6180
Amiga, nunca impeça que a montanha
Não seja bem mais forte que este vento,
A dor por mais difícil assim, tamanha
Não pode superar o pensamento
No fim de toda luta quem mais ganha
Por vezes também tem o sofrimento.
Amiga, venha agora a estrada é dura
Mas vale cada curva do caminho.
Nos braços mais tranqüilos da ternura,
Jamais renegue a força do carinho
Que traz a claridade em noite escura,
Mas mostra um acalanto em qualquer ninho...
Teu braço bem mais forte se fará
Na paz que finalmente chegará!
X
6181
Morena, os belos seios que adivinho
Ao antever assim, no teu decote.
Quem dera se eu pudesse, um passarinho,
Ir à tua janela, dar o bote.
E ver na transparência sensual
A sombra das auréolas desejadas.
Na fonte do desejo sem igual
Imagens para sempre bem guardadas...
Quem dera se pudesse, amor, morena,
Sentir este perfume inesquecível
Visão celestial em rara cena
Do amor que se faz sempre tão incrível...
Tocando mansamente com meus lábios...
Quem dera... os meus olhares... quentes... sábios.
X
6182
Nos olhos mais bonitos que já vi,
Um gesto parecendo descuidado
Trazendo uma esperança para aqui,
Depois desta agonia do passado.
Destino meu amor somente a ti,
Farol que faz meu mar iluminado...
Não mais te procurar? Será possível?
Se sabes meus segredos, minhas manhas.
Ao toque mais ameno, sou sensível,
Nas horas mais felizes, tu me ganhas,
E sinto que este caso é mesmo incrível
Suplanta cordilheiras e montanhas...
Que faço se entreguei meu coração
Às hordas tresloucadas da paixão?
X
6183
Quem veio de tristezas infindáveis
Vivendo só tormentos e amarguras.
Sentindo tuas mãos tão adoráveis
Sentindo teus carinhos e ternuras.
Palavras que me dizes, mansas, hábeis,
Já sabe que com isso, amor, me curas...
Antigas indolências e revoltas
Turvavam os meus olhos sonhadores.
Das amarras da vida, as almas soltas
Procuram nos teus olhos refletores
A garantia eterna das escoltas
Que matam e diluem minhas dores...
Contigo; estas tristezas vão-se embora
Alegrias renascem! Hoje e agora!
X
6184
Um sol que renasceu dentro de mim
Depois da tempestade que passei,
Um raio luminoso vem assim
No qual um novo amor eu mergulhei
Trazendo tanto brilho, que por fim
Renova uma esperança, antiga lei.
Quem sabe com carinho e paciência
Talvez eu possa, agora, ser feliz.
O tempo se passando na inclemência
Matando um coração que é aprendiz
Fazendo do prazer a penitência
Distante do sempre eu tanto quis.
Esse sol ressurgindo no meu peito
Me diz: estar contente é seu direito!
X
6185
Teus seios tão lascivos, belos montes
Gentis e carinhosos, doces méis...
Declino um olhar por estas fontes
E verto meus desejos carrosséis...
Te peço, minha amada, nada contes
Dos sonhos e delícias dos corcéis
Que somos noite afora, sem paragem,
Suprema devoção do amor insano.
Singrando sem parara nossa viagem
Além deste limite, sem engano,
Teu porto que é promessa de ancoragem
Nos mares navegados, soberano...
Serenamente; límpida beleza,
Rainha, mãe, irmã, minha princesa...
X
6186
Descendo a correnteza da esperança
Uma amizade mostra-se potente.
Um sonho mais divino sempre alcança
Alçando um bom sorriso faz contente
Quem fora sofrimento sem remanso,
Quem fora só tristeza em agonia.
Um coração perdido sem descanso
Espera o renascer de um novo dia...
Por isso, meu amigo, esteja certo
Que todos nós aqui comemoramos.
Que bom que estejas sempre aqui por perto
Assim mais uma vez nós celebramos
O dia em que completas mais um ano
Conosco, com prazer tão soberano...
X
6187
Teus olhos, minha amiga, luzes plenas
Trazendo tanta sorte pra quem guiam,
Jamais as noites mansas e serenas
Se perdem quando neles fantasiam
Canteiros e jardins, tílias, verbenas.
Caminhos mais divinos já desfiam...
Seguindo cada rastro luminoso,
Dos olhos mais bonitos que já vi,
Prenúncio verdadeiro e mavioso
De, num dia, encontrar o que perdi.
Amiga, não descanso um só segundo
De a Deus agradecer tua amizade,
Na força tão gigante me aprofundo
E vejo, finalmente, a claridade...
X
6188
Que o sonho da amizade não refaça
Os erros cometidos no passado,
Do gosto desleixado vire farsa
Do tempo destruindo em triste fado
Aquilo que jamais a luz disfarça:
O vaso da amizade já quebrado.
A base em que se faz, a confiança,
É tudo o que um amigo necessita.
Se a sorte não se vê, e não se alcança
Se perde sem valor, esta pepita.
Ajuda a destruir uma esperança,
E mata ao mesmo tempo em que conflita..
Não deixe que o caminho em desconcerto
Afogue um sentimento no deserto...
X
6189
Tantos amores tive em minha vida...
Amores que trouxeram dor, prazer.
Amores que se foram, despedida,
Amores que desejo conhecer.
Embora seja tempo de partida
Meu sonho não me impede conceber
Aquela que virá ao fim da tarde,
Fechando estes meus olhos sonhadores.
Que a noite já não tarda e sem maldade
A morte sonoriza os estertores
De quem só se entregou quando a verdade
Chamava para a dança dos amores...
O tempo que me resta de esperança
No baile derradeiro, última dança...
X
6190
Ao ver os teus decotes generosos
Percebo a maciez destas romãs
Divinas. Meus olhares mais gulosos
Recebem tantos raios das manhãs
Em sol e fantasia belas rosas,
Desabrochando em brilho divinal.
Maçãs tão delicadas, perfumosas
Qual sonho que se fez tão magistral...
Ao ver teus seios belos de soslaio
Por sob a blusa aberta, estou feliz...
Na luz maravilhosa deste maio
Quem dera a vida inteira... flor de lis...
E tu ris um sorriso mais maroto,
Olhando para os olhos de um garoto...
X
6191
A lua que se fez em duas peles
Deitada sobre a areia, nua, exposta.
Naquela que permite que te atreles
As mãos, a língua quente, carne em posta
Enlaças mansamente uma sereia
Em trocas de salivas e prazeres.
A noite mergulhando viva e cheia,
Nas lutas e procuras dos quereres...
A sede tão ardente que se mata
Na lua que irmanaste em paraíso,
A chuva se transforma na cascata
Mistura dos humores num sorriso...
Nas ânsias delicadas destas luas,
Eu vejo o lume intenso em vocês duas...
X
6192
A loba tão fogosa em minha cama,
Chamando para a festa do prazer,
Ovelha desgarrada logo inflama
A cama que se faz enternecer
De novo recomeça a velha trama
Da boca em tuas sendas, se perder...
Devoras cada gota de saliva,
Na sede que não cessa e que enlouquece
A carne devorada, aberta, viva,
Neste delírio insano que apetece
E faz além de toda expectativa,
Gerando um maremoto, riso e prece
A pele tão suada, o teu sorriso
A noite agradecendo o paraíso...
X
6193
Meu verso te proclama em amizade,
Pois trazes no teu canto sossegado
O gesto de quem tece claridade
Respeita cada dor de meu passado,
Usando de total sinceridade,
Caminhas noite e dia, lado a lado
Comigo na certeza de encontrar
Um mundo bem melhor de se viver.
Não teme nem sequer a luz solar
Nem teme nova vida conhecer.
Por isso minha amiga, o meu cantar
É feito simplesmente pra dizer
Que tenho uma certeza que me abriga,
A de que tu és sempre minha amiga..
X
6194
Quando apaguei a luz aqui do quarto,
Eu vi a tua imagem refletida
Como se fosse assim o teu retrato
Guardado dentro em mim por toda a vida.
Depois de me deixar exposto e farto,
Agora o que fazer; qual a saída?
Não posso retirar mais do meu peito
Senão não sobrevivo, estás em mim.
Será que já perdi o meu direito
De ter minha existência até o fim?
Mas ver-te sempre deixa satisfeito
Um coração que morre bem assim...
Ao ver querida, aqui, teu belo rosto...
A faca penetrando; o peito exposto...
X
6195
Enquanto a chama arder, estou contigo,
No fogo delicado da paixão.
Ao mesmo tempo traz um novo abrigo
E deixa no relento, o coração.
Seguindo estas pegadas, eu prossigo,
E morro todo dia sem perdão...
Teus olhos/esperança me fuzilam
Meus olhos se renderam já faz tempo.
No mel que doces lábios me destilam
Encontro fantasia e contratempo.
Teus braços toda noite quando asilam
Meus sonhos; não se mostram passatempo.
Mas vivo insensatez do amor que acampo,
No brilho tão sutil de um pirilampo...
X
6196
Amor fazendo o mel, feliz abelha
Que voa sem destino, flor em flor,
Bebendo desta luz, cada centelha,
Com fome e com desejo sedutor.
A rosa que te dei; amor, vermelha,
Demonstra o nosso fogo, tentador..
Todo o suor derramas nessa cama,
Que é nosso templo vivo da paixão.
Viver eternamente em plena chama
Que sempre determina uma explosão.
Remansos e caminhos, toda a gama
Extensa de um amor/revelação.
Destino se cumprindo soberano,
Nas adivinhas todas de um cigano...
X
6197
Os meus olhos molhados te procuram
Nas noites, tantas rondas pelos bares.
Aqueles que conhecem asseguram
Que estás em meio às pedras, lupanares.
Que faço se meus olhos não aturam
Verdades que me impeçam meus sonhares...
Tu foste minha glória e meu degredo,
Dezembros se passaram sem te ver.
Mas guardo dentro em mim este segredo
Que faz a minha vida renascer;
Embora reconheça desde cedo,
Sem ter tua presença irei morrer...
Meus versos se tornando tão banais
Permita que eu descanse, amor, em paz...
X
6198
Amor cortando em postas faz cratera,
Se espera o que não vem, jamais virá;
Menina quase ingênua vira fera
As garras vão expostas.. chega já
Mostrando mais espinho em primavera
Do que perfume. Novo patuá.
Retoca a maquiagem mostra os dentes,
Prepara para a caça em arco e flecha,
Hormônios vão à toda, são prementes.
A porta da esperança que abre e fecha
Entregue aos seus desejos bem mais quentes;
Cabelos coloridos, mecha a mecha...
Assim a noite passa, a boca roda,
De boca em boca, bote, ronda e moda...
X
6199
Maravilhosamente aqui comigo,
Despida de qualquer ingenuidade
Menina, nosso amor é um perigo,
Que falem desse caso na cidade!
No fundo tanto quero que nem ligo,
O que quero é viver felicidade!
Se vemos mil cometas que se danem
Aqueles que não sabem das estrelas.
Que as dores que passamos não espanem
As luas que queremos; são tão belas.
Que aqueles que não amam já nos banem,
Não sabem de alegrias, nem vivê-las.
Quando rolamos mares, cordilheiras,
Atropelamos ervas tão rasteiras...
X
6200
EU TE AMO - 1
Eu te amo bem além do que queria,
Com toda uma volúpia quase insana.
Ouvindo em tua voz a melodia
Mais bela, divinal e soberana.
Tu trazes a doçura da alegria
Que a cada novo dia, tanto ufana...
Quem veio de passado em pesadelos,
Quem trouxe; vida a fora, desamores,
Sentindo este perfume em teus cabelos
Percebe que no céu há outras cores.
Os medos, tão difíceis resolvê-los,
Já morrem na manhã, em seus pendores...
Eu te amo, simplesmente e nada mais.
Com força e resoluto, encontro a paz...
X
6201
Tocando tua boca, sequioso,
De toda essa promessa que cumpria
Amor tão delicado e tão gostoso
Fazendo renascer a fantasia
Que vive neste fruto saboroso
Que traz a luz intensa, eterno dia...
No gesto que jamais renega a fome
Dos corpos mais unidos, tesas praias....
Amor que toda noite se consome
No vento que levanta tantas saias,
Recebo teu carinho, tatuagem
Nas cores em que sempre me decoro,
Embrenho em teu corpo esta viagem
Da fome em que me perco e te devoro....
X
6202
Nas mãos tão dedicadas de uma amiga
Fiel, em sentimentos mais vivazes
A permissão perene que prossiga
Os sonhos mais difíceis e tenazes.
Que a vida assim serene e que consiga
A sorte nos mostrar bem mais capazes.
Floresce uma amizade num rosal,
Distante dos espinhos e mazelas.
Iluminado sempre pelo astral
Tomado nas tiaras das estrelas.
Trazendo uma esperança sem igual
Em noite que virá sempre a contê-las.
Um sentimento raro que enobrece
Não pode ser assim, somente prece...
X
6203
Quem manda o coração ser tão teimoso?
Às vezes nada pode, mas insiste.
Amiga, com meu canto mais sestroso,
Depois de certo tempo, fico triste...
O céu que se promete nebuloso
À chuva em tempestade não resiste
A sorte é que amanhece bem mais claro
E livre destas nuvens traiçoeiras.
Correndo pelas ruas, me disparo
E caio noutras quedas, corredeiras,
Parece que perdi, não tenho faro,
Repito novamente estas besteiras..
Amiga, por favor, me dê a mão,
Quem sabe está contigo a solução?
X
6204
Agora que se acaba nosso amor,
Não quero mais contigo discutir,
Nem venho mais tolices te propor,
Outro caminho, espero, eu vou seguir...
Distante de teus olhos, bem distante...
Não quero hipocrisia nem mentiras,
Jamais vou esquecer: fui teu amante,
A corda se arrebenta em várias tiras.
O vaso que se quebra não se cola,
O passo que já demos noutro rumo,
Não quero esta palavra que consola
Sozinho é bem melhor, eu me acostumo...
Espero que não aches mais abrigos:
Não quero que sejamos “bons amigos”!
X
6205
Desse ser que me invade, escuridão,
As horas se passando nas gargantas,
Tomando todo o gosto em arranhão,
Ao ver o meu olhar, tu logo espantas
E busca do que fora a solução
Não vejo nem mais dias, fomes tantas....
Inverno vem chegando de mansinho
Menino quis pião, caiu rodando,
O velho engaiolar de passarinho
Minha alma estilingada no desando
Do que faz esperança ser um vinho
Que tomo sem saber, me embriagando...
Nem mais um novo tempo em que disfarce
A marca desferida em minha face...
X
6206
Creia que nosso beijo já nos cura
De toda uma amargura e da tristeza.
Nas mãos que se buscando com ternura
A fonte mais sublime da beleza.
Na boca permanece essa secura
No corpo inda me resta uma incerteza
Se tanto maltrataste, esta tortura
Acaba com o que resta de leveza.
Mas tenho uma esperança em nosso beijo
Marcando o meu sorriso com prazer.
Futuro que sonhava não prevejo
Somente com carinho e emoção
A sorte benfazeja de viver,
Na boca que me negas, salvação...
X
6207
Não passo, nesta vida, de um coitado
A quem já se negou uma esperança.
Saudade vem deixando o seu recado
Nas dores que restaram na lembrança.
Sou nada, nada quero. Esse é meu fado.
Perdi qualquer sentido de aliança.
Depois de ver amor sem ter mais nexo,
Depois da noite escura sem estrelas...
Sobrando tão somente esse complexo.
As dores? Não consigo revertê-las.
O coração passou a ser anexo
As luzes de um amor, jamais revê-las!
Mas digo; meu amor, minha paixão...
Mesmo assim: EU NÃO SOU CACHORRO NÃO!
X
6208
Sentir a minha mão sobre teus seios,
Deliciosamente, a tarde passa
Vibrante nos desejos, nos anseios
Misturas nossas carnes, doce caça
Percorro tantos rios, belos veios,
E a vida se perdendo em tonta graça.
As línguas reunidas num só beijo,
Entranha meu olhar tua nudez.
Escalo teus caminhos que eu almejo
Faz tempo que perdi a lucidez.
E lúbrico, recebo o que desejo
E sinto que chegou a nossa vez
De seguirmos unidos sem disfarce,
Sentindo o nosso gozo misturar-se..
X
6209
Peço-te, por favor, não olhe assim
Quem sempre foi a ti tão dedicado.
O mundo desfilando dentro em mim
As dores que carrego do passado
Sentindo uma agonia que, sem fim,
Aos poucos tem meu mundo, dominado...
Não quero o teu olhar de piedade
Tampouco este sorriso complacente.
Pois quem tanto te amou sabe a verdade
Que traz para o futuro uma semente
Guardada em belos cofres da amizade
Mudando logo assim, sua vertente...
Aceito o teu olhar de paz amiga.
A amante que tu foste já não liga...
X
6210
Falando deste amor em amizade
Que há muito nos domina e nos conduz.
Trazendo um novo sonho: liberdade,
É feito resplendor em plena luz.
Abrindo meus caminhos, vens comigo
Querida companheira predileta.
Em versos tão simplórios já te digo;
Minha alma vai contigo e se repleta
No sonho de alegria que virá
Depois de tanta dor que assim passamos.
Caminho de esperança, um Xangrilá
Sem cruzes, sem escravos e sem amos;
Num facho, minha amiga, de um farol,
O dia nascerá em pleno sol...
X
6211
Distante das quimeras desta vida
Meus braços encontraram seu valor
Nesta presença amada e tão querida
Que trouxe minha amiga em tanto amor.
Se a sorte parecia já perdida,
Se o dia foi perdendo o seu calor,
Na força da amizade uma saída
Que traz para o destino um esplendor.
Eu agradeço a Deus a todo instante
Por ter te colocado em meu caminho.
Iluminando o rumo em deslumbrante
Farol que se demonstra a cada dia.
Cada palavra tua de carinho
Trazendo para mim, tanta alegria!
X
6212
Traçando meu futuro em cada verso
Vivendo uma ilusão que não termina.
Sabendo que o deslumbre do universo
Em cada estrela guia se ilumina
O mundo não seria tão diverso
Se não houvesse luz em cada sina...
Nas tranças da menina, em seu olhar,
No rosto envelhecido de quem chora.
Vontade de viver e de lutar
Pra sempre e tão depressa não demora.
Os raios de esperança sobre o mar
Prometem a mudança que se aflora
No braço benfazejo da amizade
Tomando nossa vida na verdade...
X
6213
Meus dias embotados; silencio.
Nas pétalas doridas da saudade.
Um medo me turbando, estou vazio,
Vagando pelas ruas da cidade...
Às vezes- sem amor – penitencio
E calo qualquer forma de verdade.
Fantasmas, fantasias... Logo crio
Fugindo do que fosse liberdade.
Só resta uma esperança nisto tudo,
De um canto que renove o meu viver.
E quase novamente assim me iludo
Fazendo da amizade um novo canto
Que possa renovar o meu querer
Trazendo ao que me resta algum encanto..
X
6214
Amiga, muitas vezes me pergunto
Se a vida foi cruel ou se eu errei.
A sorte se perdendo num conjunto
Mostrando que por vezes, vacilei.
Mergulho tantas vezes noutro assunto
Já que de amor, por certo, nada sei.
Sou ermo, vou sem rumo, perco o norte
Se escapo,não sei nunca refazer
Caminho que talvez mudando a sorte
Me mostre um bom destino onde vou ter
O canto que julgara sempre forte
E agora já pôs tudo a se perder...
Teu braço, minha amiga, a salvação
De quem amou demais, em perdição...
X
6215
Nas lutas que tramamos nos lençóis
A seta quer a meta delicada,
Deitando em nossa cama teus faróis
Na noite que se faz iluminada
Prazeres nos entornam tantos sóis
Durante a mais escura madrugada...
Espaços vão libertos das amarras,
Desnudas tuas sendas mais risonhas,
E manso, me tomando logo agarras
Os dentes vão mordendo colchas, fronhas...
Nos cortes mil adagas, cimitarras
Percebo que parece que tu sonhas
E sinto teu limite superado,
Teu corpo, como o meu, tão ensopado...
X
6216
Minhas mãos passeando tuas pernas,
Sentindo a maciez da carne dura,
Prometes novas noites densas, ternas
Nesta umidade repleta de ternura.
Quem dera fossem sempre assim, eternas
Teria qualquer mal, por certo, cura...
Soltando os meus desejos sobre ti,
Percebo os teus gemidos mal contidos,
Sentindo o teu perfume que bebi
Nossos momentos são bem resolvidos
E tudo que mais quero encontro aqui,
Contigo, travesseiros revolvidos...
Sabor tão delicado, é bom provar,
No gosto refinado de teu mar...
X
6217
Teus braços envolvendo-me, querida,
Na pura maciez da pele rara,
Ao jogo dos sentidos me convida
Fazendo nossa noite qual sonhara
Tornando maravilha a nossa vida,
Do jeito que eu quisera, imaginara...
Desabrochando nua em minha alcova,
Iluminando o quarto, a sala, a casa..
A lua transbordante cheia, nova,
Nos raios argentinos já me abrasa
E tudo, simplesmente se renova.
A sorte me promete e não se atrasa...
Agora, desregrada, bela e nua,
Amante radiosa e plena lua....
X
6218
Sentindo tuas pernas sobre mim,
Sentada no meu colo, doce prenda
Que a vida vem trazendo no meu fim,
Beleza em lingerie bela de renda.
Vermelha como a boca carmesim.
Peço-te: meus desejos; logo, atenda...
Seguro-te bem firme em minhas mãos,
Sussurro mil segredos, teus ouvidos...
Os dedos se procuram, montes, vãos....
Os lábios te tocando, decididos...
Depressa me enlouqueço e ficas louca...
Estrelas vão riscando o céu da boca...
X
6219
Amor jamais combina com o medo,
É força que nos move sem parar.
Vibrando em nosso amor que desde cedo
Nos trouxe uma promessa de luar,
Quem sabe nunca teme que este enredo
Um dia possa em vão de desmanchar.
Amar é ter certeza em cada passo
Sabendo a hora exata, sem temor.
Não deixe que este amor morra no espaço,
Aguarde o renascer da bela flor
Que traz todo o perfume em que refaço
O sonho mais feliz de um lavrador
Sabendo da colheita em tempo certo,
Senão é qual pregar em um deserto...
X
6220
A porta que fechaste, sem adeus,
Jamais alguém abriu, está trancada...
No mundo perseguindo os sonhos meus,
Depois de tanto tempo, nada, nada...
Meus olhos procurando por um Deus
Que possa me dizer de ti, amada,
Aos poucos se tornando mais ateus,
Se perdem sem ter lume, nesta estrada...
É duro este vazio que restou,
Depois de tanto tempo de ilusão,
Meu mundo sem sentidos se acabou,
Na porta que trancaste, sem por que,
Também aprisionaste o coração,
Que te procura sempre... Mas, cadê?
X
6221
Escuto o teu chamado e te procuro
Em meio a campos, fontes, ilusões.
O fruto da esperança tão maduro
Morreu em forte seca de emoções...
O chão em que plantei, deveras duro,
Não teve nem sequer adubações...
Mas restam os meus olhos te buscando
Nesta procura inútil e desdenhada.
O tempo da colheita vai chegando
E no jardim da vida colhi nada.
O dia que nasceu, amargo e brando
Mostrando cada curva desta estrada
Que leva, simplesmente à tal loucura,
Do amor que; sem remédio, busca a cura...
X
6222
Amor não se discute privilégio,
Não há ninguém isento aos seus encantos.
Preparando armadilhas, sortilégio,
Nos toma e nos cobre com seus mantos.
Amor nunca se aprende no colégio,
Do riso se transforma logo em prantos.
Amor olha de banda, enviesado,
Depois, dando seu bote, nos afeta.
Amor velho-menino que encantado
Nos toma tão certeiro em sua seta.
Às vezes, bem matreiro, olha de lado
E, tocaiando, atinge sua meta...
Só sei que meu amor brigou comigo,
Eu quero perdoar, mas não consigo...
X
6223
Tenha cuidado; amigo. Uma ambição
Nos cega totalmente. Depois disso
Não há nada que livre o coração,
Matando da esperança qualquer viço.
Não se deixe cegar pelo desejo,
É tão cruel saber que isto acontece.
Às vezes eu não creio no que vejo;
Peço que se ilumine numa prece
E veja quanto dói saber que um dia
Alguém que nós amamos se perdeu
Em meio a uma estúpida alegria
Trazendo para alguém um negro breu...
Amigo; só te peço: não se esqueça,
E que ao teu coração, sempre obedeça!
X
6224
Às vezes, indefeso, nem percebo;
Que o amor ao se mostrar silencioso,
Num vento dolorido que recebo,
Disfarça-se em vontades, cama e gozo.
Bem mais do que imagino, eu não concebo
A força tão sutil do venenoso
Sentimento que mata enquanto bebo
Cada gota. Eu bem sei quão perigoso
O jogo ao qual amor já se propôs.
Calado, quase manso, devagar;
Mostrando suas garras, só depois...
Silenciosamente me tomando,
Não deixa quase mesmo, eu respirar.
Amor, santo prazer me envenenando...
X
6225
Cansei de tanta briga em nossas vidas,
Qualquer motivo, agora, discutimos,
As pedras que se mudam, vão perdidas,
Sem rumo pois jamais criaram limos...
Pressinto esse perigo que vivemos
Embora, meu amor ainda é grande
Depois de tantas coisas que tivemos,
Não quero que este caso, assim, desande.
Saudades do começo tão feliz,
Trazia-te até água na peneira.
Feridas em terrível cicatriz;
A casa está ruindo por inteira…
Parece que esquecemos nossas juras,
Eu não te aturo e quase não me aturas...
X
6226
Amor, não sou o resto que pensavas,
Apenas me enganei, te amei demais.
Rompeste, sem querer todas as travas
Que sempre protegiam o meu cais.
Vieste e bagunçaste toda a casa,
Fizeste uma total revolução,
Do gelo tu forjaste louca brasa,
Depois desperdiçaste tal vulcão...
Agora que senti que fui usado,
Incrível, não me sinto simples presa,
Valeu a pena, amor, ter encontrado
Mesmo que por segundos, tal certeza:
Depois deste teu barco sem destino,
Voltei de novo a ser, como um menino...
X
6227
Se tanto magoaram a menina
Roubando seus sapatos de cristal,
Se a noite dolorida descortina
Matando uma esperança matinal,
Restando em seus cabelos, purpurina,
Lembrando de uma história sem igual.
Do beijo que escondido foi pecado,
Do desejo subindo pelas pernas.
Sorriso tão ingênuo mais safado
Nas mãos tão delicadas e tão ternas.
No carinho sorrateiro, no recado
Guardado nos cadernos. São eternas
As horas esquecidas nos quintais...
Que pena que não voltam nunca mais...
X
6228
Menina nunca mates a princesa
Que dorme no teu peito em ilusão.
Pois nela se encontrando tal beleza
Que assim perfumará teu coração.
Por mais que a vida traga uma incerteza
Por mais que tantas vezes ouça o não;
Não deixe que se morra esta esperança
De um dia ser feliz, pois tu mereces.
A vida carregada de lembranças
Nos sonhos mais divinos que tu teces
Revive em alegrias, as crianças
Refeitas nos carinhos e nas preces...
Não mates a princesa; por favor.
Pois traz nesta pureza o vero amor.
X
6229
Esparsos sentimentos tão confusos
Pelos caminhos todos que segui.
Suores e prazeres mais profusos
Encontro tão somente, amor, em ti.
Horários se misturam, vários fusos,
Mas tudo que esperei estava aqui.
Na paz mais desejada sem desdita
Neste carinho manso que me dás.
A lua em nossos olhos, infinita
No mar em calmaria, tanta paz.
Minha alma tão feliz te cerca e grita
Na luz e na alegria, mais capaz.
Aos Céus elevo preces e louvores
Na glória destes dias redentores...
X
6230
As brumas nos tomando os sentimentos
Fazendo da esperança algo distante.
As tempestades surgem por momentos
Nublando o nosso céu mais radiante
Porém quando, enfim cessam os tormentos
Uma esperança surge num rompante...
Ouvindo o belo som de violinos
Em meio à sinfonias divinais,
Ressurgem velhos sonhos de meninos
Dos tempos mais antigos, ancestrais
Mostrando novos rumos nos destinos
Com formas e contornos magistrais.
Assim como promessa em esplendor,
A vida renasceu em nosso amor...
X
6231
Quando abriste teu corpo em gesto e cena,
Penetraram-te sonhos e vontades.
A triste solidão morria plena
Em duros vergalhões e tempestades.
Quem cura, muitas vezes envenena
Mentiras superpostas em verdades.
A boca tão carnuda quanto exótica
Os olhos anelados, carne dura...
Na tua carnadura tão erótica
A noite se profana na ternura.
Entrando no teu mar, aberto o porto,
Um barco se encontrando em chuva intensa,
Nestas águas tão quentes o conforto
Trazendo para nós a recompensa...
X
6232
Quem traz um mal terrível, se concreto,
Não sabe da esperança um só pavio.
O mundo se derrama no concreto
Que nos deforma, duro, triste e frio.
Talvez se houvesse assim, algum afeto,
Viver já não seria tão vazio...
Colhendo no canteiro, belas rosas,
Um riso sem disfarce estamparia
O rosto noutras formas mais vaidosas
Esta tristeza imensa não teria.
As mãos jamais seriam belicosas
A vida permitindo a poesia...
Amigo; não se esqueça que um abraço,
Adoça esse amargor de alga e sargaço...
X
6233
PRA VOCÊ - 1
Meu verso que se fez em puro afeto
Buscando nos seus olhos, minha luz.
No sonho mais bonito, predileto,
O raio que me leva e reproduz
Em um caleidoscópio belo aspecto
Da vida que me cerca e me conduz
Ao corpo encantador de uma morena,
Ao jeito tão faceiro da menina.
À glória benfazeja que me acena,
Aurora que me cerca e me domina.
Nesta delicadeza de verbena
A jóia, em raridade, diamantina...
No mundo mais airoso em que se crê,
Mil versos que dedico p’ra você...
X
6234
Mãos dadas; caminhamos pela vida,
Unidos em tristezas, alegrias.
Tua presença é sempre tão querida
Trazendo uma certeza em duros dias.
Por mais que esteja longe uma saída,
Terás toda a presteza que dizias...
Não deixas meu caminho sem ter rumo,
Não cobras o que dás de coração.
Ajudas com teus braços a dar prumo
E confiança em cada direção
Que for a mais sensata onde me aprumo
Achando sempre assim, a solução.
Por mais que a dor se faça de verdade,
Tu sempre estás comigo em amizade....
X
6235
Que a vida não nos trame mais martírios
Nem mesmo a solidão, triste quimera.
Que o amor seja repleto de delírios
Numa felicidade em primavera.
Que o tempo seja farto na bonança
Que a lua seja sempre plena e farta.
Sorriso tão gostoso de criança
Sem dor que já não vive e se descarta.
Que a flor da liberdade seja tanta
Brotando num canteiro feito em paz.
Que a casa iluminada seja santa
Num mar tão delicado, a vida traz
A sorte que se quer. E que consiga,
Na vida, o que quiser; querida amiga!
X
6236
Felicidade mostra-se em sorrisos,
Em gestos e palavras, paz e gozo.
Transcendendo os momentos imprecisos
Num ato mais gentil e generoso.
Jamais se prende em passos imprecisos,
É feita em atos simples, fabulosos.
Felicidade é ser além do medo,
Viver cada momento de amizade.
Trazendo novamente em cada enredo
O gesto em que se faz a liberdade.
Não cabe, na verdade um só segredo
Para se conquistar felicidade...
Amar e ter bem perto o que se quis,
Sabendo de antemão que sou feliz.
X
6237
A ESPERANÇA -1-
Meu grito de esperança está contido,
Atado pela dor de uma injustiça.
Quem pensa que adormece em um olvido
A fome que decorre da cobiça
Num canto desta casa, adormecido,
Espera reviver em nova liça.
Não posso ser feliz se impera a dor,
Se vejo em meu irmão, o sofrimento.
O mundo em novo rumo recompor
A glória que se foi sem sentimento.
Talvez um novo dia, em pleno amor
Mostrando assim tenaz ressarcimento.
A vida se mostrando de repente,
Num mundo em que esperança seja urgente...
X
6238
DE TANTO AMOR -1-
De tanto amor que tenho, o que fazer?
Se às vezes eu me perco e vou aflito.
A dor se misturando com prazer
Deixando quase a esmo todo grito
Inoculando vírus do sofrer
Num sonho que a princípio, eu sei bendito.
De tanto amor que trago, nada sei.
Em flóreo sentimento me envolvi.
De toda essa agonia que passei
A solução de tudo estava em ti,
Mulher que me fez nobre como um rei
Sem cobre, vou revendo tudo aqui...
De tanto amor, por isso, penitente,
As cicatrizes trago, e vou em frente....
X
6239
Nas ânsias mais frementes tantas vezes
Dilaceramos mesmo quem nos ama.
Sangrados nossos sonhos como reses
Marcados, ferro e fogo, brasa e chama...
Angústias palpitantes nos dominam
E matam esperanças, num só tempo.
Rebanhos, sentimentos, desatinam
Tomados pelo triste contratempo.
Ferindo quem nos quer,somos venais;
Errantes turbilhões, como diabos,
Morremos tão distantes de um bom cais
Num barco naufragando em duros Cabos...
Amiga, não permita que isto ocorra
Bem antes que o amor, contigo, morra..
X
6240
Estrelas percorridas nos espaços
Montado em meu cavalo, abertas asas...
O vento carregando versos, passos,
Nos olhos da mulher amada, brasas...
No brilho das estrelas pratas, aços
Fazendo constelares nossas casas...
O vento da mudança vem soprando
Por sobre essas queimadas da ilusão.
O monte dos meus sonhos escalando
Sem medo de vingança ou traição;
O sonho não pergunta como e quando
Apenas vai singrando na amplidão...
E sou o que queria além da vida,
Numa alegria o pórtico, a saída...
X
6241
O dia amanhecendo no horizonte
Trazendo uma aquarela de presente.
Antes que a vida vá e o sol desponte
Maria me convida de repente
Beber água tão pura desta fonte
Abrindo o paraíso totalmente.
Romance que se faz noite no dia,
Não teme sequer seca, sede ou fome,
Vagando nos caminhos de Maria
A vida num segundo se consome
E traz a tempestade em arrelia
O caçador sem jeito em gruta some
E volta empapuçado da caçada.
De novo a lua quer, de madrugada...
X
6242
Luar de prata mostra o meu caminho
Por entre as cachoeiras deste rio;
Deságuo nos teus braços, teu carinho
Quarando minha sina, mato o frio.
No gosto da cachaça lembro o vinho,
Cigarro se esfumaça e vou vazio
Trilhando cada lua com jeitinho
Canto de passarinho vira pio...
Somando cada fio de cabelo
Que a dor embranqueceu sem ter ninguém,
Esbarro no passado num desvelo
Que é marca registrada do meu peito.
Agora que percebo amor que vem,
A todos eu proclamo esse direito...
X
6243
Cavalo bravo, sorte desregrada,
Viajo um pantanal dentro de mim.
Na mão esquerda eu trago sempre o nada;
Na mão direita a rosa carmesim.
Destino que se fez em vaquejada
Charneca apodrecida foi meu fim,
Minha esperança tola e destroçada
Eterna seca toma meu jardim...
Cavalo bravo, sina sertaneja
Estrias vão tomado o meu futuro,
Não há mais solução que se preveja
Nem gesto que demonstre liberdade.
A sorte vem sem cobre em chão mais duro.
De graça nesta vida? Uma amizade...
X
6244
Da flor que nós plantamos no jardim
Em frente à nossa casa, pé da serra,
Monsenhores, crisântemos, jasmim,
Adubos de esperança em nova terra
Sangrada em cada mão mais calejada,
Depois numa aguardente uma resposta
Que sempre foi pedida e nunca dada
Por que essa vida é sempre a mesma bosta?
Só resta fazer filho prá cangalha
Pesada da labuta sem descanso.
No corte mais profundo da navalha,
O rosto embriagado fica manso.
Restando este perfume em triste flor
O manto mais sagrado deste amor...
X
6245
Amor vagando estrelas, que visagem!
Fulgura cavaleiro em seu corcel;
Reflete nosso sonho qual miragem
Girando eternamente em carrossel.
Fazendo das estrelas a tiara
Mais bela e colorida pra te dar.
Na noite deste amor, perfeita e rara
Desfilam tantas luas sobre o mar.
Amor sabendo o rumo desejado
Dos sonhos desta bela adormecida
Que espera pelo príncipe encantado
No beijo salvador que traz a vida
A quem tanto esperou e nada vinha...
Princesa nessa noite serás minha!
X
6246
Nas pedras embaraços do caminho
Os tropeços comuns tão esperados.
Resumos desta vida sem carinho
Nos olhos tão miúdos maltratados
Revoando saudade velho ninho.
Futuros sem final, despedaçados...
Os cacos do que fui não mais juntei.
Na ausência do que fomos manto triste.
Cansado do que nunca visitei
A sorte não conheço e não existe.
O fato é que perdi o que ganhei
Gaiola sem ter água nem alpiste.
Amigo é o que me resta desta história
Resumo de uma vida sem vitória..
X
6247
Desta fruta tão doce, coração,
Nascida no pomar de uma esperança
Regado com as mágoas da paixão.
Podado com as dores da lembrança;
Granado com as cores da ilusão
No mel que se faz velho e tão criança.
Desta fruta eu espremo todo o sumo
Experimento goles e mais goles.
Recebo o meu caminho em novo rumo,
Sem dores e sem medos que consoles.
Mergulhos impedindo qualquer prumo
Deixando nossos corpos bem mais moles.
Vem comigo que a festa não demora,
Só come desta fruta quem namora...
X
6248
No pó deste caminho barro e lama
Andança na procura de pousada.
Que mostre num carinho fogo e chama,
Deitando na varanda enluarada
Que a dona desta casa não reclama.
Numa aventura chego no bailão
Na faca que esparrama, carabina,
No meio do forró tal confusão,
Eu seguro nos braços da menina
E vamos sem ter pena nem perdão
Somente a lua cheia me ilumina.
Voltando a tiracolo, uma morena,
Que a vida sem juízo não tem pena...
X
6249
Assim que o sol mostrou a sua cara
Eu saí nas andanças costumeiras;
Quem anda no sertão e nunca pára
Repara nas estrelas companheiras.
Um coração vadio já dispara
Ao ver essas morenas costumeiras;
Cabelos enfeitados pela flor
Numa brejeirice sem tamanho,
Depois... vai reparar preso no amor,
Num ritual divino e nada estranho
Do jogo que se faz mais sedutor
Aquele em que não perco e jamais ganho.
Depois de tantas léguas tão sozinho,
Voltando, já vem três para o meu ninho..
X
6250
No pulso firme vento e vendaval
Fundindo as esperanças numa só,
As roupas vão quarando no varal
Marcadas pela estrada e pelo pó
Guardados na algibeira, no bornal
Misturam as poeiras, cisma e dó.
Minha alma vai quentando em forte sol
Nos rasos destes olhos aboiando.
Enovelado, vivo em caracol
O tempo que me resta ponteando
Amor que se fez nó sem girassol
Nos olhos da mulata rebrilhando...
Bebendo essa água pura lá da fonte
Amor vai renascendo no horizonte.
X
6251
Levanta de manhã, toma o café
E sai pelas calçadas da cidade.
Sem marcas de pegadas vai a pé
Em busca de cigarro e claridade.
Igrejas e dementes, turvam fé,
Na banca de jornais, a novidade...
Percebe que anda sempre com atraso,
O tempo não diz nada mas já cobra.
O amor vai terminando em fim de prazo
Contenta-se com resto, com a sobra
A planta vai morrendo seca em vaso
Esquecido na varanda, triste ocaso.
Nem mesmo um conhecido. Sem bom dia,
X
6252
Sobram montes e rios, cercanias...
A febre não mais passa, está teimosa.
As mãos que me acarinham mordem frias
Espinhos sobressaem nesta rosa
Que fora cultivada em alegrias
Agora se mostrando pavorosa
Destroça quem trouxera as fantasias.
Num último veneno, boca e beijo,
No derradeiro aceno, chuva e fome.
Pirilampicamente no lampejo
Mal logo tu ressurges, foge e some.
No nada além refém do que não vejo
Somente um vaso aberto já se assome
E sangra na cruel hemorragia
O coração repleto em agonia...
X
6253
Bendita a tua luz, amada amiga
Que é guia de meus olhos, meu farol.
Permite que eu caminhe e que prossiga
Eterno passageiro rumo ao sol.
Brotando em cada verbo, tal espiga
Que traz toda a semente em arrebol.
Do sonho que construo é firme viga
Por isso te persigo, girassol...
Bendita esta presença soberana
Que traz toda a certeza da vitória,
Bendita a natureza em paz humana
Que mostra teu carinho que não cessa.
Bendita a santidade feita em glória
Sem penitência, clemência e sem promessa!
X
6254
Seguro a noite inteira em teus quadris
Morena mais gostosa da cidade...
Requebros desejosos... sou feliz
E danço sem parar, felicidade...
A música mal pára peço bis.
Da boca carmesim, beijo e saudade...
Sentindo o leve toque dos teus seios,
Sentindo o teu arfar bem junto a mim.
As mãos vão sem juízo e querem meios
De achar as doces rosas do jardim.
A dança se fazendo mais ousada,
Vestidos, paletó, pra que botão?
Vermelha lingerie despetalada
Abrindo o teu portal da tentação...
X
6255
AH, EU AMO VOCÊ!
Depois de tanto tempo nesta fila
Na espera da morena mais charmosa,
Bebendo tanto gim, tanta tequila;
(Até que a fila, juro, era gostosa)
Olhar que se em veneno me destila;
Perfuma meu canteiro em pura rosa.
Pois quando Deus te fez em rara argila
Deixou-te mais faceira e vaidosa.
Mas nada disso importa ao coração
Depois da beberagem sem limite.
Sou vítima talvez da sedução,
Ou quem sabe, boto a culpa neste gim.
Só sei que não te peço mais palpite
Amor, uma ressaca que é sem fim...
X
6256
Trazendo na minha alma o gosto seco
Da sorte em desalinho que carrego.
Se caço meu destino, sempre peco
Se faço meu caminho, amor eu nego.
Meus passos esquecidos sem pegadas
Sem rastros que me tragam uma saída.
As noites são por certo as estreladas,
De estrelas que perdi por toda a vida.
O flanco sempre exposto quer tocaia,
Da esperança jagunça do caminho.
No toque do prazer rabo de saia
Um pouco que sobrou deste carinho
Jogado num baú sem serventia.
Tua amizade batendo ventania...
X
6257
Os corações escritos com o giz
No quadro negro vivo, sedução
Gritando em meus ouvidos: sou feliz.
Flertando com a sorte da paixão
Deixando tão somente a cicatriz
Marcada em simples pó de uma emoção...
Recebo o vento doce do passado
Cabelos esvoaçam, cobrem rosto.
O tempo se mostrou descompassado
E nada mais restou, nem o desgosto;
Somente o vento doce anda ao meu lado
Castelo deste tempo onde o reinado
Trazia uma princesa e corações
Riscado pelo giz das ilusões.
X
6258
Recebi tua carta, meu amor;
Falando desta história tão bonita
Que fez meu coração mais sonhador
Garimpeiro que achou rara pepita
Na mina do fastio sofredor
Que a vida, sem saber, logo limita...
Morena que chegou sem quase pressa
Do jeito mais calado e boca aberta
Na espera deste beijo que, depressa
Mostrou que a minha sorte, antes deserta
Agora tão gostosa se confessa,
Mansinha vem chegando sem alerta...
Recebi tua carta logo cedo
E nestas entrelinhas teu segredo..
X
6259
A fonte tão distante mata a sede
De quem perde ilusão pela vida.
Desancando esta sorte, resta a rede
Levando o corpo em despedida.
Nem ao menos retrato na parede
Resta desta pobre alma assim perdida...
A seca da esperança mata a fonte
Tornando este deserto traiçoeiro
Sem lua que renasça no horizonte
Sem brilho que se mostre por inteiro
Nem há sorte final que se desconte
Do tempo que jamais foi companheiro.
Para alma que perdeu a virgindade
Só resta um bom remédio; uma amizade!
6260
Palavras nebulosas, vento esparso
Em cinzas desprendendo o que foi belo.
Desamarra da sorte o seu cadarço
Rouba do lavrador, o seu rastelo,
Atira um sentimento em mar revolto,
Jogando uma alegria ao precipício
Atando um pensamento que, antes, solto,
Sabia deste amor, o seu ofício.
Que sabe se o silêncio te tomasse
A vida não teria esta mazela
Nem mesmo necessário tal disfarce
Que impede, nebuloso, ver estrela
Assim, invés da treva em noite fria,
O amor se transbordasse em poesia..
X
6261
Belo sol levantando de manhã
Clareando a promessa da colheita
Coroando esta lavra em todo afã
Da alma da terra plena e satisfeita.
Mostrando que a labuta não foi vã
E a sorte tão pedida foi aceita
Passada pelas ruas, procissão,
Em rezas, nas promessas e novenas
Na benção que foi dada, no perdão.
Nas frutas e nos grãos as velhas cenas
Que trazem Nosso Pai em compaixão
Nas peles tão salgadas e morenas
Os olhos estampando uma alegria
Dos rostos tão amigos, cantoria.
X
6262
Amor por tantas vezes faz chorar...
Quem ama está propenso a sentir dor.
Reconhece a beleza no luar
Mas sabe deste espinho em cada flor...
Amar é ser feliz em sofrimento,
É ter uma certeza em puro sonho.
Beber a tempestade num momento
E noutro se encontrar calmo e risonho...
Porém quem tanta odeia, não sorri,
Morrendo em triste angústia, só deseja
O mal. Por tantas vezes eu sofri
Por quem a noite traz e a boca beija.
Prefiro em tanto amor, sempre chorar,
Do que jamais sorrir por odiar...
X
6263
Tomando do lirismo todo o sumo,
Fazendo em cada verso um novo fruto.
Tornado deste pólen nosso rumo
A alegria não cobra algum tributo.
Nos braços deste sonho eu me consumo
Amenizando sempre um mal tão bruto
No corpo de quem amo eu me perfumo,
Supero qualquer dor. Com calma, eu luto.
Pressinto na pureza com que falas
A doce sensação da eternidade.
Criança que se encanta com as balas,
Confeitos de ilusão que a vida traz,
Contigo quero ter felicidade
Do amor que deve ser eterna paz...
X
6264
Passando nos subúrbios de minha alma
Em frente da estação as casas baixas.
Domingo transcorrendo em plena calma
Fogueira da esperança busca as achas.
A praça e o jardim, vizinhos passam
Sorrisos, boa noite, e durma bem.
Os olhos cabisbaixos mal disfarçam
Desejo assim demais, tamanha trem.
As horas do domingo em marcha lenta,
Segunda recomeça a ladainha
A lua embevecida sem tormenta
Beijando tuas pernas, lua minha.
É tempo de voltar, amor, pra casa,
O trem tomou juízo e não atrasa...
X
6265
Não chore que esta tarde vai passar
Embora tão distante dos teus sonhos.
A noite se promete num luar
Que traga estes momentos mais risonhos.
Não chore que esta dor prevê remédio
Nos braços da mulher que logo mais
Virá e matará solidão, tédio
Deixando uma alvorada rica em paz...
Não chore que esta vida é assim mesmo
O corte cicatriza, não se esqueça.
Ao coração vadio, sempre a esmo
Não há sequer juízo que obedeça.
No lastro de esperança, esta verdade
Que mostra esta criança, uma amizade...
X
6266
Nos olhos da criança, amor expresso;
Amor da mocidade destroçada,
Meu erro reconheço e te confesso
Na minha mão vazia, trago o nada.
Nas cruzes que carrego, se tropeço,
Não vejo esta esperança abandonada.
Somente o puro amor em redenção
Sem medos, fantasias ou miragens
Movendo passo a passo o coração
Permite que se mudem as imagens
Que moem num segundo as ilusões
De um mundo bem melhor, meras visagens...
Nos olhos da criança o Redentor,
Abandonado a esmo, sem amor...
X
6267
O dia fugitivo perde o lume
Do sol que derramava seu calor.
Dama da noite acende seu perfume,
Adolescentes buscam sonho, amor...
As dúvidas renascem nos casais,
Pirilampos, corujas, fátuo fogo.
O frio feito em treva; a noite traz.
Amor já recomeça o velho jogo
Os bares são tomados, juventude,
Os lares apagados, discussões.
A namorada pede uma atitude,
Milhares de pecados e perdões...
Contigo do meu lado, a lua diz,
Em raios derramados: És feliz!
X
6268
Teu corpo, deslumbrante maravilha;
Perfeita sensação; belo absoluto.
De Afrodite, estou certo, tu és filha;
De raridade imensa, forma e vulto.
Pairando em minha cama esta beleza
Qual fosse um sonho cheio de magia,
Ao fim de minha história esta surpresa
Repleta de ternura. Quem diria?
Minha alma adormecida se refaz
E volta, num momento; à mocidade.
Bebendo desta fonte sou capaz
De retornar sem medo à tênue idade
Dos sonhos e desejos mais febris.
E digo, em destemor: Eu sou feliz!
X
6269
VOZES DO PASSADO
Ouço vozes distantes, do passado;
Selando minha sorte no futuro.
Dos dias entre bares, um traçado
Exposto na miséria do chão duro.
Humores e desejos mal tocados
No beco da saudade; vago, escuro.
Às vezes me mostrando tanto enfado
Como um nada, mas mesmo assim procuro
Os rastros do que fui e já perdi
O cheiro da alegria, antigos odres
Lotados de vinagre. Estou aqui
Ouvindo tantas vozes. Na verdade
Mesmo com estes restos, mortos, podres,
Ao ouvir esta voz, sinto saudade....
X
6270
Meus olhos decadentes e sombrios
Carregam a tristeza secular,
Dos sonhos esquecidos e vazios
Distantes das areias, sem o mar.
São olhos invernais morrendo estios,
Desaprenderam cedo o que é lutar
Perdidas andorinhas sem os fios,
Estrelas tão longínquas sem luar.
Meus olhos, simples ilhas sem ninguém
Eremitas morrendo em solidão.
O tempo vai passando e nada vem
Senão o gosto amargo da saudade
Daquilo que deveras fora o não.
Sem brilhos. Em meu olhar: opacidade..
X
6271
Meu canto em ventania varre tudo,
Salgando esta salada do viver.
Às vezes em silêncio sigo mudo,
Pensando em tanta coisa por fazer.
Cavalo vai faminto e não me iludo
Meu verso se perdendo sem querer.
Faca dilacerante da saudade,
Na ponta tão aguda, bico e corte.
Se traço nos meus olhos liberdade,
A mão que me segura é sempre forte,
Não fosse estes meus laços de amizade,
Amor me levaria logo à morte.
Fazer da companheira amiga/irmã;
Um salvador momento em duro afã.
X
6272
Na semente fecunda da amizade
Refaz-se todo o amor que nos deu Deus.
Contemplo com carinho a liberdade
Matando os meus instintos tão ateus.
Vagando como luz em pleno espaço
O fruto da amizade, o vero amor;
Riscando pelos ares fino traço
Que traz justiça ao louco sonhador
Que um dia, nos desertos da esperança
Falou do amor imenso em nosso Pai;
Mostrando a santidade da aliança
Formada entre dois seres. Não se trai
O grito dos aflitos sofredores.
Espalhe em amizade, seus amores...
X
6273
AMAR VOCÊ
Eu estou te esperando em cada esquina
Dos sonhos entranhados, fantasias...
Persigo cada passo da menina
Embutida nas coxas/ardentias.
A fonte dos desejos, cristalina,
Refaz-se em minha cama, tantos dias,
A mão deste fantasma me domina
Parindo em cada verso, poesias...
Nesse arrebatamento me embebedo
Em goles de aguardente e de esperança.
Quem dera se chegasses aqui, cedo,
Talvez nós desfrutássemos do gozo
Fantástico da vida em louca dança
Num festim delicado e prazeroso...
X
6274
Trazido pelo vago e duro vento,
Emergindo do que fora primavera,
Num último resquício, sentimento,
Voltando novamente a ser quem era,
O cálice refeito tomando assento
Como um cristal refeito do quem dera,
Sorriso de esperança num momento
Tardio desta vida sem espera.
Moldando um novo rumo em minha história,
Um fio que me liga, frágil ponte,
À vida abandonada e sem memória.
Vieste como um parto abençoado
Abrindo o que restara de horizonte,
Um sol violentamente iluminado!
X
6275
Quando te vi, amor fundamental
Não percebi que a sorte me tomara.
Cansado de uma vida sempre igual
Sem fonte e sem desejo, vida amara,
Quando te vi sincero e desprendido,
Sem marcas e desenhos, facas, garras,
Aos poucos sem sentir fui envolvido
Pelas mansas delícias das agarras.
Quando te vi querida, não sabia
Que o mundo me traria novas cores.
Tomado pelo fogo da alegria
Numa entrega total, sem pudores...
Quando te vi, depois de medos tantos,
Voltei a perceber; da vida, encantos...
X
6276
A lâmina que corta tão profundo
Serena adormecendo nas mentiras.
Gerando tantas dores num segundo
Recorta uma esperança em finas tiras.
Nas voltas que percebo, pelo mundo,
A faca nas senzalas caipiras
Assim como em favelas soberanas
Repetem o retrato travestido
Noutras senzalas/dores suburbanas.
Na saia levantada, no vestido,
No corte, nas queimadas, fomes, canas
No sonho sem pendão, prostituído...
Mas quem sabe amizade bastaria
Para nós renascermos outro dia?
X
6277
Que dizer de esperança quando o medo
Da morte imediata bate à porta?
Nascimento feito em sorte, no degredo
Da sorte desdentada e semi morta.
A farsa desenhada desde cedo
E o canto sem sentido logo aporta.
Na mão tão delicada da criança
A boca da pistola e do fuzil.
A bala achada ecoa na lembrança
Como um confeito amargo e tão “gentil”.
A vida se fazendo em confiança
Da proteção do tráfico, sutil.
Culpar cada criança é muito fácil,
Em toda esta ironia amor é grácil?
X
6278
Tangidos feito gado em laço e corte
Carpindo cada morte que chegou,
Futuro desdentado que reporte
A toda desvalia que passou.
A boca escancarada em cada morte
Que mansamente em sorte aliviou..
Riacho todo seco da esperança
As pedras e as areias vão expostas.
De tudo casamento festa e dança
Amaciam a carne corta em postas;
Em cada novo tempo outra criança,
Bezerros abortados sem apostas.
E o gado dá lição, fraternidade.
Noutra rês reconhece uma amizade...
X
6279
Qual nave que percorre mil planetas
Em versos e desejos redentores,
Casulo em que formam os cometas
Os lábios descerrando estes amores.
Convulsas, vão tocando estas trombetas
As noites sem juízo e sem pudores.
Respiro tua boca em que eu habito
No vale mais escuro, belas furnas,
Nas praias, qual um mar insano agito,
Eu, vento, vou lambendo tuas dunas.
A chuva se transforma em tempestade,
As águas vão tomando a quente areia,
Num relampejo/olhar tal claridade
Que mesmo a fria lua se incendeia.
X
6280
Meu coração tocando em outro tom
O gosto da alegria de viver.
Felicidade mostra-se ser dom
De quem sonhou em busca do prazer.
No canto da esperança o mesmo som
Que faz a nossa vida se verter
No rio em fantasia, sempre bom,
Nesta vontade imensa de saber
O paladar da sorte em doce sina,
No gesto camarada de uma amiga,
Na lua que, de graça nos fascina
Na mansa corredeira que nos banha
No braço da amizade, imensa viga
Da paz que se aproxima, em luz tamanha...
X
6281
Semeio tanto amor onde puder,
Nos olhos da esperança sorrateira,
Na boca desejada da mulher,
Amada, amiga, amante, companheira.
Semente que se dá pra quem quiser
Depois de uma colheita verdadeira,
De um fruto que não foi jamais qualquer
A vida vai se dando mais inteira...
Granando um novo dia em sonho imenso,
É tudo a quem servi, versos, palavras.
Amar é ser além do que mais penso,
É ter o gosto doce da alegria,
Arando com meus beijos esta lavra,
Forjada com carinho e poesia...
X
6282
Da tristeza dos olhos de quem ama
Acesa esta fogueira no teu peito.
A dor que me tocando logo inflama
Transborda em teu sorriso, satisfeito.
Meu sofrimento é toda a tua chama
Lençol que te acarinha no teu leito,
Se preso em tuas garras, tua trama,
Cada vez mais cativo, assim eu deito.
Amor antropofágico e voraz,
Que é feito destas mágoas mais profundas,
Não sabe, em turbilhão, viver a paz,
Tua alegria é feita destas chagas,
Do sangue derramado é que te inundas,
Mordendo, calmamente enquanto afagas...
X
6283
Na ciranda dos braços, carrossel.
Rodando em minha mente, leve encanto.
Vagando nas tiaras deste céu
Tocada pelos olhos, pelo manto
Coberto de esperança, frágil mel,
Roubado num segundo, noutro canto,
Voando um coração perdido, ao léu,
Ao ver tanta beleza, assim, me espanto...
Ciranda dos abraços, da amizade
Que faz nosso futuro majestoso,
Dedilha novos versos, liberdade,
Semeia um novo mundo em redenção.
Matando o que se foi, tempestuoso,
Mostrando na ciranda, a solução...
X
6284
Tu tens uma aparência angelical
De toda uma inocência cravejada
No rosto tão suave traz sinal
De uma beleza quase imaculada.
Dona de formosura sem igual
Depois de ti, amor; não vi mais nada.
Amor que coloquei num pedestal
É glória que clareia minha estrada.
Visão em candidez de pura luz.
Mostrando em teu sorriso tal doçura
Que toda uma ternura reproduz
A força que toca e me levanta.
Em tua imagem calma, leve e pura,
Nas formas femininas, uma santa...
X
6285
Caminhos mais floridos te desejo
Embora tanto espinho nos caminhos.
Na sorte que te quero e que prevejo
As flores se misturam com espinhos.
O céu que traz o sol, nos dá trovejo,
Às vezes no inimigo bons carinhos,
Na boca que não quero, tanto beijo;
Na que mais que necessito, os escarninhos...
A vida é mesmo assim, amada dor.
É flor, espinho e pedras, solidão.
No frio valoriza-se o calor.
Do medo é que se mostra uma coragem,
A liberdade nasce em podridão,
Na mão que nos açoita, nasce o pajem...
X
6286
Um brilho de esperança em cada olhar
trazendo uma alegria sem limite,
meu verso, procurando te encontrar
num mundo em que a mentira não limite
vontades de poder,cedo voar,
além do grande mar que se acredite
na lua tão bonita, debruçar,
antes que a solidão seja o palpite
mais forte. Uma amizade que refaça
o bom de nossa vida, sem perguntas.
Que a vida não se perca na fumaça
dos desamores todos, da ilusão.
Nas mãos que nós mantemos sempre juntas,
a força sem igual de uma união.
X
6287
AMIZADE
Distante do mar morro lentamente
Nesta infindável sede em um ocaso
Que toma o coração, saber e mente
E leva, de repente ao fim do prazo
Gerando este momento mais urgente
Da sorte que se fez ao léu, acaso..
Se pensamento fosse liberdade
Renasceriam campos e jardins.
Pousando no que fora eternidade
As horas prometendo pelos fins
Restando-me, quem sabe, uma amizade
Que torna nossos medos mais afins.
Do mar que não navego, nem pressinto,
As cores da saudade em que me pinto...
X
6288
Caminheiro, as estradas do sertão
Desabando o vazio das andanças
Desaguando no mar do coração
Sem força sem pecado e confiança
No resto do que fora uma canção
Guardado em algum canto uma lembrança.
Um gosto de saudade sangra a boca
Deixando bem distante a juventude
Que foi-se em agonia quase louca,
Vontade de sentir nova atitude
Mas força que restou parece pouca,
Morrendo sem ter gana ou ter saúde.
Caminheiro; em teu passo eu já prossigo,
E posso te dizer, és meu amigo...
X
6289
Mal nasce o dia; lembro-me de ti.
Do tempo em que vivemos mesmo ninho.
Agora é que percebo o que perdi
Na adega da esperança sem teu vinho
O mundo desabou, descolori
O brilho da manhã, fiquei sozinho...
Uma emoção distinta que se aflora
Mostrando um paladar de nostalgia.
Uma ave que se foi, bela e canora
Deixou este silêncio em agonia.
De tudo o que tivera, sem aurora,
Renasce nebuloso cada dia.
Eu digo o quanto te amo, não me escutas?
Pomar morreu em flor, sem gosto e frutas...
X
6290
Procuro por teus rastros, por pegadas
Que tragam as notícias que mais quero.
Deslumbro velhas sombras nas calçadas
O tempo vai passando, inda te espero....
Saudade faz pousada em coração,
Parada obrigatória de um amor.
Batuque em desespero da paixão
No incêndio que me morde encantador...
Procuro e nada sei, somente sinto
O teu cheiro em cada flor deste jardim
No gosto inebriante de um absinto
E o medo de não ter persiste em mim...
No fim da tarde sei que voltarás..
Maré que te levou depois me traz...
X
6291
Depois de trabalhar feito cachorro
Mereço simplesmente a recompensa
Que chegue mansamente no socorro
Do amor que me domine e me convença.
As pedras destroçadas no caminho,
As curvas da morena que não veio.
O medo de perder me faz carinho
E nada da morena, perna e seio.
A noite que começa em botequim
Termina matinal, bruta ressaca,
Amor que não começa não tem fim,
A sorte novamente mente empaca.
Por que diabos sempre foi assim?
Amor não quer saber mesmo de mim...
X
6.292
Uma amizade sincera é coisa boa
Que cura qualquer mal que me apareça,
No peito de quem ama sempre ecoa
O bem que traz a sorte que apeteça,
Meu pensamento em liberdade voa
Trazendo tanta paz pra esta cabeça.
Disponha de meu braço companheiro,
Que uma amizade assim é bom demais.
No canto mais amigo e costumeiro
A dor não vem cevada nunca mais.
É flor que justifica este canteiro
Certeza: não estou tão só jamais...
Uma alegria intensa que se encerra
Nos braços da amizade mais sincera...
X
6293
Viola vai rasgando a noite afora
Tocando esta alvorada mais florida;
Morena se vier, chegar agora,
Já muda o meu destino, a minha vida.
Quem fora simplesmente nada outrora
Agora encontra rumo e tem saída.
A lua te chamando, morena implora
A sorte que se fez em despedida...
Perto do céu montanha acima,
Nas vozes serenatas da esperança.
A busca solitária pela rima
Soando em minha voz o beijo quente.
Convida esta morena para a dança
Do amor que me tomando fez-se urgente...
X
6924
Num esplendor divino, flórea senda,
Voláteis sensações tão evasivas,
Qual crepuscular luz. Amor desvenda
Origens destas formas mais altivas;
Num vértice florido, seda e renda
Em peles e desejos, carnes vivas.
Um beduíno encontra em sua venda
As mãos tão delicadas, receptivas.
Irrompes no meu quarto, rastros de ouro,
Escalas minha cama, curvas raras.
Deslinda-se num átimo o tesouro
Tomado em meus carinhos, astro e lume.
As sombras na parede, belas, caras,
Inebriado, bebo o teu perfume...
X
6295
Gotas de chuva caem dos teus olhos
Amiga sei que a vida nos maltrata,
Jardins sendo tomados por abrolhos
Um rio que se seca, sem cascata.
Viseira que nos turva qual antolhos,
Queimada destruindo toda a mata.
Os males invadindo, vários, molhos,
Somente uma amizade nos resgata
E mostra alvorecer em cada gesto,
Por mais que seja dura a nossa vida,
Sentido no que vivo sempre empresto;
Rebento o cadeado da clausura
Tomando tuas mãos, nossa saída,
Com toda magnitude da ternura...
X
6296
Amiga; não debruces no passado,
Janela apodrecida desta casa.
O rosto destruído e bem marcado
Um fogo que, jamais, de novo abrasa.
Vestido já puído, abandonado;
A vida qual a traça assim defasa
O que se foi perdido e destroçado,
Relógio da esperança não se atrasa.
Perceba quanto amor te trago aqui,
Perceba quanta dor ele te trouxe.
Promessa que te fiz não esqueci
De estar ao lado teu haja o que houver.
O mel que tens na boca mostra, doce,
Amiga, as tuas ânsias de mulher...
X
6297
Menino tão matreiro pula a cerca
Que sempre separou amor e dor.
Não teme que este mundo já se perca
Em versos que me fez tão sonhador.
Sou como este menino, prenda minha
Que fez desta ilusão prado sem fim.
Se a noite desta tarde se avizinha
Eu quero esta promessa carmesim.
O manto que louvaste, amor insano,
Se fez bem mais distante do que eu quis.
Mas vejo salvo o medo ou salvo engano
Que ainda poderei ser mais feliz
Roçando o belo pasto da esperança
Que salta novamente qual criança...
X
6298
EU QUERO O TEU AMOR
Eu quero empapuçar-me deste amor
E todo lambuzado te beber
No gole generoso em tal ardor
Que morra fielmente ao teu prazer.
Na pele tatuada, ao teu dispor,
Aprofundar vontade, gozo e ser.
Recebo deste amor proposta e senha
Nos cofres esquecidos no porão
Que a noite em teu perfume sempre tenha
O cheiro do armistício e da paixão.
Ardendo brasa e chama, fogo e lenha
Na cama que é disfarce da emoção.
Eu quero no teu mel me embriagar,
Antes que uma ressaca vá chegar...
X
6299
Seu corpo sem censura e sem pudores
Colado junto ao meu em noite mansa,
Nos movimentos todos, esplendores
Divinos calmamente a gente alcança
Os limites mais loucos, tentadores.
E assim a nossa noite amada, avança...
Depois de tanto tempo do seu lado,
Qual delícia de um sonho que desperto,
A cada novo dia, extasiado,
Sentindo o seu perfume aqui por perto,
Me sinto como um ser iluminado,
Num mar de fantasias, rumo certo
Regada a tanto amor; o meu e o dela,
A vida vai passando, intensa e bela...
X
6300
Menino que galopa pelos prados,
Montado no cavalo da esperança.
O vento já vem dando os seus recados
Em galhos do arvoredo que balança.
Nas crinas dos cavalos galopados
Os sonhos se perdendo em outra dança.
Mal sabe, este menino, destes fados
Do amor que atingirá em seta e lança.
Exausto, depois disso, sonha a cores
Com dias que virão depois da chuva.
Meninas se prometem, seus amores,
Infância da tormenta anunciada.
Paixão fica na espreita após a curva
Tomando, no galope, toda a estrada...
X
6301
Tu és toda a alegria que domina
O sonho mais gostoso que sonhei.
Teu jeito sensual, bela menina
Além de todo mar que imaginei.
No rosto delicado, minha sina
Se mostra mais inteira. Ser teu rei
Rainha desta terra cristalina
Aonde, em doce sonho te encontrei...
No mar em que navego, porto e cais,
No sonho que me doma, companheira.
Beijar-te mansamente, mais e mais.
E tu és o meu verso predileto,
A voz de uma esperança verdadeira,
Aonde, simplesmente, me completo..
X
6302
Vento em temporal, festejo e desgraça,
Já mostrando perfumes, aguardentes.
