segunda-feira, 21 de março de 2011

Vida tanto rodopia
Parecendo uma piorra
Tanto faz e sei, faria
Sem ter nada que socorra
Onde possa a fantasia
Mesmo quando a sorte morra,
Noutro instante renascia,
No Japão, Austrália, Andorra.
Venço o quanto não viera
Visto as roupas da esperança
A palavra que insincera
No final já nada alcança
Traz no olhar a mesma fera,
Sem temor e com pujança.

2

Tanta vez quebrando a cara
Nada tenho deste enredo,
A palavra não prepara
Para o tanto que concedo,
E se vejo esta seara
Onde o sonho diz segredo,
O meu mundo desampara
E procuro mesmo ledo,
Visto os sonhos mais venais,
Vendo o quanto se anuncia,
Bebo os velhos temporais
E renovo a cada dia,
Os momentos ou sinais
Onde a sorte não veria.

3

Um moleque sem juízo,
Num quintal onde o passado
Tendo o passo mais preciso
Noutro engano anunciado,
Traz o todo onde matizo
Deixa o rumo e se me evado,
Não se tendo um novo aviso,
O meu canto é degradado.
Visto as roupas da ilusão,
Vejo as sombras do que tanto
Encontrara num porão
E se mostre claro encanto,
Noutros dias se verão
O cenário que ora canto.

4

Protegido pelos céus
Ou vivendo em pleno inferno,
Acendo fogaréus,
Ou buscando algum inverno,
Caminhando sobre os véus
Entre dias, tento terno
Os meus sonhos são ilhéus
Procurando encanto eterno.
Mas se tanto acreditasse
No que nunca mais se veja
A cabeça eu entregasse
Com prazer e na bandeja,
Porém vida se deseja
Noutro tom em desenlace.

5

Sou bisonho e sei do fato,
Não escondo a minha luta,
E se agora não retrato
O que tanto se reluta,
A verdade no destrato
Forma a senda mais astuta,
Caminhando em cada extrato
Não se vê qualquer permuta.
Onde aprendo ou não dependo
Do cenário reticente,
O meu sonho, vão remendo
No final já nada sente,
Quando creia enfim temendo,
É melhor morrer descrente.

6

Na palavra que liberta
A verdade construída
Deixa sempre a porta aberta
Renovando a própria vida,
E se tanto se deserta
Nesta senda uma avenida
Esperança deixa alerta
A saudade envelhecida,
Num anseio sem futuro
Num escuro passo atroz,
O que possa e te asseguro
Já não traz o tom feroz,
De quem salta sobre o muro
Procurando atar os nós.


7

Ventania sem perdão
Já não sei o que irei ter,
Outro rumo e dimensão
Desenhado sem prazer
No caminho da estação
Novo trem; irei perder,
Sem saber deste vagão,
Bem melhor é nada ser,
O meu prazo se esgotando
O meu verso num repente,
O cenário onde o quis brando
Muda tudo e não se sente,
Dentro da alma está nevando,
Só a morte se pressente.

8

Mas ouvindo a natureza
Espalhando em vento e fúria,
O que possa da incerteza,
O que traga outra penúria,
Minha vida com surpresa
Sem ter sonho que assegure-a
Vaga contra a correnteza
Suportando a vaga injúria.
Vejo noites quando os dias,
Os queria ensolarados,
E se tanto inda não vias,
Outros ermos desbravados
Desfilando em agonias
Os silêncios destes prados.

9

Presenteio com o sonho
Quem se fez deveras mais,
E se a sorte; inda a proponho
Enfrentasse os vendavais,
Vagamente em ar medonho,
Vendo as tramas e cristais,
Outros tantos, enfadonho
São processos naturais.
Diversão; diversifico
E procuro algum progresso,
Onde tento e não me explico
Ou decerto ora regresso,
Do total sequer um tico,
Do final; meu mundo; engesso.

10


Volto à cena onde o menino
Aprontando os seus anseios
Entre os ritos do destino
Apresenta novos veios,
Onde o mundo cristalino
Não conhece mais receios,
E o que possa e não domino,
Traz na vida, os novos meios.
Resumindo o que se visse
Ou talvez mesmo tentasse
Superando uma mesmice
Ofereço a velha face,
E se amar fosse tolice,
Neste mal me acostumasse.

11

Jamais pude ter além
Do que um dia foi bastante.
O caminho nada tem
E também nada garante,
O meu mundo traz e vem
Noutro rumo doravante,
Aprofundo-me e ninguém
Sabe a vida noutro instante;
Crendo apenas no progresso
De quem luta e não sossega,
O meu canto onde o professo,
Uma vida atroz e cega,
Noutro rumo eu te confesso,
Barco livre hoje navega.

12


Onde as ondas fossem tantas
E diversa esta procela
As verdades não encantas
Quando a noite se revela.
E deixando atrás as plantas
Sigo em busca desta vela
Que no fim em paz garantas
Outra estrada que se sela.
Vestimentas da ilusão,
Num pragmático caminho
Tantas vezes digo não
E se busco onde me alinho
Espreitando cada grão,
Num canteiro tão mesquinho.

13

Sendo a vida mesmo assim
Sem saber satisfação
O que trago dentro em mim
Já não sabe a dimensão
De um anseio tão chinfrim
Ou deveras da ilusão,
E se posso até o fim,
Vejo o trem noutra estação;
Coração deste mineiro
Do minério em minhas veias,
Onde fora verdadeiro
O luzeiro que hoje ateias,
E no canto mais ligeiro
Desencantos; incendeias.

14

Se as recordações dominam
Os meus passos mundo afora,
Onde os dias determinam
O que vejo já sem hora,
E se tanto me iluminam
As palavras onde ancora
Outro barco e se fascinam
Esperança corrobora.
Apresento ao fim da peça
Um cenário discrepante
E sem nada que me impeça
Vou seguindo num instante
Muito mais do que tropeça
Quem deveras não garante.

15

Falo da alma aonde eu perco
Qualquer rumo que viera,
Na verdade sendo esterco
Outro tempo em primavera,
Apertando sempre o cerco,
Apascento a dura fera,
E se tanto quando acerco
Meu caminho não me espera.
Vislumbrando qualquer sorte
Que pudera ter além
Deste canto onde suporte
Com malícia o que não vem,
O carinho me conforte.
Mas não vejo mais ninguém...

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