segunda-feira, 19 de abril de 2010

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30131

Numa luta incessante em busca do meu eu
Em solilóquio espreito algum momento aonde
A vida por si mesma enquanto me responde
Arrasta pouco a pouco o que já se perdeu.
E quando me percebo às vezes um ateu
História sem saber porquanto tanto esconde
O quadro mais atroz por mais que se arredonde
Arestas tão sutis; deveras conheceu.
Um resto de ilusão, um medo sem por que
O quanto se queria e nunca mais se vê
Pedaços de uma vida expostas num porão
Retrato na gaveta a mortalha de um sonho
E vendo caricato olhar tolo e risonho,
Pudesse num instante em terna migração...


30132

Sendo um algoz canalha a vida se permite
Viver a cada instante o quando já não pude
Meu caminhar sombrio, espúrio enquanto rude
Não reconhece mais sequer algum limite
Por mais que ainda tente ou mesmo inda acredite
Não vejo o que restou nem sombra, juventude
E quando a vida cobra um pouco de atitude
A sorte desregrada evoca em vão palpite
Andando bar em bar em ronda interminável
Procuro cada parte ainda que sombria
Do que se fez verdade e o tempo corroia
Não tendo mais visão de um quadro mais palpável
Brumosa realidade invade e me tomando
Traduz alguma luz num tempo ora nefando...


30133


A sorte quase sempre expressa um novo acerto
Aonde a vida possa entranhar por diverso
Caminho em que se veja ou mesmo se disperso
Delírio onde meu sonho enfrento ou já deserto.
E quando a fantasia em tempo mais aberto
Expressa a realidade e toma este universo
Por vezes mais sutil, sobre o que tento verso
E quando me percebo, ainda estou alerto.
Talvez pudesse mesmo entranhar terras tantas
Sem ter qualquer defesa e nelas me quebrantas
Sabendo desta inércia enquanto nada pude.
Assim ao me perder encontro restos tais
Formando este arremedo aonde vi cristais,
Matando alguns sinais; longínqua juventude...



30134


Ausência de amizade e mesmo o desamor
Conduzem passo a passo humanidade enquanto
Pudesse se criar quem sabe em novo canto
O verdadeiro gozo aonde em tal louvor
Ouvíssemos talvez o encanto redentor
De quem se fez além de um vão, mero quebranto
Imagem mais perfeita aonde eu vejo o amor.
Não pude com certeza além do passo audaz
Sabendo alegoria apenas uma paz
Que tanto desejei sem faca, foice e bala,
Mas quando vejo assim seara em pedra e pus
O sonho mais tranqüilo ao qual nunca me opus
Invés do brado imenso, agora em vão se cala...

30135


Coração tropical em alma lusitana
Assisto ao meu caminho em ambos continentes
Alegrias sutis em dias descontentes
O encanto do saber enquanto a voz se engana
O rosto enternecido, uma alma soberana
Os cortes da saudade; olhares mais distantes,
Assim ao me sentir no quanto me adiantes
Fazendo do meu verso a forma sã profana
Bocagiano sonho irônico Pasquim,
O mundo todo cabe, em mares dentro em mim,
E tento prosseguir embora em passos vãos
Das rendas de além mar, aos vinhos tropicais
Licores em quadris, românticos varais
Crisântemos, canteiro, em vários, vagos grãos...


30136


A lâmina cruel adentrando esta pele
Rasgando o que já fora apenas fantasia
A morte sem desculpa, o quando da sangria
Violenta tempestade enquanto me compele
Destino sem alento a sorte não mais sele,
E quando mais atroz quem sabe poderia
Viver novo momento, ainda uma utopia.
Aonde o nada ser ao tanto pode atrele.
Risonho? Com sarcasmo eu tento conceber
O que jamais vivi e sem alvorecer
Na iridescente forma aonde algum poeta
Desvenda a maravilha em tons claros, sutis,
Porém realidade inválida desdiz
E tudo o que eu pensei já nem mais se completa...



30137

A luta tanta vez se mostra mais voraz
E enquanto se desnuda a face tão cruel
Da qual se transmitindo amargo e torpe fel
Do qual não poderia ao menos ver a paz
Refeito do passado o nada agora traz
Da bruma mais tenaz o imenso e tosco véu
Seguindo cada passo, embora siga ao léu
O peso do viver explode em tom mordaz.
Vergasta do não ser e nem tentar seguir
Aonde a sorte trace um bálsamo, o elixir
Que possa sanear a vida em dores feita,
Borrascas enfrentei enquanto poderia
Viver ao menos sombra escusa da alegria,
Porém em solidão esta alma espúria deita...






30138

O canto se tornando um hino à liberdade
Depois de tanta luta aonde nunca soube
Vencer qualquer senão e mesmo quando coube
Apenas o terror que tanto nos degrade
Somando cada verso ao quanto não mais pude
Vestir a fantasia imensa do senão
Rasgando a poesia e nela em imersão
Deixar um mero arroubo espúria juventude.
Riscar do mapa o sonho e não saber sequer
Se tudo fora em vão nem mesmo algum momento
Do qual se fez o encanto e quando enfim lamento
O peso traduzindo o medo que vier
Esboça a natureza implícita do quando
O mundo não se vê deveras transtornando.


30139

Distante do jardim aonde rosas tive
Não pude acreditar em florescências várias
As noites são sutis e quando temerárias
Falando do vazio enquanto sobrevive
O terror mais tenaz e enquanto me contive
As mansas ilusões por vezes necessárias
De todos os meus vãos decerto procelárias
Sem ter sequer a sombra estúpida que prive
O cantador do verso envolto em tais matizes
Falando da ilusão e nela seus deslizes
Cicatrizando assim o quanto ainda resta
Do peso do viver envolto em temporais
Os dias do futuro ainda magistrais
Não traçam esta face agora mais funesta.


30140


Em tal profundidade entranho-me deveras
Tentando perceber se ainda poderia
Viver além do quanto apenas fantasia
Exposto em tal cenário às mais terríveis feras
E quando mesmo ausente ainda em vão esperas
Não vês no meu olhar a face tão sombria
Porquanto nada faço além desta utopia
Aonde o mundo tenha a paz com que temperas
O dia mais atroz, o medo mais cruel
E tendo esta certeza invado assim teu céu
E risco com palavra elíptico caminho,
Na sideral beleza envolta em luzes tantas
Se eu mesmo assim em ti querida já me aninho
Decerto ao perceber por vezes desencantas.

30141





As hóstias da esperança; há tanto não me trazem
Sequer algum alento ou mesmo a paz que busco
O mundo em tom venal e sendo sempre fusco
Traduz o nada ser e neles não embasem
Os dias que eu pudesse enquanto se desfazem
Os sonhos mais gentis num quadro em que mais brusco
Por vezes esquecido ou quando assim me ofusco
Escassas luzes; teimo aonde se defasem.
Poeta ou sonhador, não posso mais negar
Que tudo quanto quis se perde num vagar
Diverso do que tanto um dia procurei.
A morte não transcende ao quanto desejava
Sabendo ser minha alma exposta em cinza e lava
Gestando a fantasia em torpe e tola lei.


30142


O parto da esperança enquanto nada traz
Ao abortar o sonho expressa a realidade,
E nada mais do quanto ainda traça e invade
O peso do viver eu sei quanto é mordaz.
O gesto inusitado entoa a falsa paz
E quando se procura inútil liberdade
O velho pantanal porquanto seja audaz
Enfrenta a cada dia o peso que desfaz
E nega em plena luz alguma claridade,
Censura, morte e vela, augúrios de um vazio
E neste nada ser o quanto inda porfio
Esgota a minha vida em nadas repetidos,
Afãs diversos vejo e entranho este desdém
Sangrando em todo verso o que já não contém
O peso do viver em tons sempre esquecidos.


30143


Apenas o sorriso esboçado por quem tanto
Pudesse acreditar na salvação das almas
Enquanto a realidade expondo velhos traumas
Esgota o mesmo assunto e dita o desencanto
Traçando o rastro alheio e nele cada pranto
Pudesse traduzir o que já não acalmas
E aclara a verdadeira expressão em que espalmas
Momentos onde a gula arrancada cada manto
Desnudando a face embora mais medonha
De quem se fez atroz e nega enquanto sonha
O verdadeiro ocaso entregue ao nada além
Persisto, pois poeta enquanto questiono
Sabendo do passado e nele servo ou dono,
Embora do quem fui as sombras se mantêm.

30144


Irônico caminho afasta-me de Deus
Pudesse ter certeza apenas deste amor
Que feito no perdão bem mais do que um louvor
Não deixa alguma luz apenas para o adeus.
Os dias mais venais, não são somente os meus,
Demônios, Satanás, vestidos com rigor
Em paletó, gravata; expressem apogeus
De tanta hipocrisia em vendilhões ateus
Enquanto este cordeiro exposto sem pudor
Amealha os fiéis aos pútridos canalhas
Que enquanto vêm poder se esquecem deste Cristo
Agiotas da cruz, dos templos vendilhões
Enquanto Tu, judeu, palavras vãs espalhas
Ainda solitário; aqui, teimoso insisto
Ouvindo com terror a voz dos carrilhões...



30145


Teus olhos são a luz que guia a cada passo
O velho marinheiro em busca de um farol
E tendo esta beleza exposta em raro sol
Caminho mais seguro em mar imenso traço,
Após qualquer procela eu vejo no arrebol
A claridade intensa ocupando este espaço
E tanto tranqüilizo embora às vezes baço
Seguindo com firmeza, um manso girassol,
E tanta vez eu pude encontrar tal clareza
Imersa em farta treva em noites mais doridas,
Assim ao perceber o quanto após perdidas
Navegações sem rumo, um cais acolhedor,
E tendo finalmente assim esta certeza
O mundo se mostrando em novo tom: o amor


30146


Reflexos deste olhar deitando sobre o mar
Cristais em cristalina água refletindo
Beleza sem igual num raro quão infindo
Momento aonde a vida eu pude desvendar
E tendo esta certeza aonde procurar
Sinais de um deus sublime e sei que tanto lindo
O amor se fez maior e dele pressentindo
Eternidade em vida e nela mergulhar
Percebo quanta luz emite-se no encanto
E tanta maravilha agora em paz eu canto
Aonde fora ateu o coração se entrega
E beija a raridade e traça a virescência
Tornando vicejada intensa florescência
Transforma em raridade a mais sobeja adega.

30147


A dura travessia envolta em sombras tantas
Não deixa que vê creia ainda na alvorada
A noite me trevas feita, eu sinto desolada
E nela com terror brumosas duras mantas,
Satânica figura expressa o que te espantas
Amordaçando a voz de quem se fez amada.
No charco dentro da alma a imagem destroçada
E tento disfarçar enquanto te agigantas
E mostras com sorriso irônico a verdade
Que tanto possa mesmo alçar a realidade
Degrada-se o futuro esboça-se em temor
O quanto já sonhara o pobre redentor,
O preço de uma farsa em luto traiçoeiro
Matando qualquer rosa esgarça este canteiro.

30148


Em dia mais sombrio eu pude perceber
A face do demônio em que me entranho enquanto
Ao mesmo tempo luto ou quando atroz eu canto
O que pudesse ter em lúbrico prazer,
Serpentes que carrego e nelas posso ver
O olhar de Satanás enquanto me adianto
No passo mais mordaz, espúrio e tolo pranto
Derrotado, mas sei o gozo do poder.
Onerosa história em trágico cenário
O quanto a morte é bem por vezes necessário
Sacrificante sonho embaça a realidade,
E o pobre do cordeiro em cruzes desfilando,
Mostrando quanto é duro e mesmo tão nefando
Funérea face crua aonde o amor degrade.

30149


Outrora ao baque surdo a queda anunciada
Do sonho de quem tanto um dia quis além
E sabe do vazio aonde se contém
Seara que julgara; infante, abençoada.
A face de Satã em ritos demonstrada
Mesquinharia vê o quanto em farto bem
Expõe tanta riqueza e nela se convém
Falar do que não pude esboçar alvorada.
O pântano redunda apenas numa prece
Que tanta falsidade a quem ama oferece
Ainda se nefasta a imagem do cruzeiro
Atando o libertário e verdadeiro Cristo
E nele acreditando ainda teimo e insisto
Sabendo ser assim o irmão mais verdadeiro
Não creio neste exposto em igrejas e ritos
Um novo Prometeu? Invade os infinitos!

