Hão de ficar no ar depois do meu adeus,
Libertos dessas mágoas, dessas mil penúrias,
Das dores que senti porque demais sonhei.
Edir Pina de Barros
1
“Das dores que senti porque demais sonhei,”
Jamais me esqueceria; imenso desafeto,
E quando em solidão, meu mundo vai repleto,
A vaga sensação domina inteira a grei,
O quanto poderia e ao fim nada terei,
Meu barco sem sentido, aborto dita o feto,
Do amor que tanto eu quis, apenas incompleto,
A sórdida expressão que em ti eu cultivei.
Meus sonhos, meu anseio, a vida sem sentido,
O tempo sem proveito, o encanto destruído,
A fúria do que invade e gera pesadelos.
Fazendo da esperança a farsa mais comum,
De tudo o quanto busco, agora sou nenhum.
E os sonhos? Na verdade. É melhor nunca tê-los...
2
“Libertos dessas mágoas, dessas mil penúrias,”
Quem sabe nalgum dia ainda seja crível
Os dias mais gentis, a vida noutro nível,
Vencendo simplesmente as tantas vãs incúrias.
Não adiantaria a fuga para Astúrias,
Tampouco o que trouxesse um solo mais plausível,
Amor nos dominando, um verso que impossível,
Traduz em tempestade as mais diversas fúrias.
Não quero e não pudera apresentar saída,
O jogo sobre a mesa, a rodada perdida,
E o vento desabando em rude vendaval.
Amar é crer no quanto a vida nos traria
Bem mais do que somente a frágil poesia
Buscando na esperança um tosco e tolo aval.
3
“Hão de ficar no ar depois do meu adeus,”
Os brilhos que sonhei da aurora que não veio,
Meu verso se perdendo em tolo devaneio,
Negando o quanto eu quis em sonhos tolos, meus...
A vida declinando após seus apogeus,
O mundo sem sentido e o tempo segue alheio,
Ao quanto desejara e sem sequer um meio,
Distante do horizonte, onde estará meu Deus?
Somente este vazio adentrando o meu peito,
O sonho que vivera agora, enfim desfeito,
O tempo se nublando, as nuvens... temporais...
Respostas que este vento expressa com firmeza,
O todo desejado, agora com certeza,
Responde simplesmente: “amigo; nunca mais!”
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