sábado, 9 de abril de 2011

21

Se quando eternidade tu procuras,
Perdendo o ser etéreo que tu és
É como tirar asas dos teus pés
Na busca pelas noites mais escuras,
E vives tão somente as amarguras
Olhando a própria vida de viés
Ousando ter apenas em tais fés
Os passos que te levem às loucuras.
Eterno ou não eterno, tanto faz.
O quanto se mostrasse mais capaz
De ser feliz já mede a dimensão
Do encanto pelo qual tua existência
Não necessita além desta ciência
De um tempo feito em clara redenção.

22



Não pude desejar sequer talvez
Um riso, alguma luz ou mesmo o toque
De quem se desenhando não provoque
O que deveras teimas, mas não vês.
O mundo se transforma; estupidez.
O rumo desenhando noutro estoque
E o quanto poderia e se desloque
Ainda que no fundo, já não crês.
O risco de viver valendo, a pena
Se a morte num instante me condena
A sorte de saber outro momento
Traduz o quanto pude e desenhara
Na vida com certeza bem mais clara
Que mesmo quando ausente; agora invento.


23


Eu creio em tua voz, doce e suave
E nesta redenção de um novo sonho
Aonde o meu caminho eu te proponho
Usando esta esperança, mansa nave.
O tempo vai seguindo sem entrave
E o canto noutro rumo quando o ponho
Expressa o quanto quero e ora componho,
Usando deste amor, palavra chave.
Enfastiadamente a vida traz
O dia mais dorido, ausente paz
E a fúria desdenhosa de quem ama,
Navego contra todas estas ondas
E nada do que possa me respondas
Negando qualquer verso em leda chama…


24


Havia muito mais do que pensara
Atrás destas coxias, bastidores,
E sei por onde mesmo ainda fores
A noite não será jamais tão clara,
A luta se anuncia e desprepara
A queda se moldando em tais horrores
Aonde desenhassem minhas flores
Medonha madrugada desampara.
O frio que invadisse cada fato
O tempo noutro engodo ora constato
E vejo sem sentido algum meu canto,
Ainda quando muito me fiz roto,
E vago em habitat, feito em esgoto,
E ao fim já nada vejo nem garanto.

25

Negar o que jamais eu conheci,
O medo de viver e de sonhar,
O tempo se moldando devagar
O tanto que roubei e sei de ti,
O verso sem sentido onde vivi,
O mundo procurando algum lugar
E deste mais diversos caminhar,
O nada se apressando e me perdi.
Liberto pensamento traz a mágoa
E quando esta esperança em vão deságua
Apenas se prepara a derrocada.
O vento na janela anunciando,
O dia que pudera desde quando
Não sobra deste sonho quase nada.

26


E quando eu resolvi minha partida
Envolto nestas brumas, noite vaga
A sorte se desenha noutra plaga
E já não vejo mais qualquer saída,
A luta que reluta traduzida
Na fúria que pudesse e sei que paga
A vida com terror e nada apaga
O quanto se mostrara em despedida.
Ousando acreditar noutro momento
Eu luto na inconstância enquanto tento
Vencer dentro de mim os meus enganos.
Acumulando os erros do passado,
O tempo noutro tempo já degradado
Envolto nos demônios, velhos danos.

27

Numa morada outrora bem mais grata
A farta desventura me persegue
E nada do que possa se consegue
Aonde a solidão já se constata.
A rústica vontade me arrebata
E mesmo quando o verso em vão prossegue
A senda imaginária onde trafegue
Não traz senão a marca da bravata.
O tempo, a temporada, o temporal,
O riso sem juízo, o vento tal
Que tanto permitira novo encanto.
Meu verso se perdendo sem talvez
O canto que deveras hoje vês
Marcando pelo medo e pelo espanto.

28


Nesta incerteza rara que me agita
A fúria não traduz qualquer alento,
E quando acreditar, mesmo que invento
Caminho mais diverso, nada fita.
E sei do quanto pesa esta desdita
E nada me alivia o sofrimento
Nem mesmo quando toco o manso vento
Momento aonde a morte enfim me fita.
Já não comportaria nova chance
Nem mesmo o que deveras já me alcance
Ou tanto quanto luto sem proveito.
Reaproveito os restos do que fora,
A vida tão diversa e sonhadora,
Jogada nesta estrada em rude leito.

29

O quanto me envergonha cada verso
Jogado sem sentido ao mesmo não
Enquanto vejo a imensa solidão
Vagando sem sentido no universo,
Aos poucos outro tanto desconverso
E bebo da terrível ilusão,
Marcando com meu medo desde então
Nos tétricos cenários, vou imerso.
Cansado desta luta sem respaldo,
E quando vejo a luz onde me esbaldo
Encontro a solução; fantasiosa?
E nem que seja só por um momento
Um novo amanhecer; decerto eu tento,
Porém a noite segue caprichosa.

30

Apenas novo estorvo e nada mais,
Inumeráveis erros de uma vida
Já tanto maltratada e resumida
Em erros tão diversos e banais.
Presumo que inda possa ver do cais
A nova dimensão nova saída
E a luta sem disfarces, assumida
E o medo me trazendo este jamais.
Não quero qualquer sombra do que um dia
Pudesse adivinhar e mais queria,
A vida fervilhando dentro em mim,
O tempo sem saber do quanto pude
Levara o que restasse em juventude,
Deixando a solidão até o fim.

Nenhum comentário: