quarta-feira, 15 de outubro de 2014

JOÃO BRANCO NA CAPITAL

JOÃO BRANCO NA CAPITAL

A Enéas Cardoso de Castro e José Tiburcio Gonçalves Camaz.

Minha gente! Prú piadade!
Não me obriga a falá, não!
O nosso Chico Mironga,
esse bicho mintiroso,
desta vez teve rezão.
Ele não disse a metade
do que enxergou, Zê Piancó!
Prú Santo Onofre, eu te juro
que a coisa é munto pió!
Mané Joaquim, minha boca
nem tudo póde dizê!...
Eu vi tudo cum estes óio,
que a terra tem de comê.
Logo no prêmêro dia
que lá cheguei, fui robádo
no dinhêro que eu levava,
cum tanto suó ganhado,
c’uma inxada trabaiando
na prantação do roçado.
Prá fazé minha viage,
tu sabe, Chico Francisco,
que eu vendi minha maiada,
toda a criação miúnça
e o meu cavalo o Curisco.
Só dêspois de tê caído
na mardita da candonga,
é que me isbarrei na Côrte
cum o cumpade do Mironga.
Aqui, no nosso sertão,
tem munto cabra ladrão.
Os ladrão destas parage
vem da canáia ruim,
mas porêm, óia, na Côrte,
a coisa não é ansim.
Eu não sabia que os hôme
mais mió e arrespeitado
era os ladrão lá das terra
dos hôme cirvilizado.
Óia: o que eu li tôu dizendo,
se quizê, póde inscrevê.
Cumade!... Nem que vancê
assuntasse um ano intêro,
nunca havéra de dizê
quem me róbou meu dinhêro!!
Fiquei de boca prô á,
quando eu vi no outro dia
a cara do Cundurú
pubricada nos jorná.
Pulas praga que eu roguei,
esse hôme, que me impuiou,
tem de pagá munto caro!
Vancê qué sabê quem foi
que me róbou?!
Um vigáro!!!
Um hôme que a gente bêja,
quando ouve missa, na Ingrêja!!!!
Leve a bréca, meu cumpade,
a tá cirvilização!
Apois o sinhô vigáro
todo o dia tá robando,
e nunca váe prá prizão.
Óia aqui, Mané Bijú!
Não é prú querê falá:
a Côrte, essa Capitá,
pissúe muntas Avinida
de terra e de bêra-má;
tem casa que um hôme leva
um dia intêro a atrepá!
A casa do Perzidente,
a Bibrotéca, o Manrôido,
o Triato Municipá,
tem munta coisa de lunxo,
munta coisa prá si oiá.
Mas porêm tem munto cabra
que anda sempe na Avinida,
nos ôtrómóve ou de pé,
que passa o dia intêrinho
cum uma chica de café!
Vancê tá vendo acolá
um cabra sarambelão,
c’uma camisa arrufada,
uma gruvata pintada,
cum o chapéu sempe na mão,
fazendo prá todo o mundo
uma cumprimentação,
cum os braço aberto e bufando,
que inté parece um pavão?
Um sarará que se dana,
quando vê uma muié,
e váe atraz, no sucáro,
cumo mosca, quando sente
o chêro fresco de mé!?...
Apois bem. Vire o candimba
cum a focinhêra prô chão,
que não cáe daqueles bôrso
nem um nike de tostão.
Nos suburbo, inté parece
que as criancinha não côme!
De tarde, pulas varêda,
vortando do seu trabáio,
eu via passá uns hôme,
que lá se chama — operáio,
pruquê tem cara de fome.
Manzombêra, isfabriçada,
eu não sei que gente é aquela,
que tem os óio tão triste
e a cara toda amarela.
Lá nas rua, nas istrada,
andaiulo tudo prú junto,
vancê não isfréga um ôio,
sem vê passá um trambôio,
uma carroça dourada,
que váe levando um difunto.
Dento da carangajóla
váe o sinhô operáio,
puxado prú dois burrico!
E o carro todo infrorado,
prú seis cavalo puzado,
leva o doutô, o hôme rico!
O cadáve do difunto,
ansim, n’um baú fechado,
váe caminhandó, acóxádo,
prô rancho do çumitéro,
dento de cinco parêde.
Cumpade! Viva os sarváge,
que faz a úrtima viage,
no balanço d’uma rêde, (1)
sintindo o bêjo dos mato,
e as pizada do regato,
que segue a gente cum mágua,
cumo se fosse um caminho
que váe andando, sozinho,
cum as areia feita d’água!...
De vez imquando iscutando
uma viola saluçando!...
Pulos uvido bebendo
o adeus da tarde morrendo,
no biquinho d’um xenxéu!...
Cumo o Isprito, de aza sôrta,
suas pena sacudindo,
váe cantando, váe se rindo,
váe assubindo, assubindo,
cumo um pásso, lá prô céo!
E os doutô tá lá dizendo,
na Côrte, pulos jorná,
que os sertão da nossa terra
não é mais que um hospitá!
Esses doutô dislambido
anda a inventá tanta coisa,
que inté faz raiva na gente!!
Que diabo é crislóstómóge,
diambéta, trumberculóge?!
Quanta porquêra, cumade!!
Quanta palava indecente!!
Pra dizê que meu cumpade
tem nos pé uma friêra,
os doutô enche três livro,
que eu não sei donde esses hôme
váe buscá tanta bestêra.
Manué Brejó, d’uma feita,
quage morri d’uma dô!!
O cumpade do Mironga
mandou chamá um doutô.
Parando um carro na porta,
um Dunga desapióu,
e dênde as unhas dos pé
Ínté a raiz do quêngo,
todo o corpo me parpôu.
