segunda-feira, 4 de abril de 2011

11

Na verdade o que não pude
E tampouco desejara
Desvendar cada atitude
Onde o nada se prepara,
Inda mais quando amiúde
Tanta dor nos desampara
Preparando este ataúde,
Minha vida aguarda a apara.
O versar sem mais sentido
O sentido que não vem
Onde quer já desprovido
O momento sem ninguém
O meu mundo revolvido
Continua mesmo sem.


12

Nada mais pudera ver
Senão falsas impressões
Do que pude conceber
Em dispersas dimensões,
E se tanto ao renascer
Outro engodo; agora expões
Onde tente reviver
Nada mais: desilusões.
Este atento coração
Sem coragem de lutar
Onde sofre em solidão
Imagina ausente mar
E presume desde então
O meu sonho a se abortar.

13


Quando sigo tais estradas
Onde sei que nada vem,
As manhãs ensolaradas
São caminhos de um desdém,
Procurando em desoladas
Sortes; busco novo alguém,
Mas as sendas desenhadas
Não traduzem gozo e bem.
Noutras tramas me perdendo
Noutro rumo nada vejo
O que fora se vertendo
Nos engodos do desejo
E o meu tempo agora horrendo
Não desvenda o que ora almejo.

14


Minha vida em solidão
Tanto tempo sem destino,
Quanto mais na imensidão
Sem um porto eu me alucino
Imagino algum verão
E deveras já me inclino
Aos anseios deste não,
Onde nada mais domino.
Vendo a sorte de tal forma
Resumida no vazio,
Onde a vida se deforma,
Na verdade nada crio
E do quanto traz reforma,
Com certeza desconfio.

15

As pegadas que deixaste
Sobre a areia do passado,
No caminho em tal contraste
Sigo em tom atroz, velado,
E o que possa não notaste
Neste tanto aonde evado,
O meu sonho, mero traste
Hoje vejo abandonado.
Ergo os olhos e não sinto
Nem o brilho presumido,
O meu sonho agora extinto
Quando o todo eu dilapido,
No vazio claro e distinto
Resta apenas este olvido.

16


Quando deixo o meu caminho
Na procura de outro enquanto
Desejasse até sozinho
Tão somente um manso canto,
O meu sonho dita o ninho,
E deveras se me espanto
Nada trago além do espinho
E também nada garanto.
Resumindo esta opereta
No que pude imaginar
O meu passo se acometa
Do cometa a me levar
Onde a vida ora arremeta
Sem nem ter como ancorar.

17

Nada eu tenho, e nada resta
Desta nada de onde eu vim,
Uma imagem pela fresta
O vazio dentro em mim,
O que tanto ora se atesta
Mergulhar em mar sem fim,
O meu canto em voz funesta
Morto na alma algum jardim.
Restaurasse o passo quando
Outro tanto se moldara,
A verdade noutro bando
A palavra mansa e clara,
O meu mundo desabando
Neste nada se escancara.

18


Perdi tudo no começo
Desta vaga caminhada,
E se possa, reconheço,
A palavra mais velada,
Noutro rumo em adereço
Noutro sonho, outra guinada,
Quando tenho o que mereço
Na verdade eu tenho o nada.
Jaze dentro da alma fria
Esta espúria noite em vão
O que pude em fantasia
Nega a própria dimensão,
E meu sonho não teria
Nem sequer vaga emoção.

19

Águas frescas, clara fonte
Onde o mundo traz o quanto
Neste instante o tempo aponte
Ao que possa em raro encanto,
Mas o tempo se desponte
No vazio e não garanto
Nem sequer outro horizonte
Desenhado em rude canto.
O meu prazo determina
O final de cada jogo
Onde tanto desatina
Quem pudesse neste fogo
Transformar a cristalina
Sorte em vago e ledo rogo.

20

A saudade renascesse
Do que possa desvendar
Onde quer e merecesse
Pelo menos descansar,
O meu tempo se envolvesse
Nestas teias de um luar
E se tudo eu esquecesse
Pudesse recomeçar.
Vida traz o que detrás
De uma sorte mais discreta
Já moldasse o quanto faz
E deveras tendo em meta
O meu canto mais audaz,
Permitisse ser poeta.

Nenhum comentário: