tal firmeza
Que amor nunca se esconde num castelo.
No lago mais vazio, com certeza,
Encontro o meu amor, minha princesa...
31
Tu és quem a minha alma procurava
Em meio a tantas pedras, descaminhos.
E quando tu quebraste meus ancinhos,
O sonho mais sublime, eu cultivava.
Mal vejo algum sentido, vendo a trava
Na trilha feita em mágoas, desalinhos,
Qual fora um alquimista sem cadinhos
Transformo inutilmente sonho em lava.
Quem ama sem limite, assim se humilha
E segue desairoso, em vaga trilha,
Perdendo qualquer rumo e direção.
Não quero sucumbir, inda resisto,
Amor em sacrifício; nega Cristo,
Espero, pelo menos, teu perdão...
32
Tu és o sol que brilha a cada dia
Em versos e palavras sedutoras.
Bebendo do prazer da poesia,
Deitando em teu remanso, nossas horas
Passando ao bel prazer da fantasia
Sem ter noção do tempo nem demoras,
Rolando em nossas tramas, ardentias
Nos gozos e nos gostos me decoras.
Navego nos teus braços mar imenso,
Rasgando os infinitos do prazer.
No amor em que, com certeza, sempre penso
Vontade de ficar e de viver
Trazendo para a vida tal bonança
De um sonho em que resiste esta esperança...
Marcos Loures
33
Tu és o meu remédio, a minha cura,
A salvação buscada para a dor.
Teu braço carinhoso e sedutor
Encharca minha vida de ternura.
Na plenitude amor que nos apura
Se mostra em magnitude, destemor,
Semeia a confiança, mansa flor,
Aguada em atenção, paz e candura.
Nós somos passageiros deste sonho
Que traz ao nosso peito, a vida plena.
Futuro mais feliz por certo acena
E nesse mar risonho, eu te proponho
Na eternidade sempre navegar,
No sol desta alegria a nos dourar....
Marcos Loures
34
Tu és o meu prazer e minha glória.
Tu és o meu caminho mais perfeito.
O brilho que ilumina minha história
O canto predileto e satisfeito.
O rumo que liberta e me incendeia,
O vendo que me traz felicidade.
Mergulho de cabeça em tua teia,
Me inundo de esperança e claridade...
Transportas nos teus olhos, os meus lumes.
Ferventes, meus desejos; já conténs.
Desculpe se me encharco de ciúmes,
Com medo das estradas de onde vens.
As fontes luminosas da amplidão,
Nasceram de teu belo coração!
35
Tu és o Meu Pastor, nada me falta,
Seguindo com firmeza cada rastro
Deixado por Aquele que é meu lastro,
Nem mesmo quando a dúvida me assalta.
À beira dos penhascos tenho o apoio
Do Deus que nos criou em tanto afeto,
Se às vezes meu caminho não é reto,
Peço Perdão. Me afaste deste joio
Que tornando minha alma pedregosa,
Levando para a senda perigosa
Aonde tem valor a falsidade,
E o gozo de um momento vale tudo.
Se, incauto, Pai Eterno ora me iludo,
Transborde no meu Peito, esta verdade...
36
Tu és o meu jardim em primavera
canteiro de ilusões, florir de sonhos,
a sorte que se fez em bela espera,
promessa de outros dias mais risonhos.
Pomar em doce fruto extasiante,
momentos de calor e redenção,
eu quero te tocar a cada instante
e ter teu corpo imerso em tentação.
Beijar a tua boca e teu pescoço,
fazer tenros carinhos, ser teu par.
Amor que a gente faz, vivo colosso,
vontade de jamais deixar de estar
ao lado de quem sabe me fazer
delícias e loucuras de prazer
Marcos Loures
37
Tu és o meu desejo mais feroz,
Mulher maravilhosa, seda pura.
Tomar-te em minhas mãos, durante, após,
Em versos e delícias, com ternura...
À meia luz, tocar-te por inteiro,
Nesta vereda linda e tão florida,
Do amor que se fez louco e derradeiro,
De uma alma que julgara adormecida...
Singrar cada centímetro do mar
De amor e de tormentas, calmaria.
Roubando cada gota do luar
Na noite sem juízo e sem vigia.
Desejo audacioso e cristalino,
Do amor que nos tomou em desatino...
38
Tu és o meu desejo mais fecundo,
Deitar o meu prazer voluptuoso
Vibrando a sensação de amor profundo,
Nesta explosão sincera a cada gozo,
De toda esta emoção eu já me inundo,
Amor a cada dia mais gostoso....
Sentindo teu anseio à flor da pele,
Morena vem comigo desfrutar
Da fome que esta fúria nos compele
Banquete que não canso de provar.
Te quero, novamente e peço bis,
Meu corpo no teu corpo encontrou paz;
Sabendo o quanto trago em cicatriz
Somente o teu amor me satisfaz...
39
Tu és o canto livre da alegria,
Vestida de emoção, minha alma clama,
Envolta nos teus braços, já sabia
De toda a sorte farta de quem ama,
Rasgando todo o véu, na poesia
Ao renovar a vida, muda a trama,
Meu canto nestes sonhos se desfia
E invade um paraíso em branda chama
Nas teias de teus braços, adormeço,
Numa alvorada em paz, o recomeço
Trazendo uma esperança por bandeira
Distante das tristezas tantas léguas,
Das lidas mais temíveis nestas tréguas
Encontro em nosso amor a luz primeira...
Marcos Loures
40
Tu és minha raiz, da vida um elo,
Que enquanto me alimenta, me sacia.
O amor que se mostrara tão singelo
Expressa em magnitude, uma alegria.
Dos sonhos eu criei o meu castelo,
Princesa que encontrava todo dia,
Nas mãos que aram delírios, o rastelo,
Sem ter tua presença... Vã sangria.
Em ti eu descobri que a vida vale
A pena pra quem sonha e quer bem mais.
Que toda esta emoção jamais se cale
Deitando nos teus braços, meus desejos,
Um barco que retorna sempre ao cais
Nutrindo-se de amores tão sobejos...
Marcos Loures
41
Tu és minha loucura, o supra-sumo
De todos os desejos que pressinto.
Viver assim distante é perder rumo,
Deixando meu vulcão quase que extinto.
Mentira se eu disser que me acostumo,
Teu cheiro em cada canto, amor eu sinto,
Te vejo em espirais no leve fumo,
Te bebo em cada gole, meu absinto.
Comer-te doce fruta em cada gomo,
Abrindo tuas belas framboesas.
Meu mundo sem teus laços não retomo,
Cavalo que se vai, sem ter arreios,
Sou rio que se perde em correntezas
Distante de teu colo, de teus seios...
42
Tu és minha expressão: felicidade!
Tu és toda a alegria que sonhei.
Perfume que traduz sinceridade.
Meu verso preferido dediquei
A quem ao me trazer a claridade
Foi tudo que o que buscara, e te encontrei.
Por isso meu amor, por caridade,
Saiba que nesta flor me perfumei...
Tu és o meu total deslumbramento
A força que me guia e me conduz.
Jamais te tirarei do pensamento.
Inebriante amor que me domina,
Procuro insano e quero a tua luz,
Neste sorriso lindo de menina...
43
Tu és mais que a razão de minha vida,
Essencial presença dentro em mim.
Sem ti, a minha sorte anda perdida
Matando última flor deste jardim.
Vontade de te ter, sempre incontida,
Refém desta emoção, amor sem fim,
Não vejo mais sequer outra saída
Senão o te guardar pra sempre assim
Qual fora mesmo a parte principal
De todos os meus ermos, das entranhas,
Conheces sutilmente minhas manhas,
Sabe cada mania ou ritual
Que faço na procura dos meus passos
Guardados dentro em ti, profundos laços...
Marcos Loures
44
Tu és esta certeza que eu buscava
Durante a tempestade em minha vida,
O quanto em ilusões imaginava
Depois do vendaval uma saída.
O amor que tanta vez alinhavava
A sina que eu julgara já perdida,
Pergunto a Deus aonde se encontrava
A deusa em sonhos sempre perseguida...
Chegaste sorrateira e quase quieta,
Sem dar sinais quaisquer calada e só
Mineiramente mudas o cenário
E o amor que ora julgara temporário
Tomando o sentimento dá um nó
E a vida agora segue mais completa...
45
Tu és essa pessoa vitoriosa
Que sempre demonstrou tanta amizade.
Uma mulher assim maravilhosa
Nos traz sem perceber; felicidade.
Espinhos ninguém sabe desta rosa
Que faz da vida brilho e claridade.
A tua voz serena e gloriosa
Em todo coração tocando invade.
Não fazes mal nenhum, somente o bem.
Amiga de verdade, eu tenho o orgulho
Se ter um bom amigo teu, também.
Tua alma transparente é deslumbrante
Não deixas, no caminho, um pedregulho.
Pureza divinal de um diamante!
46
Tu és do pleno amor, ebulição
Jamais se perderá como o vapor,
No toque sensual, condensação
Num lago em placidez a se compor.
De tanto que sonhei, será que em vão?
Eu quero, e já repito, te propor
No toque magistral de uma paixão
Viver o que nos resta, farto amor!
Sentir o teu calor, estar contigo,
Fazendo de teu corpo o meu abrigo
Numa explosão sincera e mais freqüente
Dizendo em tantos versos que eu te quero,
Querendo demonstrar quão sou sincero
Declaro quanto amor, minha alma sente...
Marcos Loures
47
Tu és dessa existência mais sofrida
Que tive por tentar ser mais feliz,
A melhor coisa em minha dura vida
De tudo o sonhei e que mais quis...
Tu és este brilhar d’uma esperança
Que trago no meu peito sonhador...
Das glórias que carrego na lembrança
Ao me lembrar de ti, eu vejo amor...
Querida, não me deixes mais sozinho.
Preciso de teu passo junto ao meu.
Nós compartilharemos mesmo ninho
Até o fim da vida, negro breu...
Tu foste iluminada e luminosa,
A mão que te esculpiu, vive orgulhosa...
48
Tu és dentre as pessoas que conheço
Estrela destacada, com certeza.
No canto que me mostra não me esqueço
De tentar imaginar em tal beleza
A forma mais gentil que em sonhos teço,
De pintar este quadro com clareza,
Nos passos desta estrela que obedeço
Sentindo em todo o brilho a sutileza...
Ao seguir os teus passos já percebo
O quanto és importante, minha amiga,
Num mar de tanta estrela, te concebo,
Estrela não cadente, mas a guia.
Teu lume me permite que eu prossiga,
Formando este pingente em fantasia....
49
Tu és amada amiga, em versos tantos,
Rainha destes sonhos e desejos.
Tomado por teus olhos, tais encantos,
Quem dera se tocasse com meus beijos.
Os dias mais felizes e sobejos,
Deitando em nossa cama, mesmos mantos
O céu em plenitude de azulejos
A chama se espalhando, fogos santos...
Assim em noite imensa, imerso em ti,
Encontrarás respostas, minha amada.
Além do que sonhei e já vivi,
Eu necessito sempre do carinho
Que rola em nossa cama, madrugada,
Forrando com prazer gostoso ninho...
Marcos Loures
16150
Tu és além de tudo, a própria vida
E em ti vejo uma imagem refletida
Mostrando o meu olhar que te convida
À festa pelos deuses já regida.
Seguindo cada passo alma perdida
Vagando pelo espaço, esquece a ermida,
Por mais que a fantasia nos agrida,
É bom poder te ver tão decidida
Dos sonhos mais audazes, convencida,
Estrela entre milhares erigida
Brilhante maravilha concebida,
Estrada divinal que, percorrida
Demonstra com certeza esta saída
Deixando esta tristeza, enfim, vencida...
51
Tu és a paz que tanto desejara
Um coração deveras sofredor,
Calando num momento a insana dor,
Decifro em ti a jóia bela e rara...
Enquanto uma tristeza desampara,
Encontro nos teus braços o calor
Que tanto procurei e num louvor
O quanto bem te quero, alma declara.
Num templo que se erige ao Deus supremo,
Ao lado deste encanto nada temo,
E sinto bem mais forte cada passo,
Assim eu poderei sorrir, enfim,
Vivendo a plenitude que há em mim,
No altar que a cada verso teu eu traço.
52
Tu és a namorada mais perfeita
Que um dia eu poderia imaginar.
De uma certeza infinda, sei que és feita
Dos raios que recebo do luar.
A vida após te ter, está refeita
De tanto que sofri, não mais penar.
Amor que trago em mim, em crença ou seita,
É tudo o que pretendo te ofertar.
Não trago rosas nem sequer espinhos,
Não vou fazer promessas nem discursos,
Tal qual se fossem rios em seus cursos
Nossos rumos traçados pelo amor,
Irão trazer magias, nossos ninhos,
Futuro dadivoso a se compor...
53
Tu és a minha sorte mais bendita
O canto preferido, o sonho imenso.
Sem ter tua presença uma desdita
Invade e deixa o mundo bem mais tenso.
Não deixe por favor, minha alma aflita
Pois saiba que somente em ti eu penso.
A pele bronzeada e tão bonita....
No gosto desta boca, recompenso
A lida desgastante – dia a dia –
Permita que te oscule devagar.
Sinto-me esfuziante na alegria
De ter o teu amor, ilimitado.
Nos sonhos maravilhas navegar
E cada vez mais sigo apaixonado.
Marcos Loures
54
Tu és a minha luz e meu destino,
Não deixe que essa vida se desfaça.
Amor que sempre fora cristalino
Não pode se esvair como fumaça.
Viver sem a promessa d’outro dia,
Viver sem esperança do amanhã.
Matando qualquer forma de alegria,
Tornando minha vida, vaga, vã...
Te quero, minha amada, como quero!
Em cada novo canto que te faço
Tu saibas quanto amor se torna fero
Se estás assim, distante do meu braço.
Envolve-me em teus beijos, minha amada
E finja que amanhã não há mais nada!
55
Tu és a minha glória feita em luz,
Palavras de carinho e de desejo,
Meu sonho a cada noite reproduz
Delícias que encontrei no doce beijo
De corpos que se entregam e vão nus
Na fúria dos prazeres. Num lampejo
Amor em si compensa qualquer cruz.
A noite se transforma em claro dia,
E entorna na alvorada, a fantasia
Cevando uma alegria dentro em mim.
A flor mais benfazeja que plantei
Castelo que em meus sonhos eu criei,
Tu és uma esperança sem ter fim,
56
Tu és a minha fada, minha sorte.
O brilho das estrelas vai contigo.
Um canto de alegria bem mais forte,
O mundo que pretendo, em que prossigo
Nos versos que não temem nem a morte,
Certeza de encontrar o meu abrigo
E cura para a dor de qualquer corte.
No braço mais gostoso e mais amigo...
Tu és a serenata encantadora
Na noite em lua cheia da esperança.
Tu és a voz mais bela e redentora
Que faz de um sonhador, bem mais feliz.
A vida do teu lado sempre avança
Do jeito que sonhei, no amor que eu quis...
57
Tu és a mais sublime inspiração,
A rosa predileta em meu jardim.
Vivendo a fantasia, na emoção,
Bebendo em tua boca, vinho e gim,
Amor que nos permite a floração,
Acendendo o pavio faz de mim,
Escravo que se entrega à sedução
Desejo nos tomando, amar sem fim.
Receba então as flores que ofereço,
Além do que imaginas; mesmo vês,
Perceba que o perfume dos buquês
Recende à tua pele, aos teus encantos,
Nem sei se tanta sorte, enfim, mereço,
Ouvindo a maravilha feita em cantos...
Marcos Loures
58
Tu és a mais bonita poesia
Que Deus tão inspirado, um dia fez.
Usando como mote a fantasia
Num ato de perfeita lucidez;
Tocado por um gesto de magia,
Ao ver-te fui perdendo a sensatez,
Agora com mil versos de alegria
Espero te encontrar uma outra vez;
Ser teu amante eterno, enamorado,
Vibrar em nosso amor por toda a vida.
Contigo caminhando do meu lado,
Irei por todo canto, em toda parte.
A sorte do teu lado, decidida,
Só quero, de uma vez , é conquistar-te...
59
Tu és a mais bonita destas flores,
Trazendo meu silêncio, minha paz...
Em volta do teu cheiro, teus olores,
Amores que vivemos; manso cais...
Preciso te sentir, perfume e gosto.
Ao menos te imagino, pele nua;
O vento vai roçando no meu rosto
Pressinto teu desejo, carne crua...
Eu sei dos teus receios, nada falo...
Amor é complicado de entender;
Nos sonhos, toda noite já te embalo,
E espalho meu carinho... Te querer!
De todas as mulheres. Acredita...
Minha amada, tu és a mais bonita!
60
Tu és a jóia rara e lapidada
Em noites de desejo sem igual,
Teu corpo delicado e sensual
Trazendo para a noite uma alvorada,
Cevando toda a glória procurada
Tramando a maravilha doce e sal,
Mulher de encanto pleno e magistral,
Sem ti, a minha vida não é nada.
Poder ter teus anseios e vontades,
Saber das mais sublimes claridades
Que afloram nos momentos mais felizes.
Vibrantes fantasias, gozo pleno,
Em plena tempestade um mar sereno
Gerando em mim benditas cicatrizes.
61
Tu és a fonte clara de ventura,
Um rastro iluminando o meu caminho.
Depois da noite fria, amarga e escura
Ausência de esperança e de carinho,
Vieste me tomando de ternura,
Chegando bem suave, de mansinho,
Agora dominado por brandura
Eu sei que não irei seguir sozinho...
Tocaste com teus lábios calmamente,
Mudando o meu destino, de repente,
Causando no meu peito uma explosão.
Nos beijos que me deste eu percebi
Que tudo que eu buscava estava em ti,
Dos sonhos e dos versos, a razão...
Marcos Loures
62
Tu és a flor bendita e redentora
Que torna meu jardim mais encantado.
Minha alma em fortaleza já te adora
Sonhando vejo em ti um belo prado.
Não tema nosso amor que já se aflora
E torna o dia a dia consagrado.
Não sofra, pois te quero tanto agora,
Não deixe de ficar sempre ao meu lado.
Meus versos muitas vezes são amaros,
Eu sou assim, um pássaro sem asas
Embora tais momentos sejam raros,
A tal melancolia é companheira,
Assim como o desejo em quentes brasas,
Geada na minha alma é costumeira...
Marcos Loures
63
Tu és a cicatriz marcada em mim,
No fogo da paixão que nos devora;
Tu és sempre comigo, sempre o sim,
Não temos nem sabemos o que é hora.
Rumamos braços dados para, enfim,
Gravarmos nossas almas. Vem agora
Que o tempo não espera. Pois assim
Jamais nos deixaremos ir embora.
Estás já tatuada em minha pele,
Em cada novo dia, uma esperança,
Mirando para o céu, já me compele
A ser o teu parceiro de verdade;
Vivermos na alegria desta dança
Amor que nos convida à liberdade!
64
Tu és a bela flor que em meu deserto
Nasceu contrariando as previsões.
Resplendes este céu tão claro, aberto,
Realças teus matizes em amplidões..
Tu tens tanto perfume que inebria
Trazendo uma delícia maviosa.
Traduzes nosso amor em poesia,
De todas essas flores, minha rosa...
Deserto coração, tal qual já fora
O meu, sempre esperando por um bem...
Vencido por rainha desta flora,
Agora te deseja amada: vem!
A flor que no deserto de minha alma
Nascendo, meu futuro todo acalma..
65
Tu eras a mais bela criatura
Que encontrei, tartamudo, em meu caminho...
Bela noite, roubaste esta candura,
Tua voz, encontraste, passarinho...
Recipiente lúdico, ternura.
Envolvente, chegaste no meu ninho...
Amar-te é conviver real brandura,
Meu coração dominas, pobrezinho...
Mas me deixas agora em tal torpor,
Que farei sem teus mantos de beleza...
Rasgando tresloucando-me na dor,
Em pânico desfiro contra tudo.
Me esfacelando visto esta tristeza,
O dia nascerá, depois, contudo...
66
Turvada pela dor, água da fonte
Que fora transparente e mais serena,
Parece, de repente, que envenena
E mata, não permite um horizonte...
Um coração sofrendo tal desmonte,
De dor e solidão, a vida plena,
Confunde fonte sempre mais amena,
As águas tão barrentas descem monte.
Celestes tempestades ,tanto raio,
Turvando meu amor como se vê;
Em busca deste sol, por vezes saio,
E sempre o que recebo é vil martírio.
Procuro solução, em vão, cadê?
Apenas essa fonte em meu delírio!
67
Tungíase acompanha esta desdita
Que dá prazer enquanto faz a festa.
Figura desdenhosa, que maldita
Não deixa sobrar nada quando infesta.
Às vezes inda tento alguma grita,
E quase que termino quando empesta
Prurido sem limites sempre excita,
Eu sei que no final, isto não presta.
Pulula no quintal tal heresia
Entrando em minha pele não me larga,
Banquete do meu pé, vivendo à larga
Engorda parasita inexpressiva
Mantendo esta pilantra sempre viva;
Matando a desgraçada se procria...
Marcos Loures
68
Um dia eu descobri, foi por acaso
Que toda poesia faz sentido,
Discurso para o povo reunido,
Não tem sequer decurso nem de prazo.
Soneto renascendo de um ocaso
Demonstra o seu destino tão comprido,
Com jeito de trabalho já cumprido
Embora muitas vezes com atraso.
Ao vê-lo discursando percebi
Que tanta poesia havia ali
Bem mais do que se encontra. Eu me arremeto
E digo esta verdade, de repente
Até o nosso amado presidente
Anda fazendo agora um bom soneto!
Marcos Loures
69
Um dia essa paixão trará o amor
E aí ninguém jamais nos calará.
Encaro o desafio a se compor
No encanto que decerto guiará
O passo deste velho sonhador
Que sabe desvendar o que terá
Nas mãos cada semente vira flor,
E tudo se deslinda desde já...
Arestas que aparamos, os ciúmes,
Recendem neste céu vários perfumes
Colhidos dos canteiros da emoção...
Ferrenhas as batalhas, mas decerto
Mantendo este caminho agora aberto,
Veremos, finalmente esta amplidão...
Marcos Loures
70
Um dia ele partiu – distante mar,
Dizendo que mais tarde voltaria.
O tempo se passando a naufragar
Uma esperança a cada novo dia.
O tempo se perdendo e num olhar,
A moça enamorada refazia
O sonho de – quem sabe – renovar
O amor que eternamente esperaria...
Um sentimento novo e soberano,
Aos poucos a tomava e, sem saber
Apaixonou-se então pelo oceano
E nele reencontrara o seu prazer.
Entregue à fantasia em lua cheia,
Nasceu, num breve instante, uma sereia...
71
“ Um dia ele chegou tão diferente”
Chamando para a festa que sabia
Há tempos que queria estar contente,
Mas nada de ilusão ou fantasia.
O gosto da saudade se pressente
Na boca que transborda em alegria,
Fazendo delirar a toda gente
Que à cena com sorrisos assistia.
Na dança feita à noite em plena praça,
Um gesto de carinho demonstrado.
Num longo beijo intenso, apaixonado,
A dor já se esvaindo na fumaça.
Ali, naquele canto da cidade,
A lua se despiu: felicidade!
72
Um dia ela chegou mansa e calada
Os olhos rebrilhando demonstravam
Que neles, com certeza se encontravam
A sorte perseguida e imaginada.
E sem dizer palavra, a bela Fada
Meus olhos e meu corpo se mostravam
Reféns do que seus olhos me falavam;
Boca insistentemente ia calada.
De repente seus lábios me tocaram
E percebi-me indefeso e logo entregue;
Querendo que essa boca me navegue
Dois corpos tão famintos se encontraram
E a noite amanheceu em vários sóis
Cobrindo nossos corpos, nos lençóis..
Marcos Loures
73
Um dia chegarás e constelar
Tomando minha noite outrora escura,
Num átimo meu céu irá brilhar
Depois de tantos anos de procura.
Volvendo para ti, meu calmo olhar
Reflexos de desejo e de candura,
Querendo tão somente te encontrar,
Derrame de alegria e de brandura.
Na praça, no coreto, no jardim,
Nos bancos, o relógio da matriz
Batendo lá no fundo diz pra mim
Que ainda poderei ser tão feliz,
Matando esta tristeza de onde eu vim,
O céu se azulejando e não mais gris...
74
Um dia ao perceber que a cordilheira
Dos sonhos tinha a base bem mais frágil
Do que pensei, prevendo algum naufrágio
Mudei dos meus navios, a bandeira.
E quando ao chão cheguei; - a alma rasteira-
Tentei fugir, e embora até fosse ágil,
- A vida sempre cobra algum pedágio-
Sem rumo, me perdi, amor se esgueira...
Boêmio, em outros tempos, fiz da lua
Amante desejada. Mas flutua,
Transmuda em várias faces diferentes
Meus versos sem paragem nem descanso,
Soturna poesia, vago e tranço
Em formas tão venais, inconseqüentes...
Marcos Loures
16175
Um dia ao ler na minha escrivaninha
O comentário amável de uma Diva,
Minha alma se exultando, assim altiva,
Num mar feito emoção não se continha
Tendo a fragilidade da avezinha
Que sendo libertária sobreviva
À explosão terrível de uma ogiva
Ao Paraíso em vida, ora se aninha.
