sexta-feira, 23 de abril de 2010

HISTÓRIAS DE UM REPENTISTA VOLUME 37

6430
X
Eu vi teu nome exposto na manchete
De todos os jornais e nas revistas.
A foto da nudez que se repete
A deusa principal entre os artistas.
Lembrando o carnaval, tanto confete,
Bebendo teu suor, antigas listas.
Nas cenas já mudaste teu esquete,
Dançaste teu amor em outras pistas.
Dormiste no passado, sem futuro,
Mas foste toda minha, não o negues.
Tomamos caipirinhas, chão tão duro...
Embora outros caminhos já navegues,
Na cama que escolhemos, lua cheia...
Teu nome... Foto exposta... Inda clareia...
X
6431
Pela estrada da vida caminhando,
Levando uma alegria benfazeja.
Pergunto-te querida, como e quando
Terás todo este sonho que deseja.
Os dias pelas ruas desfiando,
No céu que te bendisse e te azuleja
Nas cores e nos brilhos te tomando,
Além do que se quer e se preveja...
Amor que te domina e te refaz,
Na aurora desta vida que cumpriste.
Mostrando o sonho intenso e mais voraz,
Calando a velha dor de não ter sido,
Sorrindo quando ocultas o ser triste
Que vai a cada dia, adormecido...
X
6432
Tomando cada verso como espelho
De um dia que sonhara e nunca veio.
Na vida não ouvi sequer conselho,
Seguindo cada passo sem receio.
Um amuleto trago, um céu vermelho,
Usando a liberdade como um meio,
Eu não irei meter o meu bedelho
Aberto o coração, num devaneio...
Do medo em que emergi, nada mais trago
Nem mesmo a solidão traz dor e pranto.
De tudo o que vivi sobrou o estrago
Dos olhos esquecidos sobre a mesa,
Amiga, não permita que este canto
Te torne bem mais frágil e indefesa...
X
6433
Eu trago para ti meus tristes olhos,
Marcados pelas dores do passado,
As flores prometidas, morrem molhos
Meu medo sempre foi bem demarcado.
Pastores colocaram tais antolhos,
Negando uma visão, não tenho lado,
Sobrando a plantação destes abrolhos
Do amor sempre distante, destroçado.
Mas trago meu olhar, Senhor meu Pai,
Apenas o que tenho nesta vida.
Se a tarde em desespero sempre cai,
Amigos que plantei nao os colhi,
Por isso meu amigo, em despedida,
Tu és a redenção que recebi...
X
6434
Falando deste sonho de moleque
Que soube ser feliz por certo tempo.
A vida vai se abrindo em frágil leque
E nega, por instantes, passatempo.
Carrego no meu peito tal saudade
Das coisas que não fiz, nem mesmo quis.
Agora a noite impede a claridade,
Mas mesmo assim percebo ser feliz.
Por ter essa morena, amor demais,
Rainha dos meus dias de criança.
Amar é descobrir que a vida traz
Além de uma verdade em aliança
Um canto benfazejo de alegria,
Amor que se faz festa todo dia...
X
6435
Sentir em cada toque mais ardente
Desejos que me invadem, tão vorazes.
Vontade de te ter, amar urgente,
Afetas meus sentidos, perco as bases.
Tu és audaciosa, e sempre quente.
Carinhos que me dás, demais audazes.
Na chama que flamejas se pressente
Muito além do que penso são capazes...
Na perfeição completa-se o desejo,
Fascínio que conquista e me domina.
O quanto que te quero em cada beijo
O quanto que me queres, minha amada,
A boca desenhada me alucina,
Tomando minha sorte extasiada...
X
6436
Cismando pelas ruas, solitário,
Recebo o vento amargo da ilusão...
A vida vai expondo o meu calvário
Formado pelos braços da paixão.
Amar assim demais é temerário,
Dizia a sábia voz do coração.
Amor que não respeita calendário,
Causando a cada dia uma explosão...
Recebo tua carta, marinheira,
Que busca em cada porto uma alegria.
Embora reconheça verdadeira
Esta emoção que dizes em teus versos.
Eu peço meu amor, bem que podia,
Deixar os outros mares tão dispersos...
X
6437
Inundando esta imensa vastidão
De toda uma esperança, reamar.
Na força da enorme da paixão,
A cada novo sonho te encontrar.
Bebendo desta luz em explosão,
Navego tão profundo e belo mar,
Nos vórtices mais altos, coração,
Sangrando e se entregando sem pensar...
As águas tão distantes da amargura,
Se vão em cachoeiras de prazer.
Na noite tão profusa uma ternura,
Tomando pouco a pouco este meu eu,
Na luta por poder sobreviver,
A força deste amor já me venceu...
X
6438
Teu sexo perfumado e tão gostoso,
Exposto nesta noite, acesa a chama.
Escondes um segredo mavioso
Na chave deste cofre que reclama.
Recebo em raro aroma, glória plena,
E vago sem destino nos lençóis,
A mão que me acarinha cedo acena,
No gozo deste gosto mais feroz...
Na doce framboesa que desfruto,
Amoras em teus lábios, sedução.
Meus olhos te vasculham, vou astuto;
Tuas romãs divinas, tentações...
Serpente ,te agradeço num sorriso,
A porta que me abriste, paraíso....
X
6439
Galgando cada parte deste sonho
Vislumbro mil montanhas, belos vales.
Depois deste delírio tão risonho
Debaixo do vestido,saia e xales.
Amor sem sortilégios te proponho,
Não deixo que em mentiras tu me cales,
Vibrando em cada dedo que te ponho,
Gemidos e suspiros, que tu fales...
Num átimo um desejo tão carnal
Vencendo uma razão que se perdeu.
Nesta opereta insana e assim carnal,
Rebenta toda a corda, sanidade,
Teu corpo se confunde com o meu
Nos atos que profanas, liberdade...
X
6440
Vislumbro uma voraz insaciedade
Tomando a bela forma de mulher.
Levando assim a tal insanidade
Do jeito que puder e que vier.
Pedintes, os teus olhos, me suplicam
Amor como um vulcão que não se aplaca,
Estrelas em teu corpo já salpicam,
Nos olhos desejos uma estaca
Que adentra tua sala, cama e quarto,
Em tal sofreguidão que não descansa.
Até deitar contigo, amor bem farto,
Tu sabes e desejas uma lança
Que vem e te sacia num segundo,
Bebendo o teu prazer no qual me inundo...
X
6441
Menino que corria entre bandeiras,
Jogando toda a sorte em laço frouxo.
Depois de tantas horas mais certeiras
O passo se tornando roto e coxo.
Menino entre jaqueiras e quintais,
Olhando sob as saias da morena.
Deitando uma esperança nos varais,
No corpo da menina, a vida acena.
Agora se esqueceu desta criança
E morre de ciúmes sem motivos.
No gosto mais suave da lembrança
Os olhos do moleque sempre vivos...
Amor bateu na porta, um mensageiro,
Safado sem juízo, amor primeiro...
X
6442
Ao ver-te se afastando dos famintos,
Toando um verso frouxo de mentiras.
Amores propagados vão extintos,
A roupa da esperança rota em tiras.
Ao ver-te tão distante das origens,
Rasgando o Evangelho, destroçando.
Numa preservação de velhos bens,
E o novo que surgia já abortando.
Ao ver-te Igreja assim, tão insensível,
Matando pouco a pouco uma esperança.
No Cristo que expuseste o combustível
Que impede amor em paz em aliança.
Tu matas o sentido da amizade,
Negando para nós, a claridade...
X
6443
Viemos de outras terras tão distantes,
Marcados pelo ferro dos grilhões.
Nos barcos que viemos delirantes
Na fome e na desgraça em borbotões...
Viemos desses medos, dos farsantes,
Exclusos e vendidos, sem perdões.
Do ventre de outras terras, mais errantes,
Dos quilombos marcantes podridões...
Viemos não em busca de riqueza,
Sangrados em prostíbulos insanos.
Guerreiros libertários soberanos,
Na marca dos terrores, da tristeza,
No gosto da suprema liberdade,
Clamando tão somente uma amizade...
X
6444
Tua boca desliza mansamente,
Roçando no meu peito, tão voraz...
Meus pelos arrepias levemente,
E mostra-se feroz e mais audaz...
Me entrego nos teus braços totalmente,
Além do que pensara ser capaz.
Sentindo tua boca, doce e quente,
Volúpias e desejos amor traz...
E aos poucos devorando cada gota,
Deitada sobre mim, sorriso branco...
A noite em mil carinhos não se esgota,
Te quero sempre mais, amor sou franco,
Depois de tanto tempo, mergulhando,
Te digo, simplesmente, estou te amando!
X
6445
Sentindo cada dedo deslizando
Nos mapas desta mina, fonte pura,
Menina descobrindo e revelando
Sofreguidão que toca e me tortura.
Distante, na janela contemplando,
O riso que demarca esta aventura,
Da moça que delira, assim, brincando,
Em mãos que vão macias, com ternura...
Sorvendo cada gota do prazer,
Do rosto que se mostra contorcido,
Entranho escura senda pra sorver
As gotas da enxurrada prometida.
Ao ver esta beleza, convencido:
Não há nada melhor que isto na vida!
X
6446
Ah! Como vais negar que foste minha
Se a boca está marcada pelo beijo.
Se a vida te desfez e vai sozinha,
Te quero com a força de um desejo.
Se a sorte no meu peito inda me espinha,
Se o tempo se perdeu, e nada vejo,
Se a morte deste amor já se avizinha,
Se nada mais percebo, e o fim prevejo.
Estás em cada verso que proponho,
Estás na fantasia que alimento.
Tu vives na verdade em cada sonho.
Embora noutros corpos me esquecesse,
Tu és o que me resta, o meu alento,
O beijo que me deste, a minha prece...
Baseado em NEGUE
X
6447
Ouvindo-te dizer: como é tristonho!
Percorro velhas ruas, tantos becos...
Do mundo um paradeiro que proponho
Não ouve e nem recebe mais os ecos...
Quem fora uma alegria, um belo sonho,
Jamais se permitiu os repetecos.
Vivendo o frio vento, tão medonho,
Os olhos sem ter lágrimas, vão secos...
Tomado por tristeza e duro tédio,
Sabendo da enfadonha calmaria,
Não vejo nesta vida outro remédio,
De ter uma esperança que prossiga;
O toque mais sagaz desta magia
Que emana de teus braços, minha amiga...
X
6448
Quando uma solidão bater à porta,
Já tão cansado, inerte, assim vencido;
A vida num segundo se reporta
Ao tempo mais distante, percorrido.
Toda a tristeza muda, se conforta,
Nos olhos de quem sabe já ter sido.
O frio temerário que me corta
Acalma-se depois de ter morrido...
Eu levarei teu nome, minha amiga,
E sonhos que se foram, tanto tempo.
Amar não foi somente um passatempo,
Foi o melhor que tive, nada mais.
Se a solidão no peito enfim se abriga,
Um resto de alegria, amor me traz...
X
6449
Sentir o teu perfume alucinante
Gerado nestes êxtases sem par.
Estar contigo aqui neste rompante
Depor as minhas armas, me entregar
Ao gozo da luxúria deslumbrante
Deste mormaço insano a nos tocar...
Teus frutos, framboesas, mel e cana,
Nessa umidade doce e magistral
De divindade nua e soberana
Rolando nesta chama sensual,
Menina fantasia tão profana,
Um paraíso humano, amor carnal,
Rainha destes sonhos tropicais...
Morena tenho tudo e quero mais...
X
6450
Depois de ter passado a vida inteira
Numa procura insana por amor.
Uma ilusão completa costumeira
Forrando este meu peito sonhador.
A sorte nunca foi a companheira
Deixando em suas marcas, sempre a dor.
Inverno vem chegando, vou sem eira
Restando só tristeza a me compor.
Quem dera a juventude retornasse,
Pudesse retornar aos belos dias.
Quem sabe assim amor eu encontrasse...
Mas nada me restou. A vida passa,
Retoma o que me trouxe em fantasias,
Cobrando pelo que me deu de graça...
X
6451
Anjo noturno em asas deslumbrantes,
Andando nos meus sonhos, brancas ruas.
Os olhos, dois perfeitos diamantes,
As asas descobertas, carnes nuas.
Sementes espalhadas em rompantes.
Um anjo que me entorna bocas cruas,
Em sombras tão bonitas, radiantes...
Mulher que angelical, assim flutuas...
Virando-te do avesso, sexo e gozo,
Na dor transcendental de ser assim
Desejo que se fez voluptuoso,
Ardendo em sonhos loucos,sede e brasa.
Segredo meus anseios, cedo ao sim.
Desfruto de teu corpo, minha casa...
X
6452
Saber de cada parte, corpo exposto,
Crescendo pouco a pouco, sedução.
Sentindo em tua boca todo o gosto
Deslizo em tua cama, tentação.
Mulher, como é bonito este teu rosto,
Sorriso que se aflora em perdição.
Na gula que te invade, já me encosto
E sinto em teu carinho, a vibração...
A língua me percorre sem segredos,
Aumenta o meu desejo, o teu sabor.
Amor que se faz manso e quer brinquedos
Rompendo estas barragens, tudo inunda.
Deitando levemente um bom torpor
Em sensação diversa e tão profunda...
X
6453
Compondo uma esperança em puro amor,
Destroços rebentando do meu peito.
Abortando em botão matando a flor,
Deveras nada esteve do meu jeito.
Vazio que sobrou, nada compor,
Amor morrendo assim tão imperfeito.
Soçobra meu navio em plena dor.
Do vago que restou, um nada feito.
Mas vejo uma alegria em pleno breu.
Um gosto de ilusão, do sonho meu.
Bonança que se fez da tempestade.
Tocando o coração, fico contente.
Da sensação de paz, mais docemente,
A força benfazeja da amizade...
X
6454
Viver apaixonado, sem medidas,
Saber que a noite chega e o dia vem
Por mais que sejam duras despedidas
Não se poupar jamais. Não morrer sem
Ter tido tantas lutas aguerridas
Na busca da esperança. Nada zen,
Mas é melhor tentar ter tantas vidas
Quantas vidas a vida sempre tem.
Paixão. Um sentimento intenso e soberano
Que amarga com ternura ou com tortura
Rompendo cada dique e todo plano,
Desfazendo o já feito e refazê-lo
Numa velocidade sem brandura.
E depois demonstrar carinho e zelo...
X
6455
Caminho por estrelas quando vejo
Os olhos divinais que tanto quis.
Sabendo que vertido meu desejo
Na boca que me fez ser tão feliz...
Montanhas escaladas nos mistérios
Das noites que passamos acordados,
Amores envolvidos sem critérios
Demonstram velhos sonhos decorados...
Amada que me trouxe liberdade
Das fontes que percebo inigualáveis,
Vasculho pelos becos da cidade
Os olhos divinais inalcançáveis...
Divinos sentimentos são capazes
De penetrar amores mais vorazes...
X
6456
Roçando minha boca em tua pele,
Aos poucos te despindo, mansamente.
Ao mais louco mergulho tudo impele
E avanço tuas trilhas calmamente...
O vento que te toca e te arrepia,
Na brisa tão suave dos meus lábios,
Em tantas profusões desta alegria
Percebo teus carinhos, loucos, sábios...
Me aventurando tanto pelas trevas
Que mostram belas sendas que procuro,
E peço que em meus mundos tu te atrevas
Trazemos nossas luzes, neste escuro...
Amando tão fremente esqueço os breus
Nos lumes, nas lanternas, todos teus...
X
6457
Nossas peles retintas dos matizes
Diversos que o desejo preparou,
Roubando toda a cena, como atrizes
Que o tempo, sem saber, emoldurou.
Noites a fio somos mais felizes
No mar que nosso amor nos preparou.
Deitados sob a lua, nas marquises
Promessas que este tempo enclausurou
Nas nossas aventuras qual dementes
Roubando uma verdura destes matos,
Roçando com as bocas, olhos, dentes...
Impérios dos sentidos todos, tantos...
No sacrilégio insano, os meus retratos,
Fazendo nosso amor, imersos... Santos...
X
6458
Vivendo tantas vezes por viver
Vencido por cansaço e sofrimento.
Espelho onde custei reconhecer
As marcas, cicatrizes do tormento.
Não quero mais um porto, nem um cais,
Seguindo minha vida sem timão,
Um sonho, ser feliz, não sonho mais;
O vento derradeiro, furacão...
Não posso mais falar, vou sem sentido...
Em tudo fracassei, isso é verdade.
Meu mundo, num segundo repartido,
O que posso dizer? Sequer saudade...
E surges mansamente e me domina,
A luz, que ao fim do túnel, ilumina...
X
6459
Amiga, neste mundo triste e vão,
Toda a tristeza imensa, quase nada,
Matando pouco a pouco o coração,
Na sorte que se mostra abandonada...
As flores espalhadas pelo chão,
Na vida que se foi, despetalada...
Envolto pelas garras, solidão,
Amor, uma palavra assim riscada...
Amiga, me perdoe se não falo
Das coisas tão bonitas desta vida.
Destino se tornou um forte abalo
Trazendo para a vida, a tempestade...
A tarde vai morrendo, a dor cumprida,
Restando tão somente essa amizade...
X
6460
Em busca da pantera dos seus sonhos,
Corcel desesperado alça um vôo
Por sobre tantos mares mais risonhos,
Os sonhos do corcel, cedo eu perdôo...
São sonhos como os meus, minha querida,
Envoltos em total ansiedade...
Esqueço destes males, salvo a vida,
Aguardo tanto sonho, liberdade...
Amor como nas tramas mais sutis,
Não cabe mais nos sonhos do corcel,
Que em toda sua vida sempre quis
Alçar um manso vôo pelo céu...
Pantera mostra as garras delirantes
Amor doma o corcel bem cedo e antes...
X
6461
Mergulhando nos sonhos mais bonitos
Abraçando minha deusa tão amada.
Voando por espaços infinitos
Em busca da manhã iluminada;
Os raios deste sol brilhando tanto
Trazendo uma esperança, vivo amor.
Envolto na alegria, enfim te canto
E roubo deste sol todo o calor.
Amada como é bom viver contigo
Sem medo do tormento e da saudade.
Aqui, eu já pressinto, sem perigo,
Eu posso conhecer felicidade.
Amada, vem comigo, eu te proponho,
Na noite viajar, planeta sonho...
X
6462
O mar que me levou; levou amor
Nas ondas deste mar sempre vou eu
Vivendo destas águas lavrador
Quem lava minhas mágoas, já morreu...
As bocas que me beijam minha e sua
Os beijos que negastes quem me dá?
Desejo por desejo continua
E te pergunto sempre: quem vem lá?
Lá, por onde vou; tento navegar
Os beijos que me destes nada mais,
Eu beijo tantas ondas do meu mar,
Quisera meu amor, chegar ao cais...
As ondas que me beijam, tanto mar,
Pequenas são ondinas, vão passar...
X
6463
Amiga, percebendo que chamaste
Por meu nome no vento que te trouxe,
Em alegria imensa transformaste
Um sonho que jamais pensei ser doce.
A sorte que por certo já banhaste
Muito mais que pensei que um dia fosse;
Quem antes se julgara um simples traste,
Num segundo mais forte iluminou-se.
Amiga assim tocando uma triste alma.
Em benção divinal por certo acalma
Quem antes só sofrera ansiedade.
E assim, pouco a pouco, vai surgindo,
Um dia mais feliz, decerto lindo,
No peito renasceu felicidade...
X
6464
Espreito de tocaia quando passas,
Desfilas tuas pernas geniais.
Nem percebes mas sempre tu me enlaças
Em teus passos macios, sensuais...
Desfilas as belezas, tantas graças
Vontade de querer-te assim, demais.
Acoito meus desejos, minhas caças,
E sinto não terei amor jamais...
Tu olhas para o nunca, nada sentes...
Os dias se tornando bem mais quentes
E a saia se levanta.. Que calor!
Mas sonhos nada custam, o que fazer?
Somente imaginar em forte ardor.
O dia que não vem, tanto prazer...
X
6465
Sem tino e sem juízo, me perdendo,
Percebo em tuas pernas, a tenaz
Que aos poucos sempre vai já me retendo.
Fugir eu já nem tento, e quero mais...
Sentindo tua boca me sorvendo,
Do jeito que eu queria e que me apraz.
O fogo, quente lava, vai correndo
Cada vez mais quente e mais audaz...
As marcas de teus dentes nos meus ombros,
Depois de tanto amor, somente escombros.
Reviro-te querida, corpo exposto.
Me enlouquecendo sigo teus caminhos.
Tomado pelas chuvas, teus carinhos,
Numa garoa intensa no meu rosto...
X
6466
Montado em meu cavalo,o pensamento,
Vagando pelos campos sem destino.
Distante das angústias e tormento
Além do que sonhei ou imagino.
No doce galopar deste momento,
Morena que embalava este menino,
Fazendo meu terreiro, sentimento,
Cabendo em cada canto, em ti me afino.
Da antiga namorada, belos seios.
Em nova sensação tu me revelas.
Cavalo se perdeu sequer arreios,
Galopas noite afora, sem cansaço.
Deitando sobre mim, sequer as selas;
Depois nos entregamos, num abraço...
X
6467
Quem dera prisioneiro em tua cama,
Tomado por desejos quase insanos.
Amara-te nos lençóis, até na lama;
Instintos devorando, tão profanos.
Atado aos teus carinhos, viva chama,
Escravo dos prazeres soberanos.
Certeira sensação em louca trama,
Não permitindo nunca mais enganos.
Na entrega sem limites, com paixão,
Fazendo de teu corpo moradia,
Roubando desta noite a tentação,
Hedônica vontade me domina,
Além de todo o bem que te queria,
Na fome que nos toma, e me alucina...
X
6468
Vieste nestes sonhos benfazejos,
Montada em teu cavalo, nua em pelo.
No fogo sedutor dos meus desejos,
Não tenho mais saída e nem apelo.
Roçando minha pele com teus beijos,
Tocando no meu rosto, o teu cabelo.
Os lábios que me tocam, relampejos,
Forrando minhas pernas, teus novelos...
Os sinos repicando, teus sinais,
Na glória do prazer estrela nua.
Imerso nos teus seios, quero mais.
Na fome de te ter, minha alma sua
E vibra nos esteios, catedrais,
Avança e te invadindo, não recua...
X
6469
Levanta o teu vestido, o vento audaz,
Expondo as maravilhas que escondias.
Tocado pelo fogo mais voraz
Meus olhos rebrilhando em alegrias.
Percebo em tuas coxas tais magias
Além do que sonhara, muito mais.
O pano que teimoso em que cobrias
Ao vento se mostrou mais incapaz.
Retorno para a casa imaginando,
A cena que avistei em plena rua,
Querendo completá-la; tê-la nua...
Enlaço, nos meus sonhos, tuas pernas,
As mãos te percorrendo e te tocando...
As noites se tornando, ardentes, ternas...
X
6470
Querida se percebes meus enganos,
Por que não reparaste nestes teus?
Os erros cometidos, soberanos,
São trevas que transtornam, negros breus.
Se foges dos princípios , dos teus planos,
Teus olhos vão perdidos, são ateus,
Tu causas, sem saber, os desenganos.
Magoas todo mundo, nega a Deus.
Mas logo tu disfarças, minha amiga,
Achando que ninguém vai reparar.
A tanta gente assim, já desabriga
E causa uma tristeza que é sem par.
Eu posso te dizer: sou imperfeito,
Mas tu és igualzinha, o mesmo jeito...
X
6471
Quem pensa que o amor é simples jogo,
Não sabe da potência que ele emana,
Quem brinca sem juízo, com o fogo,
Ardendo totalmente já se engana.
Pois amor nunca admite sequer rogo,
É força que nos doma, soberana.
Nos lagos deste sonho que me afogo
A sorte sem limites, já se explana.
Na chama em que se faz tal sentimento,
Aos poucos nos domina e, assim, clareia.
Teu nome não me sai do pensamento,
Embora me apavore, estou te amando.
A brincadeira agora me incendeia,
Não sei nem responder mais até quando...
X
6472
Tuas palavras sempre me enlouquecem,
Convidam para a festa mais profana.
As dores nos teus braços já se esquecem
A sorte de te ter jamais engana.
Os meus sentidos todos te obedecem,
Tu és a minha Fada soberana,
As pernas sensuais em rendas tecem
A noite que desejo, amor se explana.
Adentro tuas matas, teus mistérios,
Vasculho ponto a ponto teus segredos.
Amar é nunca ter sequer critérios,
Trazendo para a vida o gozo pleno,
Passeio no teu corpo, sábios dedos,
Molhados, saciando o teu sereno...
X
6473
Quando acendeste em mim o teu desejo,
Minha alma iluminou-se sem perdão;
Na febre que tomaste em cada beijo
Uma verdade escondida por refrão.
Agora que esta sorte não prevejo
Sou vítima, querida tentação,
Além de todo o céu que não mais vejo,
Meu mundo se perdendo em explosão...
Vieste, namorada que sonhei,
Estrela que me guia bem além.
Mudando toda a sorte desta lei
Que diz que a noite triste sempre vem
Depois do dia calmo que passamos,
O certo é que talvez já nos amamos...
X
6474
Vontade de sentir tua nudez
Deitada do meu lado, sensual,
Molhando tua pele, tua tez,
Lambendo em teu suor divino sal.
Amar-te novamente e toda vez,
Beijando todo o corpo por igual,
Até perder o senso e a lucidez,
A língua a percorrer, fenomenal...
Vontades me alucinam, meus desejos...
No ardor que nos domina, tanto afago.
Teu toque delicado, doce e mago,
Numa explosão de fogos, nossos beijos
Entorno este querer em chafariz,
Fazendo nossa noite mais feliz..
X
6475
Vasculho, no teu corpo, intimidades;
Procuro pelos rastros que deixei.
Encontro velhas marcas de verdade,
Dos tempos que contigo, amor passei.
Teus seios delicados... que saudades,
Teus mares onde, louco, mergulhei.
Aonde desfrutei felicidades,
Prazer era constante, nossa lei.
De tanto que engolimos nossos sonhos,
De tanto que comemos com fartura,
Os dias que passamos, tão risonhos,
A noite sem te ter, quedando escura.
Agora que te encontro, quero mais,
Não te deixo partir, amor, jamais...
X
6476
As mãos que se procuram, clandestinas,
Derramam seus desejos pelos dedos.
As águas que escorrendo, cristalinas,
Expondo pelas ruas, meus segredos.
Tu tocas mansamente e me dominas,
Provocas entretanto tantos medos.
Beber de tuas fontes, doces minas,
Criando novamente meus enredos...
Amar além de tudo, risco pleno,
Sangrando em mil desculpas os engodos,
As pérolas criadas nestes lodos,
Sorvendo calmamente o teu veneno.
Nos ápices dos gozos sensuais,
As mãos que se procuram, querem mais...
X
6477
Tomar-te em conta gotas, maravilhas...
Sorvendo teu prazer, sofreguidão.
Seguindo tuas matas, doces trilhas,
Inebriado e cego de paixão...
As mãos buscam destinos andarilhas,
Fomentam meu desejo, uma emoção.
Deitando meus prazeres, tuas ilhas,
Num ápice transbordam convulsão...
Sentindo o teu calor, beber teu ar,
Riscando no teu corpo relampejos,
Depois tal qual demente naufragar,
Meu mundo salpicado de desejos.
Morrendo na alegria de teus beijos,
Num gozo tão gostoso de provar...
X
6478
Tu és minha loucura, o supra-sumo
De todos os desejos que pressinto.
Viver assim distante é perder rumo,
Deixando meu vulcão quase que extinto.
Mentira se eu disser que me acostumo,
Teu cheiro em cada canto, amor eu sinto,
Te vejo em espirais no leve fumo,
Te bebo em cada gole, meu absinto.
Comer-te doce fruta em cada gomo,
Abrindo tuas belas framboesas.
Meu mundo sem teus laços não retomo,
Cavalo que se vai, sem ter arreios,
Sou rio que se perde em correntezas
Distante de teu colo, de teus seios...
