domingo, 31 de outubro de 2010

16501 a 16900

1


Uma velha paixão: a poesia;
Ninando o coração de um velho ator
Que veste as ilusões de um falso amor
Transpira em cada verso a fantasia.

Poente derradeiro; alegoria
Sambando entre os espinhos, teima flor,
Perdendo o que me resta de pudor
Fugindo do vazio em melodia.

O tempo inexorável cobra e sangra
Veleiro que procura uma calma angra
Agradecendo o cais que desconheço.

Navego por oceanos sem fronteiras
Palavras que soando verdadeiras
Traduzem o bendito recomeço...


2

Uma sombra exilada do passado
Perambula nos pátios desta casa.
Bravios, os meus medos; ‘stou calado,
O fogo da lembrança inda me abrasa.

O vento na janela me chamando,
Atendo e nada vejo; nada, nada...
Percebo que inda vivo te esperando;
Minha alma permanece ensimesmada.

Mas sinto que, talvez, o vento traga
Perfume desta rosa que murchou,
Do mar de uma esperança sinto a vaga
Que nas falésias frias, já quebrou.

Talvez das penedias, solidão,
Ressurja um novo dia de ilusão...


3


Uma princesa, um anjo, fada e luz.
Divina criatura plena em glória,
O amor mudando o rumo desta história
Espelha o brilho raro que produz.

Pessoa feito estrela me conduz
A um mundo de prazer; Régia Vitória.
Aonde a lua fora merencória
O olhar da bela deusa, enfim, reluz.

Relembro quando, às vezes, temerosa,
Fugia dos meus sonhos, abstraída,
Distante dos temores, minha vida

Que amor ora moldou, maravilhosa,
Decifra os teus sinais e te persegue,
Por mais que teu brilhar, intenso, cegue...


4


Uma nota queixosa, a bizarrice extrema
Um passo hesitante em volta da sarjeta.
Ao passo em que o poeta arrebentando algema
Ainda guarda o medo, esta velha tarjeta...

Das sombras fraternais, o passado revive
Apalpando o resto escondido em mim.
Não quero o desengano estúpido que prive
O gosto mais suave, a boca carmesim.

Por pejo ou por total respeito ao modernismo
Eu não irei mudar o corte do meu terno.
Eu sei que te parece até falso egoísmo.
Mas gosto do meu jeito, amargo enquanto terno.

Não creio ser amor um tema tão herético,
Aliás lendo o meu pai, este mal é genético...
Marcos Loures

5


Uma música toca ao longe... Escuto
Tua voz me chamando para a dança.
Carrego no meu peito inda este luto
Mortalha que sobrou de uma esperança.

Nas rendas deste som medo se tece
Nas cordas do violino, a noite passa,
Roubando desta sombra, como uma prece,
Que vai se definhando e mansa, esparsa...

Cessando este lamento, perco o fio
Que atava os meus sentidos, nada sobra,
Somente o vento canta em assobio,
A solidão imensa se redobra...

Não haverá mais nada... Na verdade,
Somente sinto o gosto da saudade...


6



Uma mulher sem amor à noite sonha
Quem sabe com corcel ou com seu rei?
A vida sem amor passa enfadonha
Por isso tanto amor te dediquei,

Atiro um céu aberto de esperanças,
Adentro esta janela, minha amada,
Prometo-te milhões de novas danças,
Da forma mais querida e desejada...

Eu sei que talvez nunca queiras ter
O meu amor tão terno e tão pacato,
Não creia que com isso possa ver
Na tua negativa, um desacato...

Não me deixe ao relento, ao abandono,
Pois sei tem, quem não ama, um calmo sono...


7


Uma mulher perfeita em minha cama
Fazendo peripécias com a língua.
Da sua gruta nascem tantas chamas
Deixando a solidão morrer à míngua

Porém a chama nasce da umidade
Num fato que bem sei paradoxal.
Derrama tantos gozos na verdade
Em rito tresloucado e sensual.

Fodendo com vigor, não dá descanso,
Depois de ter demais quer de outro jeito.
Seguro meu orgasmo, até me amanso,

Porém o que fazer se não seguro?
Por mais que o gozo venha assim perfeito,
Quem dera se este pau vivesse duro!


8

Uma mulher formosa e delicada,
Na doce sensação da pura entrega.
Nas tramas deste amor, glorificada;
Loucuras do prazer, mansa, carrega...

Nas mãos que sempre arranhas e me agarras,
Os dentes entranhando em minha pele.
Nas unhas afiadas, doces garras;
Aos maiores anseios, me compele...

Caminha como deusa; vai desnuda,
No quarto, na penumbra, me enlouquece.
A noite se transcorre tão fecunda,
Vestindo nosso amor de louca prece...

Do seu corpo firme, ereto, majestade;
Sabendo nosso amor, em liberdade...


9



Uma mulher em fúria, um indomável
Galope pela noite feita nua
Aberta uma janela, espreita a lua
Vermelha que; mostrando-se alcançável

Deitando-se na cama, tão palpável
Rondando se faz bela e enfim flutua.
Que a vida, minha amada, sempre flua
No rumo deste sonho inesgotável...

Os dedos adentrando a lingerie
Transferem para o corpo estes delírios.
Aos olhos voyeuristas, quais colírios

Em movimentos, loucos, frenesi,
Embora no momento; solitária,
Num êxtase, se mostra imensa e vária...


10

Uma manhã tão bela já desponta
Trazendo em alvorada um raro brilho,
Olhar de quem adoro, linda conta
Que aponta, deste modo, o melhor trilho.

Seguindo os raios fortes deste sol,
Percebo amanhecer de uma alegria,
Dourando toda a vida em arrebol,
Poema em natureza, já se cria.

Ao longe, em cachoeiras, desce o rio,
Um prado verdejante em primavera,
Almejo, neste instante, eterno estio
Que é feito amor ardente e nisto gera

Um sonho tão difícil de conter,
E espalha pelo mundo este prazer...
Marcos Loures


11

Uma infantil meiguice em olhos mansos,
Brincando nos jardins com caracóis.
Dos olhos anjos nus exibem sóis
Dourando em claros raios tais remansos.

Pacíficos cristais em loucas danças
Arrebóis encharcados de ternura,
Na límpida manhã, rara moldura
Veredas deslumbrantes, cedo alcanças.

Vivenda da esperança entre mil flores,
Deslindas as mais belas, perfumadas,
Raiando a poesia entre estas cores

Num prisma, iridescências produzidas
Nas mãos mais carinhosas dessas fadas;
Mudando a direção de nossas vidas...
Marcos Loures


12


Uma ilusão terrível dominara
O tempo em que, distante, não te via.
Por vezes teu olhar eu encontrara
No sol que iluminava em claro dia.

Achei o teu perfume no jardim
Que tanto cultivei, bom jardineiro,
Porém era um aroma de jasmim
Emanado das flores do canteiro.

No sensual desejo dos corcéis
Eu via nosso amor se repetindo.
Doçura de teu beijo em tantos méis.
Pureza de tua alma refletindo

Nos lagos transparentes, águas claras,
Rubis e diamantes, pedras raras...



13

Uma ilusão se faz em pleno amor
Deixando um novo dia amanhecer,
Eu tenho tanta vida a te propor,
Um mundo feito em luz, vital prazer,
Vivendo simplesmente, sem rancor,
Consigo o que mais quero e posso ter.

O beijo da mulher enamorada,
O riso da criança pela sala,
A noite sempre bela, enluarada,
O vento que nos toca enquanto embala,
Estrelas se espalhando pela estrada,
A dor em noite imensa já se cala,

Porém se vou distante da esperança
Alegria se omite e não se alcança.



14


Uma gota feroz no meu telhado,
Pingando sem parar; horas adentro...
Estou ficando até desesperado,
Como posso pensar, como concentro?

Queria te falar apaixonado,
Mas como? Essa goteira bem no centro,
Batuca no seu ritmo desgraçado,
Penso que, na cabeça bate dentro...

Tumtum não pára nunca de bater.
Tumtuneia não cansa; a noite inteira...
Eu tento, não consigo reverter.

Minha amada, te juro; é verdadeira,
Essa emoção que quero transcrever:
Odeia poesia essa goteira!

Então perdoa querida,
Por favor, não leve a mal,
Dess’amor nem Deus duvida,
Sem ele passo até mal...
Teu amor é minha vida,
Eta goteira infernal!


15


Uma estrela caída sem defesa
Esmoler coração exposto e nu.
Nesta imunda expressão, quase princesa,
O mundo se adivinha duro e cru.

A vida anunciada em podres dentes,
Nas roupas velhas, rotas, cariadas...
Um sorriso infantil, as mãos prementes
Das justas emoções, abandonadas.

Uma escultura viva e miserável,
Retrata como a cruz não disse nada.
Mas mesmo nesta foto insuportável,
Justiça há tanto tempo abandonada,

A placidez da estrela e m meigo rosto,
Mostrando ali um Cristo amigo, exposto...


16



Uma fogueira acesa a beira mar-
Sonho de mineiro é ser caiçara.
As ondas vão chegando devagar
E a noite em lua cheia faz-se clara

Quem veio do sertão, e se antepara
Com toda esta beleza a deslumbrar
Já valoriza muito a noite rara
E com viola e beijo, vai sonhar...

Sertão que abandonei faz pouco tempo
Distante, eu lá deixei bela morena,
Saudade vem trazendo um contratempo

Porém outra morena já me acena.
Mas se é amor sincero ou passatempo,
O que importa é viver de forma plena!


17


Uma flor nos cabelos da menina
Que traz neste sorriso a sedução.
Perfuma enquanto a tarde se ilumina
No sol extasiante da paixão.

Vem logo que eu te quero, sorte e sina,
Afaga com carinho um coração
Que bate com mais força e se ilumina
Aos olhos da rainha do sertão.

A flor que ela carrega tem perfume
Que eu não encontro mesmo numa rosa,
Adoça minha vida, e sem queixume

Prossigo nesta senda maviosa
Que é feita desta flor que desabrocha
No coração menino da cabrocha...


18

Uma farsa somente, eis o que sou,
Fantasma de mim mesmo que insepulto
Vagando pelas trevas demonstrou,
O quanto fui outrora tão inculto.

Seria muito mais do que restou
Além do burburinho e do tumulto,
Montando esta esperança que passou,
Forjando da ilusão bem mais que um culto.

Não me culpo por erros, artimanhas,
Ao longe, no horizonte, mil montanhas
E as sombras determinam meu espaço.

Distante deste sol que te ilumina,
Fechei das emoções a velha mina,
E a cada novo verso me desfaço...


19


Uma expressão mais pura da verdade,
Aquela que permite um sonho bom,
A vida percorrida ao mesmo tom,
Recende a mais perfeita qualidade.

Nos cantos mais distantes da cidade,
Quem dera se escutasse o claro som
Nos ecos mais fiéis desta amizade,
Decerto mais que tudo, um raro dom.

Eu tenho o peito aberto de quem sonha,
Vencer a solidão cruel, medonha,
Ao lado de quem sei que me quer bem.

É bom poder gritar ao mundo todo,
Que em meio a tantos pântanos, vil lodo,
Eu posso enfim dizer que tenho alguém.
Marcos Loures


20


Uma estrela acendendo no meu sonho
Em brisas, maciez, em plena festa.
De tudo que sonhei, nada mais resta,
Senão o meu caminho sem promessas
Estrela que vivendo nas avessas
Transforma meu viver mais enfadonho...

Abraço tal estrela que não sente
Abraços nem sementes que perfumo,
Esqueço meu caminho, caço o rumo
E nem amar estrela mais consente.
Quem dera se pudesse, ouviu estrela,
Viver mesmo que, embora, só chorando,
A lua que te trouxe, iluminando,
E nada mais fazer senão vivê-la!



21


Uma estrela absoluta em noite clara
Dançando em minha cama faz a festa
Amor que a todo tempo se declara
Ateia tanto fogo na floresta

Abusa em ser feliz e dar prazer,
Vencendo qualquer trama, sem receio
Guiando pela vida a converter
Em sorte o que se fez em tanto anseio.

Trazendo tanta febre pro meu quarto
Explode em fogaréu gozo e delícia.
Depois deitando em ti, feliz e farto
Começo novamente e com perícia

O jogo matinal que não termina,
Adoço com prazer a fonte e a mina.



22

Uma esperança traz contentamento
A quem tanto procura ser feliz,
Não quero ser além de um aprendiz
Na busca pelo sonho solto ao vento.

Vivendo sem temor cada momento
Quem sabe um bom futuro se prediz
Fazendo nesta vida o que se diz
Tramando noutros olhos, meu alento.

Ó sonhos desejados e diversos
Dos tempos em que fora sempre amargo,
Eu quero renascer e sem embargo

Vasculho tais pegadas pelos astros,
Procura interminável pelos rastros,


23


Uma esperança sobe agora a serra
Nas nuvens a promessa de mudança,
O peito vai se abrindo e na festança
Um novo amanhecer já se descerra.

O coração novilho em riso berra,
Berrante de minha alma, uma esperança.
Estrela que no mar, o céu alcança
Aguando em mansidão, encharca a terra.

Jangada com certeza abandonada,
Alegria em semente bem arada
Decerto, novamente brotará.

Apenas, tão somente uma ilusão,
Criada por um velho coração
Nascido no sertão de Quixadá.


24

Uma esperança imersa em nosso peito
Aos poucos vai mudando o meu caminho,
Pois quando em teu amor eu já me alinho
Felicidade mostra-se um direito.

O rumo para a glória é bem estreito,
Não permite sequer sonhar sozinho.
Arranco com firmeza cada espinho
Enquanto o meu destino, agora aceito.

Luzindo no vigor de uma manhã
Encaro com destreza cada afã
E a doce fantasia amor conduz.

Vencendo os temporais que eu encontrar
A vida com certeza irá brilhar
Não tendo em minha vida urze nem cruz.
Marcos Loures



16525

Uma esperança imensa, mas esguia
Vagando em noite fria, no luar,
Encontra tão somente a fantasia,
E perde-se morrendo devagar.

Além de todo o sonho que eu dizia,
Percebo que a vontade de chorar
Matou em um segundo a poesia,
Erguendo uma tristeza como altar.

Quem dera se pudesse ter alguém,
Que fosse na verdade um lenitivo,
Se tristemente sigo sem ninguém,

Apenas na esperança sobrevivo
De ter um dia, amor que sei tão bem,
Transforma o coração, pobre cativo...


26

Uma esperança feita em fortaleza
Não pode ser calada ou destruída,
Pois sendo a cada dia, construída
Expressa com vigor, farta beleza.

Nos olhos de quem amo tal grandeza
Ao ver uma esperança refletida,
Percebo que encontrei em minha vida
Depois da negação, esta certeza

De ter já concebido o meu futuro
Moldado em sentimento bem mais puro,
Depois da dura queda estou refeito;

Ao ter uma alegria como cais
Eu sinto que se foi pra nunca mais
A dor que latejara no meu peito.
Marcos Loures


27

Uma esperança em paz, mansa e vestal
Apascentando a fera que me doma,
Renascendo alegria outrora em coma,
Eu vejo depois disso, o carnaval

Dos sonhos que cultivo, sol e sal,
Quebrando o que já fora uma redoma,
Colando nossos corpos nesta goma
Trazendo mil estrelas no embornal.

Assim, a liberdade vem e toma,
Fazendo de dois corpos mais que soma,
Reverso da medalha é nosso tema.

Depois de aprisionados pelos sonhos
Futuros com certeza mais risonhos,
Não tendo mais sequer qualquer algema
Marcos Loures


28

Uma esperança em glória, radiante
Permite que se doure a fantasia,
Nos olhos de quem ama, num instante
A vida se transforma em tal magia.

Cobertos pelos imenso e claro manto,
Seguimos sem olhar sequer pra trás.
Desejo transformado em puro encanto
Promete esta colheita feita em paz.

Craveja em diamantes meu destino,
Criando um Eldorado em fortaleza.
Encanto deste sonho esmeraldino
Trazendo para nós farta beleza.

Na mão que acaricia e adoça a vida
De tantas expressões, a preferida...


29



Uma esperança dança em minha mente
De ser teu companheiro novamente
Na dança que fizemos, simplesmente,
A vida se tornou mais envolvente.

Não sei por que partiste de repente,
Talvez tu não me amastes totalmente,
Aqui fiquei sozinho tolamente
Aguardo tua volta, descontente.

Amor quando é demais, incontinente,
Não teme a tempestade e é urgente.
Minha alma sem te ter logo pressente

Que a vida não valeu, morreu semente.
Quem ama tanto, verdadeiramente
Não foge de quem quer, também não mente...

Marcos Loures


30

Uma esperança ativa
Não é somente um sonho,
Realidade aviva,
Um mundo em que proponho

Presença sempre viva
Pois quando eu me disponho,
A sorte enfim não priva
De um dia tão risonho.

Viver uma esperança
Sem medo de seguir,
É não temer a lança

E nem sequer fugir
Futuro nos alcança
E invade a nos tingir...


31

Uma esperança adentra na janela
Causando reboliço em nossa cama,
Esverdeada a cor da doce estrela
Moldada em tantos sonhos de quem ama,

Querida, tanto apraz poder revê-la
Iluminando assim quem já reclama
A sorte de poder, pra sempre, tê-la
Atada em minha pele, forma e trama.

Desejos estampados no meu rosto,
Espelham os teus olhos desejosos,
Amor que a gente faz deixando um gosto

Divino em nossas bocas. Mato a sede
Em dias soberanos, maviosos,
Fazendo dos abraços nossa rede



32



Uma esperança acende
A luz do meu destino,
Um canto que desvende
A sina de um menino

Premissas de um duende
Futuro cristalino,
Vontade que me atende
Com gosto feminino

Da boca mais profana
Gostosa e desejada
Mulher tão soberana

Sem ser carta marcada,
Amor que tanto ufana
Em sorte anunciada...



33

Uma escultura brônzea em tez tão rara
Que um deus enamorado em seu buril
Usando um nobre mármol de Carrara
Em dias tão sublimes esculpiu.

Argêntea lua surge no infinito
Iluminando um ser tão magistral
Permite imaginar como é bonito
O sopro criatório, original.

Embevecido vejo aqui do lado,
Esta maravilhosa criatura
E sinto-me por ti extasiado
Depois de tantos anos na procura

De quem enaltecesse o meu jardim,
A bênção reservada para mim...
Marcos Loures



34

Uma emoção maior, pois verdadeira
Derrama sobre nós tanta fartura,
Além desta alegria costumeira
Amor promete paz enquanto cura.

Na alvura dos lençóis, o jogo intenso,
No qual não se permite mais engano,
Em ti eu nunca nego, sempre penso,
Um nobre sentimento soberano.

Relego qualquer dor, prefiro a sorte
Que é feita nos teus olhos, meus faróis.
A vida se permite em tal suporte
Trazendo segurança aos arrebóis.

Depois de terremotos e tsunamis,
Não temo mais as dores, vis infames...
Marcos Loures



35


Uma emoção audaz que sempre brota
No canteiro da paz em noite clara,
Um barco que encontrando a sua rota
Buscando um rumo, agora já se ampara
E enfrenta a tempestade e segue a frota
Já sabe: ser feliz é coisa rara.

Mas tenta descobrir perfeito cais,
Aonde possa em noite descuidada
Desembarcar, seguro, e ser capaz
De ter depois de tudo terminada
Viagem tão difícil. Quer a paz
E sabe da importância da jornada.

Amor que de seu rumo se desvia,
À morte num naufrágio sempre guia...

Marcos Loures



36


Uma dor saborosa me domina
Aos poucos me tomando não me larga.
A dor que docemente me alucina,
Sorrindo quando os olhos meus, embarga...

Dor dolente, cansando dá prazer,
Vasculha meu passado, meu futuro...
Maltrata, ao mesmo tempo, quer saber
Como estou, como vou, ou se me curo...

Mordendo, vem e sopra, caricia...
Recebe, me promete e logo nega.
Sem saber, aos poucos me vicia.
Tanta dor, tanto amor, cedo carrega...

Nessa dor saborosa deste amor,
É chama e se tempera com calor...



37

Uma criança cantando uma ciranda
Lembrando que vivi e fui feliz,
O tempo nunca pára, é vida que anda,
Aos poucos vai mudando este matiz...

Donde vem essa voz que já me alcança
E pede que eu não pare de dançar,
Infância! Na beleza desta dança
Vontade do passado; eu alcançar.

Uma criança canta no meu peito,
Mostrando que já fui feliz um dia.
Agora vou vivendo insatisfeito
E canto tanta dor na poesia...

Uma criança diz-me que o futuro
Terá maior beleza se eu for puro!


38

Uma criança brinca na calçada...
Todo passante observa num momento...
Correndo contra a vida na lufada
Tão serena da brisa, deste vento...

Correndo essa criança, pensa em nada...
Não existem maldades nem tormento...
A manhã acordou apaixonada...
Correndo nessas mãos, um cata-vento!

Quem dera essa criança não morresse!
Quem dera esse meu mundo não mudasse!
Quem dera essa saudade não doesse!

Quem dera tal certeza não calasse...
Quem dera a tempestade não vivesse!
Quem dera o cata-vento não parasse!
Marcos Loures



39

Uma cigana um dia me predisse
A sorte de encontrar felicidade.
Depois de tanto tempo na saudade,
Eu juro que pensei que era tolice.

A vida se passando na chatice
De nada ter senão ansiedade
Na busca pelo amor que, na verdade,
Achava tão distante. Uma crendice.

Porém ao te encontrar, eu percebi
Que a sorte enfim seria companheira,
Sacias meus desejos, feiticeira

E fazes de meus dias, mais felizes;
Curando sem deixar nem cicatrizes.
História da cigana? Verdadeira...


40


Uma casinha branca e tão simplória
Beijando de um riacho, a calma margem,
A mansidão domina esta paisagem
Distante da balbúrdia e da vanglória,

Assim ao relembrar a nossa história,
Fazendo no passado esta viagem,
Sentindo o teu perfume, doce aragem,
Um tempo em que tivemos luz e glória.

Bem longe do que fomos, nada sou,
Saudade tão somente o que restou
Meu barco se perdeu em tristes cais.

Cedinho, no café, a mesa posta
Procuro inutilmente uma resposta,
Manhãs inesquecíveis... Nunca mais.


41


Uma brilhante estrela sobre o mar...
Distante, num saveiro peço cais...
Num ritual insano, te adorar,
Embalde! Me disseste: nunca mais!

A vida que perdi, quero encontrar,
Mas como, se em tristezas, tudo jaz...
Estrela brilha mais do que o luar,
Procuro teu caminho, sou audaz.

Mas a noite responde: estás insano!
Nas Plêiades perdida nunca volta...
Meu peito, magoado, se revolta.

O mundo gigantesco num ciclone,
Meu barco naufragando, meu engano...
Distantes dos teus braços, Alcione!


42


Uma aridez resume toda a lavra
De quem se fez distante de um amor,
Quem sabe e reconhece tal palavra
Permite um novo dia sem rancor,
O lavrador que em festa, a terra lavra
Recolhe com certeza, fruto e flor.

O bem que nos permite eternidade
Adoça nossa boca em raro mel
Vivendo em plena paz, tranqüilidade,
Encontro o meu caminho para o céu
Sabendo vislumbrar felicidade,
Liberto, galopando este corcel.


Porém a quem se esquece da alegria,
Apenas solidão, serve de guia...


43


Uma amizade traz em companhia
O brilho radiante de uma estrela,
Que trama uma esperança e já nos guia
Levando ao nosso barco, firme vela,
Moldando no futuro, tal alegria,
Que a cada novo dia se revela.

A sorte se mostrando aventureira
Por vezes nos prepara uma cilada,
Porém numa amizade verdadeira
Refaz em sintonia a velha estrada,
Palavra mais feliz, alvissareira,
Nos olhos da esperança, debruçada,

Permite a fantasia que pressente
Um mundo em que o amor viva presente...
Marcos Loures


44

Uma amizade traz a segurança
Que é necessária para a liberdade,
Tocando o coração com esperança,
Alcança a mais real felicidade,

E aos sonhos mais audazes já se lança
Repondo para nós a mocidade.
Tornando o nosso peito qual criança
Que brinca em plena paz e liberdade.

Amiga, eu te desejo toda a glória
Resplandecente luz que nos sacia
Trazendo para todos; a alegria.

Ao mudares o rumo desta história
Não deixe que este sonho perca o rumo,
Pois nele minha vida, enfim aprumo...


45

Uma amizade traz a luz perfeita
À qual eu me dirijo qual falena,
Por mais que a solidão viva na espreita
A solidariedade toma a cena.

Perenes elos unem os amigos
Que sabem valorar tal sentimento.
Irmãos que reconhecem como abrigos
A enorme proteção contra o tormento.

Respeitando decerto as divergências
Caminhos pareados um só fim.
Sem ter ou nem buscar conveniências
Negar nos faz crescer bem mais que o sim.

Supera-se em destreza cada cardo,
Ficando bem mais leve qualquer fardo.


46


Uma Amizade trama novo engenho
Que possa permitir a caminhada,
Às vezes, distraído, amiga eu venho,
Na busca solitária pelo nada.
O tempo tão distante fecha o cenho
E mostra a fina dor revigorada...

Falar deste teu braço, companheira
Que ampara em qualquer queda pela vida.
Depois de tanta luta costumeira,
Quem sabe nossa sorte remoída
Nos mostre que amizade verdadeira,
Das duras penedias, a saída...

Dos cálices perfeitos de cristal,
Uma amizade é dom fenomenal...


47


Uma amizade suprema
Que se faz com puro amor,
É pepita, pura gema,
Que sabe de seu valor,

Pois amiga, nunca tema
Sequer tristezas ou dor,
A alegria de um poema
Feito por um trovador

Já se expressa num sorriso,
Emoldura a minha face,
Descortina o paraíso

Vislumbrado sem disfarce,
É laço firme e conciso,
Não permite que se esgarce...


48


Uma amizade sincera é coisa boa
Que cura qualquer mal que me apareça,
No peito de quem ama sempre ecoa
O bem que traz a sorte que apeteça,
Meu pensamento em liberdade voa
Trazendo tanta paz pra esta cabeça.

Disponha de meu braço companheiro,
Que uma amizade assim é bom demais.
No canto mais amigo e costumeiro
A dor não vem cevada nunca mais.
É flor que justifica este canteiro
Certeza: não estou tão só jamais...

Uma alegria intensa que se encerra
Nos braços da amizade mais sincera...


49


Uma amizade sempre que é sincera
Ajuda na mais longa caminhada,
Num palacete ou mesmo na tapera
A vida deve ser compartilhada.

Ação mantenedora em primavera,
Permite que se siga pela estrada
Sabendo da alegria que me espera,
Na plena claridade, uma alvorada.

Assimilando as pedras e os espinhos,
Com passos bem mais firmes, juntos vamos,
Sem chefes, sem patrões, algozes amos

Jamais nestas andanças tão sozinhos,
Contando com a força inigualável
Que a cada novo dia é demonstrável...
Marcos Loures


16550

Uma amizade rege
A vida de quem ama,
A solidão herege
Não segue nossa trama,
Amor que nos protege
Também acende a chama,

A teia de uma aranha,
O ninho da avezinha,
Na sorte tão tamanha
Uma amizade alinha,
No fundo sempre ganha,
Uma alma não sozinha.

Sabendo a qualidade
Da força da amizade...

51

Uma amizade que sempre nos permita
Vencer as intempéries do caminho.
Lapida com carinho esta pepita
E mostra a fortaleza deste ninho.

Depois de tantos anos tão sozinho,
No espelho em que minha alma se reflita
Dourando em esperança, de mansinho,
Tornando a nossa vida mais bonita.

Eu quero agradecer, querida amiga,
O fato de existires, pois eu creio
Que agora descobrindo o nobre veio

A sorte de viver já não periga,
Fazendo dos meus versos o instrumento
Em que demonstro este agradecimento...



52


Uma amizade plena e duradoura
Nos faz já perceber o bom da sorte
Uma aliança assim nos dá suporte
E em plena claridade já nos doura.

A voz que se mostrou consoladora
Aplaca uma ferida, cura o corte,
E tantas vezes vence; redentora,
Tornando nossa mão mais firme e forte.

Tenaz e resistente, qual granito
Que enfrenta as tempestades que virão.
Alçando uma esperança ao infinito,

Redime-nos das dores inerentes.
Uma amizade imensa é solução;
E enfrenta as intempéries mais freqüentes...


53


Uma amizade passa na peneira
E deixa uma mentira como sobra
Se tens uma amizade verdadeira,
Percebe que esta vida nunca cobra.

Mas saiba valorar a companheira
Que o barco em tempestade se soçobra
Se salva numa entrega mais inteira
Na luta que se faz e se desdobra...

Amizade tem força desmedida
Se traz uma esperança em doce canto.
Preserva o sentimento de uma vida

Mostrando que valeu ter conhecido
Aquela que se fez em puro encanto
Caminho doloroso enfim vencido.



54


Uma amizade move e me clareia
Na mão que delicada, assim, me estende.
Trazendo para a vida, a lua cheia,
E cada desencontro, sempre entende,

Os medos desta vida não receia,
Dourada fantasia já pretende
Aquele que alegria ao fim anseia
E ao gozo da esperança quer e ascende

Quem tem uma amizade como a tua,
Ao Deus em perfeição vem e cultua,
Pois vê a bela imagem refletida

Nos olhos da pessoa mais querida
E a cada novo dia continua
Numa procura audaz e decidida.
Marcos Loures



55

Uma amizade imensa, mas remota,
Precisa ser deveras bem cuidada,
Amor em amizade se denota
Paisagem tão divina e desejada.

Nos mares; mais unida a nossa frota
Enfrenta sem temor qualquer armada
Assim uma esperança sempre brota
No peito de quem tem por bem amada

Aquela cujos braços estendeu,
E a dor em alegria converteu
Calando em calmaria um vão tormento.

Torrentes de emoção que não se calam
Os olhos mais brilhantes já nos falam:
Uma amizade é mais que um sentimento.
Marcos Loures



56



Uma amizade imensa e verdadeira
É feita a cada dia, não tem planos,
Recebe a ventania corriqueira
E cessa a dor matando os desenganos.

Na labareda imensa, uma fogueira,
Já sabe dos prazeres soberanos,
Uma amizade assim, alvissareira,
Sentimentos divinos entre humanos...

Distante da tristeza, em belas plagas,
Cicatrizando as fundas, duras chagas
Apoio necessário na passada

Amiga, eu te agradeço todo dia,
Pois sinto no teu passo esta harmonia
Que traz uma esperança demarcada.


57

Uma amizade feita num momento
Em que a vida se mostra em desengano,
Acalma com seus braços, meu tormento,
Aquece o coração e muda o plano,

Mostrando ser possível sentimento
Supremo sobre todos soberano,
O fogo me consome brando, lento
Deixando um rastro manso, mas insano.

Com a pureza imensa, um diamante,
Do amor feito sublime e mais constante
Espero andar contigo lado a lado,

Podendo nos trazer em redenção
Mudando finalmente a direção
Um passo quando firme e se bem dado.
Marcos Loures



58


Uma amizade feita na garupa
Dos sonhos que irmanaram nossa vida,
Presença solidária e tão querida
Jamais permitirá que qualquer culpa

Desfira um duro golpe neste laço,
Que é feito de sanfona e de viola,
Amigo, venha logo, em teu abraço,
A dor que eu pressentia, se consola.

Não deixe se amainar tal sentimento,
Que assim traduzo em força, em amizade,
Nem deixe que se afaste o pensamento,
Perdido qual refém de uma saudade.

A vida mesmo em garras, em fereza,
Permite na amizade uma firmeza...



59


Uma amizade feita dia-a-dia,
Talvez permita um porto, um velho cais.
Enquanto a vida mata a fantasia,
Felicidade vai pra nunca mais.

Porém percebo em ti, esta magia,
Areia em ouro puro, transformais.
Franquezas são mais nobres rituais,
Que o bem desta amizade propicia.

Assim eu vencerei qualquer desdita,
Companheirismo, amor sempre exercita
Criando esta defesa que protege.

No apoio que eu encontro, amiga em ti,
A luta com certeza eu já venci,
Matando a solidão, um triste herege...
Marcos Loures


60



Uma amizade faz
Das almas, casamento,
Uma esperança a mais
Tomando enfim assento

Da vida feita em paz
Distante de um tormento
Servindo, satisfaz
No amor tem seu sustento.

Porém neste consórcio
Das almas que se dão,
Se algo vem e distorce-o,

Acabando ilusão,
Restando só divórcio,
Única solução...


61


Uma amizade é sempre proveitosa.
E porventura, a nossa foi assim,
Perfume obrigatório em cada rosa
Misturas com essências de jasmim.

Distante te percebo generosa
Teus versos sempre fazem bem p’ra mim.
Minha alma se sentindo tão vaidosa,
Contigo irei, amiga, até o fim...

Passamos por percalços nessa vida;
Mas temos nosso afeto salvador.
Tua presença viva e bem sentida

Ajuda-me nas horas complicadas.
Acima da paixão e de um amor,
As mãos unidas sempre acalentadas...


62


Uma amizade é plena se sincera,
Não deixa que se omita uma verdade.
Nem sempre em plena paz, às vezes fera,
O que importa é a dura realidade...

Falando sem temer à plena, à vera,
Demonstro em meu carinho, uma amizade
De quem se gosta, amigo, o que se espera
Franqueza absoluta e sem maldade.

Brigamos, discutimos, sem perdão,
Apenas por amarmos, bem querermos,
Depois de muita guerra e discussão,

Aprenderemos sempre o bom caminho.
Verdade só se mostra nestes termos,
É mais fácil errar se estou sozinho...


63

Uma amizade é mais que um sentimento,
É um pacto que fazemos pela vida.
Por mais que seja duro este lamento,
E a sorte se demonstre distraída,

O sonho se renova no momento
Cevado pela força concebida
Às vezes solitário em vão eu tento
Achar do labirinto uma saída.

Porém ao ter aqui a companhia
Daquela que transmite em harmonia
A paz olhando em mesma direção,

Nesta união perfeita em dois seres,
Dividem irmamente os seus quereres
Amiga nunca segue em solidão.
Marcos Loures


64


Uma amizade é mais que diamante
Dessa certeza faço o meu caminho,
Sem ter o que temer, seguindo adiante,
E quanto mais antiga é como o vinho

Na adega que se expõe no coração,
Aumenta o seu valor a cada dia,
Curtida com sementes de perdão,
Encontra a plenitude e me inebria.

Poderes que em verdade sempre emana,
De todas as virtudes, soberana
Uma amizade vale mil tesouros.

Dos barcos que trafegam pela vida,
Na tempestade imensa, se perdida,
Uma encontra nela, ancoradouros...
Marcos Loures


65

Uma amizade é feita num sorriso,
Numa palavra amável, de carinho,
Se no momento exato, enfim, preciso,
Nos dará a direção do bom caminho.

Um elogio franco e bem medido,
Uma dedicação quando se expressa,
Mostrando que esta vida faz sentido,
Um sentimento nobre que confessa.

O dom de ser feliz se faz assim,
Nos gestos tão pequenos, mas imensos,
Tua amizade mostra-se por fim,
Melhor assim que em gestos mais intensos.

Não sabes, meu amor, minha querida,
Mas mudas totalmente enfim, a vida...


66



Uma amizade é feita com carinho,
Respeito às diferenças num afeto
Que mostra que jamais eu vou sozinho,
Pois tenho alguém no qual eu me completo.

Algemas na amizade são inúteis
Pois nos prende somente por já ser
A fonte em confiança de um prazer
Distante das discórdias quando fúteis...

Eu conto com os laços da amizade
Por serem corrediços na verdade.
Nos atam quando assim é necessário,

Com força quando impedem que caiemos,
Ajudando a direção com firmes remos
Mas sempre protetor e solidário...


67


Uma amizade é feita aos poucos; com constância;
Ultrapassando sempre as curvas do caminho.
Mais forte na tristeza até que na abundância
Certeza de um apoio emana do carinho

Amizade se afasta onde entrar a ganância
Sincera proteção que faz valer o ninho
Mesmo que separado, amigo desde a infância
Eu sei que uma amizade é feita como o vinho

Que tem bem mais valor quanto maior o tempo
Vencendo a tempestade e o risco do azedume,
Lutando com tal força ao vencer um contratempo

Alimenta nossa alma e traz em seu perfume
Que vale bem, querido, o risco de um espinho.
Quem sabe o seu valor, jamais irá sozinho...


68


Uma amargura imensa vem chegando
Tornando este crepúsculo dorido.
Embalde amor procuro, está perdido,
Distante do luar, me transtornando.

Sonhara com canteiro mais florido
No tempo em que viver era tão brando.
Os sofrimentos tantos, até quando?
Pergunto, mas jamais sou respondido...

Ah! Noite! Como dói este vazio.
Quimeras são desfeitas, a tortura
Na qual em pesadelos, me porfio.

E vem esta vontade de morrer;
O gosto que restou, esta amargura.
O amor em triste noite a se perder...


69


Uma alucinação, delícia plena,
Sentir a maciez deste querer.
A vida tão gostosa já se acena
Envolta nos teus braços, com prazer.

Numa loucura imensa e tão serena,
Tomando pouco a pouco nosso ser.
Doçura que vicia e que envenena,
Além do que podemos perceber.

Enfurecido vento da paixão
Que arrasa e não permite mais defesas.
Acende todo o sol, sofreguidão,

Carrega nossos sonhos, correntezas,
Encharca num segundo, inundação,
Nos torna de repente, meras presas...


70


Uma alma solitária vai perdida
Não tendo nesta vida qualquer norte,
Crucificada em dores; contraída

Entregue, na verdade à própria sorte.
Não vendo nem a porta nem saída,
Aporta num momento e busca a morte.

Uma alma solitária, ninguém vê
Visão de uma tristeza que sem fim
Não deixa nem permite sem por que,
Que o mundo desabando leve assim

O resto de esperança que inda existe,
Matando devagar uma ilusão,
Um coração atroz, morrendo triste,
Qual presa para a fera solidão...


71


Uma alma se perdendo do rebanho,
Deu voltas e mais voltas pela terra.
Achando que este tempo estava ganho,
Um pobre coração, alma desterra.

E crendo numa incrível criatura
De formas alvas, níveas pudendas,
Ao mesmo tempo imersa na loucura,
Fazendo amor até com toscas lendas...

Achando o paraíso bom lugar,
Ficou ali, profana a falsa santa.
Vontades tão insanas de enganar
Maior que uma existência que se espanta.

Essa alma vadienta e purulenta,
Nem mesmo Satanás, por certo agüenta!


72

Uma Alma que se entrega em primavera
Cevando com cuidado belas flores,
Terá por recompensas os olores
Que o coração em paz, aguarda, espera.

Quem ceva em alegrias, luzes gera
E nela com certeza seus alvores,
Podendo mitigar enfim as dores,
Matando a solidão, temível fera.

Não guarde mais rancores no teu peito,
Espalhe os teus sorrisos, se puderes.
No banquete Divino os bons talheres

No Amor conceberás e deste jeito,
Colhendo o que plantaste tenramente
Tua Alma viverá eternamente!
Marcos Loures


73



Uma alma cristalina sob o sol
Derrama iridescentes maravilhas,
Prismática beleza no arrebol
Florindo de esperanças nossas trilhas.

Servindo aos navegantes de farol
Resiste às ilusões, vagas matilhas,
Minha alma de tua alma um girassol,
Percebe o teu clarão, milhas e milhas...

Amigo como é bom poder dizer
Que tenho de tua alma a complacência,
Após tantos espinhos recolher

Durante a caminhada dura e tensa,
Percebo junto a ti tal florescência
Permitindo à minha alma, a renascença.


74


Uma alma blenorrágica destoa
Ignara não consegue discernir
Se o pássaro tem asas porque voa
Ou voa porque quer se divertir.

No vago que sem nada não ressoa
O zero não se pode repartir.
Rumina tão voraz qualquer taboa
Aos poucos vai decerto já mugir.

Agora que se mostra desdentada
A moça se esqueceu do seu tridente.
Há tempos que já foi engarrafada

No nada em que surgiu vai simplesmente
Voltando ao mesmo nada de repente,
Repete e só concebe o eterno nada.


16575

Querendo usufruir todo o prazer,
Galopa o pensamento em liberdade.
Não tendo mais gaiola; serro a grade
Mergulho no infinito do teu ser.

O jogo que se joga pra vencer
Nem sempre é o melhor em qualidade,
O vento se espalhando na cidade
Telhado de sapê? Bom precaver.

Malabarismos tantos nesta cama
A gente de repente tudo inflama
E o jeito é se mostrar calar segredos.

Vazando em capinado, a solidão,
Encontra o fogaréu em meu colchão
Peneiro a fantasia entre meus dedos...
Marcos Loures



76

Usando um abridor, quebrei garrafa
A culpa foi da falta de cuidados.
Depois de ver jogados tantos dados
O amor sem ter destino se engarrafa.

Quem sabe o coração que desabafa
Seus erros em ouvidos malfadados
Em passos que eu bem sei desengonçados,
Amar demais sufoca enquanto abafa.

Não posso te dizer que isto é tragédia,
Tentei já procurar na enciclopédia,
Mas nada me servindo de resposta

Eu vejo tanto caco pelo chão,
Pedaços tão pequenos de ilusão
Deixando uma alma nua, amarga, exposta...
Marcos Loures



77

Usando rimas ricas e melífera,
Helianto que em desejos já se tisne,
A sílfide na verve nobre; aurífera
Expõe alabastrina forma, um cisne.

Famélica ilusão de um simples bardo
Acúleos percebe e não se medra,
Nefasta imagem feita em simples cardo
Ourives diamantina qualquer pedra.

Versando sobre o sonho, este funâmbulo
Erige dos cascalhos os seus prédios
Hercúleas emoções, mero preâmbulo
Dos vastos sofrimentos, bons remédios.

Do amor, o meu salitre, sonho hedônico,
Subvertendo um fantasma quase agônico...


78


Uma amizade em glória se traduz!
Ao mesmo tempo me amparando segue
Negando toda a força que a renegue
Ao superar qualquer fuzil e obus.

Uma amizade em paz se reproduz
Manso desejo feito em sol prossegue
Ao bendizer quem lume já persegue
Espalhará sobre quem ama; a luz.

Poder de uma amizade eu não discuto
Em calmaria vencerá um bruto
Renegando uma ação que seja brusca

Persigo sempre, um ideal divino,
Sublime perfeição toma o destino,
Os olhos sequiosos numa busca.
Marcos Loures


79

Uma cigana, um dia me predisse
A sorte de encontrar felicidade.
Depois de tanto tempo na saudade,
Eu juro que pensei que era tolice.

A vida se passando na chatice
De nada ter senão ansiedade
Na busca pelo amor que, na verdade,
Achava tão distante. Uma crendice.

Porém ao te encontrar, eu percebi
Que a sorte enfim seria companheira,
Sacias meus desejos, feiticeira

E fazes de meus dias, mais felizes;
Curando sem deixar nem cicatrizes.
História da cigana? Verdadeira...
Marcos Loures


80

Uma esperança atenta me domina,
Revigorando a lei duma amizade,
Que cedo, me conforta, sendo sina,
E cessa, num segundo, a tempestade.

A fé que sempre tive no futuro,
Todas essas agruras que carrego.
O canto que tramaram, tão impuro,
É nele que me negam, que me cego.

Navego por estrelas de esperança,
Esquivo-me da dor cantando loas
Ao sonho de viver numa aliança
Que me trague notícias sempre boas...

Fugindo desta luta, má, cruel,
Tua amizade leva-me pr’o céu!

81

Vazio que propagas em sorrisos
Irônicas palavras imbecis.
Já cansado de ouvir terríveis guizos,
Espero que tu sejas mais feliz.
Nos olhos idiotas, os avisos
Que um dia percebera, mas não quis.

Agora a ver a face da verdade
Exposta em canalhice e traição
Rasgando o que restou; em liberdade,
Encontro finalmente a solução.
Não levo mais de ti sequer saudade.
Cadáver semi vivo em podridão;

Liberto de teus guizos e venenos,
Meus dias serão calmos e serenos...



82



Vazio o Templo, Igreja sem cordeiros,
Pastores escolhendo o seu rebanho.
Pensando mais em lucro – quanto eu ganho-
Do que salvar os pobres companheiros.

Os erros cometidos – costumeiros,
Mentiras proliferam deste antanho
Na Cruz, um homem pobre, olha estranho,
Vendido novamente por dinheiros.

Um médico que veio nos salvar
Não tem a clientela que precisa.
Pastor vendendo cura? Em ojeriza

Afasta quem precisa do doutor.
E cobra os honorários sem pudores,
Não fala de amizade nem de amores...


83

Vastos plainos desérticos dos sonhos
Infaustas sensações de etéreo gozo.
Meu mundo tantas vezes andrajoso
Aguarda resultados mais bisonhos.

Algozes na verdade, tão risonhos
Levando um velho barco pegajoso
Altar que estupefato e belicoso
Aguarda em explosões; ares medonhos.

Amigo, sou qual resto que caminha
Apenas garatuja sem destino,
Sabujo da alegria, eu me perdi.

Da morte que sorrindo se avizinha,
Partilhas; onde insano eu me alucino
Encontro uma resposta mansa em ti...


84


Vasculho, no teu corpo, intimidades;
Procuro pelos rastros que deixei.
Encontro velhas marcas de verdade,
Dos tempos que contigo, amor passei.

Teus seios delicados... que saudades,
Teus mares onde, louco, mergulhei.
Aonde desfrutei felicidades,
Prazer era constante, nossa lei.

De tanto que engolimos nossos sonhos,
De tanto que comemos com fartura,
Os dias que passamos, tão risonhos,

A noite sem te ter, quedando escura.
Agora que te encontro, quero mais,
Não te deixo partir, amor, jamais...


85


Vasculho nos teus bolsos, meus ciúmes...
As chaves que encontrei não abrem portas.
Nas blusas que não vestes, teus perfumes.
As horas que vivemos, horas mortas...

Mal posso condenar os teus queixumes,
As bocas que beijamos foram tortas.
Os mantos que vestimos, sem costumes,
Os dentes que mordestes, fundo cortas...

Não podes perdoar quem sofre tanto?
Permita-me dizer do meu amor...
Adormecido tento novo canto,

A voz que me enaltece, do pavor...
Amor que não deseja perde encanto.
Escusa meus ciúmes, por favor!!!
Marcos Loures


86

Vasculho na gaveta onde guardara
As fotos, nosso amor, tão esquecidas.
Em meio a fantasias; coisa rara,
As horas se passavam decididas.

Meus olhos procuraram, na gaveta;
Eu sei; bem mais do que simples retratos.
Por mais que tantos erros se cometa;
A vida cede sempre à luz dos fatos.

Nas vezes em que vozes vacilantes
Denotam um cantar sem ser sentido;
Por certo eu estarei; alguns instantes,
Diante do que tinha resolvido.

Uma esperança ronda a minha vida,
Por vezes, nas gavetas; escondida...


87


Vasculho estrelas loucas, desvario.
Fantásticas imagens ganham céu...
Os olhos flamejantes, fogaréu
Agrestes emoções, vela e pavio...

Do magma em erupção, lavas em rio
Escorrem, lambem terras rubro véu
Tomando este cenário. Uma alma incréu
Espreita o pesadelo que ora crio

E crava em minhas costas, unhas dentes.
Sorrisos tresloucados de dementes
Gargalhadas são látegos, cortantes.

Cobardes esperanças, vis batalhas,
Enquanto a insanidade tu espalhas
Nas sombras e fantasmas, dois amantes..
Marcos Loures


88


Vasculho dentro em mim cada pedaço,
Buscando conhecer os meus defeitos.
Num gráfico instintivo nego o traço
Que mostra meus pecados sempre feitos.

Não digo que me dei sem ter juízo,
Imprecisos, meus dias foram cegos.
Distantes ilusões do paraíso,
Fincaram-me na cruz, meus próprios pregos.

Quem sabe, uma amizade redentora
Mostrada noutra cruz estilizada,
Num peito tão sofrido sempre aflora
A luz que se reverte em alvorada.

Vasculho dentro em mim, enfim prossigo,
E vejo que inda tenho um grande amigo...


89


Vasculho cada canto
Do corpo mais bonito
Que é feito em raro encanto,
Decerto em doce rito,
Eu te amo, tanto, tanto.
Olhar que sempre fito

Da moça tão brejeira
Menina perfumosa
Em noite seresteira,
Luar pretende rosa,
Galgando à verdadeira
Canção em verso, em prosa

Mostrando o teu olhar,
Rajadas de luar...
Marcos Loures


90


Varrendo de meu peito, as ilusões,
Que cismam pelos sonhos, quais algemas,
Vencendo finalmente tais dilemas,
Enfrento, destemido, furacões.

Tentando reviver as sensações
Distante dos temores e problemas,
As horas que virão, sendo supremas
Talvez sejam repletas de emoções...

Assim, ao ter aqui bem junto a mim
Os olhos da mulher, claras estrelas,
Enquanto em poesia me revelas

Perfumes, mil matizes no jardim
Aonde floresceu a fantasia
Que agora, bem distante, inda me guia...
Marcos Loures


91


Variando meu lema, busco a paz.
Não a paz simplesmente tão cordata,
Aquela que recende numa mata,
Aquela que só brisa mansa traz...

Essa paz que procuro, é bem capaz,
De morrer pesadelo em serenata;
Traz consigo essa fúria de cascata,
É meio Deus arcanjo e Satanás...

Minha paz construída em tuas ancas,
No requebro voraz, vem das carrancas,
Protetoras do Velho São Francisco.

Tem o temperamento mais arisco,
Não temendo sequer o próprio risco,
Traz o vermelho audaz, nas pombas brancas...


92

Varando pela noite tão aflito
Na caça de teu corpo sedutor,
Buscando em cada toque o infinito,
Sentindo a insensatez, leve torpor.

Teu corpo desejado e tão bonito,
Aberto como as pétalas da flor,
Ouvindo o teu gemido, solto o grito
De quem já foi vencido e vencedor...

Rondando os teus caminhos me provocas,
Percebo no teu cheiro, o meu que entranhas,
Aos poucos me aproximo destas tocas,

Profano sentimento me propagas,
As horas entre os planos e montanhas,
Em pleno turbilhão, mares e vagas...


93


Vaporosa, suave e delicada
A rosa que se esconde deste canto.
Sabendo que deveras tanto amada,
Não gosta ou não percebe seu encanto...

Quimeras que carrego são profanas,
O tempo se passando sem aromas,
As dores que te trago, não me enganas,
Talvez por outros males já me tomas...

Não sou sequer um mar em desencanto,
Procelas que já tive não são nada...
Desfio pouco a pouco cada manto,
Na brusca solidão de minha amada...

Agora que esta noite já começa,
Amor tão decidido se confessa...


94


Amor em suas asas tão serenas
Traz-me um gosto mais doce de saudade,
Que, ao relembrar, me dá felicidade
Das tardes que vivemos, bem amenas...

Um bando de fantásticas falenas...
Depois de tudo, a dor: fatalidade
Que cessa todo o sonho, liberdade!
Agora no meu peito, tantas penas!

Vencido pela tarde que se foi,
Meu canto angustiado, um peixe boi,
Aguarda pela noite que não vem...

Será que nosso Pai já me esqueceu?
Embalde, meu carinho percorreu
Em busca de Vanessa mas, ninguém!
Marcos Loures


95


Mares e marés, matas, cachoeira
O canto da promessa já se cala.
A dor que me tortura a vida inteira
Batendo nesta porta, entra na sala...

E traz a tempestade verdadeira
Que pesa em minha vida, dura mala
Que toma em meu destino, a dianteira.
Calando-me não deixa sequer fala.

Quem sabe encontrarei no fim da vida
Depois de tanto amor em despedida
Depois da solidão que me comanda...

No cimo das montanhas, meu cansaço,
A peregrina persigo, nenhum traço
Mostra-me onde encontrar a amada Vanda!
Marcos Loures


96


Vamos, amor, a vida nos espera.
O tédio e o deserto que passamos,
Dando lugar à louca primavera
Dos sonhos que vivemos quando amamos.

Sentindo tuas mãos me percorrendo;
Deitados sobre a relva, em mil carícias
Encantos mais divinos conhecendo
Nos potes do prazer, mel e delícias.

Percorrendo cordilheiras, altos cimos,
Com asas do desejo em sedução,
E depois, novamente, repetimos,
Viagens em ternura e explosão!

No mundo em desencontro que vivemos,
A cada novo encontro; revivemos...

97


Vamos viver! Não tema qualquer dor,
As horas nunca voltam; vem comigo!
Deixando para trás o medo, o temor,
Fazemos da alegria nosso abrigo...

Hoje estamos aqui; mas amanhã?
Os beijos que não dei se perderão.
O sol só brilhará noutra manhã
Sozinhos nunca somos solução.

Vamos pela estrada mais florida
Do amor que nunca nega uma paragem.
Não tema ser feliz por toda a vida,
Um dia findará nossa viagem...

A morte não ataca por idade,
Por isso vamos já: felicidade!


98


Vamos nessa meninada,
Vamos todos cirandar,
Uma noite não é nada,
Com sorriso, vou dançar

Quero ter nas minhas mãos,
A roseira mais bonita,
Somos todos como irmãos,
Coração nisto acredita.

Da alegria do menino,
Da meiguice da menina,
Tendo nas mãos o destino,

Toda a glória que ilumina
Vai chegando de mansinho,
Com amor e com carinho...
Marcos Loures


99

Vamos dançar a noite que fizemos
Dos sonhos mais sinceros e serenos
No mar de tanto amor que nos perdemos
Os ventos, vagos ventos vão amenos...

Eu vim de mil amores em pedaços
Nos aços de meus olhos, frialdade.
Meus versos são meus vícios, mansos passos
Embaçam meus segredos, sem saudade...

Quem há de ser feliz sem ter amor?
Quanto arde a solidão, que é brusca fera,
Tu tens a maciez da bela flor
Que trouxe pro meu verso a primavera...

Bem sei que em nossos sonhos esse estio
Encharca de alegria olhos vazios...


16600

Valor de uma amizade
Há tempos descobri,
Saber felicidade
Que encontro só em ti,

Um sonho de verdade
Que um dia eu já vivi,
Na solidariedade
Que tenho, amiga, aqui

Permite que este passo
Que eu der seja mais forte,
Rondando o livre espaço

Mudando a sina, o norte,
Vencendo até cansaço
Curando cada corte...


1


Valia muito mais do que voar
Apenas vislumbrar tal paisagem
Aonde o sonho faz cada paragem
Num raro e mais constante deslumbrar.

A boca que se entrega devagar,
Permite a mansidão dessa viagem.
Além do que talvez simples miragem,
Aragem sem igual vem nos tocar.

Matriz ou filial, amor constante,
Vibrando de desejo a cada instante
Não vejo em meu caminho; amor, mais nada.

Afinal que sou eu sem teu amor?
Em teus mares um bom navegador,
Um cais em tua pele amorenada...
Marcos Loures


2


Valeria cada sonho que não tive,
Se as vestes fossem leves, mas me pesam.
E vago sobre a lua que me prive
Dos sonhos que verdades vãs desprezam.

Velando sobre o corpo da ilusão,
Alegorias tolas que bendigo,
Causando esta banal preocupação
O quadro que destruo é bem antigo.

Viver eternamente e ser feliz,
Riscando com meu sangue cada tela,
Se a lua se deitou qual meretriz,
O sol que não virá; futuro sela.

E mata o que sobrou da nossa luz,
A fera em outra fera reproduz...


3

Valeram enfim todos meus martírios
E deles fiz poemas, plantei rosas.
Palavras muitas vezes melindrosas,
Espalham sobre mim cravos e lírios.

Quem dera a proteção de antigos círios,
Desnudaria sortes caprichosas;
Irônicas versões sempre jocosas
Demonstram fielmente os meus delírios...

Esoterismo à parte já não creio
E tudo o que disseste sem receio
Talvez ainda trague a solução.

Ao menos meu jardim fica florido.
O quanto nosso caso é concebido
Preconizando ao fim, rebelião...
Marcos Loures


4


Valei-me Senhor Deus dos infelizes,
Não posso me calar frente ao desgosto
Causado pelo corte assim exposto
Mostrando do caminho, vis deslizes.

Enquanto na verdade nada dizes,
Estás me condenando a ser deposto
Jogado pelos cantos, sem encosto,
Refém das mais vazias cicatrizes.

Tatuo em minha pele a tua imagem,
E sei que nada disso mais te encanta,
A vaga sensação de uma miragem

Morrendo sem remédio ao fim do dia,
Figura tão sinistra, a sacripanta
Há tempos traduzindo uma agonia...
Marcos Loures


5



Vais ter uma surpresa, te garanto!
Não sou aquele mesmo que deixara
A jóia preciosa, cara e rara
Abandonada e só, em qualquer canto;

Moldada em sofrimento e desencanto,
Ao mesmo tempo explode e desampara.
Se a vida se tornou demais amara
A lua não se esquece do seu manto.

A solidão jamais se fez bom leito,
E quando há tantos meses contrafeito,
Confeitos da esperança, eu sei de cor.

O dia nascerá, tenho a certeza,
Vencer com tanta garra a correnteza
Garantirá um mundo bem melhor...


6

Vai coberta de pó pelas estradas,
Semente da esperança que não vinga,
Plantada no sertão sonha a restinga
Morrendo bem distante de enxurradas.

Enquanto em vilania tu degradas
A chuva já não tomba e só respinga.
Nem mesmo se eu fizer uma mandinga
Jamais eu poderei ver as floradas.

No passo tão veloz de um caracol,
A moça se escondendo deste sol,
Espera numa sombra que inda venha

As gotas que trarão fertilidade.
No fim desta tempesta, a liberdade
Procura decifrar a antiga senha...


7


Vai chovendo confetes sobre mim.
Na festa, pela fresta da janela,
Tento ser pierrô , ser arlequim,
Saudades são tão minhas quanto dela...

Não quero carnaval, nem mesmo assim,
Tampouco vou saber ser sentinela,
Dessa rosa que morre em meu jardim
Nas manhãs ela finge ser donzela

Rompe dia, sem tento nem sustento,
Teu grito, colombina; ledo engano...
Se matasse, viria cortar lento,

O que me dera, solto, simples plano,
No que tive conforto, me arrebento.
Meus amores estragam e eu me abano...


8


Vai brilhando em noite imensa,
Lua mansa na varanda
Coração quando não pensa
Na verdade já desanda

Se a saudade é louca e tensa
Minha vida nunca é branda,
Mas amar não é ofensa
O meu peito anda de banda

E fazendo do meu verso
O que quero sem algemas,
Vou bebendo este universo

Procurando novos temas,
Sem vender cota ou ingresso,
Se eu errei sempre confesso...


9


Vagueiam sem destino meus olhares,
Estrelas vasculhando com carinho,
Na busca pelo amor que, de mansinho,
Se foi para outros cantos e lugares.

Sentindo o teu perfume nos altares,
Em luas, em canções, sonatas, pinhos,
Meus olhos são pobres passarinhos
Escravos dos meus sonhos, morrem mares.

Essências delicadas e sutis
Adentram cada poro, cada verso.
Sinceramente, amor eu fui feliz,

Mesmo que este querer siga disperso
Rondando sem destino este universo,
Eu sei que tive tudo o que bem quis...


10



Vago qual um pássaro migrante,
Pousado nos alpendres da esperança.
Decerto, tantas vezes inconstante,
A fera solidão quando me alcança

Refaço a migração em outro vôo
Atrozes ilusões são companheiras,
Os erros cometidos? Não perdôo,
Desfraldo, em minhas alas, as bandeiras.

Nas curvas dos caminhos, mais fechadas,
Capoto simplesmente, mas persisto.
Matando o que sonhara, velhas fadas,
Aborto uma saudade, rasgo o cisto

E existo, resistente passarinho,
Que sabe que na amiga fez seu ninho...


11


Vagava tantas vezes incompleta
Entregue às ilusões sempre frustradas;
Uma alma necessita estar repleta
De brilhos, em vontades demonstradas.

A fantasia torna-se concreta
Traçando em mansidão nossas estradas,
Felicidade, assim, mesmo discreta
Abrindo; do prazer, suas entradas.

Cansado de carpir em solidão,
Vencendo estas angústias tão cruéis,
Fartando em alegria, raros méis,

Encontro finalmente a solução.
Recebo deste céu, claro matiz,
Podendo enfim dizer: eu sou feliz!
Marcos Loures


12


Vagas vagas, vergastas, vergalhões...
Em tantas plagas gastas ilusões
Não me afagas desgastas emoções...
E mesmo assim esmagas as paixões...

Sou éter, mas quem dera ser eterno.
Arremeter meu sonho/espera terno
Bem longe do que fora triste inverno
No alforje em que decoras meu inferno.

Guardo o medo, arremedo de uma sorte
Mais cedo do que sendo novo corte,
Segredo prosseguindo até a morte.
Não arredo, seguindo amor, seu norte.

Desgovernado em vagas madrugadas
Nas buscas, bruscas velas relevadas...


13


Vagando teus recônditos caminhos,
No amor que te proponho, vivo e rijo,
Vibrando em avidez, tantos carinhos,
Guardando o teu prazer, esconderijo...

Cabelos soltos, olhos caprichosos
Que miram para o nunca, revirados.
Teus lábios carmesins, tão desejosos,
Nas fontes das delícias, mergulhados...

E vamos noite adentro, nestes jogos,
Que fazem explosões a cada instante.
Ouvindo deslumbrantes, raros fogos

Nesta lubricidade genial,
Sem rumo, sem juízo, a delirante
Viagem por teu corpo, sensual...


14


Vagando tão sozinho por espaços,
Embalde, ninguém ouve, solto um grito;
Nos ermos da esperança, tantos passos,
Perdido e sem carinho, necessito
De tudo o que me lembre fortes braços
Que apóiem meu viver, por certo aflito.

Bem sei quanto vigor em duro inverno
Além do que concebo, em nada penso.
Distante da acolhida – lar paterno,
O mar desta agonia se faz tenso,
A vida se transforma num inferno,
Amor se faz distante e só pretenso.

Uma amizade apenas, já me veste,
Regando com carinho um mundo agreste


15


Vagando sem destino pela vida,
Apenas solidão como estandarte,
Estrada em duro espinho, já perdida,
O frio se espalhando em toda parte.

Não tendo mais sequer uma saída
O futuro morrendo não reparte
A sorte que se fora distraída
Sobrando tão somente este descarte

Amiga em noite dura, tempestade,
Mostrando ser possível liberdade
Proclama em sonho nobre e mais bonito

Encantos que concebo sem igual
Que mostre ser possível, no final
Alçar meu pensamento ao infinito.
Marcos Loures


16


Vagando por mim mesmo, me perdi,
Não sinto mais a força que esperava,
De tudo o que sonhei, restei aqui,
A morte em tempestade beija e lava,

Eu sei que não devia ter sonhado,
Um sonhador merece tal castigo,
O coração se cala amargurado,
A vida se demonstra em desabrigo...

Eu sinto a solidão batendo à porta,
Sorrio: estás de volta companheira!
Achei que te veria, enfim, já morta,
Mas selas meu destino, derradeira.

Sentindo que a rotina recomeça
Minha alma sem sentido, vã, tropeça...

Marcos Loures


17


Vagando por estrelas, um cristal
Em brilhos tão diversos qual um prisma,
Liberto, pela noite o sonho cisma
E bebe a maravilha feita astral

Desnudas tua pele sensual
Deitando sobre a cama o teu carisma,
Qual pia que se mostra batismal
Confirmas as vontades, rogos, crismas.

Nas ânsias sem limites, enlanguesces
No incenso de teu corpo, uma luxúria
Domada pelo gozo feito em fúria

No afã deste desejo, risos, preces,
Na profusão de rotas, rumos, ritos,
Arquétipos de sonhos infinitos
Marcos Loures


18







Vagando por espaços mais distantes,
Seguindo o brilho imenso e constelar,
Depois de tanto tempo a procurar,
Eu vejo os olhos claros, fascinantes.

Na louca fantasia dos amantes,
Expresso a maravilha a me tomar,
Os rastros desta estrela sobre o mar,
Delírios sensuais e provocantes.

Não pude resistir a tal chamado,
E quero sem reservas, ir ao lado
Da deusa que se fez enamorada.

Partícipe da festa dos sentidos,
Meus passos de teus passos, convencidos,
Desvendam os segredos da alvorada...


19


Vagando pelos ermos do zodíaco
Enfronho a minha vida entre teus braços
Ao defrontar contigo e com teus laços
Percebo o teu sorriso demoníaco.

Repito o mesmo sonho e qual maníaco
Estendo nas pegadas velhos traços,
Olhares mais distantes, duros, baços,
Recendem ao aroma de amoníaco.

Trazendo tão somente a repugnância
Impede que esperança logo alcance-a
E galga aos infinitos, libertária.

No teu olhar, a bela luminária
Na placidez das vagas calmarias,
Renovas a alvorada que querias...
Marcos Loures


20


Vagando pelo espaço te procuro,
Em meio às solidões, mando meu grito.
O tempo que passamos, tão escuro,
Contrasta com amor mais infinito...

Um peito sofredor, demais agreste,
Sentindo tantos medos, sem porvir;
Invoca toda a força dum cipreste
E tenta bravamente, resistir.

Porém amor não sabe de colossos,
Desconhece essa luta e não se cansa;
De tudo que eu passei, um mero esboço,
No fim desta batalha já me alcança.

Amor sempre será o vencedor,
Os louros ao vencido: o esplendor!


21

Vagando pelo espaço sideral
Qual nave imaginária, sem destino.
Rompendo constelares, abissal,
O grito não contenho, sol a pino,

Mergulho nas entranhas, abismal,
Retorno aos meus momentos de menino
E encontro o teu desejo, bom sinal.
E nisso, simplesmente me alucino...

Recebo o teu carinho, em tom maior,
E vibro de energia, estrelas, mares...
O mundo me parece bem melhor

E assim nesta surpresa e neste encanto,
Refaço, qual garoto em mil pomares,
A vida que buscara, novo canto...


22

Vagando pelas vagas sou vagão.
Sou louco e me motivo, sem receita...
Amplio meus amparos, amplidão...
No fato e no feitio, não se enfeita...

Decoras com coragem coração.
Desfilas desafios e desfeita.
No raso que me arraso sem razão,
Espero tanto preito nessa espreita...

Vasculho cada copo e cada cama,
Entulho minhas flores seco espinhos...
Rechaças as cachaças flama inflama.

No mote que remete a sorte e morte.
Nos planos que padeço peço pinhos...
Da forma que me informas, fero e forte...
Marcos Loures


23


Vagando pelas terras mais distantes,
Abraão leva consigo a esposa Sara
Até chegar ao reino de Gerara
Aonde eram apenas imigrantes.

Apresentando-a como sua irmã,
Ao rei Abimelec, que a desejara,
Porém Javé jamais o desampara,
Mudando então a sina, antes malsã

Num sonho aparecendo para o rei,
Desfaz esta mentira bem urdida,
Temendo pelo fim de sua vida,

Conforme disse o Pai em sua lei,
Apenas meia-irmã, eis a verdade,
E assim é concedida a liberdade...


GÊNESIS 20


24

Vagando pelas noites, ganha o céu
Estrelas decorando os meus momentos.
O quanto que desejo trama o mel,
Mergulho em ti meus vários sentimentos.
Orgulhos e mentiras, mundo incréu,
Deitando em novas luas pensamentos.

Não tendo mais quem salve ou me conforte,
Não quero tais confrontos pela vida.
Empenhorando em ti caminho e sorte,
Eu vejo nossa história decidida.
Teus braços me servindo de suporte,
Cicatrizando agora esta ferida.

Mesquinharias; guardo na gaveta,
Minha alma na tua alma se completa...
Marcos Loures


16625


Vagando pelas brumas, meu desejo
Esvai-se em tempestades belas, raras,
Ardentes explosões, fino cortejo
De estrelas em convulsas noites claras.

Desnudas emoções; sempre prevejo
Roubando de teu sexo estas tiaras
Arcando com pecados num molejo,
Adentro tua loca e me anteparas.

Nos fúlgidos raiares, lua imensa,
Noctâmbulos algozes nos dosséis
Fartando-se de insânia, gozo e méis,

Sangrando em mil orgasmos, recompensa.
Expostas as vontades e loucuras,
Envoltos em quimeras e ternuras...

Marcos Loures


26

Vagando nosso amor, tantos planetas,
Em busca da perfeita conjunção...
Depois de tantos rastros e cometas
Encontro-te deitada, mesmo chão...

Querida que busquei, tanto deserto,
Tantos mares, sem nada mais pensar...
Agora que te vejo aqui, bem perto...
Não posso minha amada, mais sonhar.

Meus olhos já não fecho e nem preciso,
Eu sei que te encontrei e estás comigo.
Não busco mais sequer o paraíso,
Pois ele, com certeza é meu abrigo.

Vivendo do teu lado, minha amada...
Que mais quero da vida? Nada, nada...


27


Vagando nos meus sonhos, nos meus versos
Palavras multiplicam sensações,
Estrelas mergulhando aos borbotões
Medos vagalumeiam, vãos, dispersos.

Não quero mais rancores tão perversos
Nem mesmo em minha vida os turbilhões,
Bebendo da alegria tais poções
Adentro os mais incríveis universos

A sorte está lançada nestes dados,
Mudando com certeza, velhos Fados,
Prenúncios de alegria em minha vida.

Tristeza tão amarga de tragar,
Sumindo no horizonte devagar,
Nos olhos da esperança vai vencida.
Marcos Loures


28


Vagando no teu corpo, os universos
Percorro sem ter medo da verdade,
Encontrou mil caminhos tão diversos
Retomo num segundo a liberdade

E forjo meu destino nos meus versos
Bebendo desta luz, a claridade,
Os dias que se foram, mais perversos
Transmudam em total felicidade...

Amar é conquistar novos espaços,
Saber que posso ser além de um cais.
Flutuo em meus desejos, tramo passos

Na busca do infinito e quero mais,
Amor que me prendeu em firmes laços,
Não quero me apartar de ti jamais...


29



Vagando entre a verdade e o pode ser,
Retalhos da sutil realidade,
Que enquanto toma as rédeas do poder
Decifra a mais feroz fatalidade.

Seria o que talvez pudesse crer
Se houvesse ainda um chão, profundidade,
No quanto ainda penso em conhecer
Martírio se transforma em liberdade.

Adivinhando em tais entroncamentos
Saídas, labirintos e vazios,
Por vezes envolvidos por lamentos

Ecoam vozes; trágicos martírios.
Depois ao celebrar com alvos círios
Olhares semi-sacros, quase pios...


30


Vagando em tempestades, sei naufrágios
E vivo em temerosa insensatez
Do quanto procurei pagando os ágios
Amor em luz intensa já se fez.

Portando em altivez, a nova senda,
Coloca nos meus olhos, vendas tantas.
Encanta enquanto trai, logo desvenda
Palavras infernais, mentiras santas.

Correndo pela noite sem destino,
Atino o quanto eu quis e não sabia.
Voltando a recolher sonho menino
Adentro o paraíso em fantasia.

Sonhando com amor o tempo inteiro,
Eu acordo abraçando o travesseiro...



31



Vagando em noite imensa corpo leve
Através da janela que entreabriste
Quem fora por momentos já tão triste
Percebe a sensação que enfim se atreve

De ter o teu desejo, mesmo breve
Trazendo uma ilusão na qual insiste
Com coração na boca e o peito em riste
Matando com verão a fria neve.

Eu quero estar contigo solto ao vento,
Distante dos temores destrutivos,
Meus olhos em teus olhos redivivos

Audazes em feliz pressentimento.
Amores que embrenhamos, sempre vivos,
Tocando com carinho, o sentimento...


32


Vagando em noite imensa corpo leve
Através da janela que entreabriste
Quem fora por momentos já tão triste
Percebe a sensação que enfim se atreve

De ter o teu desejo, mesmo breve
Trazendo uma ilusão na qual insiste
Com coração na boca e o peito em riste
Matando com verão a fria neve.

Eu quero estar contigo solto ao vento,
Distante dos temores destrutivos,
Meus olhos em teus olhos redivivos

Audazes em feliz pressentimento.
Amores que embrenhamos, sempre vivos,
Tocando com carinho, o sentimento...
Marcos Loures


33


Vagando a noite, imerso nos teus braços
Adentro pelas praias da loucura,
Estendo o meu navio na procura
De ter a plenitude dos espaços

Deixados no caminho, sigo os passos
De quem se fez distante da amargura,
Numa explosão sem par, farta ternura
Amenizando a vida, cala os aços.

Não quero mais amor em solilóquio
Seja em Paris, em Roma, Rio ou Tóquio
Eu quero estar contigo lado a lado.

Melancolia outrora uma vizinha,
Abandonada morre tão sozinha
Jogada na gaveta do passado.
Marcos Loures


34


Vagando a noite bela em força e luz.
Caminhos que nos levam às estrelas.
Vontade de pra sempre, concebê-las
No canto que traçamos, nos seduz.

Espelhas todo amor que reproduz
As horas que tivemos. Convertê-las
Em lumes tão perfeitos e retê-las
No brilho que em teus olhos já reluz...

Te amar é ser além de toda a espera,
Vertendo uma esperança em cada verso.
Refazes minha vida em primavera,

Reúnes cada sonho mais disperso.
Amor, pura magia em raro encanto,
Mal sabes, mas eu te amo tanto, tanto...


35


Vagamos sem foguetes ou festejos
Nos velhos arraiais do pensamento.
Marcando iniciais neste rebento
O parque da ilusão tem relampejos

E lembra das meninas e seus beijos,
Pecados escondidos sem tormento,
As luas decorando, gordos queijos
Comidos ao sabor do gozo e vento.

Coração juvenil se fez matreiro
Recende a qualquer fonte de perfume
No jogo mais sutil e verdadeiro

Ganhando a doce boca da morena,
Garapa nesses lábios, noite acena.
Prazer feito moleque chega ao cume.


36


Vaga estrela que desce em tua cama
Convite pra viagens pelo astral,
Mantendo sempre acesa a velha chama
Domina este cenário magistral.

Enquanto a poesia se derrama
Amor num toque breve e sensual
À festa feita em gozos já te chama,
Momento de delícia sem igual.

Estrela que procura uma outra estrela
E nela se entregando, se faz luz
Imagem que transcende, rara e bela.

Os corpos estrelares, fartos, nus
Ascendem ao sublime Paraíso,
Num encanto fascinante, num sorriso...
Marcos Loures


37

Vadio, pelo céu a percorrer
Estrelas tão distantes, constelares,
Galáxias que eu sonhara conhecer
Vagando num instante encontram mares

De cores que suprimem meu prazer,
Moldando os mais fantásticos altares,
Dos deuses que eu tentara conceber
Sinais estão por todos os lugares...

O quanto não sou nada no universo,
Não deixa que eu persista mau, perverso,
Um átomo não pode ser além

Daquilo que em verdade agora vem
Falar com precisão em cada verso
Gritando que no fundo, sou alguém...
Marcos Loures


38


Vestido pelo linho da amizade,
Sentindo o calmo vento da esperança,
Bebendo todo o sonho, liberdade,
Atado pelo canto da aliança.

Sabendo da importância da verdade,
No coração pureza de criança,
Ao transbordar assim, sinceridade,
Meu olhar por instantes já te alcança.

Na força que demonstras, minha amiga,
Apoio para os dias infelizes.
Permite que meu passo enfim prossiga

Na busca pelo sonho que eu desejo.
Povoa minha vida em bons matizes,
Amiga. Ser feliz, enfim, prevejo...


39



Vazio
Sozinho
Sem cio
No ninho

Perdida
Palavra
A vida
Não lavra

Só lava
Meus olhos.
A lava
Abrolhos

Sem chance
Que alcance...


40


Vazio tão somente é o que se tem
Nas mãos de quem se faz duro e cruel,
Ao largo da emoção de ver o céu,
Não sente mais o brilho de outro alguém.

A solidão temível, agora vem
E gira qual inútil carrossel,
Entrega tão somente amargo fel
Transforma todo amor em seu refém.

Olhar embevecido de que ama,
Ao ver já ser possível bela trama,
Aquece-se depressa em esperança.

A sorte que se mostra num sorriso,
Percebe em cada ser um paraíso,
Mexendo com meus sonhos de criança...
Marcos Loures


41

Vestígios do que fomos nesta casa,
Teus passos ecoando em meus ouvidos.
Os dias que se foram, repartidos,
Nem mais uma esperança inda me abrasa,

Quem sabe desfrutar tempo que apraza
Deixando-se levar pelos sentidos,
Sabendo destes sonhos divididos,
Por certo nesta vida nunca casa.

Esquece de grinalda e de buquê
Na festa transformada em decepção.
Aquele que no amor, inda revê

Os sonhos de uma eterna recompensa,
Envolto pelas garras da paixão,
Depois de certo tempo em nada pensa...


42


Vestígios deste mar dentro de mim

Trazendo a força intensa da paixão.

Vagando bar em bar amor sem fim

Inebriado, vive de emoção.


A boca desejada, carmesim,

O corpo sensual... Meu coração

Se perde nesta imensa sedução,

Encontra-se em deliro, segue assim


Por rumos e por tramas tresloucadas,

Vibrando no teu corpo, meu afã

Rompendo as noites segue em madrugadas


Sem medo não termina bem pretende,

Depois... No sol tão quente da manhã,

De novo todo o fogo reacende...


43


Vestido pelo linho da amizade,
Sentindo o calmo vento da esperança,
Bebendo todo o sonho, liberdade,
Atado pelo canto da aliança.

Sabendo da importância da verdade,
No coração pureza de criança,
Ao transbordar assim, sinceridade,
Meu olhar por instantes já te alcança.

Na força que demonstras, minha amiga,
Apoio para os dias infelizes.
Permite que meu passo enfim prossiga

Na busca pelo sonho que eu desejo.
Povoa minha vida em bons matizes,
Amiga. Ser feliz, enfim, prevejo...


44


Vestido de vestígios de saudade
Quem há de imaginar meu sentimento.
Revestes tanto tempo em liberdade
Tão tarde prá te arder invento o vento.

Que acalma toda chama de quem ama
Reclama se não vens ou se não vou.
E tenta tanta teia em tonta trama
Soluça desta louça que quebrou.

A febre que me queima, da terçã,
No terço em que te peço teu perdão.
A manha da manhã minha maçã,
Decoras com as cores coração...

Eu amo tanto amor com harmonias
Nos montes e montanhas, tu me guias...


45



Vestido de ilusões e desenganos
Buscando na alegria uma defesa,
Palhaço dos amores, velhos planos
Jogados simplesmente sobre a mesa.

Os dias se passaram desumanos,
Eterna sensação de ser a presa.
Vestígios de momentos soberano
A vida em minhas costas sempre pesa.

Afugentando as feras do caminho
Bebendo as madrugadas meretrizes,
Riscando do meu mapa as cicatrizes

Ousando ser feliz, matando o ninho.
O quanto que busquei torpes amores
Descubro: somos péssimos atores...


46


Vestido de esperança sempre avanço
Após o temporal, vicissitudes
Que um dia estraçalharam juventudes
Negando ao sentimento algum remanso.

Ainda guardo o amargo deste ranço
Expressos nas diversas atitudes,
Impeço na verdade que me ajudes,
Prossigo, cambaleio, me esperanço...

Avesso aos novos tempos, envelheço,
E quando se prepara algum tropeço,
Reflexos que aprendi a dominar

Mudando estas estrelas de lugar,
Desenham no meu céu lume cadente,
Qual fonte polimorfa, iridescente...


47


Vestido de emoção, à flor da pele,
Escuto a tua voz busco o semblante,
Cavalo dos meus sonhos, num levante
Alçando este infinito aonde sele

Num vôo imaginário que revele
Estar bem perto a ti, seguir adiante
Nas asas deste vento, que é constante
E ao reino dos amores me compele...

Seguindo pelos astros, rastros breves
De uma princesa nua e magistral
Voando em liberdade pelo astral

Meus pensamentos, sonhos, são tão leves
E galopando livre e sem tropeço,
No enlevo de teus braços, adormeço.
Marcos Loures


48


Vestido de alvas nuvens, céu imenso
O sol servindo então como lanterna
Moldando imagem bela, intensa, terna,
Num ar que se transforma e fica denso.

Às vezes meu amor não me convenço
De tudo o que pensara ser eterna,
No fundo na verdade em nada penso,
Minha alma se transborda qual cisterna

Que inverna uma esperança que não veio,
De um dia poder ter pleno carinho,
Deitar minha cabeça no teu seio

Fazer de teu sorriso um manso ninho,
Viver sem ter ciúmes nem receio,
Da doce sensação já me avizinho...


49


Vestida pela lua, raio intenso,
De rosas; perfumada, a me esperar.
Sentindo uma saudade sempre penso
Nesta vontade imensa de te amar.

Distâncias deste mar, em sonhos; venço
E chego te beijando devagar.
No escuro de teu quarto recompenso
O quanto foi difícil te encontrar..

E te amo calmamente, a noite passa
Envolta nos carinhos e desejos
Descendo do teu quarto ganho a praça

E no luar flutuo volto a Minas,
No mar e neste céu os azulejos,


16650

Vestida de inocência caminhavas...
Teus passos me guiaram para o sol.
Noturnas serenatas enluavas,
Te via como forma de farol...

Bem cedo, nas auroras, madrugavas;
Estrelas que iluminam meu paiol.
Ladrilhos de brilhante tu passavas,
Meus olhos te seguiam, girassol...

Vestida com beleza fina e rara,
Não pude disfarçar, tudo o que sinto...
Das vezes que te vi, pérola cara,

Valeu por toda a vida que sonhei...
Aquarelas gentis, tonto, te pinto.
Um arco íris uso como spray...
Marcos Loures


51


Vestida de imortal desejo e nua,
Estende-se cruel por sobre a cama.
Um passageiro alado já flutua,
Acende fervorosa e louca chama.

Visagem tão fantástica de lua
Exposta totalmente em bela trama,
Escultural figura, densa e crua,
O passageiro, tonto, não reclama...

Ávido desta lúbrica escultura,
Esgueiro por debaixo da coberta
A boca exploradora me tortura,

A seta redentora e sua flecha...
A gruta delicada, porta aberta,
Num átimo, teimosa, já se fecha!
Marcos Loures


52



Vestias transparências de organdi
Em noite sombreada e vaporosa,
Vagava intensamente sobre ti
A mão a vasculhar-me tão sedosa.

A noite prometida, majestosa,
Em rendas, sedas. Logo percebi
A boca me tocando mais fogosa
E em tal sofreguidão eu me perdi.

E fiz de meus ocasos ressurgidos
Num átimo um retorno à juventude,
Tomando de teu corpo qual açude

No assédio do prazer em franco gozo.
Depois, manso cansaço, adormecidos,
O dia ressurgiu maravilhoso...


53


Vesti meu terno novo- o desencanto,
E fui pra falsa festa promovida
Por quem andara tonta e distraída
Vencida pelo riso quase espanto.

Embolo o pensamento esqueço o manto
E mostro minha pele corroída
Marcada pela dor, corte e ferida,
Bebendo toda a sorte de quebranto.

Os pássaros libertos da gaiola,
A fome do prazer que nos assola
Mistura a fantasia com vingança.

Macabra sensação de ser feliz,
Usando a boca desta meretriz
Como fosse uma forma de aliança.



54


Vesti a fantasia que me coube
A vida foi jogral, eu fui palhaço.
Quem sabe esta saudade inda me roube
Se bem que não deixou o menor traço

De vida que pudesse ser meu barco
Em busca de outros mares mais saudáveis.
O sonho que vivi, talvez bem parco,
Morreu em outros sonhos intragáveis...

A boca prometida nunca veio,
Nem menos o que fui, passou aqui.
Do canto que pensara ser esteio,
No seio de quem quis e já perdi...

