Força, bardo!
Querido, tua dor não é segredo!
Dá medo perceber: tua fé se esvai!
Descai o meu semblante e sei que é cedo
Pro ledo engano que tanto subtrai...
É Pai o Criador e só c’um dedo
Degredo manda embora e Satã sai.
Sei vais me compreender, pois que concedo
O enredo do sofrer que sobressai-me
Meu ai que tu conheces, meu irmão!
É vão o entregar-se derrotado
Bocado que tu sabes ser sorvido
Bebido pelo Bicho, pelo Cão.
O não se lamentar deixa-o de lado
Sedado pelo orar do destemido!
Ronaldo Rhusso
Cansado de lutar contras as marés
Bravias desta insânia coletiva,
Ainda quando o sonho sobreviva
Velhas correntes atam os meus pés,
Cansado de seguir noutro viés
Enquanto a fantasia não cativa,
Minha alma da esperança já se priva
E perco o quanto houvera em ledas fés.
Um dia, após o fato consumado,
O verbo conjugado no passado,
Não sobrará sequer algum resquício
Do que pensara ser bem mais suave,
E a cada novo engodo a vida agrave
Cavando simplesmente o precipício.
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