terça-feira, 20 de abril de 2010

30274 até 30393

30274


O dia se tornando em névoas fartas
A vida não permite soluções
E quando novos sonhos tu me expões
As falsas ilusões já não descartas,
Ao verem viciosas, toscas cartas
As mortes entre chamas e vulcões
Ainda se pensando em expressões
Dos gozos mais atrozes tu te fartas,
Seviciando o passo rumo ao quando
Pudesse acreditar noutro momento
E tendo em tuas mãos tanto tormento,
O quadro mais nefasto se pintando
Demônios entre fogos e terrores
Aonde se pensara outrora em flores.


30275


Dos animais que vejo nas campinas,
Das mortes em tocaia, dos chacais,
Os olhos tão famintos, temporais
E neles com certeza te fascinas,
Aonde em aridez houvesse minas,
Aonde não se viam vendavais
Somente agora em atos terminais
Corcéis em vão galope soltas crinas,
Demônios em satânicas orgias,
E quando se percebem heresias
Gargalhas entre as brumas, mais cruel,
E tudo se esvaindo em sanguinário
Momento aonde o medo é necessário
Urdido tão somente em fúria e fel.


30276


Fadigas vão roubando as minhas pernas
E tento alguma fuga, mas não posso
E quando algum tormento ainda endosso,
As dores poderão ser mais eternas,
Não tendo em minhas mãos sequer lanternas
O quanto deste nada é sempre nosso,
E assim nesta mortalha eu me remoço
Volvendo aos duros dias das cavernas,
Terríveis cenas, névoas, torpes luzes,
E quando mais temível passo eu sigo,
O tempo condenando ao desabrigo
E nele meus demônios reproduzes,
Satânico momento morte atroz,
Ninguém escutará do sonho a voz...

30277



Sustento esta batalha contra a sorte
E vejo decomposto cada sonho,
E quando à fantasia enfim me oponho
Seduz-me a realidade dita em morte,
E nego da esperança algum aporte
Resíduos do que fora decomponho
E morto em vida, mesmo em ar medonho,
Não tendo quem talvez inda conforte,
Este andarilho em tosca luz sombria
A cada nova noite soerguia
A voz nefanda e fria do abandono,
Resíduos em carcaças, carniceiro
O amor que tantas vezes rapineiro,
Tomando o que me resta espúrio sono...

30278

Jornada em trevas feita, luz escassa
A vida não pudesse ter deveras
Além do dia a dia entre tais feras
Imagem que se mostre mais devassa,
O tempo amortalhado agora passa
E sangra em dores fartas, nas quimeras
Medonhas muito além do que inda esperas
Enquanto uma esperança se esfumaça.
Riscando deste mapa uma alegria,
Amedrontado encontro neste espelho
O olhar inebriado, em tom vermelho,
Venenos que hoje bebo me salvando
Do quanto no passado fui cruel,
E assim ao mergulhar em turvo véu,
Risível espantalho, um ser nefando...


30279


Memória traduzindo este pavor
E dele bebo gotas, goles tantos,
E quando me entranhara em tais quebrantos
A morte então seria algum favor,
Mesquinhos dias, noites já sem cor,
Resisto aos mais doridos desencantos
E nego sem temor medos e prantos,
Bebendo a me fartar tamanho horror.
Restando ao caminheiro a morte apenas,
E vendo cada quadro em torpes cenas,
Serenas noites vejo muito além,
E tanto poderia ter diverso
O mundo que hoje sei venal, perverso,
Olhando em volta e o nada me contém...


30280


Valei-me Satanás, pai destas sombras
E dê-me nova chance, pois cansado
Da luta sem sossego, duro fado,
Ainda não mais restam tais alfombras,
E quando em luz opaca tanto assombras,
O medo em cada olhar sendo estampado,
Apenas o vazio é teu legado,
Enquanto em pedras frias tu me alfombras,
Resisto aos mais diversos dos anseios
E adentro sem pudor teus turvos veios
Em ritos mais profanos e temíveis,
Os dias ao teu lado, pai eterno,
Levando o caminheiro ao sacro inferno,
Em sons tão tenebrosos e terríveis...


30281


Quando eu te vi desnudo em face clara,
Percebo quanto és belo pai da dor,
E tento com as ânsias do terror
A fonte mais espúria em que declara
A voz de quem se fez em tez tão rara,
Belíssima figura a se compor,
Medonho caricato, meu pendor,
Durante a minha vida, fora escara.
Escravo do vazio, em tez feroz,
Ninguém um dia ouvira a minha voz,
E assim sem ter paragem morto em vida,
Em ti querido irmão eu me entregando
O quanto desta vida em tom nefando,
Agora percebendo uma saída...

30282

Corruptível mundo aonde eu sinto
A podridão exposta a cada instante
Cenário tão terrível degradante
O sonho que inda houvera eu vejo extinto,
E quando esta verdade dita o rumo
Da tosca humanidade em nada creio
No meu olhar somente este receio
E enquanto busco a paz, assim me esfumo
Demônios que cultivo dentro em mim,
Herdeiros desta terra ensandecida,
Assim ao destroçar o que era vida,
Percebo esta ilusão chegando ao fim,
Apenas sorvo a poluída tez
Na qual uma hombridade se desfez.


30283


Sem perder o que talvez pudesse ainda
Trazer algum momento mais sutil,
O mundo que conheço, amargo e vil,
A cada novo não mais se deslinda,
E bebo desta dor que quando infinda
Matara qualquer sonho, e assim previu
Afã tão tenebroso e se sentiu
A sorte se mostrando na berlinda.
Ao menos a carcaça que hoje sou
Ainda pode ter qualquer alento,
E quando mais distante me atormento,
Devoro esta carniça que sobrou
Do que fora deveras honra e glória,
A morte celebrando esta vitória...

30284


Quando do mal percebo esta presença
Na pútrida ilusão que ainda trago,
Assim ao perceber venal estrago,
Nem mesmo a lividez diz recompensa,
E quando mergulhara nesta crença
E dela com terror sorriso mago,
O pântano penetro e sem afago,
A morte não traduz sequer ofensa.
Espúria garatuja imunda resta
Adentra o tumular caminho em fresta
E torna mais corrupta a própria sorte,
Quem pode discernir paixão e luta
Agora ao ver o fim já nem reluta
E tem na podridão seu fim e norte.


30285


Revejo minha origem nesta cena
Aonde num jazigo mergulhava
A sorte desairosa, intensa e brava
Nem mesmo algum terror inda serena
Uma alma que se fez menor, pequena
E apenas no terror hoje se lava,
Aonde se amortalha vil escrava
O quadro se anuncia em fúria plena.
Reside dentro em mim este demônio
E quando mergulhando em pandemônio
Vasculhos meus escombros e inda vejo,
O belo e caricato ser que um dia,
Matando qualquer luz ou fantasia
Dessedentando em fúria o meu desejo...


30286


Quando pela razão procuro ser aceito
Vencendo os meus momentos mais atrozes
Ouvindo do passado antigas vozes
Tomando cada espaço quando deito,
E quando no vazio me deleito
Percebo os mesmos erros, meus algozes
Ainda que deveras; ris e gloses
Meu canto persistindo insatisfeito,
Morrera nalgum canto em verso e treva
Uma alma solitária quando neva
Transida pelo frio, nada tem
Senão este impossível caminhar
Brumosa madrugada sem luar
Procuro e novamente, sem ninguém...


30287


Das dores genitor, em face espúria
Resisto ao que pudesse transformar,
A vida não se fez sem o lutar
Batalhas traduzindo tanta fúria
E nesta caminhada em plena incúria
Ardentes noites, sangue verte o mar
E tanto poderia navegar,
Mas ouço da esperança esta lamúria.
E andando sobre as pedras, trevas, medos,
Refaço do passado vis enredos
E morro pouco a pouco em podridão,
Singrando os meus terríveis abandonos,
Os dias entre amargos, frios donos,
Somente traduzindo a solidão...


30288


Cabendo aparelhar-me de esperanças
Lutando contra a imensa tempestade
Não quero um verso manso que te agrade
Tampouco tão somente fúria e lanças,
Ausente dos meus olhos temperanças,
Olhando para a torpe imensidade,
A morte a cada dia mais me invade
As horas não seriam calmas, mansas.
E o rito se repete a cada instante
O quando se mostrando degradante
Meu verso nada traz senão tal fato
No qual por me saber tão vulnerável
A pútrida razão não mais palpável
E assim neste tormento eu me retrato.


30289



Verdade. A ti erguera o meu altar,
Mas quando em torpes cenas percebi
O quanto se perdera enfim de ti,
Não pude mais seus rumos desvendar,
E agora no vazio mergulhar
Refém destes momentos que sorvi,
Esboço reações, mas hoje eu vi
O quanto pude aos poucos degradar
Assíduo caminheiro da ilusão
Restando sob os olhos negação
O quadro incontestável se apresenta
E tudo o que pensara mais fiel,
Arcando com as fúrias tira o véu
E vejo a face espúria e tão sedenta...

30290


Marcando tua pele em lábios, riscos
As cicatrizes mostram noite em gozo,
E o quanto se pudesse majestoso
Momento se mostrado em tons ariscos,
Erguendo no teu corpo os obeliscos,
Cenário tão diverso e caprichoso
Ao mesmo tempo atroz e melindroso
Jardins entre rosais, lírios e hibiscos
Não pude discernir quais as daninhas
Que um dia se apoderam deste todo,
E imerso no prazer envolto em lodo
Diversas horas tolas; frágeis, tinhas.
E quando percebi final de festa,
Abrolhos tão somente o que nos resta.


30291


Qual fora alguma bela imagem viva
Ainda em mim restando esta ilusão
E sinto tão distante algum verão
Minha alma da emoção deveras priva,
E nada do que pude sobreviva
Medonha face dita esta expressão,
A morte se tornando solução
A fúria do vazio adentra e criva
A pele em farpas tantas, dor imensa,
E quando neste encanto ausente pensa
Minha alma se transforma plenamente
E o que fora verdade agora eu sinto
O mundo que pensara estando extinto,
Até a fantasia agora mente...


30292


Desvendo calmamente os teus anseios
E sinto-te deveras bem mais perto,
Meu rumo tantas vezes tão incerto
E nele me percebo em vãos rodeios,
Amor ao preparar caminhos, meios
Encontra este portal que quando aberto
Portanto que procuro e até deserto
Deixando estes tormentos quase alheios,
E pude perceber a maravilha
Do encanto que este sonho audaz já trilha
Vagando por estrelas, raios tantos,
E assim ao me sentir enamorado
Ouvindo da esperança um alto brado,
Entregue sem defesa aos teus encantos...


30293


Ancoro meu delírio em manso cais
E sinto-te decerto mais contente
Amar e ser feliz, no que se sente
Em horas delicadas, sensuais,
E quando se percebe muito mais
Do que deveras creio ou mesmo sente
Uma alma que se fora penitente
Encontra finalmente em triunfais
Momentos o que tanto procurava
Ausência de ternura, fúria em lava,
Agora em claridade e mansidão.
Sabendo do futuro nos teus braços
Ganhando plenamente tais espaços,
O amor se faz meu prumo e direção.


30294

A minha mão desliza mansamente
E encontra sem fronteiras as vontades
E sinto-te deveras quando invades
Com tua imensidade e já se sente
A vida com ternura iridescente
Porquanto mais desejo, sintas, brades
Percebo em ti sobejas claridades
E nelas tanto amor que enfim freqüente
Uma alma muitas vezes solitária
E tendo esta expressão divina e rara
Um sonho realizado se declara
Embora a vida seja procelária
Certezas de outros dias mais felizes,
Deixando para trás quedas, deslizes...


30295

Fervilha dentro em mim este desejo
De estar junto contigo e perceber
Beleza incomparável e viver
A sorte que deveras mais almejo
O mundo do teu lado em que vicejo
O canto emoldurando o amanhecer
Delírio de um poeta, eu posso ver
O quanto em tanto amor quero e prevejo
Um dia que talvez já não mais tenha
A dor que tantas vezes maltratara
A sorte se traçando, outrora amara
Sabendo o paraíso, rumo e senha,
Não posso mais negar quão necessário
O encanto deste amor, doce fadário...


30296



O coração desanda enquanto sente
Desejo incontrolável, vivo e imenso
E quando em tal momento quero e penso
O mundo se transforma plenamente,
Viver esta emoção e sendo urgente
Caminho aonde vivo em tom intenso
A doce claridade e me convenço
Do quanto é necessário e tão premente
A sorte inusitada de poder
Sentir-me mais completo em cada passo
E quando dos engodos me desfaço
Procuro desde então reconhecer
A mágica loucura que se vê
Trazendo à minha vida algum por que.


30297



Vontades soberanas, ritos belos
E tento discernir melhor caminho,
Não posso mais seguir assim sozinho
Resisto aos temporais, buscando anelos
E neles a certeza de que um dia
A sorte poderá traçar meu rumo
Enquanto do passado se eu me esfumo
O amor a cada encanto se recria
E traça novamente em linhas claras
Delírios onde eu possa trafegar
Sabendo desde cedo do luar
E nele as fantasias em que aclaras
Os dias que virão; belos matizes
Momentos delicados e felizes...


30298


No fluxo de prazeres percebendo
A imensidão de um toque mais audaz,
E quanta vez o sonho em paz me traz
Momento mais sublime em estupendo
Cenário cada vez mais me envolvendo
Aonde há tantos anos foi mordaz
O encanto que deveras satisfaz
Permite esta emoção que ora desvendo.
Vencer os meus temores mais antigos,
Sentindo nos teus braços os abrigos
Que tanto desejei e não sabia
A vida no passado fora atroz
Agora ao se mostrar em firmes nós
Permite o renascer da fantasia...

30299


Supernas sensações tocando em mim,
Raiando em sol imenso esta manhã
A vida que se fora outrora vã
Agora se mostrando em bem sem fim,
Traçando a cada instante o encanto, enfim
Encontro com ternura cada afã
E quando se pensara ser malsã
Percebo esta presença e sei que assim
Seguindo cada passo rumo ao tanto
Nas sendas mais felizes me agiganto
Servindo a quem se fez claro e sublime,
Portanto a todo instante eu me aprofundo
E quando me encontrara só no mundo
Descobri finalmente quem me estime...


30300

As emoções febris ditando a sorte
De quem se desejara além do mar,
E quando poderia me entregar
Sabendo nos teus braços o meu norte
A vida não se fez em dor e corte
Jamais voltei deveras a sangrar
E tudo o que pudesse imaginar
Trazendo esta alegria que conforte
Transcorre mansamente assim o rio
E quando em fantasias desafio
A foz em turbulência, imenso gozo,
Orgástico momento em que sagrando
Ao deus mais delicado, insano bando
Um explodir de fogos; majestoso...


30301

Explodem os sentidos num momento
Sublime aonde amor se fez maior
O quanto deste encanto foi melhor
Gerando mansamente um doce alento,
Sentindo no meu rosto, assim o vento,
Caminho para a glória eu sei de cor,
A velha melodia em tom menor
Agora noutra face te apresento,
Percebo que inda existe após a treva
A sorte que este sol intenso ceva
Granando dentro em mim nova esperança
E quanto mais me entrego vejo em ti
O quanto desejei e percebi
Que apenas num amor se pode e alcança...

30302


Seguimos lentamente sem destino
Vagando em noite intensa, claridade
E quando este delírio nos invade
Decerto sendo teu eu me alucino,
E bebo deste encanto cristalino
Enquanto discernindo a realidade
Presente em meu olhar a imensidade
O sol de uma esperança eu vejo a pino.
E quanta vez eu tive degradado
O sonho noutros dias, triste enfado,
Resisto aos mais diversos temporais
Sabendo que deveras junto a ti,
Encontro o que sonhara e já perdi,
Depois das tempestades, raro cais.


30303

Encantador jardim? Encontrarei
Depois de tantos anos, desventura
A sorte que decerto me amargura
Ainda se moldando em nova lei
Permitirá viver o que sonhei
E neste sonho raro se perdura
O amor que tantas vezes se procura,
E agora finalmente desvendei
Percebo este raiar em claros tons,
Momentos divinais sobejos bons,
E quando me pensara em solidão,
Após o triste outono um frio inverno,
Nas ânsias deste encanto se me interno
Renasce dentro em mim forte verão...


30304


Invisibilidade de quem tenta
Fazer a poesia seriamente
A vida transformada agora mente
E quando ainda vejo é só tormenta,
Seguir este cenário não me alenta
Porquanto noutra senda se freqüente
O que pensara sempre antigamente
Agora noutra face se apresenta.
Percebo ser inútil navegar
Se não encontro mais em pleno mar
Esta água benta e sacra: fantasia.
E quando mais procuro e nada vejo,
Apenas alimento o meu desejo
No imenso solilóquio que se cria.


30305


Andar por astros tantos: liberdade,
Uma asa não podada me permite
Não reconheço mais qualquer limite
Nem tenho sob os olhos torpe grade,
E quando a fantasia assim me invade
Percorro muito além do que acredite
Vivendo noutro espaço o quanto dite
O sonho de quem sabe esta verdade.
Veracidade é coisa que não creio,
E tanto poderia sem receio
Vencer os descaminhos que se vêm,
Mas quando a poesia adentra uma alma
Nem mesmo este silêncio cala e acalma
Do mundo mais plausível sigo além.


30306


Usufruir do sonho pode dar
Algum alento ou mesmo uma ilusão,
Mas quando se fizer por diversão
Diversa claridade a se buscar
Aonde poderia céu e mar,
Não vejo qualquer nave, embarcação
E encontro no final a negação
Do quanto poderia caminhar.
Resisto aos vãos chamados do comum,
E sei quando mergulho e sem nenhum
Momento feito em paz, seguindo alheio
Apenas revirando os meus guardados
Divinos caminhares desolados,
E neles sem saber sequer o veio...

30307


Espelha-se em tal face dor e tédio
E tanto procurava qualquer paz
Amor se na verdade é tão capaz
Não serve para as dores, vão remédio
E quando da esperança sinto o assédio
Mergulho neste encanto mais tenaz
E a plena solidão não satisfaz,
É como se faltasse base ao prédio.
E risco dos meus dias a emoção
Mesquinhos dias sempre mostrarão
Que tanto desejei e não resiste
A sorte se transforma em dura estância
Aonde poderia em elegância
Caminho se transcorre amargo e triste.


30308


Olhando dentro em mim buscando o quanto
Ainda não seria mais atroz,
Quem possa num alento ouvir a voz
Se apenas desvario agora eu canto.
Resisto plenamente e por enquanto
O tempo não se mostra mais feroz,
E tanto quanto pude ser veloz,
Ao menos não vivera tal quebranto,
Reside dentro em mim um vago sonho
E quando um verso novo enfim componho
Traduzo com palavras mais sutis
O quanto a vida nega a quem delira
E sendo assim errônea minha mira,
Seara que buscara contradiz...


30309


A minha mão cansada em busca do que possa
Trazer um lenitivo a quem se vê
Sozinho neste mundo e sem por que
Aonde a poesia fora nossa,
E a voz quando se cala agora endossa
Diversa do que tanto uma alma crê
Risonho caminhar não mais revê
Quem tanto a fantasia ainda adoça
Resisto embora saiba deste vão
Mergulho sem destino ou direção
Tateio em vagas sendas, nada vem.
O peso do que fora envergando a alma,
Nem mesmo alguma luz ainda acalma,
Sabendo que prossigo sem ninguém.

30310


Enquanto cada sonho diz do dia
Que não mais concebi nem mesmo quando
A cena noutro tanto transformando
Gerando tão somente esta agonia,
Ainda noutro encanto eu poderia
Viver o que me resta, mas nefando
O mundo se transcorre em contrabando
E a sorte a cada passo mais se adia.
Esgoto em cada verso esta emoção
E nada do que possa, solução
Apenas solitário navegante
No porto da ilusão atraco a nau
Aonde poderia magistral
Apenas o vazio neste instante.


30311


Ao nada perceber senão tal cena
Aonde poderia acreditar
Num dia bem diverso e meditar
Sabendo quanto o sonho me serena,
Medonha fantasia me envenena
O pendular caminho a sonegar
O quanto imaginei céu e luar,
A morte devorando enfim se acena,
E tanto noutra luz encontro a paz
E nela cada encanto satisfaz
O quase sendo assim o meu destino.
E sei que do passado nada resta
Uma esperança adentra a fina fresta
E ao ver simples fagulha me fascino...


30312



Encontro o que partira há tantos anos
Deixando tão somente solitário
Quem sabe quanto amar é necessário
E traça o dia a dia em desenganos,
Pudesse renovar diversos planos,
Mudando da esperança o itinerário,
O quanto deste não se fez fadário
E dele se transita em desumanos
Resíduos do que fora noutro tempo
Um homem e hoje a cada contratempo
Não vê mais solução e já se cala,
Uma alma libertária nada tendo,
Apenas o vazio por adendo,
Agora novamente é vã, vassala...

30313


Cortante esta esperança que inda resta
E adentra cada instante, mata o quanto
Ainda mostraria em vil encanto
Deixando ultrapassada qualquer festa,
E sendo a minha vida tão funesta
O peso do viver gera este espanto
E quando ainda teimo ou mesmo canto,
Resíduo do que fui, a sorte gesta.
E tanto poderia ser diverso
O mundo noutro encanto estando imerso
Perpetuando o riso aonde a dor
Adentra e dominando cada passo,
Deveras noutro tanto me desfaço
E sinto ser inútil sonhador...

30314

A vida expondo a cárie dentro da alma
De quem se fez poeta e não sabia
Do quanto é dolorida a fantasia
E nem sequer percebe ainda a calma
Vencendo a solidão? negando o trauma?
Resisto ao que se mostra em heresia
E nada do que ainda quer e cria
Quem sonha com certeza pode e acalma,
Aplacando-se a fera que me habita
A sorte na verdade se bendita
Pudesse transformar o quanto em não
Resido neste espaço em astros feito
E quando me percebo mais desfeito,
Sonego o que se fez em ilusão.


30315


Bebendo do vazio que me deste
Não posso mais seguir outro cenário,
Intermitente rumo, mundo vário
Pisando neste solo duro e agreste,
Resisto ao caminhar em que vieste
E traço novo tempo, novo horário
Aonde poderia num armário
Abrindo o coração, entregue à peste.
Carcaça mal cuidada, corpo exposto
Rapinas visitando este que fora
Há tempos noutra senda sonhadora,
E agora totalmente decomposto
Na sórdida presença do vazio,
Ainda teimo e mesmo desafio...


30316


A sorte sendo amiga de quem sonha
Talvez não mais permita o sofrimento,
Porém ao me ver só se me atormento
A vida se mostrasse mais medonha.
E quantas vezes luto inutilmente
E tento outra saída que não vindo
Apenas no vazio me deslindo
E morro a cada dia em voz demente.
Acordos já rompidos, sonegados,
O cálice partido o tom sombrio,
E tudo o que restara não recrio
Sabendo serem sempre assim os fados,
E tanto poderia, mas não creio,
Seguindo noutro tempo, morro alheio...

30317


Quem dera se pudesse ainda caminhar
Vencendo os dissabores tão freqüentes
E quando novas dores tu pressentes
Persiste em teu caminho a divagar,
E tanto poderia devagar,
Mas logo que deveras tu te ausentes
Mergulho nestes nãos e sei dementes
Os dias onde pude navegar,
Arrisco nos abismos, precipícios
E sei das ilusões, diversos vícios
E tento alguma paz mesmo distante,
Porquanto ser feliz um mero engodo,
Do quanto poderia ser o todo
Apenas um momento e degradante...

30318

Após esta tormenta que ora vejo
Exposta em ventos frios e trovões
Deveras o destino em que me expões
Não tendo da esperança algum tracejo
Enfado tão somente, medo e pejo,
Aonde poderiam soluções
Esgotam-se caminhos direções
E apenas a mortalha ora prevejo.
Repito os velhos erros do passado
E tanto poderia vislumbrado
Momento mais feliz. Ah quem me dera.
A morte se aproxima e nela sinto
O quanto do meu sonho fora extinto,
Ausente o que pensara em doce espera...


30319

Às nossas peles resta este segundo
Aonde tudo pode acontecer
Vivendo cada cena em tal prazer
Do amor maior deveras eu me inundo
E quando nos teus mundos me aprofundo
Percebo quão divino é poder ter
A soberana face e perceber
O quanto outrora um astro vagabundo
Ao encontrar enfim a direção
Sabendo dos momentos que virão
E neles cada fato se renova,
Amar e ter certeza de outro dia
E dele com ternura e fantasia
Colocando a emoção agora à prova.

30320


Enquanto mansamente me entregava
Insanamente aos vários bons matizes
E neste pouco ou muito mais felizes
No quanto a sensação tanto brilhava,
A sorte se mostrando em fúria, brava
E nela toda a senda que me dizes,
Vencendo do passado cicatrizes
Uma alma nesta glória enfim se lava,
E sendo assim decerto um sonhador
Conheço as tais entranhas de um amor
E teimo contra a fúria das marés,
E sei do quanto posso em ti somente
Vivendo esta ternura que se sente
Sabendo tão somente quem tu és.


30321


Recuperando o sonho aonde um dia
Encontrara diversa maravilha
E agora bem mais forte ainda brilha
O que pensara outrora fantasia
E sendo assim feliz, a sorte guia
E nela percorrendo a imensa trilha
Aonde a lua cheia já polvilha
Beleza sem igual farta alegria.
Pudesse ser assim a vida inteira,
Mas quando a realidade não se esgueira
E toma com terror este cenário,
Eu sinto quanto o sonho me faz bem
E nele toda a glória que convém,
Mostrando ser o encanto necessário...


30322

A pele já marcada pelas dores
E nelas cultivando estas daninhas
As sortes que pensara outrora minhas
Agora tão somente dissabores
E quando mais distante ainda fores
Verás em meus delírios que continhas
Diversas ilusões e nelas vinhas
Desnuda caminhando entre mil flores,
Seara abençoada, fonte aonde
Apenas tanto amor ora responde
E gera novo amor, eternidade,
Mas quando acordo e vejo a solidão,
E dela tão somente a ingratidão,
Apenas o vazio assim me invade...

30323


Aprendendo bastante com a dor
Bem mais do que talvez se fosse assim
A vida tão somente este jardim
Espinho ensina mais do que uma flor.
E quando pude enfim me recompor,
Sangrando desde quando ausente eu vim
Vivenciando o horror que não tem fim,
Pudesse renovar ainda o amor.
Mas nada do que tenho já traduz
A imensidão sobeja de uma luz
Cevada com ternura em noite fria,
E tudo o que resta esta incerteza
Aonde poderia em correnteza
A vida em seca imensa traduzia...

30324

Retornando à batalha aonde eu pude
Somente desvendar medo e terror
Sem nada nem alento a te propor
Ausente dos meus olhos juventude,
E quando se mostrara esta atitude
Diversa da que tanto quis compor
Num dia onde pudesse sedutor
A dor se mostra então vária e amiúde.
Mortalha revestindo quem outrora
Vivesse a sensação de liberdade
E a cada novo encanto mais agrade
À fera que decerto nos devora
E bebe cada gota em tal sangria,
Matando o que inda fosse fantasia...


30325


Restando descobrir qual o caminho
Por onde poderia desvendar
O mundo mais feliz e em tal lugar
Quem tanto se mostrara em vão sozinho
Agora de outro senso me avizinho
E passo novamente a decifrar
O quanto se mostrando em luz solar
Sorvendo da emoção sobejo vinho.
E assim ao me saber em canto e glória
Mudando todo o rumo desta história
Ainda ao enfrentar a solidão,
Descrevo como fosse um novo mundo
Aquele em que nos sonhos me aprofundo
Traçando novo aprumo e direção.


30326


Aonde me guiar se em temporais
A sorte se fez vaga e mesmo ausente
Porquanto outro caminho a alma freqüente
Momentos que pensara magistrais
Perdidos entre tantos, desiguais
Apenas a mortalha se apresente
E nela sem ter nada que me alente,
Sustento assim antigos rituais.
Cerzida em minha pele tatuagem
E quando se percebe esta paisagem
Diversa da que um dia quis pra mim,
A morte se aproxima e me tomando,
O quanto se pensara outrora brando
Agora destruindo o meu jardim...


30327


Aonde passo a passo poderei
Saber dos meus momentos mais doridos,
Assim os dias belos esquecidos
Apenas o vazio eu desvendei,
Riscando do meu mapa a antiga grei
E nela seus caminhos percorridos
Porquanto novos dias pressentidos
Traslado deste sonho eu encontrei
Vagando em noite escura, o que me resta
Sentindo a fúria atroz e a dor funesta
Arcando com enganos, sigo assim,
E tanto poderia acreditar,
Mas como se não tendo onde ancorar
O mundo sem descanso, morto enfim...


30328


Levando finalmente ao que interessa
A sorte desvendando novo intento
E quando ainda mesmo insano eu tento
A vida a cada passo já tropeça
E tanto poderia se sem pressa
Seguir cada momento o firmamento
E nesta maravilha um novo invento
Enquanto a mesma história recomeça.
Escória do que sou, um mero escombro
E quando vejo a cena ainda assombro
E traço o meu futuro em vaga luz,
As sendas conhecidas, desde quando
O mundo que sonhara desabando
Apenas minha sombra me conduz...


30329

Adega aonde eu guardo o vinho amargo
Que tanto dominara a minha vida
E quando se procura uma saída
O próprio caminhar, ainda embargo,
E quando se percebe imenso e largo
Meu mundo em luzes falsas, despedida,
A sorte noutra sorte sendo urdida
Ainda quando eu sonho enfim me amargo,
E tento descobrir qualquer seara
Que possa transformar a antiga marca
Enquanto a solidão meu mundo abarca,
Quem sabe outro caminho se prepara?
Mas nada do que tento traz alento,
Morrendo pouco a pouco em ritmo lento...

30330


Escolta-se a verdade em novas tramas
E delas não escapo, pois concebo
Além do que deveras já recebo
As ordens se misturam quando clamas,
E tento desvendar, mas tu reclamas
Ainda em fantasia não percebo
O quanto de ilusão decerto eu bebo
Ardendo no meu peito toscas chamas,
Resisto ao que pudesse me trazer
Algum momento feito em tal prazer
Corsário da esperança, o mundo atroz
Não deixa que se escute algum lamento
E quando em tempestades inda tento
Ninguém escutará mais minha voz...


30331


Das mágicas palavras que disseste
Nenhuma na verdade se fez clara,
A vida quando em ânsias se declara
Diversa da que mostra em tom agreste
Mergulho no vazio em que fizeste
O mundo transformando, outra seara
E mesmo quando a morte se escancara
Não tendo da emoção quem mais ateste
Reside dentro em mim somente o frio
Mortalha me cobrindo feito um manto
E aonde se pudesse em paz me espanto
E aonde se fizesse em paz, desfio
Um tempo que terrível já destroça
A sorte que pensei tão minha e nossa...


30332


Luzernas que em meu peito são faróis
Guiando o passageiro ao nada além
E quando este vazio em contém
Pudesse novamente crer em sóis
Deitando sobre as ondas, meus lençóis
Sentindo a tempestade que ora vem,
Procuro a cada instante por alguém
Meus dias são deveras quais atóis,
E nada do que fora redenção
Percebe quem navega sem timão,
Meu leme se perdendo sem sentido,
Reside dentro em mim somente a sombra
Desta mortalha viva que me assombra,
Enquanto o meu caminho em vago olvido.


30333


Caminhos que procuro e não se vêm
Momentos em que a vida se renega
A sorte sem destino, ausente ou cega
Do quanto procurara sei ninguém.
A morte se aproxima e nela tem
O mar que esta emoção beija e navega,
A mão me acaricia e já renega
Destino em tez tranqüila e sigo aquém.
Bebendo desta fonte em podridão
O fim seria ao menos solução
E nada se aproxima, nem percebes
Medonha face expondo a realidade
Enquanto este vazio agora invade,
Percorro em ilusões diversas sebes...



30334


Meus olhos são tão tristes e não nego
O quanto me transtorna a realidade
E quando a fantasia enfim me agrade
Errático caminho eu sigo, cego.
E quando novamente em vão emprego
O sonho que trouxesse liberdade
Invés da maviosa liberdade
As sendas do terror; hoje eu navego.
Pudesse clarear em versos mansos
Os dias entre novos bons remansos,
Porém a foz se faz tempestuosa,
E a sorte que talvez tudo mudasse
Mostrando uma inconstância gera o impasse
E toda esta ilusão a vida glosa...


30335

Percebo tantas fráguas onde um dia
Quisera a mansidão em luz suave,
E quando esta verdade tanto agrave
Matando o que se fora fantasia
A vida noutra vida não traria
Momento além da dor, sofrível trave
E quando se percebe tal entrave
A noite se fazendo mais sombria.
Um arremedo apenas de emoção
Os tempos entre dores mostrarão
Cenário discrepante aonde a sorte
Não traça outro caminho mais tranqüilo
Assim no dia a dia em vão desfilo
Procurando deveras minha morte...

30336


Não posso ser omisso então eu falo
E tento mesmo inúteis novos brados,
Não sinto ser possível velhos fados
Mudarem o caminho, e não me calo,
Jamais serei dos sonhos um vassalo
Tampouco me perdendo em tolos prados,
Os dias nascerão e com cuidados
Apenas novo encanto e decorá-lo.
Cerzindo com ternura este momento
Aonde se vencendo o temporal,
Deixando para trás qualquer degrau
Um novo amanhecer ditando o alento,
E quando poderia ser assim,
A seca destroçara algum jardim...


30337


Agradecendo o fato de poder
Ao menos caminhar e respirar,
Podendo até quem sabe no luar
As sendas mais airosas embeber,
Agradecendo o fato de sonhar
E ter esta certeza a me render,
Do fardo que deveras posso ver
E nele muitas vezes me embrenhar,
Singrando outro caminho aonde a meta
Por vezes nem o sonho mais completa
E traça a solidão, dura quimera,
E quando imaginara libertário
O coração decerto este corsário
Apenas o vazio ainda espera...


30338


Desnuda imagem traz a face exposta
De quem pudesse ter nova ilusão
Do mundo que se perde, solidão,
Esta esperança apenas decomposta,
E quando se mostrando cada crosta
Daquilo que pensara provisão,
Não tenho do futuro esta visão
E perco com certeza alguma aposta,
Risível sonhador? Apenas isso,
E quando piso em solo movediço
Decerto o meu caminho se faz tenso,
O mundo que buscara pleno em paz,
Mas quando me percebo um incapaz,
Esqueço a fantasia e em nada eu penso...



30339


Ao te encontrar feliz bem poderia
Traçar um paralelo entre estas vidas
Que agora se percebem divididas
E nelas morta eu vejo a fantasia
O quanto tantas vezes poderia
Viver felicidade, mas duvidas
E tendo mais distantes as saídas
E noite se aproxima amarga e fria,
Vagando em temporais esta aguardente
É tudo o que inda resta para quem
Sabendo do vazio que contém
Não tendo mais sequer o quanto alente
Remete-se ao passado e vive apenas
Do quanto revivera em belas cenas...

30340


Amor que tantas vezes me domina
E dita o meu destino enquanto sela
A sorte embora sendo tanto dela
O que pudesse ser nascente e mina,
Resisto aos meus desejos, mas fascina
Seara aonde tanto me atropela
A senda que deveras se revela
Distante da que eu busco e desatina,
Mesquinhos versos dizem do egoísmo
E quando solitário ainda cismo
No abismo feito em dor e em tempestade,
Vontade de viver amor sincero
É tudo o que eu anseio e se venero
O sonho a cada passo se degrade...

30341


Desejo se reflete desde quando
Sonhara com momento mais feliz,
Porém se a vida mesmo já não quis,
O quanto poderia se tramando
Em dias tão terríveis, pois nefando
Caminho me levando ao que desdiz
O sonho deste estúpido aprendiz,
Enquanto nova senda se formando.
Apenas os abrolhos no canteiro
Que um dia imaginara alvissareiro
E traiçoeiro o passo rumo ao nada,
A história se mostrando desastrosa
A vida tantas vezes caprichosa
Mundana realidade desolada...


30342


Teu rubro lábio belo em carmesim
Acende em mim desejo mais audaz
E quando a realidade nada traz,
O quanto se perdendo dentro vejo enfim,
E tudo o que pensara chega ao fim,
Medonha face expõe vida mordaz,
Aonde poderia um incapaz
Viver esta beleza tanto assim
Que nada superasse este momento,
E dele bebo em goles fartos quando
Eu sinto este final se aproximando
Deixando como herança o desalento,
E nada sempre o nada me acompanha
O vale se distando da montanha...


30343


Felicidade é fato que não sei
Jamais reconheci qualquer sinal,
A solidão guardada no embornal
Mortalha consumindo o que sonhei,
Errático caminho eu desvendei
E nele cada rito desigual
Permite este naufrágio tão banal
Quem dera se este amor ditasse a lei,
Na austera companhia do vazio,
A noite em solidão percebo e espio
Casais que perambulam; tanta inveja.
A morte se encaminha lentamente
E quanto mais o nada se pressente
Vontade mais domina e enfim lateja...


30344


Tocando tua pele com meus dedos
Percorro estes caminhos conhecidos
E sinto claramente em teus gemidos
O quanto concebera teus segredos,
Os dias que passamos, frios, ledos
Agora perdem todos os sentidos
E vejo em turbilhão nossas libidos
Sabendo desta fúria em bons enredos.
Degredos do passado? Nunca mais.
A vida se transforma plenamente
E quando este momento assim se sente
Mergulho nestes braços magistrais
E tomas minhas mãos, doce promessa
E a história novamente recomeça...


30345


Estás em minha pele tatuada
Divina cicatriz de um tempo bom,
A vida modifica rumo e tom,
Mas vejo o teu olhar, cada alvorada,
E assim a minha tez sendo marcada
Gerando como fosse um raro dom,
O amor ao se evadir mantendo o som
A cada nova música escutada.
Risonhos dias, festas, sonhos, danças
E agora das ausentes esperanças
Eu tento me manter e simplesmente
Não tendo outra saída bebo o fel
Aonde se mostrara imenso céu
Somente a tempestade se apresente...

30346


Pudesse desvendar cada mistério
Que guardas dentro da alma, mas não quero,
O quanto se este encanto é mais sincero
O tempo não se mostra em tal critério,
E quando me procuro em tolo império
O mundo desabara, e sendo austero
Caminho se transtorna e quase fero
A frialdade imensa de um minério
Gestando o dia a dia de quem sonha
E ainda em tez sombria ou mais medonha
Arrisca algum momento de ventura.
Mas nada se percebe além do vão
E os dias novamente me trarão
Somente esta verdade que amargura...


30347


Ancoro em tua vida o meu desejo
E tento algum instante mais feliz,
A sorte se mostrando por um triz
Diversa da que tanto quero e almejo,
Enquanto noutro céu se me azulejo
A sorte vai mudando este matiz,
Brumoso caminhar de um aprendiz
E nele sem ternura, vivo pejo.
Arrisco vez em quando uma palavra
Somente a solidão meu peito lavra
E morro a cada instante sem te ter,
Detalhes de uma vida eu não esqueço
E quando se percebe outro tropeço,
O amor vai se escondendo do prazer...


30348




Desliza minha mão sobre t’a pele
E assim ao descobrir cada vereda
No quanto do desejo se conceda
Ao mais sobejo encanto me compele,
E tanta fantasia onde se atrele
Momento mais feliz e assim proceda
Quem sonha ao adentrar bela alameda
Já sabe e reconhece cada passo
E enquanto este delírio almejo e traço
Numa expressão divina dita amor
O quadro se aproxima do que busco
E quando se pensara em lusco e fusco
Percebo esta alvorada em seu clamor!