X
6479
O vento que te fez em poesia,
Em versos desenhou o nosso amor,
Sorvendo em tua boca esta alegria,
Bebendo de teu corpo, um bom licor.
Fazendo da receita a fantasia,
Do lago que freqüento sem pudor.
Fartando-se do mel que mais queria,
Te trago noite e dia, aonde eu for.
A calda que me dás, gozo e compota,
De todo amor que a gente sempre quer.
Perdendo nos teus braços, rumo e rota,
Encontro com malícia essa mulher,
Banquete bem servido e devorado,
Com fúria e com paixão, extasiado...
X
6480
De novo retornei a ser criança
Envolto nos teus braços, noite amena,
Depois de ser escravo da lembrança
A sorte benfazeja, amor acena.
No verde dos teus olhos, esperança,
Delícia só se encontra na morena,
Menina, reconheço cada trança,
A flor da minha sorte, uma açucena...
Não falo e nem reclamo da velhice,
Apenas recomeço dia a dia,
Amor que me invadiu sempre me disse
Que o tempo recomeça a cada instante,
Na boca carmesim uma alegria,
No corpo da morena amada amante...
X
6481
Às vezes mal disfarço o sofrimento
Que trago em minha vida, solidão.
No riso em que proponho e me contento,
As marcas desta dor, do eterno não.
No canto em que vislumbro este lamento,
Resquícios do que fora uma paixão.
Meu mundo se perdendo em tal tormento,
O sonho que já tive morre vão...
Mas finjo com meus versos otimistas,
Contenho minhas lágrimas, sorrio.
Tentando não deixar sequer as pistas
Por onde encontrarás toda a verdade,
Se trago no meu peito imenso frio,
Só resta um doce alento na amizade...
X
6482
Embora me negasse teu amor
Não me sinto, por isso, derrotado.
Nem sempre se encontrou um vencedor
Deixando um sentimento bom de lado.
Guardando esta verdade aonde for
Quem perde pode ser recompensado.
Distante de quem vive em desamor,
Uma esperança brota do passado.
E saibas que isso tudo me faz ver
Que a vida traz lições, querida amada,
O dia sempre irá, pois, renascer,
No brilho de outro sol, noutra alvorada.
Quem tudo nesta vida pensa ter,
Depois de certo tempo, vai sem nada...
X
6483
Amor quando impossível traz tristeza,
E faz de um sonhador um vago ser;
Nadar assim, ir contra a correnteza,
Depois de tudo sempre faz sofrer.
Um rei sem ter reinado nem princesa
Vai vendo o seu castelo fenecer.
Uma alma tão sozinha, sem defesa
Prefere tantas vezes ir, morrer...
Julgando-se vazia e desprezível,
Fazendo da amargura seu refrão.
Um sonho tão longínquo e impossível
Muitas vezes nos toma todo o chão.
Por isso, minha amiga, só te peço
Teu colo carinhoso; isso eu mereço!
X
6484
Nas espirais, cigarros me consomem,
Pela fumaça, vejo teu semblante,
Fui um dia, talvez, tão inconstante,
Mas as minhas lembranças, fogem, somem...
Pois quisera poder ser um outro homem,
Ser tão menino, embora ser gigante
Ser teu par, teu parceiro, teu amante,
Mas todas as lembranças, matam, comem
O que me restaria, contrafeito
Do que pudesse vida, me restar,
Mas trago em meu cigarro esse defeito:
Tentar caber no brilho do luar,
Tentar fingir que estou mais satisfeito;
Vou tentando obrigar-me a não te amar...
X
6485
Quem amor com amor retribuir
Será bem mais feliz; eis a verdade,
No brilho desta luz a reluzir
Segredo para a tal felicidade.
Amar é conceder e repartir,
Acalma toda a dor em tempestade.
Toda a alegria assim a repartir,
Num ato de carinho e de amizade.
Assim a solidão fica distante,
A glória se faz clara e transparente.
Tomando o coração de toda a gente.
Jamais se apaga o brilho radiante
De quem fez de um amor o bem constante.
Por isso não desista, amiga, tente.
X
6486
Tocando nos teus seios, festa boa.
Menina tão sapeca quer brincar.
O pensamento solto sempre voa,
Querendo sempre, sempre, namorar.
A vida vai passando assim, à toa,
Com jeito de querer comemorar.
Estamos, meu amor, mesma canoa,
Cuidado senão pode revirar...
Expondo em transparência, a silhueta
Em formas magistrais, moça bonita.
Percorrendo teu corpo qual cometa,
Meus dedos e os meus lábios cima em baixo.
Meu coração se apressa e já palpita,
No esconde-esconde, rápido; amor acho...
X
6487
Reflito os mil fulgores desta lua
Que invadiu o teu quarto sem licença
E flagrou-te deitada, toda nua,
Ganhando o teu perfume em recompensa...
Do lado que me cabe desta rua
Não há sequer no mundo que convença
Minha alma a desistir, e continua
Até que meu desejo enfim te vença.
As horas se passando, são eternas,
Os raios do luar, te possuindo...
Quisera ser um deles nestas pernas
Marcando de prazer minha morena
Distante, bem distante vou pedindo,
Abra as portas; te juro... Vale a pena!
X
6488
Plantei minha esperança no jardim
Das flores mais cheirosas deste mundo.
Batendo uma saudade dentro em mim,
Viajo nos teus braços, num segundo.
Na rosa que colhi, cor carmesim,
Perfume delicado e mais profundo.
Canteiro de ilusões morrendo assim,
Sangrando um coração tão vagabundo...
Somente o teu sorriso brotará
Em meio a tantas plantas sem semente.
Perfume de mulher, de resedá,
Beleza que me fez ser mais contente.
Espalhas teu sorriso o tempo inteiro,
Certeza que valeu fazer canteiro...
X
6489
Neste quarto deserto; espelho, sombra e luz
Me mostram o contraste entre o que fomos
E o que penso que somos. Minha cruz
Se faz bem mais pesada. Corto em gomos
Os oscilantes sonhos; me confundem
A cada nova noite. Interessante
Perceber como às vezes me perfundem
Com a tua presença, mesmo distante.
Na luz bruxuleante do abajur
As sombras se misturam. Mal percebo
Amor como se fosse neste tour
Dar e retirar tudo o que concebo.
No espelho vejo as rugas à vontade
Tirando, do amor, possibilidade?
X
6490
Só quero um novo alguém que possa vir
Depois de tanta chuva, para mim.
Não canso de cantar e repetir,
Preciso de um carinho; amor sem fim...
Que venha sem cobrar e sem pedir,
Os erros cometidos? Sei que sim,
Errei, e não concebo mais mentir,
Agora reconheço tudo enfim...
A solidão que queima e me atormenta
Se fez em versos tristes. Mas agora
Que a noite se promete, a dor se ausenta
E deixa uma esperança em seu lugar,
A vida se renova e se decora,
Do sonho de poder de novo amar...
X
6491
A noite está tão fria sem te ter...
A chuva vai caindo lentamente,
Quem sabe meu amor pudesse ver
A dor que me transtorna, totalmente...
Se a chuva perceber o bem querer
Trazia a minha amada novamente.
As águas alagando vêm dizer
Que nada me fará bem mais contente...
Meu sofrimento aumenta com a chuva
Que não respeita nada nem ninguém,
A porta escancarada... A visão turva...
Saudades deste bem, que foi enfim,
Razão da minha vida. E sem ninguém,
A chuva não termina. Chove em mim...
X
6492
A chuva vai caindo e traz teu rosto
Em todos os lugares, eu te vejo,
Meu mundo está desnudo, estou exposto,
Às tramas tão banais deste desejo...
Procuro me sentar, cadê encosto?
A boca está sedenta do teu beijo,
O sol qual esperança morre, posto;
Nublando todo o céu, finda azulejo...
A chuva recomeça nos meus olhos,
Em gotas que se escorrem deste olhar.
As dores me cegando, são antolhos,
A vida vai mudando pouco a pouco,
O mundo num eterno transformar
Só esta uma saudade... E eu... Tão louco...
X
6493
A bela flor de cor tão expressiva,
Inunda o coração de bom perfume,
Te faço esta canção ó sempre-viva
Não deixe que esta dor já se acostume
E venha toda noite, tão altiva
Gerando com certeza o meu queixume,
Minha alma que pretende estar mais viva
Afasta esta tormenta do ciúme...
Brilhando como a lua, areia e mar,
Na noite-imensidão que se aproxima,
Vontade meu amor, de namorar,
Fazendo das estrelas meu colchão,
Voando, vendo a terra lá de cima,
Vivendo coroado de emoção...
X
6494
A mão que carinhosa traz amor,
Não deve ser deixada assim de lado,
Nos dedos divinais de um escultor,
Amor parece sempre engalanado...
Perfume que exalado desta flor,
Merece ser por Deus abençoado.
Inundam nossa vida de calor,
Deixando um coração desenfreado.
Mas quando maltratado, o coração,
Não queira que ele trague maciez,
Se feito com respeito e com paixão,
Amor sempre domina e satisfaz,
Porém quando o desprezo toma a vez,
Quem pode reclamar, quem é capaz?
X
6495
Percebo quanto vale uma amizade
Ao ver a solidão que me devora.
Depois de ter negado a claridade,
Minha alma, sem apoio, sempre chora.
Talvez, quem sabe, nunca seja tarde
Por isso estou pedindo: vem agora,
Mostrando como é boa a liberdade
Sem medo e sem temor, a qualquer hora.
Desculpe este lamento que remeto
Em versos desmedidos e sem métrica.
O que tentei; aborto de um soneto,
Foi para te dizer, querido amigo,
Não deixe que esta vida seja tétrica,
Preciso de teu braço aqui. Comigo...
X
6496
Depois de tanto tempo em lama e treva,
Vagando pelo mundo em duro rito,
Vivendo sem carinho em triste leva
Rendido ao pesadelo mais maldito.
Nem mesmo uma esperança se releva
De uma dor retumbando amargo grito,
Sem sonhos e desejos, sem reserva.
O peito empedernido num granito...
Percebo em tua boca mais voraz,
Promessa de outro mundo mais risonho.
Recendes ao perfume tão audaz,
Que trama na luxúria um louco cio.
Deitando nos teus seios, belo sonho,
Tomando um coração antes vazio..
X
6497
A boca que me beija, venenosa
Transforma cada sonho em pesadelos.
Espinho que brotou em bela rosa,
Medusa em mil serpentes, nos cabelos.
A pele tão macia e veludosa,
Transborda nas escamas, mil novelos,
Quem fora mais bonita e mais cheirosa,
Aos poucos se transforma. Frios gelos...
Do amor que se fizera flamejante
Mulher que se mostrara louca amante,
Tomada num momento por veneno.
Pressinto a languidez de uma serpente,
Matando todo amor que diz que sente,
Da morte sem perdão, um triste aceno...
X
6498
Meus sonhos, belas dálias no meu peito,
Eflúvios da paixão indefinidos.
Num átimo buscando ser eleito
De amore que se fazem dos olvidos.
Num límpido segredo,satisfeito,
Eu adormeço a paz de ter sentido
Em esplendor raríssimo e perfeito
Todo o temor que houvera, resolvido.
Caminho pelas sendas florescidas,
Buscando pelas fontes sempre frescas,
Montanhas, cordilheiras gigantescas,
Não ousam impedir as nossas vidas.
No sonho em que esse amor já me enternece
Eu agradeço a Deus, louvor e prece...
X
6499
Teus seios sem recato em opulências,
Entornam tua láctea brancura.
Amor que já se fez sem reticências,
Envolto em duras garras, me tortura.
Discretos os teus gestos de decências,
Fugazes, emergidos em ternura,
Roubando das estrelas florescências
Escrevem meu amor em mão impura.
Sentindo o meu destino em ledo corte,
Sacrários mentirosos e marmóreos,
Engodos em caminhos antes flóreos,
Na presa da mulher feita serpente,
Amar festa impossível, que pressente
Momentos que anunciam minha morte
X
6500
Desfraldam-se desejos, madrugadas,
As horas vão passando, derradeiras,
As fúrias se mostrando arrebatadas,
De todas as insânias, as primeiras.
De todas as vontades vasculhadas,
Loucuras sempre foram as primeiras;
As tramas que traçamos, altaneiras,
Mostrando tuas pernas enlaçadas...
Avanço o território mais gentil,
Tomando cada ponto, na batalha,
Amor vai se mostrando mais sutil,
No corte desejado em que se entalha
As marcas de um querer inebriante,
Saber tuas defesas, doce amante...
..X
6501
A dor que quando vem nos entristece,
Ferindo muitas vezes nos humilha;
Negando ao próprio Deus, calando a prece,
Matando de um amor, a maravilha.
Tanta tristeza e mágoa sempre tece.
Aos corações amantes, cega, humilha
Uma esperança assim, cedo fenece;
Nem mesmo a fantasia compartilha...
Sozinhos, sem ter rumo, nada vem,
O gosto tão amargo, uma quimera.
Distante do que fora nosso bem,
O sol já se perdendo em falsidade.
Só resta em nosso peito a leda espera
Do brilho salvador de uma amizade...
X
6502
Meus sentimentos vãos, loucos, terríveis,
Formando assim tão trágicos aspectos,
Percebem teus sorrisos impassíveis,
Distantes de meus males, mais secretos.
Embora parecendo incoercíveis
Meus medos vão tomando todo afeto.
Os sonhos se parecem insensíveis
Não trazem nenhum fato mais concreto.
Um coração se perde nas fanfarras
Dos dias em que fora mais feliz.
Rompendo, no final tantas agarras,
As dores que se foram, dilaceram,
Apenas noutros dias que se esperam,
Amor que bem distante, eu sempre quis...
X
6503
Meus cabelos tomados pela prata,
As marcas de outros dias dolorosos,
A solidão que conheci já se retrata,
Dos sonhos que morreram, venenosos...
Vida de quem não ama, eu sei; maltrata,
Distante dos caminhos luminosos,
Perdido em ilusão, escura mata,
Somente estes momentos tenebrosos...
Amor que parecera ser bizarro,
Moldando nos teus braços, fino barro
Do qual eu renasci, minha querida.
Do medo que vivera no passado,
Cumprindo minha sina do teu lado;
Salvando, finalmente minha vida..
X
6504
A noite que te trouxe, amargurada
Em fantasia imensa e vaporosa,
Deixando minha vida abandonada
Matando em meu jardim jasmim e rosa.
Depois de certo tempo, um quase nada
Traçando uma esperança dadivosa,
A noite se mostrou mais constelada,
Já menos sofredora e dolorosa...
Dormências em meus sonhos mais secretos,
Aos poucos emoções me dominando.
A chuva mansamente em meu deserto,
Encharca uma alegria em seus espaços.
A vida para mim abrindo os braços,
O sol em alvorada vem raiando..
X
6505
Lamber-te por inteiro, ser teu homem...
Molhando tua flor tão desejada.
Incêndios que nos tocam e consomem,
Na fúria que te fez por mim amada.
Desnuda-te, perfumas e me domas,
Em teu castelo, invado o teu jardim.
Bebendo gole em gole, tu me tomas
Sorvendo intensamente, até o fim.
Sem mais reservas, deixo-me tragar
Te dando todo amor que mais querias.
Alago com prazeres o teu mar.
Nadando em cada sonho, verso e canto,
Mergulho sem limites, fantasias,
E me entrego, sem rumo, ao teu encanto...
X
6506
Teu corpo desejado e tão lascivo,
Deitando em mil carícias violentas,
Num gozo tão terrível e aflitivo,
Em magos sentimentos, me arrebentas.
Teu corpo que possuo, e nisso vivo,
Mostrando estas vontades mais sangrentas,
Hedônico, sedento e convulsivo,
Na força que demonstras e me ostentas...
Num sôfrego fascínio, uma demente,
Um hálito sedento, doce e quente.
Um toque mais audaz, voluptuoso,
Recebo teus carinhos, teus afagos,
Em aguardentes goles, grandes tragos
Que explodem sem limites no teu gozo...
X
6507
Teus olhos me cortando qual espada
Penetram no meu peito, são punhais.
Mostrando minha sorte retratada
Em brilhos tão possantes, divinais...
Recebo em teu olhar forças leais
Que invadem toda negra madrugada
Com lumes mais perfeitos, magistrais...
Aquecem mesmo a noite mais gelada...
Olhar que me denota toda a crença
De quem eu aprendi, bem cedo amar
Fazendo em sua chama a diferença.
Rebrilham toda sorte que há em mim,
Além desta beleza de um luar,
Ajudam-me a querer-te tanto assim...
X
6508
Amiga não invejes mais ninguém,
Às vezes um sorriso só disfarça
Do nada tanto nada sempre vem,
Fingindo ser feliz quem já se esgarça;
Vazio sem sequer saber um bem,
Tentando se esconder de uma desgraça
Na busca da alegria, que não tem;
Volúvel e tão frágil se esfumaça...
Assim há tanta gente neste mundo
Que tenta demonstrar felicidade.
Se perdem da verdade em um segundo,
Sorrisos mentirosos, todos falsos,
Distante do que for sinceridade,
Preparam os seus próprios cadafalsos...
6509
Sentir o teu perfume desejado,
Tocando em tuas pernas, calmo mar.
Recebo pelo vento o teu recado,
Sentindo esta vontade de ficar.
A vida inteira sempre do teu lado,
E todo o teu carinho desfrutar.
Não vês como eu estou apaixonado?
Deitar o nosso amor sob o luar....
As nuvens passeando em nosso céu,
Formando uma paisagem delicada.
Galopo no teu corpo, qual corcel,
Voltando a ser de novo o teu rapaz,
Sorvendo cada gota iluminada
Que o brilho deste amor, pra sempre, traz...
X
6510
Meus dias quando outrora alvissareiros,
Raríssimos troféus de uma esperança.
Promessas de vitória e seus loureiros,
Julgando bem mais forte uma aliança
Primor de velhos sonhos que, guerreiros,
Morreram sem resquícios na lembrança.
No lodo em que emergi, pr’a sempre imundo,
Charneca de meus olhos, falsidades,
No pélago vazio em que me inundo,
Distante de pureza e castidades,
Vagando sem ter rumo pelo mundo,
Apenas me restando tais saudades...
No crocitar de uma alma prisioneira
Somente a solidão é companheira.
X
6511
Ao ver a silhueta tão esguia
De quem sempre sonhei, imagem bela.
Percebo que em verdade eu já vivia
Na busca de quem deusa enfim, revela.
Relances maviosos da alegria
Onde um futuro em fausto, amor já sela.
Amor, um velho bruxo, feiticeiro;
Se faz pura magia e forte encanto.
Um sentimento nobre e verdadeiro
Emoldura beleza em breve canto.
Enfronha-se em palavras, sorrateiro,
Pegando de surpresa, um mago espanto.
Ao ver a silhueta tão esguia,
A noite mergulhando em fantasia...
X
6512
Tristeza, doce amiga da saudade,
Vestindo uma pobre alma penitente.
Ressoa desde a minha mocidade
Deitada em minha cama, enlanguescente.
Vivê-la é mais que só fatalidade
Que toca um velho peito tão descrente.
Condiz com cada sonho em minha vida,
Refém de longo tempo em vago riso.
Caminho por vereda mais florida
Ausente do perfume; perco o siso.
Na face em dor intensa, contraída;
Distante do que penso, um paraíso...
Aberto o coração não se renova
Aguarda simplesmente a sua cova...
X
6513
Cantando o pleno amor, tão docemente
Em termos que me fazem namorado
Da lua que se explana totalmente
Em brilho, com teu colo prateado.
Percebo uma ousadia mais presente
Num ato que se mostra delicado.
Na sutileza calma deste gesto
Invade meu jardim, clareia as rosas,
Senhora do meu sonho em que eu empresto
As mãos em seus carinhos, desejosas.
Quem veio de outro tempo tão funesto
Se esbalda com delícias perfumosas...
Procuro amada lua em qualquer parte,
Bem certo destes lumes em plena arte.
X
6514
Além do que sonhei que já tivesse
Do encanto que se fez contentamento.
É como se deveras, numa prece,
Amor de dores fosse assim isento.
Porém o duro Fado não esquece
Sequer por um segundo ou um momento.
Às ordens deste amor, estou sujeito,
E assim se fazem cantos mais diversos.
Professo mesmo embalde o meu direito
Na busca da alegria nestes versos.
Tu queres e bem sabes que eu aceito
Oferecendo a ti meus universos.
Enganos proferidos sem descanso,
Teu mundo que procuro e não alcanço...
X
6515
Profundamente imerso em tantas ânsias,
Calejo uma emoção em corpo frágil.
Percebo, nos teus olhos repugnância
Na fuga que encetaste, bem mais ágil.
Nas dores que guardei em leda infância
A sorte que sonhara, simples plágio.
Ao ver-me assim, exposto a tais ruínas,
Do altar que imaginei, amor sincero,
Na luta que bem sei tu abominas
A solidão devora em gesto fero.
Numa ressurreição de antigas minas
Um resto de ilusão que ainda espero.
Os vermes pouco a pouco me tomando
Não sei se aguardarei nem até quando...
X
6516
Na solidão noturna me recolho
E vejo tua sombra na parede;
Meu sonho mais esguio, sem ferrolho,
Na boca imaginária mata a sede.
Na sombra um brilho fosco reflete o olho
Num incêndio saudoso, a velha rede.
Procuro, sem sucesso, te tocar,
Apenas o vazio por herança.
Os raios portentosos do luar
Inflam, num momento esta esperança.
Mas nada encontrarei. Só, a brilhar,
Um rastro faiscante, uma lembrança.
No espelho de meu quarto, um vago senso,
Reflete o nosso amor que foi imenso....
X
6517
Meu verso, um velho cego e obsoleto,
Qual sombra do passado ledo e tolo,
Embora tantas vezes vá inquieto
Não serve nem sequer mais de consolo.
Esmago cada sonho, um vil inseto,
Semente que se aborta em seco solo.
Jogado sem defesa às duras feras
Em tal canibalismo que me assusta.
Refém das desditosas primaveras
Em látega vontade mais robusta.
Num precipício imenso, vãs crateras,
Além do que pensei; amar me custa.
Meu verso abandonado, pobrezinho,
Morrendo em rima e métrica, sozinho...
X
6518
A noite em plenilúnio, mansa e pálida,
Deleita-se contigo, deusa nua.
Lúbrica fantasia de crisálida
Que em sonhos se entregando, já flutua.
Deitando num remanso, doce e cálida,
Temerosa pressente e enfim recua.
Amar é se entregar, louco sacrário,
Fazendo de outro corpo o seu altar.
No beijo que procura, senso vário,
Derrama-se em deleites ao luar.
Na cama ensangüentada, seu sudário,
A fome e saciedade a se buscar.
Refém deste desejo que a domina,
Mulher incandescendo uma menina...
X
6519
Temor que me invadindo, formidável
Transborda em solidão, velha quimera.
Abrindo no meu peito uma cratera
Na fome e no vazio interminável.
Além do que julgara miserável,
Mordendo devagar, teimosa fera.
Espero a solução que nunca veio,
Envolto nesta treva, sem destino.
Frágil lembrança, tosca de um menino,
Na noite solitária, um vão receio.
O medo ressurgindo, vem a pino;
Nos passos de um amor que inda rastreio.
A boca abandonada se apedreja,
Sonhando com os lábios que não beija...
X
6520
Guardado em catedrais que sei imensas,
Um coração se faz em duras datas,
Na vívida lembrança de outras crenças,
Nas hostes doloridas, velhas matas,
As sensações passadas, mais intensas,
No aluvião das dores insensatas...
Focado por mistérios sensuais,
De tempos que se foram, seus enganos.
No olhar vazio, mares abissais
Negando a novidade de outros planos.
Os dias que se foram, nunca mais,
Regendo o seu futuro, soberanos...
Que faço se este amor, um temporão,
Infausta novamente, o coração?
X
6521
Na tosca sensação de vaga mente,
Refém de lerdos sonhos em volteios.
Sem tréguas que refaçam meus esteios,
Entrego-me aos teus olhos de serpente.
Veneno me inoculas, ás ardente
Na sôfrega ilusão de meus anseios.
Arrefecendo os sonhos, ledos freios,
Agônico, mergulho em lagos quentes.
Tua sensualidade, doce fúria,
Fomenta nossa noite mais espúria,
Tornando meu desejo tão disforme.
A noite semimorta já não dorme,
Tomada por luxúria, insensatez...
No gozo venenoso em que se fez...
X
6522
No rastro de teus mágicos perfumes
Espreito no caminho em que prossigo
O resplendor dos passos feitos lumes,
Nas lutas que prevejo, um santo abrigo.
Seguindo qual falena vou aos cumes
Mais tenebrosos plenos de perigo.
Percebo-te voraz em teus queixumes,
Além do que pretendo e não consigo.
Cupido em seus delírios; lança as setas,
Aufere seus desejos, suas metas
E em febre me atingindo, me aquebranta.
Aquém do que sonhara um ermitão,
Tomado por loucuras da paixão,
Um coração tão frágil já se encanta...
X
6523
Transita o vero amor, matéria fina,
Que, gerado em deslumbres de carinhos,
Retendo a qualidade de bons vinhos,
Em tempo o seu valor se determina.
Calcado em tanta paz, alabastrina,
Valora-se em detalhes, raros linhos,
Mesmo quando defronta com espinhos
Transborda em limpidez, tão cristalina.
Início que se fez luxúria e gozo,
Retoma em mansidão, mais carinhoso,
Um sentimento quase de mormaços.
No doce badalar de calmos sinos,
Depois das tempestades, desatinos,
Toda a suavidade de teus braços...
X
6524
Mal consigo dormir se não estás
Deitada do meu lado, brasa acesa.
Ardendo em vera chama, amor se faz,
Depois de toda a festa em sobremesa.
Sorvendo assim de ti, sou bem capaz,
De receber o vento que me tesa,
Fazendo tanto amor, querendo mais,
Navego nos teus mares de princesa.
No jogo que incendeia a nossa cama,
Brincando em flamejantes tentações.
Insisto em te querer, fogosa trama,
Nas asas tentadoras das paixões.
Amor em seus matizes, toda a gama,
Explodindo em milhares de emoções...
X
6525
Por mais que o amor maltrate um sonhador,
A solidão machuca muito mais.
Amiga, neste mundo; o desamor,
Acaba com sorriso, e mata a paz.
Se teimo em cada verso, um amador,
A dor já me feriu, e por demais.
Do tempo em que vivia sem calor,
Não quero recordar. Viver jamais...
Por isso minha cara companheira,
Não deixe de querer amar alguém.
Uma esperança, eterna jardineira,
Um dia te fará bela surpresa.
Amor, por mais distante, sempre vem,
Cobrindo a tua vida de beleza....
X
6526
Os dias se passando tão gelados,
As nuvens da tristeza vão se abrindo,
Lembranças de outros dias prateados
Teu rosto mais bonito me sorrindo...
Os sonhos que me tomam são alados
Mas logo a realidade me ferindo,
Secando tantas fontes, morrem prados.
Meu mundo que se fora belo, lindo...
Tua pele macia, em alva neve,
Num delírio feliz, num vôo breve,
Qual fosse uma ilusão que se levanta,
Alçando meu desejo ao infinito...
Distante deste olhar, meigo e bonito,
Nem mesmo uma esperança leda; encanta..
X
6527
Meus sonhos, belas dálias no meu peito,
Eflúvios da paixão indefinidos.
Num átimo buscando ser eleito
De amore que se fazem dos olvidos.
Num límpido segredo,satisfeito,
Eu adormeço a paz de ter sentido
Em esplendor raríssimo e perfeito
Todo o temor que houvera, resolvido.
Caminho pelas sendas florescidas,
Buscando pelas fontes sempre frescas,
Montanhas, cordilheiras gigantescas,
Não ousam impedir as nossas vidas.
No sonho em que esse amor já me enternece
Eu agradeço a Deus, louvor e prece...
X
6528
Falar-te de sonetos e de rimas,
Parece ser inútil, companheira.
Se zombas de quem sabe e discriminas
Mostras uma ignorância verdadeira.
