Jamais pude acreditar
Nos momentos onde a sorte
Não trazendo o que comporte
Desenhasse em tal vagar
O caminho sem um norte
Sem vontade de chegar
E se mostra a divagar
Sem saber do quanto corte,
Adiando o sonho eu tenho
As entranhas do passado
E se possa em desempenho
Mais diverso e desolado,
Vento traça em traiçoeiro
Verbo aquém do corriqueiro.
2
Nos escândalos das lutas
Entre nadas e vazios
Os meus olhos, desafios,
Onde em vão tanto relutas,
Mas palavras sempre astutas
Poderiam desvarios
Presumir em tantos rios
O que nada mais escutas,
Espreitando a mera queda
Do que possa sem proveito,
Quando o fim já não aceito
O passado sempre veda
O meu canto em desenredo
Condenando-me ao degredo.
3
Ao tentar ingenuamente
Um momento mais tranquilo
Onde quer e já destilo
O meu verso impunemente
Trago o tanto que se sente
E decerto não vacilo
Ao saber do velho estilo
Morta em nós qualquer semente.
O somente não se faz
De maneira mais audaz
E trazendo a luta insana,
Depois disso o que se vê
Sem saber mesmo algum por que
No final nos desengana.
4
Braço forte de quem luta
Contra as trevas e procura
Na palavra mais astuta
O que traga enfim a cura,
No meu mundo o quanto escuta
A esperança em tal loucura
Depois disto esta amargura
Não se faz em tal batuta.
O meu pranto não se cala,
A verdade em mim não vendo,
Penetrando quarto e sala,
O que vejo tanto horrendo
Entranhando dentro da alma
Gera a dor e mata a calma.
5
Aprazíveis sonhos quando
O meu canto não viera,
Sem saber sequer da espera
Onde o mundo desabando,
Esperasse em contrabando
A palavra mais sincera,
O caminho degenera
E o meu caos se desenhando.
Restaurasse uma vontade
Que jamais pude escolher
O meu canto em desprazer
O meu verso se degrade
E não possa ter sequer
O caminho que se quer.
6
Mais um dia, novamente
Mente roda e nada traz
E o meu canto mais mordaz
Expressando fielmente
O que tanto já se sente
Não desmente o passo audaz
E deixando para trás
O que pude finalmente.
Resgatasse o que não veio
Nem tampouco poderia
Traduzir qualquer anseio
Numa noite amarga e fria,
O meu rude desenhar
Nada encontra em tal lugar.
7
Lúdicas palavras vêm
Aplacando o sofrimento
E deveras quando tento
No final vejo ninguém
E o meu canto em tal desdém
Espalhado pelo vento
Traz em si pressentimento
Do vazio que contém,
Nada possa quem se inventa
E se busca a mais atenta
Expressão em luz e glória
No final já se aproxima
Do que possa em rara estima
E mergulha noutra história.
8
Das palavras mais sutis
Verbos soltos vida afora,
O que pude e me devora
Não transcende ao quanto eu quis.
O cenário agora gris,
O versar onde apavora,
Esperança traz e aflora
O momento em cicatriz,
Restaurando o pesadelo
Emergindo do que eu sei,
Tantas vezes sem tal zelo
Noutro engodo mergulhei,
E se posso mesmo vê-lo
Meu anseio turva a grei.
9
Nas palavras mais fiéis
Onde vejo tantos méis
E proclamo esta amargura
Tão diversa da ternura,
O caminho em seus papéis
Os anseios, carrosséis
Onde nada mais perdura
E deveras me assegura,
Verso tento e nada trazes
Espreitando velhas fases
Louvo a lua e no final,
Entre estrelas neste astral
Resumisse a minha espera
Onde o nada, nada gera.
10
Cravejando com brilhantes
Esta estrada que passaste
Onde a vida dita o traste
Novo passo já garantes,
E pudessem deslumbrantes
Os caminhos, mas notaste
Quando a vida traz desgaste
São meus dias degradantes.
Os antrazes desta sorte
Que jamais possa e conforte
Cada verso em tom menor,
Versejando em agonia,
O que posso a cada dia,
Já não dita meu suor.
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