Nada fica, nem tudo também passa,
As facas envenenas entredentes.
Fogo não corresponde a tal fumaça
Em sentidos violentos tão urgentes
O gosto adocicado da cachaça
Bebido em demasia, noites quentes...
Depois manhã seguinte... O quê que eu fiz?
Braços abertos vejo que outros ventos
Que venham me farão bem mais feliz...
Mas dure o que durar, como isso dói!
Não deixa um só segundo os pensamentos.
Paixão vem me lambendo e me corrói!
X
6303
No silêncio noturno, esta distância,
Casulos tão diversos, soledade...
A voz transcendental remonta infância
Promete assim, talvez, felicidade.
Nos bares e prostíbulos, quem sabe
Na boca meretriz de uma ilusão,
O mundo que me deste que se acabe
Restando quase nada. O coração?
Minhas mãos desarmadas, tudo foi-se,
Apenas um sorriso quase irônico
E o corte tão profundo de uma foice
Deixando o meu viver, assim, agônico.
Abraçado a tais sombras; impreciso,
Encontro nos escombros, paraíso...
X
6304
AMAR
Quando a morte tocar meus olhos mansos,
Não deixe de cantar; que a vida avança.
Por certo buscarei noutros remansos
O que restou assim de uma esperança.
Não falo que na morte, os meus descansos,
Nem sei se algo terei sequer lembrança
Mas quero o violeiro e o trovador
Em versos declamando a minha sorte.
Vivendo e repartindo um farto amor,
Fazendo da alegria o rumo, o norte.
No mundo, um sentimento a recompor
Que impeça a sensação da dura morte.
Eu quero o teu sorriso, se possível,
Demonstrando minha alma imperecível...
X
6305
Tua alma, com certeza, boa e pura
Transborda uma ventura mais sagrada.
Matando qualquer dor e desventura
Tu sabes quanto quero e que me agrada
A mão que me estendendo com ternura,
Transforma-te num átimo em fada...
Ao acolheres sonhos mais gentis
Demonstras um futuro promissor.
Meus dias sem te ter foram tão vis,
Agora sem aviso, vem o amor
Cauterizando velha cicatriz
Numa vontade imensa de repor
A sorte que se fora; desditosa,
Mostrando um novo sonho cor de rosa...
X
6306
Sem cerimônia alguma chego a tua casa
Abrindo logo o quarto nem pergunto.
Tu sabes que o desejo não se atrasa
E vamos mais diretos pro assunto.
Retiro tua roupa; sede intensa.
Magia nos tomando num segundo.
Ninguém neste momento, eu sinto, pensa;
Mergulhamos num mar doce e profundo.
Carícias, línguas, vozes e gemidos.
Sussurros entre gritos e palavras.
Depois destes caminhos percorridos
Aguando nossos sonhos, nossas lavras.
Sementes espalhadas pelo chão
De estrelas salpicadas de paixão...
X
6307
Se por mais dolorido que pareça
Um grande amor nos ata e nos tortura,
Quem sabe solidão tanto padeça
Que amor sempre se mostra uma brandura.
A vida nos prepara cada peça
E mostra a maravilha da ternura.
Não deixe que esta sorte te enlouqueça
Amor cristal divino em pedra dura.
Sabendo da alegria, ter alguém,
Eu amo e cada vez preciso mais.
O fim do amor, por certo, quando vem,
Nos toma em sofrimento, a santa paz.
É dura nossa vida sem ninguém,
Somente em um amor eu sou capaz.
X
6308
Um coração mochado pela dor
Vagabundo se perde da manada,
Sofrendo na esperança desta flor
Que brota sem perfume e vai sem nada
Roçando todo o pasto sem valor
Da terra que jamais se viu molhada...
Amigo, companheiro de estradão,
Remoço uma alegria quando vejo
Que resta bem guardado após o não
Um gosto que me lembra quase um beijo
Da moça que se foi e sem perdão
Levou deste meu céu seu azulejo.
Amigo não pergunte, só permita
Que história sem ter fim, eu te repita...
X
6309
Procuro em mil mulheres o teu rosto,
E beijo tantas bocas que nem sei.
O sonho que se fez já foi deposto
Mudando em um castigo antiga lei
De um tempo que se foi, puro desgosto
Mostrando tanto amor por quem sonhei,
No colo que procuro, novo encosto,
Aquele que passou e que deixei...
Castigo divinal? Creio que não,
Mas sinto tua mão em mão alheia,
Não tenho outro caminho ou solução
A chama que me abrasa não é tua,
Porém tua fogueira me incendeia
Noutra nudez, t’a pele sempre nua...
X
6310
Tu és a mais bonita poesia
Que Deus tão inspirado, um dia fez.
Usando como mote a fantasia
Num ato de perfeita lucidez;
Tocado por um gesto de magia,
Ao ver-te fui perdendo a sensatez,
Agora com mil versos de alegria
Espero te encontrar uma outra vez;
Ser teu amante eterno, enamorado,
Vibrar em nosso amor por toda a vida.
Contigo caminhando do meu lado,
Irei por todo canto, em toda parte.
A sorte do teu lado, decidida,
Só quero, de uma vez , é conquistar-te...
X
6311
Caço-te nos lençóis de nossa cama,
Não encontrando nada, a noite passa,
No que se fora assim, intensa chama
Sobrando tão somente esta fumaça
Em mil gracejos tolos, sutil trama
Se mostra sem motivo, uma chalaça
Apenas minha voz inda reclama,
Ausência que se fez,a minha alma esgarça.
Errante te procuro e nada vejo,
Mas mesmo assim valeu o nosso amor.
Talvez pra ser feliz, outro traquejo
Que nunca mais teria quem sonhou.
Buscando o teu carinho redentor,
Esqueço tanta vez quem mesmo sou...
X
6312
Sentindo no teu beijo/rosa rara
Perfume que inebria colibri
A sorte de te ter em tudo ampara
Redime todo sonho que perdi.
A vida em alegria nunca pára
Sabendo; meu amor, que estás aqui.
A vida sem te ter se perde amara,
Meus versos de esperança estão em ti.
Chamando-te, querida, rosa e flor,
Permita que este pobre sonhador,
Um beija flor, receba o teu carinho.
Não deixe que este sonho assim termine,
Meu nome, com saudade sempre assine,
No bico que te beija, um passarinho...
X
6313
EU TE AMO, TE AMO, TE AMO...
Mal vem o sol nascendo em bela aurora
As luzes da cidade inda brilhando,
Meu quarto em tuas cores se decora
E, aos poucos meu desejo renovando
No amor que a gente faz sem ter nem hora
No corpo em que persisto navegando;
Neste caminho lindo, um andarilho
Procura a imensidão sem ter atraso,
Rompendo uma alvorada em raro trilho,
Sem hora sem destino, sina ou prazo.
Envolto em maravilha, então me pilho
Deixando este futuro ao mero acaso.
Só sei que trafegando em tais magias,
Encharco esta manhã de fantasias...
X
6314
TE AMO DEMAIS...
A noite se passando tão distante
De quem sonhara sempre, a vida inteira.
Quem dera deste barco comandante
Tocasse tua boca feiticeira,
Roubando da magia num instante
Razão de ser mais justa e verdadeira.
Minha alma te procura, debutante,
Querendo para sempre companheira...
Mas nada do que faça te arrebata,
E nada do que eu diga mais importa.
Só sinto que se adentra em densa mata
A noite que eu queria ser tão nossa.
Apenas este vento bate à porta
Espero este momento em que se possa...
X
6315
MINHA GRANDE AMIGA
Qual fora um velho ator sem ter platéia
Resisto à solidão, triste quimera.
Minha alma sem sentido, assim, plebéia
Buscando uma amizade que se espera
Por anos, tantos anos, nunca vem...
Perfume de mulher me abandonou,
Descarrilada a sorte, perco o trem,
Somente uma lembrança aqui restou.
As marcas no meu rosto, cicatrizes
Mostrando tantas chagas no caminho.
Vivi, por certo, tempos mais felizes,
No mar maravilhoso do carinho.
Agora, minha amiga, sem amor,
Só te resta, platéia deste ator...
X
6316
A FORÇA DA AMIZADE
Vibrando pelas ondas, oceanos
De tantas sensações que acumulei
Por mais que passem dias, meses, anos,
A força da amizade manterei.
Rompendo com discórdias, desenganos
Mudando, num segundo toda a lei,
Nos rumos divididos, novos planos,
Nos quais os pés bem firmes eu terei.
Subindo nos penhascos da alegria
Tornando nossa vida mais certeira.
Voando por espaços todo dia,
Das penedias frias, nossos medos,
Uma amizade pura e verdadeira,
Refaz em nossa vida, tais enredos...
X
6.317
SONETO AO DIA DAS MÃES
Falar da santidade que se torna
Mulher em um momento mais sublime
Desta meiguice imensa que contorna
As dores nos mostrando o quanto estime
A vida que em seus braços sempre adorna
Numa alegria ou dor, mesmo no crime.
Falar desta mulher que além de tudo
Guerreira sem temor, no dia a dia,
Meu verso mais perfeito, não me iludo,
Jamais, e com certeza, bastaria.
Bastião de uma esperança verdadeira,
Incondicionalmente um ombro amigo.
Na vida, a mais perfeita companheira.
Certeza de carinho em santo abrigo.
X
6318
Felicidade? Louco, eu te perdi...
Partiste para nunca retornar.
Depois de tanto tempo, eu percebi,
Que a vida mergulhou em outro mar,
Distante estou agora e vou sem ti,
Não sei mais em que estrela te encontrar.
Meu mundo se resume nisto aqui.
Loucura faz o tempo não passar...
Eu tinha em minhas mãos, amor profundo,
Mas veio a correnteza e te levou.
Sozinho me encontrei, por um segundo
As águas te levaram nesse instante.
Agora se nem sei mais quem eu sou,
Felicidade fica tão distante...
X
6319
Não te desejo o mal, somente o nada.
Não guardo mais rancor sequer protesto.
A tarde que chegou, des’perançada;
Repete em minha vida, o mesmo gesto.
As mãos que imaginei, eram de fada,
Do que tanto quisera, em dor me infesto,
A sorte que eu queria, apunhalada.
E faço em cada verso um manifesto
Falando deste sonho que morreu,
Falando desta luz que se apagou.
Falando deste encanto, todo teu
Que dorme numa recanto, esvaecido.
Apenas demonstrando o que restou
Do amor que se perdeu, sem ter nem sido.
X
6320
Se queres o meu corpo, mágoa e riso,
Se quer este estribilho, o sofrimento,
Matando devagar, negando aviso,
Sorrindo sem sentido, num momento.
Sequer eu te darei meu paraíso
Bem mais do que mereço, fogo e vento.
Na chibatada; o gozo mais preciso,
No corte tão profundo, manso e lento.
Se queres o que sou, sem ter nem capa,
Escarras em meu rosto sem motivos...
Da dor que me causaste nada escapa
Nem mesmo esta certeza de quem és.
Meus olhos mais vazios, mortos-vivos,
Jogados neste chão, sempre a teus pés.
X
6321
Vieste navegante em minhas docas,
Tomando qual pirata o sentimento.
Nas bocas que se beijam, lábios, trocas,
E as pernas se misturam, mar e vento.
Adentro teus caminhos, doces tocas,
Em chuvas de carinho e de tormento.
Nas pedras, perdas, ganhos, furnas, locas,
A cada novo instante, açodamento.
Viemos das senzalas dos sertões,
Viemos da alegria apodrecida.
Atrás das sacristias, dos sermões,
Das ruas madrugadas canibais,
Por isso nossa sorte aparecida
Nas ondas e bordéis, nas marginais..
X
6322
Amor bate no peito em tique taque
Fazendo disparar o coração
Guardando as proporções, mesmo de araque
Neste tumulto imenso, a confusão.
Lembro-me das histórias do almanaque
Profusas em delírios da paixão,
Agora que percebo tomo o baque
Mas sigo meu cantar em devoção.
Maria se fez festa, boca e teta,
Berrando o bom cabrito toma assento.
Amor hora marcada na ampulheta
Matou o passarinho da esperança.
Mas deixe que a saudade é como um vento,
Depois faz tempestade na lembrança.
X
6323
Chegaste no meu quarto de surpresa
Vestindo transparente lingerie
Senti-me no momento, tua presa
Em meio desta fome eu me perdi.
Comeste cada parte em sobremesa
Depois lambendo os beiços, percebi
Que a noite prometia uma princesa
Safada e generosa viva em ti.
No quase que não fomos, sofrimento,
Depois em doces gomos, um banquete;
Amor que não perdeu nenhum momento,
Se mostra com a cara e a coragem.
Na gula em que se mostra, amor repete
A festa extasiante, sem miragem.
X
6324
Amiga, verdejante é o caminho
Que leva quem se adora para o céu,
Envolto neste traje, um passarinho,
Se mostra bem mais forte, foge ao léu.
Montando neste sonho de carinho,
Galopo em liberdade este corcel...
Amiga, nova sorte se segreda
No vento em que se julga mais liberto
Qual chama que se espalha em labareda
Qual chuva que se mostra num deserto,
De toda esta esperança, que se enreda,
Da paz tão desejada, estou bem certo....
Amiga o que traduz felicidade
Já passa pela força da amizade!
X
6325
Uma amizade passa na peneira
E deixa uma mentira como sobra
Se tens uma amizade verdadeira,
Percebe que esta vida nunca cobra.
Mas saiba valorar a companheira
Que o barco em tempestade se soçobra
Se salva numa entrega mais inteira
Na luta que se faz e se desdobra...
Amizade tem força desmedida
Se traz uma esperança em doce canto.
Preserva o sentimento de uma vida
Mostrando que valeu ter conhecido
Aquela que se fez em puro encanto
Caminho doloroso enfim vencido.
X
6326
Deitado em minha cama um baby doll,
Envolve tuas formas generosas.
No bronze que ganhaste sol a sol,
As carnes se mostrando belicosas,
Cantigas e mandingas de arrebol,
Soando em tua boca; maviosas
Repito cata-vento e girassol
E bebo de teu corpo, água de rosas.
Abrindo este botão da camisola,
Eu abro o teu botão rosa vermelha.
Recebo o teu perfume em que se embola
Os cernes desta noite em poesia.
Acendes com teus lábios a centelha
Da lua que se entrega mais vadia...
X
6327
A rosa decomposta no jardim,
Em ventos desfolhada, na janela.
Mostrando o que sobrou do amor em mim,
Servido sem talher à luz de vela.
Do couro verdadeiro sobrou brim,
O conto do vigário se revela
No falso do batom mais carmesim,
A boca que beijava não é dela.
No gesto mais discreto silencia
O resto mais completo que esperei.
Se empresto meu discurso em fantasia
Queimei os seus retratos por desfeita.
Na cama em que cansado, eu esperei,
Agora vem mansinha e assim se deita.
X
6328
Um pesadelo enorme não tem hora
Se torna mais freqüente em aflição
Se toma penitente a dor de agora
Se forma no desejo resto e chão.
No viperino beijo que me deste,
Refeito deste susto me enterneço.
No couro que roubaste feito veste
Além do que não soube se mereço.
Na boca da jocosa criatura,
Um verso desferido igual veneno.
Deitando em tua boca beijo e cura,
Ao ver-te repartida, logo aceno.
E peço o teu sorriso mais preciso,
Mostrando este portal do paraíso....
X
6329
O SEU AMOR
Ela esperando a noite que não vem
Do amor mais comportado em que preveja
Tranqüilidade imensa neste bem
Que louco, tresloucado tanto beija
E rouba os seus sentidos. Ser alguém
Além do que queria relampeja.
Na sorte despencada e dorme sem
Trocada por amigos e cerveja.
Deseja que outro dia seja santo,
E o sonho não se mostre pesadelo.
Refeito o rarefeito e manso encanto.
Da saia da menina curta e justa,
No gosto prazeroso de sabê-lo.
Realidade entanto, sempre assusta...
X
6330
Não vou querer, amada, ser teu dono,
Nem mesmo ter contigo tantos prós,
Tomando minha vida em gozo e sono,
Dos tempos mais distintos mesmos nós;
Se deito e junto a ti tanto ressono,
Se busco esta certeza em tua voz,
Espero que sem medo do abandono
A vida se transborde em todos nós.
A mão pendurada no pescoço
Qual fora gargantilha de carinho,
Tropeço e mergulhando em fundo fosso
Descubro esta riqueza mais gostosa,
Vibrando meu prazer em tinto vinho,
Na noite em que desforra tanto goza.
X
6331
Tu chamas prostituta esta mulher
Que cede aos teus carinhos mais profanos
Depois que foi princesa, uma qualquer
Se mostra nos teus cantos soberanos.
Nos versos debulhaste o que quiser
Depois de debruçares nos enganos,
Do canto mais altivo que fizer
Parece que o amor tem outros planos...
Se posas de caipira ou sertanejo,
Desculpa, companheiro, esfarrapada,
Romântico é viver cada desejo
Com força e com carinho, mansamente,
Senão já te condenas a ser nada,
Morrendo sem futuro, tolamente...
Uma homenagem aos cantores sertanejos ou românticos que
invadiram o nosso dia a dia.
X
6332
Vieste dos meus sonhos, num relance,
Mulher que se fez festa e fantasia.
Vivemos num segundo um bom romance
Que foi por certo tempo, uma alegria.
Agora bem mais longe não descanse
Que a sorte que te trouxe um belo dia
Não deixa mais que a vida já te alcance
Despida do que fomos, poesia.
Às vezes te bebia com olhares
Em danças e poemas que esqueci.
Sem cantos e recibo, se notares
Nós somos iguaizinhos, mesmo tom.
Por isso é que matando amor em ti
Destruirás a sorte em eco e som.
X
6333
Eu quero crer num sonho sem temores
Refeito do vazio de onde eu vim,
Bebendo em cada boca meus amores
Que guardo, bem retintos, dentro em mim.
Se enfoco sem sentido meus temores,
Talvez toda essa culpa venha enfim
Dos holofotes, fortes refletores
Que vejo do princípio até o fim.
Morrer nesta paixão que me moveu
Do futuro impossível que não veio,
De toda uma esperança que perdeu
Quem fora companheira e mais não quis.
Rever uma alegria, aberto o seio
Por onde mergulhando, fui feliz...
X
6334
Palavras que soltamos, vento leve,
Em confissões dubladas sem sentido.
Se o tempo que passou, correu tão breve
O mundo não se mostra arrependido.
Por mais distante que isto não me leve
Sou farto das paixões e combalido
Não quero amor que nunca me releve
Nem revele o que fora preterido.
As horas se passando sem jamais
Tampouco sem verdades absolutas.
A sorte já saiu, não volta mais,
Tantas palavras soltas, versos soltos,
Em outras fantasias, velhas lutas,
Os rumos já perdemos, mais revoltos...
X
6335
Teimosamente fico a te esperar
Embora me dissesse que não vens.
A luz que se repete no luar
Trazendo uma esperança de outros bens
Vontade de partir e de ficar,
Vontade de gritar teu nome ao vento,
Mas nada de fingir ou de chorar,
O gosto da vitória é no momento.
Quem sabe tu virás na tempestade
Ou mesmo no prazer que não contenho,
No gosto desta boca, ansiedade,
Amor foi companheiro mais ferrenho.
Mas sinto o teu perfume dentro em mim,
Um grande amor não morre mesmo assim.
X
6336
Amiga, não me guardes mais rancor,
Sacuda esta palavra que falei
Neste momento insano sem valor
Onde em erros gigantes mergulhei
Num momento mais duro, insensatez,
Instante adormecido e sem sentido.
Inerte sem juízo ou lucidez
Melhor jamais por certo ter bebido
Das dores esquecidas do passado,
Há tanto sepultadas, coração.
Se num momento torpe, enviesado
Voltaram sem motivos, explosão,
Tu sabes, nada dizem, nem intriga,
Peço-te, esqueças isso, minha amiga...
X
6337
Expostas, rancorosas, velhas dores
Ambulantes feridas que se entocam
E mostram nos seus dentes, os humores,
Espelhos onde os rumos se retocam.
Num fosso de silêncio onde abrandaste
Tais fúrias, refletindo num sorriso
Já toda a sensação deste desgaste
Natural que nos nega um paraíso.
Somamos nossos corpos toda noite
E, mesmo que isto seja uma mentira,
Vestimos solidão em farsa/açoite.
No fundo não queremos mais a fuga,
Nem mesmo quando solta, a voz atira
Forjando em nossa face cada ruga...
X
6338
Quem dera se viesses, rosa rara,
Estrela maioral deste jardim,
Em tua majestade a sorte ampara
O sonho que guardei dentro de mim.
O tempo sem remédio, quase pára
Na boca que beijaste, carmesim.
O fundo marchetado da existência
Se imanta em tanto verso atormentado.
Quem sabe te encontrar foi coincidência?
Atando o meu destino ao teu passado
O resto se fará sem penitência.
Somente te proponho estar ao lado
Do mar que assoalhei em nossa vida,
Desabrochando em ti minha saída...
X
6339
Não se secam tais fontes, mar e rio.
Nas lajes, pipas, sonhos e conversas,
O parto que mal feito traz vazio,
Estrelas salpicadas são diversas.
Trotando meus sentidos, sou anexo.
Vestido em mil disfarces, mago tom.
Por mais que se pareça mais complexo
Amar talvez pareça um simples dom.
Nas palavras jogadas neste vento,
Recolho minhas mágoas, águas, fontes.
Por mais que seja incrível, sempre tento
Beber daquelas nuvens, horizontes...
Esqueço em toda parte um bom pedaço
De meu coração, nisso eu me desfaço...
6340
O AMOR VIRÁ...
Não chore mais menina tão bonita.
A sorte se encontrou sempre contigo,
A vida não promete uma pepita,
Mas saiba que terás sempre este abrigo.
Da minha mão cansada que acredita
Na força vencedora deste trigo.
Não chore mais, não faça tanta fita
Que tudo passará sem ter perigo...
Eu sei que crescerás bem mais feliz
No amor que se promete ao fim da tarde.
Terá querida, então tudo o que quis.
O céu das andorinhas sem alarde,
A lua tão bendita cedo cai,
Enchendo os olhos tristes, velho pai...
X
6341
Meu destino jogado em preamar
Nas ondas que te levam para aonde?
Nas conchas que cansamos de buscar
Na história em que perdemos trem e bonde.
Promessas de fingir e de sonhar
Teu rosto nem mais sinto, onde se esconde?
Estrela tão difícil de encontrar.
Nem mesmo uma esperança me responde,
Apenas pude ver tua partida
Nas ondas e nas conchas, nesta areia
Lambida pela luz da lua cheia.
