5073
Loucas palpitações são tão febris,
Bebendo gota a gota nossos mares,
No orvalho que poreja sou feliz,
Nas frutas que desfruto em teus pomares.
Os rumos se entrelaçam, se avassalam,
Aos poucos misturamos nossos sumos,
Os sonhos e desejos se acasalam,
E loucos, já perdemos nossos rumos...
Eu quero conhecer-te em cada ponto,
Nas cordilheiras todas, altiplanos,
Nas fossas, nos teus vales, fico tonto,
Não posso cometer mais desenganos...
Derramas avalanches delicadas,
As mãos que acariciam, são de fadas...
X
5074
Eu quero tua seiva, seringueira,
Forjar neste teu mel um novo ser,
Sorver-te inebriado, toda, inteira,
Rejubilar-me sempre em teu prazer.
Irromper as picadas nesta mata
Que me prepara a mina do tesouro,
Deitar-te delicado, uma inexata
Mistura tatuada em nosso couro.
Derramando teu látex com o meu
Em vias de sagrar a redenção,
Que faz nosso destino sem ter breu
E forma a maravilha em tentação...
Alastro minhas ramas, parasito,
Na simbiose eterna do infinito...
X
5075
Na solidão terrível que se abate
Na noite que se passa sem ninguém,
No nó tão complicado, neste engate
Da dor duma saudade, quero alguém.
O telefone ao lado, quando alcanço,
Não traz sequer resposta, ninguém ouve.
Depois deste vazio, já me canso,
Pergunto sem saber, o quê que houve?
Ouvindo a mansa voz do coração
Percebo essa presença tão macia,
Na voz duma amizade, a sensação
Que traz uma certeza de alegria.
Amigo; ao perceber-te, sei que existo,
Tu vives dentro em mim, querido Cristo...
X
5076
Exuberantes formas delicadas
Numa explosão intensa de non sense,
Neste canteiro frágil mãos atadas
Aos poucos me ganhando, me convence...
Num espocar divino de foguetes
Numa ascensão junina de balões,
Os corpos se procuram, são joguetes
Buscando relaxar tantas tensões.
Meu cérebro prevê a apoteose,
Fulgores e fagulhas neste céu.
Prazer que quanto mais se quer que goze,
Mais forte vai cumprindo o seu papel.
Numa excelsa visão, pura beleza,
Eu deixo-me levar na correnteza...
X
5077
Na força redentora da alegria
Botões de rosa expostos na nudez.
Sabendo o quanto amor traz poesia,
Espero ansiosamente a nossa vez.
Minha cabeça errando no seu mundo,
Aguarda uma resposta mais direta.
Eu quero ser feliz e já me inundo
Neste meu sonho, invejo-te poeta...
Quem dera poder ter a tua verve
Cantar assim a quem desejo bem,
Minha alma, na bandeja, amor já serve,
Procuro a noite inteira... Espero... Vem!
Pressinto que ela sabe quanto amor
Existe no meu peito sonhador...
X
5078
Uma sombra exilada do passado
Perambula nos pátios desta casa.
Bravios, os meus medos; ‘stou calado,
O fogo da lembrança inda me abrasa.
O vento na janela me chamando,
Atendo e nada vejo; nada, nada...
Percebo que inda vivo te esperando;
Minha alma permanece ensimesmada.
Mas sinto que, talvez, o vento traga
Perfume desta rosa que murchou,
Do mar de uma esperança sinto a vaga
Que nas falésias frias, já quebrou.
Talvez das penedias, solidão,
Ressurja um novo dia de ilusão...
X
5079
Em nossas tardes febres e rompantes
Nos arvoredos viva primavera,
Da sílfide os desejos transbordantes
Vasculho diamantes. Quem me dera!
Esplendorosamente em cada toque,
Aos poucos vou bebendo desta fonte,
Antes que o céu de lumes já se troque
Teus olhos iluminam horizonte.
Eu quero a formosura tão gentil
Que trazes nos sorrisos envolventes,
Neste roçar divino e tão sutil
Felicidades vivem mais urgentes.
No céu em perolado desta lua,
A sílfide em meu colo bela e nua...
X
5080
Quem sabe, meu amigo, uma atitude
De paz e de carinho e de perdão,
Nos traga a sensação da juventude
Perdida neste imenso turbilhão.
A vida nos devora sem dar chances
Se não nos redimirmos dos pecados,
Talvez adivinhando quais os lances
Possamos percebermos preparados.
Não deixe que esta dor te turve os olhos
E impeça de raiar o novo dia,
Colhendo as alegrias nestes molhos
Que fazem que muito mais que alegoria.
Perceba: ser feliz é mais que ofício,
Pois Ele já nos deu Seu sacrifício...
X
5081
Teu meigo olhar me banha quando embrenho
Pelos desertos áridos da vida.
Não posso te negar que d’onde venho
A marcha era mais dura e dolorida.
Uma visão florida de futuro
Encontro neste olhar que me sacia.
Beleza deste amor sincero e puro,
Deitado em minha cama tão vadia.
Neste contraste imenso, sol e chuva,
As cores se misturam e se tecem,
Delícias deste vinho sangram uva,
Aos poucos ilusões já se fenecem.
Meus olhos se entorpecem neste encanto
Dos olhos onde seco doce pranto...
X
5082
Deixe que o olhar do mundo sempre veja
O brilho de teus olhos, minha amada.
Que a natureza sempre te proteja
Dos ventos e das curvas desta estrada.
Ouvindo esta saudade que não larga
O medo de perder quem tanto amei.
Não deixe que pressinta quão amarga
A noite em que sozinho me encontrei.
Teu colo sempre sirva dum alento
Que busco em cada dor que conhecer,
Não deixe que eu pressinta o sofrimento
Que traz a noite em cada entardecer.
Deixe que todo mundo saiba, enfim,
Do amor que trago, imenso, sem ter fim...
X
5083
Receba esse carinho que te faço
Em cada verso meu, minha querida.
Talvez na madrugada, este cansaço
Da longa caminhada pela vida
Não deixe que tu vejas como és bela,
Nem permita que saibas como é triste
Seguir sem ver que o espelho já revela
Esta mulher tão linda que resiste.
Amada, como é bom falar-te assim!
Durante muito tempo procurei
Esta felicidade que, sem fim,
Nos olhos de quem amo deslumbrei.
Amada, t’a beleza que é tão rara,
Adoça minha vida, quase amara...
X
5084
Quando encontrei desertos em minha alma
Cansado desta longa caminhada,
Nem mesmo uma alegria já me acalma,
A vida se perdendo em cada estrada.
Nas curvas do caminho percebi,
Como é difícil andar sem ter apoio,
Não tive a precisão nem distingui
O trigo tão falado deste joio.
Agora que a velhice se aproxima,
Agora que meus passos são pesados,
Amor e sentir dor, qual mera rima,
Nos versos que deixei, abandonados.
Amar é verdadeira redenção,
Principalmente quando traz perdão...
X
5085
Vestido de Natal quando te vi,
Amigo, numa infância já distante,
Não tinha nem noção de quem ali
Seria aquele aniversariante.
Neguei tua amizade depois disto,
Negando sem saber, o próprio amor;
Ao qual, sem perceber já não resisto,
E faço desta forma meu louvor.
Não vejo-te na cruz, te quero vivo,
Em cada novo dia, um novo amigo.
Não quero mais ser tolo, ser passivo,
Nem permissivo e frágil, nem altivo.
Te peço mil perdões, com humildade,
Em Ti descubro a força da amizade...
X
5086
Não quero os traiçoeiros beijos falsos
Dos mansos viperinos lábios tétricos.
Não quero mergulhar em cadafalsos
Nem quero mais prever os botes métricos.
Depois de andar sem senso imenso mar
Imerso no universo mais distante.
Vestido de ilusão pretendo amar,
Mesmo neste pretenso delirante.
Sou cálice do vinho da saudade
Sem parte sem ter corte, estou curtido.
Não meço se te peço ou se inda me arde
Devido a tanta dor vou dividido.
Mas quero teu amor. Quem dera inteiro,
Mesmo que seja falso ou verdadeiro...
X
5087
Amigo eu te encontrei pedindo esmola
Nas ruas, nas favelas e nos portos.
Tu eras a criança com a cola
Mostrando teus caminhos, todos mortos...
Tu eras meretriz, pobre menina,
Vendida por centavos, corpo exposto.
Lavavas a tua alma na latrina
Sentias podridão com fino gosto.
Te vi nos miseráveis combalidos,
Vestidos de fantasmas sem futuro.
Os pés já derrubados, distorcidos,
A morte te esperando atrás do muro.
Amigo eu reconheço pela cruz,
Crucificado sempre, vai Jesus...
X
5088
Quando à noite, sozinho na janela,
Cismando, procurando em minha rua,
As pegadas deixadas por aquela
Que deixou a minha alma inteira, nua.
Será que ela percebe quanto eu amo
Os passos, as saudades, as lembranças
Por vezes se, seu nome, inda reclamo,
Parecem me faltar as esperanças.
Mas sei que voltará a ser comigo
O que sempre jamais pude esquecer.
Não tento, nunca quero e nem consigo
Viver sem receber o seu viver.
Procuro essas pegadas todo dia,
Quem sabe me informar? A fantasia?
X
5089
Teus seios palpitando de prazer
Minha alma se embebeda de tua alma.
Cabelos soltos, negros... Posso ter
A sensação divina que me acalma.
Beijando cada curva deste oásis,
Qual fora um beduíno mais sedento;
Embargo minha voz, gaguejo frases;
E sinto em teu carinho, sentimento.
Que noite! Que luar! Que maravilha!
No mar de sofrimento que vivia,
Encontro nessa noite uma santa ilha
Que veio me inundar de poesia...
Perfumes do desejo em tanto ardor,
Nesta sofreguidão, meu grande amor!
X
5090
Um anjo de asas belas me avisou
Que o tempo, sem demora, chegará.
Sabendo do que fora e do que sou,
As asas deste arcanjo vêm de lá.
Na forma feminina e tão gentil,
Beleza sensual, anjo divino.
Sorriso tão suave e pueril,
Nesse anjo meu futuro descortino.
Na menina morena, asas abertas,
O jeito tão sereno de viver.
Amiga; nas tormentas, traz alertas;
Amante, em minha cama, dá prazer.
Velando seu dormir a noite inteira,
Menina angelical, minha parceira!
X
5091
O vento vai batendo no teu rosto,
A brisa balançando teus cabelos,
Sorriso tão bonito, assim exposto,
Eu quero me envolver nestes novelos...
O sol vai bronzeando tua pele,
A praia se inundando de desejo.
O meu olhar no teu... Vai... Se compele...
Maravilhosamente; a deusa, vejo...
Não corras mais de mim, te peço tanto...
Não deixe a solidão voltar pra mim.
Tu sabes o que quero, tanto e quanto,
A boca doce, bela, carmesim...
O vento vai soprando em teus ouvidos,
Invade, calmamente, teus sentidos...
X
5092
Empalideço, tremo quando escuto
Falar nessa mulher que eu amo tanto.
O medo se formando tão astuto
Nunca impede que eu veja seu encanto.
As folhas sussurrando sempre chamam
Por ela que se encontra tão distante.
Meus sonhos, nas lembranças, já se inflamam
E quer seu amor mesmo inconstante.
Nesse beijo partido que carrego,
O gosto inda se encontra em minha boca,
Eu amo, sempre digo e nunca nego,
Pra tanto amor, decerto, a vida é pouca.
Num oceano imenso sou a ilha
Gaivota, se voltar... Que maravilha!
X
5093
Vasculho dentro em mim cada pedaço,
Buscando conhecer os meus defeitos.
Num gráfico instintivo nego o traço
Que mostra meus pecados sempre feitos.
Não digo que me dei sem ter juízo,
Imprecisos, meus dias foram cegos.
Distantes ilusões do paraíso,
Fincaram-me na cruz, meus próprios pregos.
Quem sabe, uma amizade redentora
Mostrada noutra cruz estilizada,
Num peito tão sofrido sempre aflora
A luz que se reverte em alvorada.
Vasculho dentro em mim, enfim prossigo,
E vejo que inda tenho um grande amigo...
X
5094
Rolávamos na noite em frenesi,
Dançávamos felizes nosso jogo.
Tua nudez tão bela distingui
Trazendo tal delírio em tanto fogo...
Trocávamos carinhos mais audazes,
Te percebia inteira, do meu lado.
As bocas canibais sempre vorazes
Dois ases, nestas asas, doce fado.
Desejávamos sonhos tão incríveis;
De tantas emoções, sobreviventes.
Voávamos com asas impossíveis
As bocas se pediam, lábios, dentes...
E víamos o sol perto da lua,
No eclipse deslumbrante, alma flutua...
X
5095
Teu peito no meu peito se tocando,
Teus seios vão roçando, devagar...
Aos poucos num delírio me entregando,
Vontade de te ter e de sonhar...
Encantos que porejam por teus poros,
Num palpitar intenso, o coração.
Amores como plantas, seus esporos,
Invadem tuas matas, teu sertão.
Voando sobre ti, qual andorinhas,
As mãos que já farejam os ninhos,
Percebem cada canto em tantas linhas
E bebem gota a gota, passarinhos...
Lambuzam-se, crianças com sorvete,
E querem sensuais, enfim, sorve-te...
X
5096
Sentindo-te distante de meus braços,
Esbarro na fatal preocupação:
Será que já queres nossos laços
Será que não mereço o teu perdão?
As noites que passamos não importam,
A quem se dedicou como nós dois?
Nos mares que tivemos não aportam
Os barcos que naufragam no depois.
Eu quero te mostrar nestes meus versos
O quanto que podemos ser felizes,
Nos astros que vagamos, universos,
Os erros sei que deixam cicatrizes.
Mas quero-te por certo em cada noite,
Preciso que em teus braços eu me acoite...
X
5097
Não sei se fomos mar ou clara lua,
Não sei se fomos luz só reflexo,
Minha alma na tua alma continua
Neste desenho mágico e complexo.
Fantasmas de nós mesmos, meras sombras?
Se posso em ti me ver, especular,
Se tudo que te faço não te assombras
Não posso nem desejo te mostrar
Além do que em mim vejo, somos um,
Os passos caminhados são distintos,
Caminho p’ro futuro, eu sei, comum,
Passados que tivemos, ‘stão extintos...
E quero-te não mais do que me queres,
Unidos nestes mesmos caracteres...
X
5098
Não deixe que a miséria nos destrua,
A podre sensação de sermos maus,
A verdade se mostra sempre crua
Nesta proximidade com o caos.
Perceba no sorriso da criança
A fonte que trará um novo dia,
Permita com amor uma aliança
Que posso proteger tanta alegria.
Nos una a armadura da amizade,
Poderemos, quem sabe, imaginar
Um mundo que nos traga a claridade,
Na possibilidade de sonhar.
Louvemos nosso Pai mais verdadeiro,
Que vive em cada ser, assim, inteiro.
X
5099
Amo-te como nunca amei na vida,
Da forma mais sensata e mais voraz.
Meus versos se encantaram mais querida
Com tua silhueta bela e audaz.
Sem medo nem da angústia ou solidão,
Agora já caminho bem mais leve.
Felicidade rege o coração
Provoca uma emoção que já se atreve.
Presságios tão benignos me abençoam,
A sorte está lançada e sou feliz.
Os pensamentos tão libertos voam,
Já posso te dizer: tenho o que quis!
Leva contigo essa alma apaixonada,
Sem teus carinhos morro, não sou nada!
X
5100
Eu tecerei meus sonhos nestas tramas
Desta cegueira imensa da paixão.
Qual fora um sentimento em tantas ramas,
Brotando no meu vago coração.
As asas da saudade e do martírio
Batendo em minha porta; mal distingo,
Deitando em tua cama, num delírio,
Das asas doloridas eu me vingo.
E rio, gargalhando de alegria,
Do frio sentimento, nem lembranças...
O dia se promete em fantasia,
Em tantos festivais, em puras danças.
Nas ramas perfumadas pela flor
Percebo, na morena, o meu amor!
X
5101
Quando percebi este contraste
Entre teu sol e minha lua clara,
Eu percebi que sempre me tomaste
Em grandes goles qual bebida rara.
Embriagando qual uma aguardente
Aguardo teus remédios, os carinhos.
O beijo preferido e mais ardente
Aquece nossa cama em novos ninhos.
No mel que transbordaste a cada dia,
O meu desejo intenso se guiou.
O canto mais divino em fantasia
No bloco da alegria se entregou,
Na alegoria imensa da paixão,
Decoras com coragem, coração...
X
5102
Quanto alvoroço causa nosso amor,
Palavras escolhidas não refletem
Toda a potência enorme deste ardor
Que raras vezes, saiba, se repetem...
Na noite tão imensa desta vida,
Com tal fervor parece-se uma prece,
Oferecendo uma feliz saída,
A quem solenemente já padece...
Meu coração rasgando essa mortalha
Que enegrecia sonhos e desejos.
Trazendo este cavalo de batalha
Na luta por teus mansos, doces beijos...
Que Deus já nos permita a claridade
Que posso traduzir: felicidade!
X
5103
Meu doido coração já se desata
E bate sem sentido nem por que,
Adentra a sensação de densa mata
Que forma todo anseio em que se crê.
Vivendo enternecido pelo brilho
Da lua que invadiu esta alvorada,
Num mar de tanto amor me maravilho
E sigo teu caminho, nossa estrada...
Em alforjes que carrego dentro da alma,
Os víveres mais doces são teus lábios.
Não quero nem sequer o que me acalma,
Não quero nem prudência, nego os sábios.
Um sabiá sabia quanto amar
Valia muito mais do que voar...
X
5104
Ah! Quem contigo vive é mais feliz,
Tu trazes esperança em cada verso,
Ensina que, de amor, um aprendiz,
Recebe tantas bênçãos do universo!
Tu és este meu guia pela vida...
Não deixo me enganar se tenho a ti,
Aprendo que se tenho dividida
A sorte; ganho mais do que perdi.
Aprendo a consolar quem me consola,
Aprendo tanto amar a quem não ama,
Amor não se prepara numa escola,
É fogo que nos queima em viva chama.
Tu és de minha vida, toda a verdade,
Por isso é que me encanto na amizade...
X
5105
Cabelos desmanchados pelo vento,
Sorrisos estampados nesta face,
Vontade de sentir cada momento,
A vida sem sequer qualquer disfarce.
Eu sinto cada toque desejoso
Qual fosse uma explosão imensurável
Depois de tudo vem o gozo
Imensidão de estrelas incontável.
A mão tão delicada vira garra,
Entranha no meu peito, dilacera,
O coração exposto vem, agarra,
Os dentes da princesa são de fera...
Vontade de sentir cada detalhe
Da força que penetra em cada entalhe...
X
5106
Na fantasia intensa do prazer
Que imersa nossa imensa sensação
Nos insensatos sons sabemos ser
Sortidas inserções, intercessão,
Sessões quase diárias, convulsões,
Se temos concessões a nos ceder
Cedemos aos sentidos sem senões,
Sabemos insensato proceder.
Se sim ou sem senso sou servil
E sinto como é vil se assim não fosse,
Não quero me sentir um ser tão vil,
No incenso que acendemos, solto e doce.
Na fantasia acesa deste sonho,
Pressinto procissões de amor risonho...
X
5107
Acendo essa fogueira adormecida
Nas brasas que me queimam sensuais...
Eu quero derreter-me em tua vida
No fogo onde vertemos rituais.
Teu beijo me incendeia totalmente,
Qual fosse uma queimada na floresta,
E vejo nosso amor, tão forte e quente,
Saindo até fumaça pela fresta
Da janela deixada quase aberta,
Na sala, vizinhança até na rua,
Os gritos e o calor servem de alerta,
Deitando-me por sobre a carne nua,
E rimos tão felizes, nesse incêndio,
Selamos outro tomo do compêndio...
X
5108
Beijando-te tão mansa e levemente
Qual brisa te roçando pouco a pouco,
Vontade de sentir tão plenamente,
A mente vai rodando, fico louco...
Eu sinto a suavidade deste vento
Que excita e que anuncia novo jogo.
Em plena fantasia, o sentimento,
Ardente já me abrasa e vira fogo...
Percebo tuas mãos me percorrendo,
Numa velocidade lenta e provocante,
Aos poucos me entregando vou cedendo,
E deixo-me levar no mesmo instante...
Rolamos as cascatas, mesmo rio,
O vento no pescoço... Cadê frio?
X
5109
Na fome que se espalha pela terra
Na violência estúpida, sem nexo.
Em cada uma esperança que se encerra,
Num torpe emaranhado tão complexo.
Na mão dos poderosos que desaba
Esmagando os famintos, flagelados,
Na vida que mal nasce e já se acaba,
Nos sonhos que se morrem, desgraçados.
No parque da miséria exposto a todos,
Nas trevas que insistimos em não ver,
Nos mangues, nas charnecas, podres lodos,
Na fonte tão injusta do poder.
Amor tão verdadeiro é claridade,
Na qualidade imensa da amizade...
X
5110
Segredos dum passado tão distante
Numa acolhida imensa em nossa cama,
Vivendo do que fomos, cada instante
Renova a imensidão de intensa chama.
Nos sacramentos todos deste amor,
As hordas se invadindo sem juízo;
Rasgando esses limites do pudor,
Adentro sem saber teu paraíso.
Neste templo que erguemos a deus Baco,
Com tal sofreguidão nos dedicamos,
Em cada novo toque, o mesmo taco,
Neste tapete verde em que jogamos
Os jogos mais gostosos, dedicados,
Sorrisos enigmáticos decifrados...
X
5111
Eu quero te tocar tão plenamente
Que invada nosso mar de tempestades,
Vibrando como fora tão somente
Um raio sem controle, sem piedades.
Riscando o céu em luzes, energia,
Nos eletrocutando de prazer,
Qual chuva de granizo, em alegria,
Em pleno furacão já me perder.
Na ventania forte que não deixa
Pedra sobre pedra, na loucura,
Fazer-te, delicada, minha gueixa
Banhar teu oceano de ternura.
Sentir uma tontura inominável
Relâmpago de amor, interminável...
5112
Ao ver uma criança abandonada
Nas ruas das metrópoles, faminta.
Imagem que devia ser mostrada
São cores tão reais que a vida pinta.
Ali, talvez encontre explicação,
Para essa violência que nos toma,
Amar é sempre multiplicação
Não é somente simples como a soma.
Nos braços da criança que se estendem
Pedindo, não futuro, mas presente;
Nos corpos das meninas que se vendem,
Percebo que amizade vai ausente...
No rosto da menina; sempre insisto,
A lágrima chagásica de Cristo...
5113
Em todo grande amor da juventude
As marcas indeléveis, cicatrizes...
Amei por tantas vezes, mais que pude,
Acertos que cometem aprendizes...
Não quero ter limites para amar,
Porém as chagas vivas da paixão
Impedem a minha alma de voar,
Contendo meus desejos sobre o chão...
Quem dera ter a força de vencer
O medo que transtorna e que detém,
Sabendo que esse amor pode doer,
Essa barragem louca se retém...
Só peço neste amor intensidade
Que tinha há tanto tempo; mocidade...
X
5114
Meu coração profusa e calmamente
Irriga de esperanças minha vida.
Eu sinto que te posso num repente
Trazer a nossa lua vã, perdida...
Eu sigo meus fantasmas do passado,
Argutos e ferozes, me sugando.
Eu quero te reter aqui ao lado,
Ao mesmo tempo sempre te buscando.
Apenas em profunda hemorragia
Amor se derramou, tomou espaço,
Percebo que hoje sendo o que viria
Após a noite imensa sem cansaço,
Eu quero te envolver nesta ternura
De amor que te traduz intensa e pura...
X
5115
O mar com seus mistérios de sereia
Se ri desta esperança que não sei.
Seria se pudesse nesta areia
Certezas de saber que sou teu rei.
Eu sinto que se tinto-me do mar,
Extintos os meus medos, sem motivo,
Pressinto quando insisto em te amar
Que aos poucos sobre o mar eu sobrevivo.
E quero se não sabes navegar
Nas vagas desfilar nosso desejo
Se sou ou se não fomos sem luar
Espero te saber a cada beijo.
O mar com seus mistérios me domina,
Sereia venha ser minha menina!
X
5116
Em todo o teu passado tanta glória.
Os que mares distantes navegaram
E seus feitos, amores, registraram
São páginas perdidas desta história...
Tantos deuses, em vão, te cortejaram
A dama de beleza assim notória,
Guardada, por milênios, na memória
Nos livros, alfarrábios se contaram...
Os templos se erigiram em teu nome,
Tua glória ninguém no mundo tome;
Da beleza e bondade és um exemplo.
Depois de tantos anos, te encontrei.
Permita-me sonhar ser o teu rei,
Reinando em nossa vida, te contemplo...
X
5117
Eu carreguei as brumas das saudades
Por toda a imensidão da minha vida.
Um resto de canção, poucas verdades,
Sem ter parada, caço a despedida.
Tua presença espanta essas neblinas
Causando o sol inteiro do meu jeito.
As gramas se refazem nas esquinas
Do tempo que se dá por satisfeito.
Não faço mais perguntas, sigo sendo,
O quanto nunca fui nem bem queria.
Deixei o purgatório mal me rendo
Desconheço-me ao ver a luz do dia.
Refletida nos olhos cor de mel,
Abertos dois luzeiros para o Céu...
X
5118
Mal pude perceber que, enfim, brotava
A flor do jasmineiro em meu jardim.
Se fosse jardineiro reparava
Porém, quase não vi esse jasmim.
Jazia em mim a dor de ter perdido
A flor que se fizera companheira.
Durante, antes, depois de ter sabido,
Que nada se perdura a vida inteira.
Em mim o cheiro triste destes lírios
Em cravos e perpétua solidão.
Mortalhas macilentas e martírios;
Delírios invadindo, sempre o não.
Ao ver-te, bela e mansa, junto a mim,
Relembro o jardineiro e o jasmim...
X
5119
As brumas do caminho já se foram,
Minha alma não se esfuma em sofrimento.
Nem mais tantas saudades já me agouram,
A vida se refaz neste momento.
Alagado pela alegria deste amor,
Eu bebo, a cada dia, uma esperança.
Seguindo cada passo, sem temor,
Tão terno meu olhar sempre te alcança.
Todos os maus presságios se calaram
Não ouço nem sequer mais os oráculos.
Aos poucos teus carinhos me domaram,
Invadem a minha alma, são tentáculos...
Eu quero erguer-te a taça da emoção,
Num brinde que proponho ao coração!
X
5120
São duros os caminhos desta vida,
Não nego e nunca tive essa ilusão,
Se temos uma infância já perdida,
Difícil consertar, eis a razão.
Não vejo noutros olhos esta fera
Que tantas vezes falam sem pensar.
Apenas, se matar a primavera
Como o verão, enfim, irá chegar?
Sem flor o que será do pobre fruto?
Tão somente um aborto de esperança.
Quem não teve carinho segue bruto,
Se mata a todo dia, esta criança...
A fera, com certeza, anda contigo,
Espero que tu sejas mais amigo...
X
5121
Trazendo o espetáculo das cores
Envolto nessas carnes lapidadas;
Voltando mais sutil aos seus amores,
As horas que se foram, desmaiadas...
Os Astros e mensagens abrem flores
Decoram meus altares com rajadas
De perfumes e brilhos multicores
Luzindo e devorando madrugadas...
Sonhara muitas vezes seiva e gozo,
O monte dos desejos perde espinhos...
O mar das serenatas carinhoso
Invade cada canto desta areia...
Quem fora esta princesa pede ninhos,
As ondas vão lambendo-te sereia...
X
5122
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
Alda Lara
Poetisa Angolana.
Quem dera repartir os meus anéis,
Esse ouro que carrego nos meus dedos.
A vida que se passa, de víeis,
Talvez já não guardasse tantos medos.
Quem dera repartir uma riqueza
Que sempre desejei e bem não fez,
Quem dera perceber que uma beleza
Provoca, tanta vez, insensatez...
Quem dera repartir as esperanças
A cada novo amigo que recebo,
Criando não somente as alianças
Fazendo deste amor, o que percebo.
Quem dera repartir os meus pecados?
Egoisticamente estão guardados...
X
5123
A quitanda.
Muito sol
e a quitandeira à sombra
da mulemba.
- Laranja, minha senhora,
laranjinha boa!
A luz brinca na cidade
o seu quente jogo
de claros e escuros
e a vida brinca
em corações aflitos
o jogo da cabra-cega.
Agostinho Neto
O tempo passa e não percebo a pressa,
Menino que brincava no quintal,
A vida vai correndo mais depressa,
Saudade vai quarada no varal...
Os jogos infantis, a moça boa
Que sempre desejei ser minha tia.
A chuva vai caindo, uma garoa,
A vida se escorrendo na bacia...
Os corações aflitos não percebem
Que o tempo tem seu tempo de durar.
Os olhos das lembranças me recebem,
Com risos de meninos no pomar.
A fruta mais gostosa, a do vizinho,
Agora, tanto medo, estou sozinho...
5124
Meus sonhos, cavaleiros da ilusão,
Completam o que a vida não me deu,
São feitos de vontade e de emoção,
Encontram o que tive e se perdeu.
São dias que não fui e nem teria,
São outros que vivi e quero mais,
Aqueles que podiam, fantasia,
Aqueles que não voltam, são jamais...
Meus sonhos são propostas que carrego
Do ser que nunca foi e que quer ser.
Mil vezes, a mim mesmo já me nego
E cismo intensamente este querer...
Meus sonhos são meus mundos inconstantes
Nas terras de tão próximas, distantes...
X
5125
Eu sinto-me invadido pelos raios,
Relâmpagos, borrascas tempestades,
Os ventos que me causam arrepios,
O céu vai se riscando em claridades.
As pedras de granizo me cortando,
As nuvens preparando uma bonança,
Em meio a tal loucura me entregando,
Olhar nem um palmo mais alcança...
Eu sei que passará e que se acalma
A tempestade louca da paixão,
Senão o que seria de minha alma;
Senão resistiria o coração?
A chuva da paixão que me tomou,
Qual fora um furacão, me destroçou...
5126
As estrelas roubando sua luz,
Invejosas percebem tal beleza...
O manto que lhe cobre, já seduz,
Trazendo, pr’a quem sonha, esta certeza
A vida valerá, decerto, a cruz
Das dores e das sombras da incerteza...
Rogando em tantas preces a Jesus,
Que a vida siga sempre a correnteza...
Na plena sensação dessa existência
Os monstros escondidos na tocaia,
Jamais a profanar tal inocência...
Sentindo exuberância deste instante,
A lua enamorada já desmaia
Nos braços tão serenos, minha amante...
5127
No teu coração uma andorinha
Voando na procura d’outro mar...
Tua alma viajante vai sozinha,
Na espreita de poder, enfim, amar...
Esqueces tuas dores és doninha
Vestígios de saudade no luar.
Os cantos te fizeram avezinha
Que pede, simplesmente, p’ra voar...
Quem poderá fazer enfim, que as asas
Aprendam os segredos deste céu.
Teu corpo se acendendo todo em brasas
Os beijos são promessas do desejo.
A mão que te carinha, tão cruel,
Desconhece os caminhos que antevejo...
5128
No teu coração uma andorinha
Voando na procura d’outro mar...
Tua alma viajante vai sozinha,
Na espreita de poder, enfim, amar...
Esqueces tuas dores és doninha
Vestígios de saudade no luar.
Os cantos te fizeram avezinha
Que pede, simplesmente, p’ra voar...
Quem poderá fazer enfim, que as asas
Aprendam os segredos deste céu.
Teu corpo se acendendo todo em brasas
Os beijos são promessas do desejo.
Os lábios encantados vertem mel,
Na ansiedade louca deste beijo...
X
5129
De tudo que aprendi na minha vida
Em várias estações onde passei
Somente pouca coisa foi retida
Das muitas emoções que eu enfrentei.
Buscando a cada dia ser feliz,
Ouvindo algumas vezes a razão,
Contudo percebi ser aprendiz,
Meus versos sempre cantam emoção.
Meus erros repetidos num momento,
Os sonhos abortados ou calados,
A própria solidão, o sofrimento,
Os medos, os segredos desprezados...
O melhor, com carinho e humildade,
É ter, com certeza, uma amizade...
X
5130
Tu foste a primavera dos meus sonhos,
Tu foste a poesia que sonhei.
Sem ti, todos os meus dias são medonhos,
Em ti, toda a grandeza que busquei...
Os filhos que me deste, duas bênçãos,
Com toda essa alegria, eu te canto.
Que os dias permaneçam todos sãos,
Movidos a ternura e tanto encanto.