Não quero nem desejo t’as estimas.
Palavra tão ferina, uma besteira.
Desiludida sempre, quando afirmas,
A causa se demonstra assim, inteira.
Quem guarda tanto fel por estandarte
Maltrata quem não quis te magoar.
Atira sem saber, em qualquer parte,
Berrando, vocifera, sem motivos.
Difícil te entender e perdoar,
Soberba nos teus olhos mais altivos...
X
6529
Não falo mais de mel nem de doçura,
Querida, o diabetes aumentou.
Cansado de beber cachaça pura,
Apenas este fel, o quer restou.
Retrato nesta sala, sem moldura,
Nem mesmo a solidão ele curou.
Uma água mole bate até que fura,
Quebrantos sem sentidos, me deixou.
Preciso deste amor, jamais neguei,
É fato que te quero a cada instante.
Não sabes quanto a ti me dediquei,
Não sou, como tu pensas, um farsante.
Porém em tanto amor me adociquei,
Que a vida já passou, sem adoçante...
X
6530
Meus passos fraquejando vão trementes.
Vazios, os meus olhos, vou cansado.
Na boca que me beija uma serpente
Esconde seu veneno que instilado
Domina todo o corpo e toda a mente,
Vagando o tempo todo do meu lado...
Seu beijo que me toca, me incendeia
E forma uma ilusão que, cedo, passa.
Tomando tal veneno em minha veia
Tonteiras e fascínios, viro caça.
A mão que me acarinha, esbofeteia,
Caminho sem ter tréguas à desgraça.
Estou preso à loucura suave e doce,
Inferno em paraíso, como fosse...
X
6531
Beijando ao mesmo tempo me assassinas
Com pérfido sorriso, tão medonha.
Mal sabes, sendo assim tu me fascinas
Na sensação estranha e tão bisonha
Contaminando assim belas boninas
Na fétida alegria que me enfronha.
De todas as surpresas, fatigado,
Encaro estas estradas mais poentas.
Maldigo a cada instante este meu Fado
Buscando outras histórias bolorentas
Que tirem minha vida deste enfado
Das luzes e penumbras violentas.
O solo movediço em que, assim, piso,
Servindo como alerta, como aviso...
X
6532
Profunda sensação de fundo corte
De adaga putrefata ainda ecoa.
Promessa benfazeja de uma morte
Que vem silenciosa e não perdoa.
Quem dera se tivéssemos a sorte
De um barco abalroado em plena proa.
Talvez não rastejasse esta saudade
De um tempo em não fui simples cativo.
Desilusões perpétuas, dura grade
Moldando minha vida em forte crivo.
Dos sonhos que morreram sem alarde,
Até desta vontade já me privo.
E rondo qual falena,à morte um lume,
Sem lágrimas, sem medos, sem queixume...
X
6533
Tais sendas que percorro, tenebrosas,
Apenas esperanças inda alvejam
Tentamos espalhar perfeitas rosas
Porém somente cardos já vicejam.
Em mãos que se apresentam, belicosas,
Meus dias, tempestades os negrejam...
Sentindo-me mais frágil e impotente
Lavado em sujas águas, sem destino.
Fingindo tantas vezes ir contente,
Mentindo sobre um céu alabastrino;
Meu barco carregado por corrente
Que leva ao suicídio, desatino...
Roseirais apodrecidos no jardim,
O nada, simplesmente , dentro em mim...
X
6534
Sou mais do um simples prisioneiro
Perdido nestas pérfidas batalhas,
O mundo que se mostra carniceiro
Invade com as fétidas navalhas
Rasgando o coração, sangrando inteiro
Pois quando tu me beijas, me retalhas.
Sorrisos que encontrei nestas hienas
Que gozam do martírio de quem sofre,
São máscaras que mostras quando acenas,
Tomando minhas dores, vem de chofre,
No regozijo espúrio finge penas
Teu perfume recende ao próprio enxofre.
Mas nada do que fazes me retém
Da vida sou estúpido refém!
X
6535
O medo de morrer que me tocava
Causando em minha vida um fundo corte,
Transmuda-se em desejo bem mais forte
De um jeito que jamais imaginava.
Estúpido; nas ruas ,quando andava
Nas madrugadas frias, cheiro forte
Da podridão de uma alma que recorte
Os sonhos em que, tolo, eu me banhava.
Nos goles da aguardente, confissões,
Esparsas cicatrizes se acumulam,
Invés de porta aberta, paredões;
Em troca de um sorriso, cusparadas.
Somente as podres bocas que me osculam
Se mostram mais amigas, camaradas...
X
6536
Viver amor passado novamente,
Parece uma loucura, minha amiga.
Depois de tanto tempo, mais descrente,
Caminhos que passamos, não prossiga.
Porém comida fria que requente,
Talvez matar a fome inda consiga.
No caso, nova chuva se pressente,
Molhando nossa casa tão antiga.
Um tronco que cortado, brotará,
Quem sabe novos frutos surgirão?
Na chuva intermitente de verão
Sementes já lançadas nascerão.
Granando uma esperança colherá
O resto deste amor florescerá?
X
6537
Se sonho muito além do que mereço,
Talvez seja ilusão, querida amiga.
Um passo bem maior eu obedeço,
Impede que esta dor assim prossiga.
A vida se fazendo em um tropeço,
Não deixa que meu canto crie liga,
Porém se um verso novo eu enalteço,
Meu mundo num segundo trama a viga.
Se faço o dia a dia em esperança,
Traçando a cantoria mais risonha,
No fim da noite espero pela dança
Além de todo o bem que se proponha,
Meu peito de menino, de criança,
Não pára de querer, por isso sonha...
X
6538
A mão que te procura não se atreve
A mendigar carinhos, orgulhosa.
Quimera que me toma em alva neve,
Perdendo o bom perfume, nega a rosa,
Que o tempo que passamos não preserve
Sequer a tua luz, maravilhosa.
Sou aspas e parênteses, um til,
O resto do que foi um sonho lindo.
A morte tão voraz e mais sutil,
Aos poucos minha porta vai abrindo.
No toque delicado é bem sutil,
E em passos quase rápidos, vem vindo...
Sonego uma esperança, nego a sorte,
Na doce mansidão de minha morte..
X
6539
Qual fúnebre mortalha, um agasalho,
Viagem, sortilégio derradeiro.
À campa em que descanso e me agasalho,
Forrado pelo amor mais verdadeiro.
Distante do prazer e do trabalho,
Meu corpo se entregando, vai inteiro...
Amantes delicados e vorazes,
Nos lábios decompostos um sorriso,
Cortantes os insetos, as tenazes,
Minha alma tão longínqua, me hipnotizo,
Estranhas sensações que são fugazes,
Visões que percebi do paraíso...
Do corpo que perdi, a liberdade
Do sonho de viver eternidade...
X
6540
Transformações estúpidas que traço
Em todas as facetas da matéria.
Na ebulição do sonho em que me faço.
Apátridas poções, negra miséria.
Nas hordas que dominam cada espaço
Os homens se parecem com bactéria.
Na podridão da fome que se espalha,
Devoram as crianças recém natas.
Sórdida proteção de uma batalha
Permite que se esgarcem casas, matas.
No corte tão cruel de uma navalha,
Guerreiros e soldados, casamatas...
Nas mãos dos esmoleres da esperança,
Ganância e servidão voraz, avança..
X
6541
A força que me doma está disforme
Em pútrida garganta se regala,
Estúpida esperança que não dorme,
Espreita silenciosa em minha sala.
Um coração afeito a coliforme
Em látegos castigos, nada fala
Errantes emoções, podre destino,
Num abissal e tétrico sorriso,
Revirando minha alma em desatino,
Prenúncios esgarçados num aviso.
No vago de teus olhos me alucino
E louco, a dor espúria, logo biso.
No centro de meu mundo uma discórdia
Somente uma mentira, vai, acode-a...
X
6542
Carrego dentro em mim uma alma triste,
Afeita a tantas dores, agonias.
Porém o coração teimoso insiste
E chove em tempestades nos meus dias.
Parece que ilusão, não sei, existe.
Contaram-me em sonho as fantasias...
Por que viver assim, Senhor Meu Deus?
Permita que eu te implore meu descanso.
Embora em meu olhar pressinta adeus,
O sol volta a brilhar quebra o remanso.
Quem dera se estes olhos tão ateus,
Pudessem vislumbrar, mas não alcanço.
Ó vento da saudade, seja forte
Presenteando então com minha morte...
X
6543
Os véus que te cobriam, alvas neves,
Em sonho imaculado de grinaldas.
Além do que desejas não atreves
Amores eu bem sei já não desfraldas,
Nos olhos maculados me descreves
As noites que passaste em doces caldas...
Guardando para si tais dissabores
Das chamas que envolveram teu passado,
Refletes noutras camas, despudores
Fingindo num sorriso disfarçado,
Trazendo nos teus dentes puras flores
Magias de loucuras e pecado.
Te sinto estremecer logo ao me ver,
Resquícios deste tempo de prazer...
X
6544
Quando sinto o gozo de teu riso
Que é para a vida doce mantimento,
Vibrando em tal delícia, o pensamento,
Se faz sem mais delongas, paraíso...
No amor que assim cedo diviso,
A força em que me guio e me sustento.
Um sentimento nobre e tão profundo
Que invade sem escusas, excelente,
Tomando sem juízo, uma aguardente,
Que inebria, sincero, onde me inundo.
Trazendo um claro estio, sempre quente.
Aonde mergulhando me aprofundo.
Mulher querendo sempre merecê-la
Eu trago uma alegria feita estrela...
X
6545
Saudade, crudelíssimo carrasco
Formada em tão terríveis vendavais,
Veneno que se entorna em frio frasco,
Sem nada construir, tão contumaz.
Reduz a minha vida a um fiasco.
Resseca todo o sonho, mata a paz.
As bocas que beijei, ledo passado,
Sorrindo e penetrando outros desejos.
Recado recebido e disfarçado
Em forma de ironias ou de beijos.
Felicidade nunca foi meu Fado,
Os dados mal jogados, os despejos.
Meus dias vãos passando; cegos, tensos.
Os vales da saudade são extensos...
X
6546
Fomentas nos meus antros cerebrais
Distintas ilusões sobre o futuro
Às vezes simplificas os banais
Tormentos que me tornam bem mais duro;
Por outras deturpando os mais boçais
Medos, onde sempre me emolduro.
Meus dias, quando negros, temerários,
Encharcam a minha alma, podre lama.
Os rogos que me trazes, tão sectários
Invadem ilusões em cada trama.
Desejos que predizes, mercenários,
Açodam minha boca em negra chama.
Minha alma em tão sutil putrefação
Aguarda depois disso, a solidão...
X
6547
As dores me entranhando são vorazes
Inoculando, amargas, as peçonhas.
Cortantes, vigorosas, tais tenazes,
Traçando minhas noites tão medonhas.
Algozes dos meus sonhos, bem mordazes,
Garatujas irônicas, risonhas.
Por mais que seja um rígido rochedo,
Meu peito se demonstra destroçado.
No gosto de teus lábios acre, azedo,
Resumo de um destino malfadado.
Em hediondos ritos, os enredos;
Se perdem neste céu negro, nublado...
A sorte abandonada num cassino,
Derrotas que acumulo. Meu destino...
X
6548
Ceifeiros, os meus sonhos te procuram,
Arando uma esperança a cada verso.
Distantes de teus olhos me torturam,
Semeiam ilusões pelo universo.
Nos dedos tão macios, sensuais,
As mãos de quem adoro me chamando.
Formando com estrelas, festivais,
Em brilhos, pelos céus, vão desfilando...
Transcendem tanta paz pelos espaços,
Mostrando o bom caminho que me guia.
Estreitam mais fortes, nossos laços,
Além do que, talvez, se poderia...
Deitar em tuas pernas, sonho e cais,
Meus sonhos te buscando... Nunca mais...
X
6549
Amor que maltratando; me tortura,
Trazendo a solidão como estandarte.
Busquei a vida inteira por ternura,
Distante do saber desta fina arte.
Na luta por paixão e por candura,
Pensei que amor se encontra em toda parte.
Realidade mostra-se tão dura,
A vida não cedeu sequer aparte...
Se toda gente assim, de amor soubesse,
E como é doloroso um bem querer,
Que o coração teimoso já padece
Distante de quem sonha conviver...
Sabendo quanto custa o querer bem,
Não queria, jamais gostar de alguém...
X
6550
Galgando no teu corpo um belo porto,
Aonde eu descobri mapa e tesouro.
Depois de tanto amor, vou quase morto,
Brilhando de suor, eu encontro o ouro.
Fazer amor, delícia de desporto
No gozo detonando um belo estouro.
Delírio que me deixa sempre torto,
Mas sempre benfazejo, um bom agouro.
Servir e ser servido em abundância,
Molhando tua boca na enxurrada,
Deitar tua nudez com elegância,
Vagando nossa noite iluminada,
Nos ápices profanos, chafariz,
No lago, imensidão, eu sou feliz...
X
6551
Riqueza incomparável de ouro e prata
Tornando em diamante nossas vidas.
Na força maviosa da cascata
Redime nossas horas já perdidas.
Um norte que nos toma e arrebata
Achando em labirintos, as saídas...
Num mar que se permite em tantas ondas,
- A vida – transformando em calmaria
As tormentas que fazem suas rondas
Deixando muita dor em agonia.
Riqueza que se encontra na verdade,
No rosto companheiro, num sorriso.
Quem tem este tesouro, uma amizade,
Por certo já tem tudo o que é preciso...
X
6552
Se tentas me ferir, querida amiga
Acaba por ferires mesmo a ti.
Não percamos mais tempo e que prossiga
Passo a passo esta estrada que vivi
E que vivemos sempre em forte liga;
Tu sabes que estarei tal qual te vi
Seguindo nossa sorte sem tardança
Nas curvas mais difíceis, laço forte,
Parceiros nas tristezas e nas danças,
Lançada há muito tempo nossa sorte,
Bebemos destas mesmas esperanças
Até quando chegar final ou morte.
Incríveis nossos passos par em par,
Janela que insistimos destrancar.
X
6553
Castelos e sereias, a princesa...
O corte tão profundo já levou.
De toda a fantasia que ficou,
Um gosto tão amargo da tristeza...
Mas a tarde trará nova certeza,
Mesmo que o sol que veio não brilhou
Outro virá trazendo o que sonhou.
Enfim te cercará de tal beleza
Que nunca lembrarás do antigo sol.
A vida te promete este farol
Que sempre te trará a claridade!
E tudo que parece tão distante
Muda-se, de repente, num instante,
O amor já te trará felicidade!
X
6554
Eu quero me entregar completamente;
Vibrando dentro em ti toda a loucura
Gostoso sentimento, de repente,
Que traz todo o desejo da procura...
Verter o meu delírio com que sonhas,
Rodar minha cabeça, ficar tonto,
Perdemos os pudores, as vergonhas,
Querida; vem agora, pois 'stou pronto
P’ra te fazer feliz, perder o nexo,
E te levar comigo, ao infinito
Onde somente amor, tesão e sexo
Permitem que se cumpra o nosso rito
De sermos num momento um só ser
Gostosa sensação, santo prazer...
X
6555
Por mais que esteja longe, Minas há.
Depois de tantos montes, esquecida...
Nos vôos, pensamentos, chego lá
Bebendo em procissão, a fé na vida.
Na febre que não passa, mãe, pai, chá,
Qual fosse uma esperança adormecida
No canto desta estrada, voltará
No campo, na lavoura, em nossa lida.
Na Minas dos amores, das Igrejas
Dos cemitérios, luzes e luares.
Dos goles de cachaça, das cervejas
Nos bares da saudade, lembro o rosto
Daquela que eu amei, doces pomares
Dos beijos e carinhos... Tira-gosto...
X
6556
O canto que em minha alma se derrama
Trazido pela voz de quem sonhara.
Dizendo mansamente que, enfim, me ama,
Numa emoção profunda cara e rara.
Ao longe, quem adoro já me chama
Meus sonhos mais felizes ela ampara
Com doce sensação em nossa trama
Da flor que no jardim me perfumara.
Amada, não permita que a saudade
Nos tome por reféns e nos magoe.
Amar é ter noção da liberdade
Nas asas que criamos com carinho.
Por isso neste canto sempre voe
Amor que se inspirou num passarinho...
X
6557
Quem ama nos ensina que na vida
A falha cometida no passado,
Se noutras vezes, sempre repetida,
Mostra que quase nada foi guardado.
Etapa por etapa assim cumprida,
Capítulo bem visto e encerrado,
Lição já decorada e aprendida,
O resto: bem melhor deixar de lado...
Acendendo uma vela que clareie,
Iluminando o rumo tão escuro;
Permite que o futuro não receie
Aquele que aprendeu esta lição:
“Pensando neste brilho que procuro
Eu deixo assim de lado, escuridão...”
X
6558
Ao te ver na distante e tão risonha serra,
O meu olhar te procura, em sonhos derradeiros.
Amargor da saudade em volta dos ribeiros.
Na trilha desta serra a marca d’uma guerra.
A noite sem ter sonho é triste, e me desterra...
Esperas, qual princesa, os bravos cavaleiros.
Eu só posso te dar, amores verdadeiros.
O teu belo castelo, está em outra terra.
A natureza rara, em alegrias, canta.
O pássaro que voa a quem escuta, encanta.
Só Deus nunca me escuta, embalde minha prece...
A nuvem, escondida, aguarda; trará chuva.
A mão que me tortura esmera-se na luva.
A tarde vem caindo, a noite me envelhece...
X
6559
Embora tantas vezes bem escuro,
Caminho que busquei foi sem espanto.
Além desta verdade que procuro
Em cada novo dia, novo canto.
O chão que sem promessas se fez duro
Agora não suporta mais meu pranto.
Enquanto simples rumo que eu trilhava
Mostrava mais percalços que alegria,
Inútil meu olhar se ensangüentava
Na sombra mais cruel do dia a dia,
Vulcão que se perdeu sem ter nem lava
Não deixa fumegar a poesia.
Minha alma incandescente vai, soturna,
Embrenha sem ter rumo em negra furna...
X
6560
Jogado nas sarjetas, quase informe,
Devoro o que restou de fino prato,
Uma esperança morta já não dorme,
Apenas esboçando o meu retrato.
Quem teve um sonho breve, quase enorme
Só vive destes restos que hoje, eu cato.
Elementares ordens que quebrei,
Fomentos de vinganças descabidas.
A morte simplesmente, traça a lei
Invalidando sempre nossas vidas.
Do pouco que não quis nem esperei
As sobras vão embalde, repartidas.
Na paixão de viver, tão violenta,
Do aborto em que nasci, restou placenta...
X
6561
Preciso que me entornes pás de cal,
Jogando meu cadáver pelas ruas,
Sugando cada vez mais, afinal
As horas que passamos foram tuas.
Um verme tão arcaico e ancestral
Não pode perceber, estrelas, luas...
E prestes a morrer, fétido, espúrio,
Se adorna em versos loucos e bizarros.
De lírios e de cravos, sem antúrio
Coberto pelas lamas, pelos barros.
Quem fora procurar por um augúrio
Encontra em boca aberta, só catarros.
Dissolvo-me em pedaços, a feder
Apenas só me resta, então, viver...
X
6562
Paço do Lumiar, talvez um sonho,
Cravado no Brasil, nascido em luz;
Com nome tão brilhante e tão risonho,
A claridade na alma reproduz...
No mundo dentre trevas, injustiças,
Medonhas discrepâncias e quimeras.
Crivado de maldades e cobiças,
As ruas, capital, entregue às feras.
De repente, uma luz chama atenção...
Surgida na palavra, na cidade,
Que em si nos demonstrando a solução
Quem sabe de viver felicidade...
A vida sempre está no limiar.
O sonho neste paço, Lumiar...
X
6563
Percorro a cada noite, a vastidão
Que nos separa, amada; ganho o astral
Montado no cavalo/coração
Estrelas recolhendo em meu bornal.
Tocando a bela lua em sedução
Até chegar a ti, quando afinal
Me entrego, sem temores à paixão;
Matando esta saudade que é fatal.
Os raios da alegria, trago-os eu
Teu mundo, neste instante, é todo meu,
Num cofre delicado da ternura.
Distâncias não me importam, pois sou teu,
E bebendo desta água que é tão pura,
Esqueço a minha sede de amargura...
X
6564
Amiga não se esqueça da bonança
Que toda tempestade já promete.
Um laivo de alegria e de esperança
Na história que pra sempre se repete.
Cansaço que surgir depois da dança
Deixando na cabeça só confete,
A noite sem parar, depressa avança,
Mas que isso nunca fira nem afete
O gosto do prazer que tens agora,
Quem sabe guardarás raro confeito,
Se toda uma alegria não demora,
Durante certo tempo satisfeito,
Teu mundo na saudade revigora,
Amar será pra sempre, teu direito!
X
6565
É triste perceber quanto incomoda
A roda que se faz em alegria.
Na mão sinto a tesoura de quem poda
O sol que não sabia e não queria.
Desculpe se um perfume bom açoda
E traz para as narinas, a magia.
Poeta que se fez fora de moda
Eu canto amor, amigo todo dia.
Nos leves bruxuleios, lamparina,
Vestidos de cetim, rios e riso,
Na saia tão bonita da menina
Vislumbro a perfeição do paraíso.
Um velho coração que descortina
Amor que me tirou, decerto, o siso...
X
6566
Percebo quando o olhar, querida, cerras,
Em doces convulsões vai se tomando,
Nas nossas aventuras, paz e guerras,
Ternuras que nos lambem, devorando.
Gemidos incontidos, quase berras,
Relances que se mostram sempre quando
A noite se faz rara, o supra-sumo,
Vertigens e delitos, louca estrada
Aonde nosso caso encontra o rumo
E pede que tarde uma alvorada.
Tomamos desta fruta todo o sumo
Com sede, alma voraz, alucinada.
Olhares tão sedentos querem mais,
A dose se repete: é bom demais!
X
6567
Febril, num turbilhão, em seus volteios,
Tocando minha mão suavemente,
Na intumescência bela de teus seios,
À boca se permitem, alvos, quentes.
Quadris vão prometendo bamboleios
Em tantos devaneios, mais urgentes.
Prazeres se transformam em incúrias,
O corpo desejado logo açodo,
Envolto em mil pecados, em luxúrias,
Retorce-se em delírios como um todo.
Os lábios transbordando loucas fúrias
Bebendo em fina taça todo o lodo.
E assim na nossa dança sensual
A noite vai passando, colossal!
X
6568
Desenhos do teu rosto em cada canto,
Fotografia clara da esperança
Que toma minha vida em tal encanto,
De um amor que a saudade ainda alcança.
Na nossa casa simples, de amianto,
O que restou servindo de fiança.
Qual rio que, em nascente, já secou,
Só deixando o vazio em suas margens,
Assim também aqui tudo ficou
Lembranças que parecem mais miragens.
Tomando todo o quarto e o que inda sou.
Gigantes, discrepantes defasagens...
Mostrando que já fui feliz um dia,
Lembrando que existi: fotografia...
X
6569
Quando a vi, sustenidos e bemóis
Ressoando na casa iluminada
Por vários tons, matizes de mil sóis
Trafegando degraus em escalada.
Ascendendo lances logo após
As marcas que encontrava; todas... cada.
Vestida de nenúfares sabia
Que a cada novo passo vaporoso
Tornava-me refém da fantasia
De ter e ser além de simples gozo.
Nos sons que com certeza, entranharia;
Mostravas seu perfil tão belicoso.
Numa alucinação febril, insana,
A lua desfilava soberana...
X
6570
Qual vento que lambendo os arvoredos
Refaz um sonho manso e sensual,
Nas águas que se encharcam deste sal
Lacrimado na angústia de meus medos,
Percebendo aspereza dos penedos
Marchetados por gotas de cristal,
A vida se mostrando desigual
Abarca, sem limites, meus enredos.
Em versos que jamais foram refeitos,
Meus erros acumulo em tensos preitos,
Farsantes sensações; saudade e bem,
As mãos em cicatrizes dolorosas,
Recebem das perfídias; mortas rosas,
Nascidas nos desejos de outro alguém...
X
6571
Teu olhar causa inveja ao próprio sol
Em rara formosura e claridade.
Transmite a sensação de majestade
Por sobre a negritude do arrebol.
Estrelas te perseguem, qual um rol
Formando purpurínica beldade.
Prisioneiras da antiga mocidade
Fugidia. Distante girassol,
Procura pelo brilho e fausto acerto
No verde de esperanças em que me olhas,
Revelando em veredas belas folhas,
Ao vento fustigando por completo
Fomentas meus anseios mais recônditos
Desejos que transmites, são indômitos...
X
6572
Nos espinhos que sangram, inocência,
As marcas das tristezas, injustiças.
Quem bebe da esperança, florescência
Buscando em noites duras, movediças.
As mãos erguidas pedem por clemência
Mas naquilo que dizes, tu me atiças
E os odientos dias são heranças
Que deixas espalhadas pelo chão.
Semeias em verdade, com pujanças
Futuro de vergonha e podridão.
Nas crápulas, vazias, alianças
Demonstras o que queres: servidão.
Passeias pelas ruas inclemências
Granando assim incúrias e demências...
X
6572
Olhos estranhos, sôfregos, abertos
Ocupam neste quarto, seus espaços,
No gelo que transmitem; frios aços,
Indefinidas formas de desertos.
Quais fossem, distraídos, descobertos,
Arranham na parede sombras, traços,
Perfilam negritudes, ocos, baços,
Vigiam cada sonho, estão despertos.
Maculam minha noite solitária,
Acendem as tristezas, meus delírios,
Apenas os amores, quais colírios
Transformam esta forma temerária.
Mas sinto que persisto ledo, pária
Restando ao meu cadáver, cravos, lírios...
X
6573
A poesia, insana companheira
Espalha em simples versos, emoções.
Transmuda, num segundo, as ilusões,
Nas mãos desta terrível feiticeira.
Às vezes diversão como bandeira,
Em outras; sofrimentos e paixões,
Loucuras em gigantes proporções;
Tocha que nos perdendo nos inteira.
Amarguras e risos se sucedem,
Em tresloucada estrada, maestrias.
Os versos muitas vezes não concedem
Senão estas verdades incompletas,
Alquímicas palavras, mil magias
Nos dedos tão sensíveis dos poetas...
X
6574
Quem veio de cismar em outras eras
Num lírico desejo inatingível,
Aguarda a solução de primaveras
Que tragam novo dia mais tangível.
As dores, minha herança, mais severas
Se fazem quase um muro intransponível.
A sorte em passarela, noutro nível,
Com garras afiadas de panteras
Deixando o meu olhar incerto e vago.
Invejo a placidez de um manso lago,
Espero que a tempesta chegue ao fim.
Mas nada do que vejo me traz calma,
Vazios se sucedem em minha alma,
As lágrimas porejam dentro em mim...
X
6575
Viver sem ter sequer uma emoção
Matando, em nascedouro, o sentimento.
Tomando de agonia o pensamento,
Rasgando sem dar trégua, o coração.
Assim depois dos cortes da paixão,
Vencido; sem defesas, no momento
Na busca pela paz do esquecimento,
Pedindo em toda forma de oração;
Aos deuses mais distantes e diversos,
Em sonhos, pesadelos mais dispersos,
A salvação que nunca chegará.
Meus últimos suspiros de esperança
Já fazem com a morte, uma aliança
Que, creio, desta vez, me vencerá!
X
6576
Percebo em teu sorriso tal desdém
De quem se mostra assim, superior.
Buscando uma resposta, mas ninguém
Sabe dizer por dádiva ou favor.
Do nada em que surgiste, nada vem,
Nem mesmo uma mortalha a me compor.
Perguntas, ( ironia?) por que choras?
Não vês o meu amor, que é tão imenso?
Demoram-se distantes, ledas horas;
O dia transcorrendo seco e tenso.
Vitrais das esperanças quando estouras
No corte que provocas, mal intenso,
Recebo em estilhaços, fundos cortes,
Sabores variados têm as mortes...
