IOGURTE COM SABOR DE SANGUE
Temos visto diariamente a que ponto a antiga, até certo ponto charmosa, propaganda inserida nos programas de TV, chegaram.
No começo, a tentativa de apresentar um produto subliminarmente colocado em uma cena isolada de uma novela ou minissérie ou mesmo em um filme, criando assim, um certo ar de “casualidade” no fato, gerando um aspecto “romântico” da propaganda evolui para uma coisa desastrosa.
Hoje somos obrigados a conviver com cenas cada vez mais ridículas e, muitas vezes até ultrapassando todos os limites do bom senso.
As propagandas inseridas nos programas de televisão, principalmente as apresentadas pelos “garotos propaganda” que interrompem raciocínios, interrompem matérias, inserindo dentro das atrações dos programas, coisas que muitas das vezes irritam e geram um clima paradoxal.
Outro dia, ao assistir, não sei em qual programa, também não interessa muito de tão parecidos são entre si, uma entrevista sobre o derramamento absurdo de sangue em São Paulo, subitamente, a entrevistadora, deu uma reviravolta total e, pedindo um break na entrevista, se vira para uma senhora com voz irritante e convoca-a para fazer propaganda de um produto relacionado a Iogurte, me deixando com um misto de sangue e iogurte na boca.
Outras tantas vezes, somos interrompidos por dois “simpáticos” senhores vendendo uma máquina digital que: ó milagre dos céus, filma, grava som, fotografa e serve de web cam, como se as outras não fizessem o mesmo, pela metade do preço e sem aquele velho apelo: os duzentos primeiros que ligarem... Levando-me a crer que, como já faz mais de um ano que a ladainha se repete, a venda de tal “maravilha” não tem sido muito grande, ou senão isso é caso de propaganda ENGANOSA.
Mas voltando ao mérito da questão, acredito que esse tipo de propaganda, além de extremamente chato, demonstra a que estágio nossa televisão aberta chegou: Aos tempos da Neide Aparecida, tipo década de 60, por aí.
Além de tudo, esse tipo de inserção brusca e sem sentido na programação, demonstra quão fragilizada nossa mídia televisiva está.
Essa sujeição da mesma a um tipo de propaganda agressiva e, muitas das vezes, enganosa ou pelo menos de produtos com utilidade e/ou eficácia discutível, transmite a mim, pelo menos, uma sensação de estar sendo ROUBADO, na concessão que nós, contribuintes brasileiros, demos para um grupo econômico fazer isso.
Outra coisa que me assusta é a venda de horário, numa verdadeira sublocação dessa mesma concessão para programas de diversos naipes, desde venda de produtos eróticos à propaganda religiosa. A situação chega a tal ponto que “a responsabilidade” sobre a apresentação de tais programas é transferida da emissora beneficiária de nossa concessão para o sublocador.
Creio que esse iogurte com gosto de sangue ainda seja, apesar de primário e de mau gosto, ético; mas a sublocação de concessão pública não me parece muito não. Seria um bom foco de discussão sobre até que ponto podem-se transferir essas benesses do poder público para outrem, sob qualquer justificativa, mesmo financeira.
Agora me dê licença que eu vou ali vender uns cogumelos,
Depois do “merchan” a gente volta a conversar...
MARCOS LOURES
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