2410
Valor de uma amizade
Há tempos descobri,
Saber felicidade
Que encontro só em ti,
Um sonho de verdade
Que um dia eu já vivi,
Na solidariedade
Que tenho, amiga, aqui
Permite que este passo
Que eu der seja mais forte,
Rondando o livre espaço
Mudando a sina, o norte,
Vencendo até cansaço
Curando cada corte...
2411
Amiga, um sonho bom
Que a vida traz pra gente
Cantado em mesmo tom,
Fazendo-nos contente
Amar não é um dom,
Nem mesmo se pressente,
Ouvindo o mesmo som,
Uníssono se sente
Aquele que percebe
A luz de uma amizade
Percorre senda e sebe
Na busca da verdade,
A vida se concebe
Então, em claridade...
2412
Não duvides, querida deste amor
Que cala dentro em mim, quase não fala...
Bastando-se somente. Sem temor
Da noite que vier. Somente amá-la...
Não cabe mais resposta nem pergunta,
Minha alma sem a tua não resiste.
A vida a cada dia nos ajunta,
E solitariamente morre triste.
Encontras as pegadas dentro em mim,
Não sei por que tu queres procurar,
Se tudo o que tivemos mostra enfim
Que os passos que vivemos, ao luar,
Eternamente livres, deixam rastros,
Apenas nos espaços, morrem astros...
2413
Cantar minha alegria de existir
De ser, estar, pensar, viver... enfim...
O tempo de existência que há de vir,
Mostrando todo amor que habita em mim.
O som da melodia do porvir
Dos dias que passei, trazendo assim
O gosto do lutar e redimir,
Os erros que cometo e digo sim
Ao teu carinho imenso musa amada,
Que sabe como é bom a dor do amor.
Dançar junto aos meus braços, encantada
Fazendo em cada verso uma esperança
De vida em sintonia, que é louvor
Ao amor gigantesco,essa aliança.
2414
Em todos os desertos que já tive,
Sonhei com este oásis, tua boca,
Um resto de esperança que inda vive
A vida sem te ter é muito pouca
Floresces no meu peito em raridade,
Morena sedutora lá do sul,
Meu céu vai encontrando a claridade
Tão distante do mar, perto do azul.
Teus lábios com doçura em pleno mel
Procuram por meus lábios, num desejo,
O sol já descortina tira o véu
Das nuvens neste claro e manso beijo.
Nascendo na beleza desta flor,
Reinando para sempre o nosso amor...
2415
Nestes vales prolíferos plantei
Sementes que brotaram em mil flores.
As vertentes auríferas que sei
Nos seios rebentaram os amores.
Anseios desejosos; te cantei,
Carregue meus caminhos onde fores,
Nos campos olorosos semeei
Não negue nossos ninhos, tantas cores...
Na chama que, te ardendo, me consome,
Trama nos envolvendo a cada dia,
No banquete carnal matando a fome,
Vibrando nossos corpos, convulsão...
Fomentam os momentos de alegria,
Causando em nossos portos, explosão...
2416
Embora destruído tantas vezes,
Sem ter na vida apoio, sem ter hastes,
Cansado de enfrentar vários reveses
No peito o sofrimento em vis desgastes,
Não posso defender antigas teses
Nem mesmo usufruir o que legastes
Distante de teus olhos, vou há meses
Na busca do que em sonhos me deixastes.
Procuro, na verdade por defesas,
Que possam permitir passo preciso,
Amor não se concebe e longe dele,
Tentei deixar as costas quase ilesas,
Somente na amizade, e em seu sorriso,
À verdadeira paz, amor compele...
2417
Quisera te tocar, ó prenda minha,
Levar-te pelos campos... vem comigo,
Meu peito nos teus braços já se aninha,
Sabendo da doçura deste abrigo.
Vibrando junto a ti as maravilhas,
Dos montes, cachoeiras e cascatas,
Roubar-te destes pampas, das coxilhas,
Trazer-te para Minas, belas matas...
Levar-te num galope, ao paraíso,
Espera tão feliz, prenda adorada,
Tomando desta forma o teu juízo,
Cantar-te numa noite enluarada...
Não deixo o minuano te tocar,
Tu terás meus abraços a esquentar...
2418
A tua silhueta maviosa
Desfila no meu quarto, toda nua...
A pele que recende olor de rosa
Convida e nossa festa continua.
Bem sei o quanto sentes vaidosa
Se em teu prazer minha alma assim flutua,
Na pele acetinada e tão sedosa
Brilhando sob a luz da plena lua
Uma argentina imagem me conquista
Mostrada na nudez tão desejada.
Não há ninguém no mundo que resista
Na sede do querer, logo deliro,
Bebendo de teu corpo, minha amada,
Aos teus seios e braços eu me atiro...
2419
Querida, é muito bom contar contigo
Por isto eu te agradeço e não me canso.
Dizer que do teu lado eu sempre alcanço
Felicidade plena que persigo,
É quase, na verdade redundância,
Pois tu tens o poder que me apascenta
Em toda turbulência. A elegância
De quem em braço firme já sustenta
Uma amizade feita lealmente.
Em teu aniversário, cara amiga,
Meu coração batendo mais contente
Permite que a ternura em que se abriga
Traga uma soberana sensação
De paz, tanta alegria, amor, perdão...
2420
Bagunça o meu coreto e faz a festa
Não deixa mais sobrar nenhum detalhe,
Na boca que procura cada entalhe,
Promessa de invasão em doce fresta.
De todo o meu juízo nada resta
Senão esta vontade que se espalhe
O corte tão gostoso que avacalhe
O siso que não cabe nem se empresta.
No sal, suor, sangria desatada
Fornalha inesquecível, gozo franco.
Contigo o fogo pleno não estanco.
Sozinho na verdade não sou nada.
Apenas reviver o que senti,
Deitando o meu prazer bem junto a ti...
2421
Eu quero o teu amor junto comigo,
Passeio o meu sonhar pelas estrelas,
Viver sem teu carinho eu não consigo,
As noites que tivemos... Esquecê-las?
Tu és a minha chama e meu abrigo,
As horas que vivemos são tão belas.
Meu coração ao teu ,depressa eu ligo,
Meu barco em teu amor ganhando velas...
Querida não me esqueço de dizer
Desse sonho encantado que nos une,
Que é feito de alegria e de prazer,
É vida a cada dia renovada,
O desejo voraz que nos reúne,
Já nos traz essa noite enluarada...
2422
Amor que em sofrimento fez-se pedra,
Espinho lacerante do caminho,
Em dor tão gigantesca que já medra
Naquele que julgara ser sozinho...
Na aridez desértica dos sonhos,
Inútil tentativa: ser feliz.
Os dias se passaram mais medonhos
Escarnecido peito em cicatriz...
Ao ver-te, enfim, comigo bem amada,
Percebo que valeu toda esta luta.
Surgiste salvadora deste nada;
É voz alentadora que se escuta...
As marcas te enaltecem, cantam bardos:
Plantas dos pés feridas pelos cardos.
2423
Amigo tantas vezes procurei
Em meio a tempestades violentas,
As mãos que com as quais tanto apascentas,
No rumo mais sensato que encontrei.
Amigo, como é bom poder dizer
De quanto necessito do teu braço,
Seguindo a vida inteira, passo a passo,
Começo outro futuro perceber
Distante do que fora a minha vida,
Em solidão terrível, sem ninguém,
Agora que percebo o raro bem
Encontro na verdade uma saída
Envolta em total luz e claridade,
Na força mais sublime da amizade...
2424
Apenas este gosto meio amargo
Que trago no meu peito, quase triste.
Na voz que vacilante, sempre embargo,
Lembrança da mulher que inda resiste
As névoas e as brumas da saudade,
Embotam a visão, penso que caio,
Mas logo vem à tona uma verdade
E da realidade, eu já me traio
E volto a te abraçar, neste momento,
Com as ânsias de um amor mal resolvido.
Queria te exilar do pensamento,
Encarcerar-te sempre num olvido...
Mas como, se de noite inda reclamo,
E digo aqui, sozinho: Eu inda te amo!
2425
Menina vem comigo e então me nina
Que a noite pode ter fantasmas mil.
De todo o desespero que se viu
A noite em pesadelo não termina.
Tua presença calma, feminina
Acalma este velho permitiu
Que a vida não mais fosse dura e vil,
Mudando em calmaria a minha sina.
Vencendo meus temores que de antanho
Fizeram de meu peito um alvo fácil
Contigo, na verdade eu sempre ganho,
Sorriso de menina em corpo grácil
Com toda essa alegria que se emana
Da boca mais gostosa e mais sacana...
2426
Logrando ser feliz, intensamente
Vestimos fantasias e desejos,
O corpo se desnuda e assim pressente
A maravilha insana feita em beijos.
Não posso mais conter o desvario
Que toma o pensamento e traz loucuras
-Teu corpo que exalando um doce cio-
Em toque tão suave me procuras
Qual gata ronronando no tapete,
Desnuda em garras, risos e promessas,
Com jeito de quem quer e assim repete,
Deixando já de lado, não conversas
E vamos noite afora, fogo adentro,
De todas as maneiras eu te adentro...
2427
Sinto ainda o sabor de tua boca,
Roçando a minha boca em doce beijo
A lua vai girando como louca,
Rodando em seus luares, meu desejo.
A voz desta saudade, triste e rouca
Invade tantas conchas deste mar.
A vida sem te ter, é dura e pouca,
Preciso de teu braço, quero amar...
Estrelas deste mar de nosso amor,
Estrelas deste céu que nos cobriu,
Sentindo o teu perfume, lembro a flor
De quem roubei um beijo clandestino,
Distante, tão distante... Ela partiu,
Partindo o coração deste menino...
2428
Amada, não percebes meu desejo...
Eu quero o teu carinho aqui comigo,
Roçar a tua boca com meu beijo,
Ser muito mais que simples, bom amigo...
Teu corpo do meu lado é o que eu almejo
Ávido de viver ao teu abrigo.
Em todos os lugares eu te vejo,
Procuro te tocar... mas não consigo...
Quem dera se me desses atenção,
Virias como quero em tua chama
Arder intensamente em sedução.
Tu és minha vontade sem juízo...
Vem logo que meu corpo já te chama,
Pra, juntos, encontrarmos paraíso...
2429
Colando a minha pele em tua tez,
Sentindo o teu perfume junto a mim,
A brisa antecipando insensatez
Que faz do nosso amor tão bom assim...
Ao ver a maravilha da nudez
Exposta em minha cama sinto, enfim,
Delícia desse amor que a gente fez,
Na noite que quem dera não ter fim...
Passeio por teu corpo,perco o rumo,
Desnudo-me entregando a uma alegria
Bebendo do desejo todo o sumo,
Viajo nas estrelas... fantasia,
Deitando meu amor, já me consumo
E quero estar assim por todo o dia...
2430
Arregaçando as mangas pra batalha
Que sabemos feroz em mansidão,
Na mão que te estendendo já agasalha
A força bem mais forte da união.
Um canto mais sublime que se espalha
Tramando para o mundo, a solução,
Não deixo que isso seja fogo em palha,
Partimos para a luta com paixão.
Um sonho que se faz mais necessário,
Um hino, como um brado se revela,
Que jamais se permita ser sectário.
Um pensamento duro e temerário
Destruindo esta fruta doce e bela,
Do amor tão profundo e solidário...
2431
Não vejo por que ser alvissareiro
Um dia que se mostra tão nublado
Fazendo o coração, pobre canteiro
Em lágrima infeliz somente aguado,
O corte da ilusão, duro e grosseiro,
Um lobo que me espreita esfomeado,
Um resto que caminha o dia inteiro
Na busca do que fora no passado.
Insisto, sem por que, mas não desisto,
Quem sabe inda terei pleno deleite
De ter um bem sereno que me aceite.
No verde da esperança inda me visto
E faço da ilusão em fonte bela
O brilho que me guia de uma estrela...
2432
Entrego-me a pensar no nosso caso
Do amor que procurei e que em ti vejo,
Meu mundo vai chegando ao triste ocaso,
Apenas o final, o que prevejo...
Soltando o coração quase ao acaso,
O tempo é contra mim... Mas o desejo
Gritando que contigo até me caso...
Seria para mim, maior festejo...
A lua que te traz bela menina,
Ao mesmo tempo diz, passou teu tempo...
Vontade de ter ver, logo domina,
Outono recomeça... Ah! Quem me dera,
A vida não tivesse contratempo,
Teria assim, eterna primavera...
2433
Mãos dadas caminhamos pela vida
Formando uma corrente interminável,
Na sensação divina, pois querida
De um mundo bem melhor e mais amável.
Fraternidade sempre em voz unida,
Trazendo bem perto o inalcançável,
Nesta alegria, nossa, dividida,
Num sorriso em glória, demonstrável.
Semearemos juntos os amores
Que fazem do universo o nosso lar,
Não digo que sejamos sonhadores
Nem falo que esta festa é impossível.
Um sonho repetido a se sonhar
Tornando uma ilusão mais acessível...
2434
Fazer de nosso próximo um irmão
Que saiba do valor da própria vida
Assim espalharemos a canção
Na velha novidade, que esquecida,
É, na verdade a única expressão
Que traz com força plena uma saída:
No seio da amizade e do perdão...
A nossa sorte enfim bem resolvida.
Redesenhando o mundo, traz a glória,
E uma esperança enorme para nós.
Mudar, quem dera, o rumo desta história
Atando par em par, com fortes nós,
Arranca uma injustiça da memória,
Matando o desamor, cruel algoz...
2435
Há muito meu destino demarcado
Somente pelas dores e promessas,
Vivendo de alegrias do passado,
Não ouço e nem espero mais conversas,
A juventude, amiga; um doce prado,
Em sonhos e delícias tão diversas,
Agora no meu peito amargurado,
Recordações sutis e assim dispersas
Demonstram que talvez eu tenha tido
Momento de real felicidade,
Refém do que já tive vou perdido,
Tentando reverter em claridade
O brilho que se perde em triste olvido
A sombra que alimenta, na verdade...
2436
Desilusão moldada em tal receio
De ter amor completo e sem desmonte,
Na doce fantasia, tanto enleio
Distante, bem distante do horizonte
No qual amor pensara ser um veio
Descendo em alegria belo monte,
Apenas solidão, tristeza, veio
Secando em nascedouro, pobre fonte.
De tudo o que sonhara, coincidência,
Perdido sem caminhos, ganho o mundo,
A vida se tornando uma inclemência
O corte mais profano e bem profundo,
Fazendo do viver tal penitência
Matando as ilusões em um segundo...
2437
- EM PLENA PAZ
Banquete da alegria em mar sereno,
Promessa bem sutil quase em desarme,
No sonho em que preciso concentrar-me
Um dia com certeza mais ameno.
Sabendo reviver amor mais pleno,
Na sorte de poder banquetear-me,
Não posso prescindir de tal alarme
Do mundo em que sonhei, sem ter veneno
A sorte- ser feliz- já não retarda
Encontro o fantasia em dia augusto
De um passo mais audaz e mais robusto
Mostrando na certeza, ser capaz
De ter uma manhã ensolarada
Num mundo mais perfeito em plena paz...
2438
A solidão devora enquanto espanta
Não deixa mais resquícios, me incendeia,
A força de sonhar, outrora tanta
Morreu ao penetrar em fria areia.
Somente a dor da vida se agiganta
E traz a sensação de estranha teia
Que invade a noite imensa e desencanta
Portando uma estranheza invade a veia
E trama uma tristeza em letargia,
Que nada neste mundo vão sossega,
No mar da solidão em dura entrega
Distante do raiar de um belo dia,
Nem mesmo uma ilusão em poesia
Permite claridade em noite cega...
2439
Enquanto uma ilusão resplandecia
Tornando o pensamento maltratado,
O resto que me coube em fantasia
Demonstra insensatez do meu passado.
Quem teve o seu altar numa alegria
Percebe seu caminho desviado
Na sombra do que fora, já trazia
Felicidade morta. Em duro brado
A voz tão solitária não alcança
Deixando quase inóspito em aspecto
Numa tristeza enorme corte e lança
Rolando em minha cama, mais inquieto,
Sozinho sem ninguém, desesperança
Última companheira em mesmo teto...
2440
Eu falo deste amor com claridade
Um gosto desejoso me tomando,
Tocando tua pele, ansiedade,
Espero o teu amor, imenso e brando...
Adoro o teu perfume bela flor,
Misturo nossos corpos nos meus sonhos.
O frio se rendendo ao teu calor...
Tramando mil prazeres mais risonhos
Eu Tenho essa alegria de te ter
Amada, a cada dia, mais constante.
Mergulho sem ter medo no prazer
Bebendo desta fonte a cada instante.
E sinto que serei só teu também,
Mulher, que é fantasia e doce bem...
2441
Contigo debruçando em lua bela,
Nos raios de luar já nos banhando
Seguindo o teu desejo, guia/estrela;
Sentindo esta vontade anunciando
O fogo da paixão que se revela
Despindo, bem sabendo aonde e quando
Puder ter a loucura que se atrela
Em nossas noites tesas, nos guiando...
A boca te sugando se completa
Nos lábios mais audazes e gostosos,
Tua nudez se mostra mais dileta
Rainha dos desejos prazerosos,
E a natureza em festa se repleta
Em convulsões, delírios, nossos gozos...
2442
Seguindo mansamente esta jornada
Que às vezes nos parece tenebrosa,
Depois das curvas todas desta estrada
Avisto uma manhã mais luminosa
Percalços encontrei, mas quase nada
Da vida que se fora desastrosa
Impede que eu prossiga na alvorada
Na busca de outra vida radiosa.
Meu canto bem distante da ansiedade
Depois de tanto tempo mais calado,
Em lume divinal a sorte alcança.
Atrás do que pudera claridade,
Deixando sepultado o meu passado,
Prepara tão somente uma esperança...
2443
A força desse amor que sei divino,
Insuperável canto da amizade.
Torna-me, de repente num menino,
Querendo assim, de todos, irmandade.
Trilhando no caminho da verdade
Que é feito sem temor e desatino,
Mudando toda história e meu destino,
Saber, permite solidariedade...
Vencendo mil temores, cardos, urzes...
Espinhos, pedregulhos, desamores.
Não permitindo mais terríveis cruzes,
Abrindo uma vereda em temperança.
Pintando nosso céu de mansas cores,
Já verdejando os olhos da esperança...
2444
Amor é bicho cheiroso
Perfumado de lavanda,
Tão matreiro e tão dengoso
Por qualquer coisa desanda
Vai ficando melindroso
Me deixando na varanda,
No seu modo caprichoso
Coração pesa de banda
E faz sempre uma arrelia
Estrupício verdadeiro,
Desancando a poesia,
Vai mudando logo o cheiro
O que cheirava fedia,
Do mel sobrou só vespeiro...
2445
E vamos de mãos dadas ao futuro
Que a curva da esperança preparou,
Se o tempo que vivemos, tão escuro,
Por certo depois disso, o céu brilhou...
O chão que percorremos, ledo e duro,
Mostrando uma tristeza que restou,
Amiga estando juntos, salto o muro,
E encontro o que amizade preparou.
A festa maviosa noutras sendas,
Com gozo e com total felicidade,
Fazendo das angústias meras lendas,
De um tempo que jamais retornará,
Contigo, amada amiga, brilhará
A força tão gentil de uma amizade...
2446
Procuro tua imagem, teu retrato
E não encontro nada; estou vazio.
A solidão se mostra um duro fato
Distante do que quero e fantasio.
Na placidez tão calma de um regato,
Uma cascata enorme, em desafio
E o sonho em que eu vivia, eu já desato,
E apenas na esperança inda me fio...
Buscando-te querida, nas estrelas,
Nas ruas e nos bares, céu e mar.
Meu barco solitário abrindo as velas,
Naufraga em desespero, sem saber
Aonde poderia enfim buscar
Quem dentro de mim soube se esconder...
2447
Sentindo o teu desejo em meu pescoço
Em forma de mil beijos tão molhados,
Trazendo aos meus ouvidos alvoroço.
Teus seios pequeninos, perfumados...
E sigo com meus lábios a viagem
Que chega ao teu umbigo e quer bem mais,
Encontro de soslaio qual miragem
O porto onde a vontade faz seu cais.
Avanço sem temer nenhum castigo,
E percebendo os pelos, tua pele...
Penetro no teu céu, procuro abrigo,
Fazendo que a beleza se revele
E vamos de mãos dadas olhos soltos,
Vibrando em nossos mares tão revoltos...
2448
Como o rio pra nascente
Meu amor sabe o caminho
Ao granar esta semente
Já não vou seguir sozinho,
Todo amor que a gente sente
Se irmanando com carinho
Traz o coração contente
Ilumina o nosso ninho.
Tanta coisa por dizer
Tanta coisa pra falar
Meu amor, o teu prazer
É gostoso de encontrar,
Tanto amor quero viver,
Pois eu vivo só pra amar...
2449
Eu quero poder ter tua amizade
Detendo nos meus dedos rica sorte,
Que é feita nos teares onde aporte
O sol em soberana claridade.
Saber usufruir da liberdade
De ter felicidade como norte,
Distante de seus braços, na verdade,
Não vejo cicatriz para este corte
As horas se passando, tristes; velhas,
Não soam como paz, somente frias...
Na santa fantasia em que espelhas
Belezas que eu julgara já distantes,
Amiga, resumindo o que dizias,
Embainhei meus medos mais constantes...
2450
Não quero mais ouvir triste lamento
Apenas escutar a mansa voz
Que tantas vezes trança em fortes nós
Felicidade imensa em um momento.
Amar é converter o pensamento
Que temos, minha amada, dentro em nós
Em rio que caminha para a foz
Num passo mais seguro, mesmo lento.
Amor é luz intensa e não se apaga
Nem mesmo a tempestade, imensa vaga,
Consegue soçobrar amor bendito
Que tendo a resistência de um granito,
Até u’a dura fera, amor afaga,
Nas bênçãos que o transformam, infinito...
2451
Da noite que chegando devagar,
Pretendo tão somente uma ternura
Que venha mansamente demonstrar
A divindade imensa, bela e pura
Que enlaça cada passo a se mostrar
Bem longe dos verdugos que em tortura
Invadem com terrível amargura
O sonho em que cismei de te adorar...
Teus seios, tua pele, a tua boca.
Martírios e desejos misturados,
A noite vai rolando, audaz e louca
Atando nossos corpos num segundo,
E assim, em mil prazeres decorados,
Vagamos o universo em mar profundo...
2452
Amor que quando toca a coisa amada
De tanto que permite se encantar
Além de todo o bem a desejar
Mergulha sobre a senda desejada
E mostra uma alegria transformada
Em sonho divinal a se alcançar.
Vagando em liberdade quer luar,
Derrama-se por sobre cada estrada
Que leva em direção à triste aldeia
Deixada por acaso no seu rumo,
E eu, pobre camponês já me incendeio
Ouvindo este cantar, busco a sereia,
E dela procurado gosto e sumo,
Distante de uma praia, devaneio...
2453
Amor feito um moinho
Em duros dissabores,
Distante de um carinho
Abortando estas flores
Refaz-se em duro espinho.
Meus dias sonhadores,
Não vendo outro caminho,
Fugindo, desertores,
Deixando-me sozinho.
Quem poderá trazer
De novo o meu prazer?
A solidão desola,
Ausência de nós dois
Se nada me consola,
O que terei depois?
2454
No azul do imenso mar
Os olhos da morena
Que eu aprendi a amar
Em noite tão serena
Deitados ao luar
A sorte que se acena
Beleza assim, sem par,
Depressa toma a cena
E mostra quase um sonho
Moldado em riso e canto,
Além do que suponho,
Vencido pelo encanto
Um mundo mais risonho
No amor que eu quero tanto.
2455
Meu peito sossegado
Depois da tempestade
Encontra adocicado
Um gosto de saudade
Daquilo que em verdade,
Pensei fosse meu fado
Tanta felicidade
Com gosto de pecado.
Amor que não se olvida
Em gestos inocentes,
Trazendo para a vida
Palavras envolventes
Decerto uma saída
Em sonhos reluzentes...
2456
Querida em tua boca,
Ousei um doce beijo.
Uma visão tão louca
Que plena de desejo
Mostrou em lua clara
Caminho desejado,
Ternura que me ampara
No céu bem desenhado
Com brilhos estrelares
Risonhas esperanças
Nas catedrais, altares
Eternas alianças
Além do que eu dizia,
Divina fantasia...
2457
Jamais será tão tarde
Pra quem tem a razão
Em sonho sem alarde
Completa sensação
De um bem que queimando, arde
Mas mostra a solução
Do dia que não tarde
Moldando uma emoção
Na mão cariciosa
No peito juvenil,
Ao florescer a rosa,
Perfuma o meu canteiro,
A amizade gentil
Um sonho alvissareiro.
2458
Promessas que fizemos
Em tempos mais distantes
Atando nossos remos
Em mares deslumbrantes
Aos poucos conhecemos
Amores triunfantes
Agora já sabemos,
O que tivemos antes
De termos conhecido
Os termos de um amor
Que é grácil; porém trágico,
Tão frágil vai perdido
Em brilho encantador,
Um sonho atroz e mágico...
2459
Uma esperança acende
A luz do meu destino,
Um canto que desvende
A sina de um menino
Premissas de um duende
Futuro cristalino,
Vontade que me atende
Com gosto feminino
Da boca mais profana
Gostosa e desejada
Mulher tão soberana
Sem ser carta marcada,
Amor que tanto ufana
Em sorte anunciada...
2460
Não tenho mais sossego
Nem uma paz sequer
A vida que carrego
Do jeito que vier
Andando feito cego,
Procuro quem me quer,
No mar que assim navego,
Nos braços da mulher
Amiga e companheira
Dileta em perfeição
Que venha mais inteira
Mostrando que o perdão
É coisa corriqueira
Nos rumos da paixão...
2461
A pálida manhã em frio e medo,
Alvoroçando um sonho quase vão,
Quem dera discernisse este segredo
Que ronda e quase toca o coração.
O dia se nublando desde cedo,
Talvez inda retrate a solidão,
Meu pensamento foge, quieto e ledo,
Reflete simplesmente cada não
Que a vida em avidez já desmedida
Num bulício insensato me deixou.
A luz que nunca mais alumiou
Há tempos se mostrando enfim perdida
Parece prometer a claridade,
Nos braços de – quem sabe – uma amizade...
2462
Invernosa, minha alma adormecida...
Os sonhos cristalinos : aflições!
Infernos que renascem, minha vida...
Tantas vezes luares e sertões,
Agora simplesmente vai perdida,
Longe das auroras e verões.
Derretem-se geleiras nesta brida.
Sina, caldeirão pleno de ilusões!
Canário que cantou nesta gaiola,
O coração não sabe dos amores...
Amor nunca se aprende nesta escola...
Minha alma adormecida, noite fria...
Minha Nossa Senhora, minhas dores,
Na triste madrugada, uma agonia...
2463
Não fuja deste amor; é soberano.
Permita te tocar, beijar-te a pele...
Seguindo nossa vida sem engano,
Que o amor quando se chega, nos revele
No toque sensual em teus cabelos,
No beijo tresloucado e mais sedento.
Nas pernas, seios, coxas e nos pelos
Um arrepio imenso, qual o vento...
No teu sorriso doce, teus ouvidos...
Na mão que te procura, a blusa aberta.
Nas tesas sensações, nossas libidos,
Prazer já vem tomando, esteja certa...
Sentindo o teu perfume... Que saudade...
Amar até a plena saciedade...
2464
Debutante perdida no passado.
A vida transformou essa menina.
O sonho que vivia, abandonado...
O tempo já dobrou a velha esquina!
Vestidos, valsas, danças... O lado
Cruel da vida, cedo descortina.
Primeiro amor, primeiro beijo dado.
A vida veloz, rápida, rapina;
Não deixa tempo para um sonho tolo...
A festa, a dança, noites belas, bolo...
Nada mais restará, pois nada atina.
Os tempos mudam, tudo se transforma...
Nos shoppings, patins, games se conforma.
Acaso mudou a alma feminina?
2465
Meu fado não afogo nem reflito
Mas penso que não peso se não vou.
No labirinto extinto solto o grito.
A rosa do que fui despetalou.
O medo de não ter meu infinito
Expresso nas verdades que não dou.
O mundo que vivemos é sempre hirto.
Nas pontes que passaste naufragou...
A cal que sendo cáustica claudica
No laço que me enlaço te enlacei.
A corda que não medes não se explica
Jazeste nas quimeras que me deste.
O mundo que desejo não tem rei.
Alastras como fosses uma peste...
2466
Descansar em teu colo, minha amada,
Depois desta batalha; dia-a-dia,
Amiga, companheira e camarada,
Tu és meu par perfeito na alegria,
Na dor e na tristeza. Abençoada
A mão que me conforta em poesia.
Prossigo me encantando, na jornada
Que traz felicidade e harmonia...
Meus olhos tão cansados de um vazio,
Na busca por mim mesmo, autofagias..
Na mansidão serena, como um rio
Deságuo nos teus braços, és me mar,
É sol que me aquecendo em noites frias,
Permite que eu conheça o vero amar...
2467
Dançando com teu canto sou feliz,
Amando assim, deveras, ganho a vida,
De tudo o que de bom penso que fiz,
Eu devo tanta coisa a ti, querida...
Vivendo uma alegria por um triz,
Acho do labirinto, uma saída,
Não resta mais nenhuma cicatriz,
Tristeza já se foi em despedida.
Encontro em tuas mãos, o meu amparo,
Meus passos nos teus passos, elisão,
O nosso amor, tu sabes é tão raro,
As tuas mãos macias e serenas,
Tocando minha pele e coração,
Prá sorte no futuro já me acenas...
2468
Olhando para o céu, enamorado,
Vislumbro nas estrelas teu enlevo,
E sigo a cada dia deslumbrado
Sabendo que feliz, contigo, devo...
Sorriso de menina, mulher bela,
Esculturada em mármor de Carrara,
Pintada em genial e rara tela
Uma perla marinha, jóia rara.
Teu rosto de beleza intensa, grácil,
As mãos alabastrinas seda pura,
Sereia que me encanta, linda, frágil,
Endeuso teu olhar, tua figura
E saio a procurar-te, nos astrais,
Teus rastros que vasculho, siderais...
2469
Amor que sei flameja no teu peito,
Deveras me alucina e me domina,
Depois de tanto tempo insatisfeito,
A vida, novamente me ilumina.
Amar passou a ser um meu direito,
Ao ver tua beleza de menina
Que nina toda noite no meu peito,
E logo, num carinho desatina
Quem fora sempre só, calado e mudo,
Agora já percebe tal beleza.
Querida o mar é grande e não me iludo
Não foi feito p'rum barco sonhador.
Mas sei de tudo resta esta certeza
Duma alegria imensa em nosso amor...
2470
As dores que me tocam, seculares;
Por vezes me maltratam e desprezam
Nas costas, toneladas que já pesam
Depreciando sempre meus altares.
Às vezes esquecido em ledos bares,
Botecos da saudade onde não rezam
Aqueles companheiros que me prezam,
Bem poucos, pois se tanto, restam pares.
Malgrado em cada riso eu reconheço
O gargalhar insano e quase louco,
Promessa de outro porre e de um tropeço.
Em párias madrugadas, a verdade
Do que restou assim, deveras pouco,
Apenas nas carcaças, a amizade...
2471
Amada amiga amante, rosa rara,
Aguardo o teu carinho em ansiedade
Nesta emoção que espero, bela e cara,
Poder usufruir felicidade
Ao lado de quem sempre me antepara
Com braços e sorrisos de verdade,
Adoça a minha vida tão amara
Mostrando este prazer da liberdade...
Beijando tua pele, cara amiga,
Tornando cada olhar mais prazeroso,
Que a sorte ao nosso lado assim prossiga
Trazendo uma alegria que é sem fim.
No gesto mais amigo e carinhoso,
Onda do amor que veio para mim..
2472
Quando Deus fez a Terra, Seu encanto,
Com tantas belas cores enfeitou.
Na voz da natureza pôs o canto.
No meio das estrelas repousou.
Enfeites polvilhou cada recanto;
E belezas sem par imaginou.
Na noite das crianças, acalanto,
São provas que o Divino Pai amou!
Aos homens trouxe a luz d’uma mulher,
Amada companheira de beleza
Ímpar, pois é rainha onde estiver.
O fogo vai queimando numa pira,
A noite se passando sem tristeza.
À minha vida, ornando, deu Alzira!
2473
O sol que tanto queima quanto afaga
E trama, em seu calor, um novo dia.
Ressurge calmamente em toda plaga
Renasce flamejante fantasia...
Nos prismas destes raios multicores
Em líricos poemas te desejo,
Dizendo destas cores dos amores
Que nascem nos carinhos deste beijo.
As sombras que na noite são terríveis,
Perseguem coração nem bem amamos
Causando tantas dores mais temíveis,
Nos desatinam sempre que sonhamos,
Durante o dia quente, dão frescor,
Uma alvorada calma em nosso amor!
2474
Alva, vinhas; veloz alvorecer...
Beijo embarco na bela doce boca...
Trago o tato, temi tirar a touca
Adoço o sonho, quem me dera ser!
Não sei se sabes sinto não saber,
Aporto portos pútridos. Espoca
O meu medo, penedo a percorrer.
Meu trabalho foi falho, fel desloca!
O rombo dos arroubos foi rebento.
O traço dos meus passos foi errado.
Varais, vestidos, vértices do vento...
O que não sei serei ou desfaço...
O canto que cantei nunca encantado.
O resto que traguei, um simples traço!
2475
Não vou tomar jamais este Pondera
Que agora me trouxeste, não mereço.
Amor que tanto eu quis e, quem me dera,
Não fosse tabelado em caro preço.
Amada eu já cansei, mas não pondera
Parece que esperando o meu tropeço
Tu venhas abortar a primavera,
Virando a minha sina já do avesso.
Não quero aqui ficar tão boquiaberto
Na espera desta morte que não vem,
Preciso descobrir se sou alguém
Ou morro sem oásis no deserto.
Perdi, faz tanto tempo, bonde e trem,
É bem melhor que eu fique, então, esperto...
2476
A boca foi sedenta, o corpo quente,
Os dedos penetraram, com potência
Deixando quase ao largo uma clemência
Que chegou numa noite, de repente.
Marés que nunca foram, vou descrente
Do canto que erigiste uma inocência
Beirando insensatez, total demência,
No fundo alegoria se pressente.
A loca que se toca em louca boca,
Mordisco com vontade e assim se enfoca
A pescaria feita com sarcasmo.
Encontro de prazer em pororoca
Matando uma minhoca com marasmo,
Afogando em garoa, sem orgasmo...
2477
Loucos sonhos, delírios insensatos...
Milhares de fantasmas rutilando.
Rituais ancestrais, irei voando
Por espaços, meus laços, meus retratos...
Atípicos pendões surgem inatos,
Dos céus descendo os anjos, flutuando...
As mãos vazias, gôndolas girando.
Irresponsáveis aves sobre pratos,
Escapo deste céu, não temerei.
O cetro me negando, mata o rei
Nas minhas terras, cega confusão.
As vagas tempestades, as sereias,
Nas mãos que me torturas, me incendeias...
Gira mundo, alucina, perco o chão...
2478
Desertei meus dias de tristeza
Nos braços desta amiga que encontrei
Deixando sempre um rastro de beleza
Num mundo aonde em paz imaginei
Que a vida se mostrando com certeza
Melhor e bem mais forte sendo a lei
Aquela que por vezes procurei
Servindo de alegria e de defesa.
Desdéns e sofrimentos, tais heranças
Deixadas pelos tempos que se foram,
Em outro ancoradouro já se aportam,
Raiando no meu peito as esperanças
Que sabem do valor de uma amizade,
Na plenitude imensa, a liberdade...
2479
Um canto de amizade solto ao ar
Prenunciando aurora mais bonita,
Podendo no teu peito ao ecoar
Fazer em mansa paz, a tua dita,
No sonho que se quer e se acredita
Um mundo mais feliz vai revelar
O quanto é necessário a gente amar
Deixando para trás uma alma aflita
Que morre pouco a pouco e vai caquética
Perdida em triste insânia, sem futuro,
Usando com vigor minha poética
Permito-me dizer da claridade
Que emana mesmo em chão outrora escuro,
Nos laços poderosos da amizade...
2480
Areias que em tufões sendo tocadas,
Vibrando em tempestades, se perturbam,
Nas dunas de teu corpo, derramadas
Marés que num momento nos conturbam,
Eu sinto nosso amor nos areais
Que em força sem limites não sossegam
E movediça senda quer bem mais
Que simples dedos mansos que navegam.
Num misto de loucura e sanidade
A sede de poder ser teu se instala
E a carne sequiosa então me fala
Da doce sensação, voracidade,
Prostrando meus desejos em teus braços,
Areias e procelas, sem cansaços...
2481
A boca procurando em lava quente
Beber desta delícia em fantasia,
Ao mesmo tempo em fogo já se ardia
A língua que buscava incontinenti
Gemido que bem alto se irrompia
Molhando toda a fonte, na vertente,
Num mar que em tempestade se pressente,
A carne em polvorosa se fremia.
Rumores e sussurros emitidos,
Lambidas quais açoites histriônicos
Prazeres na verdade santos tônicos
Que fazem rebuliço em louca chama,
Império das vontades e sentidos,
Rebentando em quem sonha e gozando, ama.
2482
Não há medo que trágico me arvore...
Nem as sombras dolosas deste mal...
Não há sentido vão que me apavore,
Nem beleza que seja maioral.
Nem meus restos findados que fascinem,
Nem pelejas que perco tentadoras..
Não há novas paixões que me iluminem...
Nem distâncias cruéis. São amadoras.
A noite que se finda trouxe pranto.
Velaste por um corpo que não houve...
A voz noturna pede um velho canto...
As auroras perguntam onde estás?
Não tendo neste altar quem mais eu louve
Espero pelo menos, morte em paz...
2483
Eu guardo essa beleza entronizada,
Neste altar soberano da lembrança.
Te procurando, te encontrei guardada,
No retrato escondido, por vingança,
Numa noite longínqua. Aquela dança
Que negavas, fingias seres nada.
Pois eu tentei quebrar aquela lança,
Então riste, zombaste, desgraçada...
Em um segundo, estavas morta, rastos...
Meus sonhos se tornaram mais nefastos...
A natureza artífice perfeita;
Teus restos embalados no porão,
A vida me negando embarcação.
A morte também logo vem, me espreita...
2484
Por mais que tão distante esteja aquilo
Que em total desventura fez estrago,
Amores não se encontram como à quilo,
Tampouco um bom carinho ou mesmo afago.
Se eu fiz foi, na verdade porque sei-o
E nada impedirá de assim fazê-lo,
Da amada quero a boca e quero o seio,
Nas pernas misturadas, um novelo.
A boca que desejo; assino embaixo,
Embaixo desta saia, maravilha.
Assim se mais depressa, eu já me agacho
Encontro a santidade feita em trilha.
As línguas, labaredas, fogaréu;
Estradas que nos levam para o céu...
2485
Não há sentido algum sem esperança
De um dia não viver em chão tão duro,
Um sonho que se mostra mais maduro,
Aos poucos, lentamente já me alcança,
Trazendo para a vida tal fiança
Na qual iluminando um céu escuro
Tramando um novo encanto onde perduro,
Formando com a sorte esta aliança.
No toque sem igual deste perito,
Amigo coração nada suspeita,
Um mundo doravante mais bonito
Às leis de uma amizade se sujeita
Alçando uma alma livre ao infinito,
Mostrando nossa estrada, enfim, refeita...
2486
Ó Prenda desejada, quanto quero,
Carinho que tu trazes para mim.
O sonho mais airoso que eu espero,
Na boca tão carnuda e carmesim,
No gosto mavioso me tempero
Vivendo todo amor que sei, enfim.
Num sentimento manso, duro e fero,
Te quero sem temor, melhor assim...
Meus versos te buscando a cada dia,
Corcéis que já cavalgam pelo azul
Do céu que se azuleja em poesia
Vibrando em cada nota, tudo encampa,
Viajo num momento até o Sul,
Procuro minha prenda pelo pampa..
2487
Almíscar: meus desejos, teu perfume;
Penetrando as narinas, me conquista.
E não há, na verdade, quem resista,
Nem quero e nem concebo mais queixume...
A vida sem teus olhos, não tem lume,
Meu caminho se perde. Não desista:
Grito contido, perco-te de vista.
Mas teu olor suave, qual costume,
Denuncia teus passos, minha amada...
Não perderei jamais a tua estrada,
Nem quero mais sentir outro desejo.
Teu perfume causando, nesse ensejo,
A doçura suave de teu beijo,
Presença do Senhor, glorificada...
2488
Procuro a alma das árvores, floresta;
Encontro tão somente esse lamento.
Quisera perceber um só momento,
Do duvidoso tempo que me resta...
Sentidos tão banais, a vida atesta
Que nunca mais terei um só tormento,
Nas falsas esperanças em que tento,
Viver das alegrias, finjo festa...
Nas almas dessas matas, sou machado;
Podando o que puder ter encontrado.
Na seiva que seringo, sangra a vida.
Viver? Quem dera! Sigo sem sentido,
Meu mundo vai girando, estou perdido,
Minha alma qual das árvores, ferida...
2489
Minha alma vai ebúrnea e vai proscrita.
Virginal esperança lamuria...
Entre estreitas cimalhas, vai restrita,
O cansaço do sonho me exauria
Sonhadora- em abóbadas se atrita...
Quem, entre tantas festas, luxuria;
Presa, atada, morrendo assim, constrita...
Lutando, em desespero já se hauria...
O céu que te atraia, cores plenas,
Parece-te impossível, tão distante...
Pois como o alumbramento p’ras falenas,
Da luz inebriante, sua amante,
Minha alma se escraviza, tantas penas...
Aprisionada, morre a cada instante...
2490
Quem dera ser amante da esperança
Dançar em plenitude tal prazer
Que sempre vai dançando nunca cansa
Na dança que começa a reviver.
Cobiças que deixamos no passado
São fardos que carrego mas não tento
Amor que sempre dói deixo de lado,
Senão eu não suporto, me arrebento...
A vida já me deu tanto presente
Que sinto que ao final irá cobrar.
A dor que enfim terei já se pressente
Na ausência dessa lua e desse mar...
Te quero mesmo assim, dance comigo
Antes que essa noite traga o castigo...
2491
Se meço não convenço nem te peço
Nem quero convencer quem não merece,
Amores que menti, nem desconverso,
As noites que passei, omitem prece,
Meus olhos procurando vou disperso,
Nem tudo que proponho me acontece
Nos versos que te fiz, meu universo,
Se meço nem te peço, me confesse...
O vasto seringal dos meus amores,
As flores imortais que não plantei,
Os cais que enclausuraram nossas dores,
O medo de saber que nada sei.
Nas procissões que fazes, meus andores,
Amar continuamente, minha lei...
2492
Às vezes imagino-me a serpente
Que enlaça tuas pernas, gozo e medo,
Em meio a tuas coxas eu me enredo
E adentro teu desejo mais ardente.
Sentindo esta umidade, doce e quente,
Aos teus requebros loucos, vou e cedo
Deitando desde sempre, e mesmo cedo,
Bebendo a flamejante e enlanguescente
Lava que tu derramas: erupção.
Leves ondulações deste teu mar
Que num momento vibram em procelas,
Serpente que ao entrar no furacão
Pressente todo o lago se encharcar
Nas águas cristalinas que revelas...
2493
Nos óleos deste sonho resplendia
Escárnio nas irônicas risadas,
Que em farsas tão solenes da alegria,
Etéreas veleidades desfraldadas.
Palavras emanavam fantasia
Distantes de uma aurora que orvalhada
Pudesse me prever em poesia
A mão de uma princesa que amputada
Deixava-se mostrar em nua face
Que as chamas da loucura sem disfarce
São velhas vibrações, frias centelhas,
Nos ares constelares da emoção,
Mortalhas de um amor em sedição
Decerto se ensangüentam, são vermelhas...
2494
Vastos plainos desérticos dos sonhos
Infaustas sensações de etéreo gozo.
Meu mundo tantas vezes andrajoso
Aguarda resultados mais bisonhos.
Algozes na verdade, tão risonhos
Levando um velho barco pegajoso
Altar que estupefato e belicoso
Aguarda em explosões; ares medonhos.
Amigo, sou qual resto que caminha
Apenas garatuja sem destino,
Sabujo da alegria, eu me perdi.
Da morte que sorrindo se avizinha,
Partilhas; onde insano eu me alucino
Encontro uma resposta mansa em ti...
2495
Sou quase o que não foi se houvera sido
Vencido pelo quase que não ouso
Escuso-me dizer que estou vencido,
Preciso de carinho e de repouso.
Mas nada do que houvera faz sentido
Não quero da saudade ser esposo
Futuro pode ser mais caprichoso
Desde que não restasse mais olvido.
Duvido que entendeste meu recado,
Se é fado se é safado, eu digo: foda-se
Amor não de pergunta, mas açoda-se
Na soda sendo cáustica ou limão,
Tiro pela culatra foi mal dado.
Resposta se resume em simples não..
2496
Amor, meu companheiro de viagem!
Nas curvas e desníveis do caminho,
Espero por teu vento, tua aragem.
Não quero prosseguir assim, sozinho...
A lua vai mudando de roupagem...
No céu prateia e doura cada ninho,
Se enfeitando, tão bela maquiagem!
Amor meu companheiro, passarinho!
Voando pelos campos, beija a flor.
Revoando por mares, cordilheiras...
Encontra esta beleza, e esplendor.
Pesado, coração voa de banda,
As noites são amigas, companheiras,
Decerto eu hei de amar-te, bela Amanda!
2497
Depois de perder rumo e perder vez
Em ruas e botecos, cabarés,
Chutado em bofetões insensatez,
Sangrando pelos olhos, pelos pés,
Encontro o que me resta de altivez
E vago pelo quarto de viés.
No gosto desta boca a lucidez
Em forças e correntes, mil marés.
Amamos novamente pelo chão
Das ruas e senzalas descobertas.
No gesto em que recatas a paixão
Se mostra assim deitada, bancarrota.
Do fogo que atiçamos nas cobertas,
Amor vai se perdendo em nova rota.
2498
Sentindo o desenhar dos lábios teus
Num êxtase divino, sem censuras..
Desejos mais profanos são ateus,
Enfeitam-se e mergulham em ternuras...
Exploro teus caminhos tão sedosos,
Saboreando cada bom momento.
Procuram nosso olhar, voluptuosos,
E viajo em delírios. Calmo, lento...
É bom poder te amar, assim; tão pleno...
Numa entrega total, sem ter juízo...
Loucuras de vulcão num mar ameno,
Vestígios de caminho... paraíso...
Amor que nos tomou, num sonho breve...
Amada.. por favor... venha e me leve...
2499
Não tenha tanto medo de viver,
O amor é como jóia a ser cuidada.
Nos dando uma esperança do querer
Já faz surgir raiada esta alvorada
Amar nunca é demais e não temer
Faz parte desta longa caminhada.
Os olhos que tu queres já são teus,
Os lábios que sonhaste querem beijos.
Não pense que ouvirás um triste adeus
São meus os teus anseios e desejos.
Tu sabes que teus sonhos são os meus,
Viver entre teus braços, relampejos
Do amor que sempre foi estrela guia
De todo este meu canto em poesia...
2500
Acendo o meu cigarro e penso em ti,
Nas espirais dos sonhos sempre estás.
Esfumaçam as dores que senti
Adentra a minha casa, chama em paz.
Os versos mais bonitos que eu já li,
Uma canção que o vento, hoje, me traz.
Vontade de te ter comigo, aqui,
Deixando uma tristeza para trás...
O dia que renasce em teu olhar
Estrela, peço a luz pra mais um dia,
É muito bom poder, a ti, amar
Sentindo o teu perfume junto a mim,
Amar-te, com certeza, o que eu queria,
Saber que tu és minha... amor... enfim..
2501
Eu quero este lugar imaginário
Onde eu possa te amar o tempo inteiro,
Sem ter que olhar relógio ou calendário,
Amar desde janeiro até janeiro.
Não ter que bater ponto nem horário
Apenas ser feliz e verdadeiro.
Não ter mais paciente nem fichário
Amor gostoso useiro e mais vezeiro
Que nunca mais se canse de querer
Toda querência bela que se tem,
No cálice profano do prazer
Embebedar-me até não poder mais,
Do mundo? Não me importa mais ninguém,
Até que enfim poder amar em paz!
2502
Um dia, bem mais cedo que se pensa,
Ainda nos seus tempos de menina,
Buscando noutra vida a recompensa
Na luz que mal se vê logo alucina,
A sorte se mostrando mais pretensa
Que em festas e desejos já domina
Quem pede, mas não ganha e se compensa
Nas pernas e na boca descortina.
Vestida da nudez que em cena atrai,
Nos bares e botecos, noite e dia,
A vida benfazeja não distrai
E traz o seu sorriso meretriz,
Barata carne em ser mercadoria,
Ao menos por instantes foi feliz...
2503
Sorriso que em teus lábios já floria
Trazendo para a vida a claridade.
Tomando meu desejo em harmonia,
Além de toda a paz, serenidade...
Nas águas da divina fantasia
Bebendo todo amor, imensidade,
Qual sol em que esta terra se irradia
Sorriso que traduz felicidade..
Permites os meus sonhos cristalinos
Nos lábios que desejo, desatinos...
Em tantas vibrações, vou me encantando.
Em toda a maravilha estou envolto,
Voando pelos astros, corpo solto,
Com toda uma alegria, ir te beijando...
2504
Esqueça teu passado, imploro-te querida...
Bem sei que foste brilho em meio a noite escura,
Bem sei que já tiveste o beijo da ternura,
Porém se estás sozinha, a dor da despedida,
A morte de quem foi razão de tua vida
Não pode ser assim uma eterna amargura.
Eu sei, sou imperfeito. Espero ser a cura
Poder cicatrizar essa enorme ferida.
Quando falas de amor nos nossos, bons, momentos;
Recebo desta noite os mansos, doces, ventos...
Eu sou o teu futuro, e nele vou morar.
Eu quero teu amor, esteja disso certa,
Eu quero em nossa casa a porta sempre aberta...
Se queres ser feliz, deixe de comparar...
2505
Amar é transbordar felicidade
Não é ser singular, é ser plural.
É conhecer a vida de verdade,
Vagar, com pés no chão, por todo astral.
Amar é conceber a liberdade
E sempre querer bem, negar o mal,
Potência que se faz força e vontade,
Sem artifícios ser mais natural...
Eu quero todo encanto deste amor,
Que é por apenas ser e nada mais.
Um paraíso em canto, salvador.
2506
Quem dera se viesses prenda bela,
Galopo em pensamento e chego a ti.
Montando em meu cavalo, arreio e sela,
Buscando esta esperança que perdi...
Beleza que em teus olhos se revela,
Em um segundo, enfim, estou aí,
Estrela que me guia o sonho atrela
Guria, és a mais guapa que já vi.
Mateando co'a amargura da saudade,
Nas coxilhas procuro esta alegria,
Ninguém sabe dizer; amor quem há de
Informar ao mineiro sonhador
Somente o minuano é quem me guia
Aos braços desta prenda, meu amor...
2507
Amar não é loucura ou fantasia
É verbo que se faz felicidade.
É canto que nos toma em alegria
É sonho que nos guia à liberdade.
É vida que se entorna em poesia,
É rumo que nos leva à mocidade.
Loucura é desamor, tanta tristeza,
É verso em que se dá desilusão,
É rio que se perde em correnteza
É chuva que não veio no sertão,
É lágrima sentida em impureza
É tosca e tão cruel ingratidão.
Amor nos alimenta e agiganta,
É força que nos salva e nos encanta...
2508
A vida se transforma em duras lutas,
As luas e desejos se despojam.
Amores e cansaços desalojam
As noites que se foram, frias, brutas...
Nos medos minha angústia, não refutas;
Pois sabes que torturas não se forjam,
Nas dores que, no peito, sempre alojam.
Distâncias e saudades são astutas...
É minha culpa, tento ser sincero,
Unicamente minha! Mas desejo
Que neste nosso amor, que é manso e fero,
A vida não se torne uma mortalha,
A noite que vivemos, nosso beijo,
Na garra que demonstras cara Amália!
2509
Amada, como espero esse momento
com tal felicidade no meu peito.
Entrego todo amor e sentimento
pois sei que ser feliz é meu direito.
Não quero mais do fel, tormento
nem quero mais seguir insatisfeito.
Teu nome vem chegando pelo vento,
tocando o coração. Amor,aceito
o teu carinho, sempre redentor,
é lume que me guia pela vida.
Destrói o que se fora triste dor;
refaz minha esperança dia a dia,
por isso é contigo amor, querida,
pretendo me entregar à fantasia.
2510
Amigo, me proteja quando a vida
Trouxer em artimanha encruzilhadas
Ao permitir que eu siga por estradas
Aonde a luz perene enaltecida
Não deixa sua marca ser sentida
E as trevas falsamente iluminadas
Levando para os ermos, disfarçadas,
Fechando para nós toda a saída.
Somente a tua mão conduzirá
Com firmeza ao portal do paraíso,
E toda uma alegria que há por lá
Mostrada em amizade soberana,
No passo decidido e assim conciso,
Toda a felicidade enfim, se explana...
2511
Quisera do teu lado, amor ficar,
A noite se aproxima e estou sozinho...
Apenas alguns braços do luar
Invadem o meu quarto. Sem carinho...
Quem dera se viesses... tanto amar...
Bebendo no teu corpo, tinto vinho,
Rondando a noite inteira sem parar
Atravessando impávido, o caminho
Que leva-nos etéreos navegantes
A mares nunca dantes conhecidos,
Levita-nos, querida, por instantes
E tomam nossa vida em alegria.
