quinta-feira, 22 de abril de 2010

30394 até 30545

30394

O arroio se prendendo em suas margens
Não tendo mais vazão, seguindo em frente
Assim também a vida em contingente
Não deixa que eu conheça as paisagens
E tendo no meu peito tais visagens
Porquanto o novo sempre se apresente
Só resta-me seguir esta corrente
Ao percorrer assim mesmas viagens.
Quisera a liberdade em céu imenso
E quando noutros mundos teimo e penso,
A sorte me calando não permite
Que eu siga inusitada e bela grei,
A liberdade é tudo o que sonhei,
Sem ter fronteira, margem nem limite...


30395

Dos prados verdejantes nem sinal,
Agora entre estes prédios, solidão,
E tanto se perdendo a direção
O mundo noutra face e ritual,
O sonho de um poeta perde a nau
E aonde sem saber rumo ou timão
Eu possa perceber atracação,
Mas transcorrendo em seu normal,
Um carro de polícia, uma ambulância
A moça com seu ar, pura arrogância
Venenos tão comuns do dia a dia.
Neste engarrafamento o tempo passa,
Aonde quis o sol, mera fumaça,
Será que ainda cabe a fantasia?


30396


Aonde em esplendor a claridade
Tomava há muito tempo a minha vida,
Agora sem saber qualquer saída
A cada novo tempo que degrade
O mundo que sonhara em liberdade,
Mas quando desta glória se duvida
A estrada que se vê tão dividida
Apenas resta a luz em falsidade.
Da lua nem sequer um brilho eu vejo,
Neons tomando tudo, nem lampejo
De estrelas decorando ainda o céu,
Mortalha da emoção, mera tolice,
O dia a dia em fúria me desdisse,
A turbulência dita o tom do véu...


30397


Das flores que hoje sei serem de plástico
Eterna imagem morta sem perfume,
Até que meu olhar já se acostume
O quanto deste nada se fez drástico.
O amor que no passado foi bombástico
Agora se traduz em sexo e o lume
Da estrela se perdendo em teu ciúme,
Do cume este abissal caminho espástico.
Sedenta do que fora primavera,
Aguardo uma florada que não vem,
A noite nos motéis, na longa espera,
A fúria sensual sem ter por que,
E quando num espelho busco alguém
Imagem distorcida é o que se vê...


30398


Sabendo ser minha alma quieta e triste,
Vasculho qualquer sombra de ilusão
E tento mesmo às vezes negação
Porém esta incerteza enfim persiste.
O quando da mortalha ainda existe
Moldando esta figura em solidão,
O rito mais audaz: transformação,
O mundo ainda teima, atroz insiste.
Resido no passado e disto eu sei,
Pudesse renovar a minha grei
E ter novo horizonte, mas a sorte
De quem se fez um louco alucinado
Viver marmorizado neste prado,
Aguardando silente pela morte.


30399


Olhando cada sombra do que fui
Revejo desde cedo os meus engenhos,
E aonde poderia com empenhos
Mudar o meu caminho, nada influi.
O tanto que sonhei e o peito intui
Traduz estas diversas faces, cenhos,
Traumáticos deveras desempenhos
A incompetência; assumo e o mundo rui.
Risível caricato, nada além.
Perdendo tanto tempo em solitário
Caminho que bem sei desnecessário
A poesia é morta e não convém
Somente a quem delira ou se perdeu,
Assim como bem sei, deveras, eu.

30400


Um mundo que encantasse e transcorresse
Com toda a calma enquanto a vida corta,
A sorte de sonhar; percebo morta,
Não tendo mais da vida uma benesse,
E sei que se recebe o que merece,
Por isso ao reabrir a velha porta,
Nem mesmo a fantasia ainda importa
O quadro em solidão, assim se tece.
Fagulhas de ilusão? Meros momentos
Aonde acreditei noutro caminho,
Mas quando me percebo mais sozinho,
São variáveis mesmo tantos ventos,
O fim se aproximando e o que fazer?
Somente os meus escombros recolher...

30401


Silente caminheiro do vazio
Perdi faz tanto tempo a direção
E enquanto se imagina a solução
Meu passo dia a dia eu desafio,
Resisto quando o tempo se faz frio
E teimo contra as fúrias que virão,
Um velho sonhador, tolo ancião,
Confusas ilusões eu propicio.
Revelo vez em quando um pouco disto
E sei que se em verdade ainda insisto
No fundo desiste e não consigo
Pensar noutro momento que não este,
O quadro que devera revelaste
Prenunciando a queda em desabrigo.

30402


O vento murmurando clama enquanto
Trouxesse qualquer paz a quem se dera,
Perpetuando assim a imensa fera
E dela a cada passo o mesmo espanto.
O peso me envergando, sendo tanto,
A morte noutro tanto degenera
Caminho de quem fora mera espera
E quando tento a sorte; desencanto.
Gerando dentro em mim a mesma sina
Que tanto me atormenta e desatina,
Mas quando ensimesmado nada escuto,
O mundo que pensara mais tranqüilo
Em ânsias tão terríveis eu destilo
E sei o quanto atroz, se faz mais bruto.


30403


Nos tantos caminhares pela vida
Anseios entre dores, trevas, medo
E quando alguma sorte me concedo
Depois de certo tempo, está perdida.
A senda muitas vezes destruída
O corte me condena a tal degredo
E quando me encontrando ausente e ledo,
Prepara-se deveras a descida.
Resisto vez em quando; falsa luz,
E sei que a cada passo o precipício
Mostrado sem disfarce, nego o início
Enquanto na verdade me seduz,
Pudesse ter um dia a mais, um ano...
Mas não suportaria o desengano...


30404


A noite sendo fria e solitária
Reflete o que percebo a cada ausência
Do amor já não concebo uma anuência
A sorte tantas vezes procelária,
Aprendo a caminhar em treva vária
E bebo com terror tanta inclemência,
Condeno-me deveras à demência
Aonde poderia solidária,
Minha alma em cicatrizes, tatuada,
Perpetuando a noite mais nublada,
Expondo em grises tons realidade,
E sem saber de um dia aonde tenha
Seara que decerto me convenha,
Não vejo neste mundo o que me agrade.

30405


Ao cavalgar estrelas imagino
As fontes onde pude perceber
O risco tão amargo de viver
E nele se traçando um vão destino,
O sonho se mostrara cristalino
E nada do que um dia pude ver
Traduz alguma forma de prazer
E assim nem mesmo o rumo, enfim, domino.
A perda mais constante gera o caos
E nele aonde um dia pus as naus
Sem rumo, sem timão, sem leme e cais.
Agora o que percebo diz do não,
Vagando por insólita visão
Já não enfrento mais os temporais...


30406


As sombras são fatais e quando as vejo,
Teimando contra a fúria corriqueira
Pereço e na verdade sem quem queira
Apenas solitário o meu desejo.
E tanto poderia, sem ter pejo
Viver a sorte mesmo, derradeira,
E nada do que fosse esta bandeira
Amortalhada senda assim prevejo.
Reside em mim ainda quem se fez
Outrora na completa insensatez
Um sonhador romântico em lirismo.
Porém o caminhar ensina tanto
E quando me percebo me adianto
E encontro este beiral, imenso abismo.

30407


Porquanto mais avance não consigo
Desvincular meu passo do que outrora
Viera dominar e ainda aflora
Gerando esta mortalha em desabrigo,
E quando vez por outra desobrigo
A sorte de ser tanta e vou-me embora
O pendular desejo se demora
E nele percebendo deste perigo,
Persisto mesmo quando não soubesse
Da vida em sua glória e sem benesse
Mesquinharias trago invés de glória.
Assim ao nada ser e nada ter,
O mundo passa mesmo a conhecer
O que se fez mortalha em fria história.


30408


Borbulham fantasias no meu sonho
E teimo contra a fúria mais atroz,
O amor ao se mostrar intensa voz,
Nas sendas onde a sorte eu não reponho,
Mergulho neste mar duro e medonho,
Ausência de carinho é tão feroz,
Aonde se pensasse em laços, nós,
Apenas o vazio e ainda sonho...
Retalhos de uma vida em dores feita
Enquanto a morte eu vejo em clara espreita
Ainda tento ao menos disfarçar,
Mas sei deste vazio que se impera
E toda a estupidez da imensa fera
A cada novo passo a me rondar...


30409


Assim como estas ondas no oceano
Imenso beijo a praia onde te encontras
A vida apresentando prós e contras
Deveras me condena ao desengano.
Pudesse ter a sorte de um alento
Aonde não se visse tanta dor,
Mas quando este nefasto sonhador
Percebe outro caminho e nele eu tento
Vencer os meus engodos, nada resta
Somente este vazio que me toma,
O quanto perpetua a vaga soma,
Explode ao penetrar em cada fresta,
Naufrágio da ilusão se preparando
Meu barco no vazio se ancorando...


30410


Arrastam-me tais sonhos e não posso
Sentir qualquer momento em mansidão,
Apenas ao sentir a viração
O mundo que julgara outrora nosso,
Agora novamente não endosso
O quanto se perdera na amplidão
Amor ao se fazer devassidão
Gerando tão somente este destroço,
Rasgando qualquer véu que inda recobre
O sentimento audaz, imenso e nobre
Desnuda-se em herética paisagem,
E tendo a sensação da estupidez
O quanto denegrido mundo vês
Fazendo da emoção turva miragem.


30411


À casa aonde um dia em luz suave
Retorno após a vida em tez sombria,
Ao menos ao revê-la poderia
Traçar momento lúdico em que se crave
A sombra delicada de outro dia,
Porém ao perceber a antiga trave,
O quanto do passado já se agrave
E nele morta há tempos, fantasia.
Sem garantia alguma de esperança
Tampouco o velho olhar percebe aqui
O tanto que pensara, mas perdi,
A vida se renova em tal mudança,
E deste que já fora, nada sobra,
O tempo a cada instante volta e cobra...

30412


Cismando em noite imensa busco a luz
E quando me percebo em solidão
Das trevas e dos medos se verão
Caminho ao qual deveras já me opus,
Tentando persistir em contraluz
Buscando nova senda ou direção,
As marcas do passado mostrarão
O quanto do futuro é feito em cruz,
Arcar com tantos erros e tentar
Ao menos perceber qualquer luar
Em noite tão brumosa, inutilmente.
Carcaça de uma mera fantasia
O fim a cada não já se anuncia
E o gélido vazio se pressente.


