Nas estradas desta vida
Tantas vezes capotei
Numa curva em despedida,
Mas também qual fosse um rei
Se eu sanei cada ferida
Noutra mesma mergulhei,
Quem quiser possa e duvida,
Mas eu não dividirei.
Vida ensina mesmo assim
Quando a queda se aproxima
Do começo vejo o fim
E o momento sem prima
Pela flor de algum jardim,
Com atroz ou brando clima.
2
Da coroa feita espinhos
O reinado que se fez
Entre passos mais mesquinhos
Enfrentando esta altivez
Os momentos mais daninhos,
Tanto agora quanto vês,
Almas fossem passarinhos,
Sem saber da lucidez,
Jogo a vida para trás
E procuro o que vier,
O caminho satisfaz
Nos desejos da mulher
Encontrando fúria e paz,
Tudo aquilo que eu quiser.
3
Nada mais se faz presente
Quando o tempo é mais disperso
Ouço o quanto mesmo tente
Emoção em cada verso,
No final um penitente
Neste mundo tão diverso
Poderia estar contente,
Mas o todo é mais perverso.
Já não sinto qualquer brilho
Nem sequer o que não veio,
Nas estradas já palmilho
Procurando sem rodeio,
Desvendar o melhor trilho
Sem temor ou devaneio.
4
Quando vejo o meu passado
Neste tal retrovisor
Do momento degradado
Das estradas de um amor
Que deveras desolado
Foi um passo redentor,
E decerto sempre ao lado
De quem fora espinho e flor,
Eu pudesse pelo menos
Ter certeza de uma sorte
Noutros dias mais serenos
Onde o todo nos conforte,
Sem querer outros venenos,
Cicatrizo qualquer corte.
5
Vicejando em primavera
O que tanto desejaste
Na verdade o que me espera
Corre o risco do desgaste,
Mas a vida se tempera
Noutro tempo e se notaste,
A voraz e tola fera
Traz na luz claro contraste.
O meu mundo se apavora
E decerto se escondendo
Do que tanto sem demora
Pude ter em dividendo,
Quem pudesse a qualquer hora
Noutro tempo ora se vendo.
6
Mas jamais abaixo o facho,
Sou assim impertinente,
O caminho quando eu acho
Traz o tanto que se sente,
Não quero cara de tacho
Nem sequer o que apresente,
Não seria teu capacho
Nem teu mundo ora frequente.
O destino nos afasta
O desejo me aproxima,
O que possa em senda gasta
Noite amenizando o clima,
A santinha, pura e casta,
Pela fúria além se prima.
7
Jogo as cartas claramente
E não quero nem blefar,
O que possa e me alimente
Encontrando no vagar
De uma vida plenamente
Onde tudo faz brilhar
Anuncia e não mais mente,
Cada coisa em seu lugar.
Já não posso e nunca pude
Na verdade ser contigo,
O meu passo bem mais rude,
Bem diverso não consigo
Caminhar em plenitude,
Contra o frio e desabrigo.
8
Nos meus olhos a lembrança
Do que tanto desenhei
A palavra doce e mansa
Que jamais eu escutei,
O que possa e não me alcança
Noutra sorte vira lei,
Quando boto na balança
Muito além do que pesei,
Já não posso mais conter
O que a vida nunca cala
A minha alma em desprazer
Adentrando tua sala,
Sabe o quanto faz sofrer
Ser decerto uma vassala.
9
Se eu prossigo de tal forma
Sem falar demais ou mudo,
O caminho me transforma
E eu também deveras mudo,
Se a saudade nos deforma,
Noutro passo não me iludo,
E depois de uma reforma
Vou deveras mais agudo.
Sendo assim tão discrepante
Cada passo que se dê
O caminho se adiante
E não vejo mais por que,
O que tento doravante
Nem sequer a vida crê.
10
Quero apenas liberdade,
Mas sei bem o quanto custa,
Cada passo onde degrade
Sem medida clara e justa,
O caminho em claridade,
Com certeza não assusta,
Mas na dura ansiedade,
Esperança então se susta.
Desvendando em todo vento
O que possa em dimensão
No cenário aonde tento
Outros passos se darão,
Meu olhar seguindo atento,
Aprendendo esta lição.
11
Nas estradas com certeza
Capotando a cada engano,
Outro tempo em correnteza
Aumentando sempre o dano,
O meu mundo sem leveza
Não seria soberano,
Mas a própria natureza
Dita a queda onde a profano,
Restaurando o meu caminho
Navegando em cada atalho,
Se decerto eu sou daninho,
Tendo o quanto inda batalho,
Do final eu me avizinho,
Num momento bem mais falho.
12
Mas procuro qualquer ponto,
Mergulhando no infinito,
E se tanto agora apronto,
Meu caminho eu necessito,
Na verdade se eu desconto
Outro toque segue aflito,
E se possa não remonto
Ao que busco ou acredito,
Deixo marcas onde passo,
Nada mais seria assim,
Mas agora no cansaço
Aproxima em paz o fim,
Desatasse então tal laço,
Mas vou preso dentro em mim.
13
“Nada entendo de abandono”,
E cansado de lutar,
Do que possa já me adono
Procurando onde encontrar,
O que traga além do sono
Canto aonde descansar,
E qual fosse um cão sem dono,
Encantando-se ao luar.
Nas matilhas em tocaia
Tantas vezes percebi,
Outro tempo onde se traia
O que tanto quis aqui,
Tão distante mar e praia,
Mesmo assim o concebi.
14
Mas espero finalmente,
Que tu possas encontrar
O que tanto se pressente
E pudesse te ajudar,
Na verdade a vida mente
Não desmente e sem parar,
O que toma firmemente
Meu caminho; o delirar.
Já não vejo qualquer fonte
Onde a luz possa surgir,
Neste tão belo horizonte
Mesmo quando redimir,
O cenário que se apronte,
Já não possa mais seguir.
15
Determino o fim do canto
Onde possa ter a paz,
E se vejo em desencanto
O que a vida ora me traz,
Na verdade o que garanto
Mesmo sendo tão mordaz,
Não bastasse para o pranto,
Nem deixasse para trás
O canteiro enquanto cevo
Florescências divinais,
O meu mundo quis longevo,
Mas agora é nunca mais
Destas sombras que hoje levo,
Meus presentes tão banais...
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