31
Arcar com erros tantos quando a vida
Expressa tão somente o que tu vês
Exposto numa imensa sordidez
Ao mesmo tempo a vejo sem saída.
O quanto poderia e não decida
A luta em mais completa insensatez
O mundo nos traçando o que não crês
E a senda que julgara em paz, perdida.
Apressando este caos que por herança
Recebo e deixarei para os meus filhos,
Ousamos percorrer tétricos trilhos
E o passo neste escasso vão se lança.
E refazendo assim a mesma história
Que em cada gen expressa a vil memória.
32
Eu não me preparei para o futuro,
Ainda sigo atado ao que já fora,
A face tantas vezes sonhadora
Esbarra aonde sou tão inseguro.
O pouco que me resta, configuro
Na teia enquanto a sorte promissora
Expressa a mais atroz devoradora
Essência de um momento opaco, escuro.
E mesmo que me iluda, a morte vem
E traz no seu sorriso de desdém
A face mais irônica e venal.
O fim se aproximando e nada resta
Talvez invés de lágrima uma festa
Redima o quanto fui ledo e boçal.
33
Ocasionando quedas e tropeços,
Atropelando o tempo em vãs respostas
Nas mesas iguarias decompostas,
Nos olhos meros ermos e adereços.
Os sonhos renegando os teus apreços
Os ritos entre as sortes quando gostas
E as lutas sem proveito, são propostas,
Porém tanto perdi tais endereços
Apenas trago na alma este porão
E dele ouso crer na dimensão
Exata que me resta sobre a Terra.
Assim o que se possa desenhar
Talvez consiga ao menos um lugar
Onde descanse em paz, já sob a terra.
34
A virulência expressa em todo olhar
Que possa no horizonte em tom sombrio,
O mundo se perdendo e já desvio
O rio se distando deste mar.
Não quero e não devesse mergulhar
Nos ermos do passado onde recrio
Somente sem segredos meu estio,
Sem ter uma esperança aonde arar…
Incauto caminheiro do que um dia
Tentasse desvendar, mesmo sabendo
Que tudo não passasse de um remendo
Traçando noutro engodo, esta ironia
E vejo o quanto pude ou mais pretendo
Sabendo que mais nada em paz teria.
35
Volta e meia em meia-volta
O meu passo perde a rota
E o que possa já se solta
E transporta esta derrota,
A verdade não revolta
Nem tampouco me amarrota,
Sigo sempre tento a escolta
Do que possa e não denota.
Qualquer música ou promessa
Qualquer festa vale a pena,
O que tanto se confessa
Muitas vezes me condena,
Mas o tempo se meça
Onde a vida não é plena.
36
A verdade se moldando
No que pude adivinhar
O momento fora brando
Nada encontro em seu lugar,
O versejo se entornando
Onde eu tento imaginar
O que fora desde quando
Posso a vida renegar.
O meu canto sem sentido
O sentido sem encanto
E o prazer que busco tanto
Noutro passo resumido,
Verso inverto e vivo aquém
Do que tento e nada tem.
37
Nada mais pudesse crer
Senão nisto que me trazes
Tanto sonho em desprazer
Tantas noites mais mordazes,
Os meus passos são tenazes
E o meu canto a se perder
Traz em versos novas bases
Onde o fim, possa prever.
Rudimentos; tão somente,
O meu verso se desmente
Quando a vida mesmo cala,
E transborda do passado
O meu canto acorrentado
Nas entranhas da senzala.
38
A saudade que há de um dia
Transcorrer com maciez,
Noutro ponto perderia
O que tanto a vida fez,
O meu passo não traria
Nem sequer em lucidez
A verdade, uma ironia,
Ou quem sabe o que tu vês.
Carcomida sorte agora
No que possa e me apavora
Desarvora tão somente
O vencido caminheiro
Tenta além do ser primeiro
O que possa e não desmente.
39
Noutro canto desta casa
A verdade se apresenta
Onde o tempo já me atrasa
E a saudade me atormenta,
Vendo o quanto a luta abrasa
Nesta face mais sangrenta
O meu canto não se embasa
No que traz cada tormenta.
Entretanto o livre verso
Segue solto no universo
E transcende ao próprio canto.
Entre o ser, poder; lutar
E quem sabe num luar
Eu encontre o que amo tanto.
40
A medalha merecida,
A mortalha em riso e dor,
A palavra adormecida
O cenário em nova cor,
Esperança apodrecida
Agradece este louvor
Da certeza corroída
Onde possa ou não compor.
Viveria pelo menos
Um momento mais gentil,
Entre tantos os venenos
Que destilas só se viu
O que possa em novas trilhas
Desenhar mil maravilhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário