sexta-feira, 23 de abril de 2010

HISTÓRIAS DE UM REPENTISTA VOLUME 38

6816
No fogo colossal de tuas ancas,
Balanças meus olhares, perco o rumo.
As noites que passei sozinho, brancas,
Depois que enfim te vi, ganham aprumo.
As mãos que, viajantes seguem francas,
Espremem da maçã perfeito sumo,
E mansamente, meiga, quando espancas,
Prazeres mais airosos sobem, fumo...
Menina me ninaste e me enganaste,
Serenamente engoles, presas, fera.
O amor que não desnuda não se gera,
A dor do teu legado faz contraste,
Amantes tresloucados... quem me dera...
Nas ancas que rebolas? Me mataste!
X
6817
Vive em teu coração uma andorinha
Voando na procura d’outro mar...
Tua alma viajante vai sozinha,
Na espreita de poder, enfim, amar...
Esqueces tuas dores, pobrezinha;
Vestígios de saudade no luar.
Os cantos te fizeram avezinha
Que pede, simplesmente, p’ra voar...
Quem poderá fazer enfim, que as asas
Aprendam os segredos deste céu.
Teu corpo se acendendo todo em brasas
Os beijos são promessas do desejo.
A mão que te acarinha, fogo e mel,
Percorre estes caminhos sem traquejo...
X
6818
Amiga, quando andaste entre serpentes
Que formam estas plêiades doridas,
Adaga que prendeste entre teus dentes
Mostrando nesta força uma saída,
Em meio a tantas gentes maldizentes
Achaste a solução da despedida...
Agora em teu retorno, doce mel
Deixado após ferrões destas abelhas,
O brilho descortina-se no céu,
O fogo se faz manso, sem centelhas.
Trotando calmamente o teu corcel
Eu bebo a maciez que em mim espelhas.
O sonho que espalhaste continua;
Amiga sê bem vinda, a casa é tua.
X
6819
Amor que nos envolve e não deixa
Sequer uma esperança de fugir,
Se sou um samurai, tu és a gueixa;
Sem queixas, nosso amor vem me pedir
Que toda eternidade seja pouca
Para esse imenso mar de amor sem fim,
No grito de alegria, a voz mais rouca
Percebe todo amor que existe em mim...
E sou feliz por ter esta aliança
Que envolve um coração insaciável,
Rito fenomenal de uma esperança
Que era antes deste amor, inconsolável.
No peito, uma emoção transborda em festa
Vivendo em cada dia que me resta...
X
6820
Desenhas; no meu corpo teus afrescos
Marcados com batom em lábios quentes.
Decifrando vontades, arabescos,
Explodem em prazeres mais urgentes.
Nos sonhos mais profanos e dantescos
Tu surges em volúpias envolventes.
Loucuras deste amor canibalesco
Que entorna-nos vorazes e contentes.
Fazemos mil caminhos impossíveis
Em trilhas tão fogosas, sem ter siso.
Em posições diversas, incabíveis,
No gozo que renova a mocidade,
Numa explosão de tal ferocidade,
Invado, de repente, o paraíso...
X
6821
Lembranças delicadas, posto vivas,
Contemplam meus momentos mais atrozes.
Ouvindo vagamente roucas vozes,
As horas vão passando sugestivas.
De tudo o que guardei, expectativas
Em dias mais difíceis e velozes
Invés de companheiras, tão algozes,
As noites sempre frias, pensativas.
Deixando no passado tantos louros,
Troféus que antes julgara imorredouros
Abandonados morrem, perdem chama.
Pergunto, minha amiga, como e quando
O tempo se fará suave e brando,
O nada por resposta triste, clama...
X
6822
SIMPLESMENTE, UMA AMIZADE
Gargalha tolamente qual palhaço
Desengonçado sonho que criei
De ser nos braços dela, um vivo rei,
Porém a dor chegou em duro traço.
Agora indo sozinho, o quê que eu faço?
Se tudo o que eu queria, não terei.
Vagando em solidão, amiga, eu sei,
Que o mundo vai fechando o forte laço
Asfixiado sigo em tempestade,
Um reles vagabundo, coração.
À margem dos caminhos da paixão,
Morrendo pouco a pouco, a mocidade.
Apenas sobrará uma ilusão?
Quem sabe depois disso, uma amizade?
X
6823
Amiga, tantas vezes fui sozinho
Em busca desta estrela que perdi,
Um pássaro se perde sem ter ninho,
Por isso, companheira, estou aqui,
Na busca deste afeto, teu carinho,
Felicidade sei que existe em ti.
Cansado de saber que nada vinha,
Adormeci meus sonhos sem remédio.
A sorte benfazeja que não tinha,
Distante não procura mais assédio.
Apenas solidão, velha vizinha,
Salva-me em versos tristes deste tédio.
Um sonho que trouxer felicidade
Apenas tão somente em amizade...
X
6824
Andávamos nos vales procurando,
Em meio a tantas urzes, brancos lírios...
O céu como escultura, nos levando,
Envoltos em carícias e delírios...
O vento que soprava manso, brando,
Em teus olhos belezas qual colírios,
Buscava, sem saber que estava amando.
A vida não deixava crer martírios...
Montanhas e seus cumes azulados,
O verde desses campos e esperanças...
Beleza sem igual, divinos prados.
Deus, com toda certeza em orações
Guardou a nossa imagem nas lembranças...
Num hino tão divino aos corações!
6825
Quando te conheci eu não sabia,
Nem passava sequer em pensamento,
Que amor tresloucado uma anarquia,
Fizesse tempestade em cada vento.
Mas, no fundo, bem sei que este tormento
Transforma-se na festa da alegria
Quando juntos, unidos num momento,
Sabemos praticar democracia!
Nos opostos, amores se completam,
Os turbilhões, devoram-se, vorazes...
Democraticamente se projetam
Tornam-se mais ferozes; são audazes.
Descobrimos de um modo nada terno
O mais perfeito tipo de governo!
X
6826
Nos vazios celestes, nada assoma,
As pétreas solidões são nebulosas.
Nas vagas mansidões mais tenebrosas,
Só trevas percorrendo, como um coma...
Ao nada, junto ao nada, nada soma,
Os sons são sem sentido. Desairosas
Ventanias varrendo, vagarosas,
Tempestades terríveis, tudo toma...
Nestas vazias, vastas amplidões,
Silêncio em solitários corações
Siderais sentimentos virginais,
Esparsas e longínquas tais estrelas,
Tantas vezes sonhei pudesse vê-las,
Mas ao ver os teus olhos... não vou mais....
X
6827
Para os meus passos tortos, desvalidos,
Encontro uma esperança benfazeja
Tomando meus segredos e sentidos,
Nos braços desta lua sertaneja.
Tocando em mansidão os meus ouvidos,
Seu canto é o que se quer e se deseja,
Matando tais tristezas, tempos idos,
Amor por minha pele, já poreja.
E faz de cada sonho a redenção.
Sabendo que viver não é só sonho.
Por isso minha amada eu te proponho.
Viver o que nos resta de emoção,
Num mundo mais bonito e mais risonho;
Falando deste amor que é solução
X
6828
Dominando;em prazer, meu paladar,
O gosto de teus lábios sedutores,
Invadem minha noite, num luar,
Semeia em minha cama, chama e flores.
Prometem em delícias, os albores
Que cedo, na manhã vêm entornar
Em luzes e perfumes tentadores,
Na espreita do calor de luz solar.
Teus beijos, minha amada, paraísos,
Que tanto imaginei ter noutra vida.
Meus passos que antes foram indecisos,
Agora sem temores, decididos,
Mostrando que encontrei uma saída,
Para os meus passos tortos, desvalidos...
X
6829
Trazendo uma certeza em tal magia
Que invade cada sonho que eu tiver,
Nos braços delicados da mulher
Repletos de emoção, plena alegria.
Tu és o que o amor já bendizia
E não somente acaso, ou bem qualquer.
Contigo, pode vir o que vier
Que sei que viverei em harmonia...
Nós somos passageiros deste barco
Que leva com certeza ao porto, ao cais.
E traz em fantasia, muito mais
Do que somente um gosto, opaco, parco.
Uma ambrosia rara de encontrar,
Dominando em prazer, meu paladar...
X
6830
Amor a traduzir felicidade,
Refulge em minha vida, raro brilho.
Não vê por certo, em nada um empecilho
Que o impeça de saber da claridade
Do dia que se faz em liberdade
Dourando cada passo deste trilho,
Reflete no meu peito este estribilho
Capaz de me trazer à flor da idade.
Ao velho transformado em um menino,
Amor faz seus milagres, todo dia.
Nos raios deste albor, eu me ilumino,
E canto, sem delongas, tal poder.
Amor nos ajudando a renascer,
Trazendo uma certeza em tal magia...
X
6831
Deitado nos teus braços, tão serenos,
A noite vai passando calmamente.
Distante dos perigos, dos venenos,
Meu barco singra o mar e assim pressente
Os cais que tanto quis, bem mais amenos
Vivendo em calmaria, de repente,
Sabendo: ser feliz se faz urgente,
Percebe deste amor, os seus acenos..
E vai sem ter nem dúvidas nem medos,
Na busca pelo sonho mais audaz
De ter na vida inteira a plena paz.
Sabendo conhecer os meus segredos,
Afasta para longe, a tempestade,
Amor a traduzir felicidade !
X
6832
Sentindo que a ventura já me alcança,
Entregue a devaneios carinhosos,
Os dias se tornando maviosos,
O mundo em mil promessas sempre avança.
Redime minha vida da lembrança
De tempos doloridos, horrorosos,
Teus braços delicados e sestrosos
Mostrando uma verdade bem mais mansa.
Agora que te tenho, amada minha,
Não temo mais a negra solidão,
O fogo da alegria se avizinha,
Ardendo no meu peito, tal paixão.
Prossigo por caminhos mais amenos,
Deitado nos teus braços, tão serenos...
X
6833
Amor que invade tudo, firme e forte;
Qual fosse tempestade, vendaval,
Mudando a minha sina, rumo e norte,
Se torna cada vez mais colossal.
Amor tão soberano em nobre porte,
Raiando a claridade em festival,
Impede que a tristeza em fino corte,
Afete meu destino, traga o mal.
Eu sou feliz querida, nunca nego,
Por ter tua presença aqui comigo.
Andara tão sozinho em trilho cego,
Sem ter sequer um brilho da esperança
Nas asas deste amor, onde eu me abrigo,
Sentindo que a ventura já me alcança!
X
6834
O tudo que desejo, o bem que eu quero;
Apenas encontrei nos teus abraços.
O mundo dolorido rude e fero,
Se perde na cadência dos teus passos,
Tu és amor mais puro que venero,
Ocupas coração, sem dar espaços
Aos medos tão cruéis, tristes mormaços,
Que queimam e magoam, desespero...
Vieste qual raiar de uma alvorada
Em brilhos infinitos, benfazejos,
Roubando toda a cena com teus beijos,
Na glória de viver, tão ansiada.
Contigo renasceu a minha sorte,
Amor que invade tudo, firme e forte...
X
6835
Diante de beleza, imensa, tanta,
Calado, não consigo mais falar
Recebo em cada raio do luar
O brilho que me entorna, e me agiganta.
Tu tens a formosura que me encanta;
Jamais eu deixarei de te adorar.
Minha alma extasiada sempre canta
Em doce serenata a te buscar.
Eu quero teu perfume em cada verso,
Recendes a milhões de belas rosas.
As estrelas imitam-te, invejosas,
Vagando em mil tiaras no universo,
Perdidas, sem destino, morrem cais,
São flores sem perfume e nada mais...
X
6836
Neste teu corpo esguio e sensual
Encontro meus prazeres preferidos.
Meus passos te procuram, decididos,
Mergulham meu desejo colossal
Nesta escultura rara e magistral
Em bronzes delicados refletidos,
Dos raios do deus sol que, recebidos,
Fizeram este ser fenomenal...
Tu és glória suprema da natura,
Cravejada de perlas tua boca.
Nas mãos a maciez de uma candura,
Nos pés delicadeza de uma santa.
A vida a decifrar-te é muito pouca,
Diante de beleza imensa, tanta...
X
6837
Relíquias esquecidas, no passado,
Por deuses que vieram do infinito,
Demonstram que estiveram sempre ao lado
Daquilo que é mais nobre e mais bonito.
Um canto de prazer extasiado,
Amor que nos tomou em doce rito,
O gosto de teu beijo delicado,
A solidez divina do granito.
A cor destes teus olhos sonhadores,
A fonte dos desejos, os teus lábios.
O céu em seus matizes, belas cores,
Os deuses na verdade foram sábios.
Percebo esta presença divinal,
Neste teu corpo esguio e sensual.
X
6838
Após um cansativo e longo dia
Procuro descansar meu corpo lasso
Deitando no teu colo, teu regaço,
No fogo do desejo e da alegria.
O canto que distante não ouvia
De pássaros canoros. No teu braço
Se mostra divinal, cura o cansaço.
Refaz meu mundo inteiro em tal magia.
A força que me trazes, vivifica
Uma esperança a mais de ser feliz.
A sorte se demonstra rara e rica
Em cada novo toque uma certeza:
És tudo o que desejo, amor que eu quis,
Um verso mais perfeito da beleza...
X
6839
Minha alma se refez em nova aurora
Assim quando te vi, num outro dia,
Qual tônico que logo revigora
Bebi de tua boca esta alegria.
Tristeza e solidão jogadas fora,
A vida de repente renascia,
Agora uma alma nova aqui já mora
Envolta com delícia e maestria.
Paixão ardente e louca me trazendo
O gosto tão febril da mocidade.
Aos poucos me sentindo renascendo,
Em desvarios, tonto de emoção,
Refez-se a juventude, na verdade,
Moleque sem juízo: o coração!
X
6840
Às vezes agradeço ao Nosso Deus
Por tudo que me deu em boa sorte.
Os olhos tão bonitos, faróis teus,
Que traçam os meus rumos, sina e norte.
O gosto desta boca sequiosa
Que traga minha boca em louco beijo.
A pele delicada e tão cheirosa,
Na tradução perfeita do desejo.
Joelhos delicados e bem feitos,
Em pernas longilíneas exatas,
Os seios alvos, duros, e perfeitos,
Quadris que movimentam erupção
Os braços que me tomam enquanto atas
Os meus formando quase uma oração...
X
6841
Um novo Olimpo sinto nos teus braços,
Tomando no teu corpo esta ambrosia,
Percorro cada monte, teus espaços,
Faminto do maná desta alegria.
Insanos dedos formam novos traços,
No gozo magistral onde se ria
A deusa mais profana. Logo, lassos
Entregues meus desejos fantasias...
Uma Afrodite em sede prazerosa,
Devora-me sem tréguas, todo o tempo.
Fazendo do meu corpo, um passatempo,
Semeia multidões de tílias, rosas,
E assim, sem sequer pena, me alucina,
Em mãos e boca sacra, enfim, divina...
X
6842
Procuro novamente, um outro rumo
Que sirva de caminho, como um guia,
Distante deste sol que queima, a prumo,
Dourando levemente a fantasia.
Por vezes me magôo e me consumo
Nas lutas tão vorazes, dia a dia,
Percebo que jamais eu me acostumo
Sem ter uma certeza de alegria.
Às vezes vou seguindo tão cansado,
Na busca de teu braço doce e amigo.
Querida, me perdoe ter alçado
Um vôo bem maior que imaginara.
Nas horas de confronto e de perigo,
Percebo que amizade é jóia rara...
X
6843
Sentada no seu quarto, uma rainha
Entregue a devaneios mais ousados,
Rondando mil vontades, em pecados,
Expressa uma certeza que se aninha
No fogo do desejo sempre vinha
Lembrança de outros dias já passados,
Dos homens tão cruéis e delicados,
De tudo que queria e que não tinha...
Refém destes delírios, na janela,
Percebe um movimento mais sutil,
Um anjo assim erétil, varonil,
Adentra no seu quarto, lança em riste.
Deitando mansamente por sobre ela,
Provando que o amor, inda persiste...
X
6844
Abrindo uma cortina, adentra o sol,
Beijando a bela ninfa delicada;
Recende tal ternura em arrebol,
Ela se entrega nua, extasiada.
Seu corpo se enrodilha, caracol,
Aos lábios deste sol, dama encantada,
Um paraíso imenso, em raro escol,
Abraça esta princesa desnudada...
Ousado, devorando esta nudez,
O astro rei derramando seu tesouro,
Cobrindo o belo corpo com fino ouro
Demonstra sua força em altivez
Fecunda com seu sêmen vaporoso
Esta mulher entregue em pleno gozo...
X
6845
No cofre onde os amores vão guardados,
Segredos escondidos, chaves tantas,
Debaixo destes vários cadeados,
Dois olhos delicados... já me encantas.
Quem disse dos prazeres, dos pecados,
Morrendo em mãos vazias, loucas, santas.
Agora meus momentos aguardados
São feitos dos desejos que me implantas.
Eu quero conhecer teu rico cofre,
Podendo decifrar tuas vontades.
Quem vive em solidão, por certo sofre,
Não sabe deste dia, as claridades.
Saber de teus recônditos profundos,
É conceber milhões de raros mundos.
X
6846
Amor igual ao teu não se concebe
Nem mesmo eu imagino, nem o quero,
A lua quando o sol; mansa recebe
Acalma o astro rei, deveras fero.
Na boca fonte clara, amor se embebe
E traz sabor divino que venero
Vasculho cada rastro nesta sebe
Que leva aos braços teus; assim espero.
Tu és a redenção, uma ventura
Que emana calmaria em ânsia louca.
Nos lábios de coral sensível gosto,
Trazendo uma emoção plena em ternura,
Eu quero mergulhar em tua boca,
Deixando um sentimento assim exposto...
X
6847
MINERVA, COMPANHEIRA DO DEUS CRONUS.
AJUDE-ME A ENCONTRAR MINHAS RESPOSTAS
FORTALEÇA-ME MÚSCULOS E TÔNUS
AS MÃOS A TI MANTENHO ERGUIDAS, POSTAS
DÊ-ME NA TUA LUZ, LÚCIDO BÔNUS
QUE TRADUZIREI, CARNES MAIS EXPOSTAS
MEUS NERVOS, OLHOS, LÁGRIMAS COMPOSTAS
CUJO PREÇO A PAGAR SERÁ MEU ÔNUS.
DE PODER, NA VELHICE SER MAIS FORTE
NÃO TEMER MINHA DOR SEQUER A MORTE
SABER TANTO VITÓRIAS OU DERROTAS
LEVAR MEU BARCO, ASSIM POR OUTRAS ROTAS
PACÍFICO CAMINHO PELA SORTE,
SEM FUGIR NEM DAS LUTAS MAIS REMOTAS...
X
6848
Percebi desde o dia em que chegaste
Que a casa se mostrou mais perfumada.
A sorte, num segundo tu mudaste.
Das trevas que eu vivera? Resta nada.
Vieste qual um sonho de ventura
Tornando minha vida mais bonita.
A vida que eu tivera, triste e dura,
Refaz-se bem distante da desdita.
Ao ver-te, tela rara em quadro belo,
Percebo quanto posso ser feliz.
Por isso em cada verso de revelo
O que meu coração por certo, diz.
Agora que eu te tenho aqui comigo,
Saudade vai morrendo, vil castigo...
X
6849
A sorte que desejo, toda minha;
A quem transmite sonhos inocentes,
Em meio a tempestade que já vinha
Rangendo, temerosa, todos dentes,
Encosta no meu ombro, assim se aninha
Sorrindo com seus olhos tão contentes.
Delicadeza frágil de avezinha.
Término dos meus dias penitentes...
Pois ela, minha dita que ansiei
Por tempos, longos dias, muitos anos...
Fazendo dos meus sonhos soberanos,
Caminho para o amor, em nobre lei.
Agora que chegou, minha alma fala
Abrindo o peito, o quarto, a casa, a sala...
X
6850
FALAR DE TUA AUSÊNCIA, MINHA AMADA
NO TORPOR DESSAS TANTAS MADRUGADAS,
VOU CAMINHANDO, ÀS CEGAS, PELA ESTRADA
PROCURANDO ENCONTRAR TUAS PEGADAS...
SOLTO, EM VÃO, MINHA VOZ DESESPERADA,
PROCURO EM OUTRAS MÃOS, TUAS AMADAS
MAS NADA ENCONTRO, NÃO ENCONTRO NADA,
A NÃO SER TUAS SOMBRAS NAS CALÇADAS;
NESSA MINHA SAUDADE ; QUE TORTURA!
TE PROCURO POR TODOS OS CAMINHOS,
ME RESTA TÃO SOMENTE ESSA AMARGURA,
DAS TRILHAS DOS MEUS PASSOS; TÃO SOZINHOS,
MINHAS NOITES EM BUSCA DA CANDURA,
VOU PROCURANDO, EM VÃO POR TEUS CARINHOS...
X
6851
Surgiste tão terrível, dura treva,
Um coração mais gélido, um granito.
Na sensação cruel de um mundo aflito,
Tomaste meu amor em fria leva.
Se o mundo, sem perdão por certo, neva,
Um sonho de esperança, assim, bendito,
Soltando em pleno espaço, um louco grito,
Futuro mais feliz, por certo ceva.
Os dias são vorazes, e ferozes,
Mas sei que vencerei meus medos todos,
Recendo ainda tristes, velhos lodos,
Porém ouço distante novas vozes
Que falam deste amor que um dia vem
Nos braços de quem amo ou de outro alguém.
X
6852
Olhar incendiando, mais lascivo,
Em púrpuras orgias, tão sangrento.
Tomando toda a vida em vão momento,
Mantendo o meu desejo sempre vivo.
Sentindo este poder que é convulsivo,
Tornando a minha paz, duro tormento,
Num gozo mais feroz e violento,
Prazer que é dolorido e aflitivo.
Com fome desdenhosa, vil serpente,
Invade demoníaca, meu quarto.
E a vida se transforma, de repente.
Deixando meus momentos mais amargos,
Porém ao me sentir, de amores farto,
Seus braços me incandescem, longos, largos...
X
6853
Em meio a mundos tristes vou gelado,
Recebo uma mensagem dolorida.
Dos olhos que tivera imaginado
Serem a solução de minha vida,
De tudo o que sonhara, estou calado,
No gosto tão amargo, despedida
Vivera certo tempo apaixonado,
A força de vontade combalida...
Sou quase inexpressivo, morro breve,
Em busca do infinito, estou vazio.
Nos olhos embotados, pura neve.
O coração sozinho vai sombrio.
Amar como eu amei? Ninguém se atreve,
Inverno devorando todo o estio...
X
6854
"De todas as maneiras vou te amar!"
Por todos os meus mares e campina...
Nas ondas que se vão, neste luar...
Coração que se entrega, descortina
A vida que jamais pode esperar...
Um bolero orquestrado, a louça fina...
O tempo amaciando sem sangrar...
Meu coração descrente hoje imagina...
De todas as maneiras... Tão distante...
Quando partiu, deixou vazio o peito...
Tempestade rugindo, delirante...
Quem partiu só saudade me deixou...
Nem a força, seguir para adiante...
Quem me dera esperanças, as levou!
X
6855
Eu quero que tu sejas mais feliz,
Só isso já me traz felicidade.
Um novo mundo, encanto, se prediz
Na voz de nosso amor em liberdade.
Sumindo toda a dor e cicatriz,
Prevejo e quero solidariedade
Material do amor que eu sempre quis:
O bem virá com naturalidade.
Permita te querer além do amor,
Além de um pertencer, sem possessão.
Nas mãos que unidas fazem com vigor
Uma colheita imensa com paixão.
Carinhos de quem é bom lavrador,
Arando essa seara, a do perdão...
X
6856
No beijo prometido e delicado
Salivas que se tocam, se procuram,
No abraço que trocamos, bem marcado
Os males desta vida já se curam,
No colo tão gostoso após cansaço
De todas desventuras desta vida,
Atando nosso amor eterno laço
Jornada a cada dia decidida.
Gostoso poder ser o teu amado,
É bom saber que em ti tenho este afago,
E ser pelo teu sol iluminado
Na placidez serena, como um lago...
Morena és meu desejo minha sina...
Promessa de uma luz diamantina.
6857
Pela areia molhada dessa praia,
Desfilo toda minha solidão.
Por mais que o pensamento me distraia,
Nada tenho, procuro solução,
Para que toda angústia se distraia,
Abandonando esse cruel pendão,
Disfarçada, a saudade inda se espraia
Permitindo sentir que amor é vão.
Tentáculo medonho me conduz,
Impede minha livre caminhada,
Na busca do que fora minha luz...
Na praia em que eu te espreito, não há nada
A não ser a lembrança feito cruz
De quem se fez um dia, minha amada...
X
6858
Andorinha perdida faz verão?
As cores que roubei de um falso arco íris.
Num prisma repetido na amplidão,
A refração impede que me atires.
As forças se refletem no perdão.
Nos sonhos mais felizes, eras Íris,
Mas tudo não passou de uma ilusão.
Meus olhos embotados, vagas íris.
Solução pode ser, rima jamais...
Andorinha não pode mais voar...
Suas asas cortadas, sem Raimundo...
Mundo, mundo, me inundo e sou capaz,
Andorinha não tem onde chegar!
Como é vasto e cruel nefasto mundo!
X
6859
Meu rito recomeça novamente,
Amar e desamar, amar de novo...
Parece que virei clarividente
Do mesmo paladar, contigo provo
Mas sei que talvez venha,( sou descrente)
Um gosto renovado noutro povo.
Amiga, estou cansado desta liça
Que faço todo dia em prol da vida.
O amor que já perdi não se cobiça
Nem traz alguma chance de saída.
Minha âncora que é feita de cortiça
Garante esta esperança assim, perdida..
Só posso garantir que, na verdade,
O que nos sobrará: uma amizade...
X
6860
Quem fora companheiro de uma dor
De amar demais e nunca ser amado,
Conhece do carinho o seu valor
E canta sem temor. Apaixonado!
De todos os meus medos, no sol-pôr
Da noite tão vazia avizinhado,
Matando o que restava do calor,
O quarto em que eu dormia; tão gelado...
Vieste com teu brilho de cristais,
Num lume deslumbrante, em fogo ardente.
Mostras do quanto o amor, se faz capaz.
Nas ânsias e delícias, luas cheias
Debruçam nas ameias, de repente,
Enquanto em nossa cama me incendeias!
X
6861
TODO O PODER DE UMA AMIZADE
Percebo em teu abraço dedicado
A sorte que comigo se avizinha
Deixando bem distante um vento irado,
A vida não será mais tão sozinha.
Querida, caminhando do teu lado,
Eu sei que a solidão é bem mesquinha,
Andando par a par, bem compassado
Meu braço nos teus passos já se alinha.
E assim, amiga, vejo que outro dia
Virá com plenitude em força exata.
Na amizade este efeito de cascata
Nos torna bem mais fortes, disso eu sei.
Além do que jamais conheceria,
A paz tão soberana eu encontrei...
X
6862
AMIGA, AMIGA
Falar deste desejo de amizade
Depois de estar desfeito; opaca bruma,
É como procurar a divindade
Num paladar sereno que acostuma
A quem se descobriu em majestade
E sabe que esta vida, nos perfuma
Em acalantos doces, liberdade
Para a qual quem conhece sempre ruma.
Meu peito dolorido e machucado
Esgarçado sem dó por um amor,
Gritando tresloucado em alto brado,
Na busca de um carinho acolhedor,
Amiga, me perdoe meu passado,
Recolha deste esterco a bela flor...
X
6863
À SOLIDÃO
Antiga companheira, a solidão,
Persegue cada dia que vivi.
Ternuras que cedi, num furacão
Se tornam... Dos tornados me esqueci,
Mas, companheira amada me diz não!
Me acompanha lá longe estando aqui
E a sigo, obediente como um cão!
Por tantas vezes quase que a perdi!
Mas, sorrateiramente se revolta,
Ordenando cruel o seu retorno...
Tentando ser feliz, mas a dor volta.
Negando a liberdade,vivo em torno.
Antiga companheira, tenha dó!
Pelo amor do bom Deus, me deixe só!!!
X
6864
AH! MEU QUERIDO AMOR...
Se já te procurei pelos altares,
Nada encontrarei, nunca mais te vi...
Se já te procurei pelos luares,
Onde mais irei, nunca, nem ali...
Constelações, estrelas, sol, Antares...
Realmente estou certo, te perdi...
Não vou mais te buscar nesses lugares.
A dor que me legaste vive aqui.
Oprimido, perdido não te vejo...
Se nada mais espero, meu desejo
É poder renascer num novo parto...
O futuro esquecido, tenebroso...
O mundo me carrega, pavoroso...
Fantasma perambula no meu quarto...
X
6865
EU TE ESPERO, MEU AMOR...
Espero-te, pressinto essa presença.
Nas minhas insensatas madrugadas,
Sonhando, tantas vezes ansiadas
As mãos que me trariam recompensa.
Nas torturas definho. Me convença
Que estás aqui, manhãs nem bem raiadas,
Procuro em cada espaço... Das geladas
Noites em claro, amor tudo compensa!
Não consigo dormir, noites insones,
Procuro-te ao tocar de telefones,
Em todas cercanias dessa casa.
Mas, em vão, nunca estás! Por onde vais?
Sem ter mais nem notícias, perco a paz.
Ansiedade queima em fogo e brasa...
X
6866
Minhas lágrimas caem, são mendigas...
Imploram por teu beijo e tua boca.
As flores que murchamos, são antigas,
Na vida que passamos, sendas loucas.
Nos caminhos plantaste urzes, urtigas.
Minha voz, de implorar, ficando rouca.
Marinheiro, naufrágios, mas nem ligas.
Restou de tanta luta, luz bem pouca...
Sem ter tua presença tão amada,
Nas portas d’ilusão, perco meu mar...
Não espero teus ninhos, braços, nada...
Queria novamente te encantar...
Abra teus braços, dê-me esta ansiada
Manhã. Eu não me canso de esperar...
X
6867
Tua negra beleza; meus delírios...
Realeza gentil de chama e fogo
Espreito belos peitos, nosso jogo
Negra beleza sobre os alvos lírios.
Teus lábios, carnes.... Doces, bons martírios...
Tuas coxas roliças, peço em rogo,
Tantas preces, nas faces desafogo,
Teus olhos, claridades, meus colírios.
Venero a negritude, tua pele,
Teu andar tão sublime, me compele
A buscar nos divinos céus, sons, banjo...
Amar-te tanto, claros mansos beijos,
Saciando, assim, todos meus desejos,
Na mais bela mulher que é deusa e anjo...
X
6868
Quando Deus, distraído, permitiu,
Por esquecer as portas entreabertas.
Uma luz dessas raras tão incertas
Aproveitou-se então, dos céus fugiu...
Como um anjo que, livre decidiu,
Conhecer um planeta. Nas ofertas
Que tinha a seu dispor, as asas certas
De que na Terra a vida enfim surgiu;
Escolheu tal planeta pra viver.
Mal sabia que assim podia ter
Escondidas; as asas noutro arranjo.
Cresceu bela mulher, que me fascina.
As asas ocultadas, da menina?
Eu descobri palpando-te meu anjo...
X
6869
Angústia se transforma em meu remédio...
No frio em que profanas, sem saber...
A noite me permite teu assédio,
O mundo que vivemos, vai morrer...
Em troca me darás terrível tédio...
A chave me levaste, sem querer...
Saltando da janela deste prédio,
Num cântico, em promessas quero crer...
Os passos doloridos da existência
Vontade de gritar, chamar teu nome...
Nas raias da loucura em vil demência.
O vento que trouxeste, congelou.
A noite que chegava, agora some.
Errante procurando, quem eu sou?
X
6870
O véu que te cobria era tão branco...
As asas que voavas assassinas!
Sorriso meigo, branco, amigo, franco...
Nas asas que voavas, minhas sinas...
O véu que te cobria, belo flanco
Descobria asas, tuas asas finas...
Franco sorriso, siso franco. Manco
Coração... tuas asas descortinas...
No véu que te cobria teu sorriso...
Nas asas que voavas, coração!
Francos os teus sorrisos... Te preciso...
Não mintas por favor, não quero o não...
Nas asas que me mostras meu destino...
Os sonhos delicados dum menino!!!
X
6871
Adormeces, suave, num divã...
Nunca sonhas comigo, bem o sei.
Os teus olhos fechados. Amanhã
O sol virá beijar o que sonhei...
Vou vivendo intranqüilo neste afã.
Em toda a fantasia que criei,
Tu vens tão bela e nua cortesã.
Mal sabes quanto tempo eu te esperei...
Eu sonhava acordado, nem me vias...
Voavas transparente, num corcel,
Caminhavas, angélica, no céu...
Lambiam-te serenos, ventanias...
As rosas que choravam tua ausência,
Imploravam pediam por clemência.
Mas não ouvias, ias solitária,
U’a passageira alada, temerária...
E a noite te abraçava, solidária...
X
6872
Recebo da paixão um leve vento
Tocando em minha face, me arrepia.
Dando-me a sensação que eu bem queria
Do fogo e do desejo, um bom tormento.
Queimando-me voraz, às vezes lento,
De vertigens numa alta penedia,
Delícias de delitos e magia
Preparo, me contenho... Não agüento.
Entregando-me inteiro sem fronteiras
Que possam limitar o meu desejo.
As mãos do amor, por certo, feiticeiras
Invadem minha mente e, assim prevejo,
No gosto da maçã, santo pecado
Em benção divinal, apaixonado..
X
6873
São flores sem perfume e nada mais,
Amores que já tive antes de ter
A sorte de poder te conhecer
Rainha dos meus sonhos triunfais.
Rastreio cada passo aonde vais,
Seguindo o teu aroma, meu prazer,
Contigo vou sentindo renascer
O mundo que eu queria, assim, demais.
Sou qual um passageiro deste trem
Chamado por alguns, louca paixão.
Sabendo que de noite sempre vem
A chama que me queima, sem perdão.
E envolto na beleza soberana,
A vida majestosa não me engana...
X
6874
Aquecida ao calor deste verão,
Felicidade faz-se sem cobiça
Abrindo mansamente o coração,
Não planeja nem guerra sequer liça.
Amor, se verdadeiro rega o chão,
Não traz notícia falsa em dor postiça.
Exorciza tristeza e solidão.
Não precisa de padre e nem de missa
Amor sem ter mentiras nunca jura,
Seus gestos traduzindo uma certeza.
É feito de delícia e de ternura,
Não carece de sonhos temerários,
Resiste a qualquer baque em correnteza,
Navio que não teme mais corsários...
X
6875
NOSSO AMOR
Nosso amor, se arrastando, vai aos trancos...
Em meio a tantos botes venenosos...
A chuva destruindo esses barrancos,
Os dias se transcorrem melindrosos.
Pés descalços; feridos, ficam mancos
Os sonhos? Pesadelos tenebrosos!
Nós nos cortamos sendo muito francos
Nossos desejos mortos, pavorosos...
Amor que não se cansa de ferir,
Fortuito se escorrega em novas camas
Não sabe nem espera p’ra sair.
Amor que se derrete em tristes chamas
Nas brasas apagadas da saudade,
Confunde insensatez com liberdade
X
6876
Das terras estrangeiras o meu sonho
Em forma de mulher encantadora;
Das dores que carrego, redentora.
De todos os caminhos, mais risonho.
Quem teve tanta dor, mundo medonho;
Já sabe que ao te ter a vida aflora
E jamais deixará quem tanto adora.
Nada quero saber e te proponho
Que vivas, do meu lado, o que me resta
Abrindo meu futuro. Na seresta
Onde sempre estivemos, par constante,
A nossa melodia nos levanta.
Com bela voz , Amor sempre encanta...
Deixa-me ser, da vida, novo amante!
X
6877
AMAR VOCÊ!
Erguendo-se do mar, já me sorria
Em prata, em pedrarias, vem luzindo.
O verde em teu olhar reproduzindo
As águas deste sonho em fantasia.
A lua se desmancha em raios, fria,
Em gotas de alvo brilho, seduzindo
Em busca de um amor que seja infindo
Além do que bem sabe, assim teria.
A deusa se mostrando, uma Afrodite
Dos mares tropicais, vem nua em pêlo.
Desejo! É tão difícil assim contê-lo,
Ultrapassando todo o meu limite.
A noite num segundo se incendeia
Aos olhos sensuais desta sereia...
X
6878
O NOSSO GRANDE AMOR.
Um canto que se mostra suave e leve
Em tons tão delicado te suplica
Que venhas madrugada em lua rica
E seja, o mais depressa, enfim mais breve.
Distante das tormentas, peço, leve
O Olhar que sedutor, beatifica,
E rumos tortuosos retifica,
Na fome que nos toca, em que se atreve.
As almas se perdendo, sedes loucas,
Na fúria destas noites, nossas bocas,
Salivas que se buscam, se misturam.
As dores bem distantes desta cena
Na doce sensação que nos acena,
Os tédios, mágoas, medos, já se curam...
X
6879
AMIGA, AMIGA...
Magias que se fazem prediletas
Tornando nossas vidas mais benditas,
Em noites maviosas, infinitas,
De luas e de estrelas tão repletas.
Em meio a tantas luzes me completas,
Confirmas toda a bênção das escritas,
Deixando bem distantes as aflitas
Canções que nos feriram, finas setas.
Amiga, em delicado e doce aroma
Demonstra teu sorriso calmo e franco,
Abrindo calmamente tantas portas.
Ao ver-te carinhosa em bela soma,
Abrindo o coração, sangria estanco
E deixo estas tristezas, todas mortas...
X
6880
EU AMO TANTO...
Vagueiam sem destino meus olhares,
Estrelas vasculhando com carinho,
Na busca pelo amor que, de mansinho,
Se foi para outros cantos e lugares.
Sentindo o teu perfume nos altares,
Em luas, em canções, sonatas, pinhos,
Meus olhos são pobres passarinhos
Escravos dos meus sonhos, morrem mares.
Essências delicadas e sutis
Adentram cada poro, cada verso.
Sinceramente, amor eu fui feliz,
Mesmo que este querer siga disperso
Rondando sem destino este universo,
Eu sei que tive tudo o que bem quis...
Z
6881
AMO VOCÊ!
Ao me encontrar na solidão completa,
Me imaginado tão distante, errante...
Eu me lembrei de teu cantar poeta,
A minha vida, um transformar constante
Que busca em nosso amor; uma outra meta:
Não mais viver somente pelo instante.
Felicidade; amiga predileta
Mal percebi que estava ali, adiante.
Em feminina forma me beijavas,
Nossas carícias, estelar princesa...
Não percebi que logo eu te encontravas.
Nos teus cabelos refletindo luzes
De uma esperança sempre tão acesa
Disfarçada, aos prazeres me conduzes...
X
6882
A FORÇA DA AMIZADE.
A noite vai caindo dura, espessa,
Distante de meus sonhos e delírios.
Assim que, de repente, eu adormeça,
Recomeçarão todos os martírios.
Marcado por terríveis desenganos,
Meu tempo de viver vai se esgotando,
Embalde se fiz outros novos planos,
Pergunto sem respostas até quando?
As mãos vão prosseguindo mais vazias,
Apenas com meus medos tatuadas.
Encarceradas sempre as alegrias,
Distante da saída, sem estradas.
Apenas uma força, na verdade,
Conduz a minha vida: uma amizade...
X
6883
EU AMO TANTO VOCÊ!
Ao perceber teus passos nessa escada,
Taquicardia tenho, fico tonto...
Minha alma fica toda alvoroçada,
Os meus olhos brilhando... Já me apronto.
Espero mais solene essa chegada.
O tempo se arrastava nem te conto,
A vida parecia desastrada...
Agora que te tenho e que estou pronto,
Não fico de tocaia, nem calado...
O mundo me parece, faz sentido...
Tanto esperei... Quero viver ao lado
Dessa mulher, minha esperança e luz...
Nessa alegria, amor foi convertido,
As minhas horas, tua mão conduz...
X
6884
TUA AMIZADE
A vida se passando como fosse
Um vento que me toca mansamente,
Revelo o quanto quero, de repente,
Amar esta emoção que a vida trouxe.
Recebo o teu carinho, sempre doce,
No abraço mais suave e calmamente
Invade essa alegria corpo e mente,
No sonho em que viver, cedo tornou-se.
Saber de uma amizade tão sincera,
Que traz o renascer em primavera
A quem já se perdera em sobressalto.
Quem tem o teu apoio sempre ganha,
Em força soberana e luz tamanha
Que faz o coração subir mais alto.
X
6885
MEU AMIGO
Eu lembro das crianças que nós fomos,
Correndo nos quintais de uma esperança.
O vento que me toca, das lembranças,
Traz frutas, artimanhas, jogos, gomos.
Destes pomares – passado – caem pomos
Que juntos se demonstram alianças
Marcados por saudade e temperanças,
Refaço na memória o que nós somos.
A vida se passou mais desastrosa
Assim nos afastando, caro amigo.
Por vezes maltrapilha e dolorosa,
A sorte se banhando em vil perigo,
Porém resta a certeza, caprichosa,
De que sempre estarei junto contigo.
X
6886
AMIGA
Não sei se na verdade a quem tu chamas
Apenas te dirá por que vieste,
De estrelas radiantes, bem celeste,
O certo é que em calores, longo inflamas.
Na sorte que demonstras, me reveste
De toda uma certeza quando clamas
Por mundo mais feliz em fortes chamas,
A vida não se faz apenas teste.
Sabendo que talvez melancolia
Atinja um coração sereno e casto,
Espero que perceba a fantasia
Na qual amor engana a quem abriga.
Por mais que o mundo seja imenso e vasto,
Eu estarei contigo, minha amiga...
X
6887
O PODER DA AMIZADE
Amiga Deus nos trouxe esta ventura
Que sempre se renova a cada dia.
Passamos por estrada mais sombria
De tais procelas, mar em noite escura.
A solidão, pantera que murmura
Matando uma ilusão que esperaria
Quem; por vezes, se enfurna na clausura
Distante de sonhar com alegria.
As dores nos tomando sem parar,
Fechando estas janelas, nega o mar,
Sem chances de escapar de tal tormento.
Em meio à temerária escuridão,
Encontro na amizade a solução
Que aplaca a tempestade e acalma o vento...
X
6888
Na turba mais festiva em noite rara,
Desfilas Esmeralda, sou Quasímodo,
Apenas um fantasma que se ampara,
Na súcia de ladrões, tal qual um sínodo.
Embrenho meus desejos sem limites
Nas trevas das noturnas solidões.
Estrelas nos teus olhos; acredites,
Refletem sobre tantos foliões.
E vejo-te dançando seminua
Em fogos de artifício, em luz intensa.
Meu sofrimento em gozo continua
Na espreita deste amor por recompensa...
Depois, já tão cansada, me sorris,
E neste instante; juro, eu sou feliz!
X
6889
APAIXONADO POR VOCÊ
A voz tão poderosa destes ventos
Por sobre fortes vagas do oceano;
Demonstram este querer tão desumano
Que forma em minha vida, meus lamentos.
Rugindo nos tufões mais violentos
Um poderoso amor se mostra insano,
Mudando de meu barco rumo e plano,
Faz do cantar feliz, duros lamentos.
Calando no meu peito surdos gritos,
Trazendo uma incerteza em agonia.
Porém, por um momento, uma alegria,
Acalma estes tormentos tão aflitos
E muda, num segundo, amansa as vagas;
No instante em que me beijas e me afagas...
X
6890
TE AMO, TE AMO...
Ao te ver caminhando tão fogosa
Percebo por que foste sempre minha
Ao sentir teu perfume, bela rosa,
Pergunto por que vais assim sozinha?
A boca te ofereço carinhosa,
Do teu corpo, o desejo se avizinha.
Tanto tempo esperei, moça formosa,
Não sei por que esse amor nunca me vinha.
Não posso conceber: eu não resisto!
Amar sem ter teus olhos? Um absurdo!
Por isso e tão somente, assim insisto.
Viver sem ter amor? Não mais prevejo.
Amor assim demais, me deixou surdo,
Somente ouvindo a voz de quem desejo...
X
6891
NOSSO AMOR...
Ao erguer os meus olhos sonhadores,
Rondando teu sorriso e tua boca,
A febre me queimando em sede louca
Não tínhamos talvez tais dissabores;
As marcas indeléveis dos amores,
A cama que vivemos foi tão pouca,
A voz a me chamar, teimando rouca,
Não fomos nem sequer quais amadores
Ao erguer minhas mãos postadas, prece...
Não pergunto a que vens nem se virás,
Amor que não viveu, cedo fenece,
A porta deste altar chamado vida,
Espreita verdadeira, pede paz.
Na chave desta porta, despedida...
X
6892
NOS TEUS OLHOS...
Quanto mais eu te vejo, menos sinto...
Teus olhos são distantes, mas presentes...
Quando estás assim perto, são ausentes;
Quando digo: conheço-te, mais minto.
Mas, paradoxalmente; se me tinto
Com cores de outros olhos ou vertentes
As mudanças; tragando minhas lentes,
Nos teus olhos, então, os meus eu pinto...
Quem me dera saber do não sabido,
Meu olhar, nos teus olhos, escondido.
Reflexo que embriaga, deixa louco...
Conhecer minhas dores e destino,
Ao mesmo tempo eu vago e perco o tino,
Mergulhando em teus olhos, pouco a pouco...
X
6893
Eu quero o teu amor, doce menina
Que sedutora invade o pensamento.
Aos poucos vem tomando, me alucina,
Não deixo de querer um só momento.
A minha vida à tua se destina,
Tu és minha alegria e sentimento.
Na boca esta certeza cristalina
De que não terei arrependimento.
Encontro uma certeza em cada verso
Que faço procurando o teu regaço.
Entre tantas estrelas no universo
Tua presença meiga, é o que se espera
De quem já no final, cansado o braço;
Aguarda o renascer da primavera!
6894
Por sobre o chão que é nosso, caminhamos;
Viemos de um deserto sem tamanho.
Das árvores distantes, somos ramos
Amar é nosso lema e nosso ganho.
Libertos, não sabemos mais dos amos,
Fazemos do egoísmo, algo tacanho...
Passamos pela sombra e pela luz
Agora há liberdade dentro em nós
Num sonho mais divino nos conduz
No amor nos encontramos bem após
Os medos e as correntes. Já reluz
Um sol em mansidão dentro de nós.
Uma lâmpada acesa em nosso peito
Do brilho deste amor, tão satisfeito...
X
6895
Ao ver o paraíso numa flor
Nascida em verdes campos, primavera,
Percebo quanto Deus fez com amor,
A vida que se vai e regenera.
O mundo no infinito deste grão
Da areia; uma estrela tão gigante,
Pequena frente ao mar, sua amplidão
Percebo eternidade de um momento
Num tempo que transcorre sem parar.
Cabendo em minha mão, aberta em palma
Todo um infinito a se encontrar
Na eterna sensação de paz e calma...
Além desta ternura, grão e flor,
Carrego em minha mão, o Deus AMOR...
X
6896
Teus seios delicados nos meus lábios,
Delícias a sorver devagarinho.
Meus dedos te percorrem, astrolábios
Mostrando com certeza o bom caminho.
Seguro mansamente os teus quadris
E invado tuas fontes, sem pudores.
Percebo o teu sorriso mais feliz,
E colho do jardim divino, as flores.
Depois de penetrar tuas defesas,
Meus olhos te convidam para amar.
Envolto por totais delicadezas,
Acolhes meus carinhos, devagar...
E vamos sem limites nem bloqueios,
Os lábios, coxas, pernas, quadris, seios...
X
6897
Não pensa que me escapas de repente,
Eu vou atrás do amor que propuseste.
Ninguém pode viver impunemente,
Anel que era de vidro, tu me deste.
Mas saiba que terás prazer urgente
Se à noite, em minha cama; tu vieste.
Meu corpo no teu corpo uma semente
Que brota e simplesmente nos reveste...
Teus olhos transparentes, desejados,
Posseiro desta gleba; quero ser.
Nos cortes tantos lenhos, destroçados,
Queimada em nossa roça, fogo intenso;
Fazendo inundações, nosso prazer,
Que nasce de um delírio, forte, denso...
X
6898
Aventureiro barco em solidão
Nos bárbaros caminhos desta via
Enfrenta desmedido furacão
Com risos e palavras de ironia.
Sem medo e sem fazer u’a previsão
Se atira nos desejos todo dia.
Após novo naufrágio ou explosão
Refaz-se e não aprende, nem procria.
Vivendo corações já se renega
E mata em cada cais, o comandante.
Do nada que ganhou o nada lega
Apenas os resquícios do naufrágio
Tomando o coração a cada instante.
No fundo se defende, de tão frágil...
X
6899
Com toda magnitude arquitetônica
Os templos dedicados ao amor,
Nos sons de uma aventura supersônica
Nas hostes desta luta sem temor.
Numa emoção divina quase harmônica
O gosto do prazer, semi-torpor
Na beleza sem par, lua nipônica
Mil versos desejosos te compor...
Decifro teus mistérios e segredos,
Teu canto sem igual sempre alucina.
Eu quero me compor em teus enredos.
Na bela flor de lótus mergulhar
Trazendo para mim, essa menina
Que bem cedo aprendi a tanto amar!
X
6900
No fogo da paixão, ardente chama
Que chama para a festa em riso e gozo.
No risco que tracei, meticuloso
A cada beijo intenso, amor reclama.
Na cama, em matagal, areia ou lama;
Ah! Não importa. É sempre tão gostoso
Poder usufruir maravilhoso
Sentido de viver, traçando a trama
Que envolve nossas pernas, nossas bocas.
Nos lábios o começo da viagem
Deixando nossas vozes quase roucas
E em atos sensuais, fornalha pura,
Vestidos de nudez, nossa roupagem,
A noite assim transcorre e se perdura...
X
6901
Teu rosto emoldurado no meu peito
Em telas de desejo e sedução.
Bem sei que, meu amor, sou imperfeito
E tento achar em ti a solução,
Às vezes se pareço contrafeito
A culpa é deste louco coração,
Que busca num caminho tão estreito
Saída para o mar. Tanta aflição!
Mas saiba o quanto espero deste amor
Que é mais do que desejo simplesmente,
Rompendo estas barreiras. Sem temor,
Deitar-me nos teus braços; te levar
A um mágico momento, quando a mente
Se eleva flutuando sobre o mar.
X
6902
Do quase e do talvez, a vida farta,
Na espera de um sinal de boa sorte.
Antes que o sonho livre já se parta,
Surgiste no horizonte, mansa e forte.
No paraíso feito em tanta benção,
Transcorrem nossos dias riso e paz.
Carinhos dedicados e atenção,
Caminhos onde o amor se faz capaz
De dar ao sonhador um novo dia,
Refeito do vazio de outras eras.
Amar além de tudo, merecia
Quem tanto teve nas esperas.
Por isso meu amor, eu não me canso,
De agradecer as bênçãos que eu alcanço...
X
6903
APAIXONADO
Neste sol tão inclemente,
Saudades do meu inverno,
O fogo tal qual do inferno
Atacando toda gente;
Neste lume que aparente
Carinho que fosse terno,
Meu medo se torna eterno
Em fria chama envolvente.
Ao abafar os meus cantos,
Só restando duros prantos
E esse vento mais gelado.
Sem rumo, perco meu norte,
Sem ilusão que suporte,
Vou morrendo, apaixonado...
X
6904
Tomados pela força da paixão
Abençoados sempre por Cupido,
Alimentados somos, de emoção,
A cada novo passo, decidido.
Batendo bem mais forte o coração,
Amor que tanto sonho, faz sentido,
Nas águas delicadas da ilusão,
Um mundo bem melhor, vem renascido.
Eu quero o teu prazer, a cada gota,
Do néctar que provamos, sem limites,
Seguimos par a par a nossa rota,
Nas bênçãos, nos manás, nas ambrosias,
Eu peço, neste amor, tu acredites,
Pois dele surgirão, os belos dias...
X
6905
Menina como é bom poder saber
Que os braços que me esperam estão abertos
Deitar em nossa vida tal prazer
Matando a solidão de mil desertos.
Forrando de beleza o bom viver
Nos olhos, que jamais serão incertos,
Toda a certeza clara de poder
Ter nossos passos firmes e mais certos.
Eternizar um mundo de alegria
Na dança prometida, realidade..
Amar é transformar a fantasia
Num dia a dia pleno e bem real,
Promessa de viver felicidade,
No canto com firmeza sensual...
X
6906
MUITO OBRIGADO, MEU AMIGO.
Amigo ao me trazer um novo dia
Que porte uma esperança mais acesa,
Virando deste jogo, logo a mesa,
A sorte em minha vida principia.
A mão que tantas vezes já me guia
Mostrando um novo mundo com clareza,
Em honras me cobrindo de riqueza,
Transforma minha dor em alegria.
Estampa uma certeza em caridade,
Forrando todo o céu com claridade
Trazendo idéias sempre fascinantes.
Estar contigo, amigo, por instantes
Demonstra como são tão importantes
Os raios que fulguram na amizade...
X
6907
Permita que eu te dê todo o prazer
Que quero. Não discuto mais bobagens
Apenas mergulhar inteiro e ser
Teu companheiro insano nas viagens
Que fazes. Em riachos converter
As águas tão serenas das barragens,
Em cada parte, louco; conceber
O gozo de invadir tuas paragens...
Sorver de teu desejo cada gota,
Levando a maciez de meu carinho
A fonte insaciável não se esgota
Tremula e não permite mais marasmos,
E bem devagar, tocar mansinho...
Até poder vibrar com teus orgasmos...
X
6908
EU TE AMO, TE AMO...
Na divina criatura
Onde amor se fez mais claro,
Encontro todo anteparo
Traduzido por ternura.
Distante de uma perjura,
Amor que se fez tão raro,
No mesmo instante em que paro
Seu carinho imenso cura
Tornando meu braço forte,
Navegando nossos mares,
Cicatriza um fundo corte.
Amor igual nunca vi.
Por isso quando chegares,
Tu me encontrarás aqui.
X
6909
PRA VOCÊ
Refletindo teus olhares
Neste céu onde me aninho,
Perdido buscando um ninho,
Bebendo em distantes bares.
Olhos tais crepusculares
Inebriam, doce vinho,
Nas cordas deste meu pinho
Serenatas aos luares...
Belezas raras que tece
Um coração numa prece,
Em busca das maravilhas.
Seguindo luzes fugazes
Estrelas que sempre trazes,
Por onde passas e brilhas...
X
6910
Adentro delicado em teus caminhos,
Extasiado encontro maravilhas,
Sorvendo desta fonte em mil carinhos,
Percebo a maciez em belas ilhas...
Arranco quando houver alguns espinhos,
E perco-me em delírio nessas trilhas,
Um pássaro buscando por seus ninhos,
Ao ver-te em plena festa já me pilhas
Com néctar e manás deliciado,
Matando minha sede em bela fonte,
Sentindo este querer revigorado
Na fome de te ter sem mais segredos,
Em convulsão derramas no horizonte
Enchentes lambuzando nossos dedos...
X
6911
AH! AMOR...
Quando me lembro, bela e tão cheirosa,
A moça delicada, linda trança.
Sonhava com teus beijos, melindrosa,
No gosto da mulher que não se cansa.
Sonhava simplesmente, moço prosa,
Achando poder ter uma esperança;
A moça, delicada, qual a rosa,
Espinhos me deixando de lembrança.
Não pude conhecer este confeito.
Amores que se foram sem carinho.
Sobraram despedidas. Moço feito,
A porta que restou? A de saída;
Da boca que beijei amargo vinho,
Meus olhos naufragaram, nau perdida...
X
6912
Acordo e não te vendo desespero...
Procuro-te nas ruas, avenidas.
Sem teu amor é vida sem tempero,
É perder, dos caminhos, as saídas...
Porém ao retornar: felicidade!
Encontro novamente o meu sorriso.
Refeito deste susto e com saudade
Voltamos num segundo ao paraíso.
Tu falas da preguiça tão gostosa
Do amor que se faz forte e sedutor.
Perfume inebriante desta rosa;
A rainha absoluta mulher/flor.
E somos tão felizes, desse jeito,
Da rosa ; eu recebendo o amor perfeito....
X
6913
MINHA AMIGA
Nos arredores da cidade, engano.
Abertos sentimentos, em saudade.
Vagando sem destino, qual insano,
Na busca por amor ou amizade.
Todo o pó desta estrada quando espano
Rebrilha com um ar de falsidade
O medo que me toma, desumano,
Esconde em verso triste, esta verdade.
Nas mãos que cultivaram, um rastelo
Deixou a dor por certo em cicatriz.
No canto de quem fora mais feliz,
Apenas um retrato em que revelo,
A sorte de viver só por um triz,
Querendo, minha amiga, o teu castelo...
X
6914
Em perfumes e cores misturadas
Mostrando suas faces bem mais belas.
Distantes ilusões foram aquelas
Que a vida nos tomou, suas guinadas.
Por certo são mais finas, delicadas,
As múltiplas facetas das estrelas.
Das rosas, que vermelhas, amarelas,
Rainhas dentre as outras nas floradas.
Assim, uma amizade nos decora,
Deixando nossos passos bem mais fortes.
Curando calmamente tantos cortes,
Apóia meu caminho mundo afora
Não há nada mais rica, alvissareira,
Que uma amizade plena e verdadeira...
X
6915
UMA AMIZADE PURA
Mostrando a todo mundo os esplendores
Que raiam, descortinam horizontes,
Da vida em teus braços, novas fontes,
Que fazem alegrias dos amores.
Renascem nos jardins, divinas flores
Ao sol que vem surgindo trás os montes.
Tocando nossos olhos, nossas frontes,
Entorna sobre a Terra seus pendores.
Reparte em nossas vidas tantas glórias,
Louvando nossos sonhos esquecidos.
Promete para todos as vitórias.
Impede mil afãs mal resolvidos.
Exemplo de carinho, honestidade,
O sentimento puro da amizade...
X
6916
AMIZADE
Já vem raiando um belo e claro dia
Trazendo no seu bojo a tocha acesa
Que faz iluminar a natureza
Assim que o sol, brilhante se irradia.
Formando em cada raio um novo guia
Que oferta para todos a beleza,
Em força e claridade, uma riqueza,
Assim que uma manhã se principia.
Estampa em cada rosto, a caridade,
Tornando nossos sonhos mais brilhantes.
Amar assim aos nossos semelhantes
É ter uma certeza: ser feliz.
Por isso em cada verso que te fiz
Eu louvo o teu desejo de amizade....
X
6917
O PODER DE UMA AMIZADE
A vida nos maltrata e nos perjura
Roubando um sentimento, às vezes claro.
Olhando os descaminhos logo eu paro,
E vejo noutros céus, outra pintura.
Erguendo as mãos tão frias, em tortura,
Carrasco deste sonho, um ser avaro,
Impede que se faça num reparo,
A vida noutros termos, com brandura.
Profundos dissabores, fundo corte,
Profanam os carinhos, seus altares.
Num vento tormentoso frio e forte
Quem sabe talvez tenha a claridade,
Em sonhos de Quilombo outro Palmares,
Na força e no poder de uma amizade....
X
6918
A FORÇA DA AMIZADE...
Amiga e companheira de viagem,
Eu sei que a vida pode maltratar
Quem vive para amar, leda miragem.
Por isso é que te busco sem parar
Pois sem que sempre trazes na bagagem,
Num brilho mavioso a nos banhar,
Um sonho mais correto e tão perfeito,
Estar contigo é sempre ter afeto.
Se estou querida assim, mais satisfeito
Se o mundo que pretendo está completo.
Eu sei que isto se deve ao manso jeito
Com que fazes amor ser tão dileto.
Na força da amizade é que se vê
O tempo de esperança em que se crê....
X
6919
VENCIDO
Minhas mãos, calejadas, buscam fardos.
O mar bravio, ronca nessa praia,
Um albatroz, voando vem, se espraia;
Num cântico sereno, tantos bardos...
Meus pés estão feridos pelos cardos,
Conheço na castanha, a sapucaia.
A vida me impelindo quer que eu caia
Os olhos do inimigo, baços, pardos.
Conheço nas magias, as ciganas;
Percebo quando tentas, não enganas...
Teu jogo traiçoeiro foi brinquedo...
Vencido, fiz de morto, sem saberes;
Teu garbo, mentiroso, traz quereres
Que, no fundo, parecem arremedo...
X
6920
Teu colo tão macio me recebe
Encantos e ternuras desfrutamos.
E todo esse desejo se concebe
À medida que, loucos, nos amamos...
Prazeres, turbilhões percorro as sebes
Dos gozos que nos tomam, nossos amos...
Em cada novo beijo que me dás,
Toda a sofreguidão já se revela.
Insanas sensações. Feliz, em paz,
Navego no teu corpo, linda tela
E todo este prazer nos satisfaz
Singrando sem parar, paisagem bela.
Guardando dentro em ti, mil explosões.
A noite se tomando de emoções...
X
6921
O TEU AMOR
A boca que me cospe? A que me beija
Nas horas que procuro, sempre escapa...
A mão que acaricia dá um tapa,
Quem me maldiz também, louca, deseja...
Quantas vezes, carícia que m’aleija...
Quem me segura, empurra e cai, derrapa
Quando Copacabana finge Lapa.
Se não arranha céu, sempre rasteja...
A rainha se faz de camponesa,
Mal me devora, espera a sobremesa...
Nunca se faz presente, mera ausência
Quando ajoelho pede por clemência...
Mas quando peco, nega o seu perdão
Diz mente desmentindo o coração...
X
6922
NOVO AMOR...
Nesse banquete; glórias e concertos,
As fantasias, loucas e completas...
Os sonhos impossíveis de um poeta.
No final dessa festa, mais consertos,
Nos tremendos reparos, meus acertos,
Amor novo, Cupido trouxe setas.
As mágicas orgias tão diletas;
E refeitos, meus sonhos vão despertos...
No banquete, bacantes e nudez,
A noite espreita, espera sua vez.
A morte tocaiando, ri-se, espúria...
Nos olhos, lacrimejo, minha mágoa,
A chuva torturante, traz tanta água.
Mas na minha alma em seca, resta anúria...
X
6923
FALAR DE AMOR
Ao escutar teu nome, porventura,
Não posso me olvidar do que passamos...
Pois sempre misturamos com ternura
As velhas dores que jamais negamos,
O nosso amor no coração murmura
Velhos rancores... Nunca mais deixamos
De maltratar amor por desventura...
Quantas palavras duras nos cortamos!
Matamos primavera. Cadê flores?
Amor que assim se fez nunca prossegue,
Mas deve ser tratado com pudores.
No outono de minha alma tudo morre...
Por mais que já tentamos quem carregue,
A culpa é de quem fere e não socorre!
X
6924
O AMOR...
Ao rolar esse rio em mil cascatas,
Nas curvas, bambuais e lambaris...
Respondem tantos sóis as belas matas.
Ladrilhos e jardins: eu fui feliz?
Os olhos dessas águas, mansas pratas,
As margens não se inundam por um triz...
Das belezas divinas, águas pratas
Matas, cascatas, rio velha atriz...
No reflexo das mágoas, sua tiara...
Procuro em alta fímbria meu destino...
Mergulho tocaiando bela Iara...
Se espalha com total insanidade,
Causando furioso desatino.
Na fúria das enchentes, tempestade...
X
6925
O TEU AMOR
A solidão, terrível, mortuária
Se fez em minha vida, em triste treva,
Tragando toda a sorte numa leva;
Força descomunal e temerária.
Cantiga de um amor, tão solitária,
Matando uma esperança, olhar que neva
Por sobre um campo atroz, negando ceva
Tornando uma alegria relicária.
Porém, cedo chegou a calmaria
Trazida pelas mãos de uma mulher,
Depois que quase nada esperaria
Quem teve tão somente impaciência.
Da vida que se fez em penitência,
Já sonha com o dia que vier...
X
6926
Jurando amor eterno tu partiste
E logo não deixaste nem pegada.
Não sei bem se fiquei decerto triste,
Apenas me gastei na madrugada
Fazendo um mutirão que não resiste
Tomando um botequim quente e gelada,
Se eu acredito ou não que amor existe
O certo é que depois não sobrou nada...
Somente uma vontade de dançar
A noite inteira, fui pr’ Estudantina
Bebendo essa morena sem parar.
Não venha agora; amor; estás banida
A sorte noutra vida descortina
Juraste amor eterno? Que bandida!
X
6927
Ao ver-te caminhando pela casa
Envolta na toalha; te desejo.
No banho que tomaste, queimo em brasa
Tua nudez divina eu já prevejo..
Meus olhos estão presos, cordoalha;
Ligando esta vontade com o fato
Da maciez felpuda da toalha
Tocar essa delícia. Que maltrato
Tu fazes para um pobre coração
Que vive desejoso desta pele
Envolta com carinho. Uma ilusão
Ao mesmo tempo chama e me repele...
Depois, a noite inteira vou sonhando
Debaixo da toalha... Diga... Quando?
X
6928
Amiga, tantas vezes vou incerto
Em rumos que não sai para onde vão.
Bebendo desta vida em tal deserto
Encontro tantas vezes, solidão...
Um dia, assim quem sabe, amiga; acerto
Restando, neste instante, a solução...
Aos Céus, enfim por certo, irei chegar,
Nas asas da amizade angelical.
Nos olhos carregando luz solar,
Estrelas escondidas no bornal.
Mil anos te buscando sem parar,
Amiga, em tua glória, meu final.
Serei qual caminheiro bem ditoso,
Nos braços divinais, tão orgulhoso...
X
6929
Fazendo de um momento intensidade
Que possa transbordar em uma enchente
Dilúvios de prazeres à vontade,
Singrando nosso amor, ganho a corrente
Marinha que me traga a liberdade
De ser e estar em ti, mar envolvente,
Trafegue nosso barco, insanidade,
Deixando nosso mundo mais contente.
Te quero conteúdo, com ternura,
Contato, com destreza; estupefato,
Bailando a sensação mansa e tão pura
Do paraíso-incêndio redentor,
No sol a lua intensa, um aparato
Que trama nossas horas, mar, amor...
X
6930
FALANDO EM AMOR...
Areias escaldantes do deserto.
As brancas testemunhas deste ocaso.
Amor que traduzimos por incerto,
Morrendo na tardinha, findo o prazo...
Um pobre beduíno, céu aberto,
Espera pelo oásis, ao acaso.
A miragem do amor, sem nada certo,
Olhar pleno e distante, morto e raso...
Areias escaldantes desta praia
Delícias de morenas e sereias...
O sol enamorado já desmaia,
Casais semi-desnudos se acasalam,
Desfilam seus hormônios nas areias...
Camelo e beduíno, nada falam...
X
6931
Qual pluma que bailando com o vento
Entregue a tais carícias envolventes.
Parando, recomeça, num momento,
Na dança e nos folguedos mais frementes,
Meu coração aos poucos toma assento
E esquece de outros dias, penitentes.
Querida, não me sai do pensamento
Inveja que causamos a outras gentes.
Anseio te tocar, mas te procuro
Em todas as palavras que eu disser
Em todos os meus sonhos, em meus versos.
A luz que me inebria neste escuro,
A silhueta bela da mulher
Em magnitude plena, os universos...
X
6932
Num fio tênue prende-se amizade
Tecida com raríssimo esplendor.
Nos nós deste tecido uma verdade
Se mostra plenamente em seu fulgor.
Se bem cuidado traz felicidade,
Se maltratado perde o seu valor.
Rolando nas mentiras, no cascalho,
Uma amizade morre sem ter cura,
Quem fora para Deus, como um atalho
Morrendo traz um gosto de tortura.
Não permitindo mais um ato falho,
Uma amizade é plena de ternura.
Não deixe exposta assim, neste relento.
Amor, para amizade, um alimento..
X
6933
Tu tens a formosura da açucena
E todo o bom perfume da esperança.
A pele tão macia da morena
Convida para à noite, nova dança,
Na madrugada a sorte nos acena
Que a noite, sem juízo, uma criança...
Vagando sem parar, estrelas, luas...
Na paz que me ilumina, saciedade...
Nas carnes majestosas, lindas, nuas,
Amor que a gente faz em liberdade.
Voando sem ter asas, já flutuas
Desejo a nos cortar, profundidade...
Maravilhosamente a vida passa
Permita ser de novo, tua caça...
X
6934
UMA AMIZADE
Pedra que muito muda
Jamais produz o limo,
Eu peço tua ajuda,
Amiga a quem estimo,
A vida é tão miúda
Se nunca alcança o cimo,
Calada, resta muda
Sozinho, eu me deprimo.
Na luta desumana
Por paz que seja eterna,
Quem sabe sempre engana,
Esconde uma lanterna
E assim, se desengana
Uma amizade terna...
X
6935
AMOR
Escrevo sobre amor
Assim, querida eu penso
Que o mundo vai tão tenso
Tristonho e sofredor
Sem canto sedutor
Aonde recompenso
Amor demais imenso
Que surge tentador.
Não quero mais quebranto
Nem sonhos doloridos,
Amor secando o pranto,
Tocando meus ouvidos
Com belos, ricos cantos,
Pra sempre resolvidos...
X
6936
COMO TE QUERO!
Futuro mais brilhante
Encontro na rainha
Que se fez importante,
Já sendo toda minha,
Não sou mais arrogante
Amor quando se aninha,
Te quer, dócil amante,
A mão que me acarinha.
Eu quero te encontrar,
Querida, bem amada,
Bebendo este luar,
Tomando a madrugada
É bom demais te amar,
Não quero, enfim, mais nada...
X
6937
EU AMO VOCÊ!
Amor correndo o risco
Em mãos entrelaçadas,
Vivendo tão arisco,
Em frases formuladas,
No canto em que me arrisco
Descalço nas calçadas,
Amar, colher petisco
Em bocas mais molhadas.
Não fecho mais a porta
De um louco coração,
O medo não me importa,
Eu quero a sedução
Da noite que se aporta
No cais desta paixão...
X
6938
MINHA QUERIDA AMIGA
Amiga certamente
A vida nos fará
Num gesto mais clemente
O sol que brilhará,
Quem veio tão descrente
Enfim saberá já
Do sol que no poente
Pra sempre chegará.
Meu verso se faz triste
Distante de teus braços,
O tempo não existe
Seguindo tantos passos,
Um canto que persiste
Estreita nossos laços...
X
6939
EU AMO VOCÊ
Na beira do caminho
Sentado, solitário...
Eu ando tão sozinho,
Perdi o itinerário...
Quem dera um passarinho,
Não fosse temerário
Viver sem ter seu ninho,
Num mundo ledo e vário.
Sou quase um bicho triste
Sem ter o teu carinho,
Amor demais existe,
No peito pobrezinho,
Querendo o teu alpiste,
Amor de um canarinho...
X
6940
Amiga; me desculpe se te enfado
Com tais quinquilharias; eu bem sei
Que são somente sombras do passado.
De um tempo bem distante que passei
Buscando reverter meu triste fado
Sabendo o sofrimento como lei.
Meu ar tão rarefeito, sem promessas,
Morrendo em cada verso, em cada dia.
A vida nos pregando tantas peças,
Matando o que se fora em poesia,
A sorte me virou, fui às avessas,
Somente me restando a fantasia
Que visto nesta tarde de faxina,
Restolhos de uma luz diamantina...
X
6941
Frio? Deixe lá fora, meu amor.
A chuva não terá por certo, encanto,
Deitados nesta sala, aqui num canto,
Dois corpos se aproximam com calor.
Vinho, maravilhoso sedutor,
Aquece meu desejo tanto, tanto...
O frio e a solidão assim espanto
Bebendo em tua boca, o teu licor.
Nos mimos que me trazes, alegrias,
Nos beijos que trocamos, seduções.
Além do que bem sei, tanto querias,
No fogo da lareira, chama e gozo,
Envoltos pelos dedos das paixões,
O dia vai passando, tão gostoso...
X
6942
Amor é como faca de dois gumes,
Tramando uma alegria que entristece
Espinho que se encharca de perfumes
Pragueja simplesmente em cada prece.
Cegando num escuro de tais lumes
Amor não tem juízo e sempre cresce
Nas dores que lhe servem como estrume
Teimoso, nosso amor não obedece.
E faz de suas leis, as artimanhas,
E faz de seus segredos, nossa sina.
Se em todas as derrotas é que ganhas
As sanhas de um amor não têm limites.
É dono da verdade cristalina
Amor nunca aceitou quaisquer palpites...
X
6943
Deste corte profundo por herança
Na boca ensangüentada beijos, riso,
Carpindo cada aborto da esperança
Vencidos os meus sonhos sem aviso.
A dor é minha cota de fiança
Os cardos enfeitando o paraíso
O gesto sem sentido da criança
No passo vacilante que repiso.
Mas vejo que se perde esta amargura
No doce da vontade da morena
Nos olhos bem mais verdes da ternura
No tempo que amacia qualquer pranto,
No vento da promessa que me acena
Com jeito tão sereno em raro encanto.
X
6944
Chegamos das senzalas e bordéis,
Dos ocos da existência, medos, trevas.
A vida nos mostrou nossos papéis,
A glória nos negou cantis e cevas.
Mas somos, da esperança mais fiéis,
Rasteiras, pequeninas, boas ervas.
Bebendo sem discórdias mesmos féis
Nascemos e morremos, tantas levas...
Chegamos das cidades e favelas,
Chegamos das mentiras, dos engodos.
Nos restam nascimento, morte e velas.
Amor nos concebeu e nos criou.
Quais perlas que surgindo destes lodos,
A paz do eterno amor glorificou!
X
6945
Que bom que tu voltaste, eu já sofria
Distante de teus braços sedutores.
A noite sem te ter, deveras fria,
Os pesadelos tantos, mil horrores.
Tu és a pura fonte da alegria,
Sem ti a vida morre em estertores...
Sacias minha sede desejosa
De ter esta delícia em meu caminho,
No mel destes teus lábios sei a rosa,
Que vibra delicada sem espinho....
Querida és esperança tão gostosa,
Certeza de que não vou mais sozinho.
Me entrego ao nosso sonho de ternura
Na nossa louca noite... insana e pura...
X
6946
Eu quero saciar a tua sede
Em beijos e carinhos mais constantes
Deitados numa cama ou numa rede,
Dois corpos que se querem, dois amantes;
Não somos só retratos na parede,
Nós somos verdadeiros, radiantes...
Bebermos da alegria em pura fonte
Caminhos maviosos do prazer.
Fazendo desta vida um horizonte
Com olhos e vontades, percorrer.
Não deixe que este mundo mau apronte
Vamos, sem temores, reverter
A dor da solidão em riso franco,
Na paz deste sorriso, calmo, branco...
X
6947
Vontades tão intensas , tentações;
De afagos e loucuras incessantes,
No brilho cristalino, diamantes
Que explodem desejo, alucinações...
Teu corpo no meu corpo... seduções...
As noites são divinas e escaldantes
Desafios de cios galopantes
Na fúria de gostosos furacões...
No movimento leve dos quadris,
No requebro fogoso, bamboleios.
Minhas mãos, os meus lábios, os teus seios...
Mostrando o quanto a gente é mais feliz.
As ondas que percorrem, pensamentos...
Delícia de viver nossos momentos...
X
6948
Eu quero te tocar, beijar inteira;
E desfrutar do gosto do prazer
Roçar tua nudez tão verdadeira
Sem medos, com vontade de te ter...
A boca mansamente, na roseira
Bem sabe dos espinhos. Mas quer crer
Que és minha nessa noite. A rosa cheira
Todo o perfume intenso do teu ser.
Inebriado sinto o teu perfume
E passo toda noite a vasculhar
Deixando já de lado o teu ciúme,
Roubando calmamente o teu desejo.
Sentindo toda a terra se encharcar
Desta umidade densa em nosso beijo..
X
6949
Vencida pela força soberana,
Entrega-se sem sisos a Razão
Causando uma total ebulição
Avança sobre a natureza humana.
Quem sabe e quem conhece não se engana
Estende, com juízo, a sua mão,
Sabendo que esta luta foi em vão,
Santa emoção por certo já se ufana.
Guardando o teu carinho na memória
Além do que pudesse ter sentido,
Amor se faz potente em grande glória,
Sou servo deste amor, estou vencido
E disso há muito tempo percebido
Eu comemoro sempre esta vitória.
X
6950
Amor já é loucura, pode crer,
No amor não há jamais banalidade
Preciso dum amor para viver,
Senão não vale a pena; é falsidade.
Bebemos desta fonte desejosa
Que traz sempre desejo e dá prazer.
Jardim sem colibri, matando a rosa,
A rosa sem espinhos, vai morrer...
Por isso minha amada, a cada achado,
Que faço nesta vida, um bandeirante,
O verde da esperança, esmeraldado,
Dá força pra seguir, sempre adiante...
Te quero mineirinha de Bragança,
E o beijo que te dou daqui, te alcança!
X
6951
A lua companheira dos amantes
Deitando em nossa cama rouba a cena.
Seus raios poderosos e brilhantes
Vibrando em nossa chama nada amena.
Depois de extasiada, por instantes,
De plena vai ficando assim, pequena...
Um dia a lua chega de mansinho
Nos toca e nos levando num segundo
Fazendo sem saber, tanto carinho;
No amor que sempre foi maior do mundo,
Provoca essa mulher maravilhosa
Como uma deusa encharcada de perfume
Rainha dos canteiros, minha rosa,
Tomada, num lampejo de ciúme...
X
6952
Que a vida não permita o desabrigo
De uma prisão escura triste e forte
Que nos detém o rumo, muda o norte,
Da perda de um fiel e bom amigo.
Contigo, companheiro, eu já nem ligo
Se vem uma agonia em duro corte,
Sem ter a mão querida que conforte,
A vida se tornando um só castigo.
Qual fogo que se perde sem ter pira,
Uma amizade morta é fim de linha.
Uma alma que se perde e vai sozinha,
Somente a dor e mágoa assim transpira.
Por isso ao perceber esta verdade,
Eu valorizo sempre uma amizade...
X
6953
Querida, eu quero ser teu namorado,
Numa alegria imensa de querê-la,
Saber que em meu caminho doce estrela
Surgiu me resgatando do passado.
Um rosto tão bonito e delicado,
Que a cada novo dia se revela,
Tornando a minha vida bem mais bela,
Mudando a direção deste meu Fado.
Permita que eu te diga, amada amante,
Do sonho mais gentil e delirante
Que fez a minha vida ter sentido.
Ligados por sutis e fortes laços,
Deitando toda noite nos teus braços,
Meu mundo vai em paz, já decidido....
X
6954
MINHA QUERIDA AMIGA...
Vivendo esta sorte
De ter amizade
Prevenindo o corte
Tendo qualidade,
Mudando meu norte,
Não quero saudade
Amiga em teu porte
O bem da verdade.
Não vejo outra forma
De ser mais feliz,
Na dor que deforma,
No amor por um triz,
Num mundo sem norma,
Amiga, eu te quis.
X
6955
Em vôos delicados, já se espraia
A pomba da aliança prometida.
Lutamos neste amor por toda a vida
Antes que a solidão final nos traia.
Jogados numa areia em vaga praia,
Nós buscamos opção, outra saída
Que impeça nossa estrada estar perdida
Sem que o pano final da peça caia...
O medo de perder é tão intenso
Qual fora um nevoeiro negro e denso.
Porém a sorte imensa e verdadeira
Se faz em cada gesto de carinho.
Qual ave que constrói um novo ninho
Mesmo que seja enfim, a derradeira..
X
6956
Vazio o Templo, Igreja sem cordeiros,
Pastores escolhendo o seu rebanho.
Pensando mais em lucro – quanto eu ganhoDo
que salvar os pobres companheiros.
Os erros cometidos – costumeiros,
Mentiras proliferam deste antanho
Na Cruz, um homem pobre, olha estranho,
Vendido novamente por dinheiros.
Um médico que veio nos salvar
Não tem a clientela que precisa.
Pastor vendendo cura? Em ojeriza
Afasta quem precisa do doutor.
E cobra os honorários sem pudores,
Não fala de amizade nem de amores...
X
6957
Amor que se proclama
Sem medos, verdadeiro,
Contigo, amor inteiro
Acende sempre a chama,
A vida que nos chama
Num toque feiticeiro,
No nosso amor primeiro
Já tece a sua trama
E mostra alucinada,
A sorte desejada
De quem tanto se quer,
Contigo nesta estrada,
Vem logo, minha amada,
Vem ser minha mulher!
X
6958
Nesta sonoridade de minha alma
Uma alameda imensa do passado
Em toda a recompensa que me acalma
Senti tua presença aqui do lado,
Futuro que se lia em cada palma
Mostrando o que nos fora destinado...
Mas tudo se passou e nada mais
Restou deste caminho que trilhamos.
Percebo que te quero, amor demais,
Se nada aconteceu do que sonhamos
A sorte desditosa foi audaz
Trazendo para nós; verdugos, amos...
Quem teve um grande amor na sua vida
Percebe que sonhar não é saída...
X
6959
Contigo, meu amor, por onde fores;
Trilhando por estradas, sendas, ruas.
Palavras carinhosas como as tuas;
Amenizando sempre minhas dores.
O campo do teu lado em belas flores,
Revivem esperanças antes nuas,
Da forma em que me encantas quando atuas
Trazendo novos sonhos sedutores.
A mão da solidão, triste e sombria
Distantes dos carinhos, todos meus,
Refazes em meu mundo uma alegria.
Presença divinal que vejo enfim,
Contigo estou mais perto do Bom Deus,
Amor que renasceu dentro de mim...
X
6960
O mundo tão corrupto, terra ingrata;
Produz sementes podres, maldições.
Em trevas maltrapilhos corações
A dor se multiplica em vil cascata.
Nem mesmo uma esperança que arrebata
Mostra em caminho simples, soluções.
A fome dizimando multidões.
Mão que sustentaria, já nos mata.
Porém o sol que gira é sempre o mesmo,
O planeta sedento vai a esmo
Num compasso marcado pelo medo.
Vai cega e sem caminho, humanidade...
Mal sabe que na força da amizade,
Encontra-se a verdade; eis o segredo!
X
6961
Querida, minha amiga;
É bom saber de ti.
Ternura mais antiga,
Jamais eu te esqueci.
Não tema, assim prossiga,
Vivendo o que eu vivi,
Bem sei quanto se abriga,
Carinho sempre aqui.
Contigo, amiga, irei
Aonde precisar,
No fundo eu te busquei,
Cansei de procurar.
Agora que encontrei,
Não posso te largar...
X
6962
Na força da amizade
Encontro o meu caminho,
Sabendo a qualidade
Não ando mais sozinho,
Não quero quantidade,
Amigo é como o vinho,
Quanto maior idade,
Mais forte nele aninho.
Amiga não promete
Já cumpre por si só,
Não joga assim confete
Nos fala sem ter dó.
A nós sempre compete
Apertar mais o nó...
X
6963
Eu vejo tua sombra na janela
Passando devagar e tão distante.
A vida novamente se revela,
Um mar que sempre foi tão inconstante
Não quero mais guerrilha nem querela,
Apenas uma luz que mais brilhante
Se mostra em minha vida, e se revela
Tal qual amor divino e fascinante.
Tu foste minha sorte e meu azar,
Espinho que se deu em bela rosa,
Qual nuvem que trazendo um bom luar
Consola a dor que causa, sem pensar.
Mulher tão divinal, mas vaidosa
Enchente que já fez tudo secar...
X
6964
Qual árvore podada com machado
Amor se fez ingrato, em duro chão,
Trazendo velhas dores do passado,
Não sabe mais sequer de solução
Amor não mais deixou nenhum recado,
Se fez apenas triste ingratidão.
Quem dera se tivesse do teu lado,
Um resto tão somente de paixão.
Teria transmudado este cenário
O dia não seria temerário
O mundo não viria tão medonho.
Nascentes já morreram abortadas,
As árvores perdidas nas queimadas,
E eu, tal qual as árvores, tristonho...
X
6965
Meu desejo é ter teu colo,
Moreninha meu amor,
Deitar contigo no solo,
Com carinho e sem pudor.
Em teu corpo me consolo,
Vou vivendo, sonhador.
Quero a boca mais bonita
Que já vi na minha vida,
Meu amor, vê se acredita,
Que te quero assim, querida,
A minha alma andava aflita
Sem saber de uma saída,
Mas sentindo o teu perfume,
Da cegueira veio o lume...
X
6966
No corpo levemente longilíneo
Pretendo aprofundar minhas raízes
Tornando velhos dias mais felizes,
Amor que sei assim, forte, sanguíneo...
Teu corpo delicado e curvilíneo
Provoca em meu amor, novos matizes.
Quem sabe sanarei as cicatrizes
Bebendo o teu desejo retilíneo.
Aos poucos não consigo conceber
Sem gozo, sem vontade de viver,
Perdido em multidão, sem teus segredos.
Eu quero navegar em mar sereno,
Mas tomo desta boca o teu veneno
E sinto em teu amor, antigos medos...
X
6967
Quando estava tão triste, sem certezas,
Ao me negar teu beijo, deste fel,
A boca me mordia, frias presas,
A vida se mostrava um carrossel.
Agora que tu vens pedindo mel,
Tu mentes ao fingir delicadezas,
Vagando a noite inteira em negro céu,
Prometes tolamente sobremesas...
Perdendo as esperanças, fiquei louco,
Vivendo meu amor sem ter vitória.
O resto que me deste: muito pouco.
Tu pensas que este amor não tem memória?
Quem dera se mudasses... Mas tampouco
A vida me permite uma outra história...
X
6968
Inútil sensação de ser feliz,
Passado o tempo a limpo, o que restou?
O gesto de uma amante que aprendiz
Aos poucos, meu domínio penetrou
Deixando na fumaça o que bem quis,
Roubando quase tudo o que pensou.
Coração esmoler não mais resiste
E bate em solitude e nostalgia.
Mais nada me restando, o quase assiste,
Bebendo o que sobrara se extasia.
Não digo que fiquei, com isso, triste,
Apenas fui bem menos que eu queria.
Recebo em troca o gosto violentado
Do tempo em que pensei ter sido amado...
X
6969
Eu quero te encontrar, minha querida,
Matando minha sede de querer
Pegando tua boca distraída,
E num beijo atrevido te beber...
Penetrar em tua alma adormecida,
Invadindo todo o corpo de prazer.
Eu quero desnudar-te, de saída,
No vinho de teu corpo entorpecer...
Levar-te para o céu, olhos abertos,
Lamber todo este mel e vasculhar
Os rumos mais gostosos descobertos,
Arder-te em minha febre, um mar fantástico
De pura sintonia, me entregar,
Momento de delírio, amor, orgástico!
X
6970
Bocas que se procuram
Famintas, cegas, cruas,
Prazeres que se apuram
Em carnes, doces, nuas,
As noites que se curam,
Pedintes, querem luas,
Os lábios se perduram
Nas pernas, lindas, tuas...
Versejo com vontades,
Procuro belas flores,
Deixando tais verdades,
Que formam tantas dores,
Distantes, nas saudades.
Ah! Sonhos sedutores...
X
6971
Querida, vale a pena
A gente se encontrar,
Refazer cada cena
Bem manso, devagar,
A vida que se acena
Pra sempre nos tocar,
Uma dor que envenena
Jamais vou perdoar.
Amor é bem sagrado,
Presença divinal.
Vivendo do teu lado,
Sorriso sensual,
Estou apaixonado,
Tu és meu bem, meu mal...
X
6972
Estrela matutina
Brilhando no jardim,
Teu rosto de menina,
Trazendo amor assim,
A sorte me domina,
Amor que não tem fim,
Vencendo a triste sina,
Todinha para mim.
No teu desabrochar,
Ó rosa tão querida,
Se faz belo luar,
Encharcas minha vida,
Assim tu vens curar,
Em mim, qualquer ferida...
X
6973
Se tantas vezes trago
Meus olhos embargados,
Bebendo em cada trago
Meus sonhos maltratados,
Concebo cada estrago,
Em dias delicados.
Buscando o teu afago,
Em versos dedicados.
Eu quero te querer
A vida não tem pressa,
O mundo traz prazer,
Mas passa tão depressa,
Tua amizade, eu ter,
É tudo o que interessa.
..
6974
Nosso encanto, traduzo poesia,
Jogando neste mar as belas flores.
Nos beijos que te dei, tanta alegria...
Misturas nossas almas, meus amores...
No batom que me marcas, fantasia,
Vagamos, sem temer sequer as dores...
Teus cabelos, a lua reluzia,
A vida nos confunde, bons autores...
Espelhas teu reflexo com o meu,
As nossas flores, leva a correnteza,
Meu brilho nos teus olhos se perdeu...
Loucura derramaste em cada canto,
Nos versos que reluzes, tal beleza,
Eu vivo a me render a teu encanto...
X
6975
Sentindo em teu perfume o meu desejo
De ter e ser o sonho mais gostoso
Roubando desta luz cada lampejo,
Fazendo o nosso mundo tão charmoso...
Vivendo a fantasia em cada beijo,
Tornando nossa vida eterno gozo.
Olhando nos teus olhos sempre vejo
O mundo que pretendo; fabuloso...
Teu corpo contra o meu; a noite inteira
Delícias e carinhos neste enlace
Tomados por paixão tão verdadeira.
Tuas costas desnudas... Sensual
Tango nos aproxima. Não disfarce
Esta alegria intensa... Amor fatal...
X
6976
As cores verdadeiras já traduzem
Diversas sensações que nos afloram.
Origem, com certeza destas luzes
Que em sempre transitam, não demoram.
Num prismático sonho me conduzes
Aos arco-íris fantásticos que moram
Nos sonhos de quem leva suas cruzes
Sabendo que mil flores as adornam
Guardando seus perfumes no bornal,
Mostrando uma esperança, em esmeraldas,
Tu tens uma alegria que desfraldas
E trama noite e dia, em bom astral,
Com risos delicados e gentis,
Um mundo mais brilhante, enfim, feliz...
X
6977
Nas cartas que mandaste, a sensação
Reviva das tristezas que passei.
Qual faca penetrando o coração
As lutas dolorosas que travei,
No cheiro putrefato do porão
Por vezes, tantas vezes me esmerei
Tentando transformar a dura lei
Que leva a quem se entrega à solidão.
Nas cartas que mandaste; uma esperança
Um sonho tão bonito de viver.
Nascendo nesta merda, uma criança
Que breve nos fará recrudescer
A luta contra o mal que já se avança
Tentando uma alegria subverter.
X
6978
Nas canções mais bonitas que fizeste
Com notas tão suaves, encantadas,
Curando quem vivera em plena peste,
Trazendo a boa sorte em mil lufadas.
Jamais que a dor retorne e assim me infeste
Depois de dolorosas madrugadas.
A vida não permite um novo teste
Nem quero minhas noites lacrimadas.
Canções tão delicadas, me entregavas
Salvando quem vivera mãos tão frias,
Tirando de meus olhos, suas travas.
Pantanosas manhãs? Jamais, querida.
Corriges meus defeitos, avarias,
Amiga refizeste a minha vida!
X
6979
As horas se passando tão nefastas
Distantes de quem amo, dor profana.
Cortando minhas costas, quais vergastas,
A morte, sem segredos, não me engana.
Pousando sobre mim, nuvens de insetos,
Provindo dos cadáveres; minha alma,
Devoram em repastos velhos fetos
De uma esperança frágil. Nada acalma.
Sentidos tetanizam quem maltrata,
Em trismos dolorosos, sem ter pena.
Pavor já me invadindo, já desata
Sangria violenta que se acena.
A solidão vagueia, e me desgasto,
Sabendo que serei, o seu repasto...
X
6980
Quem nega a claridade de luares,
Deixando as garras sempre demarcadas
E traz nas frias mãos, duras pancadas,
Fornalha onde incendeia tristes pares.
Veneno em sobremesa nos jantares
O vento da tristeza em mil lufadas,
Escorpiões caminham almofadas
Sorrisos de ironia ao beijares.
Lençóis abandonados sobre a cama,
Vagas emoções, loucos delírios.
Sobrando simplesmente meus martírios,
E a voz que solitária te reclama.
Mas deixo a vida agora, morte chama,
Já pode encomendar cravos e lírios...
X
6981
Não mais trarei meus olhos embotados
Apenas em espinhos, sem perfumes,
Os dias de alegria são passados
Em negra solidão, perdendo os lumes.
Tortura de quem chama e não mais quer,
Insensatez completa, maquiagem.
Embora em teu fascínio de mulher
Promessas se transformam em bobagem.
Secando a minha fonte, nada resta
Senão esta vontade de morrer.
Assim, mal terminando o que foi festa,
Não tenho mais caminho a percorrer...
Somente um verso triste que me embala,
Com olhos embotados, perco a fala...
X
6982
Sem nada que restasse logo após
A tempestade negra da paixão,
Um vôo da esperança, uma ilusão
Transforma-se querida, em meu algoz.
Calando totalmente minha voz
Emudecendo um velho coração
Que, embalde se levou em sedução
Na busca de outro mundo. Mas, feroz
A solidão batendo em minha porta
Fornalha em que me queimo noite e dia.
A vida se mostrando cega e torta,
Distante da emoção, sem alegria.
Apenas um carinho que me aporta
Da amiga verdadeira que me guia...
X
6983
Só quero esta delícia de querer-te
Poder ter teu carinho e te abraçar;
Meus braços em teus braços, envolver-te
E sempre que puder, poder te amar...
Me nina se quiseres, meu amor,
Menina, se quiseres, sou feliz.
Eu quero esta beleza, mansa flor,
Fazendo-me, do amor, um aprendiz...
Eu quero o vento doce do cerrado
Trazendo uma esperança pro meu canto.
Quem dera se por ti eu fosse amado,
Quem dera inebriado em teu encanto,
Meus versos não seriam mais tristonhos,
Meus sonhos, sem temor, bem mais risonhos!
X
6984
Boca macia, meiga e desejável.
Fazendo mil viagens sobre mim.
Num gesto carinhoso, inexplicável
Mordendo levemente, bem assim.
Amor a se tornar tão inflamável
Numa explosão divina traz enfim
A solução da vida, antes ruim,
Agora mais gostosa e adorável.
Aumentam meus desejos e vontades
De todo o tempo estar junto contigo.
Refletes todo o sonho que persigo
Tramando com amor saciedades,
Passando a conquistar felicidades
Protegendo-me, enfim do desabrigo...
X
6985
Trazendo em ofertório um sentimento
Tranqüilo de quem sabe ser feliz,
Ajudas, companheira, num momento
A quem tanto lutou e tanto quis.
Palavras se perderam neste vento,
Mudando da esperança o seu matiz.
Mas logo em teu carinho, doce ungüento
Fechando uma ferida, em cicatriz.
Teu colo que é por certo, meu asilo,
Já traz toda a certeza de abrigar
A quem a sorte negra, num cochilo
Teimou em tantas vezes magoar.
Regaço carinhoso onde me asilo,
Fazendo a tempestade serenar...
X
6986
Mistérios que tu guardas escondidos,
Debaixo destas saias, tanto encanto.
O vento que balança os teus vestidos
Levanta meus desejos, entretanto.
Sacio estas vontades, me agiganto,
Meus dedos te tocando, decididos,
Retiro de teu corpo todo o manto,
Meus lábios te percorrem, decididos...
Te sinto então feliz e saciada,
Matamos nossa fome num segundo,
Tua beleza mágica orvalhada,
No doce que produz, eu já me inundo,
Os gozos que se fazem,sensuais,
Deixando esta vontade, querer mais...
X
6987
Tua dedicação, qual enfermeira
Que cuida com enlevo e tanto amor,
Trazendo no sorriso sedutor,
A mágica sensível, feiticeira;
Amiga, poder ser a vida inteira
Assim, tão dedicada e com fervor,
Ajuda a quem precisa, cura a dor,
E mostra uma alegria derradeira.
A quem já sofreu tanto desamor
Mostrando em alegria, esta bandeira
Que é plena de carinho, encanto, ardor.
A mão tão delicada e costumeira
Fazendo-se mais forte e com penhor,
O brilho da amizade verdadeira...
6988
As bocas que não beijo, eu beijarei.
Promessas aquecidas pelo vinho...
Não quero nem permito triste lei,
Amar jamais será viver sozinho...
Amarras esquecidas, te encontrei,
No peito de quem ama, já me aninho.
Não minto nem omito o que não sei,
Canto qual solitário passarinho.
O tempo que perdi, jamais retorna.
O vinho que bebi, o copo entorna.
As bocas que beijei podres delícias,
Nas noites encontrei tuas carícias.
Não me negaste nada, mas se cala,
A boca que hoje beijo, nada fala...
X
6989
As águias dos amores desfalecem,
Nas asas das falenas delicadas.
Os olhos dos meus sonhos já padecem
De amaurose cruel. As tolas fadas
Esquecidas num canto nada tecem,
Persistindo desejam ser amadas,
Mas as noites vazias escurecem
Não lhes restam sequer as madrugadas...
Nostalgias e cantos . Quem em dera!
A verdade entorpece quem amou.
Este inverno impedindo a primavera,
Mansa aurora essa vida me negou.
No meu peito mordisca dura fera
Apenas amizade o que restou...
X
6990
A solidão terrível, muito amarga
Qual fora um oceano tão sombrio.
Pesando em nosso peito, dura carga
Tomando um coração em vento frio,
Apenas na amizade já se alarga
Caminho que julgávamos vazio...
Procura-se um amigo com lanterna
Na noite escura e negra da amargura.
A mão que nos envolve, mansa e terna,
Transborda em tais carinhos, com ternura.
Quem sabe sendo assim, a vida eterna
Não seja uma utopia e sim a cura.
Um ramo de oliveira, a pomba traz,
Numa esperança clara, toda a paz...
X
6991
Bendigo este prazer que não negaste,
Em trâmites deveras formidáveis.
Na noite que profanas ,tal engaste
Mostrado em teus carinhos, mais amáveis.
Meu coração, querida, mal locaste,
Vieste com teus atos intratáveis.
Depois o tempo passa e tudo esgarça
Arrebentando a corda do querer.
Não falo deste caso como farsa,
Apenas vou querer sobreviver.
A sorte se perdeu por ser escassa,
Sobrando assim, quem sabe, meu prazer.
Mas guardo, mesmo amargo e bem antigo,
O gosto do teu beijo, que bendigo!
X
6992
Os olhos ariscos
Arranhando o céu,
Fugindo dos riscos
Lambuzo de mel
Os doces petiscos,
Distante e cruel,
Quebrando meus discos.
Rasgando este véu.
Sozinho não canto,
Nem sou mais ninguém,
Perdendo esse encanto,
Vivendo sem bem,
Secando o meu pranto,
Amiga já vem...
X
6993
Acendo um cigarro,
Sozinho no quarto,
A vida faz sarro,
De amor ando farto,
Eu ligo meu carro,
De noite, e já parto,
Na lama, no barro,
A sorte, eu descarto.
Porém resta o brilho
De ser teu amigo,
Num velho estribilho
Um sonho prossigo,
Seguindo o teu trilho,
Encontro um abrigo...
X
6994
No mato me criei, sou como um bicho,
Escondo meu olhar, olho pra baixo,
Pescando lambari neste riacho,
A perna se cobriu de carrapicho.
Não posso te dizer que amor é lixo,
Nem mesmo bananeira que deu cacho,
De amor, falando sério, eu não me empacho
Nem quero discutir qualquer capricho.
Apenas vou vazar na braquiária,
Deixar de ter segredos, ser mais ágil.
Quem pensa que mulher é um ser frágil,
Não sabe desta vida quase nada.
Quem acha que já viu alguma otária
Sua alma com certeza anda penada...
X
6995
Seu moço vou falar desta barganha
Que um dia resolvi fazer contigo.
Amor quando demais, um cabra assanha
Não vê depois da curva, esse perigo
A moça que pensei estava ganha,
Pra ti já quer voltar, e eu não consigo
Conter uma sangria assim tamanha,
Embora bem no fundo, eu não mais ligo.
A mula que levaste é de primeira,
Em troca da mulher tão melindrosa.
Eu falo que esta mula é bem cheirosa,
E se mostra fiel e companheira.
Devolvo essa mulher, mas quero a mula,
Mais mansa, carinhosa, ela me adula...
X
6996
Meu sonho vai vestido em linho branco
Atravessando as noites nada alcança.
Apenas um sorriso de criança
Restando do que fora um moço franco.
No dia que percebo e que alavanco
O que sobrou de tudo, uma esperança,
O medo de viver já não me cansa,
E perto de teus olhos, eu me estanco.
Avanço, vou incólume, o caminho,
Embora em passos trôpegos, persisto.
Quem sabe inda serei por ti benquisto
Quem sabe beijarás a minha boca.
Meu sonho vai teimoso em branco linho,
Mesmo que esta esperança seja pouca...
X
6997
Bem sei do sofrimento que te toma,
Amiga sempre é bom ter um alguém
Que junto com a gente sempre soma
E ajuda a superar quando a dor vem.
Às vezes nos achamos em redoma,
Sozinhos neste mundo sem ninguém...
Mas a presença forte da amizade
Nos traz uma esperança mais feliz.
Permite que se veja a claridade,
E o mundo que sonhamos, que se quis.
Não sofras estarei em realidade
Contigo pra sanar a cicatriz
Da dor que te devora sem dar tréguas,
Mesmo que esteja agora a tantas léguas...
X
6998
Roubando desta lua cor de prata
Os brilhos em mil raios luminosos,
Depois de certos dias dolorosos,
A sorte novamente me arrebata.
Apenas neste amor, sorvendo a nata,
Esqueço de teus lábios venenosos.
Percebo em trocadilhos mais jocosos,
Que quem eu desejei agora, mata.
Jogada nos currais, em lama e barro,
Passeia o seu sorriso mais bizarro,
Vestida da mortalha em que se fez,
Luxúrias e vergonhas, desprezada,
A forma desdenhosa e profanada
Mostrando a podridão em suja tez.
X
6999
Em noites provocantes, vaporosas,
Na pele nívea forma delicada.
Olores penetrantes, flóreas rosas,
Moldando uma beleza imaginada.
As mãos que se procuram, mais fogosas,
Encontram fonte rara disfarçada
Debaixo dos espinhos nas formosas
Flores, já despidas e sem nada.
Pairando pelo quarto, bruxuleia
A luz que em transparências traz o dom
De dar um sedutor tom sobre tom
Na perla que se mostra e que incendeia
Aberta a camisola, sem receios,
Explodem pequeninos, duros seios...
X
7000
A moça que vivia amargurada
Olhando da janela de seu quarto,
Não via que esta noite enluarada
Trazia um principesco nu e farto.
O pobre descansando na calçada,
Refletia na poça o seu retrato,
A moça sonhadora, enamorada,
Guardava para si o seu recato.
Porém, não vendo o príncipe pensava
Que amor que um dia teve não voltava.
Vendo na poça d’água reles trapo
Gritou e se assustou com o que viu.
E fechando a janela despediu,
Xingando aquele horrendo e pobre sapo.
X
7001
Quem dera se bebendo do veneno
Que a própria cascavel inda produz
Morresse da picada, em ódio pleno,
Serpente que rasteja e que conduz
Por sobre a terra fria, a jararaca
Lambendo cada rastro, traz no bote,
O cheiro mais impuro da cloaca
Enchendo a paciência, quebra o pote.
Mas sangue desta cobra em alergia,
Causando-me terrível urticária,
Um dia, se mostrando com magia,
Já teve sedução, bem temporária.
Agora balanço o seu chocalho,
Não resiste sequer aos dentes d’alho...
X
7002
Desnudo tua pele com meu beijo,
Bebendo teu suor num mar de amor.
A cada vez que lembro te desejo
Saudades do teu toque sedutor...
Olhando para a praia sempre vejo
Teu corpo tão sublime e tentador,
Teus olhos me queimando num lampejo
O gosto da paixão, revelador...
Afago tuas costas, desço as mãos..
E sinto o arrepio percorrendo
Procuro te encontrar descubro os vãos
E bebo no teu beijo esta doçura...
A lua com seus braços envolvendo;
Na sensação divina... da ternura...
X
7003
As minhas asas pedem novo vôo
Depois de tanto tempo em desamparo
Não posso te dizer se não perdôo
Nem mesmo se restou amor tão caro
O resto dos escombros denuncia
A morte feita em vida não protege
Nas horas que vivia apodrecia
No fundo não passava dum herege...
Talvez a podridão seja desculpa
De quem, em vida, nunca teve alento.
O medo de sonhar foi minha culpa
Vagando em cada esgoto, assim divago,
De tudo que vivi, só sofrimento.
A morte então seria o meu afago...
X
7004
Cismando sem juízo, velhas sendas,
Estradas que passei em outras eras,
Permitem que iludido, creio, acendas,
De novo num fulgor, as primaveras.
Tampando cegos olhos, outras vendas,
Impedem-me de ver rotas severas.
Abrindo bem profundas, grandes fendas,
Expondo de tocaia, garras, feras...
Olhando para o longe, enfim divago,
E penso que inda tenho algum afago.
Depois, desiludido, volto a mim
E risco mais um nome desta agenda
Porém, qual imbecil, retorno enfim,
E volto a percorrer a mesma senda...
X
7005
Não posso cercear uma emoção
Tampouco desprezar um sentimento.
Meu sonho que se foi, num brusco vento,
Deixando aqui sozinho, o coração.
Às vezes esquecendo o pensamento,
Mergulho num resquício de ilusão.
Ouvindo novamente o mesmo não,
Percebo que não resta um só momento.
Palavras bem mais rudes que disseste
Talvez fossem mentiras, ou defesas.
Não cabe mais um sonho que reveste
Meus olhos em teares, fossas, mesas.
Porém quando insensato não depuro,
De teu amor, insano, eu mesmo juro...
X
7006
Brincando com destino, num desdém,
Sozinho não vacilo um só segundo.
Bem sei que na verdade sem ninguém,
Meu peito se tornou um mar sem fundo.
Distante da esperança, vou aquém
Daquilo em que não sonho nem me inundo,
Quem dera se pudesse ter o mundo,
Mas sei que depois disso, nada vem.
Porém no decorrer de tantas horas,
Debruço o coração nestas ameias.
Sem nada o que sonhar como incendeias
Um semimorto velho em que te ancoras.
Às vezes me pergunto, isso é demais,
Se são somente sonhos ou reais?
X
7007
Andara certo tempo, qual perdida,
Sem rumo, sem caminhos, sem seu norte.
Irmã dos sofrimentos, sem a sorte
De quem já procurou amor na vida.
Nas brumas de seus olhos, despedida,
Destino mais cruel, profundo corte.
Espera calmamente pela morte,
Uma alma já cansada, sem saída...
Porém um olho mágico se vê
Por trás da porta sempre mal fechada,
Permite-se, com isso, que se crê
No renascer da vida, iluminada,
E surpreendentemente uma emoção
Revela-se nos olhos da paixão...
X
7008
Quem sabe pela dor, por certo, eleita,
A vida não prossegue em claridade.
Inspiração terrível, mas perfeita
Mostrando a face negra da verdade.
No leito; transtornada, ela se deita,
E mostra as garras frias da saudade.
Na pele em cada ruga, vai desfeita
A sorte que julgara imensidade...
Não vendo mais caminhos neste mundo,
Mergulha num segundo em mar profundo;
Ali percebe um riso mais jocoso.
Quem fora primavera já se vai,
Em cada nervo o rosto se contrai,
E paradoxalmente, vem o gozo...
X
7009
As lágrimas refletem, cristalinas,
As dores que transitam pelo peito...
Tristezas, tantas vezes, descortinas;
Como é que posso estar mais satisfeito,
Se nas mágoas te perdes, alucinas...
Não esqueçamos nunca do direito
À tal felicidade. Nas esquinas,
Nas curvas do caminho, dá-se um jeito.
Mas não se perca amiga, a vida segue...
Os dias modificam com a brisa.
Não temas a dor, não mais a negue.
A morte não se apressa nem avisa.
A sorte é fugidia, então a pegue;
D’amores e saudades, se precisa...
X
7010
As horas que se passam não se calam,
Espreitam tempestades, má resposta,
As mãos tão delicadas não embalam
Cortando minha carne talho e posta.
Os olhos que me miram sempre escalam
Mostrando na verdade, quem não gosta,
Verdade nos teus lábios vai exposta
No pobre que estes hálitos exalam.
Jogaste fora a sorte num momento,
O barco naufragaste, sem valia,
Da chama que acendeste, nada ardia,
Procuro te entender, mas não consigo,
Tomando em minha face o duro vento,
Distante de teus olhos, eu prossigo...
X
7011
Trago impressa, em minha alma, a tatuagem
Formada por amores impossíveis...
As tintas são por vezes invisíveis
Mas trazem os sinais da tua imagem.
Vivemos um amor de mansa aragem,
Em tempos que passamos mais incríveis.
Porém em nossas cruzes indizíveis,
As dores nunca foram qual miragem
A cicatriz que trago não se acanha.
A mão tão delicada já me arranha
O medo me transtorna totalmente.
Não deixo de sentir, por ti, desejo;
Embora em teu carinho, sem ter pejo,
As garras me feriram plenamente.
X
7012
Após um dia tenso de trabalho,
Cansado das diversas confusões,
Mostrando o coração quase em retalho,
Envolto em tantos erros e senões.
Na boca que ofereces, eu me espalho.
Sentindo o teu calor, as emoções
Que no princípio, errático, embaralho,
Num misto de diversas sensações...
Cansaço com desejo se misturam,
Em teus carinhos mato minhas iras.
Os corpos se tocando, se costuram
Forram-se nos calores de mil piras.
Depois do árduo trabalho, penitência,
Eu deixo-me entregar sem resistência...
X
7013
Meu cavalo vai solto com o vento
Ultrapassando vales e montanhas,
Na liberdade plena, o pensamento
Vencendo nos caminhos, artimanhas.
Tu sabes quanto em mim, saudade arranhas,
E toca sem segredo, os sentimentos.
Os dias se arrastando morrem lentos,
Atrás de cada passo, tuas sanhas.
Deslizo pelos ares, meu corcel,
Em nuvens negras, tristes, desenganos,
Qual fossem os rebanhos lá do céu,
Invento mil desculpas, traço planos,
Amor fazendo o peito de quartel
Mitigando estes males desumanos...
X
7014
Navego neste mar, tranqüilidade;
As âncoras jogadas nos teus braços.
Depois de imaginar já ser bem tarde
Estreito fortemente nossos laços.
Eu sei quanto é preciso a liberdade
Mas nada me detém, nos teus abraços
Encontro no prazer diversidade
E assim já vão mais firmes os meus passos.
Num frágil sentimento que tomara
A vida de quem soube ser amara
A sorte destrutiva que maltrata.
Querida, eu te dedico este soneto,
Trazendo uma esperança, eu te prometo
Meu verso em transparência mais exata
X
7015
Rondando toda noite, em sedução
Qual fora uma falena em forte lume,
Persigo tua pele, o teu perfume,
Em versos verdadeiros, emoção.
Fazendo desbravar cada rincão
Do peito em se sonha e se presume,
A sorte de viver em ti resume
Vibrando bem mais forte esta paixão.
Erguendo este troféu, amor intenso,
Escolho cada verso pra dizer
Do quanto borbulhando, vai meu ser
Nos olhos de quem amo, e sempre penso.
Sabendo que encontrei felicidade,
Navego neste mar, tranqüilidade...
X
7015
Contigo eu consegui tudo o que quis
Um velho caminheiro, outrora triste,
O amor; agora sinto que persiste
Mudando um velho céu, novo matiz.
Quem sempre se julgara por um triz
Percebe que esperança inda resiste
No amor que eu encontrei e sei que existe
Em cada novo dia, peço bis.
Vestindo meu sorriso nos meus lábios,
Os sentimentos magos, doces, sábios,
Fagulham e latejam, coração.
Qual fora uma verdade que ocultasse
A vida não permite mais disfarce
Rondando toda noite, em sedução...
X
7016
Eu peço, nunca mais de mim apartas
O sonho mavioso em que vieste.
A sorte que em teus braços me reveste
Promete noites plenas, mesas fartas.
As dores tão terríveis que descartas
Na sorte delicada em que se veste
O mundo em alegria em que se ateste
Previsto há tanto tempo em outras cartas.
Marcando cada passo do caminho
Com flores, guloseimas e delícias.
Agora que não sigo mais sozinho,
Percebo que consigo ser feliz,
Decifro em tuas mãos tantas carícias
Contigo eu consegui tudo o que quis...
X
7017
Daquela a quem amor eu ofereço
Não quero nada mais do que seu beijo,
Envolto totalmente no desejo
Meu coração, feliz, eu obedeço.
Assim em cada novo dia eu teço
Mil versos com carinho e com traquejo.
Quem fora tão sozinho sente pejo
E a triste solidão, enfim, esqueço.
Não posso me calar, por isso eu grito
Soltando minha voz, estava escrito
Nos búzios, nas estrelas e nas cartas
Que um dia poderia te encontrar,
Agora que eu te tenho, tanto amar,
Eu peço, nunca mais de mim apartas...
X
7018
Trazendo para a vida, mil pendores
Vieste mansamente, amada minha.
Tocando minha pele já se aninha
E mostra em mil sorrisos, os amores.
Jardim que se floriu em belas flores,
Parceira dos meus dias, avezinha
Que voa pros meus braços, bem mansinha;
Contigo irei pra sempre aonde fores.
Versos e palavras não traduzem
O quanto; nesse amor, já reproduzem
As alegrias todas que mereço.
Não sai do pensamento um só instante
Olhar angelical e deslumbrante
Daquela a quem amor eu ofereço...
X
7019
Somente teu amor me satisfaz
Por isso é que não quero te perder,
Razão que eu encontrei para viver,
Certeza de passar a vida em paz.
Um vento mais suave a noite traz
Em flores meu jardim a se verter.
E passo, num instante a perceber
Que posso ser feliz, que sou capaz.
Tu mostras teus sorrisos redentores,
Tu falas, irradias, e me encantas.
As dores, solidão; por certo espantas
E fazes de meu dia, um raro sol,
Brilhando intensamente este arrebol
Trazendo para a vida, mil pendores...
X
7020
Mostrando um cais seguro onde aportar
Depois de navegar sem segurança.
Agora quando encontro uma esperança
Estendo minhas mãos para o luar
E venho, mansamente dedicar
Um sonho mais gentil que já me alcança
Promessa de ser livre, em aliança
Com quem eu escolhi para adorar.
Castigos? Não mais temo, sem pecados,
Recebo de teus olhos os recados
E vejo: poderei seguir em paz.
Quem fora tão somente um sonho triste
Ao ver uma alegria não desiste,
Somente teu amor me satisfaz!
X
7021
Amor vai dominando esta emoção
Que aflora no meu peito e não tem hora,
Quem sabe ser feliz por certo adora
E vive plenamente uma paixão.
Batendo em descompasso o coração,
Que sabe quando a vida assim decora,
Quem vive mais sozinho, sempre implora
A mão de uma doçura em tentação.
Querendo receber o teu carinho,
Mergulho nos teus olhos, sinto o gozo,
Num beijo delicado e mais fogoso,
Acerto assim de vez, o meu caminho.
Menina; conseguiste me salvar
Mostrando um cais seguro onde aportar...
X
7022
Renovei, minha amada, esta certeza
De ser feliz um dia, estar contigo.
Depois de tanto tempo em que persigo,
Percebo que me farto nesta mesa.
Sentindo em teu carinho tal leveza
Acreditar, por vezes, não consigo.
O rastro que deixei, amargo, antigo,
Levou minha esperança em correnteza.
Mas sinto que raiou um novo tempo
Em dias mais felizes e risonhos,
Permito-me voar em belos sonhos,
Afasto do caminho, o contratempo,
E sigo tendo em ti, a redenção,
Amor vai dominando esta emoção...
X
7023
Tentando me olvidar de uma saudade
Que foi durante tempos companheira,
Às vezes eu julgava derradeira
Porém em outros dias, na verdade
Eu tinha esta certeza que me invade
De ter uma esperança de quem queira
Compartilhar da glória verdadeira
De ter amor perfeito. Mas quem há de?
Um dia, caminhando em passos mansos,
Descendo este riacho tão profundo,
Eu mergulhei insano, num segundo,
Na busca por divinos, bons remansos.
Aí ao encontrar tua beleza
Renovei, minha amada, esta certeza...
X
7024
Talvez não conhecesse desatino
Quem vive na procura de um amor,
Um sonho por demais encantador
Guardado desde os tempos de menino.
Um canto mais feliz onde alucino
Mostrando este caminho tentador.
Da sorte que me fez adorador
Um pássaro cantando um doce trino.
Vencendo meus temores de ser só,
Andando pelas sendas mais formosas,
Ouvindo bem distante um curió
Sonhando com o canto em liberdade,
Espalho nos teus passos, tantas rosas,
Tentando me olvidar de uma saudade...
X
7025
A vida sem valia, sem prazer
Distante de quem quero para mim,
O mundo se perdendo sem ter fim,
Somente minha dor a florescer.
Cansado de lutar, sem perceber
A solução de tudo, sigo assim,
Sem cores e perfumes meu jardim,
Não tenho mais as ganas de saber
Aonde se escondeu estrela rara
Que trouxe para a vida, um claro brilho.
Estrelas reluzindo, uma tiara,
Os passos vãos, perdidos, sem destino,
Quem dera não tivesse este empecilho
Talvez não conhecesse desatino...
X
7026
Meu verso em transparência mais exata
Mostrando o quanto quero te encontrar.
Procuro por pegadas ao luar
Adentro noutras sendas; densa mata.
A solidão que tanto me maltrata
Percebe que perdido, a te buscar,
Talvez eu não consiga mais lutar
E vem bem mais voraz, e desacata.
Não sei por que tu foste noutro rumo,
Nem sei mais se consigo prosseguir.
O frio desta noite a me ferir,
Invade e me transtorna, sem aprumo
Não tenho mais vontade de viver,
A vida sem valia, sem prazer...
X
7027
Nos versos que compus para você,
Talvez eu disse mais do que queria,
Chegando novamente em outro dia,
Vivendo sem motivos, nem por que.
Remeto em cada frase uma alegria
Distante do que vejo e que se crê.
No corpo em que carinho sempre lê
As bocas decorando geografia.
Minha palavra tenta ser mais pura,
Porém tanto desejo me tortura,
Na pele vou buscando uma morada.
Cansado de querer e não ter nada,
A mão nas suas costas vai pousada
Numa aquarela um quadro, uma moldura...
X
7028
Te acompanho; querida, pelas ruas,
Em todos os caminhos onde fores,
As minhas fantasias são as tuas
Meu céu sem teu amor, perdendo cores...
Nas brumas e nos mares, continuas
Em mágoas que passei por desamores,
Nos sonhos que sonhei; deusa, flutuas.
Teus olhos irradiam esplendores.
As noites se sucedem... Melodia
Envolvente, não deixe-me perder...
No brilho em que o cristal puro irradia,
Encontro o teu olhar, meu doce abrigo.
Envolto pelos braços do querer,
A vida inteira, amor, irei contigo...
X
7029
Caminhos que senti profusamente
Em várias cercanias que eu trilhava.
Vestido deste sol tão inclemente
Por certo em cada passo mais suava
A mão já tão cansada quão tremente
Carinho em outra mão bem sei, buscava.
Tropeça, cai, machuca, mas se ri
E mostra em gargalhadas ser matreira
Depois que novo rumo, assim, perdi
A mão que desejei tão companheira
Encontro, finalmente por aqui
Depois de vasculhar a terra inteira;
Nas ânsias por amor bem mais sincero
Encontro em ti, querida, o que mais quero...
X
7030
Meu amor impreciso qual cometa
Remete na centelha de teus passos
A vida que se fez mais incompleta;
Ocupa sem querer os teus espaços.
Repete cada luta que repleta
A boca esfomeada tantos maços
Fumados. Emoção analfabeta
Não sabe nem percebe os mansos braços
Que envolvem calmamente meu pescoço;
Alegria fugaz voando breve
Restando uma incerteza em alvoroço
Escrita nestas páginas vazias.
Mas eu te peço, amor que assim me leve
De volta às velhas luzes, fantasias...
X
7031
Buscando-te em palavras, versos, sonhos,
Em símbolos distintos de esperança.
Vibrando nossos mundos tão risonhos
Na graça que demonstras, cada dança.
Em calmos mares gritas tempestades,
Enquanto meu caminho é manso e claro.
Escravo dos meus medos e vontades
Amor sem ter limites te declaro.
Mas ris desta proposta que te faço,
Omites as palavras que te digo.
Tomaste meu destino, rumo, espaço.
Abrigas nos sorrisos, tal perigo
Da solidão imensa que virá
Neste olhar tão distante em que nada há...
X
7032
Bastardas sensações de medos crus,
Ensimesmando sempre a mesma história
Voando sobre nós os urubus
Querendo o que sobrar da merencória
Fornalha em que vivemos quase nus,
Sem rumo e sem troféus sem ter vitória
Na mão do vencedor qualquer obus,
No corpo derrubado, riso e glória.
Eu bebo do teu sangue e te escarrando
Demonstro quanto amei cada mentira.
Depois de ter fugido não sei quando
A vida em precipício já se atira.
Sei lá se estou querendo ou vou te amando,
A mando do que fomos; nada gira...
X
7033
Meu louco amor descansa nos meus braços,
Qual redentora glória em meu outono.
Encontro meu caminho em teus espaços,
Deixando mais distante um torpe sono.
Não quero descansar, atando os laços,
Unidos ao teu corpo, em abandono,
Meu pensamento voa nos teus passos,
Rainha juvenil em mago trono.
Invoco meus poemas, testemunhas,
Sem mais cantos perdidos, nem flagelo,
Arando nosso amor, vivo rastelo,
Separo ervas daninhas, rego a rosa,
As garras me tocando, tuas unhas,
Pantera em pleno ardor, silenciosa...
X
7034
As musas sequiosas dos amores,
Procuram pelos faunos indecentes...
Nos lagos; desnudadas, belas flores,
As ninfas se entrelaçam bocas, dentes...
Penetram tantas línguas sem pudores,
Meus olhos delirantes pois descrentes,
Misturam alaridos, gozos, cores
Percebo meus desejos mais dementes...
Quem dera se eu pudesse, sagitário,
Em meio a tantas bocas, seios, sexos...
Feneço neste bosque lampadário,
Espreito tais bacantes, plena orgia...
No lago refletindo tais reflexos,
Especular imagem da alegria...
X
7035
As minhas noites se passaram frias
Nas madrugadas: peito amargo e pranto.
As lágrimas escorrem, agonias...
Sem teu amor, morrendo em triste espanto.
Simples tristezas, álgicas orgias,
Distante vou ouvindo um belo canto
Em vozes mansas, cânticos, magias...
Refeito em esperança, novo encanto.
As mãos cansadas buscam por remédio;
Onde encontrar... Depressa; amor, eu chamo,
Será que a sorte mostra um doce assédio?
Será que, enfim, terei o meu descanso?
Quando ao te ver assim, amada exclamo
E enfim meu barco encontra um bom remanso...
X
7036
As minhas mãos cansadas da batalha,
Meus pés cansados, olhos vãos, vazios...
Distância me cortando qual navalha,
Procuro me agarrar em finos fios.
Mas as mãos estão trêmulas. Falha
O coração, sentindo os arrepios
Do amor que semimorto já se espalha
No resto do que fui. Os dias frios...
As minhas mãos desejam um descanso,
Barqueiro procurando por remanso,
Olhares esperando uma alvorada
Que venha em novo amor, uma esperança,
No passo decidido, um gesto alcança
Uma alma feminina, apaixonada...
X
7037
Nas tramas mais sutis de uma amizade
Enredo a poesia em simples versos,
Vagando sentimentos tão diversos,
Louvando sempre assim, felicidade.
Nos campos, nas favelas, na cidade,
Em todos os caminhos, universos,
Não posso mais querer sonhos dispersos,
Atando nosso canto em liberdade,
Prevejo um novo mundo solidário,
Distante de um passado solitário,
Cansado de pegar um touro à unha.
Eu creio nisto e trago a confiança
Bordando em meu caminha uma esperança
Eu trago meu olhar por testemunha,
X
7038
Desfilo nos teus olhos, meu abrigo,
Pois sei que assim terei meu pensamento
Liberto, sem tortura ou sofrimento,
Andando mundo afora, irei contigo.
Um sonho deslumbrante que persigo
Fazendo deste mundo um monumento
A quem não mais prescinde de um momento
Contando com um colo sempre amigo...
Vestindo a fantasia da emoção,
Rasgando os velhos trapos dos enganos.
A vida nos trará em novos planos,
A pura sensação de liberdade,
Que encarna bem mais fundo o coração
Nas tramas mais sutis de uma amizade...
X
7039
Mostrando que amizade é nosso trilho
Vencendo toda a dor, quimera e fado,
Não vejo mais sequer um empecilho
Que impeça nosso passo sempre dado
Com força onde me apego e maravilho,
Atrás de um dia claro, assim, dourado,
O mundo redobrando cada brilho,
Deixando para trás todo o passado.
Somamos nossas forças, vamos juntos,
Na clara sensação de amor sincero,
Amiga, nós sabemos tais assuntos
Aonde transformar o que mais quero,
Seguindo par a par, sempre contigo,
Desfilo nos teus olhos, meu abrigo...
X
7040
Nos braços; eu te oferto mil amores
E todo o sentimento que quiser.
Nós somos dois amigos sonhadores,
Lutando contra tudo o que vier.
Eu ofereço a ti, querida, as flores
Que representam sempre uma mulher,
Nascendo no meu peito os redentores
Momentos mais profundos, sem quaisquer
Empecilhos que impeçam nosso rumo
Na busca pelo sonho, ser feliz,
Contigo, companheira, eu me aprumo
E faço desta vida o que bem quis.
A lua que nos cobre, traz o brilho,
Mostrando que amizade é nosso trilho...
X
7041
Pra quem plantando colhe em rica lavra
Somente interessando um bom futuro,
Dedico para ti cada palavra
Das tantas que profiro, e te asseguro
Que sempre caminhei ao lado teu,
Vencendo as intempéries desta vida.
Meu rumo tantas vezes se perdeu,
Apenas em teus braços, a saída...
Versejo dedicando esta canção
Que fala tão somente ao sentimento,
Tocando levemente o coração,
Fazendo já calar o sofrimento.
Amiga, venha logo, sem temores,
Nos braços; eu te oferto mil amores...
X
7042
A mão que tanto apóia, sempre acena
Trazendo uma esperança pra quem sofre.
Não quero minha amiga tua pena,
Apenas quero a chave deste cofre
Aonde encontrarei tua amizade,
Em meio a duras guerras e tristezas,
Portando nos teus olhos, qualidade
Que mostra para tantos, tais belezas...
Não quero mais falar de dor imensa
Que a vida num momento desfraldou,
O custo em que se cobra a recompensa,
Não vale todo o tempo que passou.
Mas sei que tenho em ti, clara palavra
Pra quem plantando colhe em rica lavra...
X
7043
Tocando nossa vida em mansos passos
Eu conto com apoio que me trazes,
A vida se demonstra em várias fases,
Marcada por destinos e compassos;
Às vezes desfrutamos dos espaços
Formando com carinho novas frases,
Aonde uma amizade estende os braços
E forma pro futuro fortes bases.
Querendo ser feliz, eu não renego
Amiga que se mostra redentora,
E quando necessito eu me apego,
Pois sei que tu virás com força plena,
Querida, como é bom saber que agora,
A mão que tanto apóia, sempre acena...
X
7044
Erguendo para sempre estas bandeiras
Que mostram o poder de uma amizade,
Quem sabe em mãos mais firmes e certeiras
O mundo se refaça em claridade.
Distante das promessas costumeiras
Sabemos desfrutar da liberdade,
Nas horas mais difíceis, derradeiras,
O que nos salva é ter a lealdade
Que sempre encontraremos numa amiga,
Por mais que erramos, somos perdoados,
Assuntos mais diversos, delicados,
Podemos já contar com quem se liga
À gente por estreitos, firmes laços,
Tocando nossa vida em mansos passos...
X
7045
Sabendo que em teus braços, sorte abriga;
Pretendo caminhar sempre contigo,
Vislumbro uma alegria tão amiga
No rumo em que sem medo, vou, prossigo.
Ternura desejada e tão antiga
Protege contra o mal, cessa o perigo,
Da vida, uma amizade é como a viga
Na qual fica mais forte um bom abrigo.
Sabendo que por vezes, sofri tanto,
Tu trazes com certeza em teu encanto,
Palavras que consolam, verdadeiras.
Eu tenho, pois assim, todo momento
Um laço que se fez em sentimento,
Erguendo para sempre estas bandeiras...
X
7046
Fazendo da amizade, rumo e norte;
Eu trago no meu peito um sonho claro
Legando cada dia, bem mais forte,
O canto em que me embalo e que declaro,
Cicatrizando assim, um duro corte,
Eu agradeço o braço, firme e caro,
De quem já se mostrou perfume raro,
Fazendo com que a dor, bem cedo aborte.
Valores que preservo: liberdade,
Carinho, puro amor, honestidade.
Eu sinto em teu olhar, querida amiga.
Por mais tão penosa seja estrada,
Não temo nesta vida, quase nada,
Sabendo que em teus braços, sorte abriga.
X
7047
Entrego em tuas mãos, meu coração
Pois sei que tratarás com tal carinho
Que mesmo que aproxime um furacão,
Contigo, não serei jamais sozinho.
É certo que esta vida traz lição
Mostrando a direção deste caminho.
Abrindo da alegria, o seu portão,
Chegando, calmamente, de mansinho...
Na força tão sutil de uma amizade,
Eu sempre percebi, me fortaleço,
Por isso em cada verso eu te confesso
Que tenho, em minhas mãos, a liberdade
De ter uma esperança bem mais forte,
Fazendo da amizade, rumo e norte...
X
7048
Amiga, irei contigo até o fim,
Assim como bem sei também irás.
Plantando calmamente este jardim,
No fundo uma alegria já me traz.
O mundo parecendo mais chinfrim
Distante de teus braços, corro atrás;
Abraços que me dás de um querubim,
Querida; certamente, tenho a paz.
Tu és a companheira predileta
De quem sabe que a vida tanto engana,
Minha alma na tua alma se completa
Pois mostras alegria soberana,
Não temo mais as dores, solidão,
Entrego em tuas mãos, meu coração...
X
7049
Com quem o pensamento sempre alinho
Traz sempre uma certeza de esperança;
Cansado de lutar e estar sozinho,
Convido minha amiga para a dança
Tomemos, com certeza um doce vinho,
Brindemos, pois assim, uma aliança.
Quem vive neste mundo com carinho,
Futuro mais feliz, por certo alcança.
Assim, neste poder de uma amizade,
Fazemos nosso canto benfazejo,
A sorte que me trazes, eu desejo,
E peço a Deus que dê a claridade
Bastante pra seguires sempre assim,
Amiga, irei contigo até o fim...
X
7050
Eu trago meu olhar por testemunha,
De dias mais felizes do teu lado.
Embora agora seja só passado,
Um novo verso em sonhos eu compunha.
Quem sabe reviver já testemunha
O tempo que se foi, desconsolado,
Meu barco para sempre naufragado
Num oceano em onda a vida punha.
Amiga, é bom poder chamar-te assim.
É quase que render uma homenagem
A quem acompanhou até o fim
Meus passos na procura por carinho.
Que bom poder contar nesta viagem
Com quem o pensamento sempre alinho...
X
7051
E vamos de mãos dadas ao futuro
Que a curva da esperança preparou,
Se o tempo que vivemos, tão escuro,
Por certo depois disso, o céu brilhou...
O chão que percorremos, ledo e duro,
Mostrando uma tristeza que restou,
Amiga estando juntos, salto o muro,
E encontro o que amizade preparou.
A festa maviosa noutras sendas,
Com gozo e com total felicidade,
Fazendo das angústias meras lendas,
De um tempo que jamais retornará,
Contigo, amada amiga, brilhará
A força tão gentil de uma amizade...
X
7052
Às vezes no caminho deparamos
Com pedras, com espinhos e problemas,
Vencer e convencer são nossos lemas,
Amiga, frutifique, estenda os ramos.
Depois das duras pedras, encontramos
A sorte se mostrando em diademas,
Eu peço com carinho que não temas
Os dias doloridos, pois sonhamos.
Perceba que o valor de uma amizade
É sempre força plena em nossa vida.
Não vejo, nem procuro outra saída.
Ali se encontra o brilho da verdade.
Receba meu afeto em cada verso,
Contigo o meu amor, jamais disperso...
7053
A dama da cidade andando nua
Tomando em meu desejo, tanta luz,
Num sonho mais profundo reproduz
A sorte que eu queria e continua.
Em festas a minha alma assim flutua
Roubando todo o gozo que me induz
A ter tão inclemente e dura cruz
Verdade que se mostra nua e crua.
A dama da cidade não disfarça;
Dum desejo imenso, uma comparsa,
Que faz de todo o sonho uma loucura.
Nas bocas que osculava, sem perdão,
Uma ave aprisionando o coração
De quem na sedução, louco; a procura...
X
7054
Amor já é loucura, pode crer,
No amor não há jamais banalidade
Preciso dum amor para viver,
Senão não vale a pena; é falsidade.
Bebemos desta fonte desejosa
Que traz sempre querência e dá prazer
Jardim sem colibri, matando a rosa,
A rosa sem espinhos, vai morrer...
Por isso minha amada, a cada achado,
Que faço nesta vida, um bandeirante,
O verde da esperança, esmeraldado,
Dá força pra seguir, sempre adiante...
Num mar de tanto amor, vivo e navego...
Eu sou feliz, decerto, isso eu não nego.
X
7055
Não preciso provar quanto eu te quero
Tu és minha rainha e meu desejo.
Viver o nosso amor intenso; espero,
Saber de teu carinho em cada beijo...
Em teu gosto e sabor, amor tempero
E faço meu banquete. Sempre vejo
Tua nudez em sonho... E te venero
Por ser esta delícia que prevejo...
Não deixo que jamais alguém te fira
Prefiro fenecer, se for preciso.
O mundo sem parar por certo gira
Mas caio nos teus braços novamente.
Tu és o meu destino e paraíso,
Vem cá quero te amar e bem urgente!
X
7056
O meu amor imenso busca o mar
De amor que encontrará somente em ti,
Procuro em tuas braças navegar,
Nos teus braços amor eu me perdi.
Qual rio que procura desaguar,
Sorrio tão feliz se estás aqui,
Vazante deste amor a te buscar
Por teu amor semente que escolhi
Semeando em palavras e desejos,
Aguando com carinho tão dileto.
A cada novo tempo mil festejos
E o gosto deste mel que sempre vem,
Amar é se sentir bem mais completo
A outra metade inteira de um alguém...
X
7057
Espero teu calor na minha tarde
Depois de tantos sonhos esquecidos.
Amor que tanto queima e que já me arde
Esquece dos desejos mal vividos...
Eu quero essa nudez que me prometes
Nas minhas caminhadas pela vida,
Palavras tão macias que repetes
Transbordam meu desejo enfim, querida...
Eu quero navegar pelos teus portos
Vivendo a fantasia deste cais.
Por rumos que pensara fossem tortos
Encontro essa ventura e tenho paz...
A paz que celebramos, nossa cama,
Queimando e descobrindo cada chama....
X
7058
Um sentimento nobre e tão maior
Além do que no peito já flameja,
Permite que a vontade que poreja
Se torne em cada verso um esplendor.
Não deixa que a saudade, em triste dor,
Que a todo ser humano que dardeja
Amor além de tudo se deseja,
Um canto bem mais forte e sedutor.
Meu grito percorrendo este infinito
Permite que se mostre tudo enfim.
Não quero mais viver um mundo aflito,
Nem quero uma tristeza; na verdade,
Prefiro o bem maior que existe em mim,
Nos braços divinais de uma amizade!
X
7059
Amor que vem chegando, um alvoroço!
A vida já transforma totalmente,
Quem vinha amortalhado, num repente,
Renova-se na luz de um novo moço.
Esperança ressurge lá do poço,
Onde se escondera em triste mente,
Fazendo-nos viver mais plenamente,
Da dor que já sentimos, nem esboço.
Amor quando tardio, enfim confunde,
E transforma o que somos num momento,
Meu corpo no teu corpo já se funde
E mostra quanto é belo e sensual
Amar assim, em pleno envolvimento
Num elo que se mostra sem igual...
X
7060
No teu olhar aberto a sina dos poetas...
O mar que procurava aguarda um horizonte.
A vida representa as curvas e as retas,
Mergulho todo o medo em cima desta ponte.
A minha sina trouxe esmeros destas setas,
Matar a minha sede em toda pura fonte.
As curvas que já fiz são todas incompletas
A sorte em minha vida, espreita-se defronte.
Na tela que hoje traço as cores são disformes.
Procuro por teu rastro, aguardo uma saída.
Desejos de viver, por certo são enormes!
Não quero tanto brilho, ofusca meu olhar,
Eu quero solução que salve minha vida.
Eu quero simplesmente a certeza de amar!
X
7061
Não quero tua morte. Isso jamais seria
Um sentimento duro o bastante p’ra ti!
Pois todo esse tormento, em vão, que já vivi;
Não pode ter a força a qual se pretendia.
Néscio, cruel, mordaz o mundo onde vivia
A tua mocidade. Estou melhor aqui
Distante do que foste, e já sobrevivi.
O breu que trazes na alma, impede a luz do dia!
Caminhas sem destino, errante e sem paragem.
Pegadas nunca vejo em teu rumo e viagem.
Desculpe se te fiz o mal, ou mesmo ofensa...
Não passas do vazio, eu juro, não te odeio.
T’a morte não desejo, a isso estou alheio.
Ao contrário, só tenho em meu peito indiferença!
X
7062
Amiga, se vieres de tardinha,
Verás que já venci os meus cansaços.
Acolho uma esperança nos meus braços,
A sorte no meu peito já se aninha.
Revejo cada sonho dos que eu tinha,
E sigo mansamente velhos passos
Que deixas no teu rumo, ganho espaços.
Coloco a tua mão por sobre a minha
E beijo, calmamente o lindo rosto,
Deixando um sentimento assim exposto,
Muito além de um desejo, da vontade.
Sabendo que contigo eu me perdi,
O mundo mais gostoso encontro em ti,
Que é mais que pleno amor, pura amizade..
X
7063
Um mundo em que vivi sonho encantado,
Guardando as impressões que tive aqui
Sabendo que talvez perceba em ti
O gosto deste canto iluminado.
Além do que sonhara, desprezado,
O rumo em minha vida, eu já perdi.
Apenas o que vejo agora em ti
Ressurge como via, um novo Fado.
Em rosas brancas, raios da manhã
Perfumam meu caminho mais deserto.
Nos braços de quem quero, já desperto,
E faço em outro gesto meu afã.
Teu colo tão macio e sensual,
Renova a minha sorte em seu aval...
X
7064
Um coração dorido em tanto arder,
Fazendo da alegria um mero esboço,
Morrendo devagar, embora moço,
Aos poucos se sentindo esvaecer.
O chão que vai se abrindo num tremer
Causado pelo amor em alvoroço,
De um tempo que se foi, querido e nosso,
Aonde se vivia por prazer.
Mas sei que embora longe, amor insiste
E bate em minha porta em grito agudo.
Eu não quero admitir, mas vivo triste.
Vivendo tão somente este desejo
Que às vezes me maltrata. Fico mudo,
Minha boca aguardando por teu beijo...
X
7065
Em volta desta lâmpada, a falena,
Se perde e se queima, morre cedo,
Assim desconhecendo este segredo,
Também minha alma louca já se acena,
Na fantasia atroz, mesmo serena,
Enlaça-se contigo neste enredo.
Caminho tão difícil que enveredo,
Trazendo tal feitiço em noite plena.
Se morrerei ou não, isso não sei,
Apenas eu deixei me seduzir,
Não tenho mais vontade de partir,
Contigo o tempo inteiro eu estarei.
No final, machucado, até ferido.
Mas vale sempre a pena ter vivido!
X
7066
A noite vem caindo devagar
Trazendo para a Terra um manto escuro.
Meu coração deveras inseguro
Pergunta por teus rastros ao luar.
Difícil, realmente acompanhar
Um passo que se deu em chão tão duro.
Escondido, por certo atrás de um muro,
Não faço nada além do que esperar.
Não quero conceber um mundo triste,
Eu creio neste amor que sei, resiste;
Por isso toda noite aqui eu venho.
Embora sem respostas, quero alguém
Que um dia, há tanto tempo foi meu bem
Uma esperança tola; enfim, contenho...
X
7067
Estradas que percorro no trabalho
Qual fossem tempestades, complicadas.
Em curvas, pedregulhos, me atrapalho
Assusto-me com chuvas e guinadas.
No barro me atolando, sem saída,
Procuro a solução destes problemas,
Ao voltar para a casa, a despedida,
Refletem nos teus olhos, meus emblemas.
Eu sou um pobre ser apaixonado
Que vive para amar quem bem me quer,
Querendo retornar para o teu lado,
Revivo teus desejos de mulher.
E rezo pela volta num instante,
Lembrando de teus olhos, minha amante...
X
7068
Pousando minha mão tão dolorida
Em busca de um carinho maternal,
Encontro teu abraço sem igual,
De minha alma, no amor; compadecida.
Ouvir a tua voz que é tão querida,
Amiga e companheira, em bom astral
Afastas de meu rumo todo o mal
Ajudas a vencer a dor da vida.
Quem dera se tivesse mil espelhos
Ungüentos de esperanças mais suaves.
Deitar minha cabeça em teus joelhos
Sentindo teus carinhos docemente,
Dos olhos a visão sem ter entraves
Um mundo se fazendo alegremente!
X
7069
Aquém de todo sonho que tivera
Espreito uma verdade insofismável.
Amor perfeito eu sei inencontrável,
É como regressar à primavera.
Sabendo que terei esta quimera,
A fonte de esperança, inesgotável,
Aos poucos se tornando dispensável,
Mostrando em suas garras, louca fera.
Eu quis amar demais e me perdi,
Eu quis felicidade e nada tive.
Um louco coração que sobrevive
Ainda busca amor, deseja a ti.
Será que inda terá, pois, solução,
Quem quer em todo amor, a perfeição...
X
7070
Vagando tão sozinho por espaços,
Embalde, ninguém ouve, solto um grito;
Nos ermos da esperança, tantos passos,
Perdido e sem carinho, necessito
De tudo o que me lembre fortes braços
Que apóiem meu viver, por certo aflito.
Bem sei quanto vigor em duro inverno
Além do que concebo, em nada penso.
Distante da acolhida – lar paterno,
O mar desta agonia se faz tenso,
A vida se transforma num inferno,
Amor se faz distante e só pretenso.
Uma amizade apenas, já me veste,
Regando com carinho um mundo agreste
X
7071
A vida se transforma a cada dia
Em ventos, ventanias, temporais,
Depois a mansidão em calmaria
Bonança se promete em manso cais.
Não temas, pois as duras tempestades
Nem nuvens que enegrecem nosso céu.
Aos poucos se dissipam. Claridades
Virão em toda a alvura deste véu.
Quem sabe destas urzes não as teme
Pois sabem que são sempre passageiras.
O mundo, num segundo, sempre treme,
Quando emoções se mostram verdadeiras.
Não tema prosseguir nos mesmos passos,
As dores só estreitam fortes laços...
X
7072
Conquistar teu amor! Meu mais dileto feito...
Andavas toda nua em um sonho divino.
Guardadas no meu peito, as ânsias dum menino.
O mundo em harmonia, amor mais que perfeito!
Pensava que era Deus; a deusa no meu leito...
A noite em fantasia, o riso em desatino...
Na tua boca o gozo... Em sonho me alucino!
Não tinha nem sequer a sombra de um defeito.
Porém, a vida ensina a quem nunca cultiva.
A chaga que te mostro, exposta em carne viva,
Demonstra que fui tolo agindo sem pensar.
Perdi a quem amava, a quem eu tanto quis,
Minha alma se transtorna, estou tão infeliz...
Amor que conquistei, não soube consevar!
X
7073
Meus discos esquecidos numa estante,
Parecem com minha alma abandonada.
Quem fora; por decênios, bajulada
Decadente se mostra num instante
A vida me calando, qual farsante,
Não deixa mais seguir nenhuma estrada,
Sobrando do que fui quase que nada,
Embora tão teimosa e relutante
Não queira abandonar uma esperança,
Nos discos que escutava, festa e dança,
Na estante a solidão do não mais ser.
Atando fogo, queimo esta vitrola,
E tento em novo canto renascer
Qual pássaro quebrando uma gaiola...
X
7074
Meu verso qual aborto que incompleto
Deixou uma placenta no caminho.
Vencido pela dor não me completo
Nem tenho mais um resto deste ninho.
Sou quase, na verdade, um triste feto
Jogado pelas ruas, sem carinho.
No vaso que quebraste sem afeto,
Um parto que se fez, morreu sozinho...
Um ser que tão abjeto vai sem rumo,
Vergastas arrancando minha pele.
Numa acidez terrível, podre sumo
A sorte malfadada me repele.
Quem vive e nunca mais conhece o prumo,
Na morte encontrará enfim quem vele...
X
7075
Compadre, venho aqui falar de tudo
O que passei, perrengues, nesta vida.
A flor que imaginara ver crescida
Agora vai deixando um rastro mudo.
Não ouço mais a voz de quem, contudo,
Um dia se mostrou minha saída,
Eu sei que na verdade eu não me iludo,
Porém não percebi que a despedida
Seria dolorida assim, demais.
Não quero vê-la enfim, pois nunca mais
Irei amar com força e com vontade.
De todos os caminhos que encontrei,
Garanto que jamais imaginei
Sentir num duro peito, esta saudade...
X
7076
A vida;um carnaval em adereços,
Em tantas fantasias me embalando,
Num baile mil ternuras desfilando,
Mudando desta sorte os endereços.
Amor já me cobrando ricos preços
Não sabe conduzir, nem quanto ou quando.
Aos braços de quem amo me entregando,
Percebo em passeata meus tropeços.
Nos lenços que balanças, teu adeus,
Os olhos embuçados quase ateus,
Demonstras quanto dói a decisão.
Mas, amor; implorando por perdão,
No camarote imenso da saudade
Não vi mais desfilar felicidade...
X
7077
Qual fora um louco sonho, um arremedo
Que forja uma saudade que não tenho.
No verso mais ferino não contenho
E digo, com certeza, eu tenho medo.
Do que não mais queria, num degredo,
Em versos incontáveis, logo eu venho,
E quase sem sentidos, fecho o cenho
E calo o sentimento e me enveredo
Por ruas e montanhas tão distantes
Dos olhos que se foram companheiros.
Marcados por dentadas delirantes,
Eu busco o dom de ser, talvez; feliz.
Amar é disfarçar em cada atriz,
Os atos que não foram verdadeiros..
X
7078
Qual fora um beija flor que em manso vôo
Fecunda a rosa eterna do desejo,
Percebo em teu carinho que antevejo
Ser mais do que sonhara em sobrevôo
Os erros cometidos? Sim perdôo,
Embora nada venha além do beijo.
Ouvindo no teu canto cada arpejo
Um coração feliz; querida, ecôo...
Somamos nossos atos, somos amos
Dos passos que traçamos vida afora,
Querendo renovar, portanto, a flora,
Mil sonhos, em verdade; desfrutamos.
Eu sei que mais felizes, nos amamos,
Na sorte que nos doura e sempre aflora...
X
7079
Chegaste como um dia de verão
Num vento mais suave e bem ameno,
Deixando um velho peito mais sereno,
Regando com ternura um duro chão...
Meu canto se perdendo na amplidão
Envolve em alegria cada aceno,
Destrói da solidão cruel veneno
E mostra enfim caminho e redenção.
Quem veio de um inverno que em frieza
Tornou meu passo lento e sem destino,
Chegando bem mais forte a correnteza
No sol de uma paixão, calor a pino,
Impede a mutação da natureza
Mostrando uma verdade à qual me inclino...
X
7080
Meu sonho persistente te obedece
Procura a perfeição por um momento,
A solidão depressa se arrefece,
Levada por carinho em livre vento.
Felicidade intensa que germina,
No amor que se mostrou em plenitude.
Montando na esperança, solta crina,
Fazendo com que a sorte, enfim transmude.
Quem sabe mais estável, seja a vida,
Depois desta incerteza em que talhei
A juventude inteira, e assim decida
Mudar em cada brilho, nova lei.
Amor que presenteia quem persiste,
Matando o meu passado, amargo e triste...
X
7081
Quem vive sonhos duros, controversos,
Na busca por carinho, faz mil juras,
Premissas que vieram desde os berços
Enaltecendo a luz em que procuras
Distantes descaminhos, as loucuras,
Mostrando-se no fim que vão dispersos
Os transes em que mostras tão perversos
Os gozos que antecipam as torturas.
Talvez uma esperança sobreviva
Nos braços que estendeste para mim.
Porém figura audaz e tão altiva
Não deixa que esta vida seja assim.
Minha alma até demais, por compassiva,
Vai louca, transtornada até o fim...
X
7082
Rolando neste amor qual fosse um seixo
Que desce pelos rios da esperança,
Do sonho mais disperso, não me queixo,
Pois tenho enfim, contigo uma aliança.
O rumo que encontrara em tal desleixo
Agora em novo canto, a vida alcança
Carinhos que me trazes, doce feixo,
Promessa tão ditosa de mudança....
Um cego se debruça em seu cajado
Assim como eu procuro o teu apoio,
Matando no final, amargo joio,
Restando calmamente do teu lado,
Encontro em teu amor, sinceridade,
Forjando na prisão, a liberdade...
X
7083
A vida que se fez em derrocada
Tomando meus castelos. Maldição!
Depois de tanto tempo resta nada
Apenas a terrível solidão.
A noite que se fez tão estrelada
Agora, enegrecida, mostra o não.
Amor já se perdeu em negação,
Sobrando só minha alma abandonada.
O medo companheiro, em meus anseios,
Aterroriza sempre em cada verso.
Quem dera, minha amiga, em teus enleios
A vida se mostrasse bem mais minha.
Assim eu poderia, no universo
Salvar minha alma triste e pobrezinha....
X
7084
Na nossa amizade
Encontro esta luz
Que logo seduz
E traz liberdade
Mostrando a verdade
Que enfim me conduz,
Amor reproduz
A sinceridade...
Te tenho querida,
Com força total,
Calor magistral
Tomando esta vida
Assim percebida
No mais alto astral...
X
7085
Elípticos caminhos
Vagando sem destino,
Andara tão sozinho,
Sem rumo em desatino.
Um sonho determino
De ter um novo ninho,
Qual fora um passarinho
Que cedo, me alucino...
Apenas amizades
Ajudam a saber
Por certo, as qualidades
Do que pretendo ter,
Nas solidariedades
Encontro tal prazer...
X
7086
Querendo mais carinho
Eu vejo esta chegada
Depressa em meu caminho,
Mudando nossa estrada
Chegando de mansinho,
Depois de quase nada,
Em versos eu me aninho,
Refaço uma alvorada
Amiga, eu não permito
Que a vida seja assim,
Perder-me no infinito,
Sofrer até que o fim
Tão duro e mais aflito,
Se mostre bem ruim...
X
7087
Na força da amizade
Eu traço o meu destino,
Qual fora assim menino,
Vejo felicidade.
Vou à saciedade
E assim eu me ilumino
Num sonho cristalino
Encontrei a verdade.
E quero que tu venhas,
Amiga predileta
No peito do poeta,
Tu sabes quais as senhas,
Tirando todo entrave,
Tu encontraste a chave...
X
7088
Amiga verdadeira
Eu peço num segundo,
O sonho mais fecundo
Que tive a vida inteira.
Num vale tão profundo
A sorte derradeira,
Se mostra companheira
No amor no qual me inundo.
Eu vejo uma esperança
Em cada verso novo,
Nos olhos do meu povo,
A sorte enfim avança,
Salvando esta criança
Na qual amor renovo..
X
7089
Amiga, em cada verso
Que faço para ti,
Um mundo mais perverso,
Contigo eu já venci,
Um passo no universo
Reverso do que vi,
Amor assim diverso
Encontro sempre aqui.
Prometo uma manhã
Que seja mais bonita
Vivendo neste afã
Minha alma é tão bendita
Pois eu sei que amanhã,
Não terei mais desdita...
X
7090
Eu quero esta cachaça que me traz
A boca mais gostosa da sacana,
Eu sinto esta loucura que se emana
Deixando a minha vida mais em paz.
Eu fico, de repente, mais audaz,
Neste produto mago de uma cana,
À noite me tomando de campana,
Tornado em nossa cama mais voraz.
Eu quero o teu prazer, e o meu também,
Depois na nossa veia, a tal glicose,
Contigo, minha amada a noite vem
E quer que em seu caminho sempre goze,
No tempo anunciado por meu bem,
Depressa antes que chegue uma cirrose...
X
7091
Eu quero ter o gozo da morena
Da loura, da mulata e da crioula
Retiro mansamente esta ceroula
E o mastro anunciando já se acena.
A fonte não é grande nem pequena
Mas traz mais alegria que papoula,
A roupa num momento, a recompô-la
Depressa que já vai fechando a cena.
Caindo o pano, vejo que seu pai
Já vem chegando calmo e sorrateiro,
A casa, se bobeia logo cai
Aí, querida, estou mais desgraçado
Do jeito que este velho é sorrateiro,
Amor, terminarei sendo capado...
X
7092
Por Deus o nosso amor foi contemplado,
A sina que nos une é muito forte.
Caminho sorridente do teu lado.
Contigo reconheço, tenho um norte.
Os olhos impregnados de futuro,
As mãos cultivam frutos condizentes,
Nosso ar vai se tornando bem mais puro,
Acalmam-se panteras e serpentes...
Vagamos por espaços bem mais leves;
Em mares mais serenos, calma areia
Eu peço que jamais retornem neves
Que calem este sol que nos clareia
E vamos, mãos atadas, destemor...
Vivendo na magia deste amor...
X
7093
Decifro em meus desejos a mulher
Que traçou meu destino, a minha vida.
As ilusões que trago, o que vier;
Mostrando a mocidade, vã, perdida.
Desabam tempestades em qualquer
Uma destas palavras: despedida.
Na pérfida manhã, o teu mister,
Trazer na boca o beijo de partida...
Quem teve o seu destino em frios braços,
Colando sonhos gêmeos siameses,
Estreitam-se demais os nossos passos,
No nó que desataste, veio o frio,
Amor que disfarçaste, tantos meses,
Termina em solidão, neste vazio...
X
7094
Vestígios do que fomos nesta casa,
Teus passos ecoando em meus ouvidos.
Os dias que se foram, repartidos,
Nem mais uma esperança inda me abrasa,
Quem sabe desfrutar tempo que apraza
Deixando-se levar pelos sentidos,
Sabendo destes sonhos divididos,
Por certo nesta vida nunca casa.
Esquece de grinalda e de buquê
Na festa transformada em decepção.
Aquele que no amor, inda revê
Os sonhos de uma eterna recompensa,
Envolto pelas garras da paixão,
Depois de certo tempo em nada pensa...
X
7095
Um canto demorado, repetido.
Nenhuma solidão ronda por perto.
Areia em tempestades no deserto,
O manto das saudades estendido
Não se ouve nem sequer um só ruído,
O vento em seu monólogo comprido,
Trazendo a sensação: dever cumprido.
O mundo dorme atroz, mal repartido.
Distantes os oásis, leda a vida...
Minha alma desprendida, a cordilheira
Espera calmamente que decida
Caminho que percorra, leve e inteira...
O vento no deserto, minha cama...
Ao longe a cordilheira... No Atacama...
X
7096
Morena, em tua boca, minha fonte
De beijos delicados e gentis,
Vislumbro maravilhas no horizonte
E sou, além de tudo, mais feliz.
Não quero mais mentiras que me apronte
A vida em seus meandros tão sutis,
Nem mesmo uma lembrança que remonte
Passado dolorido onde me fiz.
Meus versos vão buscando navegar
Nos sonhos mais fecundos, lisonjeiros,
Amores que me dás são verdadeiros,
Apenas não consigo me livrar
Dos medos que se tornam corriqueiros
Em quem desaprendeu a namorar...
X
7097
Perdoe se eu errei ao decifrar
Sinais que não consigo compreender
Tomado pelos raios do luar,
No sol eu comecei a me perder.
Vertendo uma esperança em negro mar,
Deixei o nosso barco fenecer,
Desculpe se não soube te encontrar
Nem mesmo nos meus versos te dizer
Do sonho que se fez em pesadelo
Na noite dolorida e tão distante.
A vida a se mostrar mais inconstante,
Enredo meus desejos num novelo,
E o fogo da vontade, da cobiça
Transforma-se na areia movediça...
X
7098
As rosas cultivadas já vicejam
Neste jardim divino que plantamos,
Durante tanto tempo nos amamos,
Os corpos dos amantes se desejam.
Os dias mais felizes antevejam
Brotando no arvoredo novos ramos,
Dos dias maviosos que sonhamos,
Os brilhos da esperança relampejam...
Nas rosas cultivadas, bom perfume,
Deixando suas marcas pelos ares,
Refazem cada fruto dos pomares,
Nascendo novamente,sem queixume,
As rosas que colhemos noite afora,
Vieram sem espinhos, sem demora...
X
7099
A vida me marcando em funda chaga
Fazendo no meu peito uma avaria,
Distante deste sonho, noutra plaga,
Espero te encontrar, quem sabe um dia.