Despois, disse prôs de casa
que eu táva munto im pirigo:
que eu tinha uma hôpantite,
aqui, na boca do figo.
Tirou do borso uma pena,
e um papêu todo inteirinho
o diabo iscarafunchou.
Quando eu uvi, meu cumpade,
todo o nome das mêzinha
que o diacho me arreceitou,
eu não senti mais a dô!
Mandei buscá lá na venda
um contra de manduréba,
e o seu Chico Pé de Chumbo
n’um instantinho me curou!
Tudo lá fala de nós,
dizendo que os nossos fio,
perciza de se curá.
Mas porêm, cumpade, a Côrte
é que é mêmo um hospitá!
Se vancê passá nas rua
a cinco hora, cumade,
vancê só vê as criança,
os moço, as moça, os perrengue,
e as muié tomando chá!
Os fio cá destas banda,
que tem muque e sangue quente,
não sabe que coisa é chá,
senão quando tá duente.
Tando na Côrte três mez,
só fui no triato uma vez,
prú via de Dizidéro
um dia me agaranti
que os tá de atô nessa noite
ia falá no triato
destas terra onde eu nasci.
Fui no triato. Apois não!
Ai!... Quanta sastifação
eu havéra de sinti,
vendo os atô, esses hôme
falando do meu sertão!
Mas porêm, que mardição!
Deos do céo nunca aprêmita
que vancés vêje a porquêra
dessa xêta que uvi.
Os inscritô e os atô
pensa lá que os sertanejo
só nasceu prá fazê ri!
Sô mêmo um taparambé
inscrevia aquelas coisa
da nossa terra querida.
Foi tarvez um bacharé,
que do sertão só conhece
as modas lá da avinida.
Quando eu vi dois bobaião,
vestido de sertanejo,
prá cantá n’uma tuada,
cumo o Chico da Boiada
canta aqui cum o Zé Grotão,
eu gritei: — isso é mintira!!
— Fóra!... Fóra os inscritô!!
— É pena aqui nestas mão
— não tê um chiqueradô!
— Se eu tivesse um pêia-boi,
— eu derreava esses hôme,
— todos esses instrangêro,
— prá amostrá que não se brinca
— cum um cabôco rebingudo,
— que não conhece o arfabéto,
— mas porêm que é brasilêro! —
Cumpade — Quanta mardade!
Cumade! — Que farsidade!
O Bêra d’Água, o Aruêra,
O Pedro Caxinguelê,
o Venanço, o Zé Curinga,
a Mariquinha Sapê,
diz tanto verso bunito
e nunca prendêu a lê!
Meu cumpade: a Natureza
é uma carta de A. B. C.!!!!
A poesia dos doutô
desses poeta lá da Côrte,
tá cheia de palavrão,
mas porêm não vale nada!...
É uma coisa atrapaiada!...
É uma atrapaiação.
É verso só de cabeça
Não é cumo os pé de verso
desses cabra d’aqui, não.
O verso aqui do sertão
é uma bêja-frô que se sente
saí da boca da gente,
cum as penuginha inda quente
do ninho do coração.
Mas porêm... Vamo ao triato,
que o caso inda não findou.
Quando o triato acabou,
im riba d’um cambaróte
bateu as aza um frangote,
um cara de bacuri,
prá dizê uma poesia,
c’uma musga sertaneja,
cum o nome de Suvení.
Ah, cumade! Ah! meu cumpade!
Quando o amigo Dizidéro
me disse que Suvení
era o memo que — Sôdade, —
eu não sei o que sinti!
Gritei cum todo o talento
que ele não dissesse os verso,
imquanto eu tivésse ali!!
Que era uma pouca vrégonha!
Que eu era um hôme de idade,
e fio aqui do Brazi,
e nunca incontrei um cabra
que dissesse que Sôdade
pudia sê — Suvení!!!
Esta palavra fermosa
que minha mãe carinhosa,
quando se foi prô outro mundo
n’um bêjo deixou-me aqui!
— Canáia! — entonce gritei!...
Fiz cum as mão um dizafôro!
Butei o chapéu de couro
e logo me arritirei!!
Não falo a vancês das moda,
pruquê só vendo cum os óio,
é possive creditá!
Toda a muié praciana
leva im riba da cabeça,
cumo chapéu, um jacá.
Óia!... Apois se vancês visse
as muié cumo se veste,
lá naquela infernação,
vancês ria, ria tanto,
de arrebentá os purmão.
O’xênte!... Daquelas moda
é mió não dizê nada!
As cabôca sertaneja
não deve sabê das coisa
daquela gente inducada.
Abasta eu dizê, somentes,
que um dia eu vi na Avinida
uma praciana vestida
c’um pano feito de escuma,
mais fino do que uma papêu,
carregando na cabeça
uma galinha arripiada,
batendo as aza, espetada
no topéte do chapêu!!
Cumpade Zé Pernambuco!...
O carnavá lá na Côrte
é o dia que o Capirôto
fez prá festa dos maluco.
A gente vê tanta coisa,
tanta coisa a gente vê,
que inté a gente não sabe
o que a gente há de fazê.
N’outros tempo esse forguêdo
não passava de três dia...
Era três dia e três noite
prôs diabo andá no bruxedo
cum toda a sarvajaria.
Mas porém o que eu achei,
que não tá muito dêrêito,
era a farta de arrespeito
daquela gente assanhada,
que eu não sei pruquê rézão,
andava pula Avinida,
cantando as nossas tuáda!