Apenas me sobrando essa verdade
No gosto tão amargo da saudade...


55



Vesgueio pelas ruas, cão sem dono
Procuro algumas rosas, ganho espinhos.
Não é que eu já reclame do abandono,
Mas sinto, às vezes, falta dos carinhos.

Nas noites mais insones, me apaixono,
Depois esqueço tudo. Noutros vinhos
Tomando meu pileque até que o sono
Chegando me renegue estes caminhos.

Meu barco, sem juízo foi a pique
Chovendo canivete, o piquenique
Acaba sendo espelho do fracasso.

A par do que vivi, amor profano
Comete em lucidez um desengano
E segue meu cadáver passo a passo...


56


Vertiginoso sonho, um carrossel
Aonde me perdendo em luzes tantas,
Ao mesmo tempo feres e me encantas
Adoças com temido e amargo fel.

A dor cumprindo agora o seu papel,
Uma esperança aos poucos, tu espantas
E enquanto as ilusões cerzindo as mantas,
Caminhos se perdendo, sigo ao léu.

Olhando para as nuvens languescentes,
O sol se torna apenas fantasia,
A vida num momento se esvazia

A morte crava então garras e dentes...
E o dia recomeça sempre igual,
Da turbulência, volto à paz banal...
Marcos Loures


57



Vertiginosamente num mergulho,
Adentro os mais profundos mares teus.
Momentos esperados, apogeus,
Entregues aos delírios de um marulho

As tramas mais recônditas vasculho,
As conchas e corais, nos himeneus
Dos sonhos ansiados sem adeus.
Vitórias alcancei. Disto me orgulho.

Um destro caminhante ao vislumbrar
Paisagens soberanas deste mar,
Coleta as pedrarias da esperança.

Anêmonas decoram tal cenário,
E o que me parecera temerário
Aos ápices etéreos já me lança...
Marcos Loures


58


Verter em poesia nosso canto
Que é feito de esperança, riso e gozo.
Amar é com certeza tão gostoso,
Viver uma alegria, eterno encanto.

Eu quero estar contigo, tanto, tanto.
Num sonho mais divino e mavioso,
Amor que nos transborda, fabuloso,
É força que nos doma, seca o pranto.

Viver cada momento do teu lado,
É ser bem mais feliz e mais contente.
Estou, querida, sempre apaixonado,

Num verso que se torna uma vertente
Sabendo que no fim, amor pressente
Um mundo mais gostoso e delicado...
Marcos Loures


59


Vertentes se ver tantas não me tentes
Que intento te saber ser teu invento.
Nas mantas que me mostras e já mentes
Metralho tantos talhos meu intento.

Não passo sem ter passos, paços, praças
E farsas que escondidas são meus sons...
As lanças que me lanças e me laças
Melaço dentro da alma, aços e tons.

Se somam tantas cismas cato climas
Cataclismos e sismos cismo e sonho.
No cisne que não tisne, cimos, cimas.
Nos cumes tantos lumes, mês risonho...

A vida não promete alegorias
Esquece que esquecemos alegrias...


60


Vertentes deste rio sensual
Em afluências várias, foz divina.
Enquanto em cada vértice domina
Meu canto te procura, bem ou mal.

Farnéis das emoções leva o bornal
E o verso neste encanto se fascina
O corpo delicado da menina,
A senda que se mostra triunfal.

Num ritual contínuo me enlouqueço
E réu deste desejo, sou confesso
Não posso e nem desejo salvação.

Na tua pele encontro a poesia
Que farta me conquista e se irradia
Tomando já de assalto, o coração...
Marcos Loures


61

Vertentes de um ribeiro quando unidas
Formando um caudaloso rio em glória.
Nós somos navegantes, nossas vidas
Atadas vão mudando a nossa história.

Sabemos que as paixões são doloridas,
Mas nelas entranhamos a vitória
De quem teve ternuras esquecidas
Jogadas sob a neve merencória...

- Estupidez! Já clamam infelizes
Que se esconderam sempre da alegria.
Expondo em suas faces cicatrizes

Se achando no direito de clamar,
Vociferando contra a fantasia,
Morrendo em plena vida, devagar...
Marcos Loures


62


Vertendo tanto em amor em cada poro,
Nascendo um sol brilhante dentro em nós,
O corpo desejado que decoro,
Mostrando em braços, bocas, tantos nós.

Vislumbro uma alegria a se enredar,
Nas loucas caminhadas pela noite,
Desnudo tua pele que ao luar
Encontra em minha pele quem acoite.

Nos poços, tuas minas, belas fontes,
Recolho em desvario cada gota,
A claridade surge trás os montes
Porém nosso desejo não se esgota

Em nosso amor, magia, insanidade,
Trazendo total luminosidade...
Marcos Loures


63


Versificar palavras mais sonoras
Tornando essa cantiga secular
As horas que demoras, enamoras
As ondas que aprofundas do meu mar...

Nas ímpias madrugadas nada imploras
Nos cantos seus encantos vou cantar...
Em cântaros tempestas sempre choras
Valvaldo minhas mágoas ao luar...

Não posso ter medusa em pensamento,
Me basta ter sorvido teus afagos...
Nas barras onde esbarras, me arrebento

Os montes que subiste perdem cumes...
Naufrágios esfacelam tantos lagos...
Noites fantasmagóricas sem lumes...


64


Versejo e não me canso
De tanto versejar
Amor quando eu alcanço
Eu quero namorar,

O tempo todo avanço
Contigo sem parar.
Um coração tão manso,
Começa a disparar

E faz deste remanso
Um cais para aportar
Depois deste descanso

De novo começar.
Amada eu afianço
Gostoso cirandar...


65

Versando sobre invernos e verões,
Não pude perceber tua ironia.
Enquanto o coração, à toa urgia
O amor me preparava os alçapões...

A vida sempre traz novas lições
A quem se decorando em fantasia,
Aguarda com mil tons um novo dia
Fazendo em esperanças ilações.

Jamais me apegaria e me apeguei,
Jamais desejaria e te desejo.
Contra os meus princípios eu pelejo

Tentando perceber aonde errei.
Verão se transformando num inverno,
Da paz que tanto eu quis, sobrou o inferno...


66


Versando por diversos universos
Em várias vestimentas me desnudo.
Repito tantas vezes os meus versos,
Versões do mesmo tema são, contudo...

Eu quero uma alegria soberana
Trazendo uma esperança tão fantástica
Sem lágrima, sem dor, nunca se engana
E trama essa notícia tão bombástica.

Do riso que inebria e que transborda,
Que salva do mergulho sem temor.
Usando como bóia, como borda
As garras tão divinas desse amor...

Eu quero te cantar a fantasia,
Nos fogos de artifício da alegria...


67


Nos jardins desta vida, tantas flores,
Os retratos divinos da esperança.
Por onde meu olhar, feliz, alcança
Milhares e milhares, meus amores!

Um dia, nosso Deus em seus favores
Aos homens, nos deixou essa lembrança:
Apenas quem tiver alma tão mansa
Que saiba conhecer os seus olores

E guarde, na memória seus perfumes
Será um ser liberto de queixumes.
Por isso dos jardins a mesma tônica:

Felicidade está muito mais perto
Do que tu pensas. Disto esteja certo.
No meu jardim plantei amor: Verônica!
Marcos Loures


68

Vergasta que maltrata enquanto alenta
Tornando o céu risonho, mas sombrio.
Em plenitude mostra este vazio,
Na mansidão imensa e violenta.

Carícia que suave é tão sangrenta,
Delírio que em ternuras me vicio,
Inverno que aprofunda-se no estio,
O amor é tempestade que apascenta.

Não quero e nem consigo decifrar
Os seus enigmas todos, cada manha,
Partida que ao perdermos está ganha

Marés que sob a lua dizem mar,
Na eterna compleição de uma montanha
É Céu que pleno inferno já se banha.
Marcos Loures


69

Vergalhões esquecidos no caminho,
São pedras que procuro disfarçar...
Um pássaro faminto sem ter ninho,
Teimoso se esqueceu como voar!

Nas horas mais difíceis vou sozinho.
Estrelas companheiras a guiar.
Recebo tais promessas, de mansinho,
É certo que jamais vão me cansar...

De todas as promessas mentirosas,
De todas as mentiras que disseste.
Amor que já morreu, vento nordeste,

Jardim que cultivei, morreram rosas..
Fazendo tantos versos sem sentido...
O mundo que sonhei ver dividido,
Marcos Loures


70


Veremos o que tanto procuramos
Depósitos de sonhos, novo dia.
O quanto é necessária a fantasia
Espalha pelos ventos, flores, ramos.

Tempestas e procelas enfrentamos,
Rasgando o coração, sem galhardia,
Galhofas e mentiras, o amor cria
Matando e escravizando velhos amos.

Eu quero das senzalas, a chibata,
Cortando as minhas costas já tão gastas.
Aprendo a redimir quem me maltrata

Sangrando nos meus poros, o perdão.
Assim, faço esperança das vergastas
E exponho com franqueza esta emoção...

71

Veremos neste amor plenos poderes
Um déspota que entorna brilho calmo,
Do jeito que tu sonhas e preferes,
Amor vai destilando na alma um salmo.

Marujo que prepara a redenção
Sabendo construir um manso porto.
Do verbo já se fez anunciação
Deixando o sofrimento exposto e morto.

Na decomposta imagem de um passado,
Arcaico, vil, senil, demente, insano,
Atesto em meu prazer o enunciado
Calando o que trouxera desengano.

Metrificando sonhos em palavras,
No amor encontro enfim benditas lavras...
Marcos Loures


72

Verdugos de nós mesmos, tantas vezes
Não percebemos clara a realidade.
Não somos neste mundo simples reses,
Detemos o poder de uma amizade.

Não somos quais cordeiros indefesos
Vendidos por pastores indecentes,
Tampouco aos seus grilhões estamos presos
Unidos e mais fortes, somos gentes.

Nas armas que eles trazem, escondidas,
No bote preparado, viperino,
Lutando pelo bem de nossas vidas,
Mudando na aliança este destino.

Por isso, companheira não desista,
Mesmo contra a tormenta, vá, resista!


73

Verdugo de meus dias, solidão
Do sofrimento faz sua alegria,
Matando pouco a pouco, a cada dia
Impede que se veja a redenção.

Repete eternamente o mesmo não,
Trazendo a tão voraz melancolia,
Não tendo do meu lado quem queria
O vento transformado em furacão.

Porém ao ter comigo esta presença
Que traz nas mãos consigo a recompensa
Depois de tanto tempo assim de espera.

Teus olhos me remetem ao futuro
E sinto que virão do céu escuro,
Enchentes de florais na primavera.
Marcos Loures


74


Verdades são mentiras vespertinas,
Sorriso que me mostras, sempre falso,
Prepara para mim o cadafalso
Ao perceber que assim já descortinas

Vazio no meu peito, dobro esquinas
Mas segues tão cruel no meu encalço
Um coração desnudo vai descalço
Porém quando me alcanças me dominas

Beleza inigualável do teu rosto
Enfeitiçando sempre deixa exposto
Quem tanto se entregou, e nada teve.

Tua frieza imensa, qual de neve,
Sorrindo enquanto trais e assim me atira
Com toda uma ironia, outra mentira...

Marcos Loures



16675

Verdades não se devem omitir,
Redimem e nos tornam bem mais fortes,
Amiga, pois jamais irei pedir
Que mude por momentos os teus nortes.

Por mais que dolorosa, uma verdade,
Deixa cicatrizar nossas feridas,
Quem sabe como é bom ter lealdade,
Encontra dos problemas, a saída.

Não deixe-se levar em ventanias,
Pois elas passarão, tenha a certeza,
O sol que brilhará em outros dias
Refaz-se novamente e traz beleza

A todos os que sabem deste dom,
De ver realidade com seu tom...
Marcos Loures


76


Verdadeira amizade não aceita
Passivamente os pomos da discórdia.
Nem mesmo uma amizade se deleita
Apenas num sorriso que recorde-a.

Se faz de discussões e de debates
Mostrando as diferenças sem termo.
Numa amizade plena, esses combates
São feitos com afeto e com calor.

Não cala-se quem mostra-se um amigo,
Apenas por calar e não querer,
Correr a sensação de ser perigo
Aquilo que precisa-se dizer.

Nesta queda de braços é correto
Falar que tudo vale, com afeto...


77

Verdade quando dita, sempre dói.
Desculpe se não posso concordar
Com quem não sabe nada e só destrói
Querendo se fazer, assim notar.

A base se mal feita já corrói
Depois não resta nada no lugar,
E do nada somente se constrói
O nada vezes nada. É bom calar.

Um verso quando feito com carinho
Só pode mil carinhos receber,
Por isso quando canto com desvelo

No mundo já não sigo mais sozinho,
Amigo, me perdoe te dizer
Teu mal – terrível dor de cotovelo!


78

Verdade dá sopapo em minha cara.
Eu tento me iludir com poesias,
Mas vejo ao fim do túnel agonias
Enquanto a face amarga se escancara.

Ouvindo a tua voz gritando: pára!
Terríveis desenganos; concebias,
Meu sonho nunca foi mercadoria
Sequer sei a medida nem a tara.

Macacos que me mordam: desdentados,
No vácuo meus degredos alentados
Por frases sem sentido e sentimento.

Servida num banquete, na bandeja,
Cabeça sabe tudo o que deseja,
Importa se existiu tempesta ou vento?



79

Verás que o filho teu caiu de bunda.
Retrato mais fiel deste país,
Fazendo da esperança, meretriz,
O barco sem cultura já se afunda.

Em Terra tão profícua e tão fecunda,
Senzala tatuada em cicatriz,
O povo, eternamente um aprendiz,
Beijando a corja podre, súcia imunda.

Dinheiro? Com certeza isso não falta,
Enquanto o rapineiro abutre assalta,
A culpa é de nós mesmos, reconheço.

Ladrão rouba ladrão e tem perdão?
Até numa amizade a corrupção,
Pois cada cidadão tem o seu preço...
Marcos Loures


80

Verás neste segundo que te chamo
A intensa imensidade de um desejo.
Enquanto em tal vontade eu já me inflamo
O mundo abençoado que prevejo...

Teremos a certeza de um momento
Aonde a poesia possa ter
Além do velho mote, sofrimento,
Tapeçaria rara do prazer.

Urdindo este futuro em nossos versos,
Sem pejos em sobejas ilusões.
Rasgando em fantasias universos,
Estrelas renascendo aos borbotões...

E os corações, dispersos andarilhos
Caminham pareados belos trilhos...


81

Verão em Fortaleza, que delícia!
O sol, suor, a praia e uma morena,
Beleza que se faz pura malícia
Que assim me satisfaz, mulher tão plena
Que vem e me mostrando com carícia
Toda a felicidade que se acena;

Na cama, de noitinha, no escurinho
Os beijos e as vontades se entrelaçam
Numa explosão gostosa de carinho
Desnudos, nossos corpos já se abraçam
Descubro do prazer doce caminho
Gemidos e sussurros não disfarçam...

No fogo deste amor, que sei incrível;
Verão em Fortaleza: inesquecível!
Marcos Loures


82



Não suporto a mentira que vivemos!
Somente uma verdade nos liberta
Disto que te falei esteja certa,
Assim em nosso mundo já morremos.

De tudo que na vida não sabemos
Apenas uma porta sempre aberta
Deixando essa emoção em vivo alerta
Teremos o futuro que queremos.

Não deixe que termine tudo assim,
Não sabe como dói amaro fim
Do amor que sempre quis a primavera!

Portanto não me mintas por favor.
Por fim irás matar o nosso amor,
Esmague, amada Vera, essa quimera!
Marcos Loures


83


Ventura que busquei, não achei nada...
Somente o mesmo vento sem demora,
Que vai que vem que volta, em revoada...
Vontade de ficar e de ir embora...

Mas tenho uma esperança, nem te conto...
Numa leveza breve até flutuo
Amor? Conheço a fera ponto a ponto.
Embora muitas vezes inda me suo.

Mas amo-te querida, esteja certa...
Embora muitas vezes não decidas
Às vezes vou mandando meu alerta
No fundo, está em jogo nossas vidas.

Preciso do teu braço, mas bem forte.
Não quero ter amor sem rumo e norte...


84



Ventos solares, brilhos, gargalhadas,
Neste redemoinho, imensidade...
As noites em teus braços, consteladas,
Promessa de delírios nos invade

E toma nossos lábios, pernas, sexo.
Num rito repetido e fascinante.
Descendo encontro grotas, perco o nexo
Mergulho neste abismo delirante.

Sorvendo cada gota do rocio
Que espalhas pelos campos, tuas fontes,
Num jogo alucinante eu me vicio
E subo num momento em altos montes,

Donde sem ter mais travas, precipito
Alçando sem limites, o infinito...


85


Ventos do Sul tocando os meus cabelos
Morena ardência chega devagar,
Entre astros tão brilhantes, posso vê-los
Estrelas vão rondando este luar

Girando carrosséis, pernas, novelos,
As crinas dos corcéis, auroras, mar,
Ciganas esperanças vencem gelos,
Espectros já perdidos a tocar

O corpo que se entrega à tantas luzes,
Espelhos refletindo diamantes
Que num mosaico eterno reproduzes.

Lapidando esmeraldas chego a ti,
Teus olhos verdes luzes, fascinantes
Caminhos que entre trevas, descobri...
Marcos Loures


86


Vento solar e estrelas lá do mar
Toando nossa vida em cores tantas
Trilhando estas estradas sem chegar
Aos girassóis perdidos, velhas plantas.

Amor em festa e luto vai chegar
Cobrindo a nossa sorte em velhas mantas;
Levando uma esperança a se entregar
Na dança que me negas, onde espantas...

O tempo nunca pára e não espera.
Deixando um gosto azedo e nada mais.
Estrela que morreu sem primavera.

O girassol perdeu a sua cor,
Rainha, esta viagem foi jamais,
Morrendo o que podia ser amor...

HOMENAGEM A LÔ BORGES


87

Vento que não espana tal mortalha
Não pode nem sequer ser mera brisa.
Se nem as cinzas víbora, espalha,
Não merece palavra mais concisa.

Quantas vezes pensei ser minha falha,
Mas, reparando bem, já se exorcisa
O que sempre estrumara nem se espalha
Figura que não brilha, pois narcisa...

Menestrel que mal sabe o que é afino
Não desce pedestal que mesmo cria.
O que morde por puro desatino.

É revés do sempre se sonhou.
Rapinante que sempre desafia,
Não mira o próprio espelho que quebrou...
Marcos Loures



88

Vento que me trouxe essa saudade
De quem,por tantas vezes, descuidei.
De tudo que na vida já passei,
Resta-me, tão somente esta verdade.

No vento que me disse liberdade,
Amar sem ser amado, sua lei.
Nos braços que trouxeste escravizei
Amor que pretendia a claridade...

Agora, vou sozinho, dor plangente.
Saudade neste vento, tão urgente,
Do amor que mal chegou e foi embora...

O vento, me cortando, rasga o peito.
Batendo na janela desse jeito,
Parece que também o vento chora...
Marcos Loures


89



Vento que balançando os meus cabelos
Fala de teu sorriso tão distante,
Teus lábios. Se eu pudesse ainda vê-los...
O sonho inda seria fascinante.

Meu passo que, impreciso e vacilante
Atado aos sofrimentos e desvelos
Lembrando de teu corpo provocante
Das noites entre abraços, mil novelos...

Revejo o que perdi num ato insano,
O amor que antes pensara soberano
Esvai-se nas sarjetas da ilusão.

E assim, sem ter ninguém, louco, prossigo,
Nem mesmo uma bonança traz abrigo,
À deriva perdida embarcação...


90


Vento em temporal, festejo e desgraça,
Já mostrando perfumes, aguardentes.
Nada fica, nem tudo também passa,
As facas envenenas entredentes.

Fogo não corresponde a tal fumaça
Em sentidos violentos tão urgentes
O gosto adocicado da cachaça
Bebido em demasia, noites quentes...

Depois manhã seguinte... O quê que eu fiz?
Braços abertos vejo que outros ventos
Que venham me farão bem mais feliz...

Mas dure o que durar, como isso dói!
Não deixa um só segundo os pensamentos.
Paixão vem me lambendo e me corrói!


91


Vento e solidão
Batendo na porta
Meu amor acorda
Te peço perdão.

Senão, porta aberta,
Vento faz a festa
Amor tampa a fresta
Esteja sempre alerta.

Sinto o gosto triste
Do vento que bate
Amor não maltrate
É tudo o que existe.

Mate a solidão.
Abra o coração!



92

Ventando mansamente na janela
Batendo devagar, abro depressa
Sorriso da morena se revela
E a sorte desejada já começa.

Destino com um beijo assim se sela,
Vou calmo, embora tenha tanta pressa,
Vontade dominando se confessa
E pinto com meus beijos, rara tela...