A dor que me consome e já me traga
Dizendo que em amor, velhacaria,
Mas quando vens, querida, tudo alaga
Transforma toda a dor em fantasia...
Navego nos veleiros e jangadas,
Os mares transformando velhos rios,
As noites que retornam consteladas,
Embarcações diversas que me levam,
Tanto calor, às vezes num estio,
Em duro inverno, olhares tristes nevam...
X
7100
As noites que se foram tão imensas,
Mudando o sentimento, em serenatas
Busquei em teu amor as recompensas,
Vivendo mansamente sem bravatas.
Dos sonhos que tivemos, mil cascatas
Descendo pelos lábios, versos, crenças,
Distante das discórdias, sem ofensas,
Tivemos calmaria em flores natas.
Amores que se formam, catedrais,
Desejos em sonatas, madrigais,
As noites se passando, belos sonhos...
Os corpos misturados, canibais,
Querendo cada vez e sempre mais,
Em atos delicados e risonhos...
X
7101
Falar desta amizade
Estrela que nos guia,
Trazendo a claridade
Que justifica o dia.
Eu quero, na verdade,
Bem mais do que sabia
Falar da liberdade
Que em sonho sempre via.
Serena minha vida,
Afaga meus cabelos,
Estrada mais comprida,
Enleva em seus novelos,
Meus dias; ilumina,
Mudando minha sina...
X
7102
Em cada passo teu, um bom caminho,
Prenúncios de que um dia serás minha.
Meu coração vagando, um passarinho,
Na busca por teus olhos, avezinha.
Nas luzes que em teus olhos me iluminas,
Guardando o teu sorriso tão sereno,
Banhando em esperanças as retinas,
Num fogo imaginário brusco, ameno.
Eu quero e desse tanto não mais fujo,
Misturo sentimentos, não segredo,
De tudo o que deixei; no amor ressurjo,
Deixando sepultado cada medo.
A vida prometida e renovada,
Na esperança dos olhos, minha amada...
X
7103
A dama imaginária que encontrara
Em sonhos, iludido, jamais vem.
Qual fora uma emoção singela e rara
Transporta um sentimento que não tem.
A dama imaginária é fantasia
De quem navega só, faz tanto tempo.
A noite que me engana não traria
Amor, já me causando contratempo.
Ao vê-la assim formosa, nada fala.
Apenas me cerceia e me domina,
Nudez invade a casa, o quarto, a sala,
E aos poucos, mansamente me alucina...
O medo de perdê-la me entorpece,
E rogo sua volta em cada prece...
X
7104
Te amo profundamente, estrela do meu céu!
Imerso na amplidão de todo belo astral,
Persigo seu perfume, amor fenomenal
Que vai pelo infinito etéreo; meu corcel.
Enorme, na esperança, o mundo sem fronteira...
Amor, que ouso cantar, nestes meus pobres versos..
Percorre sem saber múltiplos universos.
Esse amor, imortal, se dispersa sem beira
Sem limite e final. É dom que se procura
Eterno, santifica, em lágrimas me cura...
É tudo que se pretendo, inclui a própria vida!
Estrela, o meu amor intenso e sem defesa,
A mão de Deus o fez num dia de grandeza
Total e verdadeira: amor não tem medida!
X
7105
Amor que se mostrando docemente
Portando em esperanças, namorados,
Meus passos que já foram descuidados
Refazem alegrias novamente.
Tocando bem mais fundo um ser vivente
Em fartas ilusões, traz delicados
Sentidos em que estamos demarcados,
Singrando meus caminhos, minha mente.
Tu és minha senhora, eu sou teu par,
Neste bailado louco que se espera,
Amar é dominar terrível fera
E milagrosamente se encontrar
Debaixo destas garras da quimera
E depois disto tudo; festejar...
X
7106
Vagando no teu corpo, os universos
Percorro sem ter medo da verdade,
Encontrou mil caminhos tão diversos
Retomo num segundo a liberdade
E forjo meu destino nos meus versos
Bebendo desta luz, a claridade,
Os dias que se foram, mais perversos
Transmudam em total felicidade...
Amar é conquistar novos espaços,
Saber que posso ser além de um cais.
Flutuo em meus desejos, tramo passos
Na busca do infinito e quero mais,
Amor que me prendeu em firmes laços,
Não quero me apartar de ti jamais...
X
7107
Uma esperança traz contentamento
A quem tanto procura ser feliz,
Não quero ser além de um aprendiz
Na busca pelo sonho solto ao vento.
Vivendo sem temor cada momento
Quem sabe um bom futuro se prediz
Fazendo nesta vida o que se diz
Tramando noutros olhos, meu alento.
Ó sonhos desejados e diversos
Dos tempos em que fora sempre amargo,
Eu quero renascer e sem embargo
Vasculho tais pegadas pelos astros,
Procura interminável pelos rastros,
Vagando no teu corpo, os universos...
X
7108
Nascente maviosa deste Rio
Que mostra em suas margens, os segredos,
Deriva em esperanças, santo estio,
Deixando para trás tantos degredos.
Esquecimento amargo, duro e frio,
Provoca na minha alma velhos medos.
Porém na fonte insana principio
A trama delicada dos enredos.
Tesouros que guardados nas areias
Das praias onde o rio tem a foz.
Meu coração batendo mais veloz,
Em mãos audaciosas me incendeias,
Quem teve em seu passado curva atroz,
Recebe os teus carinhos, minhas veias...
X
7109
Cantando deste amor, tantos cuidados
Tomando uma esperança como guia
Meus olhos vão felizes aninhados
No peito de quem amo e preferia.
Não quero mais meus dias magoados,
Nem quero mais sangrar a poesia.
Apenas converter em mansos Fados
Os sonhos temerários dos meus dias
Bem sei o quanto dói ledo destino,
Talvez amarelando verde rama,
Neste amadurecer salve o menino
Da dor que em juventude se derrama.
Meu coração, antigo peregrino,
Atende ao teu chamado e já se inflama...
X
7110
Nosso amor tão amigo e companheiro
Que encara toda a dor com alegria,
Cantando sem temer o mundo inteiro
Fazendo deste verso, a sinfonia
Que louva todo amor sem ter limites;
Em todas as facetas deste sonho...
Te peço, minha amada que acredites
Em tudo o que te canto e que proponho.
Nascemos por amor, vamos por ele,
Nos versos irmanados por um Deus
Que é feito neste amor que se revele
Sem permitir a dor nos olhos teus.
Estamos nos refúgios da esperança
Esse amor-amizade é nossa dança!
X
7111
Eu quero te beijar tão mansamente,
Aos poucos te fazer, inteira, minha,
Neste carinho manso e tão dolente,
Beijar-te por completo, linha a linha.
Eu quero que tu saibas como é bom
Poder ser encantado por teus toques,
De sinos, aos milhares, ouço o som,
Te peço, minha amada, não provoques...
Mal sabes como estou tão ansioso
De ter o teu prazer bem junto a mim,
Eu quero que te sentir, amor fogoso,
Deitada no meu colo; ser-te, enfim...
Meu beijo que te dou com precisão,
É chama tão imensa de paixão...
X
7112
Um verme passeando escatológico,
Da merda faz divina refeição.
Profanando este templo sem perdão
Tornando cada dia mais enérgico.
Crescendo no intestino, proctológico
Passeia pelas pregas, comichão.
Um verme se mostrando tão ilógico
Espreita devagar o mundo cão.
Qual fosse o verme assim tu me maltratas,
Depois vai se escondendo em poço escuro.
Procuro devagar em densas matas,
Mas logo tu te escondes trás o muro
E finges, num sorriso, uma ternura,
E fazes desta vida, bosta pura...
X
7113
A vida não se cansa
De trazer mais surpresa
Quem sonha sempre alcança
Não perde mais a presa,
O tempo sempre avança
E mostra que a beleza
É feita da esperança
O resto é sobremesa.
Não temo mais a dor
Que um dia vai chegar,
Valeu por todo amor
Da vida a nos mostrar.
Quem é um sonhador,
Jamais vai se cansar!
X
7114
Carinha de sapeca,
Brincando sem parar,
Coitada da boneca
Cansada de apanhar.
Depois de uma soneca,
Já vai recomeçar
No chão quando defeca
É bosta a se espalhar...
Criança bem levada,
Não deixa nada em paz,
Depois de madrugada,
Acorda. Isso é demais,
Paixão desenfreada,
No fundo sempre traz...
X
7115
Dimitri faz bagunça
Mamãe logo reclama,
Pareça uma jagunça
Bota fogo na chama,
Não pode dar bobeira
Ele aprontou mais uma,
Fincou mão na roseira
Bicuda, deu na Juma.
Moleque, já sossegue,
Mamãe gritou do quarto,
Batendo até no jegue,
O bichano anda farto
De tanto solavanco...
Mamãe trouxe o tamanco!
X
7116
Balança o coreto
Na dança dileta
Dizia o poeta
Aqui não me meto!
Ser franca e direta
Eu não me intrometo,
Na luz predileta
Que invade meu gueto.
Eu sou teu amigo,
Por certo, querida,
O resto? Nem ligo,
Encontro a saída
Se corro perigo?
Quem sabe duvida...
X
7117
Qual pássaro aflito
Temendo a gaiola,
Amor tece rito
Mas nada consola,
Meu sonho bonito,
Não vai nem decola.
Querendo estar perto
De quem tanto eu quis
Meu peito deserto,
Morrendo infeliz,
Amar é decerto
Eterno aprendiz.
Morrer de saudade,
Não fosse a amizade...
X
7118
Meu verso calado
Depois desta festa
Amor delicado,
Por certo o que resta
Deixando de lado,
Invado a floresta
De sonhos, marcado,
O nada se empresta
E mostra um caminho
Sem paz, claridade,
Deixando sozinho,
Vibrando a saudade
Aquecendo o ninho
Sobrou amizade...
X
7119
Eu sei da promessa
Que a vida nos fez,
Amar sem ter pressa,
Manter sensatez.
A sorte dispersa,
Quimera da vez,
Deixando a conversa
Com muita altivez.
Mas sinto o perfume
Que a rosa exalou,
Distante o queixume,
Foi o que me sobrou,
Amiga, um ciúme,
Tanto maltratou...
X
7120
Amiga querida
Dos tempos de guerra
A noite descerra
Por sobre esta vida,
Que fora perdida,
Sem rumo, já berra
A noite se encerra
Em paz repartida.
Viemos do nada
Jardim morreu flor,
A noite cansada
Matando um amor,
Mas vem alvorada
Tudo recompor...
X
7121
No vento benfazejo
Que a vida agora traz,
Vontades e desejo
De ter somente paz.
No céu que não trovejo
Prevejo mais capaz
Nem só carinho e beijo,
À gente satisfaz...
Uma palavra amiga,
Eu sei que é importante,
Se a vida já periga,
Por um rápido instante
Tua ternura abriga,
Amiga, amada, amante...
X
7122
Amiga na verdade
Eu nunca te esqueci
Pois sei que a claridade
Está junto de ti,
Viver esta verdade
Que sei que existe aqui,
Poder de uma amizade
Sempre reconheci.
Agora não me canso
Jamais de te dizer
Que a sorte em que eu avanço
Mostrando o meu prazer
Transmudado em remanso
Jamais vou esquecer...
X
7123
Quem não amar a vida vai sentir
O fogo desdenhoso em solidão.
Deixando num momento de pedir
As cores maviosas da emoção.
A morte é benfazeja para quem
Não pode perceber tanta beleza
Que a vida nos mostrando sempre tem,
Nem sabe desfrutar da natureza.
Tolice é não viver cada momento
Deixando pra depois, felicidade,
Carinhos que trocamos, sentimento
Que mostra toda a força da amizade.
Amiga, vem comigo. A vida chama,
Acenda em todo verso a tua chama...
X
7124
Pediste meu amor, não te dou não!
Apenas te darei prazer e gozo.
Bem sei que faço amor bem mais gostoso
Se tudo não passar de uma ilusão.
Não quero mais sentir uma emoção
Que torne meu viver mais doloroso.
Não vou ser teu marido nem esposo,
Amante? Pode ser... mas sem paixão...
Respondo ao teu pedido deste jeito,
Sinceridade dói, mas eu prefiro,
Não queira, por favor me dar um tiro.
Amar ou não faz parte do direito,
Só sei que já me dou por satisfeito
Resposta mentirosa, eu não desfiro...
X
7125
Quando olhas tão gulosa para mim,
Parece que uma loba me devora.
Querendo sempre mais aqui e agora,
Não deixa pra depois, já quer assim.
Plantando uma roseira no jardim,
Uma explosão de cores já se aflora,
Porém ir sem descanso? Vou embora,
Eu não agüento, assim será meu fim...
No teu olhar sapeca, já percebo
Que apenas restará pronto socorro,
No fogo desejoso que recebo
Contigo meu amor é mato ou morro.
Já fui menino, moço, até rapaz,
Agora que estou velho? Vá em paz!
X
7126
Inda quero da vida o gosto bom
Da boca da morena mais sacana,
Vibrando novamente em cada tom,
A mão deste prazer que tanto abana,
Comendo desta fruta, do bombom,
Quem sabe amar, querida, não se engana,
Amar não é somente um doce dom,
Levar a vida inteira, soberana...
Eu quero renascer em cada toque,
Perfeito, mavioso e sensual.
Amor que não se guarda, sem estoque
Permeia minha vida, meu astral,
Menino que brincava com bodoque
Agora se embrenhando em matagal...
X
7127
Vontade de seguir a noite inteira
Nesta balada intensa, sem descanso;
No jogo do prazer que sempre alcanço
Consigo, minha amada companheira.
Vencendo a timidez que é corriqueira,
Neste bailado rítmico que eu danço
Vontade se mostrando feiticeira
Na caça por um porto, por remanso...
Nas conjunções dos astros, das estrelas,
Prevejo meu futuro sem enganos,
Quem pode me julgar? Ninguém há de.
Em gozos, tais vontades; convertê-las,
Depois destes carinhos mais insanos,
Persiste esta de vontade de você!
X
7128
Meu beijo é quase assim um bandeirante
Que busca este tesouro que escondias.
Em matas tropicais, em noites frias,
Invade cada senda a todo instante.
Procura pela mina deslumbrante,
Em noites dedicadas e vadias,
Beijo expedicionário quer as vias,
Chegando ao matagal tão fascinante.
Depois encontra a mina, teus rubis,
E sabe desfrutar de cada fruta
Que trazes nos pomares divinais...
Ao ver o teu sorriso assim, feliz,
Inundação tomando toda a gruta,
E o risco de querer de novo e mais...
X
7129
Eu te ofereço a terra se quiseres
O gosto e o perfume das estrelas
As flores mais divinas, raras, belas,
Por certo darei tudo se vieres.
Tu és a mais bonita das mulheres,
Desejos nos teus olhos já revelas;
Teu corpo que é banquete em mil talheres,
Cavalga-me querida, sem ter selas...
Eu te darei a lua em claridade,
Mas peço-te, querida, um só favor,
Recebo o teu desejo em umidade,
E faço deste sonho tentador,
Vibrante, mavioso em puro ardor,
Somente não darei fidelidade...
X
7130
Não olhe para mim, tão desejosa,
Mal sabes que não posso me conter.
Colhendo no jardim, perfeita rosa,
Vontade de tocar e me perder...
Não quero te deixar tão vaidosa
Mas ao me olhar assim, com tal prazer,
Convida a desfrutar maravilhosa,
No cálice divino irei beber...
Sorvendo gota a gota em nada penso,
Apenas te desejo, e nada mais...
Por sobre um corpo belo, sempre cismo,
E sei que em festa imensa, amor intenso,
Encontro navegante, um santo cais...
O risco que me toma: priapismo...
X
7131
Deitada em minha cama, seminua
Celestial beleza que me encanta,
Recebe mil carinhos de uma lua
Dançando no seu corpo em luz que canta.
A mão que acaricia continua
Na fome desejosa. Tal qual manta
Que cobre a maravilha em que flutua
A lua que seduz já se agiganta.
Ao ver em claridade, esta escultura,
Um deus enamorado vem surgindo,
E deitando sobre ela, com ternura,
Onan ao pressentir tão grande abismo,
Distante desse quadro raro e lindo,
Apela solitário, ao onanismo...
X
7132
Às vezes acontece de eu querer
Um beijo delicado que não vem,
Cansado, nesta vida, de perder,
Não vejo no horizonte mais ninguém;
Meu verso não te encontra, bel prazer,
E vivo em solidão, buscando alguém.
Olhando para frente, para além,
Encontro o meu passado. Perco o trem...
Porém existe sempre uma esperança
Guardada na boceta de Pandora.
Restando tão somente uma lembrança
De um tempo que se foi sem ter nem hora.
Vencido pelo amor sem confiança
Minha alma solitária sempre chora...
7133
Eu vejo a claridade
Que a sorte enfim me trouxe
A vida como fosse
Um sonho, liberdade,
Poder de uma amizade
Tornando a vida doce,
No canto que remoce,
Mostrando a qualidade.
Meu verso mais conciso
Já fala deste sonho,
Viver o paraíso,
Enfim, eu te proponho,
Nos lábios um sorriso,
Futuro mais risonho...
X
7134
Amiga e companheira
Persigo pela vida,
A sorte derradeira
Encontro esta saída
A dor é feiticeira,
Ninguém disto duvida,
A sorte verdadeira
Encontro em ti, querida.
Vem logo, sem demora,
Te espero sempre aqui.
Quem sabe faz agora,
Preciso, enfim de ti;
Da amizade, senhora,
Jamais eu te esqueci...
X
7135
Querida eu bem percebo o quanto causo
De dor e desespero e de cansaço,
Trabalho noite e dia e nunca pauso,
Pois sei que encontro em ti sempre um abraço;
Às vezes esquecendo deste apoio,
Eu deixo-te sozinha pelos cantos.
Secando sem ter águas um arroio,
Perdendo mansamente seus encantos.
Mas saiba quanto eu quero estar contigo
A vida inteira; creio neste amor!
E sendo assim, amada, eu já persigo,
Um dia que virá, acolhedor.
Meus versos são humildes, reconheço,
Amor que não mereço, eu te agradeço...
X
7136
Eu juro eu não entendo a vaidade
Que mostras ao andar tão empinada.
Qual fosse derramar a claridade,
Rainha do boteco e da calçada.
Não vês que desse jeito, causas riso,
Pois pensas ser rainha e soberana,
Querida, ouça-me bem, pois é preciso,
E falo como quem, nunca te engana.
Mulher é na verdade, tão comum,
Embora artigo bom, isso eu não nego,
Não quero te ofender de modo algum,
Mas olha, pode ver.,.. eu não sou cego.
Tu tens que ser mais que isso, muito além,
Até pobre, querida, mulher tem!
X
7137
O dia foi difícil, minha amada,
Eu trabalhei demais isso eu não nego,
Cansado do batente, estou no prego,
Desculpe; eu não agüento enfim, mais nada...
Quem sabe, se depois, na madrugada,
Depois de descansar, me recarrego.
Amor que tantas vezes vaga cego,
Precisa ter a dose reforçada.
A sorte é que inventaram um reforço
Que faz um velho assim, já ficar moço
E mesmo com cansaço que me açoda,
Eu possa te causar um alvoroço.
Falaram que o danado é um colosso,
Assim é noite e dia, tanta foda...
X
7138
Os passos deste amor que perseguimos
Há muito foram dados por alguém.
No simples carpinteiro conseguimos
Visualizar por certo, todo o bem.
Falando por parábolas dizia
Do amor tão gigantesco pleno em paz;
Mostrando enfim, que amar com alegria
E naturalidade é ser capaz
De ver em cada ser com claridade,
O brilho de um amor que é soberano.
Recendendo ao calor de uma amizade,
Onde não caberá jamais engano...
Punido pelos homens por amar,
Vendido em mil pedaços num altar...
X
7139
Querida vou fazer a promoção,
Pois sou da faculdade, professor.
Entrego-me com toda devoção
Trabalho com carinho e com amor.
Não cobro a minha participação
Nas aulas que darei, com muito ardor,
Querida não resista à tentação
E venha desfrutar deste favor.
Ensino tal assunto tão complexo
Que poucos vão saber com maestria,
É necessário côncavo e convexo
Depois de pouco tempo, uma alegria,
Ministro se quiseres, todo dia,
Serei teu professor de amor e sexo...
X
7140
Estudos que comprovam publicados
Lançados sem sequer contestação
Assuntos tão sutis e delicados,
Merecem toda consideração.
Estatísticas mostram novos dados,
Que vão fazer total revolução.
A virgindade traz maus resultados
Causando essas doenças sem perdão.
Por isso minha amiga e companheira
Farei a boa ação que salvará
Você da noite fria e derradeira,
De uma doença dura de amargar,
Pressinto que este dia chegará,
Por isso venha logo vacinar...
X
7141
Percebo que em qualquer lugar que chego
Eu vejo o mesmo aviso que me diz.
Que estás sendo filmado: Ri feliz!
E logo fico quieto, isso eu não nego.
Cansado de martelo sendo prego
Não leio mais palavras tão gentis.
Diabo no meu corpo que eu carrego
Em frases delicadas e sutis.
Por isso meu amigo e companheiro,
No nono mandamento eu me estrepei
Depois de batalhar o tempo inteiro
Lutando contra a força e quente chama,
Deparo com as tábuas, as da lei:
Sorria amigo: a sua mulher me ama!
X
7142
Cigarro não faz bem disso eu bem sei,
Porém eu não consigo disfarçar
Ladrão demais assim a nos roubar
Não deve sem moral, fazer a lei.
De tanto que na vida eu já fumei
E o tanto que inda tenho pra fumar
Dinheiro algum dos outros maloquei,
Não aprendi nem quero enfim roubar.
Eu peço ao Bom Senhor que assim me ajude
Embora a maltratar minha saúde,
Eu tenho esta certeza em devoção.
Pior do que cigarro, eu te garanto,
Eu falo esta verdade sem espanto,
Político safado e corrupção...
X
7143
Um plantador de cana, um fazendeiro
Depois de tomar umas foi em cana
Chamado por alguns de cachaceiro
Não sabe que essa gente é tão sacana.
Na roça de uma cana faz dinheiro,
Com bolso cheio enfim, logo se ufana
Porém tanta birita já te engana,
Deixando a gente tonta por inteiro.
Destila essa garapa e vira pinga
A grana vai pingando devagar,
Bebendo tanta pinga a cana vem.
Brigando com compadre logo xinga
E essa colheita vai comemorar
Mamado na cadeia e sem ninguém...
X
7144
A morte, companheira mais dileta,
Deitando em minha cama, pede abraço.
E cerra com meus dias, forte laço,
Se torna derradeira e predileta.
Não tenho nessa vida, uma outra meta
Que trague novamente um bom regaço.
Seguindo calmamente passo a passo,
No fim da dura estrada me completa.
Das coisas que da vida levarei,
Encantos e quimeras, dor e fado.
Perdendo depois tudo o que ganhei,
Morrendo simplesmente sem passado.
Meu nome restará em desabrigo.
Apenas nas lembranças de um amigo!
X
7145
Não gaste tudo agora, por favor,
Não tenho mais dinheiro que te baste.
Depois não reclamar se houve desgaste,
Amor é feito enquanto poupador.
Economia faz-se com ardor
Senão de mim, querida, já se afaste.
Deixando pra amanhã, hoje não gaste,
Quem sabe faz agora e com valor.
Mas veja quanto é bom o que pressinto,
Trazendo pro futuro uma emoção,
Resista por favor à tentação.
Não imagina a dor, que assim eu sinto,
Cada ovo que cozinha, é negação.
Pois morro com meu pinto em minha mão!
X
7146
Ao ver este leitão que está gordinho
Eu penso já no lucro que vai dar,
Criado com amor e com carinho,
Não pára todo dia de engordar.
Depois que o bicho está assim fofinho,
Cascalho no meu bolso vai entrar.
Fazer duzentos quilos de toucinho,
Lingüiça pra mandar já defumar.
Porém o porco grande com malogro,
Custando pra morrer dá prejuízo.
Investimento duro de fazer.
Agüentar a mulher e ter juízo,
É duro e vem trazendo desprazer.
Não morre o porco gordo do meu sogro!
X
7147
Minha alegre menina quero a dança
Do teu corpo, requebros sobre mim;
A noite verdadeira já se avança
E a boca mais sedenta,carmesim...
Alegres os compassos da esperança
Que queimam seu pavio até no fim.
No fogo deste estio, não se cansa,
E sabe que me ganha, inteiro sim...
Tua alegria imensa contagia
E faz de cada gesto a sedução.
Que esquenta todo amor em fantasia
E tudo, sem ter tréguas, contamina,
Ardente como o fogo da paixão,
Na dança tão alegre da menina.
X
7148
Eu sou baixinho e sei o quanto valho,
Ninguém segura a força que se emana
Do povo mais miúdo no trabalho
Tamanho simplesmente não engana.
Pintando um rodapé, não me atrapalho,
Na cama meu carinho é bem bacana,
Jamais eu me lembrei de um ato falho,
A força em miudeza é soberana.
Às vezes pressentindo um vento frio
Eu sempre me agasalho em teu capote.
Um coração gigante, e tão vadio,
Prepara mansamente um novo bote
O pano para a roupa é muito pouco...
O resto? Não te mostro, nem dou troco...
X
7149
Amor em liberdade traz certeza
De um sonho de desejo e de prazer.
No céu de tua boca, com largueza
Espero novamente perceber
Que a moça inda pretende ser princesa
E nisso o seu encanto me faz ver
Deixando uma alegria sobre a mesa
Beleza tão gostosa de viver...
O sexo em descoberta traz encantos
E medos que maltratam e confortam.
Navios de desejo quando aportam
Derramam esperanças pelos cantos.
Mal sabe que o desejo de um afago
Por outras tão somente quando pago...
X
7150
Em versos, velas, mares e magias
Os sonhos vão mais livres pelos ares.
No encanto que se toma em poesias
Colhemos nossos frutos nos pomares
Aguando com desejos, alegrias,
Fazemos dos amores, os altares...
Encantos delicados e sutis
São nossos companheiros mais constantes
Os dias que queremos mais gentis,
Nós cultivamos sempre. Por instantes
O mundo que sonhamos, mais feliz,
Se torna bem mais vivo e deslumbrante.
Estou contigo, amada em cada verso,
Vivendo por encanto, este universo...
X
7151
Vencido pela dor desta saudade
Que é mais que uma ilusão, um verso triste.
Viver em minha sorte, ansiedade
É mais do que um amor inda persiste.
Não temo mais sofrer sem liberdade,
Ainda mais que sei que amor existe.
Vagando pelos céus, tranqüilidade
Jamais resistirá na dor que insiste.
Saudade de saber de cada beijo
Marcado em minha boca, tatuagem,
Eu sinto quanto dói este desejo,
Embora, reconheça é só miragem.
Assim que a noite chega enfim eu vejo,
O rumo em que se deu nossa viagem.
X
7152
Perdeu o seu amor? Relaxa e goza,
Brigou com o patrão? Relaxa e goza
Enfarta o coração? Relaxa e goza.
Morreu jardim e flor? Relaxa e goza.
Deu praga no capim? Relaxa e goza.
Político ladrão? Relaxa e goza,
Sem trem nesta estação? Relaxa e goza.
Salário está no fim? Relaxa e goza...
Mulher já se mandou? Relaxa e goza,
Sobrou o Ricardão? Relaxa e goza.
O crédito estourou? Relaxa e goza.
Se mordeu-lhe a tsé tsé. Relaxa e goza;
Já deu bicho de pé? Relaxa e goza.
Eta conselho bom: relaxa e goza...
X
7153
Não posso me calar,
Preciso te dizer,
Não deixe naufragar
O sonho de querer,
Depressa te encontrar,
No sol que vai nascer,
Encanto a se buscar,
No canto do prazer.
Amiga eu não desejo
Que a dor nos acompanhe,
Na festa que prevejo
Beber deste champanhe
Num mundo tão sobejo
Que a sorte nos entranhe!
X
7154
Amiga eu te proponho
Seguirmos por aí,
Vencendo um mar tristonho
Aonde eu me perdi.
Um dia mais risonho
Exala-se de ti,
De um tempo tão medonho
Eu juro, me esqueci.
Vencemos os problemas,
Na força de vontade,
Trazemos novos lemas,
Achar felicidade,
No peito estes emblemas,
Poder desta amizade!
X
7155
Amigo eu não me esqueço
De tudo o que vivemos,
Decerto eu nunca meço
O quanto nos queremos,
Se tenho algum tropeço,
Isso é comum, sabemos,
Apoio enfim te peço,
Estendes os teus remos
E ajudas navegar
Por mares violentos,
Em meio a tanto mar,
Percebo que em momentos,
Eu sinto-te a soprar,
Pra longe os duros ventos...
X
7156
Que a vida não se acabe neste estado
Em que meu coração se encontra agora,
Amor que fora sempre descuidado
Não teve nem juízo nem demora.
Viver este meu canto apaixonado
É tudo o que não quero. A dor aflora...
Não tenho mais segredos, sou cativo,
Não tenho resistência, estou aqui.
No sentimento atroz em que hoje vivo
O resto de esperanças; não perdi.
A dor me conheceu lento e passivo,
Agora meu futuro está em ti...
Um dia, sei que vais pensar direito,
Meu mundo, neste dia, satisfeito...
X
7157
Tomando mais um gole de café
Na noite insone, roubo de uma estrela
Cadente uma esperança já sem fé
De um dia, novamente poder vê-la.
Sorriso de ironia, dentes todos,
Mostrado pela noite sem juízo.
Refaço quase pérolas dos lodos
Engodos me negaram paraíso...
Vasculho pela mesa mais um trago.
Cigarros espalhados num cinzeiro.
Um corpo de aguardente sem afago,
Quem sabe abra o caminho derradeiro?
Escuto tua voz num eco frio
Mostrando um coração quase vazio...
X
7158
Amor, na eternidade de um segundo,
Trazendo toda a sorte de ilusões...
Num sentimento breve e tão profundo
Rebenta; sem pensar, os corações.
Na correnteza forte que eu me inundo
Tomando já de assalto as emoções,
Amor que sempre foi maior do mundo,
Morrendo nas estradas das paixões...
Calando tanta angústia em nosso peito,
Vasculha cada parte do meu ser.
Amor se achando sempre no direito
Coberto de vontades, trama a morte.
Eu quero eternamente te querer
Na sensação divina que me aporte...
X
7159
Trouxeste uma alegria a quem sangrava
Em dores escondidas num sorriso.
Que pena que esta sorte te enganava
Na promessa sincera, o paraíso...
Mas nada do que fomos resguardava
O sentimento imenso e tão preciso...
Agora que decolas, sem por que
Meu medo já se mostra mais ativo.
Procuro novamente e nada vê
Senão vagos espaços... Sobrevivo...
Não tenho nem portanto nem cadê
Apenas o meu mar, seco e cativo...
Não vejo mais estrelas, perco o céu,
Amarga em minha boca o que foi mel...
X
7160
Menina, gosto tanto
Quando te vejo aqui,
Derramas em encanto
O sonho que pedi,
Quem dera se meu canto
Chegasse sempre a ti,
Tirando cada manto,
Contigo, enfim, dormi.
Na fome que nos toca,
Carinho sem igual,
Invado fonte e toca,
Num gesto sensual,
Beijando a tua boca,
Gozo fenomenal...
X
7161
Um dia, um cavaleiro
Invadiu teu castelo,
Num sonho mais faceiro,
Tão doce e tão singelo,
Amor mais verdadeiro,
Eu sei que a ti revelo,
Além do costumeiro,
Um sentimento belo
Aonde ser feliz
É quase obrigação,
Viver o que bem quis,
Com toda a sensação
Ser sempre um aprendiz,
Amar cada lição...
X
7161
Eu sei quanto é preciso
Viver um louco amor,
Que mostre, sedutor,
Um céu onde matizo
Meu verso em tal calor,
Que seja mais conciso,
Vencendo o vencedor,
Abrindo o paraíso...
Eu sei que necessito
Da boca carmesim,
Num sonho mais bonito,
Que trago dentro em mim,
Levando ao infinito,
Amor que não tem fim...
X
7162
Cantando sozinho
Sem eira nem beira
Vejo a companheira
Fugindo do ninho,
Amor foi vizinho
Da dor verdadeira
Solidão ligeira,
Chegou sem carinho,
Matando meu sono,
Deixou um vazio,
Total abandono,
Coração tão frio,
Vagando sem dono,
Inverna um estio..
X
7163
Saudade moleca
Aqui acampou,
Menina sapeca
Tanto maltratou
Na lágrima seca
O peito que amou,
Quem ama não peca,
Saudade deixou...
Voltando ligeira
De noite pra mim,
Uma feiticeira,
Boca carmesim,
Menina faceira,
Saudade sem fim...
X
7164
Garapa da cana,
No doce, no mel,
Na manhã temprana,
Estrela no céu,
Lua soberana,
Cavalga o corcel,
A mulher insana,
Cumpriu seu papel.
Vibrei noite inteira
Na boca gostosa,
Da moça faceira,
Perfume de rosa,
Paixão verdadeira
Que invade e que goza...
X
7165
Das Minas Gerais
Eu trouxe este sonho
De ter sempre mais,
Um mundo risonho,
Aonde jamais
Vivesse tristonho,
Já me satisfaz
Amor que proponho.
Falar de amizade
De queijo e de broa
A felicidade,
Tão perto revoa,
Na roça e cidade,
Eta coisa boa!
X
7166
Prevejo
No canto
Encanto
Desejo.
No beijo
Meu manto,
Recanto
Arpejo.
Sou teu
Não nego,
Um breu
Carrego;
Plebeu,
Me entrego...
X
7167
Eu amo
Te digo
Reclamo
Abrigo
Sem amo,
Não ligo,
Exclamo
Prossigo.
E falo
Do amor
Não calo,
Senhor,
Regalo,
Calor...
X
7167
Vozes silentes
Corpos queimados
Vida nos dentes
Mortos contados.
São tantas gentes
Olhos furados,
Homens descrentes
Sete pecados.
Dias compridos,
Sinas marcadas,
Rumos perdidos,
Cartas jogadas,
Sonhos vencidos,
Costas lanhadas...
X
7168
Não chores, querida
Que a vida é melhor
Pra quem não duvida
Do amor que é maior
Estrada comprida,
Conheço de cor,
Eu sei da saída
Que é feita de amor.
A vida prossiga
Em paz benfazeja,
A mão tão amiga,
Por certo deseja
Ternura que é viga,
Que sempre, assim, seja...
X
7169
Vencido pela dor
Depois de tantos anos,
Perdendo o meu amor
Refaço velhos planos
Me sinto um perdedor,
Marcados por enganos,
Sangrar por onde for,
Esforços desumanos.
Porém a sorte brilha
Em uma nova trilha
Minha alma sempre pensa.
Um resto de esperança
A sorte enfim se alcança
Nesta amizade imensa...
X
7170
Eu sinto este perfume
Que exalas, minha amiga,
Transformas um queixume
Em verso que me abriga.
Não ter sequer ciúme,
Da vida que te instiga
Amar como costume,
Que sempre assim, prossiga.
Eu canto cada dia
Com força e com vontade,
Sabendo da alegria
Da luminosidade
Que cobre a fantasia,
Na força da amizade.
X
7171
Ao fim desta jornada
Amiga eu mostrarei
A pele tão marcada
Das lutas que travei,
A pele maltratada
A dor, cicatrizei...
Verás que também eu
Lutei pra ser feliz,
Meu mundo se perdeu,
Depois, tive o que quis,
Meu coração ateu
Um eterno aprendiz...
Profunda, a tal ferida,
Que temos pela vida...
X
7172
Se estás tão solitário
Em meio a tempestades,
De um mundo temerário,
Tantas adversidades,
Um sentimento vário
Demonstra as qualidades
Que um homem deve ter,
Seguido esta viagem,
Distante do prazer
Sem ter sequer miragem,
Nunca pode perder,
Por certo essa coragem
Que é tudo o que nos resta,
Na luta que se empresta...
X
7173
Tristeza quando chega,
Embora não pareça
Na sorte que se nega
Por mais que não mereça
Contraste que se prega,
Na tela que se teça.
Paisagem mais bonita
Se assim for revelada,
Na dor que quando agita
Não deixa quase nada,
Beleza imensa grita
Imagem contrastada...
No dia tão sombrio,
O sol? Um desafio...
X
7174
Não deixe esta peteca
Por certo descair,
Nos olhos da moleca
O mundo a permitir,
Que a vida tão sapeca,
Jamais pare de rir...
Uma esperança vem
De toda a fantasia,
Do amor que a gente tem,
Demonstra que alegria
É coisa que faz bem,
E juro, até vicia...
A mágica da vida,
Na alegria, contida...
X
7175
Alegria é companheira
De quem quer ser feliz,
A paz tão costumeira
Felicidade diz,
Mostrando esta bandeira
Do céu, raro matiz.
Tanta alegria eu sinto
Por poder ver o brilho,
A vida, que é um absinto,
Na qual me maravilho,
Nas cores que me tinto,
Nos olhos do meu filho.
Lutar pela alegria,
Batalha dia a dia...
X
7176
Amigo me perdoe
Mas saiba que a amizade
Por mais que a vida doe
Impede a falsidade,
Num canto que se ecoe,
Escoa uma verdade
Não posso te falar
De todas as mentiras
Que tentas me enganar
E ao céu quando as atiras
Destrói já sem pensar,
Rasgando em finas tiras
Um sentimento nobre,
Que lealdade cobre...
X
7177
Para ter um amigo,
Querer tão só não basta,
Na casa em que me abrigo,
O tempo que desgasta
Às vezes não consigo
A vida nos afasta.
Mas sempre cultivando
A flor deste jardim,
Aos poucos conquistando
Entrego-me e sem fim,
Não sei sequer nem quando,
Contigo, irei assim...
Colhendo cada fruta,
Lapido a gema bruta.
X
7178
Amiga eu te conheço
E sei tuas vontades,
Da solidão avesso,
Valor das amizades
É mais do que mereço.
Querida companheira,
Mesmo se estás distante
Te encontrarei faceira
Comigo a cada instante,
A nossa vida inteira,
Raro prazer constante...
Espiritualmente
Tão perto e mais contente...
X
7179
Uma amizade rege
A vida de quem ama,
A solidão herege
Não segue nossa trama,
Amor que nos protege
Também acende a chama,
A teia de uma aranha,
O ninho da avezinha,
Na sorte tão tamanha
Uma amizade alinha,
No fundo sempre ganha,
Uma alma não sozinha.
Sabendo a qualidade
Da força da amizade...
X
7180
Por mais que seja assim,
Caminho cansativo,
Contigo até no fim
Irei em passo altivo,
Nossa amizade em fim,
Tendo lugar cativo,
Rebrilha dentro em mim,
Num sonho sempre vivo.
Querendo a companhia
De quem me quer tão bem,
Seguindo noite e dia,
Sem ser da dor refém,
Que bom, quanta alegria,
De estar perto de alguém...
X
7181
Em versos dedicados
Perfaço meu caminho,
Amores delicados,
Se encontram no meu ninho,
Dos sonhos destroçados
Andava tão sozinho,
Por sorte, tantos Fados,
Trouxeram teu carinho...
Assim,amada amiga,
Meu canto transformou,
A noite que se abriga
Nos versos me mostrou,
Que a vida em forte liga,
Enfim, iluminou...
X
7182
Não vejo outra saída
Senão sair daqui.
Esqueça-se querida
Agora eu me perdi.
Em toda a minha vida,
Só lembro-me de ti.
Mas vou em despedida,
Não fico mais aqui...
Pois em terra de cego
Eu digo esta verdade,
É mar que não navego,
Pois me inda resta um olho,
E vejo a claridade,
Mesmo sendo caolho...
X
7183
Meu verso não se engana
Cortando qual navalha,
A sorte que se espana,
Comigo se atrapalha.
A vida soberana,
Um campo de batalha,
Na luta tão sacana
Mais fracos estraçalha.
Galinha quando é boa,
Eu falo e nunca minto,
E ninguém me avacalha.
Se é nova ou se é coroa,
Cuidando bem do pinto,
Com certeza não falha...
X
7184
Por fora um espetáculo,
Por baixo decepção,
Vivendo sem oráculo,
Vou sem premonição.
Mas alço meu tentáculo,
Na busca da emoção,
Usando este vernáculo
Morrendo de tesão...
Assim eu não me engano,
O meu olhar estico
E palpo, soberano,
Prazer aonde fico,
Mulher tal qual um circo,
O bom vai sob o pano...
X
7185
Querida, o casamento
É coisa em que não penso,
Não deixo um só momento
De ter amor imenso.
Mas basta o sofrimento,
Que sei ser mais intenso,
Do fogo ardendo lento.
Enfim, não me convenço.
Eu quero ser feliz,
Pra sempre ao lado teu,
Do amor um aprendiz,
Que jamais se perdeu,
Mas tanta cicatriz,
Queimando enfim, me ardeu...
X
7186
A minha mão passeia , calmamente,
Buscando tocar todas reentrâncias,
Eu sinto esse desejo, mais urgente,
De conhecer molejos e cadências.
Sorvendo todo líquido fervente,
Que põe no nosso amor as evidências
Que poderás gozar, tão de repente,
Sem conceder sequer qualquer clemência...
Eu quero teu suor e teu sorriso,
Nas salivas trocadas; as delícias.
Teu prazer é tudo o que eu preciso.
Suave viajar dessas carícias,
Orgasmos delirantes, sem aviso...
Meu amor, por favor, me dê notícias.
X
7187
Dançando estas estrelas irmanadas
Formando com seus lumes u’a coroa
Estrelas se mostrando consteladas
O pensamento livre busca e voa,
As luzes na ciranda demonstradas
Na dança que se faz assim, à toa,
As noites se passando decoradas
Nesta tiara bela. A vida é boa
Para quem souber quanto é importante
Seguir o seu caminho de irmandade
Sabendo que viver é delirante.
No rastro das estrelas vou buscando
O sentido perfeito da amizade,
Unidos; nossos passos vão brilhando...
X
7188
Contorno com meus lábios teu perfil,
E deito-te em meu colo mansamente.
Meu mundo... O coração quando se abriu;
Entraste devagar. Mas, de repente
Senti que não teria escapatória;
Tua presença amiga e tão constante
Vem mudando o rumo de uma história
De forma tão sutil quanto elegante...
Beijar as tuas mãos, dedos e palma,
Morder-te levemente, o indicador.
Mostrando este carinho que me acalma;
Sussurro em teu ouvido; canto amor...
Sinto, neste arrepio em tua pele,
Desejo... Embora o negue e não revele...
X
7189
Na calça que trocaste
Macetes diferentes,
Depois deste desgaste
Prazeres sei que sentes.
Defeito que mostraste,
Por certo para as gentes,
A calça virou traste,
Em cortes mais prementes.
Pegaste uma rasgada
Em troca mais fecunda,
Costura desmanchada?
A mão ali se afunda,
Levaste camarada,
Rasgada bem na bunda...
X
7190
Balança esta roseira
Põe fogo no quintal,
Amiga e companheira,
A vida sem igual
Se mostra verdadeira
Enfim fenomenal,
Na força feiticeira
Que faz um carnaval
Em festas e bailados,
Em risos e traquejos,
Olhando para os lados,
Pressinto tais desejos,
Juntando nossos fados,
Tomando nossos beijos..
X
7191
Balançando a roseira
Quebrando a sapucaia,
Amada verdadeira
Na solidão não caia,
Que a vida é feiticeira
Mas corta qual navalha,
Contigo a vida inteira,
No amor que já se espalha
No campo e na cidade,
Que faz a gente crer
Na tal felicidade,
Vontade de viver,
Saber da claridade
Que traz um bem querer.
X
7192
Saudade de quem fui,
Num tempo tão distante,
A vida mansa flui
Mas mostra-se inconstante,
Meu paletó se pui,
Quem fora deslumbrante
Em meu castelo rui,
Morrendo num instante...
Apenas garatujas
Deixadas na parede,
As mãos deveras sujas
Rasgando antiga rede,
Espero que não fujas,
Pois matas minha sede...
X
7193
Solidão quando a dois,
Maltrata mais que tudo,
Vazio vem depois,
Por isso não me iludo.
Não quero paz e arroz,
Prefiro ficar mudo...
Eu sei que não teremos
Momentos mais felizes,
Meu barco vai sem remos,
Naufrágios, cicatrizes.
No céu que nós perdemos,
Só nuvens, sem matizes...
E bebo do vazio
Criado em dia frio...
X
7194
Eu tenho uma esperança
Que a vida seja calma,
Conheço essa aliança
Que vem e que me acalma,
A dor de uma lembrança
Se mostra em cada palma,
Quem luta e quer alcança,
Libertando sua alma...
Eu tenho a despedida
Guardada no meu peito,
Não vejo uma saída,
Seguindo insatisfeito,
Por toda a minha vida,
Jamais tomarei jeito...
X
7195
Não quero nem saber
Se a noite vem com lua,
Eu quero o teu prazer
Potranca bela e nua,
Que a vida a se verter,
Pra sempre continua,
E assim vou conceber
A vida nua e crua.
Eu quero o teu carinho
Jamais eu te esqueci.
Um canto assim sozinho,
Distante assim daqui,
Já sabe que o caminho,
Que existe leva a ti.
X
7196
Bebi em tua boca
O doce deste mel,
A voz ficando rouca,
Amor em carrossel
A sorte que era pouca
Cumprindo o seu papel,
Deixando a vida louca,
Trazendo enfim, o céu.
Bebi desta doçura
Sabor maravilhoso,
Amor se fez ternura,
Mostrando o fino gozo
Em toda esta procura,
Um mundo fabuloso...
X
7197
Saber do que não sei
É quase recompensa
De tanto que eu errei
Às vezes não compensa
Saber que em tua lei
Quem sofre é quem mais pensa,
Depois que vasculhei,
A casa e a despensa,
A solidão achei
Tornando a vida tensa,
Mas não me acostumei,
Busquei a sorte imensa,
Que faz do que sonhei
Sem luta ou desavença
No amor que em ti busquei,
Somente restou crença...
X
7198
Um sapo procurava
Encontrar a princesa
Que nua desfilava
No reino da incerteza
Porém mal calculava
Que o preço da beleza
Em lágrimas pagava
Embora com nobreza.
Coitado do animal
Que assim já se perdeu,
Distante do ideal,
Em negritude e breu,
Do sonho sem igual,
Sozinho, enfim, morreu...
X
7199
Amiga muitas vezes
A vida nos propõe
Em lutas, mil reveses,
E nisso se compõe
As forças destas teses
Aonde amor se põe
Qual fora solução
Que tanto procuramos,
Nessa vegetação
Nascendo em novos ramos,
Seguindo a direção
Pra onde preparamos
Os sonhos mais falazes,
Em dias mais audazes...
X
7200
Tu queres a finesse onde não tenho,
Apenas sou um grosso lavrador
Da terra mais ignóbil de onde venho,
Não aprendi nem tive professor.
Desculpe se te firo, me contenho,
E sei não ter um verso encantador.
Nas costas maltratadas, tanto lenho,
Mas tenho outras ofertas a propor...
Que tal tu me ensinares a lição
De quem sabe ser fina ou educada,
Assim talvez entenda a procissão
De versos que compõem um quase nada.
Nos Glaucos, nos Bocages, tentação
Contida na palavra disfarçada...
X
7201
Se pensas que este abismo
Transpões em curtos saltos,
Percebes por que cismo
Querendo em sonhos altos,
Dar passos mais fecundos
Na busca do ideal,
Procuro em outros mundos,
Vagando pelo astral
Sem medo e sem tropeços,
Lutando noite e dia,
Não trago os adereços
Nem mesmo a fantasia.
Encaro a realidade,
Com força e com vontade...
X
7202
Querida, por favor,
Quero a macarronada,
Eu sei que está calor,
A boca esfomeada,
Com pressa a te propor,
Depois, a rabanada.
Mas não se faz comida,
Sem ter ingrediente,
Vem logo e se decida,
Macarronada al dente
Precisa de saída,
Que o alho venha urgente...
Não quero dar trabalho,
Vai logo buscar alho!
X
7203
Amiga, a nossa luta,
Que é feita sem cansaço,
Encaro a força bruta,
E tramo um novo passo,
Silêncio não se escuta,
Meu futuro eu já traço
Nos braços varonis,
De quem não tem mais medo,
Batalhar, ser feliz,
Da vida, o seu segredo,
A sorte por um triz,
Na luta o meu enredo...
E nunca mais parar,
Sequer pra descansar...
X
7204
Querida o casamento
Se faz neste contrato
Talvez o sofrimento,
Se mostra no teu trato,
Decerto eu não agüento,
Por isso te maltrato,
Tenho o pressentimento
Mas logo assim descarto.
Tu mal percebes, vês
Que eu ando mais sozinho,
Ficando sempre bravo.
Repito-te; outra vez
Se eu lavo; eu não cozinho,
Se eu cozinho, não lavo...
X
7205
Eu quero esta mulher
Exímia companheira,
No sonho que vier,
Amada a vida inteira,
Em tudo o que puder,
Ainda é cozinheira.
E faz com fino trato,
Diversas iguarias,
Na cidade ou no mato,
Mostrando maestrias,
Assino até contrato
Que é tudo o que querias,
Mulher nobre encantada
Maravilha em rabada!
X
7206
Abrindo mil caminhos
Em passos bem mais fortes,
Abarcas novos ninhos,
Encontras outras sortes,
Bebendo doces vinhos,
Curando tantos cortes.
Ao erguer os teus braços,
Superas as montanhas,
Atando nossos laços,
Eu ganho enquanto ganhas,
Refaço velhos traços,
Nas luzes que tamanhas
Clareiam tempestades,
Reforçam amizades...
X
7207
Querida, alçando o vôo
Elevo o pensamento,
No canto que ressôo
Não paro um só momento,
Em teu sorriso ecôo,
Um forte sentimento,
Além do que revôo,
Almejo um forte vento
Que leve-me depressa
Aos astros soberanos,
Na sorte que confessa
Ditames, sem enganos,
Amiga eu tenho pressa,
Em mundos sobre-humanos...
X
7208
Amiga em tuas asas,
Por certo irei voar,
No fogo em que me abrasas,
Querendo me abrigar,
Na sorte que te aprazas,
Contigo sempre estar...
Eu vejo este futuro
Em dias deslumbrantes,
Saltando sobre o muro,
Das dores uivantes,
Clareia um céu escuro,
Dourando por instantes.
Prateias amor pleno,
Num mundo mais sereno...
X
7209
Planície tão vazia
Ao nada a nos levar,
Sem dor ou alegria,
Não vale nem tentar,
Na adversidade fria
O novo a se buscar.
Amiga; estou contigo,
Não deixo de seguir,
Pra sempre assim prossigo,
Sem medo de partir,
Na certa assim consigo
Um mundo a repartir.
No apoio dos teus braços,
A força dos meus passos...
X
7210
A pedra no caminho
Gigante, intransponível,
Em duro e forte espinho,
Num mundo corruptível,
Recomeçar, sozinho,
Seguindo um outro nível...
Assim na nossa vida,
Amiga, amada, amante,
Um ponto de partida,
Surgindo a cada instante,
No fim, outra saída,
Se mostra fascinante.
Da vida qual um fel,
Refazer doce mel...
7211
Amizade que se faz em cada verso
Vagando sem destino, um coração,
Percorro meu caminho, no universo
E faço deste mote uma lição
Que mostra-se distante do perverso
Destino que se forma em solidão.
Não quero mais seguir, sempre disperso,
Por isso amiga eu peço-te perdão...
Às vezes maltratei nossa amizade
Em outras me esqueci completamente.
Porém o mundo mostra, na saudade,
Quão importante estar sempre presente,
Cuidado deste amor com lealdade,
Mostrando a cada dia o que se sente...
X
7212
O que dizer das mãos que me acarinham?
Quais sendas perfumadas, sem espinho.
Belezas que as estrelas adivinham,
Delícias delicadas, paz e ninho...
Nas matas e nascentes, já caminham,
E fazem de quem fora tão sozinho,
Um homem tão feliz. Aonde aninham
Já forram com perícia e com carinho.
Mãos de fada! Pra sempre, quem me dera,
Colhessem no meu corpo a primavera,
Cumprindo o meu destino, sem tocaia,
Nos vértices dos céus, liberto sonho,
Calor que cedo emanas, te proponho,
Carícias mais audazes, sob a saia...
X
7213
Cuidar desta amizade
Como quem lavra a sorte,
Fazer com qualidade
O rumo, o nosso norte,
Salvar da tempestade,
Jamais deixar que o corte
Afaste da verdade,
Um braço amigo e forte.
Não tema, então querida,
Contigo irei sem medo,
Toda a razão da vida
Se mostra num segredo,
Estrada assim cumprida,
Louvando cada enredo...
X
7214
Uma esperança ativa
Não é somente um sonho,
Realidade aviva,
Um mundo em que proponho
Presença sempre viva
Pois quando eu me disponho,
A sorte enfim não priva
De um dia tão risonho.
Viver uma esperança
Sem medo de seguir,
É não temer a lança
E nem sequer fugir
Futuro nos alcança
E invade a nos tingir...
X
7215
No beijo que trocamos
Nossas almas se tocam,
Decerto desfrutamos
Prazeres que se focam,
Juntinhos; assim vamos,
Vontades que se alocam,
Nos lábios declaramos
Amores que se espocam.
Na boca, o sentimento
Em umidade plena,
Tão doce este momento
Em que este amor acena
Um sol queimando lento
Numa manhã serena...
X
7216
Bem sei que me conheces
Mas mesmo assim me queres,
Nas sendas que assim teces,
Querida, se vieres,
Escute minhas preces,
A sorte, em nada; alteres.
Eu tenho esta certeza
Que me norteia a vida,
Num ato de grandeza,
Não te perdi, querida,
Vislumbras a beleza
Que eu julgava perdida.
Por isso eu te agradeço
Amor que eu não mereço...
X
7217
Amiga, me agasalhe nos teus braços,
Do amor que não mais tenho e me perdi,
Espero que se estreitem nossos laços
Bem sei que o bom da vida estava aqui.
Permita-me Meu Deus que nossos passos
Mais firmes do que todos que já vi.
Lá fora estão cantando umas cigarras
Fazendo uma algazarra sem tamanho.
Panteras afiando suas garras
Do tempo em que vivemos perco ou ganho,
A liberdade plena sem amarras,
Se faz em cada verso e nem estranho
O dia que nasceu sem claridade,
Depois de sepultarmos a amizade...
X
7218
Quem me dera morrer de tanto amor!
Seria algo medonho, mas bonito.
Um sonho assim deveras tentador
Morrendo de emoção quebrando o rito
Fazendo em tentação velho pendor
Com asas que me elevem, infinito...
Morrer de amar demais, um paraíso
Aberto em esperanças divinais.
Morrer tão docemente num sorriso
Na plena sensação de imensa paz.
No momento mais correto e mais preciso
Uma alegria imensa a morte traz...
Mas amanhã de novo eu falo disto,
Hoje não posso, tenho um compromisso.
X
7219
Vivendo neste amor assim profano,
Numa insensata dança sem juízo...
Roçando pele a pele, amor insano,
Que leva-nos ao bom do paraíso,
Fazendo da loucura o nosso plano
Sincero de prazer e de sorriso.
Nas fronhas, nos lençóis, nos travesseiros
As marcas deste amor que nos completa.
Distantes dos desejos corriqueiros,
A forma do banquete predileta
Nos mostra sempre intensos, verdadeiros,
Até que a noite passe tão repleta...
E como do manjar angelical,
No templo mais gostoso e sensual...
X
7220
Neste sonho ardoroso que nos toca,
As bocas se procuram, sede tanta...
O meu olhar no teu quando se enfoca
Desejo bem mais sorte se agiganta.
Carícias que trocadas nos aquecem
E fazem delirar quem bem se quer,
Os lábios, aos desejos obedecem,
Na busca da menina, da mulher...
Abraço-te com calma e com vontade
De ter teu corpo junto, sempre ao meu,
Nos sonhos (quem me dera) a realidade
Distante. Essa promessa de alegria
No vento em mil carinhos me aqueceu...
Acordo e quando vejo... Fantasia...
X
7221
A sogra que me deste
Querida; que suplício.
Não digo que ela é peste,
Azar ou precipício,
De negro se reveste
Que é por dever de ofício,
No caldeirão faz teste,
O bicho, este estrupício.
Porém tem as vantagens,
Depende do momento,
Às vezes redentora,
No trânsito em viagens,
Num engarrafamento,
Me leva na vassoura...
X
7222
Na solidão que a vida preparou
Entregue a tanta dor, desesperança.
Buscando o meu caminho, sempre vou
Porém somente o frio já me alcança.
Eu sinto que o destino preparou
Cilada tão cruel, que assim se avança.
De tudo o que sonhei, nada restou,
Apenas a saudade, uma lembrança...
E todos me deixaram tão sozinho,
Sobrando do que fui um simples não.
Da morte solitária, mau vizinho,
Lutando contra tudo, sem abrigo,
Percebo enfim que todos já se vão,
Restando aqui somente um velho amigo...
X
7223
Quem segue seu caminho
Em trilhas diferentes
Talvez encontre ninho
No sonho de outras gentes,
Não sei andar sozinho,
Meus versos vão contentes
Quando contigo aninho
E gosto quando sentes
Meu passo a te seguir.
Porém querida amiga,
Meus erros não repito,
Prefiro perseguir
Um passo que prossiga,
Por outras mãos escrito...
X
7224
Uma alma que se encontra enamorada
Na transparência pura dos cristais,
Persegue um lindo sonho em bela estrada,
Querendo desta vida, sempre mais.
Eu vejo na pureza de teus olhos,
O brilho da emoção já refletida,
Jardins que se salvaram dos abrolhos
Perfumam, sacramentam minha vida.
Eu sei que irei contigo até que o fim
Separe nossos sonhos nesta Terra,
Mas guardo uma ilusão que mesmo assim,
Comigo noutro mundo, amor encerra
O canto mavioso em claro brilho,
A morte não será mais empecilho...
X
7225
Na vida o que preciso
Já tenho um companheiro,
Saber do teu sorriso,
Abraço verdadeiro,
Tua amizade eu friso
Num sonho mais certeiro.
Meu patrimônio, amigo,
É ter a companhia
Que quero e que persigo
Tramando em tal magia,
Defesa em um perigo,
Um poço de alegria...
Bem mais que tantos bens,
Feliz; pois sei que vens...
X
7226
Perdoe, minha amiga,
Um pobre sonhador
Que a sorte não abriga
Oculta o seu calor,
Ternura tão antiga,
Perdendo o seu ardor,
Impede que prossiga,
Negando todo amor...
Depois de ter perdido
Teu braço costumeiro,
Sentindo-me vencido
Qual fora um trapaceiro,
Meu canto desvalido,
Vazio, por inteiro...
X
7227
O que dizer do que se chama vida?
Repúdio, lágrimas, martírio, dor?
Não poderia conceber amor,
Nunca tive remansos. Vi, perdida,
A juventude, alheio, sem saída...
Quisera piedade, por favor...
Sentira simplesmente tal pavor
Que só pensava, enfim, na despedida...
Conheci os salões da solidão,
Num marasmo, inconstante. Coração
Dizendo nada, nada repetindo...
Vieste, mansamente, tempestade...
N'outono temporã felicidade.
Mas, triste, meu inverno já vem vindo.
X
7228
Bem sei quanto sorris desta amargura
Que trago no meu peito, em dura espera.
Tua alegria é feita na tortura
Que prende minha sorte, triste esfera.
A látega saudade me perfura
E uma alegria imensa sei que gera
Nos olhos de temível criatura
Que sobre a minha vida sempre impera.
As penas que carrego, tuas glórias,
Feridas em minha alma, paraíso.
Se venho carregado das escórias,
Te faço mais feliz por ser assim,
Meus passos mais doridos, impreciso
Sorriso em tua boca carmesim...
X
7229
Meu olhar descortina exatidão
Do corpo mais perfeito que conheço.
Desnuda em minha cama, com tesão
Vertiginosamente reconheço
As marcas do desejo e tentação
Mostrando o quanto amar tem o seu preço.
Desvendo os teus segredos e mistérios
Recebo o teu arfar mais desejoso.
Pratico no teu corpo os magistérios,
Profetizando sempre o doce gozo,
Quem fora qual vassalo em teus impérios
Vai sedento, faminto, um andrajoso
Que implora neste verso desconexo,
Todo o calor intenso de teu sexo...
X
7230
Eu vim de não sei onde
Jamais retornarei
A vida perde o bonde,
Distante me encontrei
Nos braços da morena
Encontro a solução,
A vida mais amena
Enfrenta um furacão.
Sou quase o nada fui,
E agora o quase sou,
Amor por certo influi
No tempo que restou,
Agora o mar me intui
Meu barco te encontrou
X
7231
Eu quero e nunca nego
Carinho de quem amo,
Meu canto descarrego
No pranto em que te chamo.
No mar em que navego
Um sonho não difamo,
Apenas como um cego
Tateio, assim eu tramo
Um resto de esperança
Que chega devagar,
Laçando em aliança
Sem nunca mais parar,
Amor que já me alcança
É luz a me guiar...
X
7232
Repentes sempre faço
Na voz de um violeiro
Caminho em cada passo,
Um canto verdadeiro,
Encanto traz o laço,
E prende um traiçoeiro
Amor que sem espaço
Morreu, teu prisioneiro...
Porém uma amizade,
Restou aqui no peito,
Restaura a qualidade
De um mundo contrafeito,
Deixando esta saudade
Vazia, enfim, sem jeito
X
7233
Querido, uma verdade
Às vezes atrapalha,
Somente na amizade
Sincera, nunca falha.
Antes que seja tarde
Encaro esta batalha,
Por mais que a vida enfade
Verdade é qual navalha.
Mas agradeço a ti,
Por isso meu amigo,
Em tudo o que vivi
Em tudo que persigo,
Sinceridade eu vi
Somente assim contigo...
X
7234
Às vezes necessito
Manter olhos fechados,
Negando estar aflito,
Ao ver passos errados,
Por isso eu acredito
Que a vida traz os fados
Retendo o nosso grito
Engodos demarcados...
Numa amizade, às vezes
Silêncio é tão bem vindo,
Assim, amigo há meses,
Ficando só te ouvindo,
Ao ver os teus reveses,
Sozinho, a dor, curtindo..
X
7235
Uma amizade faz
Das almas, casamento,
Uma esperança a mais
Tomando enfim assento
Da vida feita em paz
Distante de um tormento
Servindo, satisfaz
No amor tem seu sustento.
Porém neste consórcio
Das almas que se dão,
Se algo vem e distorce-o,
Acabando ilusão,
Restando só divórcio,
Única solução...
X
7236
Eu bebo a tempestade
Encaro o sofrimento
Não fujo da verdade,
Engulo fogo e vento,
Porém sem liberdade
Morrendo o sentimento,
Dependo da amizade,
Que bordas num momento.
Nas bordas deste mar,
Nos campo descoberto,
Às vezes quis amar,
Meu peito estando aberto,
Mas nada pude achar,
Amor se fez deserto...
X
7237
Um simples repentista
Que fala em tanto amor,
Sonhando ser artista
Navego um campo em flor,
Por mais que assim insista,
Batalho com ardor,
Sem ter sequer nem pista
Porém ao teu dispor.
Eu quero que imagines
Um mundo bem melhor
Do que sabes em mim,
Olhando nas vitrines
Beleza assim maior
Num sonho sem ter fim..
X
7238
Amor deveras rude
Maltrata quem sonhava
Além do que já pude
Jamais imaginava
Que assim a juventude
Sozinho eu terminava,
Que Deus me dê saúde
E a vida sem ter trava.
Querência deste amor
Que toma e não me larga,
A voz de um sonhador,
No peito assim me embarga,
Amor tem seu valor,
Em vida dura, amarga...
X
7239
Felicidade está
Em cada novo dia,
Trazendo para cá,
Amor que se queria,
Devagar chegará
Tomando com magia
O mundo brilhará
Vestido de alegria.
No sol desta manhã
Felicidade vem,
No gosto da maçã
No amor que sempre tem
Que vive neste afã
De espalhar sempre o bem...
X
7240
Sorriso verdadeiro
Desarma um cidadão,
Um sonho costumeiro
Mostrando uma emoção
Por certo vem inteiro,
Encharca o coração.
Do céu rouba o tinteiro
Traz boa sensação.
Por isso na alegria
Sorriso estampa tanto,
Além do que dizia,
Nos lábios, com encanto,
Felicidade guia,
Afunda o triste pranto...
X
7241
Saudade daquilo
Que um dia perdi,
Viver sem estilo
Distante de ti,
Depressa eu vacilo,
Não encontro aqui
Sequer um asilo,
A sorte, esqueci...
Quem vê o meu rosto
Em lágrimas tantas,
Sofrimento exposto,
No frio sem mantas,
Amor em desgosto,
Não mais tu me encantas...
X
7242
Mulheres perdidas
São tão procuradas
As horas vencidas
As noites chegadas,
Distantes, curtidas,
Novas madrugadas,
Se encontram as vidas,
Tão despedaçadas...
Não falo da sorte
Do amor que não tive,
Procurando a morte,
Contigo eu estive,
Porém bem mais forte
Esperança revive...
X
7243
Amor de verdade
Percebo em momentos
Onde adversidade
Negando os ungüentos
Sem prosperidade
Já traz sofrimentos,
E com amizade,
Mostra-nos bons ventos.
Por isso querida
Eu sei que me gostas,
Curando a ferida
Lanhada nas costas;
Tua mão ungida
Em mim sempre apostas...
X
7244
Meu querido amigo
Não tema esta dor
Perfume sem flor
Não vem mais contigo,
Em teu doce abrigo
Percebo o valor
Do sonho a compor
Que assim eu persigo.
Perguntas não faço
Apenas te abraço
Em tua aflição,
Assim amizade
Traz a claridade
Mata escuridão...
X
7245
Às rosas eu dedico
Um verso que é bonito.
Tão encanto eu fico
Seguindo um velho rito,
No amor eu me edifico,
E não persisto aflito.
Jardim se torna rico,
Isto não é um mito...
Porém a verdadeira
Razão assim formosa,
Se mostra mais inteira,
Além da bela rosa,
A mais maravilhosa,
De todas: trepadeira...
X
7246
Não quero te entender, ter-te me basta...
Nas variantes vozes que me dizes,
Nas profanas mordaças, tais matizes
Na corredeira louca que m’arrasta...
Muitas vezes luxúrias, outras casta,
Sorrindo da dor, lágrimas felizes.
Procurar liberdade, ter varizes
Nos segredos sutis, atrai, afasta...
O que me falas, vento já levou.
Tuas malícias, forjas o que sou...
Numa diversa hipocrisia, ris...
Conhecer-te? Jamais queria tanto.
Aos teus olhos, satânico,sou santo...
No fundo, um paradigma, és uma atriz...
X
7247
Não quero te entender, decerto basta!
Em todas as mentiras que me dizes
Encontro a sedução destes matizes
Que em loucas corredeiras, já me arrasta.
Às vezes em luxúrias finges casta
Sorris de minha dor; mas são felizes
Os dias em que escondes teus deslizes,
Teu segredo venal, a sorte afasta...
Mulher que me profana e goza santa.
Na fome desejada, já se encanta
E cospe neste prato que comeu.
Donzela que disfarça a meretriz,
Em cena se mostrando qual atriz,
Inventas universo todo teu...
X
7248
Estando assim contigo
Não há constrangimento,
Percebo, meu amigo,
A maciez do vento,
Afastando o perigo,
Tomando o pensamento.
Sorrir até consigo,
Ao menos, num momento...
Em total confiança
Amizade se faz,
Mesmo se a dor avança
Garante nossa paz,
Decerto uma esperança
Amizade nos traz...
X
7249
Quando tu negas raios de um luar
Atordoado, nada eu vejo em volta.
Nem mesmo permitindo iluminar
Causando tanta dor, mágoa e revolta.
Depois encontro a lua num vagar
Sozinha sem estrelas por escolta.
Noutros caminhos, sigo a procurar;
Mas sinto em tua mão que não me solta
A força destas garras massacrantes.
Os dentes mais ferinos, penetrantes
Em fúria sem limites, tão feroz.
Escuto então teu canto mais atroz
Altares seculares; já desmontas,
E minhas madrugadas morrem tontas...
X
7250
Titânica vontade, animalesca,
Na amazônica luta para ter
Na tétrica batalha, assim dantesca,
Enfático, procuro te reter,
Esplêndida manhã, que romanesca,
Fatídica certeza a nos trazer
Estética sublime, nababesca,
Emblemática sorte, meu prazer...
Não quero esse aço fero que me fira,
Nem lança que o acaso, enfim desfira,
Palácios, palafitas? Tanto faz,
Apenas quero ter em ti meu manto,
Do amor que em profecia, eu via encanto,
Moldando o meu futuro em santa paz...
X
7251
Quando te vi subindo pela escada
Eu percebi que tinha alguma chance
De renovar a vida destroçada
Após ter terminado esse romance.
Minha alma, com certeza tão cansada
Acompanhava os passos lance a lance.
Eu já deixara a porta escancarada
Pensando em permitir que sempre avance
A mulher que sonhei a vida inteira
E partira; levando uma esperança
Da vida renovar-se por inteira.
Ao ver tua chegada percebi
Que o sonho renovado não se cansa,
E veio como sempre, mal te vi...
X
7252
Coração taquicárdico menino
Que faz estripulias no meu peito.
Batendo em descompasso e desatino
Deixando o meu viver mais satisfeito.
Nestes momentos todos; me alucino,
E nem mais sei pensar certo e direito...
Às vezes fugidio, outras tão fácil,
Coração descompassa e perde o rumo.
Não pode ver mulher mais bela e grácil
Não pode ver a fruta quer o sumo...
Se faz de uma esperança mais sombria,
Nas asas da ilusão vai decolando,
Forrando o meu espaço em fantasia,
Feliz dentro do peito, está pulsando...
X
7253
É bom poder ouvir a tua voz,
Embora muitas vezes dissonantes
Acordes que fizemos, deslumbrantes
Mais valem do que um dia, outrora, atroz.
Eu sinto que é preciso atar os nós
Na força que nos doma por instantes,
Da vida não sabemos nada após
Por isso vou dizer-te que bem antes
Que a morte venha ser a companhia
Destino de quem vive, sem perdão,
A gente, enfim, refaça uma alegria
Que sempre foi meu mote, com emoção.
Amiga é bom saber que a poesia
Reveste em plena glória, o coração.X
X
7254
Ao abrir totalmente o coração
Ficando sem defesas, me entreguei
Sentindo este poder, devastação
Já quase; nem meu nome, nada sei...
Somente o vento forte da paixão
Ao qual me submeti na dura lei
Onde todos já perdem a razão,
Assim também vencido, me portei.
Agora o quê que eu faço? Não sou mais
Aquela fortaleza que julgara
Abrindo o coração perdi a paz
Nem mesmo sei quem sou não reconheço
Em cada novo passo nada ampara,
Meu medo inusitado de um tropeço.
X
7255
Retiro de minha alma a lama suja
Que fez meu verso triste e sem sentindo.
Rascunho de desejos, garatuja,
No fundo do que sou vou me esvaindo.
Amor que nunca veio de lambuja
Chegando faz meu dia bem mais lindo.
No rito solitário da paixão,
Troquei a vaidade pelo sonho.
Restando tão somente esta emoção
O vaso que quebraste, de tristonho,
Perdeu todo o sentido e a razão,
Mas mesmo assim querida, te proponho
Lançarmos nosso dardo ao infinito,
No que se fora amor, mesmo maldito...
X
7256
Aflora em nossa pele tal desejo
Que nunca mais sacia, nem termina.
Bebendo tua boca em cada beijo
No vinho de teu mel que me alucina.
Prazeres sem limites eu prevejo
Colhidos no pomar, mulher-menina...
Irrigando voraz cada caminho
Dos canteiros divinos, magistrais..
Recebo em cada toque tal carinho
Que peço, sem parar, querendo mais...
Entrar em tuas matas, de mansinho
Vontade de sair? Juro, jamais!
Encanto sedutor e divinal
Do pélago gostoso e magistral.
X
7257
A boca que beijei por tantas vezes
Negando-me um sorriso. O que fazer?
Bem sei que nesta vida, mil reveses
Nos tomam, nos negando este prazer.
Eu te amo, isso é verdade e nunca nego,
Entendo os teus motivos minha amada.
A culpa dos meus erros, eu carrego,
Porém o dia nasce na alvorada
E traz renovação raiando o sol,
As lágrimas, orvalhos que se secam,
Fazendo dos meus olhos girassol;
Perdão se fez pra amores quando pecam.
Amada, em meu suplício, um só desejo:
A minha vida inteira por teu beijo...
X
7258
A felicidade
Abrindo a janela
Já traz qualidade,
Amor que revela,
Tem a faculdade
De ser bem mais bela
Nesta mocidade,
Eu pinto esta tela.
Do riso tão franco
Que mostra o meu peito,
No sonho mais branco,
Ando satisfeito,
A dor eu desanco,
Te encontro em meu leito
X
7259
Saudade de quem
Um dia partiu,
Deixando este bem,
Que sempre pediu,
A sorte que vem,
Depressa fugiu,
Amor pegou trem,
Meu mundo caiu.
Agora a saudade
Batendo na porta
Amarga maldade,
Mais nada me importa,
Tanta falsidade,
Minha alma está morta
X
7260
A tua amizade
Por certo me traz
Força de vontade
Certeza de paz,
Achei a verdade,
E sou mais capaz
Ao ver claridade
Que enfim satisfaz.
Meu verso incontido,
Se mostra mais forte,
Contigo decido,
Meu rumo, o meu norte,
E vou protegido,
Não temo nem morte.
X
7261
Amor não tem idade,
E nem respeita gentes,
Na louca mocidade,
Nos crava fortes dentes,
Depois de ansiedade
Nos torna mais doentes,
Restando uma saudade
Fazendo-nos dementes.
Porém um paraíso
Se mostra em luz e vida,
Vibrando num sorriso,
Uma aurora florida,
Mas se eu me martirizo,
Encontra uma saída
X
7262
Encontro um ideal
Distante das sombrias
Noites onde o mal,
Transita em agonias,
A dor em funeral
Morrendo em mãos tão frias
Lágrima sepulcral
Já não terá magias.
Nem cravos sequer lírios,
Somente uma grinalda,
Quem teve tais martírios,
Por certo já se escalda,
No encanto, mil delírios
Teu mel, um doce em calda.
X
7263
A noite vai esguia
Deitando no luar
Desejo que se urdia
Tocando devagar,
Moldando uma alegria
Gostosa de sonhar,
Quem sabe a fantasia
Chegando devagar,
Mostrando que também
Amor a mim se deu,
Eu vivo por teu bem,
Somente agora meu,
Por isso, amada vem,
Na luz que me aqueceu
X
7264
Na fome que se espalha
Em grandes plantações
No corte da navalha
Escravos, borbotões
Futuro se avacalha
Esquecem-se lições
A vida vira tralha
Emergem podridões;
A morte na tocaia
Espreita cada presa,
Cavalo que sem baia
Levado em correnteza,
A vida não ensaia
Sequer uma surpresa...
X
7265
Eu vejo um bom futuro
Nos braços de quem amo,
Ultrapassando o muro
Enfim, amor reclamo
,
De um chão deveras duro,
Ao plano em que te chamo,
Meu canto então apuro
E audaz; amor exclamo.
Quem veio de um passado
Quiçá sem esperanças
Agora extasiado
Experimenta danças,
Vivendo do teu lado,
Nos gozos das festanças...
X
7266
No sonho em que eu me via
Tão próximo de ti,
Eu penso que sabia
De tudo o que vivi.
Tu trazes alegria
Melhor que conheci,
Encharcas poesia,
Por isso estou aqui
Pedindo de joelhos,
Amor que não trouxeste
Nos meus olhos vermelhos,
Na dor que me reveste
Os sonhos são espelhos
Qual fossem simples teste.
X
7267
Amor se mostra ardente
Em cada novo beijo,
Tomando logo a gente
Trazendo num versejo
A sorte em que se tente
Viver cada desejo,
Tornando a noite quente
Rompendo em relampejo.
Brincar com bela lua
Exposta na janela
Numa beleza crua,
Vivendo só para ela,
Mulher deitada, nua,
Estrela se revela...
X
7268
Menino que criou-se lá na roça
Brincando com pião, e cabra cega
Deitando numa rede, na palhoça
Jamais numa cidade, em paz, sossega.
Montado num cavalo, na carroça,
Em nada nesse mundo já se apega,
Da dor e da saudade se faz troça,
Do verso que improvisa a sorte prega.
Moleque que se fez quase um matuto,
No cigarro de palha, o companheiro.
Olhar de quem não sabe, sendo astuto,
Cartilha decorei, mas sou matreiro.
Porém por amizade, vou e luto,
Comparsa; na verdade. Um bom mineiro.
X
7269
Felicidade existe
A cada amanhecer
À dor ela resiste
E mostra que o prazer
Que sempre, assim resiste
Traz luz ao conceber
Deixando o que era triste
Do lado, a se esquecer...
Eu sei felicidade
Nos olhos feiticeiros
No canto de amizade,
Amigos verdadeiros,
Forjando a claridade,
Da vida, timoneiros...
X
7270
Em meio à solidão
Procuro por afago,
Entrego o coração,
Do trigo, cada bago,
Encontro a solução
Bebendo trago a trago
Aflora uma emoção
A solidão esmago.
Nos braços de uma amiga
Nos olhos da promessa,
A vida mostra a viga
Na sorte em que confessa
Uma amizade abriga
O resto é só conversa....
X
7271
Um coração granito
Marcado por desgosto,
Levado ao infinito,
Estando sempre exposto
Num gesto mais bonito,
Encontro meu recosto
Quem fora tão aflito
Agora traz no rosto
Sorriso mais preciso
E sempre extasiante
Pois vê que o paraíso
Em toda liberdade,
É feito assim, conciso,
Na força da amizade...
X
7272
A dor que consome
Coração da gente
Trazendo em seu nome
Um mundo descrente
Tantas tempestades
Promessas de chuva
Saber das maldades
Da estrada na curva.
É ter a certeza
Que a vida maltrata
Contra a correnteza
Somente teu braço,
Amiga, nos ata
Permitindo um passo.
X
7273
Das noites tão frias
Sozinho no quarto,
Promessa de dias,
Que penso e descarto
Sem ter alegrias
De dores tão farto,
Porém me darias
Carinhos de fato.
Amiga agradeço
A sorte que dás,
Será que mereço
Todo esse carinho,
Que sempre já traz
Calor em meu ninho..
X
7274
Nas horas que vagas
Prometem descanso
As distantes plagas
Em sonhos alcanço
E sei que me afagas
Coração tão manso
A vida que alagas
Num calmo remanso.
Vencendo estas dores
Que a vida nos traz,
Bordando mil flores
Em tal claridade,
Encontro esta paz
Na tua amizade...
X
7275
Horas mortas da noite
No frio que nos toma,
Cortando qual açoite
Amor enfim nos doma
E faz um paraíso
Em cada beijo teu,
Trazendo um bom sorriso
Que enfim se concebeu
Em festa e alegria
Que sempre majestosa
Em lágrimas sabia
Do espinho sem ter rosa.
Agora ganha o dia,
Do amor tão orgulhosa...
X
7276
Paixões que me assolaram num tropel,
Fomentos de ilusões e fantasias,
Marcando meu passado por orgias,
Erguendo meu olhar ao negro céu.
Vestida de inclemência traz no véu,
O quanto imaginara e não querias,
Minha alma transformada num bordel,
Morrendo em solidão, nas noites frias...
Mas ergues, da amizade soberana,
Uma égide por certo, salvadora,
Enquanto a sorte vem e desengana,
A mão que me sustenta, redentora,
Além do que pensei vem e transforma,
Forjando do que fora, em nova forma...
X
7277
Não creio neste Deus antropomorfo
Que vendes nos altares, nos botecos,
Sentimental e vingativo. Eu formo
Imagem bem distinta destes ecos.
Um Deus que se faz éter, clorofórmio
E cansa com tamanhos repetecos.
Apenas criador, não me deformo
Por mágicas insanas doutros becos.
Não creio nesta imagem malfadada
Do cordeiro que, quieto, se degola.
E tanta falsidade em si, encerra.
Amiga, na verdade, a derrocada
Se faz quando se enforca pela gola,
Por isso, o bom cordeiro? O que mais berra!
X
7278
Ao celebrar em rito este missal
Que sempre em preconceito se faz farto.
Distância que tu crias, abissal,
Levando ao descaminho em que me aparto
Do rumo que mostraste no final,
A sorte é que no fundo eu já descarto
Opinião marcada por boçal
Sentimento do qual eu não comparto.
Negando a salvação para um “doente”
Que médico imbecil tu me saíste.
Depois já não reclame se, descrente
Eu fujo do diabo em que vestiste
Todos os que negam teu poder,
Amigo, por favor, vá se catar!
X
7279
Em versos maldizentes e profanos
Talvez fosse mais fácil decifrar
Caminhos que perdidos, em enganos
Não deixam um cristão já caminhar.
Passando sem pudor por muitos anos,
A quem deseja assim mais enganar?
Os reis, ritos papais, por soberanos
Levaram às ovelhas falso mar
Aberto sobre aqueles que pensavam,
Na adaga que encostada no pescoço,
Podres poderes sempre demonstravam.
Agora a fera mostra-se em colosso
Retroagindo ao tempo sem razão.
Só falta renascer a inquisição!
X
7280
Sou manso e quase tolo
Mas quero te contar
Da festa quero o bolo,
Da boca o teu beijar.
Na dor eu me consolo,
Bendigo este luar,
Deitando amor no solo,
É bom pra namorar.
Eu não me esqueço mais
Do amor que nunca veio,
Embora prometido.
Querendo-te demais,
Adivinhando o seio
Que trazes escondido...
X
7281
Eu sou do interior
Das Minas mais Gerais
Mas seja lá o que for,
Eu quero saber mais.
A minha namorada
É moça moderninha
Porém bem assanhada.
Com fala bem mansinha
Falou duma homenagem
Pra fazer pr’uma amiga,
Que logo vai chegar,
Achei uma bobagem
Que seja então prossiga
Homenagem truá...
X
7282
Meu corpo mimetiza-se no teu,
Em cores que se tocam, se misturam...
Meu mundo no teu mundo se perdeu
Matizes que se buscam, se procuram...
E quando te possuo em nossa cama,
Nem mais sei quem serei nem que és tu.
Na pele que me toca, viva chama,
Teu corpo junto ao meu, tão belo e nu.
Paixão nos desenhando, luz, espaço,
Na fome que não cansa de querer.
Deitada aqui comigo, no meu braço,
Amada companheira que sonhei,
Loucuras feita em gozo, teu querer,
Além do que, na vida, eu esperei...
X
7283
Quem teve qual deserto
O mundo que sonhara,
Ao ver amor por perto
Coração escancara
Em ti, quando desperto,
Encontro a pedra rara.
Futuro fora incerto
Agora já se ampara...
Vencendo as tempestades,
Surgindo do vazio,
Percebe as qualidades
Do sonho em que me crio,
Por ruas e cidades,
Pressinto um novo estio...
X
7284
Por vezes tão fundos
Os fossos da sorte,
Em sonhos profundos
Prenúncios da morte
Nos restos que vês
De minha existência,
Nos livros que lês
Sequer a clemência
Mas veja querida
A morte não vem,
Enquanto na vida
Existir alguém
Que encontre a saída
Que amizade tem...
X
7285
Percebo em tua carta
Que a vida não foi boa,
Na dor que sei tão farta
Meu pensamento voa
Rainha sem coroa,
A sorte te descarta
Porém na voz que ecoa
Que a glória enfim reparta
Um cheiro de esperança
Talvez, felicidade,
Na carta que me alcança
Relembro esta amizade
Dos tempos de criança
Tanta prosperidade..
X
7286
A vida fez estrago
Em quem sempre sonhou,
Negando o seu afago,
Tanto me maltratou.
Porém a minha sina
Mudando um duro norte
Enfim se descortina
Trazendo nova sorte
Nos braços de quem sei
Em plena liberdade
Em tudo o que sonhei
Com carinho, amizade,
Tu trazes sem disfarces
A vida em outras faces...
X
7287
Amiga tais feridas nos revelam
Que a dor se fez cruel em outros dias.
Por vezes pensamentos que se atrelam
Não mostram na verdade o que querias.
Nos alazões do sonhos que se selam
Percorro com certeza, fantasias.
Nas mortes de esperanças que se velam
Fracassam novamente as alegrias...
Mas saiba mesmo em fúnebre cortejo,
Uma amizade sempre sobressai.
Guardando no seu cerne este desejo
De ser além de tudo, sempre mais.
Porém uma amizade, quem a trai
Não terá novamente paz jamais...
X
7288
Olhar vidrado em ti, amor insano,
Dos lábios roubo o gozo da alegria.
Pululam esperanças quando explano
O todo que do pouco bendizia.
Nas leis que foram dadas, saberia
Sentir além do medo soberano.
Mal vejo quanto tenho em harmonia
Deitando em tua cama em ledo engano.
A par do que perdi há tanto tempo,
Eu veja algo depois de um passatempo
No qual não mergulhamos; temerosos.
Por isso e mesmo assim, irei sofrer,
Pois quero muito além que um bom prazer,
Gemidos e suspiro estridulosos...
X
7289
Não use esta boceta na piroca.
Decerto eu sei que vai escorregar.
Melhor no desarranjo fazer troca,
Coloque esta boceta no lugar.
A terra é que lugar para a minhoca,
Um pássaro foi feito pra voar,
Tatu vive escondido em sua toca,
Aonde se procura, vai se achar.
Amigo, é perigoso, isto eu garanto,
Assim perdes teu charme e teu encanto
Repare no que falo e creia em mim
Depois não quero ouvir sequer teu pranto
Boceta quando aberta, causa espanto,
Piroca é pra boceta um trampolim!
X
7290
Azar! Durante tanto tempo estive
Sob o jugo terrível dos maus fados.
A sorte tão ingrata sobrevive
Distante dos meus dias já sonhados.
Por mais que já pensara noutros dias
O vento nunca veio benfazejo.
Tentando transformar em fantasias
As coisas bem mais simples que desejo.
Sorriso de mulher por mim amada,
Amigos que perdi, sem perceber...
As curvas tão fechadas desta estrada
Por mais que são difíceis, quero crer
Que levam no futuro a uma mudança.
E a cura de um azar? A esperança!
7291
Matéria que se faz em força bruta
Causando tantos males, invejosa,
A sorte se mostrando belicosa
Incide sobre nós, fomenta a luta.
Vibrando, até sorri, quanto executa
Em fúria tão venal, voluptuosa,
Fixando seu veneno em cada escuta,
Agarra meu destino, uma ventosa.
Futuro em suas mãos, logo restringe,
Cravando suas garras na laringe
Não deixa respirar, mostrando os dentes,
Somente uma esperança, mesmo tarde,
Formada pelo encanto da amizade
Craveja de brilhantes envolventes...
X
7292
Um sentimento atroz e demoníaco
Tomara a minha vida em solidão.
Quem teve um grande amor paradisíaco
Não sabe mais singrar outra emoção.
Amor não é brinquedo pra cardíaco,
Nem morte pode ser a solução.
A dor que se aproxima traz novelos
Que enredam no meu peito em constrição.
Vazios são difíceis recebê-los
E mesmo converter em um perdão
A mão passa macia em teus cabelos,
Mas sinto no meu peito uma aflição
De quem já percebeu realidade;
Quem sabe restará tua amizade?
X
7293
Deitando do teu lado, eu me recolho
E tramo mil vontades de prazer.
Na janela trancada com ferrolho
O vento vem sedento receber
Perfume que tu trazes, cada molho,
Vagando a noite inteira a nos dizer
Que a sorte nos mirando com seu olho
Garante sempre amor e bem querer...
Querida assim percebo e mal disfarço,
Ciúmes te garanto que ocultei
Em sentimento vago e tão esparso
Abraço fortemente enquanto entrego
Meu mundo nos teus laços, pois achei
Em ti, amor no qual enfim sossego...
X
7294
Quem fala em sentimentos obsoletos
Ao referir assim à plenitude
Que faz dos corações bem mais inquietos
Não sabe quanto o amor tem atitude.
É nele que se encontram amiúde
As forças necessárias, bens completos,
Fazendo tanto bem para a saúde,
Efeitos desejáveis e diretos.
Um mundo que se mostra heterogêneo
Precisa da harmonia sem igual
Assim como faz falta um oxigênio,
Também amor se faz fundamental.
Não precisa ser decerto um gênio
Pra saber deste bem universal..
X
7295
Perdoe se cometo um adultério
Falena; eu me entreguei em falsa luz.
A vida vai passando num mistério
Que embala nosso sonho e nos seduz.
Por vezes tanto eu quis sem ter critério
E assim, a dor se mostra e reproduz
O quanto desejei amor mais sério,
Porém a noite trouxe imensa cruz.
É certo que caminho mais descrente
De que um dia terei contentamento,
Mas voa, sem juízo, o pensamento,
E quer ser mais feliz, fazendo urgente
O que se necessita paciência.
Por isso, meu amor, peço clemência...
X
7296
Não quero mais nem lágrimas nem riso.
Meu mote sempre foi teu belo encanto.
Mas saiba que sozinho, se preciso,
Percorrerei meu mundo sem um pranto.
Meu peito adormecendo sob a lua
Não sente uma amargura desfraldada
E sei que a vida assim se continua
Embora sem carinho, valha nada.
A fome que se mostra qual desculpa
Insana na procura de um instante
Sem mágoas, ou surpresas, quem me culpa
Também teve momento que, inconstante,
Soltou a nossa sorte em pleno vento,
Adormecendo, assim, o sentimento...
X
7297
A lua refletindo luz tão pálida
Por sobre o corpo nu desta mulher.
Argêntea maravilha com mister
De ser minha rainha, doce e cálida...
A sorte que tivera quase esquálida
Refaz-se da maneira que eu quiser.
Na lua que te cobre, um bem me quer
Guardando uma esperança de crisálida...
Afloram meus desejos, em mansa lua,
Que emana sobre ti, como um cometa,
A força que trará tal borboleta
Maravilhosamente bela e nua
Cravando no meu peito a fina garra
Da deusa em perfeição, feita em Carrara
X
7298
Meu coração imerso em catedrais
Dos sonhos em longínquas, ledas datas.
Demonstra no vigor de serenatas
O quanto te queria bem demais.
Acordes dissonantes, sempre mais,
Adentram nas ogivas, colunatas
Deitando uma ilusão em velhas pratas,
Banquete que bem sei; terei jamais.
Mas vejo nestes sonhos, mãos suspensas
Que tocam o meu rosto com carinho.
Depois que tu partiste em desavenças,
O templo adormeceu, triste e sozinho.
Quem sabe voltarás em recompensas,
E a luz rebrilhará no nosso ninho...
X
7299
Por que tu me deixaste? Em vão eu te pergunto...
A vida parecia um sonho mais contente.
Na paz que nos levava a amar eternamente!
Porém tu logo foste e mudei meu assunto.
Amor quando se quer é bom que seja junto.
Assim vivera um tempo enfim mais plenamente.
Mas Deus tempestuoso, em prantos me deixou
Somente esta agonia, um canto tão tristonho.
Agora sem ter rumo, incerto eu sempre vou,
Apenas me restando a lembrança num sonho...
A sorte de bendita, em dor se maculou.
O renascer da vida, amada eu te proponho...
Tu foste bem cedo, a vida inda me dói.
Mal sabes que no amor, a paz já se constrói...
X
7300
Perdoe-me por nunca ter amado,
Não posso mais negar a realidade
De estar sempre sozinho. Um triste Fado.
Por isso eu peço, e tenho a liberdade,
De estar sempre comigo, do meu lado,
Além de todo amor, tua amizade...
As minhas fantasias, inconstantes,
Profundas incertezas já me tomam.
Às vezes ilusões tão delirantes
Que chegam, já me invadem e me domam.
Por outras tantas dores, por instantes
Em negra solidão depressa somam...
Um mundo que não sei se é bom, ruim,
Mas saiba, irei contigo até o fim...
X
7301
A luz da rutilante e bela aurora
Transforma todo o dia em um mistério.
O brilho que depois se revigora
Promessa de esperanças lá d’etéreo.
Esplêndida manhã surge sonora
Por sobre todo o mundo, vasto império;
Toda a natura vibra mundo afora
Amor em plena aurora, um caso sério....
As bênçãos divinais não discriminam,
A todos os humanos trazem luz
E corações amantes se iluminam.
Aos loucos namorados, tanta gente..
Tal sorte benfazeja reproduz.
Qual sátiro profano, vou contente...
X
7302
Aurora terminando, a vida passa...
A morte desafia e me persegue...
Quem fora caçador, se encontra caça,
Na fonte que se seca, vou entregue...
A vida se cansando, sangra, lassa...
Não haverá ninguém que me carregue,
Nos templos divinais, já se esfumaça
Qualquer que seja o sonho em que se apegue...
Aurora derradeira, vislumbrada,
Não deixe meus retalhos no caminho...
A vida que passei se fez marcada.
Sem lume vai secando meu jardim...
O tempo cruel fera traz sozinho
O mundo que remando, morre em mim...
X
7303
Nas lilases auroras deste dia
Encontro-me sozinho, sem ter Lara.
Minha boca espumando poesia,
A esperança se mostra jóia rara.
Um resto em lusco fosco no meu dia.
Apenas ela chega e me antepara
Percebo, na verdade que; entretanto,
Teu braço, companheira, minha ponte
Com um futuro mágico, sem pranto,
A luz que se aproxima no horizonte,
Talvez no fim da vida, trague encanto.
Num túnel que se abrindo já me aponte
Num átimo o resplendor da claridade,
Envolto na potência da amizade...
X
7304
Andar por tanto tempo sem destino,
Guardando no meu peito este segredo.
Morrendo pouco a pouco, desde cedo.
Sabendo que no fim, não extermino
A dor desta vontade de um menino
Que teve em cada queda, um mundo ledo, O gosto da saudade:
amaro, azedo,
Mascarado em sorriso quase fino.
Se tanto me amofino e nada faço,
A culpa pode ser somente minha?
Se trôpego mal ando e me embaraço
Talvez tenha por sorte, na verdade,
O que resta de mim, em ti se aninha
Amiga. O que me resta. T’a lealdade...
X
7305
As cores do desejo
Caleidoscopiamente
Reluzem qual lampejo
Tomando a minha mente,
Em teu corpo tracejo
Um verso mais contente
Que é feito da vontade
De ter o teu prazer
Em tal felicidade
Eu quero me perder,
Mostrando na verdade,
O nosso bem querer...
Amar em plena glória,
Certeza de vitória....
X
7306
Sou manco, vou disforme, mas eu te amo.
Sou mero, nada tenho, sem futuro.
Se canto liberdade, eu temo um amo,
Se vago pelas ruas, vou escuro.
De tanta estripulia não reclamo,
O chão que sempre ampara é muito duro...
Caminho por savanas e cerrados,
Na busca do que fui e não achei.
Gritando por teu nome em altos brados,
Versejo meu destino em tua lei.
Pós todos os meus erros descontados
O que passeia aqui, o que sobrei.
Sou gauche nesta vida que nos cobra,
Rastejo te pedindo amor, qual cobra...
X
7307
Amor nos surpreendendo em esperanças,
Repete os mesmos cantos, mesmas glosas,
Permite que sentindo umas mudanças
Refaça meu jardim em outras rosas.
Nos passos onde dou se não avanças,
Uma esperança trama versos, prosas...
Não quero carregar sequer desgosto,
Esse medo de ouvir mais forte o não.
Escondo tantas vezes o meu rosto,
E morro novamente em solidão.
Rei morto na verdade outro rei posto,
Resulta tanta dor de uma paixão...
Tu sabes que este amor cedo se esconde,
Procuro por seu rastro. Não sei onde...
X
7308
Colhendo todo o sumo que me dás
Após nosso deleite extasiante.
Na busca primorosa sou capaz
De todo este torpor mais ofegante
Que a noite tão insana sempre traz
A quem em outro alguém se fez amante...
Sem fôlego depois destes passeios
Ao ver o teu olhar ensandecido
As mãos vão deslizando por teus seios,
Renovado caminho decidido
Em meio a tempestades sem receios
Um mar tão mavioso percorrido...
Estertorando em gozo, num deleite...
Nos doces e salgados, santo leite...
X
7309
Em horas tão fagueiras
Convidas para a festa
Na dor damos rasteiras,
Alegria o que nos resta.
Na praia, nas palmeiras
Quem sabe na floresta,
As honras verdadeiras
A sorte enfim se atesta
E mostra, companheira,
Quanto a um carinho vale,
A mão demais certeira
Não deixa que se cale
A tal felicidade
No amor e na amizade
X
7310
O sol que enfim já brilha
Trazendo uma esperança
Que faça da partilha
Um ato de aliança
Mostrando a maravilha
Que a vida assim alcança
Seguindo a doce trilha
Na qual a sorte avança
Em versos mais felizes
Em atos mais humanos,
Mudando gris matizes
Matando a falsidade,
Sepultando os enganos;
No poder da amizade!
X
7311
Lembranças tão saudosas deste caso
Que nem o tempo pode transformar.
A lua vai nascendo neste ocaso
Banhando em pura prata o belo mar.
A vida não se faz e não quer prazo
Apenas no teu corpo navegar..
Bem sei que não vieste para a festa
Mas sinto que virás mais soberana,
Pois tudo o me encanta e que me resta
Nos olhos desta deusa já se explana
E vivo a procurar; lua e floresta,
Àquela a quem desejo e que me engana...
Não posso mais calar o sofrimento,
Buscando o teu amor, por um momento...
X
7312
Nesse balé maldito, roda a vida,
Numa dança cruel, sem sentimento.
Não poderei jamais fugir, mas tento;
Quem sabe então verei uma saída...
Na contradança; o bem querer. Perdida
Uma alegria, o dia passa lento.
Não deixo de pensar um só momento
Na noite que se foi, na despedida...
Apenas vislumbrando uma farsante
Que escondes em sorrisos e disfarces.
Espelhas, na verdade tantas faces,
Num gesto mais cruel e provocante.
Jamais serei comparsa ou teu amigo.
Dançar em tal balé? Eu não consigo!
X
7313
Balançando o coqueiro, eu peço a Deus
Que me dê um restinho de alegria.
Os dias que passei só foram teus,
Brincando no regaço de Maria.
Quem sabe claridade vê os breus
E conhece também manhas do dia.
Meus versos vão dizendo da paixão
Que é sempre tão traquinas e moleca.
Devora num segundo o coração,
Depois já sai sorrindo, esta sapeca.
Só restando o luar e o violão
Fazendo a gente logo de peteca.
Mas guardo disto tudo uma esperança
Vivaz como brinquedos de criança...
X
7314
O tom em que pintara, não desfaço
Um semitom opaco, mas sincero,
Se o perto do mineiro dá cansaço,
Na curva do caminho eu não te espero...
A vida que me deu régua e compasso
Deixou já bem distante o quero-quero.
Menina, eu me aquecendo em teu abraço
Esqueço qualquer papo ou lero-lero.
Saudade dá coceira em meu nariz
Com cheiro desta lenha no fogão.
Eu sei que poderia ser feliz
Porém a vida sempre disse não.
Mas vivo no conforme Deus me quis,
Saudade maltratando o coração!
X
7315
Bailarina que grácil me alucina
Nas curvas generosas se balança;
A boca que se mostra me domina,
Nos requebros gentis, sensual dança.
A fome dos desejos descortina
A noite que tateio nunca avança.
A mão que me promete nova sina.
Nos cabelos castanhos, laço e trança...
Os dedos já cobertos, finas luvas,
Atalhos esquecidos descobertos...
Meus olhos derrapando belas curvas.
Os sonhos erotizo e me agasalhas...
Nos botões da camisa que, entreabertos,
Penetram meus olhares qual navalhas...
X
7316
A cabeça rodando: álcool, cerveja,
Nos velhos botequins... Tantas verdades...
Mentiras deslavadas? Se deseja
Em todos os momentos, liberdades.
Se eu não vejo; eu não creio. E que assim seja!
Sorrisos escondendo falsidades
Destilando em conhaque tais saudades.
Futuro que não vem, tanto se almeja.
Apenas uma sombra desfilando
Daquilo que passei há tanto tempo...
Amores que se foram, contratempo,
Mas resta uma lembrança, vez em quando,
De toda aquela festa semanal,
Na mesa deste bar, nosso ideal...
X
7317
Quem fora mais forte
Se faz de repente
Sem rumo e sem norte
De tudo descrente,
Enfrentando o corte
Que fundo se sente.
Mas veja querida
Que a sorte que deu
Sentido pra vida
Já não se perdeu
Encontro a saída
No braço que é teu.
Na nossa amizade,
A felicidade!
X
7318
Um porto onde decerto refugia
Em plena tempestade, o coração.
Moldando bem mais firme o dia a dia,
Deixando para trás a solidão.
Nos ermos mais longínquos nos conforta
Abrindo uma janela, traz o vento,
E assim em nossa vida, quando aporta
Expulsa o sofrimento, num momento.
Ajuda a carregar nossos destroços
Contém hemorragias, nos apóia.
Aperta bem mais forte nossos ossos
E mostra-se pepita, ou rara jóia
Na força soberana da amizade,
A vida vai ganhando qualidade...
X
7319
Minhas costas lanhadas por vergastas
Marcando e destruindo o coração.
Amores decompostos, podres pastas
Deixando tão somente a podridão.
Não vês que sendo assim, de mim afastas
A sorte que escondeste num porão.
O sangue em que me banho, traz as moscas
Que invadem a comer minhas entranhas,
As luzes que percebo, fracas, foscas,
As dores que eu herdei, já são tamanhas.
Não sei destas vontades surdas, toscas,
Nem posso adivinhar o que tu ganhas
Trazendo para mim, desilusão,
Fazendo-me cativo, quase um cão...
X
7320
Meus olhos se tornando quase pálidos
Numa ânsia sem limites, incontida.
Quem teve plenitude, traz esquálidos
Motivos pra seguir por toda a vida.
Meus dias que se foram, mais inválidos
Deixando toda a base destruída.
Quem dera se tivesse sonhos cálidos,
Assim talvez achasse uma saída....
Mas venho bendizer o teu apoio,
Que ajuda a ser mais forte e mais contente.
O tempo nos ensina trigo e joio,
E mostra como é rara uma amizade.
Por isso minha amiga, antes descrente,
Concebo meu futuro em liberdade...
X
7321
As asas deste sonho, amor não corte.
Por mais que o tempo chegue e triste roa
Não deixe que este sonho morra à toa.
Meu canto necessita ser mais forte.
Embora sem temor sequer da morte,
Prefiro a placidez de uma lagoa.
Não basta que emoção já nos conforte
Preciso deste sonho que ressoa
Trazendo para mim, felicidade,
Que fora a companheira procurada,
Amada não destrua esta amizade
Depois que o amor passar, não sobra nada
Senão o que mais vale, na verdade,
Fazendo nossa senda iluminada...
X
7322
A vida desafia e já nos doma,
Um coração que outrora foi guerreiro.
Agora se perdendo já se assoma
E mostra-se mais frágil, por inteiro.
Porém te entrego amor. Renove a soma
Vencendo o medo, velho carniceiro.
Os dias que formaram primaveras
Distantes deste inverno que hoje vem.
Parece que já foi em priscas eras
Por tanto tempo andei ser tem ninguém.
O peito em que se abriram tais crateras
Um fio de esperança agora tem.
Rebelde coração, sem rumo ou meta,
Explica, na verdade, o ser poeta...
X
7323
A noite sem teus braços esfriava
E vinha em pesadelos, tal tortura.
Sozinho pelas ruas, eu cismava
Na insanidade imensa da procura.
A sombra da saudade me rondava
E nada prometia uma ternura...
O vento que batia na janela
Do quarto onde não tinha mais sossego.
Mentia ao coração: Deve ser ela!
Somente o vento vinha. Peço arrego,
E nesta poesia se revela
Perdão que assim te imploro. Quase cego
Sem as luzes divinas deste olhar,
Querida... Por favor, vem me buscar...
X
7324
Qual árvore que perde tantos galhos,
Sem folhas num inverno rigoroso,
A vida me negando os agasalhos
Esquece de trazer amor e gozo.
Meus atos e palavras são tão falhos,
E nada me fará mais orgulhoso
Dos dias que passei em meu verão,
À sombra das palmeiras, solitário.
Agora é que percebo o quanto então
Amar era decerto necessário.
A vida sem sentido ou emoção
Espera pelo som de um campanário...
Mas resta no meu peito uma lembrança
Bem vaga de que tive uma esperança...