Distante de teus olhos passo a vida,
Procuro pela estrela porto e cais,
O vento me condena: nunca mais!
X
6342
O tempo vai passando e nada tento,
No intento de ser livre, me perdi.
O rumo que deixei seguir mais lento
No fundo, me atormento e vou sem ti.
Sentindo cada vez mais o momento
Do tempo que se passa e percebi
Amar não é somente um bom invento
Querer estar contigo estando aqui.
Mas isso nunca fez a diferença
Tu sabes que te quero, e não duvida.
A vida sem amor sequer compensa
Respostas eu pedi mas nada veio,
No manto que te cobre nem mais creio,
Apenas esperando que decida...
X
6343
AMOR DE MENINA
Abrigos desvalidos e sem força
Nos préstimos negados, desalento.
Por mais que uma esperança seja moça
Não cabe no embornal do pensamento.
A pele da menina quase louça
Rachando com o sol desabamento,
Dos olhos tantas águas formam poça
Depois irei dormir neste relento.
A casa da menina tem porteira
Ponteia uma viola noite e dia.
A lua se mostrando companheira
Amor faz mais folia e não reclama,
Meu Deus como teria uma alegria
Se a moça desse abrigo em sua cama.
X
6344
TE AMO, TE AMO...
Não quero que renasça nem que morra
A sorte que te trouxe sem disfarce
Trazendo em nossa cama a tal Gomorra
Do beijo em que se fez tal entrelace
A vida sem te ter, vida cachorra
Gerando a cada dia um novo impasse
Não quero que outra lua me socorra
Nem ofereço assim uma outra face.
Apenas bebo a fonte, juventude,
Nos trajetos risonhos deste mar.
Tomando em cada tento uma atitude.
Quero sem limites, sempre amar,
Nas úmidas vertentes deste rio,
Enchendo um coração antes vazio.
X
6345
Algumas vezes jóias lapidadas
No ourives predileto, o coração,
Se mostram quase sempre iluminadas
Mas outras vezes negra escuridão.
Tiaras, gargantilhas ou anéis
Rubis ou esmeraldas, perla ou jade,
Assim amores feitos mais fiéis
Durando por quem sabe eternidade.
Opalas, turmalinas e corais
Dourando minha vida em teu abraço.
Nos teus cabelos brilhos, sempre mais,
Acaricio e assim desembaraço.
No fundo em tanta jóia, em tal matiz,
O que mais quero, amor é ser feliz!
X
6346
Meu verso enviesado pela sorte
De quem nasceu com fome de vingança;
Na ponta desta faca trago o norte
A mão que quer o beijo já te alcança;
Porém tu sentirás meu fino corte
Da boca que te morde seta e lança.
Não temo lábio doce que me entorte
Nem mesmo uma lambida da esperança.
Nascido em fardo amargo e tão pesado,
Carrego entre meus dentes de soslaio
Certeza de saber que ando de lado,
No coração sofrido, este balaio,
Que é mostra que se fez por ter amado
Quem luta e não se deixa ser lacaio.
X
6347
Onde estiveste filho tão querido?
Andei te procurado por montanhas
Embora eu te perceba distraído
Vencemos no conjunto tantas sanhas.
A tua mãe investe na libido
Querendo me vencer com suas manhas,
Pensara que era assunto resolvido
Mas sinto; as novidades são tamanhas.
A sorte se mostrou encurralada,
Na boca esfomeada da pantera.
Amor se fez distante em alvorada,
Por isso minha estrada foi diversa.
No meu outono; em tua primavera
Meu filho, em outro amor, outra conversa.
X
6348
Soprando em minha mente cada vento
Que veio das florestas mais selvagens,
Abrindo mais e sempre o pensamento
No toque extasiante das folhagens.
A voz de quem só fora sentimento
Dizendo com firmeza uma bobagem
Qualquer que se demonstre movimento
Permite que eu prossiga esta viagem
Na busca de mim mesmo pela vida.
Voando em minha mente, asas abertas,
Tua presença sempre distraída
Não viu que me entregaste o teu destino.
Ao menos não darei mais os alertas
Sabendo que me tens, não te domino...
X
6349
Esperando este trem que pára agora
Na estação liberdade/consciência
Passando pelas ruas mundo afora
Mostrando que é preciso paciência.
Trazendo especiarias não demora
Mas vale pelo tempo e penitência.
Em bandeiras e sonhos se decora
O trem da liberdade e da ciência.
Ciência de saber que amor é cura
Que a força por mais bruta se faz frágil
Perante a mansidão, calor, ternura.
Mergulho em utopia a claridade
Num sonho de outro sonho bem mais ágil,
Que venha com perfume de amizade...
X
6350
Desate a fantasia deste dia
Que finge que não veio nem virá.
Roubando se puder, qualquer magia
Da noite em que deixei amor por lá.
Receba nos teus dedos, poesia,
Preveja que a saudade chegará
Desarme, no final, tua alegria;
Que nada deste dia brilhará...
Mas sinto o teu sorriso companheiro,
Qual fosse algum resquício do que fomos.
Amiga. Se me entrego por inteiro
E não somente apenas partes, gomos,
É por que pressinto a salvação
Na face da amizade e do perdão...
X
6351
Querida, não me peça mais conselhos,
Errante pela vida eu não consigo
Calar estes meus olhos tão vermelhos,
Retratos do que tive aqui comigo
Mostrados quais reflexos em espelhos
Jogados bem distante deste abrigo.
Não falo deste amor em pastoreio
Nem fujo do regaço da alegria,
Apenas decorado por teu seio
Receio não mostrar tal sintonia
Que cumpra o que desejas, teu anseio,
Sem nexo, sem sentido e sem magia.
Apenas sei que sempre te esperei.
Conselho em teus amores? Não darei
X
6352
Tu foste esta cabrocha que sonhei
No carnaval perdido da memória.
Recebo todo o vento que assoprei
Na morte sem sentido, sem história.
Agora o que fazer se não sou rei,
Se o rumo se perdeu, sem ter nem glória.
Do quanto tanto amor eu desejei,
Percebo que não resta nem escória.
Cabrocha, carnaval, morreram todos,
Apenas um batuque meio estranho
Surgindo doutros rumos, novos lodos,
Matando a colombina em caquexia
Da fome deste amor sequer um ganho,
Cabrocha também tem anorexia...
X
6353
Do pecado e veneno que bebemos
Em versos e delírios sem limites
Espelhos onde sempre nós nos vemos
Reféns de outras loucuras e palpites.
Não quero nem impeço que acredites
No fogo deste inferno que teremos
Nem sinto nem desejo que limites
As hóstias que não temos nem comemos.
Só falo deste amor, santo consórcio,
Que é feito de ternura imensidade,
Embora no passado, o meu divórcio,
Demonstre para a falsa santidade
Pecado que envenena quem não ama
Matando em nascedouro a vida, a chama..
Em homenagem ao Papa Bento XVI
X
6354
Vou sonhando acordado pelas ruas,
Vestido de ilusões e fantasias.
As mãos que me acarinham não são tuas
Mas suas ao me ver sem agonias.
As horas que passamos, loucas, cruas
Os medos se renascem como os dias.
Parece que distante continuas
Mentindo nos desejos, melodias...
Mas quero que tu saibas que te adoro,
Embora não consiga mais sentir
O gosto tão profano onde decoro
Os sonhos, pesadelos e temores.
Quem sabe te encontrando no porvir
Renasçam destas sombras os amores?
X
6355
Desejo meu querido companheiro
Que o mundo se aproxime do teu sonho.
Num gesto mais sincero e verdadeiro,
Meus barcos nos teus braços sempre ponho.
Na rosa que plantamos num canteiro
Promessas dum porvir bem mais risonho.
Que o amor este divino feiticeiro
Afaste a solidão. Eu te proponho
Que leve bem mais leve a tua vida.
Num mundo mais gentil e sem segredos,
Distante das tristezas, velhos medos...
Na sorte que desejo repartida,
Um tempo assim refeito e sem maldade,
Em todo este poder de uma amizade.
X
6356
As portas entreabertas do meu peito
Sem medo ou cadeado que as proteja
Faminto sentimento sem direito
Do vento benfazejo que preveja
A luta que vencida dará jeito.
Se tudo o que vier assim deseja
Amor que nunca mais foi satisfeito
A boca desdenhosa que me beija
Servida na bandeja dos meus sonhos
Trará talvez a paz que necessito.
Ao longe, bem distante, no infinito;
Guardado por carinhos mais risonhos,
Vencendo cada pedra do caminho,
Tragando este meu corpo em teu carinho...
X
6357
AMOR DE BOSTA
Agora que não queres meu amor,
Dane-se em cada curva do caminho,
Que tudo que te surja tentador
Voando pra outro canto, passarinho...
Paspalho sentimento sem louvor
Vagando bar em bar se estou sozinho,
Violo os teus ouvidos sem pudor
Renasço noutra cama, noutro ninho...
Falar que és minha amiga... que resposta!
A vida não permite mais enganos.
Nos sentimentos, velhos soberanos,
A carne maltrapilha vai exposta.
Já tenho pra esta estrada novos planos.
Não quero mais te ter: amor de bosta!
X
6358
Batucando a saudade no meu peito
Sem jeito com trejeitos mais vadios,
Fingindo que este amor insatisfeito
Nos une por estrelas, mãos e fios.
Agora que encontras contrafeito
Vestido das mentiras perco os frios
Olhares de quem nunca teve jeito,
Tocando bem de leve tantos brios.
Saudade não me engana, vai embora,
Amor que já se foi não voltará;
A noite vem chegando e não demora
Percebe noutra boca um novo toque,
Da lua que por certo, brilhará,
Mesmo que seja amor ponta de estoque.
X
6359
AMO VOCÊ
Temperando esse amor em sal e riso,
Deixando uma saudade na salmoura
Na carne que me dás o paraíso,
Depois o sol mansinho, tudo doura.
Perdendo o que me resta de juízo
Na cama, a chama acesa, vem, e estoura...
Forrando nossa cama, em alecrim,
Bebendo da cachaça desta boca.
Tempero meu amor pra sempre assim,
Na vontade macia e sempre louca
Após esse banquete, a sobremesa,
Do mel mais delicado que provei.
No gozo tão suave da princesa
A sensação exata de ser rei...
X
6360
Amar-te como amei? Somente um louco...
Além das minhas forças, foi demais...
Meu coração morrendo pouco a pouco
De amor além de tudo, e muito mais...
Insensatez total, amar assim...
O sofrimento, eu sei, amor me traz
Sangrando sem parar até meu fim
Tomando o meu juízo, perco a paz...
Pensara que sabia o que era amor...
Agora me percebo um aprendiz.
Somente o amor, ingrato professor
Ensina, nos ferindo e maltratando.
Fazendo um coração tão infeliz
Que aprende tão somente assim, amando...
Baseado em Só Louco de Dorival Caymmi
X
6361
Tu falas deste amor como se fosse
Um direito exclusivo, todo teu.
Não somos tão somente simples posse
O teu amor jamais será só meu...
O mundo que sonhavas, sempre doce
Se perde na amargura deste breu...
A vida ,sem saber, do amor que trouxe
Fez desse meu olhar pra sempre ateu.
Não quero que tu penses ser matriz
E não serei jamais a filial,
O que me importa, amada é ser feliz,
Buscando teu carinho, noite e dia.
Amar demais além do que é normal,
Encharca nossa vida em poesia...
BASEADO EM MATRIZ E FILIAL
X
6362
Levaste teus rebentos pela vida,
Em esmoleres sonhos sem sentido.
Refém de tua sorte já perdida,
No corte da existência, puro olvido.
Procuras nos espelhos a saída
Mal vês que tudo enfim foi resolvido.
A pedra do caminho não vencida,
O medo de viver, adormecido.
Não leve mais os mortos nem os risos.
Ateie fogo às vestes e aos lençóis...
Talvez assim percebas outros nós;
Além de todo amor, os paraísos
Se mostram desarmados e distantes.
Permita-se morrer dentro de instantes...
X
6363
No vento das montanhas, meu olhar
Encontra o teu semblante qual miragem
Parece que arvoredo a balançar
Traz a marca dos braços, nova aragem
Bebendo cada gota do luar
Que cisma me levando em tal viagem
De fadas nesta serra a me tocar
Fazendo amar, sentir qualquer bobagem.
Minha boca ferida pelo frio
Sequiosa da tua, nada sente
Senão tal vento em corte mais macio
Penetrando meu peito sem aviso.
Assim ao fim de tudo, se pressente
Meu passo, desmedido e já sem siso...
X
6364
Neste meu coração avarandado
Pousando toda sorte de esperança.
Batendo quase sempre compassado
Depressa vai mudando em nova dança
No verso que trouxeste do passado
Recebo este bafejo da lembrança.
De um tempo que se foi acomodado
Mas volta em teimosia de criança.
Andorinha voltando de viagem
Tomaste o coração quase em assalto.
Falar que amor morreu? Uma bobagem,
Amor não foi embora, aqui ficou
Matando este meu peito tão incauto
De susto; uma andorinha que voltou...
X
6365
Até mais ver, querida companheira.
Não posso te dizer se volto mais,
Apenas te proponho a vida inteira
Na busca do que somos. Siga em paz
Que a noite que se chega, costumeira,
Prazeres e vazios sempre traz.
Mas nada disso importa. A verdadeira
Esperança não volta aqui jamais..
Não digo mais adeus, nem mesmo bye
Apenas até mais se mais houver.
Por mais que a tarde fria que se vai
Demonstre a novidade que não veio,
Além de todo o fim que se quiser,
Amiga, o tempo racha-nos ao meio...
X
6366
Tanto bem que te quis... nada sobrou,
Somente um gosto amargo de saudade.
Além de todo o cais, já naufragou
O sonho de viver felicidade.
Como falar de amor se nada sou
Senão o vento frio. Na verdade,
Nem mesmo um bom caminho se trilhou
No amor da tão distante mocidade...
Fugir destas fronteiras da loucura.
Estupidez pensar que isto tem cura...
As luzes se apagando em fim de festa
Sedução destes sonhos sem por que.
Ilusão do que procuro, mas cadê?
O som da praia ao longe, o que me resta...
X
6367
Ah! Quem me dera estar sempre a teu lado,
Na lua tropical , boleros e canções,
Bandoleons, violas, noites, fado..
Rodando nas loucuras das paixões...
Não me canso jamais, apaixonado,
Entregue a tais desejos seduções...
A noite vem e traz o teu recado,
Na boca, doces lábios, tentações...
Ah! Quem me dera o gosto do veneno
Bebido em tua boca, nos teus seios...
Delírio me tomando, vivo e pleno,
Tremendo todo o chão sob os meus pés...
A vida se entregando aos meus anseios,
Na dama que convida... os cabarés...
X
6368
Eu ando, meu amor , à flor da pele,
Tristonho sem motivos aparentes.
Sorriso enviesado me repele,
Andando com a faca entre meus dentes.
Pavores e temores do vazio.
Saudades do que nunca percebera.
Tomado em sensação de imenso frio,
Matando num inverno a primavera.
Estou com os meus nervos combalidos,
Os olhos mais vermelhos anunciam
Hiperestesiados, os sentidos;
Assim nova paixão já denunciam...
Eu ando à flor da pele; por favor,
Não negue minha cura: o teu amor!
X
6369
Surgindo constelares esperanças
Nos olhos da criança mais contente.
Escondem suas dores, suas lanças
Rangendo uma alegria reluzente
Nas águas mais serenas, sempre mansas
Do amor que se fizer bem mais urgente.
Com jeito de meninas tais lembranças
Cerzindo fantasias, finalmente.
Amor é quase sempre a liberdade;
Anúncio de outra vida mais feliz.
Nessa luta por solidariedade.
A vida que desfila em festival
Se mostra soberana e sem igual,
Como o meu coração, pra sempre quis...
X
6370
Na noite de esplendor, o belo mar
Tomando toda areia desta praia
Lambendo tuas pernas devagar,
Levanta mansamente tua saia.
Mostrando teus segredos, ao luar
Que espreita bem distante, de tocaia,
Por um instante chega a pratear
Fazendo com que a noite se distraia...
Espumas acarinham tuas pernas.
Delícias de lambida bem salgada.
As mãos do grande mar são tão ternas.
Tu te entregas aos loucos pensamentos,
Sorrindo, tua pele arrepiada,
Abrindo tuas coxas, beijos, ventos...
X
6371
Vagas vagas, vergastas, vergalhões...
Em tantas plagas gastas ilusões
Não me afagas desgastas emoções...
E mesmo assim esmagas as paixões...
Sou éter, mas quem dera ser eterno.
Arremeter meu sonho/espera terno
Bem longe do que fora triste inverno
No alforje em que decoras meu inferno.
Guardo o medo, arremedo de uma sorte
Mais cedo do que sendo novo corte,
Segredo prosseguindo até a morte.
Não arredo, seguindo amor, seu norte.
Desgovernado em vagas madrugadas
Nas buscas, bruscas velas relevadas...
X
6372
A morte se aproxima lentamente
Do rico leito, de edredons forrado;
De nada vale o médico ao doente
Nem o remédio que ele tem tomado.
Trazendo, no colo, pequenina filha.
Jogada ao chão, imundo, na calçada,
A vagabunda, suja e maltrapilha,
Vive, por certo, ali, do quase nada.
A sorte se mostrando traiçoeira,
Vestida de nobreza em dura morte,
Vestida de outra morte, numa esteira
Se faz sem esperanças, vidas passam...
No canto da agonia, bem mais forte;
Extremos que se tocam, se entrelaçam...
Marcos Coutinho Loures
Marcos Loures
X
6373
Guardando o teu sorriso, minha irmã,
No vento que beijou-me mansamente
Com toda a claridade da manhã
Levada pela tarde totalmente...
A vida muitas vezes segue vã
Por mais que a gente lute, que se tente,
Por mais que seja a noite temporã,
Jamais a manhã chega novamente.
Amei demais, amores variados,
Com força e com loucura, hemorragias...
O fogo que queimou antigos prados
Deixou o teu sorriso na memória.
Agora a noite toma as cercanias
O amor bateu de novo... A velha história...
X
6374
Desejo aos meus amigos muito amor
E a paz tão redentora enquanto vida.
Antes do final, sempre um sonhador;
Quero felicidade dividida
Entre todos aqueles cuja dor
Por um momento cala uma saída,
Numa delicadeza, mansa flor,
Em perfumes e luzes revertida.
Que não se preocupem mais comigo,
Carrego minha cruz e não reclamo.
A vida, com certeza é um perigo
Inda mais se negamos dono ou amo.
E saibam, companheiros, fui feliz
Das chagas e feridas, cicatriz...
X
6375
Se já não me interessam teorias
Que falem deste amor ou algo mais,
Tornados derrubando fantasias
Inundam o meu porto, matam cais.
Se bem que nas manhãs que estão mais frias
Fazem falta estes sonhos matinais.
Mas além de todo amor que não querias,
Amor, broa e café. Vem logo e traz...
Depois tem tanta coisa por fazer,
Correndo sempre ganho o novo dia,
Adormecendo sempre o meu prazer.
Se Deus quiser, à noite estou aqui;
E qualquer coisa, finge que sabia
Do amor que foi demais e que perdi...
X
6376
Tantas vezes mergulho em teu retrato
Jogado em algum canto do passado,
Mostrando a sensação de tal destrato
De um tempo sem sentido, abandonado.
Percebo teu reflexo, mesa e prato
Dentro do coração tão mal guardado.
Talvez em tanto amor de fato
Um farto sentimento destroçado.
Encontro velhos charcos, rasos dágua.
Misturas de esperanças mal vestidas
Com cardumes gigantes, tanta mágoa...
Mal concebendo que inda estás aqui,
Nestas algas que estão apodrecidas,
O veneno do amor bebi de ti.
X
6377
No nada em que adormece bem vestida
Na leve transparência do vazio.
Percebo que essa mão tão distraída
Encontra este calor matando o frio.
Não fale que se mostra arrependida,
Galgando o pensamento em que me guio.
Menina esta delícia concebida
No gosto e neste gesto, me vicio.
Adormecendo enquanto mal disfarço
Num sonho tão perfeito, tal nudez.
No pouco de juízo então me esgarço
E deito em sua cama, o meu desejo.
Qualquer dia em total insensatez.
Delícia usufruída que prevejo...
X
6378
Eu falo da pureza deste amor
Que traz uma inerente resistência
Contra qualquer noção de desamor
Que toque e que maltrate uma existência.
Amor que se faz riso em seu louvor
E mata o sacrifício e a penitência.
Amor que é plenitude e sonhador
Vivendo e renascendo da clemência.
Eu falo deste amor que é carpinteiro
E molda nossa vida em alegria.
Entorna em nosso céu rico tinteiro
Em cores maviosas, mil matizes...
Amor que nos foi dado em maestria
E quer que todos sejam mais felizes...
X
6379
Bailando nossa sorte em aguardentes
Em poços defumados da incerteza.
Rasgando minha sina perco os dentes,
E sinto que perdi minha leveza.
Mas vejo outros caminhos decadentes
Por onde trilharei tua beleza
Amada sensação de penitentes
Em busca da verdade e da pureza
Negada por quem tem o cadeado
Guardando neste cofre uma esperança.
Tomando para si destino e fado,
Na velha apologia do pecado.
Distante deste AMOR, o velho avança
E matando a alegria, nega a dança.
X
6380
Não me fazes favor algum se me amas...
E nem tampouco faço se te adoro...
Amor nasce por si em fortes chamas,
Neste sonho divino me decoro,
Vibrando de prazer em nossas camas,
Não peço nem te rogo, nem imploro,
Apenas me enredei em nossas tramas
No teu corpo, querida, eu me decoro...
E sinto que este amor é benfazejo
Trazendo tanta sorte para nós.
Além de todo amor que te desejo
Pressinto que contigo, estou feliz.
Se temos um passado mais atroz,
Esqueça para sempre a cicatriz...
X
6381
A noite está tão fria... A chuva cai...
Saudade toma conta e não me deixa.
A vida num segundo já se esvai,
Não resta nem sequer a simples queixa.
Não consigo entender por que partiste
Deixando este vazio dentro em mim...
Meu coração tão frio, está mais triste,
Por que terá, Meu Deus, de ser assim?
A chuva continua bem mais forte,
Trazendo tal angústia, que é infinda.
O frio me tomando lembra a morte.
E a dúvida terrível não deslinda.
Daria tudo, amor, para saber,
Onde e com quem desfrutas teu prazer...
HOMENAGEM A TITO MADI
X
6382
Da dor que me elegeu como parceiro
Num casamento quase que perfeito,
Em flores dediquei meu verdadeiro
Canto que se mostrara satisfeito.
Meus versos que se encantam com a dor,
Também vão procurando uma saudade.
Se falo deste caso com amor,
A dor vem me nublando a claridade.
Mas sei que no final ela me vence
Convence e me deixando a solidão
Que é tudo neste mundo que pertence
Ao pobre e distraído coração.
O que fazes aqui, minha querida?
Mudar todo o destino em minha vida?
X
6383
Amar e não saber se sou amado
Amando e prosseguindo quase a esmo.
O tempo que domina, meu passado,
Carinho que me negam, sempre o mesmo...
Vencido pela horrenda solidão,
Espero nos teus braços, ser feliz.
Quem dera se tivesse novo chão,
Andando por estradas que já quis...
A noite sem teu beijo desgoverna
Errante como um náufrago sem porto,
A vida nesse amor é sempre eterna
Viver sem teu amor, ser quase morto...
Por isso minha amada, alma te implora,
A volta de quem amo, redentora...
X
6384
Milagre em primavera nosso caso,
Depois de tantas noites sem ter flores.
Quando já pensava em meu ocaso,
Surgindo, nos teus braços, os amores...
Nas flores estampadas na camisa,
A mansa solução, felicidade.
O vento devagar, a mansa brisa;
Trazendo a maciez, fragilidade...
Depois que se pensara nada mais...
Depois da prometida mansidão,
Descubro quanto amar eu sou capaz,
Nas ondas desta temporã paixão...
Que invade e que derruba, nada resta...
Amor que nos carrega; imensa festa!
X
6385
A dor da solidão maltrata tanto
Que às vezes, dá vontade de morrer.
Não posso e nem resisto, tanto pranto
Cansado de, na vida, só sofrer.
Amiga necessito teu encanto,
Em cantos que me trazes meu prazer.
O manso do teu canto faz viver
E cobre meu amor com claro manto.
Imanando meu sorriso, minha amiga,
A vida sem ter medo, já periga.
E novo sentimento me persegue.
Amor que tanto tempo não sabia
Vivendo e se escondendo a cada dia.
Procura um coração que o carregue!
X
6386
Sentindo este prazer intenso e raro
Que me proporcionas todo o gozo,
Persigo-te querida pelo faro
Entranho no teu mar voluptuoso.
Nossos corpos unidos, se misturam
Perdemos os limites sem pudores;
Deliciosamente se procuram
As bocas por caminhos redentores.
Vibrando dentro em ti, as sensações
E os olhos se reviram, buscam céu.
Provocam-se loucuras, convulsões;
Tua nudez; me entregas, sorvo o mel,
E bebo desta fonte, me vicio,
Em cada gota tua, delicio...
X
6387
Inspirando nas musas, o meu canto,
Transmite tão somente o meu alento.
As lágrimas que caem, sentimento,
Expressam toda a dor deste meu pranto.
Mulher que sempre prezo e amo tanto
Não quero te cantar em sofrimento.
Amor é com certeza, o instrumento,
Que impede desses versos, meu espanto.
Mas, se não me quiseres algum dia,
Te juro que não posso suportar.
A noite que virá escura e fria,
Em pálidos tormentos, sem luar
Calando, pois, das musas, melodia,
Impedem teu amor de me salvar!
X
6388
Amor que nos transborda em seus furores
Não deixa mais as sombras reviverem
Percebe que na vida, tais horrores,
Se esquecem onde amores estiverem.
Eu quero o louco brado deste amor,
De tanto amor jamais fico cansado.
Nas fontes deste amor, tal esplendor,
Deixando um velho peito apaixonado...
Portanto, não se esqueça de que nada
Na vida se produz sem ter carinho.
Não fuja desse amor, minha adorada.
Eu quero acompanhar o teu caminho.
Vivendo neste amor, com emoção.
Aprenda a libertar teu coração!
X
6389
Falando desse amor de todo dia
Novelas, vizinhança e futebol,
Mil dores disfarçadas da alegria
Cotidianamente o mesmo sol.
Cansado de matar a poesia,
Amor vai se fingindo girassol.
Na boca que beijou não beijaria
A noite mais escura sem farol.
Crianças desfilando pela casa,
Deitando no sofá domingo afora.
Chamusca bem mais fraca a forte brasa.
Segunda recomeça a ladainha
Felicidade chove, mas lá fora,
Aqui a noite segue tão sozinha...
6390
Falando desse amor de todo dia
Novelas, vizinhança e futebol,
Mil dores disfarçadas da alegria
Cotidianamente o mesmo sol.
Cansado de matar a poesia,
Amor vai se fingindo girassol.
Na boca que beijou não beijaria
A noite mais escura sem farol.
Crianças desfilando pela casa,
Deitando no sofá domingo afora.
Chamusca bem mais fraca a forte brasa.
Segunda recomeça a ladainha
Felicidade chove, mas lá fora,
Aqui a noite segue tão sozinha...
X
6391
Eu estou tão cansado, meu amor.
Mas não pra deixar de te querer,
Vivendo a letargia em tal torpor
Apenas não esqueço de saber
De todo sentimento, sem favor.
Nas curvas do desejo e do prazer,
Pegando o meu navio, este vapor
Que leva o mundo inteiro. Bem querer...
Mas eu ando distante, velho barco...
Sem rumo, sem cais, porto ou mar final,
Comandante perdido, amor tão parco,
Vou solto pelas ruas, cão sem dono.
Vivendo como um bicho em abandono,
Rolando pelas pedras, afinal...
X
6392
Coração vagabundo sem juízo,
Esperando este amor que nunca vem.
Aguarda um teu sinal, simples sorriso,
Para ser contemplado, ser teu bem...
Coração que na vida, em prejuízo
Jamais teve a alegria, ser de alguém,
Aos poucos vai morrendo sem ter siso,
Nos olhos tão distantes, sem ninguém...
Meu coração, criança maltrapilha
Que vive na esperança, ser feliz.
Perdendo totalmente rumo e trilha,
Não sabe mais viver sozinho, o mundo,
Eterna sensação: ser aprendiz...
Que faço coração tão vagabundo?
X
6393
Na plataforma livre deste amor,
Em versos sem limites, fera solta.
Buscando novamente do torpor
Gritar o meu desejo, sem revolta.
Precedo o que não fora tentador
E morro deste amor sem ter escolta,
Sabendo que vagando o que se for,
O tempo que passou não terá volta.
Momentos que não são somente drama
Emoldurando amor em nossa cama,
Vou caminhando em busca desta lua
Vou caminhando em brusca via; rua.
E tudo vai pousando por aqui
No bico da esperança que perdi.
X
6394
A orquestra nos chamou. Meu coração
Batendo alucinado e tão feliz.
Dançando este bolero, uma emoção;
Além de todo o bem que sempre quis.
À luz de um cabaré, a noite é nossa.
A lua tropical nos ilumina,
Amar pra sempre além do que se possa,
No fogo da paixão que já domina...
Bandaleon tocando a noite plena,
Eu não me canso nunca de pedir
Que a sorte tão ditosa nos acena
Então te peço, beija-me querida,
Que o mundo simplesmente irá sorrir
Assim, pra sempre em toda a nossa vida...
EM HOMENAGEM A FLAVIO VENTURINI
X
6395
Quisera te deixar querido filho,
Um mundo bem melhor de se viver.
Aonde uma esperança fosse o trilho
Que nos levasse sempre ao bom prazer.
Mas perdoe esta falta de futuro
Que é herança que te deixo, meu amado.
A falta de sorriso, o gesto duro,
O mundo por completo destroçado.
As matas destruídas, o calor
Que mata em tempestades ou de sede.
O reino que é formado em desamor.
Alegria? Um quadro na parede...
Mas peço se algum dia, isto mudar,
Não se esqueça jamais de me culpar.
X
6396
Menina bela flor dos meus enganos...
Tu sabes quanto eu quero o teu carinho.
Vivendo neste mundo sem ter planos,
Sonhara a vida inteira ser sozinho.
Chegaste, te chamei, vieste rindo,
Agora o que farei menina flor?
Sorriso tão feliz, contente e lindo
Tomando o coração em pleno amor...
Levar-te para a casa? Ser só teu...
Nos teus olhos fechados, ilusões...
Quem teve nesta vida amor ateu
Marcado pelas dores das paixões...
Se me entregar assim, prá sempre morro,
Se te deixar partir, cadê socorro?
X
6397
A rua escura e fria, sem ninguém...
Vontade de chorar o tempo inteiro.
Chamando por teu nome, nada vem.
Somente o vento frio é companheiro.
Sozinho, tão distante do meu bem.
Amor que foi-se embora, traiçoeiro.
Quem dera se eu tivesse amor de alguém,
O sonho então seria verdadeiro.
Mas essa dor cruel, essa agonia
Matando o que restou de uma ternura,
Mascara de tristeza a fantasia
Da vida que sonhara tão amiga,
Agora, morre envolta na amargura,
Ternura que acabou, demais antiga...
Homenagem à DOLORES DURAN
X
6398
Começaria tudo novamente
Se fosse necessário, meu amor.
A vida vai rodando em minha mente,
No canto, riso e dança, sedutor.
Em minhas mãos, teu corpo tão febril,
A cuba libre; o sonho que nos resta,
Teu corpo delicado e mais gentil,
A música tocada pela orquestra...
Uma certeza imensa de um futuro
Melhor a cada dia, eternidade.
Olhar pra trás e ver amor tão puro
O coração vibrando sem parar
Mostrando com firmeza esta vontade,
De sempre, meu amor, recomeçar...
HOMENAGEM AO GRANDE GONZAGUINHA
X
6399
Eu bem sei quanto vales, meu amor...
Uma noitada, um bar, cetins e rendas,
Das noites tão baratas, sem valor...
Dormindo em vários quartos, ruas, tendas
Porém, vaidoso, penso sedutor,
Te trago novamente tantas prendas,
E tenho o teu prazer...Um sonhador
Que em risos e mentiras já desvendas...
Meias verdades, camas e desejos.
O sol quando renasce já te expõe
E a dura solidão me recompõe.
Marcada a minha boca pelos beijos,
Mergulho no vazio desta vida,
Mas amo-te demais assim, querida....
X
6400
Ah! Tire o teu sorriso do caminho
Que eu quero desfilar a minha dor,
Se nesta vida, amada eu sou espinho,
Jamais vou maltratar a bela flor...
Agora se meu canto é tão sozinho
Distante de teus olhos, meu amor,
Percebo como a vida sem carinho
Maltrata um coração que é sonhador.
Nos espelhos meus olhos rasos d’água
Refletem toda a dor e a triste mágoa
Da vida, que sem força continua...
Não quero ser espinho em tua vida,
Mesmo que a sorte/flor se vá perdida.
O sol não viverá perto da lua...
HOMENAGEM AO GRANDE NELSON CAVAQUINHO
EM UMA DAS MAIS BELAS PÁGINAS DA MÚSICA E DA
POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA.
X
6401
Quantas vezes pensando no que fomos
Esquecemos o que inda irá chegar...
A vida apresentando tantos tomos
Por vezes nos ajuda a despertar...
Pois quando a minha vida foi roubada
Pelo bem que tanto quis mas não me quer.
Depois de mergulhar encontrei nada
Nem os olhos nem sombras da mulher
Que foi meu sofrimento e minha sina...
Que trouxe tanta luz e me cegou.
A mão que acaricia e me domina,
Perdido aqui, no canto, me deixou...
De nada do que tive, me arrependo...
De meus amores, todos, vou vivendo...
X
6402
Se nem as rosas sabem passarinhos,
Perdidos pelos ares, sem sossego,
Não posso me conter em velhos ninhos,
Dos quais não tive nunca nem apego.
Na busca por carinhos, vôo cego,
Meus dias se mostraram mais sozinhos.
No fundo, tanto amor que enfim eu nego,
Bebendo mais vinagres do que vinhos...
Restando tão somente uma amizade
Daquela que se foi por outros mares.
Resquício do que fora claridade,
Mas mesmo assim intacta sensação
Maior, eu reconheço, que os amares,
Mais forte que a loucura da paixão...
X
6403
Variando meu lema, busco a paz.
Não a paz simplesmente tão cordata,
Aquela que recende numa mata,
Aquela que só brisa mansa traz...
Essa paz que procuro, é bem capaz,
De morrer pesadelo em serenata;
Traz consigo essa fúria de cascata,
É meio Deus arcanjo e Satanás...
Minha paz construída em tuas ancas,
No requebro voraz, vem das carrancas,
Protetoras do Velho São Francisco.
Tem o temperamento mais arisco,
Não temendo sequer o próprio risco,
Traz o vermelho audaz, nas pombas brancas...
X
6404
Tua beleza rara e transbordante
Eflúvio da esperança em formosura;
Vibrando neste amor tão radiante
Envolto num sorriso da ternura.
Da deusa radiosa, estou diante
Num sonho tão feliz de tal brandura
Que faz do meu viver, amor constante
Coberto em alegria, beijo e cura.
Tanta luz que irradias; lua rara
Em plenilúnio eterno, sedutor.
Adoça com desejos; vida amara.
Refaz o meu caminho, sina e sorte.
Ouvindo tua voz, tanto esplendor;
Meu coração dispara e bate forte...
X
6405
O fogo que em teu corpo, amada, ardia
Chamando para as loas ao desejo.
Destino deste amor que se cumpria
Com toda claridade de sobejo.
É mais do que viver em fantasia
É lume de esperança que prevejo.
Da dor de uma saudade feita em neve,
Verão que no teu corpo já me inunda.
A mão que acaricia, mansa e leve,
Traz emoção sincera e tão profunda,
Que a lua deste amor não seja breve
No fogo e na paixão que se oriunda
Do coração sofrido de um poeta
Que em teus carinhos vive e se completa...
X
6406
Cativo da saudade, o quê que faço
Se esta mulher não quer mais meu carinho;
Procuro sempre em vão, estendo o braço,
Depois é que percebo: estou sozinho!
Amor que nos levita, ganha espaço
Morrendo me levando ao descaminho...
Estrela que do mar, num rubro laço,
Deixou solitário passarinho...
Agora, na gaiola da saudade,
Olhando para a vida, sem sentido...
Amar demais será que é crueldade?
Pressinto o teu perfume, mas cadê?
Vazio, sem amor, vou desvalido;
Pergunto: minha amada, mas por quê?
X
6407
Não me fale jamais do que não fomos,
Cicatrizes ambulantes, vasos rotos...
Pedaços de esperanças, ledos gomos.
Vencidos pelo tempo, dois abortos.
Apenas eu te peço mais um dia.
Outro dia, qualquer dia, que se sente;
Pois talvez somente isso bastaria,
A chance que eu queria, de repente...
Mas veja que esta estrela inda é teimosa
E banha em tantas luzes nossas cores.
Brilhando certamente em nova rosa,
Servindo de consolo aos bons atores
Que penam pelas ruas, botequim,
Salvando o nosso amor, princípio e fim...
X
6408
Um simples trovador e nada mais
Cantando o meu amor inalcançável.
Sabendo que não vens; amor, jamais.
Meu sofrimento assim, interminável.
Destinado a viver em plena dor
Eu canto o sofrimento que não pára.
Quem me dera um momento encantador
Adoçando esta vida tão amara;
A dona dos meus olhos nem me vê,
O sonho se repete e tão sozinho,
Procuro toda noite por você,
Na busca de seu colo e seu carinho...
Apenas trovador, minha viola,
Distante dos seus braços, me consola...
X
6409
Nas horas em que vejo tua imagem
Refletida nas águas cristalinas
Percebo ser somente uma miragem,
Mesmo distante sempre me alucinas...
Depois de ter na vida, uma ancoragem
No cais feito de braços; nas colinas
Das ilusões amores forram minas
E matam emoções, vazios pajens...
Nas retinas cansadas teu reflexo
Repete a mesma cena do passado.
Do amor que se perdeu sem ter nem nexo,
Da boca escancarada do senão
Do espelho que se fez de mais rogado,
Nos cálices tão loucos da paixão....
X
6410
O VALOR DA AMIZADE
Não deixe que esta dor reste perene,
O tempo quando é feito conselheiro
Impede que o passado te envenene
Louvando um sentimento verdadeiro,
Matando uma ilusão que já se encene.
Do exuberante amor se feito inteiro,
Felicidade mostra um raro gene
Além do dia a dia, corriqueiro...
Mas quando amor é feito falsidade,
Do nada que sobrou, nem mesmo prece.
Não fie neste equívoco. A verdade
Somente a um preceito, ela obedece.
Apenas no tear do amor se tece
O valor mais supremo, o da amizade...
X
6411
A FORÇA DA AMIZADE
Buscando uma guarida no teu peito,
Amiga, minha eterna companheira,
Tomado pelo grito insatisfeito
Da dor que se mostrou bem mais inteira.
Persigo, neste mundo o meu direito
De ter felicidade verdadeira...
Quem fora plenitude de ternura
Agora sem ninguém vai tão sozinho.
A vida se pintando em amargura,
Maltrata me deixando sem carinho.
A noite sem estrelas morre escura,
Um pássaro se perde sem seu ninho...
Por isso te procuro e na verdade,
Eu creio em toda a força da amizade...
X
6412
UMA AMIZADE
A flor mais bela e rara que encontrei
Em meio a tantas ervas mais daninhas,
Mostrando todo o sonho que plantei
Nas ilusões mais caras, todas minhas.
Ao vento do carinho me entreguei
Numa esperança toda de andorinhas...
Na cândida certeza de vitória
Meus passos tropeçaram, egoísmos.
Invés de mil sorrisos, os de glória,
Senti destes amores, cataclismos.
Mas antes que esta vida se maldiga,
Refeito destas dores; a verdade,
Te digo, minha amada, minha amiga,
Eu tenho esta esperança, uma amizade...
X
6413
Despido dos desejos mais ferozes,
De amores e paixões desenfreadas
Matando estes cruéis, duros algozes;
Das sortes sem paz, desencontradas.
Meus sonhos se libertam, vão velozes
Na busca por auroras, alvoradas,
Sem medo dos tormentos mais atrozes
Das dores que se morrem, tão cansadas...
O viço adolescente que refaço
No verso e na esperança de verdade
Por onde meu caminho, amiga, eu traço,
É feito deste brilho que não cessa,
Além de toda a força da promessa,
Todo o poder imenso da amizade...
X
6414
Jangada solta ao mar em pescaria
Uma esperança alerta aqui na areia
Do dia que virá festa, alegria,
Na boca pescadora da sereia
O canto não se cala, de magia,
A pele bronzeada se incendeia
Irrompe todo o bem da fantasia
E a lua na varanda brilha cheia...
Se nas brancas velas de teu braço
Plantei milhões de estrelas coloridas.
Eu quero desfrutar de cada abraço,
Beber de tua boca, uma saliva.
Na pesca, mil espécies tão sortidas...
Mas guardas, entre as pernas, água viva...
X
6415
Ao ver um beija flor, nesta manhã,
Lembrei de tua boca junto à minha.
Delícias que vivi em doce afã
Nas asas dessa simples avezinha.
O grande amor, pensei que a gente tinha,
Mas nada disso teve um amanhã.
Morrendo qual a flor que, tão sozinha,
Perfuma simplesmente em vida vã.
Na boca deste pobre passarinho,
O beijo que tentei e não me deste.
Morrendo em tanta sede de carinho;
Relembro nosso amor que já perdi.
A solidão em penas que me veste
Nas penas do destino/colibri...
X
6415
Teu corpo tão gostoso, juvenil;
Nos seios volumosos, teu encanto.
Sorriso que convida , tão sutil;
Tu sabes; te desejo tanto, tanto...
Teus olhos maravilha em raro anil
Deitada sobre mim, um belo manto,
De tez tão delicada e mais gentil,
Tu sabes que te quero, e o tanto quanto.
No vício delicioso de te ter,
Lascivo, embriagado em tal loucura,
Nos rastros cristalinos do prazer
Sentir o teu perfume sobre mim.
A tentação gostosa configura
O mundo que sonhei, tão bom assim..
X
6416
A noite na penumbra vem chegando
Trazendo meus fantasmas, ilusões...
Pergunto pras estrelas até quando
Somente irei viver recordações...
O negro desta noite me tomando
Refaz voracidade das paixões;
Os medos se aproximam vêm em bandos
Marcando os meus olhares, emoções..
De toda a sensação que trago aqui,
Apenas meu cigarro foi constante.
Sentindo amargamente que perdi;
A noite é companheira mais dileta.
E bebo esta penumbra neste instante
Minha alma em teu fantasma se completa..
X
6417
Quem tanto já cantara não encanta
Nem canta mais falando deste canto
Que sempre toca e quase sempre espanta,
Ficando tão sozinho no meu canto...
Vieste sem pedir sequer licença
Tomando tanto espaço que nem sonhas...
Amar demais passou a ser doença,
Daquelas cujas dores são medonhas...
De quem me queixarei se tudo mente,
Em quem colocarei as esperanças...
Tragando minha sorte totalmente
Não restam nem as sombras das lembranças...
Cativo já procuro liberdade,
Buscando um novo amor pela cidade...
X
6418
Olhar esta cidade da janela
Deste quarto de hotel, vejo as estrelas.
Nas luzes variadas se revela
As cores que preciso sempre vê-las.
Vagando pelos bares, ruas praças,
Meus olhos se encantando em tantos brilhos.
Em meio a confusões, carros, fumaças,
Procuro pelo amor, em tramas, trilhos...
Do Rio de Janeiro solto o grito
Através da vidraça deste quarto,
Na busca pelo rastro do infinito,
Do sonho transtornado, vivo e farto.
No fundo do meu peito o podre fruto
Do tempo que passou, em verso e luto.
Homenagem a Jards Macalé
X
6419
Vagando pelo espaço te procuro,
Em meio às solidões, mando meu grito.
O tempo que passamos, tão escuro,
Contrasta com amor mais infinito...
Um peito sofredor, demais agreste,
Sentindo tantos medos, sem porvir;
Invoca toda a força dum cipreste
E tenta bravamente, resistir.
Porém amor não sabe de colossos,
Desconhece essa luta e não se cansa;
De tudo que eu passei, um mero esboço,
No fim desta batalha já me alcança.
Amor sempre será o vencedor,
Os louros ao vencido: o esplendor!
6420
Uma Amizade trama novo engenho
Que possa permitir a caminhada,
Às vezes, distraído, amiga eu venho,
Na busca solitária pelo nada.
O tempo tão distante fecha o cenho
E mostra a fina dor revigorada...
Falar deste teu braço, companheira
Que ampara em qualquer queda pela vida.
Depois de tanta luta costumeira,
Quem sabe nossa sorte remoída
Nos mostre que amizade verdadeira,
Das duras penedias, a saída...
