quarta-feira, 1 de agosto de 2012

NAS MINHAS FANTASIAS

NAS MINHAS FANTASIAS

Nas minhas fantasias, te vi solta,
As marcas do teu beijo em minha boca,
São labaredas, queimam. Minha escolta
Procura navegar a nave louca...
Mas teimo em estampar minha revolta,
A voz que grita aflita, fica rouca...
Meu tempo que perdi, nada edifica
A dor que já sangrei, me dignifica

Não resta nem sequer teu telefone,
Meus versos que joguei garganta abaixo,
Das noites que passei, quedei insone,
Procuro, tantas vezes, e nada acho,
Quem dera fosse assim, um Al Capone;
Das trevas que passei, um simples facho...
Terias, com certeza, mais respeito.
Amar demais passou a ser defeito!

Vomitas imbecis tais impropérios,
Fazendo dos meus versos, teus faróis,
Das mortes que cultuas, cemitérios,
As notas que queimaste sob os sóis...
Vagando não te temo. Necrotérios
Esperam quem zombava nos lençóis...
A vida fez comédia mais sem graça.
A morte, sutilmente, nem disfarça...

Mas teimas, tuas queimas virão lentas...
As asas assassinas são vorazes,
Na chama que te chama, não esquentas,
As dores que me trazes são audazes;
Nas portas, nas cadeiras, onde sentas
Cortando fortemente essas tenazes...
Não quero nada sinto, nem prazer,
As horas que disfarças sem querer...

Cigarros vou fumando sem ter pressa,
Na fumaça percebo tua cara.
Não pretendo nem quero essa conversa,
A maldita cachaça me enganara.
Sentimento profundo, vil. Ora essa!
A boca que me cospe se escancara,
A noite que não tarda, não te viu,
A mão que te servia vai servil...

Perdeste tanto tempo, mas ganhaste,
Essa batalha torpe que me inventas.
As noites que sequer enluaraste,
Na porta das lembranças são sangrentas...
Não podes reclamar nem que ficaste,
Pois são mais convulsivas, violentas...
Na porta da senzala que m’abrigas,
As velhas, costumeiras, vãs, intrigas...

Não sei mais o teu nome, nem me importa...
Carpi teu corpo, morto na memória,
Fechei a tua casa, tranquei porta,
Jamais vou reviver a nossa história...
A boca que cuspiste já vai torta,
Tristezas que traduzes, minha glória!
Pútridas as manhãs que me feriste,
Nessa tua gaiola, nem alpiste...

Me restam pois somente esses segundos,
Não quero reviver tais leviandades,
Irei te perseguir por tantos mundos,
Mataste, bem cruel, felicidades...
Nos mares, caçarei, ‘té nos profundos,
Abismos onde houver as claridades...
Não sinta-se feliz nem satisfeita,
A vingança será mais que perfeita...

Veneno que bebi já faz efeito,
A cabeça rodando vem a paz...
Olhando pro teu corpo no meu leito,
Não quero mais saber se sou capaz...
As horas que se passam, tudo espreito.
Consigo distinguir lá: Satanás!
As mortes que refiz são libertárias.
As dores que senti, se foram, várias...

Meus últimos segundos esvaindo...
A morte acaricia meus delírios
Teu corpo, nossos corpos já vão indo...
Cobertos estarão por belos lírios
Amei-te... Foi demais, e foi tão lindo...
Valeram enfim todos meus martírios...
Vivi profundamente meu desejo...
Despeço-me com calma, nesse beijo.

MARCOS LOURES

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