quinta-feira, 14 de abril de 2011

41

O quanto uma alma crê ser mais plausível
Entoa mansamente a melodia
Que possa renovar a cada dia
O tempo mais feroz quanto impossível
A luta se renova e noutro nível
O quanto se deseja o tempo adia
E marca com volúpia o que viria
Ou mesmo noutro tom, inatingível.
O prazo determina o fim do jogo
E sem que se adivinhe qualquer rogo
Um trôpego caminheiro encontra a queda
Enquanto no final já nada vejo
O dia dita os rumos do desejo
E o tempo no vazio ora se enreda.


42


Mal pude acreditar noutro momento
Aonde o meu anseio se afigura
O quanto se procura em tal tortura
Traduz o que deveras mal invento,
O sonho se perdendo em rude vento
O medo na verdade em amargura
Renega qualquer forma de brandura
E marca com temor o sofrimento.
Alheio aos tão diversos rumos, sigo
Ousando acreditar que o mais antigo
Encontra a tradução noutro vazio.
E sei do quanto pude e não viera,
Sentindo o bafejar desta pantera
Que, incauto caminheiro, eu mesmo crio.


43

Revejo o que perdera a direção
Em dimensão diversa da que tento
E sei do tão enorme sofrimento
Marcando os dias turvos que virão.
Buscasse no caminho a solução
E sei do quanto possa e mesmo invento,
Arcando com o rude sentimento
Toando dentro da alma a solidão.
Propositadamente crio o fim
E neste emaranhado sigo em mim
Vagando sem sentido algum, ao caos
Faltando muito pouco ou quase nada,
A sorte noutra luta desenhada,
A escada apodrece seus degraus.


44

Já não me caberia melhor sorte
Senão a que transcende ao quanto quis
O rumo se moldando por um triz
Galgando num realce a própria morte.
Sem nada que em verdade me conforte,
O peso se transforma e a geratriz
Verdade marca o sonho, este infeliz
Com toda a solidão que traz aporte.
Aborte cada verso e siga em frente
O quanto inda puder, decerto enfrente
E saiba da engrenagem que não cessa.
O amor foi simplesmente ledo engano
O tempo noutro tanto dita o dano
E a vida se traduz vaga promessa.

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Históricos os meus erros, disto eu sei,
O tempo não resume outro fato,
E quando na incerteza que constato
Presumo o que retrato em leda grei,
O verso aonde o tanto eu desenhei
A vida sem saber de algum retrato
Do tanto que perdi e não resgato
Apenas o passado que entranhei.
Meu verso sem saber desta muralha
Enquanto faz um campo de batalha
A cada novo engodo não diz nada
E sei do quanto possa ou mesmo tento
Vencer o meu caminho em sofrimento
Ousando desenhar outra guinada.


46


Durante tanto tempo a vida tive
Conforme a solidão já me entranhasse
Sabendo desde então do desenlace
Aonde o que não pude mal retive,
O sonho a cada engano se revive
E o preço que deveras se pagasse
Moldando a sensação do rude impasse
Não vala cada flor que se cultive.
Espero pelo menos melhor sorte,
Mas sei que na verdade o que viria
Não mais alimentasse a poesia
E nisto renegasse algum suporte,
O verso sem temer qualquer anseio
Seria o que talvez já nem receio.


47


Travando com a vida esta batalha
Em furiosa noite solidão,
O corte se anuncia e desde então
A voz já sem sentindo em vão se espalha.
O prazo na verdade dita a falha
E embaralhando apenas a visão,
Pudesse noutro ponto e dimensão
Ousar no que prepara esta navalha.
A morte sem sentido, o caos, o medo
E quando de tal forma mal procedo
O tempo se expressasse em tom cruel,
Aonde quis um tempo tão somente,
A vida se denigre e fatalmente
Esgarça o quanto fora um manso véu.

48

Determinando o fim, sigo calado
E vejo o sonho mesmo envolto em brasas
E quando em solidão tu já me atrasas
Percebo o meu caminho derrotado.
O tempo sem juízo, o verso dado
Ultrapassando além diversas casas
Enquanto na verdade tu defasas
Os dias noutro tempo relegado,
E quando me evadisse de meu sonho,
Apenas o que possa e decomponho
Traduz o que jamais eu poderia
Ousar nesta verdade e sem destino,
O quanto mais procuro e determino
Expressa a mais suave fantasia.


49

Jamais acreditei no que disseste
Cerzindo outro momento após o tanto
E neste mais diverso desencanto
Apenas o meu mundo mais agreste
E tanto quanto podes tu vieste
Gerando o que se mostra em rude canto
Somente o caminho onde garanto
Expressa a solidão que tu me deste.
Negar alguma luz onde não há
Caminho sem saber se aqui ou lá
O verso se entranhasse neste rumo.
E o vértice se torna perigeu
Meu mundo sem sentido se perdeu
Enquanto da esperança mal consumo.

50


Não tenho qualquer chance, mas reluto
E vejo o que pudera ser diverso
Vagando cada ponto do universo
Ainda que se veja em solo bruto,
O mundo desenhando o tom astuto
Refém do caminhar onde disperso
Meu mundo sem saber de cada verso
O tanto que queria já permuto.
E bebo a solidão, em fartos goles
Os erros costumeiros sei que engoles
E marcas com temor o dia a dia.
Ainda que se fez incoerente
O tanto quanto quero se apresente
Aquém do que deveras poderia.

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