30413


A vida se fazendo em frialdade
Não deixa qualquer rastro do que fora
Imagem tantas vezes sedutora
E a cada negação mais se degrade,
Percebo tão terrível realidade
E dela imagem tosca e sofredora,
Aonde se pudesse redentora
A sorte a cada não mais desagrade,
O amor gerando apenas vilipêndio
Invés do desejado imenso incêndio,
Restando a quem se entrega o frio e o gelo.
Momento mais sublime se perdeu,
E o quanto se pensara teu e meu,
Apenas no meu sonho posso vê-lo...

30414

O gume desta faca me apontando
Por onde poderia acreditar
Num tempo mais feliz a se mostrar
Aonde no passado quis mais brando,
O risco de viver, sendo nefando,
A sorte não se pode adivinhar,
No tanto que imagino procurar
Apenas o vazio se formando.
Aprendo com as dores, disto eu sei,
E tanto neste nada mergulhei
Até que não restando um só caminho,
O todo se mostrando inconsistente,
Por mais que ainda um dia se apresente
Conjunto traduzindo o ser sozinho.


30415


Na lividez da face expondo a dor
De quem por vezes tive uma certeza
O amor ao exigir tanta destreza
E nela novamente recompor
O quanto poderia em nova cor,
Vencendo com furor a correnteza,
Aonde se tornando vaga a mesa
Realidade nega este favor.
Eflúvios do passado me rondando,
Afãs diversos quando em contrabando
As sortes se evadiram; nada resta.
A podridão gerada pela vida
Herdando com terror a fria ermida,
Irônico estribilho dita a festa.


30416

A noite me inundando em tantas brumas
E quando me entranhasse esta saudade
Porquanto a tenebrosa tez me invade,
Enquanto mais distante tu te esfumas,
Imagens tão diversas; não aprumas
O rumo quanto mais ainda brade
O sonho não traduz realidade
Nem mesmo às fantasias acostumas.
Perdida em rumo vário, nem percebes
As ondas que retornam; mesma areia,
E quando a lua imensa assim clareia
Tornando prateadas estas sebes
Neblinas não se afastam dentro em ti,
Porquanto o que existia, em vão, perdi.


30417


A neve dentro em mim já não se extingue
E quando se percebe mais atroz,
O quanto ainda existe dentro em nós
Da sorte desairosa não se vingue,
O mundo se mostrando sempre assim,
Quimérica loucura e se noctâmbulo
Caminho se mostrasse este funâmbulo
Tentando um equilíbrio chega ao fim,
A corda se rompendo, a queda é certa,
A morte não se impede – imenso abismo,
E quando solitário ainda cismo,
Porquanto a fantasia me deserta,
Sem ter a proteção de qualquer tela,
O fim em tez terrível se revela...

30418


Aonde se banhasse a lua em glória
O pântano deveras dita a sorte,
E quando se percebe quem conforte
Apenas resta a vida – merencória.
Não pude conceber qualquer vitória
E tanto se negasse algum aporte,
Da morte; etéreo par, turvo consorte,
Calado caminheiro; nego a história
E tento transformar esta água em vinho,
Mas sei que na verdade tão sozinho
O que me restará, embriaguez.
E tudo num momento mais venal,
O parto sonegado no final,
O quanto que pensara e o nada fez...

30419


O fogo derramando das montanhas
Tomando todo o vale destruindo
O quanto se pensara outrora lindo
E agora se mostrando em duras sanhas,
Enquanto cada dia tu mais ganhas
O fundo se aproxima e se o deslindo
Ainda se mostrasse morto e findo,
E mesmo assim costado em fúria lanhas.
Rescendes à vingança mais cruel,
Retalhações expostas num momento,
E tanto poderia crer no véu
Que recobrindo o sonho em azulejo,
Mas quando novamente o fim eu vejo,
Saída inutilmente eu penso e tento...


30420

Indiferença dita cada passo
Aonde eu poderia acreditar
Houvesse alguma luz a me guiar,
E quando novamente me desfaço
Realço da ilusão profundo traço
E tento mesmo um raio de luar,
Aonde não sabia navegar,
Vagando sem destino, imenso espaço.
Em solilóquio cismo a noite inteira,
E quando a solidão é companheira
Os bares se fechando muito cedo.
Apenas esta luz acesa e o brilho
Sombrio do abajur traduz o trilho
Por onde alguma vida; inda concedo.

30421


Ocultam-se vontades em paixões
Que tantas vezes vejo em tom funesto
E quando à fantasia enfim me empresto
Sonegas as possíveis soluções,
E tanta dor deveras tu me expões
E nelas percebendo em cada gesto
O quadro mais temível, simples resto
Do que foram diversas emoções.
Escombros e destroços dizem tanto
E neste apodrecer escuso manto
Reside dentro em mim, mero fantoche,
A vida se propõe ao nada e quando
O mundo que sonhara se estorvando,
Restando finalmente este deboche...

30422


A minha voz não traça a realidade
Sorriso em palidez, cálida face
E nela se mostrando o frio impasse
Que a cada nova ausência enfim invade,
E tanto poderia ser verdade
O quanto esta ilusão decerto trace,
Mas nada do que fomos, nosso enlace
Permite que se tenha a claridade.
Resíduos de um passado feito em dor,
Medonho olhar revolve cada cena,
E quando a lua chega e me serena,
O brilho se mostrando enganador,
Qual fase simplesmente e nada mais,
Depois as brumas ditam temporais...


30423


Ainda existe em mim tal frenesi
Embora tão silente nada fale,
E quando este terror já me avassale
Revejo cada instante em que sofri,
Ausência deste amor que havia em ti,
Porquanto ainda amargo, assim me cale,
A solidão recobre em turvo xale
Visão do que sonhara e sei, perdi.
Arrasto-me deveras vida afora,
Nem mesmo a fantasia inda decora
A noite feita em trevas, dores, tantas.
E quando num sorriso mal consigo
Conter o que carrego aqui comigo,
Na imagem caricata não te espantas...

30424


O sol enquanto doura esta paisagem
Transcende à própria vida e traça em luz
Enquanto a realidade em contraluz
Denigre com terror toda a visagem,
A sorte não encontra uma estalagem
No peito de quem tanto reproduz
O medo e o desespero e assim conduz
A vida rumo ao nada, fria aragem.
Envolto por neblinas, nada tenho
Senão este temor e meu empenho
Inutilmente traça algum aporte
Aonde poderia ser feliz,
O quanto do desejo que mais quis
Perdera há tanto tempo qualquer norte.


30425


Em selva tão temível me encontrando
Depois de procurar esta clareira
Paisagem mais suave onde se queira
Viver algum momento ao menos brando,
Porém ao se mostrar em duro bando
Imagens de uma vida traiçoeira
Matando o que se fora uma bandeira,
E nada como herança me deixando.
A fúnebre paisagem se transforma
E quando este terror expressa a forma
Do quanto inda me resta, num mergulho
Procuro dentro em mim qualquer resposta,
Apenas esta face decomposta
Mostrando o que me resta: mero entulho.


30426

Perdera há tanto tempo a minha estrada
E sem saber de rumo ou direção,
Vivendo a cada dia a negação
E nela se fazendo em torpe estada,
A sorte nunca mais vi, deslumbrada,
Mortalha do que fora solução
Apenas novos dias mostrarão
Se ainda resta um pouco ou mesmo nada
Do quanto pude crer e não sabia
Que sendo meramente fantasia
Gerara dentro em nós farto terror,
Assim ao me saber um semimorto,
Procuro sem alento qualquer porto,
E encontro tão somente o dissabor.


30427


A senda mais cruel dura e penosa
Aonde poderia caminhar,
Sem ter sequer por onde começar
A própria realidade tanto glosa
O quanto poderia caprichosa
A sorte de quem tenta desvendar
Segredos tão diversos, céu e mar,
Mas nada do que tento a vida goza.
Realçam-se terrores e deveras
Exposto a cada passo às velhas feras
Quimeras conhecidas, mas ferozes,
E quando me perdera em noite imensa,
Da morte a própria vida me convença
E escuto do vazio as torpes vozes...

30428

Apenas caricato do que fora
Há tanto alguma imagem de ternura,
A sorte tantas vezes amargura
Uma alma que pensara sonhadora,
E quanto mais audaz, mais sofredora,
Assim ao se sentir esta espessura
Do gelo que recobre e já perdura
Não tendo mais a luz tão redentora.
Assiduamente busco soluções
E sei que na verdade são visões
E nada além do vago ainda espera
Quem tenta conseguir qualquer carinho
E segue dia a dia mais sozinho,
Cavando com seus pés funda cratera...

30429


A cada noite vã sempre relembro
Dos dias que passara outrora em branco
E sendo na verdade sempre franco
O nada de janeiro até dezembro,
E tento mesmo inúteis caminhares
Vagar por novos rumos, nada existe,
E quando me percebo a morte em riste
Não tento mais fugir, e se notares
Silente este andarilho em vaga cisma
Resíduo do que fora tão falaz,
Agora a solidão somente traz
A pálida expressão negando o prisma,
E quando iridescente no passado,
Apenas um momento vislumbrado.

30430


Na morte encontrarei, tenho certeza,
A paz que tanto busco e nunca vi.
O todo se perdera e desde aqui
Não tendo mais sequer qualquer leveza,
Porquanto a vida ataca com destreza
E nesta sorte amarga eu conheci
O fim de cada sonho e apodreci
Deixando-me levar na correnteza
E tento vez em quando respirar,
Sabendo que não há nem haverá
A sombra do que outrora aqui ou lá
Pudesse cada passo desenhar,
Ardentes ilusões? Estupidez,
O que restou de mim é o que tu vês...

30431


Há coisas que se vê a cada instante
E não se concebendo nova imagem,
Pudesse ao transformar qualquer miragem
Num tempo que deveras se adiante
Mordaz realidade é degradante
E nela se percebem qualquer pajem
Gerando no vazio a tola aragem
Aonde se instalara algum farsante.
Astrólogos, videntes, seus oráculos
E neles os terríveis vãos tentáculos
Fazendo da ilusão pura verdade
Antigos quiromantes são balelas
Agora noutras sanhas tu revelas
O quanto se faz torpe a humanidade.

