sexta-feira, 17 de outubro de 2014

PORTEIRA ARROMBADA

Tucanolândia - capítulo 14 - depois de aberta a porteira, desmancha-se a fazenda.



Havia, em Tucanolândia, duas regiões distintas onde era enorme a necessidade de se estimular o desenvolvimento econômico regional, pois a disparidade entre essas regiões e o restante do reino era gigantesca.
Uma delas, a Região Norte, era marcada por uma dificuldade natural muito grande, pois a floresta equatorial, sendo a maior do mundo, era um obstáculo tanto ao desenvolvimento quanto ao próprio povoamento racional da região.
Marcada pelo desmatamento descontrolado e pela grilagem das terras, desde o governo ditatorial, quando os militares eram senhores absolutos do poder em Tucanolândia, havia sido criada uma entidade para estimular o crescimento e o desenvolvimento da região, a SUDAM.
Paralelamente a isso, tivemos a criação da SUDENE, outra entidade cujo objetivo era o de estimular o desenvolvimento da região nordeste do reino. Essa região era muito seca, com períodos de estiagem prolongados, marcada pela miséria e subdesenvolvimento.
Pois bem, ambas as entidades tinham objetivos nobres e funcionavam custeando empréstimos e investimentos em projetos para a criação de divisas e de empregos, dando a estabilidade necessária para o desenvolvimento regional.
A SUDAM emprestava dinheiro a juros abaixo do mercado para quem quisesse investir na região equatorial, e a SUDENE, subsidiava recursos para que estes investimentos fossem feitos na região Nordeste do reino.
Para se ter uma idéia da disparidade entre o resto do reino e essas regiões, a mortalidade infantil da região Nordeste e a expectativa de vida eram compatíveis com as dos países mais pobres da África e da Ásia.
Coisa triste de se ver e absurda num reino tão grande e, potencialmente, rico quanto o da Tucanolândia.
Mas, havia no reinado um tipo de sanguessuga que enojava até os piores vampiros da história, especializado em sugar sangue de anêmico e faminto.
Ao perceber que havia esse subsidio, essas sanguessugas tenebrosas começaram, sistematicamente, a pegar dinheiro emprestado para fazerem obras fantasmas ou que eram de porte muito inferior ao declarado.
Com a falsificação de documentos, inclusive a emissão de notas fiscais frias, obtiveram fortunas em empréstimos vergonhosos.
A quantia de dinheiro obtida através da SUDAM chegou a dois bilhões de reais, e através da SUDENE ultrapassou um bilhão e quatrocentos milhões de reais.
Isso devidamente denunciado, provocou uma reação inteligente e enérgica do Rei Fernando Henrique Caudaloso.
Ao invés de, como era de se esperar, tentar resgatar a quantia de dinheiro, pelo menos em parte, subtraída e punir os responsáveis, o Rei FECHOU AS SUPERINTENDÊNCIAS.
A atitude sensata do rei de, mesmo se tendo a percepção da utilidade e da necessidade de se criarem mecanismos para a proteção e estímulo ao desenvolvimento dessas regiões, fechar e acabar com as entidades, nos faz crer o quanto era inteligente e sagaz nosso rei.
A partir daquele dia; a porteira aberta, o gado fugindo, nosso querido mandatário mandou destruir a fazenda.
Quem comeu, comeu, quem mamou, mamou...
E o anêmico e faminto povo das regiões famélicas de Tucanolândia ficou a ver navios, ou o gaiola se preferir...


MARCOS LOURES

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