Nos meus primeiros passos, os tropeços
Sabiam decifrar os endereços
Aonde encontrariam sempre o joio.
Porém ao ler aquele comentário,
O andar que sempre fora temerário
Ergue-se ao receber teu grande apoio...
PARA A GRANDE AMIGA DENISE DE SOUZA SEVERGNINI,
UMA DAS PRIMEIRAS PESSOAS A ME APOIAR AQUI NO RECANTO
76
Um dia amor tocando no meu peito
Se fez mais forte em versos, esperanças.
Tornando o meu sonhar mais satisfeito
Deixando para sempre más lembranças.
Agora que encontrei amor perfeito
Comigo em tanto amor pra sempre avanças..
Amor em primavera neste outono
Fazendo as flores raras, folhas belas,
De quem sempre vivera em abandono
As noites pululando em zil estrelas.
Sonhando com teus beijos, ganho o sono,
Os céus já se tornando raras telas...
Morena amar te quero em cada cena
Da sorte que bem perto já me acena...
77
Um dia ainda irás saber de mim.
Jogado como um pária pelas ruas,
Vagando pelas noites, tantas luas,
Perdido neste encanto que é sem fim...
Sabendo que não trazes nunca o sim,
Percebo quando mágica, flutuas,
Nas chuvas e nos ventos, almas nuas,
Espreitam o que eu quisera e nada enfim...
Marcado pelas garras deste sonho,
O barco em desvario, cedo eu ponho
Condenado ao naufrágio, sem ter cais.
Ao menos enfrentei estas tormentas,
Refém destas paixões mais violentas,
Eu ouço tão somente: nunca mais...
Marcos Loures
78
Um deus supremo abriu seu alvo manto
Permitindo o deslumbre desta cena,
E nela se desfralda todo o encanto,
Mostrando quanto a vida vale à pena.
Fagulhas que incendeiam nossas sanhas,
Estímulos diversos nos excitam
Enquanto em mil delírios tu me assanhas
Vontades não se calam e já gritam
Orgástica loucura prometida,
Resenhas entre senhas e sinais.
A fonte inesgotável rega a vida
Em águas cristalinas, sensuais.
Tramado entre cativas liberdades
Amor que é manso guia em tempestades.
Marcos Loures
79
Um Deus onipresente e onipotente
Não vê um inimigo em cada canto.
Aos filhos este Pai tão semelhante
Que achá-los diferentes causa espanto...
Um pai que ama seu filho está contente
Mesmo em diversidade de outro canto,
Não creio ser possível que se tente
Deixar de ter amor e ter encanto
Apenas por que o filho não se vê
Parecido ou refletido neste Pai,
Prossigo respeitando quem se crê
O filho preferido do Senhor
Porém eu não admito quem já vai,
E quer o monopólio deste amor...
80
Um Deus feito Cordeiro em sacrifício
Lavando os meus pecados e meus erros,
O simples carpinteiro em Seu ofício
Salvando os Seus irmãos destes desterros
Que tanto cultivamos pela vida,
Num mosaico de tolas ilusões,
Na eternidade da alma, prometida,
Além de simplesmente adorações
A voz libertadora e consciente
De que somos pequenos, mas sagrados
Aos olhos deste Pai, pois consagrados
No afeto sem igual de um Criador,
Que é nosso Irmão, que é Pai, Deus e Senhor,
E a nossa dor, por isso mesmo, sente...
81
Um deus enamorado, em sonhos, te esculpiu.
Beleza iluminada, estrela radiante.
Por certo ele te quis, pensou ser teu amante.
A pele tão morena, os olhos são de anil.
E lua enciumada, esquiva-se sutil,
Deus Hélio radioso, em raios, triunfante;
Abraça toda a terra, um beijo delirante.
E neste mesmo instante, um girassol se abriu.
Depois, envergonhada, a flor logo murchou.
Porém, pobre quimera, o deus que te criou,
Em nuvens vira fera, a chuva, a tempestade...
Mal sabe essa natura, a mulher tem caprichos.
Michele, toda bela, em busca d’outros nichos,
Deitada em minha cama. Em plena liberdade!
Marcos Loures
82
Um deslumbrante sol chega contigo
Dourando a minha casa e o coração.
Fazendo da emoção melhor abrigo,
Eu abro dos meus sonhos, o portão.
Se os rastros que tu deixas, eu persigo
Encontro a foz de um manso ribeirão,
Ao florir este solo tão antigo,
Espalhas com ternura cada grão
Que à luz solar trará bela colheita.
E enquanto a lua fria já se deita
Calor de teu afago toma tudo.
Levando ao mais distante pensamento,
O rumo que eu buscara, num momento
Ao ver tal claridade imensa, eu mudo...
83
Um desejo me toma: o de estar sempre aqui
Depois de tanta dor, meu mundo encontra o rumo
Às vezes me pergunto onde foi que perdi
Num passo desgarrado, a vida sem ter prumo
Envolto em negras nuvens. A salvação em ti
No sentimento nobre, a vida atinge o sumo
A mostrar finalmente o bem que descobri
E agora, mais exata, a força em que me aprumo.
A sombra de teu corpo invadindo meu quarto
Na mão que sempre afaga, uma certeza plena
De que sou mais feliz do que pensara outrora.
Depois de tanto amor, cansado e quase farto
Eu sinto que encontrei em boca tão serena
Na paz que procurava, amor que revigora...
84
Um coração-mineiro apaixonado
Falando do luar e das estrelas
Não tendo o mar se mostra extasiado
Sabendo das lagoas, como tê-las.
O coração deveras vai pesado,
Das esperanças todas, ao contê-las,
Andando assim de banda, vai de lado
Jamais se cansará de percebê-las.
Estrelas nestas noites de seresta,
Artérias são vielas das Gerais,
Enquanto a fantasia nos empresta
O sonho que queremos, muito mais.
O peito do mineiro desembesta
E faz de tanto amor, distante cais...
Marcos Loures
85
Um coração vagabundo como o meu
Não pode ouvir o canto da sereia,
Se entrega e num segundo se perdeu,
Num outro amor, de novo se incendeia
Coração tão pária e tão plebeu
Seguindo todo raio, lua cheia,
Disso eu bem sei, jamais se convenceu.
E ao léu sem ter juízo, assim vagueia...
Depois? Outro pileque, o mesmo bar,
Um beijo a mais... Depois é só sofrer
Outra vontade enorme de morrer...
Fazer o quê? De noite há o luar
E tantas emoções. Coração, não caia
Em nova tentação: rabo de saia...
Marcos Loures
86
Um coração vadio e desprezado
Batendo em descompasso no meu peito,
De tanto que sonhara, não tem jeito,
Agora de sofrer, anda cansado.
Insano companheiro lado a lado
Vagamos pelo mundo neste pleito,
Querendo tão somente este direito
De ter o seu amor recompensado.
Mas sei que ela não quer quem tanto sonha
A dor de uma saudade assim medonha
Não deixa o coração bater em paz.
Por isso a cada noite tão vazia,
Batuca sem ter ritmo; a melodia
Que a solidão terrível canta e traz...
Marcos Loures
87
Um coração tirano e solitário
Por vezes tão austero e distraído,
Encontra-se perdido num calvário
E morre por não ser mais atrevido...
Amores necessitam de mudanças
Embora muito tempo em desacerto,
As noites que prometem tantas danças
Precisam de concerto e de conserto.
Amor que se escondendo no decoro,
Aguarda esse carinho mais audaz,
Por vezes nesse sonho, enfim, vindouro,
Amor em mil prazeres, satisfaz...
Por isso, minha amada, a solução
Liberte esse tirano coração!
]
88
Um coração tão terno nada odeia,
Passado luminoso quer futuro.
A lua se promete toda cheia,
Tomando de promessas céu escuro...
Um coração tão terno nada teme,
Não sabe das mazelas da tristeza.
Minha alma quando vê, depressa treme,
Invade minha vida em tal beleza...
Um violino vibrando em plena noite.
Trazendo nosso amor em serenata.
O canto deste vento nega açoite,
Meu rumo se perdendo em tua mata.
Um coração tão terno quer teu colo,
Semeia meu amor em manso solo...
89
Um coração sem nexo, apaixonado
Cansado de bater inutilmente,
Vagando pelas ruas qual demente
Encontro a solidão, amargurado.
Sem ter tua presença aqui do lado,
A morte se tornando mais urgente
O quanto que alegria inda se tente
Negando o próprio céu, falso, estrelado...
Primavera nos dentes, alma em fogo,
O tempo vai passando e nele afogo
Desejo que se fez ingratidão.
Quem dera se eu pudesse recolher
As flores que plantei. Mal posso crer
A seca tomou toda a plantação.
Marcos Loures
90
Um coração selvagem não se sela,
Indômito corcel galopo à solta,
Qual barco que soltando à plena, a vela,
Qual vento que em borrasca se revolta.
Sangrando nas paixões, jamais se atrela,
Ao ter numa inquietude sua escolta,
Encharca cada artéria em fogo e lava,
Minha alma se condena ao desabrigo,
Pois sendo deste insano, louca escrava
Jamais admitia algum perigo
E enquanto em mil prazeres já se lava
Convida ao Paraíso. Estás comigo.
E nessa caminhada pelo astral
Libertos, neste incrível ritual...
Marcos Loures
91
Um coração reclama a tua ausência
E chora se não vens, amada minha.
Eu peço teu carinho por clemência
Minha alma na tua alma já se aninha
Falando deste amor com eloqüência
A sorte do teu lado se avizinha...
Incita-me teu canto mais audaz
Que, fomentando a glória me traz sorte.
Vivendo uma esperança que me traz
A vida em seu caráter que é mais forte,
Deixando o que não presta para trás
Ajuda a construir, mais belo o norte...
Seguindo passo a passo, nosso rito,
Amor nos levará ao infinito...
92
Um coração que morre, estranho e frio,
Sozinho, sem ninguém, desfigurado,
Deixando tão somente este vazio,
Num canto mais cruel, desesperado.
Matando em duro inverno, um forte estio,
Vivendo do que fora no passado,
No quanto mais desejo; eu principio
Um canto em solidão, agoniado.
Não deixa mais sobrar sequer lembrança,
Morrendo em nascedouro da esperança.
Aquele que se entrega ao mesmo nada.
Amores se perdendo sem destino,
A mente se revolta em desatino
Não sobra nem o sonho, atroz morada.
Marcos Loures
93
Um coração que bate sem juízo
Não sabe quanto amor a vida traz
Na busca pelo bem do paraíso
Acaba se perdendo sem ter paz.
Assim, um coração perdendo o siso,
Precisa cada vez bater bem mais,
Senão amor lhe cobra o prejuízo
E na desdita, a dor é mais audaz.
Por isso, minha amada, estou contigo,
Tu és a mansidão que sempre acalma,
Distante de teus olhos não consigo
Viver a necessária paz e calma,
Não deixa que a tristeza traiçoeira
Domine a nossa vida, companheira....
94
Um coração mochado pela dor
Vagabundo se perde da manada,
Sofrendo na esperança desta flor
Que brota sem perfume e vai sem nada
Roçando todo o pasto sem valor
Da terra que jamais se viu molhada...
Amigo, companheiro de estradão,
Remoço uma alegria quando vejo
Que resta bem guardado após o não
Um gosto que me lembra quase um beijo
Da moça que se foi e sem perdão
Levou deste meu céu seu azulejo.
Amigo não pergunte, só permita
Que história sem ter fim, eu te repita...
95
Um coração mineiro desce o rio
E vai para as montanhas, segue a serra.
Calor depois remonta a tanto frio,
Abrigo necessário. Nele encerra
O que sonhara ser quase que estio,
Vasculha o mar distante, ronda a terra.
Da prenda mais bonita, que se enfoca,
O coração sem rumo se bronzeia.
Das terras capixabas, quase poca,
Nos mares cearenses, se incendeia,
Gaúcha com sotaque carioca,
Trazendo o minuano em lua cheia...
Amor é bicho sempre serelepe,
Espera qualquer dia que eu me estrepe...
96
Um coração granito
Marcado por desgosto,
Levado ao infinito,
Estando sempre exposto
Num gesto mais bonito,
Encontro meu recosto
Quem fora tão aflito
Agora traz no rosto
Sorriso mais preciso
E sempre extasiante
Pois vê que o paraíso
Em toda liberdade,
É feito assim, conciso,
Na força da amizade...
97
Um coração gaúcho sem cuidado,
Imerso nos legados da paixão,
Tocando com vigor o violão
Deixando o belo pampa iluminado.
Trazendo os amargores do passado
Agora adoça até o chimarrão
Derrama tanto amor numa canção,
Moldando uma esperança, seu legado.
Não ligue pra esse tal cateterismo,
Quem tem a perfeição por companheira,
Desfralda a fantasia por bandeira
Supera sem temor qualquer abismo,
Mas cuide com carinho deste peito
E em cada verso; faço-te este pleito...
98
Um coração estúpido e vazio
Batendo simplesmente por bater,
Nem mesmo uma ilusão eu fantasio,
É como pouco a pouco em vão, morrer.
Não tendo mais sequer uma esperança
Tragédia anunciada, solitário,
A fantasia ausente não me alcança
Sem nada, o rio foge do estuário.
Quem dera se tivesse pelo menos
Um canto benfazejo, em alegria,
Distante dos caminhos mais amenos
Apenas tanto espinho, inda me guia.
Levando ao precipício/solidão
Encontro tão somente a negação...
99
Um coração dorido em tanto arder,
Fazendo da alegria um mero esboço,
Morrendo devagar, embora moço,
Aos poucos se sentindo esvaecer.
O chão que vai se abrindo num tremer
Causado pelo amor em alvoroço,
De um tempo que se foi, querido e nosso,
Aonde se vivia por prazer.
Mas sei que embora longe, amor insiste
E bate em minha porta em grito agudo.
Eu não quero admitir, mas vivo triste.
Vivendo tão somente este desejo
Que às vezes me maltrata. Fico mudo,
Minha boca aguardando por teu beijo...
16200
Um coração civil e libertário
Não pode adivinhar cortes e facas,
No peito sonhador metendo estacas,
O amor jamais seria necessário.
Por vezes anarquista incendiário
Em outras; emoções tolas, babacas,
Quisera ter reais, crio patacas
Meu abajur virando lampadário.
Careço de momentos mais felizes,
Portanto sonegando o que me dizes
Servindo de repasto à vil rapina.
Buscando uma gaiola em contra-senso,
Se apenas num amor me recompenso,
Deus salve a minissaia da menina...
1
Um coração carente de carinho
Que bate tão somente por bater,
Procura – minha amada – pelo ninho
Que possa, ao recebê-lo, me acolher.
Quem vive, com certeza, tão sozinho
Na busca insaciável – bem querer,
Só quer ter nesta vida um bom caminho
Que o possa permitir ter seu prazer.
Não falo morenice – cor de pele-
Apenas no sentido mais brejeiro,
Amor não é somente um bem trigueiro
Apenas ele chama e me compele
A ser um vagamundo sem destino,
Deixando o coração ser um menino...
Marcos Loures
2
Um coração bandoleiro
Passeando no deserto
Encontrou um sorrateiro
Caminho que estando aberto
Fez do sonho um verdadeiro
Cortejo no qual desperto
Sentimento alvissareiro
Teu amor sempre por perto.
Mas não canso de dizer
Nem tampouco de sonhar
Quero estar neste querer
Tempo inteiro a te mostrar
Que um coração por prazer
Não se cansa de te amar..
3
Um coração alado vaga o mundo
Numa ânsia desmedida e sem paragem,
Fazendo pelos céus longa viagem,
E torna-se sem rumo, vagabundo...
Podendo despencar em um segundo,
Perdido sem destino. Uma miragem
Na qual eu me desnudo e me aprofundo,
Depois de certo tempo... Falsa aragem...
Mas tenho em nosso amor um porto belo
Que é feito ancoradouro da esperança.
E o sonho em que te encontro, aqui revelo
Mostrando um coração que, sem juízo,
Aos braços de quem ama enfim se lança
Alçando, de repente, o paraíso...
4
Um conto do vigário e nada mais,
Assim foi nosso amor inesquecível.
Por mais que isso pareça tão incrível,
Perdi ao te seguir, o velho cais.
Sem bússolas, os pontos cardeais
Não servem como guias. É possível
Que um dia seja até mais concebível
Mudarmos para rumos triunfais
Aonde se perceba algum apoio,
O rio que sonhei, simples arroio,
A boca que beijei, deveras fria.
Não quero ter mais nada a lamentar,
Ofuscas com mil trevas o luar,
Qual fosse um Halowwen sem bruxaria.
Marcos Loures
5
Um colibri se entrega ao franco amor
E vaga pelos campos sem destino,
Vivendo o quanto tenho a te propor
Aos poucos mansamente me alucino
No azul de teu olhar, estrela guia,
Reflexos destes mares que concebo
O amor ao invadir a poesia
Expressa todo o bem que agora eu bebo.
Na fonte inesgotável me inebrio,
Cantando todo amor que agora eu sinto,
O coração sem sonhos vai vazio,
Minha alma viciada neste absinto
Não quer e não percebe outra emoção,
Apenas neste amor vê floração...
Marcos Loures
6
Um clima para nova melodia.
Depois da tempestade e vendavais?
Embora eu reconheça a sintonia
Eu sinto que a resposta é nunca mais.
A boca que em verdade eu beijaria
Em goles tão sublimes, sensuais
Acorrentada em sonho e fantasia
Procura noutros lábios o seu cais.
A par do que senti que não mais tenho,
Nem mesmo o temporal sinto e detenho,
Deixando ao deus-dará, seguindo em frente.
Mas venha que uma noite não é nada,
Depressa que amanhã, numa alvorada,
O tempo de viver é diferente...
Marcos Loures
7
Um cheiro no cangote da morena,
Requebros de quadris, noites de glória.
E quando a fantasia toma a cena,
Mudando todo o rumo de uma história,
O quarto anunciando a lua plena,
A gente busca ao longe, na memória,
Lembrança de uma vida mais amena
Deixando para trás, luz merencória.
Apoio os cotovelos na janela
E a moça numa esquina risca a tela
Escultural presença momentânea.
Concebo a poesia mais sutil,
Enquanto esta ilusão, amor previu,
As dores eu recolho em coletânea...
8
Um cavaleiro armado até os dentes
Invade os teus castelos, o desejas.
Nos lábios tão carnudos quais cerejas
As tramas mais felizes e envolventes.
Em todo este delírio que pressentes
As dores se esvaindo, pois sobejas,
Num átimo em loucuras tu lampejas
E cravas os teus olhos tão ardentes.
Quem dera se eu pudesse, cavaleiro,
Ter todo o sentimento por inteiro
E ser o teu comparsa, amigo e par.
A cena se mostrando iluminada
Deitando esta ternura pela estrada,
Princesa vai desnuda, sob luar..
Marcos Loures
9
Um cavaleiro alado
De estradas vai repleto,
De um sonho enamorado
Nos sonhos me completo
Sabendo que meu fado
É ter estrela guia
Decerto sempre ao lado
Em vida e fantasia,
A dona do castelo
Talvez não percebesse
Que o sonho que revelo,
Em formato de prece
Levasse meu corcel
A procurar seu mel...
Marcos Loures
10
Um cavaleiro alado em seu corcel
Galopa com destino demarcado,
Voando em liberdade ganha o céu
E pousa de mansinho do teu lado.
Por mais que haja destino tão cruel,
Quem dera ao cavaleiro fosse dado
O gosto desta boca feita em mel,
O corpo da princesa desnudado
Na torre de um castelo imaginável.
Reflexo em fantasia, deste sonho
A poesia emerge do improvável
E torna bem real, sem desatino,
Um mundo mais dourado eu te proponho,
Entrego um coração, velho menino...
Marcos Loures
11
Um castelo existia nos meus sonhos..
Menino adivinhava uma princesa.
Meus olhos se perdiam, tão tristonhos,
Desciam nesse rio, a correnteza...
Depois que se tornavam enfadonhos,
Os sonhos esquecidos sobre a mesa,
Viviam pesadelos mais medonhos.
A morte nunca fora sobremesa...
Um dia, o tempo passa, já maduro,
Encontro a perfeição que sempre quis.
O medo dos amores e do escuro
Nos velhos inda deixa cicatriz...
A princesa encontrada nunca crê,
Mas vive disfarçada e é você!
Marcos Loures
12
Um cão que quando ladra mostra os dentes
Talvez pareça um bicho mais audaz,
Latidos são temíveis, indecentes,
A boca escancara é tão voraz.
Os vermes que devoram, entrementes
Além do que este cão se faz capaz
Não tendo nem as presas nem os dentes,
Carnificina apenas satisfaz.
Os vermes se disfarçam nos seus ternos
E juntos vão matando as esperanças.
Cardápio variado em comilanças
A fome inesgotável desta corja.
Nas eleições carinhos, sempre ternos,
No amor que é prometido, isto se forja.
Marcos Loures
13
Um canto triste vive na gaiola,
Não posso nem ouvir que não resisto.
Amor e liberdade minha esmola,
Nas lutas que travei nunca desisto.
Tortura sem igual matando, imola;
Não posso me calar defronte disto.
Maus tratos tão cruéis fazendo escola,
São coisas pertinentes a Mefisto!
O pássaro que canta a liberdade,
No vôo que procura traz encanto.
Amor p’ra ser amor-felicidade,
Busca compartilhar-se em cada canto.
Esqueço minha agrura e meu tormento,
Com Evelyn voando, livre vento!
14
Um canto que se mostra suave e leve
Em tons tão delicado te suplica
Que venhas madrugada em lua rica
E seja, o mais depressa, enfim mais breve.
Distante das tormentas, peço, leve
O Olhar que sedutor, beatifica,
E rumos tortuosos retifica,
Na fome que nos toca, em que se atreve.
As almas se perdendo, sedes loucas,
Na fúria destas noites, nossas bocas,
Salivas que se buscam, se misturam.
As dores bem distantes desta cena
Na doce sensação que nos acena,
Os tédios, mágoas, medos, já se curam...
15
Um canto que se fez em alegria
Tramando esta ilusão, bela medalha,
A vida maltratara qual navalha
No aborto violento em que seguia.
Recebo em cada verso a fantasia,
Deixando um velho campo de batalha,
Amor que sei resiste e me amealha
Formando uma esperança que nos guia.
Eu sinto o teu perfume delicado,
Que invade extasiante e me dominas,
Sentindo este prazer, minhas narinas
Abertas recebendo com paixão,
Transforma minha sina, rumo e fado,
Batendo bem mais forte, o coração...
Marcos Loures
16
Um canto que se faz em puro amor
Enreda o pensamento em mil encantos.
Distante deste mundo em que o torpor
Nos toma sem juízos, sem espantos...
Não canso de tocar teu pensamento
Nem mesmo de seguir amor em paz.
Teu brilho se espalhando, em firmamento,
Estrela que alegria já me traz.
Pra sempre quero ter-te mensageira
Do sonho em que se faz a liberdade.
Deitar-me do teu lado, em tua beira,
Amar-te até saber saciedade...
Sabendo ser teu braço o meu conforto,
Amor que é vivo cais, meu santo porto...
17
Um canto que se faz apaixonado,
Sem medos ou rancores, só por ser,
Vivendo em fantasia o bem querer,
Andando, o tempo inteiro, lado a lado.
Depois de termos feito do passado,
Um velho que andrajoso a perecer
Vagara sem destino por prazer,
Querendo o que jamais lhe fora dado,
Percebo a juventude de nós dois,
Inteira primavera em bela flor,
Recebo o doce vento, que é veloz,
Na busca do durante e do depois,
Na eternidade plena deste amor,
Nascido em força intensa e vivo em nós...
Marcos Loures
18
Um canto que se dá, maior e lindo
Transforma em primavera, antigo inverno.
Tristeza em solidão vai se esvaindo
O vento benfazejo se faz terno.
Sentindo que inda posso ser feliz,
Estampo no meu rosto este sorriso.
Um velho que se torna um aprendiz,
Fazendo do seu passo o mais preciso.
Assim, sem temer mais os vendavais,
Espelho novamente a juventude.
O quanto te desejo e quero mais,
Mudando em pouco tempo de atitude
Com o meu peito agora a descoberto
A seca do passado, enfim, deserto.
19
Um canto que proponho, o da amizade
Se faz tão necessário ou mais distinto,
Roçando todo o bem de uma verdade,
Na cara deste povo mais faminto,
Embriagando logo ansiedade
No gosto da cachaça e dum absinto.
Me tinto de luares pra te ver,
Me pinto de vergonhas pra sonhar,
Sabendo que no fundo, cada ser,
Merece ter seu dia de luar,
Nos braços deste amor irei morrer,
Nos braços deste sonho a me guiar...
Na força que me leva ao desatino,
O mundo delicado do menino...
20
Um canto mais ameno de esperança
Mostrando tão somente esta ventura
Que esconde do ciúme a fria lança
E molda cada verso com ternura.
Ao lado de quem quero, a vida avança
Em todos os momentos, traz candura;
O peito em desabrigo amor amansa
Ao coração doente mostra a cura
Que é feita em total tranqüilidade
E em passos bem mais firmes, destemidos.
Os atos violentos esquecidos,
O mar beijando a praia em liberdade.
Problemas que tivermos, esquecidos
Negar o nosso amor, não sei quem há de...
Marcos Loures
21
Um canto inebriante feito Amor
Rondando os meus ouvidos me conclama
À festa interminável que se trama
Desejos incontidos, farto ardor.
Teu corpo em maestria vem compor
O pleno regozijo em que inflama
A vida, renegando qualquer drama
Num venturoso sonho a se propor.
Alçado a mais sublime perfeição
Não temo mais as urzes nem espinhos,
Percorro em maciez velhos caminhos,
Sentindo esta alegria em profusão.
Nas ânsias deste amor, tanta pureza,
Deixando a dor distante e sem defesa...
Marcos Loures
22
Um canto esparramado pelo céu,
Tramando uma estelar revolução.
Cobrindo uma alegria em santo véu,
Velando sem limite, uma emoção
Que aflora e vem chegando em meu dossel,
Trazendo esta certeza de paixão
No sonho benfazejo, meu corcel
Promessa de vitória e de perdão.
E faço deste canto uma bandeira
Mostrando que é possível ser feliz.
Deitando em tua cama, companheira,
Teremos todo bem que um dia eu quis.
Vencendo os sortilégios das tristezas,
Amor já nos foi posto sobre as mesas...
23
Um canto em que se mostra êxtase pleno
Expressa o sentimento mais profundo
Viaja sem destino pelo mundo
E encontra seu abrigo mais sereno
Nos braços que se abriram num segundo
Vertendo em cada verso um mar ameno
Tocando bem mais forte, lá no fundo,
Antídoto do amor contra o veneno
Daqueles que não sabem ou disfarçam
Achando que é sem graça esta emoção.
Os dias mais vazios sempre passam
Sem ter ao menos sonho ou ilusão.
Cantar o amor nos torna mais libertos,
Sem medo de encarar frios desertos..
Marcos Loures
24
Um canto em amizade que fizeste
Mudando o meu destino em novo dia
Trazendo uma esperança que porfia
Além do que pensaste ou bem quiseste.
Deixando bem distante a dor e a peste,
Além do que decerto eu não veria,
Tramando uma querência em harmonia.
Uma amizade, é certo, qual uma haste
Não verga às tempestades nem às crises,
Supera com vigor alguns deslizes,
Nas mãos tão benfazejas me tomaste
Os dias que virão serão felizes,
E o peito, com firmeza se abrasando
Destino, com certeza já mudando...
Marcos Loures
16225
Um canto demorado, repetido.
Nenhuma solidão ronda por perto.
Areia em tempestades no deserto,
O manto das saudades estendido
Não se ouve nem sequer um só ruído,
O vento em seu monólogo comprido,
Trazendo a sensação: dever cumprido.
O mundo dorme atroz, mal repartido.
Distantes os oásis, leda a vida...
Minha alma desprendida, a cordilheira
Espera calmamente que decida
Caminho que percorra, leve e inteira...
O vento no deserto, minha cama...
Ao longe a cordilheira... No Atacama...
26
Um canto de saudade... Um resto de paixão...
Amante dedicado, espero por teu colo...
Mergulho num segundo, o meu limite é o solo.
Sonhando, vou morrendo, em busca do perdão!
Valsavas, numa noite, em plena fantasia...
O teu vestido, branco, um sonho mais feliz.
A vida me sorria, o teu amor me quis!
As águas deste rio, o vento me trazia...
Porém, em mendicância, a noite ressurgiu.
O canto da esperança esconde triste ardil.
A noite em minha vida, abraça-me, feroz!
Bradando, então, teu nome; espero, enfim, notícias.
Quem dera reviver meu mundo de delícias...
Amada Lidiane, escute minha voz!
Marcos Loures
27
Um canto de esperança em mar e em terra
Nos olhos de quem ama, já rebrilha.
A sorte de viver tal maravilha
No peito benfazejo já se encerra.
Amar é não deixar fluir a guerra,
Medonha contagia qualquer trilha
E nega por princípio uma partilha
Mostrada nas guerrilhas, leda serra.
Um canto de esperança assim se tece,
Louvando uma amizade feito prece
Amor sem querer nada ou quase nada
Somente por amar e nada mais.
Quem dera se os encantos magistrais
Viessem nos trazer nova alvorada...
28
Um canto de amizade solto ao ar
Prenunciando aurora mais bonita,
Podendo no teu peito ao ecoar
Fazer em mansa paz, a tua dita,
No sonho que se quer e se acredita
Um mundo mais feliz vai revelar
O quanto é necessário a gente amar
Deixando para trás uma alma aflita
Que morre pouco a pouco e vai caquética
Perdida em triste insânia, sem futuro,
Usando com vigor minha poética
Permito-me dizer da claridade
Que emana mesmo em chão outrora escuro,
Nos laços poderosos da amizade...
29
Um cais em tua pele amorenada,
Olhares percebendo, velhos crentes
Deitado em mãos macias, languescentes
Aguardo extasiado essa jornada
Os dias que se foram; penitentes
Minha alma tantas vezes tão cansada,
A cada novo passo, derrocada,
Carregando somente tais correntes
Distante de meus olhos, Paraíso,
Lembrança de teus lábios, beijo e riso,
Estrada abandonada, antes florida,
Saudade a cada dia se renova,
Legando à solidão a minha alcova
Tal calvário arrastando a minha vida...
30
Um cafuné, morena, é bom demais!
Jamais eu desprezei qualquer carinho,
Chegando sorrateira, de mansinho,
Palavras e traquejos sensuais...
Ternuras em sutis mananciais
Descendo pelos rios, burburinho,
Até moldar em luzes cada ninho,
Colhendo raros brilhos siderais.
Molejo dos quadris, delírio em dengo,
Orgasmo é feito um gol, e do Flamengo,
Embora o coração: botafoguense.
Levando nossa vida deste jeito,
As nossas diferenças, eu aceito,
O gozo usufruído me convence...
Marcos Loures
31
Um cabra desfilando em noite fria
Os versos mais audazes que concebo
Menina madrugando mal sabia
Que a vida se promete um pau de sebo.
Mostrando no final, sabedoria
Da fonte mais gostosa, eu sempre bebo.
O medo vai moldando a sinfonia
Amor não é mentira nem placebo.
Não vejo porque brigas minha amada
Se o tempo de viver se faz agora,
Seguindo sempre juntos esta estrada,
Quem sabe, com certeza não demora
E vem ao fim de cada madrugada
Trazer farta emoção em alvorada...
Marcos Loures
32
Um brilho de esperança em cada olhar
trazendo uma alegria sem limite,
meu verso, procurando te encontrar
num mundo em que a mentira não limite
vontades de poder,cedo voar,
além do grande mar que se acredite
na lua tão bonita, debruçar,
antes que a solidão seja o palpite
mais forte. Uma amizade que refaça
o bom de nossa vida, sem perguntas.
Que a vida não se perca na fumaça
dos desamores todos, da ilusão.
Nas mãos que nós mantemos sempre juntas,
a força sem igual de uma união.
33
Um belo alvorecer eu descortino,
Com cheiro de café, fogão à lenha.
Lembranças dos meus tempos de menino,
Saudade, por favor, eu peço, venha
E traga o rosto belo de quem fora
A deusa que eu sonhara, há tanto tempo;
Vontade de voltar a ter agora
A vida sem cansaço ou contratempo.
O galo que cantando de manhã
Acorda todo mundo e faz a festa
A vida recomeça em duro afã
Delícia de viver o que me resta
Tomando cada gole de alegria
Roubado neste sonho, uma utopia...
34
Um belicoso sonho e nada mais,
As guerras não passavam de um engodo,
Quisera alguma parte deste lodo,
Viver entre os diversos animais
Momentos que passamos; infernais
Memória num segundo passa o rodo,
Batalhas que perdi, nisso eu me fodo,
Medalhas abarrotam os bornais.
Achincalhando assim tuas vitórias,
Memória não passava de uma farsa,
Não posso ser refém sequer comparsa,
Conheço bem a fundo tais histórias.
Hedônico fantasma me persegue
Por mais que a realidade venha e negue...
35
Um beijo tantas vezes não diz nada,
Apenas significa traição.
Na noite que encontrei-te, minha amada,
Teu beijo foi a minha salvação.
Não disse nem teu nome, nem sabia,
Tampouco me importava quem tu eras.
Somente nos movia a fantasia,
Que tantas alegrias, primaveras!
Não tínhamos sequer nos conhecido,
Apenas os olhares que trocamos,
Já davam sensação de ter havido
Muito mais entre nós do que sonhamos.
Um beijo tantas vezes tudo diz.
No nosso, inesperado, sou feliz...
36
Um beijo que roubei; delícia plena;
Do jeito que eu queria, delicado.
Na boca tão gostosa a vida acene
Vou ver e já estou apaixonado...
Me acolhes nos teus braços, sinto o cheiro
E a maciez do colo mais sublime,
Me entrego sem pensar mergulho inteiro,
E peço; meu amor, sempre me estime...
Na luz que me irradia a minha amada,
O rumo de meus sonhos encontrei.
Eu quero te encontrar, minha alvorada,
Da forma mais sutil que imaginei...
Deitada no calor da branca areia,
Te quero ou não te quero? Sim, sereia...
37
Um beijo prometido não se esquece
É como uma esperança que guardamos,
São tantas estas teias em que se tece
O mais bonito que sempre sonhamos...
Morena tão bonita do cerrado
Seu beijo gosto de quero mais,
Tornando um coração enamorado,
Descendo o Araguaia pede um cais,
Encontro esta morena radiante
E sinto-me feliz, tenho a certeza
De tudo que pensara estar diante
Em nada se compara a tal beleza...
Menina a sua boca carmesim,
Foi feita no jeitinho para mim...
38
Um beijo no pescoço,
Desejo, com certeza,
Amor quanto alvoroço,
Me arrasta a correnteza,
Decerto em tal colosso
Eu quero ser a presa.
Meu peito que é tão moço,
Anseia-te, princesa.
Sentindo as tuas garras,
Suspiros e gemidos,
Na noite quando agarras,
Afloram meus sentidos,
Nos braços, as amarras,
Amores bem vividos...
39
Um beijo mais safado é tão gostoso,
Não deixa nosso amor morrer à mingua
Na boca se pressente o fabuloso
Carinho em que se roça cada língua.
Tocando levemente o teu palato,
Aos céus nós chegaremos, eu garanto,
Teu cheiro conquistando o meu olfato
Teu corpo sobre o meu, divino manto.
Ouvindo a tua voz tão sensual
Chamando para a festa, insensatez,
Sabor em cada entrega, sem igual,
Beleza deslumbrante, tua tez.
As nossas mãos audazes. Nos sentidos
Os gozos com certeza, repartidos...
Marcos Loures
40
Um beijo mais gostoso te prometo
Mas tem que ser depressa, pois senão
Alguém vai reclamar do poemeto
E depois isso vira confusão.
Aonde sou chamado se me meto
Provocando total ebulição.
Pois como já dizia o de Mileto
Amor só dá prazer se tem tensão.
Eu conheci um cabra cearense,
Sujeito bom de rima e bom de canto,
Dizia na cantiga com encanto
Sabendo que isto sempre me convence,
Viver a cada dia de uma vez
“Ignorância? Indigesta pro freguês...”
Marcos Loures
41
Um beijo e nada mais. Talvez pudesse
Seguir esta receita e ser feliz.
Se o amor quando demais nos rende em prece
A vida dia-a-dia contradiz...
Alheio à realidade, o sonho tece
Aquilo que o desejo sempre quis.
Amor é velho artista; quando tece
Alguma coisa boa, já desdiz...
Rasgar os meus estúpidos sonetos,
Sorrateiras palavras dizem nada.
Minha alma freqüentando antigos guetos
Expressa a solidão que hoje carrego,
Ao ver esta avenida iluminada,
Percebo, tardiamente, que estou cego...
42
Um beijo demorado em tua boca,
Primícias de um desejo alucinante.
Sofreguidão intensa e assim tão louca,
Tomada no teu corpo amada amante...
A voz se transformando, mansa e rouca,
No brilho em teu olhar, mais triunfante,
A roupa que te cobres, leve e pouca,
Desnudo-te querida, num instante...
E tomo tua pele em meu prazer,
Dos sonhos demorados, mil gemidos,
Nos gozos provocados posso ver
Suspiros e delírios, noite afora.
Os olhos revirados, repartidos,
Chamando para a festa. Vem, agora...
43
Um bêbado vagando pelas ruas,
Um pária que não tem porto ou paragem.
Uma esperança tola, uma visagem
Distante das estrelas, belas, nuas...
Despido de ilusões vê na sarjeta
Abrigo para o frio, sem cobertas,
Calçadas da alegria estão desertas,
A sorte que fugiu nega o cometa.
Espalho os meus espectros pelo chão,
Descalço o coração, nada pretendo.
E sonho com a morte redentora.
Vergando ao peso amargo do conhaque,
Enquanto uma esperança anda de fraque,
Desnudo, rasgo as vestes da emoção...
44
Um barco que outro mar inda navegue
Expressa o meu desejo mais sublime,
Expondo o coração a qualquer crime,
Permite-se que em becos se trafegue.
Não tendo mais audácia que me entregue
Aquilo que pensara, e tanto estime
Um verme caminhando vai entregue,
Não tendo mais um sonho que suprime.
Sementes esquecidas jamais brotam,
Farrapos estendidos nos quintais,
Quarando uma esperança nos varais
As fontes pouco a pouco já se esgotam.
Estúpido andarilho, eu sigo só
Voltando novamente ao velho pó
Marcos Loures
45
Um barco ao retornar de uma viagem
Debruça sobre um cais acolhedor,
Assim também guardando a tua imagem
Eu reconheço o porto feito amor.
Um sonho que parece, enfim, miragem
Já justifica em mim, o sonhador
Que um dia sem demora em mar gigante
Perdendo ali seu rumo, naufragou.
Porém o teu olhar, farol constante
À praia num momento me guiou.
Depois de tantos erros, num rompante,
Teu coração amante, conquistou
Ao velho marinheiro que teimoso,
Encontra finalmente a vida em gozo...
Marcos Loures
46
Um bandoleiro solto num deserto,
Alçando uma esperança qual oásis,
A lua transmudada em tantas fases
Chegando em noite plena, bem mais perto.
Ao ver esta odalisca eu já desperto
E sinto no perfume que tu trazes
Tremer em tempestade minhas bases,
Adaga da emoção, em belo acerto
Ao atingir meu peito, me desmonta;
E desabrocha a flor que, adormecida,
Pensara ter a vida toda pronta.
Porém o teu perfume, já me aponta
Para outra direção, a minha vida,
Que há tempos só soubera despedida...
Marcos Loures
47
Um apêndice inútil, sem valências...
Dos pertuitos funéreos da saudade,
Famélicos pendores da clemência.
Teus fálicos delírios, santidade...
Nos vértices dos sonhos, tuas bridas...
Aderes firmemente, sanguessuga...
Lampejos tão mordazes, t’as feridas.
As lágrimas febris, a vida enxuga...
Protéticos refinos da ciência,
Hipotéticos lagos que naufragas.
Tentáculos vorazes, inclemência,
Negas-me sobrevida e boa sorte.
Pestilentas, as bocas rogam pragas.
Desejas, tão somente, a minha morte!
48
Um ano se passou, querido amigo,
Parece que foi ontem nossa festa.
Depressa, o tempo passa assim contigo,
Tua amizade imensa é o que nos resta.
Vencendo toda sorte de perigo,
O mundo tanto bem a nós empresta.
Mil anjos te cercando a cada dia,
Nas horas mais difíceis, derradeiras.
Poder contar assim com alegria
Em mãos mais firmes, fortes, verdadeiras.
Te faço esta homenagem/poesia
Além dessas palavras corriqueiras...
Feliz Aniversário? Para nós!
Contigo não estamos, nunca, sós!
49
Um anjo vagabundo que carrego
Deixando expostas chagas e feridas.
Nos bares e motéis, quando me entrego,
Percebo estas escaras consentidas
Celebro o que me faz ficar tão cego,
Cavalgo sobre estrelas distraídas
E o quanto que não tenho sempre emprego
Nas horas mais nefastas e queridas.
Meu anjo embriagado perde a guarda
Na espreita um bom demônio já me aguarda
Lembrando persistente, que inda existo.
Nas farpas que me entranham; podres risos,
Trazendo finalmente os paraísos
Prometidos há tempos por Mefisto...
16250
Um anjo sem juízo e sem pecado,
Um velho predador não se sacia,
Estrela que não guia, pois vadia,
Amor é querubim sacro e safado.
Por vezes, mesmo quando estou calado,
O olhar falando além do que devia,
Perdendo as estribeiras denuncia,
De novo: o anjo mandando o seu recado.
Enquanto me envileço, a juventude
Soltando as minhas rédeas leva à queda.
O amor com sua lábia, então me ilude
Deixando o meu caminho em alvoroço.
Fazendo da emoção sua moeda,
Aperta com mais força o meu pescoço...
Marcos Loures
51
Um anjo que se mostra mais moleque
E gosta de saber dos desatinos,
Abrindo em nosso amor, completo leque
Atamos já faz tempo estes destinos.
Não quero, minha amada, que se peque
Amor por não ter tido siso ou tinos,
Mas peço que a tristeza já se seque
E façamos dos risos nossos hinos.
Meu rumo está perdido em tua tez,
Na brônzea maravilha que denota
Um pouco de sagrada insensatez
Também eu nunca fui nenhum janota,
Apenas bem querer que assim se fez,
É mel que não se guarda na compota.
Marcos Loures
52
Um anjo que despenca lá do céu
Trazendo uma esperança pra quem sonha
Com mundo que não seja tão cruel
Mostrando uma alegria mais risonha,
A noite iluminada em raro véu
Permite que este brinde se proponha
A quem desempenhando o seu papel,
Impede que esta vida vá tristonha
E mostra num momento o quanto é bom
Uma amizade feita em mesmo tom,
Aniversariando neste dia,
Esta pessoa amada e tão gentil,
Espalha sobre a terra, esta alegria
Deixando para trás o mundo vil...
Marcos Loures
53
Um anjo na minguante, asas cortadas
Sangrantes pelas ruas da cidade.
As hordas que seguia, destroçadas,
Não resta dos bons tempos, nem saudade.
Andróginas figuras desabadas,
Vencidos, bem distante da verdade.
As sombras escondidas, amputadas
As asas de quem quis felicidade...
No oco deste rincão que não vigora,
Traz seca uma esperança como guia.
Vestido do que fora não sei hora
Da volta deste sonho que amputei.
Talvez uma visagem mais tardia,
Ressuscitará o anjo que matei..
54
Um anjo guerrilheiro agora ampara
O sonho derradeiro, encanto e gozo.
Um canto libertário diz Guevara
Caminho tantas vezes pedregoso.
Quem ama de verdade se declara
Num jogo que se mostre perigoso,
Percebe que a manhã quando se aclara
Permite um novo tempo, caprichoso.
Em todo este universo, no infinito,
Vagando sem pecado e sem juízo,
Além do que se expressa num sorriso
O amor decerto um dom bem mais bonito
Não deixa que se perca no caminho,
O encanto que em delírios me avizinho.
Marcos Loures
55
Um anjo feito fálico desejo
Invade cada sonho da donzela
Deitada, esvoaçante pede um beijo
Carinhos que imagina serem dela.
Depois deitando nua com traquejo
Recebe a tempestade em esparrela
Respiro se transforma em puro arquejo,
No olhar extasiado se revela
O sonho que tivera, mas me calo
E nada posso ver senão sorriso
De quem já passeou por paraíso
Em pura tentação, amando falo.
E assim donzela fica mais desnuda,
Pedindo sequiosa por ajuda...
56
Um anjo dominando este cenário,
A Diva que desejo e tanto quero,
Um coração outrora solitário
Nos braços deste sonho eu me tempero.
Encontro nos teus braços, divindade
E nela sou cativo, me escravizo,
Amor que ao me trazer felicidade,
Não deixa tempestade nem granizo.
A deusa que se mostra semi nua
Dançando seus prazeres sobre mim,
Enquanto a fantasia já flutua,
Mulher abençoada, um querubim,
Dourando a minha vida, faz do sonho
Um Paraíso aonde amor componho...
Marcos Loures
57
Um Anjo decifrando estes sinais
Enigmas resolvidos, luzes tantas.
Enquanto em poesias entornais
Num átimo, seduzes e me encantas.
Os dias vãos passando, sempre iguais,
Da lua que se entorna em claras mantas
Amor que sem limites demonstrais,
Palavras tão suaves, belas, santas.
Quem dera se eu colhesse do canteiro
Um sentimento assim, tão verdadeiro,
Teria o mais sublime dos perfumes.
Mas sei que restarão somente espinhos
Dos olhos embotados, descaminhos,
Procuram sempre cegos por teus lumes...
Marcos Loures
58
Um anjo de asas belas me avisou
Que o tempo, sem demora, chegará.
Sabendo do que fora e do que sou,
As asas deste arcanjo vêm de lá.
Na forma feminina e tão gentil,
Beleza sensual, anjo divino.
Sorriso tão suave e pueril,
Nesse anjo meu futuro descortino.
Na menina morena, asas abertas,
O jeito tão sereno de viver.
Amiga; nas tormentas, traz alertas;
Amante, em minha cama, dá prazer.
Velando seu dormir a noite inteira,
Menina angelical, minha parceira!
59
Um anjo branco voa e vai solto no espaço
Apascentando assim a dura tempestade
Ao acolher meu brado, acalma cada passo
Que dou na busca atroz atrás da liberdade.
A vida vem cortante e aperta sempre o laço
Aborta num instante e o nada que me invade
Não deixa nem resquício e nem sequer um traço
Que possa permitir alçar felicidade...
Porém ao ver que esse anjo – encantadora imagem,
Sorri e me apascenta, em um momento breve,
Embora não perceba a verdade ou miragem,
Que minha alma serene e possa desfrutar
De um dia mais tranqüilo. Um vôo assim tão leve,
Entranha uma esperança, aos poucos... devagar..
60
Um andarilho tolo, um sonho de andorinha
Que voa pelos céus em busca de alimento,
O riso da menina, eu sei que nunca vinha,
Apenas tão distante, o mesmo e amargo vento.
Agrário sentimento, expressa-se na vinha
Avinagrado gozo, estampa o meu tormento;
Porém esta esperança, ainda sendo minha
É tudo o que carrego. Herege é meu intento?
Hedônico? Não sou. Apenas sonhador...
O prato que é servido em falsa prataria
Não tem, isso é verdade, um salutar sabor.
Licor que me inebria, olhar tão verdadeiro
Daquela que se fez imensa poesia
Sabendo do poder que tem tal feiticeiro...
61
Um amor que se acaba, como o teu,
É porque nunca, na verdade existe...
Nunca pode morrer quem não nasceu.
Pura mentira não passou de um chiste,
O sol não brilha enfim, natimorreu...
A bem dessa verdade não sou triste.
Antes houvera escuridão no breu,
Adeus... Não poderás voltar em riste
Neste meu peito um coração ateu...
Corpo gentil mas mentiroso, vai...
Não posso conspurcar o meu desejo...
A noite que não fora já recai.
O dia que não houve mata o sol.
Na boca inda molhada do teu beijo...
Por onde irá meu barco sem farol!!!!
Marcos Loures
62
Um alguém como tu, sonho e verdade...
Nunca ninguém me fez assim feliz...
Nos versos que componho, claridade,
O mundo que pensei, um aprendiz,
Inundando magias, sentimentos,
Do amor em sintonia, verso e canto.
Além de tantos portos, mares, ventos,
A certeza absoluta deste encanto
Que chega, simplesmente e me conquista.
Ciúmes de quem amo? O que fazer?
Por mais que a sanidade enfim resista,
Faz parte da vontade e do querer...
Sinto o quanto quero o teu amor...
É mais do que desejo; é um torpor...
63
Ultrapassar semáforos vermelhos
Avançando sem crer no ancoradouro.
Arranha esta pantera, arranca o couro.
Mas não aceitarei tolos conselhos...
Sinais de que meus versos são bem velhos
No sol de um pleno inverno eu não me douro,
O riso em ironia, um mau agouro,
Porém não me verás mais de joelhos.
Sem tempo pra fingir o que não sinto,
Embora este vulcão andasse extinto
Sem nada que o console nem consagre,
Depois de ter te visto por aí,
Alegre, meu amor, eu percebi
Que ainda posso crer nalgum milagre...
64
Ultrapassando todos os limites
Uma esperança toma o firmamento
E quero que nos sonhos acredites
Apascentando assim qualquer tormento
Num átimo invadindo o sentimento,
Só peço que este encanto; não evites.
Sem ter tal emoção, eu não agüento,
Por isso não suporto mais palpites
E deixo o coração tomar o leme,
Uma alma que se entrega nada teme
E vive sem temer qualquer procela.
E quem sabe viver se entrega manso,
Assim a cada dia mais avanço,
E o meu futuro, o amor, sublime, sela...