De todos os desejos concebidos,
Repousa em nosso braço, a fantasia..
2512
Ó Pai Senhor amigo, irmão, Meu Deus
Eu peço num clamor tua atitude
Que mostre imenso amor em plenitude
Ao clarear os rumos, duros, meus...
Perdoe se meus olhos tão ateus
Procuram Tua imagem que me ilude
Não percebendo em Ti enorme açude
E lume que clareia, trevas, breus.
Guia-me pelas sendas inconstantes
Da sorte de viver, tão movediça.
As minhas mãos tocando uma injustiça
Sangrando em erros duros por instantes
Ao perceber em Ti tanta amizade
Desejam se limpar da iniqüidade...
2513
Permita que eu repouse em plena paz,
Calando toda a angústia que me toca,
Palavra abençoada em tua boca
De tudo, minha amiga é mais capaz.
Tu sabes do calor que satisfaz
Quando esta dor se faz terrível, louca,
Insanidade chega e me treslouca,
Porém tua amizade tanto apraz
Que apascentando trama em alegria
Multiplicando o trigo, forja em vinho
Além do que sonhara que podia
Iluminando em paz o meu caminho.
Amiga, me permita a fantasia
De um dia não saber-me mais sozinho...
2514
Eu agradeço ao Pai tanta amizade
Que é feita em proteção e em laço forte.
Alçando mais depressa a liberdade
Encontro em minha sina, um novo norte
Na luta em alcançar felicidade,
Nos braços do Senhor, santo suporte,
Mostrando com justiça e caridade
A cura para a dor de antigo corte.
Senhor, meu Pai querido, meu Irmão
Em Tuas mãos a vida já prospera
Matando uma tristeza feita fera
Abrindo os meus caminho, protegendo,
Louvando amor profundo e no perdão
A vida, um bem sagrado, enaltecendo...
2515
Por mais que sejam tantos adversários
Que a vida nos prepara qual cilada,
E os dias já transcorram temerários
Encontro em tua mão abençoada
A força que preciso, minha amiga
Escudo redentor que me protege,
Decerto uma amizade nos abriga
Contrária a solidão, feroz herege,
O braço de quem ama nos sustenta,
Redime contra as dores, contra os medos.
Fazendo que a tempesta fique lenta,
Mudando toda a trama dos enredos,
A salvação em plena tempestade,
É feita do carinho e da amizade...
2516
Não podes, meu amigo servir bem
A duplo sentimento, na verdade.
Quem pensa nessa vida ter alguém
A quem possa viver em lealdade
Não deve se deixar levar também
Em vaga sensação de liberdade
Restando tão somente sem ninguém
Dois amos gerarão tal dubiedade
Que enfim não restará nenhum caminho,
Terá seu fim em negra solidão.
Desagradando sempre irá sozinho
Levando eternamente a acusação
De quem ao destruir o próprio ninho
Carrega a dura pecha de traição...
2517
Menina que mulher desejo tanto,
Beijar-te impunemente e te tomar
Serena em meus anseios. Teu encanto
Recebo como vontade de gritar,
Sangrar nossos desejos sem espanto,
Rolando em nossa chama, flamejar.
Vibrando com potência esse meu canto
E logo, descobrir onde te achar.
Sentindo o teu perfume delicado
Nas ânsias da mulher que se promete.
Amar-te com furor, extasiado...
Em arrepios fartos, alvoroço,
O teu corpo aos meus lábios se arremete,
Beijando, mansamente o teu pescoço...
2518
Não guarde esta semente que recebes
Distante do calor e de um arado,
Matando em aridez as belas sebes
Do amor que tens decerto reservado
De fome matarás quem necessita,
Pois em tamanha usura morrerás,
Nas pedras, nos espinhos da desdita
Sem nada por diante, e o zero atrás...
Porém se lavrador tão cuidadoso
Tu semeares tudo em amizade,
Da vida colherás perfeito gozo
Alçando um paraíso de verdade
Apenas quem da vida compartilha
Conhece amor em plena maravilha..
2519
Amigo, com certeza são terríveis
Os dias em que, duro e circunspeto
Trazendo em nosso peito um mal secreto
Ficamos ao revés, bem mais sensíveis.
Bizarras sensações incoercíveis
Tomando e maltratando todo afeto
Tornando-nos piores que um inseto
Entregue às tempestades mais incríveis.
As feras nos ferindo em suas garras,
A dor vai se espalhando e nas fanfarras
Aumentam seus estragos, tristes trevas.
Porém ao percebermos que amizade
Acena com carinho e liberdade
As dores vão fugindo em várias levas...
2520
Eu sonho com teus beijos, teu carinho.
A noite vai passando em solidão...
Tristeza desabando em nosso ninho.
No sofrimento intenso da paixão.
Passando todo o tempo assim sozinho,
No descompasso bate o coração.
O medo vem chegando e de mansinho,
Transforma todo amor em ilusão..
Olhando na janela, nada vejo...
Somente o vento bate em meus umbrais..
O teu corpo sublime, meu desejo.
Escultura divina que Deus fez,
Eu te amo, com certeza muito mais
À beira da loucura, insensatez...
2521
Amaste cada sonho como fosse
Um derradeiro canto de esperança.
Do gosto mais amargo fez-se o doce;
No passo em desencontro a tua dança.
O vago no teu peito, sei, repôs-se
Em plena juventude sem tardança.
Fizeste deste encanto riso e gozo,
Em formas diluídas refratárias,
O manto em que cobrias, generoso,
As noites não mais eram temerárias.
O sol de cada dia mais formoso
Em cores misturadas, belas, várias...
Depois de tanto tempo abandonado,
Tu percebeste amor, bem do teu lado...
2522
Levando em pastoreio uma esperança
Qual fosse assim um último suspiro,
Acendo na verdade uma aliança
Na qual eu sobrevivo, enfim respiro.
Amar é necessária confiança
No jogo do prazer em que eu prefiro
Ser caça enquanto a noite já se avança
E a Terra assim completa mais um giro.
Casulo que prepara a borboleta
A vida se transforma a cada dia,
Amor que nascerá, santa magia.
Vagando por teus sonhos, um cometa,
Aguardo calmamente em poesia,
O sonho em que meu mundo se completa.
2523
Acabando com mata ciliar
Assoreando os rios, erosão,
Ao destruir com tal sofreguidão
Da vida quase nada vai restar.
O duro é que apesar desta lição,
Ainda existe gente a se mostrar
Ao tentar, imbecil justificar
Em nome de uma civilização
Aonde se concede para nós
Poder tão soberano sobre a Terra.
Problema é que o vazio logo após
Pairando qual fantasma a vida enterra.
Em nome do bom Deus feito amizade,
Destroem com total iniqüidade...
2524
No jogo deste amor, na sedução,
Beijando tua pele arrepiada,
Deitando com total sofreguidão,
Bebendo cada gota derramada.
Sentindo todo o fogo da paixão
Na lúbrica vontade extasiada,
Teu corpo do meu corpo uma extensão,
Tua nudez tão bela, penetrada...
Jogamos sem limites, sem segredos,
Vitória repartida em nossos gozos,
Traçamos nesta cama bons enredos,
Crianças sem juízo, adolescentes,
Fazendo dos momentos preciosos
Brinquedos fascinantes e tão quentes...
2525
Amada, ao te sentir aqui presente
Em todos os lugares, quarto e sala,
Percebo quanto é bom poder cantá-la
Em versos e no sonho que pressente
Um mundo bem melhor, bem mais contente.
Queria, se possível, ao tocá-la;
Mostrar o quanto quero, numa escala,
Sentir o teu carinho mais premente.
Saber destas carícias que me ofertas
Com uma inimitável sedução;
As portas permanecem sempre abertas
Na certeza absoluta que virás
Depois da tempestade de verão
Trazer à minha vida, toda a paz...
2526
A noite se promete em gozo pleno,
Rondando nossa cama, um fogo ardente,
Do gosto inebriante do veneno
Que desce em nossos corpos, lava quente
Em tua fenda aberta, a catedral
Aonde amor perfaz uma oração
Lasciva, enlanguescente e sensual,
Um mundo em fantasia, um turbilhão.
Recebo tua orgástica loucura,
Pecado na verdade é não saber
De toda esta delícia que nos cura,
Abençoando em gozos e prazer
Altar ao qual penetro em redenção
Em chamas mais profanas, oração...
2527
Deitar sobre teu corpo e ser voraz,
Sentir o teu calor, contagiando,
A mão que te procura, mais audaz,
A boca te sorvendo, inebriando...
Menina, uma mulher que a vida traz
Desejo que me toma, incendiando.
Amar-te, uma fogueira que se faz
Aos poucos minha vida, dominando...
Das tranças do passado, da morena,
Ao colo mavioso, seios belos.
Teus braços me tomando quais novelos,
Amante do meu sonho, uma mulher,
Que farta e desejosa, fêmea plena,
Está comigo para o que vier...
2528
O vento que te trouxe, num momento,
Tomando toda a casa me mostrou.
Que um frio que nos toma o sentimento
Talvez seja este outono quem criou.
Quem dera se chegasses... Um tormento
Distante no meu quarto me deixou,
Tristeza devagar, tomando assento,
No canto em que meu peito te chamou...
Amor é sorrateiro e vingativo,
Não deixa mais seguir quem medo tem,
Vivendo por amar, eu sobrevivo,
Na espera de te ter aqui, comigo...
No frio dolorido que já vem,
Meu bem, aqui por certo, o teu abrigo...
2529
Amar tranquilamente, doce sonho
De bocas que se buscam tão suaves.
Os corpos que se tocam são quais naves
Onde o desejo imenso eu sempre ponho.
No verso que te faço em que componho
Retiro do caminho velhas traves.
No céu de nossos mundos voam aves
Libertárias num mundo mais risonho.
Brindamos com carinhos, a paixão,
Que é dona dos meus passos, dia a dia.
Nas forças incontidas da emoção,
Espalho em nosso mundo a fantasia
Que é mote que nos leva, em tentação,
Amor que a gente faz com maestria..
2530
A tua boca amada me percorre
A pele assim exposta, toda tua...
O mel que dos teus lábios, manso, escorre
Em cada nova curva continua...
Permita que meu corpo ao teu já forre,
Com ânsias bem vorazes, pele nua...
O teu desejo ao meu, logo socorre
A cama, o quarto...tudo enfim, flutua...
Teus seios no meu peito, tentação...
Explodem mil prazeres incontidos
Marcando cada passo em sedução.
Mergulho no teu corpo, meus carinhos...
Os teus olhos reviram, vão perdidos...
Inebriante gozo... nossos vinhos...
2531
Amiga, mal disfarço o meu desejo
De em tua bela boca repousar
Toda a ternura mansa deste beijo,
Que faz a minha vida, eu suportar.
Tu és o sol guia onde me vejo,
Depois da triste noite sem luar;
Um sonho, ser feliz, contigo almejo
Amiga, como é bom poder te amar...
Eu sinto em ti o brilho que me alcança
Depois de tanto tempo, vão, sozinho.
Teus olhos irradiam esperança.
Amiga, não me deixes, por favor.
Não quero mais distante o nosso ninho,
Me entrego de cabeça ao nosso amor...
2532
Não seja ambicioso meu amigo,
Às vezes desejar faz muito bem,
Porém numa ambição vive o perigo
De não respeitar nada e mais ninguém.
A sorte que se faz e quer abrigo,
No peito de quem sempre quis alguém
Da forma mais sutil assim prossigo,
Cantando este desejo; é meu também...
Não deixe que esta coisa salutar
Que traz uma esperança dadivosa
Se torne no cruel ambicionar,
Carrasco de quem ama e quer amor,
Matando com tristezas toda rosa
Que quer um bom perfume, em desamor...
2533
Amiga, minha amada, nesses versos,
Traduzo uma emoção sem ter limites.
Os sentimentos belos e diversos
Nos quais te peço amor, quero acredites
Que és mais do que somente companheira,
És mais do que desejo, que não nego.
Um sonho que procuro a vida inteira,
Uma esperança rara que carrego.
Da minha camarada, bela e rara,
Da flor, puro perfume em meu jardim.
Daquela que meu sonho já antepara
O melhor sentimento dentro em mim...
Eu te amo desse amor que é mais completo,
Pois nele me sustento e me repleto
2534
Uma amargura imensa vem chegando
Tornando este crepúsculo dorido.
Embalde amor procuro, está perdido,
Distante do luar, me transtornando.
Sonhara com canteiro mais florido
No tempo em que viver era tão brando.
Os sofrimentos tantos, até quando?
Pergunto, mas jamais sou respondido...
Ah! Noite! Como dói este vazio.
Quimeras são desfeitas, a tortura
Na qual em pesadelos, me porfio.
E vem esta vontade de morrer;
O gosto que restou, esta amargura.
O amor em triste noite a se perder...
2535
Tanto prazer na chuva e nas tempestas,
Mistérios de divinas sensações.
O gosto das esperas, loucas festas,
Maltrata em arrepios, corações.
Vertiginosamente já me emprestas
Amores e mortalhas, teus perdões.
Deitando nas entranhas destas frestas
Que os tolos apelidam de paixões...
Rosto alvo de princesa, mãos macias...
As bocas carmesim, os arrepios...
Vestida de mentiras, fantasias,
Seriam mais sutis nos dias frios.
Na busca de teu corpo em proteção
Ardendo neste inverno qual verão...
2536
Às vezes a tristeza se apodera
De quem por tantos dias- só- vagara,
Em garras penetrantes, leda fera,
Tornando a nossa estrada mais amara.
Da dor que esta agonia sempre gera
Renasce uma esperança nobre e cara,
Vigor do florescer na primavera,
Aos poucos o caminho enfim se ampara
Uma esperança em novo canto traça,
Deixando para trás qualquer desgraça
Apenas num apoio que nos dá,
A sorte se refaz em cada passo,
E a dor cedendo à glória todo espaço
Permite-nos prever que brilhará...
2537
Amor que tantas vezes faz sofrer,
Espinhos numa senda quase agreste,
Às vezes tão difícil de entender
Trazendo uma tristeza como veste,
Porém no amor bonito que me deste
Apenas desfrutando do prazer,
E tendo a força plena de um cipreste
Mostrando-se impossível de esquecer.
A voz que me encantando em preces salma,
Forrando de alegria em plena calma,
Acalentando a vida com encanto,
Cobrindo em raras flores, primavera,
É tudo o que há de bom e que se espera
Amor que eu desejava e quero tanto...
2538
Na contraluz das sombras, a tristeza,
Em caricatas cenas chama à luta.
Indiferente à sorte e à beleza,
Eu permaneço insosso em minha gruta,
Um eremita busca uma defesa
Que seja sem discórdias, impoluta.
Noctâmbula vontade se liberta
Nas fráguas de uma lua sedutora.
Paixão que vai servindo de um alerta
Atesta minha sina sofredora.
Se deixo o coração com porta aberta
Nem mesmo uma alegria redentora.
Nos sóis que me amortalhas, ledo amor,
Poente da saudade a me compor...
2539
Quem dera se pudesse alvorecer
Tocando como um vento a tua boca,
Sentindo tua voz ardente e rouca,
Aos poucos me tomando em tal prazer
Que a vida neste instante se treslouca
Num êxtase divino, uma mulher
Deitando seu desejo e quase louca,
Unindo em corpo e alma, o bem querer.
Há tempos esqueci que a mocidade
Não pode ser eterna primavera.
Depois de tantos anos, dura espera,
Acordo e a mão cruel da realidade
Roçando minha pele, fria e triste.
Porém uma esperança vã persiste...
2540
Sonhei com teus desejos, meus desejos...
Andávamos felizes pelos campos.
Vertíamos milhares, loucos beijos,
Nosso caminho, estrelas, pirilampos...
Sonhei que te levava pelas mãos.
Castelos e princesas aguardavam.
Os medos estancados, eram vãos,
A poesia e o canto me inundavam...
Sonhei com fantasias de grinalda.
O tempo não passava, era infinito...
Palavras e perfumes, ar desfralda...
Vastos e profundos, nossos mares...
A noite salpicada dos luares,
Fazia nosso amor bem mais bonito
2541
Jurei não amar ninguém,
Mas eu confesso a fraqueza,
Não é tanto minha a culpa
Como é da natureza.
Depois de tanto amar, em minha vida,
Jurei que nunca mais queria alguém.
Essa jura que fiz ficou perdida,
Depois que te encontrei; meu grande bem...
A cada nova luz já percebida
Sabendo que a saudade logo vem,
Pensei que essa vacina recebida;
Efeito prolongado eu sei que tem,
Não deixaria mais ficar doente.
Bobagem! O amor sempre me venceu...
Bastou eu te encontrar, tão envolvente,
De novo, num momento de fraqueza
Meu coração agora é todo teu.
A culpa é da danada natureza!
2542
Saudade vai tomando em fundo corte,
Na vastidão da dor que sei imensa,
Minha alma em outra coisa já não pensa,
Senão na redenção que traz a morte.
Quem dera se eu tivesse quem convença
A renovar um sonho que me aporte
No cais das esperanças, bem mais forte,
Talvez inda pensasse em sorte intensa.
Porém meu canto é sempre de tristeza,
A própria morte, eu sinto, me despreza
Deixando-me a agonia como herança.
Meu mundo vai disperso e na verdade,
Apenas vento frio da saudade,
Em noite tão vazia inda me alcança...
2543
Ao fim da tarde em prantos percebia
O quanto é necessário ser feliz.
A vida tantas vezes, meretriz,
Afaga enquanto corta, traz sangria.
Talvez se inda restasse uma alegria
Tivesse novamente o bem que eu quis.
Porém eternamente um aprendiz,
Perdido não encontra sol e dia.
A mão de uma pessoa soberana
Que traga apoio enquanto cambaleio,
Mostrando qual caminho para o veio
Aonde a boa sorte não me engana
Permite que imagine a liberdade
Alçada nos clarões de uma amizade...
2544
Encontro neste mar as florescências
Das algas quais estrelas refletidas.
O vento me arrastando sem clemências
Em ondas tão rebeldes, decididas.
Belezas que se dão em opulências,
O mar, a lua, estrelas, raras vidas
Deixando as dores vagas, esquecidas.
-Deitando sob um céu em lactescências -
Olhos de Deus decerto enamorados.
E vendo a natureza num delírio
Esqueço a solidão, cruel martírio
Sonhando com teus olhos jogo os dados
E volto a te buscar Amor sem fim
E o dia renascendo dentro em mim...
2545
Tantas vezes jurei ser fiel
Mas a vida me impede de ser.
Cada abelha produz o seu mel,
Sem teu mel como posso viver?
Não procuro fugir de quem amo,
Nem disfarço se te quero bem.
O meu canto que tanto reclamo
Quantas vezes vivi sem ninguém.
Não mais quero a saudade maldita
Nem pretendo viver solidão.
Tantas noites sentindo a desdita
De viver sem qualquer emoção.
Eu não minto se falo contigo
Deste amor que por tanto, persigo...
2546
Eu quero te encontrar, minha querida,
Nos raios desta lua enlanguescente
Encontro nos teus braços a saída
Do amor que necessito, tão urgente...
A noite preparara a despedida,
Mas sinto que o porvir será contente,
Somente por que, enfim, a vida,
Me trouxe teu amor, tão de repente...
Aguardo, ansiedade cada beijo
Que enfim eu roubarei dos lábios teus.
Futuro bem melhor, contigo vejo.
Certeza que o futuro nos trará
O sonho que pedi, em prece a Deus,
E a vida, finalmente brilhará...
2547
Olhando essas estrelas, imagino,
Aonde se escondeu o meu amor.
O tempo se passou. Já fui menino...
Quem dera meu passado recompor...
Mudar a rota toda do destino,
Poder ver novamente aquela flor
Que um dia me deixou em desatino
Perfume tão suave e sedutor...
Meus versos vão buscando nesta estrela
Um sonho que jamais poderei ter.
Uma esperança viva... poder vê-la...
Um gosto de saudade me tomando.
Minha alma vai pedindo pra esquecer...
E pego-me, sem nexo, assim, te amando...
2548
Eu quero o teu perfume delicado,
De rosas e jasmins, essência pura.
No toque tão querido e desejado,
Dois corpos que se encontram na procura
Por um carinho imenso, abençoado,
Um gesto que nos mostra tal ternura
Que toma um coração enamorado
Nessas palavras todas, na brandura...
Estás distante e perto, já te sinto,
Olores maviosos, tramam rotas,
Tua presença aqui, sempre pressinto
No mar de amor sincero. Tenho pressa
E sinto-te chegar nas gaivotas;
Em teu perfume raro se confessa...
2549
A glória tão sublime da amizade
É feita com total discernimento
Da dura tempestade ao manso vento
Um sonho que se doura em liberdade.
Na lua, nas estrelas, na cidade,
Nos olhos mais profundos tanto alento,
Domínio deste mundo em que aparento
Lunático que busca a claridade
Hasteio o coração em verso solto,
Enfrentando oceano mais revolto
Persigo a calmaria em doce abrigo.
Na glória prometida um lenitivo
No qual sei que ilusão decerto eu vivo
Do apoio que recebo deste amigo...
2550
Os olhos quando em lágrimas regavam
Jardins que as ilusões deixaram secos.
Andando pelas ruas encontravam
Encruzilhadas frias, ledos becos.
Abelhas sem ter mel, só ferroadas
No sangue em sua boca, riso e dor.
Sarjetas convidando, nas calçadas
Apenas o vazio a se propor.
Ao nada desde o nada, conduzido,
Somente um braço amigo poderia
Trazer à vida um sonho já perdido
Há tempos bem distante da alegria.
Seguir na direção de outro cardume,
Fazendo da amizade um vago lume...
2551
Eu quero o teu amor junto comigo,
Vivendo em cada noite uma certeza
De que enfim, já conheço um bom abrigo,
Teu colo, moreninha, uma princesa...
Menina há tanto tempo te persigo
As pedras do caminho, retirei,
Agora que te tenho já consigo
Pensar que desta vez, amor é lei.
Encontro teu castelo encantador,
Em meio a tempestades e tormentas,
O vento que me guia, o pleno amor,
No frio desta noite já me esquentas...
E vejo meu futuro do teu lado,
Assim como eu queria, apaixonado...
2552
Entranho em tua xana, dentes, língua
E sorvo no teu grelo, mil prazeres,
Não vou deixar que a noite venha à mingua,
Adentro ao fogaréu como quiseres
Aprofundando sempre quero mais
Introduzindo os dedos, umidade...
No gozo que se chega, faço o cais
Aonde aporto, louco de vontade.
E sinto em teus orgasmos as tempestas
Que invadem, temporais e furacões,
Vasculho com desejo tuas frestas
E bebo cada gota, aos borbotões.
Depois em calmaria nem descanso,
Ouvindo teu gemido, eu quero e avanço...
2553
Amor, a tempestade, em calmaria breve
É pesadelo louco. Espero e me destrói
Ao mesmo tempo cura, amputa e tanto dói!
É fardo que carrego e que me deixa leve.
É mão que me tortura, em carinhos se atreve.
Depressa, cicatriza, um segundo, e corrói.
Esfacela meu sonho; a vida, me constrói.
É frio no deserto, e sol em plena neve.
Amor manto desnudo, e clara madrugada;
Serpente que me beija, a boca envenenada.
Derrota na vitória, os louros na derrota!
É pleno contra-senso, um barco sem destino.
Ao velho, pleno encanto, e volta a ser menino.
Amor é louco guia, esquece-se da rota!
2554
Amor, como é difícil te encontrar,
Meus caminhos, perdidos foram vagos,
Mergulhei tantos rios, mares, lagos...
Naveguei por planetas, sol, luar...
Amor, nos nossos passos, caminhar,
Sem temer por dilúvios nem estragos,
Conhecer, ness’amor, segredos magos...
Nos canteiros, antúrios, vou plantar...
Em dois corpos, una alma um respiro,
Os nossos gozos, juntos num suspiro...
Sentir doce certeza do teu bem...
Diversa liberdade que cativa,
Aprisiona, tornando mais altiva
Nossas vidas que, uníssonas, convivem...
2555
Amo, sinceramente sei que te amo...
Não posso mais fugir à realidade
Nas horas mais tristonhas, na saudade,
Teu nome sempre falo e, manso, chamo!
Desculpe se por vezes te reclamo
Que não estás. Transcendo essa verdade.
Muitas vezes, mal sinto e te difamo,
Por certo, já perdi tranqüilidade...
Amor que tanto mata quanto brilha,
Não posso mais calar o sentimento...
Angústias e delírios, meu tormento.
Guardado, na gaveta, o teu retrato...
Quem teve vida tristonha, andarilha
Não sabe ser amado. E te maltrato...
2556
Recebo em duros golpes, tempestade
Além de todo o mar que não navego,
Andara pela vida como um cego
Distante dos olhares, claridade...
Agora que quedei, eis a verdade,
O vago que somente inda carrego,
Aos sonhos do que fomos se me apego
É raio em que tombei. Na ansiedade
De poder ter talvez um porto ao menos,
Aonde descansar minha jornada,
Secando minhas fontes em venenos
Nas tramas que legaste como herança
Sobrando desta vida quase nada,
Quem sabe restará uma esperança?
2557
Amigo, eu sei que é dura uma saudade
O amor nos conduzindo, muitas vezes
Nos rouba sem saber, felicidade
Por dias, por semanas ou por meses...
Eu também já passei por dissabores
Bem sei quanto é cruel a solidão!
A vida vai chegando aos estertores
A morte nos parece solução!
Amar demais traz sempre este tormento,
Cortando em nosso peito, a desventura.
Sangrando vilãmente em sofrimento
A vida nos parece uma tortura.
Porém não desanimes, companheiro,
Um novo amor virá, mais verdadeiro
2558
Amada, ao conceber amor supremo,
Que forma o diamante deste canto,
Já nada neste mundo, amor, eu temo,
Apenas me embeveço em teu encanto.
Que nunca permitamos que o ciúme,
Enodoe este amor que é nossa meta.
Bebendo em alegria o teu perfume,
Na glória que te faz assim, poeta.
Os nossos passos céleres, sem medo,
Os nossos dias nascem mais felizes.
Amor é nosso lema, este segredo,
Que cura qualquer dor e cicatrizes...
Igualdade liberta das correntes,
No sonho fraternal vamos contentes...
2559
Amiga que te quero bem amada,
Nas fímbrias deste amor, caminho vago.
Sorvendo cada gota imaculada
Deste carinho imenso, bom afago.
Benesses recebidas, adorada,
Nossa amizade bebo em cada trago.
Vencendo cada dia, uma alvorada,
Corrige esta tristeza, duro estrago...
Não vejo outra saída, senão ser
Amigo que tu queres, companheira.
Nas horas em que queres meu prazer,
Tomando as tuas mãos, tanto carinho.
Bebendo tua fonte, sede inteira,
Convido a conviver no mesmo ninho...
2560
Eu quero que tu sejas mais feliz,
Só isso já me traz felicidade.
