Eu trago, nos meus olhos, a saudade,
De quem jamais devia me ausentar;
Sem ela, desconheço claridade,
Sem ela, vou buscando meu luar...
Quem dera Deus tivesse compaixão,
De quem , errou na vida sem saber.
De quem somente teve sempre não,
Como resposta hostil, sem ter por que...
Não quero mais sentir a ventania,
Roçando meus cabelos, sem ter pena.
Quisera conhecer, um novo dia,
A noite, cruelmente, faz novena...
Vencido por temer guerra e fastio,
Num último poema, tento vê-la;
Sem ela, não existo, sou vazio,
Vagando, vaga-lume, quero estrela...
O zéfiro respira, me bafeja,
Transgrido as ordens, erro sem destino;
Perdido, sigo tendo essa peleja,
Perdendo meu sentido, desatino...
Quem dera se pudesse ser criança.
De novo correria para os braços;
Daquela que pensei, triste lembrança,
Um dia cerraria tantos laços...
Mas sinto que não posso resistir,
Em vão procuro tenras mansidões.
De tudo não consigo nem pedir,
Paz renovada, lastro dos perdões...
Momento atroz , penumbra d’existência,
Cartas jogadas fora, sem valor.
Te peço, tão somente por clemência,
Quem dera conhecesses minha dor...
Quiçá, então tivesses piedade,
Num último delírio dum poeta.
A vida não seria, essa verdade
Que extermina, de forma tão completa.
Amores já os tive, e os perdi,
Retratos bolorentos do passado.
Mas amar, tal qual amo, só por ti
O meu verso entoando triste brado...
Nunca mais te terei, minha centelha
Dessa luz que transporta meu desejo.
A lágrima que escorre vai vermelha,
Da boca que sonhei com tanto pejo...
Arranco dessa rosa, seu pendão,
Espinhos vão cortando os pobres dedos.
A terra vai s’abrindo, some o chão,
Em volta, nos contornos, só meus medos...
Vencido pela angústia e pelo fado,
Meus pés vagueiam loucos por estradas.
Que nunca compartilham, mesmo lado,
Seguindo paralelas, já cansadas...
Meus mares são vazios, sem marés,
A barca dos meus sonhos naufragou.
Eu pergunto a mim mesmo, se tu és
Meu todo, me responda o que sobrou?
Vivendo sem ter rumo e sem porém,
De que me serve luta sem ter glória.
Sem ter porque viver, sem ter alguém,
Meus dias vou perdendo, na memória...
Enfim, melhor morrer se não te tenho,
De que me servem festas da natura.
As matas todas, por onde eu me embrenho,
São cadafalsos, plenos d’amargura...
Te quero tão somente por querer,
Eu te fiz minha lira e minha voz.
Procurei por alhures, mas cadê?
A noite me tragou, vida feroz...
Quem sabe num momento de ternura,
Possamos reparar o que findou.
A luz, enfim, brilhando, noite escura,
Me traga essa esperança que restou...
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