65
Uirapuru cantou, lembrei de ti.
Meus olhos são problemas sem remédio.
Chorar não mais irei longe daqui,
Trocando o sofrimento pelo tédio...
Rimei tantas palavras, me perdi.
Jogado nas escadas deste prédio
Encontro a solidão da qual bebi
Sendo franco, prefiro o teu assédio...
Não gosto do tumulto dessa rua,
Nem quero esse calor feito emboscada.
Eu te desejaria toda nua,
Depois, que se danasse, quero nada...
Eu fecho a persiana, tapo a lua.
Não quero nem manhã nem madrugada...
Marcos Loures
66
Ufano da vitória contra o mal,
Amor já se apresenta enfim, sorrindo.
Com toque de malícia e sensual,
Em pétalas de flores vai se abrindo.
Perfuma totalmente minha casa,
Aromas delicados, olorosos,
Ao mesmo tempo chega e já me abrasa
Abraços tão gentis e calorosos.
Recebo teu carinho qual sedento
Viandante por desertos quer oásis,
Secando toda fonte, sofrimento,
Vagueio por teus braços, luas, fases.
E sinto-me vencido e tão feliz,
Amor que sana em paz a cicatriz...
67
Uai, tu queres logo assim cortar
O bem que tenho em mim, mais precioso?
Menina vou contigo devagar,
Senão... o troço fica perigoso.
Não é uma questão de rir chorar,
Um homem sem aquilo? É bem jocoso
Quando me der vontade de urinar
Sentado com certeza é horroroso...
O fato é que preciso prevenir
E nisso vou fazer minha defesa
Com força e com total virilidade.
Só tendo enfim um jeito de impedir
Que a vida proporcione esta tristeza
Um cinto que garanta integridade...
Marcos Loures
68
Eu agradeço a Deus o poder tido
Durante a minha vida sonhadora,
Tornando uma esperança redentora
O amor que foi em Graça concebido
Além do que tivera percebido
A sorte de quem ama, sabe e adora.
O encanto que me toma e revigora
Que foi em plenitude recebido.
Ao ter tua presença, filho amado,
Eu vejo ser possível crer no Pai,
Por mais que andei na vida, certo/errado
Eu tenho sempre viva esta certeza
Que é feita deste amor que não se trai
Vencendo, com o tempo, a correnteza...
PARA MARCOS VALÉRIO DE CARVALHO LOURES
eu te amo, e você sabe disso querido filho.
beijos em tua bela alma,
você é meu orgulho e minha fonte de inspiração para a vida
assim como os teus irmãos
Marcos Loures
69
Um dia voltará para o meu canto
Quem, partindo levou quase metade
Do que eu pensara ser felicidade
Deixando no lugar só desencanto.
Também o que fazer? Se eu amei tanto
Problema é de quem ceva a claridade
E colhe no final a obscuridade
Regando com discórdia, medo e pranto...
Lavando assim meus olhos, águas podres.
O vinho avinagrado em torpes odres
Na adega da esperança, mata o sonho.
Qual ébrio de ilusões eu me perdi,
E agora o que restou demonstro aqui
Nos verso em que desnudo, enfim, me exponho...
Marcos Loures
70
Um dia tocarei a tua face
E vendo-te feliz, também serei.
Vencendo o meu temor, o desenlace
Da cena, nunca mais esquecerei.
Do amor que tanto quero, sem impasse,
Em rara maravilha eu mergulhei.
Por mais que o tempo atroz inda passasse
Tu és quem sempre em luz imaginei.
Espero que isso ocorra sem demora,
Minha alma te deseja desde agora,
Estrela que cultiva fartos lumes.
Não quero mais penar longe de ti,
Viver o que sonhei e não vivi
Sentindo junto a mim os teus perfumes...
71
Um dia talvez fosse interessante
Fazer da fantasia, a realidade.
Quem sabe num cordel beligerante
Encontre a tão sonhada liberdade.
Enquanto ainda teimo neste instante
Viver o que julguei felicidade,
Por mais que uma alma tola ainda cante,
No fundo isto traduz a falsidade.
Em drágeas, comprimidos ou em gotas,
As roupas que vesti; agora rotas,
E as rotas que segui deram em nada.
O terno amarrotado não me cabe,
Somente a poesia nunca sabe
Da noite que matou minha alvorada...
72
Um dia quis viver intensamente
Usando da emoção como defesa.
O amor que tantas vezes se despreza
Porquanto aos solitários desalente
Vencendo os dissabores, ganha a mente,
E serve com fartura cada mesa
Gerando a fantasia, sobremesa,
Fartura que me encanta e que alma sente.
A par dos dissabores que teria,
Prenunciando assim dor e sangria
Não pude me conter e mergulhei.
Sargaços e serpentes dizem mar,
Porém quando tenaz e intenso o amar,
Das nuvens fiz castelo e hoje sou rei.
73
Um dia que virá maravilhoso
Impede totalmente a derrocada
Do canto da amizade, desejoso,
Percebo a vida sempre iluminada,
Depois de caminhar tão receoso,
Encontro uma esperança demarcada
No sonho que me fez mais orgulhoso
De ter sempre ao meu lado em minha estrada,
A força que me toma e assim me abriga,
Nos braços de quem amo; minha amiga
Um sonho mais audaz, feliz eu boto.
Meu verso se apazigua neste instante
Bebendo o farto mel, doce e constante
Depois de um tempo amargo, ora remoto.
Marcos Loures
74
Um dia que se mostre revestido
Em paz, mostrando o rumo anunciado
Demonstra um novo encanto prometido,
Vencendo um mar difícil, soçobrado.
Destino que em bonança está cumprido
Trazendo ouro raríssimo ao passado.
No passo que se dá, sinto vencido
O medo de viver enamorado.
No teu aniversário eu já te digo
Do quanto é necessário um vento amigo
Que trague como alento, a mansidão.
Amiga, eu te desejo parabéns
Enquanto em alegrias sei que vens
Tocar profundamente o coração...
Marcos Loures
16275
Um dia que em promessas, luminoso,
Da sorte de viver vai se apartando,
Um mundo mais sublime e glorioso,
Os medos e as tristezas vão cortando,
Um céu que se mostrara mais formoso,
Aos poucos sem ninguém vai se nublando
E o tempo muitas vezes caprichoso
Os sonhos e castelos derrubando
E um canto de um amor desesperado
Retumba como um eco do passado
Como fora uma espécie de lamento.
O quanto que tentei e nada existe,
Meu canto lamuria e mostra, triste
A vida se perdendo num momento,
Marcos Loures
76
Um dia quando estava no mictório
Ao ver um homem forte e avantajado,
Gilberto, meu amigo e meu cunhado,
Pensou ser o que vira um ilusório
Efeito do conhaque desgraçado
Que tinha com platéia e auditório
Numa aposta; bebido e se fartado,
E se mostrando quase que simplório
Ao ver um camarada que urinando
Mostrava tatuagem bem mal feita
Num pênis gigantesco, pois foi quando
Ao ver que estava escrito ali LEMGABA
O que isso quer dizer? Pergunta feita:
“LEMBRANÇAS LÁ DE PINDAMONHANGABA...”
77
Um dia percebi que sendo arisco
Talvez sobrevivesse aos dissabores,
E quando a fantasia; em vão, confisco,
A sina que se vê: dos perdedores.
A moça disfarçando os seus rubores,
Enquanto tão matreiro, o olhar eu pisco,
Ouvindo mais distante tais rumores
Ao fim da tarde sonho com petisco.
Mas vejo numa espreita estes chacais,
Carnificina à vista após a esquina,
Mente desocupada ora oficina
Um jeito de escapar dos animais,
Olhando de soslaio, então despisto,
Não quero mais ser pego como um Cristo...
78
Um dia, num passado não distante
Um velho trovador; um repentista,
Sonhando ser talvez um grande artista
Com a alma juvenil, quase um mutante
Olhando para imagem deslumbrante
Da bela sedutora – uma hedonista,
Nos olhos, preciosos, ametista,
Paisagem com certeza, alucinante.
Ao ver tanta ventura em sua frente,
O velho imaginou-se vigoroso,
Do amor, quem fora outrora um penitente
Acreditando ser possível tanto bem,
Não via, desdentado e vaidoso
Que a Musa quando olhava, via outrem...
Marcos Loures
79
Um dia mais em perfeição se deslindando
Moldando este cenário inebriante,
Pergunto sem respostas desde quando
O amor se desenhou. Em qual instante?
Questionamento estúpido; tu dizes,
Concordo, mas queria descobrir
Se somos com certeza; tão felizes,
Eu quero saber onde, e se devo ir
Um ébrio que caminha em noite insana,
Insone mal contém-se de alegria
Da sorte de sonhar, ele se ufana
Não quer que raia nunca um novo dia
Temendo que este sonho se esvaeça
Nas estrelas, decerto, ele tropeça...
80
Um dia inda verás o meu retrato
Transido pelos ventos, frio intenso.
Se às vezes eu te iludo, nunca penso
Ser isso, na verdade um duro fato.
Não quero que tu penses ser ingrato
O vento que te mostre um ar mais denso,
No fundo sou tristonho, e o mar imenso
Que eu crio, não passou de um vão regato.
Desnudo-me e sei quanto isto te assusta,
Da imagem que criaste, tão robusta
Apenas a figura amarga e frágil
De quem em solidão, já se perdeu,
Sem paradeiro a morte em himeneu
Será meu derradeiro e bom naufrágio...
Marcos Loures
81
Um dia imaginei, leda esperança,
Poder ter teu amor. A vida passa,
Perdendo pouco a pouco toda graça,
Só resta uma promessa na lembrança.
O tempo inexorável sempre avança
Distante de teus braços, se esfuma
A sorte que sonhei; tristeza grassa,
A desventura, amarga já me alcança
E deixa tão somente o vento frio,
A rua escura, o medo de morrer,
A neve me tomando todo o ser,
E a sensação terrível de um vazio...
Amar e ser amado, quem me dera!
Inverna sem piedade, a primavera...
Marcos Loures
82
Um dia imaginei que ser poeta
Traria alguma paz ao coração,
De quem tendo esperança como meta,
Vivia as cores várias da paixão.
O quanto realidade muda a seta,
Transtorna com certeza a direção.
Minha alma sem destino se completa
Na força da total transformação
Que possa permitir um novo templo,
Além do que, sem rumo, inda contemplo,
Formado por lauréis e ricas vestes.
Nas mãos de um Ser supremo, ora me vejo,
Erguendo o meu olhar sem qualquer pejo,
Cumprindo este destino que me destes...
83
Um dia imaginei poder cantar
Apenas o que diz meu coração
Menino se entregando em compaixão
Fazendo da emoção um tolo altar.
Arisca uma esperança quis voar
Deixando em seu lugar, desilusão.
Um velho vagabundo sem senão
Matou a fantasia, devagar...
Rodando qual piorra fui, voltei,
Depois de tanto tempo o temporal
Depois da calmaria, o vendaval
Somente meus escombros, carreguei
Pesando em minhas costas como cruz
Legado à escuridão quem sonhou luz...
Marcos Loures
84
Um verme passeando nos esgotos,
Em alimento encontra o desperdício,
Assim ao mergulhar num precipício
Alvejo meus caminhos, velhos, rotos.
Depois destes temíveis terremotos
Agora a solidão se mostra um vício,
Amor que imaginei; sonho fictício
Miragem esquecida, ares remotos.
Percebo que tu segues já meus passos,
Um cão mais vagabundo, meu reflexo.
Atados pela merda, nossos laços
Mudando o que pensara ter um nexo,
Talvez por não sobrar-te quase nada
Do nada que hoje sou; vida espelhada...
Marcos Loures
85
Um verme passeando escatológico,
Da merda faz divina refeição.
Profanando este templo sem perdão
Tornando cada dia mais enérgico.
Crescendo no intestino, proctológico
Passeia pelas pregas, comichão.
Um verme se mostrando tão ilógico
Espreita devagar o mundo cão.
Qual fosse o verme assim tu me maltratas,
Depois vai se escondendo em poço escuro.
Procuro devagar em densas matas,
Mas logo tu te escondes trás o muro
E finges, num sorriso, uma ternura,
E fazes desta vida, bosta pura...
86
Um verdadeiro feito amor consegue
De ser bem mais potente que uma dor,
A vida em desamor nunca prossegue
Aborta-se sem ter sequer calor.
Amor quando se apossa já domina,
Não deixa um sentimento sem resposta.
É mar que me domina e descortina
Banquete na minha alma, sempre exposta.
Não me cuido do medo de te amar,
Eu sei que bem o que quero; destemido.
Nas asas que me deste p’ra voar
Eu sinto meu destino resolvido.
Se olhar-me com cuidado, tu verás,
O bem que tanto amor, em mi, já faz...
87
Um verdadeiro amigo compartilha
As dores e tristezas, solidão...
Uma amizade em si, é maravilha
Que toca e que nos toma o coração.
Um homem que jamais é uma ilha
Conhece, neste mundo a solução
Que beira à perfeição, por isso trilha
O rumo da amizade e do perdão.
Amigos nunca estão, assim, sozinhos,
Andando lado a lado, se completam,
Percorrem os difíceis descaminhos
Nos passos que bem sei, são solidários.
Na amizade, amigos se repletam,
E juntos, nunca marcham solitários...
88
Um vento que se mostre poderoso
No encanto tantas vezes mais gentil,
O bem que nos transforma, glorioso
Tornando nossa vida menos vil,
Estampa um ar brilhante, fabuloso,
Além do que pensara ser sutil,
O amor que nos promete mavioso
Caminho mais sensível permitiu.
Levando ao infinito, num segundo,
No mar do encantamento eu me aprofundo
E bebo cada gota, à saciedade.
No néctar de teus lábios me inebrio
Enquanto o coração segue vadio
Buscando com certeza, a liberdade...
Marcos Loures
89
Um velho trovador ultrapassado
Olhando para a lua, distraído
Depois de tanto tempo, vai vencido
Tocado pela chama do passado.
Seu verso inutilmente enamorado,
Há tanto que se mostra convencido
De que por ser inútil e condoído
Carrega tão somente um duro enfado.
Não tendo competência pra cantar
A lua, nos seus versos tão banais,
Vagando em pensamento, nos astrais
Embevecido sonha com luar
Que entrega-se a um poeta de verdade,
Deixando ao trovador, dor e saudade...
Marcos Loures
90
Um velho timoneiro em mar revolto,
Não posso te guiar, pois vou sem rumo.
Nem mesmo o teu olhar; ainda escolto,
Perdi, faz tanto tempo, rota e prumo.
Quem fora, no passado, quase douto,
Errôneo navegante. Assim assumo
As trôpegas passadas. Mesmo solto
Não sei mais discernir e então me esfumo.
Verás o quanto é falsa a caminhada
Que leva, no final, ao labirinto,
Distante da ilusão que às vezes pinto,
No fundo, não restou mais quase nada
De quem outrora fora comandante,
E agora morre aos poucos, neste instante...
91
Um velho timoneiro em mar comum,
Bebendo a noite inteira não percebe
Que a vida transformada, amargo rum,
Apenas transferindo o que recebe
Não deixa resistir mais sonho algum,
E a dura solidão já se concebe
A morte clareando e neste zoom
Percorre a mais distante e amarga sebe.
Um velho timoneiro neste bar
Em meio a tantos risos, gargalhadas,
Saudoso, com certeza de outro mar
Afoga-se depressa em aguardente.
Não tendo sequer luzes, alvoradas,
Aos pouco vai morrendo e nada sente...
Marcos Loures
92
Um velho sonhador, vero aprendiz
Não cansa de aprender e quer bem mais.
O mesmo enunciado às vezes diz
Do barco que se foi sem ter um cais,
Ao mesmo tempo, amor já contradiz
E mostra ancoradouros magistrais.
Assim nas intempéries que encontrar,
Não deixe que o temor tudo destrua.
Seguindo cada raio de luar,
A noite com certeza é toda sua.
Vencendo a timidez, posso encontrar
A dama de meus sonhos bela e nua.
Amor não reconhece mais problemas,
Por isso, coração, a dor não temas.
Marcos Loures
93
Um velho sonhador ao perceber
O olhar convidativo da pantera,
Ao lume destes olhos se render
Tentando reviver a primavera;
Nos lábios tão macios, pode crer
Que a vida em esperanças se tempera,
Num derradeiro sonho pode ver
Além do que quem busca ainda espera
Depois de ter perdido a mocidade,
Encontra quase ao fim, felicidade
E sente que inda pode imaginar
A fonte de uma eterna juventude
Sabendo que esta fera não ilude,
Reflete a clara estrela, bebe o mar...
Marcos Loures
94]
Um velho solitário, que eremita,
Podou seus arvoredos e alamedas,
As horas de alegria, tolas, ledas,
Negaram a certeza da pepita.
Uma alma sem destino que se agita,
Destrói o que restara destas sedas
Que um dia propagaste. Enveredas
Por senda tão diversa. Alma se agita.
Saber dos meus erráticos caminhos,
Estradas entre curvas, ribanceiras,
As dores se tornando costumeiras,
Estrago o que pensei, licores, vinhos.
Não quero a companhia desta luz
Que há tanto maltratando, me conduz
95
Um velho repentista me dizia
Que a vida vai virando um triste aboio,
A gente feito gado segue o arroio
E desce procurando uma alegria.
O gosto desta sorte dando azia,
É feito muitas vezes só de joio,
A queda que se faz em pleno apoio,
É tudo o que demonstra a noite fria
Aonde os namorados bebem mágoa,
Nos mesmos desencontros desta vida,
Que tendo a qualidade feita em água,
Matando a sede quase nos afoga,
Assim, uma amizade traz saída,
Amor cura, envenena, feito droga...
96
Um velho que menino foi na roça,
Vivendo da caiana cana doce,
Olhando o seu olhar reflete a poça
Que há tempos na distância, amarga foi-se.
Ouvindo emocionado, a bela moça
Sentindo no seu peito, a fria foice
Do amor que, de repente já remoça
Na boca traz sorriso e mata a tosse.
Vestígios que deixara no caminho
Demonstram que inda pode ser feliz
Cansado de tentar andar sozinho
Ouvindo a voz macia que assim diz
Do amor que venho forte e temporão,
Adoça novamente o coração...
97
Um velho pirilampo solitário
Vagando pela noite sem destino,
Vivendo em desamor, celibatário
Querendo de repente ser menino,
A vida se escondera atrás do armário,
Completo e insuperável desatino...
Ao completar um novo aniversário
Tivera um pensamento cristalino.
Buscando uma parceira noite afora
Que apenas um amor tudo decora
Nas cordas deste sonho, eu já me agarro...
Ao vê-la, saliente companheira,
Mergulha com a fome derradeira...
Era apenas a brasa de um cigarro...
98
Um velho passageiro perde o trem
E vê o seu destino em outras sendas.
Olhando para trás, a noite vem,
E traz miragens frágeis sob as vendas.
Naufrágio traduzido por ninguém,
Nem esperanças tolas tu desvendas
Vazio tão somente elas contém
Páginas que arrancaste das agendas.
Palhaço que se perde em picadeiros
No circo da existência, sigo assim,
Aguardo simplesmente pelo fim
Meus versos são simplórios mensageiros.
E enquanto o passageiro vai sem rumo,
Os palcos sem platéias, eu assumo...
99
Um velho papagaio não se cansa
De apenas repetir o seu refrão,
E quando a gente esquece; uma lembrança
Ressurge desta insana opinião.
Quem sabe, devagar, caminha e alcança
Porém quem não conhece morre vão.
A minha poesia se faz mansa,
Mas não suporto tanta escuridão.
Cheguei enfim a uma conclusão,
Depois de ter perdido a paciência,
Distante do que fora consciência,
Mesquinharia é da alma, um aleijão,
Minha alma não devia ficar tensa,
Papagaio, afinal. Fala e não pensa...
16300
Um velho ornitorrinco não sabia
Porque botando um ovo era diverso
De tantos animais deste universo
E o leite sem ter teta já bebia.
Um engodo ou mutreta parecia
Quem sabe nalgum rio esteja imerso
O bicho venenoso e tão perverso
Criando mentirosa poesia.
O bico deste bicho interessante
De uma ave se parece. Provocante
Figura sem igual na natureza.
Assim também conheço muita gente,
Num híbrido formato tolamente
Nunca sabe enfrentar a correnteza...
1
Um velho marinheiro que inda tenta
Singrar os oceanos da paixão
Enfrenta tempestade violenta
E perde depois disso, a direção.
A boca tantas vezes pede menta
E os dentes já caíram, extração.
Enquanto amor não fosse distração
A gente batucando diz tormenta.
Poeira novamente, vai baixando
Castelo de ilusões que desabando
Em bando fogem luzes e falenas.
As mãos ficam vazias depois disso,
A flor não reconhece mais um viço
E resta a solidão, lúpica, apenas.
Marcos Loures
2
Um velho marinheiro entre procelas
Procura velejar com mais cuidado,
Estrelas que me guiam sempre belas
Contê-las nos meus sonhos, doce fado...
E quando a solidão tu me revelas
Perceba que estarei sempre a teu lado,
Dos barcos abriremos suas velas
Não quero ver o amor transfigurado.
Sentidos figurados, um sabujo
Grumete da esperança, teimo tanto.
Por mais que o dia seja amargo e sujo
Eu tenho em minhas mãos esta alegria
Que molda do vazio, puro encanto,
Dourando este tesouro, a poesia.
3
Um velho jardineiro reconhece
A beleza suprema do canteiro
Que flores tão sublimes, oferece
A quem se deu completo, por inteiro.
E quando em seus pendões, bela flor cresce
E espalha pela casa o doce cheiro,
A natureza imersa em rara prece
Louvando um Deus perfeito e verdadeiro
O Amor trama nas pétalas, matizes
Que tornem os meus dias mais felizes,
Forrando em aquarela nosso chão
Debruço o meu olhar extasiado,
Nos olhos deste ser puro e encantado,
Tomado pelas rédeas da paixão...
4
Um velho e vagabundo coração
Sem ter noção sequer do que pretende
Acreditando estúpido em duende
Doente sucumbindo: inanição.
Cortado pelos gumes do facão,
Não tendo fantasia que se agende,
Lareira traja frio enquanto acende,
Melhor queimar os dedos no fogão.
O peito vai girando qual piorra,
A sorte de quem ama, uma cachorra
Escorre entre os meus dedos, nada deixa.
Não posso mais fazer o juramento,
O amor não tem juízo e no momento
Eu sonho com teu corpo, minha gueixa...
Marcos Loures
5
Um velho e ultrapassado timoneiro
Usando um astrolábio como guia,
Assim é minha amarga poesia
Um canto muito além do corriqueiro.
Tivesse o meu cantar claro e ligeiro
Talvez quem vive ausente, escutaria,
A noite não seria assim tão fria,
E a seca mais distante do ribeiro.
Porém tal melodia pertinaz,
A mão servil e tola já não faz,
Escolhendo palavras com esmero.
Jamais publicarei tais baboseiras,
E quando, sorrateira, tu te esgueiras,
Apenas o vazio; torpe, gero...
6
Um velho e solitário coração
Cansado de buscar algum afeto,
Vestido com seu sonho predileto
Vagando sem destino e direção
Encontra no caminho a solução
De um jeito que é decerto mais concreto,
E nele em alegrias me completo
Ao garantir perfeita floração.
As mãos que se procuram, carinhosas,
Recolhem entre os espinhos jasmins, rosas,
Crisântemos, violetas, dálias, lírios...
Saber desta magia me permite
Sonhar sem respeitar qualquer limite,
Matando em alegrias vãos martírios...
Marcos Loures
7
Um velho coração em disparada
Taquicardia é pouco, eu te garanto,
Não posso controlar mais este encanto
Minha alma pela tua dominada.
Sereno que caiu de madrugada,
Tomando a minha casa, em todo canto,
Molhando de esperança o amianto
Aonde imaginei abandonada.
Goteira preparada pela vida,
Encharca a sala e deixa sem guarida
O peito condenado a tal enfarte.
Sagrada inundação fazendo a festa,
Divina provisão que tudo infesta
Espalhando prazer por toda parte...
8
Um velho companheiro que não largo,
Além deste cigarro que acendi,
Mesmo quando distante olhando ao largo,
Eu sempre reconheço, está em ti.
Embora a vida passe, sem embargo
Não deixo de querer o que vivi,
Por vezes, mesmo quando estou amargo,
Adoço-me no mel que eu escolhi
Garapa divinal, em tua boca,
Que me extasia – quero muito mais-
Além da perfeição deste tempero
Tornando a nossa vida muito louca,
Alvíssaras e glória; vem e traz,
Amor que tu bem sabes, verdadeiro...
Marcos Loures
9
Um velho caminheiro, coração,
vagando entre carinhos e torturas,
encontra nos teus olhos negação,
momentos de terrores e amarguras.
aonde procurara uma ilusão,
carinhos entre insânias e loucuras,
o vento que nos toca em turbilhão
rompendo antigos laços, sem ternuras.
vestígios do que fomos se perdendo
sementes agouradas, solo estéril.
ausência de prazeres, sem critério
segredos que encontrei já não desvendo
apenas a vontade de ficar
olhando este vazio, imenso, mar...
Marcos Loures
10
Um velho caminheiro não sabia
Das belas paisagens de uma estrada
Aonde desfilava a fantasia;
Na primavera da alma, uma florada.
Olhando pra si mesmo, nunca via
Beleza entre mil cores desfilada
Tramando no cenário a poesia,
Aos olhos do andarilho, desprezada.
Assim, o velho segue a sua sanha,
Por entre os pedregulhos do caminho,
Da flor despedaçada sobra o espinho,
A lua se escondendo na montanha
Reflete em negritude a realidade
Amarga em que caminha a humanidade...
Marcos Loures
11
Um velho caipira me dizia
Dos tempos que não voltam nunca mais
Guardando tais saudades nos bornais,
A vida não supera a fantasia...
O olhar que representa uma alegria
Aos poucos se perdendo, pois jamais
Verá tais paisagens ancestrais
Cobrindo em maravilha, a cercania.
Fumaça vai tomando este cenário,
Buzinas onde outrora algum canário
Cantava em liberdade sem as grades
Sinônimos dos dias que, modernos,
Agrisalhando os olhos antes ternos
De quem cultiva em vão, tantas saudades...
Marcos Loures
12
Um vate que se mostre enamorado
Cantando à luz da lua em serenata
Revive este prazer emoldurado
Enquanto a realidade nos maltrata.
Ouvindo esta cantiga de bom grado,
Deitando a maravilha cor de prata
Satélite se mostra iluminado
Desnudo se espalhando sobre a mata.
Mas hoje entre as estrelas de néons
A noite se mistura em vários tons
E tudo já não passa de balela.
Romântico palhaço segue só,
A bela piriguete já sem dó
Na montanha de músculos se atrela...
Marcos Loures
13
Um vate que falava em tanto amor
De forma insuperável, conquistara
A dama com seu verso encantador,
Palavra de beleza extrema e rara.
Depois de certo tempo, em esplendor
Divina poesia se declara
Formando a melodia com louvor,
Um belo amanhecer, ele escancara.
A moça sonhadora, não percebe
Que quem ela deseja não está,
E d’água suja e turva quando bebe
Pensando num arroio cristalino,
Olhar extasiado busca lá
O que negou, deveras, o destino...
Marcos
14
Um vate que do Sul traz boas novas,
Fazendo com sublime poesia
Sonetos sem iguais, perfeitas trovas
Dourando com vigor e maestria
Amigo, nos teus cantos tu renovas
A língua portuguesa em tal magia,
Com raro encantamento tu comprovas
Como é divina e rara esta alquimia
Com que, um menestrel forjando imagens
Supremas permitindo tais viagens
À bela paisagem que desfias;
Embevecido, clamo em louvação
De Chaplin, a magnífica expressão
Nas forjas magistrais das poesias...
15
Um vaso que se quebra não se cola
Por mais que precioso nosso amor
Com asas amputadas não decola
Paralisado fica onde se por.
Não quero uma paixão por ser paixão
Não quero uma verdade irredutível.
Da vida eu aprendi esta lição,
Se move, é necessário combustível.
Querida, vem comigo, vem ligeiro
O tempo não permite mais disfarces
Amor se tem que ser, só verdadeiro
Não deixe que te iludam tantas faces...
E venha ser feliz, sem preconceito.
Esqueça quem pareça insatisfeito...
16
Um vampiro anda solto pelas ruas...
Devorando mocinhas e garçons...
As delicadas moças seminuas,
Escutam os gemidos semitons...
As carnes que devora estão bem cruas...
Incrível que pareça emitem sons...
Tendo por testemunhas alvas luas...
Causando tempestades e frissons...
Tal vampiro noturno tem segredos...
Das farsas dos amores, seu concerto.
Nas noites pernoitando nas boates...
Não dissemina SIDA nem traz medos...
Um vampiro de classe que, decerto,
Bem vestido passeia por iates...
Marcos Loures
17
Um vale de emoções, fartas branduras
Envolto em mansidão, tranqüilidade
Amor em melodia, partituras
Que mostram tanta sensibilidade,
Minando em fontes raras, as ternuras
Trazendo em paz total felicidade.
Na tela dos meus sonhos, as molduras
São feitas pelo amor e liberdade.
Descrevo o teu olhar diamantino,
Numa alegria tenra de um menino
A vida se fazendo em finos traços.
O amor em nossa vida, essencial,
Deixando bem distante um vendaval
Estreita dia-a-dia nossos laços.
Marcos Loures
18
Um trovador que canta simplesmente
Amor que não se cala e deste jeito
Caminha pela vida mais contente
Abrindo em cada verso, o velho peito,
Cansado de saber-se penitente,
Percebe no carinho, um grande feito
E ganha a liberdade na esperança
De um dia, novamente ser criança.
A vida traz as rugas e as mazelas,
Porém uma alma livre se imagina
Em meio a tantas cores, aquarelas,
E tenta disfarçar, sorrindo, a sina,
Imagens que eu sonhei em novas telas
No olhar do amor, beleza descortina
Marcos Loures
19
Um trovador com ares de repente
Sonhando Patativa do Assaré,
Sereno coração que tem na Fé
O encanto que por certo sempre alente.
No verso tento o vento que pressente
Um dia mais sereno; pleno até
Rompendo meus grilhões, sem a galé
Que possa me impedir de estar contente.
No quanto em cada canto sou miúdo,
Buscando da alegria o conteúdo,
Risonho amanhecer, o que mais quero.
Na paz que se anuncia após batalhas,
Bebendo a maravilha que amealhas,
Eu teimo num poema mais sincero...
20
Um toque sensual, um gozo imenso
E a gente não deseja uma outra vida.
Na beira-mar, a lua distraída
Espreita o fogaréu audaz e intenso.
Saveiros deslizando no horizonte,
As ondas prateadas vão e vêm,
Arroubos sem juízo do meu bem,
Delírios e ternuras sei de monte.
E quando a manhã chega e traz o sol,
Dourando com calor todo arrebol
Eu tendo esta sereia aqui comigo
Não penso noutra coisa e te convido,
Mergulho em tuas tocas resolvido
E faço do teu corpo o meu abrigo...
Marcos Loures
21
Um tolo que não tem o que fazer
E finge ser tão sábio deveria
Talvez em outro canto se meter,
Pois não conhece nada em poesia.
A liberdade é dada pra quem quer
E não pra quem, estúpido devia
Na fonte mais fantástica beber,
Enchendo sempre o saco de quem cria.
Existe, tu não sabes, imbecil
Um limite real, porém sutil
Que torna a poesia mais eclética.
Escrevo do meu jeito, porém uso
A métrica, o que é muito para o obtuso
Além da liberdade – ouviu? – poética.
Para um imbecil, segundo o qual
Quando CAMÕES ESCREVEU IMPIO AO INVÉS DE ÍMPIO
DEVERIA ESTAR ERRADO.
22
Um tempo mais feliz, ora componho
Sem medo, em destemor, bendito ungüento,
No passo sempre firme deste sonho,
Vagando na amplidão, cada momento,
Num canto mais preciso eu te proponho
A força mais tenaz de um sentimento,
Que possa transbordar em mar risonho,
Trazendo para a vida um manso vento,
Capaz de transformar em harmonia,
O que se fez paixão e ventania.
Caminho mais sublime, amor retoma.
Eu tenho esta esperança e ninguém cala,
A sorte que do amor se faz vassala
Depressa em alegrias nos assoma...
Marcos Loures
23
Um templo em tempo feito faz da lua
A velha marginal que desce em raios,
Na antiga hipocrisia dos desmaios
A boca que me cospe continua.
A fonte luminosa que gargalha
Ao ver o meu cadáver pelas ruas.
Enquanto em pranto regas e flutuas
Na mão escondes rindo esta navalha.
Do néctar que sonegas nem um gole,
Mentiras te servindo como escape
O beijo vindo em forma de tacape
Hedônica promessa ainda bole.
Mas nada do que herdei valendo a pena
Sorriso desdentado me envenena...
Marcos Loures
24
Um templo dedicado ao deus amor
Encontro em teu abraço, ancoradouro
Que justifica a busca por tesouro,
Momento em pura glória, qual louvor.
O tempo de viver e de compor
O sonho deste encanto, o nascedouro
Do sol em que me tomas e onde douro
O dia deslumbrante e promissor.
Meu barco no teu porto já se ancora,
Depois de velejar por turbulências,
Amor quando em supremas excelências
Permite que se veja desde agora
Beleza deste corpo que contemplo,
Magnífico e divino, um raro templo...
Marcos Loures
16325
Um sórdido fantasma ronda a casa,
Vociferando, imerge nos degredos
Que herdara ao se inteirar destes segredos
E apenas num escombro ele se embasa.
Mal percebe que o tempo não atrasa,
Nem tampouco respeita seus enredos.
Prazeres; de seus olhos, seguem ledos,
A fome de viver queimando em brasa
Açoda cada passo deste verme.
Um ser tão desprezível, quase inerme,
Escrotidão se mostra tumular.
Análgica mortalha não impede
Que espectral caricato encontre a sede
Das ilusões que um dia eu quis buscar...
26
Um sonho vem pousando devagar
E deita sobre um corpo que em ternura
Permite uma alegria imensa e pura,
Emoldurado em forma de um altar.
Minha alma solitária a soluçar
Pedindo que esta imagem de candura
Acabe bem depressa com tortura
Que fez o pensamento delirar.
Acaso, meu amor, inda resiste
À dor da solidão que me apavora,
Não deixe que eu persista assim tão triste
Vem logo, eu necessito amor agora,
Eu quero o teu carinho sonho meu,
Que a sorte em tua ausência se perdeu...
27
Um sonho sem igual, depressa eu biso.
Tristeza vai fazendo arribação.
Encontro no teu corpo um paraíso
Além do imaginável, perfeição!
Um sonho que se vem sem dar aviso
Invade e crava as garras, coração!
Na mansidão imensa de um sorriso
Alcanço as maravilhas da paixão.
Sou teu e isto me faz ser mais feliz,
Agora tenho tudo o que mais quis.
A sina: ser feliz, tomando a lida
Esgota o sofrimento que eu tivera
Renasce no meu peito, a primavera
A dor já se afastando, em despedida...
Marcos Loures
28
Um sonho que vagasse renascido,
Entoa maravilhas no meu peito,
De todos os caminhos, o meu pleito
É ter este momento enternecido
Dos pântanos ferozes, florescido,
Bebendo este veneno, satisfeito,
Rondando em solidão, vai do seu jeito
Perdendo qualquer rumo; desvalido.
Nos olhos de quem amo dor e prece,
Sorrisos mitigando o sofrimento.
Lúbricas transparências delicadas,
No seio que se mostra e se oferece
Os lábios vão sugando em louco alento
Orgásticas manhãs são vislumbradas...
Marcos Loures
29
Um sonho que se faz em árdua luta
Permite um desvario na batalha,
Às vezes necessária força bruta
Ao mesmo tempo açoda e já retalha.
No grito lancinante que se escuta
O corte mais profundo da navalha.
Apenas a canalha mais astuta
Esconde-se e aproveita qualquer falha.
Nos olhos indefesos dos pequenos
A lança penetrando com vigor.
A morte se aproxima sem acenos,
O medo se espalhando na cidade,
Matando o que restara em desamor,
Mas jamais vencerá nossa amizade.
30
Um sonho que pudesse te tocar,
Roçando a tua pele levemente,
Ardentes sensações, em noite clara,
Desnuda-te e conquista cada olhar,
Que busca por teu corpo qual demente,
E vibra quando enfim, já se declara
Capaz de imensamente desejar
Amor que na verdade a gente sente
E torna a nossa vida bem mais cara.
Vestido de emoção, pronto pra amar,
Eu quero penetrar tão de repente
Na concha que produz tal perla rara
Do amor que assim concebo divinal,
Na noite prometida e sensual...
31
Um sonho que jamais alguém esquece
Deixando suas marcas sobre nós.
Amor que com certeza me enlouquece
Tomando com firmeza nossa voz.
À fantasia sempre ele obedece
Atando os mais distantes, ledos nós.
Meu canto como fora alguma prece
Renega o sentimento mais atroz.
Encontro nos teus olhos sedução
A força magistral destes faróis,
Caminho a se buscar e nos propor
Além de simplesmente uma ilusão
Tomando em claridade os arrebóis
Tu sabes quanto eu quero o teu amor.
Marcos Loures
32
Um sonho que em loucuras vai vestido,
Tocando tão profundo no meu peito,
Por vezes faz feliz e satisfeito,
Em outras “é melhor nem ter nascido”
Coração em estrelas definido,
Percebe quanto é bom amor perfeito,
Porém o vento sopra do seu jeito
Deixando uma esperança em triste olvido.
Seguindo de um amor, o seu caminho,
Vestido de ilusões, em alvo linho,
Tornando o dia claro, iluminado.
Quem tantas vezes, crendo em uma prece,
Em esperanças, vida sempre tece;
Deixando o que sofrera, assim de lado...
33
Um sonho mavioso nos concede
A glória de viver que assim se atesta
Cantando o nosso amor, nada me impede
De ter uma alegria feita em festa.
Carinho desejoso que me cede
Aquela a quem a sorte já se empresta.
Amor que na verdade, não se mede,
Entrando na janela arromba a fresta.
Um sonho mavioso nos concede.
E molha em fantasia o coração,
Com farto e bom vigor, uma paixão,
Que em tantas noites vagas, eu busquei,
A glória de sentir tal maravilha
Felicidade imensa já nos pilha
Fazendo deste sonho, regra e lei...
Marcos Loures
34
Um sonho lindo feito em amor tanto
Que traz em nossa vida infindo mar,
Em meio às fantasias, eu me encanto
Com toda uma certeza de te amar.
Amar além de tudo, um helianto
Que vem hipnotizado em luz solar
Nos braços de quem amo eu me agiganto
E posso, num segundo, decolar,
Passando por estrelas, sóis e luas
Um sonho emoldurado que não passa,
Tu és minha aguardente, sou a caça
Das feras de teu corpo, belas, nuas.
Uma infinita paz consoladora
É tudo o que desejo em ti, agora...
Marcos Loures
35
Um sonho enfim real, e encantador
Depois dos pesadelos que eu tivera,
Cevando em teu canteiro a bela flor
Tu trazes para mim, a primavera.
Além do que se pensa e que se quer
Estendes poesia nos teus olhos,
Nas mãos maravilhosas da mulher
A rosa sobrepõe luz sobre abrolhos.
Eu tenho aqui comigo a sorte imensa
De ver em cada dia mais robusto
O amor que se transformado em recompensa
Tomando nossa vida a qualquer custo
Suprindo com prazer nossas vontades
Deitando sobre nós felicidades....
Marcos Loures
36
Um sonho em que se faz amor maravilhoso
Permite que um corcel adentre noite afora
Trazendo brilho ao véu que surge e que decora
Em volta do luar, num trilho caprichoso.
Bebendo da alegria até fartar em gozo
O bom da minha vida, eu encontrei agora
“Caminhando e cantando” amor não vai embora.
Sabendo deste encanto, é sempre majestoso.
Um coração se mostra eterno enamorado
Buscando o teu olhar em meio a tanta estrela.
No rebrilhar mais forte impávido revela
No céu deveras belo um manto que estrelado
Expressa a fantasia em luzes e matizes
O quanto, minha amada, eu sei: somos felizes.
37
Um sonho em esperança aberto em mim,
Divina sensação do quanto eu tive,
Rasgando este lençol, puro cetim,
Moldura uma alegria que revive
Aguando cada flor do meu jardim,
Relembra os tantos mundos onde estive,
Falando deste amor que eu sei, no fim,
Morrendo novamente já me prive.
Mas salgo meus olhares nos abrolhos
Janelas dos meus dias em ferrolhos
Fechando o que rasteja na minha alma.
Os cardos que encontrei deixaram trauma,
A lama nos meus pés fez moradia,
Amor que ressurgiu matou o dia...
38
O povo é o presidente
E está nas ruas, a partir de hoje.
JOSÉ CLAUDIO.
Um sonho e nada mais, democracia,
Justiça e caridade, amor e paz.
Visão deste cenário propicia
Além do que a verdade atroz nos traz.
O povo é presidente? Quem nos dera,
Chegando ao fim da vida ainda sonho,
No meu inverno crer que a primavera
É mais do que uma tela em que componho
Um ideal que possa nos fazer
Bem mais do que fantasmas sobre a Terra.
Famintos e crianças no Poder,
O bom cabrito é sempre o que mais berra...
Momentos de esperança, magistrais...
Porém somente um sonho, e nada mais...
39
Um sonho deslumbrando uma alvorada
Mostrando cada luz que a manhã traz
Trazendo minha vida bem marcada,
No gosto divinal da santa paz.
Ficar sem teu amor, não resta nada,
Te quero, sempre assim, e muito mais.
Meu verso se mostrando mais afeito
A quem foi minha força redentora.
Pergunto: ser feliz é meu direito?
Mas quando no meu peito já se aflora
Tua beleza rara e tão serena,
A vida novamente se ilumina
Na pele tão bonita da morena,
Nos olhos tão gostosos da menina...
40
Um sonho bom trazendo este ideal
Distante destes claustros tão sombrios,
Vagando pela noite, cessa os frios
E traz tua beleza escultural.
Da dor enfim pressinto o funeral,
Amor que vai tomando-se de brios
Invade os corações antes vazios
Num verso que brotou mais sensual.
Distante do que foram tais martírios,
Teus olhos em meus olhos quais colírios
Tão belos, me tomando por refém.
Jamais entornarei um triste choro,
Pois sem que em teu querer também eu moro,
Numa alegria imensa, eu sou teu bem...
41
Um sonho amortalhado, insanidade,
Algozes e verdugos me tomando.
Na ausência da esperança ou claridade
Castelos de ilusões vão desabando;
O medo de viver que agora invade
Não deixa nem sequer saber mais quando
Eu poderei saber tranqüilidade,
O mundo em névoas turvas se embrenhando.
As aves se perdendo de seus ninhos
Tempestas sem bonanças, malfazejas,
Reféns do pesadelo, descaminhos
Enquanto a morte em mote tu desejas...
Apenas pesadelo e nada mais,
Um beijo à realidade enfim, me traz...
42
Um sonho adolescente que se espelha
No corpo de uma moça em piercings, brilhos
Vagando por espaços andarilhos,
Matando uma ilusão, recente e velha.
Quebrando da vizinha, cada telha,
A noite sempre traz precoces filhos,
Ilusões em canções, os estribilhos.
O mel vale o ferrão da audaz abelha.
Baladas embaladas pelas luzes.
Nas coxas entranhando mil obuses,
Confusas as palavras e os sentidos.
Digerem diversão como saída,
O amor anestesia. Segue a vida,
Os olhos que encontrei seguem perdidos...
Marcos Loures
43
Um soneto sertanejo
Feito em simples redondilhas
Acompanha este cortejo
Pelos céus em outras trilhas
O meu peito tão andejo
Desvendando maravilhas,
Se em meus versos eu trovejo
É por que, no fundo brilhas.
Paralelo ao velho sonho,
Neste nada que proponho
Outro nada diz ninguém.
Se por vezes vou vazio
Noutras, tolo, fantasio
No final o nada vem...
Marcos Loures
44
Um soneto feito trova
Bate, bate até que fura,
A morena quebra a jura
Meu amor já não comprova
A saudade dado sova,
Espalhando esta amargura,
A minha alma te procura
Vai cevando em cada cova
A dracena mais bonita,
A moça não acredita
Num poeta sonhador
Vai fazendo tanta fita,
Coração quando palpita
Tá sofrendo mal de amor...
45
Um sol que renasceu dentro de mim
Depois da tempestade que passei,
Um raio luminoso vem assim
No qual um novo amor eu mergulhei
Trazendo tanto brilho, que por fim
Renova uma esperança, antiga lei.
Quem sabe com carinho e paciência
Talvez eu possa, agora, ser feliz.
O tempo se passando na inclemência
Matando um coração que é aprendiz
Fazendo do prazer a penitência
Distante do sempre eu tanto quis.
Esse sol ressurgindo no meu peito
Me diz: estar contente é seu direito!
46
Um sol que me irradie e que me traga
Um belo amanhecer. Leda utopia.
Enquanto a solidão temida afaga
Eu mato esta esperança, dia-a-dia...
Um véu de estrelas claras que se apaga
Deixando bem distante a fantasia,
O amor que eu procurara, amarga draga
Esconde o que restou e o nada cria.
Amor que tantas vezes me trouxera,
No inverno a sensação de primavera,
Apenas desengano... agora eu sei
Que tudo não passou de uma ilusão,
Cevando tão somente a solidão
Tornando enfim estéril, minha grei...
Marcos Loures
47
Um sol iluminando a nossa estrada
Há tempos se perdendo em fantasia
Sentindo o teu perfume, minha amada
O dia se refaz em alegria.
A noite na saudade demarcada
Sem ter tua presença foi tão fria,
Minha alma se sentindo abandonada,
Constrita, solitária em agonia
Ouvindo a tua voz, eu te garanto
O dia renasceu em raro encanto
No gozo da paixão que determina
Um belo caminhar que traz certeza
De um tempo sem temores, sem surpresa
Mostrando, gloriosa, a nossa sina.
Marcos Loures
48
Um simples trovador e nada mais
Cantando o meu amor inalcançável.
Sabendo que não vens; amor, jamais.
Meu sofrimento assim, interminável.
Destinado a viver em plena dor
Eu canto o sofrimento que não pára.
Quem me dera um momento encantador
Adoçando esta vida tão amara;
A dona dos meus olhos nem me vê,
O sonho se repete e tão sozinho,
Procuro toda noite por você,
Na busca de seu colo e seu carinho...
Apenas trovador, minha viola,
Distante dos seus braços, me consola...
49
Um simples repentista
Que fala em tanto amor,
Sonhando ser artista
Navego um campo em flor,
Por mais que assim insista,
Batalho com ardor,
Sem ter sequer nem pista
Porém ao teu dispor.
Eu quero que imagines
Um mundo bem melhor
Do que sabes em mim,
Olhando nas vitrines
Beleza assim maior
Num sonho sem ter fim...
16350
Um simples passarinho, o coração
Nas asas, liberdade não procura,
O mundo sem te ter, se mostra vão,
Nos lábios carmesins, a minha cura.
Não quero o dissabor da desventura
Distante dos meandros da paixão,
O vento que me toca, com ternura,
Expressa todo o amor, farta explosão.
Seria tão difícil para mim
Se a vida sonegando amor sem fim
Mostrasse tão somente este vazio.
Porém ao ter o sonho que me agrade,
Irrompo do passado e sem a grade
Um pássaro em teu ninho, eu fantasio...
Marcos Loures
51
Um simples cantador
Sangrando este emoção
Vivendo com ardor
Os versos da canção
Que mostra que este amor,
Moldura da paixão,
Que traz ao trovador
O bem da salvação.
Assim então versejo
Em novos madrigais
Falando do desejo
De amor que é bom demais.
Querida, quero um beijo,
Não me deixe jamais...
52
Um silêncio profundo me atordoa,
Não deixa mais pensar com tal clareza,
Minha alma, sem sentido, sequer voa.
Envolta em tal silêncio, em tal beleza...
Sobre este pano d’ébano pintado,
Milhares de cristais vão superpostos.
O sonho num cavalo vem montado,
Voando sobre os mares; ares postos...
Deitada em minha cama, adormecida;
Reflexos destas luzes sobre o rosto.
Eu vejo minha vida decidida,
No brilho que te cobre o seio exposto...
Amada, em tal pintura feita em sonho,
Percebo o meu futuro mais risonho...
53
Um ser que andando à toa segue vago
Num átono sentido morre atônito
Inútil poesia causa estrago
E a leve sensação de quase vômito.
Não guardo do que colho nenhum bago,
Poema com senões, velho histriônico
Das dragas do passado, seco o lago,
E até no que percebo ainda irônico.
Acácias na varanda, uma vivenda
Que há tanto se perdeu. Passo e refaço
Do quanto que se quis, sequer o laço
Nem mesmo algum sinal que busque, atenda
Os velhos madrigais de tola história,
Do tudo que julguei, morta a memória.
Marcos Loures
54
Um sentimento pleno que transtorna
Moldando uma tristeza da alegria
Transborda tão intenso até que entorna
De uma satisfação nasce a agonia.
Paixão que entorpecendo nos atiça
E num remanso causa tempestade,
Mostrando sem dar tréguas, doce liça
De toda escuridão faz claridade.
Derrama tantos sonhos no caminho
Estrelas que esqueceu de recolher
É lágrima que é feita de um carinho,
Santificando enquanto faz sofrer.
Mas agradeço, assim tal louco Fado
E estou, graças a Deus, apaixonado...
Marcos Loures
55
Um sentimento nobre e tão maior
Além do que no peito já flameja,
Permite que a vontade que poreja
Se torne em cada verso um esplendor.
Não deixa que a saudade, em triste dor,
Que a todo ser humano que dardeja
Amor além de tudo se deseja,
Um canto bem mais forte e sedutor.