Magine agora vancê
o canto d’um camboêro
na boca daqueles hôme,
que inté parece instrangéro!
Nós nasceu cá no Brasil!...
Quérêmo sê brasilêro!
Nós é burro, meu cumpade!
Nós fala cumo Deos qué!
A cantiga é brasilêra,
cumo a casa de sapé!
Nós canta im frente da trópa!
A gente chóra nas corda,
cantando a dô, a alegria,
sem precizá da instruvanca
das língua dessas Oropa.
Eles se ri, ri de nós,
pruquê tem a boca cheia!
Um hôme lá da Avinida
não fala cinco minuto,
sem mexê na lingua aléia!
Quágue ceguei destes óio,
quando levei a insguincha
d’um tá de lança préfume,
que, é um canudo de tabóca,
cheio de cachaça quente,
que, ao despois, dêxa na gente
um chêro frio, um cheirinho,
taliquá galinha chóca.
Tem três Assuciedade
o Carnavá, meu cumpade:
— Os Tenente prôs Diabo,
— Os Ferniano, os Dêmóscráta
e inda purriba os cordão.
Óia: eu falo cum leardade:
não gosto daquilo, não.
Minha cumade adiscurpe,
se eu dissé que uma muié,
num giráu, que ia rodando,
im riba d’um carro, óiando
só prá mim, que táva ali,
sem vrégonha e sem sabe
se era sortêro ou casado,
me pinxou com os dêdo um bêjo
e, despois, se pôs-se a ri!
Muié de cara lambida,
cumo aquela, eu nunca vi!
Cumpade, as coisa que eu vi
no diabo do carnavá,
mêmo eu sendo seu cumpade,
me invrégônho de contá!
D’uma feita, eu fui na casa
do seu doutô dos fonósgo,
um cara de jaboti.
Eu fui cum ele assuntá
prá sabê se ele queria
umas tuada me uvi,
e despois butá na róda,
inscrevê no prato preto
uns acalanto de viola
do Cantadô Bemtivi.
Esse hôme que troca língua
cum as arma lá do outro mundo,
e intende aquele fardunço,
foi buscá uma rodela
d’um cantadô das instranja,
que lá se chama: Carunço.
O prato pôs-se a rodá,
e o Carunço abriu a guéla,
que a gente uvindo o turéba,
é cumo se a gente uvisse
os grito das araponga
e a passarada a gritá!
Quando o Carunço acabou,
ânte de eu me arritirá,
eu disse prô doutô Figar
que o cabra tinha purmão,
mas porêm que era perciso
vim aprendê cum os violêro
e os cantadô do sertão!
Eu disse prô sinhô Figar
que ele mandasse o tenô
lá das instranja prá cá,
prá vim prendê a cantá
cum os mais grande cantadô:
— cum o Juca Chiqueradô,
— cum o Bernardino Cabaça,
— cum o Antonio Pedro Cachaça,
— cum o Chico e o José Chicão —
e, despois, que ele vinhésse
um dia aqui, no sertão,
somentes prá ele iscutá,
n’uma noite de luá,
de um luá cheio de ouro,
esse Carunço danado,
vestido todo de couro,
c’uma aguiada na mão,
n’um acalanto chorado,
cantando e tangendo o gado,
na frente do boiadão.
Saí sem dizê mais nada
e inté agora eu não sei
se o Figar me deu rézão.
Manué Joaquim, ouve lá.
Tem lá na Côrte uma casa,
que se chama Acardemia,
e é onde os hôme se ajunta
prá cantá suas poesia.
Ora, agora vêjé bem.
Sabendo já, seu Joaquim,
que a Acardemia era ansim,
butei as véstia de couro,
e, cum meu pinho matêro,
n’um dia de ajuntamento,
fui vê os meus cumpanhêro.
A casa da Acardemia
é taliquá uma casa
de Fazenda ou mió, de Ingenho,
que é cumo se diz no Norte.
O cumpade do Mirônga
me disse que todo o hôme
que um dia tivé a sorte
de intrá nesse Côpiá,
perde o nome de báutismo,
prá ficá sendo chamado: —
Sinhô Doutô Imortá!
Eu jurgava, meu cumpade,
que ali só ia incontrá
Os hôme que faz poesia,
que faz históra bonita
e que inscrêve nos jorná.
Mas porém, quá, meu amigo!
A casa táva crivada
dos doutô que não inscrêve,
que só prendêu a curá,
dos hôme que faz estrada,
dos outro que faz as lêzes,
e um bando de generá!!
Despois eu súbe, cumpade...
Ói só!... Parece incrive
que ali, no meio dos hôme
de intiligença e cachóla,
só tinha um, um somentes,
que gemia n’uma gaita
e puntiava na viola!!
É um cabôco surungánga,
um cabra dizimbambado,
c’uma cabeça de arára,
uns bigode isporeado,
uns óio de onça veadêra,
que tu parece tá vendo
o namorado da Rosa.
— o Antonio das Cuviêra.
Sube despois que esse Cabra
tem munta coisa inscrivido
cá do sertão... Sim, sinhô!
Dizidéro leu prá mim
uma históra, onde ele conta
que andava fazendo cêra
prá menina da Fazenda,
que li tinha munto amô,
e que, despois, n’uma tarde,
prú via lá dos páe dela,
dexando o Cabra incruado,
bateu aza lá do Ingenho
e nunca mais lá vortou!(*)
Dizidéro táva lendo
e eu táva uvindo e chorando,
gostando daquelas coisa
que fala aqui destes mato!
O’xente!... Eu juro a vancês
que esse poeta mandronguêro
tem pauta com o Pé de Pato!
