sábado, 16 de abril de 2011

Cansado de lutar inutilmente
Meu tempo se perdera no vazio,
O tempo sem ter tempo, o desvario
Ainda que outro rumo em vão se tente.
O passo segue mesmo impunemente
E o tanto quanto possa traz o frio
E neste delirar, o quanto crio
Expressa o que se faz indiferente
Já não mais me coubera melhor sorte,
A luta sem descanso. O vento rude
E tento imaginar mais do que pude,
Vencendo o que restara, um turvo corte,
E vejo tão somente o que se traz
Envolto no que deixo para trás.

2

Acreditava na vida
Um momento além do não
E singrando a embarcação
Mesmo quando já perdida,
Esperança resumida
No caminho em dimensão
Sem sentido ou previsão,
Noutra face construída,
A vertente mais ousada
A verdade diz do nada
E o momento se redime
Do que tanto imaginava,
Porém a alma ora se lava
Nas searas deste crime.

3

Esbravejo contra a sorte
De quem tanto quis um dia
Desenhar em harmonia
O que sabe não suporte,
Relegando cada aporte
Ao que nunca poderia
Traduzir em agonia
O que agora desconforte.
Gerações entre momentos
Mais doridos, meus lamentos
Lancetados pelo fim.
Ao findar cada esperança
A verdade que me alcança
Traça o resto que há em mim.

4


Já não mais suportaria
Novo tempo nem talvez
O que tanto ainda vês
Noutra face, velho dia,
O meu canto em agonia,
A completa insensatez
O meu tempo de desfez
Onde tanto mais queria,
Vejo o fim de cada sonho
E se posso e recomponho
O meu mundo se perdendo,
Noutro tempo mais sutil,
E o meu sonho se evadiu
Num momento mais horrendo.

5


Nada mais me restaria
Nem sequer qualquer alento
E se tanto quero e tento
Novo tempo ou novo dia,
A verdade moldaria
O que possa o pensamento
E seguindo em tal tormento
Mato aos poucos a alegria.
O caminho na verdade
Nada traz e se degrade
Nas tormentas do não ser,
O meu barco sem destino,
O meu verso em desatino
E a vontade de morrer.


6


O meu mundo se perdendo
Do que tanto desejara
A verdade desampara
Quem nos sonhos faz o adendo
E meu mundo se revendo
Onde possa essa seara
Noite imensa e mesmo clara
Outro tempo, outro remendo.
Falo sobre o fim do jogo
E me entrego inteiro ao fogo
E semeio o que viria
Nestes solos, liberdade,
A palavra que me agrade
Noutro tom dita agonia.

7

Busco os olhos da manhã
Nos teus olhos, e não vejo
O que possa meu desejo
Traz a vida mesmo vã,
A esperança noutro afã
O caminho onde azulejo
O meu mundo num ensejo,
Vida amarga e tão malsã.
O meu prazo se esgotando
O meu tempo outrora brando
Desde quando se mostrara
Sem destino em sorte atroz
Já calando a minha voz
Torna rude esta seara.

8

O meu canto sem valia
O meu verso sem saber
O que possa percorrer
Noutro tempo o que viria
E se tenho dia a dia
O que tanto quis viver
A vontade do não ser
Provocasse uma alegria.
O meu canto se resume
Nesta faca em cada gume
Preparada na tocaia,
O meu verso se assumindo
Onde outrora quis já findo
E hoje o tempo sempre traia.

9


Morto o velho comandante,
O navio segue além
E o que possa e me convém
Noutro tom já se adiante,
O meu barco num instante
Desejando o que não tem,
Tantas vezes traz o bem
E naufraga doravante,
Timoneiro sem saber
Onde possa perceber
Qualquer tom diverso e claro,
O meu mundo desabando
O meu tempo desenhando
Todo porto em desamparo.

10


Nas estradas mais sutis
Nos enredos mais audazes
O que tanto agora trazes
O meu tempo contradiz,
No meu verso, este infeliz
Vejo apenas velhas fases
E se tanto ainda fazes
Levo a vida por um triz,
Restaria muito menos
Do que possam mais amenos
Caminheiros da esperança
O meu tempo se esgotara
Numa lua jamais clara,
A vontade ao fim se lança.


11


O que possa acreditar
Não carrego mais comigo
E se tento e não consigo
Já cansei de me entregar
E o meu mundo sem lugar
A expressão em tal castigo
E o que busco e até persigo
Nada vejo a me tocar.
Ouso crer no que não vinha
A incerteza sendo minha
A palavra me maltrata
Vejo o fim e se talvez
O que tanto agora vês
No final nada retrata.

12


Já não cabe mais o sonho
Onde o tempo se fez rude
E se tanto desilude
O meu canto eu não proponho,
Vendo o quanto possa, oponho
A verdade em atitude
Desenhando o que não mude
E o meu verso mais bisonho.
Onde outrora fora risco
Hoje sinto mais arisco
O meu salto no vazio.
Investindo no passado
Vejo o tempo desenhado
Na esperança que recrio.


13


Se por tanto acreditar
Eu perdi qualquer contato
O que agora mal constato
Traz a fúria em seu lugar,
O meu tempo a desenhar
O que possa e não resgato
Vejo a sorte em ledo fato
E mergulho em rude mar
Nada mais eu poderia
E se tanto até quisera
A esperança, esta utopia
Mostra a face mais atroz
Do que possa haver em nós.

14


Nada mais seria além
Do meu mundo sem sentido
E o que possa e não duvido
Na verdade não mais vem
E o caminho diz de alguém
Que pudera e sempre olvido
Neste canto refletido
Noutro tom e sem ninguém
Que tentara ser diverso
Do que possa ou mesmo verso
Num instante mais sutil,
O meu tempo sem ter lume
A verdade aonde eu rume
Traz o quanto se impediu.

15



Nada mais pudera ser
Nem quisera num instante
O que possa e se garante
Já não traz qualquer querer
A quem sabe que o prazer
Se moldara e se garante
No caminho onde adiante
A vontade a se perder.
Nas entranhas mais diversas
As palavras são dispersas
E as certezas mais cruéis
Bebo em toda esta esperança
O que a vida em vão já lança
Reservado em duros féis.

16


Viveria mais um ano
Ou quem sabe até bem mais,
Mas em meio aos vendavais
Refletindo cada dano
O que possa em soberano
Caminhar diz dos banais
E diversos temporais
Onde sempre ao fim me engano
Nada mais pudera ter
Nem sequer qualquer prazer
A verdade é sempre assim,
O meu mundo sem um prumo
Todo engano que hoje assumo
Traz certeza do meu fim.

17



Nada mais pudera quem
Entre tantos dias traz
A vontade mais mordaz
E o momento sem ninguém
O que a vida não contém
O que a luta já desfaz
Trama apenas o incapaz
Caminhar além do bem,
A mortalha me coubera
E se tanto sei sincera
A vontade de expressar
O que pude ou não pensara
Minha luta se declara,
E não cansa de espreitar.

18

Vento forte me guiando
Onde a vida não seguira
Cada rastro da mentira
Neste tempo desde quando
O meu mundo destoando
Do que tanto se retira
Vejo o olhar e sei da mira
Que se mostra em contrabando,
Bebo o fim do que pensara
Ser diverso ou mesmo além
Do que tanto a vida tem
E domina esta seara
A verdade não permite
Qualquer sonho além limite


19

Num momento mais audaz
Outro tanto se repete
Ao meu mundo não compete
O que tanto o tempo traz,
O que possa ser mordaz
Na verdade se reflete
No que possa e me complete
Noutro tom mesmo tenaz.
O versar sobre o vazio
O meu mundo em desafio
E o momento mais cruel,
Ouso mesmo acreditar
No que possa desejar
Sendo brumas, véu e céu.

20


Participo desta festa
Muito embora nada traga
Ao que possa em leda plaga
A verdade não mais resta
E o que vejo pela fresta
Traz a vida em rude vaga,
O meu mundo não apaga
A certeza que me empesta.
Ouço a voz de um abandono
E procuro e se me adono
Nada resta além do fim,
O meu prazo se termina
E a vontade que domina
Adormece dentro em mim.