Meu grito percorrendo este infinito
Permite que se mostre tudo enfim.
Não quero mais viver um mundo aflito,
Nem quero uma tristeza; na verdade,
Prefiro o bem maior que existe em mim,
Nos braços divinais de uma amizade!
56
Um sentimento esparso solto ao vento
Modula com tristezas, ansiedade.
Amor que fere tanto, o pensamento
Não deixa um só instante, na verdade...
O dia sem te ter passando lento,
As horas-vendavais em tempestade
Poeira que jamais tomou assento,
No fundo estou perdendo a liberdade.
Cativo deste sonho mais distante.
Poder ser companheiro de quem quero.
O dia surgiria deslumbrante
Porém somente o frio, e neste abismo
Vagando em solidão, à noite cismo
E busco em ti o amor que tanto espero...
Marcos Loures
57
Um sentimento enorme que enobreça
Os olhos de quem quer ser mais feliz,
Permite que esperança sempre teça
A vida que sonhamos, que se quis.
Não deixe que a tristeza te enfraqueça
Amiga, corrigindo a cicatriz,
Fazendo com que a alma não se esqueça,
Felicidade cura e pede bis.
Nós somos passageiros, simplesmente,
Da nave genial que nos transporta.
Aberto o coração, cabeça e mente,
Quem sabe num futuro em puro alento,
Abramos da alegria nova porta
Que mate, sem ter pena , o sofrimento?
58
Um sentimento atroz e demoníaco
Tomara a minha vida em solidão.
Quem teve um grande amor paradisíaco
Não sabe mais singrar outra emoção.
Amor não é brinquedo pra cardíaco,
Nem morte pode ser a solução.
A dor que se aproxima traz novelos
Que enredam no meu peito em constrição.
Vazios são difíceis recebê-los
E mesmo converter em um perdão
A mão passa macia em teus cabelos,
Mas sinto no meu peito uma aflição
De quem já percebeu realidade;
Quem sabe restará tua amizade?
59
Um sapo procurava
Encontrar a princesa
Que nua desfilava
No reino da incerteza
Porém mal calculava
Que o preço da beleza
Em lágrimas pagava
Embora com nobreza.
Coitado do animal
Que assim já se perdeu,
Distante do ideal,
Em negritude e breu,
Do sonho sem igual,
Sozinho, enfim, morreu...
60
Um sentimento assim descomunal
Que toma o coração como de assalto,
Vertendo uma emoção que sem igual
Refaz a vida mansa e sem ressalto,
Tomando as nossas mãos supera umbral
Da dor que nos vigia em sobressalto...
Olhando para longe, na amplidão,
Vislumbro o teu olhar mirando em mim.
Os rumos desdenhados da ilusão,
Tomando o coração fazendo assim,
Que o braço bem mais forte da paixão,
Ganhou e seduziu até no fim...
Por isso, enamorado não me canso,
Enquanto o teu olhar, distante, alcanço...
61
Um rudimentar verme, apodrecida
Carne em putrefação, sem esperança,
Tomando o que restou de simples vida,
Comendo sem limites, à fartança,
Esgueira as ironias, ressentida,
Em gula, violenta, intemperança
Num banquete inconteste, loucos risos.
Orgásticos delírios, sem ter nexo.
Teus dentes pontiagudos e concisos
Penetram no meu cerne, amor e sexo.
Vagando labirintos imprecisos,
Num passo temeroso e mais complexo
Daquilo que sonhei e se perdeu,
No amor que tanto sei, nunca foi meu...
62
Um rouxinol se esconde em pleno dia
Tal qual fosse a promessa que fizeste,
Amada, no teu canto a cotovia
Me afugentando lá de onde vieste...
As liras que cantei foram sinceras
No vento mais sutil, eu me entreguei,
Agora o que fazer das primaveras,
Se amar demais persiste como lei?
Talvez um novo canto, sem promessas
Talvez reste o vazio em desencanto
Meu barco naufragado me confessas
Que o tempo que passou talvez foi tanto...
Mas sei que um belo amor não morre assim,
Te espero, sempre espero. Amor, enfim...
63
Um riso que se encontre em desacato
Às vezes é capaz de destruir
Mudando toda regra do contrato,
Felicidade eu sei, vai impedir.
Só sei que na verdade cada fato
Ajuda sempre o mesmo nada vir
Transfigurando sempre o meu retrato,
Jogado em algum canto a refletir
O vago que criei como esperança,
Negando em nascedouro uma festança,
Barreira que impediu seguir meu trilho.
Barcaça da ilusão já me mostrou
Que sempre no caminho aonde vou
A vida vai puxando o seu gatilho.
Marcos Loures
64
Um riso nos meus lábios, calmo, verte;
Trazendo para a vida algum proveito.
Vontade de poder sempre rever-te,
Deitando este prazer sobre o meu leito.
A vida fora inútil, com certeza,
Aflora em meu jardim a derradeira
Rosa que ao estampar tanta beleza
Expressa uma esperança, verdadeira.
Tuas mãos já sabem dos segredos,
Conhece destes cofres, sanha e senha,
Arrasta para longe velhos medos,
E em mata deslumbrante amor embrenha.
Castelos que criei, todos de areia,
Jamais resistirão à maré cheia...
Marcos Loures
65
Um riso nos meus lábios já se atreve
Ferindo com mordidas mais suaves.
Eu peço que este sonho se releve
E deixe penetrar teu corpo, as naves
Embora não conhece frio ou neve
As mãos que se rabiscam quebram traves,
O quanto não se pode ou não se deve
São meros cativeiros, nossas aves.
Esdrúxulos desejos misturados,
Partidas e partilhas, idas, voltas.
Do sermos e queremos; as escoltas
Não deixam mais os gozos extremados.
Os espinhos esparsos valem flores,
Teus olhos se espalhando, sedutores.
Marcos Loures
66
Um rio vai chorando em cachoeiras
Depois de te banhar, ninfa divina;
As águas te lambendo costumeiras,
Na fonte tão risonha e cristalina.
Se perdem rumo ao mar, em corredeiras;
Tocadas pela pele que alucina.
As línguas destas águas vão inteiras
Depois de te beijarem, bel menina.
E choram por partirem sem poder
Ficarem no teu corpo eternamente.
Usufruindo assim de tal prazer
Que determina a sorte de quem ama,
Pudessem percorrer mais lentamente,
Quem sabe nestas águas, fogo e chama?
67
Um rio que das terras temporanas
Há tempos mergulhou em pleno mar,
As águas deste rio, soberanas,
Depois de um oceano atravessar,
Chegaram nesta costa brasileira,
Subiram cordilheiras, nas Gerais,
Na terra mais bonita e altaneira,
Partiu-se em magistrais mananciais...
As águas deste rio divididas
Unidas num destino mavioso,
Depois de tantas matas percorridas,
O Fado tão sutil e caprichoso,
Reúne o que o Oceano dividiu
No amor mais fabuloso que alguém viu...
68
Um rio em grato mar a se verter.
Permite que emoção em paz prossiga
Sabendo da alegria de poder
Dizer que tenho, em ti a grande amiga.
Emoldurando o céu neste prazer
Felicidade imensa já se abriga
Nos braços de quem sonho poder ter,
Na claridade intensa que prossiga
Sendo o farol da vida a me guiar,
Nesta amizade, um mar a navegar.
Amansa com carinho um duro cenho.
O quanto de alegria proporciona
A voz do coração se erguendo à tona
Expressa todo amor que enfim, contenho...
Marcos Loures
69
Um réquiem que se faz à fantasia,
Vestígios de ilusão, rastros, pegadas.
As hordas vão confusas. Poesia
Deixando as suas marcas malfadadas.
Enquanto um ser inútil, vão, porfia,
As flores não serão mais orvalhadas,
Mataram; na alvorada, um novo dia,
Palavras são inúteis. Simples nadas.
Melancolia expõe velhas figuras,
As tardes se aproximam tão escuras,
E o quanto se fez trágico poeta
Morreu sem serventia, tolo e frágil,
O clássico condena-me ao naufrágio,
A fome cultural é mais concreta...
70
Um rei tão mal amado não queria
Que alguém fosse feliz em seu reinado,
Por todos os vassalos mal amado
Não sabe discernir mais alegria.
Enquanto a noite assim escurecia,
Montava no corcel do sonho, alado,
E num bobo da corte disfarçado,
Vagava até chegar um novo dia...
Este egoísta rei, sem ter venturas
Tentava o monopólio da esperança,
Gerando entre os plebeus as amarguras
Queria toda a sorte; inutilmente,
Pois Deus como uma forma de vingança
Tornou tal soberano um ser demente...
71
Um raio cristalino que se estende
Dos olhos da mulher a quem adoro,
Por vezes o meu canto não te entende
Mas sei qual o motivo por que choro.
Eu quero o teu olhar bem junto a mim,
Viver neste sereno sol luzente,
Eu sinto tanto fogo arder em mim,
Quando me olhas c’olhar deveras quente
E deixo-me levar por esta luz
Qual fora duma aurora marchetada.
Acalma tanta dor, faz leve a cruz,
E torna nossa vida em paz banhada,
Um raio cristalino trama a trilha
Que leva à eternidade em maravilha...
72
Um rabo bem gostoso e apertadinho
Tem toda uma magia diferente
Eu sei o quanto gostas meu benzinho
Bebendo assim por trás o leite quente.
A gente faz amor e com carinho,
Eu quero repetir, e novamente,
Sentir a tua boca e de mansinho
Colocar todo o mastro, lá na frente...
Requebras com malícia, os teus quadris,
Na fúria de quem sabe e quer bem mais.
Um sexo bem feito satisfaz
E deixa qualquer ser bem mais feliz.
Farei, minha putinha o que mais quis
Prometo que serei então, audaz...
73
Um quase temporal em fogo aceso
Na doce ventania dos desejos
Armando uma cilada, sigo teso
E busco teus carinhos, relampejos.
No cômputo final, vamos assim
Cabelos desfraldados contra o vento
Entregues ao prazer que não tem fim
E assola nossas vidas, traz alento.
Apaixonadamente mesmas fontes,
Barcaças que navegam um só mar.
Além dos nossos corpos, horizontes
Em luzes radiantes vêm mostrar
O quanto é necessário ser feliz
E deste embebedar, ganhar um bis.
74
Um quanto de romântico carrego
Embora seja um fardo tão pesado,
Melífero, este pote derramado,
Tornando o coração audaz e cego.
Por vezes nas palavras que eu emprego
A sensação de um erro ou de pecado,
Queria num martelo agalopado
Falar do mar tão fútil que navego...
Chegar ao fim da estrada e poder ver
Que apenas espalhei paz e prazer
Um cavaleiro andante; simplesmente...
Moinhos transformados em gigantes,
Meus passos tantas vezes discrepantes
Matando sem pudor cada semente...
16375
Um povo que cativo, escravizado
Trazendo no costado, cicatrizes,
Ao sol de um novo mundo, maltratado,
Em cantos amargosos, infelizes.
O corpo pelo açoite deformado,
A vida permitindo tais deslizes
Na sombra tão medonha do passado,
As liberdades? Foram quais atrizes
Que em cenas degradantes demonstraram
Os cortes e as vergastas, podridão.
Assim em dura senda, escravidão,
No quadro da lembrança emolduraram
Vergonha que inda corta, e vil lateja
Sob as bênçãos sagradas de uma Igreja.
´76
Um pouco a cada dia, em luz constante,
Vasculho os teus sinais, vejo pegadas,
Tristezas nos porões emboloradas
Perdidas esquecidas numa estante
As cores deste amor tão fascinante
Entornam raras luzes nas estradas
Estrelas entre nuvens escaladas
No olhar feito farol da amada amante.
Intrépido caminho se assenhora
Trazendo imensidão a qualquer hora
Num sonho mais audaz e tão freqüente.
O quanto te desejo me alucina
Amor estende luz diamantina
E toma a nossa vida num repente.
Marcos Loures
77
Um porto onde decerto refugia
Em plena tempestade, o coração.
Moldando bem mais firme o dia a dia,
Deixando para trás a solidão.
Nos ermos mais longínquos nos conforta
Abrindo uma janela, traz o vento,
E assim em nossa vida, quando aporta
Expulsa o sofrimento, num momento.
Ajuda a carregar nossos destroços
Contém hemorragias, nos apóia.
Aperta bem mais forte nossos ossos
E mostra-se pepita, ou rara jóia
Na força soberana da amizade,
A vida vai ganhando qualidade...
78
Sem moral, tubarão de Montenegro não assusta turistas da região Policial diz que ver um tubarão é tão natural quanto ver um urso nas montanhas.Salva-vidas avisou os banhistas para saírem da água, mas poucos fizeram caso dele.
Homem trabalhou como falso dentista durante 29 anos Ele é da Malásia e tinha no consultório uma cadeira da década de 40.Caso seja condenado, pode ficar até seis anos na cadeia.
Fontes G1
Um pobre tubarão já desdentado
Nadando em Montenegro não assusta,
O peixe assim tão desmoralizado
Embora a compleição seja robusta
Depois de certo tempo procurou
Famoso e conhecido bom dentista.
Com todas as promessas o tratou
À prazo até perder, mesmo de vista.
Descontos prometeu este odontólogo
E fez muitos implantes no bichão.
Falando ser de peixe quase homólogo,
Parentes do coitado tubarão...
Porém sem ter moral, foi pro vinagre
A dentaiada toda? Era de bagre...
79
Polícia pára motorista barbeiro e descobre que ele é cego
G1
Um pobre sonhador que sempre pensa
No amor por ser amor, sem mais delongas,
Nas pernas maviosas, duras, longas,
Espera ter achado a recompensa.
Depois ao receber, delas, dispensa,
Olhando para os pés percebe os congas
Rasgados e também sem ter milongas
Percebe por que a vida é sempre tensa.
Julgara ser capaz de pilotar
Um avião decerto fabuloso,
Precisa conhecer para falar
Senão, pobre coitado, está no prego.
Amor prá dirigir, e ser gostoso,
Quem sonha simplesmente, fica cego...
80
Um pobre cantador sertão afora,
Viola é derradeira camarada,
A noite que adormece enluarada
Deitada na varanda; clama agora
Estrela matutina que decora
O céu maravilhoso da alvorada,
Em serenata, sonha quase nada
Apenas ilusão, tudo devora.
E canta em sinfonia com mil grilos
Aguarda que a janela seja aberta.
O sol já quer surgir, rua deserta,
A solidão promete seus asilos
Depois de tão sinceros madrigais...
A lua voltará? Tarde demais...
81
Um plantador de cana, um fazendeiro
Depois de tomar umas foi em cana
Chamado por alguns de cachaceiro
Não sabe que essa gente é tão sacana.
Na roça de uma cana faz dinheiro,
Com bolso cheio enfim, logo se ufana
Porém tanta birita já te engana,
Deixando a gente tonta por inteiro.
Destila essa garapa e vira pinga
A grana vai pingando devagar,
Bebendo tanta pinga a cana vem.
Brigando com compadre logo xinga
E essa colheita vai comemorar
Mamado na cadeia e sem ninguém...
82
Um pescador queria simplesmente
Encher seu embornal de lambaris.
Depois de tanta espera, longamente
Não conseguiu aquilo que mais quis.
Voltando para a casa tristemente
Pensou: na pescaria um aprendiz.
Botando pra pensar a dura mente
A solução surgiu e o fez feliz.
Depois de mergulhar profundamente
Usando o bigulim por chamariz
Lotou o seu bornal alegremente
Mudando o seu caminho em nova sanha
Partida que jogara se fez ganha
Agora não quer mais pescar piranha.
83
Um pesadelo enorme não tem hora
Se torna mais freqüente em aflição
Se toma penitente a dor de agora
Se forma no desejo resto e chão.
No viperino beijo que me deste,
Refeito deste susto me enterneço.
No couro que roubaste feito veste
Além do que não soube se mereço.
Na boca da jocosa criatura,
Um verso desferido igual veneno.
Deitando em tua boca beijo e cura,
Ao ver-te repartida, logo aceno.
E peço o teu sorriso mais preciso,
Mostrando este portal do paraíso....
84
Um pequenino grão se fecundado
Transforma-se em gigante. Eis a verdade.
Assim também em cada passo dado,
Percebe-se o destino: liberdade!
A vida não é feita em sina e fado,
Em cada nosso passo, realidade
Moldada pelo canto imaginado
E feito para dar felicidade...
Tornados e procelas enfrentamos
Eu sei que sou um tolo, pois romântico.
Mas não suporto ter carrascos, amos,
Amores – há quem diga – temas ocos,
Porém desde o princípio – até barrocos,
Diziam de um amor em cada cântico...
85
Um passo quando firme e se bem dado,
Permite vislumbrar amor divino,
Não deixa o coração jamais irado,
Promete um novo tempo cristalino,
Matando uma tristeza do passado,
Tornando o peito amargo qual menino
Que um dia se viu só e abandonado
E agora um bem maior já descortino
Chamados da alegria, enfim responde,
Exposto ao vento leve, não se esconde
Quem tem os olhos sempre abençoados
Bem diferente, eu falo e te asseguro
De um coração estúpido e inseguro:
Aquele cujos passos vão guiados.
Marcos Loures
86
Um pássaro na muda, solta as penas
E sente esta friagem de um inverno.
O verso em que tentei ser bem mais terno
Mudando de paisagem noutras cenas.
A tempestade invade. Sou apenas
Um resto do que um dia quis eterno.
E quando sob a neve, assim hiberno
Inerte; não percebo o bem que acenas...
Talvez inda ressurja em primavera
Até chegar de novo ao meu verão.
A mão que carinhosa, aguarda, espera
O sol com fartos brilhos voltará
Espalhando a vida sobre o chão.
Será que meu cadáver, tocará?
87
Um passarinho canta de manhã
Trazendo uma esperança de alegria,
A vida se passando neste afã
Não ser somente um canto em fantasia...
Fazer da poesia uma vilã,
É pendurar no colo, a melancia,
A moça se disfarça em Talibã
Guerrilha, nos sentidos, logo cria.
Ao ter-te aqui comigo, sou feliz,
Meu canto se transborda tão contente
Agora já consigo o que mais quis
Meu verso se encantado pede mais
Do amor que é tão imenso e só da gente,
Te peço; por favor, não vá jamais...
88
Um passageiro solto sem destino...
O rosto enlameado de saudade...
No canto que propus, eu desafino...
O resto que ficou, sem qualidade.
O parto que neguei, verde citrino,
Batuco do meu jeito, tento tarde.
No tanto que tentei não tento tino...
Nas tendas que teimaste, tempestade!
Nocivos nossos vícios são velados...
Passivos nossos passos são passados...
Nos trâmites tramitas teus tesouros...
Me mandas das manadas seus estouros...
Um passageiro alado, sem ter asas,
Meus olhos embaçando velhas casas!
Marcos Loures
89
Um passageiro segue nesta nave.
A Terra, que capota todo dia,
Buscando a liberdade invejando a ave
Distante de uma estrela feita guia,
Tropeça em suas pernas, duro entrave,
Não vê no próprio rosto a fantasia
Retirando dos olhos qualquer trave
Permite que se enxergue esta harmonia
De um tempo mais airoso e mais feliz,
Vivendo tão somente por um triz
Trazendo o passo manso, sem espinho.
Amiga em tuas mãos a solução
Mantendo a mesma rota e direção
Não deixe que se perca este caminho,
Marcos Loures
90
Um passa, passarinho ou passageiro
Sem ter mais passatempo, tempo é lento
Mesmo quando os fantasmas; arrebento,
O Bento, dos demônios, mensageiro
Informa que é pecado corriqueiro
Usar a camisinha; não agüento
E faço com certeza outro rebento,
Mais um moleque aqui no meu poleiro.
Dinheiro? O Vaticano não me dá,
É preciso criar aqui ou lá,
O jeito é remendar o meu jaleco...
Plantão sobre plantão, plantando a morte,
Que a cada novo dia aumenta o porte,
Que faço se o desejo; eu jamais breco?
91
Um pária que sonhava com ternura,
Amarga esta aguardente da existência
Sem ter sequer descanso nem clemência
A noite que me espera, sempre escura.
Enquanto a solidão inda perdura,
A morte não seria penitência,
O amor que se mostrou coincidência
Sonega qualquer bálsamo, não cura.
Meu último cigarro, acendo agora,
O câncer talvez seja um bom presente.
Da vida quem se fez assim ausente
Encontra sua sombra e se apavora.
Ouvindo o badalar de um ermo sino
Anunciando o fim. Ledo destino...
92
Um pai ao ver seus filhos em conflito
Não pode ser feliz, isso eu garanto,
Eternidade feita em infinito
Não deve sucumbir ao desencanto.
Por isso bem mais forte eu sinto e grito
O amor que nos cobriu com claro manto.
Deixando para trás o que for mito
Eu creio num só pai, que eu amo tanto.
Ao ver as mais terríveis desavenças
Percebo em seu olhar lacrimejante
A dor do desamor que num instante
Se torna a mais dorida entre as doenças.
No amor que ele nos deu, fraternidade,
Esquecido num canto. Crueldade...
Marcos Loures
93
Padre holandês é multado por tocar sino muito cedo
Portal G1
Um padre com insônia, lá na Holanda
Às cinco da matina resolvia
Na ausência de fanfarra ou mesmo banda
Tocar com tal barulho e alegria
Todos os sinos fazendo algazarra.
Parece que, domingo piorava
E quem na madrugada em louca farra
O pobre sacerdote despertava.
Coitado deste padre seresteiro
Que assim fazia à Santa uma seresta
Ao acordar o povo quase inteiro
Queria só mostrar que bela festa
Prepara pra paróquia num estalo
O Monsenhor Josef Peter von Gallo..
94
Um oceano pleno em belas rimas
Invade a nossa praia, ganha a areia,
Moldando esta canção em raras primas,
A lua benfeitora está mais cheia.
Deitando na varanda brilhos tantos,
Estabelece o quanto sou feliz.
Entregue a tal magia, teus encantos,
O verso assim demarca o bem que eu quis.
Estrela enlanguescente em noite plena,
Vagando pelos céus de um trovador,
A mão enamorada logo acena
E mostra ser bem claro nosso amor.
Nas marcas tatuadas, riso e festa,
Amor bebe e provoca esta tempesta.
Marcos Loures
95
Um novo paladar e qualidade,
Fartura prometida e conferida.
Viver o que restar de nossa vida
Usando sem pudor a liberdade.
Se tu não és beata, na verdade
Te pego desse jeito distraída
E mostro que serei jamais serei abade,
Gostoso te ver calma e decidida...
Lavando com fineza, assim a égua
Amor quando demais não dará trégua
E tudo recomeça, é desse jeito.
O beijo mais audaz emborca a boca,
Acorda esta vontade que se aloca
Num canto bem visível do meu peito...
96
Um novo Olimpo sinto nos teus braços,
Tomando no teu corpo esta ambrosia,
Percorro cada monte, teus espaços,
Faminto do maná desta alegria.
Insanos dedos formam novos traços,
No gozo magistral onde se ria
A deusa mais profana. Logo, lassos
Entregues meus desejos fantasias...
Uma Afrodite em sede prazerosa,
Devora-me sem tréguas, todo o tempo.
Fazendo do meu corpo, um passatempo,
Semeia multidões de tílias, rosas,
E assim, sem sequer pena, me alucina,
Em mãos e boca sacra, enfim, divina...
Marcos Loures
97
Um novo mundo eu vejo recompor
Trazendo para nós farta esperança,
O gozo deste intenso e raro amor
Permite que se pense em temperança.
Sabendo da alegria em tanto ardor,
A vida transmitindo confiança
Eu tenho tanta coisa a te propor,
Estar aonde o sonho nos alcança.
Vislumbro nos teus olhos o amanhã
Azulejando o céu toda manhã
Não quero, na distância, me perder
Teu nome ao traduzir felicidade,
No encanto sem igual que assim me invade
Eu tenho finalmente, o bem querer...
Marcos Loures
98
Um novo amor virá, mais verdadeiro
Após a dura sensação do corte
Ao refazer em nossa vida o norte
Doce mergulho ao qual me entrego inteiro.
Reconhecendo este pendor primeiro
Eu já concebo o principal suporte
Que possa ao menos nos fazer aporte
E em glória imensa me trazer teu cheiro.
Vencendo a dor e a solidão também
O meu olhar imaginando, vem
Trazendo assim novos verões, estios.
Permite o passo com firmeza e paz,
Vivendo o sonho que esse amor nos traz
Buscamos nossos eixos, nossos fios,
Marcos Loures
99
Um novo amanhecer, contigo eu crio
Estrela matutina em primavera,
Amor não pode ser simples quimera
Tampouco se entregar ao vento frio...
Amar e ser feliz, eu fantasio
E busco em tua boca o que se espera
De toda a solução que aplaque a fera
Embora o coração siga vadio.
Girando todo o mundo em carrossel
Estrelas que roubei do imenso céu
Decoram teus cabelos qual tiara.
Vagando sem destinos, um cometa
Trazendo ao sentimento do poeta
A rosa que te enfeita e tanto ampara...