Amar é perceber com sutileza
Detalhes e magias infindáveis.
Teus lábios são macios, tão amáveis

E trazem do querer toda a certeza
Amor tão poderoso que se sente
Precisa se encontrar, isto é urgente...
Marcos Loures


93


Vens devagar e sem causar rumores
Adentras no meu quarto em noite calma.
Recebo dos teus lábios redentores
Um lenitivo manso pra minha alma

Cansada das tormentas do passado,
Envelhecida e nunca envilecida,
No sonho adormecido e encantado,
Razão final roçando a minha vida.

Trafego pelas nuvens, luas, mares.
Cavalo sem domínio, qual corcel
Que galopa, liberto, por lugares
Distantes, neste imenso, enorme céu...

Abriste esta janela, coração.
Trazendo nesta noite, a redenção...


94




Venho desse passado mais distante,
Não queres comparar com tua vida,
A noite me trazendo a despedida,
Não me resta sequer mais um instante...

As trouxas que carrego, fascinante,
Não pesam nem consigo... Cai perdida,
Essa estrela cadente, já ferida...
Vencido me lembrei do teu semblante.

Nas pontes, novas fontes, novos brilhos...
Nos mares, novos barcos, velhos trilhos;
Receba enfim um beijo da serpente

Que cultivaste sempre com carinho.
Amares por luares trago o pinho,
A lua, no seu brilho, meu repente...


95


Venha; meus amorosos sentimentos,
Retidos por teus olhos tão queridos.
Mesclados pela lua e pelos ventos,
Deixando essa tristeza em meus olvidos...

Meus dedos te acarinham em placidez,
Tua cabeça; deito no meu colo.
Amor que em tanto amor, cedo se fez,
Trazendo tal prazer onde consolo...

Espírito de fera em calmas garras,
Espírito de fêmea em pleno cio.
Aos poucos, mansamente tu me agarras,
Livrando o coração deste vazio.

Desenho minha luz, tão forte e amena.
Flutuo ao teu redor, minha morena...


96

Venha ser o meu rio em cachoeira,
Correndo para um mar de mil prazeres,
Te quero, minha amada companheira,
Singrando no teu mar, os meus quereres,

A vida se mostrando por inteira,
Juntando num só ser, distantes seres.
Na cama, numa praia ou numa esteira,
Nos beijos que te dou; que me temperes!

Abrindo porta, sala, copa e quarto
Deitada mansamente do meu lado,
Do nosso amor intenso, nunca farto,

Eu quero eternidade num momento,
Vivendo sem temor, extasiado,
Amor que nunca sai do pensamento...


97

Venha enquanto seu lobo adormecido
Não sabe do destino desta ovelha,
Amor ao acender sua centelha
Permite um prazer raro, isto é sabido.

Ouvindo sorrateiro, algum gemido,
A face do pecado se avermelha
Amiga em tua boca já se espelha
O beijo que roubei, tão atrevido.

Vontade que restou de quero mais,
Momentos tão sutis e sensuais,
Garantem um sorriso triunfal.

O lobo que se estrepe! Venha logo,
Se necessário for, querida eu rogo,
Amor acende o fogo e faz mingau!
Marcos Loures


98


Venha comigo amada, neste canto
De mais pura emoção e de desejo...
Trazendo o teu carinho e teu encanto,
Tramando a fantasia em cada beijo.

Tu sabes que eu te adoro, tanto, tanto...
Somente o teu olha; querida, vejo
Ao te sentir chegar já me agiganto
E a sorte benfazeja; amor, prevejo...

Tu és minha princesa; eu sou teu par;
Um cavaleiro pronto a te salvar
Montado em meu corcel, te dou meu braço.

Depois de todo sonho, caminhando,
Em sendas tão floridas. Vou te amando,
E cada vez mais forte estreito o laço...

99


Venero nosso amor, tenha certeza.
Quem sabe não precisa discutir
O mundo que perdi está aqui
Nos lábios que refletem a beleza...

O rio deste amor, em correnteza
Carrega tantas dores que sofri.
Se o fio da meada eu já perdi
Encontrei no teu braço a fortaleza.

Amor que nunca pede um vil engano,
E traz a juventude como um pano
De fundo que reveste minha amada.

A noite que não trai traz Sebastiana
Em meio à fantasia mais temprana
És, pela vida afora, venerada!
Marcos Loures


16700



Veneno que nos toma por inteiro
Numa ébria sensação de bom torpor.
O amor, agora vês, é feiticeiro
E toma nosso corpo sem pudor.
Eu quero ser teu par e companheiro,
Estar junto contigo, ao teu dispor...

Fazendo do prazer canção e sorte,
Bebendo da saliva, doce mel,
Saudade latejando, fino corte.
Deitando em tua cama, tiro o véu;
Aos poucos, cavalgando, mato a morte
E chego bem mais perto, amor, do céu...

Veneno que bebemos ao amarmos,
No cálice dos corpos, ao brindarmos..
Marcos Loures

1


Veneno que eu bebi em tua boca
Sementes espalhadas nos lençóis
A vida se tornando quase louca
Afoga o que não quis dos girassóis

Enquanto a poesia se desloca
Meu mar se perde em meio a teus atóis.
O rio noutras braças desemboca
Trazendo os teus momentos, arrebóis...

Serpenteando gozos pela cama
Renunciando ao medo de se dar,
A moça que se entrega enquanto chama

Permite que eu prossiga devagar,
À míngua vai morrendo a velha trama
E a gente quer na gente naufragar.
Marcos Loures


2


Veneno no pequeno frasco tem
O trem que me atropela todo dia
O bonde que comprei trouxe Maria
Agora o quê que faço deste trem.

Embora nunca quis ferir ninguém
Estou vendendo toda a valentia
Que se escondeu na velha fantasia
E depois disso tudo nunca vem.

Maria foi um fio da navalha
Que trouxe sem saber da tal batalha
Se me embaralha vendo toda a tralha

Não deixo que reclame nem devolvo
Tem muito mais tentáculo que polvo
A fama do molusco se atrapalha...
Marcos Loures


3

Vendi meu automóvel; vou à pé
A chácara é distante da cidade.
Quem anda sem calçado tem chulé
A chuva quando cai: felicidade!

Eu aproveito então esta maré
E compro o que vendi: a liberdade.
O que se fez sem glória, paz e fé.
Não quero por inteiro nem metade

Se nisso não cobiço a cauda alheia,
O beijo da morena me incendeia
E faz desmoronar minha defesa.

Servindo a quem se fez transformadora,
A boca que sorriu; da domadora,
Aguarda mais faminta a caça, a presa...


4


Vendendo com sarcasmo uma água imunda,
Como se fosse a benta salvação
Imagem que até traz salivação
Intensa diarréia, ela redunda.

Maior a queda tem a grande bunda,
Escudo do imbecil; é proteção
De quem não aprendeu bem a lição
E novamente em pântanos, afunda.

Sorriso do demônio disfarçado,
Na cara do ancião mal educado
Que tenta disfarçar erros e falhas

Metendo o seu bedelho em obra alheia,
Confirma este ditado com mão cheia,
Pois também envelhecem os canalhas.


5

Vendendo a perereca pelas ruas
A moça fez fortuna e foi feliz.
As carnes quando expostas quase nuas
Estampam no seu rosto: Meretriz.

As noites vão passando frias, cruas
E a cada novo amante um aprendiz.
As marcas de nascença que atenuas
Escondem a profunda cicatriz.

Porém depois de rica, uma tristeza
Imensa proibindo de sorrir.
A moça se fazendo perebenta

Nem água pura e benta, sem beleza
Achando tão vazio o seu porvir,
A perereca podre ela arrebenta.


6


Venço e não convenço mas converso
E sabes que nas sebes que segui
O vasto do universo deste verso
Em tramas que teimamos só por ti.

Não minto se te sinto mais por certo,
Absinto me embriaga mas não salva.
Navego tantas noites num deserto
Em plena tempestade, na lua alva.

Magoas se me beijas e deságuas
Amores nestas telas descoradas.
Os rios e cascatas perdem águas
Nas mágoas minhas fráguas desaguadas.

No mármore que amor amaro quebra
O gosto inebriante da genebra...


7

Vencido por tão dura sensação
Do quase que já tive e se perdeu,
O mundo que encontre jamais foi meu,
Agora só me resta a negação.

Os passos que eu tentei foram em vão,
O dia em sol jamais amanheceu
A morte vem trazendo em himeneu
Aquilo que seria compaixão.

Parturientes sonhos; abortados,
Meus pés estão deveras, tão cansados
Não sabem discernir no triste rumo

Alguma claridade, mesmo fosca,
Na dor que a solidão cedo me embosca,
Não tendo perspectivas de um aprumo.

Marcos Loures


8



Vencido por cansaços e mistérios,
Vagando por espaços siderais,
As horas que ficaram, cemitérios.
Nas pazes que profanas peço mais...

Nos mundos que teimavas seus impérios,
As bodas esquecidas são banais,
Não temo nem teus medos sem critérios,
Nas bocas que me beijas, mais venais...

Procuro tua forma nas paredes,
Nas sombras que formamos ao andar,
Tais fontes não saciam minhas sedes,

Pareces, vez em quando flutuar...
Não deixas nem sequer sombra nem rastro,
Procuro-te no céu morres num astro...

Marcos Loures


9

Vencido pelo vento da paixão
Que ronda minha cama e não descansa.
Encontro bem mais forte o coração
Batendo enquanto a noite assim avança.

O verbo amar se mostra uma esperança
A quem se fez inverno no verão
Guardando sempre a mesma sensação
Do medo que me trai desde criança.

Agora que cultivo esta alegria
Tomara Deus jamais ela se perca,
Nem morra como tantas que vivi.

Cantando em cada verso, em poesia
Eu atravesso o medo e pulo a cerca
Correndo pra chegar perto de ti...
Marcos Loures


10

Vencido pelo fogo deste amor
Recebo a fantasia feita em vento,
Tentando, num segundo recompor,
A audácia se fazendo sentimento,

Vontade de sentir o teu calor,
Mas nada dá firmeza ao meu intento.
Um novo enredo então; venho propor
Embora nele eu veja o sofrimento

E assim, apaixonado, passo a crer,
No amor em amizade, bel prazer
Mesmo que mude o tom, sou teu amigo.

Nos dias que virão tanto embaraço,
O quanto vai mudando o nosso passo,
Tentando disfarçar, mas não consigo.
Marcos Loures


11

Vencido pelas setas deste deus
Menino e sem juízo, busco em ti
Caminhos que também serão os meus,
Nos quais eu te encontrando, me perdi...

Somente poderei ser mais feliz
Vitimizado pela fina seta
Da Erótica mensagem que me diz
E mostra esta verdade predileta

De ter o sonho em mãos, alçando a lua
Voando por espaços, livre e solto.
Tua presença amada sempre atua
Apascento em mim um mar revolto

Dos medos, das angústias que eu tivera
Não fosse nosso amor em primavera...
Marcos Loures


12


Vencido pela noite e seu cansaço,
Procuro por sinais de tua vinda;
Teu cheiro ronda a casa e se deslinda
Em cada canto a marca de teu laço...

Quem me dera dormir no teu regaço,
Sentindo teu perfume que me brinda
Como última esperança; ser ainda
Capaz de conquistar o teu abraço...

Mas, quando a noite some e estou sozinho,
Percebo que jamais voltas ao ninho
Onde fomos felizes de verdade;

Mas bem sei, que querias liberdade,
Voaste, nunca mais, solta. A saudade
Será só minha - um livre passarinho...


13

Vencido pela força do tufão
Catando meus pedaços bar em bar,
Talvez imaginando transformar
Em algo produtivo o que foi vão.

Embolora decerto, o que era pão
Carcomida alegria, num vagar
Expressa o que inda pude coletar
Da vasta e mais completa negação.

Esgarço-me nos versos que hoje faço,
De mim não sobrará sequer um traço
Aos poucos, sutilmente eu me definho.

Na minha carapaça decomposta
Com toda a minha entranha aqui exposta
Prossigo, de teimoso, e vou sozinho.
Marcos Loures


14

Vencido pela dor
Depois de tantos anos,
Perdendo o meu amor
Refaço velhos planos

Me sinto um perdedor,
Marcados por enganos,
Sangrar por onde for,
Esforços desumanos.

Porém a sorte brilha
Em uma nova trilha
Minha alma sempre pensa.

Um resto de esperança
A sorte enfim se alcança
Nesta amizade imensa...


15


Vencido pela dor desta saudade
Que é mais que uma ilusão, um verso triste.
Viver em minha sorte, ansiedade
É mais do que um amor inda persiste.

Não temo mais sofrer sem liberdade,
Ainda mais que sei que amor existe.
Vagando pelos céus, tranqüilidade
Jamais resistirá na dor que insiste.

Saudade de saber de cada beijo
Marcado em minha boca, tatuagem,
Eu sinto quanto dói este desejo,

Embora, reconheça é só miragem.
Assim que a noite chega enfim eu vejo,
O rumo em que se deu nossa viagem.

16


Vencidas as quimeras nesta vida
Encontro-me desnudo e sem vontade,
Cansado quase turvo e sem saída,
Espero teu apoio em amizade...

Mas vejo-te distante em teus problemas
Carrega o mesmo fardo, companheira.
Nos mantos que te vestem velhos temas
Que nos sugaram sempre a vida inteira...

Porém me dê teu braço, toma o meu,
E seguiremos leves. Bem mais fácil
Unirmos as lanternas neste breu
Por mais que cada brilho seja frágil...

Assim, somando forças, vamos prontos
Enfrentando quaisquer duros confrontos...

Marcos Loures


17

Vencida pela força soberana,
Entrega-se sem sisos a Razão
Causando uma total ebulição
Avança sobre a natureza humana.

Quem sabe e quem conhece não se engana
Estende, com juízo, a sua mão,
Sabendo que esta luta foi em vão,
Santa emoção por certo já se ufana.

Guardando o teu carinho na memória
Além do que pudesse ter sentido,
Amor se faz potente em grande glória,

Sou servo deste amor, estou vencido
E disso há muito tempo percebido
Eu comemoro sempre esta vitória.


18



Vencer qualquer quebranto ou mau-olhado,
Seguindo junto a ti em poesia,
O vento vai tocando este telhado,
Dizendo da benesse e da alegria.

Distante do que foi mal assombrado,
O amor promete em sonhos, a magia
Que deixa a solidão, assim de lado,
E um belo amanhecer nos propicia.

Não deixe que as tristezas possam vir,
Matando em nascedouro o bom porvir
Que a gente bem merece, sabes disso.

Nos olhos destemidos de quem sonha,
A vida será sempre mais risonha,
Nas sendas da paixão, doce feitiço...


19


Vencer os teus segredos, medos tantos.
Tomando para mim amor completo.
Servindo-me sem medos dos encantos
Do amor que sei bendito, um amuleto.

Roubando desta noite tantos mantos
Descubro um belo corpo tão dileto.
Tu sabes que entre tantos, tantos, tantos,
O teu brilho é pra sempre o predileto...

Mulher que me alucina, a vida afora,
Te quero e não pergunte mais por que.
Ao ver-te do meu lado, desde agora,

O sonho que queria, satisfeito.
Amor é tão divino quando crê
Na sorte de outro amor como um direito..


20

Vencer os meus temores? Quem me dera!
Talvez ainda tenha uma esperança
De ter o olhar tranqüilo da criança
Vivendo em sua vida, a primavera.

Voltar à mansidão de uma tapera
Enquanto a idade teima e sempre avança.
Tentando recobrar a temperança
Que o tempo inexorável degenera.

Dos versos; aliados que me dão
Ainda um sopro feito em mansidão,
A brisa que busquei e que não tive.

Mereço ser feliz? Creio que não.
Matei sem perceber a floração,
Nem mesmo uma semente sobrevive.


21


Vencer meu medo eterno de poder
Entregar-me completa e loucamente.
Escondo-me por vezes do prazer
Defesas que criei na minha mente.

Talvez seja esse medo de sofrer
A causa desta dor que o peito sente.
Morrendo no temor de enfim viver
Não consigo entender. Mas, de repente

Surgindo destas brumas o teu rosto,
Emoldurando a vida no meu peito.
Um coração faminto surge exposto

Com tal voracidade que me assusta.
Sedento e tão voraz, insatisfeito,
Não sabe mais sequer medida justa...


22


Vencer estas marés, seguir em frente
Sem temer tuas luzes, ser teu par.
Amar é perceber-se iridescente
Viver em fantasia, te buscar.

Saber da valentia que se sente
Nas tramas desta insânia, mergulhar
Na imensa claridade que me alente
Na lente da alegria a me ampliar.

Amar e renascer a cada dia,
Vulcânica manhã, quase demência.
Quasar que pulsa em lúdica magia

Alquímica delícia que se traz
Nas garras da pantera. Da clemência
Fazer sua arma breve, mas audaz...

SONETO SEM A LETRA O
Marcos Loures


23


Vencer esta saudade, quem há de?
Procuro pelos olhos, nada vejo,
Apenas refletindo a claridade,
Entregue plenamente a tal desejo,

Matando em teu retrato, esta saudade,
Mesmo que seja apenas relampejo
A mansidão aos poucos já me invade
Mudando em paz o rumo que eu almejo.

No vento da lembrança em mansa brisa,
A dor que me invadiu, já se ameniza
Transforma o meu destino por inteiro.

E agora caminhando lado a lado
Sou teu, amado, amante, enamorado
Cativo, teu senhor e prisioneiro.
Marcos Loures


24

Vencer as intempéries, ver o cais
Depois de tantas lutas e batalhas.
O amor ao enfrentar os temporais
Colhendo o que semeias e amealhas.

A vida soçobrando aos vendavais
Enfrenta em calmaria, os erros, falhas
Ao ter a transparência dos cristais
Caminha sobre os fios das navalhas.

Paixão nos entorpece, insensatez...
Trazendo sofrimentos e alegrias,
Vivendo cada dia de uma vez

Teremos como prêmio, ancoradouro...
Sabendo superar desarmonias
Teremos finalmente este tesouro...
Marcos Loures


16725

Vencer as intempéries do caminho,
As pedras, sem sentido, vão rolar,
Deixando a flor vencer amargo espinho,
A vida em alegrias, perfumar,

Em cada coração, perfeito ninho,
Amor em plenitude a se encontrar
Que quando amadurece, como o vinho,
Só pode, dia-a-dia, valorar.

Nos rumos bem serenos da amizade,
Poder conceber solidariedade.
Na divisão perfeita destes remos.

Assim, olhos erguidos passo a passo,
Ganhando com firmeza cada espaço
Amigos, para sempre, nós seremos.
Marcos Loures


26

Vencer as artimanhas, nas encostas,
Saber da faca oculta em cada mão,
E mesmo que ferido, com perdão
Expor a cicatriz em suas costas.

Se nisso, amigo vão suas apostas
Eu creio que encontrei a solução
Da dor sem ter limites, vivo não,
Recebo com o vento tais respostas.

Amar é ser sublime; nunca nego,
É quase ser perfeito, qual um anjo
Que faz de cada sonho o seu arranjo

No sonho de esperança que carrego,
Portando no seu bojo a liberdade
Expressa neste canto de amizade...


27


Vencendo todo o medo que trazia
De ser feliz talvez, ou sofrer tanto.
Agora que usufruo deste encanto
Derramo uma esperança em poesia

De ter além de tudo o que queria
O mar lambendo a areia; o doce canto
A lua desmaiando em alvo manto
Cobrindo este universo em alegria...

Agora que é possível crer, enfim,
Vem logo e segurando a minha mão
Iremos neste amor até o fim.

Deixando bem distante a solidão,
Se amar é sempre bom; melhor assim
Nos raios e dilúvios da paixão...


28

Vencendo toda forma de perigo
Que possa tocaiar nossa esperança
O quanto que desejo e já persigo
Promete uma manhã mais calma e mansa

Porém por tantas vezes vi meu mundo
Caindo e desabando, sem sentido.
O coração feroz e vagabundo
Durante tanto tempo andou perdido.

Agora ao perceber um novo vento
Que pode me trazer felicidade
Poeira novamente toma assento
Deixando bem distante esta saudade.

Não quero mais seguir sem ter destino,
Um belo alvorecer eu descortino...



29

Vencendo toda dor que nos afeta,
Contando com apoio de uma amiga,
Permite-se que a vida enfim prossiga
E vá em direção à nossa meta.

Esta verdade mostra-se completa,
Embora repetida e tão antiga.
A força da amizade é nossa viga
E trama uma manhã que se repleta.

Meus passos são mais firmes neste rumo,
Pois tenho a companhia de teus braços.
Ajudas a manter mais forte o prumo

Ditando muitas vezes, com teus traços
Avaliando assim quais os espaços
Nos quais com mais firmeza, eu já me aprumo.



30


Vencendo tanto medo que eu trazia
Das noites que passara sem ninguém.
Sonhando com delícias de ambrosia,
Deitando tão sozinho, a noite vem...

E traz essa vontade de voltar
E traz esse desejo de te ter.
Sabendo que jamais terei luar,
Aos poucos, sem vontade de viver...

Depois de certo tempo sem certeza,
Aguardo meu amor perto de mim.
Deixando minha vida na incerteza,
Sem rumo e sem destino, sigo assim...

Mas sei que depois dessa tempestade
A lua irá trazer a claridade!


31

Vencendo qualquer forma de perigo
Não temo mais a noite e os pesadelos,
Sabendo que encontrei em ti, abrigo,
Sentindo os teus carinhos. É bom tê-los,
Vivendo esta emoção sinto o perfume,
No toque mais suave em teus cabelos...

Encontro, finalmente o meu destino
Diverso da terrível solidão,
Um novo amanhecer, já descortino
Nos braços deste amor feito em paixão.
Depois de tanto tempo em desatino,
Já sei tudo o que eu quero, e a direção

Seguida por amor, louco cometa,
Flechado por Cupido e sua seta...
Marcos Loures


32

Vencendo os vencedores deste jogo
Amor sabe do gozo, o seu troféu.
No mar feito em desejos onde afogo
O sonho de ser teu simples corcel;

Cometas passeando pelas bocas
Estradas entre pedras, furnas, grutas.
Ao perceber delícias, tuas tocas
As línguas se mostrando mais astutas.

Nas ancas, nos quadris, as maravilhas
Que quero usufruir sem ter descanso
Dos montes aos teus vales e coxilhas
Num ato tresloucado eu já me lanço

No sonho que esta noite, eu concebi
Declino minha fronte sobre ti.
Marcos Loures


33

Vencendo os teus pudores noite afora,
Tomando cada gole de saliva
O amor que nos conquista e nos cativa
Aos poucos nossos corpos já decora.

Cumplicidade imensa, desde agora,
Tornando nossa vida mais altiva,
De todos os prazeres já nos criva
A seta que em loucuras revigora.

Misturas tuas pernas com as minhas,
Cavalgas teu corcel louco e sedento,
De sonho incandescente te avizinhas,

Mordendo minhas costas, tu me arranhas
O amor que é tão suave e violento,
E sabes que ao final, tu sempre ganhas...
Marcos Loures


34

Vencendo os sofrimentos, sempre juntas
As almas dos poetas são teimosas,
Inspiração ausente mata as glosas
E as soluções quiméricas defuntas...

Do quanto nada fiz e ainda ajuntas,
Mergulho sem defesa nestas rosas,
Orgulhos das palavras caprichosas,
Em outras fantasias sempre assuntas.

Semeio o que sem meio não devia
E o mestre me ensinando que alegria
Não deve ser descrita qual bobagem.

Serpente que se cerca, dando o bote,
Quebrando, perco o mel e já sem pote
Não posso desfrutar tal paisagem.
Marcos Loures


35

Vencendo os meus temores cara amiga
Eu posso decifrar os teus enigmas
Enquanto a solidão não mais prossiga
A vida não trará velhos estigmas.

Eu vejo que talvez inda receba
Do dia que virá, um farto brilho.
Nos olhos da ilusão que se conceba
Um tempo sem temor ou empecilho.

Deixando os erros todos, sigo em frente,
O amor não pode ser qualquer placebo,
Vivendo esta incerteza, de repente,
Do medo, num momento eu sei que bebo.

Mas tenho uma esperança de outro dia,
Que o encanto da amizade logo cria...
Marcos Loures


36

Vencendo os medos, todos, eu proponho
Brindarmos ao amor e termos mais
Que apenas bons momentos divinais
Realizarmos logo cada sonho.

Meu barco nos teus mares, cedo, ponho
E vivo estes momentos magistrais,
Tocando certamente os teus cristais
Num canto mais audaz e mais risonho...

Bebendo desta fonte prazerosa
De amor e de desejos, minha amada,
Deitando nossos corpos, madrugada,

Mostrando-se gentil, maravilhosa,
E sempre navegando em calmaria
Amor, estrela vésper que nos guia...


37


Vencendo os medos, todos, eu proponho
Brindarmos ao amor e termos mais
Que apenas bons momentos divinais
Realizarmos logo cada sonho.

Meu barco nos teus mares, cedo, ponho
E vivo estes momentos magistrais,
Tocando certamente os teus cristais
Num canto mais audaz e mais risonho...

Bebendo desta fonte prazerosa
De amor e de desejos, minha amada,
Deitando nossos corpos, madrugada,

Mostrando-se gentil, maravilhosa,
E sempre navegando em calmaria
Amor, estrela vésper que nos guia...
Marcos Loures


38



Vencendo o solo agreste das tristezas
A força da amizade não permite
Que a vida sem ter paz já se limite
A simplesmente entrar em correntezas.

Durante tanto tempo em incertezas
Sem ter uma alegria que inda fite,
Só tendo este vazio por limite
Terei ao fim da vida tais surpresas.

Sem presas, caçadores e sem armas,
Enquanto em amizade farpas cortas,
Esperanças que outrora supus mortas

Agora em calmaria me desarmas
E mostras novo encanto ao qual me rendo
E vejo um raro sol amanhecendo...
Marcos Loures


39

Vencendo nossos medos, simplesmente
As dores se tornando mais escassas,
Persigo os rastros claros quando passas,
Estrela que domina plenamente.

De todo este prazer que a gente sente
Fluindo meu desejo enquanto abraças
Bebemos com prazer nas mesmas taças,
Vontade se fazendo mais urgente.

Estrelas, companheiras de viagem,
Ao ver tua nudez, uma miragem
Tomando em claridade, vem e chama

Num sonho delicado e mais profano,
Um astro que se mostra soberano,
Teu corpo iluminando a nossa cama.
Marcos Loures


40


Vencendo no caminho tantos reis,
Amor não se permite ser atado,
Na liberdade cria suas leis,
No peito que se mostra desarmado,

Amor vai penetrando em fina seta,
Lacera o coração que seja duro,
Amor que em puro amor já se completa
Certeza de clareza em céu escuro.

Não teme nem as curvas do caminho,
Espalha tantas flores e perfumes,
Nas armadilhas feitas em espinhos
Ao revolucionar velhos costumes,

Amor não deixa pedra sobre pedra,
Defronte ao grande amor, qualquer um medra...



41


Vencendo em pleno amor, tanta desdita
Não temo mais sequer a solidão,
Nos braços de quem sonha, a redenção
Palavra prazerosa e tão bendita.

Quem sabe do caminho, espinho evita
E trama com real satisfação
Benesses da alegria em devoção
Apascentando uma alma antes aflita.

Afeto permitindo que se tenha
Um dia em que a glória já se empenha
Fazendo com fartura esta colheita.

Nas redes da emoção quando se deita
Amor sempre transmite a calmaria,
Louvando toda luz que ela irradia...
Marcos Loures


42


Vencendo em mansidão, duro granito
Amor emoldurando a fantasia,
Alçando em teus carinhos, o infinito,
Bendigo a vida em plena sintonia,

Do amor que há tanto tempo estava escrito,
Dourando a minha vida em alegria,
De tudo o que disser ou que foi dito,
Jamais uma palavra me traria

A tradução perfeita que persigo,
Falando deste amor, audaz e amigo
Entendo nossos dias mais contentes.

Olhares quais faróis iluminando
Um sonho que em belezas deslumbrando
Estampa luzes tais, iridescentes...
Marcos Loures


43


Vencendo com sorrisos dores tantas,
Ao mesmo tempo adoça com vil mel,
Esconde em plena noite suas mantas
Encantos que se formam a granel.

Expia seus temores com paixões
Espia a lua entregue num eclipse
Os versos vão girando em turbilhões
Cometas se debruçam numa elipse

E assim, um catatônico esquizóide
Engravidando o sonho, já prepara
Na forma de um fantasma, de um andróide
Palavra que de obscura se faz clara

Num ato de completa lucidez
Sacia-se em faminta insensatez...

BASEADO EM SONETO DE MANOEL VIRGÍLIO,


44


Vencendo as tempestades eu prossigo
Sabendo da bonança que virá;
Um vento bem mais calmo e sempre amigo
Decerto encontrarei aqui ou lá.

Um velho caminheiro, assim persigo
Sabendo que este sol rebrilhará,
Nos braços carinhosos, um abrigo,
Que o peito enamorado encontrará,

Depois das duras curvas desta estrada,
Eu voltarei a ver uma alvorada
Em pleno resplendor, iridescente.

O amor que nos domina e nos conquista,
Permite que de longe o sonho assista
Um dia com certeza mais contente.
Marcos Loures


45


Vencendo a solidão, vil capataz
Amor denota sempre imensidão.
Seguindo cada passo que tu dás
Em rumo a mais completa sensação.

Vislumbro nesta andança a nossa paz,
Vibrando bem mais forte uma emoção
Que em meio à noite o sonho já me traz
Dizendo com firmeza da paixão

Que toma a nossa vida e mostra o norte,
Fazendo o coração bater mais forte
Domina enquanto vela e me arrebata.

Deitado sob a lua, brilhos tantos,
Enquanto demonstrada em tais encantos,
A noite se prepara em bela prata.
Marcos Loures


46

Vencendo a corredeira mais atroz
Canoa dos meus sonhos já flutua,
Ouvindo o coração escuto a voz
Reflexo da mais bela e plena lua.

Amar é ser apenas passageiro
Da nau que se faz solta em noite imensa,
Levada pelas mãos de um gondoleiro
Que sabe que a viagem recompensa.

Na areia movediça da esperança
Eu traço o meu destino junto ao teu.
O velho coração assim alcança
O quanto o tempo outrora carcomeu

Refeito em um momento mais sereno,
Secando da tristeza o seu veneno...
Marcos Loures


47


Vencemos os antigos, mortos, medos
A cada alvorecer em pleno gozo
Deixando mais distantes os degredos
De um tempo tantas vezes caprichoso.

Colhendo cada fruto do pomar,
Quarando as nossas roupas no varal,
Sentindo esta emoção aqui chegar,
Florindo em paz serena o meu quintal.

Das ladeiras que outrora transpassei,
Dos espinhos que foram tão freqüentes,
Destes cardos que tanto cultivei
Os acúleos; decerto, não mais sentes.

Seguimos; peito franco em alma aberta
Nos braços deste amor que nos desperta.
Marcos Loures


48


Vençamos com tão fétidos sorrisos
As curvas dos caminhos que vierem.
Nas mãos que com valores interferem
Os dias não são frágeis nem precisos.

Ao se elevar além dos velhos pisos
Os sonhos não mais trazem o que querem
Aqueles que decerto não preferem
Viver além dos trágicos avisos.

Na beira desta estrada eu me encontrei
Vestindo a fantasia quase um rei,
No fundo um idiota tão somente.

Agora que não posso mais cantar
Eu bebo com cachaça este luar
E o amor que tanto eu quis ora só mente...
Marcos Loures


49


Vem, avassaladora e me domina,
Lambendo o meu pescoço, enfia a língua;
Tua loucura imensa me alucina
Sem teu amor,querida, morro à míngua...

As bocas se passeiam na loucura
Que dá um novo rumo ao nosso caso,
Rainha desejada, esta ternura,
Tortura. Deste jeito até me caso..

Desmonto-me contigo, e tu desmaias,
Não solto tuas mãos, calor intenso,
Deságuo meu prazer em tuas praias,

Num caudaloso rio, sol imenso...
De toda essa alegria bebo a fonte,
A vida se refaz neste horizonte...


16750

Vem me buscar querida, estou aqui..
Faz tempo que desejo tua volta...
Às vezes me lembrando que perdi,
Meu coração se enluta, com revolta.

Se todo pensamento vai a ti,
Minha alma nunca mais, enfim, se solta.
Tu és o meu caminho... Concebi
A vida do teu lado, sem escolta

Da dor a nos rondar em versos tristes.
Do medo que consome uma alegria.
Eu peço meu amor, se inda resistes,

Não deixe agonizar nossa paixão.
Que foi tão de repente assim vadia,
E agora por um fio... Sem perdão...


51


Vem logo vem brincar de meia nove,
Fazer da sacanagem poesia,
Querendo o que tu queres, vem e prove
Do quanto é tão gostosa a putaria

E a cada novo gozo que renove
Prazer que a gente tem no dia-a-dia,
Chupando a bucetinha, tanto chove
Depois a gente volta à nossa orgia.

Enquanto eu te como, uma vizinha
Já quer a tua boca mais safada,
A deusa não é mais somente minha,

E espalha sobre a cama, farto gozo.
Depois por dois amantes devorada,
Num grito já diz tudo: foi gostoso!


52


Vem logo que te espero, minha amada,
Minha janela aberta, a cama quente...
A porta encontrarás escancarada,
Te quero;vem agora amar urgente.
Deitar todo desejo, extasiada,
Meu corpo te aguardando...de repente...

Sentir o teu prazer em cada poro,
Num misto de delírios e carícias.
Tu sabes, minha amada quanto adoro
Teu corpo, minha fonte de delícias...
Meu barco no teu mar quando eu ancoro
A noite se repleta em mil sevícias...

Sacie teus desejos mais profanos...
Vem logo que eu te espero há tantos anos...


53

Vem logo que o meu peito já tem pressa.
Assim dizia a noite ao claro sol,
Tomando toda a sorte como avessa,
Deixando a tempestade em arrebol,
O vento que se mostra e se confessa
Permite o coração qual girassol.

Faróis dos olhos, faço e me inebrio,
O medo se arremessa de um penhasco,
Não tendo quase nada, o sonho eu rio,
Embora tantas vezes, finja um asco.
Deitando o meu prazer já principio,
Morrendo sob as ordens do carrasco,

Enquanto tu transitas mil estrelas,
O amor entre as cobertas me revelas...
Marcos Loures


54

Vem logo que eu te quero bem sapeca,
Sorrindo com malícias para mim,
Deixando no passado uma boneca
Aflora esta beleza em meu jardim,

Quem sabe deste amor nunca mais peca,
E vive intensamente, chega assim
Fazendo o sentimento de peteca
Ao mesmo tempo nega e diz que sim.

Na flor que desabrocha, uma certeza
Da moça que espalhando tal beleza
Conquista um coração tão sem cuidado.

Teu corpo sedutor, rosa divina,
Mulher que ainda emana uma menina
Deixando o meu caminho perfumado...
Marcos Loures


55



Vem logo que eu te espero bem safada,
Tesuda e com vontade de ser minha.
Na cama eu te desejo assim putinha,
Querendo ser decerto desejada.

A noite sem carinho, não é nada
Gostoso perceber tua xaninha
Aberta, bem cheirosa e raspadinha
Com fome e sempre bem lubrificada.

Não temos que temer falsos pudores
Tampouco dar ouvidos a essa gente,
Nós somos, com prazer dois pecadores

Fazemos do desejo nosso altar,
Sabendo, se o amor é indecente
Distante da decência eu vou ficar...


56


Vem logo que desejo estar contigo
Fazer de nossa noite inesquecível,
Garanto que não tem nenhum perigo
O amor que nos domina, imperecível.

Pela senda divina agora eu sigo
Vontade sendo o nosso combustível
Tu sabes que este sonho é tão antigo
E nele encontrarei um mundo incrível.

Receba esta mensagem com carinho,
Cansei de ser na vida, vão, sozinho
Somente nos teus braços posso ter

Aquilo que busquei por tanto tempo,
Não crie, já te peço, um contratempo
Vem logo do meu corpo se embeber..
Marcos Loures


57

Vem logo fazer tudo o que quiseres
Retiro a tua roupa devagar
Divago sobre a forma dos talheres
Do jeito que quiser banquetear,

A mais bela de todas as mulheres
De noite em minha cama vem mostrar
Volúpia aonde um pobre de um alferes
Não pode se conter nem quer parar.

Fazendo nesta noite uma arruaça
Bebendo cada gota do teu gozo,
Encharco minha lua com cachaça

E torno cada trago mais gostoso.
Requebros generosos dos quadris
Já deixam um caipira mais feliz...


58

Vem logo e se aproxime amor morena,
Ciúmes são bobagens, sabes disso,
Se tendo o teu desejo eu já me ouriço
Não vejo mais porque fazer tal cena.

Se a boca que te beija suga plena
Vontades desta rosa em raro viço,
Tu sabes do teu fogo, e do feitiço
Que amor já se incumbiu e me envenena

Não tenha, minha amada, tanta mágoa,
Tacando fogo numa caixa d’ água,
Ninguém segura a chama morro acima,

Acesas as fogueiras não resisto,
Tu sabes que em prazer belo e benquisto
Gostoso com teu gozo sempre rima...
Marcos Loures


59

Vem logo cheirosinha pro teu homem,
Que a noite é toda nossa, esteja certa,
Enquanto estas vontades nos consomem
Porteira da alegria estando aberta,

Deixando bem molhada a doce gruta,
Chamando para a nossa cavalgada.
Te quero quase santa, insana e puta
Rainha que se dá, bela e safada.

Na fome de ser minha, sou só teu,
Gostosa sacanagem que nos guia,
Vivendo com desejo a putaria

A língua vai roçando o teu grelinho
O quanto de desejos, concebeu
O amor que a gente faz, bem de mansinho...
Marcos Loures


60

Vem logo arreganhada pro teu macho
Que quer já te fuder a noite inteira,
Meu pau nesta buceta eu já encaixo
E fodo com luxúria verdadeira.

Teu cu na minha boca, teu grelinho,
Na foda que fazemos com loucura,
Prometo te comer devagarinho,
Com todo este tesão, mas com ternura.

Tu mijas no meu pau, em puro mel,
Lambendo meu caralho, com vigor,
Levando o teu parceiro para o céu,
Causando no meu peito tal fulgor

Que nada impede o fogo desta orgia,
Imensa e sem limites putaria...


61

Vem logo antes que a noite traga o medo,
Receba em tuas coxas meu calor.
Querendo desvendar cada segredo,
Louvando o corpo belo, um raro andor.

Passeio em tua pele cada dedo,
Mergulho sem limites, com fervor
No gozo que esparramas desde cedo,
Encantos disfarçados em temor.

Eu sei que ele virá ao fim da tarde,
Desejos em querência, um bem que me arde
Mordendo tua pele tão macia.

Amante que se fez em deusa plena
A carne delicada me envenena
Vem logo, pois a noite tudo esfria...


62

Vem depressa minha prenda
Não dê tempo pra pensar
Quanto mais o fogo acenda
Mais eu quero assim te amar.

O teu corpo uma merenda
Tão gostosa de provar,
Minha mão logo desvenda
Cada parte, devagar.

Vem comigo, nada tema
Que depois eu te garanto,
Com corrente ou mesmo algema

Nosso amor é um encanto,
Tanta festa, uma alegria,
Nossas peles, alquimia...
Marcos Loures


63


Vem andando de fraque, tão solene,
Com passos chaplianos, faz sucesso.
Eu bem sei que, nadando, teu progresso
É maior. Faz que o corpo todo empene,

Por meio dessas asas que, confesso,
Surpreendem. Sugere que m’acene
Quando sei, na verdade se te peço,
Dirás nada, por certo, tutto bene...

Vez em quando, resolves passear.
Umas férias mereces, estou certo.
Mas teimoso, nadando sem parar,

Tu não queres ficar aí, nem perto.
Nas praias cariocas, tanto mar...
Que fazer? Viajar no mar aberto..

Cansado então, do passeio,
Vens bater na minha praia,
És teimoso sim, bem creio
Que tu queres é gandaia...
Não tem outro jeito não...
Na volta, vais d’aviã


64

Velho samba-canção que me dizia
Que o amor tanto machuca o coração
Enquanto traz imensa fantasia
Depois de certo tempo... Resta o não.

Não quero me iludir, minha alma busca
Na tua uma harmonia que permita
Que a vida não se torne amarga e brusca,
E seja em mansidão, bem mais bonita.

Aguardo uma resposta por e-mail,
Ou carta, por bilhete ou telegrama,
Quem sabe até talvez pombo-correio,

Mas que traga solução para este caso,
Não quero na verdade fazer drama,
Amor não se condena ao frio ocaso...
Marcos Loures


65

Velho mar, na mortalha arquitetônica
Que embalsamas meus erros e tristezas....
Murmúrios indolentes, tua tônica,
Nas procelas demonstras realezas...

Voz calada, garganta queda afônica
Nessas tramas obscuras, embelezas,
Na grandeza sem par, viril, atômica,
Destróis espúrias vidas, indefesas...

Entretanto mais calmo e tão gentil,
Nas praias embalando ondas serenas.
O verde se confunde céu anil,

Transita seus carinhos mais remotos...
Na pele delicada das morenas,
Na fúria dos tsunamis, maremotos!
Marcos Loures


66


Velho mar lusitano que guardamos
Nos sonhos e nos nossos sentimentos,
E quando as tempestades; enfrentamos
Bebemos deste sal e destes ventos.

Netúnicos desejos, servos, amos,
Mistérios entre as algas e os tormentos,
Sereias e serpentes; mergulhamos
Sem perder a visão dos firmamentos...

Nas Tróias que encontramos pela vida,
As guerras e batalhas, as vitórias,
Nas águas e marés, nossas histórias,

Nas praias, nossa sina a ser cumprida.
Se, no útero materno existe o mar,
É nele e dele; eterno começar.



67

Velho lapidador com mão cansada,
Ourives sem talento, eu me encontrei
Vivendo tão distante do que sei,
A porta nunca esteve escancarada.

Não tendo outro remédio, alma fadada
Ao resto do que tive, e não busquei
Embora solitário; eu me criei
Ultrapassando assim, cada lombada.

Se trazes mais perguntas, não respondo,
Do nada muita vez me recompondo
Em verso ensandecido não me expresso.