30432


Pudesse aqui contar em poucos versos
O quanto persegui em sorte e nada
Mostrara a minha vida degradada
Sentidos mais audazes e dispersos,
No quanto naveguei por universos
E tento traduzir qualquer estada
Qual fosse a mais sublime e iluminada,
Mas quando se percebem mais perversos
Os dias em que tanto disfarçava
A sorte de quem tendo em voz a lava
Eclode vez em quando em erupção,
Mas quando se desenha a face nua,
A mesma espúria senda continua
E nela se porfia a negação.

30433


Tomando os meus sentidos, pesadelos,
Gestados pela vida incoerente,
Um pária contumaz, quase um demente,
Vivendo dos escombros, revolvê-los,
Escórias tão somente; os medos vê-los
E tendo na verdade o que não sente
Quem sabe e reconhece uma serpente
E dela seus terrores, fartos zelos.
Pecaminosa senda descoberta
E tanto não se vê qualquer alerta,
Mas gero este demônio a cada passo.
E quando se transtorna o dia a dia,
A cada verso estúpida heresia
O que jamais compus; hoje eu desfaço.

30434


Abandonando há tanto a direção
Que um dia me trouxesse calmaria,
Apenas o terror hoje me guia
Os sonhos em total arribação,
Mergulho no vazio e deste vão
A sorte apodrecida se recria,
E quando na sarjeta sorveria
A pútrida e terrível sensação
Do quadro decomposto a cada instante
Porquanto seja sempre degradante,
Navego em águas turvas, poluídas,
Assim ao me entregar à morte agora,
O quanto do passado me devora
Destruirá se houver mais de mil vidas.

30435

Após ultrapassar velha colina
Encontro os meus demônios noutro lado,
E quantas vezes tive ultrapassado
Caminho que deveras me fascina,
Seara tenebrosa desatina
E toma a minha vida em duro fado,
O quanto poderia demarcado
O rumo noutro tanto e me domina.
Fantasmas dos meus ermos vejo agora,
Na farsa inusitada em que se aflora
A face desgastada de quem tanto
Lutara contra a fúria e não vencera,
Há tanto noutro esgar reconhecera
O olhar deste satânico quebranto.

30436

Um vale que penetro, escuridão,
As turbulências ditam cada farsa
E quando a solução se faz esparsa
Percorro esta seara em solidão.
Tecida esta mortalha, ingratidão,
A morte se mostrando uma comparsa
Por onde caminhara a grácil garça
Agora a rapineira adentra o vão.
E sinto tão fugaz cada momento
Das fugas nada resta e num lamento
O peso de viver insuportável,
E tanto poderia ser diverso,
Mas quando nestes pântanos imerso
O mundo se mostrou tão intragável.


30437


Tomado por pavor nada me escapa
Nem mesmo a solidão cruel amiga,
E quando a própria vida desabriga
Perdido sem sinal, caminho ou mapa,
Restando tão somente a fria lapa
E dela nada mais já se consiga
E enquanto em gelidez assim prossiga
Saída se inda houvesse a vida tapa.
E não sabendo mais de alguma chance,
Porquanto este vazio agora alcance
Nuances mais diversos, todos gris,
Aonde se pudesse ter um sonho,
Encontro o meu retrato vil, medonho,
E até tola ilusão me contradiz...


30438


Olhando este cenário em turvas águas
Não posso mais negar o quão sombria
A sorte que deveras já me guia,
Em poluídos mares tu deságuas,
Não tendo mais deveras nem as mágoas
Restando a solidão, alegoria
Que tantas vezes quis e não podia,
Sabendo mais distantes fogos, fráguas,
Nevando dentro da alma, esta geleira
Transcorre em forma bruta e derradeira
Não deixa que se creia num verão,
E tendo este invernal caminho apenas
Porquanto não se vêm noites amenas,
A morte se apresenta em solução.


30439


Percebo a solidão de quem ainda
Procura qualquer luz e nunca vê
A vida sem motivo e sem por que
A dor que tanto sei ser quase infinda,
E tanto se pudesse e não deslinda
O rumo de quem tanto ainda crê
No dia mais feliz e a sorte lê
Nas frondes do vazio e assim se brinda.
O quase ter a messe é mais constante
Lotérico caminho decifrado,
E nele o mesmo instante jaz calado,
Perpetuando assim a torturante
E inerte sensação do nada ser,
Refeito a cada novo alvorecer...

30440

Guiado pelas mãos deste demônio
Que tanto seduzira e me levara
Às trágicas montanhas na seara
Gerando dentro em mim tal pandemônio,
Qual fora das palavras um campônio
Minha alma muitas vezes se lavrara
Nas ânsias de uma vida bem mais clara
Em páginas herança e patrimônio,
Vagara sem saber se um dia ao menos
Pudesse ter além destes venenos
Que tanto demonstraram tom mordaz,
Mas quando nada havia, duro infausto,
Qual fora um revivido e insano Fausto,
Entrego-me ao senhor, pai Satanás.

30441


Ao ver com tal assombro este cenário
Aonde a torpe imagem reproduz
Apenas o que nega a própria luz
Criando no vazio o itinerário,
Um dia muitas vezes temerário
E nele cada fato me conduz
Ao mesmo e incomparável velho pus
Carcaça de um demônio, um relicário.
E pude perceber ser mais feliz
Nas hordas deste insano companheiro,
O quanto me pensara derradeiro,
Agora vivo em pleno o que mais quis,
A verve reacende esta vontade
Embora uma alma tola se degrade...

30442


Perdura-se a vontade de saber
Mistérios de além vida se inda existe
Embora seja assim deveras triste,
A morte com certeza dá prazer.
E tenho esta ventura de poder
Vivenciar o quando inda resiste
À fúria que se mostra sempre em riste,
E nela cada gota enfim sorver.
Cedendo cada passo à minha morte,
Sabendo do que tanto me comporte
Na lápide o funéreo desvendar
E tendo esta certeza de um eterno
Caminho para o céu, ou para o inferno
Na vida mesma eu faço o meu altar.

30443

Se enfim procuro caminhar sozinho
Ao encontrar diversidade em dor
Eu poderia desvendar sabor
Do quanto tive num temível ninho
E perceber o quão diverso vinho
A própria vida poderá compor
E quando sobre o penetrar no horror
No qual deveras encontrei carinho
Eu sinto enfim o meu vagar imenso
E quando em nada um andarilho, eu penso
Inutilmente preparando o fim,
Resistiria se pudesse ao menos
Saber da sorte dos fatais venenos
A paz veria neste instante, em mim...

30444

Do perigoso desvendar da história
Que tanto pude conhecer outrora
O quanto quero e solidão decora
Tornando a vida com certeza inglória
Não tendo nunca e nem querer vitória
A sorte torpe e tão venal devora
A quem já sabe e reconhece agora
A lua fria e em lupanar aflore-a
Sabendo mesmo esta inquietude vã
E tenta inútil conhecer o afã
De quem porfia imensamente e bebe
A ingratidão que vorazmente tolhe
O passo audaz e mesmo assim recolhe
Cada semente que do não recebe.

30445


Quando meu ânimo demonstra o frio
Ao transformar o meu inútil passo
A dor ocupa sem sentir o espaço
Aonde amor; em solidão, desfio.
Pudesse ter o caminhar de um rio
Deveras tento e na verdade traço
Cenário brusco; e o desejar escasso
Um peregrino sonhar perde o fio.
Sem resistência procurei a sorte
E trafegando sem sentido algum
O meu saveiro sem ter prumo e norte
Ao naufragar por ventura tece
E bebo enfim das ilusões o rum
Sabendo ausente dos meus sonhos messe...

30446


Vencido espaço navegando à toa
Pudesse um cais terminal destino,
Mas quando em luz sem ter ventura e tino
A voz do nada dentro em mim ressoa,
Mortalha cobre o que restou e ecoa
O canto amargo e doloroso ensino
Porquanto tento e quando em vão, ladino
O mundo rasga; o que aprendi revoa...
E tanto pude acreditar no nada
Que agora sinto mais distante, alada
Qualquer beleza mergulhando em vão,
E quando posso desvendar segredo
Momento em dor; ao perceber concedo
Matando agora o que se fez verão.

30447

Mortalhas trago do que fora sonho
E nada cabe em tempestades tantas
Quisera ao menos vicejar as plantas,
Mas na verdade o meu pomar medonho
Riscando os céus; um navegante, oponho
Meu desencanto enquanto enfim tu cantas
E as horas tolas são comuns e espantas
O teu terror enquanto o meu componho.
São temerários os momentos vis,
E sei que deles o destino quis
Fazer da sorte derrocada imensa.
Dantesco mundo solitário errante
Pudesse crer no derradeiro instante,
Porem da glória mais ninguém convença.

30448


Seguindo este deserto que me acolhe
E nele desvendando qualquer ponto,
Aonde se pudesse estando pronto
Beber desta fartura e se recolhe
Somente o nada ter e quando escolhe
A sorte não permite mais desconto,
Matando lentamente assim remonto
Ao dia mais feliz. A vida tolhe.
E nada do que outrora imaginara
Ainda se faz belo em tez mais clara,
Percorro tantas vidas numa só
E sei que este caminho sem saída,
Não deixa que se veja a própria vida,
E morro sem deixar nem rastro ou pó.


30449


Ao confrontar opiniões diversas
Tu calas minha voz enquanto o nada
Traduz vazia noite onde a alvorada
Transpõe belezas fartas e dispersas,
Mas quando sobre novos rumos versas
Ao penetrar impune tal estrada
Não vês quanto a mentira disfarçada
Permite o renascer de outras conversas.
Eu pude acreditar num novo dia
Até saber igual tal sinfonia
E sendo assim um mero passageiro
Da vida momentânea e mesmo espúria
Exposto aos temporais e sua fúria
O canto que te faço é derradeiro.


30450

Percebo a rapidez desta pantera
Que atocaiada espreita algum passante,
E tendo a sensação de morte a espera
Não deixa qualquer dúvida é tocante.
A fome quando em fúria degenera
Momento mesmo atroz mais fascinante,
E sinto que deveras se agigante
Da imensa mansidão surgindo a fera
Assim a própria vida nos ensina
Quando injustiça traça o dia a dia,
Ausente qualquer luz ou poesia,
Restando tão somente esta vingança
Aquela que se fez doce e sensata
Ao mesmo instante ruge, fere e mata,
E em furiosa senda já se lança.

30451


Imagem cambiante, luz e sombra,
Ao mesmo tempo atrai e me devora,
Assim a fantasia traça agora
Cenário que acalenta enquanto assombra,
Dicotomia clara a cada instante
E nada pode mesmo me impedir
De ter esta ternura, este elixir
E ser a fera audaz e alucinante.
Acasos entre ocasos, casos, ócios
Os dias se refazem noutra sanha,
E quando se pensara outrora ganha
O que se vê na cena são beócios
E tento descobrir qualquer saída
Que ainda me preserve enfim a vida...

30452


Já não se afasta imagem turbulenta
De tantas barricadas vida afora,
A porta se escancara e me devora.
A vida noutra face se apresenta,
E quanto mais audaz, louca e sedenta
Arcando com engodos tudo aflora
E sendo mais distante enquanto ancora
O porto na verdade já se ausenta.
Um ébrio que satânico podia
Beber desta ilusão em poesia
Podado há muito tempo em vil censura,
Somente se percebe um passageiro
Aonde se queria timoneiro,
Herdando do passado esta amargura...


30453


Caminho já tolhido pela insana
Vontade de sentir felicidade.
E sei que na verdade só degrade
Quem tanto noutro encanto já se ufana,
A morte se aproxima e soberana
A cada novo instante mais invade,
Restando o que talvez seja a verdade
Mortalha que se tece e desengana.
Sem ter sequer quem possa ou mesmo adestre
O coração mordaz, das dores mestre
Revê cada momento em solidão
Erguendo esta bandeira do vazio,
Aonde se pudesse eu desafio
Sabendo no final, a negação...


30454


Seguindo-me em tocaia a morte traça
Um plano desairoso a cada instante,
E tendo este cenário degradante
Mortalha se tecendo não desfaça
O rumo aonde o sonho vago passa,
Transido coração de um delirante,
E sabe muito bem tolo farsante
Que a vida se percebe em dor e graça.
Acolho cada engodo e dele tramo
O quanto se pudesse em novo ramo
Viver a eternidade do arvoredo,
Mas logo apodrecida esta raiz,
O mundo quanto muito contradiz
E louco sem medidas, mal procedo.

30455


Porquanto a aurora ainda resplandeça
Tomando com beleza este azulejo,
Quem sabe melhor sorte enfim prevejo
Ou mesmo quem batalha já mereça,
Não sai de minha mente, da cabeça
A fúria de um passado e num lampejo
O corte se aprofunda e quando vejo
Medonha teia em dor a vida teça.
Vedando cada passo a quem porfia,
Negando plenamente a fantasia
Mecânica comum da vida e morte,
Cinzel ao esculpir realidade
Traçando cada palmo que degrade
Negando da esperança algum aporte...

30456


O sol se levantando na manhã
Dourando este cenário antes brumoso,
Um astro tão potente e majestoso
Fazendo do viver o seu afã,
Mas quando vejo a vida amarga e vã
E nada do que sonho dita o gozo
O quanto poderia prazeroso
É dito com voz fria e tão malsã.
Reside dentro em mim a solidão
E dela sei o traço e a direção
Negando qualquer cais a quem procura,
Por mais que a claridade tome o dia,
Apenas o vazio se recria
Na vida eternamente escusa e escura...

30457



Aonde poderiam novos sócios,
Momentos de alegria se partilham,
Mas quando se percebem que não brilham
Olhares tolos toscos dos beócios,
Os dias são deveras feito em ócios
E quando fantasias vãs se trilham,
Estrelas na verdade não polvilham
Nos cérebros e mentes simples bócios.
Resisto e tento mesmo ao escrever
Ditar com qualidade ou mesmo quase,
Mas quando a realidade se defase
Apenas o vazio volto a ver,
E teimo contra a força das marés,
Mas não conheço algemas nos meus pés.


30458


Pudesse algum primor em versos tais
Dizer quanto se pode ser feliz,
Mas tanto em vão procuro e nada diz
Momentos do soneto, terminais.
Assisto aos meus diversos funerais
E bebo em taças finas, tento o bis,
Bisonho caminhar de um infeliz
Sonhando com as taças de cristais,
Reside em mim um velho desdentado,
Há tanto tempo morto em duro enfado,
E tenta ressurgir, mas nada vê…
Tivesse algum momento em nova senda
Assim cada vontade já se atenda,
Porém meu verso fica sem por que.


30459


Há tanto poderia uma esperança
Aonde nada tendo, nada resta.
Abrindo qualquer fonte, nova fresta
Quem sabe o já perdido ainda avança
E sei do quanto a vida diz vingança,
E nela cada engodo agora empresta
A luta insofismável, mas funesta
E trago ultrapassada adaga e lança.
Metralhadoras vejo no caminho,
Um quixotesco estúpido sozinho
Não pode contra a fúria dos gigantes,
Moinhos entre tantos destroçando
O que pudesse ser apenas brando,
Agora são cenários degradantes...

30460


A fera com seu dorso expondo músculos
Transcende ao que pudesse imaginar,
E assim ao perceber vago luar,
Mergulho neste opaco em crepúsculos,
Ainda não pudesse ver sequer
A sombra do que tanto desejava,
Mas quando a face em fúria, imensa e brava
Não posso traduzir o que vier,
Resisto vez em quando, mas deveras
Não posso ter a chance na batalha,
Assim enquanto a dor já se amealha
Refúgio procurando contra as feras,
Escondo-me nas grutas, nos grotões
E busco em insistência soluções...


30461


Percebo do terror o duro aspecto
E quando me percebo em tal cenário
O quanto poderia temerário,
A vida dita em torpe retrospecto
Momentos tão diversos sem afeto
E neles a verdade se desvenda,
Trouxera sob os olhos mera lenda,
E agora o meu caminho assim completo
Em cenas tenebrosas, vãos anseios,
Mereço realmente este final
Exposto ao se fez atroz venal,
Não tenho sequer sombra de receios,
Entregue ao meu verdugo, nem esboço
Sabendo dentro em pouco só destroço...

30462


Inquieto caminheiro do vazio,
Medonha face dita o meu destino
E tanto quanto posso me alucino,
E a vida num momento já desfio.
Aonde houvera a sombra de um pavio
Imenso turbilhão horas a pino
E perco qualquer luz, e sem o tino,
O rumo se esvaindo eu não recrio.
Herético pendor em cores grises
A vida se formando em tantas crises
E delas as lições são minha herança
No olhar quase em soslaio deste algoz,
A guilhotina cala a minha voz
Justiça sem medida enfim me alcança.

30463


Irônico caminho em iras feito,
Esboço de um momento em que talvez
Pudesse penetrar aonde crês
No encanto tantas vezes contrafeito
E sinto o meu delírio em turvo leito,
E beijo este demônio que ora vês
E dele se refaz estupidez
Compartilhando assim o mesmo pleito.
Edênica ilusão já não cultivo,
E tento me manter deveras vivo
Porquanto esta mortalha ora percebo,
E o fim em turvas águas tão somente,
O peso dos fantasmas já se sente
Féretro melancólico eu concebo.


30464


No tremular dos olhos desta que
A ferrenha adversária do meu sonho
E quando a cada passo não proponho
Sequer o que alegria não mais vê
A vida se amortalha e não se crê
Nem mesmo no que outrora quis risonho,
E tanto novo rumo eu me proponho,
Buscando algum apoio, mas cadê?
Residualmente tenho este delírio
E quando me percebo em tal martírio
Ousando uma resposta nada vem
Persisto caminhando sem destino,
E tento mesmo quando me alucino,
Meu brado se perdendo sem ninguém...

30465


A fera desdentada e já faminta
Qual fora mera sombra do passado
O olhar agora manso, desvendado
A fúria do passado eu vejo extinta
E quando noutras cores se retinta
O velho e amordaçado intenso brado
Apenas por momentos relembrado
Espúria realidade não mais minta.
Fulgores neste olhar imensidão,
Mas quando se demonstra solitária,
A fera outrora amarga e temerária
Aos poucos toma nova direção
E busca algum refúgio noutra sorte,
Espera ora silente pela morte...

30466


Sedosas sensações em corpos nus
Divina maravilha em noite clara,
O quanto deste anseio se declara
E nele se percebe tanta luz,
Ao quanto teu carinho reproduz
Momento sem igual que nos ampara,
Tomando com vigor toda a seara
Delírio feito em festa me seduz,
E tendo esta certeza feita em seda
A pele delicada traduzindo
O amor que sei deveras mais infindo,
E quando tanta glória se conceda
Condeno-me a viver enamorado,
Caminho para os céus já desbravado...


30467


Febris as sensações que percebera
Em noite maviosa feita em gozo,
Assim neste cenário majestoso
A vida noutra vida se perdera,
Sentindo esta beleza, concebera
Momento mais feliz, maravilhoso,
O tanto que se fora audacioso
Recende ao que decerto percebera
Quem tanto se entregando se fez teu,
Meu mundo neste instante já se deu
Sem ter qualquer defesa vou inteiro
E sendo teu amante, amado e amigo,
Num caminhar divino assim prossigo,
Do amor e dos desejos mensageiro...

30468



Explodem sensações divinas quando
Eu posso me embrenhar em tuas sendas,
E quanto os meus desejos mais atendas,
O mundo noutro mundo se formando,
O amor quando demais nos transformando
E nele se percebem velhas lendas,
Retiro dos meus olhos toscas vendas
E vejo novo dia nos tomando.
Agora posso ser feliz porquanto
Vivendo este delírio que ora canto
Não tenho outro caminho senão este
Saber do quanto posso estar em ti,
E neste amor imenso eu conheci
Esta amplidão sobeja que me deste...