X
6577
Um rudimentar verme, apodrecida
Carne em putrefação, sem esperança,
Tomando o que restou de simples vida,
Comendo sem limites, à fartança,
Esgueira as ironias, ressentida,
Em gula, violenta, intemperança
Num banquete inconteste, loucos risos.
Orgásticos delírios, sem ter nexo.
Teus dentes pontiagudos e concisos
Penetram no meu cerne, amor e sexo.
Vagando labirintos imprecisos,
Num passo temeroso e mais complexo
Daquilo que sonhei e se perdeu,
No amor que tanto sei, nunca foi meu...
X
6578
Vicissitudes tantas, alma morta,
Exposto aos turbilhões de carniceiros,
Na súcia das mortalhas que me aporta
Extingo meus desígnios traiçoeiros.
Nem mesmo um vão sorriso me conforta
Nas mãos destes vorazes feiticeiros.
Sobrando um vago olhar sobre a carniça
Daquilo que já fui, paisagens toscas.
Olhar que me destrói, pura cobiça
Ao tempo em que me beijas, já em emboscas.
Formando inextinguível, dura liça
Cobrindo o meu cadáver, tantas moscas...
Vomitas sobre os restos, meus destroços,
Devoras, sem ter pena; até meus ossos...
X
6579
As bombas explodindo aos borbotões,
Reféns da estupidez, meninos mortos,
Caminhos desvalidos, loucos, tortos
Futuros que se perdem, erupções
Devastando. Miséria em plantações
O nada se aproxima em frágeis portos,
Mulheres trucidadas, mil abortos;
Do sangue que se escoa, podridões...
Refaz-se numa flor uma esperança
Criada sobre o podre de uma guerra.
Tão bela e maviosa, uma criança
Se faz da podridão, adversidade...
Por que será preciso que esta terra
Ensangüentada adube a liberdade?
X
6580
Moleque, mal sabia das proezas
Dessa moça escondida no quintal.
Seus olhos me comiam feito presas
De uma arapuca assim, fenomenal.
Depois fui perceber as tais belezas
Das pernas revirando o matagal.
As tardes se passavam mais acesas
Debaixo deste sol, suor e sal...
A moça disfarçada em clara estrela
Pulando uma janela já sabia
Que a noite iria ser louca e vadia.
Sem pejos de tentar ir convencê-la,
Um assobio simples bastaria
Dos grilos e dos sapos, cantoria...
X
6581
Babando tanta baba, um babador
Queria ser além de simples arca,
Quem sabe se sonhasse com amor,
Seria babador menos babaca.
Faria ao mundo, assim grande favor,
Na lama em que se esgota, finca estaca
E faz de todo pobre sonhador
A carne que devora, achando fraca.
Mal sabe este panaca sem juízo,
Que o bom da nossa vida é ser feliz.
Apedrejando assim o paraíso
Maltrata quem não sabe ser servil
Ao mundo que deseja, e sempre quis,
Distante de quem ama. Porco vil...
X
6582
De um mundo tão amargo, um viajante
Seguindo as ilusões em seus primores,
Recolhe dos canteiros, suas flores,
Em busca de carinho e de emoção.
Achando um sentimento mais ameno,
De todos os que sei, sempre o primeiro,
Abrindo sem limite o coração,
Percebe que na vida, a sensação
De ser feliz precisa por inteiro,
De um braço mais leal e companheiro
Que traga, com certezas mais perfume.
E seja responsável pelo lume
Que traz à nossa vida, claridade.
Segredos que desvenda na amizade...
X
6583
Macaco olhando o rabo do vizinho
Mal vê seu próprio rabo fedorento.
Deixando outro macaco em seu cantinho,
Talvez fosse mais simples, sem tormento.
Tratar o semelhante com carinho
É coisa que aprendi e me contento,
Melhor ir caminhando de mansinho
Do que deixar o rabo exposto ao vento.
Tão grande é o rabão deste macaco
Que nada percebeu por tanta sobra;
Ataca e com tacada toma taco.
De tudo o que percebo, rabo pleno,
Cuidado, meu amigo, com veneno,
Esse rabo que tens? Não vês? É cobra...
X
6584
O vento vai sangrando sem parar,
Tocando a velha porta e seu batente.
No desespero sempre a me mostrar,
O mundo que se vai, velho e doente...
A noite tão escura sem luar,
O canto que eu escuto, mais plangente,
Mostrando como é triste o tanto amar,
Morrendo o que se fora assim, contente...
Desculpe-me chorar, meu bom amigo,
A vida não permite outra esperança.
Passo titubeante que prossigo,
Levando ao quase nada. Eis a verdade,
Por isso é que te peço a temperança
Da força sem limites, a amizade...
X
6585
Trazendo nos meus lábios, o vazio,
Morrendo tão distante claridade.
Roubando da esperança um vento frio.
Perdendo o que me resta, mocidade,
O coração que fora tão vadio,
Agora se embrenhando na saudade...
Do nada que recebo, nada crio
Somente uma distante realidade....
O sol que me queimava já não veio,
A luz que iluminava, se perdeu.
Meu mundo se esvazia, perde esteio,
Qual borboleta inútil, morta a sorte
Crisálida abortada, amor morreu.
Somente esta amizade fez-se norte...
X
6586
Tu trazes um sorriso permanente
Que envolve-nos depressa, meu amor.
Sorriso que se dá tão inocente,
Inunda-nos o peito sonhador.
De toda a sorte grande que se sente
Quem te conhece sabe o teu valor.
No brilho de teus olhos, de repente,
A vida assim se mostra, com fulgor.
Sorriso todo pleno de esperança
Que faz de cada dia um novo sonho.
Qual fosse uma menina, uma criança,
Que expõe toda alegria com franqueza.
Em tua imagem santa já componho
Um mundo mais feliz, rara beleza...
X
6587
Querida me perdoe se te digo,
Da vida que negaste, sem amor.
Sozinha, tu procuras por abrigo,
Morrendo sem perfume, a bela flor.
Ao lado do que sonho; vou, prossigo,
Meu passo traduzindo destemor.
Pudesse sempre estar enfim contigo,
Quem sabe viverias esplendor...
Porém a vida nega a quem se nega,
Saudade dolorosa do vazio.
Um peito que sem barcos não navega
O nada restará por companheiro.
Depois, na noite negra, resta o frio,
De quem não se entregou, não foi inteiro...
6588
Nas festas que sangramos, dois convivas.
Nas orgias bacantes, feiticeiros.
As carnes que cortamos, foram vivas,
Os olhos que comemos, costumeiros...
As pernas amputadas mais altivas,
Em dentes que mastigam brasileiros
Durante as madrugadas sem esquivas,
Os penhascos saltamos, verdadeiros...
Nesta festa dançavam velhos ogros,
Devoravam crianças sempre rindo...
Mortos mães, pais seus filhos e seus sogros,
A porta da desgraça sempre abrindo..
Os restos da família dei aos cães.
Repartindo, solícito, tais pães!
Em homenagem às elites tão atenciosas deste País
X
6589
Braços brancos abraçam sem brandura.
Das brumas, borboletas e bromélias.
Nas sebes emboscadas de corbelhas,
Beija, abelha, boninas com bravura.
Belezas se embasando na brancura,
De beatas bacantes, de camélias,
Não sabem que soçobram as Amélias
Em burlas belicosas, sobra jura.
Entretanto tentando sentir, tato,
Em fátuo sentimento de prazer
Fazendo tanto amor só por fazer
Retrato meu dilema em cada fato.
Se amar demais foi sempre meu retrato,
Rechaço, em novo fato, o bem querer.
X
6590
Recebo estas palavras; teu lamento,
Deixando-me sem voz. E assim, afônico,
O mundo em que vivera vai agônico
Sem ter de salvação sequer um vento.
Desculpe meu amor, mas eu lamento
Que tudo se perdeu, amor distônico,
Sem ter uma alegria como tônico
Investido de dor e sofrimento.
Saudade? Esteja certa, nada apaga.
Sobrando uma lembrança, mesmo vaga.
É tudo o que percebo que inda resta.
Daquilo que pensava ser granito
Em lamas se desfez, amor finito
Morrendo e me trazendo tanta festa.
X
6591
Insano sofrimento ano que vem
Se vem não desanimo, mas não quero
Se quero não devendo ser sincero
Espero se vieres ir também.
Se sofro não te minto mais, meu bem.
Omito tanto queimo quanto fero
E vago sem sentidos no que gero.
O tempo em tempestade tempo tem.
Ao ver-me, por sinal, tão iracundo,
Não sabes dos ganidos do meu peito
Que sempre se ferindo vai fecundo
E taciturno cala sobre tudo.
Devendo tanto amor como um direito
De amores dos teus mares já me inundo.
X
6592
Meu grito representa um instrumento
Que salva-me dos braços da loucura;
Envolto em desabafo com bravura
Espalha meus sentidos pelo vento.
Numa explosão mais forte, o sentimento
Ao mesmo tempo exponho e traço a cura;
Livrando-me da dor que me tortura;
No desabafo intenso, um bom ungüento.
Sou manso e no remanso é bom viver,
Mas sinto que por vezes incomoda
A placidez de quem amor açoda.
Depois que solto o grito posso ver,
Em calmaria branda que me invade,
Os olhos do meu peito, em liberdade.
X
6593
Aborto um roseiral em primavera.
Na fera que me toca, numa espreita,
A lua enegrecida nada espera
E foge desta noite, contrafeita.
Espinho e vergalhão, a dor desperta
Coroando um caminho com senões.
A porta que nem sempre fica aberta
De tantos e diversos corações.
Vestígios destes tempos me decoram.
Andorinhas perdendo a migração
Os dias de esperança já se foram
Tomados pela turva solidão.
Sem primaveras, flores, roseirais;
Apenas paladares canibais...
X
6594
O tempo vai passando e sem cuidados,
Demonstra nos castigos; os meus erros.
Rasgando as ilusões vai, aos bocados,
Cortando as minhas costas, frios ferros.
Meu destino arrojado em teu destino,
Secando uma nascente, mata o rio.
Polui um lago outrora cristalino,
Já não prossigo mais e nem confio.
Contento-me com pouco, esteja certa.
Não quero nem pedidos de desculpa;
A lua em negras nuvens encoberta
Demonstra obscuridade em tua culpa.
Amor que se fez tonto, sem enredo,
Morrendo e maltratando desde cedo.
X
6595
Febre ardendo... Saudades... Solidão.
Tua distância trama tantas dores.
Mas, porque te esqueceste do perdão?
Opacos; em teus olhos morrem cores.
Angústia se tornando meu refrão.
Não posso compreender. Cadê as flores
Que cismamos plantar noutro verão?
Morreram em tristezas, dissabores
O palco desta vida, peça pobre,
Num melodrama trágico termina...
Amar é, na verdade ser mais nobre.
O céu já se recobre, negros nimbos...
A vida sem esperas, determina:
Cada qual viverá seus próprios limbos...
X
6596
Eu bem sei que me odeias. Tenho pena,
Pois pensava que fosses mais gentil.
De tudo o que vivemos; nada viu,
Nem sombra de saudade ainda acena.
Tua alma é tão vazia e tão pequena
Guardando um sentimento tolo, vil.
Matando toda a cor de um belo abril
Artista que destrói a tela, a cena.
Nas cores e nas folhas espalhadas,
Outono onde tu foste a minha luz.
Nas folhas dos cadernos arrancadas
Depois de tanto lume, tanta briga.
Sereno sentimento vira cruz.
Um coração menor; quanto ódio abriga!
X
6597
Dourado sonho dominando tudo...
Os olhos esquecidos adormecem...
Risonhas esperanças que se tecem
No canto divinal em que me iludo.
Não posso compreender, porém, contudo,
Que as noites que vieram se parecem
Distantes deste sonho e se padecem
Fazendo um coração já tartamudo.
Amor interagindo com saudade
Matando, sem querer, felicidade.
Nos braços que me entrego, em fantasia.
Agora o que fazer? Eis meu dilema
Se toda noite amor ainda teima
Além do que quisesse ou poderia...
X
6598
Estrelas deslumbrantes, leves plumas,
Desfilam pelo etéreo em liberdade,
Nas nebulosas mágicas espumas
Serenas expressões de claridade.
Nos versos delicados, tu perfumas
Os astros que clareiam a cidade.
Brancuras esvaecem-se em neblinas
Em plúmbeas ilusões, em duras fases
Distantes de emoções alabastrinas
Na angústia do vazio quando fazes
Dos sonhos pesadelos, me alucinas.
Matando as esperanças mais vivazes.
Que faço se metade em dor destrói
Enquanto outra metade, amor constrói?
X
6599
Pousando no meu peito um passarinho
Aos poucos, devagar, me dominando
Formando com carinhos, o seu ninho,
Ardendo em mansa chama, em fogo brando.
Mudando assim meu rumo, com carinho;
Aos Céus e ao Paraíso desviando.
A mão deste menino me guiava
Aos braços da mulher que Deus me deu,
Quem tanto quis e nunca mais contava
Em tantas alegrias converteu
O gelo, a neve em chama, brasa e lava;
Fornalhas que incendeiam todo o breu.
Nas mãos desta criança, fui ferido,
Pelas setas certeiras de Cupido.
X
6600
Que faço se procuro e não me calo,
Embora saiba: amor, uma mentira
Na qual por ilusão, eu tanto falo.
A doce solidão fazendo mira
Trazendo em minha vida, o seu regalo.
Amor sem ter limites, verdadeiro?
Bem sei que não. Amor é corriqueiro
E morre mal começa no meu peito.
Um sonho assim imaterializado
Em nada se mostrando satisfeito,
Matando toda flor de simples prado
Desmente-se sem nexo em cada preito,
Resquícios de emoções do meu passado.
Amor quando demais, da dor o fulcro
Prepara em ironias, meu sepulcro!
X
6601
“Beijei a ponta da faca”
Me disse certa menina,
No peito, cravada a estaca,
Da saudade; assassina!
Saudade como faca penetrando
Rompendo o que se fora carapaça.
Aos poucos sem que eu veja, me tomando,
Uma agonia imensa que não passa.
O tempo corre lento, se arrastando,
Toda alegria morre e se esfumaça,
O mundo que sonhara desabando,
O que restou de mim, a dor esgarça...
Talvez essa saudade inda se cure,
Chegando um novo amor. É, pode ser...
Por mais que o mundo caia e me torture
Um dia, no meu peito, nova dança,
Que possa me encontrar e me trazer
O vento tão suave da esperança...
X
6602
Moleque mais travesso e tão traquinas,
Criado em liberdade, sem juízo.
Olhando para as pernas das meninas,
Promessas de encantados paraísos.
Cavalo no galope, soltas crinas,
Na boca iluminando um bom sorriso,
Debaixo dos lençóis as mãos tão finas
No toque mais gostoso, assim, preciso.
Menino que cresceu em águas claras,
Morrendo na velhice sem remédio.
Feridas se transformam em escaras,
As horas de prazer, amigo, raras,
De noite a mocidade faz assédio,
A vida em contraponto é puro tédio...
X
6603
Abarcando o teu barco em noite fria
Em peixes, calabares e sargaços
Os aços penetrando quem devia
Abrindo no meu peito seus espaços.
Confesso que talvez uma alegria
Motiva a cada dia tantos passos,
Mas veja, quem talvez não mais queria
Deitar em minha cama, nos meus braços.
Aquela que regalo com cometas,
Em língua percorrendo céu e boca.
Os erros que te peço que cometas
São meros instrumentos do prazer.
Sentindo que tu queres, quase louca,
Começo cada canto revolver...
X
6604
Maria se não fosse quem amava
Talvez eu não amasse mais Maria,
Maré quando depressa a mim chegava
Mostrava em fina areia que amaria
Quem mares sem temores maltratava
Tratava de saber minha agonia.
A faca penetrando em veia cava
Cavando quem amor não cevaria.
Calvário de quem ama, serpenteia
Na sala disfarçada de perfume.
A lua que não veio, maré cheia,
Estende o rubro pano das promessas.
Maria vê se deixa de ciúme
Pecados sei de ti e não confessas...
X
6605
Entre viços, estrelas e perfumes,
Meus sonhos tolos, líricos; prossigo.
Viajo em cordilheiras, altos cumes,
Sem medo de aventuras e perigo.
Sem asas que me levem, que me aprumem
Em nuvens delirantes peço abrigo.
Meus olhos destemidos e proféticos,
Abrandam o calor das altas plagas
Os ideais distintos, hipotéticos
Prosseguem incansáveis ledas sagas
Em meio a tempestades olhos céticos,
Abrandam tuas mãos enquanto afagas
Obuses que derramas em meus passos,
Em pedras e em espinhos forjas laços.
X
6606
Envolto em triste treva, tão sombria,
No corte da navalha e do machado,
Um canto quase inerte, amargo brado
Estúpida loucura que se erguia
Das turbas sanguinárias, vaga e fria
A mão que me tocara em triste enfado
Ressurge novamente aqui ao lado
Na nebulosa tarde que surgia.
Minha alma, no passado, era canora,
Em liberdade, encantos, passarinhos.
Que uma gaiola em farpas mostra agora
Qual cicatriz e sombras de outros ninhos
Guardados no suplício aonde aflora
A temerária senda, meus caminhos...
X
6607
Ao vê-la se revela o mais velado
Sonho em que me transponho, nave insana.
Farturas de ternuras, cada cardo
Deixado nos caminhos, não me engana.
Vislumbro precipício onde me enfado
E fujo em alva lua, uma cigana
Que vaga pelo espaço iluminado
E morre nos meus braços, soberana.
Prevejo o que não quis ver os meus olhos,
Agudos pedregulhos, meu antolhos,
Impedem a clareza necessária.
Qual fossem mil corcéis, estrelas vagam
Imersas entre nuvens que as apagam.
Noite em látego açoite, temerária...
X
6608
Quando, faz tanto tempo, eu esperava
Amores que enganavam, nunca vinham.
As cores de tristeza sempre tinham
As horas mais certeiras, e chorava.
Sem versos e tão débil me lavava
Nas ondas deste mar onde se aninham
As dores mais terríveis que se alinham
No coração entornam frio e lava.
Quem já se viu contente não prospera
Em penas desfazendo manso canto.
Rodando nos espaços, qual esfera
Repara que viveu só no mormaço.
Sabe que amor se encanta com seu pranto,
E dorme, desleixado, no seu braço...
X
6609
No sonho ressuscito uma criança
Que há tempos adormece dentro em mim.
Tomando-me de assalto vem assim
Na placidez da noite que se avança.
Cabeça vai rodando, o tempo dança
E traz do meu passado, flor, jardim,
Futuro se aproxima e sem ter fim
A roda se confunde, louca e mansa.
É nele que refaço a minha vida
Em dias que vieram e virão.
Voando sem tirar os pés do chão
Prevejo a própria vida a ser cumprida
E sou o que não fui e não serei,
Cativo, marinheiro, deus ou rei.
X
6610
Quem dera se, de lágrimas isento,
Passasse a minha vida sem saber
Do verdugo voraz deste prazer
Que mina e já demanda sofrimento.
Amores quando soltos, bebem vento
E dormem envolvidos em lazer.
Procuro, nos teus seios, acender
O fogo que sossegue o pensamento.
Quem sabe a recompensa mais completa,
Cobiças e delírio tão dileto.
A vida remoçando em nova meta.
Desejos explodindo! Assim, repleto,
Marcado por Cupido, em doce seta
Renasço em teus carinhos, tanto afeto...
X
6611
Quanto terror latente
nesse mar gelado
que desde sempre
levamos na alma.
António Castañeda
Em duros pesadelos, a noite passa
Expondo estas que verdades que eu carrego.
No dia, a claridade já disfarça
E oculto de mim mesmo, mudo e cego.
Porém o que fazer? Expor-me em praça
Pública? Meus temores, quando os nego,
Guardados na gaveta, exposta à traça;
Em falsa sensação à qual me apego,
Ressurgem toda noite a me assombrar.
Latentes, estas dores latejantes
Explodem num gelado e imenso mar.
Tomada sem ter tréguas por terror
Minha alma nas procelas perturbantes
Demonstra-se refém deste pavor...
X
6612
Primavera trazendo suas flores...
As cores divinais da primavera
Prenúncios naturais destes amores
Da natureza em cio sem espera.
Assim também seguimos nossa vida,
Em fase diferente a mesma lua.
A sina necessita ser cumprida,
Estrada tão comprida, continua...
Crisálidas renascem borboletas
As flores já granando geram frutas.
Distantes viajantes, os cometas
Retornam e embelezam todo o céu.
Delicadeza em jóias, gemas brutas,
Do pólen da esperança um doce mel...
X
6613
Qual fosse uma esperança que adormece
No peito solitário de quem ama.
A vida se irrompendo em uma prece
Calando o que restara desta chama.
Um coração vadio que obedece
À voz que não percebe, mas reclama.
Futuro desdenhoso que se tece
Nas hostes de quem sabe a mesma trama.
Tudo o que mais quiseres eu faria
Em veras fantasias mais profanas.
Sangrando sem desculpas cada dia,
Morando nos teus olhos, velha chaga.
Se amares for demais, tanto me enganas,
Sorriso que me mordes, logo afaga...
X
6614
A noite nos tomando, verão pleno,
Na cama em que dormimos, sempre alertas.
Depois de termos tido amor ameno,
Sonhamos bem debaixo das cobertas...
Talvez eu não perceba um novo aceno
Que mostre tuas pernas mais abertas.
Prazer que se transborda no veneno
No fogo em que te escondes não despertas....
Mas sinto que preciso de teus seios
E quero o recomeço mais audaz.
Perdido nestes velhos devaneios
Te busco por instantes, mas não vejo.
O frio que esta noite sempre traz
Adormecido, inerte, sem desejo...
X
6615
Tu freqüentas as minhas fantasias
Povoas madrugadas sonho e glória.
Nas noites solitárias, antes frias,
Mudaste todo o rumo desta história.
Revelas esperanças tantos dias,
A vida já não passa merencória.
Que bom se me quisesses, me dirias
Do amor que se perdeu, triste memória...
Eu quero que tu penses; necessito.
Tu és a redenção de minha vida.
Meu sonho mais gostoso e mais bonito,
Um rito de alegria em salvação,
Depois de tanto tempo, alma perdida,
Me encontro em tuas asas; Ah! Paixão!
X
6616
Bendito seja o vento que te trouxe
Em meio a tempestades que passei.
Tua presença calma e sempre doce;
O mundo em que vieste me fez rei.
Tu trazes teu sorriso como fosse
A glória de quem ama, como amei.
Com força de quem quer já que remoce
A sorte que se fora em dura lei.
Te quero, benfazeja e mais serena,
Amiga amada, luz que enfim rebrilha.
Menina que sonhei; a vida acena
E traz uma esperança, maravilha,
De ter em cada dia em rara cena,
Uma alegria imensa em bela trilha...
X
6617
Ajoelhado aos pés de minha amada,
Pedindo que ficasse mais um dia.
A noite que chegava, enluarada,
Montada num corcel, plena magia.
Trilhando pelos céus a bela estrada,
Num fulgor todo pleno em fantasia.
Estrelas constelares, mãos de fada,
Além de sonho que podia...
Distantes dos teus olhos, sem carinho...
Espero tua volta, estrela/lua.
Perdendo a noite clara, vou sozinho
O teu colo, os teus seios, um veludo...
Tua presença amada, bela e nua,
Agora sem amor, morrendo mudo...
X
6618
Ao ver-te caminhando em plena graça,
Rainha de meus sonhos, sedutora.
No véu de uma beleza que esvoaça,
Te quero, minha amada; vem agora.
Tesouro que buscara, não disfarça
Em brilhos redentores, sem demora,
O tempo do teu lado nunca passa,
Minha alma, te deseja e tanto adora...
Murmuro em cada verso esta esperança
De ter essa mulher sempre comigo.
Vivendo nossa vida, eterna dança,
Vibrando sem temores, esta emoção,
Do amor no qual navego e tenho abrigo,
Carinhos em feitio de oração....
X
6618
Meus erros, da fortuna derivados
Trazendo a perdição em vil serpente.
Em látegos caminhos, num repente,
Por sombras e fantasmas desviados.
O rosto da verdade, deturpado
Por vezes tão voraz e incoerente.
Recebo teus ciúmes calmamente,
Embora, de queixumes, vá cansado.
Usaste as ferramentas mais profanas
Fingindo a salvação que não me deste.
Carícias mentirosas, desumanas
São contas que pagamos da vingança.
O canto que demonstra a que vieste
Levando o que me resta de esperança!
X
6619
Meu sonho vai vestido de saudades;
Invade tantas noites sem descanso
E mesmo se sereno, não alcanço
O manto que vestia, veleidades;
Entranho podres flores com maldades
Maleitas e defluxos, meu ranço,
No rancho deste tempo quando tranço
Os pés se distanciam das verdades.
Amor armado mostra-se sem nexo
E verte meus desejos no infinito.
Sem mar que me dê formas em reflexo,
Deformas esplendores e metais.
Alegre não consegues ver meu rito
Em doces e profanos festivais...
X
6620
Teus olhos cintilantes e venais
São partes inerentes, mas descarto,
Da dor que me promulgas, estou farto
E deixo teus olhares para trás
Se fomos não deixamos de ser mais
Assim tu pensarias, mas reparto
Os sonhos desde sempre, e sempre parto
Em busca do silêncio d’outro cais.
Alagas com teus risos minhas sendas.
E mordes com irônicas moendas,
Fazendo minha vida terebrante.
Mostrando-te meus cântaros vazios
Tocando assim teus nervos, olhos, fios
Cortando a nossa vida, num rompante!
X
6621
Históra que me assombra, eu vô contá.
Dos tar de lubisome, bicho fei,
Que aparece nas noite de luá,
Mordeno todo o povo sem ter frei.
Um dia passeano num lugá
Dispois de tanto tempo, eu encontrei
Um bicho ansim piludo, de assustá;
Pois quage que, te juro, eu desmaiei.
A sorte foi que Juca de Maria,
Um cabra desses bão, trabaiadô,
Com espingarda em punho apreparô
O bote contra o bicho disgramado,
E bão de mira em boa pontaria
Dexô esse mostrengo ansim, capado...
X
6622
Seu moço, te pregunto, me arresponda
Pruquê tem tanta inveja nesse mundo.
Se a lua lá no céu brilha redonda
Crareia toda a terra num segundo.
Murdido por corar ou anaconda
O corte do invejoso é bem profundo.
Pru mais qui o rabo grande ele inda esconda
A cauda apareceno nesse fundo.
Qui Deus nos dê a sorte merecida,
Sem vê pros lado, fico mais contente.
A Bunda se demais aparecida
Dá logo um resfriado para a gente;
Inveja que faz mal pru toda a vida,
Dexano esse caboco, ansim, duente...
X
6623
MINHA AMIGA
Negaste cada sonho, minha amiga,
Usando os subterfúgios mais banais.
Quem sabe se depois em nova intriga
Transforme calmaria em vendavais.
Permita-me então que eu já te diga
De todos os meus medos colossais
Mas saiba que talvez; em nobre liga,
O tempo enfim vislumbre amor e paz.
Das preces que fizeste, das quermesses,
Confesso meu perdão, mesmo sem crer.
O corpo em sacrifício me ofereces,
Mas nada disso importa em ter prazer.
Dos sonhos que tiveste, o nada teces,
É tudo o que consigo te dizer.
X
6624
A NATUREZA HUMANA
Cansado de ser verme, um ser humano,
Exposto a hipocrisia e pedantismo.
Refém da podridão de um egoísmo
Achando ser o ser mais soberano.
Espalho o desencanto e o desengano
Cortando minhas veias sem lirismo.
Matando quem passeia neste abismo
Na fúria que me embala sou insano.
Andando calmamente pelas ruas,
Vomito em fedorentos esmoleres.
Ao mesmo tempo quero todas nuas,
E ataco sem motivos mil mulheres
Meu corpo está pendido em fino arame,
Assassino depois quem já reclame.
X
6625
Expondo o meu cadáver em visagem
As cenas se refazem bem confusas,
Aberrações explícitas difusas
Complicam mansidão desta viagem.