A filha tão amada e carinhosa,
Esposa que me orgulho de saber,
Amiga e companheira maviosa,
Dá forças de lutar e de viver.
A rosa mais formosa, a mais bonita,
Por isso eu te agradeço, amada Rita.
5131
Nos bronzes da memória esculturada,
Eu vejo esta mulher que não esqueço.
U’a página da vida amarelada,
Guardada com carinho e tanto apreço.
Nada apaga esse nome, nem a foto
Batida há tanto tempo, na emoção;
Parece que foi ontem, mas remoto,
O tempo que tivemos em paixão.
E nada apagará o que senti,
Nem mesmo esta distância insuperável.
Vivendo a fantasia, estou em ti;
Sentindo o teu carinho desejável.
Me falam que morreste. Que mentira.
Tu vives bem aqui. Nada te tira...
X
5132
Na lira em que me inspiro e me declaro
As notas musicais do coração.
Amor, um sentimento nobre e raro,
Precisa dos acordes da canção.
Total eclipse forma nosso enredo
Que enreda e nos concebe mil desejos.
Não quero em nosso amor nenhum segredo,
Nem quero que se quebrem azulejos
Desta emoção criada a cada dia,
Aguada com ternura e com carinho.
Decerto nos trará tanta alegria
No dia em que for nosso esse meu ninho...
Amor corre ligeiro no meu peito,
Nesta taquicardia, satisfeito...
X
5133
Nestas faíscas loucas do desejo
O rumo já perdi e não me mais sei,
Não teimo pois sequer mesmo eu me vejo
Nem mais em sofrimento me espelhei.
Meu canto se tornou bem mais suave
Sem ter as duras pedras, pedregulhos,
Agora que aprendi ser como uma ave
Permito-me saber destes mergulhos
E vôos sempre em busca da verdade
De ser o que bem quis sem ter temor.
Teu nome se traduz felicidade,
Felicidade intensa, nosso amor.
Olhai como transformas, de repente,
Alguém que sem amor, era indigente..
X
5134
Não sentira essa força da paixão
Que bate violenta e nada deixa
Avassaladoramente diz não
Ao mesmo tempo sangra em cada queixa.
Derruba o sonhador, cria o cativo,
Por ela não consigo respirar,
Matando me mantém, por tanto, vivo,
Prendendo me traz asas, faz voar.
Alenta e desalenta num segundo,
Vasculha e nada vê, ou finge bem,
Devora o meu passado, invade o mundo,
Quer tanto e quase nada d’outro alguém...
Apaixonadamente me perdendo,
Não ganha mas jamais segue cedendo...
X
5135
Das nuvens que enegrecem nosso céu,
Dos raios e trovões que nos assustam,
A natureza cumpre seu papel
Bem mais do que tristezas já nos custam.
Ao ver-te aborrecida, ensimesmada;
Pergunto-te qual causa tem a dor;
Por vezes me respondes quase nada
Mas sei quanto tu sofres tal temor;
Da vida que querias mas não veio,
Das tempestades tantas que passaste.
Perceba, minha amiga, que o esteio
Da vida, posso até dizer uma haste;
Que sempre nos apóia e nos transforma:
Numa amizade; amor já toma forma...
X
5136
Não vejo mais a dor que se emprestara
Aos olhos de quem sempre desejou
Amar esta esperança sempre cara
E quase que, sozinho, naufragou...
Disseste que jamais retornaria
Aos braços de quem ama e te procura.
Porém ao te encontrar, quanta alegria,
Tua presença sana e sempre cura
De todas as feridas mais profundas
Expostas em minha alma já sangrante.
Escaras terebrantes, tristes, fundas,
Jamais carregarei d’ora em diante.
Percebo meu olhar esperançoso
Vivendo em nosso amor completo gozo.
X
5137
Amor que, dentro da alma, paralisa
E torna sem sentido cada canto.
Transforma a tempestade em calma brisa
Entorna a fantasia e forma espanto.
Faísca que incendeia, viva chama,
Que chama e me descreve a sensação
De ter esta esperança que reclama
Viva e definitiva solução.
Pureza de cristal, de um belo prisma,
Vicia e me domina, amor é ópio,
Fazendo andar sem rumo, amor já cisma
Forjando esta emoção-caleidoscópio.
Amor que nos oprime e nos liberta
Qual meta que nos faz a vida incerta...
X
5138
O sol que se escondendo nesta tarde
Promete tal calor que me alucina,
A lua se aproxima sem alarde
E deita em minha cama, uma menina...
E toda a natureza em convulsão
Revela esse desejo enlanguescente
Descendo, deste astral, uma emoção,
Penetra tão profunda e claramente.
Na perfeição divina desta noite,
O sol vem aquecendo meu dossel,
Rolando com a lua no pernoite,
Encontro mil estrelas no meu céu...
Espero esta menina imaginando.
E a vejo toda lua, me esperando.
X
5139
A memória da vida sempre traz
Momentos tão difíceis que passei,
Olhando firmemente para trás
Percebo como tanto já sangrei.
Dizer desta ilusão de ser feliz
Que sempre acompanhava meu desterro,
Nem sempre conseguindo o que mais quis
Errando, pois se aprende mais com o erro.
Fiz versos, universos sem sentido,
Perdido neste espaço, sem ninguém.
Sem rumo, tantas vezes vou perdido
Na busca do descanso que não vem.
Ao ver-te enfim, deitada aqui do lado,
Esqueço minha dor; flor do cerrado...
X
5140
Sem ti, o que sentir senão o frio?
Sem ti, o que sentir senão o medo?
No sentimento imenso de vazio
A perda desta vida em vão degredo...
Eu quero te sentir, o peito arfando,
Eu quero ser em ti o que quiseres,
Eu quero te sentir me iluminando
Eu quero ser em ti o que puderes.
Sem ti, a vida passa tão vazia,
Eu quero te sentir sempre comigo,
Eu quero ser em ti a fantasia
Do sentimento manso de um abrigo...
Eu quero te sentir, p’ra sempre aqui,
Tudo seria tétrico sem ti...
X
5141
Eu quero te ceder cada momento
Em versos, em canções, em poesia...
Não sei se inda terei um pensamento
Que não venha inundado em fantasia.
Cansado viandante pela vida,
Em meio a tantas urzes nesta estrada;
Eu sinto que encontrei força perdida,
Eu vejo que vivera sem ter nada...
Bebendo noutras fontes, no passado,
Agora que te sinto, estou feliz.
Já vejo meu caminho iluminado,
Eu sei que renasci quando te quis.
Abriste, dentro em mim, um novo sol,
Que sempre te persegue, girassol!
X
5142
Sei quanto a nossa vida é complicada
Sem termos um carinho, sem afago.
Passando pela noite, uma alvorada
É tudo o que queremos, manso lago.
E receber apoio de quem sabe
Que a noite mal se acaba, o dia vem.
Felicidade quase não nos cabe
Quando encontramos logo o nosso bem.
Persista com teu sonho, não se entregue,
Tua vitória é fruto deste esforço,
Não deixe que a tristeza, em vão, te negue,
Se depender de mim, por isto torço.
O fruto da amizade, uma alegria,
Mesmo que se demore, vem um dia!
X
5143
O som do mar batendo em meus ouvidos,
O vento desfilando nesta areia
Os sonhos de viver vão repartidos,
A vida preparando a nova teia.
Nesta variedade de sentidos,
Percebo teu clarão de lua cheia,
Ao beijos deste amor são recebidos
Em tua boca intensa de sereia...
Eu quero a raridade deste dia,
Envolto nas centelhas da paixão,
Trazendo para a vida a poesia,
Da vida renovando, a sensação...
E quero o som do mar, doce marulho,
Do amor que tu me dás, eu tenho orgulho.
X
5144
Quantas vezes senti que não querias
O vento da promessa que te trouxe,
Errara, pois nas raras alegrias
Da vida, com certeza és a mais doce.
Descanso nas entranhas, sentimento,
Se minto, pois cimentas nossa sorte,
É por que não pressinto mais tormento;
Nem sequer sofrimento de amor, morte.
Eu sei que nas estradas mais compridas
As curvas sempre ocorrem, não duvido.
Mas sei que tantas regras bem cumpridas
Permitem nosso sonho mais servido.
Sou servo deste amor, eu sou cativo,
E sei que p’ra te ter estarei vivo...
X
5145
Eu nunca deixarei de te querer
Embora tantas vezes não é fácil.
Tu tens a maravilha, sendo um ser
Que ensina-me a saber o que é ser grácil.
Não quero me apartar dos teus sentidos
Amor é sentinela vigilante;
Não deixa que os soldados combalidos
Guerreiem nem bem antes nem durante.
Eu falo destas ondas que refazem
Escumas nas areias da ilusão,
Levando uma saudade sempre trazem
As fases que se esperam da emoção.
Tão cedo o negro manto da saudade
Não venha p’ra ofuscar a claridade...
X
5146
Achara bem melhor eu não te ver
Depois destes momentos delicados
Em que não conseguia perceber
Toda complexidade desses fados
Decorridos de amor que sei demais.
Ciúmes que temperam trazem sal,
Agora, nunca é bom ter sal a mais;
Apenas a pitada é o ideal.
Entenda que jamais te quis mentir,
Nem ser o que não sou e nem seria.
Por essas é que tento te impedir
De ver o que esse olhar nunca olharia.
Achara bem melhor eu sempre estar
Disposto nesta vida, a te adorar!
X
5147
Nos verdes arvoredos da esperança
Refiro-me a teu nome como base
Do que percebo ser uma aliança
Que jamais quebrará nem jura ou frase.
Com solidez perene do carvalho,
Resistiremos sempre aos vendavais,
Que a vida não poreje pelo talho
Dorido do ciúme ou coisas tais.
Formando uma alameda sem espinhos,
Sem cardos e sequer sem pedregulhos,
Sem urzes venenosas nos caminhos,
Sem restos de ilusão; puros entulhos...
Eu quero te implantar jequitibá
Com todo o teu valor, jacarandá.
X
5148
Nos penedos silvestres da paixão
Espreito tais abismos da saudade,
Não vejo sequer outra solução
Mergulho meu amor insanidade...
Sem asas, pára-quedas ou disfarces
Eu espero a dureza deste solo,
Paixão se revelando nas mil faces
Aguardo que me encontre no teu colo.
Nas belas cordilheiras me perdendo,
Sem ter sequer noção de ter chegada.
Nas grotas da paixão sobrevivendo
Respiro o teu respiro minha amada.
E sei que não permito um novo fado,
Somente sei viver apaixonado...
X
5149
Encontro nos teus braços meu tesouro
Na crença de poder ser mais feliz,
Meu barco no teu cais, ancoradouro,
Tatua uma esperança, cicatriz...
Dos dolorosos transes do passado,
Não restam nem as sombras das lembranças.
Futuro em teu destino, vou atado,
Desejo firmemente as alianças.
As mãos tão piedosas tecem preces,
Eu acredito, enfim, no nosso caso.
A boca carinhosa que ofereces,
Explode em magnitude meu ocaso.