Um novo mundo, encanto, se prediz
Na voz de nosso amor em liberdade.
Sumindo toda a dor e cicatriz,
Prevejo e quero solidariedade
Material do amor que eu sempre quis:
O bem virá com naturalidade.
Permita te querer além do amor,
Além de um pertencer, sem possessão.
Nas mãos que unidas fazem com vigor
Uma colheita imensa com paixão.
Carinhos de quem é bom lavrador,
Arando essa seara, a do perdão...
2561
Solidão, mar cruel onde navego,
Transito meus segredos e tempestas...
As noites que passei, se foram festas,
Agora morrem luzes, mas sou cego!
Nas tantas tentativas, não me entrego.
As rodas da fortuna, não têm frestas,
Somente a solidão, amiga, restas...
A morte mais bisonha, é o que carrego!
Nas horas mais soturnas, as carícias;
A cusparada cala, tais primícias
São herança d’amor desilusão...
A porta escancarada, fico só.
Nem a morte, fiel, me tem mais dó.
Acolhe-me somente a solidão!!
2562
Amiga, eu te agradeço a paciência,
Pois tantas vezes, cego, eu maltratei
Tomado por loucura ou inclemência
Espinhos, no caminho eu espalhei.
Às vezes, egoísta, ou insensível,
Pensando só em mim, não reparava
Na mão que me apoiara, amor incrível,
E eu tantas vezes, duro, machucava.
Louvando o sentimento da amizade
Que ajuda-nos na marcha pela vida.
É necessário ter sinceridade
Na marcha que se faz ser tão querida.
Eu sinto-me feliz por ter-te amiga,
Certeza de que a sorte assim, prossiga.
2563
Anseio tua vinda, todo dia,
Espero o teu carinho, doce afago.
Tua palavra acalma, uma alegria,
Na placidez gostosa deste lago.
Tu és o meu desejo em fantasia.
Sorver-te calmamente trago a trago,
Numa delícia plena em sintonia.
Um sentimento pleno, forte, mago..
Eu quero ter comigo o teu carinho,
Deitar-me no teu colo, ser inteiro.
Fazer de teus desejos o meu ninho,
Pulsando bem mais forte, sinto e vejo,
Um sonho que se torna verdadeiro,
Que, aos poucos vai tomando meu desejo...
2564
Amiga, não perguntes por que choro!
A vida não me deu sequer escolha...
O vento me carrega, junto à folha
Onde escrevi meus versos. Hoje imploro
À solidão que deixe-me, recolha
Os restos que largaste sem decoro...
O mundo me trancou na triste bolha
Onde emolduras... Onde me demoro!
Amiga, não te peço que me escutes,
Apenas não desejo que me esqueças...
Das jóias que ganhei na triste vida,
Nas guerras que pedi, comigo lutes...
Batalhas que perdi, me convalesças..
A luta que forjei, já vai perdida...
2565
Teu anel de ametista bem guardado,
Olhando bem tranqüilo te suplica,
Incertos tantos dias do passado,
Carícias usam luvas de pelica...
Nas faces que este vidro multiplica,
O mundo, neste vidro preservado...
Teu choro refletindo no, ondulado,
Vidro; tanto corrói quanto te explica...
A garganta soprando várias formas,
Gaivotas do teu céu são invocadas...
Flutuas nestas curvas, tua porta...
Nesse retrato efêmero te informas
Imagens, no teu quarto, envernizadas!
Saudade permanece, finge morta!
2566
Menina amada eu quero estar contigo
Em todos os momentos que puder,
Sabendo da menina esta mulher
Divina que desejo e que persigo.
Um sonho em maravilha em que eu consigo
Ter toda uma alegria em bem querer,
Decerto em tantas brilhos, o prazer
Encontra nos teus braços raro abrigo.
Menina, ao me ninares, acalanto
Amada sensação de ser feliz.
Ouvindo em tua voz um belo canto
Querendo sempre assim, pedindo bis
Da boca que extasia intensamente
No amor que enfim chegou, completamente!
2567
Meu sonho ao te encontrar, felicidade!
Meus versos companheiros de teus versos.
Ao lado deste amor, nossa amizade,
Mostrando estes matizes mais diversos.
Encerro no meu peito a claridade
Que ganha no infinito de universos
Essência da total fraternidade...
Não deixa nossos cantos mais dispersos
Fazer-te mais feliz, amada amiga,
Pousar em tua boca o doce mel
Nesta ternura plena e tão antiga
Deitar-me do teu lado, estar contigo
E juntos galoparmos no corcel
Que entranha de desejo, amor amigo...
2568
Bem sei que te fizeram redentora,
Mulher de mil batalhas e de guerra.
A noite que te trouxe, criadora.
Das dores; teu carinho me desterra.
Não posso conceber que quem te adora,
Não vive sem pensar: É bela a Terra.
Dos vales e dos campos és pintora,
Dos pássaros das cores desta serra!
Se tens a mansidão que tanto acalma,
Por certo também tens brilho e ternura.
As linhas do futuro em tua palma,
São flores maviosas qual bromélia.
A vida, em tuas mãos, tanta brandura,
Destino que me trouxe a ti, Amélia!
2569
Descubro a tua pele
Desnudo-te em completo
Vasculho e me repleto
Ao corpo que me atrele
E nua se revele,
Banquete predileto,
Eu sou o seu objeto
Cavalo que se sele
E monte sem descanso,
Bravio, louco e manso
Sereno ou insensato,
Galopando em estrelas
Nas ânsias, convertê-la
Raspando todo o prato...
2570
Saudades de outras eras desfrutadas
Aonde as ilusões não torturavam,
As lágrimas sequer inda regavam
Canteiros pueris, belas jornadas.
Das vespas tão distantes ferroadas,
Apenas doce mel; decerto, davam,
Agora as mãos feridas, calejadas,
Os olhos, sem ter brilho, desbotavam.
Saudades destes rios, suas margens
As alegrias vinham num cardume,
A sorte que se perde em mim, miragens
De luzes que morreram, sem perfume,
Sorríamos de todas as bobagens.
Agora um simples não tudo resume...
2571
Quem teve uma ilusão à qual seguia
Tentando ser feliz, vai tolamente
Andando pelas ruas, não teria
Senão a dor que sangra e que se sente
Ao ver uma esperança que escorria
Por entre multidões, ignobilmente,
Quem vive tão somente a fantasia
Percebe o quanto errara, de repente.
As almas que se sentem aviltadas
Escorrem pelo chão, perderam asas,
Restolhos do que fui vagam nas casas
Deixadas sem ninguém, abandonadas.
O resto do que tenho, na verdade,
Aguarda simples mão de uma amizade...
2572
Amigo não desejo a tua sorte
Apenas já não quero mais desgraças,
Os olhos vão vazios, velhas traças
Tomando minha vida, sem ter norte.
Rumando vou incólume pra morte
Perdido entre aguardentes e fumaças,
Deixando o coração, percorro as praças
E nada do que encontro dá suporte
Aos passos que; pretendo, da alegria,
Distantes do que os olhos divisaram
Na busca pelo bem que eu já queria,
Somente este vazio imaginaram.
Matando pouco a pouco a poesia,
A clemência e amizade desdenharam...
2573
Por tanto amor, querida, na emoção
De te saber comigo, singro mares
Vivendo a delicada sensação
De dar amor pra sempre desfrutares.
Vibrando com certeza, de emoção,
Na busca pelo céu, nossos luares...
Eu quero ter perfeita ligação
Que faz um só daqueles que são pares.
Estás dentro de mim a cada instante,
No gosto da maçã, no meu desejo.
Tu tens todo este brilho, um diamante
Que em amor lapidado é cristalino.
Agora que de perto, enfim te vejo;
Desnuda de teus medos, me alucino!
2574
Nosso amor canibalesco
Devora-se num segundo.
Nosso sonho mais dantesco
Corta, penetra bem fundo.
Num turbilhão gigantesco
Amor se torna profundo
Não permite nem refresco
Amor maior desse mundo...
Quis meus versos transformar
Num poema mais diverso
Procurei por céu e mar,
Não encontrei nem metade,
Viajando no universo,
Eu só encontrei saudade
2575
Quero viajar contigo, mil cometas
Em êxtases diversos, fogo e paz.
Não peço e nem desejo que prometas
Apenas me demonstre o que és capaz.
Nas cavalgadas loucas nossas metas
No gozo e no prazer que a noite traz,
Eu quero nas magias que cometas
Perder-me dentro em ti, quero demais!
E sorver cada lágrima e suspiro
Neste amor que nos dói em tal prazer
Em todos os instantes que deliro
Bebendo da saliva que me cura,
Morrendo de vontade de te ter,
Gemente e delicada com ternura...
2576
Amor que me devora, canibal;
Desfaz as tais auroras que não tive...
A lua enamorada deste astral,
Viaja pelos mundos onde vive
A bela criatura angelical,
Com quem o meu amor nunca convive...
Das portas não transponho seu metal.
As rosas nunca brotam no declive...
Amor que me devora, pestilento,
Não cura nem permite usar ungüento.
Destrói quem nunca teve sobrevida...
Amor mordaz me corta, vil ferida...
Amor que sempre vem nunca se espraia...
A vida vai morrendo em sua praia!
2577
Como é difícil falar disto que sinto,
Palavras vão fugindo... O medo vem,
Mas nesta embriaguez, qual fora absinto;
Delírio me queimando; e sinto bem.
Dizer que não me atrai? Ah! Eu não minto,
Como é gostoso amar e ter alguém!
Teu rosto no meu sonho, sempre pinto
Mil cores e matizes... Sei também
Que sentes o que sonho e disso gostas,
O fogo me queimando; sol... Areia...
A mão que acaricia minhas costas.
É preciso falar da sensação
Que; tomando-me inteiro, me incendeia
Neste misto de amor e de paixão?
2578
Pelas ruas que caminho, quando topo
Com perfumes doridos, vaporosos,
Me recordo de festas, vinho e copo
Taças cristais, sentidos dolorosos...
Verdades são metades do quê falso
Carpetes e tapetes fingem persas.
Medalhas e correntes, cadafalso,
As noites que caminho são esparsas...
Carinho de mulher que não conheço,
Desejo de carinho não mereço,
O preço que paguei não faz sentido.
O mundo que tentei não tem mais topo,
O corte que sangrei quebrei o copo,
Amor que planejei, soa bandido!
2579
Eu sei que este meu canto se perdeu.
Tu nada ouviste... Louco te busquei
Querendo te encontrar. Inda sou teu...
Só sinto que também, amor, errei
Ao crer que o mundo inteiro fosse meu.
Na dura realidade, a triste lei
Depois da claridade, vem o breu.
Só quero que tu saibas: eu te amei!
As horas se passando, não te vejo;
Procuro por teus olhos... Onde estás?
A morte solitária que prevejo
Em tristes ilusões eu me perdi...
Toda a força deste amor que, sei, demais,
Somente, minha amada, encontro em ti.
2580
Tu és uma saudade tão presente
Amor que se fez vivo e deslumbrante,
No cheiro que me toca se pressente
A vida como um bem mais radiante.
A boca está distante, mas se sente
O toque tão suave, num instante.
Amor tão delicado este da gente,
Qual sonho que invade a noite, galopante...
E roça teus sentidos, te arrepia,
Te beija, te desnuda e nada fala.
Qual fosse simplesmente fantasia.
Mas é real, tu sabes muito bem,
Adentra em tua porta, ganha a sala
Deitado em tua cama; manso... Vem...
2581
Amor, quando partiste tu levaste
O bem maior que um dia pude ter.
Bem sei que tenho culpa do desgaste
Que veio, pouco a pouco, carcomer
O mundo que sonhei e que sonhaste,
Matando, sem sentir, nosso viver.
Agora o quê que faço sem esta haste;
Se, estúpido, eu perdi teu bem querer.
Saudade me tomando. O que farei?
A tua voz ecoa em meus ouvidos,
Eu sinto que jamais te esquecerei...
Morrendo lentamente... Na verdade,
Meus dias vão passando tão sofridos,
Só resta o amargo gosto da saudade...
2582
A vida no meu peito, entardecendo,
Promete anoitecer bem mais suave...
Amor com mansidão adormecendo
Comanda sem tumultos a minha nave.
Esqueço em algum canto, revolta, ira,
Carinho que tu fazes me sustenta
A dor que posso ter, cedo retira,
E todo o meu amor, macio, venta...
O sol estremecido não desponta
A lua envaidecida inda brotando
Nas hastes deste amor, percebo a ponta
Que fere mansamente, mal cortando...
Amor que calmamente faz espuma
Derruba minhas dores, uma a uma...
2583
Amor se faz servil sendo senhor,
Sublime em humildade nos cativa
E torna-nos mais fortes, traz vigor.
Essência que mantém uma alma viva
Liberta totalmente, o pleno amor,
É voz que mansamente é tão altiva
Nos mostra o bom caminho, é sedutor.
É força divinal, portanto ativa.
Nos faz crescer sem medo. Diviniza.
Eu te amo com certeza sempre e mais.
Da forma mais correta e mais precisa.
Encontro neste amor toda a riqueza
Que um dia enfim sonhei e quero mais.
É tudo o que desejo, com certeza...
2584
Amor é um martírio que nos cura
E afaga mansamente enquanto fere.
Nas mãos em que se mostra uma ternura
A dor de uma facada que interfere.
Tal qual obra perdida e salvadora,
Tal qual boca beijada em puro escarro,
De força irracional e redentora,
Amor é feito lama, vida e barro.
No verso que se empapa de alegria,
A vida que se quis e se perdeu,
Além do que não sei se valeria,
Amor que se fez teu, somente teu...