Teu gesto de vingança, tão selvagem,
Em cenas violentas, tu abusas
E cospes no cadáver, tira as blusas
Deixando este festejo todo à margem.
Histrionicamente continuas
Neste desfile aberto pelas ruas
Até chegar ao fim, sem ter mistério.
No riso que disfarças, gozo frio
Mostrando que esse amor, por ser sombrio,
Resiste à solidão de um cemitério.
X
6626
Trazes formigamento da saudade.
Por isso é que, querida, eu não te esqueço.
Das dores, muita vez, a liberdade.
O teu amor? eu sei que não mereço.
Espero que tu venhas num tropeço
Da sorte, isso trará felicidade.
Amor que ando errado no começo
Por certo não terá tranqüilidade.
Nas tramas que eu enredo, meus enganos.
Espúria sensação de falsos planos.
Meus erros? Se eu os tive não recordo.
Apenas te direi meias verdades
Daquilo que se foi, só veleidades...
Mas quero o teu amor, comigo, a bordo...
X
6627
Em minha alma, velórios e varizes
Recebe tantas gotas de veneno.
Teus lábios; dois sedentos infelizes
Bebendo todo o sangue num aceno.
Mas peço, se vieres logo avises
Num tiro ou explosão, ou algo ameno.
Carinhos penetrantes, lutas, crises,
Em todos, estou certo, eu me enveneno.
Coberto por mentiras, t’as mantilhas,
Não restam deste amor sequer mobílias.
Apenas tanta dor em procissão.
Remendos não resolvem o fiasco,
Tu sabes, não preciso de sermão.
Se a boca que me beija é meu carrasco...
X
6628
Tantas vezes errei... Mas isso eu reconheço
Tudo em minhas mãos queria num segundo;
Se as falhas que carrego invadem nosso mundo,
O teu olhar mordaz, eu bem sei que mereço.
Às vezes perturbando, ao me virar do avesso,
Jogando-me num mar tão negro e mais profundo
Aprofundas assim o meu erro, o tropeço
Gerando tempestade em simples copo d’água;
Sem perceber, querida, isso me trará mágoa.
Peço-te a caridade, enfim de perdoar.
Perdendo pouco a pouco, o nosso amor sem paz.
Eu não quero verdugo e nenhum capataz.
Perdendo, em julgamento, o tempo que é pr’a amar!
X
6629
Os meninos brincando... o ribeirão...
Delícias de uma fruta amadurada...
Peixes fisgados.. o luar... o chão...
A vida prometendo longa estrada.
Meninos traduzindo este sertão.
A viola tocando, enluarada.
Frágeis dedos repletos de emoção.
Estrada, depois, dicomotizada.
Patrãozinho partiu, voltou doutor.
O outro está trabalhando na fazenda...
Os dedos que tocavam já não sabem.
Agora numa enxada, sol, calor.
Os seus dedos? Cortados na moenda...
O riacho e a saudade? Não mais cabem...
Em Homenagem a Fernando Brandt
X
6630
Muitas vezes brincaste com, simplesmente
De forma leviana e tão venal.
Uma alma que se faz tão tola e mente
Não deixa nem resquícios no final.
Errante, sem sentidos, tolamente
Se coloca em distante pedestal.
Depois de tanto tempo percebi
O quanto fora estúpido, querida.
Em toda esta alegria que há em ti
O brilho mais sensível desta vida.
Sorriso de menina que perdi
Jogado em algum canto, em despedida.
Nesta amargura insana, o meu caminho,
Trilhado entre mil pedras, tanto espinho...
X
6631
Entre meus dedos, passa o tempo todo,
Brincando com a sorte, louco ri.
Permite tanto engano, tonto engodo,
Depois, finge que nunca esteve aqui.
Moleque solitário não dispensa
A gargalhada firme depois disso.
Por mais que tolamente, a recompensa,
Se mostra numa flor, quase sem viço.
O tempo é companheiro predileto
De uma saudade feita em mil lembranças.
Por vezes tão vazio, outras repleto
Matando devagar as esperanças.
Agora que se foi o bonde e o trem,
Amor fora do tempo, sinto, vem...
X
6632
Ciúmes são perfume de uma flor,
Maiores quanto mais queremos bem.
Vivendo em nosso caso, tanto amor,
Não quero te perder para ninguém!
Eu sei quanto é bobagem; o temor,
Tu és toda a certeza que se tem
De um mundo mais suave e sedutor.
Mas sei que tens ciúmes sim, também...
É claro que te tenho confiança,
Não nego que jamais desconfiei.
O amor entre nós dois, forte aliança
É mais do que pensei ter algum dia.
Por mais que tantas vezes disfarcei,
Minha alma, mil loucuras, fantasia...
X
6633
Eu sou o resto podre da maçã
Que foi abandonado em praça pública.
Um quase sem ter nexos, amanhã
Jogado nem sou bola nem sou búlica.
Apenas vago o mundo, vida cã,
Nesta quaresma a esmo, perco a túnica
Despido do que fosse uma manhã
Nos trâmites, trambiques da república.
Sedado se fui dado ou se fugido
Não vivo mais em buscas estrambóticas.
Exóticas verdades tenho tido,
Há sido o que bem ácido, contei.
As ilusões que tenho são as de óticas.
Perdido no que fui nem quem sou sei...
X
6634
O céu em tantas cores sempre borda
Teu rosto, nuvem clara, amada amiga.
Atando o pensamento em forte corda
A vida não se marca e nem periga.
Depois de sono breve já se acorda,
Forrando minha sorte em forte liga,
Tropeço o sentimento nesta borda
E caio nos teus braços, fonte e viga.
Na linha de teus olhos, horizonte.
Na fonte dos desejos, me inebrio.
Não deixe que este mundo te desconte
E leve nosso amor em vaga sorte.
Matando o que se fora tão sombrio
Trazendo este universo bem mais forte...
X
6635
Não temas este abismo, tempo/vida.
Retorno depois disto, amada minha.
Buscando em precipício outra saída
Do amor que tão estranho nos aninha.
No poço de ternuras dor perdida
Um ave migratória, uma andorinha
Vagueia prometendo despedida,
Mas logo se calando, vai sozinha.
Então guardo de ti perfume raro
Em tantos jasmineiros e roseiras.
Persigo cada passo pelo faro
Encontro-te calada; nas estradas,
Protegida das dores feiticeiras,
Nas mãos as belas flores orvalhadas...
X
6636
Minha cabeça roda sem juízo
Bebendo cada boca diferente.
Em todas, procurei o paraíso,
Que na verdade estava até bem quente
Mais parecendo inferno onde sem siso,
Descubro que valeu ser penitente.
No toque mais veloz e mais preciso,
A boca me mordia, de repente.
Se necessário, amada, beijo os pés,
Molambo desarmado e sem vergonha.
Vivendo quase sempre de viés
No jogo da esperança e da incerteza
Onde quer que essa sorte me componha,
Me deixarei levar na correnteza...
X
6637
Se não houvesse amor o que seria?
Amar é redimir nossos pecados,
Vivendo esta tristeza em agonia
Ouvindo o coração e seus recados
Tornando todo o sonho em alegria
No sofrimento imenso, lanço os dados.
Vivendo uma esperança a cada dia
Dos olhos tão queridos, desejados...
A dor vale o sorriso, uma emoção.
O sim é poderoso e cura o não.
No prato em maravilha, riso e gozo.
No gesto sem sentido de um adeus,
Amor é sonho sempre perigoso,
Mas nos leva mais próximos de Deus..
X
6638
Meu bem querer chegando devagar
Em juras e perjuras sempre mais,
Entorna poesia a caminhar
Sem medo de mentir, assim, jamais.
Tornando nossa vida imenso lar
De beijos e desejos mais normais,
Enquanto meu querer que navegar
Por noites e carinhos imorais.
Meu bem querer bebendo cada gota
Se esgota e me amarrota mas disfarça.
Tomando o meu prazer, sua compota,
Recolho cada lágrima em meus lábios,
Depois corro depressa para a praça
Buscando maus conselhos, todos sábios...
X
6639
Amor não paga as contas deste mês
Nem serve em garantia no boteco,
Amor vai se perdendo sem freguês
Depois inda promete repeteco.
Amor não se fez mais do que se fez
Quebrando qualquer asa, teco-teco,
Ainda exige sorte em toda vez
Que grita e não escuta sequer eco.
Amor bem que queria mar de rosas,
Quem sabe da lavanda o seu perfume.
Amor mentindo em versos mata prosas,
Encontra em tempestades porto e cais,
Movido totalmente por ciúme,
Perdendo até batalhas, das navais...
X
6640
Na doce podridão de cada beijo
Roubado nestes becos, nas entranhas.
No cheiro da cachaça e do desejo
Misturas de malícias e de manhas.
Na venda sem pudores, sem lampejo,
Tuas bocas abertas são tamanhas
Vibrando sem sorriso e sem latejo,
Nas procissões diversas, tão estranhas.
Os gritos simulados desta atriz
Deitada em tantas camas, seco o mel.
Fingindo finalmente ser feliz,
Deitada sob o peso desmedido
Brincando de princesa em carrossel,
Os olhos se perdendo, sem sentido...
X
6641
Amor que não valia nem tostão
Depois de ser refém se achou perfeito
E fez deste tormento um turbilhão
Vagando neste beco, satisfeito.
Amor que não valia a precisão
Esgana o sentimento de direito
E mata novamente esta ilusão
Recibo maltrapilho do meu peito.
Causado por engodos, meus enganos,
Se fez em valentia trapo e resto.
Cobrar pelos pecados, erros, danos,
É dar valor demais ao que não tinha.
No fundo talvez seja um manifesto
Da noite que não vinha, toda minha...
X
6642
Eu preparo a canção se for bonita
Pra moça que desfila em meu carinho.
Refeito da surpresa de pepita
Chegança em minha vida de mansinho.
No fundo tanto vejo que acredita
O marco que se fez assim sozinho
Rasgando este vestido, velha chita,
A moça só desfila em puro linho.
No limo que não veio, tecla gasta,
Cheguei quase sem tempo de beber.
A mão que esbofeteia logo afasta
Mas deixa qualquer rastro de prazer.
Meu sabiá morreu em tanto agouro,
Nas penas deste amor apenas couro.
X
6643
Falando deste amor sem ter critério
Mentindo em cada verso, vero gozo.
No prédio de teu braço, um cemitério
Se mostra mais faminto e andrajoso
Nas roupas e trejeitos de outro império
Amor em marcha lenta é mais gostoso.
Agora, desse amor falando sério
Sou quase o que não veio de teimoso.
Mas tenho amor-perfeito no jardim,
E sempre-viva aguada no canteiro.
Das flores que plantaste dentro em mim,
A seca foi voraz, não sobrou quase.
Se falo deste modo mais certeiro
Amor veio por certo em outra fase.
X
6644
Acreditar no amor? Pura tolice...
Amor é qual criança sem juízo.
Por vezes imagino o paraíso,
Mas ao acordar tudo se desdisse.
Portanto; quanto amor vem sem aviso
E em pouco tempo some. Não me atice,
Te peço, por favor. Como eu te disse
Amor não tem prever, escorre liso...
Volúvel sentimento, nos decora
Depois, sem ter motivos vai embora.
Amor não sabe tempo nem lugar
No meio do deserto, amor aflora.
Nos leva, sem sabermos, ao luar.
Mas corta nossas asas ao voar...
X
6645
Viajante desejo pela noite
Na busca do descanso que não veio.
Bebendo a sedução, um vero açoite,
Percebe em transparência, belo seio...
Recebe vaporosa sensação
Do vento que rasgou em tempestade,
Dormente, um inconstante coração,
Craveja de ilusões toda a verdade...
Encontra seminua lua cheia
Deitada em algum quarto de motel,
Do frio que se fez já se norteia,
E vaga nos lençóis, a noite fria,
Sangrando em cada raio, sol e céu,
Espera mor milagre, uma magia....
X
6646
Ouvir a tua voz já me apascenta;
Estava aqui por certo, preocupado...
Vivendo a solidão, vital tormenta
Sem ter o teu perfume do meu lado...
A vida vai passando em marcha lenta,
Qual fora o tempo inteiro no passado...
Perfume inebriante de uma flor
Distante, mas tão perto, dentro em mim.
Teu canto; minha amada, sedutor,
Um acalanto doce, até que enfim...
Vivendo com certeza, nosso amor,
O mundo é bem melhor; querida, assim...
Estou feliz por ter esta certeza
Do amor que nos tocou, clara beleza...
X
6647
Contigo quero estar cada momento,
Queimando nossos corpos, fogo intenso
Desejo que se faz no pensamento,
Acalma o que se fora sempre tenso.
Tocar a tua pele, boca em brasa
Desfruta de teu corpo em ardentias.
Qual fora simplesmente minha casa,
Um reino de delícias e alegrias...
Suores vão molhando a nossa cama,
Salgando estes lençóis, tanto prazer.
Tomando nossa noite em plena chama,
Vontade de; contigo, refazer
Todo o caminho feito no desejo
Imenso e poderoso, nosso beijo.
X
6648
Eu quero em nosso amor tal sentimento
Que não disperse nunca esta emoção,
Levando minha voz solta no vento
Recebo teu carinho na canção.
Vivendo nosso mundo em poesia
Arcando com a sorte e com desejos.
Vencido pela força da alegria
Prometo-te milhões, zilhões de beijos.
Amor que se envereda pelos sonhos
Em formas mais divinas e gostosas,
Matando os pesadelos mais medonhos
Trazendo esse jardim que é pleno em rosas...
Minha alma te procura e já flutua
No encontro deste sol com alva lua...
X
6649
Eu quero te sentir bocas e beijos
Neste delírio imenso da paixão,
Matando, no teu corpo, meus desejos,
Fazendo a nossa cama pelo chão,
Sabendo teus meneios e traquejos
Singrando por teus mares, emoção,
Bem devagar, carinhos e manejos
Te enlaçando em total sofreguidão...
Vou descobrindo em todos os sentidos,
Olfato, paladar, tato, visão
Ouvindo na loucura dos gemidos
X
6650
Sentir o teu perfume desejado
Beber desenfreado todo o mel,
Vivendo nosso amor, apaixonado,
Roubando a bela lua lá do céu..
Sou teu e o que me importa todo o resto?
Empresto o meu prazer ao teu prazer.
Vibrar nossa alegria em cada gesto,
Nas brenhas de teu corpo me perder...
No paraíso imenso prometido,
Rondar cada pedaço desta fonte
Do toque mais fogoso e desmedido,
Abrindo em nossa cama este horizonte
De pétalas e flores olorosas,
Deitando sobre ti, milhões de rosas...
X
6651
Ilusão, fantasia ou realidade,
Existe sempre um vulto de mulher,
Em cada coração onde há saudade!
O vulto da mulher com quem sonhara,
Distante de meus olhos, tanta dor.
Amar é cultivar pérola rara,
Mistura entre a lama e o esplendor.
Eu sinto que tu queres me deixar,
Não vejo por fazes isso, amada,
A noite se aproxima devagar,
Depois a solidão da madrugada...
Não deixe que emoção termine assim,
Preciso te encontrar, minha alegria.
Matar o que, de amor, existe em mim,
É como me negar a fantasia...
Mulher que tanto quero em realidade,
Não deixe o coração virar saudade!
X
6652
Ao sentires um vento bem macio
Chegando devagar, roçando o rosto,
Lambendo tuas pernas, bem vadio,
De desejo e carinho assim composto,
Um vento que incendeie o quente estio.
Deixando o teu querer bem mais exposto,
Molhando devagar, doce rocio,
Provando em tua boca, todo o gosto.
Ao sentires o vento te tocar,
Audaz já levantando a tua saia.
Sorvendo de teu corpo, devagar,
Verás que enfim cheguei, minha morena.
Sorriso no teu rosto não te traia,
Que a vida em mil prazeres nos acena...
X
6653
EU TE ADORO!
Adoro te sentir colada em mim,
Olhando para as nuvens, sinto o vento...
Roçando tua boca carmesim
A vida se eterniza num momento.
E quase flutuando digo sim
A todos os desejos. Sentimento
Tomando, lentamente até que ao fim
Da tarde, num divino movimento;
Deitados, nos tocando e nos sentindo,
Eu ouça tua voz já me chamando
Num canto tão macio, manso e lindo
Num arrepio intenso, num sorriso,
Suspirando gostoso e me chamando;
Juntos, sem juízo, ao paraíso...
X
6654
Ao te encontrar, amor; eu descobri
Que a vida pode ter felicidade.
Não sabes mas bem antes, tudo aqui
Trazia um triste gosto de saudade
De um tempo que passou, mal percebi,
Deixando em seu lugar, ansiedade.
Agora que encontrei amor em ti
Eu volto a ser feliz, isso é verdade...
Estrela que vagava sem ter rumo,
Cometa sem paragem nem remanso;
Mas desde que em teus lábios me perfumo
Abri meu coração e esqueço o medo,
Os píncaros da sorte, amor alcanço
Do cofre do esplendor deste o segredo...
X
6655
Querida, dentre as flores a mais bela,
Tu sabes deste amor por ti, gigante..
O quanto toda noite se revela
No quadro mais sublime e delirante.
Meu mundo no teu corpo já se atrela
E nada mais importa d’ora em diante...
Saber-te sem espinhos tanto encanta
Aquele que se fez teu devedor,
Ouvindo tua voz quando me canta
As páginas bonitas deste amor.
A força que me move, tanta, tanta...
É feita do perfume sedutor
Que exalas, minha amada e rara rosa.
Por isso estou feliz e vivo prosa..
X
6656
Um rio vai chorando em cachoeiras
Depois de te banhar, ninfa divina;
As águas te lambendo costumeiras,
Na fonte tão risonha e cristalina.
Se perdem rumo ao mar, em corredeiras;
Tocadas pela pele que alucina.
As línguas destas águas vão inteiras
Depois de te beijarem, bel menina.
E choram por partirem sem poder
Ficarem no teu corpo eternamente.
Usufruindo assim de tal prazer
Que determina a sorte de quem ama,
Pudessem percorrer mais lentamente,
Quem sabe nestas águas, fogo e chama?
X
6657
Minha alegre menina quero a dança
Do teu corpo, requebros sobre mim;
A noite verdadeira já se avança
E a boca mais sedenta,carmesim...
Alegres os compassos da esperança
Que queimam seu pavio até no fim.
No fogo deste estio, não se cansa,
E sabe que me ganha, inteiro sim...
Tua alegria imensa contagia
E faz de cada gesto a sedução.
Que esquenta todo amor em fantasia
E tudo, sem ter tréguas, contamina,
Ardente como o fogo da paixão,
Na dança tão alegre da menina...
X
6658
Sei que sou desatento, me perdoe,
Às vezes eu me esqueço de dizer
O quanto és importante. Que a alma voe
E possa, meu amor, te convencer
Do quanto que te gosto e que te quero;
Te espero em meu caminho, mil perdões.
Por certo distraído, mas venero
O canto em que me mostras emoções...
Vou preso ao teu encanto, e sinto a falta
De tua mansa voz, de teu perfume.
Por vezes se a saudade já me assalta,
Procuro tua luz em vago lume...
Desculpe, meu amor mas que alegria,
Saber que tu estás já traz bom dia...
X
6659
O dia vem surgindo mansamente,
Uma alvorada calma, sol bem lento...
Um frio aconchegante é o que se sente
As folhas vão dançando ao leve vento...
E já desperto preguiçosamente
Na paz deliciosa do momento.
Neste silêncio mágico, envolvente
Distante da tempesta e do tormento.
Percebo quanto estamos mais unidos
E vejo que ao teu lado, estou feliz.
Nos braços e nos raios envolvidos
Esta manhã convida a ter preguiça
O sol já vai mudando o seu matiz...
Meus olhos se inundando de cobiça...
X
6660
Os vinhos, as champanhas, os motéis.
As festas dos desejos incontidos...
As trocas, os carinhos, lábios, méis,
Sussurros entremeiam os gemidos,
As noites embaladas por corcéis
Que voam na lembrança, nos sentidos...
O rumo se perdendo ao se encontrar
Nudez, seios e peles se entrelaçam.
Estrelas radiantes, o luar...
A vida carregou, bem sei que passam
Sozinho; vou buscando noutro bar,
Imagens me confundem, se esfumaçam...
Amores que se foram... Eu fiquei...
Em que parte da vida, amor, errei?
X
6661
Na dança das palavras deste verso
Vencidos os meus medos insensatos.
O sentimento invade-me diverso
Mostrando na parede teus retratos.
Paredes infinitas do universo,
Desejos instintivos pois inatos
Aos poucos me tornando tão disperso,
Distante das vontades e dos atos.
Mas sei quanto te quero, isso me basta.
Por mais que sejam duros os caminhos,
A sola de minha alma já bem gasta
É testemunha clara dos meus dias,
Buscando noutros braços os meus ninhos,
Tentando em tua boca, as alegrias...
X
6662
MEU AMOR
Amor; que eu não proclame aos sete mares
Teu nome, e que preserve o sentimento.
Além deste quintal, destes pomares,
Silêncio que eu exijo até do vento.
Não saibam deste amor nem os luares,
Não quero mais as dores nem tormento
Pois sei que tanto amor ao dedicares,
Pediste este silêncio, e assim eu tento.
Embora esta vontade de gritar!
Embora esta alegria que incontida
Invade minha vida sem vagar,
Tomando o pensamento, sem parar
Tu és a minha paz, razão de vida,
É duro me conter e me calar...
X
Quem sabe se romântico poeta
Esboço de ilusões eu carregasse.
Na mira mais perfeita desta seta
Não resta nem aresta até disfarce.
Vasculho outro sentido, em nova meta;
Gerando tolamente um novo impasse;
Na sorte que não tenho e se completa
Na oferta que te faço: uma outra face.
Mas louvo o nosso amor em novo cântico.
Encontro-te comigo em sala e bar.
No fundo, bem quisera ser romântico.
Bebesse gota a gota o vasto mar.
Amar já não seria assim tão tétrico
Meu verso não viria escravo métrico.
X
6663
Em brancura suave tal qual neve
Minha alma embevecida te suplica.
Num sonho delirante que a enleve
Não tem porque e nunca sacrifica.
Espera pelo altar manso que eleve
Branduras e carícias, se edifica
Trazendo a calmaria. Quem se atreve
A erguer-se contra uma alma que adocica?
Portando as esperanças de mudança
Levando por caminho deslumbrante.
Convida tão festiva à nova dança.
Nossas almas penetram-se, em conjunto,
Tatuam-se de forma inebriante.
Conversam; calmamente, o mesmo assunto!
6664
Sentindo em cada abraço uma presença
Divina, da mulher que tanto espero,
À noite sempre aguardo que convença
O amor que tanto sonho quanto quero,
Paixão que tenho assim é tão extensa,
É todo o bem que guardo e que venero.
Teu corpo, minha amada, a recompensa,
Do amor que te dedico, mais sincero...
Te ter cada vez mais perto de mim,
Sentindo o teu arfar tão desejoso.
Amor que se faz forte e vai sem fim,
Tomando o pensamento a todo instante.
Te quero em cada beijo mais gostoso,
No sonho que se faz tão delirante...
X
6665
A noite vai passando, doce e quente;
Num tórrido desejo que nos guia
Envolta por suores, fantasia
Se mostra mais voraz, impertinente.
Vontade de te ter, fogosa, ardente;
No jogo que me encanta e me vicia,
Torpores de prazeres e magia,
No amor que a gente faz amor se sente.
Meus braços te enlaçando na cintura,
As pernas que se tocam se entrelaçam
Num beijo tão suave com brandura
Loucuras que traçamos mal disfarçam
A sede delicada, uma tortura,
Dois corpos que se querem e se abraçam...
X
6666
Tão longe de meus olhos, tão distante...
Vagando pelos sonhos, um cometa.
Querendo o seu carinho a cada instante
Do nada que me resta se completa
A dor que me tomando num rompante,
Penetra no meu peito, fria seta,
De tudo o pensara, estonteante;
Mulher que tanto quis não se repleta
E foge dos meus dedos, minhas mãos,
Mostrando que estes sonhos, todos vãos,
Se foram sem sequer dizer seu nome.
A sorte benfazeja não restou,
Nem mesma uma esperança aqui ficou,
A vida, num segundo, longe, some...
X
6667
Sonhar com nosso amor em turbilhão,
Tocando a tua pele, os teus sentidos.
Passeio no teu corpo uma emoção,
Meus dedos te percorrem, decididos...
Viajo pelos sonhos, na amplidão
Distante dos meus dias desvalidos,
Tomado por loucura e por paixão,
Os medos e os anseios já vencidos...
Querer-te sem limites ou fronteiras,
Sem cercas, sem domínios, ser só teu.
As flechas dos desejos tão certeiras
Invadem cada ponto de teu cais.
Amor assim gostoso convenceu
Querendo muito e sempre, sempre mais...
X
6668
Entregue à calmaria desta brisa,
Sentindo neste vento, o beijo teu,
Perfume do teu corpo já me avisa
Meu coração buscando-te perdeu...
Mas sigo o rastro intenso destas flores
Que têm em seus olores o teu cheiro,
No rumo em que procuro os teus amores,
Carinho mais gostoso e verdadeiro...
Ao ver tua chegada, estou feliz,
Pensara que tivesse te perdido,
Agora brilha o céu, novo matiz,
Viver traz novamente um bom sentido.
Querida, não me deixes; por favor,
Nem sempre encontrarei perfume e flor...
X
6669
Com sorriso maroto ela levanta
E mostra assim total felicidade.
A vida, nos seus olhos, sempre encanta
Num raio bem mais forte, liberdade.
Nem mesmo a dor terrível mais espanta
Menina que se fez em claridade...
Já sabe do poder de ser tão bela,
Os homens a seguindo com olhares...
Na força poderosa desta estrela
Paixões morrem, renascem aos milhares...
Queriam; todos juram, poder vê-la
Nas transparentes vestes; despertares...
O dia se anuncia em sol risonho
Na vida que por si já é um sonho..
X
6670
A lua refletida sobre o mar
Chorando suas lágrimas, orvalho...
Percebe que a distância a flutuar
Encontra com amor, um grande atalho
E lança-se, sem medo sobre as águas
Invade o manso mar com seus desejos.
Rasgando este universo sobre as fráguas
Mergulha delirante em mil lampejos...
O mar se extasiando com a luz
Se entrega sem temor aos seus carinhos;
A lua não percebe, mas seduz;
Entregando-se às ondas faz os ninhos
De cores e delícias mais incríveis,
Realizando amores impossíveis...
X
6671
Não duvides, querida deste amor
Que cala dentro em mim, quase não fala...
Bastando-se somente. Sem temor
Da noite que vier. Somente amá-la...
Não cabe mais resposta nem pergunta,
Minha alma sem a tua não resiste.
A vida a cada dia nos ajunta,
E solitariamente morre triste.
Encontras as pegadas dentro em mim,
Não sei por que tu queres procurar,
Se tudo o que tivemos mostra enfim
Que os passos que vivemos, ao luar,
Eternamente livres, deixam rastros,
Apenas nos espaços, morrem astros...
X
6672
Colando a minha pele em tua tez,
Sentindo o teu perfume junto a mim,
A brisa antecipando insensatez
Que faz do nosso amor tão bom assim...
Ao ver a maravilha da nudez
Exposta em minha cama sinto, enfim,
Delícia desse amor que a gente fez,
Na noite que quem dera não ter fim...
Passeio por teu corpo,perco o rumo,
Desnudo-me entregando a uma alegria
Bebendo do desejo todo o sumo,
Viajo nas estrelas... fantasia,
Deitando meu amor, já me consumo
E quero estar assim por todo o dia...
X
6673
Quem vive do passado, remoendo
As dores que ganhou no dia a dia.
Não é somente a si que ele angustia
A todos que conhece, entristecendo.
A vida não merece ser remendo
Dos erros cometidos. Tal sangria
Expõe todo futuro em anemia.
Um dia, meu amigo, isso eu aprendo.
Às vezes necessito a temperança
De quem sabe viver, tranquilamente.
Palavra que disseste, se me alcança
Talvez adentre assim na minha mente.
Restando-me aprender, ninguém desmente,
Depois da tempestade? Uma bonança!
X
6674
Sobre teu corpo, deito meu prazer,
Vasculho-te querida, por inteiro,
Aos poucos vou tentando revolver
Sentindo tua pele, cor e cheiro.
Na fonte do desejo te beber
Tomando os teus sentidos, costumeiro,
Sabendo quanto quero o teu querer,
Amor da gente explode, verdadeiro...
Matando o teu desejo, te tomando,
Adentro tuas matas, tuas sendas,
Cobrindo-te com fúria, demonstrando
As rotas que percebes e desvendas,
Numa explosão divina, correnteza,
Tomando cada ponto, com certeza...
X
6675
Entranho neste quarto o meu desejo
De ter-te feiticeira encantadora
Transparência divina aonde eu vejo
A pele que eu mais quero, e me decora.
Nas pernas tão morenas eu prevejo
Delícia deste amor que quero agora...
Retiro cada peça mansamente
E vejo-te desnuda junto a mim.
Decoro tua pele calmamente
A boca me percorre, carmesim.
E na loucura imensa deste instante,
Beber teu farto mel... prazer sem fim...
Depostos nossos corpos sobre a cama,
Teu fogo reinicia em nova chama...
X
6676
Que dera um cavaleiro enluarado
Entrasse em teu castelo, com certeza
Amor que sempre fora bem guardado
Darias com desejo em sobremesa
Aos dias em que sempre transtornado
Buscou amada glória na princesa
Das terras encantadas, bem querer,
Depois de tanta estrada, tantas chuvas,
Nas sendas tão difíceis de saber
Em tantas armadilhas, urzes, curvas
Deitar em teu dossel, o meu prazer.
Beijar as tuas mãos, tirar as luvas
E ser assim amado companheiro,
Desta princesa bela, o cavaleiro...
X
6677
Acendo o meu cigarro e penso em ti,
Nas espirais dos sonhos sempre estás.
Esfumaçam as dores que senti
Adentra a minha casa, chama em paz.
Os versos mais bonitos que eu já li,
Uma canção que o vento, hoje, me traz.
Vontade de te ter comigo, aqui,
Deixando uma tristeza para trás...
O dia que renasce em teu olhar
Estrela, peço a luz pra mais um dia,
É muito bom poder, a ti, amar
Sentindo o teu perfume junto a mim,
Amar-te, com certeza, o que eu queria,
Saber que tu és minha... amor... enfim...
X
6678
Doces beijos... Refém de teu carinho,
Entranho uma vontade interminável
De estar sempre contigo. Inconfessável
Certeza de que agora, em doce ninho,
A rosa que perfuma, sem espinho,
Tornou minha esperança mais palpável,
A minha vida em si, bem palatável;
E julgo que jamais serei sozinho.
Amor que num crescendo já desponta
Além do que pensara, além da conta,
Distante do quem sabe e do talvez.
No beijo que me deste, meu amor,
A vida se refaz num esplendor
Que traz toda alegria, em gravidez...
X
6679
Eu quero te abraçar, sentir-te inteira,
Bebendo teu carinho gota a gota,
Nesta emoção completa e verdadeira,
Nossa roupa suada e quase rota
Atados pelos nós que somos nós,
Corpos emaranhados, sede tanta...
No mundo; mais ninguém, estamos sós
E toda a solidão já nos encanta...
Marcados pelo fogo, intensa brasa,
Aqueço-me em teu corpo, teu calor...
Desfrutamos de tudo, a vida apraza
Na labareda intensa feita amor...
E somos infinitos num momento,
Corpos, mentes, sabores, pensamento...
X
6680
Deitada em minha cama, assim desnuda,
Eu olho devagar, este cenário.
A pele tão macia, a boca gruda...
Exploro cada ponto qual corsário
Que ao sabor destas ondas logo muda
E vibra em teu amor, destinatário
Dos sonhos e desejos mais profundos,
Da viva sensação de ser cativo,
Minutos, horas, dias e segundos,
Contigo, meu amor, estarei vivo.
Destilo do teu mel, meus novos mundos,
De tudo o que há lá fora eu já me privo...
O teu perfume invade-me as narinas,
Descubro extasiado, tuas minas...
X
6681
Amada, como espero esse momento
com tal felicidade no meu peito.
Entrego todo amor e sentimento
pois sei que ser feliz é meu direito.
Não quero mais do fel, tormento
nem quero mais seguir insatisfeito.
Teu nome vem chegando pelo vento,
tocando o coração. Amor,aceito
o teu carinho, sempre redentor,
é lume que me guia pela vida.
Destrói o que se fora triste dor;
refaz minha esperança dia a dia,
por isso é contigo amor, querida,
pretendo me entregar à fantasia.
X
Sentindo o teu perfume, minha amada,
A noite vem trazendo o teu desejo
Contido na tua alma desnudada
Tanto prazer-paixão; assim, prevejo.
Buscando meu caminho no teu porto
Deitando nos teus braços meu cansaço,
Depois de tanto amor, já quase morto,
Sentir esta delícia em teu regaço...
Alucinadamente nos amamos,
O gosto do prazer nos alucina.
Que bom que nos sabemos, encontramos
Na busca da alegria, a nossa mina
Repleta dos tesouros mais profanos
No céu destes desejos soberanos...
X
6682
Meu sonho tão distante, em negra treva,
Alçando uma esperança no infinito.
A vida dolorosa então se neva
Na solidão mais dura do granito.
Quem dera se me ouvisses. A dor leva
O meu desejo intenso e mais bonito.
Por tanto tempo, sempre em louca ceva,
Apenas por resposta: o não, teu rito.
Mas sinto que virás ao fim do dia,
Na porta escancarada da ilusão.
Quem sabe assim, luxúrias, gozo e cio
Fomentem minha vida em alegria.
Nos laivos mais fecundos da paixão,
Queimando um coração deveras frio...
X
6683
Ao cobrires de azul esta nudez
Que tanto desejei a vida afora,
Escondes a beleza de uma tez
Que quero ansiosamente. Vem agora
Que a noite vem chegando e toda vez
Que a lua extasiada já se aflora
Eu lembro-me do amor que a gente fez,
Meu corpo em tua cor veste e decora.
A brisa lentamente me cercando
Dizendo que virás e não demoras,
Minha alma se levanta flutuando
Espera esta presença desejada...
Estou aqui sozinho há tantas horas,
Na espreita desta noite azulejada...
X
6684
Saudade deste toque em minha boca
Dos lábios tão macios, desejosos...
A noite vai passando... Fria e louca,
Sem ter os teus carinhos maviosos...
Eu vejo o teu olhar em cada canto,
E sinto o teu perfume nos meus dedos.
Ao ver-me tão sozinho, eu já me espanto,
Onde foi que perdi nossos enredos?
Vontade de voltar, Ah se eu pudesse!
Sentir a maciez de tua pele,
Erguendo as suplico em triste prece,
Porém a solidão vem e repele
Os meus desejos, toda essa vontade,
Sobrando simplesmente uma saudade....
X
6685
Amor que nos sustenta em verso e vida,
Sedento procurando em cada espaço
O gosto desta sorte dividida
Que estreita-se e aprofunda nosso laço.
Desejo ter teus lábios sim querida,
Roçar a tua boca, ser teu passo
Em busca da delícia repartida
Formando em nossa vida o mesmo traço.
Tu és a redenção de minhas dores,
Tu és o meu destino, sol e lua...
Nas mãos que te procuram, os tremores
Demonstram emoção de poder ter
Tua beleza imensa, tensa e nua
Na busca tão intensa do prazer
X
6686
À noite entre guitarras, melodias,
Dançamos nossos corpos, busca intensa.
A lua sobre a areia, plena, imensa,
Permite que voamos fantasias...
Nós dois, entranhados de magias
Nesta deliciosa recompensa
Da noite que se vai e em nada pensa,
Deixando bem distantes, agonias...
As marcas desenhadas nesta areia,
Por certo as ondas levam, as marés...
Depois nada encontrando, quem rastreia
Não verá mais vestígios. Nada mais...
Mas a marca das pegadas , nossos pés
Testemunhas do amor que sei demais...
X
6687
Quem dera se pudesse te levar
Nos barcos dos meus sonhos, u’a princesa
Tomando-te em refém, distante mar,
Enfrentando batalhas, correnteza.
Cativo da beleza deste olhar
Teria nos teus braços, a certeza
De todo este tesouro desfrutar
Com ares de banquete e sobremesa.
Deitar minha alegria do teu lado,
Vencendo qualquer guerra que apareça.
No reino dos desejos, encantado,
Viver um sonho eterno, uma ilusão,
A sorte benfazeja que apeteça
Nos mares tão profundos da paixão!
X
6688
A chuva que, caindo esfria tudo,
Alaga de saudade o coração.
Distante de teus olhos, fico mudo.
Tomado pela dor da solidão...
Porém uma esperança vem, contudo,
Em forma de desejo e de ilusão...
Que sabe se contigo, amor eu mudo
E as enxurradas sejam de verão...
Poder tocar depois da tempestade
Teu corpo, uma bonança sem receios...
Nos devaneios; vôos de verdade
Chegando no teu quarto de mansinho,
Deitar minha cabeça nos teus seios,
Aquecendo esta tarde com carinho...
X
6689
Anseio tua vinda, todo dia,
Espero o teu carinho, doce afago.
Tua palavra acalma, uma alegria,
Na placidez gostosa deste lago.
Tu és o meu desejo em fantasia.
Sorver-te calmamente trago a trago,
Numa delícia plena em sintonia.
Um sentimento pleno, forte, mago..
Eu quero ter comigo o teu carinho,
Deitar-me no teu colo, ser inteiro.
Fazer de teus desejos o meu ninho,
Pulsando bem mais forte, sinto e vejo,
Um sonho que se torna verdadeiro,
Que, aos poucos vai tomando meu desejo...
X
6690
Vagando pelas ruas e vielas
Sob o brilho do sol, irradiante,
Depois, esperarei pelas estrelas,
Parceiras desta lua deslumbrante...
No céu a primavera tece telas
De rara claridade. Sou amante
Destas cores, beleza em aquarelas
Mágico sonho-vivo esfuziante...
Delícias em geladas sobremesas
Escorrem pela boca, dão prazer.
Em meio a tantas flores e riquezas,
Entrego-me ao calor e ao doce vento,
Na maravilha imensa de viver
Sem ter nem mais a sombra de um tormento...
X
6691
Amor não é barreira. É solução!
Não tema quando o vento te tocar.
É nele que teu rumo e direção
Estão. Deixe este barco te levar
Por mares e por céus, pela amplidão.
Entregue-se sem medo quando amar,
Não tem por que pedir nem dar perdão
Por ter um paraíso a te esperar.
Tu és a maior prova da existência
De um Deus por sobre nós, em pleno amor.
Não há nenhum dilema, nem clemência
Apenas uma força divinal
Que sempre nos tornando sonhador
Liberta o coração de todo mal...
X
6692
Vieste redentora, nuvem clara
Que borda este meu céu em fantasias.
Beleza inalcançável, fina e rara,
Moldura de meus sonhos, alegrias...
Minha alma alçando vôo se prepara
Imersa em ilusões, doces magias...
Fragilidade mostras nuvem bela,
Estou a te conter em cada verso,
Na busca vespertina por estrela
Que leve este meu canto ao universo.
Difícil me calar, somente vê-la
Demonstra um bom futuro, tão diverso
Dos dias que passei em solidão.
Ó nuvem passageira... na amplidão...
X
6693
Na cantiga de roça, uma emoção
Que vestida da chita da esperança
Canta nas asas livres do azulão
Nos acalantos mostra nova dança
Voando nestas asas da ilusão.
Deixando nossa vida em confiança.
Batendo bem mais forte no meu peito
Um coração sofrido e já marcado
Que nem sabe bater mais satisfeito
De tanto que cortou-se, machucado.
Agora sem saber se vai direito
Exposto neste vento do passado...
Restando esta cantiga de amizade
Do canto que se fez da liberdade...
X
6694
Amigo dentre tantos companheiros,
Seguindo cada passo lado a lado,
Nos sentimentos nobres, verdadeiros
Por certo cada rumo foi trilhado;
Fazendo da humildade seus canteiros
No verso mais gentil, extasiado,
De uma esperança nobre tem os cheiros,
De um canto sempre vivo, acompanhado.
Amigo que se faz no dia a dia,
Nestes momentos duros; mais fiel.
Um mensageiro eterno da alegria,
Com todas as serenas humildades
Nos traz em horas tristes, todo o céu.
Mostrando em tal poder, as santidades...
X
6695
Mal sabes quanto quero o teu amor,
Além de toda a força da paixão.
Presente no meu peito com vigor
É mais que um grande amor, uma obsessão!
Da vida, sempre fui expectador
Poupando, com certeza, o coração.
Ao ver o teu sorriso sedutor
Eu me entreguei inteiro à tentação.
Mulher amada, amiga e companheira,
Bem sabes quanto a quero, não duvides
A seta de Cupido, tão certeira;
Não deixa mais defesa, nem saída.
Os rumos, minha sorte, que decidas
Rainha; tu comandas minha vida...
X
6696
Coração aninhado em coração
Distante mas tão perto que me toca,
Na inebriante força da paixão
Que bem sabe quem quer e não se estoca
Nem mede conseqüências, passa a noite,
Em louca sedução, em bocas quentes...
Saudade vem chegando, queima, açoite.
Dê-me tantos carinhos! São urgentes.
Não deixe que esta noite vá sozinha,
Meu colo quer cansaço, sem ter tréguas
Minha alma, tu já sabes onde aninha,
Embora esta distância... Tantas léguas...
Amor de tanto mel; quero os enxames,
E peço-te, querida, vem e me ames...
X
6697
Hoje ao te ver lembrei-me do começo;
Nosso primeiro beijo. Que carícias!
A vida se virando pelo avesso
Mostrando em seu caminho essas delícias...
Trazias a beleza de uma aurora
Com toda a mansidão do amanhecer...
O mundo renascendo bem lá fora
E a gente neste sonho, a se perder...
Teu sorriso... O suspiro desejoso
Convida; olhos abertos, a sonhar...
Nossos corpos... No toque mais gostoso
Dos raios carinhosos do luar...
Amada... Nos sentimos descobertos,
Os olhos, corações... Todos abertos...
X
6698
Rondando a noite inteira, tão sozinha,
Nos bares, botequins e nas adegas.
Nos ombros que não ama, assim se aninha,
As luzes da esperança tu já negas.
Mal vês que uma triste alma , pobrezinha,
Em mares que distantes, não navegas.
Procura por teu corpo. Uma avezinha
Sem ninho, vai morrendo voa às cegas...
Amar-te muito além do que imaginas,
Querer-te em cada novo amanhecer.
São duras, com certeza, nossas sinas...
Tu beijas quem não queres, vou sozinho...
Quem dera, meu amor pudesse eu ter
À noite teus desejos, teu carinho...
X
6699
Querer te ter intensa, sem limites,
Num êxtase completo, carne e dentes...
Não quero, em nosso amor, quaisquer palpites
Apenas teus carinhos, envolventes
Num ato de total insanidade,
Roubarmos os sentidos, viajar,
Amar: ter e privar a liberdade
Desejos entranhados a queimar...
Ardendo em tua chama, num vulcão
Que explode em tantas lavas, me devora.
Trazendo eternidade em erupção
Das nossas profundezas, forte, aflora.
Viajo por teu ser, quero tocar-te,
Teus templos e mistérios... Profanar-te...
X
6700
Roçar a tua pele desejada
Beijar-te por inteiro, passo a passo,
Deitar-te em minha cama desnudada,
Vagando por teu corpo, cada espaço...
Até deixar-te inerte, saciada;
Provando de teu gozo, sem cansaço...
Sentindo tua carne tão gostosa,
Entrar em teus caminhos, sem juízo...
Volúpia de mulher maravilhosa,
Abrindo este portal do paraíso...
Na loba delicada, fera e rosa,
Imerso neste amor que mais preciso...
Vem logo, amor morena, uma delícia,
Tua presa deseja uma carícia...
X
6701
Amor! Um sentimento inigualável.
Inspirador de deuses e poetas
Tornando almas sensíveis prediletas
Do Criador, um Ser incomparável.
Amar é ter o bem insuperável
Forjando nossas vidas mais repletas
De sensos, de caminhos e de metas
Deixando o dia a dia suportável.
Chamar-te: Meu amor. Quanta alegria
Expressa em poucas letras, mas potentes.
É tudo quanto o Bem esperaria
Unindo em versos nossos continentes.
Distantes, mas tão próximos; querida,
Que seja, pois, assim, por toda a vida!
X
6702
Embora tão distante; amor, te sinto
Em cada pensamento que eu tiver.
Olhar que me tocando, qual absinto,
Tomado da maneira que quiser.
De teu amor insano, já me pinto,
Envolve-me em loucuras quando quer.
Um sentimento raro e mais distinto
Transita nos teus braços de mulher...
Amar a qualquer hora sem limites,
Tocando com os dedos o infinito.
Eu peço, meu amor, nisto acredites,
A vida nos demonstra um belo rito
De ter em alegria um sentimento
Na força divinal do pensamento...
X
6703
Quem veio de uma vida dolorosa,
Ao ver nascer enfim a primavera
Tomando este perfume de uma rosa,
Além de toda dura e triste espera
Percebe em tua mão tão carinhosa,
Muito mais do que sempre assim soubera.
A vida passa a ser bem mais gostosa,
Deixando para trás toda quimera...
As dores num momento já se esquecem,
Futuro mais bonito, os olhos tecem,
Jamais me sinto, assim, abandonado.
Meu mundo já não sigo mais sozinho,
Nas asas deste amor, um passarinho
Que nunca mais será engaiolado...
X
6704
Amor por um momento me domina,
Refaz em cada passo, meu futuro;
Trazendo um novo sonho, descortina;
Clareia totalmente um céu escuro.
Viver intenso amor é minha sina.
É como respirar um ar mais puro.
Fazer felicidade ser rotina
É como um manso cais que já procuro...
Porém eu não consigo disfarçar
O medo que me traz tão grande amor.
Capaz de me invadir e transbordar,
Jurando assim total felicidade;
Eu ficarei inteiro a seu dispor,
Nem mesmo temerei uma saudade!
X
6705
Quero, mulher amada e tão querida,
Deixar cada pedaço meu em ti.
Singrando em nosso amor a nau perdida,
Resgate deste tempo que perdi
Distante da partilha, nossa vida,
De todo o manso cais que existe aqui
Amores são noturnos, são fornalhas,
Amores são soturnos, envolventes...
Amores sempre cortam, são navalhas
Que trazem dor, prazer, risos, dentes...
São flores delicadas, rosas, dálias
Na paz e na delícia que tu sentes
Se faz a nossa vida d’hora em diante
Num sonho mais gostoso e irradiante...
X
6706
A pacificadora sensação
Que toma nosso peito, sem cobranças
Forjada pelas tréguas, alianças
Formando em dois soldados, batalhão.
Dela mesma se faz renovação
E no cantil, somente as esperanças
Nas velas desfraldadas, confianças,
No mar tempestuoso da paixão...
E somos companheiros de viagem,
Nas estações, nos cais, em vários portos
Por mais que sejam duros, sejam tortos
Os caminhos; seguimos. Numa aragem
Serena e mais sensata. Mas com ardor
De quem sabe regar, canteiro e flor...
X
6707
Asas abertas sonhos delirantes
De vôos mais felizes pelo espaço.
No toque e no carinho dos amantes
A vida nos conforta passo a passo.
Saber de uma alegria e ver bem antes
A dor que nos maltrata, cerra o traço,
O dom que nos cativa, triunfantes
Caminhos que se abriram num abraço
Das asas que conhecem liberdade
Nos olhos sempre puros, e por isso
Mais aptos a saber da claridade
Que uma esperança mostra; tão intensa,
Com a felicidade, o compromisso,
Desta alegria nossa, que é imensa...
X
6708
Meu canto te encontrando vai liberto
Pois sabe deste amor, felicidade.
É bom saber que estás sempre por perto,
Nas ruas ou nos campos, na cidade...
Eu sei que amar demais traz bem desperto
O sentimento triste da saudade.
Não deixe que jamais morra em deserto
O amor em plenitude, em amizade.
Não quero te perder nem me perder,
Apenas quero o dom de ser feliz.
Viver nossa aventura com prazer,
Nos versos que se beijam, boca a boca.
Amar, amar, amar e pedir bis,
Sabendo que uma vida é muito pouca...
X
6709
Venha aqui comigo, amor não temas,
Noite qual criança sem juízo
Te chama a conhecer de perto as gemas
Que são como portais do paraíso...
Amar demais concebe nossos lemas
E cada vez mais forte e mais conciso,
Subirmos nossos rios, piracemas,
Nos cios se tornando mais preciso...
Eu quero o teu sussurro em meu ouvido,
Falando o que bem sabes que desejo.
O fogo em que queimamos, não duvido
É tudo o que queremos. Eu me atiro
Em frente à tua boca e peço beijo,
Depois... Só quero ouvir o teu suspiro...
X
6710
Amor quando demais; a gente voa
Sem ter asas nas costas ou nos pés,
Atravessando o mar sem ter canoa,
Nadando simplesmente, sem revés.
Amor assim demais, mordendo cura,
Depois de um bom carinho, fecha a cara,
Às vezes nos tortura com ternura
É pedra mais comum, portanto rara...
Amor quando é demais, esqueço o nome,
E passo a ser eterno e morro logo,
Minha alma neste fogo se consome,
Em poucas gotas, lágrimas, me afogo...
Amor transforma véu em nosso escudo,
Perdendo-se a si próprio, sendo tudo...
X
6711
Poder sentir inteiro o teu perfume,
Em cada novo dia, me entregar,
Bem mais da forme de costume,
Teu corpo no meu corpo naufragar...
Subindo estas montanhas, vales, cume...
Naturalmente inteira, te tocar.
Cravando em teu cerne, todo o lume
Que um dia das estrelas quis roubar.
As duras madrugadas que, tão frias,
Maltratam quem dormia assim mais só,
Fazendo deste sonho as fantasias
De uma dia ser feliz, não sofrer mais.
Renasço nos teus braços deste pó,
Solidão que não quero ter jamais...
X
6712
Te quero bem além do simples fato
De ter uma esperança de te ser,
Não és somente espelho nem retrato,
És muito mais que sempre pensei ter...
Não és a sensação do intenso beijo,
És mais e sempre mais que simples caso,
Vivemos noutra esfera do desejo
Que nunca se permite um triste ocaso.
Quando irmanamos sonhos e vontades
Estamos bem acima disto tudo,
Não medimos no amor intensidades,
Entrega bem mais forte e sem contudo.
Amor que não precisa-se explicar
Tão simples; quatro letras: só AMAR...
X
6713
Amor que me tomando me extasia
Em flores e perfumes delicados.
Tornando cada dia em fantasia
E sonhos que serão recompensados
Por outro amor repleto em alegria
Mostrando que o futuro lança os dados
E mostra minha sorte mais completa
Nas flores estampadas dentro em mim.
Cupido, perspicaz atira a seta
E atinge o coração. Amando assim
A vida nos teus braços se repleta
E nasce em toda rosa do jardim...
Meu canto não se cansa de buscar
Amor que se fez raio de um luar...
X
6714
Amor que nos sacia e nos tatua
Crivando de emoções a vida inteira,
Minha alma ao te saber, cedo flutua
Trazendo tanta paz como bandeira...
Eu sonho ter teu beijo, clara lua,
Forrado em sensação mais verdadeira,
A pele tatuada, exposta e nua.
Fazendo de meu corpo tua esteira...
Teus rastros vou seguir, amada amiga,
Pegadas que deixaste no caminho,
Nesta ternura imensa, nossa liga
Que sempre norteou cada carinho,
Carinho que, no amor, é forte viga.
Certeza de não ser, jamais, sozinho
X
6715
O vento enciumado te mentiu,
Irei amor, decerto te tocar...
Apenas este vento repetiu
Mentiras que ele ouviu do triste mar
Que ao ver que nos meus braços já dormiu
Sereia que Netuno quis amar,
Achando que podia, ele pediu
Ao vento para, louco; te enganar...
Estou aqui bem perto, sinto o cheiro
De teu perfume solto pelo espaço.
Meu verso mais sincero e verdadeiro
Tocando esta janela do teu quarto,
Aguarda calmamente que esse laço
Renasça até que o dia chegue... Farto...
X
6715
Ladrilhei de esperanças o caminho
Prontinho para amada vir passar,
Passarinho cantando pede ninho,
Esperei meu amor, pelo luar...
Sozinho meu amor já me deixou,
Bem sei que com certeza, voltará,
Usei aquela estrela que brilhou,
Carinho que meu bem logo dará...
Vestida de luar, a minha amada,
Parceira deste sonho tão querido,
A lua não surgiu, envergonhada,
Deixando minha noite em solidão,
Agora estou sozinho e vou perdido,
Guardando nosso amor no coração..
X
6716
Tocado pelo vento da paixão,
Sem medos ou receios, minha amada;
Entregue ao teu carinho e sedução,
Minha defesa enfim, foi desmontada.
Vieste como um raio em explosão
Tomando assim meu rumo e minha estrada,
Entrego-te de vez meu coração,
Tua presença aqui, tão aguardada...
Além do meu desejo de te ter
Que sabes, é tão grande, não o nego,
Amanhecer contigo o meu prazer,
Beijar a tua boca todo o dia,
Uma esperança imensa que carrego,
Realizar meu sonho em alegria...
X
6717
Caminhos delicados do prazer
Aberto aos nossos sonhos mais audazes.
Vontade de contigo conhecer
Momentos mais felizes e vorazes...
Além do nosso mundo, amanhecer
Nos teus braços, carinhos mais capazes,
Percorrendo em loucuras, todo o ser.
Nas asas deste amor, nós somos ases...
Infindável desejo não termina
Nem mesmo quando raia o novo dia.
Depois de conhecermos fonte e mina,
Jamais nos deixaremos, meu amor.
Agora que sabemos da alegria,
Eternamente juntos, destemor...
X
6718
O vento que te trouxe, num momento,
Tomando toda a casa me mostrou.
Que um frio que nos toma o sentimento
Talvez seja este outono quem criou.
Quem dera se chegasses... Um tormento
Distante no meu quarto me deixou,
Tristeza devagar, tomando assento,
No canto em que meu peito te chamou...
Amor é sorrateiro e vingativo,
Não deixa mais seguir quem medo tem,
Vivendo por amar, eu sobrevivo,
Na espera de te ter aqui, comigo...
No frio dolorido que já vem,
Meu bem, aqui por certo, o teu abrigo...
X
6719
Eu sempre desejei tua nudez
Nas ruas, nas esquinas, nos motéis...
Depois de tanto amor que a gente fez
As asas estão presas aos meus pés...
Embora tanto diga, em nada crês,
Nem mesmo assim galopas meus corcéis,
Mantendo tua pose, em altivez,
Às vezes tu negavas os teus méis...
Porém amor tomando toda a casa,
Não deixa mais que mintas nem escondas.
Os mares te lambendo em tantas ondas,
Deitaram esta beleza em branca areia,
Neste calor imenso em viva brasa,
A lua nos meus braços se incendeia...
X
6720
Na delícia divina deste amor,
Que expõe nossos desejos insensatos.
Na noite desta entrega sem pudor
Tomamos de nós mesmos, cristais, pratos...
Sorvendo de teu corpo, tal calor
Que inunde calmamente estes regatos,
Na profusão divina em tentador
Delírio que nos toma em todos atos...
Deste mel que se escorre em tua boca
Inebriar-me até não poder mais.
Na chuva alucinante, tesa e louca,
Rolando sem juízo nos lençóis.
Amor gostoso assim, sempre demais,
Que faz nascer na noite dez mil sóis...
X
6721
Viver sem ter motivos, esperanças,
É como se perder no dia-a-dia,
Não tenho nem mais forças prá vinganças;
Não resta em minha vida, uma alegria.