21

Amor cuja esperança traz desditas
E marca com as garras afiadas
Fortunas tantas vezes desejadas
Além do que desejas, acreditas,

Cerzindo quando o todo necessitas
Entranha dentro da alma as alvoradas
E sorve noites claras consteladas
E gera do não ser raras pepitas.

Amor, qual sortilégio que apascenta
Transcorre calmaria em tal tormenta
Eclode em tons diversos, seus matizes

Entoa em momentos tão diversos
Da lira envolvendo com seus versos
O quanto gera em doces cicatrizes.


22

Ao visitar dos sonhos o castelo
Amar e crer nas ânsias mais sutis,
Aonde se desenha o quanto eu quis
E traz cada momento onde o revelo,

Meu mundo poderia ser mais belo,
E a sorte não veria por um triz,
O sonho sendo além deste infeliz
Momento que decerto agora anelo.

Escusas entre erráticos cenários,
Os tempos são deveras temerários
E os dias se perdendo sem um porto,

Do quanto poderia ser altar
Apenas vejo a vida se tornar
Gestando dentro da alma um ledo aborto.


23


Naufrágios que enfrentei. Distante cais,
Na ausência de quem possa traduzir
O sonho num momento que há de vir
Após os mais frequentes vendavais,

Meus dias entre tantos desiguais
A senda deslumbrante de um porvir
Que posso tão somente presumir
Em meio aos desacordos mais banais.

O amor em suas tramas doma o quanto
Pudesse e no final já não garanto
Sequer algum momento em paz e luz,

Mas quando transcorrendo além do sonho,
Meu barco nos seus braços quando o ponho
Expressa o que tanto em paz conduz.

24


Aonde eu pus a vida e nada havia
Senão a mesma sorte sem sentido,
O amor envolve e torna o presumido
Cenário em claros tons de poesia,

A luta se desenha e percebia
O canto aonde o todo ora envolvido
Expressa o que sinto e não duvido
Marcando com ternura em fantasia,

O ocaso se permite noutro engodo
E toma com certeza o sonho e todo
Momento se traduz onde tentara

Ousando na verdade em tom suave,
O quanto deste encanto não se agrave
Traçando em raro brilho esta seara.

25


Que queres mais de mim se já sou teu?
O tempo revelando as cicatrizes
E sei da própria angústia e seus deslizes
Aonde o meu momento se perdeu.

O verso desenhado em apogeu
Ousando em mais suaves, tais matizes
Agora na verdade contradizes
E o quanto poderia já morreu,

O prazo se findando, a vida passa
E a sorte desejada mesmo escassa
Avança sobre os restos; desamor.

No cálice em cristal ou mesmo engano,
A vida se desenha em roto pano
E o templo se transforma e mata a flor.

26


Não mais consigo imaginar uma saída
Enquanto no passado fora amor
E agora tão somente a se compor
A mesma história tanto distorcida,

Vencer o que pudera e ter na vida
A sorte como um raro refletor
Vagando seja lá por onde for
Na mesma lenda há tanto proferida.

Repastos tão diversos, verso aquém
Do quanto poderia e já não tem
Sequer a dimensão que eu buscaria,

A luta se desenha sem vontade
E apenas fantasia mal degrade
Encontro as ledas tendas da agonia.

27


Enquanto poderia uma esperança
Reger o passo em torno deste lume
O tempo noutro tanto se acostume
E a vida mais gentil contrabalança

Vislumbro o que possa e não me alcança
Dos sonhos acumulo resto, estrume,
E vejo sem saber por onde rume
O mundo sem sentido ou confiança.

Regendo cada passo, desconexo
O tempo segue em vão e vou anexo
Aos erros mais comuns de quem se fez

Num átimo um momento mais gentil,
Porém a sua história se evadiu
Deixando desamor e insensatez.

28


Guardando estes despojos de um amor
Que tanto poderia ser diverso,
Ainda quando além do sonho eu verso
Presumo o quanto possa em raro ardor.

O tempo se anuncia e como for
O canto se moldando mais disperso
Tramando outro momento ou universo,
O cais se distancia, sem pudor.

E o barco se perdendo em mar aberto,
O rumo que pudera já deserto
E vago sem poder saber do encanto

Da vida sem sentido e sem proveito,
E quando no final; a dor, aceito
Enfrento o que decerto não garanto.

29


Querer-te muito além do que podia
Esta alma sem sentido não trouxera
Senão a mesma senda mais sincera
E nela outra esperança em utopia.

O manto quando a vida ora puía
Não deixa o que se veja nem espera
E traz a mão que tanto degenera
E marca com certeza essa agonia.

Avalizando enganos, sigo em frente
Por vezes tento ser mais coerente
E o fato se traduz neste vazio

Que tanto procurara disfarçar
E sei que nada resta em seu lugar
Somente o que por certo eu desafio.


30


O amor que se conjuga com vingança
Espalha pelas ruas ódio e medo
E quando qualquer passo; além, procedo
A vida se moldando em rude lança;

Perpasso o meu destino e já me canso
Enquanto no não ser eu me concedo
Ousando acreditar em tal segredo
Buscando após o todo algum remanso;

Não tive melhor sorte nesta senda
E quando outra verdade ora se estenda
Rezando na cartilha do non sense,

Amor se perde e gera em turbilhão
A sorte em diversa dimensão,
Mas mesmo assim decerto recompense.

31

O amor que tantas vezes se procura
Envolto nas diversas emoções
E quando sem sentir tu me propões
Apenas vejo em volta esta loucura
E sei do quanto possa e me tortura
Vagando nas mais longas dimensões
E sei dos meus anseios em porões
E neles o que resta em amargura,
O tempo sem acordo, acordes, sonhos,
Os ventos que me tocam são medonhos
E os dias se repetem tão somente,
O quanto mais pudera não resiste
E sigo cada vez ausente e triste
Enquanto a própria vida volve e mente.

32


Os erros são comuns a quem batalha
E nisto me aprofundo sem sentido
O tempo noutro engano resumido
Traduz o que se fez em dura falha,
O amor que na verdade não se espalha
E gera o quanto pude demovido
Da sorte que tentara e sei do olvido
Enquanto a sorte tece tal mortalha.
O rústico momento em tom grisalho,
Tentando para além qualquer atalho
Encontro os meus escombros e sorrio,
Pudesse ser feliz? Nem mesmo sei
Somente outro caminho eu naveguei
Nas margens erodidas deste rio.

33


Bastasse alguma sorte e até quem sabe
Meu sonho novo tempo desenhasse
E vendo a solidão em raro enlace
O mundo sem sentido algum desabe,
Porquanto ser feliz já não me cabe,
O tanto quanto quero demonstrasse
A rústica beleza em leda face
Sem mesmo que esperança ao fim se gabe,
Amar e ter nas mãos quaisquer sinais
Em dias tão diversos, vendavais
Explodem no horizonte sem descanso,
E quando a face escusa da verdade
Expressa o que se quis realidade
Apenas o vazio; agora, alcanço.

34


Olhando fixamente cada olhar
Que busca no horizonte alguma luz
Entendo o quanto possa e ao que conduz
O tempo sem talvez mesmo notar.

O vento traz o quanto a se moldar
No toque que deveras já seduz
E sinto repartida a velha cruz
Que tanto cismo insano, carregar.

E vejo nestes brilhos mais opacos
Os dias entre cortes, sonhos fracos
E cantos sem encanto, apenas isto,

Que valem decassílabos homéricos?
Os tempos se desenham quase histéricos
E sem poder lutar; cedo eu desisto.

35


Quisera a mansidão de um lago apenas
E nada mais traria esta incerteza
Do quanto a vida molda em correnteza
Gerando o que deveras me condenas.
As sortes entre tantas são pequenas
E a vida não trouxera uma surpresa
O sonho poderia em fortaleza,
Porém as noites morrem sem ser plenas,
O canto não ressoa e nada trago
O amor que se confunde num afago
E o vento castigando meus umbrais
Do todo que eu quisera; o nada vendo
Traduz o mesmo tom atroz e horrendo
Gestando tão somente vendavais.

