domingo, 3 de abril de 2011

41

Outras vezes vida afora
Encontrei os meus retalhos
Quando a sorte desancora
Busco apenas tais atalhos.
Os meus dias sendo falhos
A verdade me apavora,
Arvoredos, frondes, galhos
No final cadê a flora?
O vencido vencedor
Mata tudo e não permite
Que se entenda qual limite
Possa mesmo se propor,
A esperança já morrendo
E o planeta derretendo.

42

Libertário pensamento
Sem ter nada que o contenha,
Solto a voz e assim enfrento
O que possa e mesmo venha,
Não se traça num lamento
O que tanto me convenha
Nem deveras desalento
Traz o mundo onde se empenha
A palavra de quem sabe
Dos anseios mais doridos,
O meu tempo não mais cabe
Noutros erros cometidos,
Antes que isto já desabe
Procurasse outros sentidos.

43

Ser poeta é mais que sonho,
Ser poeta é ter na dor
Um momento onde componho
O caminho em vão louvor,
Um atroz rumo medonho
E sem ter qualquer rancor,
O meu erro eu decomponho
Noutro instante a me propor.
Ousaria acreditar
Quixotescas maravilhas
Ou até desafiar
O cenário aonde trilhas
Esquecendo do luar,
Entranhando em armadilhas.

44

Esquivando de quem siga
Noutro lado da calçada
A palavra mesmo amiga
Traz o sempre ou mesmo o nada,
A incerteza desabriga
Quem buscara a tão sonhada
Esperança mais antiga
Noutro rumo, destroçada.
Vejo o mundo sem saber
Do que possa ter nas mãos,
Meu caminho em desprazer
Desafia em dias vãos
O que tanto pude ver
Em diversos, toscos chãos.

45

Encontrando o que pudera
Ser diverso do que eu quis
Desta louca e tola fera
O meu mundo, um aprendiz,
Na verdade destempera
E produz a cicatriz
Onde a sorte foi sincera
A esperança fora atriz,
Nada mais tivesse em prumo
Nem o quanto em vão resumo
Nos meus ermos mais distantes
Percebendo o fim do jogo,
Meu caminho ora sem rogo
No final nada garantes.

46

Esperasse pelo menos
Um momento mais sutil
Entre tantos vãos venenos
O que agora a vida viu
Traz os dias duros, plenos
E o que possa se previu
Noutros atos, tão pequenos
Neste mundo atroz e vil.
Rumaria ao quanto pude
Sem saber o que me trazes
Tanto amor já desilude
E pudera noutras fases
Reduzindo a juventude
Em tormentos tão mordazes.


47

Acordando sem saber
Onde possa me ancorar
A vontade de viver
Superando a de encontrar
Outro rumo ou me perder
Nalgum raio de luar,
A saudade possa ter
Onde em paz sempre ancorar.
Sendo o sonho mais voraz
Sendo a vida incoerente
O que possa sempre traz
O que apossa ou já se tente
No momento onde se faz
O caminho imprevidente.

48

Açodasse uma esperança
Onde a sorte se desdenha
O meu mundo em temperança
Com certeza não contenha
O que pude em confiança,
Mas a sorte não mais venha
Desenhar cada mudança
Noutro rumo onde convenha.
A palavra não traduz
O que sinto ou mesmo quis,
Onde houvera qualquer luz
Vejo apenas cicatriz,
Nada mais do que propus
Neste céu somente gris.

49

Já cansado de lutar
Em palavras e atitudes
Noutro rumo desviar
O que tanto desiludes,
Na incerteza deste mar
Onde tudo ora transmudes
Na vontade de ancorar
Versos morrem, são açudes.
Cada prazo que eu me dera
Num vazio se mostrara
Na verdade esta pantera
Na tocaia se prepara,
Sendo tola a minha espera,
Incerteza a desampara.

50

Esperasse mais um dia
Ou quem sabe eternidade,
No final nada teria,
Nem talvez a liberdade,
Onde possa e tentaria
Decifrar a claridade,
Mas envolto na utopia
Meu momento desagrade.
O versar sem mais proveito
O caminho desigual
Adentrando o velho leito
Outro corte em ritual,
Cada vez já não aceito
Esse mundo em tom dual.

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