30349

Sentindo fervilhar delírios tantos
Enquanto penetrara rara senda
Amor quando seu rumo assim desvenda
Permite tantas vezes os encantos
Sobejos encobrindo em claros mantos
O quanto do delírio já se atenda
E nega a solidão, retira a venda
Adentra esta vontade, ritos, cantos.
E sendo assim do amor um servo apenas
As horas entre luzes sendo plenas
Momentos de ternura em rara cor,
Sentindo a divindade deste a quem
Espécie de delírio ora contém
Assim se faz intenso o nosso amor...

30350


Meu coração desanda e não consigo
Sentir outro momento senão este
E quando se percebe o que me deste
O mundo se tornando em bom abrigo,
Aonde houvera treva, dor, perigo
Depois do encanto farto percebeste
O quanto o caminhar já se reveste
Da luz que tanto quero e mais persigo,
Vencido pela insana maravilha
Minha alma com a tua em luzes brilha
E segue cada passo rumo ao tanto,
Não pude perceber qualquer temor
Vivendo esta amplitude dita amor
E nela conhecendo cada encanto.


30351


Vontades e desejos dominando
O dia de quem tanto se fez teu,
O amor quando outro encanto concebeu
O mundo se tornara bem mais brando,
E tendo outrora um sonho atroz, nefando,
O quanto este delírio percebeu
Assim ao me entregar do antigo breu
O céu em claras luzes se entornando.
Geraste dentro em mim a primavera
E toda a fantasia que tempera
O rumo deste velho sonhador,
Viceja em plenitude esta beleza
E tendo tão somente esta certeza
Conheço os descaminhos de um amor...

30352


Prazeres em seus fluxos mais diversos
Dominam pensamentos e transformam,
Enquanto muitas vezes não informam
Os rumos sendo vários e dispersos,
Alheios aos tormentos tento versos
Que possam me trazer enquanto formam
Momentos mais felizes se conformam
E adentro da emoção seus universos,
Entoa-se deveras a canção
Tomando com carinho esta amplidão
E nela vejo um mundo a se compor
Com ânsias mais sutis, antes venais
E sendo assim decerto encontro o cais
Dessedentando em paz o farto amor.


30353


Cabelos tão sedosos, tua pele
Deliciosamente me atraindo
O mundo se mostrando agora infindo
Delírio que domina e me compele,
Sentindo este prazer que em paz já sele
Caminho para a glória ora deslindo
Um tempo mais tranqüilo, intenso e lindo
Que toda a maravilha em paz revele,
Estranhas noites frias do passado,
Momento com terror já relembrado
Vivido num anseio sem final
A vida transcorrendo em plena paz
E o quanto deste amor nos satisfaz
Fazendo da alegria um ritual...


30354


A mão do tempo tocando a minha fronte
Agrisalhando assim raros cabelos
Aonde foram sonhos, pesadelos
Ausência de luar toma o horizonte
Bem antes que esperança inda desponte
Momentos mais alegres como vê-los?
E ainda sem saber se comovê-los
Não trague este vazio e desaponte.
A ponte que me unira à fantasia
Há tanto destroçada, em vão disforme
Sem ter sequer a luz que me conforme
Aonde quis informe, nem notícias,
As horas traçam dias inconstantes
As rugas no meu rosto, degradantes,
Os sonhos se transformam em sevícias...

30355


Murchando assim as flores do que um dia
Pensara ser canteiro da esperança
Enquanto o tempo amarga e sempre avança
Felicidade ausente mais se adia,
E tendo tão somente a poesia,
A sorte no vazio ora se lança
E quando se procura a temperança
Apenas a verdade em rebeldia,
Negando qualquer sonho, sigo só,
Da trilha de um encanto nem o pó
Resíduo de um estúpido poeta
Que tanto se fez lúdico, no entanto
Ausente da alegria, em desencanto
A rima mais audaz, o peito veta...


30356


Numa consoladora noite outrora
Seguindo estes caminhos mais felizes,
Ainda que deveras me desdizes
A sorte noutra senda se decora,
Mas quando a realidade enfim se aflora,
Revivo do passado imensas crises
E em meio ao turbilhão, quedas, deslizes,
A dura solidão já me devora,
E assim ao me sentir sem rumo eu tento
Apenas a alegria de um momento
E nela me completo totalmente,
A sorte se traduz em fantasia,
Ainda que pudesse, não teria
O quanto uma alma triste enfim pressente...


30357


Se é no teu seio amada que eu descanso
Depois de tantos dias em batalha,
A sorte novamente assim se espalha
E finalmente a paz; querida, alcanço.
Pudesse ter eterno tal remanso,
Porém a cada dia outra navalha,
A morte sem defesas me retalha
E nela em vil terror desesperanço.
Ainda pude um dia acreditar
Nas sanhas de um desejo que ao luar
Mostrara cristalina noite clara,
Mas quando a solidão se fez presente,
O mundo noutro tanto de repente
Somente a turbulência me declara...

30358


Respiro calmamente nos teus braços
Embora a vida trace eterno luto,
E quando muitas vezes eu reluto,
A sorte desfazendo velhos laços
Os dias solitários sempre lassos
E tantas vezes teimo enquanto luto,
Mas sei do olhar da morte mais astuto
E sinto a frialdade em seus abraços.
Resumo de uma vida quase vã
Sem ter sequer a sombra do amanhã
Adentro madrugadas solitárias,
Mas quando me percebo junto a ti,
Revivo cada instante que perdi,
Sabendo de emoções tão temporárias...

30359

Não haverá contigo um só momento
Em que se possa crer noutra alegria
E a morte se prepara dia a dia
Gerando a cada ausência o desalento,
Tocada pela fúria deste vento
Ainda vivo em glória a fantasia
Enquanto a solução, a vida adia,
Na angústia tão feroz não me apascento,
Vestida de ilusão, jamais eu pude
Sonhar com a longínqua juventude
E ter qualquer resquício de ilusão
Assim ao mergulhar neste vazio
Porquanto a realidade eu desafio,
Jamais reviverei algum verão.

30360


Dos ermos tão sombrios de minha alma
Ausência de carinho, nada tenho,
E quando ainda vivo imenso empenho
Amor se traduzira em dor e trauma,
Pudesse ter enfim mantida a calma
E nela cada dia mais eu venho
Buscar felicidade e me contenho.
A solidão por vezes já me acalma.
A moça que sonhara com castelos
E fadas, principesca maravilha,
Agora ao traduzir vazia a trilha
Momentos que julgara bem mais belos
Somente fantasia e nada mais,
Meus olhos sem destino buscam cais...

30361


De tantos namorados que já tive
Apenas tatuada esta saudade
E quando a fantasia em vão me invade
Falando dos lugares onde estive
Nem mesmo alguma luz, inda contive
E resta-me decerto a realidade
E nela a cada passo, a velha grade,
Minha alma com o não sempre convive.
Resisto vez em quando e até procuro
Um canto que não seja tão escuro
E a luz se assemelhando ao lusco fusco
Por onde assim perdera a juventude
Bem antes que este tempo atroz transmude,
Ainda alguma paz, insana eu busco...


30362


Anseios povoando o dia a dia,
Matando o que se fez leda esperança
E quando novo passo a dor alcança
A glória do sonhar a vida adia,
Não pude e nem sempre poderia
Traçar felicidade nesta dança
E quando no passado uma festança
Agora a sala vejo tão vazia.
Pudesse te encontrar. Ah quem me dera!
Jamais eu poderia ter em mente
Que tudo o que por certo já se sente
A vida no futuro, pois tempera.
E tendo a cada noite a solidão
Parceira dos meus versos, sempre o não...


30363


A paz que tantas vezes confortava
Aquela sonhadora inveterada
Agora tão somente resta o nada,
Do amor e deste anseio sigo escrava,
E quando qualquer luz eu procurava
Vagando pela imensa madrugada,
A sorte muitas vezes sonegada,
A cada nova ausência me cortava.
E tanto poderia ser feliz,
Mas sei que quem desejo não me quis
E nunca imaginara o meu querer,
Calada busco a fonte inexistente
Por mais que na verdade ainda tente,
Perdida a cada novo alvorecer...