Nós dois nos completamos totalmente
Atados pelo amor, nossa corrente...
X
5150
Nessas sombras dos verdes arvoredos
Deitada mansamente no meu colo,
Expondo seus mistérios e segredos,
Voando com meus sonhos, sai do solo.
Comigo, decolando deste chão,
Nas asas deste que nos comporta
Estendo o nosso sol numa emoção
Abrindo, do infinito a velha porta...
E vamos passeando pelos ares,
Conforme nossos olhos já pediam.
Colhendo as maravilhas dos amares
Em mares que jamais nos deixariam
Viver sem poder ter essa brandura
Da sombra tão macia da ternura...
5151
Sem ter sequer a mágoa e a coragem
Não quero me vingar do que passei.
Só quero que tu saibas que a viagem
Prossegue pelo mar que desejei.
Não tenho mais temor nem piedade,
Às vezes sou nefasto, outras sou são,
Procuro dirimir a dor que invade
Sem ter sequer escrúpulos, em vão...
Tomo por testemunha a luz solar
Que queima e que mormaça meu querer.
De novo, com certeza, irei de amar,
De novo, pelos menos, quero crer.
Não leve tanta lágrima contigo,
Perceba que inda sou teu grande amigo...
X
5152
Quando andava sozinho pela estrada
Depois de ter pescado uma ilusão,
Achando que talvez a namorada
Viesse como um trem numa estação.
Com hora e com destino bem traçados,
Na santa ingenuidade de menino,
Apenas ao andarmos abraçados
Selava em pensamento, o meu destino...
O tempo se passou e eu a revejo
E volto a ser menino por um dia,
Depois de tantos anos ganho o beijo
Com quem sonhara em minha fantasia...
Menino novamente; volto a ser,
Contigo, nesta estrada, a percorrer...
X
5153
Quando o templo do amor eu conheci
Nos sonhos mais felizes que podia,
A tua imagem bela estava ali
Raiando como o sol no pleno dia.
Meus versos imaginam tua face
Na luminosidade mais sagrada
Não sinto mais temor, sequer impasse,
Em mármore divino foi talhada.
Quando entrei neste templo, distraído,
Mal pude perceber, não vi saída.
Agora, prisioneiro; estou perdido,
Só vejo o nosso amor em minha vida...
E só quero adorar-te noite e dia,
No canto que te faço, em poesia...
X
5154
Amor quando em procura de um engenho
Que o faça mais perfeito e sedutor
Demonstra esta ternura que, sei, tenho,
E forja uma obra prima: o pleno amor.
A vida traz contrastes de matizes
Que sempre valorizam a pintura,
Amor quando nos toma em aprendizes
Prepara a divindade que nos cura.
Em cada poesia que preparo
Com ânsias de poder fazer meu rito
No ritmo mais fecundo e bem mais caro
De ter o grande amor, vivo e bendito...
Embora o sentimento sempre seja
A dor que dá prazer e que lateja...
X
5155
Um verdadeiro feito amor consegue
De ser bem mais potente que uma dor,
A vida em desamor nunca prossegue
Aborta-se sem ter sequer calor.
Amor quando se apossa já domina,
Não deixa um sentimento sem resposta.
É mar que me domina e descortina
Banquete na minha alma, sempre exposta.
Não me cuido do medo de te amar,
Eu sei que bem o que quero; destemido.
Nas asas que me deste p’ra voar
Eu sinto meu destino resolvido.
Se olhar-me com cuidado, tu verás,
O bem que tanto amor, em mi, já faz...
X
5156
Eu quero esse cantar em liberdade
Rompendo os meus grilhões, soltando a voz.
Sempre louvando a solidariedade
Criando uma corrente em vários nós.
Eu quero que o futuro traga à vida
Todo o valor que sei, a vida tem.
Não haja mais infância desvalida
Nem a velhice triste, sem ninguém.
Que em toda terra espalhe uma esperança
De um povo mais unido e mais feliz,
A noite tão vazia já se cansa
De ter somente o não; como raiz.
Que o AMOR seja infinito e sempre eterno
Que surja o belo estio após o inverno!
XX
5157
Imensa adoração que te dedico
Com versos, com palavras, com amor...
Ao ver tua presença; sempre, fico
Extasiado e pleno em esplendor.
Num trono de fulgores, te elegi
Rainha dos meus dias mais felizes,
Certeza de saber que estás aqui
Transforma as minhas chagas, cicatrizes...
Quando eu cruzava tristes, vãos desertos,
Na busca pelo oásis da paixão,
Os ventos que batiam tão incertos,
Apenas prometiam solidão...
Agora que te achei não largo mais,
Não quero te perder, amor, jamais!
X
5158
Os olhos tão formosos de quem amo
Emprestam a beleza para o céu.
Olhando para estrela sempre chamo,
Teus olhos são pintados a pincel
Por um artista raro e talentoso,
Um deus que imaginou coisas de amor,
Por certo tal artista vaidoso
Também de ti tornou-se adorador.
E sinto a tentação de Akenaton,
Vivendo este desejo sem limite.
Na formosura imensa, todo o tom
Que sei, faria inveja à Nefertiti...
Teus olhos sedutores são sinais
Divinos deste amor que imploro mais...
X
5159
Eu quero o teu amor completo e puro,
Sem ter mais que temer nem o ciúme.
O chão que se aparenta, às vezes, duro,
Por vezes já me traz doce perfume.
Eu quero o teu amor sem preconceito,
Sabendo que é direito ser feliz.
Amor que noutro amor vai satisfeito,
Nos dá nosso destino de aprendiz.
Em cada cicatriz refaz-se forte,
Sem medo da ferida e da batalha,
Amor que sobrevive até na morte,
E sabe perdoar pecado e falha.
Eu quero o teu amor, querida amiga,
Que a todo e qualquer ser, decerto abriga!
X
5160
No rosto deformado da esperança
O gosto tão amargo desta dor,
No velho, na mulher e na criança
A morte toma um cunho salvador.
Nas vilas, nas favelas, nos cortiços,
A mesma sensação de uma impotência
A flor da mocidade perde os viços
Nos vícios, precipícios da inocência.
Somente restará a triste espera
Por uma fantasia em solução,
Que o homem enfim se livre desta fera
Que carrega a nossa alma para o chão.
Na fé que sempre leva ao Salvador,
A solução completa está no amor!
X
5161
Neste canteiro enorme da paixão
A rosa que se esmera em perfumar,
Depois de certo tempo abre o botão
Quem sabe poderá de novo amar?
Eu quero ser, quem sabe, o colibri
Que pousa nesta rosa e que a deslinda,
Não sabes, mas te quero sempre aqui,
Tu tens este poder; ó rosa linda!
Por vezes, ao beijar-te me espezinhas
Bem sei que pode ser tua defesa,
Mas quero tuas noites sempre minhas,
Amor sempre nos serve cama e mesa.
Permita que te toque um passarinho
Que cego, tantas vezes perde o ninho...
X
5162
Não deixe que a miséria passe em branco,
A fome nunca é boa conselheira,
Sorriso deve ser aberto e franco,
Uma amizade é para a vida inteira...
Será que tens ouvido para ouvir
E olhos para ver o que tu vês?
Na mão que se estende a te pedir
Imagem deste Cristo em que tu crês.
Passamos pela vida sem saber
Que tantos somos nós, mas um somente.
O próximo reflete o mesmo ser
Que inunda-te de vida totalmente.
O que nos deixará em liberdade?
Somente o pleno amor duma amizade...
X
5163
Amigo não permita que a criança
Que mora na tua alma se definhe,
Vida se perpetua na esperança
Desde que todo canto já se alinhe
No encanto deste amor que é soberano,
Amor que se traduz em nossa luta
Que é contra essa opressão, formato e plano
Daqueles que só usam força bruta.
Amigo não permita que se mate
Toda a felicidade do viver,
Pois toda essa desgraça que se abate
Começa desde o dia em que nascer
O egoísmo estúpido que traz
Matando o vero amor, o fim da paz...
X
5164
Na minha escura sorte procurara
Durante tanto tempo, sem ter sorte
A jóia que eu sabia cara e rara
Do amor que fosse guia e fosse norte.
Pois vindo deste peito já sangrante
O medo de saber-te mais calada,
Desmascarado o medo deste instante
Encontro-me contigo, minha amada.
Neste ansiado encontro o meu futuro,
A sorte se lançando num segundo,
Aguardo uma ilusão que negue escuro
E trague a sensação de sentir fundo
O gosto do prazer correspondido,
Que me deixou assim; tonto, aturdido...
X
5165
Ao procurar abrigo nos teus braços
Sabia que podia já contar
Com toda a garantia destes laços
Tão fortes que ninguém pode apartar.
Consolo para os tristes pensamentos
No apenamento duro de minha alma,
És garantia certa dos momentos
Onde nem a beleza já me acalma.
Suave, o teu perfume, companheira
Recende a um jardim de alfazemas,
Por mais que se persiga a vida inteira,
Douradas garantias destas gemas
Que formam estas pedras lapidadas
Duma amizade sempre de mãos dadas...
X
5166
Eu peço-te que cuide deste amor
Com toda essa presteza que anuncias,
Fazendo como faz o bom pastor
Proteja nosso amor nas noites frias.
E seja meu humano cobertor,
Aqueça sempre, todos os meus dias,
Preciso do carinho protetor
Que trame nosso amor em harmonias...
Perceba que cuidar dos sentimentos
É como preservar as alegrias,
Em todos os difíceis, maus momentos,
Permita que se encontrem fantasias
Que submergindo tantos sofrimentos,
Nos traga aos corações, as sinfonias...
X
5167
Amor que se entregando não descansa
Se cansa de saber quanto me dói
Ausência de qualquer uma esperança
Que sabe que somente amor constrói.
Vivendo sem lembranças do que fora
A vida sem ter chamas onde arder,
A sensação real e redentora
Que traz uma alegria pro meu ser.
Banhado com meu sangue sem demora,
Amor se fez mais belo e iridescente,
Sabendo que quem sabe faz agora,
Amor é muito mais do que pressente.
Permite que se trague um novo dia
Repleto de ternura e de ousadia...
X
5168
Amor, um sentimento tão tirano
Que, déspota, não deixa respirar,
Causando, se traído, desengano,
Recende a fantasia e ao penar.
Converte todo bem em um talvez,
Invade sem pedir calma ou licença,
Nunca sabe esperar a sua vez,
Às vezes punição ou recompensa.
Amor que me injuria quando exalta,
Exala tal perfume que inebria,
Quanto maior se sente mais a falta
Ausente, traz uma alma mais vazia.
Amor que nos derrota na vitória
É rumo que se perde em plena glória!
X
5169
Querido sonetista, nos teus versos,
Encontro as mais diversas emoções,
Viajo e me transporto em universos
Que trazem melodias e canções.
Guerreiros, minuano, chimarrão,
Dos pampas, teu cantar chegou aqui.
E já veio inundando o coração,
Tanto carinho sempre vejo em ti.
Amigos são tão raros nesta vida,
Ser teu amigo sempre, já me ufana,
Presença companheira e tão querida,
Orgulho desta terra de Quintana!
