UM TOSCO AFAGO
Jogado sobre as pedras de algum cais,
Vencido pelas ondas de uma vida
Há tanto sem sentido nem saída,
Vertida em dias rudes e venais,
Enquanto se buscasse ser bem mais
Que a própria solidão já consumida
Nas tramas mais terríveis, na incontida
Visão do quanto fora e sonegais,
Vagando por estranhas heresias
O quanto na verdade não terias
Expressa em agonias o que trago,
Mergulho sem saber se existe porto,
E contra toda sorte, vivo ou morto,
Coleto em cada instante um tosco afago...
MARCOS LOURES
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