segunda-feira, 4 de abril de 2011

41

Envolto nestas tétricas mentiras
Esboço reações; inutilmente,
O quanto no vazio se apresente
Expondo o que se veja em várias tiras.

O sonho pouco a pouco tu retiras
E trazes o que possa novamente
Traçar este momento feramente
Enquanto sem defesas, interfiras.

Camoniano verso, sonho incauto,
O risco de viver em tom mais lauto
Esculpe pouco a pouco esta heresia

Vertiginosamente num mergulho
Aos poucos resta apenas mero entulho
Aonde houvera há tempos, fantasia.

42


Nada trago após a queda
E desvendo o meu passado
Onde o medo se envereda
Noutro tempo desolado,

Verso sobre a que ora seda
E vagando lado a lado
Com o quanto já se veda
Mundo atroz, morto em enfado.

Presumisse qualquer sorte
E se tanto nos conforte
Fortaleça o pensamento,

Mas o vértice também
Quando o tombo cedo vem,
Redobrando o sofrimento.

43

Poesia amortalhando
O que tanto quis e sonho,
O meu mundo em contrabando
Tão somente o decomponho.

O caminho desde quando
Noutro termo já proponho,
Espreitasse, redundando
Neste escuso andor bisonho.

Apresento como enredo
O que possa e se concedo
Qualquer tempo após o vago,

Entremeio em verso e tédio
Sem saber de algum remédio
Ou do quanto inútil, trago.


44

Bastaria acreditar
Num instante mais feliz,
O que possa ao naufragar
Traça o quanto inda não quis,
O meu barco a se guiar
Pelo ocaso e por um triz
O que tento imaginar
Gera o tom opaco e gris.
Quando escuto a voz de alguém
Que sonoramente traça
O meu rumo nada tem
E sequer ousando em graça
O que gera este desdém
Pouco a pouco se esfumaça.

45


Não temo o que venha
Nem tempo ruim,
O mundo contenha
O quanto há em mim,
Vagando se empenha
E traz logo o fim,
A sorte convenha,
Mas tão leda assim?
O caos se aproxima
E o fim nos redime
O tempo outro clima
A morte é sublime
E o vento suprima
O quanto me oprime.


46

Não quero o que trazes
Tampouco o que vês
A vida em tais fases
Mera estupidez,
Sem rumo, sem bases,
O mundo talvez
Pudesse e não fazes
O quanto inda crês.
Restauro o passado
E vejo este enfermo
Momento traçado
Em tétrico termo
Seguindo ao teu lado
Num mundo tão ermo.

47

Perdoe meu canto
Se tanto magoa
A voz num espanto
Traduz o que ecoa
E nada garanto
Sequer a canoa
A luta sem pranto,
Jamais fora boa.
Vitórias, permutas
E quando não vejo
Além do que lutas
Afãs e desejo
As frases astutas
Num ar malfazejo.

48

Versando outra vez
Aonde pudera
Trazer no que crês
A vida insincera
E tanto se fez
Ou mesmo se espera
Na frágil vã tez
Da louca pantera.
Encontro meu rastro
Em cada passada,
E quando me alastro
Ao fim vejo o nada,
Os sonhos que castro
Na noite isolada...

49

Vestígios do quanto
Pudesse viver
O mundo, portanto
Não sabe o prazer
Que quando o garanto
Presumo o querer,
Porém se me espanto
Já nada colher.
Somente o vazio
Aonde perfaço
O tempo em estio
Apenas cansaço
E deste sombrio
Cenário, meu passo.

50

Alheio ao que veio
Ou mesmo prometa
O quanto em permeio
Anseio e arremeta
A voz onde ateio
O sonho um cometa
E sigo em receio
Repito a falseta.
E sei do não ser
E ser e não sei
O quanto viver
Em tão vasta grei
Ou mesmo perder,
O quanto sonhei…

Nenhum comentário: