"Benedicite"
Bendito o que na terra o fogo fez, e o teto
E o que uniu à charrua o boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada; e o que do chão abjeto,
Fez aos beijos do sol, o oiro brotar, do trigo;
E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo;
E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano,
E o que inventou o canto e o que criou a lira,
E o que domou o raio e o que alçou o aeroplano...
Mas bendito entre os mais o que na dó profundo,
Descobriu a Esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo!
Olavo Bilac
ao bendizer da vida a esperança espúria
que tanto nos maltrata e mesmo me alivia,
encontro na mentira o quanto poderia
trazer noutro cenário, a farsa de uma incúria,
o gesto que maltrata, a fonte da penúria,
a faca penetrando o peito que abriria
aos sonhos o caminho envolto em ironia
deixado ao deus-dará, fugindo na lamúria,
não deixo que se veja a face verdadeira
da estrela derramando a fúria soberana
audaciosamente exposta na falácia
chegando ao mais cruel caminho aonde a audácia
se torna a dama nobre e mesmo até primeira
vangloriosamente a podre raça humana...
Marcos Loures.
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