X
7325
A vida se passou sem conformismo
Na luta interminável sem descanso,
À beira de um gigante e negro abismo.
Porém; agora eu vejo, nada alcanço
Senão a dor terrível por batismo.
Nem mesmo doce margem, ou remanso.
Angústias inundando em tempestade
Sem chances de lutar ou de fugir.
E tudo o que queria, nesta tarde,
Um sol que assim pudesse refletir
Que pelo menos traga qualidade
À noite que, bem sei, irá surgir.
Um resto de esperança, uma amizade,
Tramando em fim de túnel, claridade...
X
7326
Na mansidão serena em que tu dormes,
Às vezes um momento faz lembrar
Os velhos sentimentos, que disformes,
Não deixam de ferir e de tocar.
Amores que se foram, tão enormes,
Qual fossem uma força elementar
Não deixam em sossego quem sofreu.
Assim como um cometa mais errante
Em ciclos retornando em treva e breu
Por mais que a vida siga pra adiante
As dores ancestrais num sonho teu
Retornam e ferindo a cada instante
Não deixam que caminhe e que prossiga.
Liberte-se; eu te peço, minha amiga...
X
7327
A vida colocando pá de cal
Em todas esperanças que trazia,
Num ato em desespero, sem igual,
Matando pouco a pouco, em agonia.
O golpe desferido foi fatal
Deixando para trás o que eu queria.
Na dor angustiante, uma ancestral
Certeza de que nada poderia...
Mas vindo bem distante um novo vento,
Assoma e toma a forma magistral
Que invade, sem pergunta o pensamento,
Demonstrando um resquício em claridade.
Na força que demonstra que a amizade
Retrata um santo Deus, fenomenal...
X
7328
Serpenteando louca sobre mim,
Tocando cada poro com vontade.
A boca tão sedosa e carmesim,
Na fúria de quem quer saciedade
Irei contigo, amada, até o fim.
Já não me importa mais se a tempestade
Promete transbordar vibrando assim
Até que venha o gozo de verdade...
Qual náufrago que imerso em maravilha
Percorre todo o mar, um timoneiro,
Vasculho de teu corpo cada trilha
Até saber de tudo, por inteiro.
No tato, no sabor, no olhar que brilha,
Ouvindo tua voz, sentir teu cheiro...
X
7329
Às vezes também sou irracional
E arrasto meus defeitos pela casa.
Um verso que se mostra tão boçal
Negando ao passageiro vôo e asa.
Vou farto do mergulho que abissal,
De tanto que foi dado não me apraza.
Caminho pelas ruas, animal
Que morre num segundo, em chama e brasa.
Passado sem resquícios nem saudades,
Mortalha da ilusão que não mais trago.
A morte anunciando o seu afago
Avançando em intrépida vertente.
Eu deixo tão somente as amizades,
Embora tantas vezes mais descrente...
X
7330
Quem busca, nas guerrilhas, pelas pazes
Não sabe quanto mata uma peçonha
Embora tal antídoto que trazes
A dor desta ferida é tão medonha.
A morte vem trazendo estas tenazes
Marcando uma esperança mais risonha.
Os dentes da pantera são vorazes,
Deixando com que a vida não se exponha.
Meus olhos destruídos pelo brilho
Feroz de quem tentei ter por amante.
Aborta um bom futuro, mata o filho,
E mesmo assim se quer mais deslumbrante
Assim é na amizade, uma traição,
Causando uma indefesa convulsão...
X
7331
O meu desejo busca, alucinado,
O teu perfume doce e sedutor,
Deitar-me calmamente do teu lado,
Fazendo toda noite, insano amor.
Vibrando meu prazer extasiado,
Estou aqui, querida, ao teu dispor...
Sentir a carne dura da morena,
Os seios maviosos, boca, dentes...
Despetalando assim, essa açucena
Tocado por desejos mais prementes.
O vento tão distante já me acena
Estarmos bem juntinho... também sentes?
Brincarmos... mil carinhos e loucuras...
Ternuras e vontades são torturas...
X
7332
Os meus ossos expostos no canteiro
Soltando minha voz neste terraço.
Inverno vem batendo derradeiro
E a moça que se foi, sequer abraço,
No mundo sem limites, passageiro,
Deitado no canteiro, meu cansaço.
O que se fora verso agora morre,
No vulnerável sonho da paixão,
Apenas o teu laço me socorre,
Resgata o que restou da podridão
Que pelas ruas foge e quase escorre
Deixando simples rastro sim ou não...
Louvando, meu amigo, os teus esforços,
Te entrego como prêmio, os meus destroços...
X
7333
Não espero, da vida muito mais
Que ela possa me dar em tal ventura.
Amar? Eu tanto amei, até demais,
Num misto de tortura e de ternura.
Agora vou vivendo pela paz
Que é tudo o que desejo e que me cura...
Fortuna deste amor que nunca veio,
Saudades do que nunca, enfim, vivi.
Amada, na beleza do teu seio
O mar de amor imenso que perdi,
Eu tento segurar o meu anseio,
Mas veja, de repente estou aqui...
Mendigo teu carinho, amada minha.
Minha alma já não quer ser mais sozinha...
X
7334
Quantas vezes esqueço de dizer
Coisas que bem sei são importantes.
Difícil tantas vezes perceber
Se a gente não pensar, ficam distantes.
Às vezes me empolgando com lazer
Achando que seriam triunfantes
Os gozos e as falácias do prazer.
Mas vejo que se foram, bem farsantes.
Da antiga companheira, abandonada
Num canto qual retrato na gaveta
Jogada, quase assim, amarelada,
Na tinta que termina da caneta.
Porém depois do amor, resta amizade
E eu reconheço ali a liberdade..
X
7335
Seguindo par em par por arvoredos;
Nas águas cristalinas deste rio
Que desce em cachoeira por rochedos
Depois de ter nascido em frágil fio;
Guardado sob a terra em seus segredos.
Banhando um coração antes vazio...
As águas de teus olhos quando choras,
Saudades de quem foi e não voltou.
Os dias vão passando em duras horas,
Apenas tuas lágrimas deixou
Aquele amor que; triste, ainda imploras
Com toda uma esperança que restou...
Amor que sei que forte, inda resiste,
Neste meu coração, amargo e triste..
X
7336
Bebendo da nascente, cada gota,
Tomando tuas fontes para mim.
A sede se sacia, a fome esgota
Na boca que me beija, carmesim,
Ao mesmo tempo invado cada toca
Do amor que vai intenso até o fim...
Os teus dentes, as unhas, firmes garras
Cravadas no meu corpo, teus anzóis.
Vou preso em tuas pernas qual amarras
Sob esse brilho imenso, olhar quais sóis;
No curso deste rio inebriante
Percorro tuas matas e magias...
E morro em cachoeira a cada instante
Nas ondas convulsivas que fazias...
X
7337
Saudade de quem tive há tantos anos...
Estrela soberana de meus dias.
Agora na mudança desses planos
Apenas me restaram agonias.
Na catedral das dores, desenganos.
As noites invernais, bastante frias.
Meus olhos em vazios desumanos
Refletem tão somente as fantasias...
Quem sabe tu virás mais distraída,
Num sonho que parece uma miragem
Percebo que esta sorte já perdida
Talvez retorne em última viagem,
E traga quem pensei estar perdida...
Mas sinto: isto não passa de bobagem...
X
7338
O canto de amizade em que se faz
Um monólito sonho que nos toma.
Sabendo que por isso sou capaz,
Eu multiplico sempre a bela soma
Da qual toda amizade já nos traz
Mundo que eternamente satisfaz.
Um passo bem mais firme se retoma
Distante de quem vive na redoma.
Não quero solidão como parceira,
Eu quero tão somente esta alegria.
Mostrada em teu sorriso, companheira.
Além de todo o canto que trazia
No peito escancarado de emoção,
Portando em tanto amor, dedicação...
X
7339
Vencendo toda dor que nos afeta,
Contando com apoio de uma amiga,
Permite-se que a vida enfim prossiga
E vá em direção à nossa meta.
Esta verdade mostra-se completa,
Embora repetida e tão antiga.
A força da amizade é nossa viga
E trama uma manhã que se repleta.
Meus passos são mais firmes neste rumo,
Pois tenho a companhia de teus braços.
Ajudas a manter mais forte o prumo
Ditando muitas vezes, com teus traços
Avaliando assim quais os espaços
Nos quais com mais firmeza, eu já me aprumo.
X
7340
Na agreste solidão de fim de amor
Adormece a menina que sonhara.
Esvaece na mulher com tal vigor
A vida que se fora bela e rara.
O que fazer do sonho sedutor
Que morreu boca seca e tão amara.
Brincando em carruagens e reinados,
Os olhos se esqueceram de sentir
Os dias que se foram enganados
Deixaram simplesmente de pedir
Momentos mais felizes e encantados
Roubando sem querer, o que há de vir..
Um batom, um salto alto, outro sorriso...
A porta escancarando um paraíso...
X
7341
“Agora vou mudar minha conduta”;
Eu não suporto mais tanta mentira.
Se a vida se anuncia assim mais bruta
Metade da maçã já se retira
Raposa vai morrendo tão astuta,
Meu coração batendo não atira..
Conversas que tivemos tanto assim,
São frases esquecidas no boteco.
Chamando o seu amor só para mim
Jamais escutarei sequer um eco.
Por isso nada faço sem você,
Mendigo o teu carinho pelas ruas...
Procuro minha cura, mas cadê?
As camas vão ficando sempre nuas...
X
7342
Mulher amada! Vivo esta magia
Das terras amorosas num estio.
A cútis calejada aos poucos cria
Um sonho delicado e bem macio.
Meus olhos embotados de tristezas
Se tornam meigos, mansos, companheiros.
Tu vês assim tantas belezas
Nascidos nos espinhos costumeiros...
Um príncipe se erguendo em seu castelo
Surgido nos barracos e taperas.
Num trono imaginário, num rastelo,
As flores numa eterna primavera...
Mulher amada; sonha eternidade
Distante desta rude realidade....
X
7343
Se nunca mais terei amor igual
Ao que mostraste amada em sobremesa,
Por certo esta comida me fez mal
Matando o que restara da princesa
Forrada na ilusão de um ser boçal
Que morre sem saber da correnteza...
A casa alicerçada sobre a areia
Desaba na primeira ventania.
No rabo disfarçado da sereia
Escama se mostrando áspera, fria.
Maré que me afogava, nunca cheia,
Aos poucos foi secando até que um dia
Teu riso escancarado e sem disfarce
Abriu em ironia uma outra face...
X
7344
Em toda sua glória, a formosura
Que se mostra, porém, tão perecível
Por mais que nos pareça ser incrível
Bem menos do que pensas, ela dura.
Um dia a noite chega e sem brandura
Irá matando um sonho. Tão falível
Esta ilusão que doura, indefinível,
Não tem eternidade, e não perdura...
Porém tua alma límpida querida,
Decerto manterá toda a beleza.
Tua amizade sempre põe a mesa,
E nela uma razão pra nossa vida
Mesmo sem mocidade, já perdida,
Manterás juventude, com certeza.
X
7245
Mantendo estes teus olhos tão abertos
Envolves minha vida com teus braços.
Ocupas mansamente os meus espaços
E tramas venalmente tais desertos.
Os dias reticentes vão incertos,
Marcados por teus passos duros traços.
Penetram minha carne, frios aços,
Mortalhas em que os sonhos são cobertos.
Tu queres minha vida solitária,
Deixando em purgação meus sentimentos.
Cansado destes ritos, teus lamentos,
Procuro uma esperança solidária
Que trague ao fim do tarde, uma amizade
Indícios da manhã em liberdade...
X
7246
A doce embriaguez que me domina
De bar em bar a noite desfiada.
Gosto de liberdade que alucina
No copo e na cerveja derramada.
Vermutes e conhaque e a calibrina,
Não resta nas garrafas quase nada.
Somente o beijo doce da menina
Deixando minha boca adocicada...
Meu mundo destruído e sem ter volta;
Os olhos fumegantes denunciam...
Porém em tua boca, esta revolta;
Amor se refazendo da fumaça
Reclames de jornais já me anunciam
O banco me convida, a mesma praça...
X
7347
Amigo, eu percebi o teu valor
Na hora mais exata em que caía
Por terra meu castelo encantador.
Aí eu percebi, pois logo via
Que todos me deixavam. Morta a flor
Nem mesmo o meu canteiro resistia.
De todo o bem que sei que ainda havia,
A seca foi demais, morreu amor
E tudo o que chamavam de amizade.
Pois foi nesse momento, quase vão,
Que eu encontrei decerto esta verdade
Que mostra bem de perto a realidade.
Vieste com apoio ou compaixão,
Tal qual fosse um parente, mais que irmão...
X
7348
Não quero assim perder tua amizade.
Às vezes sou cruel, eu reconheço.
Porém no meu caminho, este tropeço
Jamais irá mudar a qualidade
Daquilo que eu bem sei, traz claridade
E traz sempre esperança em recomeço.
Castigo, companheira, isso eu mereço
Mas não faças assim, por caridade...
Eu sei todo o valor do que sentimos
Também percebo em ti o braço forte,
Que guia com firmeza, traça o norte,
Dos sonhos que em conjunto perseguimos...
Desculpe se eu cometo algum engano.
Errar, tu sabes bem, isso é humano...
X
7349
Tu falas, meu amor, em casamento.
Que pensas desta vida, eu te pergunto?
Gostoso é namorar, sem sofrimento
Não tem esse negócio de andar junto.
Reclamas quando eu mudo pro outro assunto;
Eu na verdade, digo: não agüento
Só comer mussarela com presunto
No almoço, no jantar, todo o momento...
Quem dera se na vida eu fosse um pato.
O bicho que eu mais gosto e mais admiro.
De resto, na verdade eu ando farto.
Perguntas: por que pato enfim, prefiro?
Eu te falo, isso nunca foi segredo:
Jamais cabe aliança no seu dedo...
X
7350
Não vale tanto a pena trabalhar,
Eu sei que o meu esforço não compensa.
Quem leva a vida inteira a desfrutar
Já tem, no mesmo instante, a recompensa
Agir bem mais depressa do que pensa
É com certeza sair deste lugar.
Senão amiga, ficas hipertensa:
O derrame ou enfarte vais ganhar.
Cachorro sabe o duro que é ter dono
Não podendo sequer mais virar lata.
Melhor viver sozinho no abandono
Do que chicote firme que maltrata.
Patrão? Quem sabe tudo já descarta.
Pois quem cedo madruga... só tem sono!
X
7251
Quem sabe com perícia demonstrar
Habilidades raras, mais prementes
Percebe como é fácil conquistar
Tomando-me em seus braços envolventes.
Na boca que me beija devagar
Perícia com que morde, mansos dentes.
Levando num segundo a flutuar
Rasgando todo o céu, no amor que sentes.
Querida caminhar sem ter descanso
Vagando pelos astros, meu destino,
Encontro o teu amor, e assim me lanço
Depressa em tua casa, no teu pátio...
Pois sei que em teu carinho eu me alucino,
Jamais alguém supera-te em felatio...
X
7352
Embora teus carinhos, sei aos molhos,
Não posso desfrutar integramente.
Esmeraldinos, belos os teus olhos
Brilhantes a tocar, tão inocentes.
Futuros que me mostras são zarolhos
Rancores demonstrados, tolamente,
Tu serves de repasto a tais piolhos
Que vagam no teu cérebro, t’a mente.
Percebo a fetidez de cada flato
Que emanas em locais bem mais diversos.
Desculpe se descrevo este mau fato
Bendito quem não mente, salvador
De olfatos. Mas perdoe estes meus versos
Que enaltecem, por certo cada odor...
X
7353
Amiga, Deus permita o teu deleite
Flambando uma emoção no dia a dia.
E peço, encarecido que me aceite
Revigorando um canto em fantasia.
Não quero ser somente o teu enfeite
Nem ser teu acalento quando esfria
Dos céus que se esparrama em branco leite
Percorro uma ilusão, seguindo a via
Que desemboca sempre no teu mar
E forra com estrelas piso e chão,
Desculpe se aprendi tão cedo amar
A quem se fez amiga e companheira.
Há tempos vou contendo esta ilusão
Que aflora, num momento, e vem inteira...
X
7354
Em Lesbos, os sonetos mais perfeitos
De amores e de sonhos tortuosos.
Desejos que só foram satisfeitos
Em versos muitas vezes sinuosos.
Mostrando em decassílabos o amor,
Que Safo dedicava em raro tom,
A poesia fez-se em tal valor
Na imensidão do sonho, todo o dom
De quem ao demonstrar o seu talento
Criou legando para a eternidade
Na forma de expressar seu pensamento
Cantando sempre amor ou amizade.
Assim enaltecendo em poesia,
Eu agradeço a lésbica alegria...
X
7355
Recordo-me de cada entardecer
Teus olhos deslumbrantes, qual safira
Que em mágico vislumbre pude ter
Nos meus enlanguescidos. Numa lira
Cantara esta emoção do bem querer.
Meu canto inebriado assim delira
Acordes sequiosos de querer.
Porém num triste dia, em revolta, ira,
Os teus olhos partiram p’ra além-mar.
Deixando tão somente estas espumas
E esta vontade louca de encontrar
De novo as maravilhas, esmeraldas.
Depois de naufragar milhões de escunas
Percebo o brilho raro que desfraldas...
X
7256
“Puta que pariu,
Pisa no freio Zé”
César e Paulinho
Não entre em desespero, caro amigo.
A vida traz doridas fantasias.
Tu sabes que estarei sempre contigo
Lutando contra o mal, todos os dias.
Se um sonho mavioso, eu já persigo,
Também sei que este brilho tu querias,
Porém se condenado ao desabrigo
Terás com quem contar, disso sabias...
Mas vá mais devagar, pise no freio.
Que a vida mostrará uma saída.
Eu digo: não precisas ter receio
Compartilhamos sempre nessa lida,
Entendo na verdade, teus anseios,
Mas deixe que ela siga, vã, perdida...
X
7257
Que o sofrimento seja sempre breve
Idílio aprofundando tanta dor.
No peito esfumaçado fome e neve
Resquício de quem fora um sonhador.
Que o vento da ilusão distante leve
Fornalha de esperanças, onde for
A mão de quem queria não se atreve
E deixa amortalhado um grande amor.
Sonhara em noites claras; um insone.
Aguardando o chamar do telefone
Mas nada, nada vem e nem virá.
As chagas vou expondo pouco a pouco,
E sinto: ficarei por tanto louco,
Apenas a amizade restará?
X
7358
Qual sino que dobrasse dentro em mim
Saudades vão minando a resistência
Relembro nos teus olhos inclemência
E o vago que deixaste em meu jardim.
Não posso mais fugir da penitência
Herdada pelo quanto quis assim.
A noite de minha alma chega ao fim.
O resto? Obnubilando a paciência...
Às vezes mitigando o sofrimento
Recordo de teus olhos, tua pele
Sorrio, nem que seja um só momento.
Mas logo a consciência me repele
E volto qual um náufrago sedento
Oásis da saudade assim compele...
X
7359
A Musa que num sáfico romance
Se entrega destemida e mais audaz.
Percebe a maravilha de um nuance
Que traz felicidade e satisfaz.
Homérica vontade: ser feliz.
Em conchas repartidas, mar imenso.
A Musa desta Ninfa colhe o bis
Pensando noutro Phebo mais intenso.
As águas caudalosas vertem rios
Que invadem em cascatas, as montanhas,
Adoçam, aquecendo mares frios
Trazem fertilidade pr’as campanhas.
E assim destes fluidos derramados
Os mundos se tornando povoados...
X
7360
Nos claustros dissemina-se a luxúria!
Muita vez em onânico romance
Aquilo que p’ra outrem mostra-se incúria
Para outros, do prazer única chance.
Nas faces mais venais em plena fúria
Inveja de quem tem a performance
Mais sublime num ato em que se faz
Com toda plenitude soberana
Caminho bem mais certo que ao nirvana
Se mostra verdadeiro embora audaz.
Um gesto corriqueiro em que se explana
Do que nossa Natura é mais capaz.
Nem sempre se é possível um dueto,
Por isso amor, em solo, eu me arremeto...
X
7361
Permita-me distância em letargia
Da infausta solidão que ora aproxima.
Sedento de beber da poesia
Em desagravo moldo cada rima.
Um verso que se faz pura alegria,
Na luta contra a dor, sempre se esgrima.
E a sorte que benquista enfim se fia
Na mão de quem nos toma em rara estima.
Meus olhos vagamundos quase errantes,
Aguardam pelos rastros deste encanto.
Em raios mais gentis e fulgurantes
Forrando meu destino em claridade,
Amiga eu quero ser qual helianto
Que busca todo o sol dessa amizade...
X
7362
Ourives da esperança em sonho augusto
Amor se faz em lúdico garimpo.
Quem ama sabe ser, decerto, justo
Pois tem um coração deveras limpo.
Uma alma diamantina se eterniza
Ao crer nas diluências da emoção.
Porém uma alma cínica graniza
E forma em elo inóspito um senão.
Espadas adentrando as armaduras
Que usamos como forma de defesa,
Nas mãos de quem propaga amor, ternuras,
Impelem para longe da tristeza.
Expressando palavra e sentimento
Auguro meu futuro em calmo vento...
X
7363
De um túmulo soturno assim surgia
Alvíssima beleza deslumbrante.
Alquímica mortalha que em magia
Num átimo se mostra aqui, diante
Dos olhos de quem nunca mais veria
O dia renascer irradiante.
O beijo sacrossanto que daria
Sugando toda a vida num instante.
Noctâmbula insensata embriaguez
Levara-me a seus braços, turva senda.
Paisagem maviosa enquanto horrenda.
Levando em avalanche a lucidez.
Debruço-me num ato de loucura
E bebo todo o sangue com ternura...
X
7364
Saudade crocitando no meu peito
Em lástimas e lágrimas se fez.
Alcançando ideais, insensatez
Matando pouco a pouco do seu jeito.
Sobrepesa e desfaz o que foi feito
Marcando minhas carnes, minha tez,
Deixando este cadáver que já vês
Deitado sem motivos no meu leito.
Saudade preparando um golpe atroz,
Ferrenho, sem defesas, mais profundo.
Um lobo que se mostra assim feroz
Com dentes afiados. Eis saudade.
Escárnio em que me afogo e assim me inundo.
Num irônico riso, a tempestade...
X
7365
Arranco minha pele esmago os olhos,
E mostro uma nudez mal disfarçada.
Andando por caminhos com antolhos,
Durante tanto tempo não vi nada
Senão uma promessa que em abrolhos
Demonstra uma dureza nesta estrada.
Que é feita um puro espinho, extorque os molhos
Das flores que morreram na invernada.
Meus versos são mais rudes e venais
Porém só se amenizam quando escuto
Um laivo de esperança que me traz
Palavra carinhosa e mais amiga.
Por vezes escondido no meu luto,
Teu canto assim permite que eu prossiga...
X
7366
Depois de andar por negras, tristes brumas,
Em busca de esperança, flor tão rara.
Perdido sem ter rumo em tal seara,
Ouvindo imenso mar pleno de espumas.
Nas horas em que sonho, já te esfumas
E vais por outra senda, menos clara.
Estrelas de ilusões, dura tiara
Restando no meu peito só algumas...
Cortejos de falácias, desenganos,
Causando uma cruel, má perspectiva.
Disformes sensações. Apenas viva
A vaga sensação de claridade
Que doura a fantasia em novos planos
Na força de seus braços, amizade...
X
7367
Viemos de um passado nebuloso
Aonde se calava a consciência
Em nome da moral e da decência
Fizeram deste povo um cão leproso.
Jogado nos porões da ditadura,
Dizendo que o prazer nos traz pecado.
Deixando o pensador quase calado,
Na noite pestilenta da tortura.
Calando toda a sorte de vontade
Em nome de uma falsa punição
Roubando a verdadeira cristandade
Que é feita em pleno amor, e no perdão.
Da corja que abortou uma amizade,
O restolho pior da humanidade...
X
7368
Desta moral burguesa, a falsidade
Se faz a cada dia mais insana.
Distantes dos grilhões, a liberdade
Em versos e nos gestos já se explana
Mostrando que talvez uma amizade,
Verdade que se exprime soberana,
Não possa mais conter hipocrisia
Nem mesmo misturar-se com mentiras.
Ao me lembrar de Amanda que dizia
Dos corpos estirados pelos tiras,
Jogados pelas ruas, carnes frias,
Percebo que também tu logo atiras
Talvez não entendi palavra amiga.
Quem sabe se eu fingir, enfim consiga?
X
7369
Em frases histriônicas, vergastas
Que flambam nossas costas em chibatas.
As horas sem porvir que foram gastas
Nas entranhas fomentam as cascatas
Doridas e portanto mais escusas
Fornalhas em cruel vicissitude.
Palavras que trocamos tão confusas
Marejam mascarando a juventude.
As hostes que embalaram nossos sonhos
Vestidas em vestal insensatez.
Adentram meus caminhos mais bisonhos
E matam esperanças de uma vez.
Porém o que me resta e não me turva,
O brilho da amizade salva a curva...
X
7370
Meu ideal por certo já cintila
Nos olhos de quem soube ser amiga.
No passo em que permites que eu prossiga
Demonstras a amizade mais tranqüila.
Qual lume que irradias na pupila
De quem dentro dos sonhos já se abriga
Tu sabes do carinho em que esta viga
Se fez do chão barrento, de uma argila.
O mesmo Deus que um dia, soberano
Mostrou toda pureza e raro ardil,
Executando firme, um belo plano
Criando em espelhar caricatura
Um ser que talvez fosse mais gentil,
Dourou nossa amizade, com ternura...
7371
Apraz-me te saber assim tão forte,
Amigo tantas vezes partilhamos
Fazendo com vigor o nosso norte,
Mostrando enfim poder o que sonhamos.
Ao passado tu queres que eu reporte
Lembrando dos caminhos onde andamos.
Guardado na memória qual recorte
De tudo o que vivemos nos lembramos.
Nossa amizade sempre foi completa
E encarniçadas lutas e batalhas
Contaram com teu braço e sem ter falhas
A vida era, decerto, mais dileta.
Depois de tantos anos, eis aqui.
E saiba que jamais eu te esqueci.
X
7372
Sodômica vontade te invadindo
Olhando para mim sofregamente.
Eu sei que nosso amor, eterno e lindo,
Precisa de carinho plenamente.
E tão profundamente interagindo
Mostrando quanto eu quero, simplesmente.
Irei então, te juro, calmamente
Saber o que deveras vais sentindo.
Eu sei que é prazeroso para nós
Viagem por escuras cercanias
Não quero te causar a dor atroz
Apenas te esbaldar em alegrias.
Amor jamais será por certo algoz,
Mas vamos libertar as fantasias...
X
7373
Não quero a falsidade que propagas
Mostrando noutra face quem tu és.
Às vezes encantaste em outras plagas
Mil homens se jogaram a teus pés.
Porém não mais pretendo perseguir
O sonho de te ter aqui, comigo,
Amor jamais igual vou repartir
Pois tenho uma noção deste perigo.
Fingiste uma pureza que não tens,
Ludibriando assim quem tanto amou.
Eu dediquei a ti meus caros bens
E nada, simplesmente me restou.
Fingiste ser mulher deveras séria.
Mas como me explicar esta Neisseria...
X
7374
Querida, eu tenho muito pra dizer
De todo o sentimento que devora
Louvando em sua glória o bom prazer
Querendo tanto amor a qualquer hora.
Vencendo todo o medo, passo a ver
Toda a verdade nua que se aflora
Roubando todo o sonho de poder
Realizar desejos, mas agora
Talvez já renascendo uma esperança
Que traga um novo mundo em que se alcança
Prazer que há tanto tempo eu prometia
Não vou mais te deixar morrendo à mingua
Pois saiba libertei a presa língua
Depois de realizar postectomia...
X
7375
Qual fosse uma divina criatura
A moça que adentrou no escuro quarto
Em laivos de carinho e de ternura
Deixando quem amou, decerto farto.
No toque mais sutil, total brandura
Porém o seu retorno eu já descarto.
Talvez num outro dia pós a cura
Eu possa enfim dizer que não enfarto
Ao ver tanta beleza abandonada,
Deixada sem cuidado pelos cantos.
Matando o principal de seus encantos,
Murchando com desleixo tal florada.
Beleza iluminada, rara tília.
Portando em abundância, uma monília...
X
7376
Sonhando com prepúcio amorenado
Donzela não consegue despertar.
Seu sonho, qual um príncipe encantado
Deitando em sua cama, faz brilhar
O raio em que sentiu seu doce fado
Sem medo de sofrer, basta lutar.
Um fálico calor, no cortinado
Adentra e a penetra devagar...
Mas sabe, esta princesa que dormia
Que amor é feito assim, de uma ilusão
Na porta do seu quarto, com emoção
Desnudo e mais disforme eis que surgia
Batráquio indesejado e pavoroso,
Com riso em ironia, desdenhoso...
X
7377
Falar do sentimento mais profundo
Plantando tantas flores no caminho,
Iluminando a paz de um novo mundo,
Transfunde uma alegria para o ninho,
Mudando humanidade num segundo,
Jamais me deixará cantar sozinho.
Em tal satisfação eu já me inundo
Trazendo para a vida, este carinho
De um mundo mais bonito e mais vibrante,
De versos mais sinceros e felizes,
Tomando nosso canto a cada instante,
Deixando para trás o sofrimento.
Quem sabe assim calamos guerras, crises,
E o mundo se refaça num momento....
X
7378
Tanta sofreguidão, tanta querência,
Vontade de embrenhar em tuas matas..
Furtiva com teu ar, pura inocência
Tu sabes muito bem quanto maltratas.
Tu pedes que eu demonstre paciência
E logo me tocando, me arrebatas...
Rainha juvenil deste meu sonho,
Princesa erotizada que desejo.
Todo o meu querer, que te proponho,
Mostrando tudo o quando, amor, almejo.
O dia se tornando mais risonho,
Sorriso tão maroto, um relampejo...
Nos raios de teu corpo me perdendo,
A noite sem juízo, vem descendo...
X
7379
Que a vida se mostrando soberana
Acalme toda a dor que nos destrói.
Que o tempo enfastiado não engana,
Pois toda uma alegria ele corrói.
Uma vitória plena que se ufana
Nem sempre depois dela se constrói.
O fogo tão feroz de uma paixão,
Às vezes nos derrota; sem defesas,
O gosto desta enorme sedução
Se mostra qual a fera em tensas presas,
Viver sempre contigo é tentação
Que mata enquanto mostra tais belezas...
Mas sei que estou contigo p’ro que for
Um náufrago de um mar de imenso amor...
X
7380
A fada com varinha de condão
Transforma esta menina na princesa
Tornando seu amor uma explosão
De rara e salutar, nobre beleza.
Porém a bruxa má em maldição
Prevê para esta moça tal tristeza
Que traga pro seu lar destruição
Fazendo da menina simples presa
De um sapo disfarçado em principesco,
Trazendo um pesadelo tão dantesco
E tendo todo o mal como seu dom.
E em lágrimas castelo desabando,
Varinha desta fada demonstrando
Que é sempre necessário um bom Condon...
X
7381
No jardim dos prazeres, gardenella
Fazendo tempestade se alocou.
Abrindo sorrateira esta janela
O paraíso insano ela adentrou.
Agora bem piscosa se revela
E mostra para quem já maltratou
Que nossa sorte andando nas mãos dela
Apenas o vazio ela deixou.
Querida, me permita que te fale
Que tal destino enfim tem solução
E nada disso faz com que me cale
Pois quero o teu amor com devoção
Por certo um bom futuro neste vale
Calando para sempre a podridão...
X
7382
Tricomonas que invade belo altar
Fazendo deste amor pruriginoso.
Por certo sempre irá dificultar
Um sonho que se mostra prazeroso.
Receio que não possa navegar
Um mar que se tornou tão tenebroso.
Meu barco assim talvez vá naufragar
No mangue com certeza mal cheiroso.
Mas veja como amor se mostra frágil
Porém a solução vem no Flagyl
Mas peço meu amor que sejas ágil.
Pois isso tanto afasta quem te quer.
Perceba que quem sabe e assim agiu,
Se fez maravilhosa, uma mulher!
X
7383
Amor; dispareunia
É caso complicado,
No amor que nos unia
Destino bem traçado,
Não quero uma agonia,
Vivendo lado a lado,
Mas tento uma alegria
Num riso disfarçado.
Não quero o sofrimento
Que traz o meu prazer.
Com todo envolvimento
Decerto vai doer.
Prometo ser mais lento.
Quem sabe? Pode ser...
X
7384
A sorte documenta
A vida que tivemos,
Se veio tão sedenta
Se o rumo, assim perdemos.
Paixão mais violenta
Depois? Já esquecemos.
No mar forte tormenta,
No barco poucos remos
Mas vamos, vencedores,
Amigo, companheiro,
Passando pelas dores,
Vagando o mundo inteiro
Colhemos tantas flores,
Aguando este canteiro...
X
7385
Amigo chegue cedo
Que a morte vai chegar
Mudando todo enredo
Invade sem pensar
Conhece o teu segredo
E gosta de mostrar
Poder que traz degredo,
E nada faz mudar.
Por isso venha, amigo
Que a festa determina
Não tema mais perigo
No solo em cada mina,
O sonho que persigo
Por si nos ilumina
X
7386
Um anjo feito fálico desejo
Invade cada sonho da donzela
Deitada, esvoaçante pede um beijo
Carinhos que imagina serem dela.
Depois deitando nua com traquejo
Recebe a tempestade em esparrela
Respiro se transforma em puro arquejo,
No olhar extasiado se revela
O sonho que tivera, mas me calo
E nada posso ver senão sorriso
De quem já passeou por paraíso
Em pura tentação, amando falo.
E assim donzela fica mais desnuda,
Pedindo sequiosa por ajuda...
X
7387
Vestindo uma ilusão que não mais cabe
Trafego nos teus braços tão amigos.
A sorte só protege quem já sabe
Das curvas que denotam tais perigos.
Percursos tão difíceis que traçamos
Num Eldorado esparso e mais distante.
Percalços nos caminhos; encontramos,
Mas mesmo assim seguimos sempre avante.
Nos laços da amizade, a garantia,
No traço em que desenho o meu futuro
O bem que desejava, e mais queria.
Saltando sobre o medo, vago, escuro.
Assim sem intempéries ou tempestas
Um coração amigo vive em festas...
X
7388
Amor que em flatulência recebeste
Quem tanto desejou ter teu carinho.
Se desta forma, assim tu devolveste
Refaço num instante o meu caminho.
Parece que tu queres fazer teste
Se for assim, prefiro andar sozinho...
Em trágico perfume me envolveste
Matando meu amor, devagarinho...
Eu sei quanto preciso ser feliz
Eu sei e não me canso de dizer
Porém isso, querida, eu não agüento.
Embora um bom futuro se prediz
Imerso em alegria e bom prazer.
Eu não suporto amor tão flatulento...
X
7389
Amor que não permite que te peça
Apenas uma noite a mais comigo.
Retiro tua roupa em cada peça
Buscando no teu corpo o meu abrigo.
Na sorte deste sonho se confessa
O templo, raro altar, que assim persigo.
Embora tão sedento, em louca pressa
Eu sei que amor não pode ter perigo.
Não posso mais, querida, me perdoa.
Amor que sei nos toma, sem fronteiras,
Porém já percebeu o seu limite.
Não quero que o prazer enfim te doa,
Nem quero tuas lágrimas certeiras.
Espero enfim curar bartolinite...
X
7390
Amor que é desta vida, a redenção
Bordando em nossa cama uma alegria
Mortalha que se fez em servidão
Resgata num momento a fantasia
Queimando em alta chama, uma emoção
Ardendo em nossos olhos, tal magia
Ventila para nós a solução
Que aquece cada noite, mesmo a fria.
Porém ao ver chegar o teu marido,
Um grito que se solta invade o ar.
Convulsionando finjo-me maluco
Achando-me decerto já perdido.
Em tempo ouço esta voz a me salvar:
- Não tem o que temer: que ele é eunuco...
X
7391
Amigo, é muito bom saber que existes,
Durante muito tempo imaginara
Não ter mais solução, os mundos tristes
Que sempre, em minha vida freqüentara.
Pensando que jamais encontraria
Alguém em quem podia confiar,
Uma amizade pura? Fantasia...
Ao ver-te comecei a imaginar
Que isto fosse possível, companheiro.
Um coração tão puro quanto o teu,
Difícil de se achar no mundo inteiro.
De tudo o que sonhei, célula máter,
Amor que se inspirou em Prometeu,
Um símbolo perfeito: bom caráter...
X
7392
Quem dera ser além do duro cais
Da noite que não veio e nem virá.
No porto mais vazio em nunca mais
No sol que se escondeu, não brilhará.
Quem dera ser aquém da dura paz
Vergada sobre o peso que trará
O gosto do quem dera ser demais
A mão que nunca trouxe, foice e pá.
Quem dera gota esparsa chuva mansa
Na idade da ilusão que já passou...
O resto do quem fora não me alcança
Mas deixa esta impressão do nada sou.
Quem dera se essa espera me trouxesse
Amor que renovasse a vida, a prece...
X
7393
São tantos os meus medos
De ter e me perder
Tecendo meus enredos
Buscando o teu prazer
Ascendo aos arvoredos
E passo logo a ler
Nos cofres os segredos
Na vida o bem querer.
A noite vem ainda
Trazer estrela e lua
Esta mulher deslinda
Uma beleza nua.
Porém minha alma finda
Sozinha em plena rua...
X
7394
Saudades do que fui... Ah! Quem me dera
Poder não me lembrar deste rosal
Que morto já levou a primavera
Deixando este vazio sem igual.
Agora a solidão terrível fera
Tomando toda a casa, este quintal
As roupas não mais quaram no varal,
Lembrança me ferindo, uma quimera...
A sombra passeando pela casa
Daquela que se foi pra nunca mais.
Relógio devagar, também se atrasa
E a morte já não vem... sofrer demais,
Ardendo o coração em fria brasa
Eu sei não voltarás – amor – jamais!
X
7395
Amiga não permita que esta dor
Invada um coração deveras puro.
O mundo em que trafega um sonhador
Não pode ser cruel, tampouco escuro.
Eu quero que tu saibas do valor
Do sentimento imenso em que procuro
Rever a nossa vida e recompor,
Amaciado um chão deveras duro.
É preciso paciência pra lutar
E também esquecer o sofrimento.
Às vezes nem o brilho do luar
Clareia nossa vida num momento.
Mas saiba que é preciso sempre amar
Calando com vigor cada lamento...
X
7396
As pedras se derretem sob o fogo
Rolando incandescentes pela praça.
Nos olhos ardentias, sinto o jogo
Que passa simplesmente, qual fumaça.
De toda essa amizade sobre o rogo
Que finge que não vai e se esfumaça.
Paragens tão distantes, mar e lua,
Se encontram e depois o sol renasce.
Desfilo meu cadáver pela rua
Permito que outro olhar, de esgueiro, cace
Antes que a noite surja falsa e nua
Antes que tudo morra e que se embace.
Senhora dos segredos, minha amiga,
Vá logo por que a sorte aqui, periga...
X
7397
Tu tens a raridade destas flores
Que a vida semeou no meu jardim.
Teu céu entorna luzes multicores
Resplandecentemente sobre mim.
Revelam-se em t’a pele mil albores
Na boca mais formosa, carmesim...
Tu és a minha estrela solitária,
Forrando esta almofada com ternura.
Quem teve um coração deveras pária
Encontra a plenitude rara e pura,
Da sorte tão mutante, sendo vária
No colo que me mostras, formosura...
Ostentas tal recato em calmo gozo,
Num sonho a explodir, libidinoso...
X
7398
Eu sei quanto valor
Uma amizade tem.
Revigorando a flor
Trazendo imenso bem,
Envolve em puro amor
Quando a tristeza vem
Aquece em bom calor
E nunca fica aquém
Do que já se queria
De quem a gente sabe
Que mostra uma alegria
Tão grande que não cabe.
Eu rezo todo dia
Pra que ela nunca acabe...
X
7399
Vontade de viver
Uma amizade traz.
Não posso me esquecer
Do bem que ela me faz
Trazendo com prazer
Louvando sempre a paz
Amiga eu posso ver
Do quanto se é capaz
Quem tem uma amizade
Que seja mais leal
Transforma a realidade,
Num sonho sem igual,
Transborda na verdade,
E afasta todo o mal
X
7400
Mal sabes quanto amor em tanta fé
Encanta quem deseja ser feliz.
O nosso casamento vai dar pé
Pois nele encontro assim o que eu mais quis.
Deitando junto a ti, bom cafuné
Vontade de ficar e pedir bis.
Amor que se mostrou tão indulgente
Não sabe de ciúmes nem de brigas.
Eu gosto de viver intensamente
E sei que também queres, das antigas
Loucuras que fizemos plenamente
Erguendo com ternura nossas vigas.
Perdoe se eu te louvo qual idólatra,
Trafego em teu prazer, amor podólatra...
X
7401
Querida eu bem sei que este tenesmo
Que tens, já te incomoda por demais.
Amada, continuo sendo o mesmo
E quero o teu amor pra sempre e mais.
Não sabes, mas por certo eu já te entendo
E sei quanto dorido amor se faz.
Quem dera se sensível, teu pudendo
De amar em plenitude e ser capaz.
Mas tenho a paciência necessária
Embora desejasse ser completo,
A relação que assim é temerária
Teria um bom sabor, o predileto.
Relaxe que talvez assim consiga.
Neste hóstio desejado, invade a viga...
X
7402
Eu sei querida amiga o quanto dói
A solidão em noite sem estrelas.
As rotas do desejo, sem podê-las
A vida num segundo se corrói.
Somente uma amizade em si constrói
Estradas deslumbrantes e mais belas.
Entendo cada sonho em que revelas
Vontades sem limites. A vida mói
Sem ter nenhuma pena quem não luta,
Mas tantas vezes vamos solitários
Batalhas que se fazem, tantos páreos
Nos quais a dor se mostra em força bruta.
Porém ao lapidar o sentimento,
A força da amizade ganha tento...
X
7403
Amiga, eu bem sei do sofrimento
Que atinge, de maneira violenta
Aflorando em qualquer duro momento
E sempre no teu peito assim se assenta.
O tempo vai passando calmo e lento.
Eu sei que a realidade te atormenta
Trazendo em tua vida um sentimento
De dor e de prazer. Mas, falo: agüenta!
A tua liberdade, não se olvide,
É feita dia a dia, imensa luta.
Permita-se viver a fantasia
Que queres, e te peço: Quem decide
Jamais se vergará com força bruta.
Pratique se quiser, a urofilia!
X
7404
Amigo não se esqueça que esta vida
Prepara em meu caminho as armadilhas
Às vezes interdita nossas trilhas
Fechando uma porteira. Então decida
E lute até chegar uma saída
Que leve ao renascer em maravilhas.
Se as dores, muitas vezes em matilhas
Sagazes, são terríveis, nessa vida,
Do dia a dia veja, companheiro,
Que tantas vezes somos enganados
Na busca incontrolável – pés ligeiros,
Que tramem novos sonhos outros fados.
Porém ao perceber a realidade
Encontro farta luz nesta amizade...
X
7405
A vida preparando uma tocaia
Às vezes não permite que sonhemos;
Nos dias doloridos que tivemos
A sorte se escondendo noutra praia.
Por isso, meu amor, daqui não saia
Amar é com certeza o que podemos
Fazer. Nesse belo mar, pois naveguemos,
Que a lua, enamorada, já se espraia.
Roçando um sentimento mais profundo,
Nem sempre nós seremos mais felizes.
Porém, isto valida num segundo
Distantes desta dor – tocaia grande-
Que o tempo já prepara outros matizes
Mas eu te imploro; amor: tocai a glande!
X
7406
Amiga quem me dera um nadador
Nadasse pelos rios da saudade
Mostrando que este mar revelador
Não guarda nem a sombra da verdade,
Fazendo o que quiser de um velho amor
Morrendo por demais salinidade.
A língua que passeia nesse seio
Mordendo o céu da boca da alegria.
O fogo que não sei se mais ateio
Marejo nesta mesma melodia
Que fala deste amor onde incendeio
E morro sem saber, dia após dia.
Vem logo, não disfarça minha amiga,
Que o amor que já se foi nunca me abriga...
X
7407
Sou nada, vim do nada e nada espero;
Quem sabe se sobrou algum pedaço?
No quase consegui, eu me tempero
E vivo sem saber se cabe espaço.
Por pagamento tenho o que não quero
Da boca que sonhei, restou cansaço.
Oferto-me por módica quantia,
Àquela que quiser sofrer comigo.
A noite que prometo virá fria,
Apenas o meu riso como abrigo.
Distante do que sou, do que queria,
Querida vem comigo que eu não ligo...
Esparramado estou na tua cama.
O teu frio apagou a minha chama...
X
7408
Amizade verdadeira
Enfrentando com coragem
Se mostrando companheira
Encarando uma viagem
Que se faz a vida inteira
Não dando nenhuma margem
À dúvida traiçoeira
Não se perde por bobagem
Respondendo mais ligeira
Traz amor como bagagem.
Minha amiga, a nossa lei
É feita dessa amizade
Muito bom que eu te encontrei,
Isso traz felicidade
Tanto tempo eu procurei
Minha amiga de verdade...
X
7409
Às expensas da verdade
Eu cantei com voz mais forte
O poder desta amizade
Que só trouxe muita sorte
E também felicidade
Cicatriza um fundo corte
E na solidariedade
Transformando todo o norte
De quem fora assim sozinho,
Meu querido e bom amigo,
Não permita que o caminho
Leve ao triste desabrigo.
Saiba, neste canto alinho
E o meu passo vai contigo...
X
7410
Querida esta cruel orquidalgia
Impede que sejamos mais felizes.
Por mais nos entranhe a fantasia
Algozes dorimentos, cicatrizes
De trauma que enfrentei num outro dia
Ao ver estrelas, tantos os matizes,
Eu percebi que estava em prejuízo.
Agora não podendo disfarçar
Distante do divino paraíso
Não tenho mais vontades. Devagar
Meus passos são terríveis, imprecisos
Não posso, embora queira hoje te amar.
Quem sabe com calor e um bom remédio
Amanhã não teremos tanto tédio...
X
7411
Amar-te noite afora
Sem tréguas, sem parar,
Meio jogados fora
Na rua, sob luar
Vestidos da nudez
Do sonho que virá
Amor que a gente fez
Do novo brilhará
Mas saiba que os mistérios
Entornam sensações
Quebrantos, ministérios,
Fogueiras, turbilhões.
Que se danem critérios
Viva às inundações...
X
7412
Eu agradeço a ti amigo Bento
Saber da falsidade em que foi feito
O Reino que deixaram num momento
De amor e de pureza. Contrafeito
Percebo que não tenho mais direito
De estar neste covil. Isso eu lamento,
Trazendo na verdade sofrimento
A quem sabe da serpe e do seu jeito.
Eu te agradeço amigo, pois me ensinaste
Que a porta escancarada é para os pios.
Para os doentes sempre está fechada.
Um imbecil pensando que houve uma Haste
Que veio para os pobres, pros vadios,
Percebe que não vale mesmo nada...
X
7413
Eu sei que não mereço
Porém peço perdão
Rezando o mesmo terço
Escondo-me em porão
Moldando o meu tropeço
Em nova escravidão
Fornalha onde me aqueço
Não tem mais direção.
Sou vago, ermo e vadio
Remédios nem teria
Porém se tanto esfrio
Versando em ironia
Amigo, em vão, vazio
Termino mais um dia...
X
7414
Com costas lanhadas
Por sol e vergasta
As bocas salgadas
Mentira tão casta
Palavra açoitada
No fundo já gasta
No peito a porrada
A sorte se afasta
Porém nesta luta
Sincero alvoroço
Vencer força bruta
Amor, um colosso,
O grito se escuta
Restando destroço...
X
7415
Amar com toda urgência necessária
Salgando nossos corpos, maresia...
Toda procela sempre temerária
Há muito em dissonância mostraria
O quanto uma paixão tão visionária
Transforma nosso canto em agonia
Mas vale a pena mesmo com sangria
Esta emoção do caos embrionária...
Lutando muitas vezes contra nós
Sentindo em avidez a resistência
Nas gargalhadas soltas, paciência
A fúria de inimigo mais atroz
Porém se o rio desce para o mar
Inexoravelmente irei te amar...
X
7416
Andando pelos bares outra vez
Dormindo em plena praça, embriagado.
Sorrindo da total insensatez
Apenas o vazio andando ao lado.
Às vezes me acordando em bofetões
Quem sabe solavancos impropérios,
Que danem-se, liberto e sem patrões
Não faço sequer parte dos impérios
Daqueles que me olhando de viés
Ou nojo, viram logo os limpos rostos.
As marcas dos grilhões presos aos pés,
Os medos se mostrando mais expostos.
Mal sabem estes donos da cidade
Que assim eu conheci felicidade...
X
7417
Já preguntei responda meu amô,
Vivê sem tê vancê é disgramado,
Já prantei no cantêro dessa frô,
Meu coração ficô apaxonado!
Iscute, meu amô, um cantadô
Que dessa triste vida num vê lado
Sem tê vancê vai me fartá calô,
Como é que vô vivê, desesperado!!!
Pru favô num me dêxe mais sozinho,
Ansim vancê me faiz um sofredô,
A vida sem vancê num faiz sentido...
Sem te tê vô ficá ansim perdido,
Pois arretorne, entonce meu amô,
Um bêjo te mandei, num passarinho
X
7418
Beijos de amor! Delícias e prazer!
Caladas, nossas bocas já se entendem
E sem palavras, sempre compreendem
O que se quer falar sem se dizer.
Não há nesse universo, quero crer,
Quem fogueiras do amor, melhor acendem
Que lábios desejosos que se estendem
E fazem, da saliva, fogo arder.
Se mansos, nos permitem calmaria,
Paz e tranqüilidade, um belo dia.
Nos trazem os perfumes, tantas flores...
Porém já nos devoram, quando ardentes,
Invadem, se misturam línguas dentes,
Vorazes, Como um circo dos horrores!
X
7419
Pelo deserto; um triste caminheiro,
Encontra nas areias seu tesouro.
Quem sonhava um amor mais verdadeiro,
Esmeraldas, opalas, ou mesmo ouro
Nada encontrando, o sol doura-lhe o couro...
Num oásis palmeiras num outeiro,
Uma bela odalisca, bom agouro...
Um sonho, com certeza, alvissareiro.
A riqueza que traz não mais importa,
A beleza feroz, já o domina.
A lua no horizonte predomina;
A natureza abrindo sua porta...
Uma odalisca, bela como o sol...
Na fria noite o cobre, qual lençol...
X
7420
Saudade faz a festa em meu querer,
Nas madrugadas, preso em tais senzalas
Buscando a fantasia pelas salas,
Perfume se perdeu. O que fazer?
A lembrança de um tempo onde viver
Trazia toda noite pompa e gala;
Agora a solidão no peito cala
Procuro sempre em vão. Nada irei ter...
Quem aprendeu amor; felicidade,
Não pode perceber que esta saudade
Refaz apenas sombra já perdida.
O duro é perceber que despedida
Palavra tão cruel de ser sentida
Em pleno amanhecer, na mocidade...
X
7421
Bêbado de saudade- quem diria –
Vou fechando boteco após boteco.
Noite raia, clareia um novo dia,
Passos trocando, paro tonto e breco.
Lembrarei do conhaque, de uma orgia?
Meus suores e lágrimas não seco.
Confundindo verdade e fantasia.
Percebo que inda estou com meu jaleco.
O meu nome estampado num crachá,
Lembrei de que hoje estou de sobreaviso.
Dane-se! Pois quem ama entenderá;
Rolando nas escadas, eu deslizo,
Saudade maltratando desde já.
Morrer agora é tudo o que eu preciso!
X
7422
Saudade faz batuque no meu peito,
Disfarça e logo traz a ansiedade
Depois de me negar a claridade
Meu mundo se perdeu, não tem mais jeito.
Amor parece não dizer respeito
A quem perdeu o sonho e a liberdade.
Sobrando para mim contrariedade,
Pra amar, eu realmente não fui feito.
Menina levantando a sua saia
Usando este tomara sempre caia.
Nas coxas adivinho o meu tormento.
A carne em juventude já me chama,
Porém de que adianta tanta chama
Se o coração batuca em ritmo lento?
X
7423
Eu ouço alguém batendo em minha porta,
Mas quem será que nessa madrugada;
Bate assim, procurando pelo nada...
Minha esperança há muito está tão morta...