Dos cálices perfeitos de cristal,
Uma amizade é dom fenomenal...
X
6421
Ditoso sentimento que de outrora
Dissera minha sorte em teu tormento.
Ninando meu amor, mandando embora
Carinho que se foi do pensamento.
Aquela que gritara redentora
Morrendo bem distante, em frágil vento,
Não posso mais gritar que a vida chora
Causando nos teus olhos, sofrimento.
Do lodo onde surgiste, perla falsa,
Armando minha sina em tais frangalhos.
Amada minha, perdendo nau e balsa,
Apenas esperança suja e frágil.
Quebrando minha sorte em podres galhos.
Meu coração se mostra bem mais ágil...
X
6422
Teu cheiro que me embala e que me excita
Alucinadamente me domina,
Desejo que na noite descortina
Debaixo do vestido. És tão bonita...
Amando boca a boca, tais palavras
No beijo que trocamos, nossos portos,
A mão qual camponesa, traça as lavras,
Acertos de destinos, antes tortos.
Teu corpo num silêncio, em fino véu,
As roupas atiradas sobre a cama,
Adentra teus caminhos o corcel,
Acende em meu delírio, nossa chama..
A voz tão rouca, doce, frouxa e mansa,
A nossa lua, pleno mel, se alcança!
X
6423
Sentir esta emoção de estar contigo
Querida companheira, abrigo certo.
Permita que eu prossiga teu amigo,
Oásis que encontrei neste deserto.
Da sorte que tentei e não consigo,
Apenas em carinho me desperto
Se estou neste caminho que persigo,
Contigo minha amiga, aqui por perto.
O mundo tantas vezes me diz não.
Mas mesmo assim eu sei que vencerei,
Tu és do sofrimento, a redenção.
Tu és a minha glória e minha sorte.
Nesta amizade imensa, nossa lei,
Por certo estar contigo,é ser mais forte...
X
6424
Quem tanto já cantara não encanta
Nem canta mais falando deste canto
Que sempre toca e quase sempre espanta,
Ficando tão sozinho no meu canto...
Vieste sem pedir sequer licença
Tomando tanto espaço que nem sonhas...
Amar demais passou a ser doença,
Daquelas cujas dores são medonhas...
De quem me queixarei se tudo mente,
Em quem colocarei as esperanças...
Tragando minha sorte totalmente
Não restam nem as sombras das lembranças...
Cativo já procuro liberdade,
Buscando um novo amor pela cidade..
X
6425
Amigo, reconheço meus defeitos,
São vários e jamais irei negá-los.
Por mais que nós tentamos ser perfeitos,
Sabemos onde apertam nossos calos.
Quem traz todos os sonhos satisfeitos
E sabe do poder de decifrá-los
Conquista seus amores todos feitos
Com jeito, preparou-se pra encontrá-los.
Mas sabe que ninguém é tão correto
Que possa, todo mundo criticar.
Perdão nunca é demais, e mostra afeto.
Eu não procuro amigos sem pecados
Isso eu bem sei jamais irei achar,
E os erros dos amigos? Perdoados....
X
6426
Desculpe meu amor, mas acontece...
Depois de tanto tempo eu percebi
Que a vida em nosso amor já se esvaece
E longe, bem distante, estou de ti...
Não adiantam rogos, sonho e prece
O amor que sempre tive, enfim perdi.
Somente este vazio agora cresce
Tomando o coração. Eu te esqueci...
Se pudesse mentir e te enganar
Mas não creio ser justo. Estou tão frio.
É duro te dizer: não sei amar...
Por isso meu amor, eu vou-me embora
Levando este meu peito tão vazio,
Bem sei que em tanta dor o amor já chora...
X
6427
Todo começo, amor; inesquecível...
Porém, como dizer do nosso amor,
Que... desculpe, por mais que seja incrível,
Esqueci como tudo começou...
Um dia, tua mãe tinha saído;
Me falaste de um tombo em Paquetá,
Mostrando este sinal bem escondido...
Vontade de lamber e de assoprar...
Os beijos percorrendo o céu da boca...
As mãos se decorando, o corpo inteiro...
A voz ficando assim, sempre mais rouca.
Um amante latino verdadeiro...
Mas hoje nosso amor, sem ter remédio,
Morrendo sem revólver, simples tédio...
Homenagem a João Bosco e Aldir Blanc
X
6428
Amigo não é rastro nem farol
É como um companheiro de viagem,
Não quero ser teu sol nem girassol
Não sou seu amo e nunca vou ser pajem.
Amigo nos ensina que o atol
Se perde em solidão. Distante margem
Impede que se veja o arrebol.
Mais fortes quando unidos, pensam, agem.
Por isso, companheira, já te peço,
Não deixe que se perca esta amizade.
Tanto te quero amiga, te confesso,
Mas não serei teu rastro nesta estrada
Permita que em nós dois, a claridade
Seja bem repartida e não roubada...
X
6429
Dos laços que nos atam, bem mais fortes;
Em gestos, em ternura e mesmo em paz,
Mudando num segundo nossos nortes
Além de nossas forças, mais capaz,
Trazendo para os sonhos, boas sortes,
Mostrando o quanto sinto ser capaz,
No gesto mais sereno, teu apoio,
Me dando uma certeza de vitória.
Separa a podridão do triste joio,
Ampara na derrota, sorri na glória.
Ajuda meu caminho, em força plena,
Abrindo meu futuro em claridade.
Tua palavra amiga não condena,
Somente me demonstra uma amizade...
X
6430
Falar que desta dor eu não me vingo,
Embora te disseste que não vinha,
Preparo meu sorriso de domingo
E mato esta tortura toda minha.
Se a noite que não veio se reclama,
Se o dia que sonhei não chegará.
Não vou ficar calado, de pijama,
Esperando o que vem, lado de lá.
Falar que neste mar eu não navego,
Falar que deste gosto nem sei mais,
Se a rosa que plantei eu não carrego
O resto que me trouxe foi jamais.
Mas sobra o teu sorriso, caro amigo,
No mundo que colhera joio e trigo.
X
6431
No mundo giramundo vagabundo
Coração que batendo sem juízo
Não deixa de bater um só segundo
Fugindo do que chamam paraíso.
Se entorno meu desejo e nele inundo
O sonho que mais quero e sei, preciso,
O resto vai rodando até profundo
Paraíso onde sempre perco o siso.
Na construção dos corpos belo monte,
Nas garras, nas agarras, precipício.
Eu bebo teu prazer em rara fonte
Depois contrariando o Santo Ofício
Eu faço de teu rio em rica foz
O pecado que salva, a todos nós...
X
6432
A tua estupidez vai destruindo,
Aquilo que se fora um grande amor.
Aos poucos meu castelo vai ruindo
Em sonhos tão distintos sem pudor.
Do tempo que passamos mais distantes
O nada sem motivos, desamor,
Tomando nosso mundo por instantes
Secando toda a fonte de calor.
Intrigas nos fizeram belicosos,
Espinhos espalharam entre nós.
Nos jogos mais difíceis perigosos
Amor não resistiu, insensatez.
Agora caminhamos, ambos sós,
Presente desta tua estupidez...
X
6433
Noite azul, cabeleira exposta ao vento,
Rodando o velho trem pela cidade.
Nos bares as mulheres, pensamento,
O fogo tão intenso, mocidade.
Nas camas dos motéis novo rebento
Batendo na janela, ansiedade.
Cantando nos botecos o talento
De quem não teve sonho ou qualidade.
Nas mesas e cadeiras, se deseja
O riso de quem foi e não será.
Na boca o doce bafo de cerveja
Os olhos do passado no futuro,
Amor que um dia sempre chegará.
O nada que mais quero e assim procuro.
X
6434
Esses ventos tão mansos que te tocam
Bem sei que te amornam calmamente.
Amores tão suaves te retocam
E formam um macio em tua mente...
Querida tão serena quanto a lua,
Depois de toda a noite morna e lenta
Ao ver tua beleza toda nua,
O coração se atiça e não agüenta
Rebentas nesse toque, quando atiço,
Fulguras nessa cama com ardor,
Esquece de qualquer um compromisso
E ferves como brasa em tal calor...
És fêmea que me morde e ganha o jogo
Da chama que incendeio no teu fogo...
X]
6345
Entre nós, diferenças benfazejas.
Sem medo nem sequer uma disputa.
Quem ama não pretende alguma luta.
O que quero, nem sempre tu desejas.
Se somos diferentes não almejas
O sonho que trazemos se desfruta
Sem medo de morder a mesma fruta.
Se queres não procuro essas cerejas.
A vida se reparte e se completa.
Num ato meritório de um poeta,
Amor e compaixão, a forte liga
Que trazem antagônica certeza
De termos descoberto que a beleza
É ter na diferença sua amiga!
X
6346
Vento solar e estrelas lá do mar
Toando nossa vida em cores tantas
Trilhando estas estradas sem chegar
Aos girassóis perdidos, velhas plantas.
Amor em festa e luto vai chegar
Cobrindo a nossa sorte em velhas mantas;
Levando uma esperança a se entregar
Na dança que me negas, onde espantas...
O tempo nunca pára e não espera.
Deixando um gosto azedo e nada mais.
Estrela que morreu sem primavera.
O girassol perdeu a sua cor,
Rainha, esta viagem foi jamais,
Morrendo o que podia ser amor...
HOMENAGEM A LÔ BORGES
X
6347
Quando te chamava na noite sozinho
Se tanto sonhava, queria teu beijo;
Porém nunca vinhas; deixavas o ninho;
Noutras avezinhas, matavas desejo...
Amor tanto quero teu amor querido,
Eu já desespero, sem ter teu amor.
Do amor que te tenho; te falo, duvido;
É dele que venho, estou ao dispor...
Nas horas tristonhas amor me carinha
Nas horas risonhas, amor me maltrata.
Amor quero o canto, que a dor se avizinha,
Rolando esse pranto que rola em cascata.
Meu amor nem liga se sofro ou se rio...
Então dos amores, amores eu crio.
X
6348
Os jasmins esquecidos não floriram,
O tempo da colheita se acabou...
Os olhos solitários nunca viram
O gosto do teu beijo... O que restou?
Amada como foste imprecavida...
Nossos erros cometidos por ciúmes...
De tanto que pediste, nossa vida
Esvai nesses jasmins já sem perfumes...
Mais tarde em nosso inverno que é fatal,
Talvez de tanto frio, amor renasça,
Tramando nesta peça outro final,
Sem medo, sem temer que amor se faça.
E possa novamente, em meu jardim,
Amor resplandecendo todo em mim!
X
6349
Vida passa depressa minha amada,
E saiba que esse tempo não tem volta.
Mal vemos já raiou outra alvorada
Não adianta penas nem revolta.
Vivemos tantas coisas, nem sentimos...
Depois de tudo feito, nada importa
Por isso é que te peço, tanto vimos
Que não se necessita desta porta.
Abrindo o coração, viver em festa,
Por todos os momentos sem pensar.
O tempo de viver que já nos resta,
Que bom se reservássemos p’ra amar.
Não penses que na vida eu tenho pressa,
O que mais quero, amor, viver depressa...
X
6350
Tu falas deste amor em amizade,
De tudo o que já fomos, nada além...
O dia vai perdendo a claridade
Matando a doce noite de meu bem...
As nuvens transbordaram tempestade,
E nada mais, por certo, a vida tem
Senão o gosto amargo da saudade,
Do tempo que se foi, restou ninguém...
Mas peço que bendigas nosso lar,
Que fales como fôssemos amigos,
Que tudo o que se teve, sem pensar,
Perdemos num momento de loucura.
Meus braços inda são os teus abrigos,
Clareie, por favor, a noite escura...
X
6351
Na embriaguez voraz que nos assoma,
Delitos cometidos, mil pecados,
Luxúria que nos toca, já nos toma
Promessas são cumpridas, nossos Fados.
Dois corpos são um só em nossa soma,
Desenhos onde somos mais sugados
O mundo se fechando em tal redoma
Refaz outros caminhos desejados...
Num êxtase em mergulho, teu suor
Mistura-se em humores e salivas.
A vida nos parece bem melhor,
Na entrega tão urgente e tão carnal,
As horas se passando sempre vivas,
No amor que a gente faz, assim, total...
X
6352
Teu corpo tão suado em belo brilho,
Desnuda maravilha suculenta.
Percorro teus caminhos, lindo trilho,
Na noite que se chega calma e lenta.
Depois da cantinela em estribilho
De novo repetimos, mais atenta;
Sem nada que nos sirva de empecilho
Do frio que se sente a noite esquenta...
A tua pele assim, arrepiada,
Os olhos revirando, sem destino.
Na lúbrica presença extasiada,
Um gosto de magia e sedução.
Bendito nosso gozo em desatino,
Nos atos de loucura e de paixão...
X
6353
Tentando adivinhar o que me guardas
Quando ao cruzar as pernas, me sorris.
Nas bocas escondidas, bem guardadas
Esta impressão que sobra: ser feliz...
Tu és a tentação em carnes, osso,
Desejos te reclamam, mas não notas.
Meu peito se entrincheira em alvoroço,
Pulsando bem além das suas cotas.
Reclamo o teu carinho, essa vontade,
Em toda essa volúpia, insensatez.
Na porta se escondeu felicidade,
Pergunto sem resposta: é minha vez?
E desconversas logo, nada dizes...
As tuas pernas são somente atrizes?
X
6354
Desejo tão profano que nos move
Nas línguas que se buscam, destempero.
A vestimenta inútil se remove
Neste carinho enorme, com esmero.
Exploro cada ponto, sem perguntas,
A silhueta exposta, nua e bela.
As mãos que se percorrem, leves, juntas,
Toda a loucura em gozo se revela.
Degusto cada gole do teu ser,
Entranho teus mistérios e segredos.
Nesta cascata amada, teu prazer,
Delícias que me encharcam, boca e dedos...
Em cada gota encontro tal magia,
Inundação divina de alegria...
X
6355
O tempo não se perde e nunca é tarde
Para quem procurar felicidade.
Se a noite é dolorosa e tanto te arde
Os olhos tão chorosos de saudade,
E o sonho em desespero causa alarde,
Roubando da alegria, a claridade,
Não pense que este mundo tão covarde
Impede conhecer toda a verdade.
Nós somos meros rios em viagem
Na busca deste mar, eternidade...
Amor é fantasia, uma miragem
Que logo acabará, não tarda o dia.
Por isso é que persigo uma amizade,
Certeza de carinho, a garantia...
X
6356
A morte da esperança, em primavera
Se faz a cada instante, sem talvez.
Resíduo do que fora a minha espera
No tempo que se foi sem ter nem vez.
A sorte que não veio, a dura fera
Tomando o meu sentido em triste tez,
A dor que sem sorrisos, degenera
Um pouco a cada dia, a cada mês...
Mas nada me tocou, nem mesmo amor,
Sou resto do que nunca havia sido.
Agora, minha amada, ao teu dispor,
Bem sei que voltarás em meu inverno,
Depois de tanto tempo, nada, olvido...
Meu braço te recebe, sempre terno...
X
6357
Mudarás cada passo desta estrada
Em que dizes amor em profusão,
Depois de tanto tempo resta nada
Daquilo que se fora uma emoção.
Jamais te negarei, ó minha amada,
A doce namorada, meu coração.
Porém logo que chegue outra alvorada,
Por certo eu ouvirei, teu duro não.
Mas saiba que te quero mesmo assim,
Em cada novo dia, outra festança.
Morrendo o teu amor tão grande em mim,
Eu sei que sorrirás um outro dia
Verás dentro de ti, em gozo e dança,
Outro semblante pleno de alegria...
X
6358
Quando essa lua chega e se derrama
Cobrindo tal beleza inebriante
Na rubra sensação de intensa chama,
Começo esta viagem mais vibrante
Vestígios do que fora a velha trama
Que em guerras esculpiu um novo instante,
Meu corpo sem parar sempre reclama
A boca tão sedenta estonteante...
Eu quero conhecer teu território
Exposto sob o raio do luar.
Passado tão distante e merencório
Já morto não virá, isso eu garanto..
Pois vamos do momento desfrutar,
Senão a lua foge e quebra encanto..
X
6359
Não posso conceber outro momento
Sem ter esta vontade de seguir,
Embora este futuro qual tormento,
Não deixe um sentimento assim fluir...
Se nada do que dizes, cego vento,
Consegue normalmente construir,
Do pão que me negaste, sofrimento,
Nem mesmo um novo engano a prosseguir...
Uma amizade apenas, nada mais,
Um verso abandonado no caminho
Na voz que se conteve na garganta.
Voltar uma ilusão, isso é demais
Pra quem já se cortou em tanto espinho
E, mesmo sem ter paz, de novo canta...
X
6360
De onde pusera sonho barco e nau
Perdendo todo o rumo em desespero.
Fazendo de meu verso a pá de cal
Na qual nem me disfarço nem tempero.
Planando neste céu sou sol e sal,
Distante do que temo e não mais quero,
Meu sonho na alameda tropical
É quase uma paixão ou corte fero.
Não temo e nem pretendo essa piedade
Que é quase que um disfarce da alegria.
Se dane teu carinho, uma amizade.
Não quero mais saber de algum consolo.
Se tenho minha voz e a poesia,
Os pés em podre lama eu sempre atolo...
X
6361
Faz tempo que te quero e nem me notas
Meus dias sem te ver são tão vazios
Amor tão sem limite, sem ter cotas,
Trazendo para os sonhos tantos cios.
Mas nada do que faço já te atrai
Meu canto vai perdido sem resposta.
Eu te amo, mas a vida te distrai
E mal te vejo, nunca estás disposta
A ouvir os meus chamados desmedidos,
Às emoções que vivem quarentena
Quem dera se me desse, enfim, ouvidos
Viríamos viver intensamente,
Ao longe minha mão sempre te acena,
Talvez tu venhas logo, de repente...
X
6362
Um dia, percebendo esta menina
Deitada em minha cama, enlouqueci.
Na forma angelical que descortina
Um brilho sem igual, que nunca vi.
Tomando de surpresa minha sina
Estava tal princesa logo ali
Serena, delicada e tão franzina
Muito mais que sonhei e que pedi...
Depois, se levantou e foi embora
Qual fosse uma miragem, simples sonho.
Busquei o seu sorriso mundo afora
E nada de encontrar tal criatura,
Promessa de outro dia mais risonho...
Só nela, meu bom Deus, a minha cura...
X
6363
A pele sensual, fina penugem;
O rosto tão macio, o gozo o gesto.
Movendo mansamente já ressurgem
Os medos deflagrados; sou teu resto...
Os brilhos dos teus olhos já refulgem
Nos sonhos que aos desejos eu empresto
E o corte tão profundo traz ferrugem
Na boca a sensação de um louco incesto...
Mas temo solitário em minha cama,
Que o vento que te rouba faz segredos.
Acende e vulcaniza toda a chama
Dormito lentamente no teu braço.
Vencido pelos trágicos degredos,
Agarro-me ao teu corpo e nem disfarço...
X
6364
As flores de uma eterna primavera
Os frutos da amizade e do carinho.
Granando uma esperança; morta a fera
Libertam-se meus sonhos passarinhos...
Saber de cada corte. Quem me dera...
Não ser mais caminheiro tão sozinho.
O canto em liberdade, o que se espera;
Em toda a solidão há um caminho
Que traz esta sublime fantasia
De um dia, sermos todos como irmãos.
A terra cultivada em sintonia
Sem fome, sede; Justa, harmonizada,
Não deixe que estes sonhos sejam vãos,
A sorte em nossas mãos, está lançada...
X
6365
Tua presença sempre me fascina
E faz ferver desejos e loucuras.
Te quero a cada instante; uma menina
Clareia em força e luz, noites escuras...
Viajo no teu corpo, sede e sina,
Fazemos nossas santas diabruras;
A noite de prazer nunca termina,
Encontro na saliva, as minhas curas...
Deitados nessa noite sob a lua...
Tua presença em chama, fogo e brasa,
Tatuo meus segredos, pele nua
Total insensatez... Nos gritos roucos,
Desfruto de teu corpo, minha casa;
Amamos sem juízo, soltos... Loucos...
X
6366
Cortaram tuas asas, anjo amado?
Fecharam os teus olhos, sonhos, brilho...
Desmoronando o monte do passado
Rompeu esta barragem, fecha o trilho
Tomando numa enchente todo o prado
Matando este desejo, nosso filho..
Amada não permita que esta amarra
Limite cada passo em rumo à sorte.
Apare em mansidão a dura garra
Cravada em teu pescoço bem mais forte
No corte da navalha e cimitarra
Promessa de vingança, dor e morte....
As asas renascendo a recompor
Os vôos sem limites deste amor...
X
6367
Perdoe toda a farsa escancarada
Na face de quem mente sobre o amor.
A boca da verdade abandonada
Nos antros da vergonha neste andor.
Perdoe toda rosa estraçalhada
Nos dentes sem limites do pastor,
Mentira no Teu nome apregoada,
Nas taças folheadas de louvor...
Perdoe cada santo que emergindo
Dos pântanos obscuros das almas.
Da podre corrupção que se aspergindo
Em nome deste amor, que é tão perfeito,
Matando este cordeiro em novos traumas,
Se acham bem mais fortes no direito...
X
6368
Amiga, se pudesse por instantes,
Falar de tantos sonhos que tivemos,
De todos os momentos mais constantes
Que em busca da verdade, nós vivemos.
Falando sem temores nem rompantes
De tudo o que bem sei que enfim queremos,
Do mundo onde sejamos viajantes
Dos sonhos que mais forte, saberemos...
Mas, tolo, mal percebo tais disfarces
Usados por aqueles que nos guiam.
Um lobo que se esconde em calmas faces
Devora uma esperança sem perdão.
Coitados dos cordeiros que se fiam
Nas mãos de tal senhor, vil e ladrão...
X
6369
Me acumulaste sempre em tanto amor
Que trago este rosário de esperanças.
Sabendo de teu riso sedutor
Amiga me conduzo em tuas danças.
Nas águas destes rios, leves, mansas.
Certezas deste mar encantador.
Distante de guerrilhas, medos, lanças,
Na profusão intensa em bom calor.
Amiga, não me farto de teus dedos
Beatos, carinhosos e felizes.
Amores, amizades, teus segredos,
Na cura de tais males, cicatrizes.
Ilusões por certo mais presentes,
No amor em que vivemos, somos gentes...
X
6390
AMIGA...
Plantar o que colhemos pela vida
E receber o fruto da amizade.
Quem pensa que essa sorte vai perdida,
Encontra em seu caminho a claridade.
Não veja como porta de saída
A que nunca soubeste na verdade,
Não perceba somente a despedida,
A fonte inesgotável de saudade.
