segunda-feira, 4 de abril de 2011

Deter-vos junto a mim; eu poderia,
Porém ao perceber em vós o anseio
Do libertário encanto de outro veio,
A imagem vos tornasse então sombria.

Servir-vos-ei conquanto o que viria
Trouxessem aonde fordes sem receio,
Além de simplesmente um mero meio
O quanto em vosso posso moldaria.

Mas tendo-vos deveras tão distante
Vagando em pensamentos doravante
Num ermo caminhar tão temerário

Prefiro-vos liberta; amor corsário
Seguindo rumo a novo itinerário
Ao mesmo instante em paz já se adiante.

------------------------------------------------------------------------


Propor-vos-ei além de tais rochedos
Um cais onde pudéssemos chegar
E após o imenso e rude navegar
Enfrentando tempestas, rumos ledos.

A vida se anuncia após penedos
E traz a dimensão clara de um mar,
Qual fosse noutra face o tanto amar
Que seduzindo traz-nos tais degredos.

E vós quando mostrai vossos temores,
Embora envolta até por vis amores,
Ao distardes dos sonhos. Realidade.

Numa eclosão de burlas e rancores
Ter-vos-á distante claridade,
Porquanto infausto mundo nos degrade.



Discorrendo-vos sobre rocas várias
Em turba noite atroz, sem complacência
Ao menos quando a vida dá ciência
Das ermas noites vagas, procelárias...

Buscasse em vossos olhos luminárias
Talvez a escuridão em fluorescência
Trouxesse tão somente a complacência
Em claras evidências. Temporárias?

Ultrizes tramas ditam o que venha,
E ao longe divisando praia e penha
Que possa após naufrágio ter enfim,

A paz já sonegada; que soergue
E num remanso cálido este albergue
Frutificando o sonho que há em mim.

¬¬¬¬¬¬¬
Nas fontes cristalinas, vosso olhar,
Encontro este horizonte em azulejo,
E quanto uma ilusória fonte; vejo,
Presumo o quanto possa nos levar

Ao perceberdes como desvendar
A vida em cada via, todo ensejo
Trazendo tão somente o quanto almejo
Após por descaminhos tanto errar.

Das constelares guias noite afora,
Num sórdido momento a vida ancora
E traz entre os meus ermos, novo engano?

Em prados verdejantes; cristalina
Fonte aonde a ausência determina
Em rudes evidências, desengano...

--------------- 6----------------

Os olhos entre os rudes e silvestres
Arcanos desenganos que acumulo,
A vida quando apenas perambulo
Trazendo dolorosos, firmes mestres.

E mesmo quanto em sonhos tu me adestres
Por entres vagas sórdidas ondulo
E tento num anseio, um novo pulo
Mesmo por sobre travas vis, rupestres.

E dos diversos íngremes tormentos,
Penedos e falésias sonhos vãos,
Aonde se moldassem em alentos

Renováveis anseios, novos nãos,
Persistindo ao sabor dos fortes ventos
Inúteis cevas quando em podres grãos.

------------------7------------------------------

Concertos em atônita harmonia
Diversidade explícita e feroz
O cântico desprende um tom atroz
E mostra ser de sórdida valia

O quanto deste engodo ora avaria
Deixando sem sentido o que há em nós,
Nesta híbrida vertente eis o algoz
Em cujas mãos o nada verteria.

Apêndices diversos desditosos
Aonde quis os dias exitosos,
Arcaicas noites ditam o vazio.

E quando poderiam majestosos,
Erráticos momentos e, sombrio,
Apenas tento em torpe desafio.

-------------------------8--------------------


Negar a própria imagem. Tosco espelho,
Aonde em distorcida face eu vejo
A marca mais profunda de um desejo
Há tanto que deveras eu me engelho.

E inutilmente quando me ajoelho,
A vida num jaez em vil lampejo
Recende ao duro passo e o quanto almejo
Não passa deste espúrio e vão conselho.

E se enfadonho rumo vós moldais
Enquanto esperávamos cristais
A rota imagem traz mais fielmente

As cãs que agrisalharam a esperança
E ao féretro precoce, imagem lança,
E esta dispnéia atroz não mais desmente.

------------9----------------------------------

Herméticos caminhos a quem tenta
Ousar acreditar em breve espaço,
E quanto se anuncia mais escasso
O tempo se transforma em tal tormenta,

Nem mesmo uma ilusão inda apascenta
Quem fora noutro rumo e me desfaço,
Alçando o que pudera nalgum traço
Buscando uma esperança qual placenta.

Sem ter esta concreta provisão,
O rústico cenário se anuncia,
E vejo o quanto; a vida, fora em vão

Deixando tão somente a mais sombria
Presença desta pétrea sordidez
Aonde noutro sonho, não mais crês.

------------------------- 10-------------

Alabastrinas luas deitam nuas
Tocando vossa pele e sendo assim,
Ao transportar do espaço este jardim
Transcendem raros brilhos sobre as ruas.

Escusado dizer o quanto em vós
Refletem-se diversos brilhos, quando
O mundo noutro tom se emoldurando
Aplaca uma faceta mais feroz.

E vendo tal contraste – bronze e prata,
Aurífera esperança renascendo,
E raro amanhecer já se prevendo,
Do sol enaltecendo ao longe a mata.

A natureza eclode em azulejo
E a divindade em vida, aqui eu vejo.

Nenhum comentário: