segunda-feira, 21 de março de 2011

Não deixaste nem sinal
Quando um sonho; abandonaste,
O que possa ser igual
Noutro rumo este contraste
Quando o tempo em temporal
Já não traz o quanto gaste
Esperança em bem e mal,
Todo o tédio que legaste.
Nego o quanto resta em nós
Ou talvez inda me faça
Muito além do ser atroz,
Ou quem sabe uma carcaça
Modifico a minha foz,
E o futuro? Também passa...


2

Nestas noites mais vazias
Ou nos dias sem ninguém
Onde possa e não virias,
O caminho nada tem,
A não ser cenas sombrias
E deveras com desdém,
Já morrendo as fantasias,
Nada mais quero e convém,
Vejo as chuvas pós estios
Bebo as duras tempestades
Completando os desvarios
Entre tantos que ora evades,
Já não possa nestes rios,
Encontrar felicidades.

3

Aprendendo muito cedo
O que não esqueceria,
Cada passo onde procedo
Não trouxesse novo dia,
O meu mundo sem segredo,
Minha voz em ironia,
O caminho onde concedo
Desde então a fantasia.
Nada mais se fez presente,
Nem sequer o quanto eu quis,
E se o mundo mais ardente
Sempre fosse o mais feliz,
Sem temor algum se sente
Neste instante por um triz.

4


Vida sempre furiosa?
Tanto quero a simples brisa,
Mas a sorte se antegoza
E deveras não avisa,
Onde possa qualquer rosa
Num inferno se matiza,
Primavera caprichosa
Noutro tom nada divisa.
Geração em geração
Multiplico o mesmo nada,
Noutra leda dimensão
Vejo o fim da velha estrada,
E meus dias mostrarão,
Esta senda abandonada.

5

Tantas vezes devaneio
Ao buscar uma resposta
E se tento ou sigo alheio
No que possa e não aposta,
O meu canto não recheio
E nem trago tal proposta,
Sigo após qualquer anseio,
Mesa na alma agora posta.
Beijo a sombra do que fomos,
E deveras não seremos,
Muitas vezes doces gomos
Prenunciam seus extremos,
E o caminho onde somos,
Nunca mais sei que seremos.

6

Acordando o que adormece
Da esperança dentro em mim,
O meu mundo tem a messe
De sonhar e não ter fim,
O que possa e já se esquece
Sempre volta e traz assim,
Muito mais do que merece
Quem sonhou a paz enfim.
Mas o medo não releva
E seguindo sem saber
O que possa e numa leva
Deixa tudo se perder,
Aprendendo com a treva
Pouca coisa eu posso ver.

7

Num instante mais feliz
Ou quem sabe noutro dia,
O caminho que ora fiz
Com certeza não faria,
Marco os olhos de quem quis
Mesmo em vida amarga e fria,
Quando vens, eu por um triz
Noutro tom desabaria.
Sou anseio e me defendo
Solilóquios tão constantes,
O meu passo mesmo horrendo
Traz o tanto em que garantes
O temor em novo adendo,
Ou a vida por instantes.

8


Levo a sorte sobre o sonho
E procuro o que não vem,
Outra vez sigo e componho
O cenário de algum bem
Que deveras anteponho
Ao caminho sem ninguém,
E o meu mundo de enfadonho
Passa a ser o que convém.
Sonegasse com firmeza
A verdade mais austera,
O meu passo em noite ilesa
Alimenta qualquer fera,
Vou além desta incerteza,
Só saudade, o que me espera.

9

Bastaria ter no olhar
Outra lua e nada mais,
O caminho a desvendar
Invadindo siderais,
Possa mesmo transformar
O momento sem jamais
Encontrar noutro lugar
O que agora, insana, trais.
Ouço o mar e num marulho
Sem igual, eu me arremeto,
Onde quero e não me orgulho,
De viver cada soneto,
Transformado em pedregulho,
Outro mundo eu não cometo.

10


Repentista e trovador
Tanto tempo a vida eu quis,
Sem saber sequer temor,
Aprendendo a ser feliz,
Esperança este tumor
Que expressasse o que não fiz,
Vou vivendo o dissabor
Ser decerto este aprendiz,
Nada mais se vendo quando
O meu tempo quis após,
Num instante se moldando
Procurando ver em nós
O que possa nos tomando
Sonegando a própria voz.

11


Jamais tive uma esperança
De mudar a direção
Do que tanto às vezes cansa
Exigindo desde então
Muito além da temperança
Outros tempos que virão,
Num olhar onde se alcança
Com certeza outra estação,
Já não trago dentro da alma
Os segredos de um passado
Que deveras não me acalma
E se mostra estropiado,
E transforma sonho em trauma,
Traz o passo degradado.

12


Resumindo a minha história
Entre o ter e o desejar
Sou apenas mera escória
Nada fica no lugar,
A verdade tão notória
Deixa tudo desmanchar
E o que possa em luta inglória
Renegasse algum sonhar,
Alastrando em tal caminho
Com venenos; demarcado,
Onde fora tão mesquinho
Hoje sigo abandonado,
Da esperança quis o ninho,
Mas o vejo abandonado.

13


Levo a culpa se me engano
E carrego sem perder
O caminho em ledo dano
Onde a pude conceber,
O cenário em roto pano,
O momento sem lazer,
Um anseio desumano,
A vontade de morrer.
Talvez seja meramente
Sinal da melancolia
De quem segue qual demente,
E jamais, pois poderia
Ter o quanto se apresente
Noutro engano a cada dia...

14


Versos fúteis... Disto eu sei,
No final não sobra nada,
Deste aborto que gerei
A esperança degradada,
O caminho já sem lei
Outra morte anunciada,
E o repasto que alcancei
Deixa a sorte relegada.
Nada mais se aproximasse
De quem tanto quis a luz,
E sabendo deste enlace
Que demente ora propus,
Ofereço noutra face,
Sem saber o que a conduz.

15


Nos botecos desta vida,
As diversas ironias.
Tanta noite mal dormida
Tantos erros, ledos dias,
E; portanto, o que lapida
Sabe bem que não verias.
Bem maior do que duvida
Vivem na alma as poesias;
Mas num salto mais certeiro
Nada tendo senão isto,
Onde seja por inteiro
Com firmeza não desisto,
Sou o velho aventureiro,
Se eu me perco; ainda insisto.

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