36


Não mais me caberia qualquer sorte
Nem mesmo acreditar no que não vinha,
A luta se desenha toda minha
E nada mais no mundo me conforte,
O sonho que em verdade a vida aborte,
A trama se mostrara mais daninha
E quando se anuncia tão mesquinha
A vida se traduz em medo e corte.
Apenas não queria ser assim,
Iniciando agora o amargo fim,
Firmando o meu olhar noutro horizonte.
O tempo sem saber da dimensão
Do dia que se faz em amplidão
E ao mesmo tempo ronde e desaponte.

37


Amar e ter nas mãos o meu futuro,
E ser além do quanto poderia,
A vida noutro tom em fantasia
O verso mesmo atroz, cruel e duro,
O canto traz o tanto que procuro
E versa sobre o mundo em utopia,
Mas nada do que tenho me traria
Senão este caminho em tempo escuro,
Viajo por estrelas e cometas
E sei do quanto possas e arremetas
Vagando sem saber de qualquer porto,
Meu tempo se esvaíra num segundo
E quando no vazio eu me aprofundo,
Encontro o meu anseio, semimorto.

38


Nas tramas mais doridas da emoção
As sortes entre enganos e desejos
Os tempos mais audazes e sobejos
Traduzem do passado esta lição.
Relembro velhos sonhos, realejos
E bebo a mais diversa dimensão
Do tempo sem qualquer satisfação
Rompendo desde já meus azulejos.
Hedônico caminho se permite
E vejo o quanto possa em tal limite
Marcando com terror o dia a dia
A sorte sem sentido e sem proveito
O quanto se anuncia e sempre aceito
Embora mesmo saiba, não devia.

39

Jamais acreditar no que não veio
E mesmo que viesse não traria
A sorte que procuro a cada dia
E dita o quanto rege este receio,
O mundo segue além e devaneio
Marcando o que jamais se poderia
Traçar em novos tons, esta utopia
Que traz o meu caminho sem rodeio,
Não vejo qualquer tom diversamente
E a vida quando trama e se desmente
Expressa a realidade mais sutil,
O vento açodando esta esperança
Ao menos na incerteza ora se lança
E marca o que de fato nada viu…

40



Não quero qualquer sorte que não seja
Diversa da que tanto desenhei,
A luta se moldando nesta grei
Preconizando além desta peleja
A fúria a cada seta que dardeja
Demonstra o que tanto procurei
E sinto que jamais encontrarei
O amor que mais queria e se preveja.
O sórdido cenário em tom atroz
Ninguém mais calaria a minha voz
Somente esta certeza desfiando
O tempo sem ter mais ancoradouro
O sonho onde em verdade ora me douro
E o mundo que pudera, se negando.


41

A turba lacrimeja em tom sombrio
E gera esta implacável penitência
A vida se moldando em tal ciência
Expressa o quanto possa em desvario
E tento enquanto passo e desafio,
O verso se moldando em inclemência
A luta se mostrara em ingerência
Diversa da que tento e aqui desfio.
Ocasionando a queda a cada instante
O medo no final nada garante
Senão a mesma face mais atroz,
De quem se fez alheio ao que pudera
E alimentando a vida, amarga fera
Bebesse este cenário, rude algoz.

42


O vento que assoprando teus cabelos
Trazendo deste mar tantos segredos,
Os dias entre enganos, mortos, ledos,
Travando em noite escusa pesadelos,
Momentos tão diversos, ao revê-los
Encontro meus caminhos, desenredos
E bebo dos meus erros, fartos medos
E me sito envolvido em vãos novelos.
Já nada mais comportaria melhor sorte
Nem mesmo o quanto possa e não aporte
Senão a solidão tão costumeira,
O ocaso se espalhando pelo solo,
O tempo se desenha em raro dolo
E toda a solidão inda me queira.

