sábado, 23 de julho de 2011

AMANDO SOB AS ESTRELAS 4

AMANDO SOB AS ESTRELAS

Arrasto-me entre os becos, sorrateiro,
Percurso repetido todo dia.
Se outrora, por amor, me dei inteiro,
O que restou: a noite vaga e fria.

Dos sonhos, um eterno garimpeiro,
Entregue à delicada fantasia,
Se agora entre os esgotos, eu me esgueiro,
Procuro na sarjeta, poesia.

Amando sob estrelas, bebo a lua,
Encontro tua sombra pela rua
E finjo acreditar no grande amor.

Aos poucos, agrisalham-se os cabelos,
Quem dera, teus carinhos inda tê-los,
Do esterco nascerá enfim a flor?

MARCOS LOURES

Restou-nos só a noite vaga e fria
Daquele amor repleno d’inocência,
Lilás tal qual a flor da bela hortência
Suave feito a luz da fantasia.

E o vinho bebo dessa nostalgia,
Sorvendo as dores dessa tua ausência,
Vivendo mesmo à beira da demência,
A delirar em versos, poesia.

E vago o meu olhar por entre estrêlas,
Buscando a sombra tua em noite escura,
Co’a alma minha triste e merencória.

Andejo recordando a nossa história,
O nosso amor, a sua iluminura,
E as lágrimas não posso, não, contê-las,

EDIR PINA DE BARROS

Procuro inutilmente quem me traga
Além deste vazio imenso e rude,
O sonho que deveras me transmude,
Cicatrizando na alma a velha chaga.
Minha alma sem sentido segue vaga,
Ainda quando a lua em plenitude
Apenas num momento desilude,
Na torpe solidão da escusa plaga.
Amores de um passado que, distante,
Anunciando um passo agonizante
Em meio às constelares esperanças.
O tempo não trouxesse qualquer chance,
E quanto mais a dor, agora avance,
À tosca solidão, tu mais me lanças.

MARCOS LOURES

À tosca solidão tu mais me lanças
Quando te vais além de minha estrada,
Partindo sem adeus, dizer-me nada,
Quebrando assim meus sonhos, esperanças.

E quando me aproximo tu avanças.
Deixando-me mais só, desesperada,
Nas sombras da tristeza mergulhada,
Levando dentro em mim desesperanças.

Além deste vazio imenso e rude,
Restou-me a tua ausência desmedida
A preencher meus dias minhas noites.

E sinto das saudades seus açoites,
E desencanto enorme pela vida
Porque viver contigo eu não pude.

EDIR PINA DE BARROS

Um pária coração buscando o alento
Que a vida tantas vezes me negara,
Ainda quando a noite se faz clara
Apenas no tormento me alimento,
O sonho conduzindo ao sofrimento,
A sórdida expressão que se escancara
Do amor quando em verdade nada ampara,
A queda se anuncia num momento.
Pudesse pelo menos ter o abrigo
De quem tanto desejo e não consigo,
Porém ao longe ouvindo, enfim, teu nome,
Acordo e me preparo. Inutilmente,
Somente este vazio se apresente,
E o som, perdido ao vento, logo some...


Marcos Loures


Alento hás de encontrar no meu regaço,
sentindo o meu calor, o meu perfume,
na noite fresca, vendo o vagalume
distante da tristeza, do cansaço.

Oh! Vem! Antes que vire pó, se escume
a chama da paixão, que em ti esvoaço,
quais colibris voando pelo espaço,
sentindo desse amor a força e o lume.

Se tudo terminar, empós, querido,
há de restar em nós a soledade,
lembranças que o tempo não apaga.

Trilhemos nossa estrada, a nossa saga,
sem mais pensar que tudo é vanidade,
quem ferirá, ou vai sair ferido.

EDIR PINA DE BARROS

Em ti eu sei do porto onde asseguro
Atracação suave após procelas
E quando nos teus cantos me revelas,
És luminária em céu brumoso, escuro.
Traçando o quanto busco e configuro
Rompendo do passado trancas, celas,
As horas do teu lado são tão belas,
Esqueço após a curva esta alto muro.
Porém quando me afasto, a solidão,
Qual fosse uma terrível erupção
Destroça todo o sonho que inda havia,
O encanto desenhado no teu rosto,
O sonho em desejos mis composto,
Traduz o quanto trago em poesia.

Marcos Loures


Se tu te arrastas pelos becos, sorrateiro,
Em nome desse amor que foi em vão sentido,
Por certo que demais eu hei também sofrido,
e até a insanidade, tão sozinha, beiro.

Eu vivo a recordar o instante derradeiro
No qual contigo estive e muito hei vivido,
Que agora se resume a outro tempo ido,
Quais cinzas que sobraram dentro do cinzeiro.

Também eu vivo nessas sendas do passado,
Sentindo no meu peito imensa nostalgia,
Sem ter mais dentro em mim por cousa alguma gosto.

E o mais doirado sonho meu? Amortalhado!
Tudo morreu em mim! Tudo! Mas quem diria?!
Mas tu estás em mim! Nas marcas do meu rosto.

Edir Pina de Barros


Quem dera se eu pudesse acreditar
Nas tantas ironias que tu fazes,
A vida se fazendo em tantas fases,
As cãs também vieram me tomar,

O sonho sem sentido; e busco o mar,
Apenas ilusões; de novo trazes,
Devastas meus anseios e sem bases,
Somente o que me resta: desabar.

As tantas emoções; ledas mentiras,
E quando meu apoio tu retiras
A queda se aproxima, simplesmente.

Do grande amor que um dia me afirmaste,
A frágil sensação de uma torpe haste,
Matando cada grão, toda semente...

Nenhum comentário: