quarta-feira, 20 de julho de 2011

- A DERRADEIRA POESIA

Abordo meus fantasmas com descrenças
À bordo dos meus sonhos, sigo insone
E quando ouço chamar neste interfone
Preparo pra enfrentar mais desavenças.

Não tendo mais nem fé sequer as crenças
Nem mesmo uma palavra que me abone,
Por mais que a solidão não me abandone
Antigas esperanças são imensas.

E quando apodrecendo mais um tanto,
A vida se perdendo em farto encanto
No desencanto grana um novo dia

Imerso nas neblinas corriqueiras,
Arcaicas ilusões erguem bandeiras
E nasce a derradeira poesia...

MARCOS LOURES

Querido, tua dor não é segredo!
Dá medo perceber: tua fé se esvai!
Descai o meu semblante e sei que é cedo
Pro ledo engano que tanto subtrai...

É Pai o Criador e só c’um dedo
Degredo manda embora e Satã sai.
Sei vais me compreender, pois que concedo
O enredo do sofrer que sobressai-me

Meu ai que tu conheces, meu irmão!
É vão o entregar-se derrotado
Bocado que tu sabes ser sorvido

Bebido pelo Bicho, pelo Cão.
O não se lamentar deixa-o de lado
Sedado pelo orar do destemido!

Ronaldo Rhusso

Cansado de lutar contras as marés
Bravias desta insânia coletiva,
Ainda quando o sonho sobreviva
Velhas correntes atam os meus pés,

Cansado de seguir noutro viés
Enquanto a fantasia não cativa,
Minha alma da esperança já se priva
E perco o quanto houvera em ledas fés.

Um dia, após o fato consumado,
O verbo conjugado no passado,
Não sobrará sequer algum resquício

Do que pensara ser bem mais suave,
E a cada novo engodo a vida agrave
Cavando simplesmente o precipício.

MARCOS LOURES

Eu digo que estás equivocado!
Tu és a grande luz entre os poetas
E mártir deve estar, sim, preparado
Para chegar à última das metas.

Sem medo, mas com fé e de bom grado,
Um vate como tu suporta as setas
Aniquilando a dor que é mau bocado
Com versos lindos. E eis que ao mal tu vetas!

Meu caro tu és forte e a Depressão
É mal que nunca dura, eu sou a prova!
Pois quando a dor se vai meu Dom renova.

A fé não morre, pois é a razão
Que leva a tua alma à inspiração
E no que é feio tu tens dado sova!

Ronaldo Rhusso

Porém minha esperança em funerais
Não deixa nem sequer a menor sombra
Que tanto me conforte quanto assombra
Gerando dias turvos, desiguais.

Na alfombra onde pensara haver descanso,
Somente a sensação de algum faquir
No quanto poderia e sem porvir,
Deveras, no final já nada alcanço.

A luta se fazendo quixotesca
Moinhos gigantescos, medos tantos,
E os olhos entre velhos vis quebrantos
Resumem cada cena mais grotesca,

E o que consola quem tanto peleia:
Poder vagar além da lua cheia.

MARCOS LOURES

Eu digo que te enganas novamente,
Pois teu legado é grande e muito encanta.
Só morre quem viveu e, displicente,
Deixou passar em branco a lida tanta!

Irmão, qualquer um vê, és diferente
E a obra tua à toda se agiganta.
Tu és quem põe ess’arte a ir pra frente;
Fazes da poesia u’a arte santa!

Aqui, coadjuvante, eu testemunho
O brilho de teus versos magistrais
Que calam o sonido de teus ais

A alma que expões a próprio punho
Eu tento imitar, mas só rascunho.
E esse teu ser jamais se satisfaz?

RONALDO RHUSSO

Ainda que cogite em poder ter
Nas mãos este buril que me emprestaste,
Jogado pelos cantos feito um traste,
Ausento-me do sonho de viver,

A fonte já secando e sem saber
O quanto poderia em tal desgaste
Traçar além do que deveras eu me afaste,
Buscando a poesia; frágil haste.

Em ti, além do mais nobre parceiro,
Certeza da florada no canteiro
Das tantas verdejantes primaveras.

Mas quando me observando mais de perto,
Aos poucos, lentamente eu me deserto,
Entregue sem defesa às várias feras.

MARCOS LOURES

As feras que se danem, és herói!
Não há poeta vivo qual tu és!
Para que alguém se achegue aos teus pés
Verá na tez o quanto a dor corrói.

Mas esse teu talento ao frágil mói
E tu te entregas, pulas do convés
Da nau da vida eu vejo de víeis
Sem entender: O bom, eis se destrói!

Amigo dor é luxo para os fortes!
Se a vida já não mais te satisfaz
Oh! Satisfaças tu à vida assaz!

Eu peço tão somente que suportes
E morras a mais bela e vil das mortes,
Sem vã tristeza, ess’arma dos boçais!

RONALDO RHUSSO

Maior talento eu vejo em quem com fé
Consegue superar suas barreiras,
E nisto mesmo quando em cordilheiras
Permite-se deveras ser quem é.

Palavras; leva o vento, o que resta,
Depois de tantos medos e vitórias
Moldando a vária tela das histórias
A face se mostrando além da fresta.

Tu és o meu exemplo; em ti vejo,
Em minhas tempestades, o farol,
Meu verso aproveitando o belo ensejo
De poder caminhar bem junto ao sol.

Permite que deveras alto eu brade
Em toda plenitude esta amizade!

MARCOS LOURES

O meu querer é simples, meu amigo:
Mandar tua tristeza ir embora
E ver-te derramando aí a fora
Os versos que pra muitos é abrigo!

É grande a missão que tens contigo
E o mal que te persegue já implora
Pra ir embora, pois que já aflora
Tua força renovada. Que perigo!

O mal tem suas hostes dedicadas
A não querer te ver nos abrigar
Com esse teu brilhante versejar.

Palavras vento levam? Não. Coitadas!
Tu tornas todas elas delicadas
E o planar delas vem nos encantar!

RONALDO RHUSSO

Brindamos com mil versos à esperança,
A nossa companheira e a fornalha
Que gera a fantasia e assim se espalha
Aonde a poesia, em luz, avança.

Nossa alma, tantas vezes de criança,
Vencendo sem temor qualquer batalha
Tecendo com ternura a cordoalha
Que ao infinito tempo além se lança.

Vibramos consonantes harmonias
Poemas que criamos- tu sabias-
Alentam nossos tantos sofrimentos,

Jamais nos perderemos no caminho,
Num mundo muitas vezes mais mesquinho
Cantemos com louvor aos quatro ventos.

MARCOS LOURES

Oh! Sim. Cantar pra mim é sorver vida!
Um bom louvor anima a minha alma
E logo de manhã, antes da lida
Louvar a D’us espanta todo o trauma!

Irmão, a poesia é-nos guarida
E sinto que essa moça nos acalma.
Eu sei que ela é quem a nós convida
A transformar o mundo e isso encalma!

Os quatro ventos são bons aliados
Porque propagam o cantar perfeito
Que sai do teu e também do meu peito!

A vida eu sei nos deixou machucados,
Mas também nos cedeu uns bons bocados
E a esses é que eu canto em tom perfeito!

RONALDO RHUSSO

Se apesar dos pesares sou feliz
Eu devo à poesia este aconchego
Ensina com certeza o desapego
Criando este cenário que ora eu quis.

E mesmo quando a noite é mais nublosa
Os sonhos esvaídos nas sarjetas,
Os brilhos de diversos, zis cometas,
Cevando nos astrais a nebulosa

Que possa nos trazer a plena luz,
Qual fosse uma explosão de tantos sóis
E quando em consonância tu constróis
Encanto noutro encanto se produz,

E mesmo quando a vida nos maltrata
A poesia surge na hora exata!

MARCOS LOURES

É fato, meu amigo! Tens razão!
A poesia clama e obedecemos
Porque direito, esse, nós não temos
De dizer não à doce inspiração!

O recriar o que quebrou-se ao chão
É algo em que com brio nos envolvemos
Porque em nosso íntimo sabemos
Que ser poeta é ir na contramão.

Mas veja como isso é engraçado!
A nossa verve nem é compreendida,
Mas inda assim renova a frágil vida

Que muitos fruem sem olhar pro lado
E ver que a poesia é o legado
Que espalhamos e sem remorso ou brida!

RONALDO RHUSSO

Matizes que deveras percebeste
Num mundo já grisalho e sem sentido,
E quanto mais contigo ora lapido
O mundo segue além do que fora este.

Cada momento enquanto engradeceste
Tornando bem mais forte e decidido
O passo rumo ao farto presumido
No encanto que deveras tu teceste.

E, pareados, temos nos poemas,
Ruptura do que fossem as algemas
Que tanto o dia a dia nos impinge.

A poesia brota a cada instante
E nisto com certeza nos garante,
Qual Édipo vencendo a velha Esfinge.

MARCOS LOURES

Esse brotar de versos me anima;
E toca o meu sentir com mais urgência!
Retorna o entorno para a coerência
E sei que há alegria lá em Cima!

Os anjos, bons poetas, nesse clima
Já tangem suas harpas n’anuência,
Pois sentem que se foi a vil dormência
E resta a esperança em rara rima!

Assim, meu bom amigo, a negra morte
Se sente derrotada e humilhada
Por tua excelente poesia.

Ainda que ela venha e seja forte
Só levará a carne já cansada
E a vida eterna vem com primazia!.

RONALDO RHUSSO

Liberto coração fala por si
E traz a eternidade a cada instante
Dos sonhos, sendo mero navegante,
Amigo, como é bom estar aqui!

Por tanto tempo, alheio ao que vivi,
Meu verso noutro rumo, degradante,
Agora na esperança se garante
E traz ao pensamento, frenesi.

Edênico caminho ao mais sublime
Etéreo desenhar tanto redime
Que nos permite além do que é palpável.

Tornando mesmo o solo mais agreste
Num campo bem mais rico e sempre arável,
O mundo que deveras compuseste.

MARCOS LOURES

Diria: o privilégio é só da gente!
Que sorve de teus versos... Euforia!
Não será derradeira poesia;
Um mestre como tu deixa-a latente!

A História vai mostrar que é diferente,
Em livro ou o que valha em breve dia
Pra fazer entender dicotomia,
Querer e ser poeta, realmente!

Alguém faz um aposto de dois versos?
Se o fiz foi pra deixar bem registrado
O quanto a estupidez me causa enfado...

Em que latrina estão crânios imersos
Dos grandes editores controversos?
Estranho não te ver já consagrado...

RONALDO RHUSSO

Querido, na verdade ainda cismo,
Tentando no soneto em ritmo clássico,
E sou por isso mesmo qual jurássico
Aos olhos do velhusco modernismo.

A vida, porém tanto generosa,
Permite que se encontre no caminho,
Ainda quando exista algum espinho,
Fragrância tão suave de uma rosa.

Eu creio como crês na eternidade,
Nossa alma, noutro estágio no futuro,
E neste novo mundo configuro
A mais real e bela claridade,

E enquanto houver dos sonhos, o jardim,
Mantenho a poesia viva em mim!

MARCOS LOURES

Eu trilho por caminhos bem diversos
Por crer que a poesia assim exige.
Mas sei que minha alma não se aflige
Porque não sou de instar com muitos versos.

Lutar por versos justos e complexos
É como um motorista que dirige
Sem uma infração: ninguém corrige!
Seus atos bons são vistos ou dispersos?

O bem que ele faz é instrumento
Preserva a vida e é muito louvável!
Por isso vale a pena ir adiante!

O Clássico é tesouro! Nobre intento
É dar-se a preservá-lo! É intocável
A alma que se dá a essa constante!

RONALDO RHUSSO

Num tempo onde se busca alguma ajuda
Ou mesmo a insanidade da mentira,
Quem noutro caminhar tente e prefira
É pássaro sem penas, fria muda.

Num tempo onde o consumo se amiúda
E a qualidade expressa mera pira,
O sonho pouco a pouco se retira
Sem nada que deveras nos acuda.

Quisera ter nas mãos este poder
De hipnotizar com mitos e trazer
Um mundo aonde vise simplesmente

O masturbar dos egos na falácia,
Porém faltando para tanto a torpe audácia
Nosso verso se finge, jamais mente...

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