Batendo, fortemente, quem se importa,
Uma vida vazia, abandonada...
Esquecida num canto, assim jogada...
Quem irá se importar? O frio corta,
E na porta sinais duma existência,
Lutando mais feroz, a persistência
Com que bate, trará um novo alento...
A quem ,abandonado, não tem paz;
Quem será? Ao abrir, sofrer não mais...
Porém, ninguém batia, só o vento...
X
7424
Bastam-me mais uns poucos sentimentos,
Não quero transformar tristeza em ouro.
A dor preconizada nos tormentos
Qual faca penetrando no meu couro
Esquartejando tudo. Sofrimentos,
Meus cruéis guias, sabem desse agouro.
E sempre recebendo os duros ventos
Deixando bem distante ancoradouro.
Amor não quer saber de tais partilhas
Da minha sina, apenas traz veneno.
Quem dera se pudesse um sonho ameno
Aonde desfrutasse maravilhas.
Mas nada me sobrou senão saudade.
Daquilo que jurei : felicidade...
X
7425
Noite num bar, no mesmo bar diário.
Noturnos nossos beijos nunca dados,
Da sedução barata, um honorário
Uma mentira a mais... Rolam os dados...
As curvas generosas, batom, rouge...
Nos seus olhos dengosos, nos cabelos...
Leão adormecido vem e ruge,
Seios deliciosos, é bom vê-los...
Músicas nessa noite e em meu ouvido...
A vida serpenteia em minhas mãos...
Quem dera não tecessem triste olvido.
Os lábios que me fingem, prenunciam,
Corações de serenos lagos vãos...
Tempestades de corpos se anunciam...
X
7426
Eu tenho tanta coisa por fazer
Além de mal passada a carne esfria
Rasgando o que sobrava da alegria
Deixando muita coisa sem dizer
Mas tenha a mocidade como guia
Talvez seja mais fácil perceber
Que tudo foi somente fantasia
Que se escondeu em forma de prazer....
Assim perceberá que a mocidade
Passando sem ter nada, quase a esmo,
Embora este meu verso seja o mesmo,
No fundo mostrará que a liberdade
É feita com amor e claridade,
Sem tédio, sem temor, em amizade...
X
7427
Amanhecer ao lado da mulher
Que tanto desejei a vida inteira,
Em todo o sentimento que vier
Minha alma se entregando verdadeira.
Esse momento, amor; não é qualquer;
Na vida que se mostra passageira
Eu trago esta certeza que se quer
De ter bem perto, enfim; a companheira...
Meu peito descortina o teu abraço,
Deitado do teu lado; sou feliz.
Não sinto mais sequer nenhum cansaço
X
7428
Na noite que deixaste tanta dor
Meu peito procurando liberdade
Tantas ruas, esquinas da cidade
Em cada madrugada, em cada flor...
O medo se transforma num pavor
E toda minha força na saudade...
Quem me dera ter toda a claridade
Que perdi, numa noite de terror.
Estou tão solitário, o vento frio..
Quem me dera voltasse meu estio.
No meu jardim nascesse outra esperança.
Mas a vida, cruel, não mais afaga.
Meu caminho distante, noutra plaga,
Guardada na recôndita lembrança...
X
7429
Tomara um banho quente, perfumado,
Vestira uma excitante lingerie
Seu corpo tão esguio, delicado,
Um poço de desejo estava ali,
Depois de relembrar de seu passado,
Sorriso mais maroto, eu nunca vi...
Aromas naturais, florais, mais raros,
Vestiu-se de vermelho transparente.
Seus olhos de um azul sereno e claro
Cabelos sobre os ombros... envolvente...
A cinta liga há tanto desprezada
Deixava um horizonte desmedido.
Depois de meia noite, madrugada,
As lágrimas corriam, sem sentido...
X
7430
A par do que passei
Difíceis caminhadas...
Carinho em encontrei
Em mãos abençoadas.
Bem mais do que pensei
Nestas duras jornadas
Amiga, eu pude ver
O quanto és importante.
Na força do querer
Tornando-me um gigante
Já posso até prever
Futuro radiante
Sabendo, na verdade,
Valor desta amizade
X
7431
- Ouvindo a tua voz quando me chamas,
Qual fosse um chamamento angelical,
Neste calor imenso, imerso em chamas,
No fogo tão profano e sensual.
Deitando meu amor em tuas tramas,
Teu canto demoníaco, irreal....
Incoercíveis sonhos constelares,
Trazendo uma emoção em fanatismo,
No quanto desejei os teus luares
Mergulho sem temores teu abismo,
E bebo tanto sal em fundos mares
Do amor que traz carinho em traumatismo.
Teu corpo, um horizonte raro e vasto
Do amor que pretendia, impuro e casto...
X
7432
Meu sonho de esperança, manso e brando
Em busca de outro senso mais sutil,
Aos poucos calmamente, dominando,
Mostrando ser mais forte e mais gentil,
Remonta todo o tempo que, esperando,
Nublava este meu céu que fora anil.
Ferido pela dor de uma saudade,
Marcado por um golpe do passado.
Qual tronco que perdeu-se da verdade
Cortado pelo corte do machado,
Não acho, nesse mundo, paridade;
Morrendo sem ter sombras ao meu lado.
De tudo o que temia, esteja certa,
A vida se mostrou tão incompleta...
X
7433
Nas águas tão serenas deste rio,
Banhando sob a lua, nua em pelo..
Meu coração se toma por estio,
Passando a mão por sobre teu cabelo
Quem fora sempre assim, tão vago e frio,
Já sente o pleno amor fortalecê-lo.
Depois ir repousar em teu castelo,
Princesa angelical que tanto quis.
Num sonho divinal, tão raro e belo,
Contigo irei pra sempre. Sou feliz...
Meu canto neste amor; cedo revelo,
Beleza de rainha em flor de lis...
Minha alma em terra nova já se assenta,
A vida, quem me dera, fosse lenta...
X
7434
Quem sabe com amor enfim em transformismo
O mundo possa ter um pouco de esperança.
A força com que luto, às vezes nada alcança
Porém espero a vida em lógico exorcismo
Ao afastar pecado, através do batismo
Aonde possa haver amor e temperança
Invés de tanto obus, invés de tanta lança
Amizade será – quem sabe – um cataclismo
Que venha permitir sorriso de um infante
E o tempo não trará mais noites sem afagos
Àqueles que sem nada, apenas fome e frio.
Podendo adivinhar em lua deslumbrante
Um dia alvissareiro, em carinhos tais, magos,
Que a vida possa andar sem ser só pelo fio...
X
7435
SIM, MEU AMOR...
Muitas vezes um sonho ao se mostrar disforme
Arranca em pesadelo os gritos mais medonhos.
A mão que me tortura imensa e tão enorme
Tomando o inconsciente em formatos bisonhos
Avança sobre mim enquanto a rua dorme
E toca com vigor meus olhos tão tristonhos.
Não há, pois, na verdade alguém que se conforme
Ao ver tal heresia invadindo seus sonhos.
Percebo em cada dedo a seta inquiridora
Qual fora o meu pecado o que não se perdoa.
Um grito aterrador pelo meu quarto ecoa
Acordo em sobressalto e vejo a redentora
Presença deste amor. Solidão vai embora
A sudorese cessa... E a noite enfim se escoa...
X
7436
Putrefação em vida o que talvez espere
Aquele que negando a carne agonizante
A mata destruída, um fato que tempere
A mesa em ironia abate neste instante
Os ideais do amor que em dor se degenere
Matando sem defesa, o pobre viandante
Que passe pela cerca. O desamor que fere
Também destruirá a luz tão deslumbrante
Da criação divina em rápida estocada.
Também foram dizer que a terra nos pertence...
Às vezes imagino o que será sem nada.
Ao débil que acredita e disso se convence
Que Deus nos deu poder de magnitude tal.
Poder dizer: - Boçal, tu és um animal!
X
7437
Imerso num problema enfrentando ancestrais
Vontades de saber do longínquo futuro
Invento outra palavra em letras garrafais
Que possam traduzir meu gesto mais obscuro
Sou quase um ser vazio em busca de imortais
Desejos onde engano ultrapassando o duro
Chão inda me traduza um ar que fosse puro
Envolvendo o meu sonho e salvando animais.
Terrível predador, o ser humano mata
Inconsequentemente assim tudo desmata
E deixa no vazio; heranças sem valor.
Um povo que se faz letal e mercenário
Terá a morte em vida, o fim como honorário
Ao abortar a vida esquece o que é amor...
X
7438
Por mais que te imagino em passos mais audazes
Eu sei que não virás enquanto uma peçonha
Ainda faça efeito aos olhos de quem sonha
Com mundo mais perfeito em braços mais capazes.
A vida tanta vez nos traz os capatazes
Algozes da esperança em noite tão medonha
Que faço se não quero a vida tão bisonha
Distante desta boca em lábios mais vorazes.
Amar é ser feliz e não temer mais nada
Eu sinto o teu perfume; embora morta a flor,
Caminho em teu destino, a roseira marcada
Por noite imaginada em pleno e louco amor.
A sorte está lançada e vejo que indomada
Estrela iluminada em outros céus, raiada...
X
7439
Acordo uma esperança adormecida em mim,
Depois de tanto tempo a vida prosseguindo
O medo dominando, o dia se esvaindo
Restando simplesmente amor que sei sem fim,
O gosto de teu beijo, a boca carmesim,
O dia anoitecendo, o medo perseguindo
O quase que chegando, o nunca perseguindo
Meu verso te procura e nada encontra enfim.
Mas sei que longe vens em passo galopante
E logo chegarás, mulher que tanto eu quis.
Entrando em minha casa, em riso triunfante
Mostrando que bem sabe o quanto necessito
Do braço que distante, ao me deixar aflito
Retorna neste instante, e me faz tão feliz...
X
7440
Meu verso sertanejo, um repentista canta.
Mostrando o meu desejo, um moço caipira
Que sempre quer um beijo, um gosto que me encanta
Da moça em que prevejo a sorte que não fira.
Um coração sozinho em busca de uma manta
Que venha aquecer ninho em forma de mulher
Trazendo de mansinho o bem que ela quiser
E a lua no caminho à noite se levanta
Chamando pro ponteio através da viola
Ao pratear a terra iluminando a mata
Refaço minha sorte em plena serenata
Mostrando que o recheio, amada, da sacola
Trazendo pr’esta serra o cheiro do alecrim,
Meu canto traz a morte escondida de mim...
X
7441
Tantas vezes, querida; inquieto eu me recolho
E deixo em liberdade asas do pensamento
Chegando tão distante em um simples momento
Ao encharcar o medo em impávido molho
Percebo que a tristeza estendendo o seu olho
Invade esta janela e traz duro tormento
Mas antes que ela venha e mostre o sofrimento
Eu vou correndo à porta e tranco com ferrolho.
Muitas vezes previ a morte em solidão...
Não quero que isso seja a verdade absoluta.
Por isso todo dia, eu travo dura luta
Às vezes derrotado em outras tantas não
Esboço num sorriso um único desejo
Do amor que distraído em teus olhos eu vejo...
X
7442
Ao oscular a face empresto à traição
O gosto verdadeiro em consciente fato
No gládio em que me encontro um último retrato
Em busca desperada- eu sei – de punição.
Eu sei que muita vez é grande a sedução
Que se mostra em covarde e desnecessário ato
Secando toda a fonte e matando o regato
Trazendo para a vida, a própria negação.
Assim é que funciona a harmonia do jogo
Aonde um traidor é quase sempre um santo.
Mas vejo em ti querida, uma exceção à regra.
Na força da amizade o verdadeiro fogo
Que emana de minha alma e mostra puro encanto
Iluminando assim a noite outrora negra...
X
7443
A vida nos trazendo – em lágrima- o mistério
Num erro cometido em um lugar comum,
Embriaguez que cura, em farto gole – rum,
Seja, amigo, talvez amor sem ter critério
Invade nossa casa e sob seu ministério
Não deixa quase nada e vestígio nenhum
Subindo nossa escada este algoz, número um
Tirando quem sonhava em rumo calmo e sério
De todo o prumo exato, em passo decidido,
Mostrando em outro fato, às vezes derradeiro
Negando a sorte plena e mesmo a recompensa
Por ter tanto lutado e condena ao olvido
Com risos de ironia, um mal alvissareiro,
O amor faz seu estrago e torna a dor imensa...
X
7444
Não quero mais a luz que torne a vida pálida
Sudário do meu sonho, em lagrimas composto.
Ao ver em frio espelho as rugas no meu rosto
Entendo que morreu de véspera a crisálida.
O gosto do vazio, a vida quase inválida
O medo do não ser em cada verso exposto
Sobrando do que tive apenas o desgosto
E a vida vaga e vã, imagem dura, esquálida...
Vogando pelos céus a lua recomeça
A cada novo mês renasce em plenilúnio.
E quanto a mim, sozinho, ao ver meu infortúnio
Aguardo novamente a dor em nova peça
Minha alma sendo eterna em mágoas já flutua
Quem dera se tivesse o destino da lua...
X
7445
Percebo em catedral as ilusões imensas
Desde que eu encontrei antigas casamatas
Dentro do coração, reverberando datas
Vestígios do que fui, perfídias matam crenças.
Palavras que deixei, cintilações suspensas,
Se nada mais fizer serão decerto ingratas
Mas vejo que perdi meu rumo nestas matas
E tenho uma certeza em luzes tão intensas
De que jamais verei o que pensei ser meu,
Amores; já não tenho. Amizades? Talvez...
O brado em que me moldo, encontra insensatez
E mostra em meu futuro o muito que morreu.
Por vezes o meu sonho esbarra na verdade
Imagem refletida espera a claridade...
X
7446
Se vago vagas ruas tão vazias
Em busca do que somos, nada vejo.
Amamentados pelas fantasias
No gosto mais audaz deste desejo
Voraz que nos remota aos velhos dias
Mostrados numa esquina, um realejo.
Sobrei do que sonhara, agora estou
Envolto nestas brumas, noite imersa.
Se o aço dos teus olhos me tocou
Talvez por isso esteja tão dispersa
A nuvem que depressa acompanhou
Vontade de querer sem mais conversa.
Causando febre, horror e descompasso,
Amada; nestas ruas, eu disfarço...
X
7447
O vazio; eu conquisto em palavras tão vãs
Tentando alexandrino o canto que esbocei
Não quero ver se o gosto expresso nas maçãs
Transborde e serpenteie ao transtornar a lei.
Não passam de loucura as febres cortesãs
Nas quais em teu dossel às vezes me encontrei.
Quem sabe sem disfarce as luzes espiãs
Deletem o que sou ou o que não serei.
Vazio pode ser o copo quase cheio
Depende de quem olha ou mesmo de quem bebe
Quem veio de ouro fino ao ver a dura plebe
Não sabe quanto custa a vida sem recheio.
Mas mesmo assim insisto, ou nada mais seria
Que uma esperança agüenta a vida sem poesia...
X
7448
Atarei cada canto em tua lábia
Que mostra quanto é válida a palavra
Quem leva a vida em versos se faz sábia
Moldando este universo em sua lavra.
Não sei se posso caminhar tranqüilo
Nem se preciso refazer meus sonhos.
Meu verso não tem ritmo nem estilo
Trazendo resultados mais bisonhos.
Mas cabem esperanças de mudança
Na versatilidade em que tu fazes
Amantissimamente em cada dança
Do torpe sentimento noutras fases
Amiga eu te agradeço mesmo assim
Sabendo, caçoaste até o fim...
X
7449
Com força de vontade
Encarando pedreiras
Somente esta amizade
Nos mostra as verdadeiras
Saídas que podemos
Usar tranquilamente
Se enfim já nos perdemos,
Encontro de repente
Nos braços desta amiga
A mão que tanto apóia
Fazendo que prossiga.
Tesouro em bela jóia
Num átimo rebrilha
Guiando em dura trilha...
X
7450
Amiga não se esqueça
Que o verso que te faço
Passando na cabeça
Estende-se em meu braço
E faz com que se aqueça
O corte feito em traço
Navega cada peça
Causando este embaraço
Aonde amor tropeça
E rompe cada laço.
Não há nada que impeça
Nem mesmo o meu cansaço
Que o tempo enfim se meça
Moldando cada passo...
7451
Morrer de amor! Decerto, em seu mistério
Eu tantas vezes perco-me a cismar.
Amor é sentimento sem critério
Que invade; com doçura, imenso mar,
Derruba em mansidão um grande império
E faz de simples sonho, um raro altar.
Ridicularizando um homem sério,
Trazendo em santidade um lupanar.
Morrer em alegria, em tal loucura
Que nos transtorna e rouba a direção.
Somente quem amou sabe a tortura
Na qual ele nos faz em perfeição.
Quem vive sem amor, não sabe a cura
Que a dor proporciona em redenção...
X
7452
Quem dera se eu tivesse este pendor
De ser o companheiro predileto
Andando junto a ti, mesmo em deserto,
Ninguém me julgaria um sonhador.
Mas longe do carinho e sem afeto,
Restando este vazio a me compor,
Meu peito, vago e só, tão sofredor,
De uma felicidade encontra o veto.
Beijar, como beijei, a tua boca,
Quem dera... Fantasia quase louca
Guardada dentro em mim, qual um segredo.
Agora que percebo amor distante,
Não resta nem sequer mais um instante
Apenas me sobrou triste degredo...
X
7453
Angústia! O pensamento não disfarça
E esvai toda alegria que encontrara.
A sorte prometendo outra trapaça
Mostra a felicidade longe. Rara...
Uma ilusão que sobra já se esgarça
Qual fora um porto triste em vida amara,
A vida parecendo dura farsa
Abrindo no meu peito funda escara...
A solidão voraz que se propaga
Deixando tão somente um sonho atroz.
Meu barco se perdendo, em forte vaga,
Silêncio vai tomando a minha voz.
A luz que iluminava enfim se apaga,
E a dor vai invadindo, mais veloz...
X
7454
A noite devagar, chegando mansa
Trazendo uma amargura, dentro em mim.
A dor desta saudade já me alcança
Penumbra vai caindo. É sempre assim.
A festa que se foi, sem sequer dança
Tramando uma tristeza que sem fim
Aos poucos no vazio já me lança.
Quem dera se restasse algum festim
E a vida não seria tão amarga,
Meu canto poderia ser mais belo.
À lua, feiticeira, eu não revelo
Os sonhos que perdi, há tantos dias.
A voz quase silente, inda se embarga,
Lembrando das passadas alegrias...
X
7455
A solidão em flor nasceu no meu jardim
E em seu perfume amargo, um gosto de saudade.
Neste momento insano, amor dentro de mim
Refeito da loucura; em incivilidade
Estorva meu caminho, e quase que no fim
Avança escuridão, matando a claridade.
Que faço se não posso amar demais assim.
Procuro uma resposta. Apenas inverdade.
Tal flor apodrecendo aqui no meu canteiro
Afasta o colibri, espanta a fantasia.
Seguindo um mundo falho em passo traiçoeiro
Eu busco em esperança, uma última aliada
Nos braços desta amiga, a sorte inda me guia
Somente ela resiste. E depois, sobra o nada...
X
7456
Esmero esmeraldina sensação
Dos olhos da mulata que sonhei.
O verde que esperança em coração
Nas turmalinas vertem minha lei...
Das hortelãs e mentas, meu refrão...
Dos peixes que – menti – jamais pesquei
Qualquer piaba vira tubarão.
Com sereia postiça me encantei...
A sensação que nunca me alucina
Se faz em tempestade e é calmaria
A moça embriagada se faz fina,
A lua que brilhou traz pleno dia,
Amor sem ser morfina, me amofina
A pedra que te dei? Bijuteria...
X
7457
Bendito seja amor que nos tortura,
Maltrata e nos corrói, depois redime.
Bendita essa mulher, que eu não estime
Outra, pois nela encontro minha cura.
Bendita seja a lua em sua alvura,
Que em seu louvor minha alma sempre prime.
Que meu verso em delírio sempre rime
Em toda essa altivez, toda brandura...
Bendito seja o sol, também a chuva,
Bendito seja o vinho, feito da uva
Imagem da mulher em fantasia
Bendito seja o cio que transtorna,
Cálice do prazer, no gozo entorna.
Bendito nosso orgasmo dia a dia...
X
7458
Fugindo desta sombra eu te encontrei,
Andando pelas ruas sem aprumo...
Depressa para a luz, quando levei,
Achei que te daria novo rumo...
Contigo muitas vezes caminhei
Te dando da esperança todo o sumo,
Um canto mais feliz imaginei,
Até te dei minha alma... Não perfumo
As mãos mais em teu corpo, minha amada.
Pois foste como estrela decadente
No final da tarde, sobrou nada
Senão uma saudade negra, escura...
Pensei fazer-te assim, bem mais contente.
A tua ausência agora me tortura...
X
7459
Quebrando este telhado que te abriga
Do frio, da saudade e da tristeza;
A sorte que te fora sempre amiga
Abandonada, busca noutra mesa
Repasto. Tu quebraste a forte viga
Que tanto sustentou; qual fortaleza,
A relação mais forte e tão antiga
Onde eu não esperava tal surpresa...
Amiga... Já pressinto que a desdita
Virá te acompanhar no dia a dia...
A sorte que tu pensas ser maldita
Foi quem te iluminou por tanto tempo...
Matando toda a fonte da alegria,
A vida te trará só contratempo...
X
7460
Bem sei que me tomaste por cordeiro,
Quebrando em sacrifício o meu pescoço,
Causando em minha vida um alvoroço
Ciúme sem dar trégua, e costumeiro.
Quem dera fosse o tempo mais ligeiro,
Talvez inda restasse um simples osso
Inteiro. No começo: que colosso!
Amor me parecia alvissareiro...
Porém com incertezas sinalizas
Tomando com vigor o meu juízo,
Não passas sem ferir e martirizas
Fazendo com que perca logo o siso,
As mãos que me torturam, as divisas
Usadas por quebrantos, e agonizo...
X
7461
O poder que traz uma amizade
Nos molda para a luta, esteja certo,
Escuridão valora a claridade,
Oásis se enobrece no deserto.
Apenas a distância mostra o perto,
Uma ilusão seduz realidade
Porém somente em plena liberdade
A gente reconhece um peito aberto.
Assim quando se faz a tempestade
A calmaria é tudo o que queremos,
Por ela nós lutamos e sabemos
Que nós temos na paz, finalidade,
E enfim poder contar com alegria
Vivendo nossa vida em harmonia...
X
7462
Amigo tantas vezes perguntei
À vida por que dores ela traz.
Em um momento triste, a dura lei
Mostrando do que a dor é mais capaz
Por um segundo, enfim, desanimei
Sofrendo tal tormenta, nada apraz;
Na morte, meu amigo, até pensei,
Por que viver se nada satisfaz?
Porém num dia calmo eu obtive
Uma resposta clara e verdadeira
A gente, com certeza, sempre vive
A vida na procura de um apoio,
E Deus em atitude alvissareira
Nos fez em plena dor, saber do joio...
X
7463
Uma amizade é feita aos poucos; com constância;
Ultrapassando sempre as curvas do caminho.
Mais forte na tristeza até que na abundância
Certeza de um apoio emana do carinho
Amizade se afasta onde entrar a ganância
Sincera proteção que faz valer o ninho
Mesmo que separado, amigo desde a infância
Eu sei que uma amizade é feita como o vinho
Que tem bem mais valor quanto maior o tempo
Vencendo a tempestade e o risco do azedume,
Lutando com tal força ao vencer um contratempo
Alimenta nossa alma e traz em seu perfume
Que vale bem, querido, o risco de um espinho.
Quem sabe o seu valor, jamais irá sozinho...
X
7464
Ela sempre retoca o seu batom
Não deixa nem sequer saber seu nome...
Viaja o pensamento, eleva o tom
O quadro que apresenta me consome,
São tantas as batalhas neste front
Meus olhos a procuram, e ela some
Eu sigo rastreando cada som.
Espero que me dê seu telefone
O bem que me quisesse nunca viu,
Perdi o meu caminho em bem-me-quer
Também a flor, decerto já mentiu
Pois sei que ela também se faz mulher
De coração volúvel, mesmo vil.
E sigo perguntando: ela me quer?
X
7465
Passarinho que canta na janela,
Sabiá laranjeira, companheiro...
Me responda se acaso o mundo inteiro,
Alguém pode falar onde está Bela?
Belinha, abelha, bela bel tinteiro
Das cores que roubei nada restou
Responda passarinho companheiro
Por quê que minha Bela me deixou?
Os fios da meada eu já perdi.
As chaves destes cofres eu não tenho
No medo de viver, assim morri
Somente amor imenso inda retenho.
Que faço, meu amigo passarinho,
Sem Bela nunca mais farei meu ninho...
X
7466
Qual sílfide, delícia encantadora...
Trazes a languidez das brancas rendas.
Na boca carmesim tão tentadora,
Ardor pecaminoso invade as tendas
A noite em que chegaste, redentora,
Caminhos, espirais, dolentes lendas.
Sonora melodia sedutora
Lascivas, sensuais divinas sendas...
Sonatas e perfumes, canção, rosa....
Veludos, maciez; camurça e gozo.
A mão que te procura, carinhosa.
Palácios dos prazeres, catedrais.
Desejo de viver, voluptuoso,
Tua beleza rara, meus cristais...
X
7467
Lua bela em teus raios de cristal
Encontro tal beleza, deslumbrante
Qual fora um mavioso diamante.
Dos astros tu és sempre a maioral.
Teu toque tão macio e sensual
Para quem ama mostra-se excitante
Por isso és a rainha de uma amante
Que deita sob a prata sem igual.
Ah! Lua, companheira e tão amiga,
Não permita que a dor assim prossiga
Na eternidade rara deste abrigo
Afaste a solidão do meu caminho,
Não deixe que eu me sinta mais sozinho,
Eu quero esta mulher sempre comigo!
X
7468
Por mais que te pareça insensatez, amigo,
Eu faço da loucura a minha companhia
Permito-me sonhar e adoro a fantasia
Pois nela encontro sempre o meu maior abrigo
Uma defesa plena aliada comigo,
Por vezes imagino a dor que eu já teria
Não fosse insanidade em lúcida magia
Meu trem descarrilava em trágico perigo.
Desculpe se pareço um torpe vagamundo
Correndo sem parar, sorrindo do vazio
Um mundo imaginário, amigo eu sempre crio
E vivo dentro dele, e nele eu sempre inundo
Uma alma visionária, um coração sem rumo.
Amigo, na loucura, encontro paz e prumo...
X
7469
Na bruma em que te escondes, Solidão,
Sentindo-me falena em busca ao lume,
Aguardo o seu carinho, uma ilusão,
Na cura que se mostra de costume...
Vagando sem ter rumo, na amplidão,
Espreito e vou imerso num queixume,
Às voltas com beleza; solução,
Da mulher que inocula o seu perfume....
Chegando para o náufrago qual bote,
Que salva da terrível tempestade,
Amor é muito mais que simples mote.
Essência de uma vida salutar.
Não posso conceber felicidade,
Sem lua que esparrama-se no mar...
X
7470
Amor não se consola quando só,
Um par precisa sempre d’outra face.
Senão a vida volta ao velho pó,
Aí, ninguém dá jeito nem disfarce...
Eu quero o teu desejo; vem sem dó,
Permita, devagar que eu já te enlace.
Te trato, meu amor, a pão de ló
Mas faça-me feliz. Amor renasce
Na fúria e no delírio de uma noite.
Eu quero ser a caça e te caçar,
Mas venha com certeza, não se afoite
Pois tudo o que fizermos nos tempera
No gosto e no desejo de sangrar
O coração exposto à mansa fera...
X
7471
Qualquer que seja o fim desta batalha
Não restará semente sobre o chão.
No corte agonizante da navalha
A vida se mostrou simples senão.
A mão que me acarinha já retalha
Deixando em posta, pronta podridão.
As marcas desta algoz, a solidão
Apenas decepção, sempre amealha;
Um resto do que fui caminha a esmo.
De perto, reparando sou eu mesmo
Aquele que sonhara, em pesadelo
Levando uma saudade sem limites.
Enreda com vontade no novelo
Da morte que não quer sequer palpites...
X
7472
Meu corpo com certeza irá esquálido
Levando o que restou de um ser patético.
O verso se mostrou bastante inválido,
Distante do que julgo ser poético.
Ausência de um verão que fosse cálido
Não vejo mais que um sonho e antiestético
Apodrecendo inerte, sigo pálido
Num paganismo intenso, sempre cético.
Quem ver-me, quase um verme sem valia
Não sabe que eu amei, sonhei, sofri.
Porém saudade mata uma alma fria
E nada sobrará decerto, aqui.
Apenas estrambótica visão
Do que só fora uma alucinação...
X
7473
Antes que a solidão provoque o corte
Ao entalhar minha alma, inda ressoa
Uma esperança altiva que revoa
Poupando-me decerto, enfim da morte.
A vida é bem melhor p’ra quem é forte
Mostrando tantas vezes ser tão boa
Mudando, num segundo nossa sorte,
Trazendo a placidez de uma lagoa.
Porém quando em tempesta, é dura a vida,
Difícil vislumbrar qualquer saída
Se temos nossos dias infecundos.
Mas ao nos agregarmos com vontade
Nos laços bem mais firmes da amizade
Bastam para mudar poucos segundos...
X
7474
Descendo pela estrada tão umbrosa,
Hordas de passarinhos rumorejam.
As horas vão passando e se negrejam
Prevendo a noite imensa e tenebrosa.
Apenas pirilampos que vicejam
Tornado esta passagem luminosa
As cores tão distantes se desejam
Restando então espinhos, morre a rosa.
Solidão me encontrando em indolência
Moldando em meu caminho uma impotência
Capaz de não deixar restar mais nada.
Porém ao perceber tal soledade
Encontro todo apoio na amizade
E a vida se transforma, iluminada...
X
7475
Por vezes necessito ser guerreiro
É quando a tempestade já se assoma
E torna o meu destino prisioneiro
E o nada num segundo enfim me doma.
Porém ao ter abraço verdadeiro
A vida se refaz em nova soma
E o mundo se mostrando companheiro
Com toda força chega e assim nos toma.
Meu coração não teme mais arenas
Distante dos vorazes cães, hienas,
Abutres que nos bicam sem parar.
Na força, com certeza, da amizade,
Encontro todo apoio e na verdade
Consigo bem mais forte caminhar..
X
7476
O medo de sofrer que me tomava
Morria ao perceber teu braço forte
Sabia que, decerto eu encontrava
Poder que nos transforma dando um norte.
A solidão que queima feito lava
Provoca dentro da alma um fundo corte.
Muitas vezes sozinho então cismava
Distante do que penso ser a sorte.
Em procelas,às vezes somos vítimas
Tempestades convulsas, más, marítimas
Tomando já de assalto o meu saveiro.
Mas tendo uma amizade timoneira
A calmaria volta costumeira.
Que bom ter um amigo verdadeiro...
X
7477
Ao dar-me a sensação de tal brandura
Erguendo-me, sutil, por longos ares
A noite se emoldura na ternura,
Trazendo a inconstância dos luares.
Tuas mãos amicíssimas. Candura
Que se harmoniza em todos os altares.
A mansidão que trazes, fina alvura,
Aumenta a sinonímia para amares.
Elfo; flutuas. Zéfiro, me acalmas...
Nas janelas abertas dos amores,
Acaricias, plena, mãos e palmas.
Emanas tal perfume que estas dores
Não restam sobrepondo aos velhos traumas.
Borboleta; revoas sobre as flores...
X
7478
Qual triste borboleta, vou a esmo,
Nas gotas deste orvalho, sem paragem...
Amor que nunca mais será o mesmo,
Descansa, sem ter bálsamo. Miragem...
Nas promessas divinas, me quaresmo,
Não quero nem permito estar à margem.
Por vezes, tão calado, se ensimesmo
É medo de trocar, nova roupagem...
Crisálida que dorme não se esquece,
A dor deste fantasma que persegue
Não basta a conversão sequer a prece.
A mansa borboleta nunca nega,
Por mais que tantos mares eu navegue,
Como é pesado o fardo que carrega...
X
7479
Qual fora um arvoredo em fortes, vários galhos,
Moldando o meu caminho- estrada derradeira,
Em busca de- quem sabe- achar meus agasalhos
Nos braços de quem amo. Estrela costumeira
Vagando no meu céu. Porém em atos falhos
A vida se mostrando expondo esta canseira
Que é feita em cada passo, em colchas de retalhos
Talvez inda me traga a lua plena, inteira...
Bem sei que não terei sequer felicidade
O que dizer assim da longa eternidade
Que se promete dura, em trevas, sem descanso.
Porém me bastaria, uma falsa amizade
As sobras que virão em dura realidade
Já deixariam, sim, meu coração mais manso...
X
7480
Envolta em tanta luz, na noite mais espessa
Nas fimbrias desta lua, adormece em martírios.
O vento descobrindo impede que se aqueça
Mostra para quem ama e trama os seus delírios
Beleza que não tem quem não mais obedeça
E siga já buscando em procissão de círios
Mulher tão magistral, embora a sorte avessa
Impede que eu consiga a cura dos colírios.
Pudesse eu mitigar a dor da solidão
Ao ter sempre comigo esta beleza rara.
Mas nada conseguindo, apenas me contento
De ter sua amizade. E conter ilusão
De um dia enfim poder, que o tempo nunca pára,
Ter seu amor pra mim. E ser – quem sabe- o vento...
X
7481
Lembro-me da visita que fizeste
À casa dos meus pais. Era menino.
Do brilho alucinante que trouxeste,
Parecias um sol... Perdi meu tino.
O tempo foi passando e não vieste,
Um homem triste surge. É meu destino?
Viver passou a ser eterno teste.
A sombra de teus passos... Desatino...
Lembro-me da visita, a porta aberta.
O medo bem distante. Que saudade!
Agora novamente, já desperta
A vida traz visita, ainda incerta
Será que encontrarei felicidade?
Mas entre aqui, Amor. Fique à vontade...
X
7482
Bom dia, meu amor, quanta saudade!
Faz tempo que não sinto seu carinho...
Ao seu lado, porém, se estou sozinho
O seu sol me inundando em claridade
Quem dera se pudesse, na verdade,
Falar do nosso amor, o pobrezinho,
Como aconchego mágico de um ninho,
Talvez fosse um bom dia de verdade.
Bem sei que amor transforma-se depressa,
Que aos poucos não nos resta nem conversa.
Fica monossilábico, calado.
Não passa do bom dia sem sentido.
O vento que nos trouxe está perdido,
Num canto dessa casa, abandonado...
X
7483
Pacato cidadão espera quieto,
Assim mudança é traça no Congresso.
Calado, permanece morto o feto,
Medalha nunca mostra o seu reverso.
Quem cala é que por certo está repleto
Quem vive desunido e vai disperso
Pois rã que não se move quer inseto?
Quem diz que da política é avesso
Permite por terrível omissão
Que dê sustento ao crápula quando erra
Deixando o mais humilde pelo chão.
A noite do cochilo cria e emperra
Pois oportunidade faz ladrão,
E o bom cabrito, amigo, sempre berra!
X
7484
Nos botecos da cidade
Eu me sentindo em Havana
Cativa sinceridade
Quem conhece não se engana.
Maria da Soledade
Minha Musa soberana
Entranhada na saudade
Transformando noite insana,
Aguardente que me traga
A noite nunca tem fim.
Boneca de porcelana
Nos seus dentes de marfim,
Rosário de perna abana
E me engole feito draga...
X
7485
Bases frondosas: árvore esperança...
Grinaldas buquês, festas, despedidas...
Alabastrinamente vão vestidas
O que restará dessa contradança?
O que tenho melhor- amor - avança;
As tardes que deixei estão perdidas...
Nos meus dedos, meus medos são feridas.
Nas bodas, tuas bodas, a criança
Morta, ressurge, tímida, reclama...
Perco-me, cego, morde a dor que inflama
Te perder foi atroz, mal tumular...
Escadarias, luzes, enlutado...
Tais esperas, festejos, triste fado...
Quem me dera jamais poder amar!
X
7486
Não temo a sorte, corte; quiçá trevas.
As neves,tuas preces, nem teu rogo.
Espero, espreito, oculto, sei teu jogo...
Nos rios, ritos, sinto quando nevas
Nas almas, dores, flores, tudo levas...
Teimando em glosas, queimas, cessa o fogo;
Embora tão distante, és desafogo..
Na tua mansidão a todos cevas,
Esperando, espreitando, na tocaia,
Tocas, retocas, sabes dar o bote...
N’hora certa, entoando o velho mote...
De ti, cada momento, que se espraia,
É como navegar , teu rumo, norte...
Nossa boda infalível... Velha Morte!
X
7487
Nas bocas que beijei; mesmo veneno.
Na luz de cada dia, um novo amor.
Nas cordas que se partem, tombo pleno
Amor cortando em faca, sonho e dor.
Sem brilhos, mas tenaz, eu já te aceno.
Prometo tão somente o meu torpor.
Talvez por ser tão manso e tão sereno
Não brotam as sementes, sem calor.
Mesmo assim ao sentir um ato falho
Parece que das bocas que beijei
Alguma poderá ficar comigo.
Sem temperos, faltando sal, sem alho;
Amor que te proponho pede abrigo
Em sonhos tão vazios, temperei..
X
7488
Meu ser que se fez cinzas de um cipreste
Que outrora sombreava calmamente,
Nas dores por herança que me deste
A vida se perdendo tolamente.
Somente a solidão inda me veste
E aos poucos me transforma em vão demente.
O não quando meus olhos o puseste
Em vendas tudo nega, cegamente.
Revejo nos meus dias, juventude,
Um rosto de belíssimo fulgor.
Não sei e nem concebo como pude
Perder o manto claro deste amor.
A mão desta saudade, fria e rude,
Matando, sem ter pena, um sonhador...
X
7489
Jamais irei viver alvorecer
Em paz, leve sorriso eu já não tenho.
Quem teve da alegria o seu empenho
Percebe quanto é duro perceber
Que a sorte abandonada, de onde venho,
Deixando bem distante o meu prazer.
Apenas sofrimento, enfim, retenho,
No sonho uma vontade de morrer...
Perdida, bem distante, a mocidade,
Um resto de esperança esvai agora.
A dor que no meu peito já demora
Resume o que senti na realidade.
Meu canto, sem sorrisos, não resiste...
E morro devagar, vazio e triste...
X
7490
O mar que em tempestade me transporta
À praia dos meus sonhos, dor imensa.
Deixando sem tramelas, minha porta,
Quem sabe em minha morte, a recompensa...
A negritude da alma, tão imensa,
Nem mesmo um sonho vem e me conforta,
Estrada em que passei, antiga e torta,
Na tosca solidão, cruel e densa
Encontro esta tristeza que se soma
Ao medo de viver em sofrimento.
O mar que na loucura de um tormento,
Em ondas movediças tudo toma.
Seu canto me transporta em agonia
Deixando este sabor de maresia...
X
7491
Teus lábios neste cálice de vinho,
Mostram sensualíssimos desejos...
Tua boca cintila loucos beijos,
Resplandecente flâmula, meu ninho..
Belas cores carnais, rosas, espinho...
Constelarei delírios e traquejos,
Perpetuarei tais matas e verdejos.
Embora, tantas vezes vá sozinho...
Travam em meus ouvidos, cantos mis,
Quando harmoniosamente estrelas giram;
Eternos carrosséis, loucos, febris...
Sonhadores formatos da natura...
Meus olhos tresloucados... Sim, deliram...
Eu respiro em teu hálito a loucura...
X
7492
Toda vicissitude que carrego,
Fomentos de uma algia na lembrança
Performaticamente já me alcança
Mostrando um duro algoz: caminho cego;
Tantas boçalidades. Não relego
A um plano inferior, mas mudança
Se faz como instrumento de esperança,
Quem sabe me trará paz e aconchego.
A palavra é meu único instrumento,
Porém tem fino corte de navalha.
Precedendo a qualquer um movimento
Ascendendo ao poder de uma batalha.
E tenho em ti, amigo um aliado
Na luta que perfaço amortalhado...
X
7493
Jamais conceberei ser evitável
O cancro que me invade por inteiro.
Na pútrida matéria descartável,
Exposta a várias cores do tinteiro;
Encontro meu destino inconsolável.
Vagando por amor tão “verdadeiro”,
As marcas deste rumo maleável,
Fagulhas que me queimam, vil braseiro...
Vestiste de pureza, podre atriz.
Nos ritos dos amores, foste vã.
Horrenda e tão profunda cicatriz...
És verme que minha alma creu divina,
Escondias pendores, cafetã
Disfarçada nos ares de menina...
X
7494
Cadê minha Tereza, foi pro mar...
Quem era ventania, virou brisa,
A morte traz medida mais precisa.
Quem fora majestade? Sem altar...
Depois dessa viagem, foi parar
Onde toda maré se torna lisa...
Tereza, bem distante, o mar avisa,
Que nunca poderei mais te encontrar...
Perdoe se não pude nem sentir
O que pensei doesse. Vou pedir
A Netuno que nunca mais te veja...
É tudo que minh’alma mais deseja,
Tua cabeça traga na bandeja;
Nem quero teu cadáver prá carpir.
X
7495
Quem dera se tivéssemos o canto
Que já foi esquecido pelo povo...
Justiça envergonhada fecha o manto,
Os velhos rapineiros estão de novo
Tentando exterminar dentro deste ovo
Abortam simplesmente todo encanto,
Pois tentam ressurgir com velho estorvo,
Espoliando tudo, nosso espanto...
Quem foi tão massacrado, noite escura;
Às vezes se esquecendo o que passou,
Juntando-se aos servis da ditadura,
Que fazem? Por que tanto se lutou?
Procuram na doença a sua cura,
Esquecem do dragão que a causou...
X
7496
Maturidade chega com a tarde,
Os meus cabelos brancos são emblemas.
A vida vai passando sem alarde
Não posso me esquecer de velhos temas...
Nas dores que vivemos, fui covarde,
Agora que envelheço, em outros lemas.
Por mais que sempre tente não retarde
O tempo não tem pena das algemas.
Nessa melancolia, meu retrato...
Ansiedade louca sem remédio.
A morte aproximando-se é um fato.
O mundo vai murchando pouco a pouco...
Não posso resistir ao duro tédio
Maturidade chega e fico louco...
X
7497
Desejo a ti: feliz aniversário
Que a vida te sorria mansamente.
O mundo tantas vezes temerário
Talvez se modifique totalmente
O sino rebimbando, o campanário
Está comemorando, pois pressente
Que este dia trará ao calendário
A marca de mudança e de repente
Se o homem perceber que nesta data
Alguém já poderá nos mitigar
A dor que se demonstra todo dia,
Assim a vida mostra e me arrebata
Trazendo mil motivos pra brindar
Com toda uma emoção, tanta alegria...
X
7498
Sabendo que o porvir é tão incerto
Que às vezes se fará em triste frio,
Se disso, companheira, eu desconfio,
Meu passo nos teus braços eu acerto.
Por mais que o mundo traga desconcerto
As águas turbulentas deste rio
Se acalmam noutras margens, noutro estio.
Oásis salvador de tal deserto
Tua amizade paira, deslumbrando,
Tornando meu futuro de outro jeito
Promessa que se faz e sem demora
Demonstra na verdade, aonde e quando
O dia nascerá mais satisfeito,
Na força da palavra redentora...
X
7499
Quem sabe desta vida, o seu engenho
Percebe quão são duras as andanças
Embalde tantas vezes, esperanças
Resumem, no final, de onde eu venho.
Se toda uma alegria assim mantenho
Pensando nas noturnas, boas danças,
Percebo que talvez as temperanças
Demonstrem ou resumam o que eu tenho.
Embora tantas marcas dos desgostos
Uma esperança ainda resta na alma.
Promessa de talvez, tranqüilidade...
Ao ver serenidade em alguns rostos,
E pressentindo um sonho que me acalma
Encontro lenitivo na amizade...
X
7500
Falando deste amor tão docemente
Em termos mais felizes, namorados.
Andando em liberdade, alcanço os Fados
E deixo que este sonho me avivente
Quem anda tão distante qual demente
Não sabe destes laços bem atados
Tampouco destes sonhos desfraldados
Que invadem seduzindo nossa mente.
Amar é ser feliz e ser honesto,
É ter solicitude, estando presto,
Voar sem ter as asas milagrosas.
Amar é ter engenho, saber arte,
Estar em pensamento em toda parte
Aonde recender olor de rosas...
X
7501
Amor que em tanta luta estende o braço em prece
Trazendo em esperança um breve pensamento
Amor nos atormenta e salva em um momento.
Um coração se mostra enquanto lhe obedece.
Se amor ao nos tocar, aviso já nos desse
Talvez assim já fosse a vida um só tormento
Amor não se prediz, é livre como o vento,
Seu passo pela vida, a própria sorte tece.
A quem amor se mostra? A quem está sujeito
A toda esta benesse: um sonho mais perfeito.
Não deixe que este amor que agora enfim te toca
Se vá insaciado, isto seria trágico.
Pois somente ele nos mostra um mundo novo e mágico
Aonde a claridade apraz e se retoca...
X
7502
No meu cabelo ao vento, quero pente,
Na minha mão sedenta, peço luva.
Como é cruel sentir a dor de dente,
Choveu mas esqueci meu guarda chuva...
Mordendo, teu veneno de serpente,
Quando passas, renovas passas, uva...
Como enxergo? Dos óculos és lente,
Nas baladas, embala enquanto groova.
Nem versos meus, conversas jogo fora...
Na partida parida pela guerra.
Se tanto quis outrora, quero agora.
Não sei bem certo, tudo que me encerra.
Só sei que no teu corpo – amada - aflora
O templo mais gostoso desta terra...
X
7503
Pútridas as manhãs
Às vésperas da morte
Sem vida ou amanhãs
Dispenso toda a sorte.
Vidas. Prá que; se vãs;
Vasculho cada corte.
Dores em noites cãs
Raios de duro porte.
Esqueço estas palavras
Forjo minha cantiga
Morte que traz em lavras
A companheira antiga.
Quem dirá que são parvas
As urzes da caatinga...
X
7504
Buscar a claridade em cada noite...
Ser vão e companheiro da verdade.
A noite perspicaz me traz açoite
O vento de meus sonhos, u’a saudade...
Não posso conviver com tanto engano,
Nem posso me deixar ao desatino...
O medo renovando torpe plano,
O canto da sereia é meu destino...
A minha alma procura por saída,
Nos teus braços remansos e delícias...
Venerando total e leda vida,
Já busquei por teus passos, nada encontro...
Desfrutei liberdades e malícias,
Nossa vida é completo desencontro...
X
7505
A dor se anuncia bruta,
Dor cruel que me destrata
A vida merece essa luta
Os brilhos desta cascata
Do meu peito colho a juta
Que plantaste, dor ingrata.
Tuas mãos, triste batuta,
Embrenham na minha mata.
A dor que fora primeira
Fez descanso no meu peito
Minou minha vida inteira
Não restou nem o direito
De buscar a companheira
Que me deixe satisfeito...
X
7506
Brindo outra vez, teimando no martírio,
Bem sei que me fugiste, sem perdão...
Busquei-te nas campinas como a um lírio.
O que causava inveja a Salomão...
Não mais esquecerei, nem em delírio,
As mãos que me afagavam, com paixão...
Não resta em meu altar sequer um círio
Qual fosse o coração, ateu, pagão...
Não mais quero tratar amor tão tétrico,
Nem quero percorrer teu céu sem lua.
Nas minhas serenatas, assimétrico,
O canto repetido te faz nua.
Meu verso vai quebrado, não é métrico.
Por isso tão distante alma flutua.
X
7507
O brilho do luar que já fulgia
Nas ondas deste mar demonstram Deus...
Na corte desses deuses resplendia
Nos sublimes altares fosse Zeus...
Delirando com néctar e ambrosia,
Os amores tivemos tão ateus...
Nos Olimpos nos Édens cercanias.
O brilho que roubaram, olhos teus...
Amada se não vejo teu sorriso,
De que me servirão meus pobres versos...
Não pude conhecer no paraíso,
Nas várias vastidões dos universos.
Nos campos e galáxias mais dispersos.
Não há nada no mundo mais preciso.
X
7508
Nossos sonhos, qual torres protegidas
Pelos deuses d’amor e pensamentos,
Se elevam levam livres movimentos
Carreiam cordilheiras, nossas vidas...
Nos andores, condores, despedidas,
Flutuam no sonhares meus tormentos,
Queixando-me, percebo tantos mentos
Tremendo, indo temendo as recaídas...
Nossos sonhos, discípulos, Morfeu,
Penetram nas penumbras, nos umbrais,
Deixando leve, breves festivais;
Por onde ondeavam maremotos,
Motivos e matrizes, modos, motos,
Remotos nossos sonhos, sorvem breu...
X
7509
No braseiro da tarde de verão,
Adormecida sonha com luares.
Delírios inconstantes, turbilhão,
Alcançam ferozmente seus sonhares...
Desgrenhados cabelos, multidão
De desejos transbordam nos altares
Escondidos no casto coração...
Cáusticos martírios loucos ares...
A mão que percebia sobre o seio,
Os dedos acalmando tal braseiro.
O mundo se desfaz em devaneio.
Nos rastros das estrelas, tanta sede.
A vida é um retrato na parede,
O sol tão penetrante, companheiro...
X
7510
Carrego estas tristezas no bornal
Herança que virou um duro fardo.
Nos caminhos que passo, tanto cardo,
Vagando em solidão, mar abissal.
Toda noite o vazio dá sinal,
O mundo nebuloso, um sonho pardo.
As dores desfilando em festival.
Solidão companheira, triste fado.
Meus males- as malas que carrego-
Não sei porto algum nem descarrego
A saudade que insistindo se avizinha.
Pesado; mal caminho e sigo triste,
Um sonho pirilampo não resiste...
Tanta dor neste mundo... Sempre minha...
X
7511
O fogo da paixão que tanto ardia
Moldando uma esperança onde prevejo
Virá com mais ardor nosso desejo
Alçando um novo tempo em alegria.
Apenas em carinhos se previa
Um mundo mavioso e tão sobejo,
Levando ao desencanto, o seu despejo,
Pois num canto se irmana a cada dia.
Nas chamas atrevidas, mais audazes,
Os lábios tão gulosos são capazes
De tantas peripécias num momento.
Enamorados vamos pela vida,
Reféns da fantasia que incontida,
Domando nos encharca o pensamento...
X
7512
Viajando ao terreno das promessas,
Não posso me furtar a ver teu rosto.
Nas fontes que bebi, em todas essas,
Não sorvi senão dores e desgosto...
Erraste, bem sei, louca me confessas,
Mas nunca mais terei um novo agosto,
Vencidos os venenos, pra que pressas?
Rei morto vem trazendo um novo, posto!
Amor, cadê teus olhos? Não os vejo...
Minha porta entreaberta não disfarça;
Se foste rato, sempre fui o queijo.
A peça que se finda, velha farsa;
As noites que perdi, cego desejo,
Deixaram, tão somente, esta carcaça!
X
7513
Mirraste tantas mãos que acaricias,
Verdugo que delira em crueldade.
Devoras sem temer, as fantasias...
Prazeres histriônicos, maldade...
Chacinas, aos teus olhos são orgias,
Despertas violências... Ansiedade
Demonstras quando vês torturas frias...
A morte que revelas cedo ou tarde!
Nas páginas sangrentas do jornal,
Ao delírio te levam tais notícias
Carnificinas trazes no bornal...
És pântano sedento de sevícias...
Abutre que deseja tanta morte
Aprofundando sempre imenso corte...
X
7514
Quando vou caminhando pelas ruas,
Muitas vezes me sinto machucado.
As pedras do caminho, duras, nuas,
Adentram pouco a pouco em meu calçado
Quantas vezes, sofrendo dores cruas
Nas curvas do caminho. Vou de lado.
Depois de ter perdido este solado,
Ó pomba, quanta inveja, pois flutuas.
Quando vejo mulheres, tão bonitas,
Calçando um improvável bico fino;
Ao bom Deus, pergunto: como acreditas;
Ser possível tamanho desatino,
Espremendo assim demais, arrebitas
Os cinco pobres dedos, num só pino...
X
7515
Os anjos que me beijam, compassivos;
Nas trevas e tabernas, tabernáculos...
Nas horas, orações, hordas, oráculos...
Deitados, languidez, os faz lascivos...
Os anjos, com seus seios, meus cativos...
Eu tento novo intento, seus tentáculos!
Eu espero espreitando os espetáculos.
Carinhos, meus caminhos decisivos.