Eu só queria, cumade,
que vancê uvisse a históra,
que ele inscreveu prás parmêra!!
Não sei lá se ele é doutô...
Só sube que ele é chamado
seu Arbérto de Olivêra.
Faz gosto a gente iscutá!!
Os verso daquele hôme
canta no uvido da gente,
que inté parece que o diabo
é fio de sabiá!!
Mas porêm aquelas coisa
que eu não podia intendê,
(Que pena!!) táva inscrivida
na língua dos Imortá!
Se esse hôme da Acardemia
vinhésse entonce prá cá,
e visse um dia sambá
o Antonio das Cuviêra
n’um samba, n’uma fonção,
Seu Arbérto de Olivêra
o mais grande dos violêro
seria o maió campêro
das mata deste sertão!
Cumpade!... Vancê qué vê
o que aqueles hôme é?!
Dêxe vê uma pitada
do seu chêroso rapé.
Ói... Lá, na Acardemia,
tem munto taquarambó
que nunca pegou na pena
prá inscrevê um livro só!
Apois um hôme, cumpade,
um tá de Francisco Arve
lá da rua do Ouvidô,
que inscreveu aquilo tudo:
— um casarão que tá cheio
só de livro, sim, sinhô!...
Esse grande sabedô!!
Esse sábium que dêxou
tudo quanto ele ganhou
prôs Imortá, prôs doutô!...
O mió dos inscritô,
Que inscreveu tanta ciença,
toda aquela livraria,
morreu, cumo um animá,
cumo um burro, que é mortá,
sem intrá prá Acardemia!!
Eu queria intrá na Casa
ao mêno uma vez, (oxênte!!...)
prá sabê se era verdade
que eu ficava prá semente!
Uvindo essas coisa toda,
que Dizidéro falou,
o seu cumpade João Branco,
distemperando a viola,
não quis intrá!!! Não introu!
Agora eu quero falá
d’uns hôme chamado Estáta,
que anda ispaiádo prú lá.
No campo de São Francisco,
vi um sinhô muito séro,
Chamado Zé Bunifaço,
hôme de munta honradez,
que pula cara se vê-se
que ele só véve assuntando
nas bestêra que ele fez.
Ora vêje vasmincê:
esse sinhô Bunifaço
foi feito estata pruquê
foi ele quem ensinou
o segundo Imperadô
a inscrevê e lê purriba
n’uma carta de A. B. C.!!
Mas porêm aquele véio,
virado sempre prá um lado,
c’uma cara de filósgo
e um óiá de Cantadô,
é um veiacão, meu cumpade,
que finge que tá pensando,
e só leva oiando, oiando,
prá vê as meia de cô
das muié que vae passando
pula rua do Ouvidô.
No outro Campo do Rucio,
vi o Reis Pedro Prêmêro,
remunhetando, atrepado
n’um alazão passarinheiro.
O cabra já tá quêmado
do só que leva nas fuça
toda hora... o dia intêro.
Fiquei cum pena do Pedro!
Mas porém, quando assubia
prá li butá na cabeça,
o meu chapéu de tropêro,
o Pedro, que tá cansado
de tê o braço de pé,
gritou, de riba prá báxo,
que eu me vi quage intramado
lá no meio dos sarvage,
das onça, dos caitetú,
das anta e dos jacaré.
Cumo esse Rêis discarado,
esse cara de timbú,
consente que aqueles bruto
têje ali n’um arraiá,
cumo eles vêve nos mato,
sem vregônha, quage nú?!
Os sinhô cirvilizado
póde dizê que isto tudo
tá munto bão, tá dêreito!
Mas porém aquilo tudo
é uma patifaria!...
Deos me livre que a muié,
visse aquela barbaria,
que é uma farta de arrespeito.
Eu fugia dos sarváge
que me queria fisgá,
quando adiente isbarrei
c’um o diabo d’um assassino
e cumecei a gritá:
— Ai Socorro! Aqui, del rei!
Era um tapúia, um cafuzo,
cum os dois óio tão vrémêio,
que parecia cravão!
Eu não sei cumo a Poliça
deixa ali aquele hôme
cum aquele quicé na mão!
É o tá de Seu João Caetano,
um capanga, um valentão.
Se esse bicho é mêmo bão,
pruquê não vem o perrêngue
cum aquele caxêrenguêngue
pra aqui, prô nosso sertão,
brincá cum o Luca, o João Féra,
ou cum o Zé do Cacimbão?!
Sêje prú via somentes
d’arguma grande lôuquêra,
sêje pulas bebedêra...
(apois que ele tá cercado
dos brutiquim dos café...)
ou sêje pulo chamêgo
de toda aquelas muié,
a Poliça já devia
tê d’ali iscurraçado
esse bicho arriliado,
esse hôme provocadô,
que Dizidéro me disse
que tômbêm era um atô.
A não sê Pedro Prêmêro,
inda tem dois Rêis pequeno,
que se chama — marechá
qué dizê dois milita.
O Osóro, que é um generá,
que é o terrô dos paraguáia,
tá iscanchado n’um cavalo,
prá cá da bêra da praia.
No seu piquira amuntado
parece, ansim, afobado
que ainda tá na batáia.
O Caxia, outro guerrêro,
c’umas prósa de campêro,
tá no Campo do Machado,
atrepado n’um bezêrro,
que inté parece um viado.
Quando de noite o Caxia
rasgando os purmão de ferro,
diz: — Osóro!... O que háy prú lá?! —
O Osóro, o outro valente,
que tá sempre de vigia,
arresponde: Não háy nada!
Tôu vendo só, seu Caxia,
cumo faz sôdade a gente
uma noite de luá!!
Ambos os dois lá se intende,
que um e outro é marechá.
Do lado, num jardinzinho,
tá um hôme, sem pangaré,
um sinhô que foi ministo,
e que morreu tendo só
nos bôrso quatro mir ré!
Morreu moço e munto cedo
esse hôme que se chamava
— Seu Bruaque de Macedo.
Só prú via desse moço
tê morrido ansim tão pobre,
sendo um ministo, que é um hôme,
que, se é bom repubricano,
fica rico n’um instante,
se eu fôsse o seu Perzidente,
im vez de ferro ou de bronze,
ele havéra de sê feito
todo de ouro e de briante,
Vi tombêm um outro sábium,
um patrão munto de bem,
que deu cabo d’uns bichinho
e despois morreu tombêm.
O doutô tá c’uma cara
e c’uma filuzustria
de quem tá memo a pensá.
Me disséro que esse sábium
foi o Osóro dos mosquito,
dos maruim, das muriçoca,
vencendo tudo na guerra,
cumo um grande generá!
(Não é só nós, Zé Lourenço,
que véve só n’um hospitá!)
Apois bem. Naquela noite,
indo drumi no suburbo,
que é mió prá se drumi,
passei a noite intêrinha,
cum os dois óio arregalado,
uvindo os mardiçuádo,
que é pió do que os d’aqui!
O que eu digo, Zé Lourenço,
e vancê póde dizê,
é que a Côrte da Repubrica
tem maruim cumo quê!...
N’um campinho... (agora o nome
é que eu não posso alembrá...)
vi um sinhô Consêiêro,
chamado: Zé de Alencá.
Abasta óiá prô cabôco,
prá gente dizê que o bicho
é fio do Ceará!
Munto a seu gosto assentado,
n’um caçuá imborcado,
e um papéu n’uma das mão,
véve inscrevendo umas coisa,
uma históra tão bunita,
que fala aqui das cabôca
e dos cabra valentão.
Aquele é hôme do Norte!
Não é cá de novidade!
E quarqué dia, cumpade,
o Conseiêro, apois não,
prá ficá mais à vontade,
tira as botas e o casacão,
e fica ali de ciloura,
cumo andava lá no Ingenho
do seu querido sertão.
Vi tômbêm o seu Cabrá,
que Dizidéro me disse
que era um sordado do Má,
e que não era d’aqui.
Pulas curversa que uvi,
esse Cabrá foi um cabra,
que tinha tanta cabeça,
que veio de Purtugá,
só prá inventá o Brazi.
Tem mais seu Chico de Casto,
que foi grande professô!
Seu Rio Branco, um ministro
do difunto Imperadô,
que era um dungão alouvado.
e de munta opinião,
que não quis mais que as escrava
tivesse fio prôs branco
vendê prú cinco tostão.
Bem im frente da Centrá,
vi seu Otoni, um Doutô,
que foi tômbêm inginêro,
c’uma carça de vaquêro,
e uma rabona cumprida,
cumo quem leva assuntando
na istupideza da vida...
Um outro Doutô gurduncho,
o seu Têxêra de Frêta,
que Dizidéro agarante
que prá pô preto no branco
nunca teve um outro, não!
Foi hôme que apreparava
vinte lêzes mais depressa
do que vassuncê, cumade,
faz um prato dê pirão.
Oxênte! Esse Doutô gordo,
tá áli no meio da rua,
inibruiádo num lençó,
pruquê Dizidéro disse
que quanto se faz mais lêzes
a coisa ficá pió.
Dizidéro me amostrou
outro Armirante do Má,
um tá de sinhô Barroso
tômbêm de munto sabê,
que leva de noite e dia
berrando, acolá, furioso,
que todo bão brazilêro
deve cumpri seu devê.
Tenho pena do Armirante,
daquele grande guerrêro,
que é mais fáci ispipocá
aquele peito já rouco
de tanto e tanto gritá,
que fazê um brazilêro
um dia só li iscutá!!
Dizidéro me jurou
que essa palavra — devê —
de tanto pezo e valô,
nunca foi bem ixpricáda
pulos tá repubricano:
foi d’uma lingua faláda
no tempo do Imperadô.
Háy mais um outro cabôco,
que foi tômbêm marechá,
cumo o Caxia, o Barrôzo,
O Osóro e o Arve Cabrá!
É o Froriano Pexôto,
o seu marechá de ferro
cumo é chamado prú lá.
Esse cabôco turéba,
na frente d’uma bandêra,
cum a espada na mão guerrêra,
fixe, de pé, dando as costa
prô tá de Alifante Branco
— o Triato Municipá,
dia e noite, noite e dia,
não dróme, não fecha os óio,
cum os óio sempre prô Má.
Daquela canáia toda
só gostei do marechá.
Que diabo tá lá fazendo
aburrinhando o cabôco
uma muié assanhada,
inxirida e tarambéla,
querendo bejá o hôme,
que nem se importa cum ela?
Aquilo é feio, cumpade,
munto fêio, sim, sinhô!
Cá no chão, outra xoróca,
que a de riba iscurraçou,
prú via de querê dá
prô marechá uma frô,
leva ali o dia intêro
e a noite intêra de pé,
dando a frô prá todo mundo,
e que, afiná, ninguem qué.
Quem não vê que aquela históra
é o diabo da ciumêra?!
Prá quê n’uma coisa séra
se foi metê bandaiêra,
ali, nos barba d’um padre,
um padre que tá amostrando
prá uma mocinha uma cruz!!