30364

A voz adormecida há tantos anos
Revigorada agora no vazio,
Enquanto se prepara algum estio,
Somente enfrento dores, medos, danos,
Pudesse renascer em novos planos
Quem sabe desta forma desafio
O tempo de viver e calo o frio
Usando da esperança rotos panos.
Quem sabe. Mas no fundo reconheço
Que a cada novo tempo tem seu preço
E a sorte me abandona e na sarjeta
Apenas maltrapilho pária sou,
E tudo o que deveras me restou
Errôneo caminhar que se prometa...



30365

Um ébrio caminheiro do passado
Audaciosamente busca a fonte
Do amor que tantas vezes desaponte
Tentando inutilmente qualquer brado,
Tomado pelos nãos do atroz enfado
Sem ter sequer um brilho no horizonte
Que a cada negação a vida apronte
O fim de um sonho tanto desejado.
Bebendo bar em bar, sem mais destino,
Apenas neste gim nesta aguardente
Ao menos um momento onde contente
Encontro alguma luz e me alucino,
Medonha face exposta em botequins,
Os meios justificam sim, os fins...


30366

Desilusões apenas, nada mais,
Assim a vida foi comigo ingrata
A cada novo não que me arrebata
Enfrento os mais temíveis temporais,
Não posso sossegar e sei jamais
A sorte tantas vezes me maltrata
E nela cada laço se desata
Deixando como herança dons venais
Dos bares, prostitutas e parceiros,
Os dias com certeza derradeiros
Mortalha se cinzela a cada dia,
Ainda resta a voz da incoerência
Bem antes que me tome esta demência
Um cais somente encontro em poesia...


30367

O tempo nada pode contra a dor
E sabe muito bem ao que propõe
O mundo quando em nada já se expõe
Traçando cada passo com terror,
Amarga realidade em turva cor,
E nela a solidão cedo repõe
Os erros do passado e decompõe
O quanto poderia ter, amor.
Eu sinto este silêncio me tomando
E aonde se pensara bem mais brando
O corte não permite uma saída,
E sendo assim imagem dolorida
Em plena turbulência sigo alheio,
Qual fora inseto a luz busco e rodeio...

30368


Riscando a vastidão inútil sonho
Perpetuando a dor que tanto ofusca
Enquanto a realidade sei tão brusca
O mundo se mostrando mais bisonho,
Entranha-me deveras o medonho
Caminho aonde a sorte ainda busca
A luz que na verdade sei mais fusca
E assim a cada não me decomponho.
Sou pútrido fantoche e nada mais,
As ânsias e os desejos mais carnais
Perdidos no vazio de uma noite
Aonde em solidão vejo a quimera
Matando pouco a pouco em fria espera
Meu corpo exposto à fúria deste açoite...


30369

Espaço eu vou buscando em verso e dor,
Sabendo desafetos que carrego
O quanto deste sonho não emprego
Viceja noutro canto a rara flor,
Assim ao me perder sem me compor
Por onde em mar distante em que navego
Se eu tenho uma certeza, mesmo cego
Ninguém irá decerto aonde eu for
Beber da fonte imensa da ilusão,
Mas sinto que se esvai no dia a dia
O quanto poderia em alegria
E sinto tão somente em negação.
Arrisco vez em quando um salto e a queda
Podando minha espera, o sonho veda.


30370


A vida encerra em si tantos mistérios
E neles não concebo soluções
Aonde com terror tu sempre expões
Momentos que pensara outrora sérios
A sorte se encontrando em cemitérios.
Quem sabe novamente sem verões
Dos sonhos que já tive só visões
A vida não traçando mais critérios.
Os ritos tão comuns, mas dolorosos,
E neles dias duros, prazerosos
Num misto de alegria e de terror,
Cortante esta navalha feita em vida,
Ao mesmo tempo marca em vil ferida,
Depois em cicatriz vem recompor...


30371


Acompanhando o mundo em rotação
A sorte muitas vezes desairosa
Enquanto sonegando enfim a rosa
Trazendo tanto espinho dita o vão
Pudesse acreditar, mas sei que não,
A senda que julgara mais formosa
Agora se desnuda e desastrosa
Não traça qualquer lua nem verão.
Amordaçado sonho de uma vida
Aonde a própria sorte se duvida
Regida pela angústia cede ao nada.
E quando desejei algum alento,
Somente a cada dia me atormento,
E sinto a sorte amarga, desolada...


30372


Seguindo nesta esteira dita vida
Elíptico caminho traça a sorte,
Revejo a cada instante o velho corte
A senda desejada destruída.
Enquanto a própria glória já se olvida
Preparo-me decerto para a morte,
Aonde cada sonho em vão se aborte,
Encontro no final a despedida...
Não pude compreender a minha sina
E quando a dor deveras alucina
Não deixa nem sinal, mortalhas tece,
Residualmente guardo este sinal
De um tempo aonde cria magistral,
Mas nunca pude ter do sonho a messe...

30373


Embalado por sonhos agradáveis
Pudesse toda noite ser assim,
Mas quando a realidade chega enfim,
Os dias são terríveis e intragáveis,
Momentos muitas vezes lamentáveis
O quanto se perdera assim de mim
A sorte procurada eu vejo ao fim
Em cenas tão doridas, execráveis.
Reveses são comuns, disso bem sei,
Mas quando amor transgride qualquer lei
E torna-se feroz, derruba tudo,
E tantas vezes quieto nada falo,
Mergulho ensimesmado, e se me calo,
Porquanto quase sempre em vão me iludo...

30374


Pudesse enfim falar do amor sincero
Que tantas vezes quis e não podia,
Assim ouvindo a doce melodia
Trazendo cada nota em que eu espero

Viver além do quanto teimo e quero,
Contendo o que se fez rude sangria
E mesmo quando outrora tentaria
A fantasia em tom formal e austero,

E bêbado de luz nada me impede
Seguir a claridade que concede
A lua enamorada em plena noite

Imensa trama a valsa onde se avança
Vencendo a angústia amarga, frio açoite
A vida em raros brilhos de esperança.

30375


Encontro em abissais os meus caminhos
E sei quanto é difícil navegar
Sem ter sequer ao longe algum luar
Faróis sem brilho morrem tão sozinhos,
E quando procurara mansos ninhos
Aonde eu poderia mergulhar
Na insânia a cada dia naufragar,
Ausente de meus braços os carinhos.
Restando a quem se faz um sonhador
Apenas um momento em que talvez
A vida noutro tanto se refez,
Mas quando vejo apenas o torpor,
Ausente dos meus olhos claridade,
Somente a solidão venal me invade...

30376


Erguendo esta fumaça em névoas feita
O medo não permite que se veja
A sorte que deveras relampeja
Enquanto a dor me assalta e se deleita,
Restando tão somente enquanto deita
A morte noutra face enfim negreja
E esta alma sonhadora outrora andeja
Agora no vazio, insatisfeita.
Expresso em versos tristes o que sinto,
O sonho há tanto tempo morto e extinto,
O canto sem respostas, segue em vão
Ausência toma então meu dia a dia,
E a sorte que deveras não mais via,
Traduz somente o frio e a solidão...

30377


Ao meu amado faço esta cantiga
Espero que me escute pelo menos,
Bebera da ilusão tantos venenos
Amor ao mesmo tempo desabriga
E quando em solidão já se prossiga
Os dias que julgara mais amenos,
Entregue na sarjeta, nos serenos,
Ternura que sonhara tão antiga.
E assim de bar em bar, bêbada sinto
O quanto poderia, mas extinto
Fulgor deste momento inusitado,
E sei que em cada cama outro motel,
Procuro por estrelas, mas meu céu
Há tanto se percebe enfim nublado....


30378

Preparo uma canção aonde eu poderia
Falar do amor imenso e nele revelar
Os raios mais sutis, intensos de um luar
Embora a noite esteja agora amarga e fria,
O quanto se prepara a vida em melodia
E nela se desmancha a sorte a se buscar,
Risonha vida outrora embalde a relembrar
Tabernas, botequins, apenas fantasia.
E sigo cada rastro aonde se pudesse
Vislumbrar a beleza e sem qualquer benesse
O mundo se transforma e morto desde então,
Ao menos bem distante a voz ainda escuto,
O coração cansado imerso em tanto luto,
O alento se traduz somente na canção...


30379

Vagando em busca mesmo do infinito
Não pude nem sequer concatenar
Caminho que levasse a céu e mar
E assim deveras louco, teimo e grito
Vasculho dentro em mim, não acredito
No quanto poderia mergulhar
A poesia dita este vagar
E nela sem caminho, o mesmo rito,
Resisto enquanto posso, mas não tenho
Talvez o necessário desempenho
E assisto à derrocada deste sonho.
Negando o que pudesse ainda ver
Ou mesmo ao embrenhar o desprazer
Revejo cada dia e recomponho
Meu mundo que deveras sendo audaz
Desvenda a minha face e nega a paz.

30380


Aonde em alvos sonhos me perdera
Vencido pela ausência de esperança
E quando ao nada ser o sonho avança
A sorte noutra sanha destempera,
Gerasse pelo menos a primavera
E tendo co’o vazio esta aliança
No quanto se pensara bem mais mansa,
A vida revivendo a dura fera
Persisto solitário e o nada doma
O que já poderia ser a soma
Do quanto mais perdi e não sabia,
Assim o que se vê negando a sorte,
Prepara tão somente para o corte,
Transtorna qual soturna alegoria...

30381


Luares e neblinas, dor e sonho
Aonde do vazio mais tenaz
O quanto poderia em plena paz
Agora se mostrasse em enfadonho
Caminho enquanto o todo não reponho
E apenas a mortalha já me traz
A fúria de quem sabe-se incapaz
E traça o seu perfil torpe e risonho,
Não pude caminhar entre estas pregas
E quando novo rumo ainda negas,
Mesquinha noite traça solidão,
E tendo a cada passo outro tropeço
Vivendo tudo aquilo que eu mereço,
Resulto nesta tosca ingratidão...

30382


Formas diversas ditam o meu dia
E tramam vendavais invés de luzes,
E quando por caminhos vis conduzes
Aonde nossa sorte se escondia,
Revejo com terror tanta agonia
E beijo os meus pecados, velhas urzes,
E quando se percebem tantas cruzes
Seara mais feliz, o mundo adia.
Resisto vez em quando, inutilmente,
A vida se refaz e já desmente
O passo porventura mais audaz,
Sombria e caricata face exposta
E quando do passado mera crosta
Demonstra o que esta vida ainda traz.

30383


Incensos entre fráguas e neblinas
As noites solitárias se mostrando
E vendo tal retrato assim nefando
Deveras mesmo ausente me fascinas,
E sei das ilusões perfeitas minas
E tanto quanto pude transmudando
O rumo vejo a sorte desabando
E assim todos os sonhos exterminas.
Resido num planeta inatingível
Lunático caminho que implausível
Não deixa qualquer rastro, sigo só,
E tanto poderia ser feliz,
Mas quando a vida chega e me desdiz,
A sorte se perdendo em tosco nó.


30384

Que bom saber do teu aniversário
Decerto com as taças de cristal
Brindando neste instante magistral,
Encanto se mostrando claro e vário.
Não posso sonegar quanto uma festa
Trazendo em doces vinhos, aguardentes
Demonstram os meus versos mais contentes
Enquanto nova idade assim se gesta.
Eu pude no passado tantas vezes
Vibrar a cada data natalícia
Mas quando ouvi deveras a notícia
Eu pude conceber sem mais reveses
Os dias que virão iluminados,
Reflexos de outros dias já passados.


30385


Constelares caminhos me levando
Aos braços mais gentis de quem outrora
Sabendo da paixão que me devora
Trouxera este momento bem mais brando,
E vendo assim o mundo desde quando
A sorte no teu braço já se ancora
Percorro cada senda e sem ter hora
Apenas a vontade me guiando
Por entre prados belos, fontes claras
E quando tanta luz tu me declaras
Percebo tão somente o quanto eu quis
Viver a cada instante muito além
Singrando cada mar onde contém
O rastro desta lua em cicatriz...


30386


Imagem vaporosa se perdendo
Em noites tão brumosas, nas neblinas
E quando se aproxima e me fascinas
O mundo ao se tornar tão estupendo
Gerando com ternura, percorrendo
Momentos mais felizes, e destinas
Meu mundo ao teu caminho nossas sinas
Irmanam-se num ato em que desvendo
Os ermos do passado e assim prossigo
Sabendo desde já poder no abrigo
De quem se fez amiga enquanto amante,
E tantas alegrias traduzindo
Um tempo mais tranqüilo e mesmo lindo
Cenário outrora atroz, mas fascinante...


30387


Dolentes noites frias entre medos
E sei ao decifrar velhos tormentos
O quanto poderia por momentos
Vencer os temporais, tolos degredos,
A morte se ensaiando em tais enredos,
Cedendo cada passo em desalentos,
Não posso mais conter imensos ventos,
E assim ao me entregar perco os segredos,
Arisco caminhar em tanta treva
E quando se pudesse ainda neva
No peito de um poeta sonhador,
Disfarço cada passo noutro tanto
E se deveras teimo enquanto canto,
Apenas traduzindo a imensa dor.


30388


Indefinível rumo se concebe
E tendo novos traços, troças erros,
Aonde a decepção dita desterros
A sorte se transcorre em alma plebe,
E vejo solitária a mesma sebe
E nela se perfaz velhos aterros,
Guerreiro coração resiste aos berros
E assim novo caminho se concebe.
Revejo cada passo rumo ao vago
E tento rara luz enquanto afago
A fera, este chacal atocaiado,
Não posso resistir ao que se fez
Em lúbrico caminho, insensatez
Tomando já de assalto todo o prado.


30389

Surgindo a estrela d’alva em claro céu
Relembro dos momentos mais felizes,
A vida ao se fazer em cicatrizes
O coração seguindo sempre ao léu,
Azulejado e belo o imenso véu
E assim ao me lembrar de dores, crises
Do antigo alvorecer hoje em tons grises
Sorvendo tão somente a dor e o fel.
Minha alma feita em tédio, sem ressalva
Diversa do pendor da estrela d’alva
Espúria e sem sentido eterna noite.
E quando se percebe a brisa mansa
Qualquer suave vento que me alcança
Trazendo a sensação de frio açoite...

30390

Cantores da manhã, pássaros tantos
Adentram a janela do meu quarto
E quanto mais do amor, enfim me aparto,
Mais sinto vivo aqui os seus encantos.
Pudesse na magia destes cantos,
Tentar outro momento, mas já farto
Do imenso sofrimento enquanto parto
Levando dentro da alma os meus quebrantos
Relembro os dissabores do passado,
A vida merencória, a solidão,
E sei que na verdade não virão
Jamais outros momentos, tal enfado
Enquanto nestes cantos magistrais,
Ausente dos meus sonhos madrigais...


30391

O sol tomando todo este arraial,
Ainda se vê brumas sobre as casas,
Acendem-se fogões, fumaça e brasas
A vida recomeça o seu normal.
E quando te revejo pontual
Sabendo que jamais, querida atrasas,
O coração liberto ao ganhar asas
Percorre num momento todo astral,
E sinto a juventude em meu olhar
Viver o quanto pude e ser feliz,
Assim ao me entregar sem mais pensar,
O tempo transcorrendo em mansidão.
Agora o corre-corre contradiz,
Porém menino vive no ancião...


30392

As queixas do passado ainda em mim,
Momentos que pensara em tal remanso,
Mas quando na verdade nada alcanço
A história se aproxima do seu fim.
O tanto que sonhei, mas nada enfim,
Somente este cansaço. O peito manso
Imensa solidão, mas me esperanço
Quem sabe novo tempo venha assim,
Após a tempestade diz a lenda
Que toda uma bonança nos atenda,
Mas nada disso vejo em minha vida,
Seara destroçada pelo não,
Agora nesta vã devastação,
Percebo totalmente destruída...

30393

Percebo as borboletas: liberdade
Depois desta crisálida de outrora
Assim ao penetrar em clara aurora
Enquanto o sol imenso tudo invade
Percebo desta vida variedade
E nela meu caminho já se ancora,
Revendo o que perdi e foi embora
Rompera do passado qualquer grade,
E assim com minhas asas alço o céu
E tendo este infinito como véu
Já nada me contém, sou libertário.
Assim o pensamento também voa
Aflora, vem à tona, vai à toa
Domina sem limites, o cenário...

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