Marcos Loures
16400
Um novo amanhecer tão esperado
Encontro na bonança após a chuva,
Olhar por tantas vezes maltratado
Entende uma amizade como luva
Que apóia enquanto aquece e trama a cura,
Deixando o que passei nesta gaveta.
Agora quem se entrega com doçura
Transmuda a direção da fria seta.
Completa sensação de liberdade,
Depois de uma agonia interminável,
Nas sendas tão macias da amizade,
Um novo amanhecer decerto amável.
A direção mudada pelo vento,
De todo o que passei; cada tormento.
Marcos Loures
1
Um novo amanhecer em ritual
Diverso do que outrora fora a lei,
Do quanto tantas vezes desejei
E agora guardo estrelas no bornal.
A lua na varanda faz varal
Dos sonhos e delírios que busquei,
Castelos desenhados, reino e rei,
As frutas abundando no quintal.
Meticulosamente colho a sorte
Deixando o pesadelo adormecido.
As luzes em matizes tão diversos.
Amor cicatrizando qualquer corte
Expressa outro rebento concebido
Recolhendo os meus cacos mais dispersos...
Marcos Loures
2
Um novo amanhecer em que diviso
Nudez maravilhosa em minha cama,
Mulher que à noite veio sem aviso,
Provoca maremoto enquanto inflama.
Roçando a minha pele, o seu desejo
Expresso na vontade de se dar,
Delícia que se entrega enquanto vejo
Na transparência o quanto é bom amar.
Mergulho nestas tramas meus carinhos
Arisca, tu sonegas, mas bem queres,
Descubro em tuas sendas os caminhos,
Do jeito e da maneira que vieres.
Em sonhos me enlouqueço enquanto espio
O porejar sublime, teu rocio...
3
Um novo amanhecer em liberdade
Floresce uma alegria em meu jardim,
Mergulho no teu colo, esta vontade
De ter o teu amor bem junto a mim,
Razão de poder ter felicidade,
Num sonho que não pode ter mais fim,
Se eu tenho, no teu corpo a claridade,
Que faço se distante estou, assim.
Tu tens este poder de seduzir,
E dominas sem nada a me pedir.
Mudando com certeza a direção
Dos passos temerosos do passado,
Vivendo em harmonia lado a lado
Encontro, nos teus braços, mansidão..
Marcos Loures
4
Um novo alvorecer, meu canto trilha
E espalha além do amor, boa vontade,
Chegando a cada canto da cidade
Na voz da poesia, uma andarilha.
Depois de consertar, do barco, a quilha,
O pensamento abarca e agora invade
O quanto eu desejara em liberdade,
Não quero ser na vida, simples ilha.
Unindo nossos versos, companheira,
Da vida, a mais perfeita mensageira
Formada pelos brados, teus e meus.
Na força da amizade, amor se insere
Portando amanhecer que um sonho gere,
Deixando à solidão, somente o adeus.
Marcos Loures
5
Um novo alvorecer traz esperanças
A quem sonhara ter uma alegria,
A vida permitindo novas danças
Aguando nosso sonho em harmonia.
Estrela que nos vela, nossa guia
Em águas tão serenas, calmas, mansas,
Percebe que ao sonhar tu logo alcanças
Um reino de ilusão e fantasia.
Princesas e castelos, cavaleiros
Corcéis fadas e gnomos, ninfas, Musas.
As sensações decerto tão confusas
Convulsas emoções em reis trigueiros;
Teus olhos, doces olhos sensuais
Verdejam o amarelo dos trigais...
Marcos Loures
6
Um novo alvorecer meu canto trilha
Seguindo cada rastro que deixaste,
Abrindo no meu peito uma escotilha
Amor faz com tristezas um contraste,
Minha alma que antes fora uma andarilha
Bebendo esta esperança que legaste
Os uivos das saudades em matilha
Não rompem da alegria esta dura haste.
Eu vou seguindo a vida simplesmente,
Levado pela luz numa torrente
Chegando depois disso aos braços teus.
Encanto em profusão, nossa aliança
Entorna sobre nós rara esperança
Deixando à solidão, somente o adeus.
Marcos Loures
7
Um noctâmbulo andando exposto à gargalhadas
Sua alma decomposta esgueira-se nas ruas,
Sorri como se exposta a torturas mais cruas
Que o vai modificando, entranhas bem marcadas;
Um verme irá pastando as pútridas passadas
Lentamente uma crosta encobre as carnes nuas
Qual fora uma resposta às dúvidas tão suas
O vento vai cortando as costas já lanhadas.
Eu sinto que a natura irá cobrar pedágio
Por ter sobrevivido ao terrível naufrágio
E minha carnadura em plena podridão
O tempo que passei nos esgotos da vida,
Achando-me escondido em cama apodrecida,
Se tanto gargalhei, arranque o coração!
8
Um negro véu recobre a noite mais sombria
Mudando com certeza o rumo desta lua,
Ao medo da batalha, aos poucos já recua
E foge em desespero esperando outro dia
Que sei que não virá nem tampouco viria
Sabendo da mortalha aonde ela flutua.
O palco onde esta atriz em morbidez atua.
Nos olhos de quem vê amor vira sangria.
No hálito desta fera o bafejo cruel
Da crua morbidez, mortalhas, fogaréu...
Lua que se faz vaga, inconstância venal
Uma alma feminina em instabilidade.
No brilho mais fugaz quer a felicidade
Atada ao seu desejo, atroz e sensual...
9
Um nebuloso dia, chuva e frio,
Promessas de fantasmas nos rondando.
Mas veja, meu amor, já principio
Um sonho de esperança nos tocando.
Na vida é necessário força e brio
Estarei ao teu lado, te apoiando.
Além de teu amante, o teu amigo
Sem medo e sem disfarces, verdadeiro.
Tenha a certeza: estou sempre contigo
E prevejo um futuro alvissareiro.
Querida, tens aqui o teu abrigo.
Mergulho junto a ti e vou inteiro.
Não tema nem o vento, nem tempesta,
Depois da tempestade? Tem a festa!
10
Um naco de paixão faz tanta falta
A quem de tão teimoso ainda tenta,
Na casa melindrosa dos meus enta
Pegar ao fim da tarde alguma incauta.
Riscar o verbo amar de minha pauta
Seria decepção tão violenta
Que uma alma sonhadora não agüenta.
Por isso ansiedade já me assalta.
E mesmo que tu finjas, ouça a voz
Que outrora se mostrara mais feroz
E agora mal ronrona como um gato.
Eu sei que te pareço até risível
Porém sem ter um sonho é impossível,
Mesmo que reste apenas celibato...
Marcos Loures
11
um mundo todo nosso e sem fronteira
Eu sigo sem limites flórea senda,
Entrega que se dá tão verdadeira
Amor em plenitude se desvenda
Desnuda a nossa pele, faz a farra
Chegando de mansinho nos convida
Enquanto em contradança nos amarra
E muda num momento a nossa vida.
Eu quero estar contigo e não descanso
Enquanto eu não puder sentir teu gozo
Bebendo cada gota, logo alcanço
Este Eldorado insano e tão gostoso.
Vem logo que o desejo nos domina,
Volúpia sem limites me alucina...
Marcos Loures
12
Um mundo tão sublime, agora eu vejo
Legando o medo estúpido ao passado.
Aproveito da noite cada ensejo
E bebo o teu prazer, extasiado...
Num repente que chega e me domina,
Calcando minha vida nos teus passos,
O vento das paixões quando alucina
Ocupa o coração, não deixa espaços.
Na barca dos meus sonhos aprisiono
Fazendo-te refém destas vontades.
A vida do teu lado nega o sono,
Prisões já representam liberdades.
Assim, em destemida romaria,
Amor tudo renova, dia-a-dia...
Marcos Loures
13
Um mundo sem limites nem fronteiras
Na beira do oceano do desejo.
Palavras delicadas, verdadeiras
Não valem, com certeza, nem um beijo.
Por mais que sejam meigas, feiticeiras,
Apenas aliviam, mas não vejo
A chama que se emana das fogueiras,
Realidade insana onde dardejo
Em lábios, bocas, língua e carícias,
No baile de dois corpos noite afora,
Perfeita conjunção onde delícias
Saindo pela pele em borbotões,
Fazendo mais feliz, quem já decora
A cama com nudez e tentações...
Marcos Loures
14
Um mundo que será bem mais honesto
Aonde poderemos ser felizes.
Embora destes sonhos, aprendizes.
À tão bela utopia eu já me presto.
Num canto mais sereno eu manifesto
Vontade de mudar, do céu, matizes,
Ao perdoar de outrem os seus deslizes
Espalho magnitude neste gesto.
Fazendo deste sonho, realidade
Talvez possamos ter um paraíso
No laço bem mais firme da amizade
Um passo bem mais forte e mais preciso.
Assim meu sonho ganha a liberdade
E espalha com amor nosso sorriso...
15
Um mundo que se mostra mais risonho.
Aos poucos em delírios nos tomando.
Estrelas que emolduram nosso sonho,
Atingem nossos corpos, prateando,
Distante de teus braços sou tristonho,
Meus olhos lacrimejam pranteando
Amor que se mostrou e que proponho
A cada novo dia se entranhando
Tomando nossos versos e palavras,
Arando uma esperança em raras lavras
O peito de quem ama sempre brilha
Vencendo a solidão velha pantera,
Dos olhos sonhadores já se espera
Que se supere em paz, as armadilhas...
Marcos Loures
16
Um mundo que permite mais prazer
Desejos se tornando magistrais
Vontade de ganhar e me perder
Nas sendas mais sublimes, sensuais
Sentir o teu perfume me entranhando,
Tocar a tua boca mansamente,
O vento do prazer nos procurando
Mostrando um mundo insano plenamente.
Querendo o teu querer eu não me canso
Da bela fantasia que nos move.
Nos braços de quem amo, eu já me lanço
E o fogo em alegria me comove.
Teu corpo navegando a noite inteira
Num mundo todo nosso e sem fronteira...
ML
18
Um mundo em que vivi sonho encantado,
Guardando as impressões que tive aqui
Sabendo que talvez perceba em ti
O gosto deste canto iluminado.
Além do que sonhara, desprezado,
O rumo em minha vida, eu já perdi.
Apenas o que vejo agora em ti
Ressurge como via, um novo Fado.
Em rosas brancas, raios da manhã
Perfumam meu caminho mais deserto.
Nos braços de quem quero, já desperto,
E faço em outro gesto meu afã.
Teu colo tão macio e sensual,
Renova a minha sorte em seu aval...
19
Um mundo de desejos em bacantes
Floresce em minha cama a noite inteira.
Misturo-me com sombras delirantes
E beijo uma mulher mais verdadeira.
Um sátiro buscando tais amantes
Não sabe usufruí-las sem fronteira
O quadro que se pinta por instantes
Na fome em que se borda é dor certeira...
As sombras que me seguem mais comuns,
Das velhas tempestades que já tive.
Fantasmas? Na verdade tenho alguns,
Mas sei que logo vão, decerto, embora.
Que tanta tatuagem não me prive
Da sede de te ter comigo, agora...
20
Um mundo aonde amor nunca termine
Depois do amanhecer em plena luz,
Felicidade imensa se define
No olhar que uma esperança reproduz.
Alado cavaleiro, ganho espaços
E vivo a liberdade de poder
Atado com firmeza nestes laços
Saber, sendo cativo, ter prazer.
Amor não pressupõe farto heroísmo
Tampouco quero os louros da vitória.
Não tendo masoquismo nem sadismo,
No gozo em plenitude, toda a glória.
Assim ao cavalgar astros diversos,
Espalho no infinito claros versos...
Marcos Loures
21
Um multifacetário coração
Amando em frases ocas, sem sentido,
Caminheiro sem par ou direção
Ditame deste sonho; já perdido.
Nas ocas, ocos, tocas, medos, vão.
O quanto que tentara; dividido
Nos ermos da palavra- solidão.
Toando o quanto tive – o sempre não.
Fazendas são distâncias ilusórias
Medalhas esquecidas na gaveta,
Retratos de outras luas merencórias
Corando o coração tão descuidado.
No abscesso da esperança, a dor/lanceta
Resume o que não tive e foi drenado...
22
Um momento de luta e de carinho...
Carinhoso, sou manso e sonhador...
Os meus dedos procuram pelo ninho,
O meu braço, remanso protetor...
Tateio por teu corpo, vagarinho...
Respiro teu cansaço, acolhedor.
Não quero discutir se estou sozinho...
Nas lutas que perdi, sem desamor!
Vencidas as primeiras madrugadas,
O riso fez-se mal e tão cruel.
As portas que vivi estão fechadas,
Não quero nem pretendo ter o céu!
As rosas que plantei despetaladas,
A vida que sonhei, vai solta ao léu!
33
Um moço carregando, em seu bornal
Derrotas e medalhas de outras guerras,
Seguindo pelos vales, montes, serras,
Vê, no horizonte, o seu torrão natal.
Sem holofote ou festa no final,
Trazendo no solado tantas terras
Distantes. Entre Franças, Inglaterras,
Batalhas por um mundo mais igual.
Os sonhos deste tolo adolescente
Morreram já faz tempo, o que me resta
Apenas é cortando cada aresta
Sentir que a vida pode, finalmente
Na plenitude de um sincero afago,
Abrir este embornal que ainda trago...
34
Um mimo tão estranho que me deste,
Bem sei que com carinho e com presteza,
O vento da esperança, leste, oeste.
Só sei que aqui chegou, tenho certeza.
Vivia enamorado de teu rosto
Que exposto no retrato da parede
Mostrava uma beleza em fino gosto
Alimentando amor, em fome e sede.
Agora que recebo este teu mimo,
O meu retrato em forma-coração,
Percebo quanto mais assim te estimo
Será que amor não foi uma ilusão?
E peço, encarecido que me digas,
No peito, amor por mim, também abrigas?
35
Um menino que passeia
Entre as flores do jardim
Há tanto tempo que anseia
Ter você perto de mim.
Quem deseja já receia
Temendo não ouvir sim.
Sangue correndo na veia,
Morena boca carmim,
No regaço da morena
Eu plantei meu coração,
A vontade assim me acena
Transbordando de paixão,
Minha vida fica plena,
Se você não disser não...
Marcos Loures
36
Um menino franzino e macilento
Trazendo uma esperança em faca e corte,
O peito libertário solto ao vento,
Não teme, na verdade nem a morte.
O dia que se fora em movimento
Refém da ditadura, sem um norte,
Prevê que no futuro, outro tormento
Tirando da esperança, o seu suporte.
A mão apodrecida do poder,
Matando em nascedouro uma alegria,
Não deixa nem sequer mais se antever
Se um dia surgirá a tal liberdade,
Pairando novamente a rebeldia,
Unindo os nossos passos, a amizade...
37
Um mar que é revoltoso, em calmaria,
Um gosto tão picante ou agridoce
É como, na verdade, se assim fosse,
Um misto de desejo e de agonia.
Distante de teu corpo eu já sabia
Da vida que em tristezas transformou-se
Do pote que quebrou, perdeu o doce,
Da festa que morreu sem euforia...
Mas quando percebi tua chegada
Trazida pelos ventos da bonança,
Ao renovar um sonho em esperança,
A sorte que eu pensara, abandonada,
Refaz-se na magia deste encanto,
Pois sabe eu te adoro. Tanto; tanto...
Marcos Loures
38
Um mar de mavioso amor imenso
Mergulho imersas minas, maresias...
Meu mundo, minha amada, recompenso
Marcando em meus caminhos mãos macias.
Amor em mansidão, mostra um mirante
Minutos em momentos mais marcantes,
Meu mundo emoldurado em mar amante
Melíferas magias deslumbrantes.
Minha alma totalmente enamorada
Imersa em maravilhas, marinheira,
Marcada por momento, emoldurada
Embarca imensidões, uma maneira
De mostrar meu amor tão fortemente
E mergulhar enfim, intensamente...
Marcos Loures
39
Um mar de amor; imenso, agora alcanço...
Mareio entre as estrelas e as procelas.
Na areia que me aquece, o meu remanso
Depois da tempestade que revelas.
Futuro sorridente, sempre manso,
Mostrando o paraíso em ricas telas.
Na boca o doce gosto de hortelã,
Irradiando brilhos pela casa,
Saboreando agora esta maçã,
Veneno serpenteia e tanto abrasa.
O quanto é desejável o amanhã
A vida se encontrando não se atrasa.
Os cardos esquecidos nos caminhos,
Deixados pelos cantos sem espinhos...
Marcos Loures
40
Um mago, um querubim ou um fantasma
Penetra no teu quarto em noite clara,
E sentindo a presença de um miasma,
Vontade te atiçando se declara.
No ataque que simulas – crise de asma,
Fingindo-se coitada já se ampara
Derrama teus hormônios, cheiros, plasma
E o pobre do infeliz; logo depara
Com princesa desnuda que arquejando
Inclina-se com olhos desejosos,
O tempo mansamente vai passando,
E a moça que pensara nos seus gozos,
Perdendo o seu juízo, quase louca,
Vê vaporizador. Na sua boca...
Marcos Loures
41
Um louco viajante encontra o lume
Nos olhos de quem ama, o seu farol,
Amar, além de tudo, um bom costume,
Trazendo para tantos, belo sol,
Nos braços deste sonho atinjo o cume
Seguindo qual um manso girassol,
Não deixe que este encanto, enfim se esfume,
Pois trazes farta luz para arrebol,
Eu quero estar contigo, esteja certa,
A porta se mostrando sempre aberta,
Vislumbra a maravilha feita abrigo.
Persigo cada rastro que deixaste,
Nos brilhos com os quais iluminaste,
Deixados no caminho em que prossigo.
Marcos Loures
42
Um lobo solitário enfrenta o mar
Na busca deste porto tão distante.
Vencendo a tempestade a divagar
Encontra um belo cais e ao mesmo instante
Sentindo uma vontade de ficar
Nos braços da sereia provocante
Depois de tantos anos a vagar,
Percebe no sorriso deslumbrante
A doce bailarina que sem véus,
Acendo no seu peito fogaréus
E dança a noite inteira. Num convite
Ao jogo sensual, prazer tão farto,
Regalos que encontrando neste quarto,
Demonstram todo amor, sem ter limite...
Marcos Loures
43
Um lobo solitário de cinqüenta
Sonhando com a doce Chapeuzinho,
Paixão sendo demais e violenta,
Voltando para a casa, está sozinho.
Depois que esta poeira enfim se assenta,
Na busca inconseqüente por carinho,
Por mais que seja mau, seu lobo tenta,
Mas não encontra nada no caminho.
Destino se mostrando mais cruel,
Ele não aprendeu dançar o Créu,
Nas sanhas deste pobre não se alinha.
Sequer sua fortuna mais consagra,
O que fazer agora com Viagra?
O jeito é retornar pra vovozinha...
Marcos Loures
44
Um lírio que nasceu sob claro céu
Perfuma e maravilha o meu jardim,
Envolve o meu olhar com belo véu
Tornando-se o princípio, o meio e o fim.
O amor assim cumprindo o seu papel
Dizendo desta boca carmesim,
Do velho coração que andava ao léu,
Destino que buscava encontra, enfim,
Roubando das estrelas, cada brilho,
Iluminando a vida, sigo o trilho
Dos rastros que tu deixas por aí.
E quando floresceste permitiste
Que o mundo já não fosse assim, tão triste,
Pois sei que existe amor, sincero em ti...
45
Um lêmure perdido na cidade...
Sinto-me quando encontro teu olhar.
Por vezes me demonstras falsidade,
Em outras já convocas a sonhar.
Revoltas no meu peito, claridade,
Reversos e complexos, morro mar...
Mentiras são humores. À vontade,
Proclamas vibrações, chamas, luar...
Deitada quase sempre num divã,
A diva se redime na vitória.
As plácidas lembranças, vida vã,
Esgotam minhas culpas mais venais
Embora retumbando na memória
Palavras são palavras, nada mais.
46
Um lavrador que ceva com carinho,
Recebe em belo fruto, a recompensa.
Um pássaro constrói, decerto um ninho,
E no amor- arquiteto- ele já pensa.
Quem quer na vida o gozo da alegria
Precisa ser tal qual o lavrador
Que enfrenta a tempestade e a noite fria,
Tendo como colheita o puro amor.
Porém se em tibiezas se perder,
Fragilidade exposta, não permite,
Que possa na verdade recolher,
Pois sabe que na terra há seu limite.
Sejamos, nesta vida, agricultores,
Que sabem dos plantios redentores...
47
Um jovem que vendido por irmãos
Gananciosamente sem moral,
Escravizado e tendo em suas mãos
Poder de ser além do natural,
Criado pelo rei com tal carinho
E mesmo privilégios; eis o fato,
Após um tempo incerto em belo ninho,
Mudou a direção deste regato.
Traindo quem lhe dera algum respeito,
Acolhe seus irmãos e mata o rei.
Louvando a traição, vai satisfeito;
Fazendo dela escola e sua lei.
Assim, em podridão já se constrói,
Do traidor imundo, um grande herói...
48
Um jardineiro cuida de uma flor
Como quem já soubesse dos perigos
Aos quais se expõe quem for um sonhador,
Em busca de outros braços mais amigos.
Um lavrador arando a seca terra
Percebe quão difícil é seu trabalho,
Na vária percepção que; sabe, encerra;
Não se permite nunca um ato falho.
Nós somos responsáveis pelos erros
Que a cada dia mostram-se mais claros,
Não adiantam somente nossos berros,
Ações são necessárias. Anteparos
Para preservar nosso planeta,
Bem antes que o final nos acometa...
49
Um homem que queria ter um filho,
Entregue à cruel sina, sem defesa,
Embora com rainhas em beleza
Paridas da mulher em louco trilho,
Ao ver já repetido este estribilho,
Entregue à bebedeira, com tristeza;
Refém de todo azar da natureza,
Achou em seu caminho, este empecilho.
As duas belas moças, filhas suas,
Ao ver o pai caído nem pensaram,
No fogo do tesão tanto atentaram,
Lascivas, desejosas, lindas, nuas,
Ao velho inebriado, enfim se deram,
Sacros frutos do incesto, agora esperam...
16450
Um homem que deseja uma mulher
Que infértil não dará decerto a luz,
Topando na verdade o que vier,
À cama de outra fêmea, ela conduz.
Ereto e tão faminto penetrava
A toca de uma escrava bem molhada,
Assim quando em loucura ele gozava,
Deixava a tal mulher engravidada...
Durante muito tempo esta engrenagem
Moveu aquele reino no passado,
Se dizes que isto é muita sacanagem,
O fato é que decerto foi contado
Da amante então nasceu belo rebento,
E o rei comendo irmã, fez outro tento...
51
Um grito forte ecoa no meu peito.
Estrela amiga minha, redentora!
O verso que procuro, mais perfeito,
Espelhando teus sonhos de cantora
Adormece buscando-te no leito
Constelar. Quero amar quem já se fora
Cavalgando por mundo. Contrafeito,
Brado-te pelos céus, ó salvadora!
Tropicais paraísos em teus dedos,
A mão que reproduz, fecunda a terra,
Dispondo de fantásticos segredos.
No horizonte meus olhos, um sinal,
Procuro por teus rastros, mata e serra...
Vou te buscar, Geórgia, neste astral?
52
Um grande sonetista do recanto
Ao qual tenho sincera admiração,
Embevecendo a todos com seu canto
Com força, com carinho e emoção.
Amigo não me esqueço dos teus versos
Que um dia tu fizeste para mim.
Nos sentimentos belos, mais diversos,
Uma amizade sempre é boa, enfim...
Cirilo, meu amigo sou tão grato
Às doces homenagens que prestaste,
Bem sei quanto és amigo meu, de fato,
Aos ventos não sucumbe uma tal haste.
Delícia de viver com alegria
Se encontra em tua bela poesia!
Para o Grande Sonetista e amigo
Cirilo
53
Um gosto de vingança em cada toca,
Tocaias, armadilhas da existência.
O vento da maldade quando toca
Causa tanta dor e penitência.
A vida é feita de altos e de baixos,
Mas temos que manter a mente aberta,
Não somos nem podemos ter capachos,
Mantendo em sobreaviso sempre alerta
O coração tão puro da criança
Que jamais deveria envelhecer,
O poder da amizade nos alcança
Quem sabe não nos deixe envilecer.
A liberdade mostra-se mais forte,
Se a mão da companheira cura o corte...
54
Um gosto de café mal requentado,
O cheiro de um arbusto- o fedengoso,
Matando em solidão o antigo gozo
Que trago deste os sonhos do passado.
O pé que em tantos cacos foi cortado
No andar do sentimento que andrajoso
Morreu sem ter coragem, temeroso,
Deixando em cicatriz, triste legado.
Bisbilhotando as ruas onde andei,
Matando as fantasias, dama e rei,
Valete que se quis um cavalheiro,
Agora desdenhado segue errante,
Joguete sem barrete e sem berrante,
Peão dos ilusões, mau garimpeiro...
55
Um gesto mais ousado te proponho,
Voarmos pelo encanto de um prazer.
Sangrarmos neste espaço nosso sonho,
Singrarmos pelo mar que vamos ter.
Um gosto meio amargo e meio doce
Mistura de esperança com saudade.
Fazendo nosso amor como se fosse
Um grito procurando liberdade...