Agora, diga, cumade,
pulo nome de Jesus: —
o que faz lá do outro lado
um hôme, todo azangado,
cheio de rógo e gangento,
c’um ladrão ajuêiado,
pedindo perdão prô crime
de tê róbádo a porquêra
d’um galo véio e gosmento?!
Apois o raio do hôme
não vê cumo lá na Côrte
se tá morrendo de fôme?!
Será pussíve que o padre
não inxergue aquilo, não?!
D’outra banda, um outro cabra,
que é tarvez outro ladrão,
foi pul’um outro agarrado
e qué fugi dos sordado,
prá não í lá prá prizão.
Apois o raio do hôme
não vê cumo lá na Côrte
se tá morrendo de fome?
E, agora, óxente, eu pregunto:
— que tá fazendo uma preta,
cum outro preto, quage nú,
n’um bate-boca danado,
n’um chamêgo acanaiádo,
fazendo daquela praça
cumo se fosse um zungú?!
O que tem seu Floriano
cum esse casá de aribú?!
Já tôu cansado, cumpade,
de falá só nas estáta!
Só farta falá d’um hôme
que prá nós tem mais valô
Não é reis nem marechá,
e nem sei se ele é doutô.
Sei que é um cabra cantadô,
pruquê fez munta poesia!
Seu nome é Gonçarves Dia!
Agora venha os violêro
suas viola temperá,
apois trago de cabeça
quatro verso brasilêro
prá vancês tudo cantá:
“Minha terra tem parmêra,
“donde canta o sabiá!
“As áve que aqui grogêia,
“não grogêia cumo lá!”
Quem inscreveu estes verso
havera de tá n’um artá!
Toda a minhã, seu Lourenço,
quando Dizidéro lia
as fôia, os jorná do dia,
eu não queria uvi lê.
Aquele papéu, cumade,
era o preto que no branco
táva a gemê... a gemê!
— Um hôme que se matou
— prú não tê o que cumê!...
— Outro que o vapô de terra
— n’um instantinho ismigaiou!...
— Um ladrão, que, prá róbá,
— uma muié safocou!...
— Um tá sinhô Nôrástêno,
— que prú via da duença,
— c’um suspensó se inforcou!
— Uma criança pequena
— que a mãe danada ingeitou!
— Um doutô que na Avinida
— deu um tiro n’um doutô!...
— O seu Francisco Manué
— que prú questã de famia
— meteu o páu na muié!...
— Dois ôtrômóve isbarrado,
— e a fugida do chofé...
— Do travessão d’uma escada
— um operáio caido,
— c’um a cabeça ispatifada...
— Uma casa de negoço,
— que, prú farta de dinhêro,
— o fôgo lambeu cum o fôgo,
— matando quatro bombêro...
— Um mocinho, um cirdadão,
— daqueles lindo pavão,
— dos pavão lá da Avinida,
— que deu um tiro, somentes
— cum o instrondo de pôrva seca,
— na boca do coração!...
Tudo isso, Zé Lourenço,
eu não podia uvi lê!...
Não era um jorná!... Não era!...
Era a cirvilização
que eu táva uvindo a gemê!
Ai, cumade!... D’outra feita,
quando eu cai d’um eletro,
veio o carro da Assistença
e um doutô mixiriquento,
que disse prá Dizidéro
que o caso era munto séro,
apois eu tinha na quéda
quebrado um osso prú dento.
Entonce seu Dizidéro,
trocendo logo o nariz,
me levou no consurtóro
d’um doutô munto falado,
que é cunhecido na Côrte
pulo doutô Raio X.
Quando eu bispei que o danado
queria vê c’uma luz
cá dento o osso quebrado,
eu disse lá prô doutô:
— vassuncê se cansa atôa,
— que eu tenho o corpo fechado!
O doutô se poz-se a ri!...
Apois, cumpade, esse raio
do seu doutô Raio X,
não sabe cumo é que um hôme
fecha o corpo, cumo eu fiz!!!
Chico Mironga, eu pensava
que a Cambra dos Diputado
era a casa do Mercado!
Quá mercado, Zé Piancó!
O negóço inda é pió!
Aquilo parece um côco,
acabando im bate-bôca,
quando os cabra anda arrastando
as azas prá uma cabôca.
Imquanto os adiputado,
n’uma tutubiação,
berrava, batendo parma
cum as boca, cum os pé, cum as mão,
um curinga, a móde bôbo,
um bico de bacuráu,
c’uma cara de véaco,
atrepado n’um giráu,
fazia tanto mungango,
que parecia um macaco!
Não pérciza te dizê
que esse hôme, que era um doutô,
tinha o nome de Oradô.
Quando os dibo se danava,
uvindo o prôsiadô,
o Cabeça, o Perzidente,
prá acabá cum a mapiage,
alevantava o focinho,
e despois tudo acabava
cum o toque d’um xucainho.
Cem mir ré, todos os dia,
ganha os tá de adiputado,
prá fazê tanta arrelia!
Inda tem mais: o Senado!
Mas porêm, óia!.. Afiná...
Tudo aquilo é uma famia!!!
O Imperadô Perzidente
e os Dunga cirvilizado
queria que eu agarasse
na camba do páu furado!
Eu disse prô sinhô Dunga
que o hôme que foi criado
cum o leite verde dos mato,
não dáva mais prá sordado.
Quando o hôme, meu cumpadre,
me disse que era pércizo
sê sordado prá atirá,
eu me ri só, à vontade,
e disse pró generá: —
Vancê fica fixe aqui!...
Eu fico fixe acolá!...
Vancê pega na espingarda,
quando a garruncha eu pegá!...
Eu só faço a puntaria,
quando vancê apuntá!...
É vancê quem váe prêmêro
a espingarda adispará!...
Quando, aqui, dento do cano
da minha garruncha intrá,
a bala que vassuncê
sôrtou prêmêro de cá,
eu quêmo fogo!... E, despois,
vassuncê tem de levá...
(ói bem, seu generá!!...)
— im vez d’uma, duas bala: —
— a bala, que me mandou,
— e a outra que eu li mandá.
O hôme ficou me óiando,
taliquá maritacaca,
quando vê fogo quêmá.
Butei o chapéu de couro
e disse pró generá: —
— Quando os cabra lá da Instranja
— vinhé cum provocação,
— im cada um sertanejo,
— c’um cravinote na mão,
— o Brazi tem um sordado
— nas terra do meu sertão.
Uma noite... (era na festa:
da Virge da Cunceição!...)
Ia vê cum Dizidéro
a ingreja da Capitá,
qué dizê: — a Catedrá.
Zé Lourenço! Zé Piancó!
Quando intrei dento da ingreja
prá fazé minha oração,
fiquei cum os óio assombrado
e uma dô no coração!
Vi tanto luxo cumade,
a ingreja táva tão cheia
de briante e prata e ouro,
que eu jurguei (Deos me perdôe)
que era ali que era o Tesouro.
Despois é que eu vi os Santo,
e, entonce, pedi perdão!
Minh’arma, naquele instante,
não táva na casa Santa!
Táva aqui neste fundão!
O Sinhô Curcificado,
aqueles santo dourado,
o artá, todo inluminado,
não tem, cumade, a tristeza
d’aqui dos nossos santinho,
do Cristo tão pobrezinho
da capela lá do monte,
adonde eu fui báutizado.
Prá quê tanta lunxaria
e tanta luz a briá,
se a Santa Virge Maria,
no meio dos animá,
dêu à luz a Jesú Cristo
na pobreza d’um currá?
C’um cordão abriantado,
um manto todo azulado,
a Virge da Catedrá
não tem aquela humirdade,
aquele óiá de piádáde,
aquela cara bunita
da Mãe de Cristo, a Matúta
d’ali da pedra da gruta,
abrindo os braços prá gente,
cum o seu vestido de chita!
Dento da Casa do Fio
de Deos, minha cumadrinha,
cada moça que passava
parecia uma rainha!
Os hôme, sem arrespeito,
sem humirdade, sem fé,
im vez de rezá prôs Santo,
táva metido nos canto,
mexêndo só cum as muié!
Se a Santa que tá no árto,
de noite fica infeitada
cum aquela luz inventada
pulas mão dos hôme incréo,
a Santinha sertanêja,
a d’aqui, da nossa ingrêja,
tem a luz dessas candêia,
que Deos acende no céo!
Quando eu saia da Ingrêja,
a lua vinha nacendo,
como nace no sertão!
Entonce, óiando prá lua,
rezei uma ave-maria
com todo o meu coração!
A lua, no céo acêza,
é a Santa Mãe da Tristeza!
Apois, quando a lua santa,
cheia de amô e piádáde,
nace ali, naquela serra,
que Deos fez, cumo um artá,
a gente inté tem vontade
de cai de juêio im terra,
dêxando entonce a sôdade,
cum as mão cruzada, a rezá!
Agora iscute outro caso
que se passou lá cumigo.
Dizidéro, que foi sêmpe
um cabra bão, um amigo,
me prometeu uns cobrinho
prá pagá minha passage,
prá mim vortá prá estas banda,
prô meu sertão, prá estas varge.
Três mês cumprido fazia
que eu táva ôsente d’aqui,
lá, no Rio de Janêro.
Mas porém era pércizo
ele arrecebê prêmêro
um bocado de dinhêro
que ele tinha no Tezouro,
que é o diabo d’uma Fazenda
que só tem gente veiáca!
(Eu já disse a vancês tudo
que o Tezouro é uma arapúca,
onde se guarda as patáca).
Todo dia Dizidéro
ia lá nesse cambembe,
onde o diabo se perdeu,
e, cumo ele me dizia,
já cinco ano fazia.
que táva ali percurando
arrecebê uns cobrinho,
uns pataco, que era seu.
Prú via d’um riquirmento,
que ele fez há cinco ano,
nunca vi tanto papéu!
Aquilo tudo grudado,
se avuásse um dia prá riba
cubria as nuve do céo!
Era uma casa indiabrada
de dá fubáca na gente!
Prêmêro a gente falava
c’um servente — o seu Tenente.
O seu Tenente mandava
a gente prô Capitão.
O Capitão, que era um cabra
ainda munto pió
mandava a nós que nós fôsse
se intendê c’um seu Manjó.
Esse, que táva pitando
um bão charuto, falou:
Vancês vá falá prêmêro
c’um o fié dô Diretô.
O tá fié, que era preto,
cumo o rabo dum anúm
disse que nós pércurásse
seu Tenente-Coroné,
um cara de araticúm.
Seu Tenente-Coroné
táva tomando café!
Fez um siná prô fié,
que disse prá Dizidéro
pércurá seu Coroné.
Seu Coroné, afobádo,
que táva mêmo cum cara
de quem cum a muié brigou,
deu um berro isparramado,
ficou todo aburrinhado,
e disse que o riquirmento,
táva lá cum seu Doutô!
(Eu me esqueci de dizê
que na Côrte todo o mundo
traz no dedo o seu ané.
Dizidéro disse, inté,
que de minhã viu um hôme,
que não sabia inda lê,
de noite sê bacharé!!
