domingo, 20 de março de 2011

UMA RESPOSTA INESPERADA

Com a cara mais lambida
Você vem me perturbar?
Deixa de ser tão fingida
Nada resta em seu lugar,
Procurando a minha vida,
Nela eu posso descansar,
Minha estrada está cumprida
Vai cantar noutro lugar!
O problema, minha amiga
Velha peste, cão sarnento,
Só pensando na barriga,
Esperança? Eu não aguento.
E se tanto assim prossiga
Eu não sou nenhum jumento.


2

Tão safada eu nunca vi,
Vagabunda de primeira,
Quando estava sempre aqui
Se fazia companheira,
Mas agora que perdi
Minha sorte, a derradeira,
Vem de novo e vem daí
Alma suja de rampeira.
Juramentos? Nada disto,
Na verdade quero paz,
Com você? Jamais insisto
Vai buscar em Satanás
Seu olhar qual de Mefisto
Amargura é o que me traz.

3

Meu compadre me perdoa
Eu não posso mais conter
A vontade segue à toa,
Mas decerto irei saber
Tão furada esta canoa,
Se eu pudesse, outrora ver,
Vida sendo em paz e boa
Tendo mais que algum prazer,
Mas demônio disfarçado
Sob as coxas da morena
Já vai dando o seu recado,
Num olhar sacana acena,
E este pobre desolado,
Pouco a pouco se envenena.

4

Que o diabo já carregue
Esta bosta que foi minha,
Eu mereço sendo um jegue
Outra peste tão daninha,
É melhor que enfim sossegue
E procure aonde aninha
Esperança enquanto entregue
Pro poleiro essa galinha.
Jogo as cartas sobre a mesa,
E sei bem do que hoje falo,
Onde fora com surpresa
Hoje tanto não me calo,
Seguir contra a correnteza?
Só quando cantei de galo.

5

Mas a peste da mulher,
Agüentava essa porrada,
E do jeito que vier,
No final não dando em nada,
Sem saber até sequer
Com a vida depravada
Dando tanto o quanto quer,
Não sossega esta safada.
Bem que amigo me avisou,
Correu longe sua fama
A cidade já provou
Maciez da minha cama,
E nem sei pra onde vou,
Que a piranha então me chama.

6

Dá vontade de bater
De enfiar na sua fuça
O que possa mais valer,
Mais que a própria carapuça
Pilantragem; possa ver
A vadia da pinguça
Cedo começa a beber
E depois em tudo fuça
Não suporto nem saber
Onde andava esta vagaba
Sem descanso o dia inteiro,
O meu mundo já desaba
Vou vivendo este espinheiro,
É melhor, pois tudo acaba
Neste velho galinheiro.

7

O priminho da sacana
Que morava, pois comigo,
Quando a noite nos engana,
Dava nela o seu castigo.
E esta quenga, a soberana,
Vou falar, mas nem consigo,
Com salsicha e com banana,
Faz a festa. Isto é antigo;
Desde muito cedo a vada,
Descobri decerto tarde,
Com a cara mais lavada
Não deixa ninguém que aguarde
Na garagem, na calçada
Só reclamando quando arde.

8

Meninada faz a festa
Diversão da adolescência
E à pilantra sempre resta
Tão somente esta indecência
Penetrando em cada fresta
Já não tem nem preferência,
Eu bem sei que ela não presta,
Mas prometo providência,
Conversa definitiva
Depois dou o resultado,
Se a danada sobreviva,
Nem matar mais é pecado,
Uma bala então me priva,
De um viver tão transtornado.

9

Só te peço, amigo meu,
Que não fales com ninguém
Qualquer coisa ela perdeu
Sem saber da vida o trem,
Ou então já se escondeu
Onde nada mais se tem;
Na semana recebeu
Com certeza mais de cem,
Se inda desse por dinheiro
Entendia a sacanagem,
Eu montava este puteiro
E com tal cafetinagem,
Mas depressa e tão ligeiro
Nada muda tal paisagem.

10

Sou decerto este panaca,
Com certeza e na verdade,
O caminho aonde empaca
Impedindo a claridade,
Vou cuidando desta vaca?
Muito embora ela me agrade,
De noitinha quando ataca
Traz total felicidade…
Já não sei mais o que faço,
Se eu mudasse esse sofá.
Mas no fundo o mesmo passo
Seja aqui seja acolá,
Só me resta esse cansaço,
É preciso agir e já.

11

Quando chegar de mansinho
Com a cara de coitada,
Mendigando algum carinho
Vou sentar uma porrada,
E depois sem ser mesquinho
Uma coça tão bem dada,
Que depressa pra outro ninho
Corra já esta safada.
Hoje à noite ou amanhã
É preciso paciência,
Numa vida tão malsã
Toda feita em indecência
Só garanto, neste afã,
Não terei qualquer clemência.

12


A mulher tem com certeza
Um sentido mais diverso,
E a pilantra de surpresa
Mudou todo este universo,
Onde achava que esta presa
Poderia e nem converso,
Hoje noutra correnteza
Segue um tempo mais disperso,
São três dias e quietinha,
Nem na rua dando as caras,
Aquietada esta galinha
Sossegando as suas taras?
A verdade não continha
Nem sequer quaisquer aparas.

13

Bicho tão desconfiado,
Da mulher sexto sentido,
Traz o mundo do seu lado,
E o danado convencido
De que é dele este recado,
Mas no fundo não duvido,
Homem tendo fama de safado,
Mas pecado é dividido.
Quase um mês e nada feito,
A vagaba sossegou?
Toda noite quando deito,
Mais depressa ela deitou,
Jogo agora estando feito,
Ninguém sabe quem ganhou.

14

Já perdendo a paciência
Fui falando o que sentia
Por que outrora uma indecência
Uma quenga tão vadia,
De repente (coincidência?)
Sossegada então se via,
Será caso de demência?
Ou então de covardia?
Na verdade eu precisava
Da resposta desta quenga
Resolvendo em fogo e lava
Mais depressa essa pendenga.
Minha sorte então se lava
Na resposta a tal arenga.

15

Ao contar a sua história
Desde cedo, maltratada,
Até que no fim a glória
Pelo amor foi encontrada
De uma sorte merencória
Outra rota iluminada,
E trazendo esta vitória
Com certeza desfraldada,
No que tanto mudará
Ao viver nos braços meus,
No final garantirá
Claridade sobre os breus,
Pois quem tanto aos pobres dá
Emprestara tudo a Deus...

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