Os anjos se guardando para a festa,
Idílio, novo exílio, quero a fresta
Por onde todo amparo faz-se trágico.
Os anjos penetrando os sentimentos,
São banjos, seus arranjos, meus momentos.
Encantos de esperança, canto mágico!
X
7516
No canto deste canário,
Encantos dum bem te vi
Natureza traz cenário
Beleza igual nunca vi.
Tristeza deixei n’ armário
Essa dor já esqueci...
Amor bom é solidário
Amor que nunca perdi.
No canto do trinca ferro,
A saudade deu um berro
Eu fiquei triste e tão só.
Cantando esse passarinho
Saudades tem do seu ninho.
Meu amor é curió...
X
7517
Não poderei ouvir o canto desta mata,
Nos frutos que preparo, as mãos da deusa Flora.
Nas hastes desta flor, no véu desta cascata,
A mãe natura em vão, ao homem tanto implora.
A lua traz decerto o brilho desta prata.
Percebo essa promessa, a natureza chora.
Quem ama não destrói, namora em serenata.
Quem sabe não discute agora, faz a hora.
Vestígios de queimada, anseios de vingança.
A fonte da vitória afoga essa esperança.
O mote que me deste enfeito nesta trova.
A mão que te tortura, um peso amargo e triste
O fogo te devora e mais tudo que existe.
Um homem não repara e cava a própria cova!
X
7518
Escutava o teu canto, longas noites...
E não tinha sequer as evidências
Lograva tais insanas penitências
Penetrantes, ardentes; feito açoites...
Não queria, mas vinhas... Vis pernoites
A cada instante; mágoas sem clemências,
A cada canto lúbricas demências...
Cantavas, procurando quem te acoites...
Nada mais me restou, zero ambulante
Os meus dedos, crivados por teus dentes
O que me sobra? Andar qual mendicante.
Farrapos que se seguem, de dementes
Sem amanhã; sem nada vou adiante?
Sem ironia, diga-me o que sentes.
X
7519
Cantilenas da frota
Corsário sem sentido,
Saudade que me corta
Noutras noites, olvido
Senda que segue torta
Sonho que vai perdido
Felicidade morta
Não ouviu meu pedido.
Escarpa? Eu não pulei
Meu barco naufragado
Mar que não naveguei
Canto desesperado
Amor que foi minha lei
Deixando-me de lado...
X
7520
Cadáveres carrego, bem pesados...
Amores e saudades sempre voltam
Nos sonhos, pesadelos, sinas, fados...
Tantas horas perdidas me revoltam
Pés cansados, imersos, afogados
Em plena comunhão, vultos escoltam...
Nas mantas, meus temores abrigados
Precisam de tais nuvens que se envoltam.
A vida foi passando de viés,
Saudades e esperanças; o que eu trago.
O mundo que pensei atou meus pés
Carrego minhas dores – turbilhões...
Todos os meus cadáveres; afago.
Cansaço de quem leva multidões!
X
7521
Fadas e gnomos, frágeis criaturas
Siderais te acompanham, nem percebes...
As delicadas bênçãos e ternuras
Estão a cada passo que concebes...
Nuvens, borrões celestes, nas alturas,
Observando teus passos nessas sebes,
Lacrimejam-se plenas, ficam puras,
Trazendo as doces águas que recebes...
Sedenta de carinhos, livre lebre,
Saltando por meus sonhos, nas campanhas,
Ardendo teu amor em louca febre,
Os olhos que te querem... pirilampos;
Nas altas cordilheiras, nas montanhas,
Procuro teu amor por belos campos...
X
7522
Caminho sobre urtigas, urze, erica...
Meus passos se perdendo neste pasto.
Fulvos, os meus desejos, vida rica,
Nos peitos delirantes, sonho casto...
Não posso nem pedir, mas sei que fica
O gosto da saudade, amor bem gasto
As luvas dos meus sonhos, sei pelica,
Nos versos, minha vida já contrasto...
Nas pedras, corredeiras, seixo e lodo...
Os caules dos arbustos espinhosos;
Pairando sobre mim, um triste engodo...
Nas fontes exauridas, mato a sede...
Perfumes que pensei ter; olorosos,
Meu sonho? Estar deitado em uma rede...
X
7523
Caminho Santiago, Compostela,
Nas rotas dos romeiros Juazeiro.
Nos raios deste sol, ventos e vela.
No mundo dos migrantes, um luzeiro...
Nas rezas nas oradas, na capela,
Amor que se derrama verdadeiro.
Esperança que sangra se revela,
No pátio deste mundo sorrateiro...
Aparecida traz seu santuário,
Os homens agradecem, procissão...
Nas rias das urgências estuário...
No medo se comprova a devoção.
As tristezas guardadas num armário,
Esperança acalenta um coração...
X
7524
A minha alma ecoando busca a tua,
Nessas fráguas, as mágoas queimam, tanto...
Amiga, me permita teu encanto,
Talvez, um dia, venhas bela e nua
Nas noites que imagino, minha lua...
Respiro seus venenos, lentos, pranto...
Amor divino, cego, louco, santo,
A cada dia, a dor vem, continua...
O vento e madrugada, nova dança;
Nas estradas, atalhos d’esperança
Levam ao nada, nada, simples nada...
Caminhemos distintos caminhares,
Naveguemos por mares, por vagares
Que, afinal, voltarão por essa estrada...
X
7525
Caminhante perdido sem ter trilhos,
Desconforto gigante em impotentes
Passos que se fazem andarilhos
Buscando outro caminho, outras vertentes.
Encontro na verdade os empecilhos
Comuns da miopia que sem lentes
Confunde seus amigos com caudilhos
E rosna pra quem ama, unhas, dentes...
A sonda que lancei, sem ter resposta
Sonares se perderam neste mar.
Porém pele curtida cria crosta
E aos poucos se transforma na couraça
Que penso proteger do que encontrar...
Só resta uma saudade e a vida passa...
X
7526
Meu verso se encontrou em plenitude
Dizendo simplesmente todo o sonho
De ter sempre o bom senso e juventude
No que se fez completo e bem risonho.
Que o tempo nos impele e nos ilude.
Um mundo bem melhor: eu sempre sonho.
Decerto em outros templos tudo mude
Porém quero um viver menos tristonho.
E digo deste modo,o que pressinto
Sorvendo todo o mel que me permites.
Concedes teu prazer, desejos, sinto.
E quero ser só teu. Em todo verso
Demonstro sentimento sem limites
Vencendo o duro medo de ir disperso.
X
7527
Moleque quando andava nas calçadas
Bem reparava a bela que subia,
As saias pelos ventos levantadas
Deixando a molecada em euforia.
As frutas dos vizinhos, se roubadas
Traziam para a turma uma alegria,
Depois nos campos- várzeas, as peladas
A gente foi feliz, disso eu sabia.
Agora uma barriga que é burguesa
Se lembra das lombrigas e cupins.
A mãe chamando a turma para a mesa,
Café com broa, pão, doce de leite.
Bermudas de Tergal, nada de jeans.
Viver era tão bom: doce deleite...
X
7528
Caminhando busquei novas manhãs.
Os ventos tempestades me queimaram...
As mãos se esfarraparam, foram vãs,
Os tiros e canhões dilapidaram...
Nas tentações profanas das maçãs
Dos sonhos, pesadelos me sangravam
As noites solitárias são malsãs
Meus sonhos – liberdade - já calaram...
Os dias que se mostram mais saudáveis
Rapinas, tentam loucas; destruir.
As dores se tornando insuportáveis,
Vorazes, as tristezas não disfarçam
E querem nosso amor já destruir...
Bicos esfomeados, tudo caçam...
7529
Minha alma tão voraz, desconhecida
Sorvendo mil pecados me amofina
Quem dera se encontrasse uma estricnina
Talvez tivesse a sorte resolvida.
A morte que se mostra como sina
Pudera reservar em outra vida
A cura procurada e descabida.
A mente que pairando se alucina
Encontra tão somente uma resposta
Que possa refazer sem sofrimento
Depois de ter cortado a carne em posta
Um vento mais suave em liberdade
Batendo na janela num momento
Demonstra bela estrela na amizade...
X
7530
Amiga, qual fantasma que sem rumo
Vagueia pela noite em hora morta,
Batendo firmemente em tua porta
Na busca por apoio e certo prumo.
Meus erros reconheço, enfim, assumo
Nem mesmo esta certeza me conforta,
Mesmo arrependimento também corta,
A vida vai perdendo assim seu sumo.
Temendo que me atinja tal desgraça
Tocando bem mais fundo em minha pele,
Sobrando tão somente os meus destroços,
Fantasma que se esconde na carcaça
E a quem a própria vida já repele
Agarra tuas mãos em ermos poços...
X
7531
Em nome da amizade que nos une
Eu peço mil perdões pelos enganos
A vida, na verdade já nos pune
E impede que sigamos velhos planos
Na fúnebre saudade que hoje trago
De um tempo mais sincero e mais feliz
Amiga, necessito o teu afago,
Não quero mais a morte que prediz
Quem sabe desfiar tantos segredos
Na astróloga vontade de saber
Aonde se encontraram nossos medos
Por onde salvarei meu bem querer.
Eu peço, encarecido, então, querida,
Que salves com perdão a amarga vida...
X
7532
Não vejo mais promessas nem premissas
Apenas açucenas, cenas sãs,
Nas massas, nas remessas, nessas missas,
Que vagam pelas vagas, vastas, vãs.
Bem cedo os vendavais e as tempestades
Nas pestes tantas vestes santas ceias...
As mangas os ingás e as saudades
Das massas, das maçãs e das sereias...
Não vejo meu desejo noutro verso
Que inverso vai reverso e quase cheio...
Unidos pelos versos, universos
Que quase se quedaram corte ao meio...
Não quero mais os imãs nem rastejo.
Desejo teu desejo em meu desejo...
X
7533
Eu vivo neste espaço mal servido
Entre as minhas pernas e meu sonho...
Demônios e fantasmas que duvido
Estejam nesse mundo que proponho.
Mas vestem solidão tal qual vestia
Aquela que não fora tão ingrata.
A noite transbordando em pleno dia
Invade e desanima quem maltrata.
Eu quero não poder ser mais assim,
Amante deste mundo tão raquítico
Vivendo sem saber sequer o fim,
De todos os meus mundos forte crítico.
Embaço essas respostas neste vento,
Levando bem mais forte o sentimento...
X
7534
Penando sem ter pena de ninguém
Apenas quando iludo o coração
Sem coragem de ver se a noite vem,
Eu perco desse barco o seu timão.
E rudes meus caminhos perdem mar
Nas ânsias mais frenéticas por vida.
Ávida desta vida e tanto amar
Nas pedras e nas perdas, vai perdida...
Pensando que se pena sem ter nexo
Complexos diversos se convergem,
Vergéis de rara cor formando um plexo
Por onde nossas matas já se elegem
Fuligem de minha alma sem lareira
Que esquente e que me aqueça a vida inteira...
X
7535
Peço-te, nos percalços desta vida,
Tantas vezes sofrendo essa saudade;
Que maltrata e talvez bem merecida,
Não deixa respirar felicidade...
Devolvo-te a promessa deste amor
Que já se adormeceu tão solitário
Não deixando nem escombros, nem sabor.
Rio sem ter o mar como estuário...
As sombras do que fomos perambulam,
Os olhos carregados já lacrimam...
Meus pés sem ter o chão, sonambulam.
De tanto que nos demos, não se rimam
Apenas o silêncio desabando,
Amores, andorinhas, triste bando..
X
7536
Ao passares, cobiçada pelas ruas,
Não vês o meu olhar quase faminto.
Acendes um vulcão que esteve extinto
Dando a impressão, querida, que flutuas.
Sem olhar para trás tu continuas
E em cada passou teu, meus sonhos pinto.
O que pensam de um velho tão distinto
Imaginando a moça toda nua?
Bem sei que não teria qualquer chance
Mas te agradeço, enfim, de qualquer jeito.
Sentindo em cada passo num nuance
Que a vida permanece resistindo
E o sonho com certeza é meu direito.
E o mundo, enfim, deveras, é tão lindo...
X
7537
Que eu não caia; querida, em teu rancor
Palavras que tu soltas a ferir
Quem teve insanidade de pedir
Tua clemência feita em puro amor.
Janela que entreaberta vem propor
Tua presença, alheio e sem fugir
Do sol que um dia veio refulgir
E este cenário raro a se compor.
Bem sei que voltarás e num instante
Repleta de vinganças odiosas
Podando as esperanças; frágeis rosas
Que cismam em tentar sobreviver
E o fogo em crueldade, delirante,
Virás em descaminhos, acender...
X
7538
Quem fora, segue seu caminho, louco...
Meu movimento vai seguir meu canto.
Não poderei mais, nem mais quero...Encanto
Que vem, num grito, me deixando rouco...
Vida perturba, solidão, sufoco,
Nada mais triste que secar seu pranto...
Meus olhos miram nos teus olhos, tanto
Que me corrói, assim, matando um pouco
Do que restara de meus dias, Carla.
Quando te vejo, andando pela sala
Tua nudez transformando tudo...
Tua beleza, vai vagando a esmo.
Nesse reflexo, procurar eu mesmo,
A cada passo, mas não falo, mudo...
X
7539
Nostalgia e dolência nesta tarde...
Carinhos imortais da amada bruma...
A noite me trará embora tarde,
O gosto da explosão, marinha espuma!
Quem ama não precisa deste alarde,
Espreita um caçador, um salto, o puma...
Olhar que no infinito, ferindo; arde,
Não pode descansar de forma alguma!
Espasmos da luxúria florescentes,
Noctívagos delírios vampirescos...
Meus sonhos, meus amores, são dantescos.
Aguardo, calmamente a minha morte.
No fundo, meus defeitos, indecentes,
Misturam-se num gozo louco e forte.
X
7540
Amor que me deixou tantos cilícios,
Dos ócios meus pecados revestidos.
Mergulho por ferozes precipícios,
Abismos mais profundos, desvalidos.
Da morte que procuro, nem indícios...
Clareiras e cascatas dos sentidos
Denotam meus horrores e meus vícios...
Os prazeres, as dores, nos gemidos...
Carinhos congelados, meu velário...
Exponho minha entranha e meus desejos...
Da vida, meu farnel, meu relicário,
Carrego teus relevos u’a fornalha...
Troféus que levarei, teus falsos beijos,
Teu gozo me servindo de mortalha!
X
7541
Nas melífluas carícias, os teus passos.
Nesse teu sonho diáfano, macio;
As mansidões serenas... Belo estio,
Carinhos, madrigais em nossos laços.
Quem fora resistência, passos lassos,
Caminha pela sala... Águas de um rio...
Fantasias que crias? Ouço e rio.
Nas nossas festas, praças, luzes, paços...
Nas tuas noites, nossa paz, concertos...
De todos os meus erros sem consertos,
Perder-te é o maior de tantos medos;
Amores que fazemos; mil sessões.
Já me deste os teus sonhos. Tais cessões
Desmascaram todos os segredos...
X
7541
Amiga tantas vezes esbocei
O teu retrato em formas tão diversas
Bem sabes que no fundo eu procurei
Te conhecer usando estas conversas
Que já tivemos. Nunca te encontrei
Quebra cabeças mostra em suas peças
Além do que num dia imaginei
Em palavras e frases tão dispersas.
Os pântanos guardados dentro da alma
As rochas que protegem teu recanto.
Um poço já lacrado no passado
Porém tua presença sempre acalma
E venho agradecer, mas; entretanto,
Queria amiga estar sempre ao teu lado....
X
7543
Parece tantas vezes ser fatal
A dor que nos atinge e tão-somente
Uma amizade mostra-se ideal
Como aliada sempre e firmemente.
Por isso, companheira e camarada
Encontro em teu apoio esta firmeza
Para enfrentar o medo e a geada
Numa esperança clara, uma certeza
De que a vida será bem mais feliz
A quem já sofreu tanto no caminho.
Cevando no meu peito a flor de lis,
Cuidando deste afeto com carinho.
Meu verso te agradece tanto, tanto,
Amor: doce refrão em nosso canto...
X
7544
Perceba que minha alma está ferida,
Lacrada, destroçada pelo vento...
Mortalha caminhando em plena vida.
O luto não me sai do pensamento.
Levaste, sem saber, rumo e guarida;
Deixaste neste escambo, sofrimento...
Não vejo mais a lua Aparecida
Sumiste nos espaços. Peço ungüento.
Misturo meus delitos e meus erros.
Procuro teus olhares, altos cerros,
Não vejo nem sinal da criatura
Que tantas vezes trouxe-me ternura.
Procuro por teu rosto. Noite escura
Reflete meu olhar. Caricatura...
X
7545
Quando chegaste, mansa; não a vi.
A vida preparando tal surpresa
Com pensar vagamundo, nem senti
O aroma que exalavas. Sendo presa
De problemas sutis, estava aqui,
Mas minha alma vagava enfim tão tesa
Que em ti não reparei nem percebi.
Talvez por um instinto de defesa
Já que amor é assunto delicado
P’ra quem sofreu bem mais do que o costume.
Depois de certo tempo, fui tocado
Pela beleza intensa de uma flor
Além da raridade do perfume.
Fui ver: desabrochou em mim o amor...
X
7546
Teu silêncio transborda dentro da alma
E deixa-me calado em mansa espera.
Mesmo sem palavra, amor acalma
Legando à quietude a bruta fera.
Amanhã, novo dia nascerá
E assim talvez resolvas me falar,
Um sol em outro tempo brilhará
E a vida novamente irá dourar
Com pássaros voando em canto leve,
Com peixes refazendo a piracema
E o fumo da esperança embora breve
Fará ressuscitar um velho tema.
Amar é refazer eternamente
Um ciclo que se forma novamente...
X
7547
Eu perdi o meu coração no empoeirado caminho deste mundo;
Mas tu o tomaste em tuas mãos.
Eu buscava alegria e apenas colhi tristezas;
Mas a tristeza que me enviaste tornou-se alegria em minha vida.
Os meus desejos se espalharam em mil pedaços;
Mas tu os recolheste e os reuniste em teu amor.
E enquanto eu vagava de porta em porta,
Cada passo meu estava me conduzindo ao teu portal.
Meu Coração
RABINDRANATH TAGORE
Meu coração perdido na poeira
Ao ser tomado amor, em tuas mãos,
Quem teve só tristeza; companheira,
Quem teve tantos dias sempre vãos
Verteu tua tristeza em alegria.
Espalhei meus desejos pelo mundo
Enquanto o teu amor os recolhia;
Dando um sentido mais profundo
À vida que eu tivera sem destino
Vagando porta em porta, descaminho
Agora ao perceber, quando me atino
Já vejo que não sou mais tão sozinho.
Pois cada passo, vagando pelo astral
Levava – doce amor – ao teu portal...
Obs Fantasia feita em soneto sobre obra de Rabindranath Tagore
X
7548
Adentro na paixão, dura peleja
Por vezes na batalha saciado,
Meu dia vai além do que deseja
Um sonho que se mostra iluminado.
Por mais que dura, a vida, sempre seja
Quem dera se eu ficasse – amor – ao lado
Desta mulher que tenho desejado
E pela qual meu mundo já viceja.
A natureza se molda soberana
E trama o doce amor, em tal beleza
Que às vezes o destino nos engana
Encenando outros atos de outra peça.
Mas saiba que por fim tenho a certeza
E não há nada, amor que nos impeça...
X
7549
Quem pensa tão somente em hierarquia
Pensando ser assim superior
Não sabe quanto a campa se faz fria
Depois da morte nada tem valor.
A solidão futura, mais sombria
Última companheira a te propor
Um pouco de saudosa nostalgia
Distante de quem fora o teu amor.
Apraza- te um vazio tão profundo?
Pois saiba que na terra mais mesquinho
Encontra esta igualdade noutro mundo
Banquete para os vermes. Pequenez.
Por isso, quem viveu sempre sozinho
Carinhos que terá: primeira vez...
X
7550
Altares dos meus sonhos, são imensos
Imersos em vazios sentimentos,
Remeto meus desejos nestes ventos
Amparo tantas dores, alvos lenços.
Tantos fiascos tive, tempos tensos,
Nas lâmpadas das almas nos tormentos
Envolto pelas trevas, sofrimentos
Amores são meus templos tão intensos.
Os gládios que levanto na batalha,
As hastas empunhando sem temor.
O canto de terror quando se espalha
Conclama tantas vezes, nunca pensa.
Porém já me avisando que este amor,
No fim da vida traz a recompensa.
X
7551
Nos montes ascendendo perto ao céu
Com lumes e perfumes lua e rosa.
Amor que te dedico; e vaidosa,
Espero que mantenhas alvo véu
Pureza dentro d’alma em carrossel
Vagando por destinos, olorosa
Se vences ou convences belicosa
Não quero teu destino, pois cruel.
Mas vago por teu colo, sem sentido.
Invado tuas vagas e vergastas
Por mais que me conheças decidido,
Sou farto e não me canso de loucuras
Amor quando em amores tu desgastas,
Preâmbulo de males e torturas.
X
7552
Há tempos nossos sonhos reunidos
Bastião que se fez contra as desventuras
Lutando contra as formas de torturas
Que tocam nossos nervos e sentidos.
Os dias mais difíceis já vencidos
A tarde se promete em mil venturas
Porém os sanguinários temem curas
Invadem nossos sonhos distraídos
E mostram suas garras mais cruéis
Arrancando os pedaços desta gente.
Secando tantos potes, negam méis
Carinho tendo multiplicidade
Talvez inda nos reste, tão somente,
Na força soberana da amizade...
X
7553
Quem quer os sacrifícios do cordeiro
Esquartejando uma alma em sangue frio
Não sabe quando amor é verdadeiro,
Mostrando-se cruel e mais sombrio.
Deixando por herança um podre cheiro
Que exala o ser humano, cão vadio,
Matando já de cara o seu herdeiro
Na profusão do nada e do vazio.
Nós somos agiotas desta Terra
Tão extorquida em saques violentos.
Porém, dentro do peito já se encerra
A solução que mostre esta verdade:
Os dias não serão tão virulentos
Somente se reinar uma amizade...
X
7554
A vida se mostrando um labirinto
Tramada sobre as formas de um mistério.
Pois do útero materno ao cemitério
Vivemos tão somente por instinto.
Além do que procuro o que mais sinto
Se mostra sob o céu, um mar etéreo
Até que o golpe venha, enfim, funéreo
Das cores do ambiente eu já me pinto.
Quem anda na total obscuridade
Não sabe deste lume que virá
Em forma de carinho ou crueldade
A sorte noutras plagas vingará
Porém se tenho em vida uma amizade
A paz tão redentora chegará...
X
7555
Se forem teus desejos que eu me perca
Da sorte que prenúncios adivinho.
Amores que vivendo vêm acerca
De tudo que perdi, humilde ninho.
Vencido por quem sabe ser não manso
Esparso minha voz por alamedas.
Deveras teu desejo eu não alcanço
Sem olhos, pois os meus há muito vedas.
Definho sem ter pasto, em desamor.
Calçado desta estúpida saudade
O fato de tentar viver sem por
Meus dedos na ferida, falsidade.
No manto que em espaços viverei
Amar demais será sempre uma lei.
X
7556
É tanto amor assim que me alucina
As bocas se procuram, tiram saias.
Encontro de diversa melanina
Meus mares invadindo essas praias.
Vivemos nos encontros, noites-dias
O brilho do meu sol em tua lua.
Criamos desse amor, as fantasias
Belezas dessa deusa toda nua...
Minha rainha d’ébano, ternura...
Dessa boca vermelha, tão carnuda
O beijo mais voraz mansa brandura
Atiça todo sonho, se desnuda...
Nas garras dessa deusa, mansa fera,
Um misto de princesa e de pantera...
X
7557
Meu pensamento envolto num lamento
Calando em seu tormento, minha voz.
Sagrando contumaz pressentimento
Que torna o meu viver, decerto atroz...
Que resta de meus sonhos? Quase nada...
O canto que te trouxe queda mudo.
A mão que acaricia a minha amada,
Retalha meu amor em quase tudo...
A vela da esperança então se apaga,
E nada do que fomos já me resta...
Dos mares que navego, louca vaga
Remete ao sentimento que me empresta...
Amor que em tal tormenta já soçobra.
Contento com os restos que me sobra...
X
7558
Quem dera ser amigo deste amor
Que não me deixa nada senão mágoas,
Vasculho os universos sem rancor,
As lágrimas desbotam, turvas águas...
Quem sabe se esse amor, sendo meu par
Pareça e se despenque nessas tramas,
Que trazem minhas luas ao teu mar
E nossas amplitudes, mesmas chamas...
Beijando quem se beija por desejo
Ensejo neste beijo meus guardados,
Se versos não concebo nem versejo,
Os olhos que me deste, bem amados...
Quem dera se soubesses do perigo,
Fazer de louco amor, um seu amigo...
X
7559
Envolto nos carinhos da tigresa
Que sempre me inocula mais veneno,
Quem sabe faz agora e já põe mesa,
Sabendo que este mundo é bem pequeno.
As cores que te prendem me retratam
Em formas mais carnais esse desejo
Se matam não mais sangram nem retratam
O canto de um passado em realejo.
Na rigidez das mãos que me carinham
Os cantos que fizemos deste barro
As noites sem teus seios se avizinham.
Amor que se pretende mais bizarro,
Acendo no teu carro minhas dores,
Jardins que nós plantamos: cadê flores?
X
7560
Dementes os sentidos que te prendem
Atendem entre dentes e mordidas
Ácidas as peçonhas que pretendem
As serpes sempre são mal resolvidas...
Vestidos de bizarras tempestades
Que mentem tão somente quanto tentam
Sombrias as fagulhas de inverdades
Que logo quando nascem, me atormentam.
As carnes em dentadas dilaceras
Passando pelos dentes afilados,
Recebo os teus bafios, quais de feras
Destroços que desejas desfiados.
Não temo mais teu hálito nefasto
Pois tudo o que já fomos, nem pro gasto...
X
7561
Rosas brancas vertidas em sanguíneas
Estorvam meus caminhos pueris,
Quem sabe se seguisse essas alíneas
Talvez, em conseqüência, mais feliz.
Recordo dos pilares da existência
Quando em tramas inocentes não temia
Agora não concebo consistência
Na boca perfumada e tão macia...
As aves que trouxeram meus caminhos
Depuram cada vez mais a mortalha
Sabendo que me perco em tantos ninhos,
Apontam para o campo de batalha...
As rosas que enrubesces com desejo,
Forjando, martirizam meu versejo...
X
7562
Os raios deste sol que não te alcançam
Se cansam de buscar o girassol,
E dançam simplesmente e se esperançam
Fazendo de seus braços novo sol.
Nas plêiades encontras outras chamas
Armadas sem saber de tantas luzes.
Embrenhas nas escoltas que reclamas
E matas sacrifícios vãos das cruzes.
No sonho que me dono e tu medonhas
Adornas os destinos, abandonos...
E sabes que nas noites que não sonhas
Amores com rumores querem donos...
E vamos transtornados ao futuro
Sombrio que navega em mar escuro...
X
7563
Querida, noutro amor eu me encontrei,
Distante das mentiras que disseste.
Um mundo sem promessas; desfiei,
O vento que me sopra é inconteste.
Quem fora teu cativo, agora é rei,
A sorte finalmente assim, me veste.
Fugiste dos meus braços para além,
Bebendo noutras bocas a saliva
Que um dia demonstrara o nosso bem,
Matando uma esperança sempre viva.
Agora que encontraste um outro alguém
Espero tua vida sempre altiva..
Mas digo que jamais encontrarás
Amor como eu te dei. Mas vá em paz...
X
7564
Na menina dos olhos de quem amo,
Eu vejo minha imagem refletida
Ecoa minha voz quando te chamo
Minha alma na tua alma vai perdida...
Nós somos mesmo galho e um só ramo,
Atadas nossas luzes, mesma vida.
Nascemos um para outro, não duvido,
Juntando nossos corpos, somos um.
Vivemos deste sonho repartido
Não nos afastaremos, modo algum.
Meu passo sem teu passo, desvalido,
Tu sabes que sem ti eu sou nenhum...
E vamos, mundo afora em mesmo prisma,
Jamais em nossos dias, qualquer cisma...
X
7565
Por vezes necessito ser guerreiro
É quando a tempestade já se assoma
E torna o meu destino prisioneiro
E o nada num segundo enfim me doma.
Porém ao ter abraço verdadeiro
A vida se refaz em nova soma
E o mundo se mostrando companheiro
Com toda força chega e assim nos toma.
Meu coração não teme mais arenas
Distante dos vorazes cães, hienas,
Abutres que nos bicam sem parar.
Na força, com certeza, da amizade,
Encontro todo apoio e na verdade
Consigo bem mais forte caminhar..
X
7566
Palavras que benditas vão inclusas
Nos versos de amizade que me trazes,
Tu moldas perfeição em poucas frases
Erguendo sempre um brinde às belas Musas.
Outras situações são tão confusas
Num misto de guerrilhas entre pazes,
Ditames quase sempre mais audazes
Em mentes que se mostram mais obtusas.
Esta energia move todo o mundo,
Fazendo um coração sentir profundo
O toque de um amor que sem receio
Perfaz uma esperança de um estio,
Trazendo tanta luz em céu sombrio
Levando uma pura alma a um santo veio...
X
7567
Amigo me perdoe quando calo
O mundo parecendo uma mentira
Vencendo todo encanto de uma lira
De amores, na verdade sempre falo.
Quem vive neste mundo sem amá-lo
E como numa esfera volta e gira
Apenas tanta pena já me inspira.
Difícil de entender e perdoá-lo.
Amor que com certeza é bem sagrado
E deve ser assim eternizado,
Pois segue-nos do berço até sepulcro.
E toda sorte faz-se alvissareira
Numa amizade plena e verdadeira,
Que desta Terra deve ser o fulcro...
X
7568
O mundo pra sorrir tem um motivo
Que é feito numa luz tão deslumbrante
De um dia com certeza alucinante
Trazendo um sentimento sempre vivo.
Um coração sincero perceptivo
Já sabe do que falo neste instante,
Há tempos Deus nos deu um ser gigante
Que pleno de bondade, de amor altivo
Percorre como um anjo, nossas casas,
Trazendo sempre o bem, sem querer nada,
Presença que garanto é desejada
Por todos que conhecem tantos bens.
Por isto é que esta data é bem marcada
E serve pra te darmos parabéns...
X
7569
Nos cristais do sorriso, querida,
Meus desejos são tantos, eu sei.
Não me basta saber se vencida
Outra noite, sozinho, eu terei.
Mas se vens com teu canto mais puro,
Minha vida, sorri, pode crer.
O chão triste, tão trágico e duro,
Só amor pode assim, refazer.
Meus desejos, por certo infinitos,
Sem temor, solidão já se vai.
Quem já teve seus sonhos aflitos,
Sabe bem quanto amor sempre atrai.
Nas visões, os arcanjos alados,
Os meus beijos serão; todos, dados...
X
7570
Nesta cova que herdaste por consolo,
Toda herança maldita que sobrou,
Vivendo deste imenso e seco solo,
Somente o que contigo carregou;
Amigo, neste mundo em que me imolo
Percebo que de nada adiantou
A cruz em que o cordeiro consagrado
Há tanto tempo morto, em sacrifício,
Deixada como um sonho abandonado,
Tornando-se pra muitos seu ofício.
No sangue há tanto tempo derramado,
A flor que mais cresceu foi a do vício
Espalhado pela terra, em tantas faces
Moldadas, escondendo mil disfarces...
X
7571
Amada, no teu canto tão sensível,
A voz de uma esperança se faz forte.
Por vezes, não percebo quão incrível
A mansidão que traz amor e sorte.
Querida a tua mão toca, invisível;
Não há nada no mundo que conforte
Mais do que este carinho. Incorruptível
Sensação de alegria não comporte
O mundo. Minha amiga eu tanto te amo
Que nada levará meu sentimento.
Talvez esta emoção com que conclamo
A luta benfazeja pela vida;
Reflita nestes versos num momento;
Que a paz no amor jamais seja vencida!
X
7572
Amor que se permite essa emoção
De ser o menestrel do sentimento,
Receba esse meu canto em oração,
Palavras que não são soltas ao vento...
São mansos como a noite, estes meus versos,
Pois sabem dos amores que mais sinto,
Vividos pelas noites, vão dispersos,
Bebendo nosso amor, que é doce e tinto.
As rimas que produzo sempre falam
De tudo que se vive, sendo puro.
Amores que no peito nunca calam,
A cada novo canto, novo apuro...
Amor tão perolado que rebrilha,
Em cada novo sonho, maravilha...
X
7573
Levaste meu sorriso nos teus olhos
Sorrindo pelas ruas, sem juízo.
Não pude perceber, carrego antolhos
A fuga de quem teve em seu sorriso
Mentiras sacrossantas, santos óleos
Da santa que se deu em paraíso,
Colhendo da vingança em vários molhos
Escapa de meus dedos sem aviso.
Levaste os velhos planos que sonhei
Enganos que plantaste, eu recolhi.
Apenas o que vivo estava em ti
O gosto da mortalha que deixaste
No coração que, em mãos, eu te entreguei;
Somente este cadáver; não levaste...
X
7574
Amor eu te perdôo quando fujo
Nas noites em que quero outra aventura
Em braços diferentes quando surjo
Em busca de carinho e de ternura.
Querida eu te perdôo, sou sabujo
Que vive o tempo inteiro na procura
De um caso diferente, mesmo sujo
Na boca de quem morde com loucura.
Amor eu te perdôo tua espera
Por quem não voltará de madrugada.
Depois despisto amanso, acalmo a fera
Que insiste em transtornar: revolução.
Sabendo que virás desesperada,
Preparo para ti o meu perdão...
X
7575
Felicidade, pérola tão rara
Que em meio a tantas ostras procuramos,
Da dor em que se gera, se antepara,
Explode em maravilha, quando amamos...
Quem dera se tivéssemos colar
De tantas raridades pela vida.
Ensina-me depressa como amar,
E venha junto a mim, minha querida...
Quem sabe poderemos ser felizes,
Embora o sofrimento seja duro,
O dia se renasce em mil matizes
Depois do negro céu, por certo escuro...
Amor que se cultiva em plena febre,
Se cuida que essa pérola não quebre...
X
7576
Sinto quando tu falas tal perfume
Que em ondas formam frases e sentidos,
São tantas essas ondas, tanto lume,
Trazendo tantos sonhos esquecidos,
Beijando minha praia já me abraçam
Na areia onde me encontro te esperando,
Desejos nesta praia, as ondas traçam,
E vão tão de repente, dominando...
O teu falar me toma antiga calma
E mostra-me a umidade deste amor.
Que banha meu querer no corpo e na alma,
Invade tão depressa, em louco ardor...
Amor, ondas, areia tudo encanta...
Me banha tão feroz enquanto canta...
X
7577
Na ausência deste amigo que partiu
Por distantes caminhos dos meus olhos...
Na ausência de flores que se viu
Dos antigos buquês, de tantos molhos...
Na ausência dessa luz em nossa noite,
No brilho que tu brilhas por quem és...
Das longas caminhadas, desse açoite
Que corta e que maltrata nossos pés...
Na ausência do canto em serenata
Que em toda madrugada te acordava,
De pássaro canoro nesta mata
Que todo alvorecer anunciava.
Na ausência disso tudo, de calor...
O que salva: a presença deste amor!
X
7578
Meu verso é carinhoso como o cardo
Encardo e sou birrento pra valer...
Depois de tanto peso e tanto fardo
Agora em liberdade, quero ver!
Sou caça que me caço e não me canso
Avanço e se quiser te mostro o ranço.
No fundo do quintal eu sempre danço
E se passo, passo a passo, não avanço...
No ritmo que embalava nossa dança
A moça se cansava e não dançava...
Agora que essa noite já me alcança
A moça que eu queria nunca amava...
Palavra que te quero mais feliz,
Dançando nessa dança, que te fiz...
X
7579
Amor! Quando escutei a tua voz
Não pensei duas vezes. Te obedeço!
Mesmo que dolorida, duro, atroz,
No teu caminho; amor, me reconheço...
Quantas vezes, neguei o teu chamado...
Sozinho, arrependido, e tão vazio;
Procurava escutar, tempo passado,
Mas nada... tu voavas... Que fastio!
Depois de tanta dor e solidão,
Depois de tantas noites te esperando...
Amor, eu te buscando na amplidão,
E somente esse nada inda ecoando...
Amor, tua voz próxima de mim...
Serei, quem sabe... Então, feliz enfim?
X
7580
Quando te vi; cansada viajante,
Eu nunca poderia adivinhar,
Que, na vida, tu foste tão constante.
Embora nunca pude te encontrar...
Eu bem sei de teus passos; uma errante
Companheira noturna do luar.
Sempre perto, sentida tão distante,
Navegante de todo céu e mar.
Amiga, bem tentei te conhecer,
Pois nunca me mostraste tua face,
Não pude nem querer saber por quê.
Pois só me permitiste teu disfarce.
Procuro e nada encontro, pois, cadê?
Muitas vezes, difícil te saber...
X
7581
Ouvindo tua voz na noite fria
Me lembro do verão do nosso amor.
Do tempo que passamos no torpor
Que sempre prenuncia a fantasia.
A boca que beijava e me lambia.
Delitos do prazer, ondas, calor.
Espinhos que sangravam, dor e flor.
Gemidos e delícias, sinfonia...
O tempo não perdoa, tudo acalma.
Loucura se transforma em morna calma.
As noites se esqueceram desse estio...
Porém, na transparência, camisola.
Meu verso, em disparada, nos consola
E a noite se promete, louco cio...
X
7582
Amor que tenho tanto, manso e puro,
Encanto que por Deus abençoado
Por uma paz celeste assegurado
Em mares e tempestas vai seguro.
Tenho nele a certeza que procuro
Do bem supremo sempre bem formado
Clareia todo negro rumo escuro
Trazendo a mansidão do bom futuro
Matando a solidão do meu passado.
Amor que nada sangra nem destrói
É sempre afirmação de belo estio
Impede a sensação do duro frio
É lua que não deixa a tempestade,
É rumo que me forja e me constrói,
Certeza de eternal felicidade...
X
7583
Meu verso parecendo um passarinho
Em busca das mentiras que me deste.
Vagando pelo mundo estou sozinho,
Talvez uma saudade, o que me reste.
Vencido pelas pedras do caminho
Entôo meu cantar que me reveste
Das dores em litígio, vasto ninho;
Com fome e com certezas, pão e peste.
Destino sem sentido nem promessa
Escondo meus olhares nos teus seios
Nos olhos que me dás não se confessa
O tempo que passamos sem receios.
A vida sem querer, pegando peça,
Transforma em agonia meus anseios...
X
7584
Pensamentos cortando meu poema
Em versos e palavras sem tormento
Aumento minha dor em pensamento
A cada novo tempo que não tema
O tempo que se porta como lema
Não vaga minha vida sendo isento
Profana meu gentil comportamento
Nas ramas deste mar por certo rema.
Nem todas as virtudes que louvamos
Se encontram nos meus versos in natura.
A manga das camisas levantamos
Na luta que promete ser mais dura
O certo é que seguimos nos amando,
Amor que na verdade, mata e cura...
X
7585
Amor sem ter juízo empresta seu tormento
E faz com que fortuna abandone quem ama
Amor trazendo paz empresta sua chama
Obriga-me, entretanto, achar contentamento.
E nada mais importa amar é ser isento
De tudo que minha alma, aos mundos já proclama
E mesmo assim, amor, em lágrimas reclama.
Amor faz do meu canto eco do pensamento.
Amando entenderás o meu verso em lamento,
É fogo que me queima enquanto a dor inflama
Amor se dispersando escuta a voz do vento
Amor é tão proveito envolto em tanta fama
Não deixe que esse amor se esqueça num momento
Que amor, na perdição, salvação de quem ama!
X
7586
Às vezes vida passa e nada sobra
Senão uma saudade matadeira
Sentado na calçada, na cadeira
O vento da lembrança já me cobra
O canto que no peito inda soçobra
Fazendo de uma luz alvissareira
Esta marca que levo a vida inteira
E tudo num momento se recobra...
Sobrando pelo menos amizade
Embora nosso amor morresse cedo,
O tempo que vivemos liberdade
Foi bom, porém passou restando então
O mote principal de um novo enredo:
Uma amizade cheia de paixão....
X
7587
O sonho que me deste, minha amiga,
Em versos que declamo nada meus,
São sonhos na verdade, tão ateus
Que em versos invertidos nada abriga.
Nas curvas e montanhas que se diga
Que nada mais inverno, nem meus breus
Não quero nem corbelha ou camafeus
Apenas sei meus versos numa intriga.
Na prece que negaste sem quermesse
Mereces meu perdão por nada crer.
Espero que das pressas se confesse
Os erros que vivemos por fazer.
Afrontas e vacinas qu’alma engesse
São versos que esqueci de te dizer.
X
7588
Bem sei que morreremos abraçados
Os fados predestinam tal suplício
De tanto amor que tenho, velho vício,
Os braços estarão por certo atados.
Quem sabe qual Quasímodo, meus fados
Farão dessa Esmeralda precipício,
E tanto que te quero desde início
Talvez os nossos fim compartilhados.
Porém nossas sementes proliferam
E mordem quem deseja ser feliz.
Os olhos dos demônios que se deram
Invadem tantas glebas e plantios.
Mortalha que nos cobre, negro-anis
De noite se reparte em nossos cios...
X
7589
Não tema atravessar a ponte estreita
Senão tu perderás uma bela ilha.
Andando é que se foge de uma espreita
Quem pára já sucumbe e nunca brilha.
A dor de uma derrota é mais aceita
Que o medo de seguir por uma trilha.
A trama que se faz, mesmo desfeita,
Não deixa que te prendam com anilha.
Aliás, se temeres, já perdeste,
É dura uma derrota para o nada.
Se a vida assim, amiga, percebeste;
Terás orgulho em cada cicatriz.
Melhor do que o vazio; derrotada.
Não tenha medo, então; de ser feliz!
X
7590
Amores? Foram tantos que nem sei
Forrando todo o chão de folhas mortas.
Outonos que vivi, tantos passei
Abrindo e mal fechando velhas portas.
Das balas encontradas escapei.
As bocas que beijara; semi-tortas;
Nos mares tão distantes naufraguei,
Nos cais aonde, livre, não aportas.
Mas cortas os meus sonhos mais audazes
Mostrando em cada noite, luas, fases
E fazes deste sonho que eu quisera
Amor que se perdeu há tanto tempo.
Na boca desdentada da pantera,
Amar fora somente passatempo...
X
7591
Eu, contigo aprendi a não sonhar,
A acreditar na dor, cruel saudade...
Olhar estrelas, cega claridade,
E nada mais, jamais poder amar!
Me ensinaste mentiras ao luar...
Fantasias cruéis, “felicidade”,
Coragem pra saber tal falsidade...
As marcas que deixaste, vou saudar!
Jamais t’ esquecerei, estejas certa...
Agradeço-te enfim, o ser poeta...
Saber cantar tristezas, assim rindo...
Ver as cores do mar, as fases da lua...
Muito obrigado, sinto-te tão tua,
A vida passa, então me vês sorrindo..
X
7592
Depois de semear a tempestade
Por tempos mais distintos, minha vida,
Depois de discutir felicidade
Em hora tão marcada quão doída.
Depois de procurar com ansiedade
A porta que mostrasse uma saída
Depois de renegado assim, quem há de
Cobrar minha esperança adormecida.
O tempo que é senhor, portanto rei,
Aos poucos me mostrando nova dança
Que é feita deste sonho que encontrei
Contigo, minha amiga em aliança,
Depois de tanto fogo que espalhei,
Agora só espalho uma bonança..
X
7593
Distâncias que percorro embalde são vencidas...
O canto que expressava agora vai calado...
Uma ave que voava as asas já feridas,
A noite representa o meu tempo passado...
Por vezes esperava as tuas mãos erguidas...
O gosto do teu beijo, o grito torturado...
A vida não passava, as dores incontidas...
Destino desvendado, amor virou meu fado...
Meu coração batendo afoito sem sentido...
Clarão que iluminava a noite dos meus sonhos...
Amor nunca chegava esboçado no olvido...
A lua clareando o velho e bravo mar,
Estrela que esvoaça os olhos meus tristonhos...
No beijo que eterniza esta certeza: amar!
X
7594
Romântico, romântico, romântico!
Rasgando o coração, esqueço a vida...
No canto, teu encanto, no meu cântico,
A lua dos amores, sei perdida!
Nos céus explodirei; sincero, quântico.
No mundo dos meus sonhos, preferida,
Nos mares dos meus mundos, onde, atlântico,
Espero a tua volta em despedida...
Te procurei nas ânsias do viver,
A quimera expressando minha dor,
Singulares desejos sem prazer
Guardando esse infeliz como um vulcão;
Desesperança explode, qual tumor;
Meu peito, amargurado coração!
X
7595
Meu Amor nunca esqueça de voltar
A noite que te leva não demore
Espero-te no próximo luar
Que o olhar dessa saudade não decore.
As rosas que colhi querem dizer
Do amor que nunca mais terei igual.
Das rosas uma flor a receber
Do amor um breve toque sensual...
Nos bares solitários sem a lua,
Casais em volta tramam seu encanto.
A mesa onde sentei, estando nua
Aguarda simplesmente... e nada... pranto.
E canto esta cantiga no fervor,
De quem aguarda a volta dum amor!
X
7596
Uma amizade plena e duradoura
Nos faz já perceber o bom da sorte
Uma aliança assim nos dá suporte
E em plena claridade já nos doura.
A voz que se mostrou consoladora
Aplaca uma ferida, cura o corte,
E tantas vezes vence; redentora,
Tornando nossa mão mais firme e forte.
Tenaz e resistente, qual granito
Que enfrenta as tempestades que virão.
Alçando uma esperança ao infinito,
Redime-nos das dores inerentes.
Uma amizade imensa é solução;
E enfrenta as intempéries mais freqüentes...
X
7597
Em teu corpo escrever mil poesias,
Usando minhas mãos; firme caneta,
Marcando com desejos, ardentias,
A boca vai trilhando qual cometa
Penetra cada ponto, nas magias
Que fazem nossa noite mais completa
Promessa de delícias, tantos dias,
Assim quem sabe, sinto-me poeta...
Relaxas, tranqüilizas, nem te moves...
Apenas um sorriso breve aflora,
Cicatrizes? Bem sei que assim removes
E deixa a poesia te invadir...
Querida, este terceto feito agora,
Não cansa de implorar. Quer repetir...
X
7598
Amada, minha amiga verdadeira
Das horas complicadas e ferinas.
Minha alma dolorida e caminheira
Encontra tuas mãos quase divinas.
Na mesa que partilho uma esperança
O pão desta alegria que me trazes
Garante, com certeza uma festança
Além do que sabemos ser capazes
Se vamos isolados pela vida,
Se estamos divididos, passo a passo.
Por isso, amada amiga tão querida,
Atemos bem mais forte nosso laço
E vamos, destemidos, ‘té o fim,
Regando cada flor deste jardim...
X
7599
Meu amor traz no peito bem marcado,
Com garras penetrando, bem profundo
Meu canto, de tristezas, compassado
Um grito, me trazendo o fim do mundo.
Amor meu, de teus beijos sou, me inundo
Meus abraços nos braços teus, atado
Vou, conheço o mergulho em que me afundo,
Nesse louco prazer, desesperado.
Quero, bem mais que tudo conhecer,
Os limites sem rumo da paixão,
Beijando, em tua boca conceber,
Tudo quanto pudera, o coração,
Quero aprender a ler nesse abc,
Vou perder-me nas trilhas, teu sertão...
X
7600
Ah! Quando dispersei essa esperança
Em nome da certeza do futuro;
Não sabia que a vida não se cansa,
De fingir-se leal, porto seguro.
Ao tentar destruir esta aliança,
O claro sentimento fez-se escuro.
Tempestade abortando uma bonança,
A sorte se escondeu detrás do muro...
O mar que fora meu, virou deserto,
O frio de minha alma congelou.
A solidão feroz, ronda por perto,
A paz se fez distante, na batalha.
O nada simplesmente me sobrou,
No corte tão profundo da navalha!
X
7601
Tornaste-me cativo de teus olhos,
Tão mansos, tão suaves, tão serenos.
Tornando meus caminhos mais amenos,
A flor felicidade traz em molhos...
Amar que sempre achei ser meu direito,
Agora não disfarço, num mergulho.
Saber-te, com certeza é meu orgulho.
Poder dizer ao mundo, satisfeito,
Que, em toda minha vida, tive sorte,
Encontro novo porto onde se aporte
A nau que já pensei ter naufragado.
Ao meu destino vou iluminado
Pelas luzes mais belas que já vi.
Que por favor divino, estão aqui!
X
7602
Malícia nos teus olhos de menina,
Melancolia trazes, risos tristes...
Mistérios: tua lua cristalina...
Martírios dos amores que resistes...
Misantropia e luta, tua sina...
Molecagem, brinquedos, nada omites,
Metódica, trazendo luz divina...
Mediadora, os conflitos, dedos ristes,
Maciez travas beijos e mordidas...
Me manejas do modo que quiser,
Mansidão ultrapassa nossas vidas,
Meiguice rebentando quando quer,
Mazelas que consolas, reunidas,
Me mostram teu perfil, M, mulher...
X
7603
A saudade desfralda abrindo uma asa
Sobre quem se afastou da vida há meses.
Encaro estas derrotas e reveses
Queimando o coração em forte brasa.
Lembranças que ficaram desta casa,
De amores que já foram siameses.
A dor que no começo vinha às vezes
Agora a todo instante já me abrasa.
A um tempo mais feliz eu me arremeto
E faço deste verso uma mortalha,
Quartetos e tercetos de um soneto
Cortando minha pele, na verdade,
A morte, sorridente já retalha
Um coração imerso na saudade...
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7604
Tantas vezes as dores enroscavam
Qual serpe numa cérvice infeliz.
Mesmo silente a vida tanto diz
Em palavras venais nos torturavam.
Os dias solitários que sangravam
Forrando uma pobre alma em cicatriz.
Meus olhos tão vazios já nevavam
E, cegos não sabiam de um matiz
Que o céu enfim promete pra quem ama
E tem a companhia deste amor.
Por mais que leve e branda seja a chama
Os laços da amizade são mais fortes
E trazem contra a dor de quaisquer portes
Um hálito divino e salvador...
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7605
O mundo se mostrando um labirinto
Mistérios que encontramos pela vida.
Angústia que se faz em despedida,
Vazio que decerto já pressinto.
Porém a natureza em seu instinto
Nos dá sem perceber uma saída
Mesmo que a sorte caia já vencida,
Um fogo de esperança eu sempre sinto
Vestido pelo amor tão benfazejo
De quem nos concedeu um braço forte.
Sanando com ternura qualquer corte,
Trazendo um belo cais que enfim prevejo.
Vencendo qualquer medo; cedo ou tarde
Contamos com poder de uma amizade
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7606
Teus olhos, meus faróis, e meu destino...
Na mansidão da noite que ilumina
A vida perseguindo nossa sina
O mundo que me fez o teu menino...
Se posso, meu compasso é desatino
Na tua mão tão fria determina
Estrada que se fez em fonte e mina.
Novo sonho, verdade não domino,
Apenas viverei a cada dia
O dia que não tive nem teria
Se não fossem teus olhos dominantes;
Meu barco e minha lua, um horizonte
Perdido e recontado, seio e monte;
Quando nessa noite somos dois amantes!
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7607
Tantas vicissitudes nesta vida,
Os pés tão calejados, descaminhos.
Sabendo que esta noite está perdida,
Vencendo velhos sonhos, tão daninhos.
Abismos escondidos que se afloram,
Roubando as esperanças que nasciam.
O roxo destes lírios que descoram,
Meus olhos tão tristonhos, não sabiam.
Mas vivo coração não quer o fim,
Reluta e tira o luto que vestira.
Mortalha abandonada, rasgo; enfim...
Transformo a solidão, tira por tira.
E solto minhas asas deste abismo,
Nos braços deste amor, com otimismo.
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7608
Nesta beleza rara, escultural,
Suave calmaria leva o mar.
Contorno de vitória triunfal,
No campo das batalhas do luar.
Beiras a perfeição, és divinal,
Uma sílfide leva-me a sonhar.
Beleza sem igual, fenomenal,
Tradução mais correta: verbo amar.
A boca carmesim, doce e pequena,
Os olhos exclamando: formosura,
Acena com propósito de cura.
As pálpebras fechadas: vera cena,
Dormita tão serena criatura.
Acordado, venero esta morena!

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