Na festa em crematório, vela e círio,
Amor é doce mar, amar, martírio...
2585
Desde a primeira vez quando te vi,
Desejo alucinante me tomou.
Ao te encontrar, em ti eu me perdi
Meu mundo nos teus braços, naufragou...
Eu quero-te, não nego esta vontade,
De ter teu corpo nu junto comigo,
E desfrutar prazer, felicidade,
Tendo em teu colo, todo o meu abrigo...
E penetrar teus vales devagar,
Teus seios em meus lábios... mansamente...
Descendo minhas mãos até chegar
Tua umidade amada, sempre quente...
Beber desta fonte, assim, termal...
Sorvendo cada gota, sensual...
2586
Amor que me tornou mais aloprado,
Se deveu a farsantes montarias...
Nave que perdeu rumo, fez estrado
Com as lenhas que colhe nem estias...
Amor que me tornou queimou o prado,
No prato que cuspiste, ventanias...
Não quero amor assim, sequer assado
Vivendo brincadeiras e orgias...
Amor mais aloprante, pra que quero?
Não me perdoe nunca mais, sincero...
No que se desprendeu, perdeu sentido...
Amor que jamais cego, dividido
Me faz um arremedo de saudade.
Amor assim não trará felicidade...
2587
Não faça desse canto que pretendo
Enredo para a vida que não trago.
No fogo de teu fogo já me acendo
Embora nada tenha, nem um trago.
Resvalo meus defeitos no teu manto
E formo minhas lavras desta fé.
Amar quem não amara com encanto
Entretanto não vaga mais a pé.
Eu sei que minha sorte não te trouxe
Amor que se dizia salvador...
O mel que na verdade é agridoce
Beijando te mordendo, prazer-dor.
Depois de viajar estando perto,
Só resta te dizer, ‘stá tudo certo...
2588
Nas planícies serenas, tantos montes...
Os olhos desejosos pedem brasa...
Em meio a deslumbrantes, calmas, fontes.
Esfíngica mulher, dolente abrasa...
Desnuda-se esse sol, quer horizontes,
A mansidão demora, tudo arrasa,
Os rios invadindo passam pontes,
Amazônica enchente o leito vaza...
De repente erupções tão indomáveis
Explodem nebulosas, raiam céu...
As almas destruídas, incontáveis...
Depois desta explosão, a calmaria...
Os olhos se reparam lambem mel.
Refaz-se a mansidão, clareia o dia...
2589
Menina bem sapeca na pracinha,
Deixando suas pernas entreabertas
Meus olhos vão buscando em descobertas
Beleza que se mostra sem calcinha.
Macias suas coxas, peludinha,
Gostosa de se ver, olhos alertas,
Queria bem debaixo das cobertas,
Brincando em sacanagens, vem marcinha...
Eu quero te sentir línguas e bocas
Tocadas, bem safadas sem juízo.
Rondando e penetrando tuas tocas
Fazendo desta noite inesquecível,
Sentindo bem maroto o teu sorriso,
Amor que a gente faz, sempre é incrível.
2590
Ninguém vai divisar a dor sem medos,
Tampouco se negar ao doce amor
Que molda com carinho tais enredos
E faz brotar o sonho em cada flor.
Meus versos ao buscarem os segredos
Que guardas no teu peito sonhador
Deixando as dores ermas, ritos ledos,
Encontram esperanças a propor
Àquela que se fez a companheira
Que tantas vezes quis, mas nunca vinha,
Não posso permitir que ande sozinha
Mulher com quem sonhei a vida inteira,
Vem logo, meu amor, aqui se aninha
Paixão que, podes crer, é verdadeira...
2591
As dores contemplaram-me sorrindo
Tão logo tu partiste amada minha,
A morte que solene se avizinha
Aos poucos vem chegando e decidindo
O rumo que não quero perceber,
Na batalha que travo todo dia,
Lutando por amor e fantasia
Buscando, sem descanso, o meu prazer.
Hedônica vontade de seguir
Alçando cada passo nos carinhos,
Traçando com desejo os meus caminhos
Aonde inda pretendo descobrir
Amor que sei deveras benfazejo,
No novo amanhecer que assim, prevejo....
2592
Curvando ao peso desta sina, dura
Vagando pelas ruas sem ninguém.
A noite que esperava em lume, escura
Distante das clemências deste bem.
Procuro insanamente por alguém
Que possa me trazer e com fartura
Sorriso precioso. Nada vem,
Restando tão somente uma amargura.
Mas sei que talvez trace um novo plano,
A sorte que bem sei não ser madrasta,
Meu sonho por teus passos já se arrasta
E moldando um futuro soberano
Percebe que terei felicidade
Nos braços tão leais de uma amizade...
2593
Passei pelos salões sem ter receio
Dançando uma esperança feita em valsa
A sorte destronada, toma um veio
E mostra-se, rainha que descalça
Prepara um novo dia, que não veio
E os sonhos mais airosos, inda calça.
Atravessei as turbulências, calmo,
E par em par contigo, eu prossegui.
Depois de conhecer fui palmo a palmo
Buscando o de melhor que encontro em ti.
Amor em louvação, perfeito salmo
Que embalde não conheço ou conheci.
Passei pelas quimeras da paixão,
Aguando nosso amor com emoção...
2594
Amor não foi brinquedo nem quimera
Fingindo tanto medo me deixou,
Agora no meu peito, uma cratera,
O que chamei amor já se findou.
Hiena disfarçada de pantera,
No final disso tudo gargalhou,
Mas ter um novo amor. Ah! Quem me dera,
Na espera deste amor, por certo estou.
Amor que era tão doce se acabou,
Talvez no Tororó, morena espera
Quem sabe este meu tempo já passou.
No bosque preferido ou na tapera
A rua onde este amor se ladrilhou
Vem do passado, amor de primavera...
2595
Quero falar de tudo que passei
Dos amores que tive nesta vida
Nas camas que feliz, eu mergulhei
Sem nem me preocupar com despedida.
Foram tantos carinhos recebidos
Outros tantos, por certo, foram dados.
Acenderam-se chamas e libidos
Em meio a tais ciúmes infundados.
Agora que a velhice já me toma,
Não posso reclamar do que vivi,
Em todos os pomares minha soma
De tantos os amores, já perdi.
Mas vens agora amor que não se espera.
Trazendo para o inverno, a primavera...
2596
Quando eu te conheci, amor de estalo,
Não deu nenhum segundo pra pensar.
Bebendo o sentimento no gargalo
Fui ver, mal percebi, te quis amar.
Na boca que me beija eu mesmo falo
Na confusão de língua a misturar
Se bem que eu te prefiro quando calo,
A boca em tua boca forma um mar.
Eu quero o que te quero para mim
Da forma que tu queres todo o bem.
Vivendo em teu querer querendo assim
O gosto dos sentidos cada gesto.
Sem teus desejos; sinto: sou ninguém,
Sou resto descartado; enfim: não presto!
2597
Amor se foi brinquedo, sempre fere!
Qual faca de dois gumes amolada...
Não há ninguém que possa que interfere,
Amor sem serventia vale nada...
Amor sem fantasia nem me espere...
Amor tem que ter rosa plantada,
Ter corrente, ter força, ter ampère!
Não podes zombar assim deste amor!
Preço que irás pagar não sabes qual!
Amor deve ter jeito eternidade...
Amor que não me traz sinceridade,
Amor que não perdura um carnaval...
Não é nada; jamais será o amor!
2598
Venha comigo amada, neste canto
De mais pura emoção e de desejo...
Trazendo o teu carinho e teu encanto,
Tramando a fantasia em cada beijo.
Tu sabes que eu te adoro, tanto, tanto...
Somente o teu olha; querida, vejo
Ao te sentir chegar já me agiganto
E a sorte benfazeja; amor, prevejo...
Tu és minha princesa; eu sou teu par;
Um cavaleiro pronto a te salvar
Montado em meu corcel, te dou meu braço.
Depois de todo sonho, caminhando,
Em sendas tão floridas. Vou te amando,
E cada vez mais forte estreito o laço...
2599
Amor cuticular, guerrilha e gládio...
Esfomeado, come a própria amante,
Devora não deixando nem estádio,
É força que não cansa, delirante...
Temores desse amor:lítio, vanádio,
Verborragicamente está diante
Do que demonstrará notícia e rádio.
Me jogará ao chão: forte bastante...
Amor cuticular, estranhas unhas...
Coração decoravas com venenos...
Os medos e os saldos são pequenos
Tacanhos os lugares onde punhas
Os barcos naufragados nos serenos...
As luas e os vermes, testemunhas...
2600
Desvendo os teus segredos
Revendo os meus desejos
Adendos somas, beijos,
Tremendo, espasmos ledos.
Ardendo em nosso jogo
Bebendo desta fonte
Sabendo do teu fogo
Ascendo ao horizonte
Relendo os teus sinais
Pretendo ser só teu,
Acendo e quero mais
Aprendo que é tão meu
Amor que sempre quis;
E sou, assim, feliz...
2601
Fazendo deste canto, raros sonhos,
Aonde possa estar queira ou não queira
Quem teme por caminhos mais risonhos
Perdendo-se me esquece, derradeira.
Os dias não se alegram, se bisonhos,
Vencer desesperança, companheira,
Matando tais fantasmas tão medonhos,
Trazendo uma amizade por bandeira.
Vencer a dor jamais foi muito fácil,
Ainda se mostrar mais calma e grácil
Embora estando no olho do tufão
Tarefa pra quem sabe que a verdade
Apóia-se em clamor numa amizade,
Que enfrenta com certeza, o furacão..
2602
Aonde nossas sortes já se trançam
Palavras se misturam como as pernas,
As noites maviosas que se avançam
Decerto tão divinas quanto eternas.
Às vezes me parece quando hibernas
Que nada mais tu sentes. Olhos cansam,
Mas logo com carícias doces, ternas,
Os teus desejos chegam e me alcançam.
És minha, tanto afirmo quando nego.
Vagando vou sem rumo, e quedo cego,
Mas tenho esta esperança de um verão
Que traga o teu amor com atitude,
Se queres ou não queres, vem e ajude
Preciso que respondas sim ou não...
2603
Um novo alvorecer traz esperanças
A quem sonhara ter uma alegria,
A vida permitindo novas danças
Aguando nosso sonho em harmonia.
Estrela que nos vela, nossa guia
Em águas tão serenas, calmas, mansas,
Percebe que ao sonhar tu logo alcanças
Um reino de ilusão e fantasia.
Princesas e castelos, cavaleiros
Corcéis fadas e gnomos, ninfas, Musas.
As sensações decerto tão confusas
Convulsas emoções em reis trigueiros;
Teus olhos, doces olhos sensuais
Verdejam o amarelo dos trigais...
2604
A vida que permite em sonhos claros
Moldando um bom sorriso em nosso rosto.
Amor que se mostrara assim exposto
Tornando nossos dias; belos, raros.
Assim ao mergulhar em teus sorrisos,
Adentro um infinito e vou audaz,
Beleza que este olhar cedo me traz
Derrama no meu peito paraísos.
Assim posso cantar em liberdade
Amor que seduzindo, cativou,
Vivendo tão somente o que restou
Encontro em teu olhar felicidade,
Rainha dos meus sonhos, benfazeja,
Minha alma enamorada te deseja...
2605
Amigo é quem sabe
O quanto não sei
De tudo o que cabe
E não caberei
Pois antes que acabe
Amigos; terei.
Um passo que é dado
Com força e vontade
Num sonho que alado
Mostra na verdade
Futuro e passado
Vibrante amizade
Faz-se dia a dia
Intensa magia...
2606
Olhando as estrelas
Mulheres diversas,
É bom poder vê-las
Em bando ou dispersas,
Talvez ao retê-las
Mudando as conversas,
Os corpos celestes
Vagado infinito
Belezas em vestes
Um sonho bonito,
Amor quando investes
O vazio eu fito
Olhar vai a esmo.
Buscando a mim mesmo.
2607
Eu quero extasiar-me junto a ti,
Deitar-me em tua cama; sedução,
Te desnudar aos poucos, ter ali
O gosto do pecado e da paixão.
Saber que nos teus braços me perdi
Tocando nos teus seios... Emoção
De te sentir arfando, bem aqui,
Reféns desta delícia, tentação.
E nesta entrega louca, alucinante,
Os olhos revirando, suspiros tantos...
Num êxtase divino e provocante
Tua nudez na minha noite afora,
Cedendo ao desejos e aos encantos.
Te espero minha amada. Vem agora!
2608
A vida traz a dor que de costume
A torna mais difícil, pressurosa,
Palavra deve ser minuciosa
Senão pode restar algum queixume,
Por mais que a noite venha temerosa,
Talvez inda restasse qualquer lume
Que possa transformar em pura rosa,
A sorte que se fez já sem perfume.
Eu tenho um grande alento que me guia
Por entre as duras sendas. Na verdade
Encontro tal poder numa amizade
Que mostra, com certeza, dia a dia,
Que inda restará felicidade
Em quem tiver um sonho em fantasia..
2609
Etéreos viajantes pelo espaço,
Flutuam nossos versos, ganham vida
Sentindo este calor do teu abraço,
Minha alma te buscando, decidida.
Na cama; mil estrelas... Não disfarço
E caço esta presença mais querida.
Do amor que se envereda, cerra o laço
E toma tua mão tão distraída...
Perfumes e desejos que se exalam
Do canto que fazemos sem ter tréguas.
As vozes, pensamentos, se acasalam
E formam novo ser, qual fora um filho,
Distante deste mundo tantas léguas,
Fecunda-se e se entranha brilho a brilho...
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