Do canto que pensara ser harmônico,
Só resta um arremedo que histriônico
Convoca à mesma queda em vão tropeço...
Marcos Loures


68

Velhice me tocando, devagar,
O tempo corre célere e não pára.
Sentindo a noite/inverno que ao chegar
Acalma enquanto torna a vida amara.

Trazendo uma saudade em cada sonho,
O gosto desta boca que eu beijei,
O mar de uma ilusão seca, medonho,
Castelos da esperança... Já não sei.

Mas sinto a brisa mansa ao fim do dia,
Teus olhos me apascentam, amor sereno.
De tantos sentimentos, fantasia
Adormecida em colo tão ameno.

Percebo em teu carinho a minha sorte,
Preparação final p’ra doce morte...


69

Velhacos patrulheiros do prazer,
Usando de total incompetência
Na vacância de hormônios posso ver
O quanto é infeliz. Ou é demência?

Chinfrins balangandãs. O que fazer?
É necessário sempre paciência!
Desculpe, estou sem tempo pra perder
A velha ladainha em repetência.

Amar é coisa brega, sim senhor.
Quem gosta de outro alguém é imbecil.
Perdoe se o meu verso é tão senil

Suplanta em alegria um amargor.
Abelha, vira o rabo pro outro lado,
Escorpião no fogo, está ferrado...


70

Velejando no mar que me deixaste
De esperanças e sonhos, nosso cais.
Por onde tantas vezes navegaste
Agora te procuro, e quero mais.

Quero mais deste amor que não sossega
Quero mais deste gosto em tua boca,
Quero mais da vida que não nega
Numa entrega em delícias, forte e louca...

Quero mais do prazer que me domina
Quero mais do viver em teu destino.
Quero mais da loucura que alucina
Numa entrega em carícias, desatino.

Quero mais, quero mais o teu amor,
Velejo no teu mar, seja onde for!


71

Veleja o pensamento sem destino,
Procura em qualquer corpo um porto, um cais.
E busca entre os delírios sensuais
Em louca fantasia, desatino.

Quebrando os seus grilhões, diamantino
Encontra o que procura e pede mais.
Momentos desfrutados, magistrais,
Emanando o perfume nobre e fino

Que roubas, sem saber dos roseirais
Aromas delicados, sem jamais
Perder os teus espinhos, tuas garras.

Cavalgas noite afora o teu corcel
Desnudando as estrelas chego ao céu
Rompendo sem pudor velhas amarras...
Marcos Loures


72


Vejo os meus dias todos por fazer;
As vagas emoções findam distantes.
Vasculho cada parte do meu ser
E não resisto às dores terebrantes
Das chagas que carrego sem saber
O que pudera ver por uns instantes...

Vazio, sigo inerte, passos lentos,
Buscando a solução em cada prado
Estás comigo, amor; nos pensamentos,
Às vezes eu te encontro aqui do lado,
Mas passas como um raio, sentimentos
Qual fossem um remendo desbotado...

Inútil sensação que me restou,
Do gosto saboroso que passou...


73



Vejo a felicidade como um sonho
Que às vezes se distando me aproxima
De quem em ilusões teimo e componho,
Gerando tanto apego em forte estima.

Por vezes a esperança luta; esgrima,
Tentando vislumbrar dia risonho,
E a noite quando envolta em raios prima
Pela paisagem bela que componho

Usando os teus caminhos como base,
E mesmo que alegria inda se atrase
Trará ao fim da noite o amanhecer

Na senda rara e flórea que eu anseio,
Fazendo de uma entrega sem receio
A forma mais sublime de viver...


74

Vejo a face real do desencanto
Vestindo esta mortalha que ora trago,
Já não me permitindo um falso afago,
Aos poucos me liberto, e assim eu canto,

Usando da palavra como um manto
Não quero as ilusões de um torpe mago,
Tampouco as emoções de um simples trago
Nos bares do passado. O medo espanto,

E aberta esta porteira, ninguém mais
Conseguirá conter os vendavais
Que solto sem algemas neste brado.

Na eternidade plena de minha alma,
Tão somente a justiça ora me acalma,
Só no afeto do Pai sou saciado...


16775

Veja quanto amor não dando tréguas
Expressa a rara mágica dos sonhos,
Distante da tristeza, tantas léguas
Pressinto dias claros e risonhos.

Sussurro em teus ouvidos, mansamente
Clamando para a dança que se dá
Toando repentina em nossa mente,
Trazendo a poesia para cá.

Ergamos nosso olhar ao infinito
Perceba quanta luz já se irradia
Do céu que se desnuda tão bonito,
Tecendo em magistral tapeçaria

Um quadro de beleza sem igual,
Sinônimo de amor fenomenal...
Marcos Loures


76

Veja o quanto a lua se fez clara,
Imensa, prateando o céu inteiro.
E quando a poesia se declara
Demonstra o mais sublime mensageiro

Que faz com que o Amor seja parceiro
Os astros descrevendo uma tiara,
Reflexos sobre as águas de um ribeiro.
Imagem deslumbrante, pois tão rara.

Viver tanta beleza, um privilégio,
Presságios de um futuro fascinante.
Encanto que se espalha, quase régio,

Momentos divinais que a noite trama.
Ao ver tal maravilha, num instante,
A paz por sobre a Terra, Amor derrama.


77

Vá se fuder, babaca patricinha
Que foge nos embalos e baladas.
Estúpida fornalha te continha
Satânicas figuras desbotadas.

Esta escória anencéfala caminha
Vivendo um conto falso, fodas, fadas
Tesouro que guardou sob a calcinha
Ofertas nos motéis, arreganhadas...

Perfume da Natura, ou Boticário,
Olhar extasiado de outro otário
Imbecil gargalhada “sensual”.

Desculpe, meu amor, esta franqueza,
Vadia disfarçada de princesa.
O amor não merecia este final!!
Marcos Loures


78


Véus, veludos pudores e bacantes...
Nesta purificante conjunção,
Nos seios e delírios dos amantes,
Tempestuosamente, uma monção..

Os fulcros destas festas delirantes
Se embasam num delito da paixão.
Nas luzes, os partícipes farsantes,
Escondendo qualquer uma emoção...

As volúpias carnais loucas brindando,
Nas formas mais banais deste rodízio.
Os sonhos mais febris se revelando.

As bocas devorando cada gota,
A roupa que vestia pousa rota.
Numa oração feroz a Dionísio...
Marcos Loures



79



Vetustas ilusões argúcias de amoníaco.
Na cárpica loucura o gesto embalsamado.
Estrídulo revolto em mar que demoníaco
Depois de cada jogo adentra este alambrado.

Não quero ser vestal nem mesmo hipocondríaco
Afônica vontade em gozo retumbado
Agônico prazer de um bom afrodisíaco...
Trazendo num esgar amor enquarquilhado...

Dizia do teu ar esquálida figura
Na erétil sensação do orgástico desejo.
Na lúbrica fornalha aqueço com bravura

E deixo que se esgote esta salinidade,
Vem logo bem sacana, aguardo cada beijo
Que a noite é toda nossa e o gozo é de verdade...


80

Vestis as fantasias que sonhais,
Em trajes constelares fátuo fogo.
O vosso amor profano, eu quero e rogo
Vós sois o meu delírio feito em cais.

Farturas entre cores magistrais,
Olhares infinitos, desde logo
Intrépidas loucuras, quando jogo,
Ardendo em tais incêndios, sensuais.

Vossa nudez exposta em meu dossel,
As luzes se misturam, carrossel,
Celeiros dos prazeres mais audazes.

As asas libertárias do desejo,
Derramais farto néctar que, sobejo,
Inundam meus tentáculos vorazes...


81



Vestindo uma ilusão que não mais cabe
Trafego nos teus braços tão amigos.
A sorte só protege quem já sabe
Das curvas que denotam tais perigos.

Percursos tão difíceis que traçamos
Num Eldorado esparso e mais distante.
Percalços nos caminhos; encontramos,
Mas mesmo assim seguimos sempre avante.

Nos laços da amizade, a garantia,
No traço em que desenho o meu futuro
O bem que desejava, e mais queria.
Saltando sobre o medo, vago, escuro.

Assim sem intempéries ou tempestas
Um coração amigo vive em festas...
Marcos Loures


82

Vestindo tua pele com meu beijo
Encontro tal magia que enlouquece
No templo mais gostoso do desejo
A cada novo dia, a mesma prece

Que molda em amor e fantasia
Um mar de imensidão em ondas fortes,
Encontro tudo aquilo que eu queria,
Nos lábios tão sedentos onde aportes

Com fogo e com paixão em noite intensa,
Vontades e delírios se misturam,
Ser teu e estar contigo, amor compensa,
Em todas as delícias que já curam

Os medos e os temores mais cruéis
Distantes dos teus gozos, raros méis...
Marcos Loures


83


Vestindo o teu prazer em noite clara,
Eu haveria, enfim, saber da glória,
O amor enaltecendo esta vitória
Em gozo mais profano se declara.

A fêmea delicada fera exposta,
Entrega-se aos furores, frenesis.
Expondo sem pudores o que quis,
Este jogo sem regras quer e gosta.

Enlanguescida sobre as almofadas,
Nas mãos sonhos de valsa, reinos, fadas.
Os olhos me convidam para a festa.

E quando num momento, extasiados,
Sapatos e corpetes arrancados,
Limites e fronteiras, rindo; testa...
Marcos Loures


84

Vestindo as fantasias mais sutis,
Não vejo outro caminho senão esse,
Por mais que inda pensasse merecesse
Jamais eu poderia ser feliz.

A vida a cada dia já desdiz
O amor seria fatalmente a prece
Rogando pelo encanto que oferece
O coração moleque de aprendiz.

Abarco as ilusões e sigo só,
Naufrágio de esperanças, mata o cais,
E quando a noite vem; seus rituais

Transformam realidade em simples pó,
E volto a ser aquele que, imortal,
Relembra azul marinho e esquece o sal...


81

Vivemos tanto tempo num cortiço,
As luas nos serviram candeeiro,
O corpo delicado que cobiço,
Sempre fora noturno companheiro...

O quarto tenebroso, abafadiço,
Amávamos perfeitos, por inteiro...
Por quanto tempo nós fomos tudo isso...
Amor assim sincero e verdadeiro...

Um dia, resolveste enfim sair,
A vida te trazendo tal riqueza,
Desculpas; venho triste, te pedir,

Não podes ocultar a realeza,
Mas o meu coração tenta impedir,
O teu ficou aqui, tenho certeza...
Marcos Loures


82

Vivesse mais um pouco e poderia
Fazer alguma coisa, pelo menos,
Queimando em dias calmos e serenos,
O sol trama o mormaço em teimosia.

Ainda não vislumbro a poesia
Mudando a direção, sonhos amenos,
Realizando assim, momentos plenos,
Deixando no passado esta agonia.

Vencer com calmaria, os temporais,
Searas mais suaves, farto brilho.
Caminhos espinhosos que ora trilho

Seriam, com certeza, magistrais,
E assim eu poderia ter a luz
Que embora tão distante, me seduz...


83

Viver sem ter teus braços, teu carinho,
Não posso suportar mais tal idéia,
Minha alma que descrente, faz-se atéia
Ausência de calor em nosso ninho.

O coração, um velho pobrezinho,
Morrendo qual ator que sem platéia
Procura da alegria a panacéia
E se perde, sem rumo, vão, sozinho.

Quem dera se voltasses qual cometa
Que outrora perdeu norte e direção.
Agora tão distante, uma alma asceta

Encontra este vazio qual legado,
Vivendo loucamente esta paixão,
Da solidão escuto amargo brado...
Marcos Loures


84

Viver sem ter sequer uma emoção
Matando, em nascedouro, o sentimento.
Tomando de agonia o pensamento,
Rasgando sem dar trégua, o coração.

Assim depois dos cortes da paixão,
Vencido; sem defesas, no momento
Na busca pela paz do esquecimento,
Pedindo em toda forma de oração;

Aos deuses mais distantes e diversos,
Em sonhos, pesadelos mais dispersos,
A salvação que nunca chegará.

Meus últimos suspiros de esperança
Já fazem com a morte, uma aliança
Que, creio, desta vez, me vencerá!


85



Viver sem ter razão, ledo destino
De quem não reconhece o amor imenso
E quando no vazio eu me amofino,
Sentindo este ar pesado, e mesmo denso,

Abrindo o coração deixo o menino
Voltar a dominar e em Ti, Pai; penso.
Cantando num louvor, um verso, um hino,
E da felicidade, me convenço.

Tu és a nau que sabe desvendar
Segredos das marés, dos oceanos,
Ensinamentos sempre soberanos

Não deixam o meu barco naufragar.
Pois és, Jesus, o porto, o terno cais,
Mostrando que o amor nunca é demais...


86


Viver sem ter qualquer expectativa,
Vagando sem destino por aí,
Depois que da esperança eu me perdi,
Dos sonhos, dia-a-dia sempre priva.

Minha alma, no passado, tão altiva,
Submersa no vazio, busca a ti
Estrela que deveras não mais vi,
E julgo em algum canto ainda viva.

Sob o jugo da dor, não me liberto,
O passo em pleno escuro segue incerto
E apenas a ilusão vem e consola

Falar é tão difícil, mas eu tento,
O amor que imaginei; simples invento;
A sorte já se foi e nem deu bola...


87

Viver sem ter ninguém é morte em vida
Seguir a longa estrada, um passageiro
Distante de um carinho costumeiro
Eterna sensação de despedida...

Por mais que o amor às vezes nos agrida,
Nas horas mais difíceis, companheiro,
As águas das nascentes, de um ribeiro
Fertilizando a dura e seca ermida.

Deitando no teu colo, em teu regaço,
Vencendo as tempestades e o cansaço,
Eu sinto a paz tomando o meu rincão...

Depois da luta intensa; dia-a-dia,
Sorriso que acalanta; uma alegria
Que é para o lutador, a redenção...


88

Viver sem ter carinho de quem gosto
Exposto a tempestades mais febris
O vento que batendo no teu rosto
Recorda desse tempo mais feliz...

Por onde caminhava minha amada,
Cansada de tentar felicidade
Depois de ser promessa e quase nada
Restou desse meu tempo uma saudade...

Mas quero que tu saibas que, sincero,
Te quero cada vez aqui por perto.
Amando tanto amor que sinto, espero,
Que voltes inundando meu deserto...

Amor que tanto quis e agora tenho,
Dos sonhos que vivemos, de onde venho...


89


Viver sem ter amor é se perder
Em plena tempestade, vendaval.
Na boca tão somente amargo e sal
O barco sem destino, posso ver...

Não tendo as alegrias de um prazer,
Jogando na esperança a pá de cal
Sem ter o timoneiro, frágil nau
Enfrenta inutilmente o temporal...

Viver sem ter amor, seguir vazio,
Desfilo meu cadáver pelas ruas
Nem a sombra dos passos me acompanha

Na solitária noite qual bugio
Lamentos entre pedras frias, nuas
Tristezas emolduram minha sanha...
Marcos Loures


90


Viver sem se entregar é um acinte
Não poupe o bem querer e venha inteiro.
Do amor; eu na verdade qual pedinte
Aguardo como esmola, qualquer cheiro

Que venha da morena ao fim da tarde
Convite ao qual não posso recusar,
Sem guerras, sem barulho e sem alarde
Chegando mansamente, devagar.

Roçando pele a pele, boca a boca,
Barganhas entre danças sensuais.
Adoça com loucura qualquer toca
E pede, novamente muito mais.

Estrelas passeando pelo céu
Descerram constelares, cada véu...
Marcos Loures


91

Viver sem o deleite da esperança
Vagando por ermidas noite e dia
Minha alma tão esquiva e fugidia,
Esgueira-se nas sendas da lembrança...

Disseram: “Quem espera sempre alcança”
É leda fantasia que se cria
Fomento de ilusões, torpe agonia,
Palavras que quem sonha, ao vento, lança...

Encontro em cada rosto este desdém,
Quem do amor verdadeiro vive aquém
Já sabe do falo nos meus versos...

Meus passos pela vida vão dispersos
Rondando vagabundos universos
Procuro inutilmente, nada vem...
Marcos Loures


92


Viver o que perdi na longa estrada,
Sabendo que talvez não tenha mais
O brilho da mulher, divina amada,
Meu barco não encontra o velho cais,

Apenas minha vida, vai alçada
Ao sonho de saber que a noite traz
Uma esperança feita em alvorada
De um dia amanhecido em plena paz.

Lembranças do que fomos, e perdemos.
Unindo nossas forças, nossos remos.
No nada que se dá depois da curva

Talvez inda resista algum orvalho
Trazendo distraído em ato falho
O cheiro de uma terra após a chuva.


93

Viver o amor em paz, sem temer nada
Sequer a dor que traz uma saudade.
Qual fosse uma promessa destilada
Nos versos deste sonho em liberdade.
Amar tua beleza assim, sagrada,
Sabendo que este canto traz verdade...

No outono em minha vida, em minha história,
Vieste redentora e tão sutil.
Quem tinha de um amor, triste memória,
Se encontra no teu braço sem ardil,
E vive novamente em plena glória,
Um céu perfeito e claro, todo anil...

Qual fosse uma criança, bala, anis...
Estar junto contigo... é ser feliz...
Marcos Loures


94

Viver intensamente cada dia
Como se fosse assim, último cais,
Traçando com paixão sem harmonia
Às vezes acertando, outras jamais.

A vida tem segredos... Fantasia
Envolta por mil capas tão reais,
Gerando de si própria em agonia
Perdendo-se em desníveis tão banais...

Muitas vezes me perco por excesso
Em outras nada sou senão o vago.
Quando penso seguir; num retrocesso

Sem rumo e sem destino, sou o menos.
Em outras; não contente só com trago
Embriagado; sinto esses serenos...


95


Viver esta paixão, mesmo distante,
Sorver com alegria cada frase
O amor vai abalando a minha base
E entrego-me ao delírio fascinante

Que toma a minha vida num rompante.
Beber a fantasia que me apraze,
Sentir a lua imensa em cada fase
Sublime companheira, radiante.

Jamais eu poderia imaginar
Que o amor com tanta força ia chegar,
Mudando o meu destino num segundo...

Ninguém que siga só será feliz,
Do céu que outrora fora frio e gris
O brilho deste sonho em que me inundo!


96


Viver é por si só, grande milagre
Presente deste Pai Celestial.
Que cada verso meu, então consagre,
Aquele que é da Terra, o pleno sal.

Aplacando as tormentas, traz a paz,
Que tanto é necessária para nós,
Sendo o Homem, animal fero e voraz
Fazendo o dia-a-dia mais atroz,

Encontra nos Teus braços, lenitivo,
Motivos para crer numa esperança,
Nas águas deste encanto, Deus, eu vivo,
No olhar que ao infinito, o sonho lança

Eu vejo a Tua face traduzida
No bem que nos foi dado: a própria vida!


97




Viver é muito fácil pra quem sabe
Beber da doce fruta da esperança,
Bem antes que a ilusão em vão se acabe
O olhar noutro horizonte quer e lança.

Sentir cada momento com ternura,
Abrindo o peito ao vento da emoção,
Cerrando o cadafalso da amargura
Legando à solidão, da alma, o porão.

Um férreo caminheiro da alegria,
Atento aos maremotos e vulcões,
Fazendo da meiguice, a alegoria
Que vence; em luta e gládio, mil leões.

Erguer as catedrais em firme pedra,
Vencendo o temporal que aos frágeis medra...


98



Viver do amor que um dia se acabou,
Matando pouco a pouco o que me resta;
Um sonho que por certo terminou
Amiga, por favor, isso não presta.

Futuro que depressa vislumbrou
A sorte de outro mundo que se empresta;
A luz que no passado já brilhou
Jamais clareia assim, a nova festa...

Morrer na solidão? Isto é demais.
Um passo sempre avante é o que se espera,
Lembrança de uma vida, amarga fera,

Não move mais moinhos nunca mais.
Por isso, companheira é que proponho
Um novo amor que seja mais risonho...


99


Viver compartilhando cada gozo,
Sem nada que me ofusque vou contigo,
Eufórico, por mais que pedregoso
Caminho; enfrento em paz qualquer perigo.

Atados; concebemos liberdade
Azulejando o mar esmeraldino,
Ultrapassando a própria eternidade,
Num deslumbrante encanto, eu me fascino.

E tendo muito mais que uma paixão
Borrascas; não vislumbro no horizonte,
O amor que se tornou uma obsessão
Devoto sentimento que desponte

Qual fora imenso sol que nos guiando
Transforma em fogaréu, o fogo brando...


16800

Viver com plenitude, a claridade
De um sol que sempre mostra ser possível
O brilho sem igual. Não se retarde
Que o dia do teu lado é sempre incrível.

Ao desodorizar minha alma neste
Jardim de inesquecível perfeição,
Percebo quanto amor já nos reveste
Na mais sublime forma de expressão.

Aceite essas palavras muitas vezes
Escritas com a força do desejo
De ter o quanto quis, decerto há meses,
E agora bem mais próximo, aqui, vejo.

No par que nós fazemos noite afora
A liberdade em paz, cedo se aflora...

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