Não devo mais ficar aqui, calado,
Chaplin venho dizer: muito obrigado!
X
5170
Esperança perdida? Nunca mais!
Agora não consigo mais deixar
De crer que poderei deixar pr’a traz
Quimeras que vieram par em par.
Eu vejo destroçadas as tristezas
E sinto tanto bem por ser assim,
A vida se envolvendo nas certezas
Da paz que retornou, até que enfim!
Amiga, como é bom saber que vivo
Nos braços da esperança mais feliz:
Da liberdade inteira de um cativo
Que foi por tanto amor, um aprendiz.
Amiga; não mais choro uma saudade;
Agora eu encontrei felicidade!
X
5171
Eu nunca mais terei contentamento
Se não tiver teu corpo contra o meu,
Numa explosão de imenso sentimento
Que forma, num instante, luz no breu.
Um sentimento assim, que me entontece
E me faz perder senso e ser audaz,
Numa emoção que sempre vem e cresce
Em forma de esperança mais tenaz.
Eu nunca mais terei uma alegria
Que não surja do amor que hoje me cura
Em toda uma beleza em sintonia
Depois de meio século em procura.
Eu nunca mais verei u’a solução
Distante do sangrar de um coração...
X
5172
Oh! Bem aventurados os que sabem
Que amor é o caminho mais sensato,
Pois neles universos todos cabem,
Carregam dentro em si manso regato.
São bem aventurados os amigos,
Que sempre se oferecem em ajuda.
Nos braços companheiros os abrigos
Não deixam que uma dor sempre te iluda.
Amor com amizade são perfeitos,
Não posso discordar desta verdade,
Quem sabe defender dos preconceitos,
Dos medos e de toda falsidade.
Amor que não permite insanidade
Deságua em belo mar: o da amizade!
X
5173
Não quero que transportes o meu sangue
Em pleno coração mais distraído.
Nem quero hemorragia que se estanque
Nos beijos que te dou, estou vencido.
Não quero que me tomes a minha alma,
Pois sinto que não tenho mais remédio.
Nem mesmo uma emoção nova me acalma
Pretendo me inteirar no meu assédio.
Eu na verdade sou o que preferes,
O gosto desta boca é todo teu,
Não guardo mais sequer os caracteres
Pois tudo o que já fui, amor perdeu;
Eu sou simples cativo que te busca,
De uma maneira mansa, mas tão brusca...
X
5174
O meu hábito antigo de entregar
Meu pensamento inteiro ao mago amor,
Qual fosse necessário ter o mar
Com ânsias de um real navegador.
Trazendo à luz do dia tantos sonhos
Vivendo a fantasia sem saber
Que mais que nos pareçam tão risonhos,
Os sonhos têm sua hora de viver.
Sofrendo com desgastes da paixão,
Aos poucos endureço o sentimento,
Mas como convencer minha emoção
De que tudo tem hora e tem momento?
O vento deste amor bateu na porta,
Abri... Me constipei; mas o que importa?
X
5175
Duras as leis do amor e da amizade,
Apenas as consigo adivinhar
Sei que elas não permitem claridade
Ofuscam cada verso que eu cantar.
Meus lábios quando osculam os teus lábios
Convidam para a noite em bom festim,
Segredos dos amores, toscos... Sábios?
Impedem que tu venhas para mim...
Mas, entretanto, quando me desejas,
Eu sirvo-te, cativo deste encanto.
E qual u’a fera louca tu me beijas
Deixando por completo o manso manto.
Quem dera descobrir esses mistérios
Que tecem neste amor, vários critérios...
X
5176
É madrugada fria, estou sozinho,
Sonhando com amor que já partiu.
Revoltos travesseiros neste ninho
Demonstram quanto amor me repartiu.
Amigo me perdoe, companheiro
Se telefono a ti, em altas horas,
Escuta este meu verso derradeiro
Perdi minha esperança, essas escoras
Que tanto me ajudaram a viver,
Agora nada resta senão pranto,
Um corpo que se move sem saber
Sequer se inda tem forças, desencanto.
As estrelas do céu já se apagaram,
Apenas os teus braços me apoiaram...
X
5177
Não quero embriaguez de uma aguardente
Com toda toxidade que transtorna,
Nem quero mais andar como um demente
Sem rumo que, vazio, não retorna.
Não quero este mistério tão difuso
Que faz com que eu não saiba discernir,
Deixando-me deveras tão confuso
Que não tenha sequer como seguir.
Na sensação feroz da solidão,
Andei por tantos bares sem destino.
Agora quero ter esta emoção
De ser bem mais que um louco em desatino.
Procuro em meu caminho e o que se vê?
Eu quero inebriar-me de você!
X
5178
Rasgo dos mundos, mantos tão etéreos
Que levam o pensamento para o nada.
A noite que me envolve em tais mistérios
Apenas te chamando, segue atada
Ao que passara há tempos e me inquieta,
Ao sentimento imenso e sensual
De ter tua presença mansa e quieta
Deitada nesta cama, um ser real.
Pressinto que virás ao fim do dia,
Eu sei que nosso amor jamais morreu,
Escuta este meu canto em poesia
Ausculte um coração somente teu...
Eu te amo e esperarei se for preciso,
Pois sei, me levarás ao paraíso!
X
5179
Na multidão de versos que proponho
Sentidos e desejos mais fecundos,
Na troca em turbilhão te peço o sonho
De misturarmos sempre nossos mundos.
Gravada no meu peito em garrafais
Letras, essa palavra sempre me traduz.
Vontade de emergir e pedir mais
Volátil sensação de imensa luz.
Meus dedos te tateiam nessa cama
Encontram os teus seios desnudados,
Acendem o calor de minha chama
Meus beijos vão ficando apaixonados...
Carinhos se buscando neste escuro
Amor em tentação, voraz e puro!
X
5180
O fruto do desejo é nosso amor,
Orgástico delírio que vivemos,
Na sinergia intensa, protetor,
É mais que pensamos e queremos.
Formando uma vulcânica erupção
Em lavas que se escorrem, tresloucado.
Convulsos em magnífica explosão
Num mar de tanto sonho derramado.
O fruto do desejo redimiu
Um coração que fora sem sentido,
Percebo que este encanto ressurgiu
De quem já fora um dia, desvalido...
O fruto do desejo sem juízo,
Nos abriu o portal do paraíso!
X
5181
No tempo em que sonhara desmedido,
Guardado por desejos insensatos,
Vivia sem amor, tão distraído,
Vencido pelos sonhos, morrem fatos.
Querendo do arvoredo um agasalho,
Não tinha nem sequer um simples colo,
Deitando minha dor em cada galho
Caído sem remédio, sobre o solo...
Agora que encontrei o meu refúgio
Nos seios da mulher que imaginara,
No breu destes meus sonhos já refulge-o
O lume dos teus olhos, pedra rara...
Amada como é bom sinceridade
Que traz ao nosso amor a eternidade...
X
5182
Se quando me amparaste nos teus braços
Houvesse mais cuidado em me reter
Talvez não se rompessem nossos laços,
Talvez inda pudesses ser meu ser
Cativo deste amor que dedicamos
Sem termos nem sequer ansiedade,
Aos poucos os carinhos derrotamos
Aos poucos transformados em saudade...
Tua palavra amiga sustentou
Durante tanto tempo meus anseios,
Agora que te vejo cedo estou
Saudoso deste colo, dos teus seios...
Amada me perdoe se eu lutei
Contra este amor imenso, nossa lei...
X
5183
Amor que na abundância ou na miséria
Não deixa de querer quem te quer bem,
Do abismo mais profundo à noite etérea,
Envolto nestes mantos sempre vem...
Não me permite mais tomar assento
No banco das tristezas e das dores,
Em meio a tais carinhos me contento
E flagro-me roubando jardins, flores...
Livre dos medos tolos, insensatos,
Caminho em cordilheiras mais audazes,
Bebendo a mansidão destes regatos
Percebo em nosso amor forças tenazes
Que tanto acariciam que alucino,
Completam meus desejos de menino...
X
5184
Meu verso te procura no universo
Em tantas avenidas e planetas,
No sonho mais diverso vou imerso
Retorno ao teu carinho qual cometas
Que sempre voltarão por mais distantes
Que sejam suas órbitas no céu,
Não deixam de viver a cada instante
Saudade do destino, mesmo ao léu.
Seu néctar soberano, meu maná,
Eu vivo desejoso da ambrosia
Que sempre o paladar dominará;
Na tua boca quente em noite fria.
No plenilúnio imenso deste amor,
Em ti vou naufragar, navegador...
X
5185
A música encantada da amizade
Ecoa no meu peito como prece,
Garante em meu viver, tranqüilidade
E sinto que este amor por ti já cresce.
Eu sei que não consegues discernir
Amor dum sentimento bem mais nobre,
Por isso venho aqui para pedir
Que saibas que o que sinto já me encobre
De uma alegria imensa e benfazeja
De ter essa emoção encantadora,
Meu corpo te procura e te deseja
Minha alma já te sabe redentora.
Tu és bem mais que simples companheira,
És minha amada amiga, a verdadeira!
X
5186
Meu canto de agonia que se esparsa
Espessas nebulosas vão tragando,
Formando em tanto sonho, a velha farsa
Que aos poucos eu percebo me levando
Ao fim deste meu sonho mais bendito
De ter uma esperança em ser feliz.
Meu grito corre embalde ao infinito
E morro sem ter tudo o que mais quis.
Quem maldizia a sorte que encontrara
Dos dias benfazejos sequer sombra,
A noite que se dera em cor tão rara,
Em toda negritude já me assombra.
Meu canto tão sereno em emoção
Já morre da fatal desilusão...
X
5187
A tarde que me trouxe esta alegria
Desmonta-se em terrível tempestade,
Formando tantas nuvens, morre fria,
Em plena sensação de insanidade.
Quem fora uma promessa de vitória
Adormecendo mostra-se quimera,
A vida se repete; a mesma história,
Trazendo imensa dor, temível fera.
Agora a solidão não me perdoa,
Andando do meu lado, castra o sonho,
A dor de te perder inda ressoa
Num vívido sofrer, o mais medonho...
Meus olhos empapuçam, sem beleza,
Vão se encharcando em lágrimas, tristeza...
X
5188
Mais uma noite fria e sem ninguém,
Apenas esse vento na janela
Procuro sempre em vão pelo meu bem,
A vida se entregou ao lado dela...
O resto do que fui caminha a esmo
Sem ter sequer destino, vou vazio...
Quem dera que eu pudesse ser o mesmo
Antes que o coração calasse frio...
Amor, por que partiste, diga enfim,
Meus versos não suportam a distância
A morte vem rondando, chego ao fim,
O sofrimento imenso em tal constância
Permite que eu escute sempre o não,
E morra, a cada dia, em solidão!
X
5189
Quando as espadas ferem quem disputa
Os jogos da emoção, doce pecado.
A mansidão se torna força bruta
O meu olhar se entorna apaixonado.