30469


Seguindo lentamente noite afora,
Ninguém perturba quem se ama demais
E sendo estes momentos magistrais
A fúria de um prazer insano aflora,
E toda esta ternura nos devora
Gerando dentro em nós os temporais
Supernos em delírios sem iguais,
Aonde com ternura o barco ancora,
Levado pela imensa corredeira,
Fazendo deste encanto uma bandeira
E nela se traçando nova vida,
Amor não mais concebe solidão,
Sabendo desde sempre a direção
Já não conhece mais a despedida...


30470


Encantador jardim onde plantaste
Usando como esterco esta emoção
Garante desde já tal floração
Traçando com a vida este contraste,
Porquanto tanto amor tu me negaste
Roubando o que seria direção
Meu barco sem sequer atracação
Perdido em tal naufrágio, não notaste.
Resumo a minha vida em tal canteiro
E sei quanta beleza, mas inútil,
O amor que tanto quis agora é fútil
Colhendo tão somente este espinheiro
E nada do que tanto imaginara
Ainda se mostrara em noite clara.

30471


Amor em devaneios, nada traz
Somente o desespero de quem tenta
Vencer em calmaria esta tormenta
Embora o passo seja mais tenaz,
Tivesse pelo menos viva a paz
Apraz-me caminhar onde se alenta,
Mas quando se percebe violenta
A vida tão medonha e então mordaz,
Resisto aos meus desejos mais ferozes
E nego ouvir dos sonhos suas vozes,
Calando dentro em mim esta vontade.
E assim em solitária noite perco
O encanto aonde tanto em vão me acerco
E apenas solidão venal me invade...


30472


Galopes noite adentro, meu corcel
Galgando os infinitos em teus braços,
Estreitos com certeza nossos laços
O amor se transformando alçando o céu.
E aonde se fizera sempre ao léu
Os sentimentos toscos, tolos, lassos
Agora penetrando tais espaços
Permitem que se veja além do fel
Que tanto costumara devorar,
Açoda-me esta prata do luar
E nela se percebe a claridade
Do quanto posso ser enfim feliz,
Nem mesmo a fantasia contradiz
Rompendo do temor, algema e grade.


30473


Delírios me tomando num instante
Vencendo os meus pudores, vivo amor,
E quando me percebo em tal albor
O sonho se derrama fascinante,
Pudesse neste mundo degradante
Um novo amanhecer a se propor
E dele um andarilho em bom calor
Tecer o seu caminho em paz constante.
Mas quando vejo a face do não ser
E dela se percebe tal poder
Não posso mais lutar contra a corrente
E tento desviar tua atenção
Negando mesmo a própria negação
Porquanto nova luz ainda eu tente...

30474


Jamais meias palavras poderiam
Dizer do quanto sinto e nada vês
Ainda sem destino e sem porquês
As horas mais felizes se esvaziam,
E quando tempestades se recriam
Porquanto no vazio ainda crês
Sabendo dos tormentos e revês
Os dias em que os medos se porfiam,
Amar é ter decerto a direção
Por mais que seja errôneo este caminho,
Cansado de lutar sempre sozinho
Das esperanças tola arribação,
O quanto poderei acreditar
Expressa o brilho intenso do luar...


30475


Explosão que fantástica traduz
O quanto se pudesse ter em mente
E quando tanto amor já se pressente
A intensidade gera a imensa luz,
Aonde se fizera outrora cruz,
O peso do viver sendo premente,
Não traça outro caminho e nem tente
Vencer a correnteza que a seduz.
Assim ao se entregar sem mais medida,
A sorte dominando a tua vida
Verás intensamente quão é belo
O mundo que em meus versos tento ver,
E posso mesmo agora nele crer,
E tanto quanto posso eu te revelo.


30476

Invadem sem saber qualquer limite
As ondas de um delírio feito amor,
E quando se percebe a recompor
Caminho aonde a sorte se acredite,
Não aceitando ao menos um palpite
Traduzindo em si mesmo este louvor
O quanto poderia a se propor
Não deixa que deveras se limite,
Sem margens, inundando todo o vale
Sem nada que atrapalhe ou mesmo cale
Uma explosão de fúria incomparável,
Assim ao se mostra já por inteiro
De Marte ou de Cupido o mensageiro
Tornando qualquer solo mais arável.


30477


Um pescador de perlas, o poeta
Procura descobrir qual o momento
Exato aonde mesmo em tal tormento
O pensamento assim já se completa,
Do quanto em letras poucas se repleta
Por vezes dar sentido ainda tento
E quando outros caminhos eu invento
Na variável face desta meta.
Acertos entre enganos, erros tantos,
E neles os diversos desencantos
E mesmo quando em glória traduzido
O quanto se fizesse mais audaz,
Ao mesmo tempo a dor imensa traz,
Ou nega a direção, mata o sentido.


30478


No refazer de tantas ilusões
Caminhos mais diversos; mesmo guia
A sorte quando assim já se previa
Deveras entre tantas expressões
Diversidade imensa que me expões
Completa a mais superna fantasia,
E tudo o que decerto poderia
Não traça nem persegue as soluções
A poesia trama com palavras
Os sentimentos vivos, minhas lavras
Aonde se cultiva flor e mágoa
O sentimento rega em sol nascente
E assim neste senão iridescente
Prismática beleza em sol e em água.

30479


Tocando com firmeza tua pele
Sentindo este arrepio que se aflora
O gozo mais suave nos devora
Na fúria que decerto me compele
E tendo esta certeza em que se apele
Caminho mais airoso nos decora
E tanto quanto pode a alma demora
E bebe deste encanto aonde sele
Destinos tão diversos do passado
E agora neste rumo unificado,
Mergulho num delírio magistral,
Subindo mansamente rumo ao céu
Amor desempenhando o seu papel
Permite a cada passo outro degrau.


30480


Caminho imenso e mágico se trama
Levando a plenitude aonde eu creio
No quanto se fizesse sem receio
Mantendo com ternura a fúria e a chama,
Assim a cada dia amor nos clama
E quando seus caminhos eu rodeio,
Encontro a maravilha de permeio
E tanto poderia quem reclama
Da sorte desairosa em dores feita,
Agora quando em luz vai satisfeita
Refeita dos momentos de abandono,
E quando a poesia dita a norma
O amor com mansidão já nos transforma
E deste paraíso enfim me adono.


30481


Pedido que se atenda em noite clara
Assim ao perceber a lua cheia
Amor quando demais já nos enleia
E a cada novo verso se declara,
Ainda mais feliz minha alma aclara
E tantas vezes sonhos, pois rodeia,
E quando se mostrara então alheia
Vagando sem destino outra seara,
Razões para sonhar se adivinhando
E o tempo mais suave, onde nefando
Pudera divagar em turbulência,
Agora ao me sentir somente teu,
O quanto deste encanto concebeu
Já não seria mera coincidência.


30482


Bendita sorte dita o meu destino
Porquanto num amor se fez constante,
E a cada novo dia num instante
Deveras ao senti-lo me fascino,
E bebo deste sonho cristalino
Reside em mim decerto um diamante
Que tanto poderia mais brilhante
Tomando cada sonho do menino
Que o tempo maltratara e não sabia
Possível nova senda em claro dia,
Vencidos os temores do passado,
Agora noutro verso que proponho
Um mundo mais tranqüilo e até risonho,
Supera qualquer tempo desolado.

30483

Vivendo amor insano nada além
Das luzes que conduzam ao nascer
De um belo sol dourando o alvorecer
Negando a tempestade que inda vem.
Destroços do passado, noutro bem,
O quanto poderia merecer
Quem tanto concebendo este poder
Dos sonhos e desejos um refém.
Deitada nas alfombras, languidez
O quanto do desejo vês e crês
Permite que se faça um novo mote,
Assim amor se torna mais esguio
E quando se prepara ao desafio,
Deveras sem perdão enceta o bote.


30484


Cabelo solto ao vento, ganha a areia
Correndo em liberdade, a mais perfeita
Beleza aonde a sorte se deleita
Sabendo decifrar rara sereia.
E a lua se mostrando agora cheia
Enquanto te prateia enfim se deita
A sorte desta forma sendo aceita
A fúria de um desejo me incendeia,
Amor que se pretende a cada aurora
Noturna maravilha já decora,
E traz no bojo rara fantasia,
E quando a luz do amor decerto traça
Momento mais feliz toda desgraça
Esvai-se neste alento que se cria.




30485


Desejos entrelaçam nossas pernas
E a noite se transcorre em tal beleza
Aonde se encontrando esta certeza
Os sonhos são deveras as luzernas
As horas mais felizes, meigas,ternas
Traduzem da esperança uma grandeza
E tendo com ternura e sutileza
Delírios, dos prazeres, as lanternas.
Guiando o passageiro ao infinito
Do quanto desejara mais bonito
Amor que tantas vezes não soubera,
A cada nova queda se prepara
A vida noutra senda e na seara
Atocaiada a dor, temível fera.

30486


A solidão amiga e companheira
Dos párias entre luas e calçadas
Aonde imaginara mais cansadas
As almas se entregando à mensageira
Da morte que se mostra quase inteira
E teima contra as luzes desvendadas
Assim ao se criarem sonhos, fadas,
A morte se aproxima em derradeira
Mortalha que reveste quem deveras
Pensara tão somente em primaveras
E agora não concebe lenitivo,
E quando enamorado em luz sombria
Apenas devorando a fantasia,
Um torpe caricato, eu sobrevivo...

30487


Compele-se ao vazio a amarga sorte
E nela se desvenda este descaso,
A vida se prepara para o ocaso
E tem sempre distinto qualquer norte,
Porquanto amor deveras já nos corte
E nele a cada instante me defaso,
O tempo se perdendo em tolo prazo,
E o vento traduzindo enfim a morte.
Não pude discernir um só segundo
E quando os meus destinos eu confundo
Resisto aos vendavais, inutilmente,
E tanto poderia nova luta,
Mas sei que a cada passo a alma reluta
E todo este vazio já se sente...

30488


Desfralda-se a bandeira da esperança
No lenço branco vejo a despedida,
Ainda que restasse em minha vida
Sabor tão delicado de vingança.
Ainda quando ausente a temperança
Mudança a cada passo garantida,
E nela se refaz a já perdida
Vontade que deveras não avança.
E morto em vida resta tão somente
Ainda que longínqua esta semente
E nela refazer a plantação,
Mas tudo se traduz em vagos tons,
E os dias que pensara muito bons
Traduzem tão somente a negação.