Apenas sobrevivo das lembranças
Deixadas n’algum canto. A poesia
Convida para a lua e para as danças;
Que faço se morreu a fantasia?
Talvez numa jornada derradeira
Tu possas escutar enfim, meu pranto,
E vir para os meus braços, mais inteira
Sem medos, com os olhos no futuro.
Escute meu amor; eu te amo tanto,
Às cegas, nesta angústia, te procuro...
X
6722
Amiga; que me dera se assim fosse,
O fogo que se foi não queima mais.
Quebrada esta compota acaba o doce
Amor que já se foi, volta jamais.
O vento que alegria, um dia trouxe
Perdido noutros cantos tão distais,
Navio de esperança que afundou-se;
Um náufrago distante de outro cais...
Somente a correnteza que me leva
À morte com seu passo que é veloz,
Restando a solidão, amarga treva.
Um rio vai secando antes da foz.
A morte, ao crocitar, inda me enleva
Qual companheira amada, minha algoz...
X
6723
Viemos das entranhas das Gerais
No sangue violeiro uma esperança
Que adentrando profundo não sai mais,
No rosto que se queima força e dança,
Na busca da igualdade em santa paz,
Na broa com café, sapê, lembrança.
Viemos dos católicos batismos,
Dos dízimos, folias, reis, congadas.
Dos ricos e dos pobres, seus abismos,
Das cores matinais nas alvoradas,
Viemos deste sonho em liberdade
Do mesmo inconfidente do passado,
Do amor que resplandece em amizade,
Do sonho que merece ser sonhado.
X
6724
Quero que tu saiba minha amiga,
O quanto te desejo a cada instante,
A madrugada fria nos abriga,
Deitando no teu colo, amigo, amante...
Eu quero assim te ter, volúpia intensa,
Desnuda em minha cama, companheira,
Meu corpo te pretende recompensa,
De quanto já sofri a vida inteira.
Usufruir da boca mais carnuda,
Morena tão querida para mim,
Um olhar de carinho te desnuda,
E beijo cada lábio carmesim
Rolando em nossa cama, chama acesa,
Ser o teu caçador e tua presa...
X
6725
O sol, qual companheiro de viagem
Deitado nos teus braços, ciumento,
Impede meu carinho em abordagem,
Não quer mais te deixar um só momento.
Guardando nos seus raios, tua imagem,
Neste astro relutante; o sofrimento.
Embora noutro porto uma ancoragem
Virá quer ou não queira o pensamento.
Após esse sol-pôr, enfim sozinhos,
Podemos sem ter pressa mergulhar,
Bebendo em nossos corpos tantos vinhos,
Singrando a noite inteira sem parar.
Aproveitamos todos os carinhos,
Pois ele, amanhã cedo, irá voltar...
X
6725
Sem o amor de que vale a sapiência?
Sem o amor de que vale a fé mais plena?
A vida se tornando tão pequena...
Distante da verdade, a consciência.
Quem sabe deste fato, tem ciência,
Consegue imaginar que amor acena
Em atos e palavra mais amena,
Perdão, solicitudes e clemência.
O amor se faz premente sobre a Terra,
Exposta a sacrilégio e dissabor.
É na face do amor que Deus se encerra,
Pois a essência de Deus se mostra clara,
Em toda magnitude, em esplendor,
Num ato que consola enquanto ampara.
X
6726
“Podemos ser amigos, simplesmente?”
Depois de tudo aquilo que vivemos,
Ao beijar outra boca, de repente,
Será que o nosso amor já esquecemos?
Plantamos com vigor nossa semente
E sei que disto tudo inda tivemos
Momentos em que fui bem mais contente.
Muitas vezes, contudo, arrependemos
E tentamos mudar nossos destinos
Em outros pensamentos, outros mares.
Cometemos milhões de desatinos.
Disso tudo, querida; uma verdade;
Procuro o teu amor noutros lugares...
Eu te amo, mas aceito esta amizade!
X
6727
Amada te tocando em pensamentos,
Sentindo o teu perfume, a tua cor
Meus olhos te sentindo, beijos lentos
Em plena fluorescência deste amor.
Querendo te saber, tantos momentos,
Meus versos, nossos toques... Tentador...
Vencendo tantas léguas, mares, milhas,
Traçando novo rumo em teu destino,
Querendo conhecer as belas ilhas
Do sol que sempre brilha cristalino,
Morena, em ti promessas, maravilhas...
Eu quero amor amigo aqui, bem perto...
Oásis mavioso num deserto...
X
6728
Pecado é não sentir a sensação
De ter o paraíso em plena vida;
Negar a imensidade da emoção
Nesta vontade louca e distraída
De ter asas, voar pela amplidão,
Transbordando em prazer, sem ver saída,
Senão a que nos manda o coração,
Minha alma se encontrando; em ti, perdida...
Um arrepio intenso me domina,
E sinto-me suado, a boca seca,
A força do desejo não termina,
Vontade de te ter e sempre estar.
E sei então, quem ama nunca peca,
Adentra o paraíso; por amar...
X
6729
Dois corpos se tocando, com luxúria,
Sentindo belos seios, duros pomos,
Da sílfide divina. Doces gomos
Da fruta preferida, fome e fúria.
Visão extasiante de uma lua
Que adentra em nosso quarto, voyeurista.
Prateia uma escultura semi nua,
Com mãos tão delicadas de uma artista.
Deitada no teu lânguido abandono,
No gozo perfumado, doces sumos,
Fustiga meus desejos, rouba o sono,
A noite se propõe em outros rumos...
Ecoam fantasias, turbilhões,
Devastadores fogos, mil vulcões...
X
6730
Desenho nosso nome em nuvens alvas
Que passam em desfile pelo céu,
Montanhas tão distantes, belas calvas,
Azulam horizonte em claro véu.
Percebo as alegrias todas salvas
Distantes de um vazio mais cruel.
Nas sombras que derramas pelas ruas,
Os rastros dos meus sonhos desfilando.
Na claridade imensa, sóis e luas,
Belezas e magias redobrando.
Quais pássaros, teus passos... Tu flutuas;
Despertas meus desejos. Até quando?
Pergunto a cada nuvem sem resposta,
Deixando uma esperança assim, exposta...
X
6731
Não temas, minha amada, tal mensagem,
Os Deuses já nos amam totalmente,
Pressentem a beleza da visagem
Que, aos poucos, vai tomando nossa mente...
Na mansidão segura da viagem
Um coração que voa nunca mente,
E sabe que encontrou melhor paragem
No coração que encanta, simplesmente...
Confio em cada verso que me traz
O vento benfazejo da esperança.
Por isso, em nosso amor, sou bem capaz
De mergulhar tão manso e tão profundo.
Envolto nos teus braços, sem tardança;
Sou o ser mais feliz que há nesse mundo!
X
6732
Sentindo o cheiro bom de tua pele
Colada com meu corpo. Que prazer!
A boca te procura e se compele
A pesquisar inteiro; quer te ler...
Roçando o teu pescoço, o vento frio
Nos lábios a promessa de delírio.
Teu corpo tremulando em arrepio,
Vontade tão voraz vira martírio...
E roubo teu silêncio, num gemido,
Palavras se perdendo na loucura.
Decoro cada rumo percorrido
Entrego-me aos teus sonhos com ternura...
Amar se embriagando no desejo
É raio que nos corta, num lampejo...
X
6733
Eu quero te sentir completamente
Dois corpos que se entregam sem medida,
Em plena simbiose, de repente,
Unificados numa mesma vida.
Ávida sensação inflama; intensa,
Na desmedida entrega, inundação...
O sexo em perfeição, a recompensa,
Imensa desta louca sensação...
Eu quero inebriar-me de teu ser,
Voluptuosamente devorar
Sem pontes, sem pudores, quero ser
Inteiro, totalmente e me grudar
A ti nesta delícia indescritível,
Contigo, sem limite, indivisível!
X
6734
Tu sabes, meu desejo é teu desejo,
Entregues nossos corpos saciados.
Vibrando nossos êxtases no ensejo
Da vida que promete novos prados,
Amada te tocar em cada beijo,
Depois nos descobrirmos deslumbrados...
A lua que recobre um corpo belo,
Em tua morenice, teus encantos,
Meu barco no teu cais; decerto atrelo
Viajo sem temor, rumos e cantos...
Amor que no teu corpo, cedo selo,
Singrando saciado; mil recantos...
No diadema feito por estrelas,
Em sonhos mais perfeitos... convertê-las....
X
6735
No canto em primavera deste amor
Cada palavra veste-se de flor
E forma a nova dança, uma ciranda.
Contente por te ser e ser só teu
No verso, esse compasso que se deu
Formado por uma alma que se abranda
Na poesia amiga e companheira
Vontade de dançar a vida inteira
Sem ter sequer descanso, só dançar.
O gosto deste mel feito garapa
Escorre livremente, já se escapa
E traz uma emoção tão singular.
X
6735
Brincarmos nestes campos delicados,
Em meio a tentações e mil segredos.
Os olhos sem malícia misturados
Buscando desvendar tantos enredos
Que fazem dos meninos dedicados
Promessas de desejos e degredos...
Aos poucos, te tocando, a boca pede
A boca que me dê lábios tão quentes,
Retrato desenhado na parede,
Os corpos se procuram tão urgentes,
Menina receosa logo cede
E as tarde vão passando, são mais quentes...
No gosto da maçã, tão sem juízo,
Meninos descobrindo o paraíso...
X
6736
Tuas mãos deslizam sobre mim,
Suadas, desejosas, envolventes...
Acendem num segundo o estopim,
As bocas se procuram, loucas, quentes...
Eu quero o teu prazer até o fim,
Sabendo que também, amada, o sentes.
No gozo que nos toma tudo assim,
Gemidos e suspiros entre os dentes...
Fazemos tanto amor, louca viagem,
Prazeres explodindo aos borbotões.
Teu sexo perfumado, uma visagem
De flor tão delicada, tentações...
Inunda em umidade, uma estiagem,
Arrebenta a barragem, explosões...
X
6737
Na primavera eterna da alegria
Em flores e carinhos um festejo
Além de todo cais que a Deus pedia
Imerso nas procuras do desejo.
Salvando da penumbra triste e fria,
Agora, nos teus laços, eu prevejo
A luz que imaginei, tanto queria,
Na mansidão suave; nosso beijo...
Tu és a garantia de um futuro
Mais rico em emoções, calor e vida.
Aramos este chão outrora duro
E vemos novamente, num clarão,
A senda mais feliz, uma saída
Que sabe que o amor é solução.
X
6738
Saudade vem trazendo este desejo
Do beijo e do carinho necessário
Amor já vai cumprindo itinerário
Nesta estação querida que prevejo;
Morena; a sensação do todo beijo
Que é dado sem motivo e sem horário
Fazendo ressoar um campanário,
O coração batendo numa trovejo.
Que coisa mais gostosa que o amor tem,
Não deixa ficar pedra sobre pedra,
Homem apaixonado nunca medra;
Tampouco, te garanto perde o trem.
Por isso estou chegando e sou ligeiro
Pedindo o teu carinho, dê-me um cheiro!
X
6739
Sentir a tua mão quente e macia
Passando por meu corpo, nau exposta.
Na sensação profana que vicia,
Do jeito que sonhei, tanto se gosta.
Querendo sempre assim, e todo dia,
Na fome que se mata, já reposta,
Na sede que somente amor sacia,
Encontro em nossa saga uma resposta
Que tanto procurara vida afora.
Na pele amorenada, fartos seios,
Vontades e desejos... Vem agora!
Não tenha mais vergonhas ou receios,
Sossegue esta vontade junto a mim,
No gozo e na alegria, sem te No nosso amor imenso que sacia
A fome, a sede, o sonho, a poesia
Imerso no desejo que queria
Vivendo realidade e fantasia,
Eu quero te cantar em harmonia
Meu verso com teu verso em sintonia,
Trazendo para a vida a sinfonia
De amar demais assim, a cada dia...
Amor que não permite a noite fria,
Invade transbordando em melodia
É muito mais que penso que seria
E nunca nos permite uma agonia.
Ao ver teus olhos mansos pressentia
Amor que me transborda em alegria...
X
6740
Sussurro em teus ouvidos, mansamente,
Falando bem baixinho deste amor.
Que toma nossa vida num repente,
Transbordando; incessante e sedutor...
Tomaste devagar, a minha mente,
Não tenho outro desejo que não for
Estar contigo; amada. Bem mais quente
O dia em que vivemos. Faz calor
Embora a chuva caia. Primavera
Nascida neste sonho faz fluir
Já todo o sentimento que se espera
Na flor que recém nasce um passarinho
Ouvindo tua voz, mansa a pedir...
Amor; quando falar; fale baixinho...
X
6741
O multifacetário sentimento
Que traz tanto alegria quanto dor,
Ao dicotomizar-se num momento
Quando abarcando espinho trama a flor.
Às vezes um atroz ressentimento
Motiva, sem juízo, um dissabor,
Difícil, bem difícil recompor
A casa destruída pelo vento.
Porém a divindade que o criou
Em flecha penetrante e dolorida
O rumo desta história demarcou.
A lama reproduz a nobre vida,
O vácuo é a maior insensatez,
Da lágrima e do riso, amor se fez...
X
6742
Zelando pelo sono de quem amo,
Trazendo toda a paz que é necessária,
Além de toda sorte imaginária,
Não mais de solidão, amor; reclamo.
Valoro do arvoredo, cada ramo
Pois sei que toda dor é temporária
E a fantasia, quando mandatária
Transforma todo o amor bendito em amo.
Percebo na ventura de ser teu
A sorte que sonhara, tão tranqüila.
Sentindo nesta noite a leve brisa
Concebo nosso sonho de himeneu,
Paixão que em coração feliz se asila,
Felicidade então, já se divisa...
X
6743
Como posso esquecer-te, bela amada?
O teu sorriso está dentro de mim...
Às vezes recompondo a minha estrada
Levando nosso amor até no fim.
Sem ti da minha vida, resta o nada;
Morrendo em triste seca, o meu jardim...
Das rosas mais bonitas, o perfume
Se perde se não tenho esta presença
Divina. Me perdoe tal ciúme;
Não há mais neste mundo quem convença
Que o amor que tenho aqui, perfeito lume,
Vivendo esta paixão quase doença.
Sentindo-te por perto em meu desejo,
Futuro mais risonho, enfim, prevejo...
X
6744
Um frágil sentimento, amor perfeito
Que sabe que não pode vacilar,
Deixando o ser amado satisfeito,
Não tem como direito maltratar.
Amar assim querida, desse jeito
É ser dono da terra, sol e mar.
Traçando em cada rio um puro leito,
Efeito deste amor a transbordar...
Nasceste num jardim imaculado
Em flores delicadas, bons perfumes.
Espero que escutando este recado
Jamais volte a sofre duros ciúmes,
Amor que se floriu em manso prado,
Atinge cordilheiras, altos cumes...
X
6745
Meus beijos, meus abraços, meu carinho...
Juntinhos, vamos nós para o infinito,
Sabemos, encontramos o caminho,
O mais maravilhoso e tão bonito
Que passa por estrelas, sol e lua
Chegando ao horizonte, todo nosso,
Tua beleza intensa, viva e nua,
Os teus cabelos sinto; beijo e roço,
Nesta sofreguidão de te querer,
Esqueço de mim mesmo, já não sou
Mergulho neste mar, puro prazer,
Tu és tudo o que, em mim, de mim restou...
Ah! Amor que sempre cresce e quer bem mais,
Não quero me afastar de ti, jamais!
X
6746
A solução que buscas, mesmo eterna
Talvez não seja o rumo desejado.
Misturas as antigas e a moderna
Num círculo que formas, tão fechado.
Felicidade morre assim, hiberna
Deixando o que há de bom sempre de lado.
Esvoaça em momentos, minha mente
E volta num cuidado redobrado.
Sem opulência ou lume florescente
O passo que eu quis dar foi estagnado
Talvez a solução se mostre urgente
Em novo mandamento renovado.
Amar a Deus por certo, na verdade,
É respeitar valor de uma amizade.
X
6747
Não vou dizer amor tão soberano
Que traga-me depois um Reino escuro,
Formado em confusão e desengano
Jogado por detrás deste alto muro
Distingue minha fé em que se inspira
Ardendo seu destino em fogo e pira.
Semelhas em verdade, amor sincero
Semeias sortilégios e verdades.
As rodas da fortuna não mais quero,
Apenas no desdém, sinceridades.
Engano-me, se em ti, jamais espero,
Em vicissitudes, paz, felicidades.
O mais se mostra às vezes feito menos,
Nobre cultura brota em maus terrenos...
X
6748
Bem sei do sofrimento que te toma,
Amiga sempre é bom ter um alguém
Que junto com a gente sempre soma
E ajuda a superar quando a dor vem.
Às vezes nos achamos em redoma,
Sozinhos neste mundo sem ninguém...
Mas a presença forte da amizade
Nos traz uma esperança mais feliz.
Permite que se veja a claridade,
E o mundo que sonhamos, que se quis.
Não sofras estarei em realidade
Contigo pra sanar a cicatriz
Da dor que te devora sem dar tréguas,
Mesmo que esteja agora a tantas léguas...
X
6749
Quem dera se pudesse, um jardineiro,
Cuidar da bela flor que em ti já vejo.
O dia passaria por inteiro,
Neste jardim florido em meu festejo.
O mundo enfim seria um verdadeiro
Sonho em realidade que antevejo
De todos meus desejos, o primeiro
Podendo te regar com doce beijo.
Querendo renascer nesta paixão,
Cuidando com carinho desta flor
De raridade imensa, uma emoção
Tocando o jardineiro extasiado
Vibrando nos canteiros nosso amor,
Que é sempre, noite e dia bem regado...
X
6750
Águas, corredeiras, rio e mar,
Vontade de te ter aqui comigo,
A tarde inteira, à noite namorar
Além desta esperança, assim prossigo
Querendo te sentir, poder tocar
Fazendo de teu corpo o meu abrigo,
Na teia de teus braços me afogar,
Vivendo o que sonhei- amor- contigo...
Suor, salinidade, mar e pele.
Sou presa dos desejos e loucuras.
A ti, minha vontade assim compele
Queremos desfrutar cada momento,
De todas as maneiras. Branduras
Dos beijos delicados como o vento...
X
6751
O meu amor tristonho e cuidadoso
Percebe que em meus olhos, água cai.
Bebendo meus desejos, noite trai
Dourando minha estrada em paz e gozo.
Fazendo desta valsa vala e vela,
Ardendo em lacrimejo olhos sedentos.
A vida se desfaz em bagatela
Açodam minhas dores, fortes ventos.
Se eu priorizo o gosto das maçãs
Guardadas no embornal de uma saudade.
As horas sem destino morrem vãs,
Nos automóveis sinto a quantidade
De curvas que fizeram; sonhos meus
Jogados nos caminhos cantam pneus...
X
6752
Percebo em cada passo nesta estrada,
Pegadas pareadas, mesmas trilhas.
Na senda que se fez delineada
Florida por jasmins, rosas e tílias.
Idílios são marcados, cada curva
Representa um momento mais difícil.
As duras tempestades, tanta chuva,
Nas lutas, teu fuzil, obus e míssil
Mirando sobre todas as trincheiras
Destas dificuldades que encontramos.
Paz, carinho e amizade são bandeiras
Que sempre, sem temores, ostentamos.
Ao ver, da vida, os rastros que eu já fiz,
Entendo, enfim, por que, sou bem feliz!
X
6753
Não posso conviver com tal saudade
De ti, querida amiga e companheira.
E falo-te sem medo da verdade
Que quero estar contigo, a vida inteira.
Tentando demonstrar minha amizade,
Que invade preciosa e tão certeira.
Aguardo que me fales sem demora
Aonde, em que caminho, eu te perdi.
Preciso de teu braço forte agora,
Não vivo mais tranqüilo e quero aqui,
Depressa teu apoio que me ancora
Eu necessito muito, enfim, de ti.
Por isso, minha amiga, não retarde;
Meu peito disparando em louco alarde.
X
6754
Ai, flores, ai, flores do verde pino
--- Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
Ai, Deus, e u é?
--- Vós me preguntades polo vosso amigo?
E eu ben vos digo que é sano e vivo.
Ai, Deus, e u é?
Vós me preguntades polo vosso amado?
E eu ben vos digo que é vivo e sano.
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é sano e vivo
e seerá vosco ante o prazo saido.
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é vivo e sano
e seerá vosco ante o prazo passado.
Ai, Deus, e u é?
D. Dinis
Ás flores eu pergunto pelas novas
Que trazem para mim de ti querida.
Nos dias que se passam e renovas
As forças que me trazes para a vida.
Procuro em poesia, versos, trovas,
Não vejo, labirinto, outra saída.
Mas ouço por resposta alentadora,
Que estás a são e salvo, minha amiga.
Notícia que por certo é redentora
Para quem tanta dor, no peito, abriga.
A sorte benfazeja e condutora
Permite que o caminho, enfim prossiga.
Às flores, agradeço tais carícias
Contida em boas novas nas notícias...
X
6755
Fazer de nosso próximo um irmão
Que saiba do valor da própria vida
Assim espalharemos a canção
Na velha novidade, que esquecida,
É, na verdade a única expressão
Que traz com força plena uma saída:
No seio da amizade e do perdão...
A nossa sorte enfim bem resolvida.
Redesenhando o mundo, traz a glória,
E uma esperança enorme para nós.
Mudar, quem dera, o rumo desta história
Atando par em par, com fortes nós,
Arranca uma injustiça da memória,
Matando o desamor, cruel algoz...
X
6756
Eu me ofereço amor em sacrifício.
As carnes, olhos, pelos, dentes risos...
Fazendo do prazer teu santo ofício,
Esbarro nos desejos, paraísos...
Chegando em teus beirais, no precipício,
Eu mergulho meus lábios tão precisos
E volto novamente em doce vício
Perdemos nossos medos, nossos sisos...
No altar em devoção, corredeiras...
Misturas dos humores, cachoeiras...
Seguimos noite adentro, dentro e fora.
Bocas em turbilhão, em ondas, rios
Em sacrifício, amor, não vou embora,
Louvores tão profanos e vadios.
X
6757
Amor é tema pleno em formosura
Camões em seus poemas me dizia
Do amor que se faz sempre em alma pura,
Semeia dentre todos, fantasia.
Florbela que vivera em noite escura,
Também sem outro tema se fazia,
Apenas quem demonstra alma tão dura
Não vê que sentimento é poesia.
Sem sonhos que fará pobre poeta?
Morrendo qual se fora um retratista,
Fotógrafo sem arte, alma incompleta.
Distante da emoção, perdendo a liga.
Sonhar é necessário, minha amiga,
Amar nos traz de Deus a vera pista.
X
6758
Nosso amor proibido, que destino!
Nossas horas de sonhos, de ternura.
Quanta beleza em ti eu descortino
Sei que me trará tanta loucura...
Te sabendo menina-primavera,
Neste outono que teima em me tomar.
Tua boca macia, quem me dera;
A vontade de sempre, sempre amar...
Mas a tarde caindo, e não te vejo,
Este tempo passando, solidão....
Encontrar meu desejo, teu desejo,
Eu estou explodindo de paixão!!!
E te quero, comigo, sem demora,
Antes que a primavera vá-se embora...
X
6759
O amor jamais será tema enfadonho
Enquanto resistir felicidade.
Quem mata sem juízo, todo o sonho
Não vê em pleno dia, a claridade.
Se em versos delicados sempre ponho
Sentimentos de amor e de amizade
Permito-me um momento mais risonho
Na luta pela paz e liberdade.
Amar não é piegas não, amiga
É ser bem mais sublime, atar-se a Deus,
Cultivar um jardim em nossa vida.
Por isso é que te digo e não me canso
Esqueça, assim te peço, um vago adeus,
Deixando que este amor te invada, manso...
X
6760
A rosa destinada para mim
É dona de um perfume inebriante.
Bem sei quanto me encanta estar assim,
Nos braços desta flor tão deslumbrante.
Vivendo neste sonho sem ter fim,
Te quero minha amada, a cada instante...
Eu quero te enlaçar neste momento,
Beijar a tua boca, flor perfeita.
Sentir o teu carinho, doce vento,
Tu para mim, bem sabes foste feita.
Em todo sofrimento és meu ungüento.
A rosa perfumada aqui se deita
E vamos nesta noite de verão
Tragarmos toda a luz desta paixão...
X
6761
Apor o nosso amor em ânsia pura,
Nas vagas e nas ondas deste mar.
Recebo o teu afeto com brandura,
Espero tua mão a me afagar.
Na sucessão incrível de ternura
Que trazes em teus olhos, sei sem par.
Na boca que me beija com candura,
Vontade de sorrir e de ficar,
Bem sei o quanto vale ser feliz,
No búzio desenhada nossa sorte.
Meu verso se tornando um aprendiz
Que quer intensidade em cada aporte.
Tu és a redenção que eu procurara,
O mel que me adoçou a vida amara...
X
6762
A noite em que comigo saciar-te
De beijos e carinhos, insensatos...
Vontade de cobrir-te e de tocar-te
Nossos lençóis à beira dos regatos,
Cenários multicores, e com arte
Servirmos nosso amor em finos atos.
Neste aconchego doce de teus seios,
No infinito imenso de nós dois,
Descer os rios, braças, leitos, veios,
Sem perguntar sequer se talvez, pois,
Falando pelos beijos, outros meios,
E descansarmos juntos bem depois...
Eu te amo, minha cara companheira,
Te quero do meu lado a vida inteira...
X
6763
Amigo não percebas meu passado
Apenas pelas sombras que ficaram
Resquícios que se encontram demonstraram
Bem pouco do que tive, amargurado.
Quisera há muito tempo sepultado
Meus erros que distantes me tocaram.
Os dias que encontrei tanto ampararam
Que tudo terminou, ficou de lado.
Porém de tal arquivo semimorto
Exala, da lembrança um desconforto
Que, quem dera, estivesse já perdido.
Não fosse teu apoio em amizade,
O sinal deste tempo remoído
Eu levaria por toda eternidade!
X
6764
Não temo mais a morte e nem a dor,
Singrando meu caminho mais sereno.
Meu mundo se mostrando encantador,
Meu dia vai passando mais ameno.
Quem fora simplesmente um trovador
Bebendo desta boca tal veneno
Que encanta e me deixando num torpor
Divino, me mostrando amor tão pleno
Percebe toda a sorte desta vida,
Num verso mais profundo e assim profano.
Tu és a minha sorte decidida
Num canto de tão doce, soberano.
Agora que encontrei uma saída,
Caminho sem temores, sem engano...
X
6765
Eu quero o teu perfume delicado,
De rosas e jasmins, essência pura.
No toque tão querido e desejado,
Dois corpos que se encontram na procura
Por um carinho imenso, abençoado,
Um gesto que nos mostra tal ternura
Que toma um coração enamorado
Nessas palavras todas, na brandura...
Estás distante e perto, já te sinto,
Olores maviosos, tramam rotas,
Tua presença aqui, sempre pressinto
No mar de amor sincero. Tenho pressa
E sinto-te chegar nas gaivotas;
Em teu perfume raro se confessa...
X
6766
Na breve eternidade de uma vida
Se fez o sentimento mais profundo
Posseiro nesta gleba construída
Além deste infinito, corre o mundo...
A terra que sonhara dividida
Nos campos deste sonho, me aprofundo,
E vejo nossa paz restituída
Bem mais do que pensara, e já me inundo
Da mansa rebeldia da loucura
Que mostra suas garras e sorri,
Ao mesmo tempo imerso na ternura
Que constitui as bases deste rito,
Sem ter conflitos, vivo amor em ti,
Imenso e com sabor de um infinito.
X
6767
Escoltam meus desejos, teus feitiços,
Em mágicas palavras que me enleiam.
As luzes em meu peito ganham viços,
As sendas que procuro em ti; clareiam.
Quem teve os olhos tristes e mortiços
Percebe tantas brasas que incendeiam.
Meus versos já não podem ser omissos
Por isso te agradecem e te anseiam...