Eu quero teus desejos saciados,
Eu quero o gesto amigo sem pecado,
Não tenho mais os pés tão machucados
Cortados pelos medos do passado.
As asas que criei são para nós,
Atados na delícia destes nós...
56
Um gato se disfarça em um leão
E cai deste telhado mais depressa,
Um erro cometido se confessa
E mostra ser perfeita a negação.
Não tenho em meu passado, boa ação
O vento que me escarra já me engessa,
Apenas eu não tenho tanta pressa,
Sabendo do final, pra quê questão?
Menina em tua saia o paraíso,
É tudo o mais quero e sei, preciso
Fazendo nesta noite um reboliço.
Depois eu sou cuspido na manhã,
A moça já provou toda a maçã,
Secando qualquer forma de feitiço.
57
Um frio na barriga quando escuto
A voz de um trovador enamorado.
Ao lapidar o sonho, amargo e bruto,
Desenho em forma rara anunciado.
Por tanto que em delírios, eu labuto,
Recebo a melodia de bom grado.
Um velho repentista, mais astuto,
Redige um falso verso, desdentado.
Das côdeas deste pão que eu ofereço,
Eu falo em caviares e salmões.
O sonho serve apenas de adereço
Vestindo a fantasia de poeta,
Apenas vendilhão das ilusões,
A poesia em mim, não se completa...
Marcos Loures
58
Um frêmito me abala ao perceber
Teus lábios percorrendo minha pele,
Chegando à bela fonte do prazer
Ao fogo deslumbrante me compele
A língua provocante toca a glande
E quem dormia agora, se levanta.
Sorvendo com perícia, fome tanta,
Numa ternura insana, arisca, grande....
E sinto quando aumentas a freqüência
As mãos auxiliando com mais força,
Se a vida já me trouxe penitência
Um lenitivo encontro nesta moça
Que chupa com divina perfeição
Até que a sede mate, em explosão...
59
Um frágil canto escuto extasiado,
Qual fora uma gaivota em belo mar,
Fazendo deste sonho enamorado,
Uma resolução: pra sempre amar...
Deixando uma tristeza já de lado,
Escuto o belo canto devagar,
Assim mudando a sorte em novo fado,
Encontro meus motivos pra cantar.
Vieste qual sereia em minha vida,
Rainha dos meus sonhos, redentora.
Chegando quando a sorte, distraída,
Queria tolamente, em abandono,
Legando ao coração triste e sem dono,
Somente a dor que teima e sempre aflora...
Marcos Loures
60
Um fogo que se entorna em escaldante
Caminho de terrível e bruta fera
Não deixa que prossiga e vá adiante
O sonho de quem vive só na espera
De um dia que se mostre radiante
Apascentando a fúria da quimera
Refém de um quase nada, um instante
Tornando mais distante a primavera.
Nos olhos embaçados de quem sonha,
Figura desumana e tão medonha
Arcando com mentiras e falácias,
Bebendo gota a gota estas hemácias
Louvores ao Marquês, temível Sade,
A cura? Transfusão em amizade...
61
Um fabuloso dia se moldando;
Porém sem ter comigo quem desejo,
A claridade torna-se um lampejo
Felicidade aos poucos desabando.
Procuro ser feliz, mas desde quando
Partiste só penumbra ainda vejo
A morte em solidão ora prevejo
Fantasmas de mim mesmo desfilando...
O quanto te busquei e nada vinha,
A sorte; se ela existe, não é minha
Apenas o que resta: desengano.
O coração batendo devagar,
Quem sabe poderei um dia amar,
Somente o que sobrou: tristeza e dano...
Marcos Loures
62
Um elo que se mostra em amizade
Permite que se creia no futuro.
Por mais que seja dura a tempestade
Por mais que se demonstre um alto muro
O canto que se faz em liberdade
Que sabes, já se mostra bem maduro
Adentra com total agilidade
Amansa e apascenta um peito duro.
Vencer as impossíveis cordilheiras,
Dobrar as insensíveis epidermes,
Matando sem pudores velhos vermes
Que tramam a vingança por bandeiras,
Assim talvez vejamos noutro dia
Nascer mais forte o sonho de harmonia...
Marcos Loures
63
Um Eldorado encontro em tua pele,
Macia sensação diamantina,
No rosto delicado da menina,
A força que conquista e que me impele.
Nos tons das várias cores que revele
O amor que meu caminho determina,
Certeza de um tesouro como sina.
No pacto cristalino que se sele.
Esmeraldinos olhos. Um rubi
Na boca sedutora e tão carnuda
De todos os meus sonhos, eu te vi
Andando sob a lua prateada.
A própria natureza queda muda
Ao ver esta beleza anunciada...
64
Um eco tão somente, o que eu queria,
Nem mais uma palavra, fique aqui.
Espere que amanheça um novo dia
Trazendo o que em momentos, eu perdi.
Permita que eu conheça esta alegria
Que apenas conheci, outrora em ti.
Retire-me da amarga letargia,
Esqueço o que passou, o que vivi.
Eu sinto não terei uma outra chance,
Por isso é que te peço: não te vás.
Tua presença- amor- traz tanta paz
Além do que o pensar ainda alcance
Sabendo que estarás bem junto a mim,
O medo de viver chegando ao fim...
Marcos Loures
65
Um violeiro não se cansa
De deitar amor à lua
Que nuinha em esperança
Nos meus braços já flutua
Quando o vento nos alcança
Minha sina continua
Vou vivendo da lembrança
Serenatas ganham rua.
Entre sinos, campanários
Entre sonhos deslumbrantes
Amores imaginários
Risos francos, botequim.
Eu te perco por instantes
Quando vejo, estás em mim...
Marcos Loures
66
Um vício que é decerto prazeroso,
Loucuras e delícias prometidas,
Depois de tanto amor e farto gozo,
Eu quero novamente, outras metidas
E assim na trepanagem, sem juízo,
Fazer em nossa cama, a putaria
Que leva num momento ao paraíso,
O vício que decerto eu bem queria,
Tendo esta mulher toda melada,
Lambida, bem chupada e até mordida,
Ardendo em minha cama arreganhada,
Mas pronta para nova arremetida,
Eu vou até que o pau possa esfolar
De tanto te comer, tanto trepar...
67
Um verso que se mostre quase inédito
Falando deste intento que anuncio,
Enquanto proclamaste ao léu este édito
O amor que tanto quero eu noticio.
Ao puro sentimento, dou meu crédito,
Sentindo na manhã, o teu rocio.
Assumo os meus pecados, mesmo atônito
O gozo das palavras mais sinceras,
Explode este desejo quase atômico
Deitando sobre nós as primaveras.
Além do sonhavas, sigo afônico
Tocado pelos sonhos que veneras.
Não quero mais sorrisos tão sarcásticos,
Apenas explosões, vulcões orgásticos...
Marcos Loures
68
Um verso quando feito em alegria
Parece que já nasce benfazejo,
Mostrando num segundo o seu desejo
De se espalhar em plena fantasia.
Deixando mais distante uma agonia,
Procura na verdade um novo ensejo
De ter aquilo tudo o que prevejo,
Trazendo um bom sorriso dia a dia...
Não deixe, por favor, que um verso venha
Em outra magnitude, com desdém,
Que o amor seja a palavra, a bela senha
Que possa deflagrar esta mudança,
Dourando nosso sonho sempre vem,
Aguando com carinho uma esperança.
Marcos Loures
69
Um verso de amizade e de carinho
Dedico a quem mostrando ser possível
Arar e retirar da flor, espinho,
Mostrando um novo rumo mais plausível.
Amar e dedicar-se ao mesmo ninho
Aonde se percebe paz incrível.
Uma amizade é feita qual um vinho,
O tempo maturando eleva o nível
E toda a qualidade que se espera,
Degustação perfeita já se faz,
Porém mantendo o viço em primavera
Permite que sonhemos com futuro
Em benfazejo gozo, plena paz,
Cevando uma esperança em chão mais duro...
70
70
Utópica manhã que não virá
Trazendo um ar benigno de esperança
O teu amor se fez Ali Babá,
Abracadabra fica na lembrança.
Nem mesmo um novo sol contemplará
Aquela que se veste de vingança
Quem sabe nunca espera, quer e já,
Parado, a dor chegando vem e alcança.
Dos mucos misturados, bem querer
Pintando este cenário de prazer
Depois que terminou? Nem mais adeus.
Quem dera se viesses, mas não vens,
Descarrilaste assim vagões e trens
Matando os sentimentos, tolos, meus...
Marcos Loures
71
Usando o sentimento por pincel,
Lavrei em mansa areia, nosso nome,
Enquanto a fantasia nos consome,
Eu vejo neste mar o imenso céu
Aonde as emoções em carrossel,
Vagueiam nos cometas, tudo some
Mas vejo refletido o amor que dome
O que julgara indômito corcel.
As ondas levarão nossos escritos,
Porém os olhos somam-se infinitos
E nada poderá conter tal brilho.
Assim feito faróis em noite imensa,
O amor nos prometendo em recompensa
A mágica esperança deste trilho...
Marcos Loures
72
Uma esperança agora tem um nome,
Sertão de Jatobá; meu Eldorado.
Nos olhos desta serra, a lua some
Um paraíso em vida abençoado.
A gente vai conforme o que precisa,
Seguindo com bornal bem guarnecido,
Do quanto é necessário, o tempo avisa,
Caminho com certeza decidido.
Vencer tantas montanhas... liberdade...
Saber destas tocaias e perigos
Porém uma esperança quando invade
Deixando para trás medos antigos
Expressa uma alegria sem igual,
Quarando a fantasia no varal...
Marcos Loures
73
Usando qualquer forma de linguagem
Expresso a solidão, cruel amiga
Espero que a tristeza não prossiga,
Mas sei que tal espera: uma bobagem...
Teimando em esperanças que me trajem
A luz da realidade desobriga
Quebrando desde então a antiga viga
Vivendo tão somente assim: à margem.
Um dia encontrarei eternidade?
A vida me corrige e, na verdade,
Eu sei que não terei mais que um segundo.
Cadenciando o ritmo dos meus passos,
Os dias percorridos morrem lassos,
E no Vale da Morte me aprofundo...
74
Usando para tal, lupa potente,
Eu vi o quanto gostas do que eu trago,
O vento da verdade causa estrago
Por mais que algum disfarce já se tente.
Amor não tem em ti lugar-tenente,
Nem mesmo algum resquício deste afago,
Bagaço do que fui, em cada bago
Não sirvo para suco nem semente.
Gerânios debruçados na janela,
Ao menos sem espinhos. E isso é bom.
Usando com amor vara e Condon,
Garanto a prevenção de algum desastre,
O quanto o teu desejo se revela
Impede que esta peste assim se alastre...
Marcos Loures
16475
Usando este trabuco: poesia
Disparas contra todos; companheiro
Platéia sem palhaço se esvazia
Deixando mais tristonho o picadeiro.
Há tempos, com certeza que eu não via
Um bicho assim rabudo e tão ligeiro
Fazendo macaquices, rodopia
Girando sem parar, o tempo inteiro.
Não posso concordar com um Mané
Que nunca apreciou tal chimpanzé
Um velho babuíno desdentado.
Macacos não me mordam, pois vacina
Eu juro não tomei e a minha sina
É ter um infeliz sempre a meu lado...
76
Usando em mesma cor, nosso tinteiro
Fazemos multicor uma esperança
No barco a se perder, o timoneiro
Durante a tempestade não avança;
Sorriso tantas vezes tão matreiro
Esconde no bornal uma aliança
E o tempo necessita temperança
Mas nada do que tive é verdadeiro.
No moto que perpétuo nunca morre,
Beijo sanguinolento não socorre
E segue dia-a-dia nos matando.
Se eu quero o que tu negas, vou em frente
E o passo que se busca, num repente,
Aos poucos, infinito penetrando.
Marcos Loures
77
Usando do non sense eu me permito
Chegar a cada fase deste game,
Por mais que a solidão ainda teime,
A água vai furando este granito.
Não vejo o teu retrato, nem omito
O quanto a poesia ainda queime
O coração vadio que requeime
As fotos da esperança, torpe mito.
Ponto facultativo dentro da alma
Apesar do futuro, vivendo ontem
Não quero nem saber se agora tem.
Se um maremoto apenas não me acalma
Eu tento disfarçar e sigo em frente
Por mais que o velho amor teimoso, atente...
78
Usando de metáforas, procuro
Vencer os descaminhos com meiguice.
Do amor que tantas vezes sonhos disse
Legando à solidão, o céu escuro.
Embora o caminhar seja mais duro,
Não vejo na paixão qualquer tolice,
Imaginando a luz que permitisse
Saltar com segurança qualquer muro
Eu quero estar contigo e ser feliz,
São tantas as besteiras que já fiz,
Mas posso finalmente te falar
Do encanto que poreja em fantasia,
Alquímica emoção que ora me guia
Sentindo esta alegria a nos tocar...
Marcos Loures
79
Usando de jargões, velhos clichês
Eu canto esta emoção que me liberta,
A porta estando sempre tão aberta
Expressa esta verdade que tu lês.
Não quero nem saber dos tais porquês,
Se a vida tão errônea se conserta,
Porém se a poesia me deserta
Jamais serei aquilo em que tu crês.
Sem vendas nem disfarces, vou desnudo,
Se às vezes noutro tanto me transmudo,
Eu tento disfarçar minhas verdades.
Enquanto houver um sonho, mesmo falso,
Eu vencerei qualquer medo ou percalço
Rompendo vãs correntes, tolas grades...
80
Usando das palavras, mensageiras
Estendo os meus olhares para além.
Enquanto uma resposta inda não vem
Desfraldo dos meus sonhos, as bandeiras.
Rondando sem destino, em eiras, beiras
Bebendo do vazio, sou ninguém.
Mineiro que perdeu da sorte, o trem,
Desejo o que talvez já nem mais queiras.
Sem ecos, sem medidas, olhar vago.
O templo dos meus versos, a ilusão
Que é feita desta mesma imensidão
Que sorvo, sem descanso, quando trago
O coração na busca que completa
O sonho de poder ser um poeta...
Marcos Loures
81
Usando das palavras como fonte
De sua inesgotável fantasia,
Eflúvios tão diversos, poesia,
Mutagênica luz toma o horizonte.
Entre a realidade e o sonho, ponte,
Que a cada novo verso se recria,
Funâmbulo entre dor, medo e magia,
Domando imaginário, vale e monte
Além das cercanias e do eterno,
Colhendo flores belas num inverno
Que toma o sentimento, falso alarde.
Mentir sobre o que pensa e o que deseja,
O corte que em verdade inda lateja,
Promete a simples cura, mesmo tarde...
82
Usando da poesia como uma arma
Que possa inda trazer a paz que sonho,
Talvez isso pareça até bisonho,
Porém parece ser todo o meu karma,
Viver a imensidão em cada verso,
Sagazes alegrias me rondando;
O dia se promete bem mais brando,
Estrelas delineiam o universo
Tiaras multicores, faiscantes,
E as noites se prometem fascinantes
Instantes delicados, maravilhas...
As flores constelares, pirilampos,
Arando de esperança sendas, campos,
Distante das terríveis armadilhas...
83
Usando da palavra qual vergasta
Dominas este Zé, tu sabes bem.
Expondo a poesia bela e casta,
Teu verso delicado sempre vem
Enquanto com ternura sempre abasta
Aquele que deseja ter alguém,
O temor de sonhar, a mão afasta
Mostrando a maravilha que contém.
Viola sertaneja, fortalezas
Que a gente vai colhendo vida afora,
Embora pontilhada por surpresas
Sem presas e sem caças, liberdade,
Que tramas quando a voz suave aflora
Trazendo ao trovador, tranqüilidade...
Marcos Loures
84
Usando da palavra como enxada
Arando o pensamento e as emoções
Criando um universo deste nada,
Cevando com carinho as plantações.
A história em suas mãos, modificada,
Tocando todas nossas sensações.
A mão que em sentimento calejada
Aplaca ou mesmo gera furacões.
No registro ou mudança de costumes,
Conhecimento espalham quais perfumes
Que brotam dentro da alma, seu canteiro.
Eu; simples repentista, homenageio
Aquele que, nas letras, seu centeio,
Transforma, com certeza, o mundo inteiro...
Marcos Loures
85
Usando da esperança como ardil
Vencendo as armadilhas dos falazes,
Percebo das belezas que me trazes
Um dia como em sonho, amor previu.
Por mais que o homem seja amargo e vil,
Ainda traz o bem em suas bases
Toquemos com palavras mais audazes
Pensando neste Deus que construiu
Num ato de ternura; este universo.
No encanto pueril de cada verso
Uma grandeza enorme dita amor.
Trazer aos nossos dias, mansidão,
Na força sempre intensa da oração
A certeza de tocar meu Criador.
86
Usando como enxada o meu teclado,
Procuro cultivar o solo agreste,
Do belo diamante que me deste,
Um dia que imagino de bom grado.
Da fonte da alegria, um bom bocado,
O quanto de beleza que se ateste
Fruto que o agricultor, com a alma veste
Promessa de um lugar tão desejado.
Repare quanta estrela se perdeu
Tomada pelas luzes de neon,
O céu da juventude escureceu
E agora só me resta a poesia,
Que mesmo que não mude antigo tom
Reabastece o peito em alegria...
87
Usando cada verso qual bodoque
Decerto acerto o alvo que eu queria,
O quanto em sentimento não se estoque
A sorte se fazendo senhoria.
Enfoques tão diversos, mesmo palco,
Atalhos; reconheço e meço bem
A dor que tantas vezes já recalco,
Teimosa ao fim da noite sempre vem.
Mantendo sempre acesa a nossa chama,
Vou sarcasticamente noutro rumo.
Apaixonadamente a vida chama
Depressa pros seus braços, sigo e rumo.
Meu passo nos teus laços, eu conserto
Preconizando ao fim, raro concerto.
Marcos Loures
88
Urtiga quando coça eu me pinico
E fico desinquieto, não sossego.
Pesando na barriga como um prego,
Depois quem paga o pato? O meu penico.
Se puxas pro teu lado eu venho e estico,
Lutando feito um doido, não me entrego,
Melhor ser carcará que ser burrego
Neurônios que tu tinhas, resta o Tico.
Sem vínculos quaisquer com meu passado,
Surgiste ao fim da tarde, num sol-pôr,
Não tendo quase nada a me propor
Agora queres leito acolchoado,
Retalhos servirão como comenda,
Saíste bem melhor que esta encomenda...
Marcos Loures
89
Unindo paralelos tão distantes
A nossa sobremesa é feita em sal.
De mares tão distintos, navegantes,
O rumo percorrido, desigual.
Enquanto os teus olhares verdejantes
Os meus são sanguinários. Bem e mal.
Tu cevas ilusões esvoaçantes
Eu sangro cada folha do jornal.
Meu coração,eterno guerrilheiro,
O teu de uma pacífica emoção.
Espalhas teu perfume no canteiro,
Mergulho sem temores; vou inteiro,
Andando pelo fio da navalha.
Na cama, a placidez, vem e agasalha...
Marcos Loures
90
Unindo nossos sonhos, companheira
Percebo amor intenso nos tocando,
Paixão que se tornando a derradeira
Depressa, mansamente, conquistando
Minha alma a ti se entrega e vai inteira,
Acende uma alegria se entornando
Na lenha que prepara uma lareira
E sente este calor nos entranhando.
Imerso nos teus braços um menino
Que pede por abrigo e proteção,
Um velho deslumbrado, eu me alucino
Tocado pelo ardor, flor do desejo
Ensandecido o gozo em ti, prevejo
Orgásticos momentos, furacão!
91
Unindo nossos corpos, firmes laços
Dançando em plena lua, tais magias
Deixando os medos velhos, gris, escassos
Argêntea solução que me dizias.
Entranho o pensamento de quem quero,
Tenazes, os momentos, várias luzes
O gesto mais profícuo, pois sincero,
Em gozos e prazeres reproduzes...
Das cruzes do passado, nem sinal,
O tempo remoçando uma esperança.
Nas peles sem fronteiras, carnaval,
O riso em farto fogo, agora dança.
Vogando neste mar, bela amplidão
Tracejo em meu caminho, a direção.
92
Unidos sob uma égide comum,
Andamos companheira, pela vida,
Distantes emoções pedindo um zoom,
Preparam para a dor, melhor saída.
Não tenho na verdade medo algum,
Porém não quero ter a despedida,
Sozinho; com certeza, eu sou nenhum,
Jamais permitirei tua partida
Pois és querida amiga, tão dileta,
A base em que caminho noite e dia,
Contigo toda a sorte sorriria
Tua palavra amiga me completa.
Andanças pareadas; perfazemos,
No barco desta vida, unimos remos...
Marcos Loures
93
Unidos para sempre, eternidade...
Em nossas almas, corpos, corações
Vivendo uma real felicidade
Que é feita dos carinhos, emoções.
Assim nos conduzindo o mesmo vento
Atando numa imensa solidez.
A força mais sutil do pensamento
Num canto mais alegre, enfim, se fez.
E vamos par em par ao infinito,
Além de todos astros, universos.
Uníssona vontade, o mesmo rito,
Aglutinando sonhos tão diversos.
Nem mesmo uma distância que intimida,
Impede caminharmos mesma vida...
94
Unidos irmanados neste sonho
Que traga para nós felicidade
De um tempo que eu te trago e já proponho
Aonde possa amar em liberdade.
O céu que nos atou sendo risonho,
Moldando nosso amor em amizade.
Meu mundo neste céu; querida eu ponho,
Vencendo o que nos der contrariedade.
Sigamos, namorados, sendas belas,
Atrás de nossos campos maviosos
Salpicas no caminho mil estrelas
E fazes um tapete de esperanças.
Que os dias não mais sejam caprichos
Na festa que nos une: risos, danças...
Marcos Loures
95
Unidos desde sempre ao infinito
Da ponta da cabeça até os pés.
Visceralmente juntos, alma e fés
Errando noite afora, sigo aflito
Na busca de um diverso e novo rito
Que deixe o meu passado de viés,
E nos liberte assim destas galés
Pesando em nossos corpos qual granito.
Do quando nós iremos liberdade
Pergunto e sem respostas, sigo tendo
Apenas as notícias me envolvendo
Dizendo desta tal fraternidade.
Não quero uma alma gêmea, eis a verdade,
Os elos da corrente apodrecendo...
96
Unidos corações vencendo as trevas
Deixando o peito meio em contrabando
O quanto que caminhos eu desando
Enquanto tu distante sempre nevas.
Amiga, necessárias nossas cevas
De tudo o que vivermos onde e quando,
O manto da verdade nos tocando,
Tristezas vão embora, frias levas.
Nas asas deste pássaro/amizade
Alçamos infinitos sem ter asas,
Nas lutas tão difíceis, sempre em brasas,
Vencer as duras rochas, ninguém há de,
Assim em união vamos à luta
Tombando em mansidão a força bruta...
97
Ungindo nossos lábios, doces méis
Que tramam delicada e rara teia,
No gosto de voar que me incendeia
Giramos noites plenas, carrosséis.
Saturno nos espia e em seus anéis
Milhares de néons, da lua cheia
Etérea maravilha nos rodeia
Estrelas suprirão nossos farnéis.
Sem medo de seguir nossa viagem,
As luzes emolduram paisagem
Refletem cada brilho deste olhar,
Que tenho como guia, meu farol,
Teu corpo me irradia como um sol
Queimando de prazeres, devagar...
Marcos Loures
98
Ungindo cada passo, cada plano
Pacato cidadão em rumo incerto,
O quase se tornando mais humano
Depois de me alagar em teu deserto.
Do sono interminável me desperto
E bebo todo o suco, ledo engano,
O vaso que quebraste além de aberto
Não tinha mais sequer metal ou pano.
Elejo os meus fantasmas, tais espectros
Vagando por quilômetros sem rumo,
Usando dos meus métodos, assumo
Não tive nem princesa reino ou cetros.
Apenas fui um bêbado e não mais
Engano os meus instintos ancestrais...
99
Ungido pelo amor que não reclame
Nem faça desta vida um vão inferno,
Querendo este carinho calmo e terno
Fazendo da alegria o seu ditame.
A planta se refaz em seu estame
Num ciclo permanente, pois eterno,
Ressurge em primavera após o inverno
Na força em que o desejo sempre clame.
Enredo-me em teu corpo em noite fria,
E o gelo se desfaz numa ardentia
Fadando-me a ser teu completamente.
Alvissareiros sonhos se arremetem
Nos corpos que em conjunto não competem
Atados pelos gozos, corpo e mente...
Marcos Loures
16500
Umidades trocadas, pele e sexo,
Enlaço-te em loucura, sem dar tréguas,
E o tempo vai passando sem ter nexo,
Viajo junto a ti bilhões de léguas...
Suave cheiro emanas, ferormônio,
E atiça-me com fúria desejosa,
A cama se transforma em pandemônio
E num momento insano, a gente goza.
E assim, noites afora, paraísos,
Serpentes e maçãs, mil tentações.
Os teus cabelos negros, belos, lisos,
Meus pelos encharcados, furacões.
Fornalha de um verão mais tropical
Em labaredas, sonho sensual...
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