Do gládio que me invade, hemorragia,
Dilacerante seta que entontece,
Vai maculadamente a fantasia
Não adianta mais sequer a prece.
Em todas as arenas, derrocadas,
O coração repasto de tais feras,
As sanidades estão já destroçadas
Nas garras das paixões, fatais panteras...
Entregue aos teus desígnos, fero amor,
Não me adianta ser gladiador!
X
5190
As catedrais divinas deste amor
Em tantas orações permitem ver
Do fundo de meu peito adorador
A redenção expressa em novo ser.
Quem fora despedida, hoje suplica
Amor de quem jamais soube esquecer,
Não uso mais nem luvas de pelica
Meu verso escancarando vem dizer
Tu és o meu desejo de mulher,
O sonho mais bonito que pensei,
Amar demais é tudo o que se quer,
Perdoe se; algum dia; já pequei
Contra esse deus sensível, inconstante
Que quando empequenece faz gigante.
X
5191
Quem pensa em ser poeta tem que ter
O pensamento livre, sem amarras,
Não pode se deixar mais submeter
Ao egoísmo torpe em tristes garras.
Vivendo a poesia como um todo;
Quem ama sempre a vida vai buscar,
Mesmo na ostra que vive em pleno lodo,
Inspiração liberta p’ra cantar...
Amada, por favor, não tolha o sonho
Que nunca se deixou ser um cativo,
Por vezes meu cantar é mais risonho
Que a dura realidade onde estou vivo...
Não queira confundir a poesia
Com vagas sensações do dia a dia...
X
5192
Que a voz do trovador sempre te exalte
Em versos mais singelos ou mordazes.
Que a vida de quem canta já se paute
Por sonhos mais felizes ou audazes.
Tantas noites passadas nestes bares
Sonhando com justiça e com amor.
Em cada companheiro mil altares
Em cada novo canto o meu louvor.
Que a voz tão insegura de quem canta
Não deixe de calar a sensação
Que toda essa alegria seja santa
Que traga para nós uma emoção
Distinta da ilusão que nos castiga,
Que emane da cantiga a voz amiga!
X
5193
Vou célere fugindo de mim mesmo,
Perseguem-me delírios e visagens,
O coração batendo sempre a esmo
Reflete taquicárdico, as imagens
Dos dias mais felizes que tivemos,
Das noites em total ebulição,
Meu Deus! Por que será que nos perdemos
Do rumo que seria a salvação?
Mas sinto que te adoro fatalmente
E nada irá tomar outro caminho,
Peço-te que tu voltes finalmente
E traga o teu calor ao nosso ninho,
Não quero mais meu canto assim sombrio,
Não deixe que este amor morra de frio...
X
5194
É noite em plenilúnio dentro da alma,
Em festas meus desejos qual crisálidas
Percebem teu carinho que me acalma
Deitando em tua cama flores cálidas.
Eu tento percorrer o teu sacrário
Sabendo que encontrei a solução
Que mata meu destino temerário
E invade de prazeres a paixão.
Vogando meus carinhos nos teus mares
Na doce sensação destes sargaços,
Entregue aos teus delírios, meus luares,
Encharcam-se na alvura dos espaços
E quero teu amor vivo e noctâmbulo
Que sempre me procura, amor sonâmbulo...
X
5195
Não penso neste amor, em gratidão,
Nem quero que me beijes por beijar.
Apenas te proponho uma emoção
Que faça sem ter asas, revoar...
Não falo desta chaga que carrego
Nem conto a cicatriz exposta em ti.
Eu sei bem d’onde venho e nunca nego,
Só sei que nos teus braços me perdi.
Acendo este cigarro, veja a fumaça,
Assim; o nosso amor não quero ter.
Eu quero te levar, de noite à praça
Depois o teu prazer no meu prazer...
Esqueça essa mão vil do meu passado,
Perceba quanto estou apaixonado!
X
5196
Cevaste meu amor por tanto tempo,
Agora que me tens fazer o que?
Não quero que me vejas passatempo
Apenas um brinquedo em que se vê
O gosto da vitória na batalha,
A sensação suprema de ganhar,
Meu canto enamorado já se espalha
O que fazer senão te amar?
Cavaste na minha alma uma esperança
De ser além do amor, ser imortal.
Eu vejo, do brinquedo já se cansa,
Não quero ser apenas um jogral.
Eu quero me perder nestes teus rios
Embora eu já perceba, são tão frios...
X
5197
Perdido para sempre em tua rede
Não quero me ausentar das belas teias,
De teu amor eu tenho tanta sede
Teu sangue se imiscui nas minhas veias.
Meus olhos se perdendo sem ter rumo
Bebendo de teus olhos sonhadores,
Eu quero deste amor inteiro o sumo,
Eu quero me encantar com tuas flores.
Não vejo aterradoras diferenças
Que possam impedir o nosso enlace,
Pois saiba que teremos recompensas
Se não nos ocultarmos. Nossa face
Em um espelho só já se mostrara
Mostrando o que sentimos: jóia rara!
X
5198
Paixão é sentimento tão selvagem
Que trama uma loucura enquanto corta,
Permite ao pensamento tal viagem
Que arromba qualquer casa e qualquer porta.
Paixão que nos treslouca e alucina
É quase convulsão em tempestade.
Nos toma a liberdade e nos domina,
Nos matando em fatal ansiedade.
Sentir tão fascinante e doentio
Flambando o coração em doce amaro,
Promessa de calor que traz o frio,
Derruba enquanto quer dar todo amparo.
Paixão é negação do próprio ser
Tortura e dá vontade de viver...
X
5199
O manso caminhar por esta vida,
Em tantas tempestades, sempre acalma.
Certeza de uma paz já ressurgida,
Com toda uma alegria dentro da alma.
Por mais que seja sonho, nunca deixe
De ter esta esperança dentro em ti.
Amor que multiplica pão e peixe
Num acalanto doce, sempre vi.
Espero que este amor seja contigo
O mesmo que comigo já caminha.
Amor que nos protege, bom abrigo,
Na dor e na tristeza nos aninha...
Amor que se traduz sinceridade,
No rumo das estrelas, amizade...
X
5200
Para onde fores, minha amada, irei;
Trilhando o mesmo rumo, mesmas ruas...
Seguindo estas pegadas, buscarei,
Usufruir das luas, nuas, tuas...
Por mais que a noite venha tão sombria,
Eu vejo uma mudança destes ventos.
Pressinto que terei tanta alegria
Em meio a tão felizes sentimentos...
Se acalmo estas tormentas dentro em mim,
Bem sei como foi triste um vão adeus,
Mas vejo que terei amor sem fim,
Promessa que senti nos olhos teus.
E seguirei teus passos onde fores,
Nas sendas infinitas dos amores!
X
5201
Não falo deste mar que não me lembro
Distante das montanhas onde moro.
Passando tantos anos, num setembro;
Na pele da morena que eu adoro.
Não falo das montanhas que não subo
Distantes destes mares com que sonho.
Passando tantos meses, num outubro,
Amores e desejos que proponho.
Não falo das planícies, companheiro,
Do orvalho nestas matas desejosas.
Vivendo nosso amor, vital janeiro
Que trouxe teu amor, de tantas rosas...
Eu quero-te morena nem disfarço,
Nas chuvas de verão, no nosso março..
X
5202
Florescem sob a lua, teus encantos,
No teu corpo as marcas do prazer,
Cobrindo tua pele como mantos
Entranham cada parte do teu ser.
As loucas, transtornantes fantasias,
São tuas cicatrizes favoritas,
Espelham nossas doces sinfonias
Tocada pelas bocas tão benditas...
Os astros te observando tecem lumes
Nos céus qual pirilampos fluorescentes,
As flores se encharcando de perfume,
Se abrindo e se mostrando enlanguescentes...
Florescem novamente meus desejos,
E rendo-me aos teus sábios lábios, beijos...
X
5203
O tempo tão voraz derruba tudo,
Não deixa pedra sobre pedra... Nada...
Amor que te emprestei, porém; contudo,
Ainda faz a vida ser dourada...
Nesta profundidade em que me embrenho
Dos sonhos que não tive e nem vivi,
Aos poucos solidão fecha o meu cenho,
E sinto que talvez, eu te perdi...
Mas teimo em te manter nestas ruínas
Do que restou de mim, por sobre a terra,
Meus olhos se elevando nas colinas
Adivinhando a dor da dura guerra,
Procura por teus olhos, ansiosos,
Nos sonhos deste amor, voluptuosos...
X
5204
O medo de morrer sem ser feliz
Sem ter este infinito que traduz
O verso mais bonito que já fiz
Em meio a tempestade, em tanta luz.
Não sou nenhum ególatra, querida,
Apenas já me sinto satisfeito
De ter-te encontrado em minha vida,
Mostrando quanto amar é um direito.
O medo de morrer já me abandona
Agora sou-te inteiro e me desdobro
Ao ver tua pureza de madona,
Cuidados e carinhos já redobro.
Eu quero te poupar das convulsões
Imensas dos delírios das paixões...
X
5205
As dores que formaram nebulosas
Nos sonhos imprecisos deste amor,
Agora se permitem novas rosas
Tão orgulhosas sabem como a flor
Perfuma um desejo tão sutil
De ter-me novamente redimido
De todo este meu mal, amor gentil
Faz-me da morte estar, ser renascido.
A força que me atrai também revela
Que posso ser feliz, talvez um dia,
Pintando um novo amor em nova tela
Nesta aquarela santa da alegria.
A solidão recolhe suas garras,
Rebento, com o amor, estas amarras!
X
5206
Meu coração não deixa-se domar,
Eu cria nesta lenda sem sentido,
Depois de que te vi, pus-me a pensar
Que amor nos doma e toma distraído.
Na tarde nebulosa da saudade,
A chuva derramando seus cristais
Rendendo e nos tomando a liberdade
Amor se aproximando mais e mais...
Percebo o rumorejo deste rio
Descendo nas cascatas altaneiras,
O mundo sem amor resta vazio,
As noites sem ternuras, sem fronteiras...
Meu coração domaste; fera amada,
A garra que cravaste: tão afiada...
X
5207
Não deixe que agonize este desejo
De ter uma esperança mais bendita,
Futuro nebuloso sempre vejo
Se calas tua voz que é tão bonita.
Cadáver andrajoso pelas ruas,
Não quero mais a sina que percebo,
As horas transtornadas cortam cruas,
Nevasca dentro da alma já recebo.
Arrasto uma esperança moribunda
Atada qual corrente nos meus pés,
A solidão se emerge mais profunda,
Meu barco sem destino e sem convés.
Amor que tanto quis e desejei,
Qual fora um morto vivo, agonizei...
X
5208
Vagando por mim mesmo, me perdi,
Não sinto mais a força que esperava,
De tudo o que sonhei, restei aqui,
A morte em tempestade beija e lava,
Eu sei que não devia ter sonhado,
Um sonhador merece tal castigo,
O coração se cala amargurado,
A vida se demonstra em desabrigo...
Eu sinto a solidão batendo à porta,
Sorrio: estás de volta companheira!