Agora o mió, cumpade,
é que, despois de fromado,
o seu doutô Anicéto
se esqueceu di que prendeu,
ficando outra vez de novo,
como táva: — anarfabéto!!)
Lá foi a gente, cumpade,
prô seu Doutô, que, de longe,
vendo a gente, arresmungou:
“Fale ai cum esse sinhô”,
“cum seu Rocha, o baritáno!”
O Rocha, que é um cantadô;
que tem cara de criança,
quando acaba de chorá,
uns óio de gavião,
unas perna de pilão,
e um corpo que inté parece
um tronco de jatobá,
disse a gente que nós fôsse
falá cum o seu Diretô.
Ah, meu cumpade, que horrô!
O criado do Diretô,
que era um Coroné tômbêm,
e táva lendo um jorná,
sortando uma palavrada,
virou as costa, gritando:
“O Diretô já não tá”.
E foi-se embora, gingando!
Nós dois fúmo se intendê
c’um seu doutô Vardentáro,
que é o cabeça da istruvanca,
onde se pága o dinhêro!
O hôme que tá na pórta,
cum cara de arcuvitêro,
disse prá nós, cum infáro: —
“Não póde agóra falá!!...
“Vinte muié tá assuntando
“cum seu doutô Várdentáro!”
Despois, me disse, baxinho: —
“Tem paciência, meu fio!
“Esse hôme, vendo muié,
“fica ansim cumo macaco,
“quando vê roça de mio”.
No fim de três mês, a gente
premetemo prá São Guino
três grito, se os hôme achasse
o mardito riquirmento,
que os dontô nunca incontrou.
Mas porêm... Quá.. Meu cumpade!
Cum aqueles categoria
São Guino não tem valô.
Apois, dênde aquele dia
seu João Branco e Dizidéro
fez prô Tesouro uma figa
e nunca mais lá vortou.
Leve a bréca os capitão,
os manjó e os coroné
e a trupia dos doutô!!...
Prá que tanto bacharé?!
Prâ via disso, cumpade,
é que as muié lá da Côrte
vai virá im hôme macho
e os hôme, virá muié.
Quando eu sai do Tesouro,
fui falá cum o Perzidente,
— o Imperadô da Repúbrica,
que é o Sinhô de toda gente.
Ia vê se ele podia
me dá logo, sem demóra,
uma passage de graça,
prá mim pudê vim me embóra.
A casa do Perzidente,
que um hôme leva três dia
só prá andá, prú mais que ande,
é uma casa cumo a Ingrêja,
mas porém munto mais grande.
Quando topei lá na porta
cum um hôme todo dourado,
julguei que era o Perzidente...
mas porêm... era um creado!!
Hoje, aminhã, não, despois!...
Eu li digo, cum tristeza,
que levei cinco sumana
prá falá cum sua Artêza!!...
Inté que um dia o diabo
da sorte me prémitiu!...
Intrei. O Dunga, assentado,
oiôu prá mim e se riu!
Despois de me agaranti
que eu táva mêmo servido,
eu dei prá seu Perzidente
um rôlo de mapingui!
Tirei da ôrêa um cigarro
e, pedindo prémissão,
quêmei a pedra de fogo
e cumecei a pitá.
Prêguntei a sua Artêza
se não tinha, no Palaço
uma gaita ou uma viola
prá umas tuadá cantá.
Sua Artêza, sempe rindo,
cum munta sastifação,
disse que viola não tinha,
mas porém tinha um violão.
Mandou buscá o insturmento,
temperou e abriu o peito
e cumeçou saluçando
o diabo d’um alundú,
que eu pensei, minha cumade,
que táva uvindo nos mato
o chôro d’uma inhambú!
Me alembrando do sertão,
e vendo que sua Artêza
era mêmo um hôme bão,
eu me astrêvi a fazê
o meu úrtimo pedido,
prá despois me arritirá.
— Era prá ele mandá
inscrevê os pé de verso
do alundú que ele cantou. —
Quando ele disse que havéra
de me mandá o alundú
pulo prêmêro vapô
que vinhésse da Alamanha,
agardêci o favô,
e sarvei o Perzidente,
que era o seu doutô Préçanha.
Uma sumana despois,
cai doente de cama
O cumpade do Mironga
mandou chamá p’ra me vê
um doutô de munta fama.
O doutô pôs um canudo
aqui prá riba do peito!...
Mandou ispirrá, tussi;
bateu cum as ponta dos dêdo
na boca do istombo... aqui,
e ao despois, cum muito geito,
me preguntando se eu éra
sortêro ou pai de famia,
me disse que era percizo
eu fazê minha viage
dento de dois a três dia,
apois eu táva sofrendo
d’um má, que não tinha cura,
chamado: lerzão cardia.
Apreparada a bagage,
abracei seu Dizidéro
e lá do Rio parti,
prá matá minha sôdade,
e morrê, mais à vontade,
cá nos mato onde eu naci!
Agora, que eu tôu aqui,
cum vancês tudo: a cumade,
minha afiáda, o cumpade,
a minha véia Bastiana
e a famia, — a obrigação,
posso assuntá que o doutô
foi um hôme da rézão,
quando me disse que eu táva
duente do coração.
Esse doutô, que era ermão
do seu doutô Raio X,
sábe onde tem o nariz!!
Mas porêm vancês não chóre,
que eu tândo aqui cum vancês,
tôu contente, tô feliz!
O grande má, que eu trazia
no coração, que sofria
a tá de lezão cardia
do doutô lá da cidade,
tá curado! Têve cura!...
Não me léva a sipurtura!...
Apois a lerzão cardia
tinha outro nôme: —
Sôdade.

CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE

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