30489


Quem sabe algum delírio salve a história
De quem se fez audaz e agora mente,
O tempo na verdade diz somente
De quem conhece os louros da vitória,
Medonha face dita a merencória
Derrota que deveras toma a mente
E quando se mostrasse num repente
O mundo em turbulência, ausente glória
Eu posso desvendar cada segundo
E tanto quanto tento não confundo
Os ermos que carrego dentro em mim,
Da solitária noite em que me entranho
E quando percebera quase ganho
A luta não termina, e segue assim...


30490


Por sobre estes olhares hipnotizados
Entranha-se deveras o bom senso
Qual fora observatório aonde o imenso
Delírio transformando o povo em gados.
Diverso de outros tantos enredados
Na senda mais comum, também eu penso
No quanto poderia ser intenso
Os dias se mudassem rumos, fados.
Ao ter esta visão nova e sensata
Desvio o meu caminho deste aonde
A verdade absoluta já se esconde
E deste mesmo engodo se desata,
Por isso é que se vê mutável meta
Por isso é que deveras sou poeta...


30491


A derradeira chance de quem ama
É ter novo momento em luz e paz,
Mas quando a vida nega e não apraz
Apaga o que já fora fonte e chama,
Assim ao se encontrar diversa trama
O passo poderia ser audaz,
Mas vejo tão somente o que se traz
Nas mãos de quem deveras só reclama.
Pudesse adivinhar qualquer segredo,
E quando novamente insano eu cedo,
Não vejo outra saída e me esvazio.
O amor que dita os trilhos e abandona
Diversidade imensa traz à tona
Enquanto faz calor também faz frio.


30492

Porquanto nosso canto é verdadeiro
E traça com ternura outros caminhos,
Meus dias não serão nunca sozinhos,
O amor se faz imenso companheiro
E quando entre os penhascos eu me esgueiro
Buscando em segurança nossos ninhos,
Os medos que deveras são daninhos
Não deixam que se veja por inteiro
O quanto ser feliz é meu destino
E assim a cada dia me fascino
Bebendo o cristalino amanhecer,
Sabendo nos teus braços o meu porto,
Ainda que estivesse semimorto
Jamais eu poderia te esquecer.


30493


Após a tempestade traiçoeira
Já não comportaria novo sol
Não fosse tanto amor nosso farol
Nem mesmo esta esperança uma bandeira,
A sorte sendo nossa companheira
Permite a maravilha no arrebol,
Jamais me imaginei qual fora atol,
Isolado viver desta maneira
Sem ter sequer alento em temporais,
Ausente dos meus braços, desiguais
Momentos entre fúrias e terrores,
E sendo teu amigo enquanto amante,
O mundo se prepara fascinante
E nele novos sonhos multicores.


30494


Um novo sol eu sinto renascer
Depois de tantas lutas e procelas,
Aonde se encontraram frias celas,
O amor sem ter limites diz poder
E tanto poderia merecer
Quem sabe cada passo em que revelas
Abrindo deste barco tantas velas,
Navego até quem sabe me acolher
O porto mais amigo em segurança
E quanto mais em mar imenso avança
Certeza de uma paz que se apresente,
Não deixo para trás qualquer vazio,
E quando os temporais eu desafio,
Percebo-te deveras mais presente.



30495


Se agora eu te proponho novo rumo
E tento navegar em mansas ondas,
Porquanto em tais estrelas tu te escondas
O quanto te desejo enfim assumo,
E tento novamente enquanto aprumo,
As horas mais felizes onde sondas
Momentos delicados, velhas rondas
E nelas entranhando todo o sumo,
Vencido caminheiro do passado,
Mergulho nas entranhas do futuro
E quando os próprios rastros eu procuro
Não tendo outro destino vislumbrado
Assisto ao que se fez em nova luz,
E aos braços de quem amo amor conduz.

30496


Unindo as solidões talvez possamos
Viver a plenitude desejada,
A sorte tantas vezes malfadada
Agora se espalhando em novos ramos,
Permite que deveras percebamos
Após a tempestade esta alvorada,
E nela com certeza já raiada
Seara maviosa que entranhamos.
E assim sem ter limites, nada além
Do quanto em poesia nos convém
Acende este momento em luz suprema,
Rompendo do passado esta corrente
O brilho inusitado se pressente
Sem nada que deveras mais algema...

30497


Quem sabe ao reviver uma esperança
Há tanto amordaçada pela dor,
Eu possa novo mundo te propor
Gerado pelas bases da aliança
E quando ao mais sobejo amor se lança
O encanto que se fez quase um louvor
Percebo este caminho redentor,
E nele esta certeza já se alcança,
Mesquinhos dias mortos de outras eras,
E quando novos sonhos tu temperas
Trazendo para mim felicidade,
Apenas o carinho mais audaz,
E nele a perfeição ditando a paz
Deveras neste instante já me invade...


30498


Nascida neste sonho mais feliz
A sorte benfazeja toma a cena
E quando a própria vida me serena
Encontro na verdade o que mais quis,
Não trago do passado cicatriz,
Nem mesmo a solidão inda envenena
O passo de quem tendo uma alma plena
Silente dos rancores nada diz.
Existo tão somente por saber
Que tanto posso mesmo em teu prazer
Colher os frutos vários da emoção,
Assim ao me sentir um jardineiro
Cuidando com ternura do canteiro
Cevando a mais sublime plantação.


30499

Unindo nossos medos venceremos
Os mais perversos dias; e isto dita
Futuro com ternura em paz bendita
Alheios aos fantasmas, tolos demos,
E quanto mais audazes percorremos
Caminhos que traduzam a bonita
Seara aonde a sorte se acredita
Os frutos mais sobejos recolhemos.
Não posso sonegar tanta fartura,
E quando no passado uma amargura
Domara o pensamento de quem sonha,
A sorte transformando o dia a dia,
Gerando a cada instante a fantasia
Tornando esta seara mais risonha.


30500


Refaço um mundo novo em que se possa
Viver a plenitude deste encanto
E quando mais feliz deveras canto,
Sabendo desta sorte, minha e nossa,
O tempo a cada instante me remoça
E tento desfazer qualquer quebranto
A sorte se emoldura em manso manto
E toda a solidão virando troça.
Resido no futuro aonde estás
E tento desvendar imensa paz
Traçando o dia a dia em luz sobeja,
Assim ao te encontrar eu percebi
O quanto de ventura havia em ti
E encontro o que minha alma mais deseja.


30501

Seguindo nosso sonho em seus sinais
Adentro infernos, céus e sigo alheio
Enquanto por momentos bons anseio
Espero por delírios e jamais
Encontro tão somente estes cristais
E deles cada brinde ao que não veio
E quando estrelas tantas eu rodeio,
Vagando sem limite por astrais,
Do quanto poderia ser sincero
O amor que a cada passo mais venero
E teima em ser diverso do que tanto
Pensara num instante em raro encanto
Viver sem perguntar se há novo dia
Singrando os vendavais da poesia.


30502


É fato consumado o nosso amor
E dele aprendo um pouco dia a dia,
E quanto mais audaz a fantasia
Maior esta inconstância e no temor
Do todo que se faz em vária cor
O sol ao penetrar demonstraria
Em raio mais voraz, o que nos guia
Embora se perceba medo e horror.
Amar e ter certezas de momentos
Cruéis entre delírios e tormentos
Incertos pensamentos, luzes fartas,
Jogando sobre a mesa nossa sorte
Em búzios e tarôs, em vida ou morte
Destino decidido pelas cartas...


30503


Um dia mais risonho poderia
Trazer alguma paz a quem batalha
E tenta além do fio da navalha
A sorte que bendiz em fantasia,
E tendo desta sombra a alegoria
Porquanto tanta luz sempre amealha
E quando se percebe não retalha
E vence com ternura esta agonia.
Rescende ao mais suave dos perfumes
E quando penetrando traça em lumes
As guias pelas noites mais brumosas,
Neblinas costumeiras neste outono,
O amor quando demais se dele adono
Eternizando em mim delírios, rosas...

30504

Teremos nosso amor eternizado
Nas ânsias mais sutis e mais floridas
Aonde se percebem nossas vidas
O tempo com certeza iluminado,
Vencer as tempestades lado a lado,
Saber bem mais distantes despedidas
E quando as nossas sortes são urdidas
Ausente dos meus medos o pecado,
E sendo seu fiel bom escudeiro
O quanto se mostrando por inteiro
O belo amanhecer em claros tons,
E assim ao se saber bem venturoso
O mundo traduzido em riso e gozo,
Suprema maravilha em dias bons.


30505

A vida que proponho dia a dia
Trazendo a imensa paz que se procura
Tornando bem mais clara a senda escura
Gerando a cada passo a fantasia,
Viver felicidade que se urgia
E ter a sensação plena ternura,
Do encanto mais gentil, farta ventura
E assim se perfazer a poesia
Aonde nada impeça o caminhar
Tocado pelos raios de um luar
Que possa em plenilúnio traduzir
O quanto em maravilha dita a sorte,
Singrando este oceano onde a paixão
Traduz eternamente este verão
Traçando ao paraíso um bom transporte.




30506


É feita num prazer incomparável
A noite em que deveras me entreguei
E nela toda a sorte adivinhei
Momento inesquecível, agradável,
O amor por ser encanto indecifrável
Não segue qualquer regra, e assim sem lei
No quanto ser diverso, mergulhei
No abismo mais insano enquanto afável.
Resume a vida inteira de quem tenta
Vencer a fúria imensa e mais sedenta
E ao mesmo tempo ter tanta meiguice,
Neste agridoce insólito caminho,
Deveras com ternura já me aninho,
Além do que ilusão por vezes disse...


30507


Meu mundo te acompanha, minha amiga
E sabe discernir a dor e o medo,
E quando da amizade o seu segredo
Desvenda quem a sorte mais persiga,
Já tendo a mão suave que me abriga,
E posso partilhar qualquer segredo
A vida transformando o velho enredo
Agora com certeza não periga,
E quando nesta liga mais tranqüila
Uma alma em mansidão segue e desfila
Adentra os mais diversos mundos, pois
Ao ter esta ventura, nossa vida
Escuda-se da dor, vence a ferida
Na imensa força expressa ora em nós dois...



30508


Depois do sofrimento que enfrentara
Um ácido caminho percorrido,
Aonde qualquer coisa é sem sentido
O pálido delírio em tal seara,
A vida noutra vida ora se ampara
E assim novo caminho construído
E sendo com firmeza percorrido,
Gerando amanhecer com claridade,
Vivendo esta sobeja divindade
Na qual sem traição e sem desgaste
Permite-se igualdade no contraste
E tendo esta certeza que é minha haste
E crendo numa nova realidade
Eu canto à nossa vida em amizade.


30509


As alegrias tantas entre as dores
Permitem uma bela caminhada
E quando se percebe nesta estrada
Espinhos entranhados entre as flores
Ainda que se pense nos terrores
A vida se permite abençoada
E a sorte traduzindo nova estada
Tecida nos teares dos amores,
Amiga, nada impede que se creia
Na sorte que deveras fora alheia
E agora junto a ti se transformando
O dia mais atroz, tempestuoso
Promete um ar divino e majestoso,
Tornando o dia a dia calmo e brando.



30510


A terra que invadida por Cabral
Outrora em mil nações já dividida
Tão rica em Natureza, em glória e vida
Aos poucos destroçada em tom venal,
Pudesse ter ainda a triunfal
Beleza pela qual se fez ungida
E agora totalmente destruída
De tantas entre tantas, outra igual.
(As índias violentadas, homens mortos,)
A Igreja dando apoio, que indecência!
Que Deus tenha deveras a clemência
E perdoando assim tais marginais
Que em nome de um senhor poder, dinheiro
Do Paraíso então, feito em puteiro
Comemorar o quê? Só lamentais...


30511

Beijando a tua boca delicada
E tendo a sensação bem mais sutil,
Do quanto se em delírio se sentiu
O amor trazendo em paz doce jornada,
A sorte sendo assim bem semeada
Vivendo este momento mais gentil,
O quanto poderia e descobriu
Seara tantas vezes desejada.
Recebo de teus lábios o carinho
E quando me percebo mais feliz
Sabendo do que tanto em sonhos quis
Já não caminharei ledo e sozinho
Na mansidão de um rio em águas claras
Vivendo a fantasia em que me aclaras.

30512


Marcando o teu desejo com a fonte
Inesgotável feita em tanto amor,
Vivendo cada instante a te propor
Beleza incomparável no horizonte
E quando nova senda se desponte
Promessa de um momento em tal louvor
E tendo esta alegria recompor
A vida que deveras desaponte
Quem tanto caminhara em luz sombria
E tendo esta certeza que me guia
Percorro os infinitos num instante
E sei quando é possível ter enfim
Delírio que traduza agora em mim
Um ato mais tranqüilo e fascinante.


30513


Castelo de ilusões, amores fartos,
Desejos de quem tanto sonha e busca
Porquanto a vida seja amarga e brusca
As luzes adentrando assim os quartos,
Tomando toda a casa, permitindo
Um sonho mais feliz aonde outrora
A solidão vivia e não ancora
Agora um barco amargo, medo infindo,
Viver esta alegria em plenitude
Saber ser mais possível novo sonho
E quando a novo encanto eu me proponho
Que toda a velha história se transmude,
E tendo esta certeza de outros tempos
Ausentes dos meus dias, contratempos...

30514


Meu rumo no teu rumo se perdeu
E o quanto tive em dor já não se vê
O amor quando demais sabe por que
A vida novo encanto concebeu,
Saber das minhas dores, sendo teu
Encontro o que deveras não mais crê
Quem tanto se perdera e hoje revê
A claridade após o imenso breu,
E cristalina senda se apresenta
A quem vivera a dor velha tormenta
E aprende a discernir novos caminhos.
Meus dias não serão mais como outrora
Ao ter a claridade que se aflora
Tornando mais sublimes toscos ninhos.

30515


Imerso nos caminhos das paixões
Vivera em tais momentos mais atrozes,
Ouvindo da esperança mansas vozes
Momentos mais tranqüilos tu me expões
E neles percebendo as direções
Os dias não serão jamais ferozes,
E quando se afastando dos algozes,
Os medos em terríveis turbilhões,
Já não conhecem mais minhas veredas
E quando novas luzes me concedas
Certezas de alegrias me trarão
O quanto se perdera em noite vã
E agora novo amor, nova manhã
Traçando em pleno outono outro verão.




30516

Procuro o paraíso em teu olhar
E sei quanto é possível ter em mãos
Momentos que pensara outrora vãos
E agora me ensinando a procura
As réstias maviosas de um luar
Que espelham a beleza a te roubar
Embora a vida trace em tantos nãos,
Cevando nos teus olhos raros grãos
Beleza sem igual a se entornar.
Aonde poderia ter apenas
Um luminoso brilho e nada mais,
Ao ver tantos caminhos magistrais
As noites tenebrosas tu serenas
E sei que a cada novo amanhecer
A história em luzes fartas renascer...

30517

A vida em ambições se mostra nua
E ceva a tempestade a cada dia
Aonde se negreja esta agonia
Ausente qualquer brilho, morta a lua
E quem deveras tenta enfrenta e atua
Mergulha nas entranhas heresia
E sabe o quanto a morte se porfia
Deixando para trás quem vão flutua.
Assisto ao renascer desta quimera
E vejo retratada em minha face
Medonha tatuagem em que se trace
Apenas o fantasma de uma vida
Atroz assassinada há tantos anos,
Mergulho nos meus vários desenganos,
E vejo qualquer senda já perdida...


30518


As causas da miséria de minha alma
Há tanto desvendadas por alguém
Que enquanto o mesmo nada inda contém
Retém a solução e não me acalma,
Conheço o dissabor em cada palma,
E acumulando apenas o desdém,
A faca se afiando agora vem
Ferida se repete e gera o trauma,
O vandalismo açoda quem se fez
Além de qualquer luz, insensatez
Mergulho nas entranhas deste mar,
Aonde em poluída tez se vê
O mundo sem motivo e sem por que
No eterno e sem defesas naufragar...

30519


São turvas estas águas da existência
E nelas não concebo claridade,
Porquanto a cada engodo mais degrade
O que pudesse ser a convivência
Demônios entrelaçam sem clemência
E quando a morte dita a realidade
O vandalismo impera na cidade,
E o passo me conduz leda demência.
Resisto vez em quando, mas sei bem
Do quanto o nada ser inda convém
E o ser pensante sofre a cada instante,
Resumo a cada verso o que se via
E nada do que vejo, hipocrisia,
Impede este final tão degradante.

30520


Somente por terror já demarcado
O passo rumo ao torpe fim que encerra
A minha leda estada pela Terra,
Marcada por vazio, dor e enfado.
Reside em mim a face do pecado
E quando se percebe o passo emperra
E vejo que deveras se descerra
O manto há tanto tempo degradado.
Barganhas são comuns entre os viventes
E nelas prejuízos tu pressentes
Sabendo no outro igual um ser cretino,
E tendo afigurado o perde e ganha
A pútrida mentira dita a sanha
E doma o que pensara ser destino.

30521

Não receando a queda em tal abismo
Negando a própria essência desta vida
Inválida presença desvalida
Gerada pelo insano cataclismo,
No fundo se procura pelo abismo
E quando se vê mesmo assim perdida
Seara que quisera dividida
Voltando ao que busquei, um ostracismo.
Resido no talvez e desmereço
O passo que se dá rumo ao pudera
A solidão não corta, regenera
E traça novo mundo a quem se faz
Além de simplesmente tola ovelha,
Acendo da esperança uma centelha
E assim, em solilóquio resto em paz.

30522


Procuro alguma sombra do que fui
E tento ser além do mero nada,
A voz de tanto brado anda cansada,
Mas isso com certeza não influi.
Se tudo o que vestira o tempo pui
Uma alma deve ser já renovada
E traço sem pudor a nova estrada
Passado sem valia cedo rui.
Anelo-me ao vazio que porfia
Envolto de funesta claridade
Inseto seduzido se degrade
E morre quando pensa em alegria.
Metáfora eu carrego qual defesa,
Mas sei da vida feita em incerteza.


30523


Lucrando com a morte deste sonho
Que tantas vezes dói e faz rugir
O peito aonde vejo em vão bramir
O fato de ser tolo e até bisonho,
A velha garatuja inda componho
E tento disfarçar torpe porvir
Usando a mesma face sem sentir
O quanto me apresento assim medonho.
Se eu me afastasse ao menos do pensar
Aceitando um cordeiro, bom não berra,
Mas quando se percebe toda a terra
Girando sem sair deste lugar,
A cíclica mortalha que ora visto
É duro ser pensante, mas insisto.

30524

É tempo de perder decerto o senso
E mergulhar na vã filosofia
Que tanto pode ser e não queria,
E quanto mais sofrido teimo e penso;
Existirá um Deus? E a eternidade?
Fugazes ares bebo tão somente
E tento renovar cada semente
Embora o solo nunca mais me agrade,
Prazer pelo prazer dinheiro é gozo,
Nas coxas da morena uma resposta?
O mundo que procuro se desgosta
E nada me parece prazeroso.
O ser, não ser, saber, saveiro ou cais
Apenas exibidos temporais...

30525


O pranto que rolasse não mais traz
Sequer a comoção que poderia,
Minha alma pouco a pouco já se esfria
E o quanto parecia ser mordaz
Agora me parece enquanto traz
Somente face tola e uma alegria
Semeia a tempestade em agonia,
Aonde quis ver Deus, vi Satanás.
E tudo não passando da promessa
Aonde se pudesse ter momento
Em que sem mais tormento houvesse alento
E tudo na verdade recomeça
Pensei em descobrir um continente,
No fundo um paramécio se apresente.


50526


A fera não sossega e se Satânica
Não deixa qualquer sombra de resposta
A carne há tanto tempo decomposta
A face conturbada e até tetânica
Enquanto se mostrasse em tal mecânica
A vida não seria mais exposta
E tendo a solidão em dor imposta
A morte não se faz quando inorgânica.
Assisto ao renascer em cada parte
Do todo que compunha um ser inteiro
E assim jamais se vê o derradeiro
Momento condenado a algum descarte
Descartes com certeza mostraria
Que somente um Deus provável inda cria.

50527


Aos poucos investindo, garras, presas
Não posso resistir à tal quimera,
A morte tão somente o que me espera
E sei que nisto nunca houve surpresas,
Assim ao enfrentar as correntezas
Se a fúria momentânea me tempera
Depois a mansidão me regenera
E posso ver a vida em tais belezas.
Nefasta realidade? vez em quando,
No quanto poderia ser um templo,
A sordidez humana se eu contemplo
Preparo a minha própria derrocada
Depois do todo em vida, resta o nada,
Somente o corpo podre e em vão nefando.

50528


Por vezes ao tentar lutar baqueio
E sinto esta feroz proximidade
O quanto se fizer calamidade
Gerando tão somente algum receio,
Do todo procurando um mero veio
Enquanto o dia a dia nos degrade,
A podre sensação da infinidade
No afã que em turvas águas eu semeio.
A vida não condiz com esperança,
A morte a cada ausência já se lança
E a temperança, apenas um engodo.
Da parte tão minúscula se vê
Enormidade falsa e sem por que
Partícula traduz assim o todo.

50529


Ouvindo a voz que tenta me dizer
Do quanto se acredita em nova senda,
Sarcástico sorriso que se atenda
Mostrando a minha face em desprazer.
Não posso acreditar e sem poder
O mundo se percebe sempre à venda
E tanto quanto posso se desvenda
A vida na mortalha a se tecer.
Ocaso repetido em gerações
E nunca se abrirão novos portões
Já que decerto assim talvez houvesse
Alguma novidade sobre a terra,
Mas quando a nossa senda em vão se encerra
Não resta senão crer em qualquer prece.

50530


Transido caminheiro em tez dorida,
Não pude conceber outro momento
Senão aquele aonde eu me atormento
E perco a direção, nego a saída.
A fruta há tanto tempo apodrecida
Exposta ao mais completo desalento
E quando a salvaguarda ainda tento
A fonte se percebe poluída.
Demônios cultivados dentro em mim
Por gerações diversas trazem tanto
Ardume neste peito em dor e pranto
Aonde disfarçado em querubim
Satânica figura dita a regra
E o mundo a cada passo desintegra...


50531

Ao ver neste deserto a fera expondo
As garras eu percebo o solitário
Caminho que deveras necessário
É tudo que me resta, recompondo
O dia aonde em medos tento e sondo
Buscando qualquer novo itinerário
E dele quantas vezes adversário
No quanto me esvazio já me escondo.
Repondo o dia a dia em voz suave
Mesquinharias traço a cada verso,
Não posso mais viver assim submerso
E tento respirar, mas não consigo,
Apenas o que resta é ter nas mãos
Ainda as esperanças, podres grãos
Buscando em tempestade algum abrigo.

50532


Não quero compaixão se com paixão
Tentei buscar um rumo mais diverso,
E quando no insensato e brusco verso
Não tive nova senda ou direção
Momentos mais doridos mostrarão
O quanto o caminhar se faz disperso,
E o mundo sendo assim vago e perverso
Jamais trará depois a solução.
Largado entre serpentes nada posso
E tudo que inda tento algum destroço
Dos ossos que restarem, bom proveito.
Não sou mais nem feliz tampouco triste,
Quem teima contra a sorte e não desiste
Já sabe ser de pedras o seu leito.


50533


Bradando inutilmente poderia
Arcar com novos erros, costumeiros,
Mas quando sei dos erros corriqueiros
Ainda não perfaço esta alegria
Que tanto acreditava ter um dia,
E agora não se vendo jardineiros
Os frutos apodrecem e os canteiros
Tomados por temível heresia.
Erguer a minha voz e ter ainda
A sensação da fúria quase infinda
E nada transformar, eis esta sina
De quem se faz poeta ou sonhador,
E quando não se vê bom lavrador
Ao fim o meu jardim já se destina.


50534


A sombra do que fora outrora um ser
Perambulando em noite tão brumosa,
Ainda se perceba majestosa
Figura noutra face a se perder,
E quando vejo enfim se esvaecer
O que sombria imagem caprichosa
Trouxera em noite imensa esta andrajosa
Fotografia aonde eu pude ver
Retrato do que ainda em vão me espera
E sendo assim talvez delírio ou fera,
Quimera traduzindo o meu futuro,
Errático demônio, ou ser inútil,
O caminhar vazio quase fútil
De quem em vida fora espúrio e impuro.


50535


Aonde pude em vida acreditar
Somente nas grandezas de quem luta
E vendo quão inválida esta bruta
Vontade de vencer e de ganhar,
Ainda imensidão tomando o mar
E quando se percebe e se reluta
Imagem desta serpe mais astuta
Começa o pensamento dominar.
Eu tive dentro em mim algum alento,
Mas quando mais audaz ainda tento
Vencer os tão diversos dissabores
Herdeiro do vazio, singro o vão
E mude qualquer clima ou estação
Já não terei no olhar sequer as flores.


50536

Ao decantar momentos mais audazes
A vida se permite em vãos engodos
Aonde do infinito vejo os lodos,
Diversidade assim decerto trazes,
E quando se percebem tantas fases
Os dias na verdade não são todos
Mudando em variedade rumos, modos
Porquanto tantos erros também fazes,
Assim ao mostrar somente a face
Melhor do que se fora e agora trace
Demônios entre arcanjos são comuns,
E posso adivinhar tantos enganos
Naqueles que decerto soberanos
Em acertos e em erros têm alguns.

50537

Soberbo caminhar entre os pequenos,
Assim se mostra a dura majestade
E quando este momento desagrade
Ainda se fazendo em tais acenos
Os dias que pensara mais amenos
Enquanto se porfia a santidade
Demônio disfarçado logo invade
E entorna no caminho seus venenos.
Assisto à mesma farsa e me entorpece
O que possa se crer em vã benesse
No fundo é disparate totalmente,
Na face descarada da coroa
Miséria sem limites inda ecoa
E quem acreditar? Tolo ou demente...

50538


O corpo em combustão negando a vida
Aprofundando em trevas abissais
Caminhos que pensavas magistrais
A sorte se revela e é desvalida.
Percebo quanta dor já percebida
Por quem pensando ser além ou mais
E vê dura verdade em tão banais
Momentos onde a senda fora urgida.
Caricatura torpe da medonha
Figura que talvez quando reponha
Os pés no chão verá que a face nua
Retrata a realidade duramente
E aquém do que deveras já se sente
A podridão em vida, atroz atua.


50539


Tristezas são sementes do abandono,
E sei que esta seara não produz
Sequer um filamento a mais de luz
Enquanto do vazio até me adono,
E tento ressurgir morto de sono,
Aonde tantas vezes eu me opus
E quando caricato em contraluz
Cadáver de mim mesmo em vida clono.
Resisto, pois assim tento o disfarce
Porquanto a vida mesmo já me esgarce
Não tendo solução senão a fuga,
O espelho nunca mente e traz a face
Ainda que no sonho um novo eu trace
Verdade se ditando em cada ruga.

50540

Pudesse deste monte ver o vale
Aonde talvez tenha a calmaria
Que tanto necessito e mostraria
Bem mais do que este sonho ainda fale,
Porquanto inundação tudo avassale
Encontro noutro ponto a serventia
Diversa desta espúria confraria
Que a cada novo dia mais resvale
Escoriando a pele de quem tenta
Vencer com mansidão qualquer tormenta
E sabe dos momentos mais felizes,
Porém o crescimento nunca acalma
Aonde se puder libertar a alma
A gente se refaz após as crises...


30541

Sublime fonte feita em luz diversa
A poesia traça em suas sendas
Momentos em que esqueço as minhas vendas
E bebo a claridade aonde versa
Uma imaginação rara e a conversa
Moldada enquanto brilhos tu desvendas
E assim aos meus anseios sempre atendas
Porquanto a realidade é mais perversa.
Vencendo os meus antigos medos, sigo
E tento decifrar qualquer perigo
E nela me transformo plenamente
Clarões entre tormentos, temporais
Reflexos dos alentos magistrais
Tomando com ternura cada mente.

30542


Aonde se mostrasse este caudal
A vida não permite nova face
E tanto quanto o sonho ainda trace
Momento quase insano ou magistral
Adentro a tempestade em frágil nau
E quando se apresenta algum impasse,
Porquanto num tormento se desgrace
A vida de quem tenta outro degrau,
Em nova turbulência vejo a sorte
E quando se agiganta em grande porte
O peso do viver já se amortiza
Daquele vendaval que se fizera
Agora a mansidão da primavera
Permite tão somente a doce brisa.


30543


A vida dita em fúria ou inclemência
Momento mais atroz enquanto luto
E vejo se prepara apenas luto
E nele qualquer dor gera eminência
E quando se percebe na iminência
Do fim aonde tanto fora bruto
O passo feito em tom soberbo e arguto
Negando qualquer sonho em convivência
Cravando dentro em mim punhal agudo
E quantas vezes teimo ou mesmo iludo
Meu passo com diverso tom ou canto
Resisto bravamente aos mais perversos
Sentidos tendo assim por vezes versos
E neles com certeza enfrento o pranto.

30544


Aprofundando as sendas de um anseio
Aonde se traduza luz ou fado,
O quanto se prevê deste passado
Gerado pelo medo, algum receio,
E se percebe assim sublime veio
E nele perecendo sem enfado
O quando vejo o mundo desgraçado
Ainda procurando o que rodeio
Num nababesco e insano caminhar
Pereço quando pude imaginar
A sorte bem diversa da que outrora
Quisera ao descobrir velhos sinais
E quando me percebo em teus cristais
A morte dentro em mim bem sei se ancora.


30545

Aonde se tivesse a primazia
De um tempo mais feliz e nele crer
Ainda que se tente algum prazer
Felicidade aos poucos já se adia,
A sombra do que fora fantasia
Negando qualquer tempo eu posso ver
Deveras o meu fim a se tecer
Rasgando a cada corte a alegoria,
Não pude ser feliz e nem tentara
Aonde esta ferida gera a escara
O pendular caminho dita a fundo
Resido no jamais e me amortalha
A sede inconfundível da batalha
E dela com certeza um vão profundo.

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