43


Com suas próprias garras me tocando
A luta se fazendo dia a dia,
O quanto deste intento poderia
Trazer outro momento mais infando,
O verso noutro tom se arremessando
Vertente mais audaz já não veria
E o peso se transforma em ironia
O mundo se traduz em contrabando.
Acalma-me o que possa ser diverso
E bebo a magnitude de algum verso
Vertendo sobre nós o nada ter
Meu canto sem sentido e sem razão
A morte talvez seja a solução
E o caos negando o calmo amanhecer.

44


Enquanto na parede agora vejo
Imagens incrustadas de um passado
Ao todo noutro tom já revelado
E sem sentir o quanto mais desejo,
Não tendo nem sequer o velho pejo
O tempo se mostrando degradado,
O passo noutro engano desenhado
E o mundo se perdendo onde o prevejo.
O caos se aproximando a cada instante
O quanto se resume e se garante
Expressa a solidão e nada mais.
O canto sem partilha, a morte certa
A porta que se queira sempre aberta
Exposta aos mais diversos temporais.

45


Exala-se deveras tal anseio
Eflúvios de uma vida sem proveito
E quando no vazio eu me deleito
Percebo o desenhar em rude veio,
O tempo traduzindo o que permeio
E gera noutro tempo o rude pleito,
E sinto tão somente onde me deito
O canto sem saber qualquer receio.
Bebendo goles fartos, morte tanta
A luta na verdade não me espanta
Apenas expressasse o quanto quero,
E vejo o dia a dia de tal forma
Que a sorte noutro tom já se transforma
E marca o meu tormento mais sincero.

46


Horrorizado vejo o quanto houvera
Da sensação cruel, já nada resta,
Imagem desta vida mais funesta
E nela o que se vendo trama a fera
O pouco se anuncia e destempera
Marcando cada corte em fina fresta
O olor da podridão que agora empesta
Presume o que decerto degenera.
O vento se anuncia em tom audaz
E o medo quando muito satisfaz
A face de quem pôde acreditar
No errático momento feito em corte,
E bebo sem sentido o quanto aporte
A morte sem sequer saber lutar.

47


Estende-se esta furna aonde um dia
O gesto mais agudo me trouxesse
Apenas o que possa em leda messe
E o mundo com certeza eu não veria,
A sorte se desenha em rebeldia
E mesmo quando o nada se obedece
O passo sem sentido já se tece
E marca com terror esta agonia.
Eu vejo tão somente o que plantara
Cevando a solidão nesta seara
Vestindo o que inda tenho em abandono,
E quando do vazio me apossara
A noite se desenha e se declara
Enquanto do non sense ora me adono.

48


Somente percebendo no final
A rota sem sentido em ermos rumos,
Os dias se esvaindo, ledos fumos
O tempo se mostrando desigual,
A vida não permite o ritual
E nisto sei dos tantos vãos resumos
E bebo do amargor, diversos sumos
E sei do meu caminho ora infernal.
Amar e ter nos olhos a canção
Que possa me trazer contemplação
E negação após o que vivesse
Já não me caberia outro caminho
E quando do passado eu me avizinho
É como se a mortalha ora tecesse.

49


Nos cimos da ilusão, a queda traça
Apenas a verdade em tom cruel,
O roto desenhar de um velho véu
A fúria se moldando em tal fumaça
E quando o meu cenário se desgraça
Redunda tão somente em turvo céu
E vejo esta esperança em carrossel,
No quanto a própria vida queda escassa,
Vestígios de outras eras? Mero sonho,
O quanto ainda tenho e decomponho
Traduz mais fielmente o dia a dia
Meu mundo sem sentido e sem razão
A luta em temida dimensão,
A sorte gera apenas a agonia.


50


Invado imundo fosso: liberdade.
E bebo desta pútrida loucura
A vida que se quer não mais perdura
E o tempo num ocaso se degrade,
A sorte sem saber da realidade
Expressa tão somente o que tortura
E mata o quanto pude em amargura
Gerando o que pudera além da grade
O fim já se apresenta e mesmo assim,
Ainda resistindo busco em mim
Apenas um apoio e nada mais,
Mergulho neste insólito cenário
E vejo o tempo rude e temerário
Envolto nos anseios temporais.

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