30150


Do labirinto escuro encontro uma saída
E sem o Minotauro eu não serei Teseu
Tampouco uma riqueza ou mesmo um himeneu
A quem já sabe mesmo a glória de uma vida.
O prêmio sendo assim a luz já prometida
Não tendo qualquer senda aonde fosse ateu
Um mundo imaginário e nele sem o breu
Uma ardentia basta a quem enfrenta a lida
De peito aberto e sabe a mágica do ser
Sem ter sequer a sombra insana de um poder
Que possa trazer ouro ou mesmo uma riqueza
Além do respirar e ter felicidade
Não quero mais corrente odeio qualquer grade
Sabendo ter no amor divino esta beleza!


30151

Sangrias na tortura à qual eu me submeto
E tendo esta certeza ainda que venal
Pudesse caminhar degrau após degrau
E nada do que tento ou erro onde cometo
Do tudo o quanto fora um arremedo, um gueto
O mundo não se fez de forma sempre igual,
Assim o ser/não ser deveras tão normal
Permite cada toque aonde me arremeto
Nas cinzas de um cigarro as marcas que deixaste
O corte rasga fundo e nada além do vago
E sendo assim talvez o quanto ainda afago
Não deixa que se veja apenas no contraste
Entre o quanto pudesse e o nada produzido,
O mundo onde prossigo, há tanto já perdido...


30152


Ao revelar a sorte entranho estas searas
Diversas das que um dia eu pude conceber,
A furiosa face expondo o desprazer
Por onde tanta vez; ainda desamparas,
E sinto a mesma insânia e nela me preparas
A queda inusitada aonde eu possa ver
A sorte desairosa, o corte a se fazer
Deixando em rastro e dor, chagas, talho e escaras.
Apego-me ao que fora imagem mais sutil
De um tempo em que sonhar em paz o amor previu,
Rastejo sobre o chão e tento desvendar
Os rastros que deixaste e neles conseguir
Talvez adivinhar o quanto do porvir
Eu possa mesmo agora, aos poucos caminhar...


30153


O perfurado olhar ditando a mesquinhez
De quem tanto se quis e nada mais conhece,
O amor não me traria ao menos qualquer messe
E desta forma sinto o quanto de desfez.
Diverso do que tanto ainda mesmo crês
O beijo mais audaz, a fúria reconhece
E sabe do vazio e nele sempre tece
O quanto mais ausente a rara lucidez.
Negar o meu caminho e ter outro horizonte
Porquanto a vida trace enquanto desaponte
Seria alguma fuga e nela não se faz
Semente sobre um chão em aridez constante,
Por mais que me iludindo eu possa neste instante
Viver ainda um pouco o encanto mais audaz...


30154


Sorriso de ironia, o gosto da vingança
A vida se promete em ares tão diversos
Fazendo do vazio apenas tolos versos,
O quanto do que quero a sorte não alcança,
E quando fosse algoz, verdugo, faca e lança
Olhares mais sutis e posso até perversos
Não sabem discernir sentidos que dispersos
Trariam qualquer dor e nela esta lembrança.
Vestígios tão somente e nada mais consigo,
O mundo condenando ao velho desabrigo
Servindo como fosse imagem caricata
Miragens do que sonho, ourives do vazio.
O tanto que pudesse e o nada onde recrio
A vida mesmo assim, não cansa e me maltrata...



30155


E mostra em gargalhada a face mais terrível
De quem se fez atroz e nada mais esconde,
O mundo que procuro agora e não sei onde
Permite alguma voz, até mesmo inaudível
E sendo caminheiro atrás deste impossível
Momento aonde o tanto escute e não responde,
O passo rumo ao nada ainda que se estronde
Jamais será decerto além de perecível
Assim meu verso morto em nascedouro e fonte
Não tendo nem resposta, ausência de horizonte
Ensimesmado tenta além deste vazio,
A voz solta no espaço e nela se percebe
A imensidão do nada, e sendo assim a sebe
Mal importando mesmo o que nele desfio.

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