Considerações sobre Aparecida
Em 1717, na cidade de Guaratinguetá, Estado de São Paulo, Brasil, após várias horas pescando sem resultados, três pescadores retiraram do rio Paraíba o corpo de uma imagem sem cabeça.
Em seguida, lançada a rede novamente, encontraram a cabeça da imagem. Surpresos, lançaram a rede pela terceira vez e a pescaria foi tanta que puderam encher suas canoas.
Esses três pescadores, Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, limparam a imagem apanhada no rio e notaram que se tratava da imagem de Nossa Senhora da Conceição, de cor escura.
Uma das coisas que me chama a atenção na história do encontro dessa bela escultura, se traduz em algo relacionado ao país onde foi e a época em que foi feita e encontrada.
Recordemos que nosso país, colônia portuguesa na época, era uma terra escravagista e não somente isso, era , por ser colônia, um local extremamente distante do sentido de liberdade.
À época, na Europa, estávamos no auge do movimento Iluminista, onde tínhamos uma efervescência cultural, com a tentativa da valorização do ser humano e o renascer das idéias científicas com afastamento da explicação religiosa cristão-judaica para a formação do universo e da humanidade.
Maria, mãe de Cristo, uma figura ímpar do Cristianismo, apresentava-se já como uma presença constante na formação religiosa na época.
A imagem de Nossa Senhora da Conceição desde o ano de 1646, era padroeira do Reino de Portugal, portanto extremamente conhecida pelos religiosos e pelo povo brasileiro naquela época.
O que nos faz supor que, por ser conhecida e ter uma “face” popular tanto em Portugal quanto na colônia brasileira, inspirava os católicos de ambos os povos em suas orações e promessas.
Num simbolismo extremamente condizente com a época em que foi encontrada, temos a imagem de uma Maria Negra, ou melhor, de uma Nossa Senhora da Conceição negra.
Isso me permite imaginar que o genial escultor, a tenha feito propositadamente como uma forma de protestar contra a escravidão absurda e violentamente contrária aos ideais humanistas e iluministas, assim como contrário ao conservadorismo da Igreja Católica naquele período da história.
Podemos imaginar também que, no interior de uma província como São Paulo, distante da capital colonial e basicamente rural, a descoberta de tal escultura seria equivalente a condenação à morte.
A destruição e a “eliminação” das provas, ou seja da escultura seriam a única alternativa para que o escultor não fosse condenado à morte, pela Inquisição Católica por heresia, e pelo Reino de Portugal.
Os fatos que decorrem disto, demonstram que, realmente a Igreja Católica passou a fazer do “limão, a limonada”; ou seja, utilizou-se do encontro da maravilhosa estátua, no seu sentido representativo de liberdade e de igualdade, para torná-la em “abençoada”.
Tempos depois, um compositor se utilizou da imagem dos “Anjos negros” para fazer um protesto equivalente.
O que podemos dizer é que, a Estátua de Nossa Senhora da Conceição Negra, traduz uma fantástica expressão de protesto contra o Conservadorismo Católico e a favor da igualdade entre os povos.
E, demonstra como um escultor ou melhor, um corajoso e anônimo libertário, escapou da morte e teve transformada, pela própria Igreja que criticava, sua obra em PADROEIRA DO FUTURO PAÍS QUE NASCIA, perto dali, nas margens do Ipiranga...
MARCOS LOURES
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