Achei que te veria, enfim, já morta,
Mas selas meu destino, derradeira.
Sentindo que a rotina recomeça
Minha alma sem sentido, vã, tropeça...
X
5209
O frio que cortava o pensamento
No fio da navalha sempre andei.
Querendo desfrutar deste momento
Percebo que jamais conseguirei...
Cortando qual um aço mais feroz,
Bem fundo em minha carne lacerada,
O gosto da saudade invade a foz
Do rio que morria sem ter nada.
Sou verso e sou reverso da medalha,
Apenas um despojo que carregas,
Bem fundo e sem sentido a faca talha
Um coração exposto em várias pregas.
E calo meu sorriso em vil destroço,
Na morte de minha alma, já remoço...
X
5210
Eu quero o nosso amor numa cabana
Na roça, na montanha ou na fazenda,
Bebendo uma garapa, pura cana,
Passada com jeitinho na moenda.
Eu quero uma casinha bem bacana
Comprar café e fumo numa venda,
O pó duma saudade o vento espana
A solidão, distante, vira lenda...
Comer queijo com broa de manhã,
Regado com café e leite cru.
Fazer de uma alegria nosso afã,
Quarar nossa esperança no varal,
Nadar na cachoeira inteiro e nu,
Fazendo muito amor no matagal...
X
5211
Pobre pescoço andava tão sozinho,
Em busca de quem desse uma atenção,
Depois de tanto tempo sem carinho,
A cervical estúpida região,
Aos poucos se mostrando em desalinho,
A todos resolveu vir dar lição.
Ladrando e se mostrando podre linho
Só quis aparecer, o pescoção.
Cansados de tamanha pescocice
Alguns pediram mais educação,
Que a cervical dizia em asneirice...
Assim passaram meses, anos dias,
Pescoço continua em profusão
Só Pedindo um colar de melancias...
X
5212
Por tanto tempo andei sem ter ninguém,
Nas ruas, nas bodegas, botequins,
Cansado destas noites de meu bem,
Ou outras melodias mais afins.
A noite em polvorosa vai e vem,
Minha alma carcomida por cupins
Olhando para os lados perco o trem
E morro nessas saias, puros brins.
Depois de tanta saia procurando,
A azul e amarela quis meu beijo,
Aos poucos, devagar foi me encantando.
Agora está deitada aqui comigo,
Passando as várias fases do desejo,
Agora em outra saia peço abrigo...
X
5213
Pretendo sim, usar perfeito zoom
Para mostrar-te inteira em emoção.
Cantando sem temor, sequer, algum,
Eu falo da mulher em explosão.
Daquela que domina, mansamente,
E cobra, de repente, seus desejos,
É força que se mostra plenamente
Tornando-se maior sem fantasia;
Mesmo que de princesa haja lampejos,
Aumenta o seu poder a cada dia...
X
5214
Interessante, às vezes me lembrar
De como começou o nosso caso,
Eu quase te perdi. Fora do prazo,
Por pouco não deixava-te escapar.
Te via e quase nunca percebia
O brilho dos teus olhos sobre os meus,
Dizia tantas vezes: Vai, Adeus.
E não te imaginava e nem podia...
Cansado desta vida só e a esmo,
Já tinha me esquecido de viver,
Meu sonho adormecido, sempre o mesmo,
Não tinha nem resquícios de prazer...
Mas quando eu percebi; meu coração
Atado nesse fruto temporão...
X
5215
Alago-me nessa água que percorre
As pernas bronzeadas da morena,
Ao mesmo tempo afoga e me socorre,
Ao mesmo tempo sana e me envenena;
Riscando por um triz o mar inteiro,
Lavando a cicatriz com água benta,
No gosto deste sal um derradeiro
Desejo de paixão tão violenta...
Na proa deste barco eu sempre embarco
O mastro que quer vela e se revela
Deixando em todo porto o gozo, o marco,
Pintando no teu corpo a louca tela
Formada em aquarela, num lampejo,
Marcada ao fero fogo do desejo!
X
5216
Ao ver nesta mulher a rosa plena
Que emana imensidão em cada passo,
Compassos esquecidos lua acena
E sinto-me no poço de seu braço.
Aberta a rosa inteira feminina,
Me nina em cada mina meu tesouro.
No gosto desta boca, me alucina
Menina minha sina é ter teu ouro
Marrom em tanto tom, novo matiz,
Os olhos são marrons, teus dons e brilhos,
Marrom o meu desejo e cicatriz,
Ronrona enlanguescente nos meus trilhos,
A rosa se acastanha e se bronzeia,
Na brônzea emoção de lua cheia...
X
5217
Bateu na porta, abri depressa... Amor,
Fazendo estripulia, veio vindo
Devagar invadindo sem pudor,
E quase que zombando, estava rindo...
Naquele instante sinto que perdi
O rumo planejado há tanto tempo.
Aos poucos me tomou; me convenci
Que desta vez não era passatempo...
A mais bonita moça do cerrado
Morena com sorriso mais gostoso,
Domou meu ar, meu céu, beijo melado
Que tanto desejei, amor fogoso...
Agora que este amor é minha lei,
A porta, de uma vez, eu arrombei!
X
5218
Canção da chegança dos marujos cantada por Manuel Lima e
Antônio Tavares em Penha (RN) e anotada por Mário de Andrade
em 1928)
Adeus, meu lindo amor
Eu vou embarcar
Até segunda-feira
Terça, quarta mais tardar
Eu vou embarcar
Não chore, minha amada eu vou voltar..
As ondas que me levam vão trazer
Esta saudade imensa vai buscar
Meu barco aqui de novo prá te ver...
Eu sei que terça feira vou partir,
Buscando no oceano o nosso pão,
Meu corpo sempre tem que prosseguir
Mas deixo aqui, contigo, o coração...
Adeus meu lindo amor, depois eu volto,
Quem dera se pudesse estar contigo,
Quando âncora levanto e a corda; solto,
Meu coração se perde sem abrigo,
Só levo teu sorriso e a saudade,
E deixo aqui; amor, felicidade...
X
5219
Nossa casa é vazia sem você,
As flores vão murchando sem carinho,
Procuram jardineira, mas cadê?
Eu vivo uma gaiola, passarinho...
Não deixa que isso venha a acontecer
Eu quero esta presença que me embala
Nas noites que mal posso adormecer
Sua alma na minha alma não se cala...
Durante tanto tempo em minha vida
A sorte parecia que fugia
Uma esperança pobre e adormecida,
Sangrava, simplesmente, todo dia...
Agora que voltou, meu grande amor,
A fria casa, agora, tem calor!
X
5220
Não quero este teu Deus que só castiga,
Vivendo entre seus filhos preferidos,
A mão divina é sempre mão amiga,
Não creio, enfim, que existam preteridos...
O Pai que deu amor e nos abriga
Não é o causador desses gemidos,
Amor só se conquiste a não se obriga
Tampouco os seus pendores divididos.
Eu creio neste Pai amante amigo
Que sempre repartiu o peixe e o pão,
Desculpe, quero crer; mas não consigo.
A vida me mostrou com claridade,
A força tão enorme do perdão
No santo manto feito na amizade...
X
5221
Um Deus onipresente e onipotente
Não vê um inimigo em cada canto.
Aos filhos este Pai tão semelhante
Que achá-los diferentes causa espanto...
Um pai que ama seu filho está contente
Mesmo em diversidade de outro canto,
Não creio ser possível que se tente
Deixar de ter amor e ter encanto
Apenas por que o filho não se vê
Parecido ou refletido neste Pai,
Prossigo respeitando quem se crê
O filho preferido do Senhor
Porém eu não admito quem já vai,
E quer o monopólio deste amor...
X
5222
Eu sei que quando falas no meu nome
Uma saudade bate lá no fundo...
A nossa cicatriz nunca mais some,
O corte foi cruel e mais profundo...
Por mais que uma certeza já te tome,
Esquece, e me recordas num segundo.
A noite em solidão sempre consome
Não há lugar pra ti, no imenso mundo...
Querida estou aqui, pensando nisso,
Da flor que sem querer, perdeu o viço,
Nos olhos tão vazios sem ninguém...
Amada espero a volta deste amor,
Que foi neste jardim, mais bela flor,
Te peço, meu amor. Agora... Vem!
X
5223
Quando tu me falaste num adeus
Senti todo meu mundo desabar,
Meus olhos já perdiam-se nos teus,
Sem o sol, como vive este luar?
Os dias se passaram, tão ateus,
Somente uma tristeza em meu olhar,
Cheguei a praguejar contra meu Deus,
Perdido, sem nem ter com quem contar...
Não fora uma amizade verdadeira
Talvez eu nem pudesse resistir...
Eu pensei ter perdido a vida inteira
Sem ter nenhum apoio onde escorar,
Agora, minha amada; vai me ouvir
A vida vai voltando ao seu lugar...
X
5224
No culto divinal ao deus amor,
Meus olhos embargados não te esquecem,
Teus passos e caminhos sempre tecem
Destino deste louco sonhador...
Não quero teu amor em sacrifício
Difícil entender se assim fizeres,
Só quero; no banquete, teus talheres
Eu te ofereço amor, meu sacro vício.
Querida embalde a vida nos desfaça
Eu clamo eternidade para ter
Zil anos desfrutando do prazer
De ter o nosso amor em plena graça.
Permita-me sonhar, sei impossível,
Mas somos um só ser, indivisível...
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5225
Quando temos os olhos mais cansados
Na busca por dispersas ilusões
Sabemos quanto somos desprezados
Envoltos nos delírios das paixões.
Amada, meus caminhos desviados
Me levam, com certeza, p’ra rincões
Tão ermos, muitas vezes são marcados
Por outros desvarios e emoções...
Mas sei que mal, enfim, noite termine
Eu posso avaliar aonde errei;
Espero que a saudade determine
E eu cumpre meus presságios pela vida;
Mudando em nova sorte a velha lei
Que traga uma alegria mais sentida...
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5226
O tempo modifica todos nós,
Bendito seja o vento da mudança,
O que já fui e sou, serei após?
Contínuos os fascínios desta dança
No atar e desatar de antigos nós
Romper, formalizar outra aliança,
O tempo é companheiro, mas algoz
Forjando uma incerteza e uma esperança...
Converte amor em ódio ou em desprezo,
Produz numa amizade, indiferença,
O manto da tristeza sói obeso,
E uma saudade imensa do que fomos,
Amigo, ser feliz não é doença,
A fruta se divide em vários gomos...
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5227
Quando estou recolhido no meu quarto
Eu sinto o bafejar do calmo vento,
Depois de ter vivido um sonho farto
De amor que não me sai do pensamento,
Escuto tua voz chamando ao senso
Imerso em tal delírio, te procuro,
Depois de certo tempo o mar extenso
Da solidão me mostra o quarto escuro.
Levanto; fecho esta janela e deito.
E te sinto tocar a minha boca,
Beijando-te adormeço satisfeito,
Refém desta emoção sagrada e louca...
E sonho com teus olhos, teu carinho,
Assim eu vou vivendo em nosso ninho...
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