Um jardineiro sabe como é bom
Receber o perfume de uma flor,
Demonstra seu carinho como um dom.
Porém nunca se admite minha amiga,
Que a mão que não plantou tenha o valor
E roubar a colheita enfim, consiga.
X
6391
Nos descaminhos todos, sem ter hora
De chegar ou partir, sem compostura,
Vejo que talvez nunca foi embora
A dor que se fez trágica tortura.
Que me importa essa vida lá de fora
E se chora essa tétrica figura
Que há muito se mandou no mundo afora
Agora, que é bem tarde me procura.
Talvez inda proponha; minha amiga,
Falar do que passei e não passou,
Garante que inda gosta, mas nem liga.
Somente te garanto que a aflição
De ser o que não fui tampouco sou,
Maltrata o que restou de um coração.
X
6392
Amiga, companheira ,par constante
No dia a dia sempre tão dileta,
Mostrando uma alegria deslumbrante
Que faz a nossa vida ser completa.
Estar ao lado teu a cada instante
É sorte em que esta vida se repleta,
No olhar tão mais profundo, radiante,
Indica a direção sempre correta.
Amiga em cada verso, amanhecer
Desta certeza plena que se faz,
O rumo onde pretendo percorrer
Caminhos mais tranqüilos pela vida.
Na força da amizade, imensa paz,
Pra todas desventuras ,a saída...
X
6393
Há tempos te conheço, minha amiga,
E reconheço sempre teu carinho.
Nossa amizade feita em forte liga
Ajuda-nos nas curvas do caminho.
Permita Nosso Pai que assim prossiga,
E cada vez melhor, tal qual o vinho.
Que tudo que se queira se consiga
Que o mundo não me deixe mais sozinho.
Humilde e de joelhos, agradeço
A Deus por amizade tão sincera,
Em toda minha prece te ofereço
A gratidão enorme de te ter.
Nossa amizade, eterna primavera,
Uma brilho que me dá muito prazer...
X
6394
Vagando teus recônditos caminhos,
No amor que te proponho, vivo e rijo,
Vibrando em avidez, tantos carinhos,
Guardando o teu prazer, esconderijo...
Cabelos soltos, olhos caprichosos
Que miram para o nunca, revirados.
Teus lábios carmesins, tão desejosos,
Nas fontes das delícias, mergulhados...
E vamos noite adentro, nestes jogos,
Que fazem explosões a cada instante.
Ouvindo deslumbrantes, raros fogos
Nesta lubricidade genial,
Sem rumo, sem juízo, a delirante
Viagem por teu corpo, sensual...
X
6395
Aprisionados, loucos e desnudos,
Na embriaguez insana, pele em pele.
Momentos delicados, mais agudos,
Insaciado amor sempre compele.
E juntos caminhamos sem repulsa
Estradas extremadas pernas, seios...
Vontade sem limites, cedo pulsa
E nada nos detém, não temos freios...
Tomado por insânia em frenesi,
Requebros e meneios, teus quadris.
Recebo este calor que vem de ti,
Em teu gozo, querida, sou feliz...
Estamos lado a lado, a vida inteira,
Paixão que nos decora, verdadeira..
X
6396
. Sentir teu toque, um bálsamo divino.
Tomando o meu desejo em forte gozo.
Num gesto mais profano te eternizo
Sou refém deste sonho mavioso.
Em chuvas, turbilhões, neve e granizo,
Não quero nem saber qualquer repouso,
Apenas no teu corpo mais preciso,
O toque sensual e desejoso...
Uma tortura imensa mais perfeita,
Revira nossos olhos, num segundo.
A boca não sacia, insatisfeita
E quer de novo o beijo da princesa.
Vibrando nos meus braços, mar profundo,
Que invado com meus barcos, indefesa...
X
6397
Nossas noites, lençóis amarrotados,
Jogados sobre o chão do nosso quarto.
Desejos e carinhos delicados,
Amor que nos tomou. Eu não me aparto
De teus carinhos sempre apaixonados.
No gosto de teus lábios já reparto
Meus sonhos e malícias sem enfados.
Até que o dia surja, claro e farto...
Lençóis que derrubamos desta cama,
Mostrando esta volúpia, fome imensa...
Assim nos devoramos. Louca trama
Que traz efervescentes tempestades.
Secando toda a fonte, recompensa,
Sabemos traduzir saciedades...
X
6398
Enfeito meu desejo, tatuagem,
Em tua pele brônzea, perfumada.
Fazendo no teu corpo esta viagem
De dia, tarde ou noite ou madrugada...
Traçando em tua cútis a colagem
Tão delicadamente desenhada.
Guardando na retina cada imagem
Da perfeição divina, abençoada...
Chegaste tão ligeira em minha vida,
Mal tive tempo, amor, de perguntar,
Apenas me entreguei sem nem pensar.
A marca da pantera, dentes, garras,
Aos poucos se entranhando... Sem saída,
Nesta delícia, amor; tuas amarras...
X
6399
Adentro no teu quarto, em tua cama,
E roço tua nuca, em minha barba,
Provoco tua pele, nossa chama,
Tua defesa cede e assim desaba.
Subindo na parede, em viva rama,
A noite assim começa, assim acaba
No fogo que nos toma e cedo inflama,
No quarto, na tapera, lama ou taba,
Num alvoroço insano que não pára,
As mãos tocando os seios devagar,
O mapa do tesouro se escancara
E vamos num passeio ao infinito,
Sorvendo cada gota deste mar,
Na delícia deste encanto, nosso rito...
X
6400
Sim, apague meu nome do caderno
Dos amores que guardas qual diário...
Amor que se julgavas ser eterno
Morrendo sem carinhos, temerário...
A vida se transforma em pleno inferno,
Os dias se arrastando. O calendário
Mostrando para sempre um frio inverno
Amor que assim se foi, sempre contrário...
Amor que se esfumou sem primavera,
Negando todo o bem de uma alegria.
Amor que maltratou, velha quimera,
Do sonho que pensara, só fracasso.
Morrendo em triste areia sem magia,
Não deixa nem a marca de um abraço...
Baseado em Risque Ari Barroso
X
6401
Ao te encontrar bebendo por aí,
Rolando pelos bares , botequins,
Desculpe, meu amor, se assim sorri.
Meios não justificam-se nos fins.
Mas não pude conter minha alegria
Ao saber que quem sempre maltratou
Perambulando em dor, em agonia,
A vida, justiceira, se vingou...
O remorso te leva ao desespero...
Bem sei que este veneno que provei
Quando em traição eu te encontrei
Nos braços de um querido companheiro,
Feriste meu amor em dura lança.
Por isso essa alegria, uma vingança...
Baseado em VINGANÇA de Lupiscínio Rodrigues
X
6402
Nos momentos, querida, em que te amei,
Inesquecíveis dias de ilusão.
Minhas palavras, versos dediquei
Com toda a força viva da emoção...
Nos sonhos mais divinos mergulhei,
Mesmo nesta inconstância, coração.
Agora bem distante, amor eu sei,
Que tudo não passou de uma paixão...
Meu castelo foi feito de carinho
Na praia dos meus sonhos, fina areia...
O mar levou, agora estou sozinho
Bem longe desta praia, deste mar...
Saudade, o que me resta em lua cheia
Por isso, tão somente recordar...
Baseado em NOSSOS MOMENTOS
X
6403
É de manhã, o sol brilha no orvalho
Dançando em mil gotículas, cristal...
No quarto refletindo qual retalho
Decora o belo corpo magistral...
Ao ver este convite para a vida,
Levanto o meu olhar para te ver,
E sinto que encontrei a paz perdida
Nesta mulher vestida de prazer.
A chuva que caíra em meu passado,
Dando lugar ao sol maravilhoso,
No amor que pressenti ter encontrado,
Vontade de sair e passear,
Neste calor sereno e tão gostoso,
Certeza de poder de novo amar...
X
6404
O meu amor é tanto, mas sozinho...
Quem me dera poder dizer a ela
De toda esta vontade de carinho.
À noite a solidão já se revela
Em cada brilho frio de uma estrela
Esta tristeza imensa que não passa.
Meu barco se perdendo, nau sem vela
A vida sem sentido se esfumaça...
Quem dera ter coragem de dizer
Do amor que me domina e não se cansa.
Assim talvez pudesse renascer
Nos olhos de quem ama, uma esperança...
Quem sabe, meu amor... Ah Quem me dera...
Veria, finalmente, a primavera!
X
6405
As flores que mataste sem pudores,
Abandonadas, restos num jardim,
Não permitem perfumes e nem cores,
Mas nada representam mais em mim...
De todos os caminhos e louvores
Refeitos em desejos, sendo assim,
Singelos e perfeitos esplendores
Unidos noutro lábio carmesim...
Mas tudo o que ensinaste, de bom tom.
Amor não se permite sonhos mansos.
O mundo se transmuda e mostra o dom
Duma amizade plena em novo dia
Uma certeza imensa de remansos
Mostrando finalmente esta alegria...
X
6406
Fazendo novamente a tentativa
De ser bem mais feliz em triste vida.
Uma palavra mansa e mais altiva
Mostrando ser talvez nossa saída.
Que toda uma tristeza já nos priva
Da sorte que queríamos perdida...
Mas eis que nos teus braços, alma viva
Percebo esta amizade bem vivida.
Querendo adormecer o sofrimento
Exalto em cada verso o teu carinho.
Depois de percorrido duro vento
Encontro, minha amiga, face a face,
Um delicado e doce, tinto vinho,
Que ao menos esta dor já se disfarce...
X
6407
Como um farsante, o tempo me enganara;
Deixando um sentimento assim exposto.
Amar é discernir a jóia rara
Dessa bijuteria do desgosto.
Eu sinto em nosso amor, a raridade
Que vale toda a luta mais feroz.
Trazendo do brilhante a claridade
Faz o meu coração bater veloz.
Qual perla que crescera com a dor,
Amor que sempre foi ardido ungüento.
Ardis que prepararam com vigor
Por pouco não destroem sentimento.
Mas sinto que este amor é mais tenaz.
Vencer as tempestades, foi capaz...
X
6408
Numa hora branda, plena de ternura
Caminho sob os raios do luar...
Sabendo que passamos tal tortura
Espero nesta curva o teu olhar.
Ouvindo num murmúrio, a mansa fonte
Que tantas vezes mata nossa sede,
Olhando para a lua no horizonte
Espero descansar em seio e rede...
A noite é calma e longa... A madrugada,
Trazendo a brisa mansa em calmaria,
Deitados, descansando nesta estrada
Aguardamos nascer de novo dia...
E peço teu amor, p’ra sempre, agora,
No brilho e maravilha d’uma aurora!
X
6409
Nas torres em suplício, meus enganos;
Soltando minhas mãos, mergulho, tonto...
Os anos se passaram sem ter planos,
Sentindo essa tristeza já me apronto.
E salto sem temer sequer a morte,
Do alto dessas torres mais insanas...
Quem dera conhecer a melhor sorte
Aprisionado em torres tão profanas...
Não vejo outra saída para o caso,
Acaso não pressinto solução.
A vida vai chegando ao triste ocaso,
Apenas o que resta, o coração...
Amor que aprisionara-me na torre,
Em lágrimas sangrentas já se escorre...
X
6410
A vida é um mistério, disso eu sei,
Muitas vezes sozinhos caminhamos,
Além de todo o sonho que vibrei
Descanso minhas costas, fogos, amos...
Distante do que fora a dura lei,
No mundo em que vivemos, nos amamos,
Mas tanto que em castigos eu sangrei,
Cansado deste rumo que tomamos...
Mas vejo em tua voz, querida amiga,
A sorte que talvez não encontrara
Nos rumos que por vezes eu tomara.
E sinto que isso pode me salvar,
Nesta ternura imensa e tão antiga,
Com tua amizade sempre irei contar...
X
6411
Em luzes mais dispersas já floria
O corpo que sonhara, raro brilho.
Em mágicas delícias, harmonia;
De todos os prazeres, vivo trilho...
A pele que me toca, em alegria,
Mandando a solidão para um exílio,
Tal qual, em poesia eu pressentia,
Sem ter jamais sequer um empecilho...
Envolto em vibrações extasiantes,
Meus dias são mais doces, cristalinos.
Tomados pelos límpidos velinos,
Satélite que cerca tal planeta,
Vislumbro novos mundos radiantes,
Seguindo as tuas sendas, sou cometa...
X
6412
Amigo, há quanto tempo necessito
Falar deste carinho que perdi...
Amor que se fizera tão bendito,
Depois de certo tempo... nem mais vi...
O canto em que louvara, mais bonito,
Perdendo todo encanto. Nada aqui
Senão meu triste olhar que no infinito
Procura pelo amor que recebi.
Na mortalha que cobre, solidão,
Percebo uma esperança de verdade.
Quem teve nesta vida, uma ilusão
Já sabe quanto é bom ter um abrigo,
Depois de toda a fúria, tempestade,
O braço solidário de um amigo...
X
6413
UMA AMIZADE
Na canção em que louvo uma amizade
Cintilam esperanças sonhadoras.
Meu verso traduzindo uma verdade,
Dourando esta certeza, revigoras.
Passando pela força de vontade
O tempo vai passando, em outras horas.
Resplandece portanto em claridade,
Imagens tão felizes, redentoras...
Mostrando a limpidez deste meu canto,
Que emerge em noite clara, verso e luz,
Pintando nossa vida em tal encanto
Dos astros mais brilhantes, sonhadores,
Além desta vontade reproduz
Mais forte ,em amizade, meus amores...
X
6414
Em tua carne doces opulências,
Belezas delicadas, mil delícias...
No brilho de teus olhos, florescências,
Sorrisos que inebriam, as malícias.
Tomando de teu corpo as inclemências,
Nos tentadores sonhos, as sevícias,
Propostas que traduzem indecências
Em lagos de carinho, tais carícias...
Teus seios, tentações maravilhosas.
Tomando a minha boca, quais romãs,
As horas que passamos, tão gostosas,
Em plena sensação de gozo e riso,
Entornam nossos fogos nas manhãs,
Abrindo em tuas sendas, paraíso...
X
6415
O PODER DA AMIZADE
Vestido pelo linho da amizade,
Sentindo o calmo vento da esperança,
Bebendo todo o sonho, liberdade,
Atado pelo canto da aliança.
Sabendo da importância da verdade,
No coração pureza de criança,
Ao transbordar assim, sinceridade,
Meu olhar por instantes já te alcança.
Na força que demonstras, minha amiga,
Apoio para os dias infelizes.
Permite que meu passo enfim prossiga
Na busca pelo sonho que eu desejo.
Povoa minha vida em bons matizes,
Amiga. Ser feliz, enfim, prevejo...
X
6416
Moreno carpinteiro, meu amigo.
Tantas vezes perdido em meu caminho,
Na busca por um colo, um bom abrigo,
Julgara-me tristonho e tão sozinho.
Às vezes nem sei mesmo se prossigo,
Por outras, me sentindo um passarinho
Contando tão somente, aqui, contigo,
Recebo o Teu abraço, o Teu carinho...
Quando as carnes cortadas, chagas puras, Quando os olhos
perdidos, sem ter rumo.
Nas esquinas da sorte, só torturas,
O sangue se esvaindo, pobres sumos.
Te percebo companheiro e camarada,
A vida se transforma, abençoada....
X
6417
Nos teus cabelos flavos, tanto encanto,
Entranho-me em teus laços, serpe audaz,
Saltando em teus novelos, sem espanto;
Minha boca te crava mais voraz.
Exalas tal perfume, frágil santo,
Queimando totalmente minha paz.
Tomado por teu gozo, meu quebranto,
No sacrossanto orgasmo que me traz.
Enroscado em teu corpo, flamejante,
Recebo o teu sorriso de bacante
Em lânguidas fornalhas, teu veneno.
É como se ao tocar purificasse
Mordendo e babujando a minha face,
Desfiladeiro louco e tão ameno...
X
6418
Não deixo de pensar um só momento
Naquela criatura que eu amei.
Eu sei que não consigo, mas eu tento,
Amar não pode ser única lei...
Recebo o seu carinho, perco o vento;
A consciência afirma que tentei.
Escuto me chamar... Todo o momento,
Nos versos, nas canções que eu dediquei...
Saudades me tomando não me deixam...
Ah! Quem me dera nunca ter te visto.
Os olhos embotados sempre queixam,
Mas o que posso; Amor, se eu a perdi.
Necessito saber que eu inda existo,
Porém ninguém responde: Estou aqui!
X
6419
Querida, te falar do imenso amor
Que trago e não consigo disfarçar,
Carrego dentro em mim, tal qual andor;
Num brilho tão difícil de encontrar..
Guardando para sempre o teu calor
Distante de meus olhos, perco o mar,
E morro todo dia; um sonhador.
Ao menos se pudesse te tocar...
A musa dos meus sonhos. Inconstante.
Mal sabe de meus versos, nem me vê.
Amor; um sentimento em que não crê.
Mas saiba que te busco em cada canto;
Em cada novo sonho, em todo instante.
Procuro a tua luz, maior encanto...
X
6420
Menina fecha os olhos, devaneios;
E sonha com seu príncipe encantado.
As mãos delicadas sobre os seios
Num movimento manso, alucinado...
Depois, vai mansamente e sem rodeios,
Em busca do caminho tão sonhado,
Procura, num segundo os outros meios,
Prazer que tantas vezes foi pecado...
Menina vai se abrindo, sem segredos,
Os olhos revirando. Uma loucura...
Delícias desbravadas pelos dedos,
O príncipe chegando, devagar...
Num gesto de carinho e de ternura,
No delírio, começa a galopar...
X
6421
Tua boca desliza sem juízo
Passando por meu peito, meus cabelos,
Até que vislumbrando o paraíso,
Molhando, devagar, todos os pelos...
Abrindo na volúpia de um sorriso,
Não ouve mais pedidos nem apelos,
De teus dentes, num átimo, matizo
Segredos tão difíceis de contê-los.
Na generosidade desta boca,
Meu sonho prazeroso realizado.
A voz que vai grunhindo, quase louca,
Soltando mil gemidos incontestes,
Rodando o pensamento inebriado,
Começa a retirar as tuas vestes...
X
6422
Na caça pela casa que não vem
Depois de tanta curva, verso e lua.
Chegança de mais nada nem ninguém
Apenas a beleza exposta e nua
Na calçada do nada. Pego o trem;
Velha senha esquecida, continua
Estrada tão extrema sem alguém
Deitada sobre as pedras desta rua.
Deixar amor crescer e ser mais forte,
Beirando este caminho já sem volta.
Ao refazer o pão tramando a morte.
Ao se tornar o vinho entorna a vida.
No sangue que não causa mais revolta,
A noite das estrelas vai perdida...
X
6423
Ah! Se soubessem, moços, o que eu sei...
Jamais se deixariam mais levar
Por todos estes sonhos que sonhei
Além desta esperança, naufragar...
Amores são farsantes, eu provei
Do gosto da saudade a me amargar.
Depois de tanto tempo, me entreguei
E somente essa mágoa a me tocar...
Amores mentirosos... Pobres moços...
Afastam-se do sol, buscam infernos.
Acreditam viver raros colossos,
Depois, somente a dor por herança;
Quem quiser se aquecer em pleno inverno,
Esqueça estes amores da lembrança...
X
6424
Pode falar de mim o que quiser.
Qual fosse um marginal sem ter saída,
Meus olhos estarão onde estiver
Esta ilusão do amor, que é tão querida...
Vivendo da maneira que puder,
Sangrando sempre a dor da despedida,
Vibrando neste corpo de mulher
Assim irei levando a minha vida.
A corrente carrega e me transporta
Sem sequer perguntar se sou feliz...
Mas eu prefiro ser a folha morta
Abandonada neste velho rio
Do que ser tão somente um aprendiz
Que morre, devagar, triste e vazio...
X
6425
Às vezes é preciso nervos de aço
Para enfrentar assim, a traição...
Parece que perdemos um pedaço
Daquilo que se fora coração...
Sentindo que me negas teu abraço
Depois de termos tido tal paixão
Percebo que da vida, em meu cansaço,
Somente sobrará um triste não...
Agora que te vejo pelas ruas
Andando bar em bar lembro meu bem;
Deitada em minha cama, carnes nuas...
E sinto uma vontade de morrer,
Talvez assim quem sabe, poder ter
A paz que procurei e nunca vem...
Feito baseado em Nervos de Aço Lupiscínio Rodrigues
X
6426
Poder te desejar a cada instante
Ardentes, as palavras que me dizes,
Tocando o teu prazer inebriante
Qual fossemos crianças, aprendizes...
Na fome que me torna um navegante,
Buscado a proteção, velhas marquises,
Mergulho no teu corpo, delirante,
E somos como nunca, tão felizes...
Abrindo tua blusa, à luz da lua,
Beijando cada seio, devagar,
Aos poucos vais ficando toda nua...
No fogo do desejo, de repente,
Consigo num segundo desculpar
Àquela seduzida p’la serpente...
X
6427
Sentir-me enlouquecendo nos teus braços, Qual fosse uma tenaz a
me prender.
Rompendo sem limites os espaços
Profundos, delicados, do teu ser...
Vasculho teus caminhos, belos traços.
No amor que a gente gosta de fazer
Unindo nossos corpos, firmes laços
Que explodem num segundo de prazer...
Ouvir a tua voz rouca e macia,
Na lúbrica vontade, entorpecente.
Até que a noite traga um outro dia
Flagrando-te deitado em teu regaço,
E o sol já nos convide novamente
Matando nossa fome, sem cansaço...
X
6428
A vida me levando na corrente
Que sempre traz a sorte que Deus quer,
Às vezes infeliz, outras contente,
Na espera do que der, do que vier.
Qual a folha caída em correnteza
Na chuva que não pára de cair,
Levado pela vaga em incerteza
Sem nada que me impeça de seguir.
Sou esmo, sou sem nexo, um eremita
Que teme toda a luz que se aproxima.
A sorte tão distante não se agita
Restando-me buscar somente a rima
Que faça da amizade uma esperança
De noite diferente, em plena dança..
X
6429
Embaraço a visão quando te vejo
Nas ruas caminhando, passos lentos.
Demonstro, de repente meu desejo
Tomando para mim teus pensamentos
Na maçã destas formas, relampejo,
Nos azuis de teus olhos, por momentos
Sinto o poder celeste do azulejo
Num fascínio divino, tantos ventos.
Nos teus lábios trajetos para o céu,
Neste rubor delitos prometidos.
Sangrando meu fascínio abelha e mel,
Fome extasiante desde agora,
Tomando e lacerando meus sentidos,
Eu peço: por favor, vem e devora!
Nenhum comentário:
Postar um comentário