Desnuda de qualquer ressentimento
Encontro-te feliz em ser assim,
Amor que assim domina o pensamento
Reflete meu desejo em mil centelhas,
No rubro deste lábio carmesim
Felicidade imensa já me espelhas...
X
6768
Sentindo esta vontade de tocar
Teu corpo com doçura e com carinho,
Na boca tantos beijos navegar,
Na glória de viver, achar um ninho
Onde possa sentir teu suspirar
Não tendo mais temor, um passarinho
Deitado nos teus braços descansar
De noite, com loucura ou bem mansinho.
Amor que se explodindo na paixão
Não deixa mais nem pedra sobre pedra,
Fazendo no meu peito uma explosão
De sonhos e delírios vivos, ternos...
Quem ama assim jamais por certo medra
Pois sabe que estes sonhos são eternos...
X
6769
Estrada tão comprida, amor imenso,
Que leva para um sonho quase infindo...
Por vezes imagino e logo penso
No amor que se fez raro e assim tão lindo.
Meus passos te buscando em brilho intenso
No céu desta esperança, prosseguindo.
Amor que é companheiro mais constante
Dos pensamentos todos que dedico,
Estar contigo, amada, a cada instante;
Não sei e nem pretendo, nunca explico
Apenas conquistaste, amor radiante,
O sonho que apascenta e, gosto; fico...
Desejo incontrolável, ser teu par
E a vida inteira, contigo, namorar...
X
6770
Montado no cavalo da ilusão
Entrando em teu castelo, em teu destino,
Recebo a baforada da emoção
Ao ver-te ali deitada, me alucino!
Vencendo, do castelo, estas defesas,
Invadindo teu quarto, nos umbrais,
Nas formas tão sutis delicadezas,
Desnudo-te no olhar e encontro a paz.
Princesa adormecida, te encontrei,
E quero me entregar aos teus delírios,
No leito da princesa, hoje sou rei,
Nossas batalhas nunca têm martírios.
Cavalgas mansamente teu corcel,
E loucos, nossos sonhos vão ao céu!
X
6771
A vida, companheira, em dores passa.
Em tristes romarias, os aflitos
Passeiam angustiados tais proscritos
Da sorte, cavaleiros da desgraça.
Às vezes num sorriso que disfarça
A sina de infeliz oculta os gritos
Dos pobres sofredores. Os benditos
Desejos se perdendo na fumaça.
A juventude morre esfarrapada
A mocidade aborta uma esperança.
Sozinho em noite escura, quase nada
Restando senão dor; mas na verdade
A sorte desejada inda se alcança
Nos braços tão sinceros da amizade...
X
6772
Quem dera, neste vôo, um passarinho,
Sem medo de encontrar felicidade.
Trazendo essa esperança como ninho,
Bebendo a fantasia, com vontade.
Sabendo da amplitude do desejo,
Com alma tão indômita e feliz.
Distante, sem saudades, sempre vejo,
O mundo do meu jeito, assim o fiz.
Pudera ter teu colo como pouso,
Depois de tanto tempo em desventura.
Meu pensamento livre, sem repouso,
Deitando nos teus braços, com ternura...
Sem grades tão cinzentas, libertar!
E como um passarinho ,enfim, voar!
X
6772
O dia renascendo em alvorada
Florida, nos convida para a vida
Ávida dessa luz. Sentindo cada
Flor como uma esperança revivida
Minha alma vai liberta, reinventada
Nas belas cores da árvore florida
Mostrando seus desejos: ser amada
E refazer-se em pólen, mais sentida.
A beleza renasce multicor,
Com isso, ressurgindo meu cantar
Espalhando alegria, vem compor
O cenário perfeito para o sonho
De renovar vontades... Quero amar,
Refazer, ressurgir... É o que proponho...
X
6773
Após um dia tenso de trabalho,
Cansado das diversas confusões,
Mostrando o coração quase em retalho,
Envolto em tantos erros e senões.
Na boca que ofereces, eu me espalho.
Sentindo o teu calor, as emoções
Que no princípio, errático, embaralho,
Num misto de diversas sensações...
Cansaço com desejo se misturam,
Em teus carinhos mato minhas iras.
Os corpos se tocando, se costuram
Forram-se nos calores de mil piras.
Depois do árduo trabalho, penitência,
Eu deixo-me entregar sem resistência...
X
6774
Sabia ser sabiá
Que cantava na tardinha
Meu amor, vou te encontrar,
Nessa vida, tão sozinha...
Amor; quando te vejo tão sozinha
Olhando para o nunca e pr’o talvez;
Vontade de dizer: venha ser minha!
Amor que em mim nasceu, em ti se fez.
O dia vai passando e na tardinha
A lua desejosa espera a vez
De vir banhar a terra; amor se aninha;
Escrevo que te quero mas não lês...
Meus versos se perdendo, sem resposta;
A solidão te toca e me maltrata.
A mesa desta vida já foi posta
Só falta tu quereres desfrutar
Do imenso sentimento que arrebata
E faz; de olhos fechados, levitar...
X
6775
Em cada poesia um manso vento
Que traz novo matiz a nossas vidas,
Liberta uma emoção, o pensamento
Encontra sensações antes perdidas...
Sentindo o teu perfume no papel,
Na carta que recebo com carinho,
Certezas de me erguer além do céu,
Quem sabe eu não prossiga mais sozinho?
Com toda intensidade já te digo,
Ternura, no meu peito, encontra abrigo...
X
6776
Nós somos lavradores da esperança
Propondo em nosso canto um novo mundo
Que é feito da partilha em confiança
Do sentimento nobre e mais profundo
Que venha mais depressa e sem tardança
Tomando nossa sorte num segundo.
Na força tão sensível da amizade
Talvez a solução bem mais perene.
Permitindo voar em liberdade
Respeita a toda luz que já se acene
Estrada colorida feita em paz,
Onde a diversidade de matiz
Que a vida num conjunto sempre traz
Fazendo encantador o amor feliz.
X
6777
Eu quero-te em desejo mais profundo
Vivendo em sensual felicidade,
Gritando um sentimento para o mundo,
Sangrando em cada verso de verdade.
Ardendo sem temor na mesma chama
Que traz ao meu viver uma alegria,
Dizendo em liberdade quando se ama,
Vivendo nosso amor em sincronia.
Eu quero me entregar ao nosso amor
Sem medo de saber que sou feliz,
Carinho tão divino e salvador
Que faz com que se encontre o que se quis.
Serei o companheiro que sonhaste
Aquele que quiseste e desejaste...
X
6778
Eu quero te tocar, bocas e dentes,
As mãos em teus cabelos tão macios...
Traçando mil caminhos mais contente
Cobrindo de prazer tantos vazios..
Teus olhos envolventes, belos, quentes...
Promessa de enxurrada nos estios
Nos sonhos sensuais mais indecentes
Vibrar o meu desejo nos teus cios...
Nas ruas, nas estrelas, nos quintais,
Sem medo, sem juízo e sempre mais,
Fazendo deste amor, necessidade...
Não deixe nosso sonho fenecer
Eu peço te implorando e posso crer
Que enfim eu conheci felicidade...
X
6779
Sonhar contigo é sempre ser feliz
Menina que eu adoro, minha amiga.
O amor já fez comigo o que bem quis
A sorte acostumada, nem mais liga,
Se da alegria fui um aprendiz
A dor da solidão me desabriga...
Bem sei que estás distante. Bem distante...
Mas guardo dentro aqui o teu sorriso.
Sereno, mavioso, deslumbrante...
Por isso é que eu repito e sempre friso
Quem dera se pudesse ser constante
Tua presença amiga, um paraíso...
Mas sei que isso é um sonho e nada mais....
Talvez eu viveria amor em paz...
X
6780
Amor fraterno em forma de prazer
E de desejos mútuos de alegria.
Fazendo da esperança o bom viver,
Cantando sem temer, a fantasia.
Alçamos nossos vôos por saber
Que temos nosso canto em harmonia
Sentindo todo o gosto do querer
Que a paz e a igualdade rompam dia.
Amada que aprendi amar demais.
Sem tramas, sem temores, sem medidas
Não deixe que este canto, amor, jamais
Cesse de trazer uma esperança
De que transporte paz para outras vidas,
Irmãs e companheiras nesta dança...
X
6781
Tal qual o sol, a lua, em calmo céu
Sem medo de tempestas ou trovões,
Tocando-se por vezes, como um véu
Que ate nossos doces corações
Neste momento mágico e tão raro,
Por isso de ternuras recheado,
Onde um grande desejo pede amparo
E segue como um beijo tão amado,
No toque destes astros tão distantes
Uma beleza infinda nos remete,
Aos sonhos transtornados dos amantes,
Que só de raro em raro se repete...
Neste momento belo e sensual,
Num eclipse de lua e sol: total!
X
6782
Não posso mais negar o quanto a quero,
No calor dos teus olhos pude ver
Que, em ti eu encontrei tudo o que espero
De uma mulher que, um dia, eu sonhei ter.
Tu és essa presença deslumbrante
Que faz de todo sonho, realidade,
Quero ter comigo, a todo instante,
Tua presença; amor-felicidade!
Em todo esse querer, os meus desejos,
Ao abrir os meus braços quero tê-la,
Roubar de tua boca tantos beijos
Lançar-me em teus espaços, minha estrela!
Só penso em teu amor, o tempo inteiro,
Amor que sendo pleno; é verdadeiro...
X
6783
Do nosso amor ninguém ouse falar,
Amor que se irmanando só cresceu
Nascendo entre este sol e o luar,
Agora já se fez, só teu e meu.
Amor se lambuzou no mel da vida,
Inebriando qual uma aguardente
Nesta pureza imensa e pressentida,
Amor maior do mundo? Esse da gente...
Que nada cobra e nunca dá motivos,
Que nunca se pretende propriedade,
Num ar que nos ajuda, estarmos vivos,
Espalha um sentimento de verdade,
Nunca se fez medonho ou egoísta,
Dançando livremente em qualquer pista...
X
6784
Jamais quis ser sarcástico, querida.
Apenas sou um reles sonhador,
Que qual um trovador passa essa vida
Cantando, simplesmente o meu amor.
Eu quero todo o brilho das estrelas
Entrando na janela do meu quarto.
Quanta alegria encontro em poder vê-las
Depois deitar cansado, de amor farto.
Não sei se é ironia o que destilo
Nos versos que, encantado, já dedico,
Num mar de tanto sonho, mais tranqüilo,
Assim é que eu te canto e sempre explico
Que amor é uma força soberana
Que um peito enamorado sempre emana!
X
6785
A noite se passando agalopada
Viajo nas estrelas, corto o céu,
Vibrando em teu desejo minha amada,
Montada em seu cavalo, sou corcel.
A pele luzidia tão suada,
Jorrando em nossa cama tanto mel,
Depois, quase que exausta, extasiada
Deitada, na cabeça um carrossel
Girando devagar, o quarto roda.
Arfantes os teus seios alvos, mansos...
De novo este desejo nos açoda
Convida de repente a nova marcha
E vamos viajar nossos remansos,
Acesa a tocha, o fogo nos encaixa...
X
6786
Tocar teu corpo inteiro e me entregar
Aos poucos desnudar nossas vontades.
Nudez reflete os raios do luar
Em meio a tantos véus. Ah! Veleidades...
Carinhos se procuram sem parar,
A noite nos promete insanidades,
Não deixe mais o tempo, assim, passar...
Meus lábios vão fremindo intensidades
Na entrega delicada e tão imensa
De corpos que se buscam mais felizes.
Amar é ser feliz e a recompensa
Compensa todo o tempo em calma espera.
Embora nós temamos cicatrizes,
Florimos nosso amor, em primavera...
X
6787
Onde encontrar amor? Num belo rosto?
No gosto sensual do doce beijo?
No amigo verdadeiro, sem desgosto?
Na fonte da alegria e do desejo?
Naquilo que se faz sem ser imposto?
No céu que se esparrama em azulejo?
No sol onde bronzeio-me e me tosto?
No doce da ambrosia que prevejo?
Aquele que ensinou o vero amor,
Mostrando a nova face: a do perdão;
Demonstra quanto amor é sedutor
E vivo em cada gesto e pensamento.
Nunca se esqueça disso um só momento.
No amor é que foi feita a criação...
X
6788
Relendo cada verso que te fiz;
Revejo; meu amor, o sentimento,
Que fez toda a mudança de matiz
Causando da alegria até tormento.
Não sei sequer se fui ou não feliz,
Só sei que tudo passa como o vento...
A sorte que se perde já prediz,
Depois da tempestade, o sofrimento...
A primavera passa, perco outono...
Invernos na minha alma... Tua herança.
Jogado sem ninguém, ao abandono,
Espero que retornes algum dia.
No fundo inda me resta uma esperança:
A que também releia a poesia...
X
6789
Silêncios, tantas vezes, dizem tudo,
Palavras? Não preciso pra mostrar
Todo esse amor que tenho pra te dar,
Portanto, amor, não ligue se estou mudo.
Meus versos na verdade, um bom escudo
Que sempre me protegem. Do luar
Eu roubo a claridade pra te dar
No sonho mais feliz em que me iludo.
Percebo em teu sorriso, tão maroto,
As lúbricas vontades... silencio.
De desejos também assim me loto
E rondo teu querer a noite inteira.
Acendo, num momento, este pavio;
Conversa mais gostosa e verdadeira..
X
6790
Eu quero ter teu corpo bem presente
Com todo o regozijo que mereces.
Amor que às vezes torna penitente
Vivendo em tal segredo, rogos, preces...
Quero poder seguir qual um demente,
Saber das nossas tramas onde teces,
Amor que necessita ter urgente
De todo este prazer que; sonho, desses...
Extasiado e morto de cansaço
Depois ir renascendo, devagar,
Roubar o mel do gozo em cada passo
E ressurgir intenso, renovado,
De novo os teus caminhos vasculhar
Até morrer em ti, apaixonado...
X
6791
Desejo que nos toma, leve bruma
Vagando por estrelas belas,raras,
No aroma tão suave das searas
Que toca, me inebria e me perfuma...
Sorvendo das loucuras uma a uma,
As noites vão seguindo sempre claras.
Cabelos com estrelas e tiaras,
O mar que vai quebrando branca espuma...
Palavras são trocadas, sem clemência,
Roçando em nossas mãos com paciência
Prazeres delirantes num cortejo.
No teu corpo os altares sensuais
Retrato destas noites magistrais
Louvores que fazemos ao Desejo...
X
6792
Amor não tem juízo, bate pino.
Transforma totalmente, imbeciliza.
Fazendo de repente, ouvir um sino,
Numa hora mais imprópria e mais concisa
É véspera sutil do desatino,
Nos morde e, devagar, soprando alisa...
Mas que o danado é bom demais, não nego,
Na confusão que cria nos acode...
Amor tão complicado que carrego
Depois de manhã cedo, estou de bode.
É mar em que sozinho não navego,
Poeira no final, já se sacode...
E pronto! Coração fica matreiro,
Mas logo recomeça, e vai inteiro...
X
6793
Não sofras meu amor, irei voltar...
Tal qual as ondas eu retorno, amor.
Às vezes é preciso navegar
Buscar uma esperança, sonhador
Mas sei que no teu porto quando atraco
Depois de tanto tempo assim distante
Chegando tão exausto, manso e fraco
Teus braços sempre estão a todo instante
Abertos para velho marinheiro
Amante das estrelas e do mar.
Só penso em retornar, o tempo inteiro,
Só tenho o teu amor a me guiar
Entre tantas borrascas, tempestades,
Sonhando com teu cais... Tantas saudades...
X
6794
Parece que esqueceste o jardineiro
Que tanto cativou-te, rubra rosa,
Depois de ter cuidado do canteiro,
Ficou tão orgulhoso e todo prosa
Sabendo que talvez no mundo inteiro
Não exista outra flor tão glamourosa.
Tu és a delicada e rara flor
Por quem diversas vezes encantado,
O velho e dedicado lavrador
Se sente como um jovem adorado
Regando com afeto e puro ardor,
Trazendo este jardim tão bem cuidado...
Ó rosa não se esqueça mais de mim,
Contigo irei viver amor sem fim...
X
6795
Não nego meu amor que é como um mar
Que vem em fortes ondas e se acalma,
Porém eu nunca deixo exterminar
Amor que é salvaguarda de minha alma...
Infindas tempestades que virão
Não podem destroçar o pensamento
Na luta pelo amor, pelo perdão,
Não somos mais tão frágeis contra o vento.
Amada, amiga, irmã, me dê teu colo,
Preciso de teu braço companheiro,
Bem sei quanto é difícil em mesmo solo,
Tentarmos ser esterco e jardineiro.
Mas venha que a promessa é de vitória,
Amada nosso amor se rende em glória!
X
6796
Rainha dos meus sonhos, deusa rara,
Beleza que se espalha em meu viver.
Que a vida do teu lado me antepara
Bem sei que em teu castelo, meu prazer;
Altares te dedico, minha cara,
Louvando o nosso amor, nosso querer...
Andei por cordilheiras procurando,
Nos vales mais profundos, nada via.
Agora te encontrei e vou cantando
Meu verso que é meu hino da alegria.
O mundo do teu lado, me mostrando
Beleza do raiar do novo dia...
Não quero mais perder, amor, teus rastros,
O meu amor sem fim percorre os astros....
X
6797
A Deus com emoção, tanta alegria,
Eu agradeço, em preces, nosso amor.
Que trouxe tão depressa este pendor
A quem morria só, dura agonia.
Além do que bem sei, esperaria,
Um coração tão triste e sonhador,
Cansado de penar, um sofredor,
Na espreita pela luz de um novo dia.
No dia em que falamos tanto disso,
Do amor de namorados sonhadores,
Trazendo para ti milhões de flores,
Refaço o sentimento em brilho e viço
E canto sem parar amor sincero,
O tudo que desejo, o bem que eu quero...
X
6798
Amor que imaginei e tanto quis,
Durante tanto tempo, uma ilusão
A mais a fustigar meu coração
Marcado por imensa cicatriz.
Deixando meu passado que, infeliz,
Acorrentava a sorte em triste não
Açoites tão vorazes da paixão
Mudaram de meu céu todo matiz.
Agora que te encontro, amada amiga,
A vida renasceu em verso e prosa,
Colhendo o teu perfume, rara rosa,
Decido que este sonho assim prossiga
Até chegar ao rumo que eu pedia,
A Deus com emoção, tanta alegria!
X
6799
De pétalas de rosa, onde me aninho;
Fizemos um canteiro de esperança.
Enquanto a noite cai, amor avança
Tomado por desejos e carinho.
Meu canto sem te ter, triste e sozinho,
Morria sem sentidos, pobre dança.
Amor ia esquecido sem lembrança,
Das rosas tão somente cada espinho...
Agora, a redenção de teus desejos,
Fez-se tão soberana em minha vida.
Marcado por teus lábios, doces beijos,
Percebo que serei bem mais feliz,
Pois tenho minha sorte decidida,
Amor que imaginei e tanto quis...
X
6800
Guia dos meus desejos, feiticeiro;
Amor me transformando em vencedor.
Tomando meu destino por inteiro,
Abraça-me em seus raios, sedutor.
Quem tem um sentimento verdadeiro
Já sabe quanto em glória a se compor
Se faz do dia a dia corriqueiro,
Um mundo mais sereno e com vigor.
Querida, como é bom poder saber
Que em cada novo dia o sol renasce
Revigorando assim nosso prazer.
Tu és, tenha a certeza, o meu caminho,
A vida se mostrando em outra face
De pétalas de rosa, onde me aninho...
X
6801
Do labirinto imenso, é a saída
Amor que nos transforma em poesia.
Tomando nossa sorte em harmonia,
Esquece toda a dor da despedida.
A mão que me acarinha traz a vida
A quem não mais pensava em alegria.
É tudo como em sonho eu mais queria,
Tua presença amiga e tão querida.
Vagando por teu corpo, lua e estrela,
Rainha dos meus versos, sedução.
Eu necessito e sempre quero tê-la
No acorde delicado da canção
Que fale deste amor tão verdadeiro,
Guia dos meus desejos, feiticeiro...
X
6802
Falando deste amor que é solução
E traz uma esperança em cada verso,
Do fogo que nos queima, frente e verso,
Na vida nos entorna uma emoção.
Andar no paraíso, pés no chão,
Um coração que andara tão disperso
Mudando da medalha, seu reverso,
Agora ardendo, cego de paixão...
Falar de nosso amor é ter, decerto,
Um rumo mais airoso para a vida.
Oásis que encontrei neste deserto
Prelúdios de esperança, sonho raro.
Nas duras caminhadas, meu amparo.
Do labirinto imenso é a saída!
X
6803
Luar que brilha a me trazer saudade...
Sonho divino, que perdi tristonho...
Em serenata cantarei meu sonho,
Perfeito, radiante claridade...
Por tanto que eu te quis; felicidade,
O mundo me restou pobre e medonho...
Na luz que me irradia, essa verdade
Escondida, temida, assim exponho
Alegria foi farsa, imersa em pranto.
O meu olhar vazio, vai nevado,
Espero teu amor, teu mago encanto.
No rumo que já sei carrego um cardo,
Porém, em plena dor, eu me agiganto.
Meu verso se desnuda, amortalhado...
X
6804
Amores vagos, cegos cavernosos...
Desértica miragem, num oásis...
Serpenteiam venais, vis, venenosos...
Destroem minhas tolas, frágeis bases.
Segredos que abortei, miraculosos,
A lua se transmuda em tantas fases...
Amores violentos, belicosos...
Sem nada do que pedes, nada fazes,
Que pretendes com tantas falsidades?
Emblemaste vertigens e polêmicas.
Não demonstraste tuas qualidades...
Virtudes escondeste, eram anêmicas.
Amores que me deste, restam trapos...
Das camas que dormimos, nem fiapos...
X
6805
Não quero amores lúcidos, serenos...
Daqueles que jamais me dizem não!
Sem Loucura qualquer, rumo direção..
Dias pálidos, tímidos... Venenos...
Daqueles que não somam, pois são menos.
Amores que não marcam coração.
Atônicos, atônitos, do chão...
Das dores esquecidos; vão amenos...
As fantasias perdem, são vazios;
Amores sem desejos, sem ter cios...
Não os quero! Servis, amores coxos.
Sem temperos, delírios, marasmáticos...
Tísicos, repetidos, são estáticos.
Pretendo nós atados, nunca frouxos...
X
6806
A vida se transforma em vis geleiras
Nas galerias torpes dos caminhos
Andamos entre dores costumeiras,
Na busca por prazeres e carinhos.
Embalde nos perdemos sem bandeiras,
E vamos tantas vezes mais sozinhos.
As ilusões se tornam corriqueiras,
As esperanças partem pr’outros ninhos...
Penhascos que enfrentamos, são imensos,
Muitas vezes parece inalcançável
O sonho de vivermos sem perigos.
Porém por tantas vezes nisso eu penso,
O mundo enfim seria mais amável
Se tivéssemos sempre bons amigos...
X
6807
Tu és a namorada mais perfeita
Que um dia eu poderia imaginar.
De uma certeza infinda, sei que és feita
Dos raios que recebo do luar.
A vida após te ter, está refeita
De tanto que sofri, não mais penar.
Amor que trago em mim, em crença ou seita,
É tudo o que pretendo te ofertar.
Não trago rosas nem sequer espinhos,
Não vou fazer promessas nem discursos,
Tal qual se fossem rios em seus cursos
Nossos rumos traçados pelo amor,
Irão trazer magias, nossos ninhos,
Futuro dadivoso a se compor...
X
6808
Coração, um palhaço em picadeiro,
De tanto que apanhou, não aprendeu.
Na busca de um amor mais companheiro,
Que longe do que sonho, se perdeu.
Em meio à solidão, vazio; esgueiro,
Retrato do que fomos? Resta o meu.
Do amor sempre pensei ser garimpeiro
Porém meu mundo, agora, se perdeu.
Somente me restando esta certeza
De ser o nada além do que não fui.
Jogado à correnteza, mansa, flui
Em direção à foz, sem ter remédio.
Trocar a solidão por duro tédio?
Num reino sem castelo e sem princesa...
X
6809
Mergulho meu desejo na loucura
Que faz de ti mulher tão cobiçada.
Meu corpo se encontrando na procura
Por tua boca intensa, extasiada...
A noite se promete na mistura
Na nossa tresloucada madrugada
Suspiros e gemidos... Que tortura!
Rompendo todo o medo e alvorada...
Na busca alucinante te proponho
Viver cada segundo, intensamente.
Num êxtase divino, nosso sonho,
De termos mais as loucas sensações,
Depois de começarmos novamente,
Sentir o louco gozo em explosões!
X
6810
Num labirinto imenso me perdi
Em busca de mim mesmo, nada achei,
Porquanto quase que me convenci
De que nada mais sei e nem serei.
Ao ver-me sem destino foi que vi
A porta semi-aberta que encontrei
Mostrava-te bem perto, logo ali,
Saída transformada em regra e lei.
Amada, não me perco mais do rumo
Levado pelo brilho de teus rastros.
Não sabes, mas em ti, meu bem, aprumo
E percebo que esta sorte já mudou.
Meu céu buscando assim por tantos astros,
Apenas os teus passos encontrou...
X
6811
Amor ilimitado que eu te tenho,
Além das velhas cercas do quintal.
De todos os meus sonhos sempre venho,
Aporto nosso sonho sem igual,
Ao ver tua beleza me detenho
E sinto o quanto a vida é genial.
Mistérios deste amor sem empecilhos,
Sublime em cada novo amanhecer.
É raro no seu porte, segue em trilhos
Levando calmamente ao renascer;
Do sol que se enternece, rouba os brilhos
Numa certeza plena de prazer.
Amor além do amor, nada o contém,
Se faz na plena glória, o nosso bem...
X
6812
Enigmas que sugeres num sorriso
São convites repletos de vontades.
Na mão que me acarinha, um manso aviso
Das loucas sensações, voracidades.
Da nuca em arrepios, os desejos
Explodem num intenso vendaval.
Dos lábios carinhosos, tantos beijos,
Teu corpo delicado e sensual.
Aos poucos decifrando tal esfinge
Mereço a recompensa, teu prazer.
O céu em raro azul, assim se tinge.
De um jeito tão gostoso de se ter,
Criamos nosso mundo em nossos sonhos,
Segredos destes lábios teus, risonhos...
X
6813
Eu quero extasiar-me junto a ti,
Deitar-me em tua cama; sedução,
Te desnudar aos poucos, ter ali
O gosto do pecado e da paixão.
Saber que nos teus braços me perdi
Tocando nos teus seios... Emoção
De te sentir arfando, bem aqui,
Reféns desta delícia, tentação.
E nesta entrega louca, alucinante,
Os olhos revirando, suspiros tantos...
Num êxtase divino e provocante
Tua nudez na minha noite afora,
Cedendo ao desejos e aos encantos.
Te espero minha amada. Vem agora!
X
6814
Bem sei que sou teimoso, meu amor,
Não canso de tentar felicidade,
Embora tão distante desta flor,
Eu busco noutro campo, a claridade.
Do nada novamente recompor
O mundo que se foi em falsidade.
Amada, estou aqui ao teu dispor,
Vestido no disfarce da amizade.
Meu coração deveras vagabundo
Se aninha em qualquer barco que chegar.
Na rapidez ingrata do segundo,
Ou nessa eternidade do momento,
Nas fases que se mudam do luar,
Na imprevisão sentida deste vento...
X
6815
Sonhando com teus braços, teu carinho,
Eu tantas vezes fico alucinado,
Querendo te encontrar, te dou meu ninho,
Te quero aqui, deitada, do meu lado...
A boca procurando tua boca
Sedenta desta sede que me traz
Vontade de gritar com voz mais rouca,
E ser bem mais vivendo amor e paz,
Se quero mergulhar em manso lago,
Também quero a tempesta e as procelas,
Depois de ter delícias de um afago,
Eu quero o fogo ardente em nossas telas
Pintadas com fulgor, insensatez,
Delícias deste amor que a gente fez...
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